Dissertacao SamuelVasconcelos BAGlass versaoCD PDF
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Dissertação de Mestrado
Orientador na FEUP: Prof. Paulo Osswald
2017-06-26
Avaliação e melhoria do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Resumo
Na conjuntura atual, as empresas sentem-se cada vez mais pressionadas do ponto de vista
ambiental. Pela via da legislação imposta cada vez mais exigente, pelos clientes que se
preocupam com o impacte ambiental ao longo da sua supply chain, pela concorrência que
muitas vezes utiliza o desempenho ambiental como uma vantagem competitiva, e pelos próprios
stakeholders, cada vez mais consciencializados para este tema.
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de
tomada de decisão foi um projeto que surgiu no âmbito do aumento de competitividade, do
poder de negociação e de um reforço da cultura ambiental da empresa.
O projeto assumiu 3 desafios principais: avaliar o impacte ambiental do ciclo de vida de
uma garrafa de vidro; comparar o estudo realizado para duas fábricas; sugerir melhorias nos
processos por vista a redução do impacte ambiental e propor melhorias no sistema de controlo
do impacte ambiental.
O estudo abrangeu duas unidades fabris e daí surgiu a possibilidade de comparação entre
as mesmas. Analisaram-se os valores operacionais e os valores dos resultados do estudo para
cada fábrica. Confrontaram-se ambos para explicar as diferenças encontradas entre as duas
unidades fabris, mas os resultados do estudo dão a entender que, de uma forma global, não
existe uma fábrica melhor que a outra. Contudo, foram apresentadas as ideias para potenciais
reduções tanto do impacte ambiental como de custos em ambas as unidades fabris.
Para a realização do estudo foi utilizado o software Instant LCA da Federação Europeia
do Vidro de Embalagem, que revelou ter várias limitações. Estas restringem a aplicabilidade
desta ferramenta para o apoio a tomada de decisão devido à sua falta de detalhe e adaptabilidade
às diferentes condições existentes nas várias unidades fabris
O estudo envolveu todas as fases na qual a empresa tem responsabilidade direta ou
indireta, desde a exploração de matérias primas até à entrega ao cliente. Esta visão mais
abrangente deve estar integrada no sistema de gestão e daí surgiu a missão de melhoria do
sistema de controlo de impacte ambiental. Passou pela inclusão de mais indicadores e a
melhoria dos já existentes - comunicar mais informação de qualidade e de forma mais eficiente.
ii
Life Cycle Assessment of a Glass Bottle and its Integration in the
Decision-Making Process
Abstract
iii
Agradecimentos
iv
Índice de Conteúdos
1 Introdução ........................................................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento do projeto e motivação ................................................................................................................ 1
1.2 Projeto curricular na empresa ................................................................................................................................ 2
1.3 Apresentação da BA Glass .................................................................................................................................... 2
1.4 Objetivos do projeto .............................................................................................................................................. 2
1.5 Metodologia .......................................................................................................................................................... 3
1.6 Estrutura da dissertação ......................................................................................................................................... 4
2 Enquadramento teórico ....................................................................................................................... 5
2.1 Apresentação do ciclo do vidro ............................................................................................................................. 5
2.2 Apresentação do ciclo de vida de produto ............................................................................................................. 7
2.3 Sistema de produto ................................................................................................................................................ 7
2.4 Estado da arte - Estudos ambientais ...................................................................................................................... 8
2.5 Estado de arte do controlo ambiental e processos de tomada de decisão............................................................. 13
3 Análise da situação inicial ................................................................................................................. 15
3.1 Indústria do Vidro ............................................................................................................................................... 15
3.1.1 Descrição geral ...............................................................................................................................15
3.1.2 Processo de Fabrico do Vidro de Embalagem .................................................................................16
3.2 Descrição do sistema de Gestão ambiental .......................................................................................................... 17
3.3 Problemas identificados ...................................................................................................................................... 19
4 Desenvolvimento das Soluções ........................................................................................................ 20
4.1 ACV - Avaliação do Ciclo de Vida ..................................................................................................................... 20
4.1.1 Desenvolvimento da Metodologia ACV .........................................................................................22
4.1.2 Estudos Comparativos ....................................................................................................................26
4.1.3 Resultados e discussão do estudo ACV ..........................................................................................28
4.1.4 Limitações do estudo ......................................................................................................................35
4.2 Ideias/propostas de melhoria ............................................................................................................................... 36
4.3 Sistema de controlo do impacte ambiental .......................................................................................................... 40
4.3.1 Metodologia ....................................................................................................................................40
4.3.2 Sistema de controlo atual ................................................................................................................41
4.3.3 Análise SWOT ao sistema de controlo atual ...................................................................................41
4.3.4 Sugestão de melhoria ......................................................................................................................42
4.3.5 Impacte nos custos ..........................................................................................................................44
4.3.6 Modelo de controlo modificado ......................................................................................................45
Conclusões ............................................................................................................................................. 48
Referências ............................................................................................................................................ 51
ANEXO A................................................................................................................................................ 54
ANEXO B................................................................................................................................................ 55
ANEXO C ............................................................................................................................................... 56
ANEXO D ............................................................................................................................................... 57
ANEXO E................................................................................................................................................ 58
ANEXO F ................................................................................................................................................ 59
ANEXO G ............................................................................................................................................... 60
ANEXO H ............................................................................................................................................... 61
ANEXO I ................................................................................................................................................. 62
ANEXO J ................................................................................................................................................ 63
ANEXO K................................................................................................................................................ 64
v
Siglas
vi
Fórmulas Químicas
CFC-11 - Tricloromonofluormetano
CO2 – Dióxido de Carbono
CTU - Comparative Toxicity Unit
eq. H+ - unidades equivalentes de Hidrogénio
eq. N - unidades equivalentes de Azoto
eq. P – unidades equivalentes de Fosfato
eq. Sb - unidades equivalentes de Antimónio
NH3 - Amoníaco
NMVOC - Non-methane volatile organic compounds
NOx – Óxidos de Nitrogénio
SO3 – Óxido Sulfúrico
SOx – Óxidos de Enxofre
vii
Índice de Figuras
viii
Figura 31 - Curvas de tendência para a energia total necessária para a fusão, na produção de
vidro. Consumo de energia específico em relação à tiragem do forno. Fonte: (Scalet et al. 2013)
.................................................................................................................................................. 39
Figura 32 – Indicadores utilizados no sistema de controlo ao longo do ciclo de vida do vidro.
.................................................................................................................................................. 44
Figura 33 - Exemplificação das melhorias implementadas no relatório ambiental. (fonte:
documentos internos)................................................................................................................ 45
Figura 34 – Exemplificação das melhorias implementadas na folha central de indicadores fabris.
(fonte: documentos internos) .................................................................................................... 46
Figura 35 - Proposta de melhorias na folha de indicadores fabris............................................ 47
ix
Índice de Tabelas
x
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
1 Introdução
1
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
• Disponibilizar informação sobre Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) aos clientes em fase
de negociação
2
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
1.5 Metodologia
Não se consegue gerir o que não se mede, por isso primeiramente foi feito um estudo de
impacte ambiental utilizando a ferramenta de avaliação do ciclo de vida de produto. De seguida,
foram identificados os pontos mais críticos, foram sugeridas as melhorias. No final, foi
melhorado o sistema de controlo ambiental por forma a fornecer uma visão global e integrada
dos indicadores mais relevantes que têm influência na pegada ecológica.
Os passos estruturados passaram assim por:
4
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
2 Enquadramento teórico
Neste capítulo são apresentados os conceitos relativos ao ciclo de vida do vidro, ao estudo
ambiental e também relativamente ao sistema de controlo do impacte ambiental.
Inicialmente introduz-se o ciclo do vidro apontando todas as suas fases, enquadrando o
ciclo de vida de uma garrafa de vidro. Essas fases incluem também o processo produtivo. De
seguida é apresentado: a definição de ACV, como surgiu, o seu enquadramento, as diferentes
fases do estudo, as categorias de impacte ambiental e exemplos de outros estudos e trabalhos
desenvolvidos neste âmbito. Numa segunda parte são apresentados alguns conceitos de gestão,
nomeadamente, mapa estratégico, BSC (Balanced Score Card), KPI’s (Key performance
indicators) e como as questões ambientais devem ser envolvidas na estratégia da empresa.
