HABER Despesa
HABER Despesa
HABER Despesa
DESPESA PÚBLICA
MrcHrL Hnsrn
Mestre e Doutorando em Direito Financeiro pela USP. Master
of Laws (LL.M.) pela Harvard Law School. Advogado.
Na fase do Estado Liberal, os direitos fundamentais circunscreviam-seavalores Aqui se encontram, portanto, os parâmetros jurídicos que nortearão os gestores
como liberdade, igualdade, segurança e propriedade, cuja efetivação pressupunha públicos na elaboração orçamentária, mecanismo adequado para determinar o
uma abstenção do Estado. destino a ser conferido ao dinheiro público e, poI consequência, as necessidades
Na era do Estado Social, o rol de direitos fundamentais foi expandido para públicas que serão atendidas.
albergar valores como a saúde, educação, proteção ao meio ambiente, o que pres- É de se notar que a despesa pública, para que seja efetivada, requer a existência
supöe a açao estatal. E é exatamente na ação do Estado, no sentido de promover de contrapartida em receita. A existência de um montante adequado de recursos
tais direitos, que se verificam as denominadas políticas públicas. públicos é imprescindível na busca pela efrciência da despesa e o consequente
Conceito de políticas públicas é, usualmente, associado aos programas de atingimento das necessidades públicas. Na mesma linha, de nada adianta uma
ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do Estado e as máquina arrecadatória eficiente se a despesa pública não demonstrar o mesmo
atividades privadas, para realização de objetivos socialmente relevantes e politi- predicado. Receita e despesa, nesse sentido,perfazemo verso e o anverso de uma
camente determinados. mesma moeda. A qualidade na gestão das finanças públicas deve ser medida, ne-
cessariamente, nas duas pontas da atividade financeira do Estado.
Políticas públicas, nesse sentido, consistem na tomada de providências para
que os direitos se realizem, para que as necessidades da população sejam atendidas, Finalmente, ïessalta-se que a despesa pública deve atender a determinadas
em suma, para que as determinaçoes constitucionais e legais saiam do papel e se formalidades païa a suarealização. Ela segue um procedimento especÍfico que se
transformem em utilidades. encontra prescrito na Lei 4.320/1964, na Lei 8.666/1993 e na Lei Complementar
101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Trata-se do ciclo paraarealização da
A execução de taisprogramas ea tomada deprovidências demandam, contudo,
despesa pública, que serve como um mecanismo no controle da aplicação dos
a aplicação de recursos públicos, isto é, a realização de despesaspublicas.Daia cor-
recursos públicos.
relação entre despesas e políticas públicas, sendo a existência destas condicionada
à aplicação daquelas.
3. Princípios que or¡entam as despesas públicas
Há, todavia, uma assimetria entre recursos e gastos, razão pela qual nasce a
perquirição pelo conceito de necessidade e a consequente opÇão pelos valores que A despesapública deve atenção tanto aosprincÍpios gerais de direito fi.nanceiro
se pretende prestigiar como socialmente relevantes. Nesse sentido, a efetivação quanto a princípios jurídicos específrcos que balizam sua realizaçào.
dos direitos fundamentais por meio de polÍticas públicas pressupÕe a tomada de Como atividade que se desenvolve no seio da administraçã.o pública,
uma decisão política acerca do gasto a ser realizado. aplicam-se lhe os principios prescritos no art. 37 da CFll9BB. Deve observar,
também, os demais princípios espraiados pelo texto constitucional, explicita ou
2. Conceito e características das despesas públicas implicitamente. Assim, a despesa pública deve se pautar, dentre outros, pelos
Pode-se definira despesapública como aatividade administrativa de dispêndio princípios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade' da
de recursos do Estado objetivando à satisfação das necessidades públicas. publicidade e da eficiência.
Ressalta-se que a despesa pública deve sempre perseguir as necessidades Princípio dalegalidade norteia todo o sistema jurídico, regulando, também, a
públicas, qtteperfazem decisoes políticas, deliberadas e estabelecidas no âmbito despesa pública (arts. L65 e167 ,I e II da CF/1988). Todo e qualquer gasto público
legislativo e enunciadas no texto constitucional e nos demais diplomas legislati- deve ter previsão legal. Em outras palavtas, o gestol púbico somente pode incorrer
vos. EIas se distinguem tanto das necessidades coletivas (afeitas a determinado em dispêndios que apresentem legislativa, e a consequente indicação
^:utorizaLção
grupo de pessoas) quanto das privadas (relativas a um indivíduo específico). da fonte de financiamento. Em regra, é a lei orçamentária anual que autoriza a
Nao há que se confundir o interesse particular do gestor público ou de determi- realizaçao de gastos públicos, na medida em que enuncia a previsão de receita e a
nada coletividade com o interesse público, muito embora por vezes possam ser frxação das despesas.
coincidentes. Pode acontecer de a despesa estar estipulada de maneira insufrciente na lei
Não se pode perder de vista que, ao ser deflnida como atividade admi- orçamentária ou simplesmente de surgir a necessidade de realização de gastos
nistrativa, a despesa pública deve sempre atentar aos fundamentos (art. I.o da extraordinário. Nessas situaçÕes, admite-se a abertura de créditos adicionais, não
CFll9BB) e objetivos da República Federativa do Brasil (art. 3.o da CFlf 9BB). previstos na lei orçam enfária anual, mediante instïumentos legislativos especÍfi-
40 LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA PÚBLICA 41
cos. Percebe-se que mesmo nesses casos o princípio da legalidadesefazpresente, Princípio daefciênciaexige produtividade por parte da administração pública.
haja vista a necessidade de atos normativos que autorizem a abertura de créditos Relativamente ao gasto público, tal princípio impõe que este seja realizado de forma
adicionais. aoLirnizar os recursos, atingindo o interesse público no seu máximo grau possÍvel.
Princípío dapublicidadeexigeque todos os atos administrativos estejam ex- Por fim, a despesa pública deve atingir commais ênfase a camadapopulacional
postos aos cidadãos. Aplicado à despesa pública, o princÍpio em questão tenciona mais necessitada, visando à construção da sociedade justa e solidária, propugna-
viabilizar o direito do cidadao à informação acerca dos gastos públicos, inclusive da pelo art. 3.", I, da CFll9BB, bem como o início da erradicação dapobreza e da
como forma de aumentar o controle social sobre estes. A Lei Complementar redução das desigualdades sociais e regionais, tal qual previsto no art. 3.o, lII, da
131,/2009 visa a dar eficácia a tal principio, na medida em que exige transparên- CFlf 9BB. Trata-se do princípio da capacidade receptiva, corolário da isonomia no
cia na gestão fiscal dos entes federativos, determinando a disponibilização de lado da despesa pública, e que exige a divisão dos recursos públicos conforme a
informaçÕes pormenorizadas acerca de todos os atos praticados pelas unidades necessidade dos cidadãos. Ela complementa o princípio da capacidade contributiva
gestoras no decorrer da execução da despesa. Vale ressaltar, porém, que o orde- na busca pela concretização dos ideais republicanos, eis que de nada adianta uma
namento jurÍdico brasileiro admite arealizaçãto de certos gastos sigilosos, como
tributação justa se o mesmo não se veriflcar na ponta da despesa pública, sob pena
se verá mais adiante.
de aquela ter seus efeitos anulados.
Princípio daimpessoalidade exige que a gestão da coisa pública seja feita à
luz do interesse público, jamais como forma de atingir interesses pessoais dos 4. Classificações das despesas públicas
gestores ou de terceiros. É nesse sentido que afrrma-se que a despesa deve perse-
guir o atingimento das necessidades públicas. Como decorrência deste princÍpio, 4.1. Critérios doutrinários
exige-se, por exemplo, que as contrataçÕes públicas sejam precedidas de processo Há diversos critérios doutrinários de classificação das despesas públicas.
licitatório (regulamentado pela Lei 8.666/1993), conferindo impessoalidade ao
Quanto à origem, as despesas podem ser: orÇûmentarias, quando constam da lei
ato administrativo.
orçamentária ou de créditos adicionais; ou extraorçamentdria.s, quando decorrentes
princÍpio da publicidade
Vale ressaltar interessante interface existente entre o de valores contabilmente transitórios, não previstos no orÇamento, mas decorrentes
e o princÍpio da impessoalidade. Isso porque se admite que o administrador dê de outras previsÕes normativas (por exemplo, valores de depósitos e consignaçÕes
publicidade aos atos, programas, obras, serviços e campanhas realizados pela sua em folha de pagamento de servidores).
administração, não podendo, porém, constar nomes, sÍmbolos ou imagens que
Sob a ótica do território, as despesas podem ser internas, assim entendidas
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos (art.37 ,
aquelas dentro do território nacional, ot externas, isto é, aquelas no exterior e em
$ 1.o, da CFII9BB). Em outras palavras, o princípio da impessoalidade aplicado à
moeda estrangeira.
despesa pública prescreve que os gastos sejam sempre vinculados à administra-
ção pública, jamais ao administrador (gestor público) ou a seu governo. Assim, As despesas podem também ser classificadas como produtivas, reprodutivas
propagandas oficiais que não observarem a impessoalidade, configurando meio e improdutivas. As produtivas criam utilidades por meio da atuação estatal (ativi-
de autopromoção, violam o texto constitucional. dade policial, atividade jurisdicional etc. ) ; as reprodutivøs são âs que representam
Princípio damoralidade prescreve que o administrador público âtue pautado aumento da capacidade produtora do paÍs (construção de escolas, estradas, hidro-
em cânones éticos, em atenção ao plexo de regras que regem a atuação da admi- elétrica etc.);easimprodativas correspondemàs despesas quenão geramutilidade.
nistração pública. Compreendem-se em seu âmbito os princípios da boa-fé e da Pelo critério da competência constitucional de cada entidade política, as
lealdade, sendo defeso à administração agir com malícia quando darealização de despesas públicas podem ser classificadas como/ederais,municipais, estaduaís ott
despesas públicas.r distritais.
Tal classificação é oportuna para identificar a despesa a partir do ente do
qual emanam os recursos respectivos, bem como o órgão responsável por seu
I. O Superior Tribunal deJustiça já determinou que prefeito municipal fosse responsa-
pagamento.
bilizado criminalmente por fracionar despesas como forma de fugir da exigência de
Iicitação, o que fere, dentre outros, o princÍpio da moralidade (STJ, REsp 504.785/PB, Todavia, vale lembrar que existem não só matérias de competência comum
j. 02.10.2003, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca). das três esferas políticas, como também de competência concorrente. Ademais, é
DESPESA pÚnr1cR 43
42 LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO
frequente a superposição de serviços públicos, implicando a duplicação ou tripli- Estaclos e suas instituiçoes financeiras para custeio de despesas com pessoal ativo,
cação desses serviços para o mesmo frm. inativo e pensionista dos Estados, Distrito Federal e municÍpios. No mesmo sentido
Também é apontada como útil a classificação pelo critério da periodicidade. ê o art.19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impoe limites de despesa com
pessoal para cada ente da federação.
Nessa perspectiva, as despesas podem ser ordinariøs, sustentadas com recursos
que integram usualmente o orçamento anual; ou extraordinarias, para atender A divisão em despesas correntes e de capital comporta ainda detalhamento
necessidades momentâneas, de caráÍ-er esporádico. classificatório: o art. 12 daLei4.320/1964 subdivide as despesas correntes em
despesas de custeio e transferências correntes; e as despesas de capital em investi-
As despesas ordinárias são as vocacionadas a satisfazer as necessidades pú-
mentos, inversoes financeiras e transferências de capital.
blicas permanentes, bem como as que, embora não rotineiras, sejam previstas e
consignadas na lei orçamentária; já as extraordinárias visam ao atendimento de
4.2.1. Despesas de custeio e transferências correntes
necessidades imprevistas, irnprevisÍveis e urgentes, a exemplo das despesas decor-
rentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Menciona-se ainda as As despesas de custeio constituem dotaçÕes para a manutenção de serviços
despesas especiais, que têm por finalidade atender a necessidades novas, surgidas já existentes. Enquadram-se nessa categoria os gastos com pessoal, material de
após a aprovação do orçamento. Conquanto imprevisíveis, diferem das extraordi- consumo, imóveis, dentre os quais
e obras de conservação e adaptação de bens se
nárias por não serem dotadas da mesma urgência. incluem os bens de uso comum do povo, como ruas, estradas e praças.
DESPES,{ PÚBLICA 45
4.2.3. Detalhamento das categorias econômicas
(art. 51), bem assim estabeleceu parâmetros
para adivuigação dos relatórios
A subdivisão das categorias econômicas execução orçamentária bimestral (art. 52). de
previstas n o art. 12 daLei4.320/1964
é especificada com a previsão do art. 13,
que as decompÕe por elementos de des_ As referidas consolidação das contas
pesa' Revela-se oportuna a apresentação das e divurgação dos relatórios, por
categorias inseridas nas mencionadas exigiram a uniformização dos procedimentos sua vez,
rubricas, conforme ilustra o seguinte quadro: de eåcuçao orçamentária, bem
a utilizaÇão de uma mesma clalsificação
assim
das receitas e despesas públicas que,
a teor
do art' 52,,,b, eil,b,deveria ter em .orr,u
DESPESAS CORRENTES
DESPESAS DE CAPITAL o critério de grupo de nqtureza.
