Contestação - MARIA EUGENIA DE CARVALHO BRAGA - Viscoat

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PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO DE NITERÓI

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


NITERÓI/RJ

PROCESSO Nº: 0807989-13.2023.8.19.0002


AUTORA: MARIA EUGENIA DE CARVALHO BRAGA
RÉUS: MUNICÍPIO DE NITERÓI, ESTADO DO RIO DE JANEIRO E
HOSPITAL OFTAMOLÓGICO SANTA BEATRIZ LTDA

O MUNICÍPIO DE NITERÓI, já qualificado nos autos do processo em


epígrafe, vem, por sua Procuradora abaixo assinada, à presença de V. Exa,
expor e requerer o quanto segue.

CONTESTAÇÃO

à Ação de Obrigação de Fazer proposta por MARIA EUGENIA DECARVALHO


BRAGA , pelas razões que passa a expor.

I – TEMPESTIVIDADE

Considerando que o termo final do prazo para o Município de Niterói


apresentar defesa é o dia 5/5/2023, tempestiva a presente contestação,
apresentada na data de hoje.

II – RESUMO DA LIDE

Trata-se de ação de obrigação de fazer com pedido de antecipação


dos efeitos da tutela, proposta em face do Município de Niterói, Estado do Rio

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de Janeiro e do Hospital Oftalmológico Santa Beatriz Ltda, por meio da qual a


Autora requer o fornecimento gratuito do medicamento VISCOAT
INTRACAMERAL, alegadamente necessário para a realização do
procedimento de facectomia.

O PEDIDO, NO ENTANTO, DEVE SER JULGADO IMPROCEDENTE,


PELOS MOTIVOS ABAIXO EXPOSTOS.

III - DA OBRIGACAO CONTRATUAL DE O HOSPITAL DE OLHOS SANTA


BEATRIZ ASSEGURAR À AUTORA DA AÇÃO TODA A MEDICAÇAO
NECESSÁRIA À REALIZACAO DO PROCEDIMENTO DE FACECTOMIA, AÍ
INCLUÍDO O VISCOELÁSTICO - AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA NOS
AUTOS PARA A UTILIZAÇÃO DO ESPECÍFICO VISCOELÁSTICO
DEMANDADO EM DETRIMENTO DAQUELE DISPONIBILIZADO PELO SUS
- NECESSIDADE DE PRIORIZAÇÃO DOS TRATAMENTOS DO SUS

A Autora pleiteia o fornecimento do medicamento Viscoat


Intracameral, para uso durante o procedimento de facectomia a ser
realizado no HOSB.

Inicialmente, cumpre esclarecer que o Município-réu não realiza a


cirurgia de facectomia com o remédio pleiteado, nem na sua rede própria,
nem por intermédio de sua rede complementar, isto é, por meio de
prestadores privados.

PARA A REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE FACECTOMIA


PELO SUS, É UTILIZADO OUTRO VISCOELÁSTICO, COM EQUIVALENTE
EFICÁCIA E SEGURANÇA A DO VISCOELÁSTICO DE MARCA PLEITEADO
PELA PARTE AUTORA NA PRESENTE AÇÃO, INEXISTINDO NOS AUTOS

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QUALQUER DOCUMENTO MÉDICO CONTRAINDICANDO O USO DO


VISCOELÁSTICO DISPONIBILIZADO PELO SUS.

ISTO É, NÃO HÁ JUSTIFICATIVA ALGUMA NOS AUTOS PARA A


NÃO UTILIZAÇÃO NO PROCEDIMENTO DE FACECTOMIA DO
VISCOELÁSTICO TRADICIONALMENTE DISPENSADO PELO SUS.

DESTAQUE-SE QUE CABE AO HOSPITAL DE OLHOS SANTA


BEATRIZ, HOSPITAL PRIVADO COM QUEM A FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE
SAÚDE DE NITERÓI POSSUI CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
MÉDICOS E PARA ONDE A AUTORA DESTA AÇÃO FOI ENCAMINHADA,
DISPONIBILIZAR AOS PACIENTES ATENDIDOS PELO SUS O
VISCOELÁSTICO NECESSÁRIO À REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE
FACECTOMIA, NÃO PODENDO COBRAR DO PACIENTE A MEDICAÇÃO A
SER UTILIZADA NO PROCEDIMENTO, UMA VEZ QUE NA REMUNERAÇÃO
QUE RECEBE PELA REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO JÁ ESTÁ
EMBUTIDO O CUSTO DA MEDICAÇÃO A SER ADMINISTRADA.

