Livro Texto - Unidade II PDF
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Unidade II
5 TERAPIA NUTRICIONAL NAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES
Os fatores de risco implicados na gênese das DCV incluem o tabagismo, a hipertensão arterial
sistêmica (HAS), as dislipidemias, o diabetes mellitus (DM), a dieta inadequada, a inatividade física
(CASTRO et al., 2003), o uso nocivo de álcool, o estresse psicossocial, a idade avançada, o sobrepeso e a
obesidade (FREIRE et al., 2017).
Observa-se que uma pessoa com circunferência abdominal aumentada (obesidade central) possui
risco elevado de óbito de 87% em comparação a uma pessoa com alto índice de massa corpórea (IMC),
mas sem circunferência abdominal elevada (SILVA et al., 2018).
As mudanças no estilo de vida e o controle dos fatores de risco modificáveis (dislipidemias, obesidade,
HAS, DM, tabagismo, sedentarismo, dentre outros) representam a base terapêutica e o controle das DCV,
o que demanda atuação de uma equipe multiprofissional (FREIRE et al., 2017).
O nutricionista possui uma atuação importantíssima na terapia nutricional das DCV e de seus fatores
predisponentes, visto que a intervenção nutricional exerce um papel fundamental tanto na prevenção
quanto no tratamento dessas doenças em todos os níveis de assistência à saúde.
Nesta unidade, serão abordadas as intervenções nutricionais nas dislipidemias, na HAS, na insuficiência
cardíaca congestiva (ICC) e no infarto agudo do miocárdio (IAM), destacando o imprescindível papel do
nutricionista e demais membros da equipe multiprofissional.
Na tabela a seguir estão descritos os pontos de corte para cada tipo de dislipidemia.
Tipos Interpretação
Hipercolesterolemia isolada LDL-c ≥ 160 mg/dL
TG ≥ 150 mg/dL ou
Hipertrigliceridemia isolada
TG ≥ 175 mg/dL (sem jejum)
LDL-c ≥ 160 mg/dL
Hiperlipidemia mista TG ≥ 150 mg/dL ou TG ≥ 175 mg/dL (sem jejum)
Se TG > 400 mg/dL, considerar não HDL-c ≥ 190 mg/dL
Homens: < 40 mg/dL
HDL-c baixo Mulheres: < 50 mg/dL
Em associação: aumento de LDL-c e TG
Os valores referenciais dos lipídeos, em jejum ou sem jejum, para indivíduos com idade superior a 20
anos estão descritos na tabela a seguir.
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Unidade II
A aterosclerose é um processo crônico, progressivo e sistêmico que se caracteriza por uma resposta
inflamatória e fibroproliferativa da parede das artérias, ocasionada por agressões da superfície arterial.
Logo após o nascimento, inicia-se o processo de aterosclerose, com repercussões clínicas a partir dos
30 anos de idade. A injúria endotelial de diversas causas (atividade tóxica da LDL-c, nicotina, estresse
hemodinâmico pela HAS etc.) constitui o ponto inicial do processo de aterosclerose, o que leva à
disfunção endotelial (SILVA; MARQUES, 2007).
A dislipidemia é um dos fatores que desencadeia a disfunção endotelial, em que se observa aumento
no transporte da LDL-c para a camada íntima, seguindo-se do acúmulo dessa lipoproteína, formando
partículas e micelas compactas, ou vesículas maiores, os lipossomos extracelulares. Na vigência de
disfunção endotelial, a concentração de citocinas pró-inflamatórias se eleva, o que estimula a síntese
de moléculas de adesão, favorecendo o recrutamento e a adesão de monócitos à superfície endotelial
(SILVA; MARQUES, 2007).
Fatores não modificáveis, como sexo e idade, também estão associados ao risco aumentado de
dislipidemias (FERREIRA et al., 2011). Outras doenças, além de obesidade, HAS e DM, como afecções
tireoidianas, síndrome dos ovários policísticos (SOAP) e acantose nigricans também são fatores
desencadeantes ou agravantes da aterogênese (RAFIEIAN-KOPAEI et al., 2014).
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
Fluxo
sanguíneo
linear
Plaquetas
O cigarro é um dos fatores que afeta a função cardiovascular e que pode induzir o processo de
aterosclerose, visto que é capaz de ocasionar disfunções endoteliais, como diminuição da vasodilatação.
Aliado a isso, devido à ação da nicotina no sistema nervoso central (SNC), tabagistas possuem alterações
dos hábitos alimentares, com redução do consumo de alimentos protetores (vegetais, frutas, entre
outros) e aumento do consumo de sal, bebidas alcóolicas e guloseimas no intuito de eliminar o sabor do
tabaco (BRANDÃO et al., 2015).
O sedentarismo também exerce bastante influência na saúde geral e no risco de DCV, assim como
a obesidade central. Logo, a avaliação antropométrica é de suma importância, principalmente para a
identificação dos fatores de risco cardiometabólicos (BRANDÃO et al., 2015). A aferição da circunferência
abdominal é de extrema importância para avaliar a obesidade central e o risco de doença arterial
coronariana, assim como a relação cintura-quadril (RCQ) (JENSEN et al., 2014). Outros marcadores
antropométricos de risco cardiovascular estão descritos anteriormente.
Lembrete
O índice de Castelli I (ICI) é calculado a partir da razão entre o colesterol total e HDL-c, e o índice
de Castelli II (ICII) pela razão entre LDL-c e HDL-c (SOARES et al., 2018; BRANDÃO et al., 2015; CASTELLI
et al., 1986). Outros índices incluem a razão TG/HDL-c, a relação Apo B/ Apo A11 e o escore de risco de
Framingham. A Proteína C-Reativa de Alta Sensibilidade (PCR-us) contribui para a identificação de risco
do desenvolvimento de DCV, entretanto, a presença de > 2 mg/L sugere a necessidade de intensificar a
terapêutica hipolipemiante (SOARES et al., 2018; FALUDI et al., 2017).
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Unidade II
A avaliação desses marcadores de risco aumentado para DCV auxilia o nutricionista a identificar se
a intervenção dietoterápica associada (ou não) a outras modificações do estilo de vida inadequado está
surtindo efeito positivo.
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
Os objetivos da terapia nutricional nas dislipidemias são: manter o peso corpóreo desejável
e/ou promover a sua redução nos casos de sobrepeso e obesidade, com preservação da massa magra;
reduzir os níveis séricos de colesterol total, LDL-c e TG, com aumento simultâneo do HDL-c; prevenir as
comorbidades e suas complicações clínicas; promover as modificações no estilo de vida e reduzir o risco
de morbimortalidade.
Para o alcance desses objetivos, torna-se primordial as seguintes condutas: diminuição da ingestão
de AGS, AGT e colesterol; adequação do balanço energético, respeitando as necessidades nutricionais
individuais; modificação de outros fatores de risco por meio da dieta, incluindo o controle da resistência à
insulina e do DM; manutenção permanente das alterações de hábitos alimentares (SANTOS; GUIMARAES;
DIAMENT, 1999).
Energia
Na vigência de sobrepeso e obesidade, a dieta para perda de peso deve ser instituída, de forma individual,
para alcançar um déficit de 500 a 1000 kcal/dia, o que equivale a uma redução de 0,5 a 1,0 kg/semana
(CARVALHO et al., 2018, ABESO, 2016). Essa perda de peso, entre 5% e 10% do peso inicial, considerada
moderada, representa uma diminuição de 30% do tecido adiposo visceral, sendo capaz de reduzir o
colesterol total, LDL-c, TG, além de melhorar a sensibilidade à insulina, reduzir os marcadores inflamatórios
e de risco cardiovasculares, entre outros efeitos benéficos (COPPINI et al., 2011). A regra (ou fórmula) de
bolso em que se preconiza para redução ponderal, de 20 a 25 kcal/kg de peso corpóreo; para manutenção,
de 25 a 30 kcal/kg e; para ganho de peso, ≥ 30 kcal/kg de peso, também pode ser utilizada.
Faludi et al. (2017) mencionam que o alcance das metas nutricionais individuais depende da adesão
à dieta e às correções no estilo de vida, o que pode resultar em 20% de redução da concentração
plasmática de TG. Ao planejar a dieta, o nutricionista deve considerar não apenas o controle de calorias,
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Unidade II
mas a qualidade dos nutrientes nos aspectos referentes à obesogênese, como saciedade, resposta
insulínica, lipogênese hepática, adipogênese, gasto energético e microbiota intestinal.
Carboidratos
Em relação ao aporte de carboidratos, recomenda-se uma ingestão diária entre 45% e 60% do
VET da dieta na presença de LDL-c elevado e comorbidades, sendo uma média de 50% do VET para
todas as condições dislipidêmicas (FALUDI et al., 2017). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes
(2019), a fonte preferencial é de carboidratos complexos, ricos em fibras alimentares, de baixo índice
glicêmico (IG), sendo o consumo mínimo de 175 g/dia. Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) não
recomenda quantidades de carboidratos inferiores a 130 g/dia devido à possibilidade de danos cerebrais,
entre outros.
O termo “açúcar” deriva do sânscrito çarkara cujo significado é grão de areia. O termo em sânscrito
deu origem ao grego sakkaron, ao latim saccharum e ao árabe sukkar, sendo que em português a
palavra açúcar tem origem árabe (BARREIROS; BOSSOLAN; TRINDADE, 2005). Os açúcares de adição ou
a sacarose não necessitam ser excluídos da dieta e devem integrar o total de carboidratos preconizado
(PADILHA et al., 2010), podendo oscilar entre 5% e 10% do VET. A OMS e as novas diretrizes da American
Heart Association (AHA) recomendam o consumo diário máximo de 5% da ingestão total de energia
proveniente dos açúcares adicionados.
Cabe ressaltar que o nutricionista deve orientar o consumo prioritário de carboidratos através
da ingestão de frutas, vegetais, legumes, grãos integrais e alimentos de baixo IG. Entretanto,
sugere‑se limitar ou excluir da dieta os açúcares de adição contidos em refrigerantes, sucos
artificiais, frutas industrializadas, alimentos adicionados de xaropes, como doces, entre outros, dada
a elevada concentração de frutose. O excesso de carboidratos é fator de risco independente para o
desenvolvimento de hipertrigliceridemia.
Proteínas
Quanto ao aporte proteico, recomenda-se 15% do VET da dieta, podendo atingir 20% nas condições
de hipertrigliceridemia (FALUDI et al., 2017). O objetivo desse aporte proteico é de favorecer a perda
ponderal, aumentar a termogênese induzida pela dieta e a saciedade por meio da liberação de GLP1 e
PYY. Outros efeitos positivos incluem: maior adesão à dieta, redução de tecido adiposo, das concentrações
séricas de triglicerídeos, dos níveis pressóricos, da glicemia e melhora da hemoglobina glicada (HbA1)
(CARVALHO et al., 2018). Priorizam-se as proteínas de alto valor biológico (AVB).
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
Em relação à proteína de soja, observa-se que a ingestão diária de 1 a 2 porções de alimentos fonte,
o que totaliza entre 15 e 30 g de proteína, está associada à diminuição de 5% de LDL-c, ao aumento de
3% de HDL-c e à diminuição de 11% de TG (FALUDI et al., 2017).
Lipídeos
Preconiza-se 30% do VET da dieta proveniente dos lipídeos para todas as condições clínicas de
dislipidemias, não ultrapassando 35%. Deve-se excluir da dieta os AGT; limitar os AGS, preferencialmente,
a menos de 5%, não ultrapassando 10%; e considerar uma média de 15% de ácidos graxos monoinsaturados
(AGMI). Os ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) devem perfazer de 5% a 10% do VET em indivíduos
com hipercolesterolemia e entre 10% e 20% do VET na presença de hipertrigliceridemia (FALUDI et al.,
2017). O nutricionista deve ter especial atenção quanto à restrição lipídica severa devido ao déficit de
ácidos graxos essenciais (AGE) (CARVALHO et al., 2018).
Devem-se excluir da dieta os AGT por elevarem a concentração plasmática de LDL-c, com indução
intensa de lesão aterosclerótica. A substituição de AGS por AGMI, como azeite de oliva e frutas oleaginosas,
pode estar associada à diminuição do risco cardiovascular, entretanto, há menos evidências em relação aos
AGPI. Quanto ao colesterol, as atuais diretrizes internacionais sobre a prevenção cardiovascular apontam
que não há evidências suficientes para estabelecer um valor de corte para o consumo de colesterol (FALUDI
et al., 2017). Entretanto, até que estudos controlados e randomizados adicionais sejam realizados, compete
ao nutricionista orientar com cautela o consumo de alimentos fonte de colesterol.
Observação
Apesar das atuais diretrizes internacionais sobre a prevenção
cardiovascular não estabelecerem um valor de corte para o consumo
de colesterol, compete ao nutricionista orientar com cautela a ingestão de
alimentos fonte até que estudos adicionais sejam realizados.
As principais fontes de AGT são óleos e gorduras hidrogenadas, margarinas duras, gorduras industriais
(sorvetes, chocolates, produtos de padaria, salgadinhos tipo chips, molhos para saladas, maionese,
cremes para sobremesas), óleos para fritura industrial, produtos lácteos, carnes bovinas e caprinas. Na
presença de hipertrigliceridemia ou HDL-c baixo, recomenda-se aumentar a quantidade de AGMI e
reduzir a oferta de carboidratos, sempre respeitando as recomendações dietéticas. Já os AGPI ômega-3
são indicados na terapêutica da hipertrigliceridemia severa, sendo recomendado o consumo de duas a
três porções de peixe por semana (I-DBDTSM, 2005).
A substituição de AGS e AGT por AGPI é mais efetiva na redução das concentrações séricas de
colesterol e da morbimortalidade por DCV em comparação à redução do teor total de gordura dietética.
Recomenda-se o consumo de óleos vegetais (especialmente os de oliva e canola), peixes e frutas
oleaginosas, e diminuição de alimentos com alto teor de AGS e AGT.
Os AGPI ômega 3 exercem atividade cardioprotetora, sendo que o consumo oriundo de fontes animais
fornece os ácidos graxos ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosa-hexaenoico (DHA) que estão mais
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Unidade II
relacionados à proteção cardiovascular. O ácido alfa-linolênico (ALA), de origem vegetal – soja, canola
e linhaça –, sintetiza quantidades endógenas de EPA e DHA, além de exercer ação cardioprotetora, o
que auxilia no controle das dislipidemias. A suplementação diária de 2 a 4 g de AGPI ômega 3 (EPA e
DHA) é capaz de diminuir a concentração plasmática de TG em até 25% a 30%, além de aumentar a
concentração plasmática de HDL-c (1% a 3%) (FALUDI et al., 2017).
Fibras
A ingestão recomendada de fibras alimentares é de 25 g/dia, sendo 6 g solúvel (FALUDI et al., 2017).
Está bem elucidado na literatura que as fibras alimentares possuem efeitos benéficos sobre a homeostase
da glicose, modulação do perfil lipídico, promoção da saciedade, redução do peso corpóreo e dos fatores
de risco para DCV (DALL’ALBA; AZEVEDO, 2010). As fibras solúveis (aveia, psyllium, pectina, goma-guar
etc.) são capazes de reduzir os níveis séricos de colesterol total e LDL-c, o que auxilia no perfil lipídico,
entre outros efeitos benéficos (BERNAUD; RODRIGUES, 2013).
LDL-c Triglicérides
Recomendações Acima da meta
Dentro da meta e sem Limítrofe Elevados Muito elevados†
ou presença de
comorbidades * (%) mg/dL (%) mg/dL (%) > 500 mg/dL (%)
comorbidades* (%)
Perda de peso Manter peso saudável 5-10 Até 5 5-10 5-10
Carboidrato (%VET) 50-60 45-60 50-60 50-55 45-50
Açúcares de adição (%VET) < 10 < 10 < 10 5-10 <5
Proteína (%VET) 15 15 15 15-20 20
Gordura (%VET) 25-35 25-35 25-35 30-35 30-35
AGT (%VET) Excluir da dieta
AGS (%VET) < 10 <7 <7 <5 <5
AGMI (%VET) 15 15 10-20 10-20 10-20
AGPI (%VET) 5-10 5-10 10-20 10-20 10-20
Ácido linolênico, g/dia 1,1-1,6
EPA e DHA, g 0,5-1,0 1,0-2,0 > 2,0
Fibras 25 g, sendo 6 g de fibra solúvel
DHA: ácido docosaexaenoico.
EPA: ácido eicosapentaenoico.
LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade.
VCT: valor calórico total.
O tempo de reavaliação após a implantação das medidas de modificações do estilo de vida deve ser de 3 a 6 meses.
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
Saiba mais
Fitosteróis
O termo fitosteróis é usado para descrever os esteróis vegetais e seus derivados saturados; ou seja,
os estanóis vegetais. Os fitosteróis são compostos bioativos presentes naturalmente nos alimentos de
origem vegetal. Possuem estrutura química semelhante à do colesterol. Os esteróis vegetais mais comuns
na alimentação são: beta-sitosterol, campesterol e estigmasterol. Ao passo que o beta-sitostanol e o
campestanol são os mais comuns estanóis vegetais (CABRAL; KLEIN, 2017).
As principais fontes alimentares de fitosteróis são: óleos vegetais (milho, girassol, soja e oliva); as
frutas oleaginosas como amêndoas; cereais como gérmen e farelo de trigo; além de frutas e hortaliças
(maracujá, laranja e couve-flor). Alguns alimentos industrializados enriquecidos com fitosteróis no Brasil
incluem margarina, iogurte e leite (CABRAL; KLEIN, 2017).
O efeito hipocolesterolemiante dos fitosteróis tem sido confirmado em diversos estudos, incluindo
metanálises. Acredita-se que o principal mecanismo de ação dos fitosteróis na redução dos níveis séricos
de LDL-c é por meio da diminuição (de 30% a 50%) na absorção intestinal de colesterol. Observa-se uma
competição do fitosterol com o colesterol pela solubilização nas micelas mistas na luz intestinal, o que
reduz a quantidade de colesterol disponível para absorção (CABRAL; KLEIN, 2017).
As indicações de uso dos fitosteróis são: indivíduos com hipercolesterolemia sob risco cardiovascular
baixo ou intermediário, que não possuem indicação para farmacoterapia; em pacientes que, mesmo
tratados com estatinas, não atingem as metas de LDL-c ou sejam intolerantes a estas; em adultos ou
crianças (a partir dos 5 anos) com hipercolesterolemia familiar. Contraindica-se o uso na fitosterolemia
(FALUDI et al., 2017).
101
Unidade II
Saiba mais
DIETA para colesterol alto. Produzido por Tua saúde. [s.l.], 28 abr.
2014. 1 vídeo (3 min.). Disponível em: https://bit.ly/3tSOwBh. Acesso em:
25 abr. 2021.
As orientações nutricionais também são de suma importância para indivíduos com dislipidemia,
conforme descritas no texto em destaque a seguir.
102
NUTRIÇÃO CLÍNICA
• Substitua leite e derivados integrais por leite e iogurte desnatado, queijo branco
ou ricota.
• Acrescente cereais integrais, como linhaça triturada, granola sem açúcar, cookies
integrais, pão integral, entre outros, na alimentação.
• Prefira os alimentos ricos em fibras: feijão, vegetais e legumes crus, frutas com casca
e bagaço, cereais integrais (arroz, pão e aveia).
• Prefira carnes magras de qualquer animal. Retire a gordura visível das carnes, a pele
de frango e o couro de peixes.
103
Unidade II
Lembre–se: não é aconselhável ingerir açúcar, rapadura, caldo de cana, pudins, tortas,
balas, mel, melado, doces, bombons, sorvetes, picolés, achocolatados, chocolates, balas,
pirulitos, leite condensado; produtos enlatados, engarrafados ou ensacados que contenham
açúcar; biscoitos doces e biscoitos recheados; farinha láctea ou quaisquer alimentos que
contenham açúcar em sua composição.
Diet: são alimentos com restrição de algum nutriente específico, como: ausência
de açúcar – indicado para diabéticos; ausência de gordura – indicado para pessoas com
problemas de colesterol; ausência de sal – indicado para os hipertensos.
Light: são alimentos que apresentam redução de, no mínimo, 25% de um de seus
ingredientes quando comparados aos produtos em sua apresentação normal, como açúcar,
gordura etc., sendo indicados para pessoas que desejam controlar a ingestão de calorias e
perder peso.
Tanto o tabagismo quanto o etilismo não são recomendados para indivíduos com dislipidemia.
Evidências científicas comprovam que o tabagismo é um importante fator de risco cardiovascular, sendo
que o abandono dessa inadequada prática constitui a medida mais eficaz na prevenção das doenças
coronarianas (SANTOS; ABREU-LIMA, 2009).
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
Da mesma forma, não se recomenda a ingestão de bebida alcoólica para indivíduos com
hipertrigliceridemia. Entretanto, acredita-se que o consumo moderado de álcool (até 30 g/dia) não
exerce impacto nos TG. Cabe ressaltar que um consumo excessivo de etanol associado a uma ingestão
elevada de AGS potencializa a elevação dos triglicérides plasmáticos (FALUDI et al., 2017).
5.2.4 Farmacoterapia
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica de elevada incidência e mortalidade.
Ela predomina em quase metade da população brasileira e evolui mundialmente em mortalidade, assim,
é considerada uma pandemia longitudinalmente progressiva. A HAS predispõe ao desenvolvimento de
outras DCV (SOUSA et al., 2020; MALACHIAS et al., 2016; SOARES; PARDO; COSTA, 2017; KLEIN, 2015),
representando um sério problema de saúde pública.
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Unidade II
A HAS constitui o principal fator de risco para as DCV, visto que níveis elevados de pressão arterial
aumentam o risco de doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca congestiva (ICC), acidente
vascular encefálico (AVE), doença renal crônica (DRC) e morte (SOUSA et al., 2020; MALTA et al., 2018;
SOARES; PARDO; COSTA, 2017).
O estresse mental também constitui um importante fator de risco para HAS, sendo que um dos
principais aspectos que conduzem a uma melhor qualidade de vida é o controle de determinadas
situações emocionais, tais como: tensões ocasionadas por problemas familiares e/ou no âmbito de
trabalho; estado de insatisfação; tensão crônica associada à competição; e redução dos relacionamentos
interpessoais (CASTRO et al., 2003).
O nutricionista exerce um papel fundamental desde a triagem do risco nutricional até a implementação
e monitorização da conduta dietoterápica, tornando-se essencial a compreensão dos aspectos que
envolvem a doença, incluindo os fatores de risco, as principais complicações clínicas, as terapêuticas
adjuvantes e, por fim, a terapia nutricional na hipertensão arterial sistêmica.
A HAS é uma condição clínica multifatorial que se caracteriza por uma elevação sustentada dos
níveis pressóricos iguais ou superiores a 140 mmHg para pressão arterial sistólica (PAS) e/ou igual ou
maior que 90 mmHg para pressão arterial diastólica (PAD) (MALACHIAS et al., 2017). Possui caráter
silencioso e progressivo que pode culminar com sequelas transitórias e permanentes, gerando ônus aos
cofres públicos devido à interrupção da vida produtiva (JESUS et al., 2017).
Essa condição clínica está frequentemente associada a alterações metabólicas, funcionais e/ou
estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco, tais como:
obesidade central, intolerância à glicose, DM e dislipidemia. Possui uma associação independente com
acidente vascular encefálico (AVE), IAM, ICC, doença arterial periférica, doença renal crônica (DRC) e, em
consequência, morte súbita (MALACHIAS et al., 2017).
A HAS está associada às alterações estruturais e/ou funcionais de órgãos-alvo (ex.: coração, encéfalo,
rins e vasos sanguíneos) e às alterações metabólicas e, em consequência, ao aumento do risco de
desenvolvimento da DRC e DCV (KLEIN, 2015).
106
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Figura 9 – Oclusão da veia central da retina; perda visual súbita; cegueira permanente
depois do nascimento. Quando essa situação clínica evolui para pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou síndrome
hemólise, elevação de enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas, a situação fica muito mais
grave, visto que são síndromes de alto risco de mortalidade materna (SOUSA et al., 2020).
A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica, multifatorial e de início precoce que conduz
a danos ao endotélio vascular devido à presença de vários fatores de risco, incluindo a elevação
de lipoproteínas aterogênicas, como LDL-c, IDL-c, VLDL-c, remanescentes de quilomícrons, e a HAS
(CASANOVA; MEDEIROS, 2011).
Há evidência de que o processo de aterosclerose se inicia na infância, aos três anos de idade, onde as
estrias gordurosas precursoras das placas de ateroma surgem na camada íntima da aorta. Já durante a
adolescência, esse surgimento ocorre nas coronárias, entretanto, a manifestação ocorre apenas na idade
adulta, sendo resultante da complexa interação entre os diversos fatores de risco (SANTOS et al., 2018).
A formação da placa de aterosclerose ocorre por meio de danos ao endotélio devido, por exemplo, a
HAS, dislipidemia, obesidade e tabagismo. Com isso, observa-se uma disfunção celular endotelial, com
aumento da permeabilidade da camada íntima às lipoproteínas plasmáticas, o que favorece a retenção
dessa gordura no espaço subendotelial, com consequente comprometimento da hemodinâmica vascular
(SIMÃO et al., 2013).
Cefaleia
Tontura Epistaxe
Cansaço Dispneia
Náusea
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
A HAS pode ser classificada como primária ou essencial (origem idiopática) ou secundária (originária
de outras doenças, como DM, obesidade e dislipidemia) (SOUSA et al., 2020).
Em relação à HAS primária, as possíveis causas estão relacionadas às alterações no sistema nervoso
autônomo, no metabolismo renina-angiotensina-aldosterona, na reabsorção de sódio renal, bem como
inerentes às variações genéticas. A resistência à insulina (RI) também exerce influência na pressão arterial
cujo padrão-ouro de detecção é o método Homeostasis Model Assessment (HOMA). As causas secundárias
da HAS estão relacionadas a feocromocitoma, Síndrome de Cushing, hipertireoidismo, hipotiroidismo,
distúrbios renovasculares, uso de anticoncepcionais orais, coarctação da aorta, aldosteronismo primário,
entre outros.
Considera-se os níveis pressóricos normais quando o indivíduo apresenta uma PAS ≤ 120mmHg e
PAD ≤ 80 mmHg; popularmente chamada de 12x8. Valores superiores a esses são identificados como
aumento da pressão, sendo categorizados em pré-hipertensão; ou seja, PAS de 121 mmHg a 139 mmHg e PAD
entre 81 mHg e 89 mmHg. A hipertensão sistólica isolada ocorre se PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mm Hg.
A HAS é classificada em estágios 1, 2 e 3.
A tabela a seguir ilustra a classificação da pressão arterial de acordo com a medição casual ou no
consultório a partir de 18 anos de idade (MALACHIAS et al., 2017).
Para meninas e meninos, utilizam-se os valores de pressão arterial de acordo com idade e percentil de
estatura. Devem ser considerados pré-hipertensos, adolescentes com pressão arterial ≥ 120/80 mmHg,
mesmo se o valor do percentil 90 for superior a essa marca. Isto pode ocorrer para PAS em maiores de
12 anos e para PAD em maiores de 16 anos (MALACHIAS et al., 2017).
Alguns diagnósticos como hipertensão do avental branco, hipertensão arterial resistente e hipotensão
arterial podem ser identificados com maior precisão por meio da monitorização ambulatorial da pressão
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Unidade II
arterial (MAPA) e da monitorização residencial da pressão arterial (MRPA) (PUPATTO JUNIOR; SILVA;
NAVARRO, 2010).
Na gravidez, a HAS preexistente pode ser diagnosticada antes da concepção ou, ainda, até
a 20ª semana gestacional. Após esta data e até 42 dias pós-parto, a hipertensão é classificada como
doença hipertensiva específica da gestação (DHEG), sendo considerada como situação de alto risco para
a gravidez (SOUSA et al., 2020).
Indivíduos com DCV podem cursar com desnutrição e/ou obesidade, logo, a avaliação nutricional
deverá ser individualizada, considerando os métodos subjetivos e objetivos do estado nutricional.
Os principais métodos subjetivos incluem a triagem de Risco Nutricional 2002 (NRS-2002), o Instrumento
Universal de Triagem de Desnutrição (MUST), a Avaliação Subjetiva Global (ASG) e, para idosos, a Mini
Avaliação Nutricional (MNA), podendo ser utilizada a sua forma simplificada (MNA-SF) (SILVA
et al., 2018).
Para rastreamento inicial dos pacientes hospitalizados, a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica
e Metabolismo (ESPEN) recomenda que seja utilizada a NRS-2002 como um método preditor de
morbimortalidade, o que auxilia na indicação do início da terapia nutricional mais adequada e oportuna
para o paciente (SILVA et al., 2018; KONDRUP et al., 2003).
Paz et al. (2018) sugerem a implementação de um protocolo para detecção precoce do risco nutricional
(ou desnutrição) em idosos cardiopatas hospitalizados. Parâmetros consolidados pela literatura são
considerados neste instrumento cujo propósito é identificar precocemente o estado nutricional,
promover a recuperação, minimizar alterações nutricionais e proporcionar a melhor qualidade de vida
aos indivíduos.
O nutricionista, por meio da ectoscopia, deve avaliar as possíveis alterações nos compartimentos
hídricos (edema, ascite, desidratação); depleções nos tecidos adiposo e muscular (tríceps, bíceps,
masseter, têmporas, deltoide, panturrilha, adutor do polegar, interósseos das mãos, bola gordurosa de
Bichart etc.), e sinais evidentes de carências nutricionais (cavidade oral, coloração e aspecto da pele,
coloração da região palmar e das mucosas, principalmente a mucosa interna dos olhos, aspecto das
unhas, pigmentação dos cabelos, etc.). Alterações gastrintestinais, entre outros sintomas que podem
afetar o estado nutricional, devem ser avaliados, assim como os distúrbios do sono.