5
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Na europa 74% do vidro, em média, é reciclado e 90% desse vidro reciclado é usado para
produção de novas embalagens («Facts; Product details - FEVE» 2017a).
A utilização de casco na produção tem várias vantagens:
• Redução do ponto de fusão e consequente redução do consumo energético (gás natural e
eletricidade)
• Obtenção de maiores tiragens por forno, eu seja, fundição de mais toneladas de vidro por
unidade de tempo.
• Redução das emissões gasosas poluentes em 20% e da contaminação da água em 50%.
Cada tonelada de vidro reciclado poupa 70% de CO2 e evita a emissão de muitos outros
gases. Poupa também a exploração de recursos naturais. («Facts; Product details - FEVE»
2017b)
• Reduz os custos de produção da embalagem (apenas até certo ponto, pois o preço do casco
(vidro reciclado) flutua e pode não compensar a sua utilização)
No entanto existem também algumas desvantagens:
• Perda de controlo sobre as propriedades do vidro produzido (incluindo a cor, exceto se se
separar o casco por cor. Já existe tecnologia, mas só é rentável para vidro branco)
• Escassez de casco em Portugal e subida do preço do mesmo. Há uma grande questão que
se prende com este ponto, a disponibilidade de casco. Mesmo que a reciclagem fosse de
100%, a produção é cada vez maior e por isso seria sempre necessário usar matérias
primas virgens. Segundo ponto é a distribuição da reciclagem (Anexo A) e consumo de
vidro, de uma forma geral a BA usa casco português, produz garrafas com ele e depois
exporta as garrafas pelo que o vidro é reciclado nos países de destino e permanece lá.
Portugal não é dos maiores consumidores nem dos melhores recicladores por isso não
existe casco suficiente para a BA, vendo-se na necessidade de, esporadicamente, importar
casco de outros países, encarecendo o processo e aumentando o impacte ambiental por
via do transporte.
• O tratamento do casco acarreta complexidade e custos associados.
6
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
7
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
ISO 14040
Este guia fornece uma estrutura e requisitos para os modelos que são usados para
analisar as emissões para o ar, água e solo, tal como o consumo de recursos. Analisa estas
contribuições para o impacte ambiental na saúde humana, meio ambiente e recursos naturais. É
a metodologia do ILCD handbook que define as formulas de cálculo necessária ao apuramento
do impacte.
Os primeiros estudos ACV foram realizados nos finais dos anos 60, onde apenas eram
calculados os requisitos de energia e resíduos sólidos ao longo do ciclo, e não eram tidos em
conta os efeitos potenciais no ambiente (Miettinen e Hämäläinen 1997). Hoje em dia, uma
Avaliação de Ciclo de Vida tem como objetivo promover um entendimento mais alargado dos
impactes associados à produção e consumo de produtos (ISO 2007).
O potencial de um estudo ACV prende-se com uma combinação única dos seus 5
princípios:
8
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
• Integra o uso de recursos e emissões ao longo de todo o ciclo de vida analisado, desde a
extração das matérias primas, passando pelo processamento, até à reciclagem e
valorização dos resíduos; desta forma evita-se a possibilidade de eliminar um problema
pontual, mas originar outro maior noutro ponto da cadeia de valor.
• Facilita a comparação do desempenho de vários sistemas ou opções partindo de uma base
igual e ajuda na identificação das áreas a melhorar. Para isso é preciso assegurar que a
unidade funcional é a mesma nos vários estudos a comparar.
(Wolf et al. 2012)
Segundo a norma (ISO 2007) este tipo de estudos podem ser úteis em determinados
aspetos, sendo estes:
9
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
A ACV fornece
informação para o eco-design
(Fleischer e Schmidt 1997) e
por sua vez o LCM (life cycle
management) suporta-se nos
resultados do LCA. O LCT (
life cycle thinking) foca-se
em ir para além de foco
principal na produção
passando a incluir questões
ambientais, sociais e o
impacto económico ao logo
de todo o seu ciclo («What is
Life Cycle Thinking? – Life
Cycle Initiative» 2017).
Desta forma, abrangendo Figura 5 - Mapa de conceitos ambientais (fonte: (Haupt e Zschokke 2017))
toda a cadeia de valor vai
buscar informação a várias ferramentas, procedimentos e frameworks, incluindo o LCA.
Um estudo ACV tem quatro fases (Anexo F): definição do objetivo e do âmbito,
inventário, avaliação de impacte, e interpretação. (ISO 2007)
O âmbito, incluindo a fronteira do sistema e o nível de detalhe, de uma ACV, depende
do objeto e da utilização pretendida para o estudo. A profundidade e a amplitude da ACV podem
diferir consideravelmente, consoante o objetivo de cada estudo em particular. A definição de
fronteiras irá também estabelecer a amplitude do estudo, podendo incluir todos os processos,
em contexto de “cradle-to-grave” ou excluir parcelas do sistema, sendo assim designado
“cradle-to-gate” ou “gate-to-gate”.
A fase do inventário do ciclo de vida (fase de ICV) constitui a segunda fase do estudo.
É um inventário dos dados de entrada/saída relativos ao sistema em estudo (anexo H). Envolve
a recolha dos dados necessários para atingir os objetivos do estudo definido.
A fase de avaliação de impacte do ciclo de vida (AICV) é a terceira fase da ACV. A
finalidade da AICV é fornecer informação adicional que auxilie a avaliação dos resultados do
ICV de um sistema de produto, esquema dos processos com inputs e outputs, para melhor
compreender a sua significância ambiental. Envolve a imputação dos resultados do ICV às
categorias segundo os critérios da metodologia selecionada (figura 6).
As categorias ambientais são selecionadas de forma a representarem uma série de
impactes considerados relevantes no âmbito do estudo a efetuar (figura 7).
10
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Figura 6 - fases de avaliação de um ciclo de vida - Fonte imagem: (Gil, sem data)
Figura 7 - Correspondência entre inventário, categorias de impacte e áreas de proteção - Fonte: («ILCD
Handbook: Framework and requirements for LCIA models and indicators» 2017)
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
• Escassez de recursos - Reserve base / Ultimate reserve (old) - A escassez da maioria dos
recursos é um processo a longo prazo. Existe também uma renovação económica contínua,
ou seja, novas aplicações dos recursos são descobertas e outras vão ficando obsoletas. As
gerações futuras têm tempo suficiente para pesquisar alternativas para a escassez de
recursos, contudo, a extração desmedida de recursos diminui essa oportunidade. Existe uma
distinção entre reserve ultimate, recursos disponíveis na crosta terrestre, e reserve base,
recursos que têm um razoável potencial de para se tornarem economicamente e
tecnicamente viáveis (Oers et al. 2002).
• Consumo de água - Por vezes não é dada muita relevância ao consumo de água por nos
dias de hoje, e devido a nalgumas localizações, ser um recurso de acesso fácil. Para além
do próprio consumo da água, existe a sua contaminação e descontaminação necessária para
poder ser feita a descarga no rio. Todos estes processos envolvem produtos químicos e
produção de resíduos que seriam desnecessários caso a água não fosse utilizada. Como
motivação adicional existe o custo da mesma.
• Formação fotoquímica de ozono – também conhecido por SMOG é uma medida para a
libertação de compostos orgânicos voláteis para o ar. Os impactes negativos são devidos à
sua natureza reativa que os permite oxidar moléculas orgânicas. Impactes em humanos
aumentam quando o ozono e outros compostos reativos de oxigénio são inalados e entram
em contacto com a superfície do aparelho respiratório, onde podem causar danos nos tecidos
e causar doenças respiratórias. Também é possível verificar consequências na vegetação.
• Toxicidade humana - A mais importante contribuição para esta categoria são as emissões
gasosas. Através da contaminação dos solos, das águas, da vegetação e dos animais, vão
chegar ao ser humano provocando problemas de saúde variados.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
A gestão ambiental numa organização tem um papel cada vez mais central e fundamental.
