Sítio Do Prazo - Indicadores - Paleoambientais - e - Estrategia

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01

pré-história
gestos intemporais
III congresso
de arqueologia
trás-os-montes,
alto douro
e beira interior

actas das sessões

Vila Nova de Foz Côa, 20 de Maio de 2006


pré-história gestos intemporais | vol. 01 1

01
pré-história
gestos intemporais
III congresso
de arqueologia
trás-os-montes,
alto douro
e beira interior

actas das sessões

Vila Nova de Foz Côa, 20 de Maio de 2006


96 III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto douro e beira interior | actas

acta 5 Resumo:
Indicadores Dados arqueológicos, paleopalinológicos, antracológicos, arqueozoológicos e malacológicos,
paleoambientais obtidos no sítio do Prazo, permitiram conirmar a prática de estratégias de subsistência
e estratégias de assentes na caça, na recolecção e possivelmente na pesca, durante o Mesolítico e o Neolítico
subsistência no Antigo. Neste último período a utilização de ovicaprídeos terá também ocorrido, embora em
sítio pré-histórico pequena escala. Não se identiicou qualquer elemento polínico ou carpológico indicador de
do Prazo (Freixo de práticas agrícolas. Ao que tudo indica, as populações do Neolítico Antigo do Prazo
Numão – Vila Nova corresponderão a sociedades de tipo caçadores-recolectores e não a sociedades com um
de Foz Côa – Norte modo de vida assente na economia de produção.
de Portugal)
Sérgio Monteiro-Rodrigues palavras-chave: Neolitização; Alto Douro Português; Caça-recolecção
(Departamento de Ciências e Técnicas

do Património – Faculdade de Letras da

Universidade do Porto, Via Panorâmica, Introdução


Porto 4150, Portugal. Membro do Centro de

Estudos Arqueológicos das Universidades Salvo raras excepções (Jorge, 1999; Valera, 2002-2003), todos os discursos sobre o Processo
de Coimbra e Porto (CEAUCP). s.m- de Neolitização no actual território português estabelecem, invariavelmente, uma relação
[email protected]) directa entre Neolítico Antigo (leia-se presença de cerâmica, pedra polida e micrólitos
Isabel Figueiral geométricos) e Agricultura (Cardoso, 2002; Cardoso et al., 1998; Carvalho, 1999; 2002; 2003;
(Centre de Bio-Archéologie et d’Ecologie, Diniz, 2003; Zilhão, 1992; 1993; 2000; 2003) quando, na realidade, parece não existir em
CNRS/USTL/EPHE, Montpellier) nenhum sítio arqueológico desta época qualquer indicador que comprove de forma inequívoca
José António López Sáez (Laboratorio a prática daquela actividade.
de Arqueobotánica, Departamento de Mesmo no Buraco da Pala (Mirandela) – única estação onde até ao momento se exumaram
Prehistoria, Instituto de Historia, CSIC, c/ sementes de trigo, de cevada e de leguminosas (Sanches, 1987; 1997; Ramil Rego e Aira
Duque de Medinaceli 6, 28014 Madrid, Rodríguez, 1993) – não há garantias relativamente à idade das sementes (nunca foram
Espanha. [email protected]) datadas), nem tão pouco se sabe se foram ali efectivamente cultivadas (ausência de estudos
paleopalinológicos) (López Sáez e Cruz, 2006; López Sáez et al., 2006). Caso se comprovasse
(ou se venha a comprovar) a sua idade neolítica antiga, continuariam a não existir provas de
que a sua presença no Buraco da Pala estivesse ligada a um sistema tecno-económico
assente no cultivo de espécies vegetais domésticas, pois a ocorrência destes elementos em
qualquer contexto, arqueológico ou não, não implica necessariamente a sua produção local
(Vicent García, 1997; Jorge, 1999; López Sáez et al., 2006).
Assim, e tendo em conta dados paleopalinológicos, parece seguro airmar que não existem,
nas regiões Norte e Centro de Portugal, evidências da prática da agricultura (isto é, pólens de
cereal) anteriores a cerca de 4000 cal. BC (López Sáez e Cruz, 2006; López Sáez et al., 2006).
Por outro lado, é também verdade que os argumentos por vezes avançados para sustentar a
manutenção da caça e da recolecção, ou de uma “economia mista de pendor recolector”
(Valera, 2002-2003), durante o Neolítico Antigo, derivam “mais de uma ausência de dados do
que de dados que documentem e comprovem ausências, pelo que também a sua validação
se impõe à investigação futura” (idem, ibidem: 24). Ou seja, o modelo de caça-recolecção
surge como consequência da não detecção de indicadores de práticas produtoras, e não pelo
facto de ocorrerem provas objectivas de que tais práticas não seriam realmente desenvolvidas
(idem, ibidem).
Ora, é no sentido de contrariar a tendência referida por Valera (idem, ibidem) que se enquadra
o presente artigo. Efectivamente, estudos paleopalinológicos, antracológicos,
arqueozoológicos e malacológicos, realizados a partir de ecofactos recolhidos em diversos
trabalhos de campo levados a cabo no sítio arqueológico do Prazo, vieram reforçar hipóteses
anteriormente avançadas relativamente ao carácter não produtor das populações que ali se
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estabeleceram em tempos pré-históricos, fornecendo em simultâneo um quadro de


subsistência alternativo baseado na caça, possivelmente na pesca e na recolecção. A criação
de ovicaprídeos, como adiante se verá, terá tido um peso muito pouco expressivo no conjunto
das estratégias de subsistência adoptadas.
Como foi referido (Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002; 2003; Monteiro-Rodrigues e Angelucci,
2004), os vestígios arqueológicos do Prazo, pontualmente conjugados com informações
ecofactuais, sugeriram desde sempre a presença naquele local de sociedades com um estilo
de vida mais próximo do dos caçadores-recolectores (“Nomadic Style”, Lee e Devore, 1968;
Binford, 1983; 1988) do que do das sociedades produtoras.

O sítio arqueológico do Prazo localiza-se no Nordeste de Portugal, na freguesia de Freixo de Enquadramento isiográico
Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda, região do Alto Douro. As
coordenadas geográicas do ponto central da estação são as seguintes: 41°04’20” N |
07°14’36” W (Greenwich) (Fig. 1).
Do ponto de vista geológico, o Prazo implanta-se sensivelmente no centro do Maciço
Granítico de Freixo de Numão, pequeno corpo intrusivo de contorno subcircular com
características litológicas relativamente homogéneas em toda a sua extensão. A superfície
aplanada deste maciço é sulcada por vales de origem tectónica, com orientação dominante
segundo o eixo NNE-SSW (Cabral, 1995; Ribeiro, 2001; Silva e Ribeiro, 1991). As linhas de
água que os percorrem são aluentes e subaluentes do rio Douro, que corre no sentido E-W, a
cerca de 10 Km a norte da estação.
Em termos geomorfológicos, o Prazo integra-se nos chamados Planaltos Centrais, região
globalmente montanhosa, com pequenas superfícies de aplanamento posicionadas a diversas
altitudes, datadas genericamente do Cenozóico. Os Planaltos Centrais localizam-se entre a
Meseta Ibérica, a Leste – delimitada a Oeste pelo alinhamento tectónico de Bragança-Unhais
da Serra – e as Montanhas Ocidentais, a Oeste (Ferreira, 1978).
No que respeita especiicamente aos sectores arqueológicos escavados, estes distribuem-se
por uma plataforma ligeiramente inclinada para NE, delimitada a E pelo vale da Ribeira de S.
João, e posicionada a uma cota inferior (560 m anm) em relação à superfície de aplanamento
cenozóica que abrange a área de Freixo de Numão –“superfície inferior, nível mais alto”
(Ferreira, 1978) (Fig. 2). Tais características geomorfológicas da referida plataforma
favoreceram a ocorrência de processos de sedimentação ligados à dinâmica das vertentes, os
quais estiveram na base da morfogénese do sítio arqueológico (Monteiro-Rodrigues e
Angelucci, 2004).

