Dos Crimes Contra A Vida - Art. 121 A 128 Do CP: Fernando CAPEZ Homicídio
Dos Crimes Contra A Vida - Art. 121 A 128 Do CP: Fernando CAPEZ Homicídio
Dos Crimes Contra A Vida - Art. 121 A 128 Do CP: Fernando CAPEZ Homicídio
121 a 128 do CP
Fernando CAPEZ
Homicídio
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Participação em suicídio ou automutilação
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Infanticídio
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Aborto
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§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Feminicídio
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição:
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por
qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária.
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou
por grupo de extermínio.
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física
ou mental;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
Art. 121, § 2º, III Veneno – substância química ou biológica que introduzida no
organismo, pode causar a morte.
Emprego de:
Fogo – a qualificadora consiste no “emprego” de fogo.
veneno,
Explosivo – a qualificadora consiste no “emprego” de explosivo com o
fogo,
fim de provocar a morte da vítima.
explosivo,
Asfixia – consiste no impedimento da função respiratória.
asfixia,
Tortura – quando o agente utiliza um meio de execução que sujeita de
tortura ou outro forma longa e gradativa a vítima a graves sofrimentos físicos ou
meio insidioso mentais, antes de causar a morte.
ou que possa causar perigo Meio cruel é o que impõe sofrimento físico ou moral grave, embora
comum breves.
Perigo comum é o que expõe perigo à coletividade. Além de causar a
morte de quem pretendia, o meio tem o potencial de causar situação de
risco à vida ou integridade corporal de um número elevado e
indeterminado de pessoas. O meio empregado pelo agente, tem o
potencial de causar situação de risco à vida ou integridade corporal
de número elevado e indeterminado de pessoas
Obs.: são circunstâncias objetivas, portanto comunicáveis
O comportamento criminoso demonstra maior reprovação, não
pelos motivos em si, mas pelo meio de realização, insidioso, cruel ou
que cause perigo comum.
Art. 121, § 2º, VI Art. 121, § 2ºA: Considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve:
Contra mulher por razões da
condição de sexo feminino I – violência doméstica e familiar contra mulher
Violência doméstica ou familiar contra a mulher, é toda e qualquer ação
ou omissão baseada no gênero que causa morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no âmbito da
unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto.
II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Nesses casos, a vítima pode ser até mesmo uma mulher desconhecida do
agente.
O feminicídio é a expressão fatal das diversas violências que podem
atingir as mulheres em sociedades marcadas pela desigualdade de
poder entre os gêneros, por construções históricas, culturais,
econômicas, políticas e sociais discriminatórias.
Obs.: sujeito passivo só pode ser mulher.
Conceito de feminicídio: Consiste no ódio, desprezo ou repulsa ao
gênero feminino e às características a ele associadas, sejam
mulheres ou meninas.
Obs.: a circunstância subjetiva, portanto, incomunicável.
Art. 121, § 2º, VIII Armas de uso restrito – São as armas de fogo automáticas e as
semiautomáticas ou de repetição que sejam:
Com emprego de arma de fogo de
uso restrito ou proibido I – não portáteis – aquelas que por sua dimensão e peso não podem ser
transportadas por um único homem;
II – de porte cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
atinja na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e
duzentas libras/pé ou mil seiscentos e vinte joules – armas de fogo de
tamanho e peso reduzido que podem ser transportadas em um coldre e
disparadas por um indivíduo com somente uma das mãos.
III – portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, atinja na saída do cano de prova, energia cinética
superior a mil e duzentas libras/pé ou mil seiscentos e vinte joules –
armas de fogo cujo peso e dimensões permitem que seja conduzida e
transportada por um único homem, mas não podem ser transportadas em
um coldre, exigindo em condições normais, ambas as mãos para
poderem ser disparadas.
Armas de uso proibido – São as armas de fogo automáticas e as
semiautomáticas ou de repetição que sejam:
I – as armas de fogo assim classificadas em acordos e tratados
internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja
signatária;
II – as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos
inofensivos;
Art. 121, § 2º, IX Qualificadora objetiva, o agente deve saber ser a vítima menor de
quatorze anos de idade para incidência da qualificadora.
Contra menor de 14 anos
Obs.: é circunstância objetiva, portanto, comunicável
Observação importante
Com relação ao homicídio qualificado-privilegiado, admite-se, desde que a qualificadora seja objetiva, ou seja,
relativa aos meios e modos de execução do crime.
Desse modo, deixa o homicídio qualificado de ser considerado crime hediondo.
Causas de aumento de pena aplicáveis ao homicídio culposo – art. 121, § 4° (1ª parte)
Art. 121, § 4º – No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
socorro à vítima, não procura diminuir as consequências de seu ato, ou foge para evitar a prisão em
flagrante.
* Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: pelo desleixo, se pune com a pena maior.
Diferente da imperícia, o agente tem o necessário conhecimento para o exercício de sua ocupação, mas não o
utiliza adequadamente.
* Omissão de socorro ou não procura diminuir as consequências do seu ato: o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, prioriza a solidariedade nas relações sociais e a majorante só incide quando o agente
possui condições de realizar a conduta exigida, sem comprometer a preservação de sua vida ou integridade
física.
* Fuga para evitar o flagrante: foge para evitar ser preso, busca essa causa de aumento facilitar a ação do
poder público diante do crime, bem como estimular o auxílio às vítimas.
Causas de aumento de pena aplicáveis ao homicídio doloso – art. 121, § 4º (2ª parte) e § 6º
Art. 121, § 4º - ...Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço se o crime é praticado contra
pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos.
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
Código:
§ 3º A pena é duplicada:
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste
Código.
