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Cnpírulo 2

DESPESA PÚBLICA

MrcHrL Hnsrn
Mestre e Doutorando em Direito Financeiro pela USP. Master
of Laws (LL.M.) pela Harvard Law School. Advogado.

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Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo - USP (CAPES). Coordenador do Curso de
Direito Matutino da Sociedade de Ensino U niversitário do Nordeste - SEU NE. Professor do Programa de
Pós-Craduação lato Sensu da DIREITO CV na Fundação Cetúl ioVargas - FCV em São Paulo.

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Mestre em Direito Econômico e Financeiro pela USP. Pós-Craduado e Bacharel em Direito pela
PUC-SP. LLM master of laws em DireitoTributário pelo lnsper. Advogado e Contabìlista.

SuuLnro: 1 . - 2. Conceito e características


As políticas públicas e a clespesa pública
das despesas públicas que orientam as despesas públicas - 4. Clas-
- 3. Princípios
sificações das despesas públicas:4.1 Critérios doutrinários; 4.2.Critério legal - Lei
4.320/1964: 4.2.1. Despesas de custeio e transferências correntes; 4.2.2. lnves-
timentos, inversões financeiras e transferências de capital; 4.2.3. Detalhamento
das categorias econômicas; 4.3. A classificação da Portaria lnterministerial STN/
SOF 163/2001 - 5. Execução da despesa pública: 5.1. Empenho, liquidação e
pagamento; 5.2. Créditos adicionais; 5.3. Limitação de empenho - 6. Restos a
pagar: 6.1 . Conceito; 6.2. Repercussão nas contas públicas e tratamento jurídico
e contábil; 6.3. Os restos a pagar e a Lei de Responsabilidade Fiscal * 7. Despesas
pordeterminaçãoconstitucional e legal:7.1. Despesasobrigatórias; 7.2. Despesas
vinculadas; 7.3. Despesas com pessoal - B. Precatórios: 8..1 . Conceito, caracte-
rísticas e regime geral de pagamento; 8.2. Os parcelamentos promovidos pelos
arts. 33 e 7B dos ADCT: 8.2.1. O art. 33 do ADCT; 8.2.2. O art. 7B do ADCI
8.3. Regime Especial Provisório (EC 62/2009);8.4. Compensação de tributos com
precatórios; 8.5. A utilização de precatórios como garantia em execução fiscal;
8.6. Requisição de pequeno valor - RPV - 9. Castos sigilosos.

1. As políticas públicas e a despesa pública


A evolução histórica da concepção de Estado foi acompanhada pela evolução
da proteção dos direitos dos homens.
lo DESPESA pÚnITcR 39
-) c) LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO

Na fase do Estado Liberal, os direitos fundamentais circunscreviam-seavalores Aqui se encontram, portanto, os parâmetros jurídicos que nortearão os gestores
como liberdade, igualdade, segurança e propriedade, cuja efetivação pressupunha públicos na elaboração orçamentária, mecanismo adequado para determinar o
uma abstenção do Estado. destino a ser conferido ao dinheiro público e, poI consequência, as necessidades
Na era do Estado Social, o rol de direitos fundamentais foi expandido para públicas que serão atendidas.
albergar valores como a saúde, educação, proteção ao meio ambiente, o que pres- É de se notar que a despesa pública, para que seja efetivada, requer a existência
supöe a açao estatal. E é exatamente na ação do Estado, no sentido de promover de contrapartida em receita. A existência de um montante adequado de recursos
tais direitos, que se verificam as denominadas políticas públicas. públicos é imprescindível na busca pela efrciência da despesa e o consequente
Conceito de políticas públicas é, usualmente, associado aos programas de atingimento das necessidades públicas. Na mesma linha, de nada adianta uma
ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do Estado e as máquina arrecadatória eficiente se a despesa pública não demonstrar o mesmo
atividades privadas, para realização de objetivos socialmente relevantes e politi- predicado. Receita e despesa, nesse sentido,perfazemo verso e o anverso de uma
camente determinados. mesma moeda. A qualidade na gestão das finanças públicas deve ser medida, ne-
cessariamente, nas duas pontas da atividade financeira do Estado.
Políticas públicas, nesse sentido, consistem na tomada de providências para
que os direitos se realizem, para que as necessidades da população sejam atendidas, Finalmente, ïessalta-se que a despesa pública deve atender a determinadas
em suma, para que as determinaçoes constitucionais e legais saiam do papel e se formalidades païa a suarealização. Ela segue um procedimento especÍfico que se
transformem em utilidades. encontra prescrito na Lei 4.320/1964, na Lei 8.666/1993 e na Lei Complementar
101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Trata-se do ciclo paraarealização da
A execução de taisprogramas ea tomada deprovidências demandam, contudo,
despesa pública, que serve como um mecanismo no controle da aplicação dos
a aplicação de recursos públicos, isto é, a realização de despesaspublicas.Daia cor-
recursos públicos.
relação entre despesas e políticas públicas, sendo a existência destas condicionada
à aplicação daquelas.
3. Princípios que or¡entam as despesas públicas
Há, todavia, uma assimetria entre recursos e gastos, razão pela qual nasce a
perquirição pelo conceito de necessidade e a consequente opÇão pelos valores que A despesapública deve atenção tanto aosprincÍpios gerais de direito fi.nanceiro
se pretende prestigiar como socialmente relevantes. Nesse sentido, a efetivação quanto a princípios jurídicos específrcos que balizam sua realizaçào.
dos direitos fundamentais por meio de polÍticas públicas pressupÕe a tomada de Como atividade que se desenvolve no seio da administraçã.o pública,
uma decisão política acerca do gasto a ser realizado. aplicam-se lhe os principios prescritos no art. 37 da CFll9BB. Deve observar,
também, os demais princípios espraiados pelo texto constitucional, explicita ou
2. Conceito e características das despesas públicas implicitamente. Assim, a despesa pública deve se pautar, dentre outros, pelos
Pode-se definira despesapública como aatividade administrativa de dispêndio princípios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade' da
de recursos do Estado objetivando à satisfação das necessidades públicas. publicidade e da eficiência.
Ressalta-se que a despesa pública deve sempre perseguir as necessidades Princípio dalegalidade norteia todo o sistema jurídico, regulando, também, a
públicas, qtteperfazem decisoes políticas, deliberadas e estabelecidas no âmbito despesa pública (arts. L65 e167 ,I e II da CF/1988). Todo e qualquer gasto público
legislativo e enunciadas no texto constitucional e nos demais diplomas legislati- deve ter previsão legal. Em outras palavtas, o gestol púbico somente pode incorrer
vos. EIas se distinguem tanto das necessidades coletivas (afeitas a determinado em dispêndios que apresentem legislativa, e a consequente indicação
^:utorizaLção
grupo de pessoas) quanto das privadas (relativas a um indivíduo específico). da fonte de financiamento. Em regra, é a lei orçamentária anual que autoriza a
Nao há que se confundir o interesse particular do gestor público ou de determi- realizaçao de gastos públicos, na medida em que enuncia a previsão de receita e a
nada coletividade com o interesse público, muito embora por vezes possam ser frxação das despesas.
coincidentes. Pode acontecer de a despesa estar estipulada de maneira insufrciente na lei
Não se pode perder de vista que, ao ser deflnida como atividade admi- orçamentária ou simplesmente de surgir a necessidade de realização de gastos
nistrativa, a despesa pública deve sempre atentar aos fundamentos (art. I.o da extraordinário. Nessas situaçÕes, admite-se a abertura de créditos adicionais, não
CFll9BB) e objetivos da República Federativa do Brasil (art. 3.o da CFlf 9BB). previstos na lei orçam enfária anual, mediante instïumentos legislativos especÍfi-
40 LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA PÚBLICA 41

cos. Percebe-se que mesmo nesses casos o princípio da legalidadesefazpresente, Princípio daefciênciaexige produtividade por parte da administração pública.
haja vista a necessidade de atos normativos que autorizem a abertura de créditos Relativamente ao gasto público, tal princípio impõe que este seja realizado de forma
adicionais. aoLirnizar os recursos, atingindo o interesse público no seu máximo grau possÍvel.
Princípío dapublicidadeexigeque todos os atos administrativos estejam ex- Por fim, a despesa pública deve atingir commais ênfase a camadapopulacional
postos aos cidadãos. Aplicado à despesa pública, o princÍpio em questão tenciona mais necessitada, visando à construção da sociedade justa e solidária, propugna-
viabilizar o direito do cidadao à informação acerca dos gastos públicos, inclusive da pelo art. 3.", I, da CFll9BB, bem como o início da erradicação dapobreza e da
como forma de aumentar o controle social sobre estes. A Lei Complementar redução das desigualdades sociais e regionais, tal qual previsto no art. 3.o, lII, da
131,/2009 visa a dar eficácia a tal principio, na medida em que exige transparên- CFlf 9BB. Trata-se do princípio da capacidade receptiva, corolário da isonomia no
cia na gestão fiscal dos entes federativos, determinando a disponibilização de lado da despesa pública, e que exige a divisão dos recursos públicos conforme a
informaçÕes pormenorizadas acerca de todos os atos praticados pelas unidades necessidade dos cidadãos. Ela complementa o princípio da capacidade contributiva
gestoras no decorrer da execução da despesa. Vale ressaltar, porém, que o orde- na busca pela concretização dos ideais republicanos, eis que de nada adianta uma
namento jurÍdico brasileiro admite arealizaçãto de certos gastos sigilosos, como
tributação justa se o mesmo não se veriflcar na ponta da despesa pública, sob pena
se verá mais adiante.
de aquela ter seus efeitos anulados.
Princípio daimpessoalidade exige que a gestão da coisa pública seja feita à
luz do interesse público, jamais como forma de atingir interesses pessoais dos 4. Classificações das despesas públicas
gestores ou de terceiros. É nesse sentido que afrrma-se que a despesa deve perse-
guir o atingimento das necessidades públicas. Como decorrência deste princÍpio, 4.1. Critérios doutrinários
exige-se, por exemplo, que as contrataçÕes públicas sejam precedidas de processo Há diversos critérios doutrinários de classificação das despesas públicas.
licitatório (regulamentado pela Lei 8.666/1993), conferindo impessoalidade ao
Quanto à origem, as despesas podem ser: orÇûmentarias, quando constam da lei
ato administrativo.
orçamentária ou de créditos adicionais; ou extraorçamentdria.s, quando decorrentes
princÍpio da publicidade
Vale ressaltar interessante interface existente entre o de valores contabilmente transitórios, não previstos no orÇamento, mas decorrentes
e o princÍpio da impessoalidade. Isso porque se admite que o administrador dê de outras previsÕes normativas (por exemplo, valores de depósitos e consignaçÕes
publicidade aos atos, programas, obras, serviços e campanhas realizados pela sua em folha de pagamento de servidores).
administração, não podendo, porém, constar nomes, sÍmbolos ou imagens que
Sob a ótica do território, as despesas podem ser internas, assim entendidas
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos (art.37 ,
aquelas dentro do território nacional, ot externas, isto é, aquelas no exterior e em
$ 1.o, da CFII9BB). Em outras palavras, o princípio da impessoalidade aplicado à
moeda estrangeira.
despesa pública prescreve que os gastos sejam sempre vinculados à administra-
ção pública, jamais ao administrador (gestor público) ou a seu governo. Assim, As despesas podem também ser classificadas como produtivas, reprodutivas
propagandas oficiais que não observarem a impessoalidade, configurando meio e improdutivas. As produtivas criam utilidades por meio da atuação estatal (ativi-
de autopromoção, violam o texto constitucional. dade policial, atividade jurisdicional etc. ) ; as reprodutivøs são âs que representam
Princípio damoralidade prescreve que o administrador público âtue pautado aumento da capacidade produtora do paÍs (construção de escolas, estradas, hidro-
em cânones éticos, em atenção ao plexo de regras que regem a atuação da admi- elétrica etc.);easimprodativas correspondemàs despesas quenão geramutilidade.
nistração pública. Compreendem-se em seu âmbito os princípios da boa-fé e da Pelo critério da competência constitucional de cada entidade política, as
lealdade, sendo defeso à administração agir com malícia quando darealização de despesas públicas podem ser classificadas como/ederais,municipais, estaduaís ott
despesas públicas.r distritais.
Tal classificação é oportuna para identificar a despesa a partir do ente do
qual emanam os recursos respectivos, bem como o órgão responsável por seu
I. O Superior Tribunal deJustiça já determinou que prefeito municipal fosse responsa-
pagamento.
bilizado criminalmente por fracionar despesas como forma de fugir da exigência de
Iicitação, o que fere, dentre outros, o princÍpio da moralidade (STJ, REsp 504.785/PB, Todavia, vale lembrar que existem não só matérias de competência comum
j. 02.10.2003, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca). das três esferas políticas, como também de competência concorrente. Ademais, é
DESPESA pÚnr1cR 43
42 LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO

frequente a superposição de serviços públicos, implicando a duplicação ou tripli- Estaclos e suas instituiçoes financeiras para custeio de despesas com pessoal ativo,
cação desses serviços para o mesmo frm. inativo e pensionista dos Estados, Distrito Federal e municÍpios. No mesmo sentido
Também é apontada como útil a classificação pelo critério da periodicidade. ê o art.19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impoe limites de despesa com
pessoal para cada ente da federação.
Nessa perspectiva, as despesas podem ser ordinariøs, sustentadas com recursos
que integram usualmente o orçamento anual; ou extraordinarias, para atender A divisão em despesas correntes e de capital comporta ainda detalhamento
necessidades momentâneas, de caráÍ-er esporádico. classificatório: o art. 12 daLei4.320/1964 subdivide as despesas correntes em
despesas de custeio e transferências correntes; e as despesas de capital em investi-
As despesas ordinárias são as vocacionadas a satisfazer as necessidades pú-
mentos, inversoes financeiras e transferências de capital.
blicas permanentes, bem como as que, embora não rotineiras, sejam previstas e
consignadas na lei orçamentária; já as extraordinárias visam ao atendimento de
4.2.1. Despesas de custeio e transferências correntes
necessidades imprevistas, irnprevisÍveis e urgentes, a exemplo das despesas decor-
rentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Menciona-se ainda as As despesas de custeio constituem dotaçÕes para a manutenção de serviços
despesas especiais, que têm por finalidade atender a necessidades novas, surgidas já existentes. Enquadram-se nessa categoria os gastos com pessoal, material de
após a aprovação do orçamento. Conquanto imprevisíveis, diferem das extraordi- consumo, imóveis, dentre os quais
e obras de conservação e adaptação de bens se
nárias por não serem dotadas da mesma urgência. incluem os bens de uso comum do povo, como ruas, estradas e praças.

As transferências correntes, por outro lado, são dotações não relacionadas


4.2. Critério legal- Lei 4.320/1964 a contraprestaçÕes diretas em bens ou serviços, inclusive para contribuiçÕes e
Nada obstante as diversas classifrcaçoes doutrinárias existentes, tem-se como subvençÕes destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito
critério objetivo para o enquadramento das despesas, sob a ótica orçamentária, a público ou privado.
chamada classifcaçaolegal, combase no art.12 da Lei 4.320/1964, que distingue
as despesas públicas em correntes e de capital.
4.2.2. Investimentos, inversões financeiras e transferências de capital
Essa classificação tem em conta a introdução ou não de um bem de capital No rol das despesas de capital, encontram-se os investimentos, rubrica que
no patrimônio do ente público. As despesas correntes não contribuem dire- contempla dispêndios com o planejamento e a execução de obras, inclusive a
tamente para a aquisição de um bem de capital, diferentemente das despesas aquisição de imóveis necessários àsuarealização, compra de instalaçÕes, equipa-
de capital. mentos e material permanente; e, ainda, as dotaçÕes para constituição ou aumento
É possível estabelecer uma correlação entre as despesas correntes e de capi- de capital de empresas industriais e agrÍcolas.
tal e a classificação das despesas em produtivas e reprodutivas, com a finalidade As inversoes financeiras constituem despesas que revelam a permuta de
de elucidar as diferenças básicas entre umas e outras. As despesas correntes ativos, tendo lugar: (i) na aquisição de imóveis sem vinculação com obras,
relacionam-se à remuneração de serviços com vistas à manutenção de utilidades (ii) quisição de bens de capital já em uso, (iii) aquisição de tÍtulos representativos
públicas promovidas pelo Estado, confi.gurando as ditas despesas produtivas. As do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já existentes, desde
despesas de capital, por sua vez, vinculam-se à aquisição ou produção de bens, que não envolva aumento de capital, e (iv) constituição ou aumento cle capital
criando utilidades e aumentando a capacidade de produção do PaÍs, razão pela de entidades ou empresas comerciais ou frnanceiras, inclusive cotn operaçoes
qual se qualificam como reprodutivas. bancárias ou de seguros.
Sob o viés da contabilidade pública, as despesas de capital mantêm correlação As transferências de capital, por sua vez, consistem no repasse de recursos
com a incorporação de um ativo ou a desincorporação de um passivo. para que outras entidades de direito público ou privado realizem investimentos
As despesas correntes são geralmente associadas àideia de inchaço damáquina
ou inversÕes financeiras.
pública, ao passo que as despesas de capital relacionam-se a fatores de promoção Existem três tipos de transferências de capital previstas em lei: (i) os auxÍlios;
do desenvolvimento econômico. Tal percepção evidencia-se pelo arcabouço legal (ii)as contribuiçÕes; e (iii) as dotaçoes para amortização da divida pública. Tanto
e constitucional que reprime o gasto sob a modalidade de despesas correntes. O os auxílios quanto as contribuiçÕes destinam-se à complementação de recursos
art. l67,X,daCF/l9BB,vedatransferênciasvoluntáriaseempréstimospelaUnião, par a a r ealizaçã,o de inves timen to s ou inversÕ es fi nanceiras.
44 LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO

DESPES,{ PÚBLICA 45
4.2.3. Detalhamento das categorias econômicas
(art. 51), bem assim estabeleceu parâmetros
para adivuigação dos relatórios
A subdivisão das categorias econômicas execução orçamentária bimestral (art. 52). de
previstas n o art. 12 daLei4.320/1964
é especificada com a previsão do art. 13,
que as decompÕe por elementos de des_ As referidas consolidação das contas
pesa' Revela-se oportuna a apresentação das e divurgação dos relatórios, por
categorias inseridas nas mencionadas exigiram a uniformização dos procedimentos sua vez,
rubricas, conforme ilustra o seguinte quadro: de eåcuçao orçamentária, bem
a utilizaÇão de uma mesma clalsificação
assim
das receitas e despesas públicas que,
a teor
do art' 52,,,b, eil,b,deveria ter em .orr,u
DESPESAS CORRENTES
DESPESAS DE CAPITAL o critério de grupo de nqtureza.
Despesas de Cusfeio Nessesentido,asecretariadoTèsouroNacionardoMinistériod
lnvestimentos aFazenda(srN),
Pessoal Civil órgão central da contabiridade da união,
Obras Públicas ea secretaria do orçamento Federal do Mi_
nistério do Planejamenro,orçamenro e Gesrão
Pessoal Militar orgao ffietente para dispor
Serviços em Regime de programação Especial sobre classiûcaÇÕes orçamentárias, editaram !soF),
Material de Consumo a Portaria Interministe rial 163/2001.
Equ ipamentos e lnstalações
De acordo com o art. 3." da mencionada portaria
Serviços deTerceiros a classificação da despesa
Material Permanente compõe-se de: (i) caregoria econômica (já prevista no
Encargos Diversos arr. rz da Lei4.320/1964);
Participação em Constituição ou Aumento (ii) grupo de naturezadad,espesa, assim
cle cåmpreendi daaagrega,ção de elementos
de
Transferências Correntes Capital de Empresas ou Entidades lnclustriais despesa que apresentam as mesmas característicu,
quu.rto uã oui"ro do gasto; (iii)
Subvenções sociais ou Agrícolas elemenros de despesa, com a finalidade identificar
år gasro; (iv) grupo
Subvenções econômicas Inversões Financeiras de natureza de despesa éaindacomplementado "¡:.årä;
por u-u i.rfo.-ucao g"r"rr.ial cha_
mada de modalidade de apricaçao,qu" t"*
lnativos Aquisição de lmóveis po, escopo indicar se a despesa é efetuada
diretamente por um entepúblico o., ," o, .".ursos
Pensionistas Participação em Constituição ou Aumento correspondentes são transferidos
de a outro ente para que este realizeo gasto (art.
Capital de Empresas ou Entidades Comerciais 3.o, ê 1." da aludida portaria).
Salário Família eAbono Familiar
ou Financeiras Dessa forma, a estrutura da.'arurezada
despesa é fixada pero art. 5.o da por_
Juros da Dívida pública taria Inrerminisrerial sTN/soF 163/200r.o-
Aquisição deTítulos Representativos de bur. em cincå indicaçÕes, cujos
Capi_
Contribuições de previdência Social números constam do seu Anexo II, perfazendo
tal cle Empresa em Funcionamento o formato ;.g._*."e.dd,,, onde:
Diversas transferências correntes "c" representa a categoria economicã; ',g"
Constituição de Fundos Rotativos o grupo d" nutureåda despesa; ,,mm,,
a modalidade de aplicaç ã,o; "ee" o elemÃto
Concessão de Empréstinros ã" d"rp.ru; e "ddJ o desdobramento,
facultativo, do elemento de despesa.
Diversas lnversões Financeiras
considerando que as categorias econômicas já estão fixadas
Transfe¡ências de Capital
correntes e despesas de capital, bem assim
em despesas
o grande número de modalidades de
Amortização da Dívida pública aplicação e de elementos de despesa apreensíveis
pera averiguação do Anexo II
Auxílios para Obras públicas da Porraria Inrerminisreriar srNTso p iallzoot,
é ìonvenieír" apenas os
Auxílios para Equipamentos e Instalações grupos de natureza da despesa, assim esquematizados: ""po.
Auxíl ios para lnversões Financeiras
CRUPOS DE NATUREZA DA DESPESA
Outras Contribuições
PORTARIA STN/SOF 1 63/2001