Trabalhos de campo realizados no Prazo, nos inícios dos anos 80, conduziram à descoberta Contextualização
de uma villa romana e vestígios de ocupações medievais (Coixão, 2000a; 2000b). Em 1996, arqueológica
durante a escavação de estruturas daquelas épocas, encontraram-se fragmentos de cerâmica
com motivos decorativos atribuíveis ao Neolítico Antigo. Na sequência destes achados,
realizaram-se, entre 1997 e 2001, diversas campanhas de escavação arqueológica1 que
permitiram identiicar uma série de ocupações pré-históricas estratigraicamente sobrepostas.
Tais ocupações datam do Paleolítico superior, do Epipaleolítico-Mesolítico, do Mesolítico e do
Neolítico Antigo.
Com a excepção das ocupações do Paleolítico superior e da “última” ocupação do Neolítico
Antigo, todas as restantes encontram-se datadas pelo 14C (Fig. 3) (Monteiro-Rodrigues, 2000; 1 Trabalhos da responsabilidade de Sérgio

2002; Monteiro-Rodrigues e Angelucci, 2004; López Sáez et al., 2006). A “última” ocupação do Monteiro-Rodrigues.
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Neolítico Antigo (unidade U3), do ponto de vista estratigráico, assenta sobre um outro nível
igualmente do Neolítico Antigo (unidade U4) cuja datação 14C mais recente é 5640 ± 50 BP:
4560-4350 cal. BC 2s (Oxcal, v3.10). Tal facto, permite colocar a ocupação associada à
unidade U3 num período cronológico necessariamente posterior àquela datação (último
quartel do V milénio cal. BC?).
No que diz respeito às ocupações do Paleolítico superior, a reduzida quantidade de artefactos
líticos exumados, bem como a sua atipicidade, não permitiram qualquer enquadramento
cronológico-cultural preciso.
Em relação às ocupações do Epipaleolítico-Mesolítico (unidade U5a – inais do X milénio cal.
BC a meados do IX milénio cal. BC) e do Mesolítico “antigo” (unidade U5 – meados/ segunda
metade do VIII milénio cal. BC), também não foi possível caracterizá-las de forma
pormenorizada, quer pela pouca expressão dos vestígios arqueológicos, quer pelo facto de
não se conhecerem na região ocupações destes períodos com as quais se pudessem
estabelecer paralelos. Como foi já referido (Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002; Monteiro-
-Rodrigues e Angelucci, 2004), antes da escavação do Prazo nunca tinham sido identiicados
no interior de Portugal vestígios da presença humana datados do período compreendido entre
os inícios do Holocénico e o Neolítico Antigo (Holocénico médio). Aparentemente, no Prazo, as
ocupações das fases mais antigas deste intervalo temporal poderão ter tido um carácter
descontinuado ou intermitente, uma vez que entre elas existem hiatos cronológicos
signiicativamente alargados (Fig. 3).
Em termos arqueológicos, as ocupações do Epipaleolítico-Mesolítico e da fase mais antiga do
Mesolítico estão testemunhadas quer por indústrias líticas – tendencialmente microlíticas sem
geométricos – quer por diversas estruturas pétreas: lareiras, uma das quais em fossa, e
empedrados diversos.
As ocupações do Mesolítico “recente” (unidade U4a – terceiro quartel do VII milénio cal. BC a
meados do VI milénio cal. BC) e do Neolítico Antigo (unidades U4, U3-sector VII e U3 – inais
do VI milénio cal. BC ao terceiro quartel/ inais? do V mil. cal. BC) apresentam algumas
ainidades, nomeadamente no que diz respeito à indústria lítica: tratam-se de indústrias
microlíticas com reduzida componente geométrica, bastante semelhantes ao nível das
cadeias-operatórias de debitagem. Tal facto, conjugado com outras observações entretanto
realizadas, impede que se considere a hipótese de descontinuidade cultural entre estes dois
momentos (Monteiro-Rodrigues, 2002; 2003; Monteiro-Rodrigues e Angelucci, 2004; López
Sáez et al., 2006).
Uma explicação para a inexistência de registos cronológicos (e arqueológicos?) no Prazo,
numa estreita faixa temporal entre o Mesolítico “recente” e o Neolítico Antigo, (Fig. 3) foi já
avançada noutras publicações (Monteiro-Rodrigues, 2003; Monteiro-Rodrigues e Angelucci,
2004; López Sáez et al., 2006). Contudo, e de forma sintética, tal ausência de registos poderá
relacionar-se com as dinâmicas sedimentares ocorridas no sítio arqueológico. Na unidade
estratigráica mesolítica U4a foi identiicado um paleossolo orgânico – horizonte A – que se
terá formado numa fase de bioestasia, o que pressupõe a estabilização da vertente e,
consequentemente, a interrupção dos processos de sedimentação (Monteiro-Rodrigues e
Angelucci, 2004). Deste modo, pode levantar-se a hipótese dos vestígios correspondentes aos
“momentos inais” da ocupação mesolítica (na “transição” para o Neolítico Antigo) não terem
sido incorporados em qualquer depósito uma vez que, como se referiu, não ocorriam então
processos de sedimentação. Por outro lado, mesmo que esses vestígios se tivessem
conservado, poderiam ter sido suprimidos a posteriori, no momento em que a sedimentação
foi reactivada. Esse momento coincidiria com o início da deposição dos sedimentos que
enterraram o paleossolo orgânico e que fossilizaram as ocupações neolíticas das unidades U4
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e U3 (onde é visível um horizonte C). De facto, este tipo de processo, que conduz à formação
de solos policíclicos, “suele conllevar la destrucción de parte, cuando no la totalidad, de las
supericies primitivas, con la posibilidad de la pérdida total o la removilización del registro
arqueologico y la existencia de hiatos entre cada ciclo de suelo” (Martínez Cortizas et al., 1995,
p 177).
Do ponto de vista paleoclimático, dados preliminares sugerem uma relação entre o
denominado evento frio de 8,2 Ka cal. BP (“Bond event 5”) (v. g. Bond, et al., 2001; Menocal et
al., 2000; Geel, v., 1999) e os processos de sedimentação que estiveram na origem do
enterramento da ocupação mesolítica da unidade U4a (7492-8456 cal. BP 2s. Por sua vez, a
fase de bioestasia – com desenvolvimento do paleossolo orgânico, estabilização das vertentes
e ausência de sedimentação – ligar-se-ia à melhoria climática que coincidiu com o início do
Óptimo Climático Médio-holocénico. A fase de instabilidade possivelmente responsável pelo
início da deposição do material detrítico que conservou as ocupações do Neolítico Antigo
(6279-7159 cal. BP 2s)– e que presumivelmente teria remobilizado os vestígios “superiores” da
ocupação mesolítica – poderá ter sido desencadeada pela fase fria correspondente à
denominada Pequena Idade do Gelo Neolítica (c. 7100-7400 cal. BP) ou “Crise Flandriana”
(Martínez Cortizas et al., 1995; Magny et al., 2003; Davis, et al., 2003).
No que concerne à cerâmica neolítica, encontraram-se recipientes de reduzidas dimensões,
predominantemente com formas sub-esféricas (Fig. 6). Os principais motivos decorativos
correspondem a incisões e/ ou impressões, originado frequentemente motivos em “espinha”
(Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002; Monteiro-Rodrigues e Angelucci, 2004).
Nas ocupações do Mesolítico “recente” e do Neolítico Antigo detectaram-se diversas
estruturas pétreas, sendo de destacar as de combustão. Numa das unidades estratigráicas
do Neolítico Antigo (unidade U4) registou-se uma pequena “fossa” coberta por um
empedrado. Do seu interior foram recolhidos alguns fragmentos carbonizados de medronho, o
que sugere que esta se destinaria ao armazenamento de produtos alimentares (frutos
silvestres?).

