10 Processo
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Ferreira Pepino 1
OAB-ES n. 4.962
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1. CONCEITO
Processo significa caminho, o caminho que liga a jurisdição e a ação e, portanto, o
caminho que serve de instrumento para a aplicação da lei ao caso concreto, à
realização da justiça (RODRIGUES, 2003, p. 268; 2008, p. 159).
Várias doutrinas tentam explicitar o que seja o processo e qual a sua natureza jurídica,
entretanto, conceituar processo ainda é um problema, pois, o conceito está em
construção. O estudo das diversas doutrinas e dos diversos conceitos de processo,
formulados ao longo do tempo, permitem ver como a conceituação desse importante
instituto da teoria geral do processo tem evoluído.
No estudo do instituto “processo” a doutrina se divide em duas grandes correntes: a
corrente privatista, cujas bases se encontram no Direito Romano e a corrente
publicista, desenvolvida modernamente a partir da idéia do processo como direito
público, independente do direito material.
Entre as teorias privatistas que tentam explicar a natureza jurídica do processo duas
obtiveram maior destaque: a teoria do processo como contrato e a do processo
como quase-contrato.
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Esta teoria, desenvolvida por James Goldschmidt, constitui uma reação à doutrina da
relação processual. Segundo ela, no processo não há relação jurídica, entendida como
relação entre direitos e deveres, mas situações jurídicas que compreendem
possibilidades, expectativas e ônus. Logo, o processo é o modo ou a situação jurídica
em que a pessoa se encontra enquanto aguarda a sentença, situação que lhe
possibilita a prática de determinados atos.
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3. O PROCESSO
Enquanto relação jurídica, o processo se distingue da relação jurídica de direito
material, tanto pelos seus sujeitos, como pelo seu objeto e pressupostos. No entanto,
tratando-se de uma relação jurídica tem sujeitos, objeto e requisitos próprios.
Começamos pelos requisitos, os chamados pressupostos processuais
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seja feita de conformidade com o que dispõe as regras processuais, por exemplo, os
artigos 249, 250 e 251 do CPC/15, que cuidam da citação por oficial de justiça.
A regularidade formal do processo consiste em respeitar o formalismo processual, que
se refere não apenas à forma dos atos processuais especificamente, mas também à
ordenação do procedimento, à organização do processo, à delimitação dos poderes,
deveres e faculdade dos sujeitos processuais etc.
Os pressupostos extrínsecos dizem respeito à inexistência de fatos impeditivos (por
isso são chamados por alguns autores de pressupostos processuais negativos), isto
é, fatos que impedem o desenvolvimento válido da relação jurídica processual. O
próprio Código de Processo Civil, em seu art. 485 e incisos determina as situações em
que o processo não pode chegar ao exame do mérito da ação. São eles:
litispendência, coisa julgada, convenção de arbitragem e perempção.
A litispendência (CPC/15, arts. 485, V e 337, VI) ocorre quando é proposta ação
idêntica a outra que ainda se encontra em curso (CPC/15, art. 337, § 3º); coisa
julgada (CPC/15, arts. 485, V e 337, VII) é uma qualidade das sentenças que impede a
reapreciação da lide já decidida definitivamente; convenção de arbitragem (CPC/15,
arts. 485, VII e 337, X) é a convenção ou clausula contratual que determina que em
caso de litígio os mesmos serão submetidos a um árbitro, com exclusão da atividade
jurisdicional; perempção (CPC, arts. 485, V e 486, § 3º) é a propositura de ação que já
havia sido extinta, por três vezes em decorrência da inércia da parte em dar andamento
aos processos anteriores.
Os pressupostos processuais subjetivos dizem respeito sujeitos do processo.
Em relação ao juízo são: jurisdição (investidura), competência e imparcialidade.
Ao falarmos de jurisdição viu-se que apenas o Estado pode dirimir os conflitos
intersubjetivos, logo o processo só poderá ter validade se proposto perante um órgão
investido de poder jurisdicional pelo Estado – princípio constitucional do juiz natural.
Mas, não basta que o órgão tenha jurisdição é necessário que funcionalmente esteja
habilitado a resolver o conflito, ou seja, é necessário que seja competente.
Além disso, o órgão competente deve ser imparcial, portanto, estar isento de qualquer
interesse na lide, ou seja, a pessoa do magistrado deve ser imparcial em relação à
ação, não pode estar impedido ou suspeito (CPC/15, arts. 144 e 145).
Em relação às partes (autor e réu) são pressupostos processuais: a capacidade de
ser parte, a capacidade processual e a capacidade postulatória.
A capacidade de ser parte é inerente à titularidade de direitos e obrigações no campo
do direito material. O sujeito tem capacidade para ser parte no processo quando a lei
define que ele tem personalidade jurídica (CC, art. 2). Se se atentar para o art. 2º do
CC vê-se que toda a pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Logo, toda a
pessoa física tem capacidade para ser parte, pois todo o homem é capaz de direitos e
obrigações na ordem civil.
Mesmo os relativamente capazes e absolutamente incapazes têm capacidade para ser
parte, embora sofram algumas limitações para o exercício dos direitos de que são
titulares.
Até mesmo o nascituro (que ainda não nasceu, mas já foi concebido) tem capacidade
para ser parte e é representado pelos pais ou curadores.
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Também tem capacidade de ser parte a pessoa jurídica: União, Estados, Municípios,
Territórios, Autarquias, Empresas Públicas etc ...
E, por fim, também têm capacidade de ser parte a massa falida, o espólio, o
condomínio imobiliário, as sociedades irregulares, as heranças jacentes e vacantes etc
(não têm personalidade jurídica, mas têm personalidade judiciária).
