Ciências Da Religião - Leonardo Boff
Ciências Da Religião - Leonardo Boff
Ciências Da Religião - Leonardo Boff
Semestral
Publicação da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
CONSELHO EDITORIAL
Alderi de Souza Matos – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Antônio Máspoli de Araújo Gomes – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Arnaldo Érico Huff Júnior – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Eun Yung Park – Universidade de São Paulo (USP)
Hermisten Maia Pereira da Costa – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Jean Paul Willaime – Université Sorbonne Paris IV
João Baptista Borges Pereira – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Julio Paulo Tavares Zabatiero – Escola Superior de Teologia (São Leopoldo)
Louis Painchaud – Université Laval Canadá)
Luis Henrique Dreher – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Marcelo Perine – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Maria Clara Luchetti Bingemer – Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-RJ)
Maria Freire da Silva – Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção
Paulo Jorge Mendes Pinto – Universidade Lusófona de Humanidades
e Tecnologias (Portugal)
Paulo Rodrigues Romeiro – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Ricardo Bitun – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Ricardo Quadros Gouvêa – Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Silvana Gouvea
PROJETO GRÁFICO E CAPA
Libro Comunicação
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS
Nelson Luis Barbosa
DIAGRAMAÇÃO
Know-How Editorial
REVISÃO
Studio Ayres
ARTIGOS
3 Deuses que dançam: da “topia” dos orixás à utopia tópica cristã ................ 52
Gilson Raslan Filho
SUMÁRIO 5
RESENHA
6 SUMÁRIO
ARTICLES
3 Gods dancers body in the religion of the orixás and in the pentecostal
christianity ........................................................................................................ 52
Gilson Raslan Filho
CONTENTS 7
REVIEW
8 CONTENTS
APRESENTAÇÃO 9
10 APRESENTAÇÃO
11
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Heber Carlos de Campos (1997) identifica nos tempos
atuais do cristianismo evangélico profundos sinais de anticon-
fessionalismo. Embora tenham sido uma importante manifes-
tação da Reforma Protestante nos séculos XVI e XVII, confis-
sões de fé e catecismos perderam sua centralidade entre os
1
Destacando-se entre os credos o Credo Apostólico, provavelmente do século II, o Credo de Niceia (325),
o Credo de Constantinopla (381) e o Credo de Calcedônia (451), entre outros.
2
Um catecismo é semelhante a um credo ou a uma confissão, diferindo desses em sua estrutura,
organizada em perguntas e respostas, o que lhe confere um caráter mais pedagógico. Geralmente
catecismos são destinados ao público mais jovem ou menos instruído, enquanto Confissões de Fé
pretendem ser documentos mais elaborados. “Embora tecnicamente distintos das confissões de fé, os
catecismos também foram documentos através dos quais os reformados declararam e confessaram a
sua fé” (MATOS, 2006d).
3
Posteriormente, os congregacionais produziram sua própria confissão de fé a partir da CFW, a cha-
mada Declaração de Savoy, de 1658. Essa é basicamente uma repetição da CFW com pequenas
adaptações referentes às doutrinas congregacionais a respeito do governo da Igreja (presbiteriano no
caso da CFW e independente ou congregacional no caso da Declaração de Savoy).
4. O USO DA CONFISSÃO DE FÉ DE
WESTMINSTER NOS PRIMÓRDIOS DO
PRESBITERIANISMO BRASILEIRO
Conforme foi visto até aqui, o uso de confissões de fé foi
uma característica de grande importância para as Igrejas refor-
madas dos séculos XVI e XVII, assim como para suas Igrejas
filhas nos Estados Unidos durante os séculos XVIII e XIX.
Nesse momento será avaliado o uso da CFW e seus catecismos
especificamente pelos missionários norte-americanos nos pri-
mórdios da Igreja Presbiteriana no Brasil.
Pouco após sua chegada, os missionários da Pcusa for-
maram no Brasil um concílio, o Presbitério do Rio de Janeiro,
ligado ao Sínodo de Baltimore, do tipo Velha Escola4. Com a
organização do presbitério nacional, subordinado ao Sínodo
norte-americano, vinha automaticamente a aceitação dos pa-
drões doutrinários daquele concílio: a CFW e seus catecismos.
Observação semelhante a essa pode ser feita a respeito dos
4
Para uma discussão detalhada em português do cisma entre Nova Escola e Velha Escola, ocorrido no
presbiterianismo norte-americano no século XIX, ver obra de Boanerges Ribeiro (1981).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Confissões de Fé foram uma marca central da Reforma
Protestante dos séculos XVI e XVII. Em seu caminho até o
Brasil, passando pela América do Norte, esses documentos
mantiveram um papel central no cristianismo reformado.
Conforme foi observado aqui, esse aspecto confessional
também marcou as primeiras Igrejas evangélicas do Brasil.
Analisando diferentes áreas de atuação desses primeiros gru-
pos, observa-se um uso bastante pluralizado e cotidiano da
Confissão de fé de Westminster, e mesmo de outros docu-
mentos análogos.
Embora atualmente possam ser observados indícios de
anticonfessionalismo no meio evangélico brasileiro, essa não
seria uma informação verdadeira para os primórdios do pro-
testantismo no Brasil, tomando como base para essa afirmação
uma das primeiras denominações evangélicas a se instalar no
país, a Igreja Presbiteriana do Brasil.