Como métodos objetivos, o nutricionista deverá considerar a idade, o sexo, o peso, a estatura, a prática
de atividade física, a condição clínica, entre outras especificidades. Os parâmetros antropométricos
utilizados incluem: IMC; dobras cutâneas tricipital (DCT), bicipital (DCB), subescapular (DCSE) e
110
NUTRIÇÃO CLÍNICA
suprailíaca (DCSI), entre outras; percentual de gordura corporal (%GC); CA; circunferência da cintura (CC);
razão cintura/quadril (RCQ); circunferência do pescoço (CP) e razão cintura-estatura (RCEst) (SBD, 2019,
I-DBSM, 2005, OMS, 2000).
Os exames de rotina para o paciente hipertenso envolvem a análise de urina, o potássio plasmático,
a glicemia de jejum, a HbA1c, a taxa de filtração glomerular (TFG), a creatinina plasmática, o colesterol
total, a lipoproteína de alta densidade (HDL-c), os triglicérides plasmáticos, o ácido úrico plasmático
e o eletrocardiograma convencional (MALACHIAS et al., 2017). Quando há indícios de hipertensão
secundária, lesão em órgãos-alvo ou doenças associadas, deve-se proceder à avaliação complementar
(MION JR et al., 2002).
O histórico familiar de DCNT deve ser investigado, assim como outros fatores como escolaridade,
condições de moradia, renda, prática de atividade física, etilismo e tabagismo que podem interferir direta
ou indiretamente no estado nutricional. O nutricionista deve estimular as mudanças comportamentais,
incluindo a adesão dietética associada a prática de atividade física (se não houver contraindicação);
além da exclusão de etilismo, tabagismo e implementação de atividades antiestresse.
A presença de sarcopenia também deve ser avaliada, visto que a depleção de massa muscular promove
a diminuição na massa do tecido alvo responsivo à insulina, o que acarreta RI e, em consequência, HAS,
obesidade e síndrome metabólica. Há evidência de que o músculo desempenha um papel crucial na
redução da pressão arterial e na melhora da função hemodinâmica (CRUZ et al., 2018).
cardiovasculares fatais e não fatais e reduzir a taxa de mortalidade. Além da farmacoterapia, o tratamento
não medicamentoso baseia-se na mudança do estilo de vida que envolve hábitos alimentares adequados,
prática regular de atividade física e medidas redutoras do estresse.
A equipe multiprofissional poderá ser composta por nutricionistas, professores de educação física,
psicólogos, médicos, farmacêuticos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros. As ações comuns
estão relacionadas à promoção da saúde, ações educativas direcionadas às modificações do estilo de
vida, correção dos fatores de risco, confecção de material educativo, treinamento de profissionais,
encaminhamento a outros profissionais se pertinente, ações assistenciais individuais e em grupo,
participação em projetos de pesquisa e gerenciamento do programa (MION JR. et al., 2002).
Os principais objetivos da dietoterapia para pacientes hipertensos são: adequar (ou manter) o
estado nutricional, principalmente em situações de sobrepeso e obesidade; reduzir os níveis pressóricos;
controlar a pressão arterial de forma sustentada; promover hábitos alimentares saudáveis; eliminar
os fatores de risco modificáveis no intuito de evitar as complicações; evitar outros fatores de risco
cardiometabólicos; eliminar (ou diminuir) a quantidade de medicamentos; incentivar as medidas que
auxiliam no controle pressórico; melhorar a qualidade de vida; e reduzir o risco de mortalidade por DCV.
O sucesso terapêutico depende principalmente do indivíduo por meio da adesão ao plano dietoterápico
saudável e sustentado de acordo com as orientações e a prescrição do nutricionista. Os pacientes devem
ser orientados sobre os riscos das dietas radicais e sem comprovação (ou mínima) científica, pois além
da dificuldade de adesão em longo prazo, elas ocasionam déficits nutricionais importantes, colocando a
vida do indivíduo em risco (MALACHIAS et al., 2017).
Deve-se priorizar sempre a análise do padrão alimentar total que permite avaliar o sinergismo entre
os nutrientes e alimentos; entretanto, observa-se que algumas pessoas focam em apenas um único
nutriente ou alimento, como por exemplo, o sódio ou sal. Neste contexto, o nutricionista deverá proceder
às orientações necessárias e desmistificar que o único nutriente responsável pelo quadro clínico dos
pacientes é o sódio.
As modificações no peso corporal e na ingestão alimentar exercem efeitos positivos nos níveis
pressóricos. O quadro a seguir descreve o impacto das mudanças comportamentais sobre a pressão arterial.
112
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Observação
Evidências científicas apontam uma relação entre o IMC e a pressão arterial. O ganho de peso corpóreo
aumenta o risco de HAS, mesmo que de forma modesta. Ao passo que a perda de peso reduz os níveis
pressóricos (VIEIRA et al., 2018; MALACHIAS et al. 2017; NOTTO et al., 2017; KLEIN, 2015; MION JR et al.,
2002). Os pacientes hipertensos com sobrepeso ou obesidade devem ser orientados pelo nutricionista à
perda ponderal, visando o alcance de um IMC < 25 kg/m² (KLEIN, 2015), embora a redução de 5% a 10%
do peso inicial seja suficiente para diminuir os níveis pressóricos.
Sódio
Durante milhões de anos, os nossos ancestrais consumiam uma dieta contendo pequena quantidade
de sódio (± 0,2 g sódio/dia), uma vez que nenhum alimento em seu estado natural é rico nesse mineral.
Posteriormente, descobriu-se a utilização do sal na preservação dos alimentos, o que culminou com
o aumento acentuado do consumo de sódio. Após a invenção da refrigeração e do congelamento
alimentícios, a adição de sal para preservação dos alimentos tornou-se necessária. Sendo assim, o
consumo de sódio permaneceu elevado em, praticamente, todas as populações (KLEIN, 2015).
113
Unidade II
O desenvolvimento da HAS está associado a elevada ingestão de sódio na dieta. Alguns indivíduos
são sensíveis ao sódio dietético, sendo chamados de “sal sensíveis”. Eles respondem com a restrição
de sódio na dieta por meio da obtenção do maior grau de redução nos níveis pressóricos, ou seja, a
sensibilidade ao sal caracteriza-se pela tendência à redução dos níveis pressóricos durante a restrição
de sal e aumento durante a ingestão excessiva (KLEIN, 2015; BOMBIG; FRANCISCO; MACHADO, 2014).
A restrição de sódio na dieta é capaz de reduzir os níveis pressóricos tanto de hipertensos quanto
normotensos, além de melhorar a resposta à maioria das terapias anti-hipertensivas, com consequente
redução do risco de DCV (BOMBIG; FRANCISCO; MACHADO, 2014). Alguns estudos sugerem que o
consumo muito baixo de sódio também aumenta o risco de DCV (MALACHIAS et al., 2017).
A OMS recomenda para a população geral a diminuição no consumo de sódio com o intuito de
reduzir os níveis pressóricos e o risco de DCV. Recomenda-se uma ingestão de, no máximo, 2 g/dia
de sódio, o que equivale a 5 g/dia de sal (KLEIN, 2015, SANTOS; ABREU-LIMA, 2009). A necessidade
nutricional de sódio (Na) é de 500 mg/dia, equivalente a 1,2 g/dia de cloreto de sódio (NaCl). A dieta
usual do brasileiro contém entre 10 g e 12 g/dia de sal.
Tendo em vista que 80% do sal da dieta é derivado do sal adicionado às comidas e bebidas processadas,
a redução do conteúdo de sal adicionado aos alimentos processados é a maneira mais viável para se
obter a redução desse nutriente em toda a população (BOMBIG; FRANCISCO; MACHADO, 2014).
Até 6 g/dia de sal (2,4 g/dia de sódio), considera-se uma ingestão saudável, o que corresponde a
quatro colheres de café (4 g) rasas de sal adicionadas aos alimentos, contendo 2 g de sal. De qualquer
forma, recomenda-se diminuir o sal adicionado aos alimentos; evitar o saleiro à mesa; reduzir (ou abolir)
os alimentos industrializados, como enlatados, conservas, frios, embutidos, sopas, temperos, molhos
prontos e salgadinhos (V DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2007, MION JR., 2002).
Segundo a V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2007), atenção especial deve ser direcionada
aos pacientes em uso de diuréticos, visto que a diminuição excessiva do consumo de sal deve ser evitada
devido ao risco de hiponatremia, hipovolemia e hemoconcentração. Além disso, o uso de cloreto
de potássio em substituição ao sal pode ser recomendado, porém, em pacientes com risco de
hiperpotassemia, é contraindicado.
Lembrete
Exemplo de aplicação
Potássio
A alta ingestão de potássio está associada a níveis pressóricos reduzidos. Existem evidências de
que a excreção urinária de potássio equivale à quantidade de potássio ingerido pela dieta, o que pode
representar um marcador da efetividade da terapia anti-hipertensiva e de desfechos cerebrovasculares
(FONSECA; ZAMITH; MACHADO, 2015). Sendo assim, o potássio desempenha um papel importante na
regulação dos níveis pressóricos devido, principalmente, ao seu papel facilitador da excreção renal do
sódio. Um aumento de 1,8 g a 1,9 g/dia na ingestão de potássio reduz cerca de 4 mmHg e 2,5 mmHg,
respectivamente, as pressões sistólica e diastólica em hipertensos (SANTOS; ABREU-LIMA, 2009).
Observa-se que as populações que apresentam um alto consumo de potássio possuem níveis
pressóricos mais reduzidos e menor incidência de HAS. Entre os prováveis mecanismos do efeito
hipotensor do potássio, destacam-se a natriurese ocasionada pela inibição da reabsorção de sódio nos
túbulos proximais renais e a supressão da secreção de renina; o relaxamento do músculo liso vascular
devido ao aumento na síntese de óxido nítrico; o estímulo às bombas de sódio e abertura dos canais de
potássio (KLEIN, 2015).
O potássio pode ser encontrado em frutas, vegetais, leguminosas e cerais integrais. Uma dieta rica
em vegetais e frutas possibilita a ingestão diária de 2.000 mg a 4.000 mg de potássio (KLEIN, 2015).
Uma dieta baseada em frutas, verduras e legumes ricos em potássio é capaz de diminuir a pressão
arterial, quando associada à diminuição de sódio na dieta. As dietas que produzem uma relação de
concentrações urinárias < 1,0 (Na/K) entre o sódio e o potássio possuem efeitos notórios nos níveis
pressóricos (FONSECA; ZAMITH; MACHADO, 2015).
Os alimentos que possuem maiores concentrações de potássio são: tangerina, romã, jamelão, banana
prata, maracujá, cupuaçu, coentro desidratado, extrato de tomate, alho cru, espinafre, beterraba, cenoura,
(FONSECA; ZAMITH; MACHADO, 2015), abacate, ameixa, mamão, abóbora, hortaliças verde‑escuras,
feijão, entre outros alimentos. Recomenda-se a ingestão diária de 2 g a 4 g de potássio, porém, com
cautela na DRC.
115
Unidade II
Uma dieta rica em vegetais e frutas contém entre 2 g e 4 g de potássio/dia, podendo ser útil na
diminuição dos níveis pressóricos e prevenção da HAS. Os substitutos do sal que possuem cloreto de
potássio e menos cloreto de sódio (30% a 50%) são válidos para minimizar a ingestão de sódio e
aumentar o consumo de potássio (MION JR. et al., 2002).
Cálcio
Estudos demonstram que a ingestão de cálcio é inversamente proporcional à pressão arterial e que
a suplementação de cálcio possui maiores efeitos hipotensores em indivíduos que consomem pequenas
quantidades de cálcio de forma regular; indivíduos hipertensos, sensíveis ao sal e gestantes; e pesquisas
que utilizam o cálcio dietético ao invés do suplementar (KLEIN, 2015).
Apesar de essas evidências, não se orienta aumentar a ingestão de cálcio além do recomendado
para a população geral, quer seja para prevenção quer seja para o tratamento da HAS. Recomenda-se
uma ingestão adequada de cálcio entre 1.000 mg e 1.200 mg/dia para todos os indivíduos com idade
igual ou superior a 19 anos; ou seja, superior à ingestão usual da população brasileira (± 500 mg/dia)
(KLEIN, 2015).
A ingestão de cálcio recomendada pode ser alcançada através da ingestão diária de 3 a 4 porções
de leite, queijo ou iogurte, preferencialmente desnatados (KLEIN, 2015). Segundo Santos e Abreu-Lima
(2009), ingestões superiores a 1.000 mg/dia de cálcio são capazes de reduzir 1,4 mmHg na PAS e
0,8 mmHg na PAD.
Não se recomenda o uso de suplementos de cálcio para diminuição dos níveis pressóricos (KLEIN,
2015), se não houver hipocalcemia (V DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2007).
Magnésio
O magnésio possui diversas funções orgânicas importantes, tais como: efeito antiarrítmico, atua no
tônus vascular, na contratilidade, no metabolismo da glicose e na homeostase insulínica. Observa-se
que menores concentrações de magnésio estão associadas a estresse oxidativo, estado pró-inflamatório,
disfunção do endotélio, agregação plaquetária, RI e hiperglicemia (CUNHA et al., 2011).
116
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Devido aos seus efeitos vasodilatadores, atribui-se ao magnésio um papel na regulação da pressão
arterial (SANTOS; ABREU-LIMA, 2009), entretanto, ainda não existem evidências conclusivas sobre o
efeito da suplementação de magnésio sobre a pressão arterial (KLEIN, 2015). Santos e Abreu-Lima (2009)
mencionam que dada a simultaneidade habitual da ingestão de magnésio e as suas múltiplas e complexas
interações, a comprovação dos efeitos isolados desse nutriente em ensaios clínicos é problemática.
Vitamina D e laticínios
Existem evidências de que níveis séricos reduzidos de vitamina D estão associados à maior incidência
de HAS. Porém, não foram observados efeitos da suplementação dessa vitamina na redução dos níveis
pressóricos. Acredita-se que a ingestão de laticínios com baixo teor de gordura é capaz de diminuir
a pressão arterial. Sabe-se que leite possui diversos componentes como cálcio, potássio e peptídeos
bioativos que podem apresentar efeitos na diminuição da pressão arterial (MALACHIAS et al., 2017).
Desde a década de 1970, os ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) ômega-3 têm sido investigados
a partir de estudos em pacientes com DAC. Esquimós da Groenlândia possuíam níveis séricos reduzidos
de colesterol total, triglicérides e HDL-c, relacionados a menores índices de DCV, mesmo diante do
elevado consumo de dietas ricas em gordura, contendo altos teores de colesterol e baixo consumo de
carboidratos (DENARDI; SALGADO; MOREIRA, 2009).
Os benefícios atribuídos ao consumo de AGPI ômega-3 incluem o efeito na redução dos níveis
pressóricos, a ação antitrombótica e anti-inflamatória, a melhora da função vascular e dos lipídeos
séricos. A suplementação do óleo de peixe, rico em eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA),
torna-se uma estratégia efetiva e protetora na saúde cardiovascular (CASANOVA; MEDEIROS, 2011).
Os peixes de águas frias e profundas, como o salmão, a truta e o bacalhau constituem as principais
fontes alimentares dos AGPI ômega-3 e responsáveis pela diminuição modesta da pressão arterial. De
acordo com a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2017), a ingestão ≥ 2 g/dia de EPA+DHA
é capaz de reduzir os níveis pressóricos, e doses inferiores (1 g a 2 g/dia) reduzem somente a PAS.
Ressalta‑se que a ingestão de ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) também tem sido associada à
diminuição da pressão arterial (MALACHIAS et al., 2017).
Fibras
As fibras alimentares apresentam uma variedade de funções orgânicas importantes, podendo ser
obtidas por meio da ingestão de alimentos fonte ou suplementos nutricionais ou módulos de nutrientes
(BERNAUD; RODRIGUES, 2013). Segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2017), a ingestão
de fibras promove discreta redução dos níveis pressóricos, destacando-se a beta-glucana proveniente da
aveia e da cevada.
117
Unidade II
Oleaginosas
As oleaginosas incluem as amêndoas, avelãs, nozes, pistache, pinhões, castanha de caju, macadâmias,
castanhas-do-brasil e amendoins. Elas possuem uma semelhante composição nutricional, com
quantidades apreciáveis de proteínas vegetais, AGMI, AGPI, fibras alimentares, vitaminas, minerais e
compostos bioativos, tais como: fitosteróis e compostos fenólicos (SILVA et al., 2019).
As nozes podem modular a HAS devido aos AGMI e AGPI capazes de diminuir os níveis séricos de
tromboxano A2, que é um potente vasoconstritor. O conteúdo mineral das nozes também desempenha
um papel fundamental na hipertensão, uma vez que o magnésio presente nas nozes estimula a produção
de óxido nítrico e bloqueia os canais de cálcio, com consequente vasodilatação. Além disso, o potássio
é capaz de modular o volume de fluido extracelular, diminuindo a resistência vascular periférica.
Recomenda-se o consumo diário de 30 g de nozes para prevenção e tratamento de DCV ateroscleróticas
(SILVA et al., 2019).
De acordo com a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2017), o consumo regular de oleaginosas
é capaz de auxiliar no controle de diversos fatores de risco cardiovasculares, entretanto, poucos estudos
relacionam essa ingestão com a redução dos níveis pressóricos. Uma metanálise concluiu que o consumo
de diversos tipos de castanhas foi capaz de reduzir a pressão arterial.
Alho
O alho (allium sativum) é uma das plantas utilizadas na terapêutica da HAS. Além dos efeitos
natriurético e diurético, o alho possui ação antiagregante plaquetário e fibrinolítico, cardioprotetor na
118
NUTRIÇÃO CLÍNICA
reperfusão e na isquemia. Acredita-se que o alho promove a liberação de óxido nítrico. Outras hipóteses
são que o alho possui efeito inibidor da enzima conversora da angiotensina e atua na diminuição da
síntese de prostanoides vasoconstritores (SINGI et al., 2005).
Segundo Santiago et al. (2009), o alho é um dos fitoterápicos que pode ser utilizado como terapia
complementar em indivíduos hipertensos e/ou dislipidêmicos, visto que possui diversos efeitos benéficos
às doenças do aparelho circulatório, incluindo a redução dos níveis séricos de colesterol total, LDL-c
e da pressão arterial. Ele também possui atividade antioxidante que inativa as EROs e aumenta as
enzimas celulares antioxidantes como a superóxido-dismutase (SOD), catalase, glutationa peroxidase
e glutationa. Fonseca et al. (2014) corroboram com essas informações e acrescentam que o alho é um
alimento funcional cujo princípio ativo é a alicina, substância responsável pela maioria das propriedades
farmacológicas, antioxidantes, antibióticas, entre outras.
Segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2017), discreta redução dos níveis pressóricos
tem sido observada com a suplementação de várias formas do alho devido aos inúmeros componentes
bioativos, como a alicina (alho cru) e a s-alil-cisteína (alho processado).
Entretanto, estudos adicionais são necessários para comprovar as melhores formas de consumo do
alho, a dose recomendada e os possíveis efeitos adversos.
Os efeitos da cafeína para a pressão arterial são controversos. Alguns estudos demonstraram que
a cafeína atua na musculatura lisa, especialmente na vascular, por meio dos seguintes mecanismos
(KLEIN, 2015):
• Ativação do sistema nervoso simpático por meio do bloqueio dos receptores de adenosina A1 em
nível de sistema nervoso central, o que leva ao incremento da resistência vascular periférica.
Entretanto, apesar de o café ser rico em cafeína (substância com efeito pressor agudo), ele também
contém polifenóis capazes de promover a diminuição da pressão arterial. Sugere-se que, em doses
usuais, o consumo de café não está associado à elevação da pressão arterial nem à incidência de HAS,
portanto recomenda-se que o consumo de café seja feito em doses baixas a moderadas (MALACHIAS
et al., 2017).
Em relação ao chá-verde, estudos sugerem que ele seja capaz de reduzir os níveis pressóricos quando
consumido em baixas doses, visto que doses elevadas possuem maior teor de cafeína e podem aumentar
119
Unidade II
a pressão arterial. Cabe ressaltar que o chá-verde também é rico em polifenóis, em especial as catequinas.
Recomenda-se o consumo em doses baixas de chá-verde (MALACHIAS et al., 2017).
Existe evidência de que o chocolate contendo pelo menos 70% de cacau é capaz de promover uma
discreta diminuição dos níveis pressóricos devido às elevadas concentrações de polifenóis (MALACHIAS
et al., 2017).
Dieta DASH
A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) foi elaborada no intuito de averiguar se um
padrão alimentar saudável é capaz de reduzir os níveis pressóricos, independentemente de determinados
fatores que alteram a pressão arterial, como a ingestão de sódio, o peso corpóreo e o consumo de
bebidas alcoólicas. É uma dieta rica em frutas e hortaliças (4 a 5 porções/dia), laticínios com baixo teor
de gordura (2 a 3 porções/ dia), cereais integrais, frango, peixe e frutas oleaginosas. E, em contrapartida,
é pobre em doces, bebidas açucaradas e carne vermelha. É uma dieta que possui quantidades apreciáveis
de potássio, magnésio, cálcio e fibras, além de possuir baixo teor lipídico (gordura total e ácidos graxos
saturados) e colesterol (KLEIN, 2015).
Evidências científicas apontam que a dieta DASH é capaz de diminuir significativamente os níveis
pressóricos, sendo recomendada a adoção desse padrão alimentar para o tratamento de indivíduos
hipertensos e para a prevenção da HAS. Estima-se que a adoção desse plano alimentar implica redução
da PAS em 8-14 mmHg. Os efeitos observados se devem ao aumento do consumo de frutas, vegetais,
produtos lácteos magros, cereais integrais, carnes magras, peixes e frutos secos; à diminuição do
consumo de carnes vermelhas, doces e bebidas açucaradas, gordura total, gordura saturada e colesterol;
e à ingestão acrescida de potássio, cálcio, magnésio e fibra (KLEIN, 2015; SANTOS; ABREU-LIMA, 2009)
cujos efeitos hipotensores têm sido evidenciados na literatura.
Dieta do mediterrâneo
A dieta do Mediterrâneo também é rica em frutas, hortaliças e cerais integrais, entretanto, apresenta
quantidades apreciáveis de azeite de oliva, fonte de ácidos graxos monoinsaturados, além de incluir o
consumo de peixes, de oleaginosas e de vinho de forma moderada. Evidências apontam que a adoção
dessa dieta desempenha um efeito hipotensor (MALACHIAS et al., 2017).
Dieta vegetariana
120
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Observação
Diante do exposto, a dietoterapia para indivíduos hipertensos oscila de acordo com o estado nutricional
(de 20 a 25 kcal/kg para perda ponderal e de 25 a 30 kcal/kg para a manutenção do peso corpóreo);
deverá ser normal em praticamente todos os princípios nutritivos (normoglicídica, normolipídica e
normoproteica), sempre atentando para a qualidade desses nutrientes e adequação hídrica.
O papel fundamental de nutrientes como sódio, potássio, cálcio, magnésio, vitamina D, oleaginosas
e fibras, bem como dos alimentos funcionais como AGPI ômega 3, polifenóis, alho, entre outros, deve
ser considerado. Essa dieta não deve ser baseada apenas na restrição de um único nutriente como
o sódio, devendo ser saudável, sustentável e individualizada. Pode ter como base, principalmente,
a dieta DASH.
Álcool
O nutricionista deverá ter bastante cuidado ao orientar o paciente quanto ao uso de bebida alcoólica,
sendo que um histórico detalhado da ingestão de álcool – incluindo o tipo, a quantidade e a frequência
de bebida consumida – deve ser coletado, assim como deverá ser dada ênfase em relação aos efeitos
dessa substância na elevação dos níveis pressóricos (KLEIN, 2015).
O consumo regular de bebidas alcoólicas aumenta a pressão arterial à taxa de 1 mmHg por cada 10 g
de etanol, sendo que o risco de hipertensão atribuível ao álcool é de aproximadamente 16%. Entretanto,
o efeito do álcool nos níveis pressóricos é reversível após 2 a 3 semanas de abstinência e a diminuição
da dose usualmente consumida apresenta eficácia (SANTOS; ABREU-LIMA, 2009).
Lembrete
Tabagismo
O tabagismo representa a principal causa de óbito evitável em todo o mundo, sendo considerado
um dos principais desafios de saúde pública. Estima-se a existência de, aproximadamente, 1 bilhão e
200 milhões de fumantes no mundo, sendo que 200 milhões pertencem ao sexo feminino (PUREZA
et al., 2007).
O cigarro possui mais de 4.720 produtos químicos, destacando-se a nicotina como principal
responsável pelo vício; elevação da frequência cardíaca (FC) e da pressão arterial; ambas alterações
associadas ao aumento do trabalho cardíaco no tabagista. Homens e mulheres não tabagistas, quando
fumam, possuem aumento significativo da FC e dos níveis pressóricos no período de repouso; ou seja,
um único cigarro pode, agudamente, aumentar essas variáveis hemodinâmicas (PUREZA et al., 2007).
A exposição ao fumo de tabaco constitui fator de risco cardiovascular e deixar de fumar representa a
medida de estilo de vida mais eficaz na prevenção das DCV (SANTOS; ABREU-LIMA, 2009). Nesse sentido,
o tabagismo deve ser combatido e eliminado.
Indivíduos hipertensos podem utilizar com segurança as terapias reposicionais com nicotina para
abandono da prática tabagista. Observa-se um descontrole do peso corpóreo devido à abolição do tabaco
de forma transitória e de pequeno impacto no risco cardiovascular que não deve ser negligenciado
(V DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2007).
O exercício físico também possui elevado potencial para desenvolver a angiogênese. Ele promove
aumento significativo do fluxo sanguíneo em direção aos músculos esqueléticos e ao coração, além
de permitir importantes adaptações autonômicas e hemodinâmicas para manter a homeostasia
celular associada ao metabolismo corpóreo. Como as funções metabólicas do corpo humano são
potencializadas pelo exercício, ocorre o aumento do débito cardíaco, a redistribuição do fluxo sanguíneo
e a perfusão circulatória é elevada até os músculos que se encontram em movimento (MONTEIRO;
SOBRAL FILHO, 2004).
Tanto na prevenção quanto no tratamento da HAS, a prática regular de atividade física proporciona
diversos benefícios, destacando-se a redução da morbimortalidade por DCV. Praticantes de atividade
123
Unidade II
física possuem risco 30% menor de desenvolver hipertensão em comparação aos sedentários, e o
aumento da atividade física diária promove redução dos níveis pressóricos (MALACHIAS et al., 2017).
Define-se atividade física como qualquer movimento corpóreo capaz de aumentar o gasto energético,
como fazer caminhada, subir escadas, realizar trabalhos físicos domésticos e práticas físicas de lazer. Já
o exercício físico refere-se à atividade física de forma estruturada, organizada e com objetivo específico.
Cabe ressaltar que essas atividades devem integrar programas monitorados por profissionais da educação
física e que os hipertensos sejam sempre submetidos à avaliação clínica prévia (MALACHIAS et al., 2017).
O efeito hipotensor da prática de atividade física é obtido por meio de uma frequência mínima
de três vezes por semana. Porém, alguns pesquisadores recomendam frequências maiores, visto que
possuem maior potencial no controle pressórico (PUPPATO JUNIOR; SILVA; NAVARRO, 2010). Evidência
apontou que praticantes de exercício físico de forma regular apresentaram um risco 35% menor
de desenvolver HAS em comparação aos indivíduos sedentários (MONTEIRO; SOBRAL FILHO, 2004).
Conforme consta na 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, os indivíduos devem habituar-se à
prática regular de atividade física aeróbica, como caminhadas por, pelo menos, 30 minutos por dia,
3 a 5 vezes/semana.
Outro aspecto importante refere-se à dificuldade de aceitação dessa condição clínica pelo hipertenso
estando, na maioria das vezes, relacionada a sentimento de tristeza, raiva, agressividade e hostilidade,
cuja superação somente ocorre mediante a conscientização do problema e por meio da adesão ao
tratamento proposto, o que torna possível uma melhor adaptação à condição de saúde (CASTRO
et al., 2003).
Desse modo, o papel do psicólogo dentro de uma equipe multiprofissional é de suma importância
para os pacientes hipertensos no combate às DCV.
O sono e o repouso, necessidades humanas básicas, também são fundamentais para a qualidade
de vida, saúde física e emocional. A privação do sono pode dificultar a realização de tarefas e, quando
crônica, afetar gravemente a realização de funções cotidianas (CASTRO et al., 2003), assim como
interferir nos níveis pressóricos e em outras condições de saúde.
A qualidade do sono e a HAS sofrem influência do estilo de vida, sendo que os indivíduos hipertensos
possuem maior probabilidade de serem acometidos pelos distúrbios do sono. Os principais distúrbios do
sono são a insônia, a insuficiência na quantidade de horas dormidas, a síndrome das pernas inquietas e
a SAOS (HANUS et al., 2015).
5.3.4.4 Farmacoterapia
O mecanismo de ação anti-hipertensiva dos diuréticos está associado, inicialmente, aos seus efeitos
diuréticos e natriuréticos, com redução do volume extracelular. Há normalização do volume circulante e
diminuição da resistência dos vasos periféricos após cerca de 4 a 6 semanas. São eficazes no tratamento
da HAS, sendo comprovada sua eficácia na redução da morbidade e da mortalidade por DCV. Os principais
efeitos adversos são fraqueza, câimbras, hipovolemia e disfunção erétil, hipocalemia (acompanhada ou
não de hipomagnesemia), responsável por induzir arritmias ventriculares, e hiperuricemia. Os diuréticos
também podem ocasionar intolerância à glicose, elevar o risco de DM, além aumentar os triglicérides a
depender da dose (KOHLMANN et al., 2010).
Os inibidores adrenérgicos de ação central agem por meio do estímulo dos receptores alfa-2
adrenérgicos pré-sinápticos no SNC, o que reduz o tônus simpático. Como monoterapia apresentam
125
Unidade II
discreto efeito, no entanto, podem ser úteis quando associados a medicamentos de outros grupos,
especialmente mediante evidência de hiperatividade simpática. Eles não interferem com a RI e perfil
lipídico. As principais reações adversas são sonolência, sedação, boca seca, fadiga, hipotensão postural
e disfunção sexual (KOHLMANN et al., 2010).