Despesas de Cusfeio Nessesentido,asecretariadoTèsouroNacionardoMinistériod
lnvestimentos aFazenda(srN),
Pessoal Civil órgão central da contabiridade da união,
Obras Públicas ea secretaria do orçamento Federal do Mi_
nistério do Planejamenro,orçamenro e Gesrão
Pessoal Militar orgao ffietente para dispor
Serviços em Regime de programação Especial sobre classiûcaÇÕes orçamentárias, editaram !soF),
Material de Consumo a Portaria Interministe rial 163/2001.
Equ ipamentos e lnstalações
De acordo com o art. 3." da mencionada portaria
Serviços deTerceiros a classificação da despesa
Material Permanente compõe-se de: (i) caregoria econômica (já prevista no
Encargos Diversos arr. rz da Lei4.320/1964);
Participação em Constituição ou Aumento (ii) grupo de naturezadad,espesa, assim
cle cåmpreendi daaagrega,ção de elementos
de
Transferências Correntes Capital de Empresas ou Entidades lnclustriais despesa que apresentam as mesmas característicu,
quu.rto uã oui"ro do gasto; (iii)
Subvenções sociais ou Agrícolas elemenros de despesa, com a finalidade identificar
år gasro; (iv) grupo
Subvenções econômicas Inversões Financeiras de natureza de despesa éaindacomplementado "¡:.årä;
por u-u i.rfo.-ucao g"r"rr.ial cha_
mada de modalidade de apricaçao,qu" t"*
lnativos Aquisição de lmóveis po, escopo indicar se a despesa é efetuada
diretamente por um entepúblico o., ," o, .".ursos
Pensionistas Participação em Constituição ou Aumento correspondentes são transferidos
de a outro ente para que este realizeo gasto (art.
Capital de Empresas ou Entidades Comerciais 3.o, ê 1." da aludida portaria).
Salário Família eAbono Familiar
ou Financeiras Dessa forma, a estrutura da.'arurezada
despesa é fixada pero art. 5.o da por_
Juros da Dívida pública taria Inrerminisrerial sTN/soF 163/200r.o-
Aquisição deTítulos Representativos de bur. em cincå indicaçÕes, cujos
Capi_
Contribuições de previdência Social números constam do seu Anexo II, perfazendo
tal cle Empresa em Funcionamento o formato ;.g._*."e.dd,,, onde:
Diversas transferências correntes "c" representa a categoria economicã; ',g"
Constituição de Fundos Rotativos o grupo d" nutureåda despesa; ,,mm,,
a modalidade de aplicaç ã,o; "ee" o elemÃto
Concessão de Empréstinros ã" d"rp.ru; e "ddJ o desdobramento,
facultativo, do elemento de despesa.
Diversas lnversões Financeiras
considerando que as categorias econômicas já estão fixadas
Transfe¡ências de Capital
correntes e despesas de capital, bem assim
em despesas
o grande número de modalidades de
Amortização da Dívida pública aplicação e de elementos de despesa apreensíveis
pera averiguação do Anexo II
Auxílios para Obras públicas da Porraria Inrerminisreriar srNTso p iallzoot,
é ìonvenieír" apenas os
Auxílios para Equipamentos e Instalações grupos de natureza da despesa, assim esquematizados: ""po.
Auxíl ios para lnversões Financeiras
CRUPOS DE NATUREZA DA DESPESA
Outras Contribuições
PORTARIA STN/SOF 1 63/2001
mento decondição. Adespeito daleiextremamentefalarem,;obrigação depaga*"rrto',, pelo credor ao recebimento da prestação. Esta verificação não é apenas formal'
há alguns requisitos que devem ser observados em etapas posteriores para Deverá sempre observar o que ocorre na realidade, muitas vezes íncluindo a veri-
qu e opaga-
mento possa serrealizado. EmsÍntese, o empenho é o ato administrativo que ficação física do curnprimento da obrigação por parte do contratante (pela visita a
er1quuãru
a despesa em determinado crédito orçamentário, deduzindo-a. uma obra, por exemplo). A liquidação deve levar em conta as condiçÕes previstas
Funciona também como
uma garantia ao credor de que os valores empenhados têm previsão orçament ária.É na licitação, no contrato, no empenho e em todos os atos administrativos que es-
uma das etapas mais importantes da despesa pública, devenão, a princÍpio, evitar pecifrcam os requisitos para o correto cumprimento da obrigação.
que
um pagamento seja fiustrado por falta de verba. Possibilita aos diversos Orgaos da
Ád- Verificado o direito adquirido do credor, a autoridade competente exara' por
ministração, além disso, que conheçam as diversas parcelas empenhadas áa despesa. despacho, aordemdepagamento,quedeterminaqueadespesasejapaga(art.64daLei
É comum deparar-se, no entanto, com o empenho ä posteriorr, adotado 4.320/1964).Aorderndepagamentosomentepoderáserexaradaemdocumentospro-
apenas para
justiflcar formalmente o cumprimento das normas pertinentes. cessaclospelosserwiçosclecontabilidade(art.64,parágrafoúnico,daLei4.320/1964).
É importante destacar que se prevê, excepcionalmente, um regime
de adian- A execução da despesa se enceïra com o pûgumento , qtue apenas será efetuado
tamento das despesas (ou suprimento de fundos), aplicado para os casos expres_ quando ordenado após sua regular liquidação (art. 62 daLeí4 .320/1964) . Será feito
samente deflnidos em lei (arts. 68 e 69, Lei 4.320/1964). cãnsiste na entrega
de mediante ordem bancária ou cheque nominativo contabilizado pelo Órgão compe-
numerário a servidor, sempre precedida de empenho na dotação própria, paruã
fi* telte, e obrigatoriamente assinado pelo ordenador da despesa e pelo encarregado
de realizar despesas que não possam subordinar-se ao processo
nor*ãt d" âplicação, do setor financeiro (art.7 4 do Decreto-Lei200/1967) .
sempre devendo haverprevisão expressa em lei. É, porexemplo, o regimeãplicado Cabe ressalvar que a ordemjurídica de pagamento não se confunde com o
para despesas eventuais tais como viagens que exijam pronto pagamento, ato do depósito bancário na conta do credor. A fase do pagarnento possui dois
ou para
despesas sigilosas e de pequeno vulto. momentos: aquele em que se manda pagar,e aquele em que se paga efetivamente.
