PLIndicadores Teixeira 2008
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RESUMO
Para instituições focadas em softwares agropecuários são comuns as reflexões: Qual deve ser a
complexidade do controle de indicadores para administrar uma propriedade?, Produtor ou técnico,
quem registra e usa mais freqüentemente os dados e informações? Qual o tamanho do mercado
usuário ou potencial usuário de softwares agropecuários? O artigo tem por objetivo apresentar
proposta básica de indicadores técnico-econômico-financeiros para uma propriedade leiteira. A
metodologia utilizada está baseada na análise de planos de contas publicados bem como dos
indicadores mais usados. Os resultados indicam o baixo número de produtores registrando
informações, que os técnicos são os maiores usuários de programas e que um número mínimo de
indicadores técnico-econômico-financeiros é o indicado para administração de uma propriedade.
Considerando as duas conclusões se recomenda que o controle deve ser o mais simples. O uso de
planilha excel seria o recomendado na fase inicial de controles passando para programas/softwares
mais detalhados a medida que o registro e uso dos dados como informação seja praticado.
Palavras-Chave: software, gado leiteiro, propriedade rural, agronegócio
1. INTRODUÇÃO
Para produzir leite é preciso ter como elementos básicos o produtor, o clima, a propriedade
com forragens, a vaca em lactação, algumas instalações muito básicas e utensílios. A figura 1
ilustra os elementos mais básicos para produzir leitre e coloca o homem no centro do
equilíbrio dinâmico da atividade leiteira (Costa 2007). Para produzir leite com controle da
atividade e consciente de suas possibilidades de sucesso a complexidade aumenta. Para ter
sucesso pode-se dividir as iniciativas do produtor em relação a sua propriedade em duas.
clima
Planta
Produtor
Propriedade Animal
Primeira iniciativa – Voltada para o que ocorre além da porteira. Diz respeito tanto a quem
está na atividade quanto para quem quer entrar na mesma. O produtor deve se informar sobre
o que precede a produção. Principalmente itens relacionados ao preço do leite, disponibilidade
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Para ter maior controle sobre a atividade vem evoluindo o uso de softwares agropecuários.
Entre instituições voltadas para este fim são comuns as reflexões: Qual deve ser a
complexidade do controle de indicadores para administrar uma propriedade?, Produtor ou
técnico, quem registra e usa mais freqüentemente os dados e informações? Qual o tamanho do
mercado usuário ou potencial usuário de softwares agropecuários? Um complicador na
atividade leiteira é a sua complexidade. Ademais a atividade demanda muito tempo e esforço
físico do produtor (GOMES, 2006), principalmente quando o produtor também é a mão-de-
obra operacional. Nesse sentido Rodrigo Alvin (RENTEIRO, 2008) presidente da Comissão
da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação Nacional da Agricultura, e
portanto longe de sua propriedade em Minas, afirma: “Dentro dos preceitos que dizem
respeito ao produtor eficiente, é impossível produzir leite longe das vacas”. A afirmativa
mereceria discussão em torno da qualificação da mão-de-obra e sua capacidade administrativa
mas não é o objetivo deste artigo.
2. REVISÃO DE LITERATURA
administradores informações que lhes assegurem meios eficazes para tomar decisões, sejam
elas de curto médio ou longo prazos. Segundo GOMES (2006), a adminstração foi o item de
maior demanda entre os produtores que participaram do diagnóstico da pecuária leiteira de
Minas Gerais em 2005, ficando atrás apenas de informações sobre o mercado de leite.
Para produzir leite com controle da atividade e consciente de suas possibilidades o produtor
ou técnico deve ainda ter uma visão de longo prazo. Isto porque a alternativa de sair da
atividade representa um prejuízo considerável em termos de capital empatado principalmente
em benfeitorias. Os pequenos produtores (em torno de 50 litros), são os mais afetados em
termos de parada de utilização de suas benfeitorias. Para os pequenos produtores, o valor
calculado do capital em benfeitorias no estudo “Diagnóstico da pecuária leiteira do estado de
Minas Gerais” significa anualmente cerca de 25% do custo operacional efetivo em Minas
Gerais (GOMES, 2006). Quem seriam os usuários de softwares agropecuários ou planilhas?
Segundo STOCK E CARNEIRO (2008) os produtores de leite no Brasil estão estratificados
conforme a tabela 1.