Os inibidores da enzima conversora da angiotensina atuam por meio da inibição da ECA. Bloqueiam
a transformação da angiotensina I em II no sangue e nos tecidos, embora outros fatores possam estar
envolvidos no mecanismo de ação. As principais reações adversas são tosse seca e alteração do paladar.
Em pacientes com função renal reduzida pode aumentar até 30% da creatininemia, mas em longo
prazo, seu efeito nefroprotetor predomina. Contraindicado na gravidez pelo risco de complicações fetais
(KOHLMANN et al., 2010).
Os BRA II antagonizam a ação da angiotensina II bloqueando seus receptores AT1, sendo eficazes no
tratamento da HAS. São nefroprotetores no paciente nefropata com DM2. Apresentam bom perfil de
tolerabilidade, havendo relatos de tontura e, raramente, reação de hipersensibilidade cutânea (“rash”).
Os inibidores diretos da renina promovem uma inibição direta da ação da renina com redução da
síntese de angiotensina II. Estudos comprovam sua capacidade, em monoterapia, de reduzir a pressão
arterial numa intensidade semelhante aos demais anti-hipertensivos. Apresentam boa tolerabilidade.
Efeitos adversos incluem “rash” cutâneo, diarreia (doses acima de 300 mg/dia), aumento de CPK e tosse,
porém, com incidência < 1%. Contraindicado na gravidez (KOHLMANN et al., 2010).
A prescrição medicamentosa é realizada exclusivamente pelo médico. O farmacêutico irá orientar o uso
correto, as condições de armazenamento, as interações, dentre outras informações pertinentes. O nutricionista
deverá avaliar as interações droga-nutriente, os efeitos adversos e realizar as orientações nutricionais para
cada caso específico (MALACHIAS et al., 2017).
A insuficiência cardíaca (IC) constitui um dos mais importantes, graves e desafiadores problemas de
saúde pública. Ela atinge proporções epidêmicas e está associada à desfechos clínicos desfavoráveis, como
internação hospitalar e óbito. A maioria dos pacientes com IC é idosa e possui comorbidades múltiplas,
126
NUTRIÇÃO CLÍNICA
incluindo: doença renal crônica (DRC), depressão, síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), HAS,
fibrilação atrial, DAC, DM e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (MESQUITA et al., 2017).
Pacientes que apresentam IC podem cursar com agravamento súbito dos sintomas, o que requer
a procura de atendimento na sala de emergência devido à síndrome de IC aguda. A progressiva
deterioração da função cardíaca e da qualidade de vida ocorre devido às frequentes descompensações
(ROHDE et al., 2018). Nesse sentido, formas inovadoras de cuidar dos pacientes com IC em estágio
avançado (assistência no domicílio, hospitais de longa permanência e estratégias de cuidados paliativos)
têm sido amplamente implementadas (MESQUITA et al., 2017).
Segundo a Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda (2018), define-se a IC como:
As alterações rápidas ou graduais de sinais e sintomas que requerem uma terapia de urgência
caracterizam a insuficiência cardíaca aguda, ao passo que a natureza progressiva e persistente da IC
caracteriza a insuficiência cardíaca crônica. Logo, a IC crônica constitui uma síndrome clínica complexa,
que progride lentamente, na qual o coração é incapaz de bombear sangue para atender às necessidades
metabólicas tissulares ou, em alguns casos, só consegue fazê-lo mediante elevadas pressões de
enchimento (ROHDE et al., 2018).
A IC representa uma síndrome clínica caracterizada por sintomas típicos, como dispneia, edema nos
membros inferiores e fadiga, que podem ser acompanhados por determinados sinais, como pressão
venosa jugular elevada, crepitação pulmonar, edema periférico, ocasionados por uma anormalidade
cardíaca estrutural e/ou funcional que promove uma diminuição no débito cardíaco e/ou um aumento
nas pressões intracardíacas em repouso ou durante o exercício físico (ESC, 2016), com repercussões
negativas na qualidade de vida, assim como redução da sobrevida (LOURES et al., 2009).
Outros sinais e/ou sintomas incluem fraqueza, cefaleia, anasarca, hepatomegalia, palpitações,
sudorese, palidez, perda ponderal involuntária e tosse. Segundo Freitas e Cirino (2017), a dispneia é
o principal sintoma da IC. Ela está associada às pressões elevadas de enchimento cardíacas, podendo
também representar a redução do débito cardíaco. Embora não sejam exclusivos dessa condição,
alguns dos sintomas mais confiáveis para o diagnóstico de IC são a ortopneia, a trepopneia e a dispneia
paroxística noturna. Entretanto, alguns pacientes podem apresentar anormalidades cardíacas funcionais
e/ou estruturais assintomáticas, embora a definição de IC só abranja estágios em que os sintomas clínicos
são evidentes.
127
Unidade II
A congestão pulmonar pode se manifestar como dispneia aos esforços, ortopneia, dispneia paroxística
noturna, tosse, taquipneia, estertores pulmonares ou terceira bulha. Já a congestão sistêmica, como
saciedade precoce, ganho de peso, edema periférico, aumento da pressão venosa jugular, hepatomegalia
dolorosa, refluxo hepatojugular, derrame pleural e ascite. Hipotensão, pulso alternante, tempo de
enchimento capilar lentificado, extremidades frias, cianose, palidez cutânea, oligúria, síncope e alteração
do nível de consciência podem se manifestar em pacientes com diminuição do débito cardíaco (FREITAS;
CIRINO, 2017).
Cefaleia
Tosse Palidez
Sudorese Edema
A causa mais comum para desenvolver a IC, no Brasil e no mundo, é a DAC devido ao estreitamento
dos vasos, que são os responsáveis por conduzir o oxigênio para o músculo cardíaco (ROHDE et al., 2018).
No início do comprometimento cardíaco, as manifestações clínicas ocorrem durante o exercício, porém,
com a evolução da doença, os sintomas aparecem mesmo aos mínimos esforços, até o surgimento em
repouso (FREITAS; CIRINO, 2017). Cabe salientar que, na vigência de desnutrição, observa-se uma piora
da função cardíaca devido, principalmente, à depleção de massa magra, o que torna fundamental o
papel do nutricionista.
128
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Histórico de HAS, familiares com cardiomiopatia e uso nocivo do álcool podem indicar a existência
de causas específicas para a IC (BOCCHI et al., 2009). Em crianças, a principal causa da IC é a cardiopatia
congênita; anomalia que afeta a formação cardíaca fetal e que, dependendo do tipo e da gravidade das
alterações, faz com que o coração da criança, geralmente após o nascimento, ou nas primeiras horas,
ou alguns dias ou meses depois, não funcione de forma adequada, culminando com IC congestiva
(ICC). Outros fatores etiológicos incluem as infecções (miocardite viral), inflamações (febre reumática ou
doença de Kawasaki) e arritmias.
Apesar da inexistência de uma classificação etiológica específica para a IC, pode-se dividi-la em três
principais mecanismos: enfermidades que atingem o miocárdio; condições de sobrecarga anormal; e
arritmias. A principal causa de IC, no nosso país, é a cardiopatia isquêmica, sendo responsável por cerca
129
Unidade II
de 60% a 75% dos casos. Além da cardiopatia isquêmica, a HAS, as valvulopatias, a cardiomiopatia
tóxica (ex.: cardiomiopatia associada ao uso de quimioterápicos) e a doença de Chagas se destacam
como principais causas. Outros fatores de risco implicados na gênese da IC incluem: DM, obesidade,
tabagismo, infecções virais, exposição a toxinas e consumo abusivo de álcool (FREITAS; CIRINO, 2017).
Por meio da classificação funcional da New York Heart Association (NYHA), o grau da limitação
imposta pela IC pode ser quantificado. Assim, os pacientes são classificados de acordo com os sintomas
apresentados em classes: sintomas de IC em repouso (classe IV), aos pequenos esforços (classe III), aos
grandes esforços (classe II) ou sem sintomas relacionados à doença cardíaca (classe I) (MIZZACI; RIEIRA;
MARTIMBIANCO, 2017).
Pacientes classificados pela AHA em estágio A devem possuir os fatores de risco, como HAS,
dislipidemia e DM, controlados de forma rigorosa. Pacientes nos estágios B a D; ou seja, aqueles que
já desenvolveram alteração estrutural cardíaca, a escolha terapêutica depende da classe funcional da
NYHA. Para os pacientes assintomáticos (classe I da NYHA), o objetivo terapêutico é retardar a progressão
da doença por meio do bloqueio do sistema neuro-humoral e do remodelamento cardíaco. Para os
pacientes com sintomas (classes II-IV da NYHA), o tratamento tem como intuito promover o alívio
da retenção de líquidos, a redução da morbidade, a diminuição do risco de progressão da doença e
mortalidade (MIZZACI; RIEIRA; MARTIMBIANCO, 2017).
130
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Dados estatísticos apontam que cerca de 40% dos indivíduos com sobrepeso ou obesidade
apresentam IC. Entretanto, algumas pesquisas comprovam que esses fatores são protetores para
pacientes em estágio avançado da IC, o que se denomina de “epidemiologia reversa”. Ou seja,
acredita‑se que indivíduos obesos possuem maior sobrevida em comparação aos indivíduos
eutróficos, daí o “paradoxo da obesidade” (DOMINGUES et al., 2016).
A caquexia, por sua vez, está presente em cerca de 60% dos pacientes com IC, especialmente
naqueles em estágio mais avançado. Essa condição está associada a sintomas mais intensos, capacidade
funcional prejudicada, hospitalizações mais frequentes e menor sobrevida (ROHDE et al., 2018). Logo, o
nutricionista deverá avaliar adequadamente e individualmente o estado nutricional do paciente com IC,
dada a heterogeneidade de indivíduos com essa mesma condição clínica.
Independente de idade, classe funcional, fração de ejeção e capacidade para realizar exercícios
físicos, a caquexia constitui fator preditivo de diminuição da sobrevida. A importância da gênese
da caquexia no prognóstico da IC ficou em evidência após a descrição da epidemiologia reversa da
obesidade. Em indivíduos eutróficos, o aumento do IMC está associado ao desenvolvimento de DCV.
Porém, em pacientes com IC, o IMC possui correlação positiva com a sobrevida; ou seja, a mortalidade
foi mais elevada nos pacientes com menores valores de IMC e menor naqueles com maiores valores de
IMC (OKOSHI et al., 2013).
Porém, deve-se ter cautela diante desse paradoxo, pois a maioria dos estudos utiliza apenas o
IMC, sem considerar a composição corpórea, além de a heterogeneidade da amostra, o que dificulta
a comparação dos resultados, entre outras limitações. Além disso, indivíduos obesos apresentam
piores índices prognósticos de gravidade clínica em comparação aos não obesos, visto que são mais
susceptíveis a: disfunção ventricular esquerda; disfunção de múltiplos órgãos; maior tempo de
ventilação mecânica e permanência hospitalar; maior ocorrência de infecções (pneumonia e sepse);
hipertensão intra-abdominal e intratorácica; dificuldade aumentada de intubação orotraqueal; risco
elevado de broncoaspiração (gastroparesia e pressão intra-abdominal); risco aumentado de complicações
infecciosas e não infecciosas; hiperglicemia sustentada; maior produção de gás carbônico (CO2) e esforço
respiratório; edema de pulmão, entre outras complicações.
O termo caquexia tem origem grega e é formado pela junção de kakós, que significa má, e hexis,
que significa condição, logo, má condição de saúde. A caquexia cardíaca é a forma grave da IC onde
os pacientes apresentam-se, na maioria das vezes, gravemente desnutridos. A síndrome da caquexia
associada à IC crônica tem sido reconhecida desde a época de Hipócrates. Em 1785, Withering forneceu
a descrição desta síndrome: “sua fisionomia era pálida, seu pulso rápido e tênue, seu corpo muito
emagrecido, exceto seu abdome, que era muito grande.” (OKOSHI et al., 2013).
131
Unidade II
A caquexia cardíaca é diagnosticada como perda de peso involuntária e não edematosa, igual ou
maior que 6% do peso corporal total nos últimos seis a 12 meses e ocorre em cerca de 15% dos
pacientes com IC (ROHDE et al., 2018). O colesterol total diminuído pode estar presente no indivíduo
com IC crônica que cursa com desnutrição moderada. A insuficiência cardíaca congestiva favorece a
desnutrição e o aumento do metabolismo (CELANO; LOSS; NOGUEIRA, 2011).
Cabe ressaltar que alguns pacientes cursam com acentuado emagrecimento, o que torna o
diagnóstico bastante evidente. Entretanto, na vigência de edema, comumente presente nesses
pacientes, o diagnóstico requer maior atenção em função de prejuízos na avaliação antropométrica.
Outras limitações incluem a interpretação de métodos laboratoriais como a dosagem de marcadores
nutricionais, a determinação da composição corpórea por meio de bioimpedância elétrica (BIA),
visto que pode superestimar a massa livre de gordura devido ao excesso de fluido extracelular
(OKOSHI et al., 2013).
Os principais fatores que contribuem para a caquexia são o consumo elevado de oxigênio pelo
miocárdio, o aumento do trabalho respiratório, o incremento da taxa de metabolismo basal (TMB),
estados febris, secreção de substâncias catabólicas (norepinefrina, epinefrina, angiotensina II, cortisol,
citocinas inflamatórias e radicais livres) e resistência aos hormônios anabólicos como hormônio do
crescimento (GH) e insulina. O gasto energético total (GET) desses pacientes pode estar aumentado em
pelo menos 20% a 30% mesmo nos estágios iniciais. Além disso, as perdas nutricionais podem ocorrer
devido ao uso de diuréticos, enteropatia perdedora de proteína, citocinas pró-inflamatórias elevadas
como fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), também conhecido como caquexina, e ao aumento do
estresse oxidativo.
A avaliação nutricional na IC deverá ser individualizada de acordo com o peso corpóreo e suas
alterações, presença de edema, ascite, sintomas gastrintestinais e outros que ocasionam impacto no
estado nutricional, comorbidades, alterações na alimentação, interação entre drogas e nutrientes, assim
132
NUTRIÇÃO CLÍNICA
como análise dos efeitos adversos e dos sinais e sintomas. Deve-se realizar a avaliação seriada do estado
volêmico (SILVA et al., 2018).
A força de preensão manual (FPM) pode ser utilizada como uma técnica de avaliação nutricional.
Para estimar a função musculoesquelética, utiliza-se a dinamometria que consiste em uma técnica
não invasiva, rápida e simples. A força muscular diminuída tem sido associada a um risco elevado de
morte por DCV. Em um estudo, os autores concluíram que, por cada perda de 5 kg na força de preensão
manual, eleva-se em 17% o risco de morte cardiovascular. Como pacientes com IC normalmente cursam
com depleção de massa muscular, este método representa uma forma prática de avaliar o prognóstico
do paciente (risco de óbito) (DOMINGUES et al., 2016).
A calorimetria indireta é um exame que mede a taxa metabólica de repouso (TMR) pela diferença
entre a quantidade inspirada e expirada, o aparelho calcula quantas calorias o corpo está “queimando”
naquele momento. Porém, por ser de alto custo, nem todos locais dispõem desse aparelho e
os nutricionistas acabam estimando as necessidades nutricionais pela regra de bolso ou outras
fórmulas preditivas.
Exames complementares utilizados para indivíduos com ICC incluem: hemograma completo, parcial
de urina, eletrólitos séricos (incluindo cálcio e magnésio), ureia, creatinina, glicemia, perfil lipídico,
ferritina, provas de função hepática e avaliação da função tireoidiana (FREITAS; CIRINO, 2017).
5.4.2.1 Dietoterapia
O manejo dos pacientes com IC representa um grande desafio devido ao impacto negativo na
qualidade de vida e por elevadas taxas de morbimortalidade (MIZZACI; RIEIRA; MARTIMBIANCO, 2017).
Os objetivos da terapia nutricional na IC são:
• diminuir a mortalidade.
O nutricionista deve ter cautela na recomendação energética, pois o excesso de substratos energéticos
proveniente de dietas hipercalóricas e/ou desequilibradas nutricionalmente pode contribuir para a
gênese e progressão da IC, principalmente por meio de mecanismos relacionados à glicotoxicidade e
lipotoxicidade (BOCCHI et al., 2009).
A ingestão calórica de 28 a 35 kcal/kg/dia é segura e eficiente, devendo seguir uma dieta normoproteica
para um adulto saudável (0,8 g a 1,0 g/kg/dia), exceto na vigência de desnutrição ou má absorção em
que se deve aumentar a oferta para 1,5 g a 2,0 g/kg/dia (DOMINGUES et al., 2016).
Atenção especial deve ser dada aos pacientes com doença renal crônica cuja necessidade proteica
oscila de acordo com o tipo de tratamento (conservador, dialítico, transplante) a depender da taxa de
filtração glomerular (TFG). De forma geral, no tratamento conservador, deve-se reduzir o aporte proteico
para menos de 0,8 g/kg/dia e, no dialítico, recomenda-se dieta hiperproteica.
Bocchi et al. (2009) recomendam 28 kcal/kg/dia para pacientes com estado nutricional adequado e
32 kcal/kg/dia para pacientes desnutridos e, na presença de retenção hídrica, considera-se o peso seco
do paciente. Em relação ao aporte proteico, recomenda-se de 15% a 20% do valor energético total (VET)
da dieta, priorizando-se as proteínas de alto valor biológico (AVB).
Segundo Sahade e Montera (2009), as necessidades proteicas para o adulto normal oscilam de
0,8 g a 1,0 g/kg/dia. Para IC, estudos indicam um aporte proteico de 1,1 g/kg/dia para pacientes com
estado nutricional adequado e de 1,5 g a 2,0 g/kg/dia para aqueles que possuem depleção nutricional
(ou que apresentam perdas por nefropatia ou má absorção intestinal).
134
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A relação caloria não proteica/grama nitrogênio deve ficar entre 120 e 160, de preferência uma
relação em torno de 150 (SAHADE; MONTERA, 2009). As proteínas são necessárias para repor as perdas
teciduais e cobrir as perdas devido à má absorção.
Em relação aos pacientes com caquexia cardíaca, sugere-se a administração, via enteral, de
35 kcal/kg/dia, visto que é segura e efetiva para aumentar a massa magra. Entretanto, recomenda-se
que o aporte energético não seja superior a 28 kcal/kg/dia. Para evitar a síndrome da realimentação e
a piora da IC por maior reabsorção renal de sódio e água, a oferta energética deve ser gradual até a
obtenção e manutenção do peso desejável. O excesso energético aumenta o estresse fisiológico com
elevação das concentrações plasmáticas de catecolaminas e insulina, bem como disfunção hepática
(OKOSHI et al., 2013).
Em relação às proteínas, as recomendações oscilam entre 1,0 g e 1,2 g/kg/dia, podendo ser aumentadas
na vigência de perdas por nefropatia ou má absorção intestinal. As refeições devem ser frequentes e a
quantidade reduzida, visto que congestão hepática, distensão gástrica e ascite ocasionam intolerância à
ingestão de grande quantidade de alimentos. Quando não for possível usar o trato gastrintestinal, parcial
ou integralmente, ou em condições perioperatórias, a nutrição parenteral total (NPT) ou complementar
à dieta administrada pelo trato gastrintestinal é indicada. O acesso venoso central é mais utilizado que
o acesso periférico, uma vez que pacientes com IC não toleram a administração de grandes volumes,
assim, o acesso central permite a infusão de soluções concentradas, hiperosmolares e em menor volume
(OKOSHI et al., 2013).
Alguns estudos sugerem que o uso da suplementação de aminoácidos ramificados (AACR ou BCAA),
antioxidantes, estatinas e inibidores da enzima de conversão da angiotensina, tem sido relacionado com
desfechos metabólicos e nutricionais mais favoráveis em pacientes com caquexia cardíaca (CELANO;
LOSS; NOGUEIRA, 2011).
Carboidratos
Sahade e Montera (2009) recomendam um aporte de carboidratos entre 50% e 60% do VET da
dieta. Acima de 60% do VET, os autores consideram excesso desse macronutriente, devendo ser evitado,
principalmente aqueles que possuem alta CG. Isso se justifica devido ao agravamento do quadro de RI,
o que conduz a piora prognóstica dos pacientes com IC.
135
Unidade II
Observação
Logo, os carboidratos, quando consumidos na forma de açúcares (ou amido), apresentam diferentes
respostas daqueles que são ingeridos com fibras, compostos bioativos, vitaminas, sais minerais e baixo
teor lipídico. A forma de consumo também interfere na resposta glicêmica que poderá ser mais lenta e
menos acentuada (SBD, 2017-2018). Daí, estimula-se o consumo de carboidratos oriundos de alimentos
integrais, frutas, vegetais e produtos lácteos, preferencialmente desnatados (PADILHA et al., 2010).
Dietas com baixo índice glicêmico (IG) podem exercer benefícios por meio da redução da glicemia
pós-prandial e melhora do perfil lipídico. Entretanto, o uso de alimentos com baixo IG isoladamente
não possui evidência suficiente (PADILHA et al., 2010), havendo várias limitações na prática clínica, bem
como estudos conflitantes e opiniões distintas entre os especialistas.
O IG pode ser obtido por meio do aumento da glicemia gerado por 50 g de carboidratos disponíveis
em um alimento específico quando comparado ao aumento causado por 50 g de um alimento referência
(50 g pão branco) ou de 50 g de glicose (MOLZ et al., 2015).
Lembrete
O quadro a seguir demonstra alguns alimentos contendo baixo, médio e alto IG.
136
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Lipídeos
Os lipídeos complementam o VET da dieta, estando entre 25% e 30%, não devendo exceder os
30%. Mais importante que a quantidade é a qualidade lipídica, principalmente se o paciente apresentar
dislipidemia (SAHADE; MONTERA, 2009).
A má absorção de gordura ocorre em cerca de 1/3 dos pacientes com caquexia cardíaca e, na ocorrência
de esteatorreia, indica-se a suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM) (SAHADE; MONTERA,
2009). O TCM é uma gordura saturada que possui valor calórico de 8,3 kcal/g. A absorção intestinal do
TCM independe da presença de lipase pancreática e de sais biliares, sendo recomendado em casos de
esteatorreia persistente, porém, deve-se atentar para a suplementação de vitaminas lipossolúveis.
Os ácidos graxos ômega 3 representam uma boa opção devido às suas propriedades anti-inflamatórias,
com efeitos positivos em pacientes sintomáticos que apresentam IC (SAHADE; MONTERA, 2009).
A administração de 1 g/dia de ácidos graxos ômega 3 mostrou redução significativa na mortalidade por
qualquer causa e no desfecho combinado de óbito ou hospitalização por causa cardiovascular (ROHDE
et al., 2018).
Segundo Faludi et al. (2017) uma metanálise recente mostrou que o colesterol da dieta exerce pouca
influência na mortalidade cardiovascular. Além disso, o aumento do consumo de ovos, associado a uma
dieta com baixo teor lipídico, manteve a relação LDL-c/HDL-c, tanto entre indivíduos que absorvem
mais colesterol dietético quanto nos hiporresponsivos. Devido a esses resultados, as atuais diretrizes
internacionais sobre a prevenção de DCV mostram que não há evidências suficientes para estabelecer
um ponto de corte para o consumo de colesterol.
137
Unidade II
Fibras
As fibras também podem aumentar o estado pró-inflamatório por meio da produção de ácidos graxos
de cadeia curta (AGCC) que nutrem os enterócitos, o que favorece a diminuição da hiperpermeabilidade
intestinal, com consequente redução da passagem de moléculas capazes de ativar o sistema imunitário
(SAHADE; MONTERA, 2009).
Os tipos, as características, as fontes e os efeitos das fibras solúveis e insolúveis no nosso organismo
estão sumarizados no quadro a seguir.
138
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Sódio e fluidos
Evidências apontam que a ingestão excessiva de sódio é um fator de risco independente para a IC e
para hipertrofia do ventrículo esquerdo em indivíduos com excesso de peso. Entretanto, a recomendação
de sódio para indivíduos com IC crônica é ainda controversa devido à falta de estudos prospectivos,
randomizados e controlados para embasamento dessas recomendações.
Estudos mostram que o consumo excessivo de sódio e fluidos está associado ao agravamento da
hipervolemia, o que constitui fator de descompensação e risco de internação em pacientes com IC
crônica sintomática. Quando há restrição severa de sódio (< 5 g/dia de sal), em comparação à dieta
normossódica (~7 g/dia de sal), observam-se efeitos deletérios nos pacientes com IC crônica, o que
inclui aumento da ativação neuro-hormonal, maior número de hospitalização e mortalidade (ROHDE
et al., 2018).
Sais de cloreto de potássio, amônia ou cálcio, podem contribuir para a diminuição da ingestão
de sódio, entretanto, há risco de hipercalemia, principalmente na disfunção renal e no uso de alguns
medicamentos poupadores de potássio (BOCCHI et al., 2009). O nutricionista deve fornecer orientações
e receitas com temperos e ervas naturais para serem utilizados nas preparações, além de conscientizar o
paciente para as mudanças de hábitos alimentares devido à baixa adesão à dieta hipossódica.
Em pacientes sintomáticos com IC grave (estágio D), observa-se que a restrição mais intensa da
ingestão de sódio ocasiona benefícios por diminuir sintomas congestivos e reinternações. Recomenda‑se,
nesse sentido, evitar a ingestão excessiva de sódio (> 7 g/dia de sal) para todos os pacientes na fase
crônica da IC (ROHDE et al., 2018).
Rohde et al. (2018) ressaltam a escassez de estudos para a recomendação fluida adequada
em pacientes com IC. Em uma revisão sistemática, a ingestão liberal de fluidos não exerceu efeitos
desfavoráveis sobre internação e mortalidade nos pacientes com IC. Outro estudo, porém, demonstrou
uma diminuição de hospitalizações com a restrição hídrica de 1.000 mL/dia quando comparado à ingestão
de 2.000 mL/dia. Sendo assim, não é possível o estabelecimento de recomendações específicas sobre o
emprego de restrição hídrica em pacientes com IC crônica.
Entretanto, Bocchi et al. (2009) mencionam que a restrição fluida deve respeitar a condição clínica
do paciente, assim como a dose de diuréticos. Sugere-se, em média, uma ingestão diária de 1.000 mL a
1.500 mL em pacientes sintomáticos que apresentam risco de hipervolemia. Sahade e Montera (2009)
recomendam, na prática clínica, o máximo de 2.000 mL/dia. Domingues et al. (2016) informam que a
restrição fluida nem sempre é necessária, além de depender da gravidade da IC. Eles consideram que
139
Unidade II
uma ingestão diária de 1.000 mL a 2.000 mL em pacientes com IC é normalmente recomendada, apesar
de não serem evidentes os benefícios da restrição.
Para a maioria dos pacientes, o nutricionista deve atentar para a consistência da dieta em casos
de dispneia, disfagia, odinofagia e dificuldade mastigatória, podendo optar pelas consistências
líquido pastosa, pastosa e branda. Para evitar a sobrecarga prandial e uma melhor absorção dos
nutrientes a dieta deverá ter um volume reduzido e fracionamento aumentado (6 a 8 refeições/dia).
Essas medidas comportamentais irão reduzir o trabalho cardíaco e a plenitude pós-prandial,
facilitando a ingestão de energia, proteína e micronutrientes importantes para restabelecimento
do estado nutricional. A via oral é a mais fisiológica, porém, deve-se seguir o algoritmo da terapia
nutricional enteral e parenteral.
140
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Adaptada de: Domingues et al. (2016); Bocchi et al. (2009); Sahade e Montera (2009); Faludi et al. (2017).
Álcool
Está bem elucidado que o consumo excessivo de bebida alcoólica ocasiona efeitos deletérios sobre
o sistema cardiovascular, visto que o álcool reduz a contratilidade miocárdica e pode causar arritmias.
Entretanto, há evidência que a ingestão moderada de álcool, até 30 g/dia para homens e até 20 g/dia
para mulheres não possui efeitos prejudiciais à IC (SAHADE; MONTERA, 2009).
Bocchi et al. (2009) recomendam a abstinência completa do álcool especialmente para pacientes
com miocardiopatia alcoólica. Porém, informam que quantidades diárias limitadas (20 mL a 30 mL
141
Unidade II
de álcool em vinho tinto) em pacientes estáveis, classes I-II da IC, poderiam resultar em benefícios na
presença de doença coronariana.
Entretanto, Rohde et al. (2018) mencionam que o uso permitido de bebidas alcoólicas na IC crônica
estável (não relacionada ao uso de álcool) em pequena quantidade (≤ 10 mL de álcool para mulheres e
≤ 20 mL de álcool para homens) é controvertido e que os riscos devem ser explicados ao paciente, assim
como a decisão da ingestão alcóolica deve ser compartilhada.
O nutricionista deve desencorajar o consumo de bebidas alcoólicas e/ou orientar o mínimo consumo
por pacientes com IC.
Micronutrientes
A osteopenia ou osteoporose está presente em 50% dos pacientes com IC. O cálcio, o magnésio
e a vitamina D são essenciais para a manutenção da massa óssea. A hipocalcemia exerce um efeito
potencialmente pró-arrítmico e a hipomagnesemia está associada ao pior prognóstico na IC, sendo
que a sua correção melhora a função cardíaca (SAHADE; MONTERA, 2009). Salienta-se que o uso de
diuréticos aumenta a excreção urinária de cálcio e magnésio.
As principais fontes alimentares de cálcio são: leite e derivados, folhosos escuros, suco de soja
enriquecido com cálcio, sardinha em lata, semente de gergelim, figo, tâmara, damasco, entre outros.
De magnésio: vegetais folhosos, cereais integrais, espinafre, leite e derivados, nozes, frutas, legumes
e tubérculos, como a batata. E, de vitamina D: laticínios, fígado e óleos de peixes gordurosos (HAACK;
FORTES; OLIVEIRA, 2017).
Esses nutrientes agem como antioxidantes em potencial, o que contribui para diminuição do estresse
oxidativo e dos danos provocados pelo mesmo, daí o importante papel na IC (SAHADE; MONTERA, 2009).