RESSALTE-SE QUE A FACECTOMIA É UM PROCEDIMENTO


CONTRATUALIZADO, ISTO É, ESTÁ CONTEMPLADO NO CONTRATO DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CELEBRADO ENTRE A FMS E O HOSPITAL DE
OLHOS SANTA BEATRIZ, SENDO UTILIZADO NO PROCEDIMENTO O
VISCOELÁSTICO AMVISC PLUS1, O QUAL DEVE SER DISPONIBILIZADO
SEM CUSTO ALGUM PARA O PACIENTE QUE É ENCAMINHADO PELO
SUS.

Ora, Exa., ao celebrar contrato de prestação de serviços de saúde


com o SUS, o prestador privado complementar obriga-se a realizar

1Bula disponível em: https://www.bauschsurgical.eu/products/cataract/viscoelastics/amviscr-


plus/.
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todos os procedimentos contratualizados, respeitada a quantidade de


procedimentos contratada, recebendo por cada procedimento
efetivamente realizado o valor pré-fixado na chamada TABELA SUS,
devendo assegurar ao paciente encaminhado pelo SUS, SEM CUSTO
ALGUM, TODA A MEDICAÇÃO INDISPENSÁVEL À REALIZAÇÃO DO
PROCEDIMENTO, NÃO PODENDO EXIGIR DO PACIENTE QUE ADQUIRA A
MEDICAÇÃO, POIS O SEU CUSTO JÁ ESTÁ EMBUTIDO NO VALOR DA
REMUNERAÇÃO QUEIRÁRECEBERDO PODER PÚBLICO
CONTRATANTE.

DESTARTE, CONSIDERANDO QUE A AUTORA DESTA AÇÃO FOI


ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO NO HOSPITAL DE OLHOS SANTA
BEATRIZ E QUE O REFERIDO HOSPITAL ESTÁ OBRIGADO POR FORÇA
DE CONTRATO A REALIZAR O PROCEDIMENTO EM QUESTÃO, CABE AO
REFERIDO HOSPITAL DISPONIBILIZAR O VISCOELÁSTICO SEM CUSTO
ALGUM PARA A PACIENTE, NÃO HAVENDO NECESSIDADE ALGUMA DE
A AUTORA DEMANDAR DO MUNICÍPIO O FORNECIMENTO DE
VISCOELÁSTICO.

Ora, Exa., se há ALTERNATIVA ao fármaco demandado


disponibilizada pelo SUS, qual seja, Amvisc Plus, ESTA OPÇÃO DEVE SER
PRIORIZADA, À MINGUA DE PROVA NOS AUTOS DE QUE SEJA
CONTRAINDICADA NO CASO DA PARTE AUTORA.

Cabia à Autora, principal interessada na obtenção do medicamento


por ela demandado, demonstrar a ineficácia ou o malefício do fármaco
alternativamente ofertado pelo SUS, considerando o seu histórico clínico e as
especificidades do seu organismo, o que não ocorreu in casu.

RESSALTE-SE QUE NÃO PODE O CIDADÃO EXIGIR QUE O

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ENTE PÚBLICO LHE FORNEÇA O TRATAMENTO MAIS DISPENDIOSO OU


AQUELE QUE LHE FOR MAIS CÔMODO, EM DETRIMENTO DAQUELES
QUE SÃO OFERECIDOS PELO SUS, OS QUAIS IGUALMENTE
ASSEGURAM O RESULTADO PRÁTICO VISADO, até mesmo por uma
questão de padronização e de programação de compra.

Ademais, segundo o preconizado pela Política Nacional de


Medicamentos do Ministério da Saúde, entre medicamentos de igual eficácia
terapêutica, deve-se privilegiar o de menor custo de aquisição, devendo tal
entendimento ser aplicado no presente caso.