Os dados paleoambientais que seguidamente se apresentam resultam na sua maioria do Indicadores paleoambientais
estudo de amostras polínicas e antracológicas, recolhidas durante trabalhos de campo.
Informações complementares foram fornecidas por especialistas das áreas da
Arqueozoologia2 e da Biologia/ Malacologia3, a quem agradecemos.

1. Os dados da Paleopalinologia
Em Dezembro de 2005 recolheram-se no Prazo seis amostras de sedimentos para serem
sujeitas a análises paleopalinológicas (López Sáez et al., 2006). Exceptuando a amostra
datada do Paleolítico superior, que se revelou estéril, todas restantes forneceram uma
quantidade signiicativa de pólens pertencentes a diversos taxa (Fig. 4). O seu estudo e 2 Professor Doutor João Luís Cardoso,

quantiicação por unidade estratigráica, permitiu esboçar um modelo de evolução da Universidade Aberta.

paleovegetação da área em torno da estação arqueológica, entre os inais do Boreal e os


3 Professor Doutor Mike Weber, Instituto
meados do Atlântico (meados do VIII milénio cal. BC ao terceiro/ último? quartel do V milénio
cal. BC). Abel Salazar, Universidade do Porto

De acordo com os dados obtidos, durante o Mesolítico (meados do VIII milénio cal. BC a (Ciências do Meio Aquático), Director da

meados do VI milénio cal. BC) terá existido uma paisagem lorestal importante (40% a 50% de Estação Litoral da Aguda (ELA). Dra. Maria

árvores), onde se destacavam as quercíneas caducifólias (> 30%). O Amieiro (Alnus), a José Cunha, Museu de História Natural da

Avelaneira (Corylus), o Vidoeiro (Betula) e o Zimbro (Juniperus tipo) estariam igualmente Faculdade de Ciências da Universidade do

presentes, embora fossem menos expressivos em termos quantitativos. Porto.


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Espécies como o Zambujeiro (ou Oliveira brava, Olea europaea) e a Cornalheira (Pistacia)
ocorriam também com percentagens elevadas, indicando a existência de uma vegetação
arbustiva xerotermóila, possivelmente associada a condições térmicas ou, pelo menos, a
estações do ano com níveis de insolação elevados. Estas arbustivas sugerem igualmente
solos limitados, quer do ponto de vista hídrico, quer do ponto de vista edáico (pedregosos).
Relativamente às herbáceas, terão predominado as gramíneas (Poaceae).
O tipo de vegetação identiicado nas unidades mesolíticas do Prazo parece coincidir com o
que se desenvolve noutras regiões peninsulares nos inícios do Holocénico, onde se observa
um claro incremento do bosque relacionado com a progressiva recuperação climática pós-
-plistocénica (Ramil Rego, 1993; Ramil Rego et al., 1998).
No que diz respeito a fenómenos de antropização da paisagem, não há, nesta fase, quaisquer
evidências ou indicadores polínicos que a possam conirmar. De facto, a percentagem de
palinomorfos do tipo Chaetomium sp. – espora de fungo carbonícola normalmente relacionada
com processos de incêndio de origem humana – revela-se reduzida (López Sáez et al., 2006).
De igual modo, a presença de Rivularia tipo (cianobactérias) indica uma interferência nula ou
quase nula do Homem quer nas zonas húmidas quer nas próprias linhas de água,
demostrando meios húmidos muito pobres em nutrientes (Rivularia é um indicador de águas
oligotróicas, isto é, águas limpas, sem nutrientes e sem contaminação humana) (López Sáez
et al., 1998; 2000).
No Neolítico Antigo (inais do VI milénio cal. BC ao terceiro quartel/ inais? do V milénio cal.
BC), apesar da loresta manter uma importância elevada – as árvores correspondem a cerca
de 40% a 50% do total da vegetação –, veriicam-se os primeiros sinais de intervenção do
Homem na paisagem. Tal facto é conirmado pela diminuição do Quercus caducifólio (< 20%),
pelo aparecimento muito signiicativo das urzes (Erica tipo) – relacionadas com a primeira
etapa de degradação do bosque –, pelo aumento de certos palinomorfos de herbáceas
(Cardueae e Cichorioideae) e pelo aumento das gramíneas (Poaceae). O desenvolvimento do
Vidoeiro (Betula) poderia traduzir igualmente este retrocesso lorestal na medida em que se
trata de uma árvore de características helióilas que encontra ambientes favoráveis nas
clareiras dos bosques.
Nas amostras de sedimentos atribuídas ao Neolítico Antigo observou-se uma elevada
percentagem de ascósporos de Chaetomium sp., pelo que, a partir desta fase, o fogo parece
ter tido um papel fundamental na destruição da loresta (López Sáez et al., 1998; López Sáez
et al., 2006).
Apesar deste quadro de antropização, é de referir que na análise polínica do Prazo não foram
detectados pólens nem microfósseis não polínicos indicadores da prática da agricultura ou do
pastoreio. A ter havido pressão ambiental decorrente desta última actividade ter-se-iam
identiicado ascósporos fúngicos de espécies copróilas, da família Sordariaceae, o que não
foi o caso (López Sáez et al., 2000; 2006).