4'3' A classificação da portaria rnterministeriar Pessoal e Encargos Sociais


srN/soF t63/200r Juros e Encargos da Dívida
A edicão da Lei de Responsabiridacle
Fiscal imprimiu uma nova dinâmica Outras Despesas Correntes
contas públicas no paÍs, na medida às
em que, além da;dor^" à. u*, série de práti_ lnvestimentos
cas de austeridade, fixou
prazo paraque o poder E"ecutivo au
a consolidação das contas urriao promovesse lnversões Financeiras
dos entes ãa federaçao relativas ao
exercÍcio anterior Amortização da dívida
46 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA PÚBLICA 47

5. Execução da despesa pública Arealizaçao de empenhos coloca em evidência os compromissos assumidos


A despesa pública passa por um processo de execução disciplinado legal- pela Administração, que deverão ser adimplidos ao longo do exercÍcio fi.nanceiro,
mente. os atos praticados pela administração para execuÇão do orçam".rto ião sendo possÍvel confrontá-los com os créditos orçamentários existentes, o que
estabelecidos pela Lei 4.320/1964, e são adiante analisados, juntamente com os facilita a análise do desempenho da execução orçamentaria.
mecanismos existentes para ajustar a execução do orçamento às necessidades que Empenho pode ocorrer em três modalidades (í) ordinario, quando o mon-
even tualmente possam surgir. taîteapagar for previamente conhecido ,realízando-se de uma sóvez; (il) global,
quando o montante é previamente conhecido, mas pago parceladamente;e(1ll) por
5.1. Empenho, liquidação e pagamento estimativa,quando não se pode determinar previamente o valol exato (contas de
água,luz,etc.).
Empenho inicia afase administrativa da execução das despesas públicas. Ele
consiste na criação de uma obrigação de realizar uma determinada parcela da Processado o empenho, segue-se àliquidaçao, que consiste na verifi.cação do
dotação orÇamentária. Se a lei orçamentária destina recursos por meio de suas direito adquirido pelo credor, com base nos tÍtulos e documentos comprobatórios
dotaçoes orçamentárias, que são autorizaçÕes para a realizaçao de gastos em um do respectivo crédito (art.63 da Lei 4.320/1964). A liquidação se destina a veri-
valor específico, o empenho designa qual parte do orçamento será executada, sem frcar alegitimidade da despesa empenhada, apurando a origem e o objeto do que
necessariamente fixar quem serão os credores daquelas obrigaçoes. se deseja pagar. Apura, também, a quem se deve pagal e o montante total (art. 63,
g 1.o,I, II e IlI, Lei4.320/1964).
Art' 58 daLei4.320/1964 define o empenho como o ato emanado da autoridade
competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de imple_ Consiste liquidação, deste modo, no ato de verifrcação do direito adquirido
a

mento decondição. Adespeito daleiextremamentefalarem,;obrigação depaga*"rrto',, pelo credor ao recebimento da prestação. Esta verificação não é apenas formal'
há alguns requisitos que devem ser observados em etapas posteriores para Deverá sempre observar o que ocorre na realidade, muitas vezes íncluindo a veri-
qu e opaga-
mento possa serrealizado. EmsÍntese, o empenho é o ato administrativo que ficação física do curnprimento da obrigação por parte do contratante (pela visita a
er1quuãru
a despesa em determinado crédito orçamentário, deduzindo-a. uma obra, por exemplo). A liquidação deve levar em conta as condiçÕes previstas
Funciona também como
uma garantia ao credor de que os valores empenhados têm previsão orçament ária.É na licitação, no contrato, no empenho e em todos os atos administrativos que es-
uma das etapas mais importantes da despesa pública, devenão, a princÍpio, evitar pecifrcam os requisitos para o correto cumprimento da obrigação.
que
um pagamento seja fiustrado por falta de verba. Possibilita aos diversos Orgaos da
Ád- Verificado o direito adquirido do credor, a autoridade competente exara' por
ministração, além disso, que conheçam as diversas parcelas empenhadas áa despesa. despacho, aordemdepagamento,quedeterminaqueadespesasejapaga(art.64daLei
É comum deparar-se, no entanto, com o empenho ä posteriorr, adotado 4.320/1964).Aorderndepagamentosomentepoderáserexaradaemdocumentospro-
apenas para
justiflcar formalmente o cumprimento das normas pertinentes. cessaclospelosserwiçosclecontabilidade(art.64,parágrafoúnico,daLei4.320/1964).
É importante destacar que se prevê, excepcionalmente, um regime
de adian- A execução da despesa se enceïra com o pûgumento , qtue apenas será efetuado
tamento das despesas (ou suprimento de fundos), aplicado para os casos expres_ quando ordenado após sua regular liquidação (art. 62 daLeí4 .320/1964) . Será feito
samente deflnidos em lei (arts. 68 e 69, Lei 4.320/1964). cãnsiste na entrega
de mediante ordem bancária ou cheque nominativo contabilizado pelo Órgão compe-
numerário a servidor, sempre precedida de empenho na dotação própria, paruã
fi* telte, e obrigatoriamente assinado pelo ordenador da despesa e pelo encarregado
de realizar despesas que não possam subordinar-se ao processo
nor*ãt d" âplicação, do setor financeiro (art.7 4 do Decreto-Lei200/1967) .

sempre devendo haverprevisão expressa em lei. É, porexemplo, o regimeãplicado Cabe ressalvar que a ordemjurídica de pagamento não se confunde com o
para despesas eventuais tais como viagens que exijam pronto pagamento, ato do depósito bancário na conta do credor. A fase do pagarnento possui dois
ou para
despesas sigilosas e de pequeno vulto. momentos: aquele em que se manda pagar,e aquele em que se paga efetivamente.
De acordo com o art. 59 da Lei 4.320/1964, os valores empenhado
s nao po- Excepcionalmente, é possível o pagamento antecipado das despesas, isto é, sem
dem superar os valores das dotaçoes às quais se submetem ,ro o.iu*"rrto
público: que o fornecedor ou prestador de serviço tenlnarealizado o serviço ou entregue o
a nota de empenho retira parcela ou a totalidade dos valores bem, conforme prevê o Decreto 93.872/1986.
dispostos na norma
orçamenúria para serem realizados. Assim, o valor do empenho jamais Assim, pode-se perceber uma ordem sucessiva na realização das despesas
deve ser
superior ao valor da dotação. públicas: empenho -+ Iiquidaçao -+ pd'gdmento.
4B LICOES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA pÚsllce 49

5.2. Créditos adicionais Constituição como situaçoes de guerra, comoção interna e calamidade pública)
orçamento público é formado por normas que preveem as receitas e as ne- deve ser observada na abertura do crédito extraordinário. Foi uma importan-
cessidades públicas, fixando despesas para perÍodos determinados. No entanto,
te mudança de perspectiva do STII que firmou a possibilidade de conrrole de
muitas vezes é necessário modificar as previsÕes orçamentárias, por meio dos constitucionalidade de leis orçamentárias. Outra particularidade dos créditos
chamados cr edito s adicionais.
extraordinários é que não necessitam indicar os recursos correspondentes para
sua abertura (aregra do art. L67 ,V, da CFll988, aplica-se expressamente apenas
Há três modalidades de créditos adicionais: suplementares, especiaís e extra-
aos créditos suplementares e especiais).
ordinarios. Sua disciplina jurídica não é uniforme, e eles podem promover ranto
A propósito dos recursos para a abertura dos créditos suplementares e espe-
alteraçÕes quantitativas como qualitativas no orçamento.
ciais,aLei4.320/L964étaxativaquantoasuaorigem (art.43).Sempreprecedidos
Os créditos suplementares destinam-se ao reforço de dotaçoes orçamentárias
de exposição justificativa, admitem-se apenas aqueles provenientes de: a) superá-
que, no curso da execução, se revelaram insufi cientes (art. 4r,r, claLei 4 .32.0 / rg 64) . vit financeiro (diferença positiva entre o ativo fi.nanceiro e o passivo frnanceiro);
os créditos especiais, por sua vez, atendem a despesas que não [êm dotação b) excesso de arrecadação (saldo positivo das diferenças, acumuladas mês a mês,
orçamentária especÍfica (art.4r,II, da Lei 4.320/1964), sendo abertos para um entre a arrecadação prevista e arealizada, considerando-se, ainda, a tendência
programa não incluÍdo no orçamento. Se o programa criado pelo crédito especial do exercício); c) anulação parcial ou total de doaçoes; e, finalmente, d) recursos
tiver duração superior ao exercício flnanceiro, deve ser incluído no eeA (arf. I67, provenientes de operaçoes de crédito.
0 I 'o, da CFll988). Por último, os créditos devem atender a despesas imprevisÍveis
Os créditos adicionais vigem no exercício financeiro em que foram abertos.
e urgentes, tais como as decorrentes de guerra, comoçâo interna ou calamidade
Segundo o art.167 ,8 2.", da CFll9BB, se o ato de autorização de créditos especiais e
pública (art. 167, ë 3.", da cFl1gBB). Tôdos os programas devem ser comparÍveis extraordinários for emitido nos últimos quatro meses do exercício, serão reabertos
com o PPA (art. 165, g 7.", da CF/lgBB). nos limites dos seus saldos e incorporados ao orçamento do exercício financeiro
Há uma diferença quanto à espécie legisrativa adequada para aabertura de subsequente. Nota-se, portanto, que essas duas modalidades de crédito podem ter
cada um desses créditos, e por vezes païa um mesmo crédito preveern-se espé- vigência plurianual se tiverem sido abertos nos últimos quatro meses do exercÍcio.
cies distintas. A regra geral é de que os créditos suplementares e especiais sejãm O sentido disso é que, sendo o orçamento federal enviado ao Congresso em meados
autorizados por lei e abertos por decreto do executivo, indicando-se os r"..,rro, do mês de agosto, os progrâmas criados por créditos especiais e extraordinários
correspondenres (arr. 167 ,v, da cFll9BB e art . 42 Lei 4.320/1964) . Enrende-se entre agosto e dezembro não estarão previstos nele.
que a iniciativa destas leis compete ao chefe do poder Executivo, que as enca_ O art. 167, VI, da CFll988, menciona a existência de outros mecanismos
minha ao Poder Legislativo. ocorre que, no caso dos créditos suplementares, há retificadores do orçamento: as transferências, remanejamentos e transposiçÕes de
um espaço signifrcativo para que não seja necessária uma autorização legislativa recursos. Não fugiu a Constituição à lógica geral das alteraçÕes orçamentárias ao
específica paracadacaso. Segundo o art. i65, g 8.", da constituição, que contém vedar que estes procedimentos sejam feitos sem lei específica (proibiçao do estorno
algumas exceções ao princípio da exclusividade orçam entária,é possÍvel que a lei de verbas). A duvida é se tais alterações seriam instrumentos equivalentes aos cré-
orçamentária anual contenha uma autorização prévia p araaaberlura de créditos ditos adicionais, visto que também se destinam a realocar recursos orçamentários.
suplementares. São asmargens deremanejamento d,o oiçamento, que conferem As transposiçÕes, transferências e remanejamentos são instrumentos rara-
ao
Executivo grande maleabilidade na gestão dos recursos orçamentários. mente utilizados na prática da condução do orçamento. Isto errrrazão da facilidade
Tratando-se de créditos extraordindrios, admite-se sua abertura por medida da abertura de créditos suplementares dentro das margens de remanejamento ou
provisória, no caso federal, ou decreto do Executivo, no caso de outros entes fe- de créditos extraordinários. A praxe dos governos de diferentes níveis tem sido,
derativos que não contem co''. o instrumento da medida provisória. Há, segundo assim, abrir créditos adicionais.
o texto constitucional, três requisitos para a abertura do crédito extraordinário:
além da relevância e urgência, próprios daquela espécie normativa (art. 5.3. Limitação de empenho
62),há
a imprevisibilidade. Contrariando a tendência de se recorrer em
demasia a esse A Administração dispoe de diversos mecanismos para ajustar o orçamento
tipo de crédito, emrazão da maior facilidade de sua abertura, o supremo Tribunal às necessidades que surjam durante a sua execução. Para refrear as despesas em
Federal entendeu, na ADI 4048/DE,que a imprevisibilidade (exemplifrc tempos de receitas inferiores ao previsto, são estabele cidaslimitaçoes de empenho.
adapela
50 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA púsuc,A, 51

A limitação de empenho encontra antecedente hist orico no BudgetEnforcement 6. Restos a pagar


Act,crîado em 1990, nos Estados Unidos, na fi.gura conhecida como" seqltestration" .
Pode ser entendida como a proibição darealização de empenhos diante de deter-
6.1. Conceito
minadas circunstâncias, previstas em lei. Trata-se de uma limitação de obrigaçoes, Como visto, o ciclo de execução da despesa pública compreende as fases de
no sentido de que o Poder Público fica impedido de contrairnovas obrigaçÕes que empenho, liquidação e pagamento, as quais, via de regra, perfazem-se no curso de
possam colocar em risco as suas finanças. um mesmo exercício financeiro.
A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece o uso da limitação de empenhos Todavia, há casos em que as mencionadas fases não são concluídas dentro do
em dois momentos. No art. 9.", caput, estipula que, se for verifrcado, ao final de mesmo exercício, podendo ocorrer que uma despesa empenhada e liquidada em
um bimestre, que arealização da receita poderá não comportar o cumprimento um dado ano seja paga apenas no ano seguinte, ou até mesmo que o empenho seja
das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas efetuado em um exercício e a liquidação e o pagamento da despesa realizem-se
Fiscais da lei orçamentária, os Poderes Executivo, Legislativo eJudiciário e o apenas no exercicio seguinte.
Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários,
Tal situação gera os chamados restos apagdr, que se constituem em previsoes
nos trinta dias subsequentes,limitação de empenho e movimentação frnanceira,
de despesas de um dado exercício financeiro que, porrazoes diversas, não sào pagas
segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. Ademais, no
dentro desse exercÍcio, isto é, cujo pagamento não ocorre até o final do ano para o
art. 3 I , g I .o, II, prevê-se a possibilidade de utilização da referida técnica quando
qual elas estavam previstas.
for extrapolado o limite frxado p^ra a divida consolidada de determinado ente
A definição dos restos apaga;. consta do art. 36 da Lei 4.320/L964, que trata
da Federação.
das despesas empenhadas, mas não pagas ale 3I de dezembro, distinguindo as
Questão polêmica é a previsão do art. 9.", g 3.", da LRf; o qual determina que, despesas processadas das não processadas.
caso os demais Poderes não realizem as limitaçoes de ernpenho no prazo de trinta
já passararn pelas etapas de empenho
Despesas processadas são aquelas que
dias, o Poder Executivo poderia fazë-lo, estabelecendo limites à contração de no-
e liquidação, estando pendente apenas de pagamento. Despesas nao processadas,
vas obrigaçÕes aos demais órgãos do Estado. O Supremo Tribunal Federal decidiu
liminarmente pela suspensão da efrcá,cia deste dispositivo, por ensejar possível por sua vez, são aquelas que passaram pela fase de empenho, mas não sofreram
desequilÍbrio na separação dos poderes (ADI 2.238/DF). liquidaçâo nem o pagamento.
Os restos a pagar processados referem-se às situaçoes em que o credorjá tenha
Critério para o contingenciamento de despesas costuma ser essencialmen-
te político. Dessa forma, áreas que são consideradas menos prioritárias pelos cumprido suas obrigaçÕes, entregado o material, prestado os serviços, ou executado
governos podem ter mais despesas contingenciadas do que áreas essenciais. a obra,dentro do exercício, tendo, portanto, direito líquido e certo, e estando em
Todavia, ainda carece de maior rigor o exercício do contingenciamento, por condiçÕes de pagamento imediato.
meio das limitaçoes de empenho, que podem levar adiscrepâncias entre aquilo Por ontro lado, os restos apagar não processados referem-se às despesas que
que foi programado e aquilo que foi executado posteriormente, desvirtuando dependem da prestação do serviço ou do fornecimento do material, ou seja, cujo
escolhas democráticas levadas a efeito pelo Legislativo quando da aprovação direito do credor não foi ainda apurado.
da lei orçamentária. Parte da doutrina entende que os restos a pagar só se verificam no caso
No caso de restabelecimento da receita prevista, ainda que parcialmente, das despesas que já se submeteram ao empenho e à liquidação,haja vista que
as dotaçÕes contingenciadas serão recompostas proporcionalmente ao reduzido apenas nessa hipótese é que surge a obrigação do ente público de pagar. Dessa
segundo os critérios da LDO. forma, a qualificação como "processados" e "não processados" não caberia
Frise-se que nem todas as despesas se submetem ao contingenciamento, a para adistinção entre duas espécies de restos apagar, mas sim em referência ao
exemplo daquelas referentes às obrigaçoes legais e constitucionais do ente, assim estágio da despesa.
como aquelas que se destinam ao pagamento do serviço da divida. Não poderão Tal discussão, porém, parece inócua, tm vez que tanto aLei 4.320/1964
ser contingenciadas, ainda, outras despesas ressalvadas por opção do legislador quanto o Dec. 93.872/1986 tratam dos restos a pagar relacionados às despesas
na LDO (art. 9.o, g 2.", LRF). processadas ou não processadas, ensejando o surgimento dessas duas espécies.
52 LIÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO DESPESA púsl-rcR 53

6.2. Repercussão nas contas públicas e tratamento jurídico e contábil Finalmente, convém consignar que não apenas o Tiibunalde Contas daUnião,
A questão dos restos apagar tem merecido destaque no plano das contas pú- mas também o Poder Legislativo tem atentado para os efeitos perversos causados
blicas. Embora expressamente previstos e regulados pela legislação, que enquadra- pelo incremento dos restos apagar. Na Lei 7I.439/2006 (LDO de 2007), o art.
-os como divida flutuante (art.92 da Lei 4.320/1964), eles representam exceçao 129 frxava a limitação da inscrição de restos apagar a70o/o dos valores inscritos
ao princípio da anualidad.e do orçamento e geram impacros quanto à programação no ano anterior, disposição vetada pelo Poder Executivo sob os argumentos de
financeira orçamentária. que os restos a pagar são inerentes ao processo de execução orçamentária e de
que não caberiam maiores limitaçoes além daquelas já contidas na Lei de Respon-
Desse modo, a mensagem que integra a proposta de lei orçamentária enviada
sabilidade Fiscal. No mesmo sentido, a redação da LDO de 2008, aprovada pelo
pelo Executivo ao Legislativo deve conter quadro demonstrativo da dívida e, em
Congresso Nacional, previa em seu art. l3 1, $ 2.o, a vedação à execução de restos
especial, dos restos apagar (art.22 da Lei 4.320/1964). Além disso, o Decrero
a pagar inscritos em períodos anteriores a 2007 , que não tinham sido quitados
93.872/86 prevê que os restos apagar serão considerados na execuçâo da progra-
alé31 de dezembro daquele ano. Da mesma maneira, o Executivo opÔs veto ao
mação financeira, constituindo item específrco cujo pagamento deve efetuar-se
dispositivo, sob o argumento de prejuízo à execução orçamentária e de que a
dentro do limite de saques fixado no âmbito dessa programação (arts. 9.. e l5).
diminuição dos restos apagar não poderia ser levada a efeito de forma abrupta,
De toda sorte, o crescente aumento dos restos
a pagar no plano federal tem sido mas sim de maneira gradual.
alvo de reiterados parecetes do Tribunal de Contas da União chamando a atenção
para seus efeitos em importantes aspectos das contas públicas, como o resultado 6.3. Os restos a pagar e a Lei de Responsabilidade Fiscal
primário e aplicação derecursosnas finalidades constitucional e legalmente fixadas.
Em homenagem ao equilíbrio das contas publicas, a Lei de Responsabilidade
Isso porque inscrição de valores em restos a pagar, além de excluir do exercÍcio
a
Fiscal, contemplou, em seu art.4z,disciplina atinente aos restos apagar.
frnanceiro determinada previsão orçamentária, gera impactos nos exercícios fi.nan-
ceiros seguintes, na medida em que a despesa é transposta para momento futuro. Prevê o referido art. que os titulares de Poder ou órgão referido no art. 20
estão proibidos de assumir nos últimos dois quadrimestres do respectivo mandato
Considerando, pois, que o cálculo do superavif primário pelo governo fe-
obrigação de despesa que nào possa seI cumprida integralmente dentro dele, ou
deral é realizado com base no regime de caixa, tendo em conta, portanto, apenas
que tenham parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente
as despesas efetivamente pagas no exercÍcio, é de se conceber que a inscrição em
disponibilidade de caixapara este efeito.
restos apagar contribui para a geração de um falso resultado positivo decorrente
da postergação da despesa. A infração arl. 42 da LRE inclusive, é tipificada como crime contrd as fnan-
ças publicas, previsto no art. 359-C do CB ensejando a perra de reclusão de um a
Nem se diga que o cômputo das despesas empenhadas no cálculo dos valores
quatro anos.
aplicados em áreas constitucionalmente prestigiadas, como a saúde e educação,
pode ensejar uma falsa percepção de destinação dos recursos a essas finalidades, Mencionado arcabouço normativo tem a evidente intenção de conferir aus¿¿-
tendo em vista a possibilidade de posterior cancelamento dos restos apag r. ndade ao gasto público,coibindo arealização de gastos no último ano do mandato.