Ora, Exa., se o tratamento de saúde disponibilizado pelo SUS é


tão eficaz, do ponto de vista terapêutico, quanto o tratamento pleiteado
judicialmente e, ainda por cima, menos custoso/dispendioso, não há razão
alguma para se priorizar a opção eleita pelo usuário em detrimento das
alternativas oferecidas pelo SUS. Realmente, havendo idêntico benefício e
custos diferenciados, os princípios da proporcionalidade e da
economicidade impõem que se opte sempre pelo tratamento menos
dispendioso.

O SUS não deve ser obrigado a custear todo e qualquer tratamento


receitado por médicos, sejam eles privados ou mesmo do próprio SUS, ainda
que obtenham excelente resposta terapêutica. Tendo em vista a escassez de
recursos estatais, não é possível exigir do Poder Público a concessão de
qualquer medicamento. É preciso que haja razoabilidade no pleito.

Em regra, apenas os medicamentos padronizados, constantes nas


Listas Oficiais de Medicamentos do SUS, devem ser fornecidos aos seus
pacientes. Isso se dá em nome da padronização das rotinas, dos custos dos
medicamentos, da certeza de suas propriedades farmacológicas, sendo certo

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que cada remédio que entra ou sai das listas passa por um processo decisório
rigoroso pela CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
SUS).

COM EFEITO, NO JULGAMENTO DA SUSPENSÃO DE TUTELA


ANTECIPADA (STA) 175, O EXMO. SR. MINISTRO GILMAR MENDES, À
ÉPOCA PRESIDENTE DO STF, ASSINALOU QUE “OBRIGAR A REDE
PÚBLICA A FINANCIAR TODA E QUALQUER AÇÃO E PRESTAÇÃO DE
SAÚDE GERARIA GRAVE LESÃO À ORDEM ADMINISTRATIVA E LEVARIA
AO COMPROMETIMENTO DO SUS, DE MODO A PREJUDICAR AINDA MAIS
O ATENDIMENTO MÉDICO DA PARCELA DA POPULAÇÃO MAIS
NECESSITADA”.

AINDA EM SUA DECISÃO, O I. MINISTRO CONSIGNOU QUE DEVE


SER PRIVILEGIADO O TRATAMENTO FORNECIDO PELO SUS, “SEMPRE
QUE NÃO FOR COMPROVADA A INEFICÁCIA OU A IMPROPRIEDADE DA
POLÍTICA DE SAÚDE EXISTENTE” (grifos nossos).

Conforme se extrai do julgamento da supracitada STA, cabia à


parte autora demonstrar, por meio de laudo médico fundamentado, que
todas as opções medicamentosas fornecidas pelo SUS se mostram
ineficazes ou contraindicadas para o seu caso, considerando as
especificidades do seu organismo e o seu histórico clínico, o que, todavia,
não foi feito.

Digno de nota ainda o voto proferido pelo Exmo. Sr. Ministro Luís
Roberto Barroso no julgamento do Recurso Extraordinário Repetitivo n°
566.471/RN, concluído em 11/03/2020, no sentido de que, para haver a
condenação do Poder Público ao fornecimento de medicamentos não
padronizados pelo SUS, uma série de critérios devem ser respeitados, dentre

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eles a inexistência de substituto terapêutico incorporado pelo SUS, como


evidenciado pelo trecho abaixo reproduzido do aludido pronunciamento:

"Porém, para fins de reduzir e racionalizar, tanto quanto possível,


a judicialização nessas situações, proponho 5 (cinco) requisitos
cumulativos que devem ser observados pelo Poder Judiciário
para o deferimento de uma prestação de saúde. São eles: (i) a
incapacidade financeira do requerente para arcar com o custo
correspondente, (ii) a demonstração de que a não incorporação
do medicamento não resultou de decisão expressa dos órgãos
competentes, (iii) a inexistência de substituto terapêutico
incorporado pelo SUS, (iv) a comprovação de eficácia do
medicamento pleiteado à luz da medicina baseada em
evidências, e (v) a propositura da demanda necessariamente em
face da União”. Grifos nossos