Entretanto, mais estudos são necessários para elucidar os mecanismos de ação, os reais efeitos na IC e
a dose recomendada.
de vitamina C são: acerola, caju, goiaba, manga, mamão, morango, laranja, limão, tangerina e tomate
(HAACK; FORTES; OLIVEIRA, 2017). O manganês é encontrado em cereais integrais, castanhas, nozes,
chás, avelã, soja, tofu e vegetais verdes folhosos.
Observa-se em pacientes com IC uma alta prevalência da deficiência de vitamina D, sendo associada
a um pior prognóstico. Entretanto, há controvérsias na literatura sobre os potenciais benefícios
dessa suplementação (ROHDE et al., 2018). Porém, na vigência de má absorção lipídica, as vitaminas
lipossolúveis, incluindo a vitamina D, devem ser repostas devido aos prejuízos absortivos.
A vitamina A pode ser encontrada nos alimentos de origem animal (fígado, ovos, leite, atum,
queijos), nos vegetais folhosos verde-escuros, nas frutas amarelo alaranjadas e vermelhas. A vitamina E
é encontrada no óleo vegetal, germe de trigo, cereais integrais, vegetais e legumes verdes, sementes e
frutas secas. A vitamina K está presente em diversas fontes vegetais verdes, como brócolis, couve, alface,
acelga e espinafre. É encontrada também em óleos vegetais (óleos de soja, oliva, canola, entre outros),
frutas, raízes, tubérculos e produtos de origem animal (HAACK; FORTES; OLIVEIRA, 2017).
Vitamina B1 (tiamina)
As principais fontes alimentares incluem: levedura de cerveja, cereais e grãos integrais, castanha‑do‑pará,
gema de ovo, carne, nozes, farinha de trigo e germe de trigo (HAACK; FORTES; OLIVEIRA, 2017).
Todos esses nutrientes atuam no metabolismo da homocisteína por meio da redução dos níveis
séricos deste aminoácido. Logo, exercem efeito protetor, visto que a homocisteína resulta em efeitos
inotrópicos negativos mediados, provavelmente, por efeitos sobre a função do endotélio (SAHADE;
MONTERA, 2009). A homocisteína é um aminoácido proveniente do metabolismo da metionina e seu
aumento está associado à disfunção do endotelial, trombose e maior gravidade da aterosclerose (CASTRO
et al., 2004).
A piridoxina está presente em germe de trigo, carne de porco, fígado, cereais integrais, suco de
ameixa, suco de tomate, suco de uva, abacate, manga, ameixa seca, melancia, uva, avelã, castanhas, nozes
e amendoim. A cobalamina em fígado, ostras, carne, ovos, leite e derivados, peixes (truta, salmão, atum).
E o ácido fólico, em vegetais folhosos, levedura de cerveja, fígado de boi, milho, vísceras, feijão, abacate,
abóbora, carne de vaca, carne de porco, cenoura, couve e laranja (HAACK; FORTES; OLIVEIRA, 2017).
143
Unidade II
Taurina
Os alimentos ricos em taurina são: peixes, frutos do mar como mariscos e ostras, aves como carne
escura de frango e peru, carne bovina.
Coenzima Q10
Observam-se níveis reduzidos de coenzima Q10 no músculo cardíaco de pacientes com IC. A coenzima
Q10 atua no transporte de elétrons na cadeia respiratória mitocondrial e funciona como potente
antioxidante. Logo, acredita-se que ela pode atuar como adjuvante na terapêutica da IC (SAHADE;
MONTERA, 2009).
A coenzima Q10 se encontra em maior concentração nos seguintes alimentos: frango, carne bovina,
carne suína, sardinha, nozes, grão de soja, brócolis, espinafre, óleos de soja, gergelim, milho e algodão
(SAHADE; MONTERA, 2009).
Na IC, a terapia farmacológica tem como princípio bloquear os sistemas que ficam ativados na
IC; ou seja, o sistema simpático e o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Porém, devido
a diversos mecanismos envolvidos na fisiopatologia da IC, existem muitas classes farmacológicas
disponíveis no mercado para o seu tratamento. Este, por sua vez, consiste na utilização de diversas classes
medicamentosas, tais como: inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), betabloqueadores (BB),
bloqueadores dos receptores de angiotensina II (BRA), antagonistas de aldosterona e diuréticos, sendo
estes os mais frequentes (MIZZACI; RIEIRA; MARTIMBIANCO, 2017).
Para redução da mortalidade na IC com fração de ejeção reduzida, as mais recentes diretrizes
internacionais recomendam a utilização dos seguintes BB: bisoprolol, succinato de metoprolol e
carvedilol. O uso dos inibidores da IECA para diminuição de morbimortalidade também é indicado.
Como alternativa aos inibidores da IECA em pacientes intolerantes a essa classe de medicamentos,
recomendam-se os BRA. O uso de diurético em pacientes com retenção hídrica é recomendado para
redução de sintomas. Como opção terapêutica para ser empregada em pacientes que não estão
evoluindo bem com o tratamento medicamentoso otimizado ou que apresentem contraindicação
para o uso de inibidores da IECA ou BRA, considera-se a associação de hidralazina e dinitrato de
isossorbida para redução de morbimortalidade. A digoxina pode melhorar os sintomas, a qualidade
de vida, a tolerância ao exercício e a hospitalização em pacientes com IC. Os betabloqueadores
representam avanço terapêutico, visto que interferem com os efeitos nocivos da ativação simpática
generalizada, entre outros benefícios (MIZZACI; RIEIRA; MARTIMBIANCO, 2017).
144
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Os exercícios físicos são fundamentais para a manutenção e recuperação das condições físicas e dos
músculos esqueléticos. A ativação de citocinas pró-inflamatórias pode ocorrer por meio da realização
esporádica de exercícios, uma vez que pode levar à hipoxemia periférica. Já a prática regular de exercícios
não é capaz de induzir ativação de citocinas pró-inflamatórias ou de marcadores de dano endotelial,
o que pode diminuir as concentrações séricas de TNF-α e de IL-6. Entretanto, os pacientes devem
ser estimulados a realização de exercícios físicos somente sob orientação do professor de educação
145
Unidade II
física (OKOSHI et al., 2013). Em alguns pacientes com IC, o médico pode contraindicar a realização de
exercício, a depender da evolução da doença.
O infarto agudo do miocárdio caracteriza-se por ser uma síndrome clínica que resulta da necrose
isquêmica do miocárdio devido à obstrução, transitória ou permanente, ao fluxo coronariano. O IAM
representa a apoptose celular em consequência de isquemia prolongada; uma vez que a maioria dos
infartos do miocárdio é causada pela trombose de uma artéria coronariana sobre uma placa ateromatosa
(MAIA, 2012).
Bloqueio
na artéria
Dano
muscular
Infarto de miocárdio
O IAM é considerado uma Síndrome Isquêmica Miocárdica Instável (SIMI) cuja principal causa
é o acúmulo de placa aterosclerótica, o que representa um grande desafio para os profissionais de
saúde (SILVA et al., 2019). Ele constitui uma enfermidade grave e que pode levar o indivíduo a óbito,
geralmente, em consequência a uma parada cardiopulmonar devido à fortes arritmias cardíacas, em
especial a fibrilação ventricular (ARAÚJO; OLIVEIRA; PEREIRA, 2018).
Na maioria dos casos, o IAM ocorre quando há rompimento ou ulceração de uma placa aterosclerótica
fissurada, bem como quando determinadas condições (locais ou sistêmicas) favorecem a trombogênese.
Assim, um trombo mural se forma no local da ruptura, fazendo com que ocorra a oclusão arterial
coronariana (SILVA; MARQUES, 2007).
146
NUTRIÇÃO CLÍNICA
O processo de infarto agudo do miocárdio por oclusão arterial coronariana encontra-se ilustrado
na figura a seguir.
Coágulo
sanguíneo Artéria
Placa de
ateroma
Artérias coronárias
Músculo saudável
Músculo em necrose
Existem dois tipos principais de IAM, a saber: infartos transmurais - a necrose miocárdica envolve
toda a espessura da parede ventricular, e infartos subendocárdicos - a necrose envolve o subendocárdio,
o miocárdio intramural, ou ambos, porém, sem afetar toda a espessura da parede ventricular até o
epicárdio (não transmural) (SILVA; MARQUES, 2007).
Ainda que vários tratamentos para o IAM sejam bastante eficientes, sobreviver a primeira hora do
evento é um grande desafio. O IAM pode deixar sequelas irreversíveis ao coração (ARAÚJO; OLIVEIRA;
PEREIRA, 2018), assim como sequelas que geram repercussões físicas, psicológicas e sociais. Daí, a
abordagem precoce do IAM para que se tenha uma adequada intervenção é fundamental (SILVA et al.,
2018), o que reforça o importante papel de uma equipe multiprofissional.
O IAM pode acometer os indivíduos em qualquer fase da vida, sendo que os principais fatores
de risco associados à sua ocorrência são: HAS, DM, tabagismo, sedentarismo, sobrepeso, obesidade,
consumo excessivo de álcool, estresse, circunferência abdominal alterada, história familiar,
dislipidemia, dieta hipercalórica e condição socioeconômica (SILVA et al., 2019, LIMA et al., 2019,
PINHEIRO; LENHANI; MARTINS, 2017, MERTINS et al., 2016, PINHEIRO et al., 2013, SILVA; SOUSA;
SCHARGODSKY, 1998). Esses resultados evidenciam o alto grau de morbimortalidade, o que reforça
a necessidade da população se conscientizar sobre a importância de hábitos saudáveis implicados na
prevenção precoce dessa doença.
A idade avançada, o sexo masculino e o histórico familiar para doença arterial coronariana (DAC) também
constituem importantes fatores de risco para o desenvolvimento de IAM (LIMA et al., 2019, MAIA, 2012).
147
Unidade II
Em relação ao sexo masculino, observa-se que os hábitos de vida tendem a sofrer maior exposição
a riscos para várias enfermidades, o que inclui o IAM (LIMA et al., 2018). O sexo feminino, por sua
vez, é protegido pelo estrógeno durante a vida reprodutiva, entretanto, após a menopausa o risco do
surgimento de IAM torna-se elevado. Outras explicações se referem às mudanças no estilo de vida após
a emancipação feminina, o que inclui o sedentarismo, a dieta inadequada, o tabagismo, o etilismo e o
estresse (LIMA et al., 2019, MAIA, 2012, SILVA; MARQUES, 2007).
O histórico familiar para DAC também constitui outro fator de risco para IAM. Há evidência de que
a chance de desenvolver doenças coronarianas é proporcional ao quantitativo de parentes que possuem
cardiopatias (MAIA, 2012), devendo a história clínica sempre fazer parte das condutas de uma equipe
multiprofissional.
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do IAM estão descritos na figura a seguir.
Dislipidemia
Estresse DM
Dieta HAS
FR
Idade Tabagismo
Genética Obesidade
FR: fatores de risco. sexo
As principais manifestações clínicas em pacientes com IAM envolvem: pulso acelerado e fraco,
diaforese, dispneia, congestão e edema pulmonar, pele fria, pálida e úmida, tosse produtiva com escarro
espumoso, róseo ou hemoptoico, frequências cardíaca e respiratória mais aceleradas que o habitual, dor
precordial intensa (MAIA, 2012). Entretanto, um dos sintomas mais frequentes no IAM é a dor torácica,
uma das principais causas de procura ao pronto socorro e que representa um grande desafio devido à
148
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A dor torácica é profunda e visceral (pesada, apertada e esmagadora), geralmente com localização
retroesternal, sendo frequentemente irradiada para ambos os lados do tórax anterior, especialmente
no lado esquerdo. Ela normalmente irradia-se em direção ao ulnar do braço esquerdo, promovendo
sensação de formigamento no pulso, mão e/ou dedos (SILVA; MARQUES, 2007). Está presente entre
75% e 80% dos pacientes sob a forma de “queimação, indigestão, peso, aperto, opressão, sufocação, dor
ou pressão”. A dor, geralmente, dura cerca de 30 minutos, podendo ser constante e desaparecer ou ser
aliviada após a eructação (PASSINHO et al., 2017).
Em alguns casos, porém, a dor do infarto pode ter início no epigástrio, estimulando diversos
distúrbios abdominais, o que faz com que frequentemente o IAM é diagnosticado equivocadamente
como dispepsia. Já em outros pacientes, o IAM é indolor, sendo mais frequente em diabéticos (devido à
neuropatia sensitiva e autonômica), idosos e algumas mulheres (PASSINHO et al., 2017, SILVA; MARQUES,
2007). Entretanto, esses pacientes podem cursar com náuseas, mal-estar, dispneia, taquicardia ou até
confusão mental.
O IAM é um evento agudo que necessita de internação hospitalar, visto que o intervalo entre o início
dos sintomas e o atendimento clínico é extremamente decisivo para a sobrevida. Evidências apontaram
que 2% dos pacientes acometidos pelo IAM receberam alta hospitalar incorretamente pelos serviços de
emergência e, a maioria, desenvolveu um infarto fulminante no domicílio (MAIA, 2012).
Após a alta hospitalar, o paciente com IAM requer intervenção imediata e assistência à saúde no
intuito de minimizar as chances de complicações e agravamento da doença em curto e médio prazos
(COSTA et al., 2018). Dados estatísticos mostram que mais de 50% dos óbitos ocorrem na primeira hora
de evolução, sendo o uso da terapia com trombolíticos tempo-dependente, o retardo na terapêutica de
pacientes com suspeita de IAM é um fator crítico de diminuição da sobrevida (MAIA, 2012).
Palpitações
Dispneia cardíacas
Dificuldade para
Dor abdominal dormir
149
Unidade II
O diagnóstico clínico do IAM é confirmado quando há uma elevação e/ou redução da troponina,
juntamente com a presença de sintomas típicos tendo como principal característica a dor ou
aperto precordial que se irradia pelos membros superiores, alterações eletrocardiográficas (ECG)
ou imagem da perda de miocárdio viável ou anormalidade do movimento da parede regional.
Para reduzir os danos ocasionados pela obstrução coronariana, procedimentos cirúrgicos e não
cirúrgicos podem ser adotados (SILVA et al., 2019; COSTA et al., 2018; SILVA; MARQUES, 2007).
Para que o indivíduo retorne às suas atividades de vida diária com qualidade, utiliza-se a
reabilitação cardíaca. A caminhada, por exemplo, deverá ocorrer gradativamente, sempre respeitando
o limite orgânico, no entanto, um programa formal de reabilitação cardíaca supervisionado
individualmente e de maneira segura conduz a melhores resultados (ARAÚJO; OLIVEIRA; PEREIRA,
2018, MAIA, 2012), o que torna imprescindível a atuação do fisioterapeuta.
Após o IAM, a atividade esportiva, bem como o retorno às atividades profissionais e sexuais
estarão liberados somente após autorização médica (HCOR, 2018) e supervisionadas pelo professor
de educação física. Entretanto, vale ressaltar que a atividade física regular quando isoladamente,
sem a abordagem de uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos, sementes, nozes, peixe, laticínios
e pobre em carnes, açúcares e álcool em geral, não é capaz de promover uma perda de peso
significativa (PRECOMA et al., 2019). Sendo assim, a terapia nutricional se faz necessária, enfatizando
o importante papel do nutricionista.
150
NUTRIÇÃO CLÍNICA
aeróbica, de 3 a 4 vezes por semana, com duração média de 40 minutos por sessão, de moderada
a intensidade vigorosa como prevenção de DAC.
Abaixo estão descritas algumas medicações utilizadas no IAM, com ênfase nos efeitos adversos.
O nutricionista deverá avaliar a presença desses efeitos para melhor conduta dietoterápica.
Observa-se uma associação entre o IAM e o estado nutricional do paciente, sendo que aqueles
que sofreram IAM e estão em baixo peso possuem risco mais elevado de óbito comparado a pacientes
eutróficos, principalmente após a cirurgia. Após o procedimento cirúrgico, as necessidades energéticas
aumentam, o que demanda grande reposição tecidual, além da associação com comorbidades ou
dificuldades em adequar o aporte energético. Logo, o estado nutricional de um paciente hospitalizado
pode interferir na sua evolução clínica, uma vez que a desnutrição eleva o risco de morbidade, piora o
prognóstico clínico e aumenta o risco de óbito (SILVA et al., 2019).
151
Unidade II
A dieta é de suma importância tanto para o tratamento quanto para a prevenção do IAM. O objetivo
principal da dietoterapia para indivíduos com infarto agudo do miocárdio é a redução da sobrecarga
cardíaca. Após evento agudo, o paciente ficará de jejum nas primeiras 4 a 12 horas.
Na prática clínica, prioriza-se a utilização da regra (ou fórmula) de bolso: 20 a 25 kcal/kg/dia para promover
a perda de peso; 25 a 30 kcal/kg/dia para manutenção de peso e > 30 kcal/kg/dia para ganho ponderal.
152
NUTRIÇÃO CLÍNICA
As novas diretrizes da American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA)
do manejo do colesterol (GRUNDY et al., 2018) recomendam que os pacientes devem consumir um
padrão alimentar com ênfase na ingestão de vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, fontes saudáveis
de proteínas, produtos lácteos com baixo teor lipídico, aves com baixo teor de gordura (sem a pele),
peixes/frutos do mar, nozes, vegetais não tropicais e óleos; e limitar a ingestão de doces, bebidas
açucaradas e carnes vermelhas. Ressaltam que esse padrão alimentar deve ser ajustado às necessidades
energéticas dos pacientes, assim como às preferências alimentares, culturais e comorbidades. A ingestão
calórica deve ser ajustada para evitar o sobrepeso e a obesidade.
As recomendações dietéticas para o tratamento das dislipidemias estão descritas na tabela seguinte.
LDL-c Triglicérides
Recomendações Dentro da meta e Acima da meta Limítrofe Elevados Muito elevados†
sem comorbidades ou presença de mg/dL (%) mg/dL (%) > 500 mg/dL (%)
* (%) comorbidades* (%)
Perda de peso Manter peso saudável 5-10 Até 5 5-10 5-10
Carboidrato (%VET) 50-60 45-60 50-60 50-55 45-50
Açúcares de adição < 10 < 10 < 10 5-10 <5
(%VET)
Proteína (%VET) 15 15 15 15-20 20
Gordura (%VET) 25-35 25-35 25-35 30-35 30-35
AGT (%VET) Excluir da dieta
AGS (%VET) < 10 <7 <7 <5 <5
AGMI (%VET) 15 15 10-20 10-20 10-20
AGPI (%VET) 5-10 5-10 10-20 10-20 10-20
Ácido linolenico, g/dia 1,1-1,6
EPA e DHA, g 0,5-1,0 > 2,0 > 2,0
Fibras 25 g, sendo 6 g de fibra solúvel
DHA: ácido docosaexaenoico; EPA: ácido eicosapentaenoico; LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade; VCT:
valor calórico total. O tempo de reavaliação após a implantação das medidas de modificações do estilo de vida deve ser de
3 a 6 meses.
Alguns pesquisadores sugerem a dieta do Mediterrâneo e a dieta DASH para a saúde cardiovascular
e, para SM, recomendam a dieta DASH associada a uma intervenção no estilo de vida, visto que é capaz
de aumentar a sensibilidade à insulina (MALACHIAS et al., 2017, KLEIN, 2015, ARÓS; ESTRUCH, 2013,
STEEMBURGO et al., 2007).
153
Unidade II
Exemplo de aplicação
Como nutricionista, você deverá orientar um paciente eutrófico, com constipação crônica,
hipertensão arterial sistêmica (HAS) e que sofreu há três meses infarto agudo do miocárdio (IAM) sobre
a escolha de um cereal matinal. Considerando as duas únicas opções hipotéticas a seguir, qual indicaria?
Justifique a sua escolha.
Tabela 13
Resolução
Considerando o quadro clínico apresentado pelo paciente, o que inclui HAS, constipação crônica
e IAM, o mais indicado é o cereal matinal B por possuir mais fibras alimentares, apesar de conter
mais sódio em comparação ao cereal matinal A. Isso se explica devido ao quadro agudo recente
de infarto do miocárdio e a presença de constipação intestinal, tendo em vista que o esforço
evacuatório também poderá sobrecarregar a função cardíaca a depender da fase clínica.
Há pouca diferença em relação ao quantitativo de sódio nos dois cereais, além disso, o cereal de
escolha (B) possui menos teor de carboidratos e maior quantitativo de proteínas. A restrição de sódio
deverá ser distribuída ao longo das refeições, as orientações nutricionais deverão ser reforçadas
em relação a manutenção sustentada do peso adequado (paciente eutrófico), fracionamento das
refeições, mastigação adequada, volume reduzido, importância da qualidade lipídica e das fibras
alimentares, priorização de carboidratos complexos, com restrição de açúcares simples; aporte
adequado de frutas, verduras, legumes; restrição de alimentos industrializados, entre outros.
154
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A terapêutica para a SM consiste em modificações dos hábitos de vida, incluindo a prática regular
de atividade física, a manutenção do peso adequado e a adoção de uma dieta saudável. A atuação de uma
equipe multiprofissional é imprescindível, destacando-se o profissional nutricionista, que reforçará a
importância da nutrição para prevenção e tratamento da SM. O nutricionista procederá à intervenção
nutricional específica para cada indivíduo, visando o restabelecimento clínico-nutricional e, em consequência,
a melhoria da qualidade de vida, quer seja no âmbito hospitalar, domiciliar e/ou ambulatorial.
O papel da resistência à insulina como elo entre a obesidade abdominal, intolerância à glicose,
aumento dos níveis pressóricos, dislipidemia, distúrbios de coagulação, hiperuricemia e microalbuminúria é
amplamente conhecido e discutido na literatura e na prática clínica (OLIVEIRA et al., 2017, OLIVEIRA;
FORTES, 2014). Entende-se por RI (resistência à insulina) um defeito na ação da insulina que culmina
em uma hiperinsulinemia compensatória para manutenção dos níveis glicêmicos dentro da normalidade
(FARIA et al., 2014, CAPANEMA et al., 2010, RODRIGUES; CANANI; GROSS, 2010).
155
Unidade II
Hiperglicemia
Aterosclerose Hiperinsulinemia
acelerada Doença hepática
Microalbuminúria gordurosa não
alcoólica
Intolerância à
Dislipidemia RI glicose
Ainda não existe um consenso em relação aos critérios utilizados para o diagnóstico de SM. As
principais definições para a SM são as da OMS, propostas em 1998; a do Programa Nacional de Educação
sobre Colesterol dos Estados Unidos (NCEP/ ATP-III), de 2001; e a mais nova proposta de classificação
publicada em 2006 pela Federação Internacional de Diabetes (em inglês, IDF), que é o critério mais
adotado no Brasil (MONTE et al., 2019, RODRIGUES; CANANI; GROSS, 2010, MANNA; DAMIANI; SETIAN,
2006, FREITAS et al., 2008).
Em 1998, a OMS propôs como critério inicial para a SM, a avaliação da RI ou da evidência de
distúrbio do metabolismo da glicose e incluiu a medida da albuminúria, tendo critérios mais complexos
(CAPANEMA et al., 2010). Para o diagnóstico da SM, a resistência à insulina deveria ser constatada por
meio do método de clamp euglicêmico hiperinsulinêmico, associado a, pelo menos, dois dos seguintes
componentes: obesidade, dislipidemia, HAS e microalbuminúria. Devido à complexidade do método na
determinação da RI, assim como o uso do teste de tolerância oral à glicose (TTOG), essa definição foi
pouco aceita na prática clínica (FREITAS et al., 2008, I-DBDTSM, 2005).
Em 2001, um grupo de médicos do National Cholesterol Education Program’s Adul Treatmen Panel
III (NCEP/ATP-III), nos Estados Unidos, propôs uma nova definição para SM na qual a determinação
direta da RI não foi incluída. Esse modelo foi mais aceito e possui maior aplicabilidade clínica em
comparação ao da OMS por não exigir a comprovação de resistência à insulina, sendo recomendado pela
I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. O diagnóstico da SM ocorre
mediante a combinação de pelo menos três dos seguintes componentes: obesidade abdominal por meio
de circunferência abdominal (CA), triglicerídeos, HDL-c, pressão arterial e glicemia de jejum (CAPANEMA
et al., 2010, FREITAS et al., 2008, I-DBDTSM, 2005).
156
NUTRIÇÃO CLÍNICA
As definições da síndrome metabólica de acordo com a OMS, NCEP/ ATP-III e IDF estão descritas
a seguir.
Adaptado de: SBD (2019); Capanema et al. (2010); Freitas et al. (2008).
Em crianças, ainda não existem estudos conclusivos para o diagnóstico da SM devido à ausência de
pontos de corte precisos em relação a alguns fatores importantes para a confirmação diagnóstica. A IDF
sugeriu uma definição semelhante à de adultos, utilizando os mesmos pontos de corte em adolescentes
acima de 16 anos de idade. Entre 10 e 16 anos, utiliza-se o percentil acima de 90 para a aferição da
circunferência abdominal. Já de seis a 10 anos, usa-se o mesmo percentil, entretanto, não é condição
157
Unidade II
essencial para o diagnóstico da SM. Deve-se, nesse caso, intensificar a suspeita clínica para história
familiar positiva para as demais condições predisponentes (CAPANEMA et al., 2010).
Segundo Freitas et al. (2008), algumas considerações a respeito dessas três propostas diagnósticas
da SM devem ser analisadas:
• Em relação à definição proposta pela IDF, a limitação para a sua utilização na população brasileira
está relacionada aos pontos de corte da CC dos sul-asiáticos para o diagnóstico da obesidade
central nas populações da América do Sul e da América Central.
• Como todos os componentes para o diagnóstico da SM propostos pelo NCEP-ATP III são de fácil
obtenção, podendo inclusive ser utilizados em estudos epidemiológicos e clínicos, essa definição
parece mais viável. Outro aspecto importante é que não se prioriza nenhum componente, evitando
158
NUTRIÇÃO CLÍNICA
De acordo com o IMC, peso corpóreo (kg) dividido pela estatura (m) ao quadrado (IMC = kg/m²),
a OMS (1995) classifica o indivíduo adulto como obeso quando IMC ≥ 30 kg/m², sendo a obesidade
estratificada em graus:
Considera-se com sobrepeso o indivíduo com IMC entre 25 e 29,9 kg/m2. Já para os idosos, o
Ministério da Saúde aceita a classificação de Lipschitz (1994) em que o IMC de eutrofia encontra-se
entre 22 e 27 kg/m2. Para a faixa etária pediátrica, gráficos padronizados de IMC são utilizados, visto
que, além da oscilação do peso corpóreo, o IMC também oscila com a estatura e a idade, não sendo
adequada a sua aplicação direta nessa fase de vida (ABESO, 2016).
A RCEst é calculada mediante a divisão direta da CC pela estatura. O indivíduo é considerado com
acúmulo de gordura central quando apresentar como resultado um valor ≥ 0,5 para ambos os sexos e
em qualquer faixa etária (SBD, 2019). A RCQ maior que 1,0 para homens e superior a 0,85 para mulheres
está associada à SM e risco de DCV (OMS, 2000).
159
Unidade II
A circunferência abdominal deve ser aferida no meio da distância entre a crista ilíaca e o rebordo
costal inferior, visto que é o índice antropométrico mais representativo da gordura intra-abdominal,
assim como de aferição mais simples e reprodutível. Entretanto, o ponto de corte de 102 cm para o
sexo masculino e 88 cm para o sexo feminino tem sido questionado, uma vez que não se adequa às
populações de distintas etnias. Logo, níveis mais baixos têm sido considerados mais apropriados, sendo
94 cm para homens e 80 cm para mulheres. Recomenda-se para mulheres com CA entre 80-88 cm e
homens entre 94-102 cm uma monitorização frequente dos fatores de risco para doenças coronarianas
(I-DBDTSM, 2005). Oliveira e Rodrigues (2016) sugerem para CC a cicatriz umbilical como ponto de
referência, visto que ela é um intermediário entre o ponto médio entre as costelas e a crista ilíaca e a
linha da crista ilíaca, ponto de maior circunferência.
Em relação à CP, recomenda-se que essa aferição seja realizada na base do pescoço, na altura da
cartilagem cricotireóidea, entretanto, em homens com proeminência, ela deverá ser aferida abaixo da
proeminência. Os pontos de corte mais utilizados para adultos são 37 cm para homens e 34 cm para
mulheres (SILVA; PRETTO; BORGES, 2015, BEN-NOUN; LAOR, 2003). Lima et al. (2018) determinaram
quais pontos de corte da CP correspondiam aos níveis de excesso de peso classificados por meio do
IMC em 323 indivíduos, com média de idade de 40,9 (±10,8) anos, sendo a maioria mulheres (81%).
Observou-se forte correlação da CP com o peso corpóreo e com a circunferência abdominal. Os pontos
de corte que melhor rastrearam adultos com sobrepeso, foram 37,9 cm para homens e 34,7 cm para
mulheres e, com obesidade, 40 cm para homens e 36,5 cm para mulheres. Ainda não existe um consenso
sobre qual valor de CP deve ser adotado, dada a heterogeneidade dos estudos, mas isso não invalida o
seu uso na prática clínica.
Para crianças e adolescentes, não existe uma padronização em relação à medida da circunferência
abdominal. Alguns autores preconizam aferições por faixa etária, considerando elevada a medida
superior ao percentil 90. Fatores como ausência de método padrão para essa aferição; falta de um padrão
internacional em decorrência da variação étnica; ausência de ponto de corte para risco cardiometabólico;
dificuldades práticas de aferição devido à necessidade de remoção de roupas, principalmente no inverno,
com ênfase psicológica nessa fase de vida; constituem importantes limitações. Tem-se sugerido,
como alternativa para verificação de SM em crianças e adolescentes, a CP. Essa medida tem grande
utilidade por representar outra possibilidade antropométrica para avaliação da SM e, também, devido
ao constrangimento em se despir comumente presente nessa faixa etária. A principal vantagem é a
praticidade tanto para o examinador quanto para o adolescente, visto que não sofre influência pelo
horário de avaliação (pré ou pós-prandial), sendo útil para o estudo de triagem e o uso em serviços de
saúde pública (ROCHA et al., 2010).
que o aumento da CP pode indicar o acúmulo de moléculas adiposas na parede das artérias carótidas,
o que favorece o desenvolvimento de DCV. A adiposidade nesse compartimento corpóreo tem sido
associada à RI, inflamação e disfunção endotelial, o que reforça a hipótese de que a gordura abdominal
pode não ser a principal fonte das concentrações circulantes de AGL (LIMA et al., 2018).