Porter e Kramer (2011) sugeriram que a integração da responsabilidade social corporativa no
negócio e na cadeia de abastecimento seria o grande próximo caminho para a criação de valor
económico de forma sustentável nas organizações. É precisamente esta integração que será
explorada neste ponto.
Existem duas grandes estruturas a abordar, uma é o sistema de gestão, que dentro do
âmbito ambiental tem a sua independência e autonomia. Outra estrutura é a integração das
questões ambientais na estratégia do negócio.
Dentro do sistema de gestão é possível encontrar várias ferramentas e metodologias
possível de adotar que coletem, tratem e apresentem a informação por forma a ser tomada a
melhor decisão. É o caso da ferramenta Avaliação do ciclo de vida, mas existem muitas mais
como por exemplo, avaliação de desempenho, análise multicritério, análise de sensibilidade,
análise de custo total, análise custo-benefício, etc (Neto, sem data).
Relativamente à integração das questões ambientais, ter uma perspetiva ambiental
presente no mapa estratégico e no balanced scorecard (BSC) está a tornar-se essencial para uma
empresa que releve preocupações neste âmbito. Hoje em dia as empresas querem integrar a
sustentabilidade na sua forma de pensar, agir e trabalhar. Querem evitar o superficial “green-
wash”, ou seja, pareceram que são “amigas do ambiente”, quando na verdade não o são. A
reputação ambiental de uma empresa aporta imenso valor para o seu negócio, tem impacto na
perceção da empresa para os seus clientes/consumidores, na forma com os mercados e
investidores valorizam a organização e também na atitude dos próprios colaboradores. No
entanto, para isto acontecer, é necessário sustentar esta orientação ao nível estratégico. (Jones
2017)
As questões ambientais devem estar
presentes no BSC e no mapa estratégico, mas não
de uma forma isolada. Não se deve simplesmente
adicionar paralelamente uma nova perspetiva
ambiental pois nesse caso está-se a isolar, em vez
de fazer parte da missão de toda a gente. Caso se
fizesse assim estar-se-ia a separar em vez de
integrar. Ter uma perspetiva ambiental que
captasse as consequências para o ambiente das
restantes atividades da organização traria muito
mais envolvimento e integração (Jones 2011)
(figura 8). A responsabilidade ambiental deve
estar espalhada pela organização, é o exemplo dos
relatórios financeiros que integram o tema da
bolsa de carbono da União Europeia, ou os custos Figura 8 - Integração das questões ambientais no mapa
relacionados com consumo de matérias primas estratégico de uma organização (Jones 2017)
fósseis. Cada área da organização tem a
responsabilidade de atingir um bom equilíbrio entre a rentabilidade e a redução do impacte
ambiental, ao invés de recair apenas sobre o departamento de ambiente que não tem tanto poder
sobre a tomada de decisão nas diversas áreas.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Balanced ScoreCard
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Na UE estão presentes alguns dos maiores grupos como é o caso da Ardagh Glass, BA
Vidro, O-I Europe, Saint-Gobain, Vetropack, Vidrala entre outros de menor dimensão
competindo por mercados de nicho. Estes pequenos produtores têm dificuldade em crescer ou
novas empresas têm dificuldades em entrar no mercado devido à necessidade de grandes
investimentos (nomeadamente a renovação dos fornos) e de produção em massa. Isto faz com
que cada vez exista menos empresas, cada uma a possuir mais fábricas.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
impacte ambiental (Scalet et al. 2013). No entanto, na década passada, a nível europeu, foram
feitos investimentos significativos nas instalações de produção de vidro de embalagem com a
aplicação das melhores técnicas disponíveis (MTD´s) de modo a diminuir o seu impacte
ambiental. As emissões de CO2 diminuíram em cerca de 70% e nos últimos 20 anos as garrafas
tornaram-se 30% mais leves não comprometendo as suas características («Vision: Industry
& Innovation - FEVE» 2017).
Numa visão mais abrangente sobre a indústria da produção de embalagens, teve-se em
consideração que o vidro, como material, tem um potencial de crescimento reduzido e é
ameaçado pelo aparecimento de novos desenvolvimentos ao nível das propriedades dos
materiais concorrentes e alterações dos hábitos de consumo. O aparecimento em massa do bag-
in-box é apenas um exemplo das inúmeras ameaças que estão a surgir.
“A diferença prende-se com o facto de este novo modelo contemplar uma torneira que se aciona para
servir o vinho e também com a novidade de o vinho não oxidar, porque o saco vai 'emagrecendo' à
medida que o vinho sai e porque não entra ar, que é, como se sabe, o responsável pela oxidação. (…)
A grande mudança da qualidade destes vinhos deu-se quando muitos mercados externos começaram a
preferir sobretudo vinhos nestas embalagens.” («Expresso | Embalagem de cartão? Perca os
preconceitos» 2017)
A ligação ambiental que o vidro tem é um bom argumento na qual as empresas de
produção de vidro de embalagem em massa se devem focar cada vez mais. Para tal, não basta
apenas serem mais “amigas do ambiente”, mas também serem vistas como tal. A BA Glass,
como produtora, tem todo o interesse em passar essa mensagem, e para isso deve começar por
ela própria e desenvolver projetos no âmbito que envolvam a empresa como um todo e que
tenham impacte na imagem para os clientes.
O Grupo BA Glass considera a vertente ambiental como parte integrante da sua gestão
global. Para isso, tem implementado nas 12 fábricas do grupo, um Sistema de Gestão Ambiental
de acordo a ISO 14001, das quais, dez já se encontram certificadas.
• Utilizar os recursos naturais de forma eficaz, promovendo entre outros, a redução dos
consumos de energia e de água;
• Fabricar e desenvolver produtos com o mínimo de impacte ambiental possível,
garantindo o cumprimento dos requisitos legais aplicáveis à atividade;
• Melhorar constantemente o seu desempenho ambiental, com o envolvimento de todos
os colaboradores, tanto nas ações de melhoria contínua como na realização dos objetivos
ambientais periodicamente estabelecidos;
• Implementar programas de formação e sensibilização ambiental dos seus colaboradores,
assegurando que se mantenham, não só profissionalmente preparados, como conscientes
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
O sistema de gestão está integrado com as várias áreas da empresa abrangendo os mais
variados aspetos:
• Ar: emissões difusas e gasosas
• Água: consumo e efluente
• Resíduos: Resíduos industrias banais e perigosos
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
• Existe registo das monitorizações pontuais e da categoria de impacte associada, mas não
existe informação quantitativa compilada sobre o quão prejudicial a atividade da BA
Glass está a ser para o ambiente, para a saúde humana e para os recursos naturais.
Como solução, surge a realização do estudo ACV que, por um lado, engloba não apenas
a fase da produção, mas todos aqueles impactes em que a BA tem responsabilidade direta ou
indireta, e por outro lado, dá uma ideia mais real do impacte, que é complicado ter olhando para
as dezenas de aspetos ambientais isoladamente.
• Apenas os aspetos ambientais relativos à fábrica e com grandes restrições legais ou grande
impacte nos custos são controlados periodicamente e estudados ao longo do tempo. Os
restantes controlos, são feitos de forma pontual e isolada. A visão global é bastante
limitada pelo que a forma como esta metodologia está definida e é comunicada, apresenta
algumas lacunas no que toca ao apoio à tomada de decisão.
Surge a ideia da melhoria do sistema de controlo do impacte ambiental, que de uma forma
simples, muito visual, com a dimensão temporal, que possibilitasse uma visão global rica em
informação de qualidade para o acompanhamento da situação e possivelmente para a tomada
de decisão.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Como referido anteriormente, existem vários tipos de ACV, mas para o estudo em questão
foi selecionado aquele que melhor representa a responsabilidade da BA perante o cliente,
considerando-se todos os impactes até que o produto é entregue ao cliente, ou seja, desde a
extração das matérias primas até à fronteira das responsabilidades da BA, neste caso está-se a
referir a um estudo do tipo berço-ao-portão (cradle-to-gate). Na figura 11 estão representados
esquematicamente exemplos dos diferentes tipos de ACV aplicados ao ciclo do vidro em
estudo, é possível identificar os processos que considerados para o estudo cradle-to-gate.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Para a realização do estudo, foi utilizado o software online Instant LCA Packaging
Version 1.12.1 fornecido pela FEVE (The European container glass federation) especialmente
desenvolvido, pela RDC Environment (www.rdcenvironment.be), para a indústria do vidro de
embalagem.