De acordo com o art. 59 da Lei 4.320/1964, os valores empenhado
s nao po- Excepcionalmente, é possível o pagamento antecipado das despesas, isto é, sem
dem superar os valores das dotaçoes às quais se submetem ,ro o.iu*"rrto
público: que o fornecedor ou prestador de serviço tenlnarealizado o serviço ou entregue o
a nota de empenho retira parcela ou a totalidade dos valores bem, conforme prevê o Decreto 93.872/1986.
dispostos na norma
orçamenúria para serem realizados. Assim, o valor do empenho jamais Assim, pode-se perceber uma ordem sucessiva na realização das despesas
deve ser
superior ao valor da dotação. públicas: empenho -+ Iiquidaçao -+ pd'gdmento.
4B LICOES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA pÚsllce 49
5.2. Créditos adicionais Constituição como situaçoes de guerra, comoção interna e calamidade pública)
orçamento público é formado por normas que preveem as receitas e as ne- deve ser observada na abertura do crédito extraordinário. Foi uma importan-
cessidades públicas, fixando despesas para perÍodos determinados. No entanto,
te mudança de perspectiva do STII que firmou a possibilidade de conrrole de
muitas vezes é necessário modificar as previsÕes orçamentárias, por meio dos constitucionalidade de leis orçamentárias. Outra particularidade dos créditos
chamados cr edito s adicionais.
extraordinários é que não necessitam indicar os recursos correspondentes para
sua abertura (aregra do art. L67 ,V, da CFll988, aplica-se expressamente apenas
Há três modalidades de créditos adicionais: suplementares, especiaís e extra-
aos créditos suplementares e especiais).
ordinarios. Sua disciplina jurídica não é uniforme, e eles podem promover ranto
A propósito dos recursos para a abertura dos créditos suplementares e espe-
alteraçÕes quantitativas como qualitativas no orçamento.
ciais,aLei4.320/L964étaxativaquantoasuaorigem (art.43).Sempreprecedidos
Os créditos suplementares destinam-se ao reforço de dotaçoes orçamentárias
de exposição justificativa, admitem-se apenas aqueles provenientes de: a) superá-
que, no curso da execução, se revelaram insufi cientes (art. 4r,r, claLei 4 .32.0 / rg 64) . vit financeiro (diferença positiva entre o ativo fi.nanceiro e o passivo frnanceiro);
os créditos especiais, por sua vez, atendem a despesas que não [êm dotação b) excesso de arrecadação (saldo positivo das diferenças, acumuladas mês a mês,
orçamentária especÍfica (art.4r,II, da Lei 4.320/1964), sendo abertos para um entre a arrecadação prevista e arealizada, considerando-se, ainda, a tendência
programa não incluÍdo no orçamento. Se o programa criado pelo crédito especial do exercício); c) anulação parcial ou total de doaçoes; e, finalmente, d) recursos
tiver duração superior ao exercício flnanceiro, deve ser incluído no eeA (arf. I67, provenientes de operaçoes de crédito.
0 I 'o, da CFll988). Por último, os créditos devem atender a despesas imprevisÍveis
Os créditos adicionais vigem no exercício financeiro em que foram abertos.
e urgentes, tais como as decorrentes de guerra, comoçâo interna ou calamidade
Segundo o art.167 ,8 2.", da CFll9BB, se o ato de autorização de créditos especiais e
pública (art. 167, ë 3.", da cFl1gBB). Tôdos os programas devem ser comparÍveis extraordinários for emitido nos últimos quatro meses do exercício, serão reabertos
com o PPA (art. 165, g 7.", da CF/lgBB). nos limites dos seus saldos e incorporados ao orçamento do exercício financeiro
Há uma diferença quanto à espécie legisrativa adequada para aabertura de subsequente. Nota-se, portanto, que essas duas modalidades de crédito podem ter
cada um desses créditos, e por vezes païa um mesmo crédito preveern-se espé- vigência plurianual se tiverem sido abertos nos últimos quatro meses do exercÍcio.
cies distintas. A regra geral é de que os créditos suplementares e especiais sejãm O sentido disso é que, sendo o orçamento federal enviado ao Congresso em meados
autorizados por lei e abertos por decreto do executivo, indicando-se os r"..,rro, do mês de agosto, os progrâmas criados por créditos especiais e extraordinários
correspondenres (arr. 167 ,v, da cFll9BB e art . 42 Lei 4.320/1964) . Enrende-se entre agosto e dezembro não estarão previstos nele.
que a iniciativa destas leis compete ao chefe do poder Executivo, que as enca_ O art. 167, VI, da CFll988, menciona a existência de outros mecanismos
minha ao Poder Legislativo. ocorre que, no caso dos créditos suplementares, há retificadores do orçamento: as transferências, remanejamentos e transposiçÕes de
um espaço signifrcativo para que não seja necessária uma autorização legislativa recursos. Não fugiu a Constituição à lógica geral das alteraçÕes orçamentárias ao
específica paracadacaso. Segundo o art. i65, g 8.", da constituição, que contém vedar que estes procedimentos sejam feitos sem lei específica (proibiçao do estorno
algumas exceções ao princípio da exclusividade orçam entária,é possÍvel que a lei de verbas). A duvida é se tais alterações seriam instrumentos equivalentes aos cré-
orçamentária anual contenha uma autorização prévia p araaaberlura de créditos ditos adicionais, visto que também se destinam a realocar recursos orçamentários.
suplementares. São asmargens deremanejamento d,o oiçamento, que conferem As transposiçÕes, transferências e remanejamentos são instrumentos rara-
ao
Executivo grande maleabilidade na gestão dos recursos orçamentários. mente utilizados na prática da condução do orçamento. Isto errrrazão da facilidade
Tratando-se de créditos extraordindrios, admite-se sua abertura por medida da abertura de créditos suplementares dentro das margens de remanejamento ou
provisória, no caso federal, ou decreto do Executivo, no caso de outros entes fe- de créditos extraordinários. A praxe dos governos de diferentes níveis tem sido,
derativos que não contem co''. o instrumento da medida provisória. Há, segundo assim, abrir créditos adicionais.
o texto constitucional, três requisitos para a abertura do crédito extraordinário:
além da relevância e urgência, próprios daquela espécie normativa (art. 5.3. Limitação de empenho
62),há
a imprevisibilidade. Contrariando a tendência de se recorrer em
demasia a esse A Administração dispoe de diversos mecanismos para ajustar o orçamento
tipo de crédito, emrazão da maior facilidade de sua abertura, o supremo Tribunal às necessidades que surjam durante a sua execução. Para refrear as despesas em
Federal entendeu, na ADI 4048/DE,que a imprevisibilidade (exemplifrc tempos de receitas inferiores ao previsto, são estabele cidaslimitaçoes de empenho.
adapela
50 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA púsuc,A, 51
6.2. Repercussão nas contas públicas e tratamento jurídico e contábil Finalmente, convém consignar que não apenas o Tiibunalde Contas daUnião,
A questão dos restos apagar tem merecido destaque no plano das contas pú- mas também o Poder Legislativo tem atentado para os efeitos perversos causados
blicas. Embora expressamente previstos e regulados pela legislação, que enquadra- pelo incremento dos restos apagar. Na Lei 7I.439/2006 (LDO de 2007), o art.