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Segundo a Equipe MonografiasBrasil.com (2008) é chamado Plano de Contas o conjunto de contas criado pelo contador, para atender às
necessidades de registro dos fatos administrativos, de forma a possibilitar a construção dos principais relatórios contábeis e atender a todos os
usuários da informação contábil. Esse conjunto de contas é criado antecipadamente ao uso de tais contas. É a peça de maior importância
dentro da organização contábil. O principal objetivo das contas é possibilitar o registro dos lançamentos contábeis de forma a criar condições
ótimas de classificação e acumulação dos dados.
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Nota-se que 89% das propriedades produzem menos de 100 litros/dia. Por outro lado, o
Diagnóstico da pecuária leiteira de MG de 2005 mostra que menos de 20% dos produtores do
estado fazem controle leiteiro e anotam despesas e receitas. Os produtores com menos de 200
litros/dia consultam pouco os técnicos das cooperativas ou da extensão oficial (GOMES,
2006).
As informações destas duas fontes mostram que o monitoramento dos dados de produção é
pouco frequente entre a maioria dos produtores. Os números acima apresentados não devem
ser um sinal de desestímulo para o investimento em programas e planilhas para gerenciar
propriedades leiteiras. Devem representar uma visão de oportunidade de trabalho para
empresas que produzem softwares agropecuários reverem seus programas e para técnicos que
dão assistência ao produtor. Mesmo porque os demais 11% de produtores representavam em
2005 cerca de 80% da produção nacional embora nem todos monitorem dados de desempenho
zootécnico ou econômico/financeiro (STOCK E CARNEIRO, 2008).
A baixa taxa de controle de dados sugere que as iniciativas para programas e planilhas devem
ser inicialmente simples para entendimento e visualização de resultados gerando motivação
para monitoramento de dados e tomada de decisões diárias. A partir do uso correto e
freqüente dessas planilhas se deve partir para softwares mais completos. O controle individual
das vacas deve existir desde o início.
Campo Grande (MS) 30/04/2008 agronegócio da região Centro-Oeste (cadeia de pecuária bovina)
Fonte: (MENDES, 2008)
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O projeto conta com várias parcerias institucionais: Associação para Promoção da Excelência do Software
Brasileiro (Softex), Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo (IEA-SP), Faculdade de Engenharia
Agrícola e Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Universidade de São Paulo (USP) por meio
da Rede de Inovação e Prospecção para o Agronegócio (Ripa) e Associação Brasileira de Informática Aplicada à
Agropecuária e à Agroindústria (ABI-Agro).
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Ainda neste Painel ficou evidente que as empresas desenvolvedoras de software veem nos
técnicos agrícolas, e não nos produtores, seus clientes com maior potencial de uso. Deste
relato, destaca-se dois pontos: a necessidade de software simples e o técnico agrícola como
usuário final.
Primeiro ponto – necessidade de software mais simples – ACOSTA E MENDES (2008), que
relataram o Painel de Belo Horizonte, apresentaram que falta a percepção, por parte de alguns
produtores de gado leiteiro, da necessidade de melhor gerenciar seus negócios e enxergar seus
animais como um patrimônio financeiro. Sem essa consciência da importância de melhor
gerenciamento, os pequenos produtores conseguem apenas manter suas propriedades, mas
sem maiores ambições.
Para alavancar a informática na pecuária, ACOSTA E MENDES (2008) apontam ser preciso
investir na formação dos produtores, não só no uso de recursos de informática, mas também
em noções de administração, e disponibilizar no mercado software para o pequeno produtor
rural, bastante simples para facilitar a interpretação dos seus relatórios.
Segundo ponto – o técnico agrícola como usuário final do software – Também foi indicado
por ACOSTA E MENDES (2008) como uma estratégia utilizada por algumas empresas
desenvolvedoras de software como forma de inserção de seus produtos junto a
empreendimentos rurais de médio e grande porte, dos setores de gado leiteiro e de corte. As
empresas capacitam os técnicos rurais para serem os usuários de seus produtos para que estes
sejam agentes facilitadores no processo de informatização das propriedades.
Atualmente é um dos maiores projetos rurais em Minas Gerias, mas ainda não tem cobertura
nacional, apesar de já ter sido nacionalizado pelo Sebrae. Seu centro é em Viçosa, onde, após
processados os dados, é enviada uma carta aos técnicos com explicação e comentários sobre
cada propriedade rural participante (abaixo e acima da média de produtividade). Tem
funcionado bem para a cadeia produtiva do leite, e recentemente começou também para a
cana-de-açúcar (100 fazendas) e café (400 fazendas). A universidade tem alguns estudos que
apontam significativos ganhos de produtividade.