O software facilitou a obtenção de resultados. O facto de estar pensado para esta
indústria específica fez com que as linhas orientadoras do estudo já estivessem bastante pré-
definidas. Contudo, também apresenta algumas limitações. O nível de detalhe não é muito
elevado, os inputs estão limitados aos já estabelecidos a priori e não existe acesso a muitos dos
pressupostos e à metodologia por detrás do software. A questão das limitações vai ser explorada
mais à frente.
No software é possível introduzir uma série de inputs que envolvam, nalguns casos,
complexas pesquisa de dados ou tratamento dos mesmos.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Com estes inputs o software fornece o impacte ambiental em cada uma das categorias.
O facto de a lista de inputs ser limitada traduz-se numa limitação deste software que mais à
frente será apontada.
Neste estudo a unidade funcional é definida por uma garrafa de vidro com capacidade
para embalar um litro de vinho, ou seja, o resultado final é apresentado em unidades por garrafa
de 1 litro. Não alterando a unidade funcional, mas por questões de representatividade, a
referência sobre qual foram calculados a generalidade dos inputs foi uma garrafa de vidro
bordalesa (GME 50.1) de 750 ml destinada ao engarrafamento de vinho, cor verde uva, peso de
386 gramas e referência 7726 B123 (figura 13). O software está preparado para fazer a
conversão dos dados dada a variação das capacidades entre a unidade funcional e a utilizada
para os cálculos.
É importante ressalvar que este estudo não é sobre o ciclo de vida de uma garrafa de
vinho cheia. Esta pequena alteração da unidade funcional faz toda a diferença. O ciclo de vida
de uma garrafa de vinho engloba tudo o que está associado à produção do vinho. Esta nota é
relevante uma vez que a viticultura representa, para este caso, o maior impacte ambiental (mais
de 50%, seguida da produção da garrafa (4% a 26%) e da produção do vinho e distribuição)
(Neto, Dias, e Machado 2013).
As fronteiras foram definidas por forma a incluir todo o percurso do ciclo de vida pela
qual a BA tem que responder perante o cliente e consegue de facto ter influência sobre as
decisões tomadas. Isto inclui as seguintes fases assinaladas na figura 14 (desde a entrada do
casco na composição até à entrega ao cliente).
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Figura 14 - Esquema com as fases do ciclo de vida de uma garrafa de vidro representadas. As caixas assinaladas
indicam as fases sobre o qual o projeto se debruçou.
Tendo definido esta fronteira, apenas foram considerados da lista de inputs os seguintes
grupos: dados gerais, embalagem primária, consumos da fábrica, embalagem secundária e
transporte do produto vazio.
Inventário
Após a fase de pesquisa e tratamento de dados, seria suposto apresentar nesta fase uma
tabela que sumariasse as quantidades de todos os compostos, por unidade funcional, que
originam impacte. Posteriormente, através do respetivo facto de caracterização irá ser associado
a uma categoria de impacte. Seria o exemplo das emissões totais de NOx para a atmosfera que
em certa parte vão ter impacte na categoria “acidificação”.
Neste projeto, esta informação não está disponível pois o simulador oculta os passos
intermédios apresentando já os resultados finais em cada categoria. No entanto, perceber que
compostos têm impacto em cada categoria é fundamental para interpretar os resultados, e por
isso, essa informação foi obtida baseada num estudo semelhante (produção de vidro de
embalagem, na Alemanha, cor verde e considerando apenas a fase de produção e a metodologia
ILCD) da base de dados Ecoinvent 3 realizado com o software Simapro -“1 kg Packaging glass,
green {DE}| production | Alloc Rec, U (of project Ecoinvent 3 - allocation, recycled content -
unit) “
Deste estudo conseguiu-se obter quais as fases responsáveis e em que percentagem cada
uma contribui para o impacte em cada categoria. Cruzando informação também foi possível
saber quais os componentes que mais contribuem para cada categoria. A informação foi
compilada na tabela 1.
Esta tabela irá revelar-se importante para a fase de interpretação dos resultados e discussão.
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Tabela 1 - Origem do impacte ambiental de cada categoria segundo o estudo standard do software
SigmaPro
Cut off
Para realização do estudo, é importante definir um critério de Cut off para saber até que
nível de detalhe se deve considerar na pesquisa de dados. Durante o estudo foi necessário aplicar
o critério várias vezes, pelo que, na maioria foi utilizada a regra de Pareto para definir até onde
considerar os dados visto as listas serem extensas, e terem muitos valores residuais. Foi o caso
da distância a clientes, distância a fornecedores e matérias primas a considerar. Quanto à regra
dos inputs a ter em conta, não foi preciso definir um critério pois o software já definia quais os
parâmetros necessários. No entanto, por esses não abrangerem a totalidade dos parâmetros
foram considerados alguns adicionais para os estudos comparativos.
Qualidade da informação
o número de encomendas não coincide com o número de viagens devido a numa viagem serem
entregues vários produtos. Também não se conhece a origem das matérias primas,
especialmente o caso das importações, conhecendo-se o país de origem, mas não o percurso das
matérias primas desde lá.
Outro fator que gera incerteza é a duração do tempo de produção usado para os cálculos.
O caso de Villafranca é mais propício a desvios pois o período de estudo é de 37 dias, muito
inferior aos 176 dias em Avintes. Os valores de consumos específicos são todos por tonelada
de vidro fundido ou por garrafa, quanto menor for o período maior a incerteza dos valores.
Corre-se sempre o risco de o período selecionado estar fora dos padrões normais e estar-se a
inferir com base numa amostra não representativa do normal funcionamento da fábrica.
Por fim, existe também um detalhe com grande impacte na incerteza que é a unidade
funcional. A informação é sempre tratada de forma a isolar os consumos e impactes que a
referência em estudo (7726) tem, não o impacte médio referente a todas as garrafas a serem
produzidas naquele período na fábrica. Isto é importante, pois para compararmos as duas
fábricas devemos ter a mesma referência. O que acontece, é que alguma da informação não é
suficientemente detalhada como é o caso do consumo energético do forno, eletricidade ou até
consumo de água. Seria muito difícil, por exemplo, saber o consumo de água específico daquela
referência. Tem-se sim o consumo total da fábrica ou do forno e com esse valor total geral é
feito um cálculo de proporção ajustando o consumo à quantidade produzida (kg) da referência
em estudo.
Quanto mais avançada é a fase do estudo maior vai ser a incerteza relativa aos valores.
Este software não considera incerteza pelo que não foi tida em atenção, mesmo que se admita
que exista.
Pressupostos
Os pressupostos num estudo deste tipo são inevitáveis, é impensável medir as emissões
de cada camião então é necessário recorrer a dados médios já estabelecidos, no entanto isto
reduz o rigor do estudo, especialmente usando o já referido software que assume todos os
pressupostos relativos aos cálculos e que não permite ao utilizador ter acesso nem alterar os
mesmos. Os pressupostos definidos estão segundo o ILCD handbook, no entanto há alguma
flexibilidade no que toca aos dados utilizados.
Estes são alguns dos pressupostos que mais preocupam este estudo:
25
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Como estes, existem muitos mais pressupostos que estão implícitos no software, mas aos
quais o utilizador não tem acesso nem percebe as implicações.
Metodologia
Os estudos comparativos, surgiram da necessidade de comparar os resultados do software
com dados operacionais das fábricas, Avintes (AV) e Villafranca de Los Barros (VF). Com os
dados operacionais, pretende-se comparar as duas fábricas nos diversos aspetos, tanto os que
são considerados como inputs no software, como aqueles que não o são, mas que merecem
atenção.
Foram primeiramente identificados quais os fatores operacionais que têm grande
relevância no impacte ambiental. Seguidamente foram coletados os dados e foi tratada a
informação por forma a obter os indicadores mais corretos para comparar as duas fábricas.
