Leandro Marins de Souza Tributação Do Terceiro Setor No Brasii
Leandro Marins de Souza Tributação Do Terceiro Setor No Brasii
Leandro Marins de Souza Tributação Do Terceiro Setor No Brasii
TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO
SETOR NO BRASII
Leandro Marins de Souza
e Advogado em Curitiba.
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TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO
SETOR NO BRASIL
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LEANDRO MARINS DE SOUZA
TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO
SETOR NO BRASIL
Paulo - 2004
O by Leandro Marins de Souza
www .dialetica.com.br
ISBN nº 85-7500-105-1
Bibliografia.
ISBN 85-7500-105-1
04-0581 CDU-34:336.2:338.46(81)
A toda minha família, início e razão de tudo, o que faço no nome dos meus
avós Astolpho Macedo de Souza Filho (in memoriam) e Stella Marins de Souza
(in memoriam); Isidoro Age (in memoriam) e Lígia Capanema Age; e do ilustre
Senhor Hélio Porto Sandoval (in memoriam). À minha amada Juliana Sandoval
Leal, que com amor, carinho, compreensão, estímulo e muita paciência, fez trans-
formar as horas perdidas em motivo para a confirmação de nosso sentimento,
encontrando forças, ainda, para a revisão do trabalho.
Ao meu pai, Paulo, à minha mãe, There, ao meu irmão, Cassi e à minha
irmã Nina, por tudo.
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Prefácio
James Marins,
Professor do Mestrado em Direito Econômico e Social da PUC/PR.
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Introdução
! PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídi-
cos, administrativos, contábeis e tributários, Brasília : Brasília Jurídica, 1999, p. 45.
12
Expressão que se encontra tanto na obra de José Antonio del Campo (La fiscalidad de las
fundaciones y el mecenazgo, Valencia : Tirant lo Blanch, 2000, pp. 74 e ss.) quanto na
obra de Marcos Vaquer Caballería (La acción social: un estudio sobre la actualidad del
Estado Social de Derecho, Valencia : Tirant lo Blanch, 2002, pp. 201 e ss.). Sobre a no-
ção lídima de substituição, em cotejo com a expressão colaboração, ver Título II, capí-
tulo 6.2.
3 Expressão utilizada por Bernardo Kliksberg (Repensando o Estado para o desenvolvimen-
to social: superando dogmas e convencionalismos, trad. Joaquim Ozório Pires da Silva,
São Paulo : Cortez, 1998, p. 45).
* Expressão também utilizada por Caballería (op. cit., p. 201).
Ss Bernardo Kliksberg (op. cit., p. 67) apreende a importância das organizações do Terceiro
Setor como ferramentas de obtenção dos objetivos do Estado inteligente, assim asseve-
rando: “O Estado deve ser o fator convocante da formação de meta-redes, que integrem,
junto com os organismos públicos da área social, as regiões e os municípios, as ONGs,
fundações empresariais privadas, movimentos sindicais, organizações sociais religiosas,
Universidades, organizações de vizinhos, outros atores da sociedade civil e as comuni-
dades pobres organizadas.”
14 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
É o Terceiro Setor, portanto, realidade que vem a reboque das novas noções
de Estado, ou seja, da própria evolução do conceito de participação e interferên-
cia estatais, apresentando-se como ferramenta de longo alcance e de investidura
precisa sobre as necessidades sociais. Ou ao menos é uma proposta de reformu-
lação do papel do Estado, a ser no mínimo avaliada com detença.
A ratificar sua importância, faz-se mister que sejam trazidos à colação al-
guns apontamentos sobre a vasta utilização deste instrumento, tanto no Brasil
como em outros países, mesmo que a sua regulação seja ainda imprecisa e inci-
piente, sobretudo em nosso país.
Eduardo Szazi traz números bastante expressivos da participação do Ter-
ceiro Setor no Brasil, ao dizer que
“recentes pesquisas apontam que o Terceiro Setor gastou no Brasil cer-
ca de 10,9 bilhões de reais em despesas operacionais no ano de 1995, o
que corresponde a 1,5% do PIB daquele ano. Parcela significativa dos
recursos (61,1%) foi gerada pelas próprias entidades: o governo contri-
buiu com 12,8% e os Doadores Privados, com os restantes 26,1%, com-
putadas as doações em moeda e bens de pessoas físicas e jurídicas e o
valor do trabalho voluntário.”
E continua o autor, dando conta de que “nos Estados Unidos, o Terceiro
Setor representa 6,3% do PIB e detinha, em 1988, ativos equivalentes a 670 bi-
lhões de dólares”.?
Caballería também apresenta estatísticas que corroboram com o antes ex-
pressado, dando conta da importância do Terceiro Setor no cenário mundial:
“En el Reino Unido, en 1995 el gasto de las organizaciones del tercer sec-
tor representaba un 6,6% del PIB y dicho sector ocupaba a 16 millones
de voluntarios (equivalentes en horas de trabajo a unos 1,7 millones de
empleados a tiempo completo) y a 1,5 millones de asalariados a tiempo
completo que, sumados a los anteriores, representan en total el 12,39% del
empleo global de la economía. En los siete países estudiados en detalle
por Salamon y Anheier en 1996 (EE. UU., Reino Unido, Francia, Ale-
mania, Italia, Hungría y Japón), el gasto operativo del sector representa-
ba de media el 4,5% del PIB *y cuatro veces las ventas brutas de Gene-
ral Motors, la mayor compafiía privada del mundo”. En la Fase II del
mismo estudio, referida a 1995 y ampliada a 22 países (incluida Espafia),
se concluye que el gasto del sector no lucrativo alcanza un promedio del
4,6% del PIB en dichos países y que el empleo en este sector representa
de media el 4,8% del empleo total en ellos, porcentaje que en Espafia es
del 4,5%.
Estas considerações demonstram a importância social do tema, a justificar
a proposta que ora se apresenta de uma abordagem a respeito do regime jurídi-
co do Terceiro Setor, em especial no que tange ao regime tributário afeto a estas
entidades. as
* -SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: regulação no Brasil, São Paulo : Peirópolis, 2000, p. 21.
7 SZAZI, Eduardo. Op. cit., p. 21.
* CABALLERÍA, Marcos Vaquer. Op. cit, p. 201.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 15
work force, and enlisted the equivalent of another 5.7 million fulltime employees as vo-
lunteers. This mean that paid employment alone in nonprofit organizations is three times
that in agriculture, twice that in wholesale trade, and nearly 50 percent greater than that
in both construction and finance, insurance (...).” (tradução livre nossa)
Rubem César Fernandes (op. cit., pp. 69-70) aponta em sua obra que “os dados recolhi-
dos dos diretórios projetam um quadro nítido: as ONGs tornaram-se um fenômeno mas-
sivo no continente a partir da década de 1970. Cerca de 68% surgiram depois de 1975.
Um número significativo (17%) data de 1950 a 1960 e os restantes 15% distribuem-se de
maneira regular pelas décadas anteriores. Simplificando-se, pode-se dizer que organiza-
ções criadas antes de 1970 foram assimiladas pelo circuito das ONGs, o qual tornou-se
visível enquanto tal nos fins dos anos 70 ou começos dos anos 80. O próprio nome, ori-
ginário das nomenclaturas da ONU, e que é ainda objeto de algum debate, tornou-se ge-
ralmente reconhecido em meados dos anos 80.”
“Do ponto de vista acadêmico, apenas recentemente os pesquisadores voltaram sua aten-
ção para esse tipo de associativismo. Apesar da importância do debate público e da exis-
tência de uma vastíssima bibliografia estrangeira (boa parte dela comparativa), poucos
estudos foram até agora efetuados no Brasil. O que existe é o material produzido pelas
próprias organizações e alguns artigos analíticos.” (COELHO, Simone de Castro Tava-
res. Op. cit., p. 19)
Sobre o Terceiro Setor, em análises que não se dedicam ao estudo jurídico, veja-se:
ABONG. ONGs no Brasil: perfil e catálogo das associadas à Abong, São Paulo : Abong,
2002; PEREIRA, Luiz Carlos Bresser e GRAU, Nuria Cunill (org.). O público não-esta-
tal na reforma do Estado, Rio de Janeiro : Editora Fundação Getúlio Vargas, 1999; PE-
REIRA, Luiz Carlos Bresser. Reforma do Estado para a cidadania: a reforma gerencial
brasileira na perspectiva internacional, São Paulo : Editora 34; Brasília : ENAP, 1998;
COELHO, Simone de Castro Tavares. Terceiro Setor: um estudo comparado entre Bra-
sil e Estados Unidos, São Paulo : Senac, 2000; DEMO, Pedro. Solidariedade como efei-
to de poder, São Paulo : Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002; FALCONER, Andrés Pa-
blo e VILELA, Roberto. Recursos privados para fins públicos: as grantmakers brasilei-
ras, São Paulo : Peirópolis : Gife, 2001; FERNANDES, Rubem César. Privado porém
público: o Terceiro Setor na América Latina, 3º ed., Rio de Janeiro : Relume-Dumará,
2002; IOSCHPE, Evelyn Berg (org.). 3º Setor: desenvolvimento social sustentado, Rio
de Janeiro : Paz e Terra, 1997; KLIKSBERG, Bernardo. Repensando o Estado para o
desenvolvimento social: superando dogmas e convencionalismos, trad. Joaquim Ozório
Pires da Silva, São Paulo : Cortez, 1998; KOTHER, Maria Cecília Medeiros de Farias.
Profissionalização do Terceiro Setor, Porto Alegre : PUC/RS, 2001; KURZ, Robert. Para
além de estado e mercado, in Os últimos combates, 4º ed., Petrópolis : Vozes, 1998, pp.
151-157; MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social,
São Paulo : Cortez, 2001; MONTANO, Carlos. Terceiro Setor e questão social: crítica
ao padrão emergente de intervenção social, São Paulo : Cortez, 2002; ROCHE, Chris.
Avaliação de impacto dos trabalhos das ONGs: aprendendo a valorizar as mudanças,
trad. Tisel Tradução e Interpretação Simultânea Escrita, São Paulo : Cortez : Abong;
Oxford, Inglaterra : Oxfam, 2000; VEIGA, Sandra Mayrink e RECH, Daniel. Associações:
como constituir sociedades sem fins lucrativos, Rio de Janeiro : DP&A : Fase, 2001. Tam-
bém dignas de menção, por sua qualidade e pertinência, as publicações periódicas coor-
18 TriButação DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
denadas pela Abong denominadas Cadernos Abong, assim como a Coleção Gestão e
Sustentabilidade coordenada pelo Instituto Fonte (São Paulo) e publicada pela editora
Global, e ainda as publicações da Fundação Irmão José Otão, de Porto Alegre.
Para a análise da bibliografia jurídica brasileira sobre o Terceiro Setor, veja: BARBOSA,
Maria Nazaré Lins Barbosa e OLIVEIRA, Carolina Felippe. Manual de ONGs: guia prá-
tico de orientação jurídica, 3º ed., Rio de Janeiro : FGV, 2002; FALCÃO, Joaquim e
CUENCA, Carlos (org.). Mudança social e reforma legal: estudos para uma nova legis-
lação do Terceiro Setor, Brasília : Conselho da Comunidade Solidária : Unesco, 1999:
PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídi-
cos, administrativos, contábeis e tributários, 4º ed., Brasília : Brasília Jurídica, 2003;
RAFAEL, Edson José. Fundações e direito: 3º Setor, São Paulo : Melhoramentos, 1997;
ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Terceiro Setor, São Paulo : Malheiros, 2003; SILVA-
NO, Ana Paula Rodrigues. Fundações públicas e Terceiro Setor, Rio de Janeiro : Lumen
Juris, 2003; SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: regulação no Brasil, 3º ed., São Paulo :
Peirópolis, 2003.
Os dados deste parágrafo foram extraídos da seguinte fonte: Onde está o conhecimento:
um resumo dos principais cursos sobre o Terceiro Setor oferecidos em Curitiba, Gazeta
do Povo, suplemento especial Terceiro Setor, Curitiba, 30/05/2003, p. 15.
t313
COELHO, Simone de Castro Tavares. Op. cit., p. 20. Também o relato elaborado pelo
BNDES faz menção ao crescimento do número de cursos voltados ao Terceiro Setor:
“Outro ponto a destacar é o atual crescimento dos cursos voltados para a capacitação e
especialização de profissionais que irão atuar ou que já atuam em atividades dentro do
setor. Nos Estados Unidos, por exemplo, cursos de gestão para o terceiro setor começa-
ram a ser implantados nas universidades há quase duas décadas, e hoje, inclusive, alguns
centros universitários oferecem mestrado nesta área. Movimento semelhante já ocorre no
LEANDRO MARINS DE SOUZA 19
prática estar confirmada, não foi reconhecida ainda pela legislação pátria. É ver-
dade que o começo deste reconhecimento já está acontecendo, podendo ser ci-
tado o trabalho desenvolvido pelo Conselho da Comunidade Solidária propon-
do a chamada Reforma do Marco Legal do Terceiro Setor, que deu origem, in-
clusive, à edição de leis que afetam diretamente a atividade do Terceiro Setor.
São exemplos a Lei nº 9.687/99 (Lei das Organizações Sociais) e a Lei nº 9.790/99
(Lei das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público).
Mas, não obstante este passo ter sido dado, deixou-se para trás, ainda, a
discussão sobre a abrangência e a atuação do Terceiro Setor.
É verdade (e aqui temos que concordar empiricamente com Carlos Mon-
tafio sem nos afastarmos do objeto do presente trabalho, que é a análise jurídica
do Terceiro Setor) que o Terceiro Setor não representa uma novidade nas rela-
ções sociais, mas sim no seu trato.?* Salvo recentes alterações legislativas, suas
instituições são conhecidas (mesmo que pouco debatidas), os fenômenos que as
cercam já se consagraram, mas a pujança com que renasce este fenômeno e o
novo formato que vem assumindo, sobretudo no que tange à sua interface com
o Estado e o mercado, autorizam que se justifique a retomada deste debate de
forma autonomizada. É neste sentido que se expressa a novidade do tema.
E até por conta disso, a necessidade de serem fixadas algumas premissas
jurídicas de trabalho se torna, além de tarefa árdua, indispensável à configura-
ção do objeto de análise em foco. Não sem antes passar pelo contexto que fez
brotar o Terceiro Setor neste novo formato, hodiernamente pujante.
É nesta esteira que o primeiro título de nosso trabalho se propõe a trazer à
baila o Terceiro Setor entendido sob óticas não jurídicas, mas sociais, políticas,
econômicas, religiosas, entre outras. Óticas não jurídicas e muito menos próxi-
mas da Ciência do Direito, mas oriundas de outras ciências (sociais, políticas,
econômicas, etc.) não menos importantes para uma análise totalizante do tema.
Tema, aliás, que mediata e finalmente é o regime jurídico tributário apli-
cável às entidades do Terceiro Setor (tributação do Terceiro Setor), mas que
imediatamente deve passar pela análise inafastável do que vem a ser o Terceiro
Setor juridicamente considerado: imediatamente deve-se definir juridicamente
o Terceiro Setor para mediatamente abordá-lo sob aspectos jurídico-tributários.
Imediatamente, portanto, propõe-se um abordagem jurídica para o concei-
to de Terceiro Setor através do título 2 do presente trabalho, a partir do qual se
tem condições de almejar o entendimento de nosso objeto mediato - a tributa-
ção do Terceiro Setor no Brasil - no título de número 3.
“a
* “A recorrente afirmação de que existiria hoje uma “nova questão social” tem, no fundo, o
claro, porém implícito, objetivo de justificar um novo trato à “questão social” ” (MON-
TANO, Carlos. Terceiro Setor e questão social: crítica ao padrão emergente de interven-
ção social, São Paulo: Cortez, 2002, p. 187)
21
25 As aspas se devem ao fato de entendermos que o Terceiro Setor verdadeiramente não surge
a partir dos fatores analisados, mas sem dúvida é influenciado seu crescimento por eles.
Em nossa defesa as palavras de Luiz Eduardo Soares (in Prefácio à obra de COELHO,
Simone de Castro Tavares. Terceiro Setor: um estudo comparado entre Brasil e Estados
22 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Unidos, São Paulo : Senac, 2000, p. 11): “O “Terceiro Setor”, no Brasil, não é uma reali-
dade nova nem pouco importante, ainda que seja precária e bastante recente a consciên-
cia que atribui unidade e um sentido relativamente homogêneo às práticas que as abor-
dagens tradicionais identificavam exclusivamente à filantropia ou à solidariedade cívica.”
“Quanto ao objeto do conhecimento, esse pertence ao domínio especializado de cada sis-
tema científico. Em rigor, há espécie de objetos, distribuídos em subdomínios: objetos
naturais e objetos sociais (sócio-culturais), para termos em consideração tão-só as ciên-
cias empíricas. Cada subdomínio fragmenta-se em subáreas (por assim dizer). Assim, as
ciências sociais compreendem: sociologia do conhecimento, sociologia da linguagem,
sociologia do direito, etc. Resta a proposição. Mas a proposição sobre objetos físicos per-
tence à ciência física; sobre objetos biológicos, à ciência biológica; sobre objetos sociais,
a cada uma das ciências sociais. As proposições especificadas pelo objeto são parte do sis-
tema científico específico, que lhes determina as condições de verdade e de verificabili-
dade (metodologia de cada ciência).” (VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o
sistema do direito positivo, São Paulo : Max Limonad, 1997, p. 38)
Paulo de Barros Carvalho (Curso de Direito Tributário, 12º ed., São Paulo : Saraiva, 1999,
Pp. 12) bem destaca esta característica: “Toda a ciência pressupõe um corte metodológi-
co. Ao analisarmos o homem do ângulo histórico, por exemplo, colocamos entre parên-
tesis as conotações propriamente técnico-jurídicas, econômicas, sociológicas, éticas, an-
tropológicas etc., para concentrar o estudo prioritário na evolução dos fatos que se suce-
dem no tempo, e que apresentam a criatura humana como entidade central. Qualquer es-
peculação científica que pretendamos empreender trará consigo essa necessidade irrefra-
gável, produto das ínsitas limitações do ser cognoscente. O conhecimento jurídico não
refoge a esse imperativo epistemológico. Ao observarmos o fenômeno existencial de um
determinado sistema de direito positivo, somos imediatamente compelidos a abandonar
outros prismas, para que se torne possível uma elaboração coerente e cheia de sentido.”
“Por conhecimento jurídico entende-se qualquer espécie de saber que se dirija ao direito
com pretensão cognoscente. O conhecimento jurídico pode manifestar-se como históri-
co, antropológico-social, sociológico, filosófico. Cada espécie tem suas técnicas de inves-
tigação próprias, e outras comuns. Mas há uma espécie de conhecimento que se destaca
dos demais: o da Ciência-do-Direito (o conhecimento dogmático). Para verificá-lo, é su-
ficiente constatar o que se entende por “fontes do direito”. O direito tem fontes antropo-
lógico-sociais, fontes propriamente sociológicas, fontes históricas e fontes ideais-axioló-
gicas. Mas o conceito dogmático de fonte é o de modo de produção que o ordenamento
estabelece como tal. Pode ser o costume, a legislação, os julgamentos uniformes da ati-
vidade jurisdicional, ou fração de outro ordenamento - o internacional, por exemplo - que
se incorpore, por convocação do ordenamento-base. Seja qual for o modo de constitui-
ção de regras jurídicas, para o jurista, no fazer Ciência-do-Direito, em sentido estrito, fonte
técnica (fonte formal) é aquela de onde dimanam normas com força vinculante para os
indivíduos-membros e para os indivíduos-órgãos da coletividade. O jurisconsulto, o ju-
rista cientista, o advogado militante, o órgão administrativo, o órgão jurisdicional, o pro-
curador-geral do Estado, têm um fim específico: verificar quais as normas em vigor que
incidem sobre tal ou qual categoria de fatos. Com ajuda da experiência e da ciência jurí-
dica (em sentido estrito) não procuram as causas históricas, ou antropológicas, ou socio-
lógicas, ou racionais, que intervêm na criação de regra de direito. Sem tais fatores reais e
ideais não surgiriam, nem se modificariam, nem se desfariam tais regras. Mas o propósi-
LEANDRO MARINS DE SOUZA 23
Isto quer dizer, transportando a metáfora ao plano das ciências, que a rea-
lidade social é composta de elementos que permitem diversas análises sob dife-
rentes enfoques. No plano econômico, no campo político, no contexto social, sob
o enfoque religioso, etc. Não necessariamente estes enfoques influenciam uns
aos outros - e não que isto não aconteça -, mas o cientista que se dedica à análi-
se de determinado elemento da realidade social sem ao menos conhecer o seu
conjunto corre o risco de não compreender exatamente o objeto de seu estudo.
Ao mesmo tempo, é imperativo que os cientistas não confundam seu obje-
to de análise, ou melhor, as faces sobre as quais se dedicará cada um; o poliedro
será o mesmo, mas cada cientista se debruçará à abordagem de uma de suas fa-
ces sem adentrar à esfera de análise de outro campo científico.
Neste sentido a manifestação de Tércio Sampaio Ferraz Júnior, com espe-
que em Miguel Reale, ao entender que
Ángel Ossorio, Buenos Aires : Valletta, 1990, p. 24) aponta para esta complementarida-
de: “Una primera verdad que puede brotar de estas reflexiones, es aquella que puede lla-
marse de la unidad de la ciencia o también, en outro términos, de la interdependencia de
las ciencias. Como la materia de las diversas ciencias no son un diverso mundo, sino un
diverso aspecto del único mundo al cual debemos limitar nuestro trabajo, porque somos
pequefios y el mundo inmenso, así los resultados de ese trabajo no son diversos sino por-
que son las diversas caras de un prisma único.”
*2 Nelson Saldanha (op. cit., pp. 38-39) bem expressa a possibilidade de uma análise totali-
zante da realidade social: “Sempre vale recordar a observação segundo a qual há Filoso-
fias-do-Direito produzidas por filósofos e Filosofias-do-Direito produzidas por juristas.
De certo tempo para cá (cem ou duzentos anos) teria talvez ocorrido um certo predomí-
nio destas últimas. Esta constatação é questionável, mas de qualquer sorte é diferente
pensar-se em uma visão do Direito sob o prisma do jurista, profissional ou cientista do
Direito positivo - só que ampliada com a alusão a determinados “temas gerais” -, e em uma
visão propriamente filosófica do chamado mundo jurídico. Neste caso temos um pensar
que se compromete e se articula substancialmente com afilosofia. Um pensar que, com
mais desenvoltura, poderá compreender as conexões do mundo jurídico com os demais
“setores” da vida social (a política, a religião, a economia).”
33
Apropriando-se das palavras de Carnelutti citadas por Paulo de Barros Carvalho (Teoria
da norma tributária, São Paulo : Max Limonad, 1998, p. 21), fazer metodologia “é de-
bruçar-se o cientista sobre sua própria ciência, numa tentativa de captar o relacionamen-
to lógico de suas categorias fundamentais e, logo em seguida, aplicá-lo no desenvolvi-
mento de seus estudos”.
“A atitude do jurista, portanto, não pode ser reduzida ou confundida com aatitude do
sociólogo ou do psicólogo. (...) A categoria do jurista é a categoria do dever ser, que não
se confunde com a do psicólogo e a do sociólogo; pois o Direito só compreende o ser re-
ferido ao dever ser. Quem não percebe esta distinção, ou persiste em tratar do mundo das
normas como se fossem coisas, é um desajustado entre os juristas, sendo aconselhável que
se dedique à Psicologia ou à Sociologia, achegando-se à sua vocação natural.” (REALE,
Miguel. Filosofia do direito, 17º ed., São Paulo : Saraiva, 1996, pp. 193-194)
% Tércio Sampaio faz referência à teoria tridimensional do direito trabalhada por Miguel
Reale, que consiste em analisar o Direito sob três enfoques, a saber, como valor do justo,
como norma e como fato social: “Encontraremos sempre estes três elementos, onde quer
que se encontre a experiência jurídica: - fato, valor e norma. Dondê podemos concluir,
dizendo que a palavra Direito pode ser apreciada, por abstração, em tríplice sentido, se-
gundo três perspectivas dominantes: 1) o Direito como valor do justo, estudado pela Fi-
losofia do Direito na parte denominada Deontologia Jurídica, ou, no plano empírico e
LEANDRO MARINS DE SOUZA 25
*º Lourival Vilanova (Causalidade e relação no direito, 4 ed., São Paulo : RT, 2000, p. 47),
em capítulo intitulado cortes metodológicos, inicia dizendo que “o jurista, como jurista,
e a Ciência do Direito, como conhecimento específico de um ordenamento positivo (como
dogmática desse ordenamento, cujo ato cognoscente poder-se-ia resumir com o termo
interpretação: ato complexo envolvendo aspectos lógicos, axiológicos, empírico-sociais),
valem-se da categoria da causalidade, normativamente estabelecida”.
*! VILANOVA, Lourival. Ibidem, p. 49.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 27
“2 É o que nos ensina Luis Recasens Siches (Tratado general de filosofia del derecho, 7º ed.,
Mexico : Porrual, 1981, p. 1), ao asseverar que “para que resalte con toda evidencia la
misión de la Filosofía del Derecho, convendrá contrastar los temas de ésta com os pro-
pios de la Ciencia Jurídica. Veamos, con tal fin, cuál es la función que desempefia el ju-
rista (...). El jurista, frente a un pedazo de vida social, tiene que indagar la norma aplica-
ble a esa situación, es decir, tiene que hallar cuál es la regla de Derecho vigente relativa
al caso planteado: encontrar el precepto em vigor que se refiere a la materia en cuestión.”
O magistério de Camelutti (Metodología del derecho, trad. Ángel Ossorio, Buenos Aires :
Valletta, 1990, p. 27) também vai nestes termos: “Debemos poner la norma jurídica como
objetivo de nuestro estudio porque ésta y no outra es la materia del derecho.”
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito, 32º ed., Rio de Janeiro :
Forense, 2002, p. 3.
“4 Valem também, nesta esteira, as palavras de Hans Kelsen (Teoría geral do Direito e do
Estado, 2* ed., trad. Luís Carlos Borges, São Paulo : Martins Fontes, 1992, pp. 12-13),
para quem “o Direito, considerado como distinto da justiça, é o Direito positivo. É o con-
ceito de Direito positivo que está em questão aqui; e uma ciência do Direito positivo deve
ser claramente distinguida de uma filosofia da justiça.”
4 “Na realidade concreta, os objetos não são, em princípio, pertencentes a qualquer área do
conhecimento científico. Cada ciência é que os incorpora, na medida em que os estuda
dentro de enfoques teóricos específicos. (...) É claro que, quanto maior o número de as-
pectos considerados, maior a possibilidade de a ciência fornecer uma explicação mais
profunda sobre os fenômenos. Ocorre, entretanto, que nenhuma ciência dispõe de refe-
rencial teórico que lhe possibilite penetrar em todos os aspectos da realidade. Daí a ne-
cessidade sempre crescente de pesquisas de natureza interdisciplinar, em que cientistas
de várias especialidades se articulem em torno de aspectos comuns da realidade, para ex-
plicá-los à luz de enfoques teóricos conjugados de duas ou mais disciplinas científicas.”
(MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do direito: conceito, objeto, méto-
do, Rio de Janeiro : Renovar, 2001, pp. 95-96)
28 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“ Importante ressaltar que a ressalva à expressa opção ideológica feita por Montafio não
deve ser considerada como espécie de reserva às teorias marxistas de nossa parte. Esta
advertência tem o condão de posicionar.o leitor acerca da carregada carga ideológica ado-
tada pelo excelente texto ora analisado, para que fique clara a ausência de isenção deste
jaez nas linhas montafiistas.
48 Ibidem, p. 15.
*º Idem.
50 Idem.
51 Idem.
30 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
2 Ibidem, p. 14.
* Nas palavras de Montafio (op. cit., p. 15), “hoje, mais do que nunca, é forte e clara a he-
gemonia burguesa no âmbito estatal, no mercado e no espaço de produção. Neste senti-
do, particularmente no Brasil, durante e após o contexto ditatorial, a sociedade civil põe-
se como locus privilegiado das lutas sociais e de classes pela hegemonia.”
% Ibidem, p. 17.
5 Idem.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 31
56 Ibidem, p. 18.
57 Entende que “o uso “predominante” do conceito de “terceiro setor” expressa uma noção
claramente diferenciada do que entendemos que realmente esteja em questão. A perspec-
tiva de análise hegemônica parte de traços superficiais, epidérmicos do fenômeno, o mis-
tificaram e o tornaram ideológico.” (op. cit., p. 51)
58 Ibidem, pp. 51-52. Montafio põe em discussão quatro tópicos relacionados ao conceito
hegemônico nos quais entende estarem presentes quatro de suas debilidades: 1) Terceiro
ou Primeiro Setor?; ii) qual a composição do Terceiro Setor?; iii) o que vem a ser o Ter-
ceiro Setor?; e iv) quais as características das organizações que o compõem? Estas são as
debilidades apontadas por Montafio.
5 Refere-se aos temas recorrentes na discussão teórica sobre o Terceiro Setor, normalmen-
te debatidos como novidades mas que, segundo o autor, vêm sendo debatidos há muito
32 TriButação DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
tempo, tais como “novo associativismo”, “nova questão social”, “nova sociedade sem
emprego”, “nova solidariedade 2) » 6 nova consciência social do empresariado” (op. cit., p. 59).
O Op: cit, po 99:
1 Cf. MONTANO, Carlos. Op. cit. pp. 152-177.
“Assim, O que os autores chamam de “terceiro setor”, nem é terceiro, nem é setor - numa
segmentação do social entre Estado, mercado e sociedade civil autônomos -, nem refere
às organizações desse setor - ONGs, instituições, fundações e outros. Na verdade, no lu-
gar deste termo, o fenômeno real deve ser interpretado como ações que expressam fun-
ções a partir de valores. Ou seja, as ações desenvolvidas por organizações da sociedade
civil, que assumem as funções de resposta às demandas sociais (antes de responsabilida-
de fundamentalmente do Estado), a partir dos valores de solidariedade local, auto-ajuda
e ajuda mútua (substituindo os valores de solidariedade social e universalidade e direito
dos serviços)” (MONTAÍRO, Carlos. Op. cit. p. 184)
LEANDRO MARINS DE SOUZA Ss
em cada país" É nestes termos que Demo lança sua proposta de análise, para
posteriormente proceder à interface das premissas obtidas quanto à solidariedade
como efeito de poder com o Terceiro Setor.
Pretende, inicialmente, pôr em discussão a linha tênue existente entre a
concepção de solidariedade como resultante da realidade histórica concreta e
como massa de manobra ou “truque de domesticação”,” para usar suas palavras.
Desta premissa inicial, extrai a necessidade de que a solidariedade mantenha a
capacidade dialética e de confronto dos assistidos, criando possibilidade de estas
pessoas exercerem vias alternativas e interação com a própria solidariedade.
“Nem de longe pretendo colocar “gosto ruim” na busca por solidarieda-
de. Pretendo apenas que se proponha aquela solidariedade que faculte
ainda mais aos marginalizados confrontarem-se com a marginalização,
de sorte que a sociedade se torne mais justa. Combato frontalmente a
solidariedade assistencialista e capciosa. Retomo teorias dialéticas da
dominação, não mais na ótica do poder reduzido a soberania, mas no
contexto da ótica da dinâmica não-linear, ambígua e ambivalente. Não
pretendo inventar teoria nova. Apenas gostaria de montar uma discussão
pertinente para que a solidariedade possa tornar-se referência histórica
concreta, não apenas sermão dúbio.*
Esta é, em largas passadas, a resenha da proposta de Demo na obra ora em
análise, que já demonstra algumas premissas que serão trabalhadas ao longo do
texto pelo autor.
Ponto que considera fundamental para sua abordagem, e isto fica bastante
claro ao longo de todo o trabalho, é a fixação do pressuposto consistente em
admitir a realidade social, inexoravelmente, como um movimento dinâmico,
contraditório, não linear, desencontrado, de idas e vindas, subidas e descidas.
Enfim, dentre outros adjetivos utilizados, repete incessantemente esta premissa
para fazer entender que a solidariedade, quando não agregada a estes valores,
“pode representar discurso dos dominantes para acalmar os excluídos”.
É neste contexto que Demo promove ainterface da solidariedade com o
poder, haja vista considerar aquela como poderosa ferramenta de manipulação
e de poder por parte daqueles que a usufruem em face dos próprios assistidos.
Ou seja, a solidariedade se revestiria da condição de mascarar a dominação com
a face da ajuda, servindo de punhal cunhado com o metal do altruísmo para ofus-
car seu brilho e acomodar os beneficiados.
Exemplo disso é a condição educacional que o Estado provê aos cidadãos,
que no entender de Demo não passa de programas imbecilizantes com a finali-
dade de cultivar a ignorância e permitir a manutenção da massa de manobra na
qual se transforma a sociedade.”
56 Ibidem, p. 11.
7 Ibidem, p. 12.
& DEMO, Pedro. Op. cit., p. 13.
9 Ibidem, p. 22.
7º “O atual discurso sobre solidariedade pode conter esse efeito imbecilizante: além de ser
tendencialmente o discurso dos dominantes, não passa de ajuda residual. Dificilmente
36 TriButaçÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“Como regra, tanto o terceiro setor quanto a economia dos setores po-
pulares são saudados tendencialmente como salvação de um sistema
muito injusto, embora não passem de remendos eventuais por vezes.
Mesmo assim, podem conter germes de alternativa, razão pela qual re-
comenda-se tomá-los a sério, sobretudo em nome da utopia solidária.”
Fazendo breve descrição do Terceiro Setor, tanto quanto sua origem como
em relação a suas características - o que faz com base em Rubem César Fernan-
des” -, Demo desde o início deixa claro seu entendimento, também consentã-
neo com o expressado por Montafio e antes analisado, de que o Terceiro Setor
tem se apresentado fundamentalmente como um projeto neoliberal.
Seguindo a linha de Simone de Castro Tavares Coelho,*! que Demo consi-
dera contrária ao neo-estatismo,* primeiramente admite que a sociedade brasi-
leira tem absorvido a realidade do Terceiro Setor, o que demonstra sua capaci-
dade de reação aos fenômenos novos. E com base nesta postura, Demo concor-
da que o Terceiro Setor teria como função principal a qualificação das ações do
Estado, nunca sua substituição, tampouco sua desresponsabilização.
No entanto, admite que os teóricos do Terceiro Setor o fazem representar
verdadeira solução à lacuna social atualmente existente; em suas palavras, “a
literatura em tomo do Terceiro Setor é tendencialmente triunfalista, como se
estivesse surgindo, no horizonte imediato, alternativa mais ou menos completa
ao mercado e ao governo”.
Para ele, em avaliação coincidente com a elaborada por Montafio, as dou-
trinas que proclamam e promovem o Terceiro Setor sob os estereótipos de cida-
dania útil,** oposição ao autoritarismo, empresa cidadã,* entre outros, não
conseguem esconder o funcionalismo ao sistema neoliberal.
º* PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Reforma do Estado para a cidadania: a reforma geren-
cial brasileira na perspectiva internacional, São Paulo : Editora 34; Brasília : Enap, 1998.
” PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Ibidem, p. 31.
** PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Ibidem, pp. 31-32.
Leandro MARINS DE SOUZA 43
10
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Ibidem, p. 238.
'2 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Ibidem, p. 239.
103 É importante deixar claro que o autor discorda da aproximação correntemente feita entre
os conceitos de sociedade civil e de entidades sem fins lucrativos. Para ele, o conceito de
sociedade civil aproxima-se da idéia de oposição ao Estado ou à sociedade política.
'* PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Op. cit. p. 241. E
105 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser e GRAU, Nuria Cunill. Entre o Estado e o mercado:
o
público não-estatal, in PEREIRA, Luiz Carlos Bresser e GRAU, Nuria Cunill (organiza-
dores). O público não-estatal na reforma do Estado, Rio de Janeiro : Fundação Getúlio
Vargas, 1999, pp. 15-48.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 45
106 Civicus é uma aliança internacional fundada em 1993 nos Estados Unidos para promo-
ver o desenvolvimento de ações de cidadania por todo o mundo, especialmente nas áreas
de participação democrática e liberdade dos cidadãos.
07 FERNANDES, Rubem César. Privado porém público: o Terceiro Setor na América La-
tina, 3º ed., Rio de Janeiro : Relume Dumará, 2002.
108 OLIVEIRA, Miguel Darcy de. Prefácio, in FERNANDES, Rubem César. Op. cit. pp. 11-13.
19 FERNANDES, Rubem César. Op. cit., p. 16.
46 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
45 Como reforça Fernandes (op. cit., p. 34), “reduziu-se a um mínimo a participação cívica
no Estado e nas empresas. Estancando assim o ímpeto participativo gerado na década
anterior, uma saída restou para os que olhassem numa outra direção: para baixo e para o
plano local, justamente para as “comunidades””
46º FERNANDES, Rubem César. Op. cit., p. 67.
H7 FERNANDES, Rubem César. Op. cit., p. 94.
48 TriButação DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
ceiro setor, por outro lado, não nos induz a imaginar a sociedade como
um grande indivíduo coletivo. Ao contrário, ela sublinha a diversidade”
Por fim, entende que o Terceiro Setor não pode ser encarado como reali-
dade concreta definida, mas como uma possibilidade de acontecimento cuja ca-
racterística principal é o dinamismo.
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51
21 ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral, trad. Maria Helena Diniz,
São Paulo : RT, 1977, pp. 28-30. Neste mesmo sentido, veja-se o entendimento de Paolo
Biscaretti di Ruffia (Direito constitucional: instituições de direito público, trad. Maria
Helena Diniz, São Paulo : RT, 1984, pp. 8-9).
LEANDRO MARINS DE SOUZA 53
'2 Esta afirmação será objeto de análise pormenorizada no Título 2, capítulo 6.2.
123 “É fora de discussão que a palavra “Estado” se impôs através da difusão e pelo prestígio
do Príncipe de Maquiavel. A obra começa, como se sabe, com estas palavras: “Todos os
estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou
repúblicas ou principados” [1513, e. 1977, p. 5]. Isto não quer dizer que a palavra tenha
sido introduzida por Maquiavel. Minuciosas e amplas pesquisas sobre o uso de “Estado”
na linguagem do Quatrocentos e do Quinhentos mostram que a passagem do significado
corrente do termo status de “situação” para “Estado” no sentido moderno da palavra, já
ocorrera, através do isolamento do primeiro termo da expressão clássica status rei publi-
cae. O próprio Maquiavel não poderia ter escrito aquela frase exatamente no início da obra
se a palavra em questão já não fosse de uso corrente.” (BOBBIO, Norberto. Estado, go-
verno, sociedade: para uma teoria geral da política, trad. Marco Aurélio Nogueira, 9º ed.,
Rio de Janeiro : Paz e Terra, 2001, pp. 65-66)
!% Autores que se filiam a esta corrente, conforme aponta Dalmo de Abreu Dallari (Elemen-
tos de teoria geral do Estado, 23º ed., São Paulo : Saraiva, 2002, p. 52), são Eduard Meyer
e Wilhelm Koppers.
25 Herman Heller (Teoría del Estado, trad. Luis Tobio, México : Fondo de Cultura Econó-
mica, 1990, p. 142) é expresso neste sentido: “Es patente el hecho de que durante medio
milenio, en la Edad Media, no existió el Estado en el sentido de una unidad de dominación,
independientemente en lo exterior e interior, que actuara de modo continuo con medios
de poder propios, y claramente delimitada en lo personal y territorial.” Alexandre Mus-
soi Moreira (A transformação do Estado: neoliberalismo, globalização e conceitos jurí-
dicos, Porto Alegre : Livraria do Advogado, 2002, p. 19), citando Heller, também enten-
de neste sentido: “De toda a forma, a concepção de Estado a que se prende o presente tra-
54 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
as discussões a este respeito vão bastante além das breves linhas aqui traçadas,
mas o que importa neste momento é apreendermos, tão-somente, a evolução da
concepção do Estado em linhas gerais e, paralelamente, a influência desta evo-
lução para o estudo do Terceiro Setor.
Suficiente, portanto, que consideremos a evolução do Estado somente a
partir do chamado Estado Moderno, tal qual os adeptos da terceira vertente teó-
rica antes descrita. E este Estado Moderno, que denota a atribuição de ordem
política" à concepção de Estado dada às formas organizacionais vigentes até o
século XVII, que se caracterizavam, “quer na forma feudal, quer na forma des-
pótica, pela tirania, pela exploração, pela estagnação de castas estanques, a de-
sesperança e a fome para a maior parte do povo”,!27-128 eclodiu definitivamente
em meados do século XVII.
A instabilidade!? criada pelo Estado Medieval, por assim dizer, propiciou
que as aspirações por um sistema organizacional cuja característica principal
fosse a unidade se consagrassem, constituindo-se definitivamente o chamado
Estado Moderno e suas notas de soberania e territorialidade. Costuma-se vin-
cular a sedimentação do Estado Moderno ao Tratado de Westfália, que segundo
Dalmo Dallari teve “o caráter de documentação da existência de um novo tipo
de Estado, com a característica básica de unidade territorial dotada de um poder
soberano”.!º0
balho atém-se a uma realidade mais próxima, também no aspecto temporal, consideran-
do procedente a afirmação de Heller no sentido de que por meio milênio, durante a Idade
Média, inexistiu o Estado, como unidade de dominação independente.”
Vide a respeito SCHIERA, Pierangelo. Estado moderno, in Dicionário de política, vol. 1,
11º ed., coord. BOBBIO, Norberto et alii, trad. Carmem C. Varriale et alii, Brasília : UnB,
1998, p. 427.
27 MOREIRA, Alexandre Mussoi. Op. cit., p. 26.
28 “Dentro desse quadro é que se encontram os fatores de transformação, que, despertando
aspirações e criando novas condições, irão determinar as características do Estado Mo-
derno. Desde logo se percebe que, no Estado Medieval, a ordem era sempre bastante pre-
cária, pela improvisação das chefias, pelo abandono ou pela transformação de padrões
tradicionais, pela presença de uma burocracia voraz e quase sempre todo-poderosa, pela
constante situação de guerra, e, inevitavelmente, pela própria indefinição das fronteiras
políticas. A isso tudo se acrescenta, para a caracterização do Estado Medieval, a influên-
cia do feudalismo.” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Op. cit., pp. 68-69)
“Conjugados os três fatores que acabamos de analisar, o cristianismo, a invasão dos bár-
baros e o feudalismo, resulta a caracterização do Estado Medieval, mais como aspiração
do que como realidade: um poder superior, exercido pelo Imperador, com uma infinita
pluralidade de poderes menores, sem hierarquia definida; uma incontável multiplicidade
de ordens jurídicas, compreendendo a ordem imperial, a ordem eclesiástica, o direito das
monarquias inferiores, um direito comunal que se desenvolveu extraordinariamente, as
ordenações dos feudos e as regras estabelecidas no fim da Idade Média pelas corporações
de ofícios. Esse quadro, como é fácil de compreender, era causa e-consegiiência de uma
permanente instabilidade política, econômica e social, gerando uma intensa necessidade
de ordem e de autoridade, que seria o germe de criação do Estado Moderno.” (DALLARI,
Dalmo de Abreu. Op. cit., p. 70)
o DALLARI, Dalmo de Abreu. Op. cit., p. 70.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 55
1 SCHIERA, Pierangelo. Estado moderno, in Dicionário de política, vol. 1, 11º ed., coord.
BOBBIO, Norberto et alii, trad. Carmem C. Varriale et alii, Brasília : UnB, 1998, p. 427.
32 “Embora se afirme que o desenvolvimento de monarquias absolutas e do mercantilismo,
no início da era moderna, tenha sido necessário para o avanço do capitalismo, servindo
para livrar comerciantes e cidadãos das restrições feudais de caráter local, parece eviden-
te que o rei e seu Estado “funcionaram antes como um suserano “superfeudal”, reimpon-
do e reforçando o feudalismo”, sob nova roupagem, no momento em que ele vinha sendo
dissolvido pela própria economia de mercado e suas necessidades.” (MOREIRA, Alexan-
dre Mussoi. Op. cit., pp. 26-27) Também Dalmo Dallari (op. cit., p. 275) acentua que “o
Estado Moderno nasceu absolutista e durante alguns séculos todos os defeitos e virtudes
do monarca absoluto foram confundidos com as qualidades do Estado. Isso explica por-
que já no século XVIII o poder público era visto como inimigo da liberdade individual, e
qualquer restrição ao individual em favor do coletivo era tida como ilegítima. Essa foi a
raiz individualista do Estado liberal.”
56 TriBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
23 BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social, 7º ed., São Paulo : Malheiros,
2001, p. 40.
134
Paulo Bonavides (ibidem, p. 45) aponta que “a filosofia política do liberalismo, preconi-
zada por Locke, Montesquieu e Kant, cuidava que, decompondo a soberania na plurali-
dade dos poderes, salvaria a liberdade. Fazia-se mister contrapor à onipotência do rei um
sistema infalível de garantias.”
35 MATTEUCI, Nicola. Liberalismo, in Dicionário de política, vol. 1, 11º ed., coord. BOBBIO,
Norberto et alii, trad. Carmem C. Varriale et alii, Brasília : UnB, 1998, p. 693.
186 Como nos ensina José Afonso da Silva (Curso de direito constitucional positivo, 18º ed.,
São Paulo : Malheiros, 2000, pp. 118-119) “se se concebe o Direito apenas como um
conjunto de normas estabelecidas pelo Legislativo, o Estado de Direito passa a ser Esta-
do de Legalidade, ou Estado legislativo, o que constitui uma redução deformante. Se o
princípio da legalidade é um elemento importante do conceito de Estado de Direito, nele
não se realiza completamente. (...) Pois, se o Direito acaba se confundindo com mero
enunciado formal da lei, destituído de qualquer conteúdo, sem compromisso com a reali-
dade política, social, econômica, ideológica enfim (o que, no fundo, esconde uma ideo-
logia reacionária), todo Estado acaba sendo Estado de Direito, ainda que seja ditatorial.
Essa doutrina converte o Estado de Direito em mero Estado Legal. Em verdade, destrói
qualquer idéia de Estado de Direito.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 57
Da mesma forma,
“o Estado liberal criou condições para sua própria superação. Em primei-
ro lugar, a valorização do indivíduo chegou ao ultra-individualismo, que
ignorou a natureza associativa do homem e deu margem a um compor-
tamento egoísta, altamente vantajoso para os mais hábeis, mais audacio-
sos ou menos escrupulosos. Ao lado disso, a concepção individualista da
liberdade, impedindo o Estado de proteger os menos afortunados, foi a
causa de uma crescente injustiça social, pois, concedendo-se a todos o
direito de ser livre, não se assegurava a ninguém o poder de ser livre. Na
verdade, sob pretexto de valorização do indivíduo e proteção da liberda-
de, o que se assegurou foi uma situação de privilégio para os que eram
economicamente fortes. E, como acontece sempre que os valores econô-
micos são colocados acima de todos os demais, homens medíocres, sem
nenhuma formação humanística e apenas preocupados com o rápido au-
mento de suas riquezas, passaram a ter o domínio da Sociedade. (...) Uma
outra conseqiiência grave que dele derivou foi a formação do proletaria-
do. Ocorrendo a formação de grandes aglomerados urbanos, como de-
corrência direta da revolução industrial, havia excesso de oferta de mão-
de-obra, o que estimulava a manutenção de péssimas condições de tra-
balho, com ínfima remuneração.”!*
Por conta de tudo isso, como evolução da concepção de Estado Liberal de
Direito, justamente em resposta às injustiças perpetradas por este ideal e impul-
sionado pelos constantes movimentos sociais ocorridos, surge o chamado Esta-
do Social de Direito.
Caracteriza-se pela ruptura sistemática promovida nos ideais da concepção
liberalista de Estado de Direito, atribuindo-lhe a noção de integração social e
transformando-a em Estado material de Direito. Deixa-se de lado a condição de
Estado Legal para, integrando e buscando a realização de justiça social, materia-
lizar os anseios da comunidade e a sua participação efetiva no desenvolvimento
do bem-estar social almejado através da aplicação irrenunciável do primado do
Direito.
O Estado Social de Direito conceitualmente destina-se à afirmação dos
direitos sociais e à aplicação de objetivos de justiça social. Surge no início do
século XX, mais precisamente quando do surgimento da primeira Constituição
considerada social, que é a mexicana de 1917, e que teve como fonte inspirado-
ra a Constituição de Weimar, da Alemanha, mesmo que date de 1919.1%
A partir de então, incentivado pela vertente social do constitucionalismo
alemão que trouxe a reboque a Constituição mexicana, aliando-se à grave situa-
ção econômica e social em que se encontrava a Europa após a Primeira Guerra
ções mínimas vitais (saúde, educação, moradia, alimento, renda, entre outros)
como direitos políticos.'*! Desde o início do século XX observavam-se propos-
tas que tinham feição assistencialista.!'? Aponta-se que na Inglaterra, entre 1905
e 1911, foram aprovadas medidas de inspiração visivelmente sociais e, ao mes-
mo tempo, assistenciais, tais como um seguro nacional de saúde.'* No decorrer
dos anos 20 e 30 as idéias para a consagração do Welfare State continuam se
desenvolvendo, sobretudo tendo em vista as decorrências das guerras que asso-
laram o mundo e demandaram despesas públicas significativas.
“Mas é preciso chegar à Inglaterra dos anos 40 para encontrar a afirma-
ção explícita do princípio fundamental do Welfare State: independente-
mente da sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito de ser
protegidos - com pagamento de dinheiro ou com serviços - contra situa-
ções de dependência de longa duração (velhice, invalidez...) ou de curta
(doença, desemprego, maternidade...)."14
E a partir deste momento histórico o conceito do Estado de Bem-estar So-
cial passou a ganhar contornos universalizantes, tomando formas as mais varia-
das para a difusão do mesmo conceito: o Estado assistencial, também chamado
de Estado providência. Mesmo adotando as mais diversas formas, alguns paí-
ses tendo como característica intervir mais e outros menos, alguns instituindo
tributação bastante pesada para fazer frente a seu caráter assistencial outros en-
contrando outras fórmulas, de modo geral o Estado de Bem-estar Social es-
praiou-se por todo o mundo. !+-146
“1 Gosta Esping-Andersen (As três economias políticas do Welfare State, in Lua Nova -
Revista de Cultura e Política, nº 24, setembro de 1991, p. 98), embora discordante do
conceito por achar limitador e generalizante, observa que “uma definição comum nos
manuais é a de que ele envolve responsabilidade estatal no sentido de garantir o bem-es-
tar básico dos cidadãos”.
42 Na verdade, algumas medidas isoladas, de cunho que pode ser considerado assistencia-
lista, ocorreram antes mesmo do século XX. Gustavo Gozzi (Estado contemporâneo, in
Dicionário de política, vol. 1, 11º ed., coord. BOBBIO, Norberto et alii, trad. Carmem
C. Varriale et alii, Brasília : UnB, 1998, pp. 403) aponta que “as primeiras formas de
Welfare visavam, na realidade, a contrastar o avanço do socialismo, procurando criar a
dependência do trabalhador ao Estado, mas, ao mesmo tempo, deram origem a algumas
formas de política econômica, destinadas a modificar irreversivelmente a face do Estado
contemporâneo. A lei que instituía pensões de invalidez e velhice, aprovada na Alema-
nha de 1889, permitia uma contribuição de 50 marcos, por conta do Tesouro imperial, para
toda pessoa que recebesse uma pensão. Depois, os seguros sociais, que se tornaram tam-
bém extensivos a outras categorias de trabalhadores, e não só aos operários, constituíram
uma forma de redistribuição da renda entre os núcleos familiares.”
43 Vide REGONINI, Gloria. Estado do Bem-estar, in Dicionário de política, vol. 1, 11º ed.,
coord. BOBBIO, Norberto et alii, trad. Carmem C. Varriale et alii, Brasília : UnB, 1998,
pp. 416-419.
44 REGONINI, Gloria. Op. cit., p. 417.
145 Para abordagem sobre as características próprias de cada Welfare State, veja ESPING-ANDERSEN
Gosta. O futuro do welfare state na nova ordem mundial, in Lua Nova - Revista de Cul-
tura e Política, nº 35, 1995, pp. 73-111.
146 Gloria Regonini (op. cit., p. 417) traça as benesses oriundas do Welfare State: “O aumento
mais ou menos linear destas intervenções trouxe algumas consequências importantes so-
60 TriBuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
bre cujo significado falaremos em seguida: aumentou a cota do produto nacional bruto
destinada à despesa pública; as estruturas administrativas voltadas para os serviços sociais
tornaram-se mais vastas e complexas; cresceu em número e importância política a classe
ocupacional dos “profissionais do Welfare”; foram aperfeiçoadas as técnicas da descoberta
e avaliação das necessidades sociais; tornou-se mais claro o conhecimento do impacto das
várias formas de assistência na redistribuição da renda e na estratificação social.”
47 “As despesas públicas não conseguem prover, devido à diferença crescente entre as saí-
das necessárias e as entradas insuficientes, à distribuição de recursos que satisfaçam as
aspirações de uma área cada vez mais vasta de indivíduos, cuja reprodução social só pode
ser esperada da expansão das despesas sociais por parte do Estado.” (GOZZI, Gustavo.
Estado contemporâneo, in Dicionário de política, vol. 1, 11º ed., coord. BOBBIO, Nor-
berto et alii, trad. Carmem C. Varriale et alii, Brasília : UnB, 1998: p. 405)
48 REGONINI, Gloria. Op. cit., p. 417.
!2 Para esta análise evolutiva do constitucionalismo brasileiro, vide BONAVIDES, Paulo.
Curso de direito constitucional, 12º ed., São Paulo : Malheiros, 2002, pp. 327 e ss.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 61
passou a ser usado também pelos pesquisadores europeus”. Em nota de rodapé continua
a autora: “segundo Seibel e Anheier, os americanos seriam Etzioni (1973), Levitt (1973),
Nielson (1975) e a Filer Commision (1975); os europeus seriam Douglas (1983), Reese
(1987), Reichard (1988) e Ronge (1988).
159 É o que apontam, por exemplo, os seguintes autores: THOMPSON, Andrés A. Do com-
promisso à eficiência? Os caminhos do Terceiro Setor na América Latina, in IOSCHPE,
Evelyn Berg (org.), 3º Setor: desenvolvimento social sustentado, Rio de Janeiro : Paz e
Terra, 1997, pp. 41-48; KISIL, Marcos. Organização social e desenvolvimento sustentá-
vel: projetos de base comunitária, in IOSCHPE, Evelyn Berg (org.), 3º Setor: desenvol-
vimento social sustentado, Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997, p. 155; PAES, José Eduar-
do Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídicos, administrativos,
contábeis e tributários. 4º ed., Brasília : Brasília Jurídica, 2003, p. 88; CARDOSO, Ruth.
Fortalecimento da sociedade civil, in IOSCHPE, Evelyn Berg (org.), 3º Setor: desenvol-
vimento social sustentado, Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997, p. 8. Simone Coelho (op.
cit., pp. 58-59), por sua vez, aponta que “os autores que a ela recorrem [denominação ter-
ceiro setor] consideram o mercado como primeiro setor e a área governamental como se-
gundo, e essas organizações - que têm características dos dois setores - vêm a ser o Ter-
ceiro Setor”.
6º FERNANDES, Rubem César. Privado porém público: o Terceiro Setor na América La-
tina, 3º ed., Rio de Janeiro : Relume-Dumará, 2002, p. 127.
t61 Cf. MONTANO, Carlos. Terceiro Setor e questão social: crítica ao padrão emergente de
intervenção social, São Paulo : Cortez, 2002, p. 55.
682 FERNANDES, Rubem César. O que é o Terceiro Setor?, in IOSCHPE, Evelyn Berg (org.),
3º Setor: desenvolvimento social sustentado, Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997, p. 27.
1683 Como sustentam, por exemplo, Robert Kurz (op. cit.) e Rubem César Fernandes (Priva-
do porém público: o Terceiro Setor na América Latina, 3º ed., Rio de Janeiro : Relume-
Dumará, 2002, p. 19).
84 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Op. cit., p. 235. O autor também denomina as entidades
constituintes do Terceiro Setor de públicas não estatais.
68 TriBuTAçÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
5 COELHO, Simone de Castro Tavares. Op. cit. pp. 40, 58, 60 e 69.
'ss CARDOSO, Ruth. Fortalecimento da sociedade civil, in IOSCHPE, Evelyn Berg (org.),
3º Setor: desenvolvimento social sustentado, Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997, po7.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 69
167
FERNANDES, Rubem César. O que é o Terceiro Setor?, in IOSCHPE, Evelyn Berg (org.),
3º Setor: desenvolvimento social sustentado, Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997, p. 27.
168
THOMPSON, Andrés A. Do compromisso à eficiência? Os caminhos do Terceiro Setor
na América Latina, in IOSCHPE, Evelyn Berg (org.), 3º Setor: desenvolvimento social
sustentado, Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997, p. 42.
169
RAFAEL, Edson José. Fundações e direito: 3º Setor, São Paulo : Melhoramentos, 1997,
pp. 5-6.
170
PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídi-
cos, administrativos, contábeis e tributários, 4º ed., Brasília : Brasília Jurídica, 2003, p. 89.
70 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
aa arise dep =
+ «o al
JE ga es
A
75
173 Os textos das Constituições brasileiras de 1824 a 1969 foram consultados na seguinte obra:
CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Constituições do Brasil, 6º
ed., São Paulo : Atlas, 1983.
74 BONAVIDES, Paulo e ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil, Brasília :
Senado Federal, 1989, p. 89.
76 TriButação DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
'5 BONAVIDES, Paulo e ANDRADE, Paes de. Op. cit., pp. 37-38.
“s A começar pela fala de Dom Pedro I na sessão de abertura da Constituinte, quando diz:
“Tenho promovido os estudos públicos, quanto é possível, porém necessita-se para isto
de uma legislação particular. Fez-se o seguinte: comprou-se para engrandecimento da
Biblioteca Pública uma grande coleção de livros dos de melhor escolha; aumentou-se o
número de escolas, e algum tanto o ordenado de seus mestres, permitindo-se, além disto,
haver uns cem números delas particulares; conhecendo a vantagem do ensino mútuo tam-
bém fiz abrir uma escola pelo método lancasteriano. O Seminário de São Joaquim, que
os seus fundadores tinham criado para educação da mocidade, achei-o servindo de hos-
pital da tropa européia; fi-lo abrir na forma da sua instituição, e havendo concedido à Casa
de Misericórdia, e Roda dos Expostos (de que abaixo falarei) uma loteria, para melhor se
poderem manter estabelecimentos de tão grande utilidade, determinei ao mesmo tempo,
que uma quarta parte dessa loteria fosse dada ao Seminário de S. Joaquim, para que me-
lhor se pudesse conseguir o útil fim para que fora destinado por seus honrados fundado-
res. Acha-se hoje com imensos estudantes. A primeira vez que fui à Roda dos Expostos
achei (parece impossível!) sete crianças com duas amas: nem berços, nem vestuários. Pedi
o mapa e vi que em 13 anos tinham entrado perto de 12.000, e apenas tinham vingado
1.000, não sabendo a Misericórdia verdadeiramente aonde elas se achavam. Agora com
a concepção da loteria, edificou-se uma casa própria para tal estabelecimento, onde há
trinta e tantos berços, quase tantas amas, quantos expostos tudo em muito melhor admi-
nistração.” (in BONAVIDES, Paulo e ANDRADE, Paes de. Op. cit., p. 23)
7 “Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brazileiros, que
tem por basea liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Cons-
tituição do Império, pela maneira seguinte.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 77
de Rousseau. (...) Foi somente na metade do século XIX que o direito de associação pas-
sou a ser reconhecido pelas Constituições. Delas, a primeira foi a Constituição francesa
de 1848, no art. 8º (...) Como reflexo dessa situação, o direito constitucional brasileiro não
previu o direito de associação em 1824. Era silente a Constituição Imperial a esse propó-
sito. É certo que a lição de Pimenta Bueno era no sentido de que o direito deassociação
estaria virtual e logicamente previsto no art. 179 da Constituição, uma vez que seria mero
reflexo da liberdade individual. Foi somente a Constituição de 1891, no art. 72, 8 8º, que
previu expressamente a liberdade de associação. Fê-lo no mesmo dispositivo que regula-
va a liberdade de reunião. Daí em diante todas as Constituições brasileiras previram a li-
berdade de associação.” (FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Cons-
tituição brasileira de 1988, vol. 1, São Paulo : Saraiva, 1990, p. 43)
181
“As associações prestam, ordinariamente, grande serviço a communhão social, porque
concorrem para o desenvolvimento das letras, artes, sciencias, commercio e industria e,
assim sendo, nada mais natural que o Estado as amparar, quando organizadas para fins
licitos e de utilidade publica.” (CASTRO, Araújo. A nova Constituição brasileira, 2º ed.,
Rio de Janeiro : Freitas Bastos, 1936, p. 405)
82 BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra da Silva. Op. cit., p. 99.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 79
188 “Art. 113. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz a in-
violabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual
e à propriedade, nos termos seguintes: (...) 12) E garantida a liberdade de associação para
fins lícitos. Nenhuma associação será compulsoriamente dissolvida senão por sentença
judiciária.” Y
!84 No mesmo artigo 113: “5) E inviolável a liberdade de consciência e de crença, e garanti-
do o livre exercício dos cultos religiosos, desde que não contravenham à ordem publica e
aos bons costumes. As associações religiosas adquirem personalidade juridica nos termos
da lei civil.”
t85 “Art. 120. Os syndicatos e as associações profissionaes serão reconhecidos de conformi-
dade com a lei. Paragrapho único. A lei assegurará a pluralidade syndical e a completa
autonomia dos syndicatos.”
80 TriBuTAçÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
'88 MARNOCO e SOUZA. Constituição politica da Republica Portugueza, pp. 117-118, apud
CASTRO, Araújo. Op. cit., p. 471.
!87 Também nesta senda é o artigo 148: “Art. 148. Cabe à União, aos Estados e aos Munici-
pios favorecer e animar o desenvolvimento das sciencias, das artês, das letras e da cultu-
ra em geral, proteger os objectos de interesse historico e o patrimônio artístico do paiz,
bem como prestar assistencia ao trabalhador intellectual.”
tê! CASTRO, Araújo. Op. cit., p. 481.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 81
89 “Art. 149. A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela familia e pelos pode-
res públicos, cumprindo a estes proporcional-a a brasileiros e a estrangeiros domiciliados
no paiz, de modo que possibilite efficientes factores da vida moral e economica da Na-
ção, e desenvolva num espírito brasileiro a consciencia da solidariedade humana.”
o Esta característica é inerente à idéia de constitucionalismo, conforme já dissemos em nossa
obra SOUZA, Leandro Marins de. Imunidade tributária: entidades de educação e assis-
tência social, Curitiba : Juruá, 2001, p. 29: “Esta busca do constitucionalismo pela nor-
matização dos direitos naturais ou fundamentais dos seres-numanos, cada qual relativa-
mente à sociedade, ou melhor, à realidade que lhes é imposta, efervesce como a eterna
busca do sistema ideal. Eterna à medida que cada relação temporal estabelece realida-
des diferentes, sendo certo que a adequação das normas jurídicas deve-se dar na propor-
ção da realidade vivenciada em cada momento. Ideal sob o ponto de vista da adequada
conformação da normatização jurídica, sobretudo no que diz respeito às previsões cons-
titucionais, aos anseios momentâneos do grupo social a que se dirige o sistema normati-
vo, inclusive a partir do momento que estabelece, além das garantias fundamentais, limi-
tações à ação estatal.”
82 TriBuTtaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
195 «Art. 129. À infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em
instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela
fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de
receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais.
O ensino prevocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é, em ma-
téria de educação, o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever,
fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos
Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais.
É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos crear, na esfera de sua especialidade,
escolas de aprendizages, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A
lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado sobre essas
escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo po-
der público.”
196 “Art. 135. Na iniciativa individual, no poder de creação, de organização e de invenção
do indivíduo, exercido nos limites do bem público, funda-se a riqueza e a prosperidade
nacional. A intervenção do Estado no domínio econômico só se legitima para suprir as
deficiências da iniciativa individual e coordenar os fatores da produção, de maneira a
evitar ou resolver os seus conflitos e introduzir no jogo das competições individuais o
pensamento dos interesses da Nação, representados pelo Estado.”
84 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“Art. 167. O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos poderes
públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regu-
lem”
Comentando o artigo 164 da Constituição de 1946, Themistocles Brandão
Cavalcanti avalia que “muitos numerosos são os meios usados para tornar efeti-
va a proteção, através de obras de assistência, obras educacionais, hospitalares,
diretamente ou através de subvenções à iniciativa privada”.?!
Merece especial atenção a última parte do artigo 166, que novamente ex-
pressa o princípio da solidariedade humana em matéria de educação. Somado
ao artigo 167, vê-se que esta solidariedade se erige inclusive no âmbito dos le-
gitimados a promover a educação, ou seja, os poderes públicos e a iniciativa
particular???
203 «Art 20. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) HI -
criar impôsto sôbre: (...) b) templos de qualquer culto; c) o patrimônio, a renda ou os ser-
viços de partidos políticos e de instituições de educação ou de assistência social, obser-
vados os requisitos fixados em lei.” Este dispositivo foi mantido, com poucas alterações,
pela Emenda Constitucional nº 1/69, através de seu artigo 19.
“Art. 150. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à proprieda-
de, nos têrmos seguintes: (...) 8 28. É garantida a liberdade de associação. Nenhuma as-
sociação poderá ser dissolvida, senão em virtude de decisão judicial.”
205
“Art. 178. As empresas comerciais, industriais e agrícolas são obrigadas a manter o ensi-
no primário gratuito de seus empregados e o ensino dos filhos destes, entre os sete e os
quatorze anos, ou a concorrer para aquele fim, mediante a contribuição do salário-educa-
ção, na forma que a lei estabelecer.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 87
206 SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: regulação no Brasil, 3º ed., São Paulo : Peirópolis, 2003,
pa23:
207 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XVII - é
plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar, XVIII -
a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autoriza-
ção, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XIX - as associações só
poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
Judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; XX - ninguém poderá ser
compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI - as entidades associativas, quan-
do expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente.”
208 «Art, 8º É livre a associação profissional ou sindical (...).”
209 Também nesta vertente social, sem no entanto abrir margem à análise de implicações
constitucionais para o Terceiro Setor, veja-se os seguintes artigos: “Art. 23. É competên-
cia comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II - cuidar
da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiên-
cia; (...) V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência; VI - prote-
ger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar
as florestas, a fauna e a flora; (...) IX - promover programas de construção de moradias e
a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X - combater as causas
da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos; (...) Parágrafo único. Lei complementar fixará normas para a cooperação
entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilí-
brio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional”; “Art. 24. Compete à União,
aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) IX - educação,
cultura, ensino e desporto; (...) XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (...)
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; (...) XV - pro-
teção à infância e à juventude.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 89
do sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa físi-
ca ou jurídica de direito privado.”
“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hie-
rarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes dire-
trizes: (...) II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade.”
O artigo 203 estabelece o alcance da assistência social: “Art. 203. A assistência social será
prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social,
e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração
ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi-
ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei.”
LeanDrO MARINS DE SOUZA 91
216 “Art, 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigi-
dos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - com-
provem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou
confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades.”
217 “Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifes-
tações culturais.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imate-
rial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem: (...) 8 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e pro-
tegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tom-
bamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (...) 8 3º
A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores cultu-
rais.
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como
direito de cada um, observados: (...) $ 3º O poder público incentivará o lazer, como for-
ma de promoção social.
(2)
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...)
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.”
218 “Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida.”
92 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
219 «Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adoles-
cente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
cia familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, dis-
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
$ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do ado-
lescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo aos se-
guintes preceitos.” =
20 «Art 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabe-
lecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou
manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada,
na forma da lei, a colaboração de interesse público.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 93
21 Ver HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição, trad. Gilmar Ferreira Mendes,
Porto Alegre : Sergio Antonio Fabris, 1991.
acao:
E) 1
Epstein
ee si natação sd ipear-
Sasia o
95
222 Paulo Modesto (Reforma do marco legal do Terceiro Setor no Brasil, in Mudança social
e reforma legal: estudos para uma nova legislação do Terceiro Setor, org. Joaquim Fal-
cão e Carlos Cuenca, Carlos, Brasília : Conselho da Comunidade Solidária : Unesco, 1999)
também formula conceito: “Pessoas privadas de fins públicos, sem finalidade lucrativa,
constituídas voluntariamente por particulares, auxiliares do Estado na persecução de ati-
vidades de conteúdo social relevante.”
LeanDrO MARINS DE SOUZA 97
tado social, passando pelo Estado liberal e pelo Estado providência, o campo de
inserção do Terceiro Setor foi sendo trilhado por nossas Constituições, à medi-
da que as funções do Estado se conformavam aos movimentos constitucionais
brasileiros.
E com a Constituição de 1988 o que houve foi a confirmação plena da as-
sunção, por parte do Estado brasileiro, da necessidade de participação da inicia-
tiva privada em campos de atuação anteriormente sob a guarda privativa do Es-
tado.
Sempre com fulcro nos objetivos fundamentais da República insculpidos
no artigo 3º da Constituição de 1988, quais sejam uma sociedade livre, justa e
solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desi-
gualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos, sem qualquer tipo
de discriminação, bem como nos princípios da ordem econômica e social pre-
vistos em seu artigo 170 - i.e., liberdade de iniciativa, valorização do trabalho
humano, existência digna e justiça social -, passou-se a atribuir à iniciativa pri-
vada a co-responsabilidade nas atividades de provimento dos direitos sociais,
mas, ressalte-se, sem retirar do Estado a função precípua de provimento e fisca-
lização destas atividades.
Desenvolvem-se, nesta senda, as atividades privadas de provimento dos
direitos sociais, paralelamente à atuação estatal. É de se observar, contudo, que
a Constituição Federal de 1988 - assim como as anteriores - não exige que as
atividades de natureza social advindas da iniciativa privada sejam sem finalida-
de lucrativa. Ela abre espaço, sim, para que se desenvolvam atividades privadas
tanto com finalidades lucrativas quanto sem finalidades lucrativas para o provi-
mento dos direitos sociais em conjunto com a atuação estatal.
A possibilidade de desenvolvimento de atividades sociais com finalidade
lucrativa é a própria contrapartida do Estado em favor da iniciativa privada, diante
da atribuição de co-responsabilidade a que esta é submetida. Ou seja, com rela-
ção a estas atividades o só fato de se permitir o auferimento de lucro, somado
aos mecanismos de fiscalização necessariamente criados pelo Estado, já confir-
mam a indispensável contrapartida estatal oriunda da manutenção de sua função
precípua de provimento dos direitos sociais. A finalidade lucrativa para a ativi-
dade privada é o incentivo estatal para a promoção dos direitos sociais.
No entanto, ao possibilitar largamente o desenvolvimento de instituições
privadas sem fins lucrativos para a promoção dos direitos sociais em conjunto
com o Estado - o chamado Terceiro Setor -, a necessária contrapartida estatal não
é, por óbvio, o auferimento de lucro. Por conta da função social destas ativida-
des, a responsabilidade do Estado na promoção dos direitos sociais deve se con-
firmar através de subsídios, incentivos fiscais, repasse de verbas, etc., além, é
claro, do dever de fiscalização que lhe é ínsito. Mais uma vez está a se justificar
o estudo apartado do Terceiro Setor.
24 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, 18? ed., São Paulo :
Malheiros, 2000, pp. 289-290.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 99
25 José Afonso da Silva (op. cit., p. 288) entende que “cindindo-se a matéria, como se fez, o
constituinte não atendeu aos melhores critérios metodológicos, mas dá ao jurista a possi-
bilidade de extrair, daqui e de lá, aquilo que constitua o conteúdo dos direitos relativos a
cada um daqueles objetos sociais, deles tratando aqui, deixando para tratar, na ordem
social, de seus mecanismos e aspectos organizacionais”.
226 Nos dizeres do renomado mestre: “Mas não ocorre uma separação radical, como se os
direitos sociais não fossem algo ínsito na ordem social. O art. 6º mostra muito bem que
aqueles são conteúdo desta, quando diz que são direitos sociais a educação, a saúde, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à materni-
dade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Esta
forma é dada precisamente no título da ordem social.” (SILVA, José Afonso da. Op. cit.,
p. 288)
100 TriBUuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
mesma forma, uma escolinha de futebol para crianças de uma comunidade ca-
rente, sem fins lucrativos, é participante do Terceiro Setor (por desenvolver um
direito social, que é o desporto), assim como o é um Instituto que se destine à
proteção da coruja marinha no Município de São Francisco do Sul-SC (pela pro-
moção de um direito social através da proteção ao meio ambiente). Da mesma
forma o voluntário que presta serviços de saúde junto a comunidades carentes,
haja vista a Constituição Federal de 1988 fazer expressa menção à participação
de pessoas físicas na promoção de direitos sociais, está enquadrado no conceito
de Terceiro Setor.
Por via reflexa, também, uma associação de combate à discriminação ra-
cial deve ser considerada participante do Terceiro Setor, por se vincular a prin-
cípios regentes da ordem social, o bem estar social e a justiça social.
É neste sentido que entendemos figurarem entre as instituições pertencen-
tes ao Terceiro Setor os sindicatos e associações profissionais, por se dedicarem
à promoção de um direito social que mereceu lugar de destaque na Constituição
Federal de 1988, por ser o único regulamentado através de dispositivos incluí-
dos no próprio capítulo dos direitos e garantias fundamentais, que é o direito
ao trabalho.
Por sua vez, também nesta esteira desconsideramos a participação das igre-
jas e templos de qualquer culto no rol de organizações consideradas participan-
tes do Terceiro Setor, por não se vincularem, em sua atividade religiosa, aos di-
reitos sociais constitucionalmente consagrados. É evidente que, prestando assis-
tência social, fará parte do Terceiro Setor.
Fica, assim, delimitado o objeto imediato de estudo do presente trabalho,
através do conceito de Terceiro Setor juridicamente considerado no tópico que
ora se encerra.
O que não nos parece correto é afirmar que há uma substituição nas res-
ponsabilidades, nas funções atribuídas no que tange à promoção dos direitos
sociais. A função de promover os direitos sociais e a responsabilidade por isso
é do Estado, e não se transfere por conta da participação do Terceiro Setor.?!
Tampouco no sistema de parcerias implementado pela legislação ordiná-
ria brasileira - que será sucintamente analisada em tópico posterior - ocorre a
suposta substituição das funções do Estado. O que há é a utilização por parte do
Estado, constitucionalmente autorizada, de meios para a promoção dos direitos
sociais; de qualquer forma o dever do Estado se mantém incólume.?*?
2! Está a se falar aqui da responsabilidade pelo provimento dos direitos sociais, o que dife-
re das responsabilidades civil e penal decorrentes de eventuais problemas na prestação dos
serviços.
12tw19
Simone de Castro Tavares Coelho (op. cit., p. 163) assevera: “Uma possível parceria não
significa necessariamente a transferência de funções do Estado para a sociedade civil.
Gonçalves reconhece que demos alguns passos no sentido de universalizar certos direi-
tos do cidadão na reforma constitucional de 1988, como é o caso da educação, por exem-
plo: o Estado deve garantir os meios para que todos tenham a acesso a ela. Só que esses
meios podem ser diversos e não obrigam o Estado a atuar diretamente no provimento de
tal serviço.”
103
?* FRANCO, Augusto de. Prefácio à primeira edição: o que está por trás da nova lei do Ter-
ceiro Setor, in FERR AREZI, Elisabete e REZENDE, Valéria. Op. cit., p. 7.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 105
235 FALCÃO, Joaquim e CUENCA, Carlos. Diretrizes para nova legislação do Terceiro Se-
tor, in Mudança social e reforma legal: estudos para uma nova legislação do Terceiro
Setor, coord. Joaquim Falcão e Carlos Cuenca, Brasília : Conselho da Comunidade Soli-
dária : Unesco, 1999, p. 13.
236 “A reforma social do marco legal do Terceiro Setor deve começar pela instalação de um
sistema classificatório que permita a distinção entre interesse público e interesse priva-
do, como fez a Lei das OSCIP.” (FRANCO, Augusto de. Prefácio à segunda edição: o que
está por trás da nova lei do Terceiro Setor, in FERRAREZI, Elisabete e REZENDE, Va-
léria. Op. cit., p. 16)
237 O Código Tributário norte-americano distingue as categorias de entidades sem fins lucra-
tivos em duas seções distintas, para fins de concessão de benefícios tributários.
238 GARCÍA, Juan Carlos Gallego. La tributación en Colombia de las entidades sin fines de
lucro, in II Coloquio Internacional de Derecho Tributario, Buenos Aires : La Ley, São
Paulo : IOB, 2001, p. 165.
106 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
239 CABALLERÍA, Marcos Vaquer. Op. cit. p. 208, nota de rodapé nº 136. No original: “La
locución “tercer sector” tiene incluso reciente acogida en el ordenamiento positivo italia-
no, el artículo 5 de cuya Legge quadro para la realización del sistema integrado de inter-
venciones y servicios sociales (Ley de 8 de noviembre de 2000, nº 328) se intitula preci-
samente “papel del tercer setor (ruolo del terzo settore).”
240
A redação do artigo 5º da lei a que faz menção Caballería é a seguinte, a título de curiosi-
dade: “Articolo 5. (Ruolo del terzo settore). 1. Per favorire l'attuazione del principio di
sussidiarietà, gli enti locali, le regioni e lo Stato, nell"ambito delle risorse disponibili in
base ai piani di cui agli articoli 18 e 19, promuovono azioni per il sostegno e la qualifica-
zione dei soggetti operanti nel terzo settore anche attraverso politiche formative ed inter-
venti per l'accesso agevolato al credito ed ai fondi dellºUnione europea. 2. Ai fini
dell affidamento dei servizi previsti dalla presente legge, gli enti pubblici, fermo restan-
do quanto stabilito dall'articolo 11, promuovono azioni per favorire la trasparenza e la
semplificazione amministrativa nonché il ricorso a forme di aggiudicazione o negoziali
che consentano ai soggetti operanti nel terzo settore la piena espressione della propria
progettualitã, avvalendosi di analisi e di verifiche che tengano conto della qualitã e delle
caratteristiche delle prestazioni offerte e della qualificazione del personale. 3. Le regio-
ni, secondo quanto previsto dall"articolo 3, comma 4, e sulla base di un atto di indirizzo
e coordinamento del Governo, ai sensi dell"articolo 8 della legge 15 marzo 1997, nº 59,
da emanare entro centoventi giorni dalla data di entrata in vigore della presente legge, con
le modalitã previste dallarticolo 8, comma 2, della presente legge, adottano specifici in-
dirizzi per regolamentare i rapporti tra enti locali e terzo settore, con particolare riferimen-
to ai sistemi di affidamento dei servizi alla persona. 4. Le regioni disciplinano altresi, sulla
base dei principi della presente legge e degli indirizzi assunti con le modalitã previste al
comma 3, le modalitã per valorizzare 1apporto del volontariato nell'erogazione dei ser-
vizi.”
Disponível em: http://www.comune.roma.it/accacomune/Progetti/LeggeQuadro asp.
Acesso em 15 de agosto de 2003.
2! Para um histórico da legislação americana do Terceiro Setor: BREMMER, Robert H.
American Philantropy, in FISHMAN, James J. e SCHWARZ, Stephen. Nonprofit orga-
nizations, 2º ed., New York : Foundation Press, 2000, pp. 28-37.
107
2 FALCÃO, Joaquim e CUENCA, Carlos. Diretrizes para nova legislação do Terceiro Se-
tor, in Mudança social e reforma legal: estudos para uma legislação do Terceiro Setor;
coord. Joaquim Falcão e Carlos Cuenca, Brasília : Conselho da Comunidade Solidária :
Unesco, 1999, p. 47.
23 MARINS, James. Fundações privadas e imunidade tributária, in Revista Dialética de Di-
reito Tributário, nº 28, janeiro de 1998, p. 20.
24 Sobre a evolução histórica das fundações consulte-se Gustavo Saad Diniz (Direito das
fundações privadas, Porto Alegre : Síntese, 2000, pp. 27 e ss.), para quem: “Pode-se ex-
108 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
dica legalmente instituída, cujo patrimônio é afetado para uma finalidade espe-
cífica.
O histórico de nascimento das fundações privadas no Brasil remonta ao
período colonial, então chamadas de instituição ou estabelecimento particular
de utilidade pública, já com sua configuração jurídica relativa à dotação de per-
sonalidade jurídica - tema bastante controverso à época, encontrando bastantes
dissidências e dificuldades de apreensão - bastante estruturada nos moldes que
até hoje subsistem.
A par de sua configuração jurídica, até o advento do Código Civil de 1916
também a legislação regulamentadora das fundações privadas se encontrava sem
maiores evoluções. A bem da verdade, sobretudo em virtude de à época não se
ter dado a codificação do Direito, a disciplina das fundações privadas era trata-
da de forma esparsa e escassa, resumindo-se a alguns dispositivos nas Ordena-
ções.
Somente em 1903, através da promulgação da Lei nº 173 no governo de
Rodrigues Alves, é que se deu efetivamente a regulamentação das fundações
privadas, consolidando sua existência e sua personalidade jurídica.
Foi então que em 1916, através do Código Civil de autoria de Clovis Bevi-
láqua, confirmou-se e reconheceu-se definitivamente a personalidade jurídica de
direito privado às fundações, em texto claro e coeso.
O regime jurídico das fundações previsto no Código Civil de 1916 se en-
contrava basicamente expresso nos artigos 24 e seguintes, que requeria para sua
criação: a) uma pessoa que a institua mediante escritura pública ou testamento;
b) bens livres destinados a esta organização; c) a especificação de uma finalida-
de para a dotação dos bens eainstituição da fundação; d) uma pessoa nomeada
para a aplicação do patrimônio.
A partir da instituição deste importante instrumento de regulamentação das
fundações o seu surgimento foi crescente, e sua utilização mostra-se cada dia
mais difundida, sobretudo em face da impossibilidade de o Estado prover os ci-
dadãos com todas as necessidades básicas que lhes são inerentes.
plicar a ratio da origem das universitas bonorum pelas incessantes atitudes do homem
movidas pela virtude da solidariedade e difusão de um pensamento. Com efeito, desde os
primórdios da história da humanidade, registram-se atitude dos homens que, movidos pelo
amor às artes e à sabedoria ou o singelo amor ao próximo, legavam bens para alguma fi-
nalidade cultural ou filantrópica. A sociedade grega já revelava essa vocação. Exemplo
notável de instituição precursora da fundação foi, no mundo antigo, a escola que Platão
fundou nos jardins de Academos, a Academia. Não era esta, propriamente, uma institui-
ção de ensino, mas uma espécie de sociedade científica e religiosa consagrada às musas
e à filosofia. Contudo, é difícil afirmar que as Polis gregas possuíam semelhante atitude
gregária e de vocação fundacional. (...) O contrário ocorreu com o Império de Roma, que
divide o surgimento das fundações em dois períodos: a) o direito romano clássico, b) in-
fluência da Igreja, com desenvolvimento das sodalitia.” Veja-se também a obra de Raúl
Aníbal Etcheverry (Derecho comercial y económico: formas jurídicas de la organización
de la empresa, 1º reimpressão, Buenos Aires : Astrea, 1995, pp. 73 e ss.), que traça breve
histórico das fundações mais antigas e mais importantes em todo o mundo.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 109
2s Para Vicente Ráo (O Direito e a vida dos Direitos, 2º vol., 3º ed., São Paulo : RT, 1991,
p. 695, apud DINIZ, Gustavo Saad. Direito das fundações privadas, Porto Alegre : Sín-
tese, 2000, p. 57), as fundações são “fins de bem comum baseados na propriedade, ou
patrimônios afetados a fins de bem comum e dotados de subjetividade de direito”. Gus-
tavo Saad Diniz (op. cit., p. 59), por sua vez, entende que “fundação privada é organiza-
ção com patrimônio afetado por uma finalidade específica determinada pelo instituidor,
com personalidade jurídica atribuída pela lei”. Apesar de as discordâncias sobre o con-
ceito de fundação não serem muitas, veja-se, no entanto, que José Cretella Júnior (Fun-
dações públicas, Rio de Janeiro : Forense, 1976, p. 13) e Clovis Beviláqua (Código Civil
dos Estados Unidos do Brasil, vol. 1, 4º ed., Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1931, p.
233) atribuem ao patrimônio que é dotado em favor da fundação nota de personalização,
destoando dos outros doutrinadores neste aspecto.
246 DINIZ, Gustavo Saad. Op. cit., p. 59.
247 q Sobre a importância do patrimônio no negócio fundacional, Raúl Aníbal Etcheverry (op.
cit., p. 72) assim se manifesta: “La base de la fundación como persona jurídica, entonces,
es la existencia de un patrimonio, del que se desprende su propietario con fines altruis-
tas.”
us PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídi-
cos, administrativos, contábeis e tributários, Brasília : Brasília Jurídica, 1999, p. 163. O
autor aponta como exemplo o $ 82 do BGB alemão, que não exige a dotação patrimonial
como condição expressa da constituição de fundação.
110 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
2º José Eduardo Sabo Paes (op. cit., pp. 164-165), a título de ilustração para o presente tra-
balho, esclarece a este respeito com base no Código anterior: “Bens, consoante o estabe-
lecido nos arts. 43 e ss. do CC, podem ser definidos como coisas que, por serem úteis e
raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico e podem ser classifica-
dos ou agrupados por elementos comuns que contêm, sendo a classificação mais usual
aquela que separa os bens em móveis e imóveis e que comumente são apresentados como
integrantes da dotação inicial do patrimônio de uma fundação. Como bens imóveis: ter-
renos, casas, prédios, salas; e como bens móveis: equipamentos, automóveis, direitos,
ações, cotas, sendo quase sempre acompanhados de aportações em moeda corrente.”
Também interessante a ressalva de Gustavo Saad Diniz (op. cit., p. 61), que critica o arti-
go 24 do Código Civil de 1916, consegiientemente o artigo 62 do Código Civil de 2002,
e sugere que o dispositivo seja interpretado, no lugar de bens livres, relações jurídicas
patrimoniais livres de ônus e encargos. é
21 O artigo 24 do Código Civil de 1916 estabelecia: “Art. 24. Para criar uma fundação, far-
lhe-á o seu instituidor, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens li-
vres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de adminis-
trá-lo.”
LeanDRO MARINS DE SOUZA 111
Incorre no mesmo vício o ilustre autor, não logrando êxito em fixar crité-
rio objetivo para a aferição da suficiência do patrimônio.
Mas não há demérito algum em não se conseguir definir critério suficien-
temente objetivo para esta aferição, haja vista a falta de elementos para tanto. A
uma porque a legislação brasileira não dá qualquer suporte que possibilite tal
sorte de fixação de premissas. A duas porque a doutrina, além de muito pouco
profusa, efetivamente não alcançou se desenvolver de maneira suficiente neste
aspecto.
Diante disso, a nosso ver os elementos de que dispomos não permitem a
criação de critério objetivo para a aferição deste requisito para a constituição de
fundação, efetivamente não tendo condições de ser alcançado. Verdadeiramen-
te, a observância a este requisito deve ser pautada por critério subjetivo, que é o
único legalmente instituído, qual seja o da fiscalização pelo Ministério Público
através de seus próprios critérios.
Traçadas estas breves considerações que lindam o primeiro elemento no-
dal da configuração jurídica das fundações, qual seja o patrimônio, resta-nos
analisar os outros dois elementos anteriormente apontados. Iniciaremos pela
análise da finalidade da fundação para, a posteriori, tratar do vínculo entre o
patrimônio ea finalidade, que é o terceiro elemento a finalizar a tríade apresen-
tada.
A finalidade é elemento legalmente previsto como formador da personali-
dade jurídica das fundações. Estas nascem com finalidade específica pré-conce-
bida por seu instituidor, a completar a amálgama de personalização com a dota-
ção de patrimônio livre de ônus para alcançar estes fins determinados.
Não é demais transcrever novamente o artigo 62 do Código Civil de 2002,
que estabelece que para criar uma fundação, o instituidor fará especificando o
fim a que se destina. Nosso ordenamento jurídico, portanto, expressamente pre-
vê a finalidade como requisito indispensável à criação da fundação.
Mas esta finalidade estabelecida pelo instituidor da fundação deve apresen-
tar determinadas características para que seja dotada de legitimidade, que no
entendimento de Gustavo Saad Diniz? seriam a sua possibilidade, sua licitude,
sua determinabilidade e sua inalterabilidade. A finalidade da instituição da fun-
dação não alcançará legitimidade neste contexto caso não observe qualquer des-
tas características.
A primeira delas é a possibilidade da finalidade, que diz respeito à verifi-
cação da viabilidade material de sua realização, não se admitindo a criação utó-
pica de fundações, ou melhor, a criação de fundações cuja finalidade seja mate-
rialmente utópica. A razão de ser desta exigência, a nosso ver, guarda relação
com a própria natureza social de que está imbuída a fundação. Ora, se a finali-
ve
256 Ratificando esta consideração encontra-se o escólio de José Eduardo Sabo Paes (op. cit.,
p. 179) ao asseverar que “a vontade dos instituidores deverá sempre estar ligada a um
interesse geral, vez que os destinatários dos benefícios que uma fundação pode prestar são,
de uma maneira geral, a própria sociedade ou comunidade em que ela se insere”.
257 Gustavo Saad Diniz (op. cit., p. 65) dá bons exemplos de (im)possibilidade na institui-
ção de fundações: “Assim, será inadmissível a criação de uma fundação cujas finalida-
des excedam os limites do possível, por exemplo, no caso de dispor o estatuto que o fim
é a complementação pecuniária da renda de todas as famílias brasileiras com renda infe-
rior a 2 salários mínimos (impossibilidade econômica) ou que a entidade promoverá a
cultura para alterar a língua portuguesa como língua oficial, alterando-a para essa ou aque-
la língua (impossibilidade material e jurídica).”
258 No exemplo anteriormente citado, extraído da doutrina de Gustavo Saad Diniz, veja-se
que a impossibilidade jurídica da fundação destinada à alteração da língua portuguesa
reveste da característica de ilicitude. Outros exemplos dados pelo mesmo autor (op. cit.,
p. 66) são a criação de fundação com a finalidade manutenção de prostíbulo, e a criação
de fundação com a finalidade de prestar assistência jurídica gratuita sem anuência da
Ordem dos Advogados do Brasil.
114 TriButação DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
281 A título de ilustração, é de serem vistos dois Enunciados aprovados pelo Centro de Estu-
dos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, em jornada realizada em setembro de
2002: Enunciado 9 - “O art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado de modo a excluir
apenas as fundações de fins lucrativos”; Enunciado 8 - “A constituição de fundação para
fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no
Código Civil, art. 62, parágrafo único.”
+a9
Segundo estatísticas do Gife - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (vide obra ci-
tada de Gustavo Saad Diniz, p. 41 - fonte: Ação e Cidadania. Publicação do Gife - ano 1,
nº 1, agosto/setembro 1996), suas entidades filiadas têm participado ativamente das ati-
vidades do Terceiro Setor (estatísticas não exclusivamente de fundações), como se vê:
Educação: 72%, Promoção Social: 47%, Cultura: 47%, Saúde: 34%, Meio Ambiente:
34%, Agricultura: 19%, Políticas Públicas: 12%, Criança e adolescente: 6%, Relações
Internacionais: 39, Esportes: 39.
23 MARINS, James. Fundações privadas e imunidade tributária, in Revista Dialética de Di-
reito Tributário, nº 28, janeiro de 1998, p. 20.
264 Expressão utilizada por José Eduardo Sabo Paes (op. cit. p. 181).
116 TriBuTAçÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
25 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico, vol. 1, São Paulo : Saraiva, 1998, p. 295, ver-
bete Associação. Continua a autora: “Poderá ter finalidade altruística (associação benefi-
cente), egoística (associação literária, esportiva ou recreativa) ou econômica não lucrati-
va (associação de socorro mútuo).” Sílvio Rodrigues (Direito civil, vol. 1 - parte geral,
25º ed., São Paulo : Saraiva, 1995, p. 68) conceitua as associações como “os agrupamen-
tos de indivíduos sem finalidade lucrativa, como os clubes esportivos, os centros cultu-
rais, as entidades pias etc.” Ainda Orlando Gomes (Contratos, 18? ed., Rio de Janeiro :
Forense, 1998, p. 399) entende que “a associação também é um agrupamento de pessoas
para a consecução de fim comum. (...) Reúne permanentemente pessoas para finalidades
religiosas, pias, morais, científicas, literárias, profissionais e recreativas. Tais são, dentre
outras, as associações filantrópicas, as caixas de assistência ou de previdência, as associa-
ções literárias, artísticas ou científicas, os sindicatos, os clubes sociais ou desportivos e,
segundo alguns escritores, certos tipos de cooperativas, as chamadas sociedades de segu-
ros mútuos e até para outros a organização de condomínio dos edifícios de apartamentos.”
* Código Civil de 2002 - “Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de di-
reito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quan-
do necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no regis-
tro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.”
LeanDRO MARINS DE SOUZA 117
das pessoas jurídicas, “com mais precisa distinção entre associação civil e socie-
dade empresária”.?
Foi por conta disso que o novo Código Civil destacou as associações para
localização apartada das sociedades empresárias, estas dispostas nos artigos 981
e seguintes do Código Civil, enquanto aquelas se encontram nos artigos 53 a 61.
A primeira polêmica criada pelo novo Código Civil quando da alteração do
regime das associações se encontra já em sua nova conceituação, trazida pelo
artigo 53 que dispõe: “Constituem-se as associações pela união de pessoas que
se organizem para fins não econômicos” A partir de então, diz-se, ficou limita-
da a atuação das associações civis de modo a não poderem mais desenvolver
atividades econômicas.
A nosso ver, não é esse o intuito da norma, e nunca foi, consoante o Códi-
go Civil de 1916. No regime anterior, a distinção entre sociedades empresárias
e associações civis já era explicitamente fundada na natureza econômica das
atividades. Aliás, esta era a única nota referente às associações civis constante
do antigo Código: o artigo 22 dizia que a extinção de uma associação de fins não
econômicos ocasionava a destinação de seu patrimônio a um estabelecimento
público de fins semelhantes, enquanto a extinção de uma sociedade de fins eco-
nômicos ocasionava a repartição do patrimônio entre os sócios. Ou seja, a dis-
tinção já era fundada na existência de fins econômicos nas atividades desenvol-
vidas.
O que o Código Civil de 2002 fez foi, tão-somente, tornar mais explícita
esta distinção, e tanto conseguiu que só agora as vozes se voltam - injustifica-
damente - contra a redação dada pela lei.
Mas não há motivo para confusão, especialmente após a leitura do artigo
981 do novo Código Civil, que estabelece: “Art. 981. Celebram contrato de so-
ciedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou
serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos re-
sultados.”
A nota de distinção, portanto, para a caracterização da sociedade, é a par-
tilha dos resultados advindos da atividade econômica desenvolvida. O que não
27 REALE, Miguel. O projeto do novo Código Civil: situação após a aprovação pelo Se-
nado Federal, 2º ed., São Paulo : Saraiva, 1999, p. 13. E mais adiante averba o mestre
(op. cit. p. 65): “Tratamento novo foi dado ao tema das pessoas jurídicas, um dos pon-
tos em que o Código Civil atual se revela lacunoso e vacilante. Fundamental, por sua re-
percussão em todo o sistema, é uma precisa distinção entre as pessoas Jurídicas de fins
não econômicos (associações e fundações) e as de escopo econômico (sociedade simples
e sociedade empresária), aplicando-se a estas, no que couber, as disposições concernen-
tes às associações. Revisto também foi todo o capítulo relativo às fundações, restringin-
do-se sua destinação a fins religioso, morais, culturais, ou de assistência. Daí as regras
disciplinadoras da vida associativa em geral, com disposições especiais sobre as causas e
a forma de exclusão de associados, bem como quanto à repressão do uso indevido da
personalidade jurídica, quando esta for desviada de seus objetivos socioeconômicos para
a prática de atos ilícitos, ou abusivos.”
118 TriBuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
podem as associações é dividir o resultado de sua atividade, não ter fins lucrati-
vos, como será melhor explicitado adiante.
Afora isso, louváveis as alterações do Código Civil de 2002 ao esclarece-
rem questões procedimentais referentes às atividades das associações civis, fi-
xando seu regime jurídico de forma clara.
E os sindicatos, como dito, assumem personalidade jurídica de associações.
Vale aqui a transcrição do artigo 511 da Consolidação das Leis do Trabalho (De-
creto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943):
“Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordena-
ção dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que,
como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos,
ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade
ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas.”
São, portanto, associações que congregam pessoas com os mesmos interes-
ses profissionais, com o fito de estudar, defender e coordenar estes interesses,
em evidente expressão do direito social ao trabalho.
Uma última observação aser feita é a de que alguns termos são utilizados
normalmente para expressar entidades do Terceiro Setor, mas que verdadeira-
mente não podem ser considerados termos que representam a personalidade ju-
rídica da entidade. São os casos, por exemplo, das Organizações não Governa-
mentais e dos Institutos. A natureza jurídica destas entidades normalmente é de
associação e às vezes de fundação, recebendo somente o apelido ou o nome fan-
tasia de ONG ou Instituto. Então, as ONGs e os Institutos serão, sempre, ou
associações ou fundações.
268 Tei nº 9.876/99: “Art. 4º O estatuto da Cooperativa Social poderá prever uma ou mais
categorias de sócios voluntários, que lhe prestem serviços gratuitamente, e não estejam
incluídos na definição de pessoas em desvantagem.”
a peida
cg saioeS,seo cRana
e ER É ; Sigea DE net
pune RE goals ines: pacamos soar
gro Euafat cê,eg
121
26º MODESTO, Paulo. Reforma do marco legal do Terceiro Setor no Brasil, in Mudança
social e reforma legal: estudos para uma nova legislação do Terceiro Setor, org. Joaquim
Falcão e Carlos Cuenca, Brasília : Conselho da Comunidade Solidária : Unesco, 1999, p.
139.
122 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Estas distorções chegam a tal ponto que Paulo Modesto considera a exis-
tência de verdadeira “crise do título de utilidade pública”.?7
É um dos motivos que levaramà chamada reforma do marco legal do Ter-
ceiro Setor, com a edição de leis que prescrevem novas formas de qualificação
das entidades pertencentes ao Terceiro Setor, sem, no entanto, revogar as formas
já existentes. Passa-se a discorrer sobre os títulos.
2%3 ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Terceiro Setor, São Paulo : Malheiros, 2003, p. 57.
124 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
24 Tei nº 91/35: “Art. 2º A declaração de utilidade pública será feita em decreto do Poder
Executivo, mediante requerimento processado no Ministério da Justiça e Negócios Inte-
riores ou, em casos excepcionais, ex officio. Parágrafo único. O nome e características da
sociedade, associação ou fundação declarada de utilidade pública serão inscritos em li-
vro especial, a esse fim destinado.”
Decreto nº 50.517/61: “Art. 4º O nome e características da sociedade, associação ou fun-
dação declarada de utilidade pública, serão inscritos em livro especial, que se destinará,
também, à averbação da remessa dos relatórios a que se refere o artigo 5º.”
275 Decreto nº 3.145/2000: “Art. 1º Fica delegada competência ao Ministro do Estado da Jus-
tiça, vedada a subdelegação, para decidir e praticar os atos de declaração de utilidade
pública de sociedades civis, associações e fundações, inclusive os de cassação dos títu-
los concedidos, na forma da Lei nº 91, de 28 de agosto de 1935.”
276 ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Op. cit., p. 58.
27 Lei nº 91/35: “Art. 4º As sociedades, associações e fundações declaradas de utilidade
pública ficam obrigadas a apresentar todos os anos, exceto por motivo de ordem superior
reconhecido, a critério do Ministério de Estado da Justiça e Negócios Interiores, relação
circunstanciada dos serviços que houverem prestado à coletividade. Parágrafo único. Será
cassada a declaração de utilidade pública, no caso de infração deste dispositivo, ou se, por
qualquer motivo, a declaração exigida não for apresentada em três anos consecutivos.”
Decreto nº 50.517/61: “Art. 5º As entidades declaradas de utilidade pública, salvo moti-
vo de força maior, devidamente comprovado, a critério da autoridade competente, ficam
obrigadas a apresentar, até o dia 30 de abril de cada ano, ao Ministério da Justiça, relató-
rio circunstanciado dos serviços que houverem prestado à coletividade no ano anterior,
devidamente acompanhado do demonstrativo da receita e da despesa realizada no perío-
do ainda que não tenham sido subvencionados.”
218 ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Op. cit., p. 59.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 125
29 SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: regulação no Brasil, 3º ed., São Paulo : Peirópolis, 2003,
p. 91:
280 Tej nº 8.742/93: “Art. 16. As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e parti-
cipativo de assistência social, de caráter permanente e composição paritária entre gover-
no e sociedade civil, são: I - o Conselho Nacional de Assistência Social; II - os Conse-
lhos Estaduais de Assistência Social; III - o Conselho de Assistência Social do Distrito
Federal; IV - os Conselhos Municipais de Assistência Social. Art. 17. Fica instituído o
Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, órgão superior de deliberação colegia-
da, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coor-
denação da Política Nacional de Assistência Social, cujos membros, nomeados pelo Pre-
sidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por
igual período.”
126 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
281 Decreto nº 2.536/98 (redação dada pelo Decreto nº 3.504/2000): “Art. 1º A concessão ou
renovação do Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos pelo Conselho Nacional de
Assistência Social - CNAS, de que trata o inciso IV do art. 18 da Lei nº 8.742, de 7 de
dezembro de 1993, obedecerá ao disposto neste Decreto.”
2 Decreto nº 2.536/98: “Art. 2º Considera-se entidade beneficente de assistência social, para
os fins deste Decreto, a pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, que atue
no sentido de: I - proteger a família, a maternidade, a infância, a adolescência e a velhi-
ce; II - amparar crianças e adolescentes carentes; III - promover ações de prevenção, ha-
bilitação e reabilitação de pessoas portadoras de deficiência; IV - promover, gratuitamente,
assistência educacional ou de saúde; V - promover a integração ao mercado de trabalho.”
LeanDrRO MARINS DE SOUZA 127
283 Sílvio Luís Ferreira da Rocha (op. cit., p. 81) aponta neste sentido: “Com efeito, não há
como negar que a criação da organização social foi um dos frutos produzidos pela Refor-
ma do Estado.”
284 Ver MODESTO, Paulo. Op. cit. pp. 145 e ss.
Lei nº 9.637/98: “Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais
pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas
ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preserva-
ção do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos os requisitos previstos nesta Lei.”
Veja-se que a abrangência da Lei das Organizações Sociais se encaixa perfeitamente no
conceito de Terceiro Setor por nós formulado, donde se extrai que a reforma do marco
legal do Terceiro Setor está seguindo a vertente de definir como Terceiro Setor exatamente
os direitos previstos no artigo 6º e no Capítulo da Ordem Social, da Constituição de 1988.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 129
286 Lei nº 9.637/98: “Art. 11. As entidades qualificadas como organizações sociais são de-
claradas como entidades de interesse social e utilidade pública, para todos os efeitos le-
gais.”
287 ALVES, Francisco de Assis. Fundações, organizações sociais e agências executivas:
organizações da sociedade civil de interesse público e outras modalidades de prestação
de serviços públicos, São Paulo : LTr, 2000, pp. 183 e ss. E continua (op. cit., p. 185),
fazendo expressa menção à inflexibilidade do aparato estatal: “O projeto de reforma cen-
tra-se num dos principais problemas enfrentados pela administração pública: a rigidez
resultante da aplicação de normas burocráticas, mesmo para os setores onde estas não são
consideradas necessárias, como é o caso do setor compreendido pelos serviços não-ex-
clusivos do Estado, que se caracteriza pela prestação de serviços sociais. Por isso mes-
mo, o Plano Diretor, um dos esteios da Reforma Administrativa, indica a prestação des-
ses serviços, como o setor apropriado a ser desenvolvido pelas organizações sociais. Os
serviços a que alude o referido Plano são aqueles relacionados fundamentalmente às áreas
da saúde e da educação, hoje mantidas pelo Estado através de autarquias e fundações. A
flexibilidade é fator determinante para a eficiência na prestação desses serviços. (...) Com
as organizações sociais, o que se pretende é criar uma parceria entre o Estado e institui-
ções privadas de fins públicos. Com essa modalidade de parceria da Administração Pú-
blica, objetiva-se implantar uma nova forma de participação popular na gestão adminis-
trativa.”
130 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
288 Sobre as características das possíveis naturezas sociais da entidade, vide ROCHA, Sílvio
Luís Ferreira da. Op. cit., pp. 91-96.
289 Desde já é possível demonstrar o que se pode entender pelo requisito da ausência de fi-
nalidades lucrativas, que será muito útil a posteriori. Sílvio Luís Ferreira da Rocha (op.
cit., p. 97) aponta com precisão: “O segundo requisito exigido pela lei é a finalidade não-
lucrativa da pessoa jurídica. Este requisito é complementado pela obrigatoriedade do in-
vestimento dos excedentes financeiros no desenvolvimento das próprias atividades. Tem
finalidade não-lucrativa a pessoa jurídica cujos sócios ou associados não recebem, sob
pretexto algum, lucros distribuídos pela pessoa jurídica. Este requisito não impede que a
candidata a tornar-se uma organização social obtenha lucro com suas atividades, mas exige
que o lucro que venha a ser eventualmente auferido não seja distribuído a seus sócios ou
associados, e sim reinvestido pela própria pessoa jurídica no desenvolvimento de seus
objetivos sociais.” Também Francisco de Assis Alves (op. cit. p. 218) ensina neste sen-
tido: “A ausência de fins lucrativos de uma entidade se configura não pela gratuidade de
seus serviços, mas pela não-distribuição de seu patrimônio e de suas rendas como tam-
bém pelo investimento na própria entidade dos resultados positivos auferidos.”
Os artigos 3º e 4º da Lei nº 9.637/98 fixam as diretrizes para a composição do Conselho
de Administração. Sobre as normas relativas à composição e ao funcionamento dos ór-
LeanDRO MARINS DE SOUZA 131
gãos de deliberação superior e de direção, ver ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Op. cit.,
pp. 97-98. Ver também ALVES, Francisco de Assis. Op. cit., pp. 193-196.
21 ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Op. cit., p. 103.
22 ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Op. cit., pp. 103-106.
23 ALVES, Francisco de Assis. Op. cit., p. 194.
294 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídi-
cos, administrativos, contábeis e tributários, 4º ed., Brasília : Brasília Jurídica, 2003, p.
103.
295 Sobre o contrato de gestão, ver as seguintes obras: MELLO, Celso Antônio Bandeira de.
Curso de direito administrativo, 14º ed., São Paulo : Malheiros, 2002, pp. 211-217; DI
PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administração pública, 3º ed., São Paulo :
Atlas, 1999, pp. 187-212; ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Op. cit., pp. 121-146.
29 a MODESTO, Paulo. Op. cit., p. 148.
132 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
?7 Escrevendo ainda antes da edição da Lei nº 9.790/99, Paulo Modesto (op. cit., p. 150)
assim se manifestou: “A mais nova proposta de alteração do marco legal das organiza-
ções do Terceiro Setor no Brasil é o recentíssimo projeto de lei sobre organizações da
sociedade civil de caráter público, que tenta também esvaziar na prática o título de utili-
dade pública.”
28 Regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 30 de junho de 1999.
O conceito de sem fins lucrativos é trazido pelo próprio artigo 1º, e vem ao encontro do
quanto já exposto bem como das considerações posteriores sobre o tema sob outros en-
foques: “S$ 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica
de direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, di-
retores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos,
dividendos, bonificações, participações, ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante
o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respecti-
vo objeto social.”
300
Lei nº 9.790/99: “Art. 9º Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado
o instru-
mento passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à formação de vínculo
de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse
público previstas no artigo 3º desta lei.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 133
301 José Eduardo Sabo Paes (op. cit., p. 90) exemplifica: “E, nesse campo, os países anglo-
saxônicos dispõem de uma das tradições mais ricas, sendo deles a disseminação comum
dos termos non profit sector, independent sector ou voluntary sector para se referir ao que
atualmente vem sendo chamado de Terceiro Setor, cuja legislação é o resultado de sécu-
los de experiência social e jurídica, tendo eles já desenvolvido um marco legal do Ter-
ceiro Setor, onde, em linhas gerais, optou-se por distinguir em duas categorias as organi-
zações do referido setor, tendo como parâmetro as suas finalidades. A primeira categoria
é formada pelas organizações de interesse (ou caráter) público - que são aquelas voltadas
para a defesa do interesse mais amplo da sociedade ou para o desenvolvimento de uma
atividade que traz benefícios para a sociedade como um todo, mesmo que, aparentemen-
te, ela se dedique apenas a beneficiar agrupamentos específicos (como, por exemplo, os
aidéticos ou as populações mais carentes). A segunda é integrada pelas organizações de
ajuda mútua ou de auto-ajuda - que são as organizações ou agrupamentos que se formam
para defender interesses coletivos, mas de um círculo restrito, específico, de pessoas,
como, por exemplo, uma associação de classe, um clube social ou uma associação de mo-
radores de uma determinada zona da cidade ou de funcionários de uma determinada em-
presa.”
134 TriBuTAçÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
*2 “Mais formalmente, focamos aqui nas organizações que são elegíveis para a isenção do
imposto de renda pela Seção 501 (c) (3) do Código Tributário, e as que se aproximam mais
do conceito de “organizações de bem estar social” elegíveis para a isenção pela Seção 501
(c) (4) deste Código. Incluídas aqui estão organizações que operam “exclusivamente por
propósitos religiosos, caritativos, científicos ou educacionais” e que não distribuem qual-
quer renda que gerem para qualquer sócio ou outra pessoa. Sozinhas entre os vinte e seis
tipos de organizações isentas do imposto de renda, as organizações da Seção 501 (c) (3)
também são elegíveis a receber dedução fiscal das doações feitas por pessoas físicas ou
jurídicas, reflexo do fato de que se espera que elas sirvam os interesses do público em geral
ao invés dos interesses e necessidades tão-somente dos membros da organização.” (SA-
LAMON, Lester. The resilient sector: the State of nonprofit America, in The State ofnon-
profit America, coord. Lester M. Salamon, Washington, D.C. : Brooking Institution Press,
2003, p. 7) No original: “More formally, we focus here on organizations that are eligible
for exemption from federal income taxation under Section 501 (c) (3) of the tax code, plus
the closely related “social welfare organizations” eligible for exemption under Section 501
(c) (4) of this code. Included here are organizations that operate “*exclusively for religious,
charitable, scientific, or educational purposes” and that do not distribute any profits they
may generate to any private shareholder or individual. Alone among the twenty-six types
of organizations exempted from federal income taxation, the 501tc) (3) organizations are
also eligible to receive tax-deductible contributions from individuals and businesses, a
reflection of the fact that they are expected to serve broad public purposes as opposed to
the interests and needs of the members of the organizations alone.” (tradução livre nos-
sa)
Leandro MARINS DE SOUZA 135
303 «Art 4º Atendido o disposto no artigo 3º, exige-se ainda, para qualificarem-se como Or-
ganizações da Sociedade Civil de Interesse Público, que as pessoas jurídicas interessadas
sejam regidas por estatutos cujas normas expressamente disponham sobre: I - a observân-
cia dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicida-
de e da eficiência; II - a adoção de práticas de gestão administrativa, necessárias e suficien-
tes a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de benefícios ou vantagens pes-
soais, em decorrência da participação no respectivo processo decisório; III - a constitui-
ção de conselho fiscal ou órgão equivalente, dotado de competência para opinar sobre os
relatórios de desempenho financeiro e contábil, e sobre as operações patrimoniais reali-
zadas, emitindo pareceres para os organismos superiores da entidade; IV - a previsão de
que, em caso de dissolução da entidade, o respectivo patrimônio líquido será transferido
a outra pessoa jurídica qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que tenha o
mesmo objeto social da extinta; V - a previsão de que, na hipótese de a pessoa jurídica
perder a qualificação instituída por esta Lei, o respectivo acervo patrimonial disponível,
adquirido com recursos públicos durante o período em que perdurou aquela qualificação,
será transferido a outra pessoa jurídica qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente
que tenha o mesmo objeto social; VI - a possibilidade de se instituir remuneração para os
dirigentes da entidade que atuem efetivamente na gestão executiva a para aqueles que a
ela prestam serviços específicos, respeitados, em ambos os casos, os valores praticados
pelo mercado, na região correspondente a sua área de atuação; VII - as normas de presta-
ção de contas a serem observadas pela entidade, que determinarão, no mínimo: a) a ob-
servância dos princípios fundamentais de contabilidade e das Normas Brasileiras de Con-
tabilidade; b) que se dê publicidade por qualquer meio eficaz, no encerramento do exer-
cício fiscal, ao relatório de atividades e das demonstrações financeiras da entidade, incluin-
do-se as certidões negativas de débitos junto ao INSS e ao FGTS, colocando-os à dispo-
sição para exame de qualquer cidadão; c) a realização de auditoria, inclusive por audito-
res externos independentes se for o caso, da aplicação dos eventuais recursos objeto do
termo de parceria conforme previsto em regulamento; d) a prestação de contas de todos
os recursos e bens de origem pública recebidos pelas Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público será feita conforme determina o parágrafo único do artigo 70 da
Constituição Federal.”
136 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
nidades tributárias no constitucionalismo, analisa com maestria a ratio essendi das nor-
mas constitucionais em relação aos direitos fundamentais, asseverando: “É evidente que
a Constituição, elaborada para criar um regime democrático, contém em seu bojo uma
filosofia, ou melhor, uma orientação ética e moral, baseada no princípio de que os homens
não são meios, mas fins em si mesmos. Alvos supremos do Estado são o princípio da dig-
nidade humana, o da expansão de todas as possibilidades da criatura humana, além de
outros, que estão na Lei Fundamental. O Estado, as leis, os mecanismos da Constituição
são os meios. Daí a Constituição ter uma base ética e ideológica que considera o homem
um fim em si mesmo, além de assegurar-lhe todos os meios para que tal fim seja atingido.”
328 Sobre estes conceitos, ligados à idéia de constitucionalismo, ver BARROSO, Luís Rober-
to. O direito constitucional e a efetividade de suas normas - limites e possibilidades da
Constituição Brasileira, 4º ed., Rio de Janeiro : Renovar, 2000, pp. 75-76. Também su-
cintamente a respeito do tema, nosso trabalho anterior: SOUZA, Leandro Marins de. Op.
cit., pp. 29-30.
329 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, 18º ed., São Paulo :
Malheiros, 2000, p. 41.
30 SOUZA, Leandro Marins de. Op. cit., p: 32. E concluímos: “Afinal, a Constituição efetiva-
mente exprime a gama de princípios regentes da comunidade que lhe dá forma e acolhe.”
33
“A tarefa fundamental do Estado Democrático de Direito consiste em superar as desigual-
dades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social.”
(SILVA, José Afonso da. Op. cit., p. 126)
144 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
342
James Marins (Imunidade tributária das instituições de educação e assistência social, in
Grandes Questões Atuais do Direito Tributário, coord. Valdir de Oliveira Rocha, 3º vol.,
São Paulo : Dialética, 1999, p. 150) bem observa: “Assim se dá com as atividades de
educação e assistência social, não apenas por se prestarem a fins de reconhecida utilida-
de para a sociedade, mas também por seu papel de coadjuvante nos deveres do próprio
Estado (arts. 6º, 203 combinados com os arts. 150, IV, alínea “c” e 195, 84 7º da CF/88).
As respectivas dicções dos mencionados dispositivos, ao imunizarem “nstituições” e “en-
tidades” produzem o efeito de tornar insuscetíveis de serem alcançadas pela competência
tributária as atividades desenvolvidas por tais pessoas jurídicas que eventualmente pudes-
sem estar expostas à incidência não fosse o preceito imunizante (“é vedado instituir im-
postos sobre o patrimônio, renda ou serviços das instituições de educação e assistência
social sem fins lucrativos” e 'são isentas - rectius, imunes - de contribuição para a seguri-
dade social as entidades beneficentes de assistência social”). O núcleo das possíveis hi-
póteses de incidência será sempre uma das facetas das atividades (critério material da
hipótese de incidência) realizadas por tais entidades ou instituições.” Ives Gandra da Sil-
va Martins e Marilene Talarico Martins Rodrigues (Imunidade tributária das instituições
de assistência social, à luz da Constituição Federal, in Revista Dialética de Direito Tri-
butário, nº 38, novembro de 1998, p. 119) manifestam-se no sentido de que “a imunida-
de constitui o instrumento que o constituinte considerou fundamental para, de um lado,
manter a democracia, a liberdade de expressão e a ação dos cidadãos e, por outro lado,
de atrair os cidadãos a colaborarem com o Estado, nas suas atividades essenciais, em que,
muitas vezes, o próprio Estado atua mal ou insuficientemente, como é o caso de assistên-
cia à saúde”.
343
Especificamente sobre o assunto, indicam-se os seguintes trabalhos doutrinários: ATALIBA,
Geraldo. Imunidade de instituições de educação e assistência, Revista de Direito Tribu-
tário, nº 55, janeiro-março de 1991, pp. 136-142; BOTTALLO, Eduardo. Imunidade
de
instituições de educação e de assistência social e lei ordinária - um intrincado confronto,
in Imposto de renda - alterações fundamentais, coord. Valdir de Oliveira Rocha, 2º vol.,
São Paulo : Dialética, 1998, pp. 51-64; BRANCO, Vera Sylvia Venegas Falsetti. Imuni-
dade tributária e Terceiro Setor (filantrópico): por maior transparência e regulamentação,
in Revista dos Tribunais - Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, nº 26,
janeiro-março de 1999, pp. 31-42; DERZI, Misabel Abreu Machado. A imunidade das
instituições de educação ou de assistência social, in Imposto de renda - alterações fun-
damentais, coord. Valdir de Oliveira Rocha, 2º vol., pp. 143-178; GONÇALES, Antonio
Manoel. A imunidade de sociedade de educação sem fins lucrativos, in Cadernos de Di-
reito Tributário e Finanças Públicas, nº 14, Janeiro-março de 1996, pp. 110-121;
MA-
CHADO, Hugo de Brito. Imunidade tributária das instituições de educação e de assistên-
cia social e a Lei 9.532/97, in Imposto de renda - alterações fundamentais, coord. Valdir
de Oliveira Rocha, 2º vol., São Paulo : Dialética, 1998, pp. 65-72; MARINS, James.
Fun-
dações privadas e imunidade tributária, in Revista Dialética de Direito Tributário, nº
28,
janeiro de 1998, pp. 20-30; MARINS, James. Imunidade tributária das instituições de
educação e assistência social, in Grandes questões atuais do direito tributário, coord.
Valdir de Oliveira Rocha, 3º vol., São Paulo : Dialética, 1999, pp. 145-166; MARTINS,
Ives Gandra da Silva. Imunidade das instituições de educação e de assistência social
-
LeanDRrO MARINS DE SOUZA 149
da espécie, e o art. 150, VI, c, prevendo apenas lei ordinária para a regulação de uma li-
mitação específica ao poder de tributar.”
37 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do
STF, São Paulo : Malheiros, 2001, pp. 99-104. Ver também BARRETO, Aires F. e BAR-
RETO, Paulo Ayres. Op. cit., p. 23.
38 “Parece-nos que somente o apego à literalidade da dicção constitucional pode conduzir à
conclusão de que a lei complementar desempenha tríplice função em matéria tributária.
A norma inserta no art. 146 da Lei Maior não pode ser considerada isoladamente ou em
contexto alheio aos princípios federativo e da autonomia municipal.” (COSTA, Regina
Helena. Op. cit., p. 103)
39 BARRETO, Aires F. e BARRETO, Paulo Ayres. Op. cit., p. 23.
350 ATALIBA, Geraldo. Imunidade de instituições de educação e assistência, in Revista de
Direito Tributário, nº 55, janeiro-março de 1991, p. 136. Misabel Abreu Machado Derzi
(A imunidade das instituições de educação ou de assistência social, in Imposto de renda
- alterações fundamentais, coord. Valdir de Oliveira Rocha, 2º vol., São Paulo : Dialéti-
ca, 1998, pp. 145-146) ensina: “A Constituição de 1988, como a anterior, condiciona a
imunidade das atividades, à observância dos “requisitos da lei”. A norma não tem, por-
tanto, eficácia plena e incontrastável, como a recíproca. O gozo da imunidade depende
do preenchimento dos requisitos previstos em lei complementar. A luz da Constituição
de 1988, não resta dúvida de que somente lei complementar da União pode cumprir os
ditames do art. 150, VI, *c”, por força do que estabelece o art. 146, II. (...) Não se pode
152 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
mais, pois, sustentar a tese de que a lei ordinária possa cumprir o papel de regular
as imu-
nidades, porque: - a Constituição em vigor é expressa ao exigir a edição de lei
comple-
mentar, no seu art. 146, supra citado; - a imunidade não pode ser regulada por
lei ordiná-
ria da pessoa estatal competente para tributar, uma vez que os interesses arrecadatór
ios
de tais entes levariam à frustração da própria imunidade.” Também neste sentido,
entre
outros: XAVIER, Alberto. As entidades fechadas de previdência privada como
institui-
ções de assistência social, in Revista Dialética de Direito Tributário, nº
52, janeiro de
2000, p. 20; CARRAZZA, Roque Antonio. Op. cit., pp. 353 e ss.; MELO, José
Eduardo
Soares de. A imunidade das instituições de educação e de assistência social
ao imposto
de renda (Lei Federal nº 9.532/97), in Imposto de renda - alterações fundamentai
s, coord.
Valdir de Oliveira Rocha, 2º vol., São Paulo : Dialética, 1998, p. 89; COÊÉLHO,
Sacha
Calmon Navarro. Imunidade de instituições de assistência, in Revista de Direto
Tributá-
rio, nº 35, janeiro-março de 1986, pp. 123-137.
*1 Trecho do acórdão da lavra do Excelentíssimo Ministro Relator Paulo Medina,
proferido
pela Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso
Espe-
cial nº 413.728/RS, ocorrido na data de 8 de outubro de 2002, publicado em
2 de dezem-
bro de 2002.
toa 3
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988 - sistema
tribu-
tário, 6* ed., Rio de Janeiro : Forense, 1995, p. 349. Na mesma esteira
do Professor Sa-
cha Calmon, Aires F. Barreto e Paulo Ayres Barreto (op. cit., pp. 24-25)
observam: “O
LeanDRO MARINS DE SOUZA 153
Demonstrado com sobra de argumentos que o artigo 150, VI, “c” da Cons-
tituição Federal se remete à observância de requisitos instituídos por lei com-
plementar, e não por lei ordinária, resta que se argumente no sentido de que a
lei complementar a que se faz remissão é o Código Tributário Nacional, como
se extrai da citação anteriormente feita dos ensinamentos de Paulo de Barros
Carvalho.
O Código Tributário Nacional, cuja elaboração remonta ao início da década
de 50, veio a lume em 1966 através da edição e publicação da Lei nº 5.172/66,
logo, anteriormente à Constituição de 1988 e, inclusive, à Constituição de 1967
e sua Emenda nº 01/69.
Nasceu referido diploma legal com roupagem de lei ordinária, até porque
lei complementar, em sua concepção de norma especial e que exige quórum
qualificado para a sua edição, inexistia à época do Código Tributário Nacional.º**
Consectário destas breves linhas é que o Código Tributário Nacional já vi-
geu, em nosso ordenamento, sob o comando de três Constituições diferentes: a
Constituição de 1946, que vigia à época da edição do CTN; a Constituição de
1967 e sua Emenda nº 01/69; e a Constituição atual, de 1988.
Volvendo a linhas há pouco escritas, recorda-se que discussão que ainda
subsiste em nosso sistema é acerca das funções das leis complementares em
matéria tributária, e que o cerne do problema é exatamente saber se é função
originária da lei complementar legislar sobre normas gerais em matéria tribu-
tária, ou se tal matéria é função de lei complementar somente de forma secun-
dária, ou seja, quando se legisla sobre conflitos de competência ou limitações
constitucionais ao poder de tributar. Mesmo com a promulgação do texto cons-
titucional de 1988 a polêmica persiste, não obstante a clareza do disposto no
artigo 146, HI.
Neste momento, imprescindível que se abram parênteses para falar sobre
o instituto da recepção da lei anterior, e sua aplicação prática no caso do Códi-
go Tributário Nacional. Este fenômeno, que atribui eficácia construtiva às nor-
mas constitucionais nos dizeres de José Afonso da Silva, significa que a nova
Constituição, promulgada quando existentes normas infraconstitucionais que lhe
sejam anteriores por editadas à época da vigência da Constituição anterior, re-
cepciona as normas infraconstitucionais que lhe sejam anteriores e compatí-
veis.
É exatamente este fenômeno que permite a vigência do Código Tributário
Nacional, mas não sem contratempos. Como a Constituição de 1967 era omissa
em estabelecer como uma das funções da lei complementar editar normas ge-
rais em matéria tributária, quando do início de sua vigência debateu-se sobre a
extensão da recepção dos dispositivos do Código Tributário Nacional.
Como afirma Ives Gandra da Silva Martins,
“no início da vigência do CTN, grupo de especialistas em direito tributá-
rio pretendia considerá-lo apenas uma lei federal, que não obrigava Estados e
Municípios, concluindo que apenas nos conflitos de competência e na regula-
mentação das limitações constitucionais ao poder de tributar é que tinha função
de lei complementar. Segundo essa concepção, portanto, o CTN não era veicu-
lador de normas gerais para todas as entidades federativas"?
Mas efetivamente esta concepção não era pacífica, e o próprio Ives Gan-
dra o demonstra em trabalho elaborado ainda na vigência da Constituição de
1967, asseverando que
“o CTN, apesar de ter nascido como lei ordinária, ganhou eficácia de lei
complementar, após a Constituição Federal de 67 e a Emenda Constitu-
cional nº 1/69. Pelo princípio da recepção, em direito constitucional, todo
o diploma legal que tenha natureza jurídica de instrumento veiculador
inexistente à época de seu surgimento e que não conflite com a legisla-
ção posterior, que o introduza será recebido pelo novo ordenamento, ao
mesmo nível e com a mesma conformação dos diplomas posteriores. Ora,
o Código Tributário Nacional foi promulgado como alei ordinária, por
inexistir à época o instrumental estabilizador do sistema representado
pela lei complementar. Tão logo foi o mesmo introduzido, ganhou o CTN
eficácia de lei complementar, pois correspondendo aos contornos cons-
titucionais indicados. O Código Tributário Nacional, por outro lado,
355 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais, 6º ed., São Paulo
:
Malheiros, 2002, p. 218.
356
“A continuidade da legislação precedente constitui um aspecto da eficácia construtiva
das
normas constitucionais, visto que essa legislação recebe da nova carta política outro jato
de luz revivificador que a revaloriza para a ordem jurídica nascente. São as normas ante-
riores como que recriadas pela constituição que sucede. É esse o fenômeno que a técnica
jurídico-constitucional denomina recepção da lei anterior” (SILVA, José Afonso da. Op.
cit. 219); “A recepção é um ato jurídico com o qual um ordenamento acolhe e toma suas
as normas de outro ordenamento, onde tais normas permanecem materialmente
iguais, mas
não são mais as mesmas com respeito à forma.” (BOBBIO, Norberto. Teoria
do ordena-
mento jurídico, trad. Maria Celeste C. J. Santos, 10º ed., Brasília : UnB, 1999, p. 177)
357 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Introdução, in Comentários ao Código Tributário
Na-
cional, coord. Carlos Valder do Nascimento, Rio de Janeiro : Forense, 1997, p. 6.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 155
de 25.10.66, só pode ser revogada por outra lei complementar, o que a legitima como tal
€ atesta a sua recepção pelo ordenamento constitucional que se lhe seguiu, confirmando-
lhe a validade)”
A jurisprudência pátria é pacífica neste sentido, tendo inclusive o Supremo Tribunal Fe-
deral assentado este entendimento em julgamento unânime do Tribunal Pleno: “Imuni-
dade tributária - Entidades voltadas à assistência social. A norma inserta na alínea “c” do
inciso VI do artigo 150 da Carta de 1988 repete o que previa a pretérita - alínea “c” do
inciso III do artigo 19. Assim, foi recepcionado o preceito do artigo 14 do Código Tributá-
rio Nacional, no que cogita dos requisitos a serem atendidos para o exercício do direito à
imunidade.” (Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Mandado de Injunção nº 420-0/RJ,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 31 de agosto de 1994) Em complemento: “Cons-
titucional. Tributário e processual civil. IPTU. Constituição de crédito. CTN, art. 145.
Imunidade das autarquias. Constituição Federal, art. 150, VI c/c o $ 2º. Reserva material
de lei complementar das limitações ao poder de tributar. Execução fiscal contra pessoa
Jurídica de direito público. CPC, art. 730. (...) III. De acordo com o art. 146, II, da Cons-
tituição da República, a disciplina das limitações ao poder de tributar está reservada à lei
complementar, sendo, pois, inócuas, as disposições de leis estaduais que extrapolem o
estatuto normativo das imunidades no CTN (arts. 14 e 9º, 8 1º)” (Tribunal Regional Fe-
deral da 1º Região, Quarta Turma, Remessa ex-offício nº 1998.01.00.03.78980-9/MG, Rel.
Juiz Hilton Queiroz, julgamento em 11/12/2000, DJ de 26/01/2001); “Entidade de assis-
tência social sem fins lucrativos. IOF. Imunidade. Artigo 150, inciso VI, *c” da Carta
Magna/88. Requisitos artigo 14 do CTN. Lei nº 9.532, de 1997. A imunidade só pode ser
concedida pela Constituição, sendo exigido, para o estabelecimento dos requisitos à sua
concessão, lei para o estabelecimento dos requisitos à sua concessão, lei complementar,
como estatuído no artigo 146 da Carta Política, pois a ela cabe regular as limitações cons-
titucionais ao poder de tributar (CF, art. 146, Il). Desta forma, os requisitos estabelecidos
para a fruição da imunidade são aqueles dispostos no Código Tributário Nacional, artigo
14, porquanto o mesmo possui força de lei complementar” (Tribunal Regional Federal da
4º Região, Segunda Turma, Apelação em mandado de segurança nº 2001.04.01.063758-1/RS,
Rel. Des. Vilson Darós, julgamento em 11/09/2001, DJ de 03/ 10/2001); “Constitucional
e tributário. Imunidade prevista na letra c do inciso VI do artigo 150 da Constituição Fe-
deral. Parágrafo 4º do artigo 150. Lei nº 9.532/97, & 1º e alínea fdo 8 2º do art. 12, arti-
gos 13, caput, e 14. Decisão de cautelar em ADIn e artigo 97 da Constituição Federal. (...)
4. Para regular as limitações ao poder de tributar, o que pretendeu o dispositivo acoima-
do de inconstitucional, o instrumento legislativo que a Constituição exige (artigo 146, II)
é a Lei Complementar.” (Tribunal Regional Federal da 4º Região, Segunda Turma, Ape-
lação em mandado de segurança nº 2000.04.01.027274-4/RS, Rel. Des. Vilson Darós,
julgamento em 10/08/2000, DJ de 08/11/2000) Ê
LeanDRO MARINS DE SOUZA 157
a) Conceito de “instituições”
Neste tópico a dificuldade encontra-se em não haver, verdadeiramente,
conceito jurídico estanque para o termo instituição.
Em trabalho de fôlego e constantemente citado, escrito ainda sob a égide
de nossa Constituição de 1946 e destinado à análise da abrangência do disposto
em seu artigo 31, V, “b” que outorgava imunidade tributária às instituições de
educação e de assistência social, Leopoldo Braga analisa com requintes o ter-
mo instituição para lhe destinar acepção técnica e restritiva, aproximando este
termo do conceito de filantropia.
Assim o faz, por exemplo, quando observa que
“o legislador constituinte brasileiro teve em mira imunizar as entidades
de fim público, desinteressadas e altruístas, inspiradas e criadas pelo de-
sígnio de colaborar com o Estado, suprindo-lhe as deficiências ou secun-
dando-lhe a ação paternalista na obra da educação e da assistência so-
cial?,36
Em outra passagem, demonstrando a relação da idéia de filantropia com o
conceito técnico e restritivo do termo instituição que propõe, o autor aponta que
“não importa a origem pública (criação estatal) ou privada (iniciativa par-
ticular) da entidade, pois o que sobreleva como elemento fundamental ca-
racterizador da verdadeira instituição é o fim público (de assistência,
beneficência, educação, cultura, etc.), para que haja sido criada e a que
se destine com o duplo sentido de generalidade e de gratuidade” *º
No entanto, entendemos que a melhor interpretação a ser dada ao termo
instituição previsto no artigo 150, VI, “c” da Constituição Federal de 1988 não
segue exatamente o quanto exposto por Leopoldo Braga.
Não se verifica no sistema jurídico tributário brasileiro homogeneidade
terminológica que permita considerar a adoção do termo instituição pelos moti-
vos técnicos apresentados pelo ilustre jurista.
A começar pelo próprio artigo 150 da Constituição Federal de 1988, que
ao pretender prever a abrangência da imunidade destinada às instituições de edu-
cação e de assistência social, em seu $ 4º menciona o termo entidades.
363 «A palavra “instituição” tem, pois, como se vê, na teoria geral das pessoas jurídicas, e,
sobretudo, na área do direito administrativo, uma acepção específica própria e diferen-
ciada da acepção ampla e genérica, a que inicialmente aludimos, isto é, um especial sen-
tido técnico-jurídico reservado à qualificação de uma certa e determinada categoria de pes-
soas que, por sua ingênita e indeclinável vocação a fim público, se acham situadas além
e acima das entidades não lucrativas de fins mistos (privados e públicos) e, com razão
maior, daquelas nascidas exclusiva ou principalmente das influições do interêsse parti-
cular de indivíduos ou grupos de indivíduos e apenas ou preferencialmente destinadas à
satisfação de necessidades ou ao gozo de benefícios de seus próprios fundadores, mem-
bros ou associados.” (BRAGA, Leopoldo. Instituições de educação e de assistência so-
cial, in Repertório enciclopédico do direito brasileiro, org. J. M. Carvalho Santos, XXVII,
Rio de Janeiro : Borsoi, p. 256)
34 BRAGA, Leopoldo. Op. cit., p. 250.
365 BRAGA, Leopoldo. Op. cit., p. 255.
160 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
366 Leopoldo Braga (op. cit., p. 257) é enfático ao elogiar a “precisão técnica” adotada pelo
legislador constitucional ao instituir a imunidade em comento: “Adotando, pois, o em-
prego do vocábulo “instituições” (seguido do complemento de relação atributiva restriti-
va “de educação e de assistência social”) ao invés do uso de outro termo mais genérico
ou de mais largo alcance, como, por exemplo, “organizações”, “entidades”, “institutos”,
“estabelecimentos”, “associações”, etc., dúvida não há de que o legislador constituinte,
abeberado naquela doutrina e atento à especialíssima razão política justificativa da ou-
torga do privilégio imunitário, escolheu com acerto e intencional precisão técnica as ex-
pressões de que se serviu para especificar a particular natureza dos seus destinatários.”
37 No mesmo sentido veja: CARRAZZA, Elizabeth Nazar. Imunidade tributária das insti-
tuições de educação, in Revista de Direito Tributário, nº 3, janeiro-março de 1978, pp.
167-172.
*68 DERZI, Misabel Abreu Machado. Notas à obra de BALEEIRO, Aliomar. Limitações cons-
titucionais ao poder de tributar, 7º ed., Rio de Janeiro : Forense, 1999, p. 320.
3 DERZI, Misabel Abreu Machado. Idem, p. 320.
370 “O que a caracteriza é exatamente a função e os fins que exercem e buscam, secundária a
forma jurídica de sua organização, que tanto pode ser fundação, associação etc. O desta-
que deve ser para a função, os fins.” (COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à
Constituição de 1988: sistema tributário, 6* ed., Rio de Janeiro : Forense, 1995, p. 359)
31 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Idem, p. 359.
LeanDrO MARINS DE SOUZA 161
b) Conceito de “educação”
O artigo 205 do texto constitucional estabelece que “a educação, direito de
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a cola-
boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu prepa-
ro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A Consti-
tuição não vai além destas linhas para trazer elementos conceituais agregadores
para a definição de educação para fins de enquadramento na regra imunizante.
Novamente, portanto, é imprescindível que seja analisado o contexto em
que se insere a instituição da imunidade tributária destinada às instituições de
educação.
E para tanto retomamos o quanto exposto anteriormente para lembrar que
as imunidades tributárias são expressão do constitucionalismo, que visa a garantir
à sociedade em que se insere, e na época em que se insere, a garantia das liber-
dades individuais dos cidadãos com fundamento nos princípios da democracia
participativa, da justiça social, da solidariedade social, da dignidade da pessoa
humana, entre outros. Não é diferente, e fica até mais saliente esta característi-
ca, com relação à imunidade tributária destinada às instituições de educação e
de assistência social.
Neste caso especificamente, a imunidade tributária é a consagração da ad-
missão, por parte do Estado através da Constituição, do papel fundamental da
participação da iniciativa privada em questões de interesse social como o são a
educação e a assistência social.
32 Vale a ressalva de que não obstante a Constituição Federal de 1988 falar em instituições
de educação e de assistência social, o mais correto seria instituições de educação ou de
assistência social, para não permitir interpretações desviadas no sentido da conjunção dos
requisitos. Aliás, a redação de nossa Constituição de 1967 era a mais adequada: institui-
ções de educação ou de assistência social. Voltando um pouco mais, o artigo 31, V, “b”
da Constituição de 1949 também apresentava redação equivocada, tal qual o artigo 150,
VI, “c” da Constituição de 1988. Mas a Emenda Constitucional nº 18, de 6 de dezembro
de 1965, ao alterar aquele artigo, supriu esta deficiência ao substituir a conjunção “e” pela
conjunção “ou”. Tem-se, portanto, que a Constituição de 1988 retomou equívoco que em
1965 havia sido corrigido em nosso ordenamento jurídico. Leopoldo Braga (Instituições
de previdência social, in Repertório enciclopédico do direito brasileiro, org. J. M. Car-
valho Santos, XXVII, Rio de Janeiro : Borsoi, p. 284) também se manifesta neste senti-
do: “Entre os destinatários da imunidade tributária outorgada na alínea b do inciso V ao
art. 31 da Magna Carta, figuram as “instituições de educação e de assistência social”,
expressão cujo enunciado mais correto seria - instituições de educação ou de assistência
social.”
162 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
373 Vale aqui o ensinamento de Roberto Quiroga Mosquera (Renda e proventos de qualquer
natureza - o imposto e o conceito constitucional, São Paulo : Dialética, 1996, pp. 126-130):
“O Texto Constitucional contempla, já em seus dispositivos introdutórios, princípios fun-
damentais que assegurem ao povo brasileiro uma vida digna onde impere o bem-estar
social, a segurança, a liberdade, a democracia, o desenvolvimento, a igualdade, a justiça,
a harmonia social etc. Entre os aludidos direitos fundamentais, formadores do Estado bra-
sileiro, temos a dignidade humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Outrossim, constituem objetivos primordiais da República Federativa do Brasil construir
uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a
pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e, por fim, pro-
mover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação. (...) A Carta Magna ao assim regular, viabiliza o atingi-
mento daqueles objetivos estipulados em seus artigos introdutórios, ou seja, a erradica-
ção da pobreza, a redução das desigualdades sociais, o desenvolvimento social, a promo-
ção do bem comum ea construção de uma sociedade igualitária, justa e solidária. O Es-
tado está comprometido com esses fins, deles não podendo se afastar. A dignidade hu-
mana pretendida somente será conquistada, na medida em que o Estado coloque à dispo-
sição do ser humano, instrumentos assecuratórios eficazes. Nas dobras dos princípios fun-
damentais e basilares acima comentados é que se revela a necessidade de se dar ao cida-
dão brasileiro condições mínimas de existência, isto é, supri-lo de bens materiais que aten-
dam às suas necessidades básicas e que lhe permitam assegurar a vida, a saúde, o bem-
estar, a dignidade e a liberdade. Dar condições mínimas de existência consiste, outros-
sim, em não tributar os valores recebidos e utilizados na consecução desse objetivo. O
mínimo vital, portanto, é insuscetível de tributação. (...) Constata-se, pois, que o Texto
Magno protege o mínimo existencial em várias situações, impedindo que sobre ele recaia
ônus tributário. A Constituição Federal, portanto, apresenta regras expressas de imunidade
tributária em relação ao mínimo vital para a sobrevivência do homem, regras estas que
estabelecem a incompetência das pessoas políticas para editarem comandos instituidores
de exações tributárias. A não-tributação do mínimo existencial, no que se refere ao im-
posto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, decorre do fato desse mínimo não
representar um acréscimo de elementos patrimoniais. Usando outras palavras, os rendi-
mentos recebidos a título de mínimo vital não acarretam qualquer espécie de mutação
patrimonial que acresça um conjunto de direitos reais e pessoais pré existente. Não se
materializa qualquer espécie de fato patrimonial modificativo aumentativo, como utiliza
a linguagem contábil para se referir ao conceito de “renda e proventos de qualquer natu-
reza”. (...) Caso o Estado tributasse o mínimo existencial, isto representaria um verdadei-
ro paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que se retiraria dinheiro do cidadão por força da
norma tributária, necessitar-se-ia repor valor equivalente, com o intuito de fazer valer os
princípios constitucionais expressos, como o direito à vida, à liberdade, à segurança etc.
(...) Portanto, o mínimo existencial ou vital não constitui sequer “renda” e “proventos de
qualquer natureza”, já que não acresce em nada o patrimônio das pessoas. Trata-se de
mutação de elementos patrimoniais que apenas possibilitam a manutenção da vida. Logo,
não há se cogitar em capacidade contributiva. O que há no caso do mínimo existencial é
o contrário, isto é, não-capacidade econômica. A imunidade tributária do imposto sobre
a renda e proventos de qualquer natureza sobre o mínimo vital, decorre da circunstância
de não ocorrer in concreto o fato da vida descrito na norma legal in abstracto.”
LEanDRO MARINS DE SOUZA 163
*6 Constituição Federal de 1988 - “Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I-a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o ampa-
ro às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de tra-
balho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promo-
ção de sua integração ao mercado de trabalho; V - a garantia de um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não pos-
suir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme
dispuser na lei.”
37 FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira, vol. 7, São Paulo : Saraiva,
1995, p. 46.
38 “As informações do Exmo. Sr. Presidente da República levantam a questão preliminar de
que, em face da atual Constituição, o disposto no artigo 195, $ 7º, só se aplica às entida-
des beneficentes de assistência social, e, portanto, às entidades beneficentes que tenham
por objetivo qualquer daqueles enumerados pelo artigo 203, que consta da Seção IV ('Da
assistência social”) do Capítulo II (“Da Seguridade Social”) do Título VIII (“Da ordem
social”), tais como “creches comunitárias, abrigos para idosos e portadores de deficiên-
cia, entidades voltadas para assistência a mães solteiras carentes, para recuperação de
adolescentes drogados, as APAES, Pestalozzis, abrigo para portadores de HIV”, não abar-
cando as entidades beneficentes de saúde e de educação, porque a saúde é tratada em outra
seção - a II - desse Capítulo em que se insere a Seção IV relativa à assistência social, e a
educação o é na Seção I de outro capítulo (o III, “Da Educação, da Cultura e do Despor-
to”) que não o referente à Seguridade Social não podendo, pois, ser consideradas como
166 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
entidades de assistência social. E, assim sendo, elas não gozariam da imunidade prevista
no referido 8 7º do artigo 195 da Carta Magna, mas apenas de isenção concedida pelo
artigo 55, da Lei 8.212/91, isenção que, por ser legal, pode ser alterada como o foi pelas
modificações e acréscimos decorrentes dos dispositivos da Lei 9.732/99 (sic) ora impug-
nados.” (Trecho do voto proferido pelo Ministro Relator Moreira Alves em decisão limi-
nar proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.036 pelo Tribunal Pleno do
Supremo Tribunal Federal, em 11 de novembro de 1999)
LEANDRO MARINS DE SOUZA 167
382 A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o requisito da generalidade tem pas-
sado por profundas alterações recentemente. Não obstante inicialmente só admitir a imu-
nidade tributária às instituições abertas ao público em geral (RE nº 52.461, 02/09/1968;
RE nº 63.411, 20/06/1973), posteriormente alargou sua interpretação para abarcar as en-
tidades que se destinassem a círculo limitado de associados (RE nº 70.834, 25/10/1971;
RE nº 74.792, 15/03/1973; RE nº 89.012, 14/04/1978; RE nº 108.796, 30/06/1986; AgRgAg
nº 120.744, 17/11/1987; RE nº 115.970, 19/04/1988; RE nº 116.631, 23/09/1988; RE nº
136.332, 25/06/1993). E novamente, em precedente que afasta a imunidade tributária em
comento das entidades fechadas de previdência privada, volta a exigir, em abrupta mu-
dança de entendimento, o critério da generalidade, em acórdão assim ementado: “Recur-
so extraordinário. Constitucional. Previdência privada. Imunidade tributária. Inexistên-
cia. 1. Entidade fechada de previdência privada. Concessão de benefícios aos filiados
mediante recolhimento das contribuições pactuadas. Imunidade tributária. Inexistência,
dada a ausência das características de universalidade e generalidade da prestação, próprias
dos órgãos de assistência social. 2. As instituições de assistência social, que trazem ínsi-
to em suas finalidades a observância ao princípio da universalidade, da generalidade e
concede benefícios a toda coletividade, independentemente de contraprestação, não se
confundem e não podem ser comparadas com as entidades fechadas de previdência pri-
vada que, em decorrência da relação contratual firmada, apenas contempla uma catego-
ria específica, ficando o gozo dos benefícios previstos em seu estatuto social dependente
do recolhimento das contribuições avençadas, conditio sine qua non para a respectiva
integração no sistema. Recurso extraordinário conhecido e provido.” (Supremo Tribunal
Federal, Recurso Extraordinário nº 202.700/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Maurício Cor-
rêa, julgamento em 08/11/2001, DJ de 01/03/2002) Esta última mudança de entendimento
ocorre de forma injustificada pelo Supremo Tribunal Federal, que simplesmente ignora
as decisões anteriores para passar a entender neste sentido.
383 Vide a este respeito FERREIRA, Odim B. A imunidade tributária das entidades de previ-
dência fechada, in Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, nº 11, abril-ju-
nho de 1995, pp. 147-150.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 169
384 SOUZA, Leandro Marins de. Op. cit. p. 76. Também neste sentido, veja-se: BARRETO,
Aires F. e BARRETO, Paulo Ayres. Imunidades tributárias: limitações constitucionais
ao poder de tributar, São Paulo : Dialética, 2001, p. 17. Ainda a respeito do conceito de
sem fins lucrativos, Diva Malerbi (Imunidade tributária, in Imunidades tributárias, coord.
Ives Gandra da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, p. 73) entende que “quanto à ausên-
cia de fins lucrativos, o que se exige é a não distribuição de seu patrimônio ou de suas
rendas, bem assim o seu investimento na própria entidade, dos resultados obtidos” e Fran-
cisco de Assis Alves (Imunidade tributária, in Imunidades tributárias, coord. Ives Gan-
dra da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, pp. 293-294) assevera com percuciência que
“a exigência de a entidade não ter fins lucrativos para usufruir da imunidade tributária não
significa que ela, entidade, deva prestar seus serviços gratuitamente. Se assim fosse, as
instituições privadas de educação, pelo fato de cobrarem mensalidades de seus alunos, não
estariam abrangidas pela imunidade”
170 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
386 «Não ter fins lucrativos não significa, de modo nenhum, ter receitas limitadas aos custos
operacionais. Elas na verdade podem e devem ter sobras financeiras, até para que possam
progredir, modernizando e ampliando suas instalações. O que não podem é distribuir lu-
cros. São obrigadas a aplicar todas as suas disponibilidades na manutenção dos seus ob-
jetivos institucionais.” (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, 18º ed.,
São Paulo : Malheiros, 2000, pp. 226-227)
387 BARRETO, Aires F. e BARRETO, Paulo Ayres. Op. cit. 17. Também éeste o entendi-
mento de Sacha Calmon Navarro Coêlho (op. cit., p. 373): “É admissível poder a insti-
tuição cobrar pelos serviços que presta, desnecessária a “gratuidade”, desde que reaplique
no munus institucional o que arrecadou ou lucrou (animus lucrandi sem animus distribuen-
di).” Hugo de Brito Machado (Imunidade tributária, in Imunidades tributárias, coord. Ives
Gandra da Silva Martins, São Paulo : RT : CEU, 1998, pp. 88-89) assevera: “Instituição
sem fins lucrativos é aquela que não se presta como instrumento de lucro para seus insti-
tuidores ou dirigentes. A instituição pode, e deve, lucrar. Lucrar para aumentar seu patri-
mônio e assim prestar serviços cada vez a maior número de pessoas, e cada vez de me-
lhor qualidade. O que não pode é distribuir lucros. Tem de investir os que obtiver, na
execução de seus objetivos.” Regina Helena Costa (Imunidades tributárias: teoria e aná-
lise da jurisprudência do STF, São Paulo : Malheiros, 2001, p. 181) assim se manifesta:
172 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“Não é a ausência de lucro que caracteriza uma entidade sem fins lucrativos, posto que o
lucro é relevante e mesmo necessário para que a mesma possa continuar desenvolvendo
suas atividades. O que está vedado é a utilização da entidade como instrumento de aufe-
rimento de lucro por seus dirigentes, já que esse intento é buscado por outro tipo de enti-
dade - qual seja, a empresa. A qualificação de uma entidade como sendo “sem fins lucra-
tivos” exige o atendimento de dois únicos pressupostos: a não-distribuição dos lucros
auferidos (ou superavits) e a não-reversão do patrimônio da mesma às pessoas que a cria-
ram, com a aplicação dos resultados econômicos positivos obtidos na própria entidade.
Em conseqiiência, a não-gratuidade dos serviços prestados por uma entidade e a remune-
ração de seus dirigentes e administradores, bem como de seus empregados, não afastam,
por si sós, a exigida ausência de finalidade lucrativa.”
388 Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 93.463-RJ, Segunda Turma, Rel.
Min. Cordeiro Guerra, julgamento em 16/04/1982, DJ de 14/05/1982. No mesmo senti-
do o julgamento proferido no Recurso Extraordinário nº 70.834/RS, Segunda Turma,
Rel. Min. Adalicio Nogueira, julgamento em 25/10/1971, DJ de 21/12/71. Antes mesmo
destes dois julgados, ainda sob vigência da Constituição de 1946, o Ministro Evandro Lins
e Silva relatou acórdão neste sentido: “O fato de não haver gratuidade de todos os alu-
nos, ou de grande número de alunos, nos diversos cursos do estabelecimento, não exclui
a imunidade tributária. Esse o fundamento da decisão recorrida, isto é, a finalidade lucra-
tiva estaria no fato de ser mínimo o número de alunos matriculados nos diversos grupos,
gratuitamente. Tal argumento é insustentável, em face da letra e do espírito da Constitui-
ção. (...) Outrotanto não procede o argumento de que a expressão “instituição de educa-
ção” esteja empregada no texto constitucional no sentido de prestação de serviços, sem-
pre gratuito, sem auferição de quaisquer rendas para a sua manutenção. A instituição pode
ter rendas e cobrar serviços. A condição para a imunidade tributária é que essas rendas
ou o recebimento da prestação de serviços sejam aplicadas integralmente no país, para as
respectivas finalidades. Se a lei fala em aplicação de rendas no país é porque admite a exis-
LEANDRO MARINS DE SOUZA 173
39º Novamente os ensinamentos de Aires F. Barreto e Paulo Ayres Barreto são trazidos à
colação (op. cit. p. 40): “É amplo, pois, o sentido da cláusula “rendas relacionadas com
as atividades essenciais”. Desde que lícitas, pouco importa de onde provenham as rendas
das instituições. Não é a fonte emanadora das rendas que está em questão. O que o texto
constitucional exige é aplicação nos objetivos institucionais. A cláusula volta-se, destar-
te, para os fins em que aplicadas as rendas e não para suas origens.”
39! Como bem observa Luciano Amaro (Algumas questões sobre a imunidade tributária, in
Imunidades tributárias, coord. Ives Gandra da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, p.
151), “a norma constitucional - quando se refere às “rendas relacionadas às finalidades
essenciais” da entidade - atém-se, como adiantamos, à destinação das rendas da entida-
de, e não à natureza destas. Qualquer que seja a natureza da renda auferida, se esta tiver
destino alheio à finalidade assistencial da instituição, a imunidade não opera. Do mesmo
modo, independentemente da natureza da renda, sendo esta destinada ao atendimento da
finalidade essencial da entidade, a imunidade deve ser reconhecida.”
32 Veja neste mesmo sentido: Diva Malerbi, Imunidade tributária, in Imunidades tributárias,
coord. Ives Gandra da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, p. 76; Sacha Calmon Navar-
ro Coêlho, Imunidades tributárias, in Imunidades tributárias, coord. Ives Gandra da Sil-
va Martins, São Paulo : RT, 1998, p. 235; Celso Ribeiro Bastos, Imunidade tributária, in
Imunidades tributárias, coord. Ives Gandra da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, p. 251;
Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho, Imunidade tributária, in Imunidades tributárias,
coord. Ives Gandra da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, pp. 353-354; Angela Maria
da Motta Pacheco, Imunidade tributária, in Imunidades tributárias, coord. Ives Gandra
da Silva Martins, São Paulo : RT, 1998, p. 397; Moisés Akselrad, Limitações constitucio-
nais ao poder de tributar, in Imunidades tributárias, coord. Ives Gandra da Silva Martins,
São Paulo : RT, 1998, p. 426.
33 “Art. 170. A ordem econômica, fundada da valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justi-
ça social, observados os seguintes princípios: (...) IV - livre concorrência.
(o
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de ativi-
dade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da se-
gurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. (...) $ 4º A
lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à elimi-
nação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.”
LeanDrRO MARINS DE SOUZA 175
“4 José Antonio Del Campo (La fiscalidad de las fundaciones y el mecenazgo, Valencia :
Tirant Lo Blanch, 2000, p. 74) utiliza esta expressão: “Es bien conocido que, histórica-
mente, la exención de impuestos a determinados estamentos sociales, como la nobleza o
el clero, fueron justificados en la retribución de su actividad. Encomendada a las mesna-
das de aquella la defensa del territorio y a éste la salvación de las almas, que se juzgaban
misiones básicas del Estado, la desviacíon de impuestos hacia los pecheros tenía un cier-
to carácter resarcitorio, pues se entendía como un exigencia de justicia conmutativa. Pues
bien. Siguiendo un razonamiento de esencia semejante, las modernas corrientes doctri-
nales justifican la especialidad del régimen tributario de las fundaciones en el valor sus-
titutivo de su actividad respecto de la imposibilidad pública de atender la creciente de-
manda de servicios de interés general.” à
Leandro MARINS DE SOUZA 179
“05 «Convém lembrar que no caso de fusão, incorporação, cisão ou encerramento das ativi-
dades da entidade assistencial ou educacional sem fins lucrativos, o patrimônio desta de-
verá ser destinado a outra instituição que atenda às condições de gozo da imunidade ou
ao próprio poder público. Tal dispositivo deve ser entendido como desdobramento da
previsão contida no art. 14, I, do Código Tributário Nacional, que veda a distribuição de
qualquer parcela do patrimônio ou das rendas da entidade imune. Com efeito, fosse pos-
sível, sem perda da imunidade, destinar o patrimônio a quaisquer pessoas ou entidades,
frustrado estaria o dispositivo que veda a distribuição de lucros ou do patrimônio. Assim,
o propósito da exigência de que nos Estatutos conste o patrimônio venha a ser destinado
à outra entidade congênere ou ao Poder Público - na hipótese de extinção da entidade -
está em evitar que o acúmulo de patrimônio, ao longo do tempo, fruto do não pagamento
de impostos (e, eventualmente, da contribuição para a seguridade social, no caso de enti-
dades filantrópicas), possa beneficiar seus instituidores. Isso equivaleria a distribuir o
patrimônio e seus resultados, o que é vedado pelo inciso 1 do art. 14 do CTN” (BARRETO,
Aires F. e BARRETO, Paulo Ayres. Op. cit., pp. 78-79)
180 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
08 “Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição, consi-
dera-se imune a instituição de educação ou de assistência social que preste os serviços para
os quais houver sido instituída e os coloque à disposição da população em geral, em ca-
ráter complementar às atividades do Estado, sem fins lucrativos. 8 1º Não estão abrangi-
dos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital auferidos em aplicações financei-
ras de renda fixa ou de renda variável. $ 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a
que se refere este artigo, estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos: a) não remu-
nerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados; b) aplicar integralmen-
te seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos seus objetivos sociais; c) manter
escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades
que assegurem a respectiva exatidão; d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco
anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas re-
ceitas e a efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer outros atos
ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial; e) apresentar, anualmen-
te, Declaração de Rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da Secretaria
da Receita Federal; f) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou
creditados e a contribuição para a seguridade social relativa aos empregados, bem assim
cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes; g) assegurar a destinação de seu patri-
mônio a outra instituição que atenda às condições para gozo da imunidade, no caso de
incorporação, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a órgão público; h)
outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o funcionamento das
entidades a que se refere este artigo. $ 3º Considera-se entidade sem fins lucrativos a que
não apresente superávit em suas contas ou, caso o apresente em detêrminado exercício,
destine referido resultado, integralmente, à manutenção e ao desenvolvimento dos seus ob-
jetivos sociais.” (Redação dada pelo art. 10 da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998)
LeanDRO MARINS DE SOUZA 183
411 «8 7º Não estão abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital auferidos
em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável.”
Leandro MARINS DE SOUZA 185
preenchido pela lei ordinária, como o fez a Lei nº 9.532/97, flagrantemente in-
constitucional.
No $ 2º do artigo 12, a Lei nº 9.532/97 passa a estabelecer, por sua conta,
requisitos adicionais a serem observados pelas instituições de educação e de
assistência social para a fruição da imunidade tributária. Alguns destes requisi-
tos são inócuos, por serem simples reprise do quanto disposto na Constituição
Federal e no Código Tributário Nacional; outros inconstitucionais, por desbor-
darem sua competência regulamentar; e outros ainda válidos, por apresentarem
simples deveres instrumentais, sem afronta alguma à Constituição e ao CTN.
Assim foi editado o artigo 12, 8 2º em comento:
“8 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este arti-
go estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:
a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços pres-
tados;
b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimen-
to dos seus objetivos sociais;
c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros re-
vestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;
d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data
da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e
a efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer ou-
tros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial;
e) apresentar, anualmente, declaração de rendimentos, em conformida-
de com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal;
f) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou cre-
ditados e a contribuição para a seguridade social relativa aos emprega-
dos, bem assim cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes;
£g) assegurar a destinação de seu patrimônio a outra instituição que aten-
da às condições para o gozo da imunidade, no caso de incorporação, fu-
são, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a órgão público;
h) outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o
funcionamento das entidades a que se refere este artigo.”
De fácil constatação, sem exigir maiores rodeios, que as alíneas “b” e “c”
do citado dispositivo podem ser classificadas como inócuas. Isto porque são mera
repetição, quase literal, do disposto no artigo 14, I e II, do Código Tributário
Nacional.
O dispositivo previsto na alínea “g”, por sua vez, pode gerar controvérsias.
Isto porque não há previsão constitucional ou complementar expressa no senti-
do de que as instituições devem assegurar a destinação de seu patrimônio a
outra instituição que atenda às condições para o gozo da imunidade, no caso
de incorporação, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a ór-
gão público. No entanto, no nosso entender esta alínea institui dever instrumental
a ser observado pelas instituições, que serve como forma de dar efetividade ao
próprio desejo constitucional de instituição da imunidade tributária. Não faria
186 TaiBuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Por fim tem-se a alínea “a” do $ 2º, que incita a entidade a “não remune-
rar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados”. Como bem
observa José Eduardo Soares de Melo,
“além desta vedação não encontrar correspondência em nenhum requi-
sito do CTN, é imperioso convir que o pagamento a diretor, ou qualquer
espécie de gerente das instituições imunes, não representa nenhuma vio-
lação aos preceitos básicos da imunidade, especialmente porque não ti-
pifica distribuição disfarçada de lucros”*!*
Para pôr pá de cal na polêmica, invocamos os ensinamentos sempre preci-
sos de Misabel Derzi, para quem:
“Incompreensível a exigência da inexistência de remuneração de dirigen-
tes e administradores das entidades imunes. Remuneração de serviços
prestados não configura distribuição de lucros ou participação nos resul-
tados ou no patrimônio. A diferenciação é elementar. Injustificável fren-
te à Constituição confundir inexistência de fins lucrativos - característi-
ca presente no art. 150, VI, “c' - com pagamento de remuneração a diri-
gentes das pessoas imunes. A fraude acaso existente não se combaterá
dessa maneira. Outros artifícios remuneratórios poderão ser criados, sob
outros títulos.”
Recaem, portanto, sobre o disposto na alínea “a”, do artigo 12, $ 2º, da Lei
nº 9.532/97, ilegalidade e inconstitucionalidade, por td em lei complemen-
tar e na Constituição Federal o requisito incluído por este dispositivo. Não exis-
tindo, está a lei ordinária inovando a ordem jurídica regente da imunidade tribu-
tária em comento, donde se extrai o quanto exposto.
Frise-se que a remuneração de dirigentes pelos serviços prestados não é e
nem poderia ser requisito para a fruição da imunidade. Não se pode esperar, so-
bretudo em tempos de profissionalização do Terceiro Setor, que dirigentes pres-
tem serviços graciosamente.
O dirigente, como o próprio preceito inconstitucional esclarece, presta ser-
viços à entidade, sendo estranho admitir a não-remuneração por esta prestação
de serviços. Volte-se ao requisito do Código Tributário Nacional, que estabele-
ce que as instituições não podem distribuir parcela de suas rendas ou de seu
patrimônio, a qualquer título.
Somente interpretação desviada concluiria pelo enquadramento da remu-
neração de dirigentes pelos serviços prestados na idéia de distribuição de lucros.
É simples contraprestação aos serviços prestados, como o fazem não só os diri-
gentes como todos os outros empregados da entidade.
“4 MELO, José Eduardo Soares de. A imunidade das instituições de educação e de assistên-
cia social ao imposto de renda: Lei federal nº 9.532/97, in Imposto de renda - alterações
fundamentais, 2º vol., coord. Valdir de Oliveira Rocha, São Paulo : Dialética, 1998, p.
ga
“15 DERZI, Misabel Abreu Machado. A imunidade dasinstituições de educação ou de assis-
tência social, in Imposto de renda - alterações fundamentais, 2º vol., coord. Valdir de
Oliveira Rocha, São Paulo : Dialética, 1998, pp. 176-177.
Leandro MARINS DE SOUZA 189
“16 José Eduardo Soares de Melo (A imunidade das instituições de educação e de assistência
social ao imposto de renda: Lei federal nº 9.532/97, in Imposto de renda - alterações fun-
damentais, 2º vol., coord. Valdir de Oliveira Rocha, São Paulo : Dialética, 1998, p. 92)
comenta este dispositivo: “Estranho o conceito acima formulado, uma vez que a existên-
cia de superavit, por si só, não significa que a entidade tenha fins lucrativos, pela singela
razão de que tal situação econômica é própria de qualquer tipo de atividade, ao buscar
resultado positivo, pois não é crível admitir-se a intenção em sentido oposto (almejar re-
sultado negativo, prejuízos, situações deficitárias). Sob esse aspecto, também injurídica
a destinação do superávit (utilização no ativo imobilizado), não só porque cria obrigação
não prevista no CTN, mas também pela circunstância de que o administrador pode reali-
zar diferente tipo de aplicação, desde que esteja vinculada à manutenção dos seus objeti-
vos.”
190 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
426 “Art. 3º Não estão abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital, aufe-
ridos pelas instituições de educação, em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda
variável, os quais serão tributados segundo as normas da legislação vigente.
Parágrafo único. Os rendimentos e ganhos líquidos decorrentes de aplicações financeiras
de renda fixa ou de renda variável serão tributados segundo as mesmas normas aplicáveis
às demais pessoas jurídicas.”
“27 “Art. 4º Para gozo da imunidade, as instituições imunes de que trata o art. 1º não podem
remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados.
8 1º Para efeito do disposto neste artigo, entende-se como dirigente a pessoa física que
exerça função ou cargo de direção da pessoa jurídica, com competência para adquirir di-
reitos e assumir obrigações em nome desta, interna ou externamente, ainda que em con-
junto com outra pessoa, nos atos em que a instituição seja parte.
& 2º Não se considera dirigente a pessoa física que exerça função ou cargo de gerência
ou de chefia interna na pessoa jurídica.
8 3º A instituição que atribuir remuneração, a qualquer título, a seus dirigentes, por qual-
quer espécie de serviços prestados, inclusive quando não relacionados com a função ou
o cargo de direção, infringe o disposto no caput, sujeitando-se à suspensão do gozo da
imunidade.
$ 4º Às pessoas a que se refere o 8 2º podem ser atribuídas remunerações, tanto em rela-
ção à função ou cargo de gerência, quanto a outros serviços prestados à instituição.”
“8 Artigos 14 a 16 da Instrução Normativa nº 113/98.
196 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
instituição. Clélio Chiesa bem observa que “se um dirigente ministra aulas na
instituição, não pode receber por elas, o que soa como um absurdo”.
“2 “O patrimônio representado por capital é imune. Também não há como não sê-lo o re-
presentado por imóveis. Se estes devem ser adquiridos como antecipação a seu uso - não
devendo ficar ociosos - é óbvio que se impõe sejam explorados lucrativamente (como
estacionamentos, por exemplo). Se é a melhor forma de incrementar rendas que, afinal,
serão aplicadas, no País - em fins filantrópicos e de assistência social - qualquer visão
restritiva é incoerente, porque só neste caso exclui a imunidade. Há inegável afronta ao
desígnio constitucional caso o Município tribute o patrimônio e os serviços, assim como
se a União vier a tributar as rendas de qualquer espécie ou natureza, bastando estejam tais
rendas destinadas ao suporte das finalidades dessas entidades.” (BARRETO, Aires Fer-
nandino. Imunidades tributárias: só podem prevalecer interpretações que prestigiem os
princípios constitucionais, in Imunidades tributárias, coord. Ives Gandra da Silva Mar-
tins, São Paulo : RT : Centro de Extensão Universitária, 1998, pp. 155-182)
LeanDRO MARINS DE SOUZA 203
aplicação de recursos não significa atuação fora do que previsto no ato de sua
constituição”.“8
Passada esta preliminar, não há dúvida de que os impostos acima referidos
atingem - ou, melhor dizendo, atingiriam - diretamente a renda das instituições
de educação e de assistência social, incluindo-se no conceito de impostos inci-
dentes sobre a renda de instituições de educação e de assistência social e, por-
tanto, estando afastados pelo manto imunizante.
A Lei nº 9.532/97 pretendeu, como visto, limitar a abrangência da imuni-
dade tributária para afastá-la dos rendimentos de capital auferidos em aplicações
financeiras de renda fixa ou de renda variável. No entanto, a cisão no conceito
de renda abarcada pela imunidade, pretendida pela legislação ordinária, já foi
afastada liminarmente por decisão do Supremo Tribunal Federal proferida na
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.802-3.
Também assim pretende a legislação regente do Imposto sobre Operações
Financeiras. Sabe-se que este imposto incide em várias hipóteses, a saber: a)
operações de crédito; b) operações de câmbio; c) operações de seguro; d) ope-
rações relativas a títulos e valores mobiliários; e) aquisição originária de ouro.
Especificamente quando trata da hipótese de incidência sobre as operações
relativas a títulos e valores mobiliários, o Decreto nº 4.494, de 3 de dezembro
de 2002, repetindo a redação de seu antecessor Decreto nº 2.219, de 2 de maio
de 1997, emseu artigo 25, 8 2º, inclui expressamente as instituições de educa-
ção e de assistência social, como se assim lhe fosse permitido. Assim prescreve
o diploma em comento:
“Art. 25. O fato gerador do IOF é a aquisição, cessão resgate, repactua-
ção ou pagamento para liquidação de títulos e valores mobiliários.
(es)
rem que juridicamente o contribuinte de fato não deve ser levado em considera-
ção. Entendem que o repasse de referidos impostos ao contribuinte de fato é
condição meramente econômica, que se limita à relação particular entre o con-
tribuinte de fato e o contribuinte de direito, não fazendo efeitos para fins de apli-
cação das normas tributárias. Seria tão-somente a ocorrência do fenômeno da
repercussão financeira, irrelevante juridicamente.
No entanto, a generalização desta afirmação, em nosso sentir, não leva em
consideração a característica de determinados impostos, como o são o ICMS e
o IPI. Dizer que em todos os casos a repercussão é simplesmente financeira é
generalizar a alegação de modo a abarcar situações distintas.
Uma coisa é o imposto vir agregado ao preço do produto como seu custo,
sem nenhuma relação com a necessidade de repasse deste tributo. É o caso, por
exemplo, do industrial que embute em seu custo de produção o IPTU incidente
sobre seu estabelecimento. Nestes casos, o que ocorre é exatamente a repercus-
são financeira do tributo, agregando-se ao preço do produto de acordo com o que
a margem de mercado permite ao comerciante ou ao produtor. E neste preço
poderão estar - e estão normalmente, pois o preço nada mais é do que o custo de
produção do produto mais a margem de lucro, mais valia da produção - todas as
despesas administrativas (empregados, energia elétrica, telefone, etc.) e custos
tributários (IPTU, IPVA, outras contribuições, etc.).
No entanto, há outras hipóteses em que os impostos repercutem no consu-
midor final não somente por força das leis de mercado e da composição do pre-
ço pelo produtor, mas pela sistemática de incidência dos próprios impostos. Há,
nestes casos, evidente repercussão jurídica a reboque da repercussão financei-
ra. A repercussão jurídica advém, nos casos do ICMS edo IPI, do próprio prin-
cípio da não-cumulatividade e pelo fato de serem tributos que seguem os bens
sobre os quais recaem.
Por força destas suas características, obrigação acessória inafastável - ao
menos deveria ser - quando da comercialização de produtos sobre os quais inci-
de ICMS e/ou IPI é a emissão, por parte do comerciante/produtor, de nota fiscal
de saída destes produtos, na qual deve constar o valor dos impostos incidentes
sobre aquela operação de forma destacada. Em casos que tais, não há que se fa-
lar em mera repercussão financeira, pois o contribuinte de fato estará arcando,
mesmo que pagando ambos para o contribuinte de direito, com duas espécies de
valores incluídos no valor total da operação: o preço do produto - que aliás virá
gravado inclusive de tributos - e os “impostos indiretos” sobre ele incidentes. Não
é mero repasse do custo tributário incidente sobre o preço do produto para O
consumidor final.
Se assim fosse, o valor de referidos impostos para o consumidor final não
poderia variar a depender do maior ou menor preço do produto; o custo tributá-
rio só é variável porque não se trata de custo formador do preço do produto, mas
efetivamente de repasse do ônus tributário ao consumidor final, na forma de
destaque dos impostos na nota fiscal de saída dos produtos.
210 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
+53 “Se tem o contribuinte de fato o poder de delegar a outrem o exercício do direito à restitui-
ção, porque não poderia exercê-lo em seu próprio nome e diretamente? Afinal, quem pode
o mais, pode o menos.” (MATTOS, Aroldo Gomes de. Repetição do indébito, compensa-
ção e ação declaratória, in Repetição do indébito e compensação no direito tributário, coord.
Hugo de Brito Machado, São Paulo : Dialética, Fortaleza : ICET, 1999, p. 52)
** MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito e RAMOS, Paulo de Tarso Vieira. Repetição do
indébito tributário e compensação, in Repetição do indébito e compensação no direito
tributário, coord. Hugo de Brito Machado, São Paulo : Dialética, Fortaleza : ICET, 1999,
p. 148.
455
Código Tributário Nacional - “Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente
do prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do
seu pagamento, ressalvado o disposto no 8 4º do art. 162, nos seguintes casos: 1 - cobran-
ça ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da le-
gislação tributária aplicável.”
LeanDRO MARINS DE SOUZA 2111
cal. 1) Indevido o tributo, em razão da imunidade constitucional (CF 1946, art. 31, V, “a”).
A) Precedentes: RMS 6.669, RMS 17.380, RMS 16.627, Port. 34/66 do Pres. do STF e
Res. 8.162, de 22.6.67, do TSE.” (Supremo Tribunal Federal, Recurso em Mandado de
Segurança nº 19.000/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Victor Nunes, julgamento em 17/06/1968,
DJ de 06/09/1968) “Sendo o imposto de consumo eminentemente indireto, que recai, afi-
nal, sobre o comprador, contribuinte de fato, não passa o produtor, contribuinte de direi-
to, de mero agente arrecadador do tributo, para atender-se, tão-somente, ao mecanismo
de sua arrecadação.” (Supremo Tribunal Federal, Recurso em Mandado de Segurança nº
16.627/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, julgamento em 24/10/1967, DJ
de 01/12/1967)
> aw
Ressalte-se que alguns dos precedentes que dão origem à Súmula nº 591 não entendem
dessa forma. Aliás, sequer se manifestam a este respeito. Somente afastam a pretensão de
se atribuir imunidade ao contribuinte de direito, por extensão da imunidade do contribuinte
de fato: “1. Imunidade tributária recíproca. Não é extensível às pessoas naturais e as pes-
soas jurídico-privadas que vendam bens ou mercadorias as entidades públicas, mesmo que
o imposto seja transferido a estas últimas. 2. Orientação jurisprudencial da Corte. 3. Em-
bargos de divergência recebidos” (Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº
69.080/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Antonio Neder, julgamento em 19/02/1976, DJ de
26/03/1976); “Imposto de consumo. Mercadorias vendidas a compradores com imunida-
de ou isenção fiscal. Tributação. Devido pelo produtor e por seu recolhimento responsá-
vel, antes que a mercadoria saia do estabelecimento, dele se não liberta, ainda que imune
ou isento o comprador.” (Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 67.625/SP,
Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Thompson Flores, julgamento em 09/09/1970)
464
E continua: “A questão a saber é se a imunidade em apreço - idêntica, aliás, à imunidade
recíproca dos entes públicos, C.F., art. 150, VI, “a” - abrangeria todos os impostos, ou seria
restrita àqueles que, no CTN, são classificados como impostos sobre o patrimônio e a ren-
da CTN, Título III, Capítulo III - Impostos sobre o patrimônio e a renda: art. 29 - ITR,
art. 32, IPTU, art. 35, Imposto s/a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relati-
vos, art. 43, Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, e o imposto sobre
serviços: CTN, arts. 68 a 73. Como o ICMS, tal qual o IPI e o IOF, são classificados, no
CTN, como impostos sobre a produção e a circulação (CTN, Título III, Capítulo IV, arts.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 215
46 e segs.), costuma-se afirmar que não estão eles abrangidos pela imunidade do art. 150,
VI, “c”, da Constituição. A objeção, entretanto, não é procedente. É que tudo reside no
perquirir se o bem adquirido, no comércio interno ou externo, é do patrimônio da entida-
de coberta pela imunidade. Se isto ocorrer, a imunidade tributária tem aplicação, às in-
teiras.” (Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 203.755/ES, Segunda Tur-
ma, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 17/09/1996, DJ de 08/11/1996) Exatamente
no mesmo sentido: RE nº 193.969/SP, DJ de 06/12/1996; RE nº 186.175/SP, DJ de 13/12/1996;
RE nº 225.671/SP, DJ de 02/06/1998; RE nº 210.251/SP, DJ de 05/02/1999; AI nº 389.118/SP,
DJ de 24/09/2002; AGRGRE nº 237.497/SP, DJ de 18/10/2002.
46. a “O tributo examinado (ICMS) é de natureza indireta. Apresenta-se com essa característi-
ca porque o contribuinte real é o consumidor da mercadoria objeto da operação (contri-
buinte de fato) e a empresa (contribuinte de direito) repassa, no preço da mercadoria, o
imposto devido, recolhendo, após, aos cofres públicos o imposto já pago pelo consumi-
dor de seus produtos. Não assume, portanto, a carga tributária resultante dessa incidên-
cia.” (Superior Tribunal de Justiça, Primeira Turma, Ag. Reg. nº 327.245/SP, Rel. Min.
José Delgado, julgamento em 11/09/2001, DJ de 22/10/2001); “Tributário - Repercussão
- Contribuinte de fato - Restituição - Legitimidade - CTN art. 166. O contribuinte de fato
está legitimado para reclamar a devolução do tributo indevidamente recolhido pelo con-
tribuinte de direito. Assim dispõe, a contrário senso, o art. 166 do CTN.” (Superior Tri-
bunal de Justiça, Primeira Turma, REsp nº 276.469/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, julgamento em 14/08/2001, DJ de 01/10/2001); “Tendo o encargo financeiro do
tributo sido transferido ao contribuinte de fato, só este ou quem por este esteja autoriza-
do, terá legitimidade para pleitear a restituição. Sendo o ICMS tributo indireto, há a pre-
sunção de transferência do ônus tributário ao contribuinte de fato e a prova da não trans-
ferência envolve matéria fática, insuscetível de análise na via Especial (Súmula nº 07 do
STJ).” (Superior Tribunal de Justiça, Primeira Turma, REsp nº 218.042/SP, Rel. Min.
Garcia Vieira, julgamento em 17/08/1999, DJ de 27/09/1999)
216 TriBuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
*s* MATTOS, Aroldo Gomes de. Repetição do indébito, compensação e ação declaratória,
in Repetição do indébito e compensação no direito tributário, coord. Hugo de Brito
Machado, São Paulo : Dialética, Fortaleza : ICET, 1999, p. 52.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 217
coord. Hugo de Brito Machado, São Paulo : Dialética, Fortaleza : ICET, 1999, pp. 174 e
176; MORAES, Bernardo Ribeiro de. Compêndio de direito tributário, vol. II, 3º ed., Rio
de Janeiro : Forense, 1995, pp. 487-491; SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes.
Repetição do indébito tributário e compensação, in Repetição do indébito e compensa-
ção no direito tributário, coord. Hugo de Brito Machado, São Paúlo: Dialética, Fortale-
za : ICET, 1999, p. 283; SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributá-
ria, São Paulo: Resenha Tributária, 1975, p. 122.
Leandro MARINS DE SOUZA 219
484 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Entidades sem fins lucrativos com finalidades cultu-
rais e filantrópicas - imunidade constitucional de impostos e contribuições sociais, in
Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, nº 4, julho-setembro de 1993, p. 82.
Neste mesmo sentido Rodrigo Cesar Caldas de Sá (op. cit. p. 113) assevera que “a hipó-
tese do $ 7º, do artigo 195, portanto, não é de isenção, mas de imunidade tributária. O
Legislador Constituinte definiu os papéis para a promoção da seguridade social: alguns
tomam iniciativa de promovê-la diretamente, como as entidades beneficentes e de assis-
tência social, enquanto outras entidades - elencadas no caput do art. 195 - financiam a se-
guridade. Por esse motivo, as primeira ficam imunes às contribuições dessa natureza.”
Também Paulo de Barros Carvalho (Curso de direito tributário, 12º ed., São Paulo : Sa-
raiva, 1999, p. 189) assevera: “Conquanto o legislador constitucional mencione a pala-
vra “isentas”, há imunidade à contribuição para a seguridade social por parte das entida-
des beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei,
consoante dispõe o art. 195, III (sic), $ 7º” Por fim, James Marins (Fundações privadas e
imunidade tributária, in Revista Dialética de Direito Tributário, nº 28, janeiro de 1998,
p. 23) aponta que “no caso, induvidosamente, dizer-se “são isentas” quer significar “estão
229
acobertadas pela imunidade tributária”.
226 TriButação DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
**8 “Mandado de Injunção. Legitimidade ativa da requerente para impetrar mandado de in-
junção por falta de regulamentação do disposto no $ 7º do artigo 195 da Constituição
Federal. Ocorrência, no caso, em face do disposto no artigo 59 do ADCT, de mora, por
parte do Congresso, na regulamentação daquele preceito constitucional. Mandado de In-
junção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para declarar-se o estado de mora em
que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as
providências legislativas que se impõem para o cumprimento da obrigação de legislar
decorrente do artigo 195, $ 7º, da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem que
essa obrigação se cumpra, passar o requerente a gozar da imunidade requerida.” (Supre-
mo Tribunal Federal, Mandado de Injunção nº 232-1/RJ, Tribunal Pleno, Rel. Min. Mo-
reira Alves, julgamento em 2 de agosto de 1991)
48: o
“Uma entidade que na realidade seja beneficente- e não há qualquer impugnação a essa
condição da impetrante, ou que não fosse ela, na verdade, entidade beneficente- e que
atenda, por exemplo, os requisitos inscritos no Código Tributário Nacional para o gozo
da imunidade relativamente aos impostos (art. 14 do Código Tributário Nacional), tem,
licitamente, a pretensão de gozar daquilo que a Constituição no art. 195 chama de “isen-
ção” e que, concedo, seja, na realidade, uma imunidade.” (Voto proferido pelo Exmo. Min.
Carlos Velloso no julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do Mandado de Injunção
nº 232-1/RJ, antes citado, acompanhado pelos Excelentíssimos Ministros Marco Aurélio
e Célio Borja)
*º COSTA, Regina Helena. Op. cit. p. 273.
*1! Supremo Tribunal Federal, Mandado de Injunção nº 616-4/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min.
Nelson Jobim, julgamento em 17/06/2002, DJ de 25/10/2002.
LeanDrO MARINS DE SOUZA 229
*s BARRETO, Aires F. e BARRETO, Paulo Ayres. Op. cit, pp. 108-109. Regina Helena
Costa (ibidem, p. 184) também ensina neste sentido: “Interessante cotejar, no que respei-
ta às instituições de assistência social, a dicção do art. 150, VI, *c” - hospedeiro da imu-
nidade sob comento - com a do art. 195, 8 7º - continente da imunidade concernente a
contribuições para a seguridade social. No primeiro dispositivo exige-se que a institui-
ção de assistência social não detenha finalidade lucrativa; no segundo impõe-se que a
entidade seja beneficente. Entidade beneficente não possui finalidade lucrativa, mas, além
disso, é aquela que dedica suas atividades, ainda que parcialmente, ao atendimento gra-
tuito dos necessitados.”
LeanDRO MARINS DE SOUZA 233
“99 A análise da Lei nº 8.212/91, no presente capítulo, será feita de modo genérico, haja vis-
ta afastarmos sua legitimidade à regulamentação da imunidade tributária insculpida no
artigo 195, 8 7º da Constituição Federal de 1988. Faremos análise específica e pormeno-
rizada desta lei no capítulo destinado às isenções tributárias, que é a alternativa restante
para se advogar pela legitimidade da Lei nº 8.212/91 nesta seara, conforme será visto.
236 TriBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Congresso Nacional não atendeu aos ditames do regular processo legislativo. Tendo como
origem a Medida Provisória de nº 1.729/98, convertida em lei através do Projeto de Con-
versão de nº 20/98, a proposta original da Lei nº 9.732/98 foi alterada no momento de sua
redação final, como nos dá conta James Marins (Imunidade tributária das instituições de
educação e assistência social, in Grandes questões atuais de direito tributário, coord.
Valdir de Oliveira Rocha, 3º vol., São Paulo : Dialética, 1999, pp. 158 e ss.): “Mediante
a análise da missiva encaminhada pelo Sr. Senador Jader Barbalho, Relator do Projeto de
Conversão nº 20/98, ao Ministro da Previdência e Assistência Social, Sr. Waldeck Orné-
las, datada de 25 de fevereiro de 1999. A transcrição dos debates travados pelos congres-
sistas na sessão de 09.12.98, publicado no Diário do Congresso Nacional em 10.12.98,
às fls. 15.827, evidencia a metamorfose: “O Sr. Osvaldo Biolchi (PTB/RS - Sem revisão
do orador) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Congressistas, agradeço ao Relator a compreen-
são e ao Ministro da Previdência a inclusão de artigo referente às instituições educacio-
nais sem fins lucrativos. É isso o que determina o art. 4º. Entretanto, Sr. Relator, gostaría-
mos que V. Exa. explicasse se o texto do art. 4º estabelece o que acertamos ontem. Por
exemplo, uma escola que deveria recolher 200 mil reais de contribuição à Previdência,
em contrapartida, cede 200 mil reais em filantropia aos alunos, de uma maneira integral
e gratuita. É realmente esse o texto do art. 4º, de extrema importância neste momento? O
Sr. Presidente (Antônio Carlos Magalhães- PFL/BA)- Tem a palavra o Relator para pres-
tar o esclarecimento. Imediatamente após, passaremos ao encaminhamento de votação.
O Sr. Jader Barbalho (PMDB/PA - Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, de forma
muito objetiva, concordo com a interpretação dada pelo Deputado Osvaldo Biolchi de que
este é o teor do art. 4º. Por exemplo, se a entidade educacional, em vagas gratuitas, atin-
gir o montante de 200 mil reais e tiver de pagar à Previdência Social 500 mil reais, na
verdade deverá pagar apenas 300 mil. Este foi o grande avanço no texto da medida pro-
visória, no sentido de abrigar as entidades educacionais. A interpretação de V. Exa., De-
putado Osvaldo Biolchi, é procedente. Portanto, será verificado pela Previdência Social
o valor da contribuição e abatido deste o que for prestado em serviços.” Entretanto, quando
da publicação da referida lei, em 14/12/98, o seu artigo 4º foi alterado, fazendo-se incluir
no texto original a expressão na proporção, desvirtuando integralmente o real escopo dos
legisladores.
so! Dando conta da irregularidade terminológica encontrada na Lei nº 9.732/98, Rodrigo
Cesar Caldas de Sá (op. cit. pp. 113-114) observa que “ao contrário do que preceitua a
própria Constituição e diversamente de todas as disposições normativas infraconstitucio-
nais relativas ao 8 7º, do já mencionado artigo 195, da Constituição Federal, as entidades
beneficentes e de assistência social gozam de imunidade tributária, e não de isenção”.
238 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
502
MARINS, James. Imunidade tributária das instituições de educação e assistência social,
in Grandes questões atuais de direito tributário, coord. Valdir de Oliveira Rocha, 3º vol.,
São Paulo : Dialética, 1999, p. 156.
503
À Lei nº 9.732/98 é objeto de Ações Diretas de Inconstitucionalidade em trâmite perante
o Supremo Tribunal Federal. A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.028-5, proposta
pela Confederação Nacional da Saúde, Hospitais, Estabelecimentos e Serviços e tendo
como relator o Ministro Moreira Alves, pretende a declaração da inconstitucionalidade
dos artigos 1º, 4º, 5º e 7º da Lei nº 9.732/98, não havendo julgamento do mérito até o
momento. Da mesma forma e no mesmo sentido as pretensões da Ação Direta de Incons-
titucionalidade nº 2.036-6, proposta pela Confenen - Confederação Nacional dos Estabe-
lecimentos de Ensino e tendo como relator o Ministro Moreira Alves, pretendendo a in-
constitucionalidade dos artigos 1º, 4º, 5º e 7º da Lei nº 9.732/98, não havendo julgamen-
to do mérito até o momento. Nestas duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade contra
os dispositivos da Lei nº 9.732/98, o despacho liminar exarado teve o mesmo conteúdo,
com a única diferença de que na ADIn nº 2.028-5 a liminar foi deferida, enquanto na ADIn
nº 2.036-6 o julgamento da liminar foi declarado prejudicado justamente pelo deferimento
da liminar na ADIn nº 2.028-5. A decisão proferida nas ADIn's foi a seguinte: “Imunida-
de - Entidades beneficentes - Disciplina - Vício de forma e de fundo - Mitigação do pre-
ceito constitucional regedor da matéria - Liminar deferida sob condição: referendo do Ple-
nário. (...) Assim, tenho como configurada a relevância suficiente a caminhar-se para a
concessão da liminar, no que a inicial desta Ação Direta de Inconstitucionalidade versa
sobre o vício de procedimento, o defeito de forma. A cláusula que remete à disciplina legal
- e, aí, tem-se a conjugação com o disposto no inciso II do artigo 146 da Carta da Repú-
blica, pouco importando que nela própria não se haja consignado a especificidade do ato
normativo - não é idônea a solapar o comando constitucional, sob pena de caminhar-se
LeanDRO MARINS DE SOUZA 239
507 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributário, 3º ed., São Paulo : Lejus,
1998.
242 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
8 2º Nas instituições que não ministrem ensino superior caberão aos pais
dos alunos regularmente matriculados os assentos reservados à represen-
tação discente na comissão de que trata o parágrafo anterior.
$ 3º Nas instituições de ensino em que não houver representação estu-
dantil ou de pais organizada, caberá ao dirigente da instituição proceder
à eleição dos representantes na comissão de que trata o $ 1º.
$ 4º Após a conclusão do processo de seleção, a instituição de ensino de-
verá encaminhar ao MEC e ao INSS arelação de todos os alunos, com
endereço e dados pessoais, que receberam bolsas de estudo.
$ 5º As instituições de ensino substituirão os alunos beneficiados que não
efetivarem suas matrículas no prazo regulamentar, observados os crité-
rios de seleção dispostos neste artigo.”
No entanto, em virtude da equivocada interpretação da letra do art. 195, $ 7º
da Constituição Federal de 1988 (“são isentas de contribuição para a segurida-
de social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigên-
cias estabelecidas em lei”), que verdadeiramente trata de imunidade tributária e
não de isenção - aquela bastante mais ampla que esta -, instituições de ensino
que gozam de imunidade estão sendo compelidas a se adequar às regras estabe-
lecidas pela Lei nº 10.260 e seu Decreto regulamentador.
A inconstitucionalidade da aplicação destas normas às instituições educa-
cionais que se enquadram no regime de imunidade é flagrante. Isto porque os
requisitos para a fruição da imunidade tributária (limitação constitucional ao
poder de tributar) são somente aqueles previstos na Constituição Federal e no
Código Tributário Nacional (Lei Complementar competente para tanto), consoante
dito à exaustão.
E justamente pelo fato de as entidades de educação não estarem obrigadas
ao recolhimento da contribuição do artigo 22 da Lei nº 8.212/91 - conforme re-
missão da nova Lei nº 10.260/2001 -, em virtude de abarcar esta contribuição o
alcance da norma imunizante na qual se enquadram, a exigência prevista relati-
va à destinação da verba equivalente à contribuição, pretendendo atrelá-la es-
pecificamente à concessão de bolsas de estudo, é requisito que, em afronta aos
ditames constitucionais referentes à imunidade tributária, afigura-se inconstitu-
cional.
Não podealei ordinária pretender limitar o que a lei complementar com-
petente - sequer a própria Constituição Federal - não o faz. Esta destinação es-
pecífica prevista na lei ordinária, por não se enquadrar em qualquer dos requisi-
tos constitucionais e infraconstitucionais exaurientes da possibilidade de fruição
da imunidade tributária, extrapassa sua competência e interfere em âmbitos de
competência que não lhes são adstritos, e quando desborda de modo a afrontar
limites constitucionalmente fixados, portanto em afronta à Constituição, deve ser
tida como inconstitucional.
Diante desta inconstitucionalidade flagrante, a Confenen - Confederação
Nacional dos Estabelecimentos de Ensino propôs a Ação Direta de Inconstitu-
cionalidade nº 2.545-7 perante o Supremo Tribunal Federal pretendendo a de-
244 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
9 Deixaremos de analisar as contribuições sociais que têm matriz no artigo 195, inciso Il e
$ 8º, haja vista que as entidades beneficentes de assistência social não se enquadrariam
em suas hipóteses de incidência, não fazendo diferença a imunidade tributária do artigo
195, $ 7º da Constituição Federal no que tange a estas contribuições para a seguridade
social.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 247
Cofins de 2% para 3%, e alargou sua base de cálculo para fazê-la incidir sobre as receitas
ao invés do faturamento. Tem-se discutido no Poder Judiciário a legitimidade destas al-
terações promovidas pela Lei nº 9.718/98, mas por não ser o objeto do presente trabalho
deixaremos de tratar a este respeito. Não foi considerada, neste trabalho, a análise da Lei
nº 10.833/2003, que altera substancialmente o regime de recolhimento da Cofins.
313 «Art. 6º São isentas da contribuição: (...) III - as entidades beneficentes de assistência social
que atendam às exigências estabelecidas em lei.”
51 >
Lei nº 7.689/88: “Art. 1º Fica instituída contribuição social sobre o lucro das pessoas ju-
rídicas, destinada ao financiamento da seguridade social.”
51 tw
Lei nº 7.689/88: “Art. 2º A base de cálculo da contribuição é o valor do resultado do exer-
cício, antes da provisão para o imposto de renda. Art. 3º A alíquota da contribuição é de
oito por cento. Art. 4º São contribuintes as pessoas jurídicas domiciliadas no País e as que
lhes são equiparadas pela legislação tributária”
51 EN
Lei nº 9.249/95: “Art. 19. A partir de 1º de janeiro de 1996, a alíquota da contribuição
social sobre o lucro líquido, de que trata a Lei nº 7.689, de 15 de dezembro de 1988, pas-
sa a ser de oito por cento.”
51 a
A Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, última edição da Medida Pro-
visória nº 1.807/99 e em vigor por força do artigo 2º da Emenda Constitucional nº 32/2001,
estabeleceu a cobrança de adicional da alíquota desta contribuição social em determina-
do período, nos seguintes termos: “Art. 6º A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido -
CSLL, instituída pela Lei nº 7.689, de 15 de dezembro de 1988, será cobrada com o adi-
cional: I - de quatro pontos percentuais, relativamente aos fatos geradores ocorridos de
1º de maio de 1999 a 31 de janeiro de 2000; II - de um ponto percentual, relativamente
aos fatos geradores ocorridos de 1º de fevereiro de 2000 a 31 de dezembro de 2002.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 249
sI8 Decreto nº 3.048/99: “8 2º A contribuição de que trata este artigo constitui-se de: (...) II -
cinco por cento sobre o movimento global de apostas em prado de corridas; e III - cinco
por cento sobre o movimento global de sorteio de números ou de quaisquer modalidades
de símbolos. 8 3º Para o efeito do disposto no parágrafo anterior, entende-se como: (...)
II - movimento global das apostas - total das importâncias relativas às várias modalida-
des de jogos, inclusive o de acumulada, apregoadas para o público no prado de corrida,
subsede ou outra dependência da entidade; e III - movimento global de sorteio de núme-
ros - o total da receita bruta, apurada com a venda de cartelas, cartões ou quaisquer ou-
tras modalidades, para sorteio realizado em qualquer condição.”
250 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
520 Sobre o assunto, já escrevemos o seguinte trabalho: SOUZA, Leandro Marins de e PETRY,
Rodrigo Caramori. As teratológicas “contribuições sociais para o FGTS” criadas pela Lei
Complementar nº 110, de 19 de junho de 2001, in Revista Dialética de Direito Tributá-
rio, nº 77, fevereiro de 2002, pp. 74-86.
a [)
! SOUZA, Leandro Marins de e PETRY, Rodrigo Caramori. Op. cit., p. 83.
a 4 19
Vide GRECO, Marco Aurelio. Contribuições (uma figura “sui generis”), São Paulo :
Dialética, 2000, p. 135.
252 TriBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“23 SOUZA, Leandro Marins de e PETRY, Rodrigo Caramori. Op. cit. pp. 83-86.
“4 Este parecer é claro ao dispor: “Aprovo o Parecer PGFN/CRJ nº 1.983/2001, de 12 de
novembro de 2001, que, ao analisar a Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001,
conclui que as contribuições instituídas por aquela Lei Complementar (arts. 1º e 2º), são
contribuições sociais, destinadas à seguridade social, que têm, assim, natureza tributária.”
Em suas conclusões é enfático em dizer: “Ante o exposto, conclui-se no sentido da cons-
titucionalidade das contribuições sociais criadas pelos arts. 1º e 2º, da Lei Complementar
nº 110/2001, seja formal seja material, na medida em que constituem, inegavelmente, con-
tribuições sociais destinadas à seguridade social.”
525
“Ante o exposto, é lícito concluir que as contribuições instituídas pela Lei Complemen-
tar nº 110/2001, são destinadas ao financiamento da seguridade social, conforme faculta
o inciso III (sic), do $ 4º, do art. 195, da Constituição Federal, que autoriza a instituição
de outras fontes destinadas a manutenção ou expansão da seguridade social, desde que
veiculada, tal como na espécie, por Lei Complementar.” (Trecho extraído do Parecer
PGFN/CRF nº 1.983/2001, de 12 de novembro de 2001)
“Ação direta de inconstitucionalidade. Impugnação de artigos e de expressões contidas
na Lei Complementar federal nº 110, de 29 de junho de 2001. Pedido de liminar. - A na-
tureza jurídica das duas exações criadas pela lei em causa, neste exame sumário, é a de
que são elas tributárias, caracterizando-se como contribuições sociais que se enquadram
na sub-espécie “contribuições sociais gerais que se submetem à regência do artigo 149
da Constituição, e não à do artigo 195 da Carta Magna. - Não-ocorrência de plausibilida-
de jurídica quanto às alegadas ofensas aos artigos 145, $ 1º, 154, E, 157, II, e 167, IV, da
Constituição. - Também não apresentam plausibilidade jurídica suficiente para a conces-
são de medida excepcional como é a liminar as alegações de infringência ao artigo 5º, LIV,
LEANDRO MARINS DE SOUZA 253
da Carta Magna e ao artigo 10, I, de seu ADCT. - Há, porém, plausibilidade jurídica no
tocante à argiição de inconstitucionalidade do artigo 14, “caput”, quanto à expressão “pro-
duzindo efeitos”, e seus incisos I e II da Lei Complementar objeto desta ação direta, sen-
do conveniente, dada a sua relevância, a concessão da liminar nesse ponto. Liminar de-
ferida em parte, para suspender, “ex tunc” e até final julgamento, a expressão “produzin-
do efeitos” do “caput” do artigo 14, bem como seus incisos I e II, todos da Lei Comple-
mentar federal nº 110, de 29 de junho de 2001.” (Supremo Tribunal Federal, Ação Direta
de Inconstitucionalidade nº 2.556/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Joaquim Barbosa, jul-
gamento em 09/10/2002)
527 “Art. 158. A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de ou-
tros que, nos termos da lei, visem à melhoria, de sua condição social: (...) XVII - seguro
obrigatório pelo empregador contra acidentes do trabalho.”
28 “Art. 12. O custeio das prestações por acidente do trabalho, a cargo exclusivo da empre-
sa, será atendido, conforme estabelecer o regulamento, mediante: I - uma contribuição de
0,4% (quatro décimos por cento) ou de 0,8% (oito décimos por cento) da folha de salá-
rios de contribuição, conforme a natureza da atividade da empresa; II - quando for o caso,
uma contribuição adicional incidente sobre a mesma folha e variável, conforme a nature-
za da atividade da empresa. $ 1º A contribuição adicional de que trata o item II será obje-
to de fixação individual para as empresas cuja experiência ou condições de risco assim
aconselharem. $ 2º Na hipótese do art. 10, a contribuição de que trata o item I será de 0,5%
(cinco décimos por cento) ou de 1% (um por cento). $ 3º As contribuições estabelecidas
neste artigo serão pagas juntamente com as contribuições de que tratam os itens 1 e III do
art. 69 da Lei Orgânica da Previdência Social, na redação dada pelo Decreto-lei número 66,
de 21 de novembro de 1966.”
254 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
que através de seu artigo 22, II, regulamentou referida contribuição revogando
as disposições anteriores. Atualmente a Contribuição ao SAT rege-se pelo seguin-
te dispositivo (artigo 22, II da Lei nº 8.212/91 com as alterações posteriores que
lhe foram submetidas):
“Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade So-
cial, além do disposto no art. 23, é de:
(=2)
IH - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei
nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau
de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambien-
- tais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no
decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante
o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderan-
te esse risco seja considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderan-
te esse risco seja considerado grave.”
Não há dúvida, portanto, de sua natureza de contribuição para a segurida-
de social, seja com esteio no artigo 195, $ 4º ou no artigo 201, $ 10 da Consti-
tuição Federal. Por força disso, a imunidade tributária do artigo 195, $ 7º, da
Constituição Federal desonera as entidades beneficentes de assistência social da
incidência desta contribuição social.
cento sobre o valor que deixou de ser retido, independentemente de outras penalidades
administrativas ou criminais.”
53
Artigo 1º da Lei Complementar nº 7/70.
53
Artigo 2º da Lei Complementar nº 7/70.
53 ao Sobre o regime da Contribuição ao PIS, inclusive apresentando evolução normativa com-
pleta sobre o tema, ver FISCHER, Octavio Campos. A contribuição ao PIS, São Paulo :
Dialética, 1999, pp. 80-127.
53 o MOSQUERA, Roberto Quiroga. PIS - Emenda Constitucional nº 10/96 - regime aplicá-
vel às instituições financeiras, in PIS - problemas jurídicos relevantes, coord. Valdir de
Oliveira Rocha, São Paulo : Dialética, 1996, p. 232.
258 TriBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
parte da própria natureza dos tributos, e, ao menos dos tributos com destinação específi-
ca constitucionalmente estabelecida, isto é, dos Empréstimos Compulsórios e Contribui-
ções Especiais. (...) A exigência de que a destinação da arrecadação seja a legitimamente
indicada pela Constituição não é apenas uma exigência formal, mas material, autorizan-
do até mesmo a eventual resistência civil à exigência desvirtuada de tributos.”
542 ROLIM, João Dácio. A natureza jurídica da contribuição ao PIS perante a CF/88 e alte-
rações da sua base de cálculo e destinação, in PIS - problemas jurídicos relevantes, coord.
Valdir de Oliveira Rocha, São Paulo: Dialética, 1996, p. 131. No mesmo sentido Misa-
bel Abreu Machado Derzi (op. cit., p. 206): “A contribuição para o PIS foi recepcionada
expressamente no art. 239 da Constituição de 1988, o qual afetou a sua arrecadação ao
custeio do programa do seguro-desemprego e do abono pago anualmente a trabalhadores
de baixa renda (até dois salários mínimos). O programa do seguro-desemprego é atribui-
ção própria da Previdência Social, consignada no art. 201, IV da mesma Carta, embora o
260 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
abono anual seja uma atribuição social genérica e inespecífica. Com isso lhe foi conferi-
da, pela Constituição, a natureza de contribuição social, (pelo menos) prevalentemente
para o custeio da Seguridade Social, ao lado da contribuição social sobre o lucro e para o
Finsocial.” Também Fernando Dantas Casillo Gonçalves (A imunidade das entidades
beneficentes de assistência social à contribuição para o PIS - exigências legais no art. 14
do CTN, in Repertório IOB de Jurisprudência, nº 11/2002, 1/17244, 1º quinzena de ju-
nho de 2002, pp. 396-392) conclui assim: “Por isto, não pode ser negada a sua condição
de ser uma “contribuição para a seguridade social" como tributo atingido pela imunidade
tributária prevista no art. 195, $ 7º, da Lei Maior.”
8 Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 138.284/CE, Tribunal Pleno, Rel.
Min. Carlos Velloso, julgamento em 01/07/1992, DJ de 28/08/1992. Dentre outras opor-
tunidades: “PIS e Cofins. Empresas prestadoras de serviços de telecomunicações. Incidên-
cia. Arts. 155, $ 3º, e 195, caput, da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal
(sessão do dia 1º.07.99), concluindo o julgamento dos Recursos Extraordinários nºs
205.355 (Ag. Rg.); 227.832; 230.337, e 233.807, Rel. Min. Carlos Velloso, abrangendo
as contribuições representadas pela Cofins, pelo PIS e pelo Finsocial sobre as operações
relativas a energia elétrica, a serviços de telecomunicações, e a derivados de petróleo,
combustíveis e minerais, entendeu que, sendo elas contribuições sociais sobre o fatura-
mento das empresas, destinadas ao financiamento da seguridade social, nos termos do art.
195, caput, da Constituição Federal, não lhes é aplicável a imunidade prevista no art. 155,
$ 3º, da Lei Maior. Recurso conhecido e provido.” (Supremo Fribunal Federal, Recurso
Extraordinário nº 259.541/AL, Primeira Turma, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em
21/03/2000, DJ de 28/04/2000)
Leandro MARINS DE SOUZA 261
sas «Ff da tradição dos escritos da dogmática jurídico-tributária brasileira estudar os institu-
tos da imunidade e da isenção conjuntamente, em disposições de um mesmo capítulo,
ressaltando os autores pontos aproximativos entre as duas realidades normativas. Traçam,
dessa maneira, linhas paralelas por onde correm os temas, mantendo as suas peculiarida-
des, mas, ao mesmo tempo, mostrando caracteres de similitude. Anunciam que, no final
das contas, seja no caso de imunidade ou na hipótese de isenção, inexiste o dever presta-
cional tributário, aspecto que justifica o paralelismo entre as instituições. Visão dessa
ordem não se coaduna com a devida compreensão do papel sistemático que a norma de
imunidade e a de isenção desempenham na fenomenologia jurídico-tributária em nosso
país. O paralelo não se justifica. São proposições normativas de tal modo diferentes na
composição do ordenamento positivo que pouquíssimas são as regiões de contato. Pode-
ríamos sublinhar tão-somente três sinais comuns: a circunstância de serem normas jurí-
dicas válidas no sistema; integrarem a classe das regras de estrutura; e tratarem de maté-
ria tributária. Quanto ao mais, uma distância abissal separa as duas espécies de unidades
normativas.” (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário, 12? ed., São
Paulo : Saraiva, 1999, pp. 180-181)
s9 CHIESA, Clélio. Op. cit., pp. 101-103.
550 “Imunidade e isenção, portanto, ocupam planos diferentes - o constitucional e o legal -,
não guardando - a não ser pelo fato de resultarem em alívio ao bolso dos contribuintes e
de começarem ambas pela letra “i" - qualquer traço em comum.” (TROIANELLI, Gabriel
Lacerda. A imunidade das entidades beneficentes de assistência social prevista no artigo
195, 8 7º da Constituição Federal e a Lei Complementar nº 84/96, in Contribuições pre-
videnciárias - questões atuais, coord. Valdir de Oliveira Rocha, São Paulo : Dialética,
1996, p. 77)
55 É elucidativa a lição de Paulo de Barros Carvalho (op. cit., p. 181): “O preceito de imu-
nidade exerce a função de colaborar, de uma forma especial, no desenho das competên-
264 TriButAçÃoO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
556 SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributária, edição póstuma, coord.
IBET, São Paulo : Resenha Tributária, 1975, p. 97.
57 BECKER, Alfredo Augusto. Op. cit. pp. 305-306.
558 «A regra jurídica de isenção incide para que a de tributação não possa incidir.” (BECKER,
Alfredo Augusto. Op. cit., p. 306)
59 BORGES, José Souto Maior. Isenções tributárias, 2º ed., São Paulo : Sugestões Literá-
rias, 1980, p. 130. Mais adiante (ibidem, p. 136), assevera o festejado autor: “Ora, a dou-
trina entende que, nas hipóteses de isenção, ocorre o fato gerador do tributo e, portanto,
existe a obrigação tributária principal, embora excluído o crédito dela decorrente. Tem-
se como assentado, pois, que a lei de isenção apenas delibera dispensar o pagamento de
tributo devido; que ela exclui o crédito fiscal, não obstando, entretanto, o surgimento da
respectiva obrigação. Causa espécie constatar que a melhor doutrina brasileira não se
advertiu, ordinariamente, da petição de princípio em que incorreu ao dar como assentado
exatamente aquilo que era necessário demonstrar e não o fora: a ocorrência do fato gera-
dor da obrigação tributária principal na hipótese de isenção tributária.”
50 XAVIER, Alberto. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo
tributário, 2º ed., Rio de Janeiro : Forense, 2001, p. 102.
266 TriButaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
571 O dispositivo anterior tinha a seguinte redação: “III - promova a assistência social bene-
ficente, inclusive educacional ou de saúde, a menores, idosos, excepcionais ou pessoas
carentes”. No entanto, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a vigência da alteração
promovida pela Lei nº 9.732/98 a este dispositivo, no julgamento liminar da Ação Direta
de Inconstitucionalidade nº 2.028-5, de 20/11/1998 (decisão já transcrita anteriormente).
Por estarmos considerando o artigo 55 da Lei nº 8.212/91 como regime de isenção tribu-
tária, desconsideraremos o julgamento do STF por ter julgado o dispositivo inconstitucio-
nal com base na limitação imposta ao regime de imunidade tributária previsto no artigo
195, 8 7º da Constituição Federal de 1988.
533 Os 88 3º, 4º e 5º da Lei nº 8.212/91 foram incluídos pela Lei nº 9.732/98 e julgados in-
constitucionais, liminarmente, pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 2.028-5, de 20 de novembro de 1998 (decisão já trans-
crita anteriormente). Por estarmos considerando o artigo 55 da Lei nº 8.212/91 como re-
gime de isenção tributária, desconsideraremos o julgamento do STF por ter julgado o dis-
positivo inconstitucional com base na limitação imposta ao regime de imunidade tribu-
tária previsto no artigo 195, 8 7º da Constituição Federal de 1988.
272 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Com base nestes dispositivos são extraídos os requisitos exigidos das enti-
dades beneficentes de assistência social para a fruição da isenção tributária que
pelo artigo 55 da Lei nº 8.212/91 lhes é destinada, e que são os seguintes:
*” SOUZA, Leandro Marins de. Tributação das entidades beneficentes de assistência social:
todas as entidades isentas são imunes? in Tributação e sigilo bancário & tributação e
Terceiro Setor, coleção Tributação em debate, livro 4, coord. James Marins, Curitiba :
Juruá, 2002, p. 57.
LeanDRO MARINS DE SOUZA 277
582 Lei nº 9.532/97, artigo 15: “8 1º A isenção a que se refere este artigo aplica-se, exclusi-
vamente, em relação ao imposto de renda da pessoa jurídica e à contribuição social sobre
o lucro líquido, observado o disposto no parágrafo subsequente.”
58 Discordamos da afirmação de Eduardo Szazi (Terceiro setor: regulação no Brasil, 3º ed.,
São Paulo : Peirópolis, 2003, p. 54), no sentido de que “de acordo com o artigo 15 da Lei
280 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
9.532/97, os requisitos para o gozo da isenção são rigorosamente os mesmos previstos para
as entidades imunes”, haja vista que a isenção tributária em comento requer a observân-
cia, à toda evidência, de diversos requisitos instituídos pela Lei nº 9.532/97, inclusive no
seu artigo 12, já afastado em momento anterior do presente trabalho como lei competen-
te para a instituição de requisitos para a fruição da imunidade tributária. Portanto, os re-
quisitos para a isenção tributária são mais extensos que os requisitos para a imunidade
tributária, estes estando previstos na Constituição Federal e no Código Tributário Nacio-
nal. Concordamos, no entanto, com a conclusão do mesmo autor (op. cit., p. 54), ao di-
zer que a proximidade (que para ele significa identidade) de regimes jurídicos “tem con-
tribuído para gerar confusão no setor quanto à origem do direito de não pagar imposto de
renda.”
584
Lei nº 9.532/97, artigo 15: “8 3º Às instituições isentas aplicam-se as disposições do art.
12, 8 2º, alíneas a" a *e' e $3º e dos arts. 13 e 14.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 281
*8s Lei nº 4.506/64: “Art. 30. As sociedades, associações e fundações referidas nas letras a e
b do art. 28 do Decreto-lei nº 5.844, de 23 de setembro de 1943, gozarão de isenção do
imposto de renda, desde que: I - Não remunerem os seus dirigentes e não distribuam lu-
cros, a qualquer título; II - Apliquem integralmente os seus recursos na manutenção e
desenvolvimento, dos objetivos sociais; II - Mantenham escrituração das suas receitas e
despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;
IV - Prestem à administração do imposto as informações determinadas pela lei e recolham
os tributos arrecadados sobre os rendimentos por elas pagos.”
586 Decreto-lei nº 5.844/43: “Art. 28 Estão isentas do imposto de renda: a) as sociedades e
fundações de caráter beneficente, filantrópico, caritativo, religioso, educativo, cultural,
instrutivo, científico, artístico, literário, recreativo e esportivo; b) as associações e sindi-
catos que tenham por objeto cuidar dos interesses, de seus associados.”
587 Lei nº 9.532/97: “Art. 18. Fica revogada a isenção concedida em virtude do art. 30 da Lei
nº 4.506, de 1964, e alterações posteriores, às entidades que se dediquem às seguintes
atividades: I - educacionais; II - de assistência à saúde; III - de administração de planos
de saúde; IV - de prática desportiva, de caráter profissional; V - de administração do des-
porto. Parágrafo único. O disposto neste artigo não elide a fruição, conforme o caso, de
imunidade ou isenção por entidade que se enquadrar nas condições do art. 12 ou do
art. 15%»
282 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Conclui-se, portanto, que para certas entidades não abarcadas pela isenção
prevista no artigo 15 da Lei nº 9.532/97, há hipótese de enquadramento na ain-
da vigente isenção prevista na Lei nº 4.506/64, que passa a ser analisada.
assistência social, mas que estão albergadas pela isenção tributária em comen-
to.
Vale a ressalva de que as pessoas jurídicas enquadradas na hipótese de isen-
ção em referência a perderão se infringirem o disposto nos incisos I e II acima
referidos,** bem como terão a isenção suspensa por no máximo dois anos se
infringirem a legislação do Imposto de Renda ou colaborarem com qualquer ato
de sonegação de impostos em virtude de suas atividades.” Sendo reincidente,
a pessoa jurídica poderá perder a isenção por prazo indeterminado.
E mais uma hipótese, portanto, de isenção tributária relativa ao imposto de
renda destinada a entidades que se voltem à consecução de objetivos sociais sem
finalidade lucrativa, pertencendo ao Terceiro Setor.
*88 Lei nº 4.506/1964, artigo 30: “$ 1º As pessoas jurídicas referidas neste artigo que deixarem
de satisfazer às condições constantes dos itens I e II, perderão, de pleno direito, a isenção.”
> Lei nº 4.506/1964, artigo 30: “$ 3º Sem prejuízo das demais penalidades previstas na lei,
a administração do imposto suspenderá, por prazo não superior a dois anos, a isenção de
pessoa jurídica prevista neste artigo que for co-autora de infração a dispositivo da legis-
lação sobre imposto de renda, especialmente no caso de informar ou declarar recebimen-
to de contribuição em montante falso, ou de outra forma cooperar para que terceiro sone-
gue impostos.”
»oº Lei nº 4.506/1964, artigo 30: “$ 4º Nos casos do parágrafo anterior, se a pessoa jurídica
reincidir na infração a autoridade fiscal suspenderá sua isenção por prazo indeterminado.”
91 A Lei nº 9.766/1998 é conversão da Medida Provisória nº 1.607-24, de 19 de novembro
de 1998, que desde sua redação original, na Medida Provisória nº 1.565, de 9 de janeiro
de 1997, previa as hipóteses de isenção tributária ora analisadas.
284 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Estas hipóteses estão previstas no artigo 1º, 8 1º de referida lei, e dentre elas vale
destacar as isenções concedidas às escolas comunitárias, confessionais ou filan-
trópicas, às organizações de fins culturais e às organizações hospitalares e de
assistência social.
Cada uma destas hipóteses recebe tratamento diferenciado pela Lei nº
9.766/98 e seu Decreto regulamentar, de nº 3.142, de 16 de agosto de 1999, que
estabeleceu os requisitos para a fruição da isenção tributária à contribuição ao
salário-educação, motivo pelo qual estudaremos cada uma separadamente.
9 Decreto nº 4.543/02: “Art. 139. A isenção às importações realizadas pelos partidos polí-
ticos e pelas instituições educacionais e de assistência social será aplicada somente a en-
tidades que atendam às seguintes condições: I - não-distribuição de qualquer parcela do
seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II - não-remuneração, por qualquer
forma, de seus dirigentes pelos serviços prestados; III - emprego dos seus recursos inte-
gralmente no País, na manutenção dos seus objetivos institucionais; IV - manutenção da
escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de
assegurar sua exatidão; V - compatibilidade da natureza, da qualidade e da quantidade dos
bens às finalidades essenciais do importador; VI - conservação em boa ordem, pelo pra-
zo de cinco anos, contado da data da emissão, dos documentos que comprovem a origem
de suas receitas e a efetivação de suas despesas, bem assimarealização de quaisquer ou-
tros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial; VII - apresenta-
ção da declaração de rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da Secreta-
ria da Receita Federal; VIII - recolhimento dos tributos retidos sobre os rendimentos por
elas pagos ou creditados e da contribuição para a seguridade social relativa aos emprega-
dos, bem assim o cumprimento das obrigações acessórias daí decorrentes; e IX - garantia
de destinação de seu patrimônio a outra instituição que atenda às condições para gozo do
benefício, no caso de incorporação, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades,
ou a órgão público. $ 1º Na hipótese do inciso V, do caput, as finalidades para as quais
os bens foram importados deverão estar previstas nos objetivos institucionais da entida-
de, constantes dos respectivos estatutos ou atos constitutivos.”
60
Lei nº 8.010/90: “Art. 1º São isentas dos impostos de importação e sobre produtos indus-
trializados e do adicional ao frete para renovação da marinha mercante as importações de
máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos, bem como suas partes e peças de re-
LEanDRO MARINS DE SOUZA 289
Vê-se, primeiramente, que nem todos objetos de arte recebidos pelos mu-
seus estão abarcados pela isenção da Lei nº 8.961/94, mas tão-só alguns quadros,
pinturas e desenhos feitos inteiramente à mão (com algumas exceções), bem
como gravuras, estampas e litografias originais, produções originais de arte
estatuária ou de escultura, de quaisquer matérias e antigiiidades com mais de
cem anos. Ficaram de fora, por exemplo, selos postais e coleções de arqueolo-
gia, zoologia, entre outros.
Outro requisito da isenção tributária é que o objeto de arte tenha sido rece-
bido em doação. Obras adquiridas pelos museus não estariam abrangidas nesta
hipótese.
Por fim, e aqui não param os requisitos para o enquadramento da entidade
- museu - para a fruição da isenção em comento, a doação deve ser recebida por
museus instituídos e mantidos pelo poder público e outras entidades culturais,
reconhecidas como de utilidade pública. Aí está o motivo para dizermos que os
requisitos não estavam esgotados.
Para que a isenção se complete, há necessidade de a entidade ser reconhe-
cida como de utilidade pública, preenchendo para tanto todos aqueles requisi-
tos já analisados em oportunidade anterior.
Assim o fazendo, lhe estará garantida a isenção ao imposto de importação
que incidiria sobre os objetos que lhe são doados.
* “Art. 7º São também isentos: (...) II - produtos industrializados pelas entidades a que se
refere a artigo 31, inciso V, letra b da Constituição Federal, quando exclusivamente para
uso próprio ou para distribuição gratuita a seus assistidos tendo em vista suas finalida-
des, e desde que obtida declaração de isenção exigida no artigo 2º da Lei nº 3.193, de 4
de julho de 1957; (...) IV - os produtos industrializados pelos estabelecimentos particula-
res de ensino, quando para fornecimento gratuito aos alunos.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 291
5 Esta ressalva é de fundamental importância, haja vista que a incidência de PIS sobre as
atividades de entidades sem fins lucrativos deveria ser regulamentada, necessariamente,
por lei (art. 3º, $ 4º da Lei Complementar nº 07/70). No entanto, tal dispositivo só foi re-
gulamentado de forma legítima pela Medida Provisória nº 1.212/95 (anteriormente havia
pretensa regulamentação pela Resolução nº 174/71, do CMN), o que implica dizer que
todos os valores cobrados a título de PIS das entidades sem fins lucrativos anteriormente
à edição da Medida Provisória nº 1.212/95 o foram indevidamente.
%6 MP nº 1.212/95: “Art. 2º A contribuição para o PIS/Pasep será apurada mensalmente: (...)
II - pelas entidades sem fins lucrativos definidas como empregadoras pela legislação tra-
balhista, inclusive as fundações, com base na folha de salários. (...) Art. 8º A contribui-
ção será calculada mediante a aplicação, conforme o caso, das seguintes alíquotas: (...) II -
um por cento sobre a folha de salários.”
294 TriBuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços
prestados;
b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimen-
to dos seus objetivos sociais;
c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros re-
vestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;
d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data
da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e
a efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer ou-
tros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial;
e) apresentar, anualmente, Declaração de Rendimentos, em conformidade
com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal”.
Por seu turno, as instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural,
científico e as associações deverão seguir os preceitos ditados pelo também ana-
lisado artigo 15 da Lei nº 9.532/97.
O artigo 17 da Medida Provisória, na tentativa de ampliar o rol de requisi-
tos exigidos para a fruição desta isenção, acabou por incorrer em equívoco que
o deslegitima por completo, como se vê: “Art. 17. Aplicam-se às entidades fi-
lantrópicas e beneficentes de assistência social, para efeito de pagamento da
contribuição para o PIS/Pasep na forma do art. 13 e de gozo da isenção da Co-
fins, o disposto no art. 55 da Lei nº 8.212, de 1991”
Ao pretender estabelecer requisitos para as entidades de assistência social,
estendeu a aplicação do dispositivo às entidades beneficentes de assistência so-
cial. Já vimos em oportunidade anterior a diferença entre estes conceitos, que
concerne a parcela de gratuidade na atividade destas últimas.
Ocorre que as entidades beneficentes de assistência social gozam de imu-
nidade tributária que abrange a Contribuição ao PIS, o que não ocorre com as
entidades de assistência social, sendo flagrante o equívoco legislativo neste pon-
to. Afora isto, agregam-se às exigências dos artigos 12 e 13 da Lei nº 9.532/97,
em cada caso, para fins de fruição do regime de tributação diferenciada previsto
na Medida Provisória, os requisitos do artigo 55 da Lei nº 8.212/91.
Coto nest nn O
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cri beta » phone Sub LOlquires Crigdy
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Pr fiep
fis arado deva a ua nai
se crio achaPENN Esbolino
Si dates
o ata
301
doações efetuadas por pessoas jurídicas a entidades civis sem fins lucrativos e
de utilidade pública; c) Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet); d) Lei de in-
centivo às atividades audiovisuais (Lei do Audiovisual); e) Fundo de Financia-
mento da Indústria Cinematográfica - Funcine; e f) Fundos de Direitos das Crian-
ças e dos Adolescentes.
São, atualmente, as hipóteses existentes e autorizadas a figurarem como
passíveis de criar direito à dedução, do imposto de renda, das contribuições efe-
tuadas pelas pessoas físicas ou jurídicas às atividades abarcadas por cada legis-
lação de regência, relacionadas com o Terceiro Setor.º!!
Antigamente, as hipóteses de dedutibilidade de doações do imposto de ren-
da devido, previstas na própria legislação do imposto de renda, eram muito mais
amplas, beneficiando organizações desportivas, recreativas, culturais, instituições
filantrópicas, de educação, pesquisas científicas e tecnológicas, desenvolvimento
cultural e artístico. Era o que dispunha a Lei nº 4.506/64.º!2
A partir de 1996, no entanto, a Lei nº 9.249 (editada ainda em 1995) redu-
ziu a três estas hipóteses de dedução de doações, quais sejam as destinadas ao
Programa Nacional de Cultura - Pronac (no âmbito da Lei Rouanet), as efetua-
das às instituições de ensino e pesquisa cuja criação tenha sido autorizada por
lei federal e que preencham os requisitos dos incisos Ie II do artigo 213 da Cons-
tituição Federal e a entidades civis legalmente constituídas no Brasil e sem fins
lucrativos, que prestem serviços gratuitos em benefício de empregados da pes-
soa jurídica doadora, e respectivos dependentes, ou em benefício da comunida-
de onde atuem.º!
“1 Para estudo do regime de doações na Espanha, ver PINILA, Federico Sanchez. Las do-
naciones a las fundaciones. Beneficios fiscales, in Las fundaciones: su fiscalidad e incen-
tivos al mecenazgo, Madrid : Dykinson, 1998, pp. 85-107. Também para o estudo do re-
gime de doações, mas em outros países, ver OLIVEIRA, Anna Cynthia. Filantropia e in-
centivos fiscais às doações, in Mudança social e reforma legal: estudos para uma nova
legislação do Terceiro Setor, org. Joaquim Falcão e Carlos Cuenca, Carlos, Brasília :
Conselho da Comunidade Solidária : Unesco, 1999, pp. 121-135.
a 14
Lei nº 4.506/64: “Art. 55. Serão admitidas como despesas operacionais as contribuições
e doações efetivamente pagas: I - As organizações desportivas, recreativas e culturais,
constituídas para os empregados da empresa; II - A pessoa jurídica de direito público; III
- Às instituições filantrópicas, para educação, pesquisas científicas e tecnológicas, desen-
volvimento cultural ou artístico; IV - Sob a forma de bolsas de estudo é prêmios de estí-
mulo a produção intelectual.”
61 w
Lei nº 9.249/95: “Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da
contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes deduções, independen-
temente do disposto no artigo 47 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964: (..) VI-
das doações, exceto as referidas no $ 2º; (...) 8 2º. Poderão ser deduzidas as seguintes
doações: I - as de que trata a Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991: II - as efetuadas às
instituições de ensino e pesquisa cuja criação tenha sido autorizada por lei federal e que
preencham os requisitos dos incisos Ie II do artigo 213 da Constituição Federal, até o li-
mite de um e meio por cento do lucro operacional, antes de computada sua dedução e a
de que trata o inciso seguinte; III - as doações, até o limite de dois por cento do lucro
operacional da pessoa jurídica, antes de computada a sua dedução, efetuadas a entidades
civis, legalmente constituídas no Brasil sem fins lucrativos, que prestem serviços gratui-
LEANDRO MARINS DE SOUZA 303
12.1.2. Doações efetuadas a entidades civis sem fins lucrativos (artigo 13,
$ 2º, II da Lei nº 9.249/95)
Outro dispositivo previsto no artigo 13, $ 2º da Lei nº 9.249/95, desta feita
em seu inciso III, diz respeito à possibilidade de dedução, como despesa opera-
cional, das doações efetuadas por pessoas jurídicas a “entidades civis, legalmente
constituídas no Brasil sem fins lucrativos”.
Para tanto, exige a lei que as entidades beneficiadas com a doação, para
legitimar a dedução pela pessoa jurídica doadora, se constitua em uma de duas
formas possíveis: a) preste serviços gratuitos em benefícios de empregados da
pessoa jurídica doadora e seus dependentes; e b) preste serviços gratuitos em
benefício da comunidade onde atue.
Tanto pode a entidade civil beneficiária prestar serviços gratuitos aos em-
pregados da própria doadora como pode prestar serviços gratuitos em benefício
da comunidade; em ambos os casos está legitimada a receber doações de pes-
soas jurídicas, gratificadas pela possibilidade de doação.
Mas em qualquer caso as doações devem observar requisitos formais cria-
dos pelo próprio dispositivo instituidor do benefício.
O primeiro deles é que as doações, quando feitas em dinheiro, o sejam
mediante crédito em conta corrente bancária em nome da beneficiária.
O segundo requisito exige que a pessoa jurídica doadora mantenha arqui-
vada à disposição da Secretaria da Receita Federal declaração firmada pela be-
neficiária, comprometendo-se a aplicar todos os seus recursos em seus objeti-
vos sociais e a não distribuir lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes,
mantenedores ou associados, a qualquer título, responsabilizando-se, ainda, a
pessoa física signatária e identificada.
Por fim, a beneficiária deverá ser reconhecida de utilidade pública, cum-
prindo todos os requisitos legalmente exigidos para tanto e já analisados em
oportunidade anterior.
Aperfeiçoados todos estes requisitos, está apta a pessoa jurídica doadora a
deduzir o valor da doação como despesa operacional para fins de apuração do
imposto de renda, até o limite de 2% do imposto devido.
É espécie de benefício tributário que, a par de ser indireto, atua diretamen-
te em favor das entidades do Terceiro Setor.
14 Lei nº 7.505/86 - “Art. 1º O contribuinte do Imposto sobre a Renda poderá abater da ren-
da bruta, ou deduzir como despesa operacional, o valor das doações, patrocínios e inves-
timentos, inclusive despesas e contribuições necessárias à sua efetivação, realizada atra-
vés ou a favor de pessoa jurídica de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, cadas-
trada no Ministério da Cultura, na forma desta Lei.”
306 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
SS Lei nº 7.505/86 - “Art. 3º Para fins desta Lei considera-se doação a transferência definiti-
va de bens ou numerário, sem proveito pecuniário para o doador. 8 1º O doador terá di-
reito aos favores fiscais previstos nesta Lei se expressamente declarar, no instrumento de
doação a ser inscrito no Registro de Títulos e Documentos, que a mesma se faz sob as
condições'de irreversibilidade do ato e inalienabilidade e impenhorabilidade do objeto
doado.”
616
Lei nº 7.505/86 - “Art. 4º Para os efeitos desta lei, consideram-se investimentos a aplica-
ção de bens ou numerários com proveito pecuniário ou patrimonial direto para o investi-
dor, abrangendo as seguintes atividades: I - compra ou subscrições de ações nominativas
preferenciais sem direito a voto, ou quotas de sociedades limitadas de empresas livreiras,
ou editoriais que publiquem, pelo menos, 30% (trinta por cento) dos seus títulos de auto-
res nacionais, devidamente cadastrados no Ministério da Cultura; II - participação em tí-
tulos patrimoniais de associações, ou em ações nominativas preferenciais sem direito a
voto, quotas do capital social ou de participantes de sociedades que tenham por finalida-
de: produções cinematográficas, musicais, de artes cênicas, comercialização de produtos
culturais e outras atividades empresariais de interesse cultural”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 307
617 Lei nº 8.313/91 - “Art. 1º Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura - Pro-
nac, com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor de modo a: I - contribuir
para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes de cultura e o pleno exercí-
cio dos direitos culturais; II - promover e estimular a regionalização da produção cultural
e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; III - apoiar,
valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores;
IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e res-
ponsáveis pelo pluralismo da cultura nacional; V - salvaguardar a sobrevivência e o flo-
rescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira; VI - preservar os
bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico brasileiro; VII - desenvol-
ver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais de outros povos ou na-
ções; VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal, forma-
dores e informadores de conhecimento, cultura e memória; IX - priorizar o produto cul-
tural originário do País.”
“18 Artigo 2º, parágrafo único da Lei nº 8.313/91.
308 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
doação a pessoas jurídicas sem finalidade lucrativa. O conceito legal não é ex-
presso, mas quando se refere a doações o faz de forma ampla, por inexistir a li-
mitação apontada; esta só veio a aparecer no decreto que regulamentou a Lei
Rouanet, e que ao fazê-lo foi além de suas prerrogativas, de modo a ser fulmi-
nado pela ilegalidade.”
De qualquer forma, não há dúvidas de que as doações feitas a pessoas ju-
rídicas sem fins lucrativos estão abarcadas pelo benefício fiscal instituído pela
Lei Rouanet, e é o que nos importa, por aí estar a relação deste diploma legal
com as atividades desenvolvidas pelo Terceiro Setor.
Já o patrocínio está definido no artigo 23, II da Lei nº 8.313/91, nos seguin-
tes termos:
“II - patrocínio: transferência de numerário, com finalidade promocional
ou a cobertura, pelo contribuinte do Imposto sobre a Renda e Proventos
de Qualquer Natureza, de gastos, ou a utilização de bem móvel ou imó-
vel do seu patrimônio, sem a transferência do domínio, para a realização,
por outra pessoa física ou jurídica de atividade cultural ou sem finalida-
de lucrativa prevista no artigo 3º desta Lei”.
Estas são as duas formas de contribuição a atividades de natureza cultural
incentivadas pela Lei Rouanet, que podem ser desenvolvidas inclusive por enti-
dades do Terceiro Setor. Passa-se, então, a demonstrar as formas de benefício
instituídas por referido diploma legal.
Com a redação dada pela Lei nº 9.874/99, já referida, a Lei Rouanet pas-
sou a prever duas categorias distintas de projetos. Isto porque, segundo Rodrigo
Gonzalez, “a Lei 9.874/99 veio alterar a Lei 8.313/91 estabelecendo uma cate-
goria especial de investimentos em cultura, privilegiando certas formas de ex-
pressão cultural que considera de maior importância e valor para a sociedade”.
Dividiu em duas espécies de incentivos, a ponto de o próprio Regulamen-
to do Imposto de Renda criar artigo específico, o de nº 476, para tratar dos pro-
Jetos especiais instituídos pela Lei nº 9.874/99 mediante alteração da Lei Roua-
net. Os projetos especiais estão localizados no artigo 18 da Lei nº 8.313/91, en-
quanto os projetos usuais encontram terreno no artigo 25 da mesma lei. A dife-
renciação básica adotada para os projetos especiais diz respeito, além da natu-
2 A Lei Rouanet, em seu artigo 24, expande o conceito de doação: “Art. 24. Para os fins
deste Capítulo, equiparam-se a doações, nos termos do regulamento: I - distribuições gra-
tuitas de ingressos para eventos de caráter artístico-cultural por pessoas jurídicas a seus
empregados e dependentes legais; II - despesas efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas
com o objetivo de conservar, preservar ou restaurar bens de sua propriedade ou sob sua
posse legítima, tombados pelo Governo Federal, desde que atendidas as seguintes dispo-
sições: a) preliminar definição, pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural - IBPC,
das normas ecritérios técnicos que deverão reger os projetos e orçamentos de que trata
este inciso; b) aprovação prévia, pelo IBPC, dos projetos e respectivos orçamentos de
execução das obras; c) posterior certificação, pelo referido órgão, das despesas efetiva-
mente realizadas e das circunstâncias de terem sido as obras executadas de acordo com
os projetos aprovados.”
23 GONZALEZ, Rodrigo. Op. cit. p. 121.
310 TriButAçÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
Se “Art. 25. Os projetos a serem apresentados por pessoas físicas ou pessoas Jurídicas, de
natureza cultural para fins de incentivo, objetivarão desenvolver as formas de expressão,
os modos de criar e fazer, os processos de preservação e proteção do patrimônio cultural
brasileiro, e os estudos e métodos de interpretação da realidade cultural, bem como con-
tribuir para propiciar meios, à população em geral, que permitam o conhecimento dos bens
e valores artísticos e culturais, compreendendo, entre outros, os seguintes segmentos.”
LeanDRO MARINS DE SOUZA 311
Os valores repassados sob a forma de patrocínio, por sua vez, poderão ser
objeto de dedução pelas pessoas físicas em até 60% de seu valor, e para as pes-
soas jurídicas o limite é de 30%. Ressalve-se que somente as pessoas físicas e
as pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real poderão usufruir destes benefícios
instituídos pela Lei Rouanet.
O artigo 26, $ 1º da lei prevê ainda mais um benefício para as pessoas jurí-
dicas tributadas com base no lucro real, que é a possibilidade de abater a totali-
dade dos valores relativos a doações e patrocínios como despesa operacional.
À Lei nº 9.532/97, com a redação dada pela Medida Provisória nº 2.189-49,
de 23 de agosto de 2001, fixa o limite máximo para as deduções previstas no
artigo 26 da Lei nº 8.313/91, em 4% do imposto de renda devido, desconside-
rando-se para este cálculo o valor do adicional do imposto de renda, que não pode
sofrer deduções a teor do disposto no artigo 3º, $ 4º da Lei nº 9.249/95. Já para
as pessoas físicas, o limite máximo para as deduções é de 6%, nos termos do
artigo 22 da Lei nº 9.532/97, haja vista que esta lei fez desconsiderar, para as
pessoas físicas, os limites específicos de cada espécie de doação para fazer va-
lor global.º26
Também merece menção o disposto no artigo 26, $ 3º da Lei Rouanet: “8 3º
Os benefícios de que trata este artigo não excluem ou reduzem outros benefícios,
abatimentos e deduções em vigor, em especial as doações a entidades de utili-
dade pública efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas.”
Estes são, grosso modo, os benefícios fiscais deferidos para os incentiva-
dores de projetos incluídos na categoria de projetos usuais do artigo 25 da Lei
nº 8.313/91.
2” CESNIK, Fábio de Sá. Guia do incentivo à cultura, Barueri : Manole, 2002, p. 28.
“8 “8 1º Os contribuintes poderão deduzir do imposto de renda devido as quantias efetiva-
mente despendidas nos projetos elencados no $ 3º, previamente aprovados pelo Ministé-
rio da Cultura, nos limites e nas condições estabelecidos na legislação do imposto de renda
vigente, na forma de: a) doações; e b) patrocínios.”
$2 «8 2º As pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real não podêrão deduzir o valor
da doação ou do patrocínio referido no parágrafo anterior como despesa operacional.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 313
&o Lei nº 8.685/93 - “Art. 1º Até o exercício fiscal de 2003, inclusive, os contribuintes po-
derão deduzir do imposto de renda devido as quantias referentes a investimentos feitos
na produção de obras audiovisuais cinematográficas brasileiras de produção independente,
conforme definido no artigo 2º, incisos Ile III, e no artigo 3º, incisos Ie II, da Lei nº 8.401,
de 8 de janeiro de 1992, mediante a aquisição de quotas representativas de direitos de
comercialização sobre as referidas obras, desde que estes investimentos sejam realizados
no mercado de capitais, em ativos previstos em lei e autorizados pela Comissão de Valo-
res Mobiliários, e os projetos de produção tenham sido previamente aprovados pelo Mi-
nistério da Cultura.”
$1 Conforme artigo 1º do Decreto nº 974, de 8 de novembro de 1993, que regulamenta a Lei
do Audiovisual.
632 “8 3º Os valores aplicados nos investimentos de que trata o artigo anterior serão: a) de-
duzidos do imposto devido no mês a que se referirem os investimêntos, para as pessoas
jurídicas que apuram o lucro mensal; b) deduzidos do imposto devido na declaração de
LEANDRO MARINS DE SOUZA 315
ajuste para: 1. as pessoa jurídicas que, tendo optado pelo recolhimento do imposto por
estimativa, apuram o lucro real anual; 2. as pessoas físicas.”
63 E Artigo 45, 8 3º da Medida Provisória nº 2.228-1/2001.
63 +» “Art. 44. Até o período de apuração relativo ao ano-calendário de 2010, inclusive, as pes-
soas jurídicas sujeitas à tributação com base no lucro real poderão deduzir do imposto de
renda devido parcela do valor correspondente às quantias aplicadas na aquisição de quo-
tas dos Funcines. Parágrafo único. A dedução referida neste artigo poderá ser utilizada
alternativamente à de que trata o art. 1º da Lei nº 8.685, de 20 de julho de 1993, até o ano-
calendário de 2006, quando se extinguirá este benefício.”
316 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
&s “Art. 90. As entidades de atendimentos são responsáveis pela manutenção das próprias
unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e sócio-
educativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de: I - orientação e apoio só-
cio-familiar; II - apoio sócio-educativo em meio aberto; III - colocação familiar; IV - abri-
go; V - liberdade assistida; VI - semiliberdade; VII - internação. Parágrafo único. As en-
tidades governamentais e não-governamentais deverão proceder a inscrição de seus pro-
gramas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, junto
ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá regis-
tro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à
autoridade judiciária. Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcio-
nar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
cente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da res-
pectiva localidade. Parágrafo único. Será negado o registro à entidade que: a) não ofere-
ça instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e
segurança; b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios desta lei; c)
esteja irregularmente constituída; d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.”
LEANDRO MARINS DE SOUZA 317
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319
Conclusões
36 “E] Estado no le hace “un favor” a las personas dejándoles que jueguen a producir “algo
de bien común”, y concediéndoles como 'yapa” (regalo), algún “incentivo”. Tan sólo re-
conoce y garantiza el ejercicio de esos derechos a la libertad de iniciativa, lo que, para
muchos, comporta además el cumplimiento de un deber.” (LEVENE, Julio. La exención
320 TriBuTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
de las entidades sin fines de lucro en el impuesto a las ganancias, in II Coloquio Interna-
cional de Derecho Tributario, Buenos Aires : La Ley, São Paulo : IOB, 2001, p. 227)
$7 MOREIRA, Vital. A regulação das fundações, in MOREIRA, Vital e MARQUES, Maria
Manuel Leitão. A mão visível: mercado e regulação, Coimbra : Almedina, 2003, p. 243.
68 SALAMON, Lester M. The resilient sector: the State of nonprofit America, in The State
ofnonprofit America, coord. Lester M. Salamon, Washington, D.C. : Brooking Institution
Press, 2003, p. 3.
LEANDRO MARINS DE SOUZA 327
$3º Citando artigo da Harvard Law Review de 1992, James J. Fischman e Stephen Schwarz
(Nonprofit organizations, 2º ed., New York : Foundation Press, 2000, p. vii) apontam o
amadurecimento do Terceiro Setor nos Estados Unidos: “Por muitos anos, somente tri-
butaristas e outros poucos apreciavam os temas relacionados às organizações sem fins
lucrativos. Só recentemente o resto da academia tem reconhecido que as organizações sem
fins lucrativos constituem uma disciplina legal separada. Um número de grupos de tra-
balho profissionais se dedicam agora em vários aspectos da legislação das organizações
sem fins lucrativos; por exemplo, a American Bar Association recentemente elaborou um
modelo de estatuto de organização sem fins lucrativos. A literatura acadêmica na área tem
se avolumado e cursos de Direito têm começado a integrar o tópico em seus currículos.”
No original: “For many years, only tax specialists and a few cognoscenti appreciated the
unique legal issues related to nonprofit corporations. Only recently has the rest of the bar
come to recognize that representing nonprofit corporations constitutes a separate legal
discipline. A number of professional working groups now focus on various aspects of
nonprofit corporation law; for example, the American Bar Association recently promul-
gated a model nonprofit corporation statute. The academic literature in the field has
mushroomed, and law schools have begun to integrate the field into their curricula.” (tra-
dução livre nossa)
4º Reconhecimento que nos Estados Unidos é expresso, ao menos nas linhas de Lester Sa-
lamon (op. cit., p. 3), que ao se dedicar a discorrer sobre o Terceiro Setor o aponta como
“a variedade de organizações e instituições que compõe o que é crescentemente reconhe-
cido como um distinto, se não completamente entendido, setor de nossa vida nacional
conhecido diversamente como o setor sem fins lucrativos, o filantrópico ou da sociedade
civil”. No original: “The vast assortment of organizations and institutions that compose
what is increasingly recognized as a distinct, if not wholly undestood, sector of our natio-
nal life known variously as the nonprofit, the charitable, or the civil society sector.” (tra-
dução livre nossa)
322 TRIBUTAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
“ BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributário, 3º ed., São Paulo :Lejus,
1998.
“2 A Argentina, ao que parece, também sofre deste problema, como se observa da constata-
ção de Fernanda Mabel Fernández (La exención de las entidades sin fines de lucro en el
impuesto a las ganancias, in II Coloquio Internacional de Derecho Tributario, Buenos
Aires : La Ley, São Paulo : IOB, 2001, p. 140): “Se aprecia una total falta de visión con
respecto al papel que las entidades sin fines de lucro pueden tener en la vida económico-
social del país. Incluso, aunque solo lo hemos mencionado, insistimos en el tema previ-
sional, dado que muchas personas aportan sus esfuerzos para que estos emprendimientos
continúen adelante y a través de la actual regulación lo único que se consigue es dificul-
tar aún más el accionar de estas entidades. Una vez más, la inseguridad jurídica que ge-
nera la utilización indiscriminada de presunciones es, a nuestro juício un elemento
pri-
mordial a considerar en un replanteo de los temas tributarios de este tipo de entidades
que
sin ninguna duda merecen un tratamiento legislativo ordenado, global y particular dadas
sus características.” Também na Espanha, que detém legislação bastante avançada sobre
o assunto, há reclamações quanto a isso: “En el ámbito del Derecho Tributario
se produ-
cen con demasiada frecuencia cambios legislativos, a través de normas contenidas
en los
más diversos textos legales, que finalmente dificultan el conocimiento exacto del
régimen
aplicable en cada momento. Y ello, por lo que ahora nos ocupa, se advierte para
consta-
tar que el estudio de la fiscalidad del mecenazgo ya no puede hacer considerando
única-
mente la sistemática Ley 30/1994, pues desde la aprobación de ésta se han aprobado
otras
disposiciones que, de forma directa o indirecta, han incidido en el régimen legal
de los
incentivos fiscales resefiados.” (FABO, Diego Marín-Barnuevo. Fiscalidad
del mecenazgo,
in Las fundaciones: su fiscalidad e incentivos al mecenazgo, Madrid : Dykinson,
1998,
p. 112)
“3 FALCÃO, Joaquim e CUENCA, Carlos. Introdução, in Mudança social e reforma
legal:
estudos para uma nova legislação do Terceiro Setor, coord. Joaquim Falcão
e Carlos
Cuenca, Brasília, DF : Conselho da Comunidade Solidária : Unesco, 1999,
p. 12. José
Pedreira Menéndez (La tributación de las entidades sin fines lucrativos en
Espafia, in 1]
LEANDRO MARINS DE SOUZA 323
leira é cada dia mais contrária ao fomento do Terceiro Setor. O parco instrumento
Jurídico legislativo de que dispõe o Terceiro Setor brasileiro lhe é diariamente
surrupiado das formas mais atrozes possíveis.
“Argumentos contra a isenção de impostos para entidades do Terceiro Se-
tor só podem causar estranheza no Brasil, se até a indústria de refrigerantes goza
de incentivos”.
Por tudo isso, são atrozes sim, por exemplo, as Leis nº 9.532/97 e 8.212/91.
A pretexto de regulamentarem os regimes de imunidade tributária previstos nos
artigos 150, VI, “c” e 195, 8 7º da Constituição Federal, criam as maiores inju-
ridicidades possíveis em total afronta a preceitos constitucionais e infracons-
titucionais competentes para regulamentar a matéria.
Ão invés de serem prestigiadas as imunidades tributárias, por sua impor-
tância expressada por seu matiz constitucional, o que se vê é uma proliferação
legislativa impressionante que dificulta inclusive a compreensão do regime tri-
butário aplicável às entidades do Terceiro Setor.
Para darmos um exemplo, é de sabença que o artigo 195, $ 7º da Consti-
tuição Federal institui imunidade tributária a contribuição para a seguridade so-
cial em prol das entidades beneficentes de assistência social. Sabe-se também
que onde deveria dizer imunes o artigo em comento disse isentas. Mas não dei-
xa de ser imunidade, e portanto regulamentada pelo Código Tributário Nacio-
nal (lei complementar). Não obstante, o artigo 55 da Lei nº 8.212/91 (lei ordi-
nária, portanto incompetente para tal) pretendeu regulamentar o artigo constitu-
cional e, mantendo o erro, estabeleceu uma série de requisitos, complementa-
dos por aqueles previstos no Decreto nº 3.048/99. Dentre estes requisitos, há
exigência de a entidade ser portadora do Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social, instituído pela Lei nº 8.742/93 e regulamentado pelo Decre-
to nº 2.536/98. Também, por decorrência, deve a entidade ser declarada de utili-
dade pública federal, instituída pela Lei nº 91/35 e regulamentada pelo Decreto
nº 50.517/61. Somem-se as leis para a análise de todos estes requisitos exigidos,
supostamente, para a fruição da imunidade tributária prevista no artigo 195, $ 7º
da Constituição. No entanto, como já foi visto estes requisitos não se prestam a
regulamentar o regime de imunidade, por inconstitucionalidades que deles ad-
vêm. Este é somente um exemplo.
Desprestigiam-se os regimes de imunidade tributária, perpetrando-se as
mais flagrantes inconstitucionalidades, a ponto de o título de utilidade pública
federal e o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, não obs-
Coloqguio Internacional de Derecho Tributario, Buenos Aires : La Ley, São Paulo : IOB,
2001, p. 285) emenda que “estas entidades son merecedoras de beneficios fiscales ya que
com su labor están cubriendo de manera directa necesidades sociales, generando con ello
un ahorro o disminución del gasto público”.
$4 OLIVEIRA, Anna Cynthia. Filantropia e incentivos fiscais às doações, in Mudança so-
cial e reforma legal: estudos para uma nova legislação do Terceiro Setor, org. Joaquim
Falcão e Carlos Cuenca, Brasília : Conselho da Comunidade Solidária : Unesco, 1999, p.
124.
324 TriButAaçÃo DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL
47 “Este sector está adquiriendo cada vez más relevância para el bien de la humanidad. (...)
Por este motivo, en casi todos los países se analizan continuamente posibles mejoras al
marco legal y tributario de este sector.” (CANOVA, Guillermo. Op. cit., p. 7)
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327
Índice Sistemático
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Referências Bibliográficas sr
eo a A 335
335
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