-os como divida flutuante (art.92 da Lei 4.320/1964), eles representam exceçao 129 frxava a limitação da inscrição de restos apagar a70o/o dos valores inscritos
ao princípio da anualidad.e do orçamento e geram impacros quanto à programação no ano anterior, disposição vetada pelo Poder Executivo sob os argumentos de
financeira orçamentária. que os restos a pagar são inerentes ao processo de execução orçamentária e de
que não caberiam maiores limitaçoes além daquelas já contidas na Lei de Respon-
Desse modo, a mensagem que integra a proposta de lei orçamentária enviada
sabilidade Fiscal. No mesmo sentido, a redação da LDO de 2008, aprovada pelo
pelo Executivo ao Legislativo deve conter quadro demonstrativo da dívida e, em
Congresso Nacional, previa em seu art. l3 1, $ 2.o, a vedação à execução de restos
especial, dos restos apagar (art.22 da Lei 4.320/1964). Além disso, o Decrero
a pagar inscritos em períodos anteriores a 2007 , que não tinham sido quitados
93.872/86 prevê que os restos apagar serão considerados na execuçâo da progra-
alé31 de dezembro daquele ano. Da mesma maneira, o Executivo opÔs veto ao
mação financeira, constituindo item específrco cujo pagamento deve efetuar-se
dispositivo, sob o argumento de prejuízo à execução orçamentária e de que a
dentro do limite de saques fixado no âmbito dessa programação (arts. 9.. e l5).
diminuição dos restos apagar não poderia ser levada a efeito de forma abrupta,
De toda sorte, o crescente aumento dos restos
a pagar no plano federal tem sido mas sim de maneira gradual.
alvo de reiterados parecetes do Tribunal de Contas da União chamando a atenção
para seus efeitos em importantes aspectos das contas públicas, como o resultado 6.3. Os restos a pagar e a Lei de Responsabilidade Fiscal
primário e aplicação derecursosnas finalidades constitucional e legalmente fixadas.
Em homenagem ao equilíbrio das contas publicas, a Lei de Responsabilidade
Isso porque inscrição de valores em restos a pagar, além de excluir do exercÍcio
a
Fiscal, contemplou, em seu art.4z,disciplina atinente aos restos apagar.
frnanceiro determinada previsão orçamentária, gera impactos nos exercícios fi.nan-
ceiros seguintes, na medida em que a despesa é transposta para momento futuro. Prevê o referido art. que os titulares de Poder ou órgão referido no art. 20
estão proibidos de assumir nos últimos dois quadrimestres do respectivo mandato
Considerando, pois, que o cálculo do superavif primário pelo governo fe-
obrigação de despesa que nào possa seI cumprida integralmente dentro dele, ou
deral é realizado com base no regime de caixa, tendo em conta, portanto, apenas
que tenham parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente
as despesas efetivamente pagas no exercÍcio, é de se conceber que a inscrição em
disponibilidade de caixapara este efeito.
restos apagar contribui para a geração de um falso resultado positivo decorrente
da postergação da despesa. A infração arl. 42 da LRE inclusive, é tipificada como crime contrd as fnan-
ças publicas, previsto no art. 359-C do CB ensejando a perra de reclusão de um a
Nem se diga que o cômputo das despesas empenhadas no cálculo dos valores
quatro anos.
aplicados em áreas constitucionalmente prestigiadas, como a saúde e educação,
pode ensejar uma falsa percepção de destinação dos recursos a essas finalidades, Mencionado arcabouço normativo tem a evidente intenção de conferir aus¿¿-
tendo em vista a possibilidade de posterior cancelamento dos restos apag r. ndade ao gasto público,coibindo arealização de gastos no último ano do mandato.
Essas ocorrências são bem exploradas nos relatórios de acompanhamento da A crítica que se faz é q'ue, no período que antecede os últimos oito meses
execução orçamentária e financeira da União, elaborados pelo Tiibunal de Contas de gestão, bem assim nos tIêS anos anterioles, o mandatário pode incorrer em
da União. despesas que podem implicar dificuldade de ajuste ao final do mandato , razã,o
pela qual a previsão deveria contemplar a análise do resultado ao final de cada
Importa notar que, a teor do art.92 da Lei 4.320/1964 e do art. 67, $ 2.o, do
período anual.
Dec.93.872/1986, o registro dos restos apagar far-se-á.por exercício e por credor.
A preocupação com o controle e a identificação do incremento dos restos a
No quediz respeito ao pagamento ou cancelamento dosrestos apagar, convém
pagar materialíza-se ainda nos arts. 53 e 55 da LRf, que obrigam a apresentação
ressalvar que existem casos em que o valor no momento da quitação pode revelar-
de quadro com dados relativos aos restos a pagr tanto no relatório bimestral da
-se maior ou menor do que o inscrito. Na hipótese de o valor apagar ser menor,
execução orçamentária quanto no relatório de gestão fiscal a ser emitido após o
haverá exclusão quanto à diferença. Se for maior, o pagamento deverá serprocedido
fim do último quadrimestre.
à conta de dotação destinada a despesas de exercício anteriores.
54 LIÇOES DE DIREITO F]NANCEIRO
DESPESA PÚBLICA 55
7. Despesas por determinação constitucional e legal nattlreza, bem como encargos sociais e contribuiçÕes recolhidas pelo ente às en-
7.1. Despesas obrigatórias tidades de previdência. "
O objetivo, portanto, é que os limites para despesa com pessoal atinjam todas
Normas jurídicas podem vincular condutas de três modos: permitindo, possibilidades de remuneração, para que os administradores públicos respeitem
as
proibindo ou obrigando. No caso das despesas públicas, há normas que simples- de fato tais limites.
mente attorizarnarealização de determinados gastos e normas que obrigam a sua
Os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal são estabelecidos sobre a receita
execução.
corrente líquida, no percentual d e50o/o (cinquenta por cento) para a União ,e60o/o
No Brasil, tem-se um modelo em que parte das despesas públicas é veiculada (sessenta por cento) para Estados e MunicÍpios. Tais percentuais são divididos
como permissão de gasto ao administrador público, e outra parte possui um man- entre os Poderes e Órgãos do Estado pelo seu ar:.20, de forma que Ministério
damento constitucional ou legal que torna obriga foriarealização do gasto chamado Público, Judiciário e Legislativo saibam a parÍe que lhes cabe nos limites esta-
"orçamento impositivo", que já foi objeto de diversas propostas legislativas, cria belecidos pela lei.
comandos normativos específrcos para que despesas veiculadas nos orçamentos
A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, ainda, a nulidade dos atos que impli-
públicos tenham caráter obrigatório, e não meramente autorizativo, de forma a
quem aumento da despesa com pessoal sem atendimento dos requisitos estabele-
obrigar os administradores públicos a executarem o orçamento de acordo com
cidos na própria legislação (art.2L).
aquilo que foi votado pelo Legislativo, diminuindo a margem de discricionariedade
da execução orçamentária.