3. METODOLOGIA
Foram comparados planos de contas publicados pelo Sebrae para Minas Gerais (GOMES,
2006), pela Universidade Federal de Goiás para Goiás (NORONHA, NUNES et al. 2001),
pelos painéis feitos pelo CNA, Federações estaduais de agricultura, Senar, CEPEA, CONAB
em 2007, do Manual de produção de Leite para o Rio Grande do Sul (KRUG, REDIN et al.
1992) e do documento para análise financeira de unidades de produção de leite
(YAMAGUCHI, 1994). A partir destes sugere-se os itens básicos de um “plano de contas”
para calcular de modo simplificado o custo de produção de leite. Usou-se a planilha excel
para montar arquivo de lançamento de dados de custo usando a metodologia de custo
operacional total (MATSUNAGA, 1976). O exemplo prático apresentado é o do Sistema de
produção de leite a base de pasto da Embrapa Gado de Leite em Goiás. O exemplo contém
custo de produção em um período de um ano. O conjunto mínimo de indicadores técnicos foi
estabelecido a partir de quatro publicações (NORONHA, NUNES et al. 2001; KRUG,
TEIXEIRA et al. 2003; COSTA E NOVAES, 2003; GOMES, 2006). A partir destes sugere-
se os itens básicos para acompanhamento do desempenho técnico de uma propriedade. Usou-
se a planilha Excel para montar arquivo de lançamento de dados. O exemplo prático
apresentado é o do mesmo Sistema de produção. O controle de custo de produção e de
indicadores de desempenho técnico é feito em duas páginas no mesmo arquivo, uma para o
custo e outra para os indicadores técnicos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O raciocínio deste artigo está baseado na necessidade de um produtor, que também é mão-de-
obra operacional, com pouca disponibilidade de tempo, em controlar indicadores de produção.
Na quantidade de produtores com baixa produção, cerca de 89% STOCK E CARNEIRO,
2008), e a provável baixa entrada de recursos financeiros mensais. Este produtor,
normalmente, não tem condição financeira para contar com um contador que elabore um
plano de contas muito complexo, nos preceitos da contabilidade de custos, para diariamente
lhe atender na identificação de sua disponibilidade financeira durante o mês. Aliás não
costuma ser função do contador em propriedades rurais, principalmente as de pequeno porte.
Provavelmente, não terá um computador ou terá pouca habilidade de usá-lo. Contando com
uma assistência técnica temporária precisará de informativos simples para tomada de decisão
ou de uma ferramenta que mensalmente lhe permita simular qual a sua situação financeira e
até quanto poderia gastar ou investir diante de uma boa oportunidade.
Adotou-se na proposta a forma custo operacional total por ser mais simples de ser entendida,
visto que o produtor geralmente entende como sua margem o que ele consegue apurar de
resultado da atividade após pagar as contas. Não atribui inicialmente o seu salário como parte
do custo operacional efetivo. Notar que existem vários itens para contabilizar a mão-de-obra
no plano de contas de GOMES (2006) quando na verdade o produtor usa sua mão-de-obra
própria e a contratada em diferentes atividades durante o dia, ficando difícil ratear o quanto
usou em cada atividade diária. O que mais preocupa ao produtor é saber o quanto gastou com
mão-de-obra contratada. O mesmo ocorre com o ítem relacionado a forrageiras,
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Com base nesta planilha em Excel mensalmente foram tomadas decisões de limites de gastos
mensais e investimentos diante de uma oportunidade de compra de milho, farelo de soja ou
outro item que poderia baratear o custo de produção ou que contas pagar mais tarde. O custo
acima foi fundamental para mostrar o alto custo de ordenha no passado. Foi então identificado
que o uso dos detergentes estava acima do recomendado. No caso do aleitamento artificial
fica evidente o quanto pesa no custo e o quanto se deve considerar a criação de machos
mestiços, que, no caso do Estado de Goiás, tem pouco valor após desmame.
5. CONCLUSÕES
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBERATO, C. O que faz uma fazenda se transformar em empresa. Balde Branco, v. 43,
p. 24 – 27, 2008.
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KRUG, E. E.; REDIN, O. et al. Manual da produção de leite. Porto Alegre: CCGL, 1992.
730 p.
RENTEIRO, N. Valorização reduz produção informal. Balde Branco, v. 43, p. 11-14, 2008.
STOCK, L. A.; CARNEIRO, A. V. Novos indicadores para o leite e o campo. Balde Branco,
v. 43, p. 68-70, 2008.
USDA. Market news and transportation data. USDA, Washington D.C., 13 mar. 2008.
Disponível em: <http://www.ams.usda.gov/mnreports/md_da107.txt>. Acesso em: 28 jul.
2008.