2. Os dados da Antracologia/ Carpologia


A estação do Prazo revelou-se pobre em restos de plantas carbonizadas, tendo sido
estudados pouco mais de 1200 fragmentos de carvão. Os taxa identiicados no conjunto das
unidades estratigráicas foram os seguintes (por ordem alfabética): Arbutus unedo
(Medronheiro); Cistaceae; Cistaceae/ Ericaceae; cf. Clematis sp. (cf. Vide); cortiça, Erica
arborea (Urze branca), Erica sp. (Urze), Ericaceae; Fabaceae (leguminosas do tipo Giesta/ Tojo);
Fraxinus sp. (Freixo); Gimnospérmica indeterminada; Pinus pinaster/ pinea (Pinheiro bravo/
Pinheiro manso); Pinus sp.; Prunus tipo amygdalus (Amendoeira de amêndoa amarga); Prunus
sp.; cf. Prunus lusitanica (Azereiro); Quercus de folha caduca (Carvalho); Quercus de folha
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persistente (Azinheira/ Sobreiro); Quercus suber (Sobreiro); Quercus sp.; Rhamnus/ Phillyrea
(Aderno/ Lentisco bastardo); Rosaceae Maloideae (Rosáceas do tipo Pilriteiro, Escambroeiro,
Sorveira); Ulmaceae (Negrilho/ Lodão); Vitis vinifera (Vinha).
Esta lista lorística mostra claramente diiculdades de reconhecimento taxonómico, por um
lado relacionadas com as dimensões reduzidas e mau estado de conservação dos carvões, e
por outro com problemas de identiicação especíica no seio das famílias vegetais em
presença (diferentes espécies que apresentam características anatómicas idênticas).
Pode igualmente constatar-se que esta lista é relativamente reduzida. Tal situação poderá
resultar de problemas tafonómicos, ou ainda relacionar-se com as modalidades de ocupação
que aparentemente existiram no Prazo: ocupações de carácter temporário, possivelmente
ligadas à prática de actividades sazonais no âmbito de estratégias de exploração territorial de
“espectro alargado” (Monteiro-Rodrigues, 1999; 2000).
A escassez de elementos antracológicos em algumas das unidades estratigráicas, assim
como o carácter pontual de muitas das amostras (carvões concentrados) obrigou a uma
interpretação baseada sobretudo na presença/ ausência dos taxa. Apenas os dados da
unidade U3-sector VII (Neolítico Antigo – terceiro quartel do V milénio cal. BC) permitiram um
ensaio de quantiicação.
As unidades U5 (Mesolítico “antigo” – meados/ segunda metade do VIII milénio cal. BC), U4a
(Mesolítico “recente” – terceiro quartel do VII milénio cal. BC a meados do VI milénio cal. BC),
U4 (Neolítico Antigo – inais do VI milénio cal. BC ao terceiro quartel do V milénio cal. BC) e U3
(Neolítico Antigo – < terceiro quartel do V milénio cal. BC) forneceram listas lorísticas bem
mais reduzidas e consequentemente amostragens mais limitadas, sobretudo a da unidade U3.
Estas unidades incluíam também carvões concentrados, ilustrando recolhas de lenha
ocasionais. Tais factos impossibilitaram que se tecessem considerações detalhadas sobre as
transformações da lora durante o intervalo temporal que abrange genericamente o Boreal e o
Atlântico.
Na unidade U5a (Epipaleolítico-Mesolítico – inais do X milénio cal. BC a meados do IX milénio
cal. BC), o número exíguo de carvões vegetais recolhidos permitiu apenas constatar a
existência do Pinheiro (Pinus pinaster/ pinea), do Carvalho (Quercus folha caduca) e do Freixo
(cf. Fraxinus sp.) nas imediações do Prazo, num período que corresponde aos inícios do
Holocénico (Pré-boreal).
Assim, a interpretação dos resultados tornou-se possível uma vez que se tratam de plantas
comuns ao passado e ao presente, com exigências ecológicas estáveis ao longo dos últimos
milénios.
Para o período compreendido entre os meados/ segunda metade do VIII milénio cal. BC e o
terceiro quartel/ inais? do V milénio cal. BC (Gráico 1), os dados obtidos revelam uma
vegetação de carácter marcadamente mediterrânico, como aliás seria de esperar nesta região
do Alto Douro. De destacar a importância de uma vegetação “sempre verde” que inclui Querci
de folha persistente, Azinheira e Sobreiro, pinheiros mediterrânicos (tratar-se-á sobretudo do
Pinheiro bravo, Pinus pinaster, embora o Pinheiro manso, Pinus pinea, possa igualmente estar
presente) e Medronheiro (Arbutus unedo).
As plantas colonizadoras de zonas desprovidas de árvores e de terrenos deixados ao
abandono estão representadas pelas Urzes (Erica), pelas leguminosas Fabaceae (Giestas,
Codeços, Carqueja) e pelas Cistáceas (diferentes espécies de Esteva – Arçã).
Três dos taxa identiicados poderão estar directamente relacionados com a recolha de lenha
em zonas húmidas, como por exemplo as margens de ribeiras de fundo de vale
(provavelmente, o Vale de S. João). São eles: o Freixo (Fraxinus), o Negrilho e/ ou Lodão
(Ulmaceae) e a Vinha (Vitis). Assinalados durante o Mesolítico “recente”, os fragmentos de
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vinha pertencerão seguramente à espécie silvestre.


Às plantas desta fase poder-se-ia eventualmente juntar o Carvalho, identiicado
esporadicamente desde o Epipaleolítico-Mesolítico (inais do X milénio cal. BC a meados do IX
milénio cal. BC).
Os resultados quantitativos da unidade U3-sector VII poderão fornecer algumas informações
mais concretas (Gráico 2). Os elementos helióilos são muito abundantes – Fabaceae (18,8%),
Erica (9,0%), Cistaceae (8,3%) –, acompanhando-os o Medronheiro (17%) e os Querci de folha
perene (24,2%). Os pinheiros têm uma presença muito discreta (3,0%), enquanto que os
carvalhos (Querci de folha caduca) são identiicados apenas pontualmente (0,7%). Estes
resultados parecem dar uma imagem de uma vegetação mediterrânica essencialmente aberta.
A abundância de plantas helióilas na unidade U3-sector VII poderia estar eventualmente
ligada a um impacto antrópico relacionado com a prática de actividades produtoras, tais como
a agricultura e/ ou o pastoreio. De facto, as urzes e as estevas desenvolvem-se sobretudo em
zonas sujeitas a episódios de fogo repetidos. Contudo, e à semelhança do que foi
demonstrado pelas análises paleopalinológicas, também os estudos antracológico/
carpológico não detectaram no Prazo qualquer elemento vegetal que pudesse conirmar a
prática da agricultura.
A recolecção de frutos selvagens terá sido efectuada tal como demonstra a presença de
medronhos carbonizados na unidade U3-sector VII e no interior da fossa da unidade U4
(Neolítico Antigo). Uma vez que o medronho, rico em sacarose e ácido málico, amadurece
entre Outubro e Dezembro, é possível avançar a hipótese de algumas ocupações humanas
terem ocorrido pelo menos durante o Outono.
A abundância de fragmentos de medronheiro, que não cresce actualmente nas imediações do
Prazo, vem complementar dados obtidos noutras estações arqueológicas da região, que
apontam para a importância desta espécie pelo menos até à Idade do Bronze (Figueiral, 1999
e em curso). Esta abundância poderia indicar a existência de condições ambientais propícias
ao seu desenvolvimento, isto é, solos profundos, disponibilidade hídrica elevada e raras
geadas. Reira-se que nesta região o Medronheiro se acantona actualmente numa única zona
(área protegida do Sítio da Mela, Freixo de Numão), situada a mais baixa altitude, numa
encosta virada a norte.
Na unidade U4a (Mesolítico “recente”) identiicaram-se restos de Pilrito, os quais são
comestíveis a partir dos meses de Setembro/ Outubro.

3. Os dados da Arqueozoologia
Durante os trabalhos de escavação realizados no Prazo recolheram-se centenas de peças
ósseas, sobretudo nas unidades estratigráicas U4a (Mesolítico), U4, U3 e U3-sector VII
(Neolítico Antigo). Na sua grande maioria, estas peças encontravam-se muito fragmentadas e
desprovidas de elementos anatómicos de diagnóstico, o que diicultou os processos de
determinação das espécies. Por isso, em muitos casos, tal determinação assentou na
avaliação da dimensão/ robustez dos segmentos anatómicos, tendo como referência as
características das peças originais (Cardoso, 1996).
Para além de fragmentadas, quase todas as peças osteológicas evidenciavam nítidas marcas
de fogo, conirmadas quer pelo padrão de fracturação – estalamento devido a dissecação –
quer pela coloração cinzento-esbranquiçada, no limite cinzento-azulada. Tal facto poderá
corresponder à prática da projecção dos ossos para as estruturas de combustão, adjacentes
aos locais de consumo, após descarnamento. A hipótese de marcas de fogo devido a
churrasco é de rejeitar, uma vez que neste caso tais marcas seriam mais circunscritas e menos
intensas (idem).
pré-história gestos intemporais | vol. 01 103

Outros tipos de informações normalmente obtidas pela Arqueozoologia, tais como o sexo e a
idade de abate dos animais, a determinação das partes anatómicas mais utilizadas, os modos
de desmanche das carcaças, e mesmo aspectos de carácter tafonómico (idem) foram,
obviamente, impossíveis de obter em função do elevado grau de destruição patente nas peças
ósseas.
Assim, o estudo realizado possibilitou apenas o reconhecimento das espécies indicadas no
quadro 1, sem que tenha sido possível proceder-se a qualquer tipo de quantiicação.