Os fatores analisados nas duas fábricas foram:
• Perda de produção (rendimento),
• Produção de resíduos,
• Consumos, emissões e eficiência dos fornos;
• Distâncias a clientes, a fornecedores e a matérias primas
• Utilização de matéria prima reciclada.
26
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Indicadores AV VF unidades
Produção de resíduos (excluindo casco interno) 4,823 2,854 kgs/tvf*
taxa de valorização dos recursos (excluindo casco interno) 0,727 0,440 %
Produção de resíduos de cartão 0,438 0,245 Kg/tvf*
Produção de resíduos de plástico 0,600 0,160 kg/tvf*
% média de casco 65% 34% %
taxa de garrafas que percorre o processo mais que uma vez 10 6 %
intensidade carbónica 1,9 2,3 ton Co2/TEP
Emissão CO2 0,305 0,344 t CO2/tvf*
Consumo eletricidade 0,06 0,05 TEP/tvf*
Consumo gás natural 0,032 0,031 TEP/tvf*
Distancia média a clientes 542 558 kms
Distancia média a matérias primas 339 423 kms
Distancia média a fornecedores 53 132 kms
*tonelada de vidro fundido (tvf)
Para uma visão mais global da comparação, foi construído um gráfico da figura 15 onde
é possível ver as diferenças percentuais entre cada fábrica em cada parâmetro. O valor
percentual reflete o peso de cada fábrica no valor total de cada indicador.
27
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
100%
Comparação relativa entre fábricas
90%
80%
70%
60%
50% AV
40% VF
30%
20%
10%
0%
Segundo os parâmetros estudados nesta fase, Avintes (AV) tem na generalidade pior
desempenho, com exceção relativa à eficiência, emissão CO2, intensidade carbónica e
distâncias médias. No entanto não se pode tirar uma conclusão ao nível do impacte ambiental
pois nesta fase está-se a olhar para inputs e não para consequências no ambiente. Essa análise
dos resultados será feita de seguida, contudo, esta informação é útil exatamente para explicar
os resultados baseando-se nos diversos inputs que os originam.
categoria AV VF Unidade
Efeito de estufa 446,2764 467,8264 (g eq CO2 / litro embalado)
Eutrofização de água doce 0,010838401 0,010388401 (g eq P / litro embalado)
Eutrofização das águas marinhas 0,76350166 0,79880166 (g eq N / litro embalado)
Escassez de recursos – (Reserve base) 0,057403841 0,047503841 (g eq Sb / litro embalado)
Escassez de recursos – (Ultimate
1,2354185 1,2249185 (g eq Sb / litro embalado)
reserve)
Consumo de água 2,82392 3,19032 (litros / litro embalado)
(g eq NMVOC / litro
Formação de ozono fotoquímico 1,9443103 2,0069103
embalado)
Toxicidade humana 2,7802E-08 2,62596E-08 (CTU / litro embalado)
Ecotoxicidade 0,063490326 0,061590326 (CTU / litro embalado)
Acidificação 0,003006187 0,003106187 (mol H+ Eq / litro embalado)
28
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Para uma fácil perceção das variações relativas entre as duas fábricas estudadas,
apresenta-se o gráfico da figura 16. Verifica-se, no geral, que não existe uma clara diferença de
desempenho ambiental. AV tem melhor desempenho em quatro categorias, enquanto VF tem
melhor desempenho nas restantes seis. É de destacar a diferença entre fábricas, superior a 10%,
nas categorias de consumo de água e exploração de recursos (reserve base).
O software também disponibiliza, de uma forma não muito detalhada, a origem dos
impactes. Agrupados em três grandes categorias, contribuição da produção da embalagem de
vidro, da produção dos materiais para embalagem e do fim de vida. A produção da embalagem,
e tudo o que a mesma envolve, contribui em cerca de 80% na maioria das categorias sendo o
restante da responsabilidade do embalamento. No caso da ecotoxicidade, consumo de água, e
da eutrofização da água doce a embalagem toma um papel mais significativo, cerca de 40%.
No gráfico da figura 17, ao observar-se as colunas amarelas com um peso negativo no
impacte, consegue-se ter a clara perceção que o facto de haver a reintrodução de vidro reciclado
no processo favorece o impacte (podendo chegar aos 10% nalgumas categorias) no sentido em
que poupa o consumo de matérias primas virgens e reduz uma série de impactes. Esta
compensação é sempre feita comparando com um cenário hipotético onde se usaria 100%
matérias primas virgens. Assume-se assim que usar casco é estar a contribuir positivamente
para o impacte.
Figura 17 - Gráfico com origem percentual do impacte por categoria – coluna superior representa Avintes e a
inferior representa Villafranca.
29
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Efeito de estufa
mais eficientes poupando nos consumos. Se AV tem maior consumo de gás natural por tvf fica
explicado porque é que também existe uma maior contribuição para as emissões relativas à
combustão de gás natural, do que em VF.
Apesar dos valores de CO2, durante a produção da garrafa, coincidirem com o resultado
do estudo ACV, os do consumo energético contradizem-no (AV tem mais consumo de
electricidade por kg de vidro fundido que VF). No entanto pela eletrecidade ter um menor peso
no impacte é possível que a diferença não seja suficiente para compensar a diferença relativa
ao CO2 durante a produção da garrafa.
Figura 24 - Repartição da energia comercializada pela Endesa Energia por tecnologia – 2015. («Rotulagem da
energia» 2017)
31
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Escassez de água
32
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Acidificação
Ecotoxicidade
Os principais contribuintes para esta categoria são a produção de cartão e polietileno,
representando 33% e 11% respectivamente, que posteriormente vão ser utilizados para o
embalamento das paletes. Como já referido, não existem diferenças consideráveis ao nível do
processo de embalamento entre as duas unidades e os valores dos inputs associados utilizados
no software foram iguais. Posto isto, está-se perante uma situação frequente neste estudo que
merece reflexão. Ter que se entrar num elevado nível de detalhe para tentar justificar uma
diminuta diferença perde significância visto a incerteza dos dados ser elevada e por isso não
33
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
permitir trabalhar neste nível de rigor. Mas, seguindo a metodologia utilizada até agora, recorre-
se à terceira causa com maior peso – utilização de casco escolhido (9%). A utilização de casco
requer a sua limpeza e consequente contaminação de água. Esta é uma possível explicação para
o facto de AV ter maior impacte tendo também maior consumo de casco.
Toxicidade Humana
Analisadas as causas, tanto para os efeitos cancerígenos como para os não-
cancerígenos, conclui-se que a produção de cartão e de polietileno são os principais
responsáveis e como tal, a justificação a variação nesta categoria é inconclusiva visto não terem
sido consideradas diferenças na fase de embalamento.
Visão global
Os aspetos ambientais significativos da atividade de produção de vidro de embalagem
são as: emissões gasosas, o consumo intensivo de energia e recursos naturais. O SO2, NOx,
CO2, cloretos e fluoretos são os parâmetros críticos ao nível das emissões gasosas.
Resíduos sólidos e consumo/tratamento de água são questões relativamente controladas.
A BA tem implementado, em todas as suas instalações, um Sistema de Gestão de Resíduos que
lhe permite a separação por tipo de resíduo, por forma a controlar o seu volume e aumentar a
sua valorização. A BA procura, sempre que possível, a valorização dos resíduos gerados, sendo
alguns deles valorizados internamente, como é o caso dos resíduos gerados na produção de
vidro (casco interno), nos precipitadores electroestáticos e nas estações de tratamento de águas
residuais industriais (ETARI´s). A taxa de valorização de resíduos gerados na sua atividade é
bastante elevada, cerca de 99%. Apenas uma pequena parte segue para aterro.
As instalações fabris da BA encontram-se abrangidas pela Diretiva do Comércio
Europeu de Licenças de Emissões de Dióxido de Carbono (CO2). Para o efeito, a BA tem
implementado um sistema de gestão que permite monitorizar os valores de emissão de CO2.
Todas as instalações possuem um filtro eletrostático de redução de partículas e forno com
queimadores de baixo NOx.