Deve-se avaliar o perfil metabólico e inflamatório por meio dos exames de glicemia de jejum, HbA1c,
lipidograma completo (colesterol total, HDL-c, colesterol lipoproteína de alta densidade, sigla em inglês
LDL-c e TG), função hepática, função renal, PCR, cortisol, ferritina, ácido úrico, microalbuminúria,
Homa‑IR, assim como analisar os níveis pressóricos, a dose de insulina, o uso de outras medicações e
as interações droga-nutriente. Segundo a I-DBDTSM (2005), a análise dos níveis elevados de LDL-c não
integra os critérios diagnósticos da SM, entretanto, frequentemente, os pacientes que possuem RI e SM
apresentam aumento de LDL-c que, por sua vez, possui um elevado potencial aterogênico.
Diversos instrumentos têm sido propostos para relacionar o plano alimentar com o estado nutricional,
tais como: recordatório de 24 horas – R24h, registro de ingestão alimentar e questionário de frequência
de consumo alimentar (QFCA). Para analisar o padrão de qualidade da dieta, o nutricionista pode aplicar
o índice de qualidade de dieta (IQD), por meio do qual se avalia a ingestão adequada de nutrientes, o
número de porções de carboidratos, frutas e hortaliças consumidos, a quantidade de gordura total,
colesterol, AGS, proteína, cálcio e sódio (VIEIRA et al., 2016).
A história pregressa de DM, HAS, diabetes gestacional (DMG), doença arterial coronariana, acidente
vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não alcoólica,
hiperuricemia, entre outros, deve ser analisada (I-DBDTSM, 2005). Da mesma forma, o histórico familiar
de DCNT deve ser investigado, assim como outros fatores como escolaridade, condições de moradia,
renda, prática de atividade física, etilismo e tabagismo, que podem interferir direta ou indiretamente no
estado nutricional. O nutricionista deve estimular as mudanças comportamentais, incluindo a adesão
dietética associada à prática de atividade física (AF), a exclusão de etilismo, tabagismo e implementação
de atividades antiestresse.
A presença de sarcopenia na SM também deve ser avaliada, visto que a perda de massa muscular
representa uma redução na massa do tecido alvo responsivo à insulina, o que acarreta RI e, em
consequência, obesidade, HAS e SM. Existem evidências científicas de que o músculo desempenha um
papel crucial na redução da pressão arterial e na melhora da função hemodinâmica (CRUZ et al., 2018).
A terapia nutricional na síndrome metabólica tem como objetivos educar o paciente para hábitos
alimentares saudáveis; promover a perda ponderal e a manutenção do peso adequado, com preservação
de massa magra; melhorar a resistência à ação da insulina; promover o controle metabólico, inflamatório
e pressórico; restaurar as funções orgânicas; prevenir o desenvolvimento de outras comorbidades; reduzir
os efeitos da hiperalimentação e das complicações relacionadas por meio de uma dieta hipocalórica;
evitar os déficits e os excessos de nutrientes; melhorar a saúde geral e a qualidade de vida; e reduzir o
risco de mortalidade.
Aporte energético
A estimativa das necessidades energéticas individuais é um dos primeiros passos para a definição do
plano dietoterápico (CARVALHO et al., 2018). Essa estimativa pode ser realizada por meio de equações
preditivas como a de Harris-Benedict, ou determinada por calorimetria indireta, e combinada com o
nível de atividade física ou, ainda, pela regra (ou fórmula) de bolso (kcal/kg de peso) (DIESTEL et al.,
2013), sendo a última mais utilizada em nutrição clínica.
Como a obesidade exerce diversos efeitos orgânicos negativos relacionados à RI, um dos principais
objetivos do tratamento dietoterápico é a perda de peso. Os benefícios desse resultado são maiores
mediante a perda sustentada de peso ou quando o peso ideal é atingido e mantido. Salienta-se que a
perda ponderal deve ser resultante da máxima diminuição de gordura corpórea e da mínima redução de
massa magra, o que representa sucesso na manutenção do peso perdido, implicando em menores riscos
de desnutrição e complicações clínicas (CROSSETTI; KIRSTEN, 2007).
Deve-se fornecer um plano alimentar com valor energético total (VET) adequado para a obtenção
e/ou manutenção de peso corpóreo desejável. Em obesos, preconiza-se uma dieta hipocalórica
(20 kcal a 25 kcal/kg peso atual/dia), com uma diminuição de 500 kcal a 1000 kcal do gasto energético
total (GET) diário previsto (ou da anamnese alimentar), com o intuito de promover perdas ponderais
entre 0,5 kg e 1,0 kg por semana. Entretanto, não se devem prescrever dietas com aporte energético
inferior a 800 kcal/dia (CROSSETTI; KIRSTEN, 2007, I-DBDTSM, 2005), visto que não são efetivas para
a diminuição do peso corpóreo, além de implicar em inadequações nutricionais e resultar em menor
redução de peso em comparação à dieta hipocalórica tradicional (STEEMBURGO et al., 2007).
162
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Estudos demonstram que a dieta hipocalórica, quando associada à perda ponderal sustentada,
promove melhora da função endotelial por meio de melhoria nos parâmetros metabólicos, inflamatórios,
hemodinâmicos e neurovasculares em indivíduos obesos (GHETTI; LATERZA, 2014), diminuição de massa
corpórea, %GC, IMC, massa magra, TG, colesterol total, LDL-c e colesterol lipoproteína de muito baixa
densidade (sigla em inglês, VLDL-c) em mulheres adultas com sobrepeso (VALLE et al., 2010), redução
do colesterol total, e LDL-C em crianças obesas dislipidêmicas e, quando associada à atividade física,
aumenta os níveis de HDL-c e melhora a composição corpórea com redução significativa da massa
gorda (PARENTE et al., 2006).
Os mecanismos que associam a dieta hipocalórica à melhora da função endotelial em obesos estão
ilustrados no fluxograma a seguir.
Dieta hipocalórica
↓Resistência à insulina
163
Unidade II
Carboidratos
Em relação aos carboidratos, recomenda-se um plano alimentar contendo entre 50% e 60% do VET.
Devem-se priorizar os carboidratos complexos e restringir os carboidratos simples, entretanto, o açúcar
de mesa ou produtos contendo açúcar, incluindo fontes de frutose, podem ser considerados no
contexto de um plano alimentar saudável. A ingestão de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e
frutas deve ser encorajada (I-DBDTSM, 2005). Alguns estudos confirmam a função protetora por meio
164
NUTRIÇÃO CLÍNICA
da ingestão de grãos integrais, incluindo associação negativa com a RI, menor prevalência de SM e
menor risco de mortalidade por DCV (STEEMBURGO et al., 2007).
Há escassez de evidências científicas para recomendar o uso de alimentos de baixo índice glicêmico (IG)
como estratégia primária no plano alimentar de indivíduos com SM. Apesar de as dietas com baixo IG
serem capazes de reduzir a glicemia pós-prandial e melhorar o perfil lipídico, a adesão dos indivíduos
em longo prazo não está bem estabelecida (I-DBDTSM, 2005).
Segundo Steemburgo et al. (2007), um estudo comprovou que a dieta mediterrânea comparada à
dieta recomendada pela American Heart Association (gordura total < 30% do VET) reduziu o número
de componentes da SM ao final de dois anos. Outro estudo demonstrou que a dieta DASH, quando
comparada a uma dieta controle e a uma dieta hipocalórica para perda de peso, foi mais efetiva na
melhora de todos os componentes da SM. A alteração na fonte de carboidratos, independentemente do
teor de fibras, foi capaz de alterar a resposta das células beta pancreáticas à glicose. A I-DBDTSM (2005)
recomenda para SM a dieta DASH associada a uma intervenção no estilo de vida, visto que é capaz de
aumentar a sensibilidade à insulina.
Lipídeos
Os lipídeos devem representar de 25% a 35% do VET da dieta, sendo que a qualidade lipídica
também deverá ser priorizada, visto que a ingestão lipídica é associada de forma inversa à
165
Unidade II
sensibilidade à insulina. Recomenda-se a seguinte distribuição: < 10% AGS; 15% AGMI; 5% a10%
AGPI; 1,1-1,6 g/dia de ácido linolênico e 0% AGT (FALUDI et al., 2017). Os AGT elevam o LDL-c,
os TG e diminuem o HDL-c, logo, o seu consumo está relacionado ao aumento do risco de DCV,
devendo ser totalmente excluídos da dieta.
Os AGPI ômega-3 são úteis no tratamento da hipertrigliceridemia grave em pessoas com DM2.
Nesse sentido, podem ser benéficos na síndrome metabólica. Recomenda-se o consumo semanal
de duas a três porções de peixe (I-DBDTSM, 2005). Deve-se atentar para a forma de preparo dos
alimentos, evitando ou, até mesmo, excluindo as preparações fritas.
Evidências científicas apontam que a substituição de AGS e AGT por AGPI é mais efetiva
na diminuição das concentrações séricas de colesterol e da morbimortalidade por DCV quando
comparada à redução do teor total de lipídeos da dieta. Deve-se estimular o consumo de óleos
vegetais (especialmente os de oliva e canola), de peixes e frutas oleaginosas, e a redução de
alimentos ricos em AGS e AGT (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004).
O nutricionista deverá orientar o paciente quanto à forma de preparo dos alimentos, evitando (ou
excluindo) as preparações fritas, dando preferência aos grelhados, assados, cozidos no vapor ou até
mesmo crus, além dos efeitos e das fontes de AGS, AGT, AGMI, AGPI e colesterol.
Proteínas
As proteínas devem integrar 15% do VET ou 0,8 g a 1 g/kg de peso atual. Deve-se estimular a
ingestão de proteínas de alto valor biológico, principalmente os peixes (CROSSETTI; KIRSTEN, 2007,
I-DBDTSM, 2005), evitando-se as preparações fritas.
Carvalho et al. (2018) mencionam que dietas normoproteicas a hiperproteicas favorecem a perda
de peso corpóreo por meio do aumento da saciedade através da liberação de GLP1 e PYY, além da
termogênese induzida pela dieta. Efeitos positivos adicionais das dietas contendo de 1 a 2 g/kg/dia de
166
NUTRIÇÃO CLÍNICA
proteínas incluem maior adesão à dieta, redução da massa gorda, dos níveis séricos de triglicerídeos, da
pressão arterial, da glicemia e redução da HbA1c.
Cruz et al. (2018) chamam a atenção para a presença de sarcopenia na SM, em que uma alimentação
saudável associada à prática regular de atividade física é imprescindível para aumentar a massa muscular,
diminuir a massa gorda e o risco de lesão em órgãos-alvos. Ferreira e Salomon (2018) atentam para os
cuidados na oferta de uma dieta normoproteica (0,8 g/kg/dia) na vigência de sarcopenia em obesos,
componente da SM, devido à perda progressiva de massa muscular. Daí, a necessidade de um aporte
proteico maior, principalmente de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR ou BCAA), no intuito de
evitar a degradação muscular e estimular a síntese proteica.
Fibras
Entende-se por fibras alimentares a parte não digerível do alimento de origem vegetal, a qual resiste
à digestão e absorção intestinal, sofrendo fermentação completa ou parcial no intestino grosso. As fibras
incluem os polissacarídeos, oligossacarídeos, a lignina, bem como substâncias inerentes às plantas, sendo
classificadas em solúveis e insolúveis (PAPATHANASOPOULOS; CAMILLERI, 2010, SOUZA; COUZZI, 2009).
As fibras solúveis se diluem em água formando géis viscosos, não são digeridas no intestino delgado
e são facilmente fermentadas pela microbiota do intestino grosso, são elas: pectinas, gomas, inulina,
mucilagens e polissacarídeos de armazenamento. Já as fibras insolúveis não são solúveis em água,
portanto, não formam géis, e sua fermentação é limitada, são elas: a celulose, a lignina e algumas
hemiceluloses. A maioria dos alimentos que possui fibras é constituída por um terço de fibras solúveis e
dois terços de fibras insolúveis (PAPATHANASOPOULOS; CAMILLERI, 2010, DAI; CHAU, 2007).
As fibras podem ser obtidas através da ingestão de alimentos-fonte ou por meio de suplementos
nutricionais, apresentam diversas funções orgânicas importantes (BERNAUD; RODRIGUES, 2013).
As fibras insolúveis, por sua vez, também promovem o aumento da saciedade, o que auxilia na
redução da ingestão energética (SOUZA; COUZZI, 2009). Efeitos importantes também são observados
por meio do aumento da ingestão tanto de fibras solúveis quanto insolúveis no controle e na prevenção
da HAS cujos prováveis mecanismos incluem a melhora da hiperinsulinemia e da RI, e a redução do peso
corpóreo (PAPATHANASOPOULOS; CAMILLERI, 2010). Logo, a ingestão de quantidades adequadas de
fibras auxilia na terapêutica da SM.
efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou benéficos à saúde. Atuam por meio do equilíbrio da microbiota
intestinal devido aos seus efeitos bifidogênicos e possuem evidências de atuarem beneficamente nos
componentes da SM, em determinados tipos de câncer, na osteoporose, entre outras enfermidades.
Entre as principais fontes, destacam-se banana, alho, cebola, trigo, tomate, alho-poró, mel, alface,
beterraba, maçã, centeio, cevada, aspargos, alcachofra, chicória, bardana, triticale, batata yacon e aveia.
Recomenda-se a ingestão de 3 g/dia para promover o equilíbrio da microbiota intestinal e uma dose
mínima de 2,75 a 4 g/dia para efeito bifidogênico (FORTES; MUNIZ, 2009).
Em nutrição enteral, a inulina e os FOS podem estar presentes em várias formulações, tanto
isoladamente quanto integrando o mix de fibras, como exemplos: NeoFiber® (Nuteral), Nutrison Multi
Fiber® (Support), Peptamen Prebio® (Nestlé) e Nutri Fiber® (Nutrimed Industrial Ltda), entre outros.
Sugere-se, em nutrição enteral, de 5 a 10 g/dia de FOS para manutenção da microbiota normal e de
12,5 a 20 g/dia para efeito bifidogênico. O consumo igual ou superior a 30 g/dia deve ser evitado devido
aos efeitos adversos, tais como: pressão e ruídos intestinais elevados, diarreia e flatulência excessiva
(FORTES; MUNIZ, 2009).
As principais fontes de fibras insolúveis são vegetais e farelos (celulose), aveia, cevada, vagem,
abobrinha, maçã com casca, abacaxi, grãos integrais e oleaginosas (hemicelulose), e camada externa de
grãos de cereais e aipo (lignina). E, de fibras solúveis: extratos de sementes – alfarroba, semente de locusta;
exsudatos de plantas, algas, psyllium (gomas e mucilagens), frutas, hortaliças, batatas, açúcar de beterraba
(pectina), chicória, cebola, batata yacon, alho, banana, tupinambo (inulina e frutooligossacarídeos),
leguminosas, sementes, batata crua e cozida, banana-verde, grãos integrais, polidextrose (amido
resistente e maltodextrina resistentes) (BERNAUD; RODRIGUES, 2013).
Vitaminas e minerais
Para a dieta atingir as quantidades de vitaminas e sais minerais, o plano alimentar deve prover a
recomendação para o consumo diário de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica
em vitamina C (frutas cítricas) e de três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. Deve-se estimular
o consumo frequente de alimentos integrais (CROSSETTI; KIRSTEN, 2007, I-DBDTSM, 2005).
A vitamina C (ou ácido ascórbico) é o micronutriente mais associado às frutas e hortaliças. Ela possui
várias funções biológicas como produção de colágeno, auxílio na absorção de ferro inorgânico (ferro
não heme) e melhora do sistema imunitário. Alguns estudos associam a vitamina C à redução do risco
de aterosclerose e DCV devido à sua ação antioxidante (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004). Entretanto, mais
estudos são necessários.
168
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A vitamina E (alfa-tocoferol), presente nas oleaginosas, nos cereais integrais, nos óleos vegetais e
em algumas sementes, representa o melhor antioxidante lipofílico biológico na defesa contra efeitos
nocivos dos radicais livres. Estudos mostram que uma alta ingestão ou níveis plasmáticos elevados
de vitamina E estão associados à diminuição dos riscos de DCV por prevenir o desenvolvimento da
aterosclerose. A vitamina E encontra-se na estrutura da LDL-c e, de acordo com a hipótese oxidativa
da aterosclerose, um dos mecanismos pelos quais a vitamina E interfere na aterogênese é por meio da
inibição da oxidação da LDL-c. Porém, os estudos ainda são inconsistentes quanto ao papel da vitamina
E nas DCV (MARTINS et al., 2004).
Outros minerais como cálcio (leite e derivados, soja, tofu, sementes, hortaliças verde escuras),
potássio (banana, batata-doce, beterraba, água de coco) e magnésio (sementes, oleaginosas, frutas e
legumes) parecem reduzir o risco de HAS, DM2 e doença arterial coronariana, no entanto, ensaios clínicos
controlados e randomizados são necessários para comprovar os reais efeitos desses micronutrientes, os
mecanismos de ação e as doses recomendadas.
Sódio
O consumo de sal de cozinha deve ser limitado a 6 g/dia, sendo de 3 a 6 g/dia. A OMS recomenda
5 g/dia. Os alimentos processados como embutidos, conservas, enlatados e defumados devem ser
evitados. Temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são recomendados em substituição
aos industrializados (CROSSETTI; KIRSTEN, 2007, I-DBDTSM, 2005).
Bebidas alcoólicas
Está bem elucidado na literatura que o aumento de gordura corpórea e visceral está relacionado
ao consumo frequente e moderado de bebidas alcóolicas, assim como pode resultar em ganho
ponderal em diferentes proporções. Isso porque o consumo moderado de álcool favorece um aumento
no armazenamento de gordura, o que resulta em ganho de peso, principalmente se os indivíduos
já possuírem sobrepeso ou obesidade. A intensidade desses efeitos está diretamente relacionada à
quantidade e frequência da ingestão alcoólica (VALÉRIO et al., 2016).
169
Unidade II
A bebida alcoólica promove descontrole metabólico, pois afeta os níveis glicêmicos por interferir
na ação da insulina, dos secretagogos de insulina e do glucagon, levando ao risco de hipoglicemia
e perda da consciência (SBD, 2019). Em quantidades iguais ou superiores a 30 g/dia, pode alterar o
equilíbrio da homeostase energética, independentemente do tipo de bebida consumida, o que provoca
um aumento do apetite e, em consequência, o ganho de peso corpóreo, podendo culminar com a
obesidade (VALÉRIO et al., 2016).
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2019) recomenda que a ingestão diária de álcool seja
equivalente a, no máximo, uma dose (15 g) para mulheres e duas doses (30 g) para homens. Uma dose
(15 g em média de etanol) equivale a 150 mL de vinho (uma taça) ou 360 mL de cerveja (uma lata
pequena) ou 45 mL de destilados (uma dose com dosador-padrão).
A inatividade física e o baixo nível de condicionamento físico são importantes fatores de risco para
óbito prematuro, da mesma forma que o tabagismo, a dislipidemia e a HAS. Pesquisas epidemiológicas
têm comprovado forte relação entre a inatividade física e a presença de fatores de risco cardiovascular,
como DM, HAS, RI, dislipidemia e obesidade. Em contrapartida, a prática regular de AF auxilia na
prevenção e no tratamento de DCV, entre outras enfermidades (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004).
Ebrahimof e Mirmiran (2013) mencionam que, ao relacionar os exercícios físicos com a SM, observam‑se
efeitos positivos por meio da perda de peso e redução da gordura abdominal. Entretanto, observou-se que
tanto os exercícios aeróbicos quanto os exercícios de resistência auxiliaram no tratamento da SM, o
que torna a atuação do professor de educação física fundamental.
170
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Exemplo de aplicação
T. L. A., 49 anos, sexo feminino, secretária, procurou o serviço de nutrição para tratar a descompensação
de diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Refere cefaleia esporádica e turvação visual. Informa que não consegue
perder peso, apesar de ter feito várias tentativas prévias, mesmo em uso de metformina e sulfonilureias,
conforme prescrito pelo médico. Relata que o seu pai é diabético, e a sua mãe, cardiopata; ambos
obesos. Refere ser tabagista (1 maço de cigarro por dia) e etilista aos finais de semana. A anamnese
alimentar revelou alto consumo de alimentos industrializados, de alta densidade energética e pobre em
fibras alimentares. Possui constipação crônica, baixa ingestão hídrica e não pratica atividade física há
mais de dois anos. Os dados obtidos durante a consulta revelaram:
Tabela 14
Resolução
T. L. A. possui diagnóstico de obesidade tanto pelo IMC (38,28 kg/m2), obesidade grau II, quanto pela
circunferência abdominal (105 cm), obesidade central. Além disso, possui componentes que a classificam
171
Unidade II
com síndrome metabólica, a saber: obesidade abdominal ≥ 80 cm; triglicérides ≥150 mg/dL; HDL-c < 50 cm
e glicemia de jejum ≥ 100 mmHg, além de hipertensão arterial sistêmica segundo IDF (2015).
Resposta: os fatores de risco apresentados por T. L. A. para DCV são hipertensão arterial sistêmica,
DM2, obesidade grau II, obesidade visceral, dislipidemia mista, hábitos alimentares inadequados em
termos qualitativos e quantitativos, antecedentes familiares, etilismo, tabagismo e sedentarismo.
Resposta: pelos índices de Castelli I (CT/HDL-c), tem-se 6,09 (195/32) e Castelli II (LDL/HDL-c),
obtém-se 5,09 (163/32). A razão TG/HDL-c equivale a 4,84 (155/32). T. L. A possui risco para as doenças
cardiovasculares, pois as referências desses marcadores para o sexo feminino são: Índice de Castelli I:
≥ 4,4. Índice de Castelli II: ≥ 2,9. Razão TG/HDL-c > 3,8.
Resposta: T. L. A. deverá seguir uma dieta hipocalórica (20 a 25 kcal/kg/dia); normoglicídica (50% a 60%
do VET), priorizando os carboidratos complexos e de baixo índice glicêmico; normoproteica (0,8 a 1,0 g/kg/dia);
normolipídica (30% do VET), com atenção especial na qualidade dos ácidos graxos (AGS < 10%; AGPI
até 10%; AGMI até 20%, AGT 0%), incluindo ômega 3; hipossódica; com 25 g/dia de fibras alimentares,
com ênfase nas solúveis; rica em alimentos laxantes e adequado aporte hídrico. As vitaminas e os sais
minerais deverão seguir as recomendações nutricionais e os exames laboratoriais deverão ser analisados
para averiguar a necessidade de suplementação. As características da dieta DASH auxiliarão no quadro
clínico da paciente devido aos seus resultados benéficos nas doenças cardiovasculares.
O diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico que se caracteriza por uma hiperglicemia
crônica capaz de culminar com diversas complicações fisiológicas e, em consequência, elevar o risco
de desordens incapacitantes. Entre as diversas consequências de descompensação do DM, destacam-se
as agudas, que incluem cetoacidose diabética, coma diabético, infecções, perda da consciência, entre
outros; e as crônicas microvasculares (nefropatia, retinopatia e neuropatia diabética) e macrovasculares
(encefalopatia diabética, doença arterial coronariana, doença arterial periférica e pé diabético) (IDF, 2015).
172
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A ausência de diagnóstico nos anos iniciais ao desenvolvimento do DM, devido aos indivíduos se
apresentarem oligossintomáticos ou assintomáticos, é bastante evidente. Logo, a falta de intervenção
adequada constitui um dos fatores que favorece a maior prevalência do DM e de suas comorbidades
incapacitantes (IDF, 2015), destacando-se o imprescindível papel da dieta. Torna-se, nesse sentido, crucial
a atuação do profissional nutricionista no aconselhamento, na prescrição dietoterápica, no seguimento
clínico e na monitorização constante de indivíduos diabéticos.
O DM é uma doença metabólica caracterizada pelo aumento dos níveis de glicemia plasmática
em detrimento da ausência, deficiência e/ou resistência à ação da insulina – hormônio anabólico
envolvido no metabolismo dos macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos) (BORGES; CORREIA;
ALVAREZ‑LEITE, 2011). Ele pode ser classificado em três tipos: DM tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2) e DM
gestacional (DMG) (IDF, 2015). Além desses, existem ainda duas categorias: pré-diabetes (glicemia de jejum
alterada) e tolerância diminuída à glicose, ambas constituem fatores de risco para o desenvolvimento de
DM e doenças cardiovasculares – DCV (SBD, 2015).
O DM1 é responsável por 5% a 10% dos casos (MUNIZ; REIS, 2013). Ele constitui uma doença
autoimune caracterizada por uma desordem que culmina com a destruição das células beta-pancreáticas,
responsáveis pela síntese do hormônio insulina. Nessa situação, a hiperglicemia ocorre devido ao déficit
na secreção de insulina, progredindo para a ausência absoluta desse hormônio. Devido à ausência de
insulina, o organismo se torna incapaz de utilizar a glicose como fonte energética preferencial, o que
culmina com catabolismo orgânico acentuado, com hidrólise de proteínas e de lipídeos para utilização
como fonte energética. Em consequência, observa-se perda de peso corpóreo, comprometimento do
estado nutricional, o que pode culminar com desnutrição, hiperglicemia grave, cetose e, até mesmo,
coma (BORGES; CORREIA; ALVAREZ-LEITE, 2011). As principais manifestações clínicas do DM1 incluem
polidipsia, poliúria, perda ponderal involuntária (não explicada), hiperfagia e visão turva, podendo haver
cetoacidose e coma nas fases mais graves.
O DM2 é considerado o mais frequente problema de saúde pública entre os tipos de DM, sendo
responsável por 90% a 95% dos casos da doença. No DM2, a hiperglicemia ocorre devido à resistência
à ação da insulina e por deficiência na secreção desse hormônio (BORGES; CORREIA; ALVAREZ-LEITE,
2011). Na vigência de resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, estabelece-se um estado
de hiperinsulinismo, aumento do glucagon com estímulo à proteólise e à lipólise e, em consequência,
hiperglicemia. Contudo a cetose raramente ocorre, e o estado nutricional encontra-se na faixa de
eutrofia ou de sobrepeso/obesidade (BORGES; CORREIA; ALVAREZ-LEITE, 2011).
173
Unidade II
No DM2, os sintomas nem sempre são evidentes ou, até mesmo, podem estar ausentes, principalmente
nos idosos, uma vez que nessa fase de vida, sintomas como mialgia, fadiga, adinamia, estado confusional,
incontinência urinária e turvação visual são bastante comuns, podendo ser confundidos com sintomas
de outras enfermidades comuns nessa faixa etária. A complicação aguda mais prevalente no DM2 é o
coma hiperosmolar não cetótico, sendo que as infecções bacterianas e fúngicas podem representar
o primeiro sinal de descompensação glicêmica em todas as faixas etárias e nos diversos tipos de DM.
O DMG associa-se tanto à resistência insulínica quanto à redução da função das células
beta pancreáticas de maneira similar ao DM2. Ele representa cerca de 90% de todas as formas de
manifestação da doença na gestação e acomete entre 1% e 14% dos casos (MUNIZ; REIS, 2013).
É caracterizado por níveis de insulina insuficientes para atender às demandas na gestação, sendo definido
pelo DM diagnosticado no segundo ou terceiro trimestres gestacionais (ADA, 2014), com agravamento
da intolerância à glicose no terceiro trimestre de gestação (MUNIZ; REIS, 2013). A ocorrência anual de
DM1 na população de gestantes é de 0,1%, de DM2, de 2% a 3%, e de DMG, de até 12%, a depender do
critério usado para o diagnóstico e da população analisada.
O DM pré-gestacional tipo 1 ou 2 é mais grave, visto que seu efeito começa na fertilização e
implantação, o que afeta a organogênese, com elevado risco de aborto precoce, defeitos congênitos
graves e retardo no crescimento fetal. Além disso, as manifestações maternas são evidentes na vigência
de complicações como retinopatia e nefropatia. No DMG, há maior risco de seus conceptos evoluírem
com macrossomia e/ou hipoglicemia neonatal. Pode também ocorrer intolerância à glicose de grau
variado cujo diagnóstico pela primeira vez acontece ao longo da gestação, podendo ou não persistir
após o parto.
Cabe ressaltar que o DM1 é mais prevalente na infância e na adolescência. Ele também pode ser
diagnosticado em adultos devido ao desenvolvimento de uma forma lentamente progressiva dessa
doença, denominada diabetes latente autoimune do adulto (em inglês, LADA). O DM2, por sua vez,
possui etiologia complexa e multifatorial, que envolve fatores genéticos e ambientais. Essa doença
acomete indivíduos a partir dos 40 anos de idade, porém pode acometer crianças e jovens. O DMG
geralmente ocorre na segunda metade da gravidez e acomete principalmente o ritmo de crescimento e
desenvolvimento do feto.
Os sintomas clássicos do DM são poliúria, polidipsia, polifagia e perda involuntária de peso (os “4 Ps”).
Alterações respiratórias como a hiperventilação, centrais (polidipsia, polifagia e letargia – incapacidade
de reagir e de expressar as emoções); sistêmicas (perda de peso), visuais (visão turva), urinárias (poliúria
174
NUTRIÇÃO CLÍNICA
e glicosúria) com hálito com odor cetônico, gástricas (náuseas, vômitos e dor abdominal) também são
bastante comuns (figura a seguir).