O E. Superior Tribunal de Justiça já havia firmado entendimento, por


ocasião do julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia
nº 1.657.156 – RJ, no mesmo sentido da tese afinal fixada pelo e. STF, isto é,
de que, para a dispensação de medicamentos não incorporados em atos
normativos do SUS, indispensável o preenchimento cumulativo dos seguintes
requisitos:

1) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e


circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente,
da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento,
assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia,
dos fármacos fornecidos pelo SUS;
2) Incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento
prescrito;

3) Existência de registro na ANVISA do medicamento;

O acórdão, publicado em 04/05/2018, estabeleceu/definiu que, para


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a concessão de medicamento não incorporado em ato normativo do SUS,


necessária a comprovação, por meio de LAUDO MÉDICO FUNDAMENTADO e
CIRCUNSTANCIADO, da IMPRESCINDIBILIDADE do medicamento
receitado, bem como da INEFICÁCIA dos fármacos fornecidos pelo SUS
para o tratamento da doença do paciente.

A íntegra da ementa se reproduz abaixo:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. TEMA 106.
JULGAMENTO SOB O RITO DO ART. 1.036 DO CPC/2015.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS NÃO CONSTANTES
DOS ATOS NORMATIVOS DO SUS. POSSIBILIDADE.
CARÁTER EXCEPCIONAL. REQUISITOS CUMULATIVOS
PARA O FORNECIMENTO. 1. Caso dos autos: A ora recorrida,
conforme consta do receituário e do laudo médico (fls. 14-15, e-
STJ), é portadora de glaucoma crônico bilateral (CID 440.1),
necessitando fazer uso contínuo de medicamentos (colírios:
azorga 5 ml, glaub 5 ml e optive 15 ml), na forma prescrita por
médico em atendimento pelo Sistema Único de Saúde - SUS. A
Corte de origem entendeu que foi devidamente demonstrada a
necessidade da ora recorrida em receber a medicação pleiteada,
bem como a ausência de condições financeiras para aquisição
dos medicamentos. 2. Alegações da recorrente: Destacou-se
que a assistência farmacêutica estatal apenas pode ser
prestada por intermédio da entrega de medicamentos
prescritos em conformidade com os Protocolos Clínicos
incorporados ao SUS ou, na hipótese de inexistência de
protocolo, com o fornecimento de medicamentos
constantes em listas editadas pelos entes públicos.
Subsidiariamente, pede que seja reconhecida a
possibilidade de substituição do medicamento pleiteado por
outros já padronizados e disponibilizados. 3. Tese afetada:
Obrigatoriedade do poder público de fornecer

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medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS


( Tema 106). Trata-se, portanto, exclusivamente do
fornecimento de medicamento, previsto no inciso I do art. 19-M
da Lei n. 8.080/1990, não se analisando os casos de outras
alternativas terapêuticas. 4. TESE PARA FINS DO ART. 1.036
DO CPC/2015 A concessão dos medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos: (i) Comprovação, por
meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado
expedido por médico que assiste o paciente, da
imprescindibilidade ou necessidade do medicamento,
assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia,
dos fármacos fornecidos pelo SUS; (ii) incapacidade
financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; (iii)
existência de registro na ANVISA do medicamento. 5. Recurso
especial do Estado do Rio de Janeiro não provido. Acórdão
submetido à sistemática do art. 1.036 do CPC/2015.

EM OUTRAS PALAVRAS: DEVE-SE PRIORIZAR, COMO REGRA,


O TRATAMENTO DO SUS EM DETRIMENTO DE OPÇÃO DIVERSA ELEITA/
DEMANDADA PELO PACIENTE.

Na presente demanda, a Autora requer medicamento diverso


daquele dispensado pelo SUS, não comprovando, entretanto, possuir
alguma particularidade que inviabilize o uso por ela do fármaco fornecido
pelo Poder Público, de modo a justificar a diferenciação de tratamento e a
individualização da sua prestação de saúde.