quadro 1 Mamíferos identiicados no sítio

pré-histórico do Prazo

Muito embora as espécies selvagens assinaladas no quadro (Cervus elaphus, Capreolus


capreolus, Sus scrofa e Oryctolagus cuniculus) sejam extremamente adaptáveis a diferentes
ecossistemas (habitam desde o Norte de África até às mais diversas latitudes da Europa, Ásia
e América do Norte), a sua presença nos níveis pré-históricos do Prazo não contraria os dados
avançados pela Paleopalinologia e pela Antracologia no que diz respeito à existência, no
passado, de uma paisagem lorestal de tipo mediterrânico. De facto, estes mamíferos
encontram nestes ambientes lorestais condições favoráveis à sua sobrevivência, desde a
abundância de alimentos a aspectos relacionados com a sua reprodução e segurança.
Relativamente a esta última, o bosque proporciona protecção contra predadores através, por
exemplo, de esquemas de mimetismo conseguidos em grande parte pelos padrões da
pelagem, sobretudo durante a fase juvenil.
A presença do Veado pode ainda corroborar a existência de quercíneas (Carvalho, Sobreiro e
Azinheira), do Freixo (Fraxinus), bem como de outras árvores e arbustos com fruto, como por
exemplo o Zambujeiro (ou Oliveira brava, Olea europaea), já que todos eles integram o seu
regime alimentar (com destaque para as folhas das quercíneas e da bolota, com alto valor
nutritivo). O Veado alimenta-se também de pequenos rebentos, líquenes (frequentes na casca
das árvores), cogumelos e herbáceas que se encontram nas clareiras.
Por vezes, o Veado procura zonas de matagal, sobretudo durante o Verão, para se proteger do
calor. Todavia, esses locais não poderão ter vegetação excessivamente densa por causa das
suas hastes, que aí lhes diicultariam a mobilidade.
A ocorrência deste cervídeo em regiões de clima mediterrânico, marcadas por verões quentes
e secos, implica uma cobertura arbórea importante, capaz de lhe assegurar alimento na época
em que as herbáceas tendem a secar. Estas últimas, por seu turno, têm de existir
forçosamente nos ecossistemas frequentados pelo Veado pois garantem o seu bom
desenvolvimento físico, nomeadamente no que concerne ao peso, à corpulência e ao
desenvolvimento de hastes de boa qualidade, com diversas pontas e amplos contra-estoques
104 III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto douro e beira interior | actas

(a qualidade das hastes tem relexos na reprodução e, portanto, na sobrevivência da espécie).


O Corço, tal como o Veado, também habita as lorestas, e tem uma dieta variada. Contudo,
revela uma certa apetência por biótopos com maior quantidade de espécies arbustivas,
herbáceas e gramíneas.
A presença de um fragmento de haste de cervídeo (Cervus elaphus ou Capreolus capreolus)
na unidade U3 (Neolítico Antigo) pode sugerir uma caçada realizada entre a Primavera e o
Outono, pois fora deste período os cervídeos estão desprovidos de armações. Em todo o
caso, há que ter em conta que a referida haste poderia ter sido simplesmente encontrada
(após o desprendimento natural do crânio do animal), e levada para o acampamento numa
outra qualquer época do ano.
O Javali, com os seus hábitos omnívoros, encontra igualmente uma grande diversidade de
alimentos nas regiões lorestadas. Os alimentos de origem vegetal são a base da sua dieta,
que pode ser composta por plantas (no seu todo ou apenas partes, como as raízes), frutos
(bolotas), insectos, pequenos mamíferos (ratos, esquilos e coelhos), aves, ovos e, por vezes,
carne em decomposição. A componente animal é sempre menor que a vegetal, assumindo a
primeira a função de complemento alimentar em virtude da componente proteica.
Dentro da loresta, o Javali procura com alguma frequência locais com matos mais densos
para dormir, para se refugiar e, sobretudo, para ter as suas crias.
A im de manter a sua pele livre de parasitas costuma tomar banhos de lama em charcos ou
nas margens enlameadas dos ribeiros. Os vestígios no solo decorrentes deste comportamento
são muito comuns ainda hoje no vale da ribeira de S. João que, como se referiu, delimita o
lado E da área arqueológica do Prazo.
Apesar da sua ampla distribuição geográica, o Coelho poderá constituir um bom indicador de
ambientes térmicos ou, pelo menos, marcados por uma nítida sazonalidade. Para além de
particularmente sensível ao frio e à humidade, o carácter altricial (relacionado com a
vulnerabilidade das crias à nascença, nomeadamente com a ausência de pêlo) deste
lagomorfo pressupõe períodos com temperaturas elevadas em que ocorrem a reprodução e
os nascimentos. De facto, o ciclo reprodutor do Coelho encontra-se ligado às variações da
temperatura e da precipitação e ao ciclo das plantas, estando a sua duração condicionada
pela disponibilidade de alimento.
O habitat natural do Coelho possui uma cobertura arbórea importante que fornece protecção
face ao ataque das rapináceas. Por outro lado, a existência de árvores possibilita tocas mais
duráveis e seguras, uma vez que a estrutura radicular das raízes favorece a consolidação do
solo nas suas imediações. O Coelho, no entanto, frequenta também zonas de matagal, zonas
com vegetação rasteira e pastos. De um modo geral, evita deslocar-se em locais com
herbáceas excessivamente altas, que não só o impedem de detectar a aproximação de
predadores como de fugir rapidamente.
No que diz respeito à alimentação, este mamífero consome rebentos (e outras partes tenras
das plantas), herbáceas, gramíneas, raízes e mesmo casca de árvore. A maior parte da água
que assimila provém de vegetais muito ricos naquele mineral, o que pressupõe a existência de
nichos com um elevado grau de humidade no solo (Confagri, 2006).
Quanto às espécies domésticas, estar-se-á, em princípio, perante restos de Ovelha (Ovis aries)
e/ ou Cabra (Capra hircus), uma vez que as dimensões/ robustez de alguns dos fragmentos de
osso assim o sugerem. Segundo J. L. Cardoso (inf. pess.), uma das peças dentárias estudadas
(M1 ou M2 sup. esq.) é inquestionavelmente de um ovicaprídeo, embora não seja possível
determinar com segurança a qual das espécies pertence. Em função do seu tamanho reduzido
e fraca robustez poderá ser atribuída a Ovelha.
Datado pelo 14C através do processo conhecido por Dating of Cremated Bones (Lanting et al.,
pré-história gestos intemporais | vol. 01 105

2001), este dente forneceu uma datação incompatível (4440 ± 50 BP: 3336-2924 cal. BC) com
o contexto arqueológico a que terá estado ligado (Neolítico Antigo), o que provavelmente
poderá decorrer do facto de se encontrar queimado e não calcinado (idem; Monteiro-
-Rodrigues e Angelucci, 2004). Recorde-se que o molar em questão foi detectado na unidade
U4a (Mesolítico), posição que resultará de fenómenos pós-deposicionais.
Apesar de consumirem uma enormíssima diversidade de plantas – ao ponto de serem
considerados destruidores de ecossistemas por sobre-exploração (e por pisamento) –, os
ovicaprídeos têm preferência pelos pastos dominados por herbáceas e gramíneas. Por isso, a
prática da queimada em regiões lorestais, com o objectivo de gerar paisagens abertas, é uma
actividade bem conhecida no quadro das sociedades que desenvolvem o pastoreio.