Os limites máximos percentuais de despesa com pessoal fixados no art.
19 da Lei não podem ser atingidos, e quando atingidos 95o/o algrmas sançoes já
Outro exemplo de despesas obrigatórias são as despesas com pessoal. lJmavez
são estipuladas, como a vedação de criação de cargo ou função, e a concessão
preenchidos os cargos, não há discricionariedade possível para o executor do orça-
de reajustes.
mento decidir o não sobre o pagamento das remuneraçÕes dos servidorespúblicos.
Quando atingido os 100o/o do limite de despesa com pessoal, a Lei de Res-
7.2. Despesas vinculadas ponsabilidade Fiscal estabelece o prazo de dois quadrimestres para a eliminação
do excedente. Não atingidos os objetivos, novas sançoes são estabelecidas (art.
Algumas despesas decorrem de normas devinculação dereceitas a destinaçÕes 23 da LRF).
especÍfrcas. São as chamadas despesasvinculadøs. Diferentemente das despesas
obrigatórias, podem não ser realizadaspela Administração pública. B. Precatórios
7.3. Despesas com pessoal 8.1. Conceito, características e reg¡me geral de pagamento
As despesas com pessoal são despesas obrigatórias e constituem parcela Pagamento devido pela Fazenda Pública de qualquer dos entes federativos,2
importante dos orçamentos, seja na esfera federal, seja nos Estados, no Distrito decorrente de decisãojudicial transitada emjulgado, segueprocedimentopróprio,
Federal e nos Municípios. distinto do tratamento jurídico conferido no caso de relaçÕes entre paÍiculares,
ou entre contribuinte e Fisco.
Por esse motivo, a Lei de Responsabilidade Fiscal elegeu uma série de critérios
para limitar e racionalizar a disposição de gastos nessa área, especialmen Íe para Na execução da obrigação de pagar contra o Poder Público, o modelo utili-
evitar zado pelo ordenamento jurídico brasileiro foi o dos "precatórios requisitórios",
a contratação excessiva de servidores pelos entes públicos.
ou simplesmente "precatórios", que confrguram ordens judiciais emitidas contra
A Lei de Responsabilidade Fiscal (art. lB) disciplina o conreúdo jurÍdico da
aFazenda Pública, obrigando-a a inserir no oÍçamento montante suficiente para
expressão "despesa total com pessoal", caracterizando-a como "o somatório dos
gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos
a mandatos eletivos, cargos, funçÕes ou empregos, civis, militares e de membros
de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vanta- 2. O Supremo Tiibunal Federal já reconheceu que o regime dos precatórios se aplica tam-
gens. fixas e çg¡l:jr,rçjç- s¡bsíclios, proventos da aposentadoria, reformas e pensoes, bém a empresas públicas da AdmÍnistração Indireta (RE220.906/DIl rel. Min. Maurício
Corrêa, DJ 14.I1.2002;RE225.01I/I4G, rel. Min. Marco Aurélio, DJ f9.12.2002; RE
ì¡t+,:lt¡..tive adicionais, grarificaçoes, horas extras e vantagens pessoais de qualquer
393.032/MG, rel. Min. Cármen Lucía,DJe de12.12.2009).
56 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO
DESPESA PÚBLICA 57
efetuar o pagamento de dívida líquida, certa e exigível, observando o regramento 60 anos de idade ou mais3 ou sejam portadores de doença grave. Estes credores, de
disposto no art. 100 da Constituição Federal. acordo com o dispositivo constitucional, serão pagos com preferência sobre todos
Procedimenro para que a determinação judicial transitada em julgado seja os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do frxado em lei como obrigaçoes
cumprida, e o pagamento realizado, é o seguinte: (i) o juiz da execução encami- de pequeno valor,a admitindo-se o fracionamento do crédito para esta finalidade,
nhará uma solicitação ao Presidente do Tiibunat; (ii) este realizará a numeração sendo que o restante deverá ser pago na ordem cronológica de apresentação do
do precatÓrio e encaminhará uma comunicação àFazendaPública, requisitando precatório de natureza alimentÍcia.
averba necessária à quitação do precatório; (iii) a pessoa jurÍdica de diráito públi- Na hipótese de inobservância da ordem cronológica ou das preferências cons-
co acionada deverá destacar no orçamento público valor suficiente para realizar titucionais para o pagamento dos precatórios, o credor preterido poderá requerer,
o pagamento; (iv) o Poder Executivo, então, liberará em nome do presidente do junto ao Presidente do Tribunal, o sequestro do montante necessário à satisfação
Tiibunal o montante necessário à quitação, previsto no orçamento público para do seu crédito (art. 100,0 6.o, da CFllgBB).
este fim; (v) e, finalmente, o Presidente do Tribunal enviará os recursos aoJuízo res-
Caso não reallzado o pagamento até o final do exercÍcio financeiro em que seria
ponsávelpela execução, para que este proceda ao pagamento, devendo obediência
devido, abre-se espaço paraa intervenção federal, à luz do disposto no art. 35, ! da
à ordem cronológica de apresentação dos precatórios, bem como às preferências
CFl1988. O STE contudo, já se manifestou diversas vezes sobre o assunto,5 posicio-
constitucionalmen te estabelecidas.
nando-se no sentido de que não se justiflcaria a intervenção federal por nào pagamento
As solicitaçÕes enviadas até o dia l.o de julho pelo Presidenre do Tribunal de precatórios quando o fato não se deva a omissão voluntária e intencional do ente
ao Poder Executivo devem ser inseridas no orçamento do ano seguinte, devendo federado, mas ainsuficiência temporáriaderecursos financeiros, alocadosparaamanu-
ser quitadas até o final do exercÍcio financeiro, observando a àtualização mo- tenção de serviços públicos essenciais, garantidos por outras norrnas constitucionais.
netária dos valores (art. 100, g 5.", cFll9BB). consoante reconhece a súmula
Destaca-se, ainda, que o Presidente do Tribunal que, por ato comissivo ou
vinculante 17 do srll não incidem juros de mora sobre os precatórios quita-
omissivo, vier a retardar ou tentar frustrar o pagamento de precatórios incorrerá
dos até o final do exercÍcio frnanceiro em que foram inseriåos no orçamento
em crime de responsabilidade, respondendo, ainda, perante o Conselho Nacional
público, haja vista que a Administração pública encontra-se dentro d.o prazo
deJustiça (art. 100,0 7.o, da CF/I9BB).
para realizar o pagamento.