Como se observa, não há qualquer documento nos autos que


comprove a ineficácia ou o malefício da alternativa disponibilizada pelo SUS no
caso da Autora.

A determinação de entrega à Demandante de medicamento por ela


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escolhido, sem justificativa razoável para o discrímen, proporciona-lhe


tratamento privilegiado frente aos demais pacientes que, na mesma situação,
utilizam os fármacos dispensados pelo SUS.

Dessa forma, assegura-se um privilegio odioso à parte autora em


detrimento do restante da população, em clara afronta ao princípio da isonomia.

Destarte, era ônus da Demandante comprovar não poder fazer


uso das tecnologias de saúde ofertadas pelo SUS, por meio de documentos
médicos que evidenciassem claramente que o medicamento
disponibilizado pelo SUS jé ineficaz ou contraindicado no seu caso, em
razão de alguma peculiaridade do seu organismo.

À míngua de tal comprovação, deve ser dada prioridade aos


medicamentos do SUS e não àqueles eleitos segundo as conveniências do
paciente, em respeito à isonomia que deve nortear o relacionamento do
poder público com os cidadãos.

P o r t a n t o , nã o é p e r m i t i d o a o p a c i e n t e r e c u s a r
injustificadamente as opções de medicamentos fornecidas pelo SUS ou
ainda pretender obter as melhores e mais caras novidades do mercado
farmacêutico (!), havendo tratamento ofertado pelo SUS igualmente eficaz
e de menor custo, isto é, capaz de produzir o mesmo resultado prático de
modo menos oneroso para os cofres públicos.

Evidentemente, ninguém pode obrigar o médico a receitar um


insumo/remédio que fará mal ao paciente. No entanto, nem o médico, nem o
paciente podem obrigar o SUS a fornecer terapia mais onerosa, se as
alternativas disponíveis no SUS apresentam efeito comprovado no controle ou

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tratamento de determinada doença.

Não se está aí interferindo na autonomia do profissional de escolher


a melhor terapia medicamentosa/tratamento para o paciente, mas sim
conciliando as limitações orçamentário-financeiras dos entes públicos com as
necessidades da população, uma vez que as drogas têm custos diferenciados e
respostas terapêuticas equivalentes. Como se sabe, não se pode exigir que
todos os medicamentos novos sejam imediatamente incorporados às listas
oficiais de medicamentos já elaboradas, seja por razões de segurança, seja
por razões financeiras, uma vez que a reserva do possível limita os gastos
públicos.

Ademais, o médico deve ter a consciência de que, quando o paciente


não tem condições de adquirir com recursos próprios as novidades do mercado
farmacêutico, deve receitar os medicamentos disponíveis para dispensação
gratuita. Se o médico quiser receitar um medicamento novo, mesmo que seja
recomendado pelas sociedades de especialistas e aprovado pela comunidade
científica, deve conversar antes com o paciente para saber se tem ele condições
de comprá-lo ou obtê-lo como amostra grátis do fabricante/distribuidor. O que
não se pode é subverter a regra geral, criando uma situação especial para um
paciente, prejudicando os demais, desequilibrando todo o sistema e rompendo
com o princípio da isonomia.

Não parece razoável privilegiar-se o acesso de UM ÚNICO


CIDADÃO a um tratamento de saúde cuja incorporação pelo SUS não foi
aprovada pelos órgãos técnicos competentes justamente por haver
alternativa terapêutica igualmente eficaz no SUS.

Com base no exposto, conclui-se que este Réu não deve ser
compelido a fornecer o medicamento VISCOAT INTRACAMERAL, haja vista a

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existência de alternativa no SUS, a qual deve ser priorizada, considerando a


ausência de provas nos autos de ser ela ineficaz ou contraindicada no caso da
Autora, em respeito ao entendimento jurisprudencial consolidado no âmbito do
STF e do STJ.