Solução técnicas podem ser utilizadas para minimizar estas emissões, mas cada uma
delas tem diferentes impactes financeiros e ambientais associados. Ao longo dos últimos anos
o sector tem evoluído no sentido de melhorar eficiência, reduzir emissões e consumos. É o caso
do aumento da utilização de casco na produção do vidro, atualmente a média europeia encontra-
se nos 50%, existindo algumas fábricas a atingir os 80%. (Scalet et al. 2013)
Um dos principais objetivos da BA é a diminuição do consumo energético e de água.
Para o efeito, a BA tem realizado investimentos nas suas instalações, com aplicação de algumas
das melhores tecnologias disponíveis, assim como melhorado a monitorização destes
parâmetros. O consumo de água é maioritariamente para o circuito de refrigeração. Contudo,
existe posteriormente um tratamento eficaz da mesma pelo que também não é considerado um
ponto crítico.
A melhoria contínua do desempenho ambiental é um dos compromissos assumidos por
todo o grupo. Isto é prova que a BA está alinhada com os pontos que merecem mais atenção do
ponto de vista ambiental identificados no estudo. Cada vez as exigências serão maiores e por
isso deve continuar a empenhar-se na melhoria dos diversos aspetos considerados acima.
34
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Os estudos ACV têm guidelines definidas, mas ainda existe muita flexibilidade o que
torna bastante inconsistentes e não exaustivos. Têm por base pressupostos, fronteiras, critérios
e metodologias que introduzem incerteza ao longo de todas as fases. É fundamental num
trabalho destes fazer uma critica ao próprio estudo percebendo até que ponto podemos confiar
nele e quais as suas limitações.
Serão agora apresentados os principais pontos críticos deste estudo juntamente com
algumas considerações relevantes.
Este estudo ACV, não pode ser usado cegamente para tomar decisões relativas ao
processo pois não tem esse nível de detalhe requerido, para isso é necessário usar um software
detalhado para que se possa posteriormente comparar resultados. No entanto com a informação
dos estudos comparativos já é possível tirar conclusões sustentadas.
Outro ponto fraco é o facto de não haver uma comunicação explícita da fronteira do
sistema por parte do software utilizado. São conhecidas as fronteiras genéricas do estudo, mas
não se sabe o que é considerado e o que não é com muito rigor. Num estudo de impacte
ambiental a fronteira é importante pois vai definir grandes variações no resultado final.
Considerar o normal funcionamento de uma fábrica é diferente de incluir a renovação dos
fornos da mesma; considerar as emissões gasosas da distribuição é diferente de considerar desde
a produção do camião até ao consumo de combustível e pneus.
De uma forma geral o programa não considera muitos inputs que faria sentido
diferenciar de fábrica para fábrica. Produção de resíduos, valores reais de emissões, distância a
matérias primas, dimensão dos fornos, são alguns exemplos de valores que vêm predefinidos e
não são parametrizáveis. Também não é possível alterar os inputs que o programa tem
definidos. Idealmente poder-se-ia decidir quais os inputs a considerar e nos quais se poderia
relaxar e considerar médias europeias.
No que toca, concretamente, à comparação entre fábricas é bastante limitativo pela falta
de definição do software. Diferenças nos inputs gerais não existem muitas e por isso a diferença
entre os valores de impacte dos resultados pode ser ilusória pois nem todas as diferenças reais
35
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
entram no estudo. Há variação nos inputs que não são considerados e daí a necessidade de terem
sido feitos estudos comparativos por forma a ter informação detalhada sobre as duas fábricas.
Este estudo deve ser encarado com algum espírito crítico e devem ser consideradas as
suas limitações antes de serem tomadas decisões. No entanto, foi desenhado para a indústria do
vidro de embalagem por isso está bastante adaptado e consegue transmitir uma ideia da ordem
de grandeza dos valores do impacte que a produção de uma garrafa tem.
Tendo em consideração todas estas limitações, foram feitos os possíveis para mitigar as
mesmas. Todos os resultados nas diferentes categorias foram analisados e validou-se a
concordância com valores registados operacionalmente em cada fábrica. Os estudos
comparativos também foram importantes para ajudar a perceber as diferenças entre dados
operacionais das duas fábricas.
os gases que saem do forno, passam no recuperador para aquecer o ar, esse ar que alimenta a
combustão. No entanto os gases saem depois pela chaminé ainda a cerca de 300-400ºC o que
ainda é uma temperatura útil que está a ser desperdiçada. Pode ser aproveitada para diversas
aplicações:
a) Geração de energia elétrica com a instalação de uma turbina
Recorrer a uma turbina para geração de eletricidade é uma opção fazível e já existente nalgumas
fábricas do género. O investimento é avultado, mais de 1 milhão de euros, com períodos de
payback em função dos preços da energia. Na Alemanha está estimado em 10 anos (fonte:
documentos internos da BA Glass).
b) Aquecimento da instalação
Aproveitar o calor para aquecimento da temperatura ambiente da fábrica é outra
hipótese que já existe noutras fábricas do grupo (recomendado para países de muito frio).
c) Pré-aquecimento das matérias primas
Pode também ser utilizado para pré-aquecimento das matérias primas, por forma a
entrarem no forno a uma temperatura mais elevada poupando energia para o aquecimento das
mesmas. Estima-se uma redução do consumo específico de 10 a 20% (e consequente CO2 e
NOx) (fonte: documentos internos da BA Glass). Esta solução envolve estudo técnico e
económico da solução pois exige um investimento na adaptação da estrutura dos silos e na
chaminé dos gases.
d) Outras possibilidades de aproveitamento do calor libertado pelos gases de combustão,
poderão ser o aquecimento da arca de recozimento, não dispensando a utilização de gás natural
para atingir a temperatura de recozimento e para ser possível regular com rigor a mesma, e o
aquecimento das estufas dos moldes. Ambas as ideias requerem um estudo aprofundado da sua
viabilidade técnica e económica.
Figura 31 - Curvas de tendência para a energia total necessária para a fusão, na produção de vidro.
Consumo de energia específico em relação à tiragem do forno. Fonte: (Scalet et al. 2013)
39
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
4.3.1 Metodologia
A ideia por detrás das melhorias do sistema de controlo de impacte ambiental é que
apenas conseguimos controlar o que conseguimos medir.
O primeiro passo foi analisar a situação atual relativa ao controlo do impacte ambiental.
Para o efeito procedeu-se à realização de uma análise SWOT ao sistema de controlo no qual
foram identificados os pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças.
40
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Depois de toda a reflexão que este estudo incita sobre o ciclo do vidro chegou-se à
conclusão que existiam várias oportunidades de melhoria na abrangência dos indicadores entre
outras. Transferiu-se a visão global do ACV para o sistema de controlo, tornando-o mais
abrangente e não apenas focado nos indicadores reativos à fábrica. Foram então, depois de
estudadas as necessidades, sugeridos novos indicadores e melhorados os existentes assim como
a forma como a informação poderá ser apresentada.
Pontos fortes
• Principais indicadores ambientais estão representados na lista de KPI’s da fábrica
• Os parâmetros estão representados pela totalidade e por tonelada de vidro fundido
• Existe informação registada com qualidade
• Os dados estão desagregados por fábrica e por mês
Pontos fracos
• Dificuldade em monitorizar em contínuo outros parâmetros da gestão do forno.
• Pouco interativo e nota-se incoerência no tipo de gráficos. O valor total deveria ser
sempre representado em coluna e o específico sob a forma de linha.
• Não existe uma perspetiva temporal de fácil perceção. Apenas no relatório de
sustentabilidade, mas nesse caso os dados já não estão desagregados por fabrico e
apenas mostram a nível do grupo BA.
• Não há objetivos definidos para todos os parâmetros, como por exemplo resíduos.
• Os indicadores atuais apenas refletem o impacte relativo à fase de produção
41
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Oportunidades
• Folha de KPI’s da fábrica condensa muita informação, mas acaba por ser possível tornar
a leitura mais fácil. Pode ser melhorada graficamente.
• A perceção da evolução temporal do desempenho de um indicador é fundamental para
este tipo de análise de alto nível e pode ser melhorada através da introdução de gráficos.
• Questões ambientais estão cada vez mais a ganhar relevância na gestão da empresa.
Ameaças
• Redução dos valores limites de emissão estabelecidos pela legislação em vigor
• Alteração da legislação no sentido de obrigarem à monitorização em contínuo dos gases
emitidos o que acarreta custos adicionais.