Essas ocorrências são bem exploradas nos relatórios de acompanhamento da A crítica que se faz é q'ue, no período que antecede os últimos oito meses
execução orçamentária e financeira da União, elaborados pelo Tiibunal de Contas de gestão, bem assim nos tIêS anos anterioles, o mandatário pode incorrer em
da União. despesas que podem implicar dificuldade de ajuste ao final do mandato , razã,o
pela qual a previsão deveria contemplar a análise do resultado ao final de cada
Importa notar que, a teor do art.92 da Lei 4.320/1964 e do art. 67, $ 2.o, do
período anual.
Dec.93.872/1986, o registro dos restos apagar far-se-á.por exercício e por credor.
A preocupação com o controle e a identificação do incremento dos restos a
No quediz respeito ao pagamento ou cancelamento dosrestos apagar, convém
pagar materialíza-se ainda nos arts. 53 e 55 da LRf, que obrigam a apresentação
ressalvar que existem casos em que o valor no momento da quitação pode revelar-
de quadro com dados relativos aos restos a pagr tanto no relatório bimestral da
-se maior ou menor do que o inscrito. Na hipótese de o valor apagar ser menor,
execução orçamentária quanto no relatório de gestão fiscal a ser emitido após o
haverá exclusão quanto à diferença. Se for maior, o pagamento deverá serprocedido
fim do último quadrimestre.
à conta de dotação destinada a despesas de exercício anteriores.
54 LIÇOES DE DIREITO F]NANCEIRO
DESPESA PÚBLICA 55

7. Despesas por determinação constitucional e legal nattlreza, bem como encargos sociais e contribuiçÕes recolhidas pelo ente às en-
7.1. Despesas obrigatórias tidades de previdência. "
O objetivo, portanto, é que os limites para despesa com pessoal atinjam todas
Normas jurídicas podem vincular condutas de três modos: permitindo, possibilidades de remuneração, para que os administradores públicos respeitem
as
proibindo ou obrigando. No caso das despesas públicas, há normas que simples- de fato tais limites.
mente attorizarnarealização de determinados gastos e normas que obrigam a sua
Os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal são estabelecidos sobre a receita
execução.
corrente líquida, no percentual d e50o/o (cinquenta por cento) para a União ,e60o/o
No Brasil, tem-se um modelo em que parte das despesas públicas é veiculada (sessenta por cento) para Estados e MunicÍpios. Tais percentuais são divididos
como permissão de gasto ao administrador público, e outra parte possui um man- entre os Poderes e Órgãos do Estado pelo seu ar:.20, de forma que Ministério
damento constitucional ou legal que torna obriga foriarealização do gasto chamado Público, Judiciário e Legislativo saibam a parÍe que lhes cabe nos limites esta-
"orçamento impositivo", que já foi objeto de diversas propostas legislativas, cria belecidos pela lei.
comandos normativos específrcos para que despesas veiculadas nos orçamentos
A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, ainda, a nulidade dos atos que impli-
públicos tenham caráter obrigatório, e não meramente autorizativo, de forma a
quem aumento da despesa com pessoal sem atendimento dos requisitos estabele-
obrigar os administradores públicos a executarem o orçamento de acordo com
cidos na própria legislação (art.2L).
aquilo que foi votado pelo Legislativo, diminuindo a margem de discricionariedade
da execução orçamentária.
Os limites máximos percentuais de despesa com pessoal fixados no art.
19 da Lei não podem ser atingidos, e quando atingidos 95o/o algrmas sançoes já
Outro exemplo de despesas obrigatórias são as despesas com pessoal. lJmavez
são estipuladas, como a vedação de criação de cargo ou função, e a concessão
preenchidos os cargos, não há discricionariedade possível para o executor do orça-
de reajustes.
mento decidir o não sobre o pagamento das remuneraçÕes dos servidorespúblicos.
Quando atingido os 100o/o do limite de despesa com pessoal, a Lei de Res-
7.2. Despesas vinculadas ponsabilidade Fiscal estabelece o prazo de dois quadrimestres para a eliminação
do excedente. Não atingidos os objetivos, novas sançoes são estabelecidas (art.
Algumas despesas decorrem de normas devinculação dereceitas a destinaçÕes 23 da LRF).
especÍfrcas. São as chamadas despesasvinculadøs. Diferentemente das despesas
obrigatórias, podem não ser realizadaspela Administração pública. B. Precatórios
7.3. Despesas com pessoal 8.1. Conceito, características e reg¡me geral de pagamento
As despesas com pessoal são despesas obrigatórias e constituem parcela Pagamento devido pela Fazenda Pública de qualquer dos entes federativos,2
importante dos orçamentos, seja na esfera federal, seja nos Estados, no Distrito decorrente de decisãojudicial transitada emjulgado, segueprocedimentopróprio,
Federal e nos Municípios. distinto do tratamento jurídico conferido no caso de relaçÕes entre paÍiculares,
ou entre contribuinte e Fisco.
Por esse motivo, a Lei de Responsabilidade Fiscal elegeu uma série de critérios
para limitar e racionalizar a disposição de gastos nessa área, especialmen Íe para Na execução da obrigação de pagar contra o Poder Público, o modelo utili-
evitar zado pelo ordenamento jurídico brasileiro foi o dos "precatórios requisitórios",
a contratação excessiva de servidores pelos entes públicos.
ou simplesmente "precatórios", que confrguram ordens judiciais emitidas contra
A Lei de Responsabilidade Fiscal (art. lB) disciplina o conreúdo jurÍdico da
aFazenda Pública, obrigando-a a inserir no oÍçamento montante suficiente para
expressão "despesa total com pessoal", caracterizando-a como "o somatório dos
gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos
a mandatos eletivos, cargos, funçÕes ou empregos, civis, militares e de membros
de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vanta- 2. O Supremo Tiibunal Federal já reconheceu que o regime dos precatórios se aplica tam-
gens. fixas e çg¡l:jr,rçjç- s¡bsíclios, proventos da aposentadoria, reformas e pensoes, bém a empresas públicas da AdmÍnistração Indireta (RE220.906/DIl rel. Min. Maurício
Corrêa, DJ 14.I1.2002;RE225.01I/I4G, rel. Min. Marco Aurélio, DJ f9.12.2002; RE
ì¡t+,:lt¡..tive adicionais, grarificaçoes, horas extras e vantagens pessoais de qualquer
393.032/MG, rel. Min. Cármen Lucía,DJe de12.12.2009).
56 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO
DESPESA PÚBLICA 57