IV – AD CAUTELAM, DA INDICAÇÃO DE CONTA BANCÁRIA PARA


C U S T E I O D O M E D I C A M E N TO V I S C O AT L A R G E 0 , 7 5 M L –
PROCEDIMENTO CIRÚRGICO PLEITEADO É REALIZADO PELO
HOSPITAL SANTA BEATRIZ

Como já informado pelo NAT em seu parecer de fls. 111/114, a cirurgia


de facectomia com implante de lente intraocular é um procedimento integrante
da Tabela SUS. No entanto, o medicamento VISCOAT LARGE 0,75 ML não
consta no SIGTAP – Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos,
Medicamentos e OPM do SUS. Em outras palavras, o Município realiza o
procedimento cirúrgico demandado, mas não com o medicamento pleiteado.

Assim, ad cautelam, caso a parte autora comprove não poder utilizar


o medicamento AMVISC PLUS durante o procedimento cirúrgico, o Município
de Niterói indica a conta corrente nº 00000045-7, agência 0174, operação 0006,
da Caixa Econômica Federal, bem como as seguintes contas do Estado do Rio
de Janeiro e da FMS, também réus nesta ação e codevedores solidários,
igualmente obrigados, portanto, ao fornecimento da medicação:

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Banco do Brasil, Bradesco,


AG. 2234-9, C/C 291931-1, AG. 6898-5, C/C 279-8,
CNPJ 42.498.600/0001-71, CNPJ 42.498.717/0001-55,
Governo do Estado do Rio de Secretaria de Estado de Saúde.
Janeiro.

Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal,


AG. 2234-9, C/C 291866-8, AG. 199, C/C 802-0,
CNPJ 42.498.717/0001-55, CNPJ 42.498.717/0001-55,
Secretaria de Estado de Saúde - Secretaria de Estado de Saúde.
FES.

Fundação Municipal de Saúde de Niterói:


Banco do Brasil,
Conta Corrente n° 107.320-6
Agência n° 072

Requer-se tão somente que, previamente a eventual bloqueio, haja


apresentação de pesquisa de preços pelo autor, para que o princípio da menor
onerosidade (art. 805, CPC) seja observado, devendo a parte autora trazer aos
autos pelo menos três orçamentos de estabelecimentos distintos, a fim de
que o bloqueio seja efetivado pelo menor valor do medicamento (art. 70,
CF/88), sobretudo diante da escassez de recursos públicos e do princípio da
economicidade que os rege.

Embora, a princípio, possa parecer irrelevante a determinação de


apresentação de três orçamentos pela parte autora, tendo em vista que eventual
redução significaria uma economia supostamente “insignificante” para a
Administração Pública, à luz de uma perspectiva macro e diante das diversas
demandas judiciais de saúde, impõe-se que os requisitos mínimos de menor
onerosidade e economicidade sejam observados.
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De fato, não são poucas as demandas nas quais se defere o bloqueio


de valores em contas públicas sem a devida demonstração da economicidade
por parte do beneficiado, o que vem onerando excessivamente as finanças
públicas, frustrando, pois, a concretização de outros direitos igualmente
fundamentais e de demandas sociais relevantes, comprometendo de forma
grave os princípios da eficiência e da reserva do possível.

Considerando que são escassos os recursos estatais, faz-se mister


que as medidas executivas, quando aplicadas contra a Fazenda Pública, sejam
pautadas pelos princípios da economicidade (art. 70 da CF) e da menor
onerosidade ou gravosidade (art. 805 do CPC). Ainda que a Ré tenha a
obrigação de prestar saúde, conforme estabelecem os arts. 6º e 196 da CF, é de
suma importância que a referida prestação, quando imposta judicialmente, seja
efetivada com menor ônus ou custo possível para o ente fazendário réu,
independentemente do pequeno ou elevado valor do bloqueio, sob pena de se
configurar a antijuridicidade do ato judicial.

Em outras palavras, sendo realmente necessária a medida constritiva


do bloqueio, também é necessário equilibrar a sua efetivação com o menor ônus
possível para o devedor.

V - CONCLUSÃO

Pelo acima exposto, requer o Município de Niterói seja julgada


improcedente a presente demanda.

Termos em que pede e espera deferimento.

Niterói, 22 de março de 2023

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ANDREA CARLA BARBOSA


Procuradora do Município de Niterói
OAB/RJ 155684 Matrícula 239957-7

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