4. Os dados da Malacologia
As duas valvas encontradas no Prazo associam-se à unidade estratigráica U4 (Neolítico
Antigo). Têm como dimensão máxima 4mm e 5mm, respectivamente. Do ponto de vista
taxonómico, pertencem ao género Pisidium (Sphaeriidae). Trata-se de um género comum que
existe na maior parte dos habitats aquáticos de água doce, temporários ou permanentes,
desde nascentes a rios, geralmente em águas pouco profundas. Ocorrem tanto em sistemas
lênticos (água corrente) como em sistemas lóticos (águas paradas ou com pouca corrente).
São abundantes em sedimentos compostos por gravilha, areia e matéria orgânica, e pouco
tolerantes a baixos níveis de oxigénio. São moluscos escavadores e do tipo alimentar iltrador
colector (detritos orgânicos inos e bactérias).
Até ao momento, não é possível explicar de forma inequívoca a presença destas valvas no
4 Reira-se a recolha de restos de Barbo
seio dos depósitos arqueológicos. Hipoteticamente poderão ter ido no estômago de uma ave
aquática, no estômago de um peixe (os hábitos alimentares do Barbo, Barbus bocagei, fazem no sítio de Castelo Velho de Freixo Numão

dele um potencial candidato4) ou ainda agarradas, por casualidade, a qualquer produto ou (V. N. de Foz Côa) (Antunes, 1995). Embora

objecto que tenha estado dentro de água (plantas aquáticas ou de borda de água, utensílios surgindo num contexto genericamente

ligados à pesca, etc.). Para todos os efeitos, estas valvas sugerem a prática de uma qualquer datado do Calcolítico/ Idade do Bronze,

actividade de subsistência desenvolvida em conexão com as linhas de água das proximidades a sua presença indica a prática da pesca

do Prazo: pesca, caça de aves aquáticas, etc. luvial na região em tempos pré-históricos.

5. Estratégias de subsistência no Prazo. Conclusões


De acordo com os dados da Paleopalinologia, entre os inícios do Holocénico e os meados/
inais do VI milénio cal. BC, terá existido na área do Prazo uma importante paisagem lorestal,
ao que tudo indica dominada pelo Carvalho, relacionada com as melhorias climáticas
posteriores à última glaciação. Embora atribuídas a espécies de folha caduca, uma boa parte
destas quercíneas deverão pertencer efectivamente a Quercus suber, segundo os resultados
do estudo antracológico. Na realidade, a análise de pólens não permite a diferenciação entre
as quercíneas caducifólias (Quercus pyrenaica, Quercus faginea, Quercus robur, etc.) e o
Quercus suber na medida em que de todos eles possuem o mesmo morfotipo polínico.
A partir dos inais do VI milénio cal. BC, e pelo menos até ao terceiro quartel/ inais? do V
milénio cal. BC, a antropização do território começa a fazer-se sentir, ocorrendo indícios de
deslorestação provocada por queimadas. Os dados da Antracologia vão ao encontro desta
hipótese uma vez que se observou num nível arqueológico datado desta fase (unidade U3-
sector VII – terceiro quartel do V milénio cal. BC) uma abundância signiicativa de espécies
arbustivas, tais como as urzes e as cistacias (Esteva/ Arçã), que se desenvolvem
principalmente como consequência de fogos recorrentes.
Esta deslorestação, no entanto, não parece relacionar-se com a abertura de clareiras
106 III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto douro e beira interior | actas

destinadas à agricultura, pois não foram detectados quaisquer indicadores que comprovem tal
actividade produtora. Poderá sim estar ligada à necessidade de se criarem zonas abertas a im
de favorecer o desenvolvimento de pastos.
A identiicação de restos osteológicos de Ovis/Capra sugere que estes pastos poderiam
destinar-se à prática do pastoreio. Possivelmente, estar-se-ia perante comunidades de
“pastores” que utilizariam o fogo para abrir o bosque. De facto, esta técnica de deslorestação
parece ter sido recorrente a partir de 6000 BP, de acordo com diversas sequências
paleopalinológicas portuguesas (López Sáez et al., 2006). Importa sublinhar, contudo, que a
criação de ovicaprídeos parece não ter tido grande relevância no âmbito das estratégias de
subsistência desenvolvidas pelas populações neolíticas, o que é sustentado pela ausência de
fungos copróilos nos sedimentos. Estes fungos ocorrem com muita frequência em contextos
arqueológicos onde houve abundância de gado.
Assim, e em alternativa, pode levantar-se a hipótese dos pastos se destinarem a atrair
herbívoros selvagens a im destes serem caçados (Fábregas Valcarce et al., 1997; Fábregas
Valcarce e Suárez Otero, 1999). As clareiras não só proporcionam uma maior exposição do
animal, facilitando o tiro com lecha (geralmente o caçador está escondido em pequenas
“ilhas” de arbustos ou nos limites da loresta), como também favorecem a colocação de
armadilhas (laços, redes, covas, etc.) e a caça por cerco. Além disso, em caso de fuga, é mais
difícil à presa dissimular-se por entre árvores e arbustos.
A queimada poderia ainda visar, simplesmente, a desmatação das áreas a habitar, no sentido
de as tornar mais abertas, mais luminosas e mais funcionais. Tal acção, no entanto, por mais
localizada que fosse, poderia com facilidade transformar-se num fogo de proporções
consideráveis, sobretudo em locais com abundância de vegetação seca, conduzindo a uma
destruição lorestal involuntária – e portanto, sem ins “económicos” (Dimbleby, 1978; Figueiral
e Sanches, 2003).
Há que ter em conta também a possibilidade de não existir uma relação directa entre clareiras
e antropização. Na realidade, as plantas usualmente indicadoras de paisagens abertas – por
exemplo, as Fabaceae, as Ericaceae e as Cistaceae – surgem já em momentos em que
supostamente o Homem não intervinha ainda de forma tão signiicativa na paisagem
(Paleolítico superior, por exemplo) (Zilhão et al., 1995). Assim, a loresta que se desenvolve
após os inais do Plistocénico poderia pois cobrir uma parte muito signiicativa dos terrenos,
existindo todavia zonas de clareira “naturais”, isto é, não originadas pelo Homem.
Perante este cenário em que a actividade produtora é praticamente inexistente, ter-se-á de
concluir que as estratégias de subsistência desenvolvidas no Prazo assentaram sobretudo na
recolecção de produtos silvestres, na caça e possivelmente na pesca. No entanto, não existem
dados suicientes – faunísticos, lorísticos e mesmo arqueológicos – que permitam observar,
na perspectiva diacrónica, variações dentro destas modalidades (que seguramente
ocorreram).
Como acima se referiu, a primitiva loresta de quercíneas deu abrigo a uma série de mamíferos
de médio e pequeno porte – pelo menos o Veado, o Corço, o Javali e o Coelho – os quais
foram alvo das opções cinegéticas dos caçadores do Prazo. Para eles, estas espécies
selvagens terão constituído, possivelmente, a principal fonte de proteínas.
A loresta terá fornecido igualmente um leque muito diversiicado de vegetais com utilizações
muitíssimo variadas. Seguindo as propostas apresentadas por Figueiral e Bettencourt (2004),
algumas das plantas identiicadas poderiam ter sido hipoteticamente usadas para os
seguintes ins (Quadro 2):
pré-história gestos intemporais | vol. 01 107

quadro 2 Utilizações possíveis das

principais espécies vegetais identiicadas

no Prazo.