• Custo e complexidade adicional que o registo e tratamento da informação pode vir a
acarretar.
Optou-se por não sugerir um sistema completamente novo, mas sim ajustar e melhorar
o já existente.
Relativamente ao “environment report” foram feitos 3 tipos de sugestões, melhorias nos
indicadores já existente quando necessário, adição de indicadores e disponibilização de mais
informação enriquecendo o relatório e alterações no aspeto gráfico e como a informação é
comunicada.
42
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
tem uma meta definida, mas que deveria ser estabelecida para incentivar mais à redução do
mesmo.
43
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
• Colocar referência ao objetivo pretendido para cada indicador para ser possível perceber
se naquele mês cada fábrica cumpriu a meta estabelecida. A cor da célula altera
automaticamente caso o objetivo seja atingido ou não para facilitar a leitura.
• Acrescentar colunas com informação dos últimos 3 meses relativos àquele indicador
naquela fábrica. A noção de evolução é fundamental e apenas é representada na ficha de
KPI’s, no entanto, não é sob a forma de gráfico e apenas tem os principais KPIs
ambientais que afetam o negócio.
• Ser consistente no tipo de indicador relativo à sua representação no gráfico. Representar
os indicadores específicos (unidades por tonelada de produção útil) sempre com uma
linha e os indicadores totais com colunas.
A ideia é tentar
acompanhar com indicadores o
ciclo de vida da garrafa, o
esquema da figura 32 sugere
isso mesmo. Apenas é de
interesse controlar no
quotidiano os fatores em que a
BA tem influência, daí não
fazer sentido para este caso
apresentar por exemplo
indicadores de eficiência da
fase de engarrafamento, ou,
quantidade de recursos
utilizados para o embalamento
das garrafas para distribuição.
Existe uma forte correlação entre a redução do impacte ambiental com a redução de
custos. Foram analisados alguns indicadores focando a atenção nos impactes económicos que
iriam ter.
Ao reduzir-se o consumo energia está-se a aumentar a eficiência do processo e a reduzir
custos. Os gastos a este nível são muito significativos e por isso deve haver um esforço cada
vez maior para otimizar os consumos. A redução do consumo de água é outra forma de reduzir
custos. A emissão de CO2 prende-se, em grande parte, com utilização de matérias primas
carbonatadas e com a combustão do gás natural. Ao utilizar menos matérias primas, ou seja, ao
utilizar maior percentagem de casco, vai-se reduzir o custo pois o casco fica mais barato, e se
44
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
for mais eficiente vai-se reduzir o consumo de gás natural o que reduz igualmente o custo. Por
sua vez, ao utilizar mais casco e ao ser mais eficiente, permite aumentar a tiragem que favorece
os indicadores produtivos.
Relativamente à produção de resíduos, se aumentar a percentagem de valorização
ganha-se de duas formas, evita-se o pagamento do envio para aterro e as empresas recicladoras
pagam pelos resíduos. Por outro lado, quanto melhor a eficiência da produção, menor vai ser a
produção de resíduos. Isto pois grande parte dos mesmos são relativos à embalagem. O que
acontece é que alguns dos defeitos são detetados com um grande atraso e as garrafas daquela
produção já se encontram embaladas, o que implica que sejam desembaladas, analisadas e
reintroduzidas na linha de produção caso estejam conformes. Os plásticos e cartão ficam
inutilizáveis e são considerados resíduos. Daí o facto de, se o rendimento aumentar, irão surgir
menos defeitos e menos paletes vão ter que ser reescolhidas. Existem opções de embalamento
que não implicam tanto material, no entanto requer negociação e sensibilização do cliente para
em conjunto ser definida opções alternativas de embalamento.
No que toca à distância das viagens, é preciso ter atenção pois a correlação com redução
de custos não é necessariamente verdade. Por vezes os fornecedores mais baratos/apropriados
ou os clientes mais rentáveis não são os que estão mais perto. No entanto, deve ser feito sempre
um esforço para considerar esse fator até porque a viagem tem muitas vezes impacte no custo
do serviço ou no preço de venda.
Todas as opções podem envolver investimentos iniciais pelo que deve ser calculado o
tempo de amortização.
A melhoria do impacte ambiental deve não apenas ser vista como uma questão
ecológica, mas também como uma melhoria contínua dos processos.
Figura 33 - Exemplificação das melhorias implementadas no relatório ambiental. (fonte: documentos internos)
Com este novo modelo de gráfico pretendeu-se comunicar, num único esquema, toda a
informação principal relativa a um tema ambiental, tendo como exemplo o consumo energético.
45
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
Consegue-se agora, ter perceção da evolução, fazer a rápida comparação entre fábricas e validar
facilmente se o desempenho está a cima ou a baixo do esperado.
Como referido, os indicadores ambientais não são controlados apenas isoladamente no
relatório ambiental, mas entram também (os mais relevantes) para a folha de KPI’s da fábrica.
Existiam também, melhorias a fazer que foram implementadas, e pode-se ver o resultado nas
imagens 34 e 35:
Figura 34 – Exemplificação das melhorias implementadas na folha central de indicadores fabris. (fonte:
documentos internos)
46
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
É fundamental que estes documentos centrais tenham por base os vários documentos
operacionais de cada fábrica, mas que exista uma normalização na estrutura e metodologia de
registo dos dados para uma fácil integração dos vários documentos.
Existe a ideia utópica de reduzir todo o impacte ambiental a um único indicador (algo
do género de “pegada ecológica”). Com os indicadores atuais consegue-se perceber se cada um
está a melhorar ou não, mas não se consegue ter um meio de comparação entre eles para
perceber se afinal de contas o desempenho ambiental está a melhorar ou não. No entanto, o foco
aqui deve ser medir aquilo que se quer gerir e onde a BA tem influência na tomada de decisão,
com bom nível de detalhe para ser possível ir à origem da alteração.
Concluindo, para se ter um controlo eficaz é necessário não apenas ter informação de
qualidade, mas também esta estar organizada de forma adequada e finalmente a sua
comunicação estar alinhada com o objetivo e ser o mais eficiente possível. Este projeto passou
por várias fases que deram inputs e contribuíram para que no final se culminasse num sistema
de controlo ambiental mais completo e eficiente.
47
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
5 Conclusões
O presente capítulo compila as principais conclusões, em forma de visão global, que
foram tiradas no decorrer deste projeto.
As empresas apresentam uma responsabilidade ambiental cada vez maior, uma vez que
os requisitos legais são cada vez mais exigentes, pelos clientes que se preocupam com o impacte
ao longo da supply chain, pela concorrência que muitas vezes utiliza o desempenho ambiental
como uma vantagem competitiva, e pelos próprios stakeholders cada vez mais
consciencializados para este tema.
O projeto assumiu três desafios principais: avaliar o impacte ambiental do ciclo de vida
de uma garrafa de vidro, comparar o estudo realizado para duas fábricas do grupo sugerindo
também melhorias nesse âmbito e melhorar o sistema de controlo do impacte ambiental.
Relativamente à avaliação do ciclo de vida do tipo cradle-to-gate foram apresentados os
resultados do estudo nas diversas categorias de impacte (nomeadamente efeito de estufa,
acidificação, escassez de recursos, etc). O estudo integrou não todas as fases do ciclo de vida
mas apenas nas quais a empresa tinha responsabilidade e controlo direto, ou seja, desde a
extração de matérias primas até à entrega ao cliente. Concluiu-se que o software utilizado tinha
limitações que restringem a utilização do mesmo para tomada de decisão devido à falta de,
detalhe a adaptabilidade às diferentes condições existentes nas várias unidades fabris. Este
mesmo estudo não deve ser comparado com outros, pois os métodos utilizados pelas diferentes
empresas são inconsistentes e pode-se incorrer facilmente em erros grosseiros. No entanto, tem
por base os pressupostos da indústria do vidro de embalagem por isso é recomendado para
fornecer uma ideia do impacte que tem a produção de uma garrafa de vidro.