Visual:
visão turva
Central:
Respiratório: polidipsia
hiperventilação polifagia
letargia
Sinais e
sintomas
Sistêmico: do DM Hálito:
perda ponderal odor cetótico
Gástrico:
Urinário: náuseas,
poliúria vômitos, dor
glicosúria abdominal
A equipe multiprofissional que assiste o paciente diabético deverá ficar atenta a alguns fatores
comumente presentes, como episódios recorrentes de cetoacidose diabética e/ou hiperglicemia e/ou
hipoglicemias; HbA1c sempre elevada, idas constantes ao banheiro, principalmente após as refeições;
episódios constantes de infecções; flutuações ponderais sem explicações clínicas; presença de
comorbidades psiquiátricas, como depressão, ansiedade e personalidade borderline; entre outros.
O DM2 pode ocorrer em detrimento de modificações no estilo de vida, incluindo uma alimentação
de alta densidade energética e baixa (ou nenhuma) prática de atividade física. Esses fatores associados
ao sobrepeso e à obesidade parecem exercer papel preponderante no aparecimento dessa doença, além
de a suscetibilidade genética (SBD, 2015).
175
Unidade II
Já os principais fatores de risco para o desenvolvimento de DMG são idade superior a 25 anos,
obesidade ou ganho excessivo de peso corpóreo na gestação atual, deposição central excessiva de
gordura corpórea (obesidade visceral), história familiar de DM em parentes de primeiro grau, baixa
estatura (inferior a 150 centímetros), pernas curtas, grávidas que nasceram com baixo peso, crescimento
fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão arterial sistêmica ou pré-eclâmpsia na gestação atual,
antecedentes de abortos de repetição, de malformações congênitas fetais, de morte fetal ou neonatal,
de macrossomia ou de DMG.
Estudo conduzido por Santos et al. (2020) constatou que gestantes com três ou mais gestações
possuíam chance duas vezes maior para a ocorrência de DMG em comparação às primigestas; com idade
igual ou superior a 35 anos chance três vezes maior do que as mais jovens; gestantes com sobrepeso
possuíam chance 84% maior que as gestantes eutróficas. Após análise de regressão multivariada, os
fatores preditivos para DMG foram a idade materna e o sobrepeso no período pré-gestacional.
(IAM e AVC), doença arterial periférica (lesões de difícil cicatrização, infecções e parestesia – sensação
de dormência ou formigamento), além de disfunção sexual e incontinência urinária. Todas essas
complicações reduzem a qualidade de vida e aumentam o risco de mortalidade (figura a seguir), sendo
a DCV uma das principais causas de óbitos em pacientes com DM2. A retinopatia e a nefropatia são as
principais responsáveis pelo ingresso a programas de diálise e transplante e o pé diabético representa
importante causa de amputações de membros inferiores. Alterações no padrão metabólico também
são comuns em gestantes hiperglicêmicas ou portadoras de intolerância à glicose, destacando-se
incremento nos níveis de triglicérides, baixos níveis de HDL-c e valores elevados de IMC em comparação
a mulheres normoglicêmicas (MUNIZ; REIS, 2013).
Complicações do
diabetes mellitus
Insulinoterapia Alimentação
Controle da glicemia
177
Unidade II
Glicose em jejum
(mg/dL) < 100 ≥ 100 a <126* ≥ 126
Glicose 2h após
sobrecarga com
75 g de glicose < 140 ≥ 140 a < 200** ≥ 200
(mg/dL)
Positividade de qualquer
um dos parâmetros
confirma o diagnóstico
Organização Mundial de de diabetes. O método
Positividade de qualquer um
Observações Saúde utiliza valor de de HbA1c deve ser
dos parâmetros confirma o
corte de 110 mg/dL para o padronizado. Na
diagnóstico de pré-diabetes
normoglicemia em jejum ausência de sintomas de
hiperglicemia, é necessário
confirmar o diagnóstico
pela repetição de testes
HbA1c: hemoglobina glicada. *Categoria também conhecida como glicemia de jejum alterada. **Categoria
também conhecida como intolerância oral à glicose.
178
NUTRIÇÃO CLÍNICA
1 hora pós-prandial (mg/dL) < 140 < 140 < 140 < 140 < 140
2 horas pós-prandial (mg/dL) < 120 < 120 < 120 120-127 < 115
ACOG: Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas (American Congress of Obstetricians
and Gynecologists); ADA: Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association); CDA:
Associação Canadense de Diabetes (Canadian Diabetes Association); IDF: Federação Internacional de
Diabetes (International Diabetes Federation); NICE: Instituto Nacional de Excelência Clínica e de Saúde
(National Institute for Health and Care Excellence).
Em relação às metas de controle glicêmico por tipo de paciente, considera-se uma glicemia entre
100 e 180 mg/dL para pacientes hospitalizados e próxima de 110 mg/dL para pacientes graves e críticos
(BORGES; CORREIA; ALVAREZ-LEITE, 2011), sendo que o cuidado com a síndrome da realimentação deverá
estar presente, visto que na vigência dessa síndrome, o descontrole glicêmico ocorrerá ou se agravará.
Antidiabéticos orais
• Sensibilizadores da ação insulínica: possuem ação periférica, com melhora da ação insulínica e
da captação celular de glicose (tiazolidinodionas).
179
Unidade II
Segundo a SBD (2019), os medicamentos que exercem efeito incretínico mediado pelos hormônios
GLP-1 (peptídio semelhante a glucagon 1, glucagon-like peptide-1) e GIP (peptídio inibidor gástrico,
gastric inhibitory polypeptide) são considerados peptídios insulinotrópicos dependentes de glicose. Eles
possuem a capacidade de elevar a secreção insulínica somente mediante o aumento glicêmico e também
regulam o aumento inadequado do glucagon pós-prandial comumente presente nos diabéticos. A SBD
classifica os antidiabéticos em quatro categorias:
Os medicamentos indicados para pacientes com DM agem por meio de distintos mecanismos.
A acarbose, por exemplo, é um medicamento que retarda a absorção dos carboidratos, promovendo
a redução da hiperglicemia. As sulfonilureias, glinidas e agonistas de GLP-1 promovem a liberação
de insulina a partir das células beta do pâncreas e reduzem, consequentemente, a hiperglicemia.
A metformina é um antidiabético oral que age na redução hepática da produção de glicose e no
aumento da sensibilidade dos tecidos à insulina como o tecido muscular, promovendo o controle da
hiperglicemia. Esses medicamentos podem ser indicados em conjunto ou individualmente a depender
da avaliação médica.
180
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Gliptinas
(sitagliptina, Nova classe de antidiabéticos Restringir alimentos flatulentos (na
Efeitos raros
vildagliptina, orais cuja ação é a estabilização vigência de flatulência, dor e distensão
(nasofaringite,
do GLP-1 endógeno pela inibição abdominal e refluxo gastroesofágico),
saxagliptina, da enzima que o degrada, a DPP- cefaleia, edema,
irritantes gástricos (na vigência de
Agentes que linagliptina náusea e diarreia)
4. Reduz HbA1c em 0,6 a 0,8% gastrite e refluxo gastroesofágico),
aumentam alogliptina) estimulantes (cefaleia e refluxo),
a secreção gasosos (flatulência, eructação, refluxo,
de insulina Náusea, vômito, dor e distensão abdominal); ajustar
dependente diarreia, aporte hídrico (na vigência de diarreia,
de glicose e Agentes incretínicos em que constipação, boca constipação e edema); evitar líquidos
Exenatida, Exenatida é um mimético do seca, disgeusia, e sólidos simultaneamente; chupar
que diminuem liraglutida, GLP-1 e as quatro últimas são dispepsia, gastrite,
a secreção de gelo 30 minutos antes das refeições
lixisenatida, análogas do GLP-1. Promovem doença do refluxo (na vigência de náusea); avaliar níveis
glucagon dulaglutida; perda de peso associada a melhor gastroesofágico, glicêmicos (mapa em conjunto com
semaglutida controle glicêmico. Possível dor abdominal, registro alimentar); adequar a dieta
redução de risco cardiovascular flatulência, ao estado nutricional; reforçar as
eructação, distensão orientações nutricionais
abdominal
181
Unidade II
Lembrete
Insulinoterapia
A insulinoterapia indicada para DM1 e, em algumas situações, para DM2, apresenta efeitos
benéficos quando aliada à dietoterapia. Evidências apontam que esse tratamento é capaz de reduzir o
risco de retinopatia, bem como a sua progressão, o aparecimento e a progressão de microalbuminúria e
a redução da neuropatia. O esquema insulínico e as metas glicêmicas devem ser individualizados,
a depender de alguns fatores, como idade, nível socioeconômico e intelectual, hábitos e estilo de
vida, prática de atividade física, presença de comorbidades e história de hipoglicemias. Ele se divide
em tratamento insulínico convencional (uma a duas aplicações ao dia da insulina NPH associada
ou não à insulina regular ou ultrarrápida) ou intensivo (determina a insulinização por meio de basal-bolos
com múltiplas doses de insulina ao dia, de diferentes tempos de ação ou com sistema de infusão
contínua de insulina – bomba de insulina) (SBD, 2019).
Da mesma forma que os antidiabéticos orais, o esquema de insulina será realizado pelo médico,
cabendo ao nutricionista considerar o plano alimentar de acordo com as características de cada esquema.
Existem vários tipos de insulina disponíveis para o tratamento de DM, elas se diferenciam pelo tempo
que levam para começar a agir (início da ação), de acordo com a situação do dia em que elas são mais
eficientes (pico de ação) e pelo tempo em que ficam ativas no corpo (duração do efeito terapêutico). A
insulina humana (NPH e regular) utilizada no tratamento de DM atualmente é desenvolvida a partir de
DNA recombinante, sendo que a “regular” é idêntica à humana na sua estrutura. Já a NPH é associada
a duas substâncias (protamina e zinco) que promovem um efeito mais prolongado. As insulinas mais
modernas, chamadas de análogas (ou análogos de insulina), são produzidas a partir da insulina humana
e modificadas de modo a terem ação mais curta (Lispro – Humalog®, Aspart – NovoRapid® ou Glulisina
– Apidra®) ou ação mais prolongada (Glargina – Lantus®, Detemir – Levemir® e Degludeca – Tresiba®).
A insulina de longa duração, por exemplo, Glargina da Lantus®, possui um início de ação de 2 a 4 horas
após a administração e não apresenta pico de ação, tendo uma duração de 20 a 24 horas. Já a NPH possui
uma ação intermediária, tendo início de ação entre 2 e 4 horas após a administração, mas possui pico
de ação entre 4 e 10 horas e efeito terapêutico de 10 a 18 horas. A lispro da Humalog® inicia sua ação
com 5 a 15 minutos, possui pico de 0,5 a 2 horas e duração terapêutica de 3 a 5 horas (tabela seguinte).
182
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A insulinoterapia oportuna ocorre quando o tratamento insulínico é instituído, assim que for constato
um acentuado descontrole glicêmico que exija uma intervenção terapêutica mais agressiva e intensiva.
Isso ocorre em DM2 descontrolados ou na vigência de ineficácia da terapia não farmacológica ou até
mesmo com uso de antidiabéticos orais ou, ainda, em situações como hiperglicemia grave associada a
cetonúria e cetonemia, entre outras condições clínicas.
A prática de atividade física (AF) consiste numa estratégia de intervenção não farmacológica para
o adequado controle do DM, assim como de suas complicações. Ela representa qualquer movimento
corpóreo produzido pela musculatura esquelética que culmina em gasto energético acima do nível
de repouso. Para os diabéticos, observam-se mudanças agudas e crônicas da ação da insulina sobre o
metabolismo dos carboidratos por meio da prática de AF. Outros efeitos incluem menor risco de DCV,
aumento da autoestima e independência e redução do índice de óbito precoce por todas as causas
(LIMA et al., 2019).
183
Unidade II
O efeito da prática de atividade física sobre a ação da insulina em resposta a uma única sessão
de AF moderada é máximo até 24 horas após a sua realização, sendo diminuído de forma progressiva
até o alcance dos níveis basais em 72 horas depois do término da sessão de AF. Recomenda-se, para
potencializar a ação celular da insulina, pelo menos 30 minutos de AF aeróbia de intensidade moderada
a vigorosa em cinco dias por semana (150 minutos por semana) distribuída ao longo de, no mínimo, três
dias durante a semana, evitando dois dias consecutivos. Em complementação às atividades aeróbias,
recomenda-se a prática de exercícios resistidos (musculação) com intensidade moderada a vigorosa, no
mínimo, duas vezes na semana em dias não consecutivos (LIMA et al., 2019).
Estudos apontam que a prática regular de atividade física é capaz de diminuir os níveis de lipoproteína
de baixa densidade (LDL-c) e triglicerídeos, aumentar os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL-c),
retardar a progressão da intolerância à glicose, incrementar os receptores de insulina, promover a
manutenção do peso corpóreo e auxiliar no controle da obesidade e dos níveis séricos de glicose em
pacientes com DM. O aumento da ação de insulina nos tecidos corpóreos, a elevação da captação
da glicose pelo músculo, a captação da glicose nos períodos pós-sessão de exercícios, a redução da
glicemia e o aumento da sensibilidade celular à insulina constituem outros benefícios da prática de AF
(BOTTCHER, 2019).
A SBD (2019) recomenda a prática semanal de atividade física aeróbica moderada (caminhar rápido)
por 150 minutos, distribuída em no mínimo três sessões entre 10 e 75 minutos. A OMS, por sua vez,
recomenda aos diabéticos, a realização de AF pelo menos 30 minutos, com intensidade no mínimo
moderada na maioria dos dias da semana.
Durante a gravidez, recomenda-se a prática de AF três vezes por semana por cerca de 40 minutos.
O pulso da gestante não deve ultrapassar 140 batimentos por minuto (bpm). Corridas e exercícios que
demandem torções, viradas, pulos, paradas repentinas e arrancadas (raquetes, vôlei e basquete) são
contraindicados, visto que podem forçar os músculos, as articulações e os ligamentos. Bicicleta, natação
e caminhadas podem ser praticadas no 1º e 2º trimestres da gestação, sempre controlando a pressão
arterial. No 3.º trimestre, deve-se evitar exercícios em que as pernas sejam mais solicitadas, uma vez que
o fluxo sanguíneo se encontra reduzido nos membros inferiores. Em todas as situações, é imprescindível
tanto no pré quanto no pós-exercício, a adequação do plano alimentar e o automonitoramento da
glicemia e da cetonúria, haja vista a possibilidade de hiperglicemia, hipoglicemia e cetonúria relacionadas
à prática de AF (MUNIZ; REIS, 2013).
seguida de forma adequada e consciente, com repercussões positivas sobre o estado de saúde geral e,
em consequência, melhora da qualidade de vida.
Alguns determinantes, como o sentimento de privação alimentar por parte do paciente diabético e
a dificuldade de modificação dos hábitos alimentares, devem ser considerados na análise de adesão ao
tratamento dietoterápico. O nutricionista não deve adotar uma conduta severa de restrição alimentar,
visto que essa postura desestimula o paciente e favorece a descrença de que a mudança dos hábitos
alimentares vai melhorar a qualidade de vida (PONTIERI; BACHION, 2010).
185
Unidade II
A educação em saúde constitui a base para a prevenção e para o tratamento das doenças. É
capaz de gerar e/ou ampliar conhecimentos por meio de experiências e apoiada nos processos de
ensino‑aprendizagem por descoberta. Ela propicia o autoconhecimento e a autorreflexão, fazendo com
que o indivíduo se conscientize das suas responsabilidades e de seus atos, conduzindo à mudança de
comportamento (HAACK; FORTES, 2017).
Logo, a EAN deve ser inserida no processo educativo, visto que a alimentação está relacionada
diretamente às questões psicossociais e culturais. O hábito alimentar saudável engloba diversas
características que perpassam os aspectos biopsicossociais, culturais, econômicos e estruturais (LUZ;
SALOMON; FORTES, 2018, HAACK; FORTES, 2017). Ela confere melhor qualidade de vida aos pacientes e
redução de custos institucionais (SBD, 2015).
Luz, Salomon e Fortes (2018) conduziram um ensaio clínico aberto para investigar os efeitos de uma
intervenção de EAN. Os recordatórios alimentares de 24 h e o índice de qualidade da dieta revisado
foram avaliados. Analisou-se o comportamento alimentar por meio dos quatro componentes do modelo
transteórico (estágios de mudança, estratégias de mudança, equilíbrio de decisões e autoeficácia). Após
a EAN, observou-se melhora significativa da qualidade da dieta e do comportamento alimentar para
o consumo de frutas, verduras e legumes, configurando-se como uma possibilidade efetiva de ação
educativa, principalmente porque a amostra foi composta apenas por idosos que possuem hábitos
alimentares muito arraigados.
A EAN para indivíduos diabéticos pode ser individualizada ou em grupo. Ela possibilita uma adesão
maior ao plano dietoterápico e sensibilização às necessidades nutricionais, facilita as escolhas conscientes
de alimentos saudáveis, propicia maior independência quanto às substituições alimentares, auxilia no
tratamento dos pacientes, favorece o controle metabólico adequado, reduz o risco de complicações
agudas e crônicas da doença. Porém, cabe ressaltar que a associação entre os grupos de educação
nutricional em DM e o atendimento individual pelo profissional nutricionista repercute positivamente
de forma mais precoce e sustentada no estado nutricional, no controle glicêmico e na prevenção de
complicações diversas, incluindo as micro e macrovasculares.
Como ferramenta de EAN para mulheres eutróficas com DMG, Demétrio (2010) apresentou
uma pirâmide alimentar dividida em quatro níveis. Os alimentos estão organizados em oito grupos
e porcionados conforme as necessidades energéticas específicas para o primeiro, segundo e terceiro
trimestres gestacionais (figura a seguir).
186
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Legumes e verduras
Cereais, raizes e tubérculos
1º TG 2º e 3º TG
5 porções 5 porções 1º TG 2º e 3º TG
5 porções 6½ porções
187
Unidade II
2013) por meio do alcance da normoglicemia, além de prevenir os riscos metabólicos e cardiovasculares
maternos e fetais em médio e longo prazos (REIS; SILVA; CALDERON, 2011).
Estudos apontam que um plano alimentar mediterrâneo e de baixo aporte energético beneficia
pacientes com níveis glicêmicos alterados. Além de essa dieta ser utilizada no tratamento do DM, ela
também atua na prevenção do DM2 (SBD, 2019, DOMÉNECH et al., 2014, DUSSAILLANT et al., 2016,
MARTINS; CORREIA; LEMOS, 2014, SOFI et al., 2008). Entre os seus principais efeitos, destacam-se a
redução da obesidade visceral, a diminuição da resistência à insulina e do processo inflamatório
(figura a seguir).
Deposição de TG RI
2. TG
VLDL
AGL – Ácidos Graxos Livres. TG – Triglicérides.
VLDL – Lipoproteína de Muito Baixa Densidade. Vinho
Azeite 3. HDL
HDL – Lipoproteína de Alta Densidade. RI – Resistência à Insulina.
A dieta mediterrânea caracteriza-se pela escolha equilibrada de alimentos ricos em fibras alimentares,
substâncias antioxidantes e ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) e poli-insaturados (AGPI), com
consequente redução do consumo de gordura animal (em especial, o colesterol) e com um equilíbrio
apropriado entre a ingestão calórica e o gasto energético. Observa-se uma abundância em alimentos
de origem vegetal, pouco refinados e sazonais (hortaliças, frutas, cereais, batatas, leguminosas, frutos
secos e sementes frescas), sendo o azeite de oliva o principal lipídeo de adição (MARTINS; CORREIA;
LEMOS, 2014).
188
NUTRIÇÃO CLÍNICA
As recomendações mais reconhecidas como adequadas na dieta mediterrânea são 55% a 60%
de carboidratos (80% complexos); 10% a 15% de proteína (60% de origem animal; particularmente
carne branca e peixe); 25% a 30% de lipídeos, dando preferência aos de origem vegetal. Além dessas
características, a dieta mediterrânea possui diversas substâncias bioativas, como o licopeno (tomate),
os compostos sulfurosos (alho e cebola), os indóis (couve e brócolis), os fitoquímicos (glucosinolatos,
ditioltionas e ubiquinona), os compostos polifenólicos (hidroxitirosol e ácido cafeico) e bioflavonoides
(quercetina, antocianinas, procianidinas e taninos), fornecidos pelo vinho ou pelo azeite, entre outros
produtos (MARTINS; CORREIA; LEMOS, 2014).
Saiba mais
Leia os artigos:
Nutriente Recomendação
VET De acordo com o estado nutricional
45% a 60% do VET; é possível usar padrões alimentares com
Carboidratos totais menor teor de carboidratos para DM2 de forma individualizada
e acompanhada por profissional especializado
Sacarose Até 10% do VET
189
Unidade II
Nutriente Recomendação
Frutose Não se recomenda adição nos alimentos
Fibra alimentar Mínimo 14g/1000kcal ou 20g/1.000 kcal para DM2
20% a 35% do VET; dar preferência para ácidos graxos
Gordura total monoinsaturados e poli-insaturados; limitar saturados em até
10% e isenta de trans
Colesterol* < 200 mg/dia
Proteína 15% a 20% do VET
Vitaminas e minerais Segue as recomendações dos não diabéticos
Sódio* Até 2 g
VET (valor energético total): considerar as necessidades individuais, utilizando parâmetros semelhantes
à população não diabética, em todas as faixas etárias.
Aporte energético
Tanto a obesidade quanto a desnutrição são agravos nutricionais desfavoráveis pelas diversas
complicações clínicas e pelo risco aumentado de morbimortalidade. Em pacientes com sobrepeso ou
obesidade, recomenda-se uma redução energética diária de 500 a 1000 kcal (redução semanal de
0,5 kg a 1,0 kg), visto que a diminuição moderada de peso corpóreo e a restrição energética melhoram a
sensibilidade à insulina (CARVALHO et al., 2018), promovem a normalização glicêmica e insulinêmica,
a redução da suscetibilidade à trombose venosa, dos marcadores inflamatórios e de risco cardiovasculares
(COPPINI et al., 2011). Para o cálculo da necessidade energética desses indivíduos, pode-se utilizar a
fórmula (ou regra) de bolso entre 20 e 25 kcal/kg de peso atual (SINGER et al., 2019, BORGES; CORREIA;
ALVAREZ-LEITE, 2011).
Para crianças e adolescentes, a dieta deve ser equilibrada e com restrição energética orientada no
intuito de que a perda de peso ocorra de forma gradual, verificando-se melhora por meio do indicador
de resistência à insulina – Homa IR, com repercussão positiva no percentual de gordura corpórea e no
escore-Z IMC (SBD, 2019).
190
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Nas gestantes com DM, a terapia nutricional deve permitir o ganho de peso adequado e a
normalização dos níveis glicêmicos, devendo fazer parte dessa terapêutica a prática de AF, respeitando
as indicações e contraindicações obstétricas. Para as gestantes obesas, uma leve restrição calórica é
necessária, com aporte energético diário equivalente a 25 kcal/kg de peso atual. Gestantes eutróficas
devem ser orientadas a ingerir em torno de 30 kcal/kg/dia, e aquelas com baixo peso 35 kcal/kg/dia.
Nos 2º e 3º trimestres de gestação, deve-se adicionar diariamente 300 kcal. Recomenda-se a seguinte
distribuição do VET: 15% no desjejum, 10% na colação, 30% no almoço, 10% no lanche da tarde, 25%
no jantar e 10% na ceia (MUNIZ; REIS, 2013). A SBD (2019) enfatiza que o cálculo do aporte energético
de mulheres com DMG deve respeitar o IMC pré-gestacional ou aquele obtido no início do pré-natal.
De acordo com as recomendações do IOM (2009), para as mulheres eutróficas (IMC pré-gestacional
entre 18,5 e 24,9 kg/m2), preconizam-se as orientações nutricionais para ganho ponderal esperado ao
longo da gestação entre 11,5 kg e 16 kg. Para aquelas que iniciaram a gestação com excesso de peso
(IMC entre 25 e 29,9 kg/m2), o ganho ponderal na faixa de 7 kg a 11,5 kg deve ser considerado. E para as
gestantes com obesidade (IMC pré-gestacional ≥ 30 kg/m2), considera-se seguro o ganho de peso até o
final da gravidez entre 5 kg e 9 kg.
Para as gestantes que fazem uso de insulina à noite, o consumo da ceia tem grande relevância,
devendo conter 25 g de carboidratos complexos, além de proteínas ou lipídios, no intuito de evitar
hipoglicemia durante a madrugada. A dose inicial de insulina e sua relação com carboidrato deve ser
individualizada (SBD, 2017).
Embora haja fatores capazes de interferir na manutenção do estado nutricional de pessoas diabéticas
(aumento das necessidades nutricionais pelo estresse catabólico, utilização de fármacos que interferem
na glicemia e no controle glicêmico e supressão do apetite induzida pelo DM), a terapia nutricional
segue as mesmas indicações dos pacientes não diabéticos (BORGES; CORREIA; ALVAREZ-LEITE, 2011).
Destaca-se que, independentemente do tipo de DM, na dietoterapia instituída a esses indivíduos, o
VET nunca deve ser inferior a TMB. Muniz e Reis (2013) informam que dietas inferiores a 1.200 kcal/dia
(ou com restrição superior a 50% do metabolismo basal) não são recomendadas, uma vez que estão
relacionadas ao desenvolvimento de cetose.
Carboidratos
Recomenda-se, para indivíduos com DM, uma ingestão de carboidratos semelhante à definida para
a população geral, entre 45% e 60% do VET a depender dos objetivos e das metas individualizadas. Para
gestantes com DM, recomenda-se de 40% a 55% do VET proveniente de carboidratos (preferencialmente
carboidratos complexos e ricos em fibras alimentares, de baixo índice glicêmico) e o consumo mínimo diário
de 175 gramas (SBD, 2019). Os alimentos que contêm esses nutrientes constituem fontes importantes
de energia, fibras, vitaminas e sais minerais, além de melhorar a palatabilidade da dieta. A OMS não
recomenda concentrações diárias de carboidratos inferiores a 130 gramas, dada a contribuição desses
nutrientes para os diversos processos metabólicos e como substrato energético preferencial para o SNC.
proporção. Quando ingeridos na forma de açúcares ou amido, possuem respostas distintas daqueles
consumidos com fibras, compostos bioativos, vitaminas, sais minerais e baixo teor lipídico. E, de acordo
com a forma de consumo, a resposta glicêmica pode ser mais lenta e menos exacerbada (SBD, 2017).
Priorizam-se, nesse sentido, os carboidratos provenientes dos alimentos integrais, das frutas, dos
vegetais e dos produtos lácteos com menor teor lipídico. A sacarose não necessita ser restrita e pode ser
incluída no total de carboidratos da dieta, respeitando o contexto da alimentação saudável (PADILHA
et al., 2010). Sugere-se que a ingestão de carboidratos ocorra através do consumo de legumes, frutas,
grãos integrais com alto teor de fibras e carga glicêmica reduzida, sendo preferível a outras fontes,
particularmente aquelas que contêm açúcares adicionados.
Aliada à conduta nutricional para o controle glicêmico, existe a possibilidade de associar carboidratos
simples como a sacarose no plano alimentar dos diabéticos, visto que a sacarose não aumenta mais a
glicemia do que outros carboidratos, quando ingerida em quantidades equivalentes. Logo, ela pode ser
introduzida em substituição a outros alimentos da refeição em proporções equivalentes. Como limite
máximo seguro para o consumo de sacarose na alimentação de indivíduos com DM, considera-se até
10% do VET (SBD, 2017). A OMS e as novas diretrizes da American Heart Association recomendam o
consumo diário máximo de 5% da ingestão total de energia proveniente dos açúcares adicionados.
Evidências sugerem que o consumo de frutose é capaz de promover acúmulo de adiposidade visceral,
resistência à insulina e DM2 (AEBERLI et al., 2013, SARTORELLI et al., 2009, MONTONEM et al., 2007). Os
açúcares de adição que possuem efeitos deletérios (hiperglicemia, hiperinsulinemia, alta carga glicêmica,
resistência à insulina etc.) são aqueles contidos em refrigerantes, sucos artificiais, doces e outros alimentos
adicionados de xaropes, principalmente devido à alta concentração de frutose. Já a frutose presente
naturalmente nos alimentos, como em frutas, não deve ser excluída da alimentação; ao contrário, o
seu consumo deve ser incentivado dentro do contexto de uma alimentação adequada. Entretanto, mais
estudos são necessários para comprovar os reais efeitos da frutose no desenvolvimento de DM2.
Em relação à carga glicêmica (CG) e ao índice glicêmico (IG), há diversas limitações na prática clínica,
estudos conflitantes e opiniões divergentes entre os especialistas. Observa-se que tanto a qualidade
quanto a quantidade de carboidratos consumidos afetam a resposta glicêmica de diversas maneiras,
a depender da forma de preparo, das combinações alimentares, entre outros. Entretanto, reduções
de HbA1c de 0,2% a 0,5% têm sido demonstradas em algumas pesquisas após a inclusão de dietas
com baixo IG.
ocasionado por 50 gramas de um alimento referência (50 g pão branco) ou de 50 gramas de glicose.
Já a CG se refere à multiplicação do IG do alimento pelo total de carboidrato presente na porção do
alimento ingerido, dividido por 100. Logo, a CG permite a comparação das respostas glicêmicas de
porções ingeridas de distintos alimentos, sendo a aplicação da CG mais prática na escolha dos alimentos
e na prescrição dietoterápica (MOLZ et al., 2015).
Segundo Padilha et al. (2010), a quantidade de carboidrato por refeição é mais importante do que
a fonte ou o tipo deste. Dietas com baixo IG são capazes de reduzir a glicemia pós-prandial e o perfil
lipídico, entretanto a adesão a essas dietas em longo prazo não é bem esclarecida na literatura. O uso de
alimentos com baixo IG não encontra evidência suficiente como estratégia primária no plano alimentar
de indivíduos com DM.