Entre os frutos identiicados, o Medronho ocorre com uma certa frequência. A sua presença
nas unidades U4a, U4 e U3-Sector VII conirma que foi recolectado durante o Mesolítico
“recente” e o Neolítico Antigo. Neste último período poderá ter sido “armazenado” uma vez
que se recolheram restos carbonizados no interior da fossa da unidade U4. A Amêndoa
amarga foi igualmente colhida. Para tornar o seu consumo mais agradável (e menos tóxico,
por causa do cianeto) é possível que fosse alvo de alguma preparação, ou associada a outros
produtos (mel?). A sua utilização continuada ao longo do tempo terá sido acompanhada de
processos selectivos que acabaram por favorecer o desenvolvimento da espécie doméstica.
Para além destes frutos, poderão ter sido consumidas diversas herbáceas (por exemplo, o
cardo, Cardueae) e gramíneas, bem como diversas espécies de cogumelos.
A detecção de dois pequenos bivalves sugere a prática de actividades de subsistência junto
dos nichos luviais, muito embora não seja possível determinar exactamente quais dessas
actividades seriam realizadas. Todavia, é provável que se trate da pesca ou da caça de aves
aquáticas.
A forma como os alimentos eram confeccionados é praticamente desconhecida, pois os
dados a este respeito são extremamente lacunares. No entanto, a detecção de duas placas de
pedra termo-alteradas, adjacentes a duas lareiras (uma mesolítica e outra neolítica), sugere a
sua utilização como “grelhadores” (Fig. 5). Esta mesma função pode ter sido desempenhada
por seixos rolados de quatztite encontrados no local (Leesch, 1997, p 60). A presença de um
padrão de fracturação de origem térmica (“microissuras poligonais”) em alguns deles indica
que foram usados para aquecer água, possivelmente, com o objectivo de cozinhar alimentos
(idem; T. Aubry e J. Sampaio, inf. pess.5).
Outro indicador que permite relacionar as ocupações pré-históricas do Prazo com contextos
sociais de tipo caçador-recolector, nómadas ou semi-nómadas, pode ser observado ao nível
das características das estruturas pétreas exumadas (Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002). Tanto
as estruturas neolíticas como as mesolíticas indiciam ocupações de curta duração, em função
do reduzido investimento de trabalho subjacente à sua elaboração. Neste sentido, tenha-se
5 Em Freixo de Numão (Maio de 2006),
em conta, por exemplo, a pequena dimensão das pedras utilizadas, o que remete para acções
construtivas de “baixo custo energético” e com “pouca visibilidade arqueológica” (Binford, tivemos a oportunidade de observar

1983; 1988; Testart, 1982). A raridade dos buracos de poste poderá também ser indicador do actividades realizadas por Thierry Aubry

carácter “efémero” das construções. Como refere Sahlins (1983, 48), “(...) se vuelve absurda la no âmbito da Arqueologia experimental,

fabricación de casas de apariencia sólida si pronto deberán ser abandonadas”. Curiosamente, algumas das quais relacionadas com estes

esta situação contrasta com o que se observa nas ocupações do Paleolítico superior, tanto do aspectos.
108 III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto douro e beira interior | actas

Prazo como do Vale do Côa, onde se descobriram estruturas líticas com dimensões
signiicativamente maiores (Aubry, 2001; Aubry e Carvalho, 1998).
Na realidade, as únicas “estruturas” do Prazo que se poderiam considerar duráveis são os
aloramentos graníticos do local, que terão funcionado como “paredes” às quais eram
encostadas as cabanas, possivelmente feitas com varas de madeira e cobertas com ramagens
ou peles de animais (sobre esta questão ver Pollard, 2006).
Na opinião de alguns investigadores, a “precaridade” observada no Prazo poderia resultar do
facto de se estar perante um “acampamento secundário”, relacionado com uma estratégia de
exploração territorial que implicaria esquemas de “mobilidade logística” (C. T. da Silva e J.
Soares, inf. pess.). Todavia, o número exíguo de estações neolíticas conhecidas nesta área (2)
não permite a criação de uma tipologia de sítios, pelo que não é possível tecer qualquer
consideração relativamente a esta questão.
No que diz respeito à fossa da unidade U4, a sua capacidade é demasiado reduzida para que
possa ser correlacionada com um sistema tecno-económico assente no armazenamento
(Testart, 1982). Para além disso, e não obstante uma certa “soisticação” na forma como foi
elaborada, não evidencia qualquer vestígio de revestimento/ impermeabilização que permitisse
conservar produtos (sobretudo cereais) por um período de tempo alargado. Pelo contrário,
esta fossa parece ter tido como principal função proteger do sol alimentos de “consumo
imediato”, tais como frutos e caça, mantendo-os numa temperatura fresca e humidade
elevada. Não é de excluir a hipótese de ter sido usada também para conservar água fresca. A
detecção de alguns fragmentos cerâmicos no interior da fossa sugere que os alimentos
poderiam ter sido lá colocados dentro de pequenos vasos.
Relativamente à cerâmica, importa referir a sua pouca importância no contexto do Neolítico
Antigo do Prazo. De facto, dos cerca de 3350 fragmentos recolhidos, 64% têm dimensões
inferiores a 3 cm e apenas 1% é superior a 6 cm, o que deixa antever um número muito
reduzido de recipientes. Esta situação poderá resultar do facto de se estar perante populações
com um elevado padrão de mobilidade, incompatível com a posse deste tipo de objectos
(Sahlins, 1989; Testart, 1982).
A pequena dimensão dos referidos recipientes é um outro aspecto a ter em conta enquanto
indicador paleoeconómico: tal característica afasta qualquer possibilidade de terem
funcionado como vasos de armazenamento (Fig. 6). De um modo geral, os recipientes de
grande capacidade ligados àquela prática, começam a surgir em contextos pré-históricos
mais tardios (Calcolítico, Idade do Bronze), em que se veriica uma clara implantação do
sistema agro-pastoril (v. g. Jorge, 1990; 1999; 2005). Assim, parece verosímil relacionar os
recipientes cerâmicos do Prazo com actividades culinárias e com consumo de alimentos.
A indústria lítica desta estação aponta igualmente para um modo de vida em que a caça terá
tido um papel importante. Em termos gerais, as operações de talhe visaram a produção de
lascas, pequenas lamelas (ou “lascas alongadas”), esquírolas, triângulos e trapézios. Excluindo
as lascas, por vezes com retoques marginais intencionais ou decorrentes do seu uso como
“raspadeiras”, todos os restantes objectos poderão ter sido utilizados em lechas, quer como
pontas, quer como barbelas. Alguns triângulos, com uma pequena truncatura muito côncava,
assemelham-se aos de tipo Montclus (G.E.E.M., 1969), pelo que poderão ter sido usados
como pontas de seta.
Pelo menos no Neolítico Antigo, a produção de “verdadeiras” pontas de seta também terá
ocorrido uma vez que se detectou na unidade U4 uma ponta de dorso sobre lasca de quartzo
leitoso. A amostragem reduzida deste tipo de artefactos relacionados com a actividade
cinegética resultará, seguramente, do facto de eles terem sido utilizados/ perdidos fora do
acampamento.
pré-história gestos intemporais | vol. 01 109

Em consonância com estes aspectos, reira-se a ocorrência frequente de pequenos seixos