efetuar o pagamento de dívida líquida, certa e exigível, observando o regramento 60 anos de idade ou mais3 ou sejam portadores de doença grave. Estes credores, de
disposto no art. 100 da Constituição Federal. acordo com o dispositivo constitucional, serão pagos com preferência sobre todos
Procedimenro para que a determinação judicial transitada em julgado seja os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do frxado em lei como obrigaçoes
cumprida, e o pagamento realizado, é o seguinte: (i) o juiz da execução encami- de pequeno valor,a admitindo-se o fracionamento do crédito para esta finalidade,
nhará uma solicitação ao Presidente do Tiibunat; (ii) este realizará a numeração sendo que o restante deverá ser pago na ordem cronológica de apresentação do
do precatÓrio e encaminhará uma comunicação àFazendaPública, requisitando precatório de natureza alimentÍcia.
averba necessária à quitação do precatório; (iii) a pessoa jurÍdica de diráito públi- Na hipótese de inobservância da ordem cronológica ou das preferências cons-
co acionada deverá destacar no orçamento público valor suficiente para realizar titucionais para o pagamento dos precatórios, o credor preterido poderá requerer,
o pagamento; (iv) o Poder Executivo, então, liberará em nome do presidente do junto ao Presidente do Tribunal, o sequestro do montante necessário à satisfação
Tiibunal o montante necessário à quitação, previsto no orçamento público para do seu crédito (art. 100,0 6.o, da CFllgBB).
este fim; (v) e, finalmente, o Presidente do Tribunal enviará os recursos aoJuízo res-
Caso não reallzado o pagamento até o final do exercÍcio financeiro em que seria
ponsávelpela execução, para que este proceda ao pagamento, devendo obediência
devido, abre-se espaço paraa intervenção federal, à luz do disposto no art. 35, ! da
à ordem cronológica de apresentação dos precatórios, bem como às preferências
CFl1988. O STE contudo, já se manifestou diversas vezes sobre o assunto,5 posicio-
constitucionalmen te estabelecidas.
nando-se no sentido de que não se justiflcaria a intervenção federal por nào pagamento
As solicitaçÕes enviadas até o dia l.o de julho pelo Presidenre do Tribunal de precatórios quando o fato não se deva a omissão voluntária e intencional do ente
ao Poder Executivo devem ser inseridas no orçamento do ano seguinte, devendo federado, mas ainsuficiência temporáriaderecursos financeiros, alocadosparaamanu-
ser quitadas até o final do exercÍcio financeiro, observando a àtualização mo- tenção de serviços públicos essenciais, garantidos por outras norrnas constitucionais.
netária dos valores (art. 100, g 5.", cFll9BB). consoante reconhece a súmula
Destaca-se, ainda, que o Presidente do Tribunal que, por ato comissivo ou
vinculante 17 do srll não incidem juros de mora sobre os precatórios quita-
omissivo, vier a retardar ou tentar frustrar o pagamento de precatórios incorrerá
dos até o final do exercÍcio frnanceiro em que foram inseriåos no orçamento
em crime de responsabilidade, respondendo, ainda, perante o Conselho Nacional
público, haja vista que a Administração pública encontra-se dentro d.o prazo
deJustiça (art. 100,0 7.o, da CF/I9BB).
para realizar o pagamento.
Vale pontuar que a redação dos $ S 9." e 10 do art. I00 da CFll988, exigiam, no
Conforme disposto no art. I00, g 12, da CFllgBB, atualização se daria pelo momento da expedição do precatório, o abatimento, a título de compensação, do
índice oficialderemuneração básica da caderneta depoupanÇa, e, emhavendo rrroru
valor correspondente aos débitos lÍquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa
no pagamento, incidiriam juros simples no mesmo percentual daqueles incidentes
e constituídos contra o devedor originalpelaFazenda Pública devedora, incluindo
sobre a caderneta de poupança, excluindo-se os juros compensatórios. ocorre
parcelas vincendas de parcelamentos (exceto as parcelas relativas aos parcelamen-
que, em março de 2013, o supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o
tos cuja execução estivesse suspensa em virtude de contestação administrativa ou
enunciado em questão, por ser insuficiente para recompor as perdas inflacionárias judicial). Portanto, à luz do dispositivo em comento, apenas depois das eventuais
(ADr 4357 e ADl4425). Nesra roada, o srF conferiu ìnterpietação
conforme ao compensaçÕes que o precatório seria expedido, já com os valores devidamente rea-
referido dispositivo, para que os mesmos critérios de flxaçat de juros moratórios
prevaleçam para devedores públicos e privados, nos limites da'naturezade
cada
relação jurídica analisada. 3. A Emenda Constitucional 62/2009 determinava que somente os sexagenários ou por-
tadores de doença grave na data de expedição do precatório é que poderiam gozar da
- vale ressaltar a preferência que o art. r00, s 1.", da cF/lgBB, concede ao débito
de natureza alimentÍcia, entendido como aquele decorrente de salários, venci-
preferência no pagamento. O Supremo Tribunal Federal, porém, determinou ser des-
necessário que o credor apresente tais condições no momento do reconhecimento do
mentos, proventos, pensÕes e suas complementaçÕes, benefícios previdenciários precatório, sendo irrelevante para fins de gozo de tal preferência que apresente ântes
e indenizaçoes por morte ou por invalidez e fundados em responsabilidade do reconhecimento ou depois (ADI 4.357 e ADI 4425).
civil.
Segundo o dispositivo constitucional, créditos desta nutur")uterão preferência 4. As obrigaçoes definidas em lei como de pequeno valor não seguem o regime jurídico dos
sobre os demais quando do pagamento dos precatórios. precatórios, mas são quitadas de maneira distinta, mediante "requisiçÕes de pequeno
valor" - RP! que serão melhor exploradas mais adiante.
o g 3." do
art. 100 da CF/l988 estabelece que dentre os créditos denatureza
5. Cf. lF 5.1Ì4lRS, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 0ó.09.2012; lF 506 AgVSP, rel. Min. Mau-
alimentÍcia, terão prioridadena ordemdepagamento aqueles cujos titulares
tenham rício Corrêa, DJ 25.06.2004; e IF 5.050 AgR/SP, rel. Min. Ellen Gracie, D1e25.04.2008.
5B LrÇoES DE DTRETTO FTNANCEIRO DESPESA PÚBLICA 59

justados.6Todavia,o Supremo Tiibunal Federal, nojulgamento dasjá


citadasADls 8.2.1. O art. 33 do ADCT
4357 e 4425, entendeu inconstitucional tal dispositivo inserido peia EC
62/2009,
haja vista tratar-se de regra que fere a isonomia, por acrescentar prerrog Ressalvados os créditos denattreza alimentar, o art. 33 do ADCT permitiu
ariva ao pendentes de quitação
Estado - de compensar débitos com créditos que não ao Poder Público pagar em até oito parcelas os precatÓrios
- assegu.adì ao päticular.
é
Federal'
o g I 1, do art. 100, da constituição, por sua na datada promulgaçãto da Constituição
ve z, admiteaentrega de créditos
em precatórios como forma de comprar imóveis públicos do pagamento parcelado conglobaria o valor principal e o remanescente de juros
ente de.'eáor. Exige_se,
entretanto, que haja lei do próprio ente para regulamentar aorr"çáo com alualização devendo ser realízado emprestaçÕes anuais,
-onetária,
a prática desta faculdade
conferida ao credor de precatórios. "
iguais e sucessivas, no pïazo máximo de oito anos, a partir de 1.o de julho de 1989'
É possível, também, total ou parcial de precatórios a terceiros, indepen-
a cessão O parágrafo único do arr..33 do ADCT permite que as entidades devedoras'
no
dentemente da anuência do devedor, não se aplicanão uo cessionário visando a cumprir o pagamento parcelado, emitam tÍtulos de divida pública
os privilégios computáveis para
relativos aos créditos alimentícios (art. 100, g t3, du CFll988). exato montant¿ do dispêndio. Estes tÍtulos emitidos não são
Ressalte_se, poie_,
que a cessão de precatórios somente surtirá efeitos jurÍdicos
após a comunicação, efeitos dos limites globais da dívida pública do ente'
por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem
e a entldade devedora
(art. 100, $ 14, da CFllgBB). 8.2.2. O art.78 do ADCT
Ademais, é permitido à União Federal, a seu critério exclusivo
-lei, assumir e na forma de Posteriormente, a EC 30/2000 tlouxe nova modalidade de parcelamento
débitosoriundos dos precatórios de Estados, Distrito Federal e Mu_ por meio da inserção do art. 78 do ADCT.8 Segundo o dispositivo, os precatórios
nicípios, refinanciando-os diretamenre (art. 100, $ 16, da
cFllgBB) Trara_se de p".rd"r,t", de pagamento na data da promulgação da Emenda Constitucional em
tentativa, veiculada por meio da EC 62/2009, de solucionar questao (f ¡.0ô.2-OOO), bem como uq.tãl.t q.t" decorram de açoes
judiciais ajuizadas
o problema atinente
aos precatórios não pagos dos entes federativos subnacionais. it¿ltde dezembro de 1999, devem ser liquidados pelo seu valor real, em moeda
no
sob o mesmo fundamento, a referida Emenda constitucional inseriu, também, corrente, acrescido dejuros legais, em prestaçÕes anuais, iguais e sucessivas,
o I 15 ao art. 100, possibilitando a criação, mediante
lei complementaE de regime prazo máximo de dez anos.
especial para o pagamento de precatórios dos entes (i) pequeno
subnaciånais, o qual disporá O dispositivo em comento exclui do parcelamento os créditos: de
acerca das vinculaçÕes à receita corrente líquida e forma
eprazode liquidaçao. valor; (ii) àe n fi)rez^alimentÍcia; (iii) regulamentados pelo art. 33 do ADCT e

como tal lei complementar não chegou a ser editada, nao há que suas complementaçoes; e (iv) que já tiverem os seus respectivos
recursos liberados
se fälar em
regimedequitaçãodistintodaquelepreviitonoart.l00daCF/l9B[i.Assevera-se, ou depositados em juÍzo.
Ademais, o $ 3.o do art. 78 do ADCT, reduz para dois anos o prazo para
contudo, que durante alguns anos vig eu o regime especialprovisório a
estipulado pelo
d9 e!cr' o qual, enrreranro, foi declarado in.onititucionar quitação dos precatórios decorrentes de desapropriação de imóvel residencial
do
Tt:97 p"io srprä*o
Tiibunal Federal (ADIs 4357 e 4425). cìedor, desde que comprovadamente o único à época da imissão na posse.

B'2' os parcelamentos promovidos o g 1.. do art. 78 do ADCT permite que se proceda à decomposição das
peros arts. 33 e 78 dos ADCT parcelas a critério do credor. Assim, o montante representativo de cada
uma das
Neste momento, cabe tratar dos a¡ts. 33 e 78 do ADCT,
que veiculam poster- d,".purr"lus, que deveria ser pago em quantia única a cada exercÍcio financeiro'
exer-
gaçoes de pagamento dos precatórios trazidas
em normas constitucionais.t podåra ,", pugo de maneira de.ó*porta em várias parcelas dentro de cada
cício financeiro.
O caputdo art. 78 do ADCT, admite a possibilidade de cessão dos
créditos a
6' o Tribunal, visando adar eficácia ao comando constitucional, antes de realizar no precatÓrio'
dição do precatório, deveria solicitar à Fazend,aPública
a expe, terceiros, que passarão a figurar como credores do valor consignado
devedora informaçoes acerca de
débitos que pudessem ser compensados. Esta teria o prazode
30 dias para responder,
sob pena de perda do direito de abatimento. Constitu-
8. OSTFjá analisou a constitucionalidade do regime introduzido pela Emenda
7' Durante o tempo em que o art.97 do ADCT esteve
em vigência, os pagamentos basea- a Corte deferiu medida cautelar suspendendo o regime de
cional 2012000. Na ocasião,
dos nos arrs. 33 e 78 do se sujeirara- uo i.gi*. .rp'..i.r provisório inconstitucional
quitação instaurado pela{o^clq$tm de pagamento parcelado instituído pelo art. 78 do ADCI por entendê-Io
EC 62/2009. (ADt2.362/DF e ADI 2.356/DF)
60 LIÇOES DE DIREITO FINANCEIRO
DESPESA PÚBLICA 61

