Tribulações Do Povo de Israel Na São Paulo Colonial FF
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São quase sempre os mesmos os nomes referenciados pelo autor como cristãos-novos nas Capitani-
as do Sul entre o seu estudo de 1962, o livro de 1969 e este que nos ocupa, de 1977. É certo que
para a restrição do círculo de conhecidos pela sua origem hebraica contribui desastrosamente o
desaparecimento do “rol das fintas” que, nas palavras do autor, “se cobraram aos judeus”. Con-
vém, no entanto esclarecer que os róis não desapareceram por conspiração dos marranos da capi-
tania de São Vicente: foi o marquês de Pombal que, em lei de 1773 – aliás célebre – aboliu as dis-
tinções entre cristãos-novos e cristãos-velhos, ordenando conseqüentemente que todas as câmaras
dos concelhos queimassem os ditos róis das fintas.
(...) Algumas considerações antes de acabarmos de resenhar este livro inutilmente dividido em duas
partes, com sete e seis capítulos, respectivamente...
Em primeiro lugar, a falta de rigor metodológico na economia da distribuição das matérias das
partes A e B: seria possível abreviá-las e fuindi-las, em benefício da inteleigência da lição. Em se-
gundo lugar, mas que é mais importante que oprimeiro, a falta de rigor terminológico na designa-
ção de judeus e “arianos” (sic!). Este defeito, já acusado no historiador espanhol Julio Caro Ba-
roja, assume em Os Cristãos-Novos, Povoamento e Conquista do Solo Brasileiro (1530-1680) o
mesmo sentido equívoco do título do livro. Ou seja, nem de modo preciso, científico, se trata do po-
voamento e conquista do solo brasileiro entre 1530 e 1680, nem precisa e cientificamente se faz
distinção entre cristão-novo e judeu.
Já não falamos da evocação de Francisco Maldonado, o qual casou com Joana Camacho, “cuja li-
nhagem nos parece suspeita” (pág. 96). Falamos, por exemplo, na facilidade de generalizações
como aquela (pág. 136), segundo a qual “a família Maciel não escapa à suspeita”. Ora, para inva-
lidar a suspeita, e à falta de uma teoria da antroponímiados conversos, verifique-se a comprovação
de Maciéis cristãos-velhos em Eduardo de Miranda e Arthur de Távora, Extractos dos Processos
para Familiares do Santo Ofício, Grandes Atelieres Gráficos “Minerva”, Vila Nova de Famalicão,
MCMXXXVII, pág. 71.
40
SALVADOR, José Gonçalves. Os Cristãos-Novos e o Comércio no Atlântico Meridional: com enfo-
que nas Capitanias do Sul: 1530-1680. São Paulo: Pioneira; Brasília: INL, 1978.
41
SALVADOR, José Gonçalves. Os Cristãos-Novos: Povoamento e Conquista do Solo Brasileiro,
1530-1680. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1976.
42
SALVADOR, José Gonçalves. Os Magnatas do Tráfico Negreiro: séculos XVI e XVII. São Paulo:
Pioneira/EDUSP, 1981.
43
SALVADOR, José Gonçalves. A Capitania do Espírito Santo e seus engenhos de açúcar (1535-
1700)- a presença dos cristãos-novos. Vitória: Secretaria de Produção e Difusão Cultural- UFES/ De-
partamento Estadual de Cultura, 1994.
44
Suplemento Cultural de “O Estado de S. Paulo”, de 17 de julhode 1977, p. 11.
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Esta imprecisão terminológica em torno de judeus, cristãos-novos, cristãos-velhos e arianos (!) sur-
ge logo na página de abertura da obra, onde o autor, depois de teorizar que “embora de difícil ab-
sorção, o judeu nunca foi inassimilável por índole”, faz a seguinte interpolação:
“Lembre-se, a propósito, que D. Pedro I, cognominado o Justiceiro, teve de suas duas amantes is-
raelitas, D. Teresa Lourenço e D. Inês de Castro, descendentes que se integraram na alta nobreza”.
(Um deles foi, como se sabe, D. João I, o fundador da Casa de Avis).
Pois bem, Teresa Lourenço e Inês de Castro foram realmente favoritas de Pedro o cru, e até pode-
riam ter ascendentes israelitas. Nesse caso, porém, o correto seria designa-las por cristãs-novas,
jamais por judias e muito menos por israelitas, pois o vocábulo traduz modernamente a confissão
religiosa de quem pratica a fé de Moisés...
Com estas e outras ressalvas, ficamos no entanto a dever ao Professor José Gonçalves Salvador um
livro de leitura obrigatória.
A Professora Anita Novinsky foi responsável pelo grande estímulo que se deu ao
tema no Brasil e no exterior. Veio a fundar uma “escola” de Inquisição, publicando artigos,
livros, organizando eventos, exposições e, recentemente, fundando o Laboratório de Estu-
dos sobre a Intolerância e o Museu da Tolerância. Provocou um efeito multiplicador, com
vários de seus orientandos se tornando igualmente professores universitários e publicando
suas teses. É sua idéia doar o seu valioso acervo, fruto de décadas de trabalho, a essas ins-
tituições. O seu debut se deu ao escrever um artigo45, Os israelitas em São Paulo, no ano
de 1968. Organizou as notas de uma obra básica: História dos Judeus em Portugal46, de
Meyer Kayserling, publicado originariamente em alemão em 1867.
A sua grande obra viria logo depois, em 1972, com a publicação de Os Cristãos-
Novos da Bahia47, sua tese de doutoramento. Apoiando as teses de António José Saraiva,
nas quais o marrano era uma criação da Inquisição, e sua motivação maior a econômica.
Paralelamente, o marrano se fortaleceu com a repressão e exclusão. Unida ao Estado e à
Igreja, a Inquisição mantinha o controle da sociedade, o que seria determinante na forma-
ção da mentalidade brasileira. Em 1982 publicou A Inquisição48. Viriam depois, e vão rela-
cionados apenas o que tem mais relevância tem com o tema desta dissertação de mêstrado:
Inquisição: inventário dos bens confiscados a cristãos-novos49, de 1976. Da organização
do 1º Congresso Luso-Brasileiro da Inquisição, do qual ela foi a coordenadora brasileira,
45 NOVINSKY, Anita. Os Israelitas em São Paulo. In: São Paulo: Espírito, Povo, Instituições. São
Paulo: Pioneira, 1968, p. 107-126.
46
KAYSERLING, Meyer. História dos Judeus em Portugal; notas de Anita Novinsky. São Paulo: Ed.
Pioneira, 1971.
47
NOVINSKY, Anita. Os Cristãos-Novos da Bahia, São Paulo: Perspectiva, 1972.
48 Idem, A Inquisição, s.l., Brasiliense, 1982.
49
NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventário dos bens confiscados a cristãos-novos. Lisboa: Imprensa
Nacional/ Casa da Moeda, [1976].
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