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio
material para que o faça:
Pena – reclusão, de 6 meses a 2 anos.
Tipicidade: Consiste em concorrer para o suicídio ou automutilação alheia.
Induzir: criar a ideia.
Instigar: reforçar a ideia.
Auxiliar: fornecer os meios.
No induzimento, é o agente quem sugere o suicídio ou a automutilação à vítima, que ainda não havia cogitado
esse ato, enquanto na instigação, ela já estava pensando em ceifar a própria vida ou em se autolesionar, e o
agente, ciente disso, a estimula a fazê-lo.
Bem jurídico: A vida humana extrauterina (quando o resultado visado for o suicídio de outrem) e da
integridade física (quando visada a automutilação).
Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa, desde que capaz de entendimento.
Elemento subjetivo: Dolo, no sentido de a vítima cometer suicídio ou de se automutilar;
Consumação: Por se tratar de crime formal, a consumação ocorre com o mero ato de induzimento, instigação
ou auxílio. Assim, ainda que a vítima não realize o ato suicida ou a automutilação, ou ainda que o realize, mas
sofra somente lesões leves, o crime está consumado. Se sofrer lesão corporal grave ou gravíssima, ou mesmo
vier a falecer, o delito então é qualificado.
Tentativa: É possível.
Execução: Crime de forma livre.
Concurso de pessoas: Crime de concurso eventual.
Competência para julgamento: Tribunal do júri quanto a participação em suicídio e Juízo comum quanto a
participação em automutilação.
Não sofre qualquer lesão ou sofre lesão leve Não sofre qualquer lesão ou sofre lesão leve
Art. 122, caput, devendo a natureza da lesão ser Art. 122, caput, devendo a natureza da lesão ser
considerada na fixação da pena-base considerada na fixação da pena-base
VÍTIMA É MENOR (entre 14 e 18 anos) ou TEM VÍTIMA É MENOR (entre 14 e 18 anos) ou TEM
DIMINUÍDA, POR QUALQUER CAUSA, A DIMINUÍDA, POR QUALQUER CAUSA, A
CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA
Não sofre qualquer lesão ou sofre lesão leve Não sofre qualquer lesão ou sofre lesão leve
Art. 122, caput, c/c § 3º Art. 122, caput, c/c § 3º
Morre Morre
Não sofre qualquer lesão ou sofre lesão leve Não sofre qualquer lesão ou sofre lesão leve
art. 122, caput, c/c § 3º (divergência doutrinária – Art. 122, caput, c/c § 3º
entendimento de que há homicídio tentado)
Morre Morre
Nos termos do art. 122, § 7º, aplicam-se o tipo e as Nos termos do art. 122, § 7º, aplicam-se o tipo e as
penas do art. 121 do CP penas do art. 121 do CP (divergência – as penas
devem ser do art. 129, § 3º do CP. Não existe
automutilação quando a vítima é incapaz.)
Art. 123 – Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Aborto
Modalidades: autoaborto ou aborto com o consentimento da gestante; Aborto provocado por terceiro sem
o consentimento da gestante; Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante; e Aborto
necessário.
Conceito: Aborto é a interrupção da gravidez com a consequente morte do produto da concepção.
Tipicidade: Interrupção da vida intrauterina
Bem jurídico: A vida humana intrauterina
Sujeito ativo: A gestante (art. 124) e qualquer pessoa (art. 125 e 126)
Sujeito passivo: O produto da concepção (feto ou embrião) e a mãe (art. 125)
Elemento subjetivo: Dolo
Consumação: Ocorre com a morte do produto da concepção.
Tentativa: É possível em todas as figuras de aborto criminoso.
Omissão: Pode ocorrer na modalidade omissiva própria
Execução: Crime de forma livre
Concurso de pessoas: Em regra, crime de concurso eventual
Competência para julgamento: Tribunal do Júri
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Autoaborto (1ª parte): O autoaborto é realizado pela própria gestante, com ou sem a participação de terceiros.
É crime de mão própria, devendo ser praticado pela própria gestante, admitindo participação.
Aborto consentido (2ª parte): A gestante não pratica as manobras abortivas, mas permite que terceiro o faça. É
crime de concurso necessário, também admitindo participação.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Trata-se de duas causas de aumento, uma em razão da lesão grave e outra em razão do evento morte.
É tipicamente um crime preterdoloso, em que existe dolo no antecedente (aborto) e culpa no consequente (no
resultado lesão ou morte)
Somente se aplica aos crimes previstos nos artigos 125 e 126.
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Aborto necessário ou terapêutico: Se não há outro meio de salvar a vida da gestante – nesse caso o médico
poderá realizar o aborto independentemente de autorização judicial ou do consentimento da gestante;
Aborto sentimental, humanitário ou ético: Gravidez resultante de estupro (recomendação do Ministério da
Saúde – registro do BO no caso do SUS), bem como é imprescindível o prévio consentimento da gestante, não
podendo ser realizado por quem não tenha a qualidade de médico.
Observações: Deve haver comprovação de que a mulher esteja grávida de feto/embrião/óvulo vivo, sob pena de
ocorrer crime impossível;
Se ocorrer a gravidez molar ou extrauterina, é atípico o fato.
Aborto em caso de anencefalia (malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência parcial do
encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural durante o desenvolvimento
embrionário) – o abortamento neste caso, foi considerada atípica e independe de autorização judicial, bastando
o consentimento da gestante, desde que acompanhado de laudo de constatação da ausência dos hemisférios
cerebrais, do cerebelo, além da presença de um tronco cerebral rudimentar ou ainda, a inexistência parcial ou
total do crânio.