Na hipótese de não cumprimento do estipurado


pelo art. 78 do ADCr o credor
poderá requisitar ao Presidente do Tiibunal o ,.q,r.ri.o corrente líquida em conta criada para o fim de quitar tais precatórios e que seria
d" r".urro, financeiros da
entidade executada, suficientes à satisfação da prestaçao. administrada pelo Tiibunal deJustiça respectivo.
Finalmente, adverte-se que o s 2.." d.o art. TBdo No caso do regime anual (art. 97, $ I.", II, do ADCT), o depósito deveria ser
ADCT confere poder ribera_
tório do pagamento de tributos às prestaçÕes anuais correspondente, anualmente, ao saldo total dos precatórios devidos, acrescido do
não riquidadas até o final do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança e de juros simples
exercÍcio a que se referem. Tiata-se da possibilidade
de compensaçao de tributos para fins de quitação da mora (excluÍdos os juros compensatórios), diminuído
com precatórios.
das amortizaçoes e dividido pelo número de anos restantes no regime especial de
8.3. Regime Especial provisório (EC 62/2009) pagamento.
Em se tratando do regime mensal, o montante a ser depositado na conta es-
como dito anteriormente, aEC 62/2009 instituiu
regime especial provi_ pecial deveria ser de Il12 do valor calculado percentualmente sobre as respectivas
sorio de quitaçãodos precatórios dos entes subnacionais,
veiculado no arÍ-.97 receitas correntes lÍquidas, apuradas no segundo mês anterior ao do pagamento.e
do ADCT' Tal regime deveria vigorar enquanto
não fosse instituída a lei com- Do total amealhado nas contas específlcas acima mencionadas, no mínimo
plementar de que trata o art. I00, $ 15, da
cF/lgBB. Entretanto, o Supremo 50olo dos recursos deveriam ser utilizados para pagamento de precatórios na ordem
Tribunal Federal riecrarou a previsão desse
regime especial inconstitucionar cronológica de apresentação, atendidos os créditos preferenciais (art. 97, 3 6.o, do
(ADIs 4357 e4425).
ADCT). O valor restante poderia ser utilizado, conforme determinado por ato do
sujeitavam-se ao regime especial provisório
os precatórios que estivessem Poder Executivo, em uma das seguintes situações (art.97 , $ 8.", do ADCT): (i) ao
vencidos antes da entrada em vigor da
àferida pagamento dos precatórios por meio de leilão; (ii) ao pagamento a vista de preca-
vessem sido emitidos durante o período "-"råu .orrrriirr.ioral ou que ti_
de vigência do aludido regime. Ressalte_se, tórios não quitados na forma do 0 6." e do inc. I, em ordem única e crescente de
ainda, que os precarórios quejá haviam sido
ãb;.ro d";;;;"ilnro por conra dos valor por precatório, ou (iii) ao pagamento por acordo direto com os credores, na
arts. 33 e ZB do ADCT também se sujeitavam
ao mesmo regime. forma estabelecida por lei própria do ente federativo devedor, que poderá prever
Tal regime especial.propugnava pela não criação e forma de funcionamento de câmara de conciliação.
aplicação do art. 100 da CFll9BB
para fins de regramento da formã de
quitaçao d"rta.rÀre J" No caso de não liberação tempestiva dos recursos de que tratam os regimes
-se, portanto, de nova emenda constitucional f.".ururros. Tiarava_
que admitia u forr"rguçao do paga_ especiaisemquestão, oart.97,ê l0,doADCT,previaapossibilidadedesequestro
mento de precarórto::T^"_.l^rizado no de quantia na conta do ente federativo inadimplente, por ordem do Presidente
pÍazomáximo de r! anos (arr. 20, s 1.o,
da Resolução CNJ II5/20L0). do Tiibunal deJustiça respectivo. Este poderia, alternativamente, constituir em
vale pontuar, porém, que embora inaplicável favor do credor a possibilidade de compensar automaticamente o seu crédito de
o art. r00 da cFlr9BB, algumas
regras por ele veiculadas ainda deveriam
sei observadas, a"rro. * qrais: (i) aquela precatórios com eventuais débitos líquidos que tenha para com o ente federativo.
que determina preferências no pagamento Caso persistisse saldo em favor do credor, o valor teria automaticamente poder
de créditos uii_"rrrur"r; (ii) a que pres_
creve acerca da necessidade de atuarizaÇã' liberatório do pagamento de tributos, até onde se compensassem.
monetária pelo Índice da poupança;
(iii) a que veicula a permissão da O art.97, g 10,III, do ADCT, previa sançoes ao chefe do Poder Executivo no
compensaçao de ofício do precatório com
frente àFazenda pública devedora; e'(iv) débitos
a que confere auiorizaçao para acessão caso de não liberação tempestiva dos recursos. Este responderia nos termos da Lei
de créditos. de Responsabilidade Fiscal e de Improbidade Administrativa.
De acordo com o art. 97 do ADCT, Ademais, enquanto perdurasse a não liberação dos recursos, o ente federativo
Estados, Distrito Federal e Municípios
poderr¿m escolher, por meio de ato inadimplente ficaria impedido: (i) de contrair empréstimo externo ou interno; e
do poder Executivo, ¿or, regimes de
quitação dos precatórios: mensal "rro. (ii) de receber transferências voluntárias.
ou anuar. No caso de omissão do poder Executivo
em determinar o regime adotado,
o ente federativo omisso ficaria
anual (art. IB da Resolução CNJ II5/2OIO). sujeito ao regime

Tanto em se adotando o regime mensal, 9. Os percentuais estão dispostos nos incisos do art.97 , $ 2', do ADCI e variarn de acordo
quanto o regime anual, o enuncia-
do constitucional exigia qr," o Ãt. com: (i) a região em que o ente federativo se encontra; e (ii) o valor do precatório a ser
federativo depositasse parcela de sua receita adimplido.
62 LIÇOES DE DIREITO FIN,A,NCEIRO
DESPESA pÚsLTcR 63

Finalmente, ocorrendo não liberação tempestiva dos recursos,


Caso o Executivo não cumpra com a determinação judicial, o juÍzo da execução
a a União reteria
os repasses relativos ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito
Federal e ao decretará o sequestro do valor e o disponibilizarâao credor, conforme enunciado
Fundo de Participação dos MunicÍpios, e os depositaria nas contas especialmente
pelo art. L7 , E 2." , da Lei I0.259/2001.
criadas para quitar os precatórios, devendo a sua utilização obedeceiao
disposto No caso da União, serão considerados como de pequeno valor os créditos
no art. 97,8 5.", do ADCT.
que não ultrapassem o montante de sessenta salários mínimos (art. L7 ,0 l.o, da
8.4. Compensação de tributos com precatórios LeiL0.259/2001).
Já no caso dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o art. 100, 0 4.o,
A compensação tributária encontra-se disposta no art. r56, II,
do crN como da CFl1988 permite que a lei de cada ente federado estipule valores distintos se-
uma das modalidades de extinção do crédito tiibutario. Ela tem por
pressuposro gundo as diferentes capacidades econômicas de cada qual, sendo o mínimo igual
duas relaçoes jurídicas diferentes, em que o credor de uma ¿ o
devedór de outra e ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.
vice-versa.
Inexistindo previsão especÍfica, o art. 87 do ADCT define como de pequeno
Exige-se, para que a compensação tributária possa operar,
a presença de lei valor o montante igual ou inferior: (i) a 40 salários mÍnimos no caso de Estados e
específica autorizadora e a existência de créditos recíprocos, lÍq;idos
..rror, Distrito Federal; e (ii) a 30 salários mÍnimos no caso dos Municípios.
conforme disposto no art. 170 do CTN. "
Destaca-se que o parágrafo único do art. 87 do ADCT admite que o credor
Como os créditos decorrentes de precatórios são lÍquidos, certos
e exigÍveis, renuncie à parte que suplanta o limite caracterizador da obrigação de pequeno
revela-se possÍvel a compensação, desde que haja lei autårizando
e estabelecendo valor, para que possa receber seu crédito por meio de RPV
os critérios e as condiçÕes em que ela se realizará.
Finalmente, cabe pontuar que o art. 100, 3 B.o, da CFll988, veda a expedição
B'5. A utilização de precatórios como garantia em execução fiscal de precatórios cömplementares ou suplementares de valor pago, bem como o fra-
cionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento
Discute-se, ademais, a possibilidade de os precatórios virem da parcela do total como obrigação de pequeno valor.
a ser utilizados
como garantia em processos de execução fiscal. A discussão
surge como decor_
rência do disposto no art. I l, VIII, da Lei de ExecuçÕes Fiscais. 9. Castos sigilosos
Isio porque refe-
rido dispositivo admite que a execução fiscal seja garantida
mediante penhora de
direitos e açÕes. A despeito dos princípios e regras que determinam a publicidade dos gastos
públicos, ressalta-se a possibilidade da realizaçã,o de despesas sigilosas por palte
Assim, como o conceito de precatóri o perfaza noção de um
direito ao rece_ de gestores públicos, desde que observados determinados requisitos estabelecidos
bimento de um crédito perante aFazendapriblica, admite-se a possibilidade
oferecimento de precatórios como garanliado processo de execução
de pelo ordenamento juridico brasileiro.
fiscal.Ì0
É inimaginavel vislumbrar certas despesas realizadas em situaçoes extremas,
8.6. Requisição de pequeno valor - RpV como no caso de guerra ou Sua iminência, ou, ainda, no caso do desenvolvimento
de tecnologia específica de longamaturação, quepossamserdivulgadas ao público
As normas acerca dos precatórios não se aplicam no caso
da quitação de de imediato, sem possíveis danos ao País ou à sociedade.
obrigaçoes definidas em lei como de pequeno valor. Tiata-se
de sistemática de A autorizaç ão para arealização de gastos sigilosos está prevista na parte final
pagamento muito mais simplificada do que a dos precatórios.
do art. 5.o, XXXIII, da CF/l988. Tiata-se demecanismo demitigação àpublicidade
No caso de obrigaçoes definidas como de pequeno varor,
. a ordem de pagamen- dos atos administrativos, inclusive à transparência, na medida em que possibilita
to, denominada de requisiçao de pequeno valor
-'Rpv. é direcionada diretamente a manutenção, por determinado lapso temporal, do sigilo das informaçoes acerca
ao Poder Executivo pelo juiz responsável pela execução,
que deverá cumpri-la no de determinadas despesas quando imprescindivel à segurança da sociedade e do
prazo máximo de 60 dias, conforme dererminado
pelo urt. rr da Lei L0.z5g/200r. Estado.Ìl

10' A jurisprudência do Superior Tiibunal deJustiça


caminha nesse sentido: REsp r.090.g9g/
SII rel. Min. Casrro Meira, Dle3l.0g.ZO09.
11. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental I29/DF questiona a cons-
titucionalidade do art. 86 do Dec.-Le1 200/1967 por suposto desrespeito ao princípio
I
64 | lrcons DE DrRErro FINANCETRo
DESPESA púgl-tcR 65