A capacidade de estar em juízo ou capacidade processual (art. 70, CPC/15) é a
aptidão para estar em juízo (legitimatio ad processum), para a prática de atos
processuais, reflexo da capacidade de fato ou de exercício regida pelo Direito Civil.
Como visto acima, todo o homem é sujeito de direitos e obrigações. Todavia, nem
todos têm aptidão para praticar por si mesmos os atos da vida. Quando se fala de
capacidade processual é exatamente relacionada com essa capacidade de exercício. A
expressão indica que alguém é capaz de atuar no processo, desde que não apresente
qualquer vedação prevista pela lei.
Assim, são capazes para estarem em juízo todos os maiores de 18 anos desde que
não demonstrem quaisqueres situações especiais. Assim, se o sujeito for:
Menor de 16 anos,
Enfermo ou portador de deficiência mental, sem discernimento; ou
Incapaz de exprimir a vontade,
é considerado absolutamente incapaz e não ostenta capacidade para estar em juízo.
Isso, no entanto, não significa que ele não possa propor uma ação. Significa apenas
que, como ele não tem capacidade de exercício, outra pessoa tem de substituí-lo,
representando-o na prática daquele ato jurídico. Assim, sua ação vai ser proposta pelos
pais, tutores ou curadores. Nesse caso, só o representante assina a procuração para o
advogado e participa efetivamente do processo. Isso se chama representação
processual e é tratada no art. 71 e seguintes do CPC/15.
Por sua vez, se o sujeito for:
Maior de 16 e menor de 18
Um ébrio habitual, um viciado em tóxicos; ou um deficiente mental (com
discernimento reduzido)
Excepcional, sem desenvolvimento mental completo
é considerado pela lei relativamente incapaz e deve ser assistido pelo pai, pelo tutor ou
curador. Nesses casos, tanto o relativamente capaz quanto o assistente devem praticar
os atos processuais em conjunto, por isso o fenômeno em estudo recebe o nome de
assistência (art. 71, CPC/15).
Em síntese, a representação do absolutamente incapaz e a assistência do
relativamente incapaz são formas que o sistema encontrou para complementar a
capacidade de estar em juízo dos sujeitos que por razões médicas, sociais, ou então,
por mero costume ou padronização normativa não podem estar em juízo por si próprio.
Além da capacidade de ser parte e da capacidade processual ainda tem de observar-
se a capacidade postulatória, que é a aptidão para se dirigir ao órgão jurisdicional
para requer providências ou tutelas específicas, ou seja, a aptidão para postular em
juízo.
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Além disso, o réu também tem o direito de se defender e de expor as razões pelas
quais a pretensão do autor deve ser afastada, tem o dever de agir com lealdade no
processo e de respeitar as decisões e tem o ônus de responder a todas as alegações
feitas pelo do autor etc.
O juiz, por sua vez, tem o dever de proferir uma decisão relacionada com aquela
situação exposta pelo autor e respondida pelo réu, após ter verificado que o processo
respeitou todas as garantias do devido processo legal. Tais como, por exemplo, o
contraditório, a ampla defesa, o direito à prova, o direito ao duplo de jurisdição, entre
outros.
Esse emaranhado de relações entre os sujeitos do processo forma o que se designa
relação jurídica processual.
Logo, em termos subjetivos, num “esquema mínimo”, a relação jurídica processual
apresenta uma estrutura tríplice: o autor, o Estado e o réu, ou seja, o autor que pleiteia
a tutela perante o Estado-juiz, que exerce sua atividade em face do réu. É de notar,
porém, que essa é uma estrutura mínima, que pode ser alterada pelo ingresso de
outros sujeitos.
Na verdade, sujeito da relação processual é toda a pessoa física, jurídica ou sem
personalidade que participe do processo, exercendo e praticando atos que as normas
processuais determinam, essenciais para a formação e desenvolvimento do processo.
Esses sujeitos são classificados em sujeitos parciais e sujeitos imparciais. Parciais
são os sujeitos interessados (os principais são o autor e o réu, mas existem os
sujeitos parciais auxiliares, a exemplo do advogado, do representante ou do
assistente); imparciais são os sujeitos desinteressados, que atuam para solucionar o
conflito (o sujeito imparcial principal é o juiz, a quem compete o exercício da função
jurisdicional; mas sua função é auxiliada por diversos outros sujeitos a exemplo do
escrivão, do oficial de justiça, do perito etc).
Como se vê, o conceito de sujeitos do processo e partes processuais não coincide. O
conceito de sujeitos é mais amplo e abrange não só as partes e o juiz, mas também
uma série de pessoas que de algum modo participam do processo. Por sua vez, partes
são aqueles interessados na relação processual, que agem com parcialidade e
que sofrem as consequências da decisão do juiz. Por isso, juiz não é parte.
Já sabemos que partes são o elemento subjetivo da demanda já que toda a demanda
tem um autor e um réu (um dos elementos que identifica essa ação).
Mas, falar em autor e réu não significa que teremos só um autor e só um réu. Isso é um
esquema mínimo para facilitar a compreensão. Na verdade, pode existir mais de um
autor e mais de um réu, por exemplo, nos casos de litisconsórcio. Mas não é só isso,
mesmo um terceiro, ou seja, aquele que não é parte, ainda, pode virar parte. Por
exemplo, numa demanda promovida em face do fiador, este pode chamar ao processo
o afiançado.
A qualidade de parte se adquire de quatro modos distintos: pela demanda, (o autor),
pela citação (o réu e os terceiros intervenientes forçados ou coativos), pela sucessão (o
sucessor) e pela intervenção voluntária (assistência e recurso de terceiro).
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Sugestões de leitura:
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 28ª edição. SP: Malheiros, 2012. Capítulo 30
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito processual civil. 6ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2016, p. 123 a 144.
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