Vale pontuar que a redação dos $ S 9." e 10 do art. I00 da CFll988, exigiam, no
Conforme disposto no art. I00, g 12, da CFllgBB, atualização se daria pelo momento da expedição do precatório, o abatimento, a título de compensação, do
índice oficialderemuneração básica da caderneta depoupanÇa, e, emhavendo rrroru
valor correspondente aos débitos lÍquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa
no pagamento, incidiriam juros simples no mesmo percentual daqueles incidentes
e constituídos contra o devedor originalpelaFazenda Pública devedora, incluindo
sobre a caderneta de poupança, excluindo-se os juros compensatórios. ocorre
parcelas vincendas de parcelamentos (exceto as parcelas relativas aos parcelamen-
que, em março de 2013, o supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o
tos cuja execução estivesse suspensa em virtude de contestação administrativa ou
enunciado em questão, por ser insuficiente para recompor as perdas inflacionárias judicial). Portanto, à luz do dispositivo em comento, apenas depois das eventuais
(ADr 4357 e ADl4425). Nesra roada, o srF conferiu ìnterpietação
conforme ao compensaçÕes que o precatório seria expedido, já com os valores devidamente rea-
referido dispositivo, para que os mesmos critérios de flxaçat de juros moratórios
prevaleçam para devedores públicos e privados, nos limites da'naturezade
cada
relação jurídica analisada. 3. A Emenda Constitucional 62/2009 determinava que somente os sexagenários ou por-
tadores de doença grave na data de expedição do precatório é que poderiam gozar da
- vale ressaltar a preferência que o art. r00, s 1.", da cF/lgBB, concede ao débito
de natureza alimentÍcia, entendido como aquele decorrente de salários, venci-
preferência no pagamento. O Supremo Tribunal Federal, porém, determinou ser des-
necessário que o credor apresente tais condições no momento do reconhecimento do
mentos, proventos, pensÕes e suas complementaçÕes, benefícios previdenciários precatório, sendo irrelevante para fins de gozo de tal preferência que apresente ântes
e indenizaçoes por morte ou por invalidez e fundados em responsabilidade do reconhecimento ou depois (ADI 4.357 e ADI 4425).
civil.
Segundo o dispositivo constitucional, créditos desta nutur")uterão preferência 4. As obrigaçoes definidas em lei como de pequeno valor não seguem o regime jurídico dos
sobre os demais quando do pagamento dos precatórios. precatórios, mas são quitadas de maneira distinta, mediante "requisiçÕes de pequeno
valor" - RP! que serão melhor exploradas mais adiante.
o g 3." do
art. 100 da CF/l988 estabelece que dentre os créditos denatureza
5. Cf. lF 5.1Ì4lRS, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 0ó.09.2012; lF 506 AgVSP, rel. Min. Mau-
alimentÍcia, terão prioridadena ordemdepagamento aqueles cujos titulares
tenham rício Corrêa, DJ 25.06.2004; e IF 5.050 AgR/SP, rel. Min. Ellen Gracie, D1e25.04.2008.
5B LrÇoES DE DTRETTO FTNANCEIRO DESPESA PÚBLICA 59
como tal lei complementar não chegou a ser editada, nao há que suas complementaçoes; e (iv) que já tiverem os seus respectivos
recursos liberados
se fälar em
regimedequitaçãodistintodaquelepreviitonoart.l00daCF/l9B[i.Assevera-se, ou depositados em juÍzo.
Ademais, o $ 3.o do art. 78 do ADCT, reduz para dois anos o prazo para
contudo, que durante alguns anos vig eu o regime especialprovisório a
estipulado pelo
d9 e!cr' o qual, enrreranro, foi declarado in.onititucionar quitação dos precatórios decorrentes de desapropriação de imóvel residencial
do
Tt:97 p"io srprä*o
Tiibunal Federal (ADIs 4357 e 4425). cìedor, desde que comprovadamente o único à época da imissão na posse.
B'2' os parcelamentos promovidos o g 1.. do art. 78 do ADCT permite que se proceda à decomposição das
peros arts. 33 e 78 dos ADCT parcelas a critério do credor. Assim, o montante representativo de cada
uma das
Neste momento, cabe tratar dos a¡ts. 33 e 78 do ADCT,
que veiculam poster- d,".purr"lus, que deveria ser pago em quantia única a cada exercÍcio financeiro'
exer-
gaçoes de pagamento dos precatórios trazidas
em normas constitucionais.t podåra ,", pugo de maneira de.ó*porta em várias parcelas dentro de cada
cício financeiro.
O caputdo art. 78 do ADCT, admite a possibilidade de cessão dos
créditos a
6' o Tribunal, visando adar eficácia ao comando constitucional, antes de realizar no precatÓrio'
dição do precatório, deveria solicitar à Fazend,aPública
a expe, terceiros, que passarão a figurar como credores do valor consignado
devedora informaçoes acerca de
débitos que pudessem ser compensados. Esta teria o prazode
30 dias para responder,
sob pena de perda do direito de abatimento. Constitu-
8. OSTFjá analisou a constitucionalidade do regime introduzido pela Emenda
7' Durante o tempo em que o art.97 do ADCT esteve
em vigência, os pagamentos basea- a Corte deferiu medida cautelar suspendendo o regime de
cional 2012000. Na ocasião,
dos nos arrs. 33 e 78 do se sujeirara- uo i.gi*. .rp'..i.r provisório inconstitucional
quitação instaurado pela{o^clq$tm de pagamento parcelado instituído pelo art. 78 do ADCI por entendê-Io
EC 62/2009. (ADt2.362/DF e ADI 2.356/DF)
60 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO
DESPESA PÚBLICA 61
Tanto em se adotando o regime mensal, 9. Os percentuais estão dispostos nos incisos do art.97 , $ 2', do ADCI e variarn de acordo
quanto o regime anual, o enuncia-
do constitucional exigia qr," o Ãt. com: (i) a região em que o ente federativo se encontra; e (ii) o valor do precatório a ser
federativo depositasse parcela de sua receita adimplido.