Em uma metanálise de 18 estudos de coorte prospectiva, com uma amostra de 251.497 participantes,
conduzida por Shahdadian et al. (2019), não foi encontrada associação entre o IG ou a dieta, e a
mortalidade por todas as causas e DCV nos homens, entretanto uma associação positiva do IG com
a mortalidade por todas as causas em mulheres foi observada. A CG da dieta não foi associada à
mortalidade por todas as causas e nem à mortalidade por DCV. Segundo a SBD (2019), no intuito de
reduzir a resposta glicêmica da ingestão dietética, alimentos com alto IG podem ser substituídos por
alimentos de baixo IG, principalmente quando consumidos isoladamente.
Deve-se dar preferência ao consumo de alimentos de baixo IG no DMG porque tem-se associado à
redução da necessidade de indicação da insulina, assim como menor ganho de peso ao nascer. Outra
estratégia utilizada na gestação é a contagem de carboidratos por meio da lista de equivalentes ou da
contagem em gramas, conforme veremos adiante.
A relação de alimentos com baixo, moderado e elevado índice glicêmico encontra-se sumarizada no
quadro a seguir.
193
Unidade II
Define-se dieta reduzida em carboidrato como aquela que possui uma ingestão desse macronutriente
abaixo das diretrizes alimentares; ou seja, inferior a 45% do VET, podendo ser dividida em:
• Dieta baixa em carboidrato: inferior a 26% do consumo total de energia ou menor que 130 g/dia
de carboidrato.
Evidências científicas apontam que, entre as estratégias nutricionais para a diminuição de peso
corpóreo, a dieta com baixo teor em carboidratos se mostra eficaz, visto que pode promover uma
redução importante de gordura visceral, associada à diminuição da relação cintura/quadril, com
consequente redução do risco de DCV (ZINN; RUSH; JOHNSON, 2018, BONNIE et al., 2014). Entretanto,
existem hipóteses de que dietas com baixo teor em carboidratos são desprovidas de alguns nutrientes
importantes para as diversas reações metabólicas, podendo aumentar o risco de défictis nutricionais,
entre outros agravos à saúde (CHANG; BORER; LIN, 2017).
Nesse sentido, atenção especial deve ser dada ao uso da estratégia de dieta LC, visto que ela tem
atraído muitos seguidores nos últimos anos, com algumas evidências que a sugerem como dieta ideal
para o tratamento nutricional do DM. Além disso, a definição de uma dieta LC não é consistente.
Há estudos que a definem como uma dieta contendo menos que 45% de energia proveniente dos
carboidratos. Já a classificação aceita no Brasil é de 26% a 45%. Ressalta-se que existem controvérsias
em relação aos seus efeitos no organismo humano. Alguns estudos demonstraram melhora do controle
194
NUTRIÇÃO CLÍNICA
glicêmico e da sensibilidade à insulina, ao passo que outros não constataram diferença significativa no
controle glicêmico de indivíduos que receberam uma dieta LC em comparação com níveis mais elevados
de ingestão desse macronutriente. Dadas essas divergências, existe consenso que a monitoração da
quantidade de carboidratos das refeições deve ser considerada para melhorar os níveis glicêmicos
pós‑prandiais e que a adoção (ou não) de dietas restritas em carboidratos deve ser acompanhada por
um nutricionista que reforce ao paciente quais são as estratégias disponíveis e mais adequadas para
cada condição clínica (SBD, 2019).
O uso indiscriminado de edulcorantes deve ser analisado criteriosamente pelo nutricionista quanto
aos riscos e tipos para correta indicação. A ADA não recomenda o uso de frutose como edulcorante
devido ao aumento de triglicerídeos, culminando com a hipertrigliceridemia e suas consequências. O
sorbitol pode predispor à síntese de litíase renal. Ele aumenta a excreção de minerais, principalmente
cálcio, logo, o seu uso na gestação deve ser analisado com cautela devido à espoliação de cálcio e
vitamina D.
O ciclamato de sódio foi associado ao incremento do número de absorção fetal, redução do peso de
embriões e passagem para o embrião intraútero. Foi proibido pela Food and Drug Administration (FDA)
devido ao seu poder carcinogênico, além de efeitos testiculares e genéticos em animais de laboratório.
Esteviosídios são adoçantes naturais, não calóricos, porém, devido à falta de dados sobre a sua
segurança são proibidos pela FDA e ADA. Não existem evidências de que a molécula do aspartame seja
transplacentária, sugerindo a inexistência de risco ao feto. A sacarina pode ser utilizada pela população
geral e por gestantes, visto que foi excluída da lista de substâncias carcinogênicas. Já a sucralose é um
edulcorante artificial obtido a partir da sacarose e tem seu uso recomendado para a população geral e
para gestantes segundo a ADA (MUNIZ; REIS, 2013). Logo, os edulcorantes permitidos para utilização
pela população geral, incluindo as gestantes, são acessulfame K, aspartame, sacarina e sucralose.
O consumo de alimentos diet e adoçantes à base de frutose, sorbitol, stévia e ciclamato deve
ser evitado. O uso moderado de edulcorantes é recomentado, visto que não há estudos conclusivos
conduzidos em seres humanos sobre sua segurança no período gestacional (SBD, 2019, REIS; SILVA;
CALDERON, 2011).
Fibras alimentares
Fibra alimentar é definida como a parte indigerível de alimentos de origem vegetal, resistente à
digestão e absorção intestinal, sofrendo fermentação completa ou parcial no intestino grosso. São
classificadas em solúveis (pectinas, gomas, inulina, mucilagens e polissacarídeos) e insolúveis (celulose,
hemicelulose e lignina) (DAI; CHAU, 2017). Determinados tipos de fibras são capazes de diminuir a
glicemia pós-prandial e a resposta insulínica, impedindo ou retardando o desenvolvimento de DM
(DALL’ALBA; AZEVEDO, 2010).
Dietas ricas em fibras alimentares têm sido recomendadas pelas diversas diretrizes no intuito de
promover uma alimentação adequada capaz de reduzir as doenças crônicas não transmissíveis e suas
195
Unidade II
comorbidades. Entre elas, destacam-se dieta do mediterrâneo, dieta DASH (Dietary Approaches to Stop
Hypertension) e dieta vegetariana (ECKEL et al., 2014).
As fibras alimentares apresentam efeitos benéficos sobre homeostase dos níveis séricos de glicose,
perfil lipídico, saciedade, peso corpóreo e fatores de risco para DCV. As fibras solúveis, por exemplo,
atuam por meio do atraso do esvaziamento gástrico e do trânsito do intestino delgado, da diminuição
da difusão de glicose e da acessibilidade da α-amilase ao seu substrato, impedindo o aumento da
glicose pós-prandial e da insulina, com consequente redução da HbA1c. Já as fibras insolúveis são
capazes de auxiliar na redução do peso corpóreo e/ou da circunferência abdominal, visto que promovem
a saciedade por meio de suas propriedades físicas intrínsecas, além de modular a função motora gástrica
e alterar a secreção de hormônios peptídeos intestinais (DALL’ALBA; AZEVEDO, 2010).
O conteúdo de fibras alimentares pode alterar o IG dos alimentos, havendo uma correlação inversa
entre o conteúdo de fibras e o IG dos alimentos em indivíduos hígidos. Os efeitos da ingestão de
alimentos ricos em carboidratos sobre a resistência periférica à insulina e o risco de desenvolvimento
do DM podem ser dependentes não apenas do IG, mas também do tipo de fibra alimentar presente na
dieta (DALL’ALBA; AZEVEDO, 2010).
A recomendação de fibras para pacientes diabéticos não difere daquela definida para a população
geral. Recomenda-se o consumo diário de pelo menos 25 g de fibras totais ou 14 g a cada 1.000 calorias
ingeridas no intuito de auxiliar na prevenção do desenvolvimento de doenças crônicas como o DM, ou
25 g/dia para mulheres e 38 g/dia para homens (ECKEL et al., 2014). As associações canadense e britânica
sugerem a ingestão diária mínima de 20 g/1.000 kcal, ao passo que a Sociedade Brasileira de Cardiologia
recomenda a ingestão diária de, no mínimo, 25 g para o controle lipídico e a prevenção de DCV. Para
mulheres com DMG, recomenda-se o consumo diário de 28 g de fibras (SBD, 2019).
Os alimentos prebióticos também são classificados como fibras solúveis, entretanto, até o momento,
não existe uma recomendação específica. Acredita-se que o consumo diário de, no mínimo, 4 g de
frutooligossacarídeos (FOS) ou inulina já atuaria na melhora da microbiota intestinal (SBD, 2019). Eles
podem ser naturalmente obtidos em alimentos como chicória, cebola, alho, alcachofra, aspargo, cevada,
centeio, grãos de soja, grão-de-bico, tremoço, banana, trigo, tomate, alho-poró, mel, alface, beterraba,
maçã, bardana, triticale e batata yacon (FORTES; MUNIZ, 2009).
Para evitar e corrigir a constipação intestinal, comumente presente no DMG, o nutricionista deve
estimular a oferta de fibras alimentares associada à ingestão hídrica adequada, considerando-se também
a indicação de alimentos probióticos. Salienta-se que, além da normalização das condições fecais de
constipação, estudos indicam que a suplementação com probióticos em mulheres com DMG auxilia no
controle glicêmico, de triglicérides e nas concentrações de VLDL-c.
196
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Proteínas
A recomendação proteica para indivíduos com DM e função renal preservada não difere daquela
sugerida para a população geral; ou seja, 1 a 1,5 g/kg de peso corporal/dia, o que representa entre
15% e 20% do VET. Essa recomendação também deve ser individualizada, considerando-se os aspectos
inerentes aos pacientes, como diagnóstico, necessidades de crescimento/desenvolvimento e controle
glicêmico (SBD, 2019). Em gestantes com DM, recomenda-se também de 15% a 20% do VET, porém com
um adicional diário de 10 g ou 1,1 g/kg de peso pré-gestacional, com a ingestão total recomendada de
71 g/dia (REIS; SILVA; CALDERON, 2009).
As fontes de aminoácidos essenciais devem ser priorizadas, entre elas, as carnes magras, a soja, os
laticínios desnatados, os queijos e iogurtes de baixo teor lipídico. O consumo de leguminosas, cereais
integrais e frutas oleaginosas também deve ser estimulado. Em pacientes com DM2, observam-se que os
aminoácidos estimulam a secreção de insulina, sem elevar a glicemia pós-prandial. Já em DM1, o efeito
da proteína na glicemia ainda não está elucidado (SBD, 2015).
Lipídeos
A associação entre DM e DCV está bem estabelecida na literatura. Indivíduos com DM possuem
o dobro do risco de óbito por causa cardiovascular em comparação à população geral e, ao sofrerem
algum evento coronariano, possuem maior risco de óbito quando comparados com aqueles sem a
doença (SIQUEIRA; ALMEIDA-PITITTO; FERREIRA, 2007).
O padrão alimentar de diabéticos também constitui um importante fator de risco para DCV,
destacando-se uma dieta com predomínio de ácidos graxos saturados (AGS) e trans (AGT), assim como
carboidrato simples. O mecanismo de ação envolve o aumento de LDL-c, resistência à insulina, pressão
arterial, estresse oxidativo, inflamação e redução dos níveis de HDL-c. Observa-se, nesse sentido, um
aumento do desenvolvimento de placa aterosclerótica e, em consequência, um incremento do risco de
mortalidade precoce (SBD, 2015).
Recomenda-se uma ingestão de gorduras totais entre 20% e 35% do VET, com especial atenção
em relação à qualidade lipídica, porém, sempre considerando as condições clínicas, o perfil lipídico e a
presença de fatores de risco cardiometabólico. Para mulheres com DMG, recomenda-se de 30% a 40%
de gorduras totais (SBD, 2019), com menos de 7% do total de lipídeos na forma de AGS e uma ingestão
diária de colesterol inferior a 200 mg (REIS; SILVA; CALDERON, 2009).
197
Unidade II
Preconiza-se a exclusão de alimentos fontes de AGT, a inclusão de AGMI e AGPI, assim como o
controle no consumo de AGS, priorizando o consumo de carnes magras, leite desnatado e consumo
mínimo de carnes processadas. Um aporte inferior a 10% do total de calorias provenientes dos AGS
deve ser considerado, assim como se deve excluir o consumo de AGT. O colesterol deve integrar o plano
alimentar com menos de 200 mg/dia, e o nutricionista deverá incentivar a sua restrição, respeitando o
limite máximo preconizado (SBD, 2019).
Carnes gordas, manteiga, óleos de coco e dendê, leite integral, bacon, torresmo, linguiça,
salame, presunto, salsicha e mortadela são fontes de AGS. Já a gordura vegetal hidrogenada, as
frituras, as tortas industrializadas, os bolos, os fast-foods, a pipoca de micro-ondas, o sorvete de
massa, os biscoitos salgados, recheados e do tipo waffer são fontes de AGT. As fontes de colesterol
são semelhantes às dos AGS, podendo ser encontrado em grandes quantidades nos crustáceos
(SBD, 2015).
O consumo de ácidos graxos ômega 3 (Ω-3), proveniente de fontes como peixes (ou por meio de
suplementos alimentares), mostra diminuição nos marcadores de riscos cardiovasculares, visto que pode
reduzir a resistência à insulina. Logo, o consumo semanal de duas ou mais porções de peixes, excetuado
em preparações fritas, deve ser recomendado. Recomenda-se 500 mg/dia de Ω-3 (EPA e DHA) para
prevenção primária e de 1 g/dia para prevenção secundária, sendo que outras quantidades podem ser
indicadas pelo nutricionista e/ou médico se necessário (SBD, 2015).
O padrão dietético DASH foi desenvolvido originalmente para redução dos níveis pressóricos
e tratamento de indivíduos hipertensos, entretanto, também tem demonstrado efeitos favoráveis
tanto no controle de DM quanto de síndrome metabólica e diminuição de eventos cardiovasculares
(BARAK et al., 2015). Ele apresenta efeitos positivos que envolvem diminuição da resistência à
insulina, dos marcadores inflamatórios, de estresse oxidativo, melhora do controle glicêmico e do
perfil lipídico e prevenção de macrossomia fetal (ASEMI et al., 2013). Preconiza-se o consumo de
frutas, vegetais, produtos lácteos desnatados, cereais integrais, peixes, aves e nozes, com menor
ingestão de carne vermelha, doces e açúcares. O seu consumo promove o aumento de nutrientes
como potássio, magnésio e cálcio, assim como de fibras alimentares, que contribuem para a
diminuição dos níveis pressóricos, menor risco de DCV e síndrome metabólica (BRESSAN; VIDIGAL,
2014, PIPER et al., 2012).
A dieta DASH consiste em um plano alimentar de baixo custo, flexível, equilibrado e sem
efeitos colaterais (PIPER et al., 2012). Entre os prováveis mecanismos capazes de explicar os efeitos
observados, destacam-se os benefícios relacionados à composição dos alimentos preconizados por
essa dieta, o que resulta em uma alimentação de baixo IG, rica em fibras alimentares e antioxidantes,
como as vitaminas C e A, e com alta ingestão de nitrato inorgânico. Assim, os efeitos protetores
incluem a alteração da capacidade antioxidante, da resposta inflamatória, da função hepática, da
coagulação, da natriurese e da função endotelial (SIERVO et al., 2015; ASEMI et al., 2013).
198
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Observação
Vitaminas e minerais
Sódio
O consumo de sódio deve ser limitado a 2.000 mg/dia, equivalente a 5 g/dia de sal de cozinha.
Os indivíduos com DM devem evitar os produtos alimentícios ricos em cloreto de sódio (NaCl) e
em ingredientes fontes de sódio, como conservantes, corantes e acidulantes. Outros alimentos não
recomendados incluem embutidos, conservas, enlatados, defumados, salgados de pacote, macarrão
instantâneo, pipoca para micro-ondas, temperos em cubos ou sachê e molhos prontos.
As informações nutricionais nos rótulos dos produtos diet ou light também devem ser consultadas,
visto que podem conter teores elevados de sódio. Os indivíduos podem se beneficiar com a dieta DASH
por ela considerar a redução no consumo desse nutriente (SBD, 2015).
199
Unidade II
Saiba mais
Bebidas alcoólicas
A bebida alcoólica afeta a alimentação e os níveis glicêmicos, com consequente descontrole do DM.
Ela interfere na ação da insulina, dos secretagogos de insulina e do hormônio glucagon, fazendo com
que o risco de hipoglicemia aumente substancialmente. Outros efeitos incluem a redução dos níveis
glicêmicos e da consciência de hipoglicemia.
Recomenda-se que a ingestão diária de álcool para indivíduos com DM seja limitada a uma dose (ou
menos) para mulheres e a duas doses (ou menos) para homens. Além disso, a bebida alcóolica deve ser
ingerida com fonte de carboidrato durante (ou antes) o consumo, com ajuste da dose de insulina ou dos
seus secretagogos. Na vigência de AF, em período noturno, a glicemia deverá ser monitorada durante a
noite e no dia seguinte (SBD, 2019).
Observação
A contagem de carboidratos é uma estratégia nutricional utilizada para integrar o plano alimentar
do indivíduo diabético, sendo imprescindível para adesão terapêutica e melhora do controle metabólico.
Ela baseia-se na quantidade de carboidrato oferecida em cada refeição cuja principal vantagem é o
controle da dose de insulina de acordo com a ingestão alimentar, com consequente redução do risco de
hipoglicemia ou hiperglicemia pós-prandiais (LEAL et al., 2010).
A contagem de carboidratos tem como princípio o fato de que quase 100% dos carboidratos ingeridos
são convertidos em glicose em um tempo que pode oscilar de 15 minutos a 2 horas; ao passo que, no
caso das proteínas, a conversão é em torno de 50% entre 3 e 4 horas; e os lipídios em apenas 10% em,
cerca de, 5 horas ou mais (SBD, 2009), figura a seguir.
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Carboidratos (15min-2h) Proteínas (3-4h) Lipídeos (5h)
Daí a importância da contagem de carboidratos, pois são os principais responsáveis pela glicemia
pós-prandial, visto que todos são praticamente convertidos em glicose. Assim, essa estratégia considera a
quantidade total de carboidratos consumidos por refeição, sendo que esse quantitativo deverá obedecer
às necessidades diárias de cada paciente (OLIVEIRA; COELHO, 2012).
201
Unidade II
utilizado por qualquer paciente com DM e, principalmente, por aqueles que fazem terapia intensiva
com múltiplas doses de insulina de ação rápida ou ultrarrápida e, também, em tratamento por meio de
bomba de infusão subcutânea contínua de insulina.
No método de substituição, os alimentos são separados em grupos, sendo que em cada grupo
determina-se a quantidade média de carboidratos, o que possibilita a troca entre os alimentos fontes
desse nutriente. Estima-se que uma porção do grupo (cota ou escolha) seja equivalente a 15 g de
carboidratos. Os grupos que integram a pirâmide alimentar são à base das listas de substituições
de equivalentes de carboidratos, divididos em leite e derivados; verduras; frutas; amido; carne; gordura
e doces (COSTA, 2013).
O nutricionista deve ensinar aos pacientes com DM a estimarem o teor de carboidrato da refeição
por meio de tabelas, rótulos dos alimentos e lista de equivalentes de substituição. Para essa finalidade,
três fases podem ser adotadas no intuito de que o paciente tenha maior adesão ao tratamento e,
consequentemente, resultados melhores no controle metabólico. Na primeira fase, a classificação
do carboidrato e o seu peso na alimentação, bem como a identificação dos alimentos que contêm
esse nutriente, deve ser priorizada, introduzindo-se o conceito da contagem de carboidratos. Na
segunda fase, prioriza-se a relação entre alimentação, tratamento medicamentoso, atividade física e
monitoramento da glicemia para o controle do DM. Na terceira fase, o nutricionista deve orientar os
aspectos relacionados à ação da insulina sobre a quantidade de carboidrato que será consumido a cada
refeição (CUNHA, 2008).
O primeiro passo para a elaboração do plano alimentar consiste no cálculo realizado pelo nutricionista
das necessidades energéticas diárias do paciente em conformidade com a anamnese. Após a determinação
do VET, a quantidade total de carboidratos a ser consumida por dia é calculada, fracionando-se o total
202
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Para estabelecer a razão carboidrato versus insulina, utilizam-se algumas regras, a saber: 1 UI de
insulina rápida ou ultrarrápida cobre 15 g ou uma substituição de carboidrato no caso de adultos;
e 1 UI para 20-30 g de carboidratos no caso específico de crianças e adolescente; ou a regra de 500,
onde se dividem 500 pela dose total de insulina/dia (SBD, 2009).
203
Unidade II
Em pacientes que possuem controle alimentar exclusivo e/ou em uso de antidiabético oral, o
nutricionista deve estimular a ingestão das mesmas quantidades de carboidratos por refeição, nos
mesmos horários.
Saiba mais
Em relação às indicações da terapia nutricional enteral (TNE) e parenteral (TNP) para os pacientes
diabéticos, devem ser consideradas as mesmas definidas para os demais pacientes sem a doença; nos
casos de risco nutricional (NRS 2002 ≥ 3 pontos) ou desnutrição grave, seguindo-se as diretrizes atuais
de terapia nutricional (SBD, 2019).
A TNE é indicada quando a via oral é contraindicada (ou insuficiente), mesmo mediante a utilização
de suplemento oral e com a função gastrintestinal preservada, quer seja de forma parcial ou integral. Já
a TNP é indicada quando 75% das necessidades nutricionais por via oral ou enteral não são atingidas,
após 5 a 7 dias com doença não crítica ou 3 a 7 dias com doença grave, e mediante a desnutrição proteica
grave e/ou hipoalbuminemia não responsiva à suplementação proteica oral ou enteral (SBD, 2019).
204
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Em se tratando de nutrição enteral, sugere-se o uso de fórmulas especializadas para DM; ou seja,
aquelas que apresentam menor proporção de carboidratos (33% a 40%) e maior conteúdo de AGMI,
AGPI e fibras. Essa indicação se faz necessária, visto que auxilia no controle glicêmico, na redução dos
níveis glicêmicos e da necessidade insulínica (SBD, 2019).
A CM constitui uma boa opção terapêutica para diabéticos tipo 2 com obesidade grau I (IMC
entre 30 e 34,9 kg/m2) que não respondem ao tratamento convencional (dietoterapia, farmacoterapia,
psicoterapia e atividade física) por dois anos ou mais. Ela eleva a sobrevida e melhora a qualidade de
vida, além de reduzir ou eliminar o uso de fármacos em obesos diabéticos (SBCBM, 2017). Os critérios
básicos de seleção dos pacientes elegíveis a CM são pacientes com diagnóstico de DM2 com 2 anos
ou mais de evolução; idade igual ou inferior a 65 anos, exceto em condições especiais recomendadas
pelos médicos; HbA1c>8% por um ano mediante falha da terapia farmacológica isolada ou combinada;
indicação cirúrgica realizada por médico especialista em doenças endócrino-metabólicas, juntamente
com uma equipe cirúrgica devidamente constituída e treinada em CM; IMC entre 30-34,9 kg/m2;
circunferência da cintura >102 cm para homens e >88cm para mulheres; peptídeo C em jejum > 1 ng/dL;
e comprometimento e adesão à preparação e possibilidade de acompanhamento com a equipe
interdisciplinar (CONSENSO INTERSOCIETARIO, 2019).
Os principais mecanismos que explicam a perda de peso após a cirurgia metabólica estão relacionados
à restrição gástrica e à má absorção do intestino delgado. As diversas técnicas utilizadas se diferenciam
quanto ao volume residual do estômago e ao grau de má absorção produzido relacionado ao segmento
de intestino isolado (FLANEBAUM, 1999), porém, a mais utilizada é a gastroplastia com derivação
intestinal em Y de Roux – GDIYR (CONSENSO INTERSOCIETARIO, 2019).
A remissão do DM2 pode ser parcial, completa ou prolongada. A remissão parcial ocorre quando
a hiperglicemia se encontra inferior aos limites do diagnóstico de DM (HbA1c < 6,5%, e glicemia em
jejum entre 100 mg/dL e 125 mg/dL), sem uso de terapêutica antidiabética, durante pelo menos um
ano. A remissão é completa quando a HbA1c é <6,0% e a glicemia em jejum é < 100 mg/dL, sem uso
de medicação antidiabética, durante pelo menos um ano. A remissão é prolongada na vigência de uma
remissão completa com uma duração de, pelo menos, cinco anos (NUNES et al., 2018).
205
Unidade II
Estudo conduzido por Cohen et al. (2020) demonstrou regressão da albuminúria em 82% dos
pacientes que realizaram a cirurgia metabólica pela GDIYR, além do controle e da normalização de
HbA1c, colesterol, triglicérides e pressão arterial. Observou-se, também, redução depois de cinco vezes
das medicações, além da melhora da qualidade de vida.
O paciente deverá ser atendido por uma equipe multiprofissional (nutricionistas, psicólogos,
psiquiatras, endocrinologistas, cirurgiões, entre outros) no pré-operatório, o que permitirá maior adesão
terapêutica no pré-operatório, com reflexos importantes no pós-operatório. O nutricionista deverá
explicar as implicações nutricionais decorrentes da cirurgia, a evolução dietética no pós-operatório,
a importância da adesão às medidas comportamentais, a necessidade de suplementos proteicos, de
vitaminas e/ou minerais no pós-operatório, assim como esclarecer as eventuais dúvidas dos pacientes.
O quadro seguinte apresenta as características mais importantes das três fases da dieta no
pós‑operatório de cirurgia metabólica.
PTN: 1,1-1,5 g/kg peso PTN: 1,1-1,5 g/kg peso CHO: 30 g nas refeições principais e 15
referência/dia, podendo referência/dia, podendo chegar g nas intermédias (evitar hipoglicemia)
Principais
recomendações chegar a 2,1 g/kg/dia. a 2,1 g/kg/dia PTN: ingestão adequada e de AVB
CHO – mínimo de 130 g/dia CHO – mínimo de 130 g/dia Fibras: inclusão de alimentos fonte
Preparações batidas (leite Mastigar 10-15 vezes todos os
ou iogurte com fruta Progressão gradual na consistência
alimentos líquidos ou sólidos
Observações ou farinhas lácteas/não dos alimentos (cremosa – picada –
(duração mínima da refeição:
adicionais lácteas) nas refeições fragmentada – normal) e aumento do
20 minutos). Água: 15-30
intermédias e adicionados volume das refeições
minutos antes ou após refeição
carne, peixe ou ovo, à sopa.
1 dose/diária de SNO Atentar para necessidade de
Suplementação Atentar para necessidade de SNO
(hiperproteico) SNO
PO: pós-operatório. PTN: proteína. CHO: carboidrato. AVB: alto valor biológico. SNO: suplemento nutricional oral.
Caso o paciente não siga as orientações nutricionais e o plano dietoterápico prescrito pelo
nutricionista, poderá apresentar complicações, incluindo náuseas, vômitos, alterações da motilidade
intestinal, desidratação, síndrome de dumping, entre outros. Os sinais e sintomas mais frequentes que
podem ocorrer, principalmente, tardiamente são queda de cabelo, unhas quebradiças, anemia, astenia,
cansaço fácil, pele seca, parestesias dos membros inferiores e superiores e, em fases mais graves, declínio
cognitivo. O suplemento polivitamínico e polimineral deve assegurar, no mínimo, 2/3 das necessidades
nutricionais diárias (ALVES et al., 2019).
Algumas estratégias nutricionais para evitar a síndrome de dumping estão descritas a seguir:
207
Unidade II
208
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Algumas orientações nutricionais para indivíduos diabéticos estão descritas a seguir, conforme
Haack e Fortes (2017).
• Usar óleo vegetal (soja, milho, canola, girassol etc.) em pequenas quantidades, em substituição à
gordura animal (toucinho e banha).
• Evitar frituras e alimentos gordurosos. Preferir alimentos crus, quando não for possível, cozidos,
grelhados e assados.
• Dar preferência às carnes magras e retire a pele de frango, o couro de peixes e a gordura visível
das carnes vermelhas.
• Evitar “beliscar” entre as refeições, pois isso poderá interferir no controle da glicemia.
• Preferir adoçantes que não contenham sódio (sal) em sua composição, tais como sacarina sódica
e ciclamato de sódio. Ler sempre os rótulos dos produtos.
• Usar chás, refrescos, café e leite ao natural, ou seja, sem açúcar, caso não seja possível usar adoçantes.
• Utilizar as massas (macarrão, farinhas, angu etc.) e o vegetal C (batatas, mandioca, cará) em
substituição ao arroz.
• Preferir consumir primeiramente a salada, com azeite de oliva extravirgem, para, posteriormente,
ingerir os outros alimentos.
• Utilizar nas refeições os alimentos ricos em fibras – feijão, vegetais e legumes crus, frutas com
casca e bagaço, cereais integrais (arroz, pão e aveia).
• Não consumir: açúcar branco, açúcar mascavo, rapadura, caldo de cana, pudins, tortas, balas,
refrigerantes, mel, melado, doces, bombons, sorvetes, picolés, achocolatados e chocolates,
balas, pirulitos, leite condensado, produtos enlatados, engarrafados ou ensacados que contenham
açúcar, biscoitos doces e recheados, molhos industrializados entre outros.
209
Unidade II
Exemplo de aplicação
L. B., 65 anos de idade, sexo masculino, aposentado, portador de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) foi
internado na clínica médica de um hospital público por descompensação glicêmica. Após a avaliação
nutricional, o paciente foi identificado com índice de massa corporal (IMC) de 23,5 kg/m2. De acordo
com a adequação da circunferência do braço (CB), apresentava uma desnutrição leve, a adequação
da circunferência muscular do braço (CMB) também revelou uma desnutrição leve e a dobra cutânea
tricipital (DCT) identificou eutrofia.
Segundo a ectoscopia, L. B. não apresentava sinais visíveis de depleção de tecido adiposo subcutâneo,
porém, com leve depleção de massa muscular, sem edema, ascite, entre outros sinais visíveis de déficits
nutricionais. Referiu apetite aumentado, episódios esporádicos de diarreia, sem outras alterações. Os
exames laboratoriais revelaram ausência de alterações eletrolíticas (sódio, potássio, magnésio e cloro),
sem comprometimento renal (ureia e creatinina normais), com albumina de 2,8g/dL, sem alterações
nos valores hematimétricos e pressóricos, ferritina acima dos parâmetros de normalidade, lipídeos
plasmáticos sem alterações, excetuado triglicérides (180 mg/dL).