ABSTRACT
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
CAMPOS, H. C. de. A relevância dos credos e confissões.
Fides Reformata, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 97-128, 1997.
COSTA, H. M. P. da. Os símbolos de fé na história. Fides
Reformata, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 51-75, 2004.
DEMAREST, B. A. Christendom’s creeds: their relevance
in the modern word. Journal of the Evangelical Theological
Society, n. 21, p. 345, Dec. 1978.
FERREIRA, J. A. História da Igreja Presbiteriana do Brasil.
São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992.
MATOS, A. S. A pregação dos pioneiros presbiterianos no
Brasil: uma análise preliminar. Fides Reformata, São Paulo,
v. 9, n. 2, p. 57-74, jul./dez. 2004a.
_______. Os pioneiros presbiterianos do Brasil (1859-1900):
missionários, pastores e leigos do século 19. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004b.
_______. Os 67 artigos de Ulrico Zuínglio (1523). Brasil
Presbiteriano, v. 49, n. 617, fev. 2006a. Disponível em:
<http://www.ipb.org.br/versao_pdf/bp_fevereiro2006.pdf>.
Acesso em: 11 ago. 2011.
_______. As dez conclusões de Berna (1528). Brasil
Presbiteriano, v. 49, n. 618, mar. 2006b. Disponível em:
<http://www.ipb.org.br/versao_pdf/bp_marco2006.pdf>.
Acesso em: 11 ago. 2011.
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
A psalmodia ou o cântico de salmos sempre representou
um papel importantíssimo na hinologia da Igreja cristã. Ela
serviu de contexto histórico, teológico e litúrgico tanto para os
grupos que a praticaram como para aqueles que optaram pela
composição de seus hinos.
2. AS CARACTERÍSTICAS E O USO
DO LIVRO DE SALMOS NO CONTEXTO
JUDAICO
No decorrer da história, o Livro de Salmos tem sido o
mais querido pela maioria dos cristãos. Ele tem sido usado
como base para a devocional, como modelo de oração, como
fonte de inspiração musical, como recurso para renovação de
ânimos e de propósitos. Vários de seus versos são sabidos de
cor e há quem conheça salmos inteiros.
Tudo isso se deve à sua linguagem pessoal e aos temas
que são tratados, em muito semelhantes àqueles que as pessoas
têm que tratar. Os salmistas são crentes enfrentando proble-
mas, buscando a Deus e recebendo as suas bênçãos. Por isso, é
grande a identificação com o Livro de Salmos. João Calvino
(1999), na dedicatória a esse livro, afirmou que nele encontra-
mos a anatomia de todas as partes da alma. Ou seja, todos os
sentimentos, condições e situações que o homem pode passar
estão descritos e representados no Livro de Salmos.
O termo saltério diz respeito a qualquer coletânea de
salmos, por isso, tem sido comumente aplicado ao livro bíblico.
O Livro de Salmos é uma coletânea constituída de 150 poe-
mas escritos por crentes israelitas que viveram antes de Jesus
Cristo. Alguns desses poemas trazem a descrição da ocasião de
sua origem, mas, na maioria deles, tal informação é difícil e até
impossível determinar. A maior parte deles, 73, é atribuída a
Davi, mas também são identificados outros autores: Moisés
(1), Salomão (2), Asafe (12), Hemã (1), Etã (1) e os filhos de
3. AS ORIGENS DA PSALMODIA NA
IGREJA CRISTÃ
Se é assim, de onde teria vindo a prática do cântico de
salmos na Igreja cristã?
Stapert (1998, p. 18-19) sugere que os salmos eram tan-
to “música de igreja” quanto “música de casa” para os judeus.
Eles eram parte importante da vida diária de judeus e dos pri-
meiros cristãos. Entre os judeus, é provável que o cântico de
salmos fizesse parte das reuniões familiares para a instrução
religiosa dos filhos. Essa prática de unir o cântico ao ensino
pode ser depreendida de 4 Macabeus 18.15, que “sugere que
não era incomum em uma família devota o pai cantar salmos
para os seus filhos em tais ocasiões. O cântico de salmos pode
portanto ser considerado ter sido um acompanhante normal
da vida religiosa da família na casa” (SMITH, 1984, p. 10).
Ainda que essa prática não possa ser identificada nas pá-
ginas do Antigo Testamento. Podem ser apontados diversos
registros do cântico nas mais diferentes ocasiões da vida coti-
diana de Israel. Essa prática se apresenta em tempos muito
anteriores à institucionalização do cântico no templo de Israel.
Podem-se citar inicialmente o cântico de Moisés e o cântico
de Miriam (Ex. 15.1-21). Moisés também compôs um cântico
registrado em Deuteronômio 32.1-43 e o salmo 90. O Livro
de Samuel registra o cântico de Ana quando gerou seu filho
(1Sm 2.1-10) e o Livro de Crônicas registra cânticos de Davi
em diversas ocasiões. Tais referências servem para mostrar que
as origens do cântico em Israel não estão relacionadas ao cân-
tico no templo. Pelo contrário, tal uso é, na verdade, decor-
rente de uma tradição musical ainda não claramente descrita.
McKinnon (1987, p. 93-94) defende que a relação en-
tre o cântico de salmos pelos cristãos e os costