O Tiro: Viriato Correia
O Tiro: Viriato Correia
O Tiro: Viriato Correia
O TIRO
Ao erguer os olhos dos bilros da almofada de rendas, a
varandinha da palhoça, a velha Paulina viu o Mirigido apontando
na porteira do caminho, com um grande cão pela corda e uma
braçada de flores aconchegada ao peito.
— “Bença” mamãe?
— Deus te abençoe.
— A onça suçuarana?!
— Sim!
Detalhe: Onça Suçuarana
— Mas agora ela leva uma marcha, disse ele. O cachorro que
eu trouxe “dizque” é bom de verdade.
Ela voltou.
— Por quê?
Foi uma coisa sem ninguém esperar. Eu bem te dizia que ela
gostava dele.
Detalhe: tabocal
Armou o gatilho. Com aquele tiro mataria os dois de uma
vez. E levou a coronha do bacamarte ao rosto para fazer a
pontaria. Conteve, felizmente, o grito que lhe quis sair
repentinamente da garganta.
VIRIATO CORREIA
Viriato Correia (Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho),
jornalista, contista, romancista, teatrólogo e autor de crônicas históricas e
livros infanto-juvenis, nasceu em 23 de janeiro de 1884, em Pirapemas, MA, e
faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 10 de abril de 1967.
Filho de Manuel Viriato Correia Baima e de Raimunda Silva Baima,
ainda criança deixou a cidade natal para fazer cursos primário e secundário
em São Luís do Maranhão. Começou a escrever aos 16 anos os seus primeiros
contos e poesias. Concluídos os preparatórios, mudou-se para Recife, cuja
Faculdade de Direito frequentou por três anos.
Por interferência de Medeiros e Albuquerque, de quem se tornara
amigo, Viriato Correia obteve colocação na Gazeta de Notícias, iniciando
carreira jornalística que se estenderia por longos anos.
Obteve notoriedade no campo da narrativa histórica. Escreveu no
gênero mais de uma dezena de títulos, entre os quais se destacam Histórias
da nossa História (1921), Terra de Santa Cruz (1921), Novelas doidas (1921),
Brasil dos meus avós (1927), A Balaiada (1927), História do Brasil para
crianças (1934). Deixou ainda muitas obras de ficção infantil, entre elas o
romance Cazuza (1938), um dos clássicos da nossa literatura infantil, em que
descreve cenas de sua meninice.
Foi deputado estadual no Maranhão, em 1911, e deputado federal pelo
Estado do Maranhão em 1927 e 1930.