rolados de hematite, sobretudo nos níveis neolíticos, geralmente fracturados, debitados ou
com vestígios de raspagem. Ao que tudo indica, o pó deste mineral (misturado com resina e
cera de abelha) terá sido usado na fabricação de cola destinada a ixar os elementos líticos às
lechas ou a outro qualquer suporte de madeira (Allain e Rigaud, 1989; T. Aubry e Jorge
Smpaio, inf. pess.6). Poderá ter sido usado igualmente como corante (vermelho) para ins
diversos.
A utensilagem lítica normalmente associada ao “universo produtor” – “crescentes”, lâminas,
machados de pedra polida, moinhos manuais – pode considerar-se muito pouco signiicativa.
Relativamente aos machados, sublinhe-se o seu carácter “mais simbólico que funcional”, uma
vez que não evidenciam sinais de uso; um deles, para além de produzido num mineral frágil
(silimanite/ ibrolite), tem dimensões demasiado pequenas para ter servido como utensílio de
corte.
Os moinhos manuais têm também dimensões muito reduzidas, sobretudo se comparados
com os que aparecem em Castelo Velho e Castanheiro do Vento, sítios calcolíticos nas
proximidades do Prazo, relacionados com sociedades em que a produção cerealífera estaria já
bem consolidada (Jorge, 1999; 2005; Jorge et al., 2002; Muralha, 1996). Possivelmente, os
moinhos manuais do Prazo foram usados para a trituração/ esmagamento de frutos e plantas
silvestres, da hematite, bem como de outros produtos diversos. As superfícies polidas de
alguns “moventes” mostram sinais de percussão, e em certos casos, apresentam uma
pequena “covinha” no seu ponto central (uni ou bifacial) cuja funcionalidade se desconhece.
Levantando a hipótese destes “moventes” terem funcionado como bigornas para o talhe, tais
covinhas poderiam servir para facilitar a ixação de pequenos núcleos durante a debitagem.
É de salientar o facto do polimento não ser exclusivo dos níveis do Neolítico Antigo. Na
unidade U4a (Mesolítico “recente”) foram encontrados objectos líticos com superfícies
alisadas. Tendo em conta os trabalhos etno-arqueológicos de Valentine Roux (cit. in Muralha,
1996), tais objectos poderão ter estado ligados ao curtimento de peles de animais.
Quem foram então as populações que ocuparam o Prazo a partir dos inais do VI/ inícios do V
milénio cal. BC? Segundo as “evidências arqueológicas” e os dados Paleoambientais, e de
acordo com o enquadramento teórico de um dos autores (Monteiro-Rodrigues), terão sido
sociedades de caçadores-recolectores cuja origem poderá remontar ao Paleolítico superior.
Isto signiica, portanto, que não se considera a hipótese da desocupação dos territórios do
Alto Douro Português no período compreendido entre os inais do Plistocénico e o Holocénico
médio (Carvalho, op. cit.; Zilhão, op. cit.).
Estes caçadores-recolectores, à semelhança do que acontece em qualquer sociedade,
tiveram um complexo processo histórico que, ao longo do tempo, lhes foi conferindo
especiicidades, por vezes detectáveis no registo arqueológico. Algumas dessas
especiicidades, num momento particular, traduziram-se nos elementos ditos neolitizantes: a
cerâmica, a pedra polida e os ovicaprídeos. Enveredando por linhas interpretativas
tradicionais, marcadas pela lógica da presença/ ausência artefactual, estes elementos
relectiriam de forma inquestionável uma sociedade com um modo de vida produtor, de forte
pendor agrícola. A título de exemplo, veja-se o seguinte excerto: “(...) such economies are
present in Portugal from at least 5500-5250 BC, as is shown by the accelerator radiocarbon
dating of sheep bones from Caldeirão, and probably as early as 5750-5500 BC, as suggested
by the typology of some Cardial vessels recovered at other cave sites located in the limestone
massifs of Portuguese Estremadura” (Zilhão, 2000, 170). Ora, como foi referido, as
populações neolíticas do Prazo tinham ovicaprídeos e cerâmica e, no entanto, não há qualquer
6 Ver nota 5.
evidência que permita relacioná-las com sociedades agrárias.
110 III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto douro e beira interior | actas

Assim, a posse dos referidos elementos deverá ser antes relacionada com o processo
histórico das populações ou, na perspectiva de Vicent García (1997), com relações de
reciprocidade intergrupal, pelo que a sua dimensão seria muito mais de cariz social que
económico: “By accepting intergroup reciprocity as the vector for the transmission of neolithic
traits, we assume that the transmission was social in nature, rather than speciically economic
or generally techno-adaptative” (idem, ibidem, 9).
Nesta linha de raciocínio, haverá que ter em conta o carácter “polissémico” dos diversos
elementos assimilados (Tilley, 1991). Como refere este autor, todos os objectos têm múltiplos
sentidos, por vezes contraditórios, que podem variar de contexto para contexto. Deste modo,
a presença num determinado local de elementos considerados como pertencentes ao
“universo agrícola” não constitui, por si só, um indicador inequívoco da existência de um
sistema social assente numa economia de produção. “One appropriate example is the safety-
pin in contemporary Britain which, according to who wears it – an infant, a grandmother or a
‘punk’, changes its meaning” (idem, ibidem, 191, citando Hodder). Ou seja, o trigo nem sempre
será trigo...
Portanto, os caçadores-recolectores do Prazo, por volta dos inícios do V milénio cal. BC,
começam efectivamente a incorporar certas “novidades” no seu quotidiano, novidades essas
que todavia não geraram rupturas face aos aspectos estruturantes que desde sempre melhor
os caracterizaram.

iguras

ig. 1Localização do sítio pré-histórico do

Prazo e posição das áreas escavadas na

Carta Militar de Portugal, escala 1/25 000,

nº 140 - Touça. Coordenadas geográicas da

zona central da estação: 41º 04’ 20” latitude

N | 07º 14’ 36” longitude W (Greenwich).

Altitude 560 anm.


pré-história gestos intemporais | vol. 01 111

ig. 2 Estação do Prazo vista de sul.

A mancha sem vegetação, ao centro,

corresponde ao Sector I. À sua esquerda

ica o Sector VII e à direita o Vale de S. João.

A fundo, no sopé das montanhas, corre o

Rio Douro (aproximadamente a 10 km a

Norte do Prazo).

ig. 3 Datações 14C do sítio pré-histórico do

Prazo (Datações calibradas com o programa

Oxcal 3.10 a 2s, 95,4% de probabilidade).


112 III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto douro e beira interior | actas

gráico 1 Os carvões concentrados

testemunham recolhas pontuais de lenha

e fornecem sobretudo informações de

cariz paleoetnobotânico. A abundância

de pinheiro nas unidades U5, U4a, U4 e

U3 contrasta com as frequências relativas

obtidas na unidade U3-sector VII.

legenda do gráico: Quercus (fp) – Quercus de folha persistente; Quercus (fc) – Quercus de folha caduca;

Indet. – Indetermináveis. Nas quantiicações: Pinus sp. inclui fragmentos de pinha; Quercus de folha

persistente inclui fragmentos de cortiça e Quercus suber; Rosaceae sp. inclui sementes e fragmentos de fruto

(Pilrito); Quercus sp. inclui cúpula e fragmento de Bolota; Indetermináveis incluem casca de árvore.

gráico 2 Unidade U3-sector VII.

Informações paleoecológicas idedignas

são obtidas a partir do estudo de carvões

dispersos, que testemunham uma recolha

de lenha durante um período de tempo

relativamente alargado.

legenda do gráico: Quercus (fp) – Quercus de folha persistente; Quercus (fc) – Quercus de folha caduca;

Indet. – Indetermináveis. Nas quantiicações: Pinus sp. inclui fragmentos de pinha; Quercus de folha

persistente inclui fragmentos de cortiça e Quercus suber; Rosaceae sp. inclui sementes e fragmentos de fruto

(Pilrito); Quercus sp. inclui cúpula e fragmento de Bolota; Indetermináveis incluem casca de árvore.
pré-história gestos intemporais | vol. 01 113

ig. 4 Diagrama paleopalinológico da

estação pré-histórica do Prazo.

ig. 5 Unidade U4a (Mesolítico “recente”).

Estrutura de tipo “grelhador” com placa

em xisto. Observe-se a desagregação da

placa pelos planos de xistosidade como

consequência da termo-alteração. A área

de fogo (com carvões que foram datados)

coincide com o local onde está pousada a

lousa. Escala: a largura da lousa é de cerca

de 25 cm.

ig. 6 Unidade U3-sector VII (Neolítico

Antigo – terceiro quartel do V milénio cal.

BC). Recipiente cerâmico liso (restaurado).

Este vaso dá uma ideia das dimensões

médias dos recipientes cerâmicos do Prazo.

Observe-se o seu aspecto irregular. A escala

= 5cm.
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