Resolução
L. B. deverá ser acompanhado pelo nutricionista desde a admissão até a alta hospitalar, havendo a
necessidade de seguimento nutricional contínuo, visto que é diabético, além de idoso.
De acordo com o IMC, L. B. é eutrófico tanto pela classificação da OMS quanto de Lipschitz.
Possui reserva adiposa, apesar de leve depleção muscular que pode ser inerente ao próprio processo
de envelhecimento. A via de alimentação indicada é a oral, contendo as seguintes características:
normocalórica (25 a 30 kcal/kg/dia); hipo a normoglicídica (45% a 60% do VET), com ênfase nos
carboidratos complexos e de baixo índice glicêmico; hiperproteica (15% a 20% do VET); hipo a
normolipídica (20% a 30% do VET), podendo chegar a 35%, sempre priorizando os ácidos graxos
monoinsaturados e poli-insaturados, fontes de EPA e DHA (também para auxiliar na redução de
triglicérides), além de restringir os ácidos graxos saturados e excluir os ácidos graxos trans. As fibras
alimentares (20 g/1000 kcal/dia) também são utilizadas, principalmente as solúveis, para auxílio da
modulação metabólica; entretanto, se o paciente ainda apresentar diarreia, as fibras insolúveis são
mais indicadas, assim como o uso de probióticos. A ingestão fluida de 1 mL/kcal também é indicada,
devendo o aporte ser aumentado na vigência de diarreia. Os episódios esporádicos de diarreia e o
apetite aumentado são consequentes da alteração dos níveis glicêmicos. Os exames alterados de
albumina e ferritina estão relacionados ao processo inflamatório de agudização da doença.
210
NUTRIÇÃO CLÍNICA
A atuação mais importante dos HTs consiste na estimulação metabólica, visto que interferem no
metabolismo das proteínas, dos lipídeos e dos carboidratos, assim como no consumo de oxigênio e na
produção de calor (MEZZOMO; NADAL, 2016).
Para que a síntese e função dos HTs ocorram adequadamente alguns micronutrientes são
imprescindíveis, destacando-se iodo, selênio, zinco cobre, ferro, as vitaminas A e D. Algumas substâncias
oriundas da ingestão de alimentos são capazes de influenciar negativamente no funcionamento da
glândula tireoide, tais como os glicosinolatos, o glúten, as isoflavonas e os flavonoides (MEZZOMO;
NADAL, 2016; GOLDFEDER, 2014).
Diante do exposto, torna-se evidente que a atuação do nutricionista nas afecções tireoidianas é
de suma importância, visto que a maioria das alterações metabólicas e nutricionais pode ser revertida
após o adequado tratamento. Para isso, o nutricionista precisa entender a ação dos diversos nutrientes
e outras substâncias que interferem na relação nutrição e tireoide.
6.3.1.1 Hipotireoidismo
O excesso leve e moderado de iodo (220 µg por 24 horas – mediana de iodo urinário) está associado
à ocorrência mais frequente de hipotireoidismo, principalmente em idosos. O mecanismo exato ainda
não está elucidado na literatura (LIONTIRIS; MAZOKOPAKI, 2017). Sendo assim, tanto o déficit quanto o
excesso de iodo são causas de hipotiroidismo primário (BRENTA et al., 2013).
A DAT é a causa mais prevalente do hipotiroidismo. Pode também ser consequente da terapêutica
do hipertiroidismo com cirurgia, radiação com 131-I ou após a utilização de fármacos antitireoidianos.
Outras formas de tireoidite (pós-parto, subaguda, silenciosa ou induzida por citocinas) também podem
ocasionar hipotireoidismo permanente ou transitório (BRENTA et al., 2013).
Entre os pacientes que sofrem de DAT, observa-se uma deficiência de diversos nutrientes, como iodo,
ferro, zinco, cobre, magnésio, potássio, vitaminas do complexo B, vitamina C e vitaminas lipossolúveis (A e D)
(IHNATOWICZ et al., 2020, KAWICKA; REGULSKA-ILOW; REGULSKA-ILOW, 2015).
hipotiroidismo é uma causa reconhecida de dislipidemia secundária, sendo recomendado que qualquer
indivíduo com LDL-c > 160 mg/dL seja rastreado para essa doença (BRENTA et al., 2013).
O hipotireoidismo subclínico (ou doença tireoidiana mínima) ocorre quando os níveis de T4 e T3 estão
dentro dos valores de referência e o TSH encontra-se elevado, entretanto, há ausência na literatura do
nível de TSH específico para o seu diagnóstico. Essa situação pode sinalizar o início de uma falência
da glândula tireoide, principalmente por causa autoimune, bem como ocorrer de forma assintomática
(NOGUEIRA et al., 2011).
6.3.1.2 Hipertireoidismo
213
Unidade II
A doença de Graves é uma doença autoimune também conhecida como doença de Basedow-Graves
ou ainda como bócio difuso tóxico. Ela afeta principalmente as mulheres (5-10:1) entre 40 e 60 anos de
idade e possui como característica principal um sistema imunitário que faz com que a glândula tireoide
se torne hiperativa (NEVES et al., 2008, ANDRADE, 2001).
Devido à elevada TMB, pacientes com hipertireoidismo comumente apresentam a perda de peso
involuntária, mesmo mediante uma ingestão energética aumentada. Essa perda de peso ocorre à custa
de gordura e proteínas, sendo a depleção de massa magra bastante evidente, principalmente, devido
à redução na síntese proteica, ao aumento na sua degradação, ou a uma combinação dos dois fatores
(KUBO et al., 2018, SANTOS et al., 2002). Apenas 10% dos jovens podem apresentar ganho de peso
devido ao aumento do apetite e ingestão energética superior às necessidades nutricionais.
O diagnóstico do hipertireoidismo, na maioria dos casos, se baseia nos achados de história clínica
e exame físico. Na presença de T3 e T4 total e T4 livre aumentados, associados a valores suprimidos de
TSH, confirma-se o diagnóstico (SANDRINI et al., 2001). O hipertireoidismo subclínico consiste numa
alteração tireoidiana em que os níveis de T3 e T4 estão normais e o nível de TSH está abaixo do valor de
referência, porém, o paciente é assintomático.
214
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Atualmente, três abordagens terapêuticas são utilizadas: drogas antitireoidianas, cirurgia e iodo
radioativo (131I). A remoção cirúrgica de parte da tireoide e a administração de medicamentos que
bloqueiam a captação do iodo (Propiltiouracil e Metimazol) também constituem outras formas de
tratamento. Entretanto, ressalta-se que a remoção cirúrgica e a iodoterapia podem levar o paciente
a um quadro clínico de hipotireoidismo, tornando-se imprescindível a reposição hormonal (SANTOS
et al., 2012).
Manifestações de hipertireoidismo
Hiperatividade, irritabilidade Taquicardia sinusal, fibrilação auricular
Insônia, palpitações, prurido Tremor fino, hipercinesia, hiperreflexia
Intolerância ao calor, hipersudorese Eritema palmar, onicólise
Fadiga, fraqueza, dispneia Queda de cabelo
Aumento do trânsito intestinal Fraqueza muscular
Sede, poliuria, perda da libido Insuficiência cardíaca congestiva
Perda de peso, aumento do apetite Coreia, paralisia periódica
Oligomenorreia ou amenorreia Psicose
Manifestações da doença de Graves
Bócio difuso Dor ou pressão retrobulbar, quemose
Dermopatia localizada Retração palpebral, edema periorbitário
Hiperplasia linfoide Exoftalmia, queratite de exposição
Acropatia tireoidiana Disfunção muscular extraocular
Oftalmopatia Neuropatia ótica
A terapia nutricional no hipotireoidismo tem como objetivos promover a perda de peso, com
preservação da massa magra (sobrepeso e obesidade) e/ou manter o peso corpóreo adequado; corrigir
as carências nutricionais como, por exemplo, a anemia ferropriva (ferro), perniciosa (vitamina B12) e
megaloblástica (ácido fólico e vitamina B12); prevenir e/ou corrigir as alterações lipídicas comumente
presentes nesses pacientes; ou seja, as dislipidemias; prevenir as doenças coronarianas; promover o
equilíbrio do trato gastrintestinal, incluindo a correção da constipação; tratar o estado inflamatório;
favorecer a adequada atividade da glândula tireoidiana e melhorar a qualidade de vida.
215
Unidade II
Em crianças, observa-se uma ingestão energética insuficiente que, por sua vez, intensifica a
deficiência de iodo, com danos à glândula tireoide. No entanto, em pacientes com doença de Hashimoto
e desnutrição proteico-energética, os níveis elevados de TSH podem ser mais frequentes do que em
pacientes bem nutridos, o que resulta da adaptação natural do corpo em resposta à deficiência de
proteína e energia (IHNATOWICZ, 2020).
O aporte energético deve ser suficiente para a obtenção e/ou manutenção de um peso corpóreo
adequado (LEÃO; GOMES, 2014), sendo que o nutricionista poderá utilizar a fórmula (ou regra) de
bolso. Para perda de peso, recomenda-se de 20 a 25 kcal/kg/dia e, para manutenção ponderal, entre
25 e 30 kcal/kg/dia.
Para elevar a termogênese induzida pela dieta, recomenda-se uma dieta normoproteica (0,8 a 1,0 g/kg/dia)
a hiperproteica (1,1 a 1,5 g/kg/dia) (LEÃO; GOMES, 2014). Além disso, a tirosina integra a estrutura
química dos HTs, o que comprova a importante participação da proteína para adequado funcionamento
da glândula tireoide.
Em relação aos carboidratos, a dieta pode ser normoglicídica (50% a 60% do VET) e normolipídica
(30% do VET), com atenção especial à qualidade lipídica, priorizando-se os ácidos graxos monoinsaturados
e poli-insaturados, com exclusão dos ácidos graxos trans e restrição dos ácidos graxos saturados.
O uso de alimentos laxantes se torna crucial para tratar a constipação intestinal, destacando-se
abacaxi, ameixa, alface, agrião, quiabo, cenoura crua, beterraba crua, mamão, laranja, cereais integrais
etc. (LEÃO; GOMES, 2014).
Evidências apontam que o uso de aveia contendo uma quantidade apreciável de fibra solúvel,
particularmente, de beta-glucana, também seria útil para influenciar os diversos parâmetros metabólicos,
216
NUTRIÇÃO CLÍNICA
como regulação do metabolismo da glicose, melhora da sensibilidade à insulina, controle dos lipídeos
plasmáticos, modulação da microbiota intestinal, entre outros efeitos benéficos (IHNATOWICZ, 2020).
Boilesen et al. (2017) descrevem alguns estudos que abordam o papel da ingestão de água para o
tratamento da constipação. Adultos constipados que consumiam 2000 mL/dia de água apresentaram
aumento significativo na frequência evacuatória e redução no uso de laxantes. Em idosos constipados,
constatou-se uma associação entre maior consumo de líquidos e fibra alimentar com melhora da
obstipação, bem como menor necessidade do uso de laxantes. Entretanto, nessa situação, não foi possível
discriminar se o efeito positivo ocorreu devido ao maior consumo de líquidos ou de fibra alimentar ou
ao efeito sinérgico dessas duas intervenções nutricionais. Em crianças e adolescentes, observou-se que
o menor consumo de água está associado ao maior risco de constipação intestinal. Leão e Gomes (2014)
recomendam uma ingestão fluida diária de 1000 mL a 2000 mL.
O iodo é imprescindível para a manutenção das funções orgânicas, o que inclui o adequado
funcionamento da glândula tireoide. Em gestantes, o iodo auxilia no desenvolvimento do sistema nervoso
fetal, aumentado a demanda desse nutriente por mulheres grávidas em 30% (IHNATOWICZ, 2020,
VELASCO; BATH; RAYMAN, 2018). É essencial para a iodação dos resíduos de tirosina e síntese de T4 e T3.
O iodo está amplamente distribuído na natureza tanto em substâncias orgânicas quanto inorgânicas,
porém em quantidades muito reduzidas. O nível de iodo na água reflete o teor de iodo das rochas,
dos solos e das plantas comestíveis, logo, a única fonte de iodo para os humanos é a alimentação
(MEZZOMO; NADAL, 2016). As principais fontes, além do sal iodado, incluem os frutos do mar (ostras,
moluscos, mariscos e peixes de água salgada), o leite e seus derivados (desde que oriundos de animais
que tenham pastado em solos ricos em iodo ou alimentados com rações que contenham o nutriente), a
castanha do Brasil, o pão e os vegetais oriundos de solos ricos em iodo.
Observação
O déficit de iodo ocasiona bócio e a sua excessiva ingestão pode enfraquecer a função tireoidiana e
promover o efeito Wolff-Chaikoff (diminuição de HTs devido à elevada ingestão de iodo). Esse fenômeno
ocorre pela redução da função tireoidiana em resposta à absorção de grande quantidade de iodo após
sua ingestão. Posteriormente, a síntese de T4 e T3 se normaliza no decorrer de diversos dias, porém, em
determinados pacientes, isso não ocorre, culminando com hipotireoidismo persistente (IHNATOWICZ,
2020, GOLDFEDER, 2014).
A recomendação de iodo é de 150 µg/dia para adultos, 220 µg/dia para gestantes e 290 µg/dia
para lactantes. A OMS recomenda, no mínimo, 75 µg de iodo ao dia, o que corresponde a 10 g de sal
iodado (MEZZOMO; NADAL, 2016). Mulheres grávidas devem consumir 250 μg de iodo por dia, enquanto
crianças com mais de 12 anos de idade e adultos, 150 μg/dia de iodo (IHNATOWICZ, 2020, LIONTIRIS;
217
Unidade II
MAZOKOPAKI, 2017). O problema da deficiência de iodo em muitos países foi solucionado por meio de
programas de sal iodado (SI), e hoje em dia cerca de dois terços da população mundial (71%) usa SI
(LIONTIRIS; MAZOKOPAKI, 2017).
O iodo em excesso possui toxidade celular, podendo ocasionar danos e apoptose ou necrose. Isso
se deve ao possível efeito de oxidação do iodo, assim como o estresse oxidativo, o que pode levar à
destruição progressiva e atrofia do tecido. Os efeitos excessivos e tóxicos do iodo provocam danos
à tireoide e estimula os processos autoimunes. Entretanto, esse efeito é inibido pela adequada ingestão
de selênio (IHNATOWICZ, 2020).
Lembrete
A ingestão de 300 µg/dia de selênio pode ter efeito tóxico sobre o fator de crescimento
semelhante à insulina (IGF-1), bem como na síntese de HTs. Entre os principais efeitos adversos,
destacam-se anorexia, diarreia, depressão, hemorragia hepática, necrose renal, cegueira, ataxia,
distúrbios respiratórios, dermatite e deficiências no sistema nervoso central. A quantidade de
selênio recomendada para adultos é de 55 µg/dia. Já para gestantes e lactantes de 60 e 70 µg/dia,
respectivamente (MEZZOMO; NADAL, 2016). O UL é de 400 µg/dia (INSTITUTE OF MEDICINE OF THE
NATIONAL ACADEMIES PRESS, 2006).
O ferro é um nutriente necessário à síntese dos HTs, sua deficiência bloqueia a atividade da
enzima peroxidase tireoidiana (TPO), para a qual o ferro é fundamental. Como resultado, ocorre
uma redução na síntese de HTs, bem como um aumento no nível de TSH e no volume da glândula.
A anemia ferropriva pode aumentar o risco de surgimento da doença tireoidiana, e a adequação
da ingestão do ferro, na presença de deficiência, é capaz de melhorar substancialmente o
funcionamento tireoidiano (IHNATOWICZ, 2020).
O cobre atua como elemento ativo redox na manutenção da atividade tireoidiana e na regulação
do metabolismo lipídico, sendo primordial na síntese de fosfolipídios para a estimulação do TSH
que, por sua vez, estimula a síntese de tirotropina segregada pela adeno-hipófise. Ele estimula a
síntese de T4, impede a sua absorção excessiva e pode agir como antioxidante e pró-oxidante.
A ingestão recomendada de cobre para adultos é de 900 μg/dia e para gestantes e lactantes,
1000/1300 μg/dia. O UL para adultos é de 10000 μg/dia. Mariscos, vísceras e carnes são alimentos
fonte de cobre, além de grãos de cereais e leguminosas. Na presença de ferro, a biodisponibilidade de
cobre é diminuída. Entretanto, as recomendações nutricionais de cobre são pequenas e facilmente
supridas por uma alimentação diversificada e equilibrada.
O zinco está envolvido na síntese de HTs, e sua deficiência culmina com distúrbios da glândula
tireoide, assim como aumento dos anticorpos contra antígenos da tireoide. Na vigência da
deficiência de zinco, os pacientes com hipotireoidismo podem apresentar perda de cabelo, que
será corrigida após normalização do status de zinco. Indivíduos com níveis de zinco eritrocitário
inferior a 12 mg/L podem reverter esse quadro. As principais fontes são sementes de abóbora,
sementes de linhaça, cereais integrais, como pão integral, painço e trigo sarraceno (IHNATOWICZ,
2020), carnes, e pescados, castanhas e nozes. A recomendação de zinco é de 15 mg/dia (MEZZOMO;
NADAL, 2016).
A deficiência de magnésio está associada a um maior risco de muitas doenças e sua progressão.
Ele possui atividade anti-inflamatória, incluindo redução do nível de proteína C reativa (PCR) e o
nível de anticorpos contra tireoglobulina. A deficiência de magnésio aumenta o risco de desenvolver
219
Unidade II
O cloro compete com o iodo, interferindo na sua absorção. Os pacientes com hipotireoidismo
precisam ter especial atenção, por exemplo, em alimentos contendo sucralose, visto que possui três
átomos de cloro em sua estrutura.
Outros nutrientes que competem com o iodo são o flúor e o bromo, uma vez que possuem
as mesmas vias de absorção. Logo, a absorção de mais flúor e de mais bromo representa menos
absorção de iodo, o que pode comprometer o funcionamento adequado da glândula tireoide.
Os pacientes precisam evitar alimentos e outros produtos contendo flúor (uso diário e constante
de água fluoretada, creme dental contendo flúor etc.) e bromo (usado em padarias com o objetivo de
deixar o pão mais aerado). Enfim, todos esses nutrientes, flúor, bromo e cloro, podem ser absorvidos
pelo organismo em preferência ao iodo, o que prejudica a absorção e, em consequência, altera o
processo metabólico.
A soja tem gerado grande preocupação em relação à função da glândula tireoide. Há evidência
de que pacientes com hipotireoidismo subclínico possuem risco três vezes maior de desenvolver
hipotireoidismo mediante a suplementação de 16 mg/dia de fitoestrógenos da soja (MEZZOMO;
NADAL, 2016).
Observou-se também que bebês alimentados com fórmula de soja apresentaram altos níveis de
TSH em comparação àqueles alimentados com fórmula isenta de soja. Além disso, constatou-se o
desenvolvimento de bócio em bebês alimentados com fórmula à base de soja e posterior regressão por
meio de substituição da fórmula para o leite de vaca ou dietas suplementadas com iodo (MEZZOMO;
NADAL, 2016).
220
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Alguns estudiosos apontam que as isoflavonas da soja atuam como agentes antitireoidianos por
meio da inibição da TPO, entretanto outros pesquisadores acreditam que as isoflavonas não exercem
esse efeito, mas alguma outra substância presente na soja. Cabe ressaltar que o consumo de soja
após a ingestão de L-tiroxina reduz a absorção do medicamento, o que prejudica o tratamento do
hipotireoidismo. Os efeitos antitireoidianos da soja parecem ser minimizados com uma ingestão
adequada de iodo (GOLDFEDER, 2014).
Os flavonoides podem interferir no metabolismo dos HTs in vitro por meio da redução das
concentrações séricas de T4 e inibição da conversão de T4 para T3 e da depuração metabólica de T3r pelo
selênio. O inibidor mais ativo da atividade da 5’D é a luteína (flavonoide natural), sendo que a quercetina
e a miricetina também possuem atividade inibitória in vitro (GOLDFEDER, 2014).
Lembrete
A intolerância à lactose está presente em cerca de 76% dos pacientes com hipotireoidismo.
Pacientes em uso de levotiroxina precisam de cuidado adicional, visto que a intolerância à lactose reduz
a biodisponibilidade da droga e impõe o uso de altas doses (IHNATOWICZ, 2020).
O glúten possui associação com as doenças autoimunes, incluindo tireoidite de Hashimoto. Existem
reações cruzadas entre gliadina e antígenos da tireoide. Logo, a doença celíaca entre os pacientes com
tireoidite de Hashimoto é cerca de 10 vezes mais frequente do que na população saudável. Se houver
suspeita de doença celíaca, um teste diagnóstico deve ser realizado sob a direção de um médico antes
de o nutricionista prescrever a dieta sem glúten para não implicar em resultados falsos negativos
(IHNATOWICZ, 2020). Uma vez comprovada a doença celíaca, o nutricionista deverá prescrever a dieta
isenta de glúten e proceder às orientações necessárias.
221
Unidade II
As necessidades energéticas de pacientes com hipertireoidismo podem estar elevadas entre 10% e
30% (casos mais brandos) até 50% e 60% (ESCOTT-STUMP, 2011). Recomenda-se uma dieta hipercalórica
(30 a 40 kcal/kg/dia) para contemplar as necessidades energéticas e promover o ganho de peso corpóreo
(LEÃO; GOMES, 2014).
O excesso de carboidratos, principalmente de açúcares simples, deve ser evitado, visto que está
implicado no surgimento de hipertrigliceridemia (LEÃO; GOMES, 2014). Logo, torna-se prudente uma
oferta de 50% a 60% do VET da dieta proveniente de carboidratos.
Indica-se uma hiperproteica, entre 1,1 e 1,75 g/kg/dia (LEÃO; GOMES, 2014, ESCOTT-STUMP, 2011)
para correção do balanço nitrogenado negativo, comumente presente nesses pacientes. A tirosina é um
aminoácido integrante da estrutura química dos HTs, o que também enfatiza a participação primordial
da proteína para o adequado funcionamento da tireoide.
A ingestão fluida diária entre 3 e 4 litros é necessária para repor as perdas provenientes da diaforese
e diarreia, salvo se contraindicado (por exemplo, enfermidades renais e/ou cardíacas) (LEÃO; GOMES,
2014, ESCOTT-STUMP, 2011).
Devem-se priorizar as fontes alimentares naturais dos seguintes micronutrientes: cálcio e vitamina
D (evitar ou corrigir as desordens ósseas, como osteoporose); ferro (evitar e/ou corrigir a anemia
ferropriva); vitaminas A e C (precursoras do colágeno e antioxidantes), sendo que o ácido ascórbico
também auxilia na melhor absorção do ferro não heme; fibra solúvel (prevenir e/ou tratar a diarreia e
reduzir os triglicérides plasmáticos); vitaminas B1, B2 e B3 (favorecem a oxidação dos nutrientes na oferta
de energia) (LEÃO; GOMES, 2014), além de vitaminas B6 e B12.
A dieta deve conter 950 mL/dia de leite (ou equivalente) para suprir as necessidades de cálcio,
fósforo e vitamina D. Além disso, sugere-se suplementar a dieta com polivitamínico/polimineral para
níveis adequados de vitaminas do complexo B, vitaminas A e C, sempre monitorando o conteúdo de
iodo (ESCOTT-STUMP, 2011).
O excesso de sal e alimentos ricos em sódio deve ser evitado, principalmente na vigência de mixedema
e exoftalmia pela retenção de fluidos (LEÃO; GOMES, 2014). O iodo deve ser sempre monitorado em
qualquer alimento e suplemento utilizado, visto que o consumo crônico (> 500 µg/L) desse nutriente
pode ocasionar diversos efeitos adversos (ESCOTT-STUMP, 2011).
222
NUTRIÇÃO CLÍNICA
Devem-se evitar (ou excluir) alimentos contendo cafeína porque agravam a excitabilidade e o
nervosismo (ESCOTT-STUMP, 2011), bem como alimentos ricos em fibras insolúveis e bebidas alcóolicas
(LEÃO; GOMES, 2014).
Pacientes com hipertireoidismo devem, obrigatoriamente, submeter à cocção repolho, couve, nabo,
couve-de-bruxelas, couve-flor, aipim, brócolis, soja, amendoim. Esses alimentos são considerados
bociogênicos naturais crus, pois aumentam os efeitos colaterais dos medicamentos antitireoidianos. A
cocção é capaz de eliminar esse efeito por inativação das substâncias bociogênicas (LEÃO; GOMES, 2014,
ESCOTT-STUMP, 2011).
As recomendações nutricionais para uma dieta pobre em iodo estão descritas no quadro seguinte.
Exemplo de aplicação
D. M. R., sexo feminino, 49 anos de idade, procurou o endocrinologista com queixa de cansaço,
sonolência excessiva, aumento involuntário de ganho ponderal nos últimos anos (apresenta-se com
obesidade grau I), raciocínio lento, dores articulares e constipação crônica. Além disso, referiu unhas e
cabelos ásperos, secos e com falhas. Após investigação clínica, foi diagnosticada com hipotireoidismo.
223
Unidade II
Resolução
Resposta: a dieta deverá ser hipocalórica (20 a 25 kcal/kg) e hiperproteica (1,1 a 1,75 g/kg).
Quais alimentos deverão ser considerados de acordo com o quadro clínico de D. M. R.?
Resposta: os alimentos deverão conter um aporte apreciável de proteínas de alto valor biológico (AVB);
ricos em ferro heme e não heme e de fontes que auxiliam na absorção do ferro não heme (vitamina C);
fontes de fibras alimentares (principalmente solúveis) e alimentos laxantes; ricos em vitaminas do
complexo B, especialmente B9 e B12; além de cálcio e vitamina D. Os carboidratos simples devem ser
restritos, com priorização dos carboidratos complexos; os ácidos graxos saturados e trans, assim como
os alimentos ricos em colesterol devem ser evitados; com priorização dos ácidos graxos insaturados
(AGMI e AGPI). Deve-se também reduzir os alimentos ricos em sódio (sal de cozinha). O aporte fluido
deve ser adequado e incentivado. A dieta DASH poderá ser preconizada dada a sua riqueza nutricional
e os seus benefícios orgânicos.
Resposta: os nutrientes que auxiliam o funcionamento adequado da glândula tireoide incluem: iodo,
selênio, vitamina A, vitamina D, zinco, cálcio, ferro, magnésio, manganês e vitaminas do complexo B
(tiamina, riboflavina, ácido fólico etc.). Entre os alimentos que prejudicam o funcionamento da glândula
tireoide, destacam-se: chá verde, produtos contendo sucralose, soja, glúten e brássicas. Os nutrientes
que competem com o iodo e, em consequência, podem prejudicar o funcionamento da glândula são
flúor, cloro e bromo.
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
Resumo
Com o processo de industrialização e urbanização, observam-se diversas
alterações no estilo de vida da população e, em consequência, elevada
prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), o que inclui,
hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemias, síndrome
metabólica e doenças tireoidianas.
Exercícios
“A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno multifatorial que envolve fatores de risco cardiovasculares
relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. Nesses casos, a abordagem
terapêutica conjunta de várias comorbidades no mesmo indivíduo é complexa. As primeiras orientações
devem visar à intervenção no estilo de vida do paciente, à correção das anormalidades metabólicas e ao
incentivo à prática de atividade física regular. O acompanhamento do paciente por um nutricionista é
fundamental no tratamento da SM, para elaboração de um plano alimentar adequado e personalizado”.
I – A ingestão diária de proteínas para pacientes com SM deve ser de 1,2 a 2 g/kg de peso atual, e a
de fibras de 20 a 30 g diárias, priorizando as fibras solúveis para melhor controle metabólico.
II – Uma alimentação rica em frutas, vegetais e grãos integrais e pobre em gorduras saturadas
contribui para um melhor controle da SM e constitui fator indispensável ao tratamento e à prevenção
de suas complicações.
III – A dieta do paciente deve estar direcionada para a perda de peso e da gordura visceral, com os
objetivos de normalização dos níveis da pressão arterial e de correção das dislipidemias e da hiperglicemia.
IV – O valor calórico total da dieta deve ser calculado para que se atinja a meta de peso definida,
considerando-se que uma redução de 5% a 10% do peso está associada à melhoria dos níveis da pressão
arterial e do controle metabólico.
A) I e II.
B) I e IV.
C) II e III.
D) I, III e IV.
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NUTRIÇÃO CLÍNICA
I – Afirmativa incorreta.
II – Afirmativa correta.
O hipotireoidismo é responsável por várias alterações corporais, que podem induzir doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT) como obesidade, dislipidemias e até mesmo algumas neoplasias. Ressalta-se,
no entanto, que a dieta é um dos fatores de risco para o surgimento e o agravamento do hipotireoidismo”.
I – Uma das causas do hipotireoidismo primário é a deficiência dietética de iodo, elemento essencial
para a síntese dos hormônios tireoidianos e para o desenvolvimento do sistema nervoso central.
III – No Brasil, há obrigatoriedade de adição de iodo no sal de cozinha. Outras fontes alimentares
são os frutos do mar, leite e derivados (se oriundos de animais que pastaram em solos ricos em iodo ou
alimentados com rações que contenham o ingrediente).
A) I e II, apenas.
B) I e IV, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.
I – Afirmativa correta.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a diminuição dos hormônios tireoidianos pode acarretar aumento da taxa metabólica
basal, aumento do peso, aumento do volume da tireoide, sonolência, fadiga, cansaço, perda de concentração.
Justificativa: a Lei n. 6150/1974 tornou obrigatória a iodação do sal destinado ao consumo humano.
As principais fontes alimentares são o sal iodado, os frutos do mar (ostras, moluscos, peixes de água
salgada), leite e derivados (oriundos de animais que pastaram em solos ricos em iodo ou alimentados
com rações com o nutriente) e vegetais (oriundos de solos ricos em iodo).
IV – Afirmativa correta.
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