O estudo abrangeu duas unidades fabris e daí surgiu a possibilidade de comparação entre
as mesmas. Analisaram-se os valores operacionais e os valores dos resultados do estudo para
cada fábrica. Confrontaram-se ambos para explicar as diferenças encontradas entre os dois
locais. Os resultados do estudo dão a entender que não existe uma fábrica melhor que a outra
de uma forma global. Villafranca, por exemplo, tem um ligeiro pior desempenho ao nível do
efeito de estufa, mas noutras categorias, como o consumo de água e escassez de recursos,
temvariações significativas na ordem dos 15%.
O foco das atenções devem ser o consumo energético, emissões de SO2, NOx, CO2 e
partículas. Do ponto de vista geral as duas fábricas estão equilibradas pois VF apesar de ter
valores mais elevados de emissões de gases, principalmente, devido a utilizar uma menor
percentagem de casco, tem fornos mais eficientes e que consomem consideravelmente menos
gás e menos eletricidade acabando por compensar a utilização de mais matérias primas virgens.
Devido ao software ser rígido nos inputs a considerar e nos pressupostos acaba por não ter
sensibilidade suficiente para distinguir a desempenho entre fábricas como esperado. Conclui-
48
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
se, portanto, que o estudo ACV não deve ser utilizado cegamente para tomada de decisão por
falta de rigor, mas deve sim, ser transportados indicadores representativos do impacte ambiental
ao longo do ciclo de vida para o sistema de controlo por forma a, de forma rigorosa se conseguir
integrar cada vez mais a questão ambiental na tomada de decisões.
Os indicadores têm um papel central na gestão de uma empresa e as decisões tomam-se
olhando para eles. Se os indicadores ambientais forem escassos ou não forem considerados, o
tema não vai ter peso na tomada de decisão. Só assim é que o tema ganha relevância. Daí a
importância da inclusão de mais indicadores, (distância a clientes, fornecedores e matérias
primas; % de rotas por otimizar; tonCO2/TEP consumido no forno) e a melhoria dos já
existentes (comunicar mais informação de qualidade e de forma mais eficiente). As referias
melhorias tiveram a apreciação do diretor fabril e de seguida a ideia foi apresentada ao
departamento de controlo de gestão com o objetivo de ser estudado o objetivo de aplicação em
todas as fábricas do grupo, incorporando as sugestões centralmente.
Este projeto vaio realçar a importância das melhorias de desempenho se traduzirem em
melhorias nos KPI’s, se não houver KPI’s não há motivação em melhorar. Os indicadores,
juntamente com os objetivos associados são o motor da mudança numa empresa.
Por final, e depois de identificados os pontos críticos, concluiu-se que a BA Glass está
a empenhar-se na redução dos pontos mais críticos. No entanto existem sempre oportunidades
de melhoria e foram, portanto, sugeridas ideias para potenciais reduções tanto do impacte
ambiental como de custos. Possibilidades de reaproveitamento da entalpia dos gases do forno,
reaproveitamento de águas, implementação de metodologias para ajuda à gestão dos fornos,
formas de apostar na utilização de casco sem prejudicar o risco de não cumprir especificações,
entre outras ideias, que se definiram como plausíveis de serem estudadas e posteriormente
aplicadas.
Na perspetiva de continuação do trabalho desenvolvido, prevê-se que as sugestões de
melhoria do impacte ambiental ao nível dos processos sejam analisadas detalhadamente por
técnicos da área e tiradas as devidas conclusões relativamente à sua viabilidade ambiental e
económica.
As melhorias propostas ao nível do sistema de controlo do impacte ambiental estão em
fase de aprovação e adaptação. Tanto o responsável de ambiente, como o departamento de
controlo de gestão poderão fazer os reajustes necessários e proceder à implementação em fase
piloto na fábrica de Avintes e posteriormente adotar os mesmos procedimentos nas restantes
fábricas caso assim se tenha concluído.
Por forma a comunicar melhor com os stakeholders poderá ser feita e divulgada uma
brochura informativa relacionada com as preocupações ambientais da BA Glass onde conste
informação relativa ao estudo ACV realizado. Seria também, uma mais valia para a imagem da
empresa.
Mais a longo prazo, existem vários trabalhos futuros a que a BA se poderia dedicar:
Tentar representar todos os aspetos ambientais num único indicador simplificando a
análise de inúmeros valores. O indicador, “Desempenho ambiental” daria diferente importância
a cada um dos atuais aspetos ambientais, apresentando-se como um indicador “all-in-one”.
Realizar um estudo com software SimaPro por forma a conseguir ter sensibilidade para
as pequenas alterações nas melhorias dos valores dos inputs, compreendendo melhor que dados
contribuem para que categorias. Fazendo uma atualização periódica dos dados seria possível
estudar a evolução dos impactes ambientais e a sua causa. Este estudo seria também interessante
para enquadrar os resultados do atual estudo, feito com o software fornecido pela FEVE. Um
dos problemas que este trabalho enfrentou foi a dificuldade de partilha de dados relativos a
clientes ou entidades extra-BA. Nem todas as empresas estão abertas a partilhar informação
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
delicada e sensibilizados para estas questões ambientais. Mas existem clientes que estariam
interessados em colaborar, estabelecendo-se uma parceria onde fosse possível integrar
melhorias e fazer uma análise conjunta, partilhando informação e criando sinergias. Neste caso,
já seria possível alargar a fronteira do estudo, sem receio de perder o rigor do mesmo.
A expansão das novas metodologias e melhorias para todas as fábricas, é um passo
fundamental para se conseguir melhorar o impacte ambiental da forma mais eficiente. As
práticas de benchmarking trazem grandes benefícios e a criação de uma equipa BIT
(Benchmarking Implementation Team) para o ambiente iria conseguir disseminar as melhores
práticas por todo o grupo. Trazendo melhorias de desempenho e consequente aumento da
atratividade para os clientes.
A missão deste projeto é, no fim de contas, alterar mentalidades e, passar a mensagem
que o desempenho ambiental está e vai-se tornar cada vez mais um fator chave do negócio da
empresa, e por isso, a BA deve continuar e reforçar o seu foco nesta temática.
50
Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
ANEXO A
Mapa com a percentagem de reciclagem do vidro em 2014
Fonte: («Related images; video Archive - FEVE» 2017)
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
ANEXO B
Exemplo de uma lista de fatores de caracterização utilizados nas etapas de Classificação
e Caracterização.
Fonte: (Cardoso 2015)
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
ANEXO C
Métodos utilizados para a fase de AICV
Fonte: “Life Cycle Assessment of Container Glass in Europe - Methodological report”
(Bettens, F., Bagard 2016)
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ANEXO D
Resultados do estudo ACV calculados com o software Instant LCA.
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ANEXO E
Contribuição das garrafas retornáveis para o impacte ambiental comparado com as não
retornáveis
Fonte: (Mata e Costa 2001)
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Avaliação do ciclo de vida de uma garrafa de vidro e sua integração no processo de tomada de decisão
ANEXO F
Fases de uma Avaliação de Ciclo de Vida
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ANEXO G
Valores da BA Vidro
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ANEXO H
Exemplo de um conjunto de processos unitários num sistema de produto
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ANEXO I
Relatório ambiental mensal
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ANEXO J
Folha central de indicadores fabris
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ANEXO K
Listagem de sugestões de melhorias com vista a redução do impacte ambiental e de custos
Possibilidades de reaproveitamento
Reaproveitamento da entalpia dos gases dos fornos para:
• Aquecimento casco
• Aquecimento da arca
• Aquecimento das estufas dos moldes
• Geração de energia através de uma turbina
Prevenção
• Redução de pó e partículas no ar por via da proteção das zonas de armazenamento e
transporte.
• Conseguir reagir a alterações da cor do casco, diminuindo a variabilidade introduzida
pela utilização de grandes percentagens do mesmo.
• Criação de um buffer onde fosse possível misturar diferentes remessas de cascos para
homogeneizar o máximo possível a sua cor.
Otimização
• Adotar a metodologia “record histórico” das emissões para cada forno.
• Otimização dos retornos dos camiões
• Otimização alocação dos clientes a fábricas mais próximas
• Tentar ter fornecedores de matérias primas o mais próximo possível
• Introdução de mais percentagem de casco sempre que possível
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