A lógica que preside o dispositivo constitucional é a seguinte: todos têm o venção ou repressão de infraçÕes. Tais justiflcativas permitem ao gestor público,
direito à obtenção de informações em face dos órgãos públicos, admitindo-se, portanto, lançar mão de gastos sigilosos.
porém, em situaçÕes imprescindÍveis à segurança da sociedade e do Estado, a
Tomando-se em conta o grau de imprescindibilidade àsegurança da sociedade
manutenção do sigilo de determinados atos administrativos, compreendendo-se
ou do Estado, as informaçÕes empoder dos órgãos e entidadespúblicas poderão ser
neste rol determinados gastos públicos.
classificadas como ultrassecretas, secretas ou reservadas. Tal classificação impacta
Nota-se que o constituinte brasileiro relativizou o princípio da publicidade
diretamente nos prazos máximos de restrição do acesso à informação, que serão
dos atos administrativos em vista da segurança nacional-. Assim, o, gãrto, sigilo_
de: (i) 25 anos para as ultrassecretas; (ii) de 15 anos para as secretas; e (iii) de 5
sos devem sempre estar suficientemente fundamentados na pondeiaçao
u anos para as reservadas. Transcorrido tais prazos, a informação deverá ser aberta
publicidade e a segurança da sociedade, admitindo-se a sua re aiizaçao quando"rrä"
esta ao público.
se sobrepuser àquela. Tal verificação deve ser rcalizadadiante de
casos concretos, No âmbito da administração pública federal, A Comissão Mista de Reavaliação
como instrumento para atestar a legitimidade desse tipo de despesa. Gastos
sigilosos de InformaçÕes poderá: (i) requisitar da autoridade que classificar informaçÕes
não podem servir como válvula de escape para o gestor público realizar
dispãndios como ultrassecreta e secreta esclarecimento ou conteúdo parcial ou integral da
à margem de controle.
informação; (ii) rever a classificação de informaçÕes ultrassecretas ou secretas, de
Ademais, os gastos sigilosos devem ser autorizados
- pelo congresso Nacio- ofÍcio ou mediante provocação de pessoa interessada, e (iii) prorrogar, por apenas
nal. Nesse sentido, a Lei de Diretrizes Orçamentárias veicula a possibilidade da rrmavez, o prazo de sigilo de informação classificada como ultrassecreta, sempre
realização de gastos sigilosos, e a Lei orçamentária Anual, por rru vez,
des?aca por ptazo determinado, enquanto o seu acesso ou divulgação puder ocasionar
montantes individualizados por órgãos públicos, para que eltes efetuem
despe_ ameaça externa à soberania nacional ou à integridade do território nacional ou
sas sigilosas, sem determinar,
por óbvio, em qual p.ogtä*u ou projeto tal gasto grave risco às relaçÕes internacionais do país.
deve ser realizado.
Finalmente, quanto à fiscalização e controle externo dos gastos sigilosos no
ALei 12.527/20rr regulamenta o acesso à informação previsto no art. 5.o,
âmbito federal, o Regimento Interno do Tribunal de Contas da União (RITCU)
XXXIII, da cF/l988, dispondoacerca dapossibilidadede mitigäção dapublicidade
determina que o Tiibunal tenha irrestrito acesso a todas as informaçÕes disponíveis
dos atos administrativos, abrindo também espaço paraareallzaçãode
gastos sigi- em órgãos e entidadesjurisdicionados, inclusive àquelas que tratem de despesas
losos. Em seu art. 21, prevê-se a possibiridad" d" rei tregudo o u.årro
a informação sigilosas (art. 3.o do RITCU). A análise e o julgamento das despesas assim classifi-
necessária à tutela de direitos fundamentais. Por outro lad.o, o art.23da
mesma lei cadas serão feitos mediante tramitação sigilosa (art. 158 do RITCU), e ocorrerão
delimita as situações tomadas como "imprescindÍveis à segurança da sociedade
em sessÕes extraordinárias das quais farão parte apenas ministros, auditores,
ou do Estado" como aquelas que possam: (i) por em risco ã d"f.ru e a
soberania representantes do Ministério Público e servidores da unidade responsável pelo
nacionais ou a integridade do território nacional; (ii) prejudicar ou por
em risco a secretariado do Plenário autorizados pelo Presidente (art. 97 do RITCU).
condução de negociaçÕes ou as relaçÕes internacionais dt pais, ou
as que tenham
sido fornecidas em carátersigiloso por outros Estados e organismossociáis; (iii)
por
em risco a vida, a segurança ou a saúde da população; (iv) oferecer
elevado risco à
estabilidade financeira, econômica ou monet¿íria do país; (v) prejudicar
ou causar
risco a planos ou operaçÕes estratégicas das Forças Armadai; (vÐ
pre¡ud car ou
causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico
ou teinológico,
assim como a sistemas, bens, instalaçÕes ou áreas de interesse
estratégico naciðnal;
(vii) ps¡ em risco a segurança de instituiçÕes ou de
altas autoridades nacionais ou
estrangeiras e seus familiares; ou (viii) comprometer atividades
de inteligência,
bem como de investigação ou fiscarização emãndamento, relacionadur.orãu
pr"-

da publicidade, que vedaria a realização-de despesas secretas


no ordenamentojurÍdico
brasileiro. o pedido de liminar foi indeferido p"lo Mi.rirt.o Relator
Lewandowski.
Diretoro ResPonsdvel
MnRrs¡ HaR¡¡s

Diretoro de 0peroções de Conte(tdo


Julr¡¡rn M¡vuul O' 0ru0 REGIS FERNANDES DE OLIVEIRA
lVl. Loureiro Gomes e
fdltores:Andréìa Regina Schneider Nunes, Crìstiane Gonzalez Basile de Faria, Diego Garcia l\4endonça, lviê A. COORDENADOR-GERAI
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DE DIREITO
Ass¡stente Admin¡strotivo: Francisca Lucélia Carvalho de Sena

An0listo de Prcduçoo Grófico:Rafael da Costa Brìto


FINANCEIRO
Alexandre coutinho da silveira . Ana carla Bliacheriene . André de castro carvalho
' Andressa Guimarães Torquato Fernandes . Basile Georges campos christopoulos
' celso de Barros correia Neto . cesar Augusto seijas de Andrade . Emerson cesar da
silva Gomes . Flávio Rubinstein . Francisco secaf A. silveira . Gabriel Loretto Lochagin
'José Augusto Moreira de carvalho . Licurgo Mourão . llnti Al¡ Miranda Faiad . Luma
cavaleiro de Macedo scaff. Matheus carneiro Assunção. Michel Haber . omarTeodoro
Dados lnternacionais de Catalogação na Publicação (ClP) Silva Neto . Ricardo Ezequiel Torres' Ricart césar coelho . Roberto Mercado Lebrão
(Câmara Brasileira do Livro, SB Brasil) . Rodrigo Panizza Siqueira . Sérgio Assoni Filho
AUTORES
Lições de direito financeiro / coordenador-geral Regis Fernandes de
Oliveira ; coordenadores Estevão Horvath, José Maurício Conti, Fernando
Facury Scaff. -- São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 201 6.

Bibliografia
lsBN 978-85-203 -667 3-B
.l
. Direito financeiro 2. Direito financeiro - Brasil l. OIiveira, Regis
Fernandes de. ll. Horvath, Estevão. lll. Conti, José Maurício. lV. Scafl THOMSON REUTERS
Fernando Facury.
15-10694 CDU-34:336(81)
REVISTA DOS
índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Direito financeiro 34:336(81) TRIBUNAIS"
94 I uçors DE DrRErro FTNANCETRo

previsão nas receitas e despesas, a continuidade das batalhas políticas, mudanças


de liderança com prioridades diferentes, tudo isto pode fazer com que o orçâmento
precise ser alterado. O objetivo da fase de execução orçamentária é assegurar que
sejam possÍveis tais alteraçÕes, ao mesmo tempo em que se procura manter os
propósitos da lei aprovada.
Cnpírulo 4
Evidentemente, a execução orçamentária deve observar os programas aprova- oívIon PÚBLICA
dos no orçarnento. Mas não é simples conciliar a necessidade de prar"ruur. u ,rontade
parlamentar e' ao mesmo tempo, promover os ajustes necessáìios às vicissitudes SÉncro Assoxl Flruo
verificadas durante a execução orçamentária. Há aí um trade off entre a rigidez Doutor e Mestre em Direito Financeiro pela Universidade de São Paulo - USP
,
normativa da lei de orçamento e a efrciência requerida puru r"rpãr-rder a situiçoes Professor Doutor da Universidade Nove de Julho - Uninove. Advogado e Parecerista.
imprevistas. A flexibilidade conferida à execução do orçamentå, para adaptar_se a
exigências conjunturais, deve obedecer a critérios de transparência (senäo aces- Ar.¡n Cnnu BlracHrnrrrur
sÍveis, claros e sinceros os motivos e as finalidades das mudanças propostas) Livre-Docente em Direito Financeiro pela USP Doutora e Mestre em Direito Social pela PUC-SP.
e não
Professora de Finanças Públicas e Orçamento da USP (graduação e pós-graduação).
cleve prejudicar a especialidade dos programas orçamentários, de maneira
que os
objetivos neles expressos sejam mantidos.
Crsnn Aucusro Sruns or Anonno¡
Mestre em Direito Financeiro pela USP Especialista em Direito
5.5. Controle do orçamento Tributário - I B ET. Advogado.

O orçamento público é submetido a diversos mecanismos de controle, tanto


na-sua elaboração quanto durante a sua execução. Esse controle é
desempenhado
pelos Poderes Executivo, Legislativo eJudiciário, bem como pelos Tiibìnais SuvÁnro: 1 . O endividamento público-2. A dívida pública como negócio jurídico
de da dívida pública - 4. Títulos da dívida pública: 4.1 . EÍicácia
contas, pelo Minisrério público e pela própria população. As àiversas formas - 3. Classificações
de dos títulos da dívida pública;4.2. Questões polêmicas - 5. Controle da dívida
controle serão analisadas com detalhes em capÍtulo próprio.
pública: 5.1. Mecanismos de controle do endividamento subnacional: 5..1 .1
Controle pelo Mercado; 5.1 .2. Controle cooperativo; 5.1.3. Controle normati-
vo; 5.1.4. Controle administrativo; 5.2. Controle do endividamento público no
Brasil: 5.2.1 . Controle normativo; 5.2.2. Controle administrativo - 6. Retençào
financeira por inadimplemento da dívida - 7. Carantias, contragarantias e vin-
culação de receitas em operações de crédito - B. Responsabilização, sanções
e dívida pública.

1. O endividamento público
Os Governos Federal, Estadual, Distrital e Municipal possuem diferentes cami-
nhos de obtenção dos recursos frnanceiros necessários à satisfação das necessidades
públicas, como a exploração do próprio patrimônio (receitas originárias), a tributa-
ção (receitas derivadas) ou a realização de empréstimos (endividamento público).
Recorrer ao endiyidamento é uma das alternativas financeiras para que o Poder
Público possa atender à necessidade de provisão de bens e serviços pelo Estado,
conforme as determinaçÕes constitucionais e legais.
O endividamento é conhecido desde a Antiguidade, mas foi no final da ldade
Média, com o desenvolvimento das instituiçÕes financeiras, que os empréstimos

l
b.

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