62 LIÇOES DE DIREITO FIN,A,NCEIRO
DESPESA pÚsLTcR 63
A lógica que preside o dispositivo constitucional é a seguinte: todos têm o venção ou repressão de infraçÕes. Tais justiflcativas permitem ao gestor público,
direito à obtenção de informações em face dos órgãos públicos, admitindo-se, portanto, lançar mão de gastos sigilosos.
porém, em situaçÕes imprescindÍveis à segurança da sociedade e do Estado, a
Tomando-se em conta o grau de imprescindibilidade àsegurança da sociedade
manutenção do sigilo de determinados atos administrativos, compreendendo-se
ou do Estado, as informaçÕes empoder dos órgãos e entidadespúblicas poderão ser
neste rol determinados gastos públicos.
classificadas como ultrassecretas, secretas ou reservadas. Tal classificação impacta
Nota-se que o constituinte brasileiro relativizou o princípio da publicidade
diretamente nos prazos máximos de restrição do acesso à informação, que serão
dos atos administrativos em vista da segurança nacional-. Assim, o, gãrto, sigilo_
de: (i) 25 anos para as ultrassecretas; (ii) de 15 anos para as secretas; e (iii) de 5
sos devem sempre estar suficientemente fundamentados na pondeiaçao
u anos para as reservadas. Transcorrido tais prazos, a informação deverá ser aberta
publicidade e a segurança da sociedade, admitindo-se a sua re aiizaçao quando"rrä"
esta ao público.
se sobrepuser àquela. Tal verificação deve ser rcalizadadiante de
casos concretos, No âmbito da administração pública federal, A Comissão Mista de Reavaliação
como instrumento para atestar a legitimidade desse tipo de despesa. Gastos
sigilosos de InformaçÕes poderá: (i) requisitar da autoridade que classificar informaçÕes
não podem servir como válvula de escape para o gestor público realizar
dispãndios como ultrassecreta e secreta esclarecimento ou conteúdo parcial ou integral da
à margem de controle.
informação; (ii) rever a classificação de informaçÕes ultrassecretas ou secretas, de
Ademais, os gastos sigilosos devem ser autorizados
- pelo congresso Nacio- ofÍcio ou mediante provocação de pessoa interessada, e (iii) prorrogar, por apenas
nal. Nesse sentido, a Lei de Diretrizes Orçamentárias veicula a possibilidade da rrmavez, o prazo de sigilo de informação classificada como ultrassecreta, sempre
realização de gastos sigilosos, e a Lei orçamentária Anual, por rru vez,
des?aca por ptazo determinado, enquanto o seu acesso ou divulgação puder ocasionar
montantes individualizados por órgãos públicos, para que eltes efetuem
despe_ ameaça externa à soberania nacional ou à integridade do território nacional ou
sas sigilosas, sem determinar,
por óbvio, em qual p.ogtä*u ou projeto tal gasto grave risco às relaçÕes internacionais do país.
deve ser realizado.
Finalmente, quanto à fiscalização e controle externo dos gastos sigilosos no
ALei 12.527/20rr regulamenta o acesso à informação previsto no art. 5.o,
âmbito federal, o Regimento Interno do Tribunal de Contas da União (RITCU)
XXXIII, da cF/l988, dispondoacerca dapossibilidadede mitigäção dapublicidade
determina que o Tiibunal tenha irrestrito acesso a todas as informaçÕes disponíveis
dos atos administrativos, abrindo também espaço paraareallzaçãode
gastos sigi- em órgãos e entidadesjurisdicionados, inclusive àquelas que tratem de despesas
losos. Em seu art. 21, prevê-se a possibiridad" d" rei tregudo o u.årro
a informação sigilosas (art. 3.o do RITCU). A análise e o julgamento das despesas assim classifi-
necessária à tutela de direitos fundamentais. Por outro lad.o, o art.23da
mesma lei cadas serão feitos mediante tramitação sigilosa (art. 158 do RITCU), e ocorrerão
delimita as situações tomadas como "imprescindÍveis à segurança da sociedade
em sessÕes extraordinárias das quais farão parte apenas ministros, auditores,
ou do Estado" como aquelas que possam: (i) por em risco ã d"f.ru e a
soberania representantes do Ministério Público e servidores da unidade responsável pelo
nacionais ou a integridade do território nacional; (ii) prejudicar ou por
em risco a secretariado do Plenário autorizados pelo Presidente (art. 97 do RITCU).
condução de negociaçÕes ou as relaçÕes internacionais dt pais, ou
as que tenham
sido fornecidas em carátersigiloso por outros Estados e organismossociáis; (iii)
por
em risco a vida, a segurança ou a saúde da população; (iv) oferecer
elevado risco à
estabilidade financeira, econômica ou monet¿íria do país; (v) prejudicar
ou causar
risco a planos ou operaçÕes estratégicas das Forças Armadai; (vÐ
pre¡ud car ou
causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico
ou teinológico,
assim como a sistemas, bens, instalaçÕes ou áreas de interesse
estratégico naciðnal;
(vii) ps¡ em risco a segurança de instituiçÕes ou de
altas autoridades nacionais ou
estrangeiras e seus familiares; ou (viii) comprometer atividades
de inteligência,
bem como de investigação ou fiscarização emãndamento, relacionadur.orãu
pr"-
0ualidade Editorial
Coordenoçõo
LtçÖEs
Luc¡¡r¡ Vnz Cru¡tn¡
Anotistos de Auofidode Editoriol:Carina Xavier Silva, Cinthia Santos Galarza, Cíntia lVeso.jedovas Nogueira, Daniela l\¡edeiros Gonçalves
Melo, Daniele de Andrade Vintecinco e Marìa Angélica Le¡te
Bibliografia
lsBN 978-85-203 -667 3-B
.l
. Direito financeiro 2. Direito financeiro - Brasil l. OIiveira, Regis
Fernandes de. ll. Horvath, Estevão. lll. Conti, José Maurício. lV. Scafl THOMSON REUTERS
Fernando Facury.
15-10694 CDU-34:336(81)
REVISTA DOS
índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Direito financeiro 34:336(81) TRIBUNAIS"
94 I uçors DE DrRErro FTNANCETRo
1. O endividamento público
Os Governos Federal, Estadual, Distrital e Municipal possuem diferentes cami-
nhos de obtenção dos recursos frnanceiros necessários à satisfação das necessidades
públicas, como a exploração do próprio patrimônio (receitas originárias), a tributa-
ção (receitas derivadas) ou a realização de empréstimos (endividamento público).
Recorrer ao endiyidamento é uma das alternativas financeiras para que o Poder
Público possa atender à necessidade de provisão de bens e serviços pelo Estado,
conforme as determinaçÕes constitucionais e legais.
O endividamento é conhecido desde a Antiguidade, mas foi no final da ldade
Média, com o desenvolvimento das instituiçÕes financeiras, que os empréstimos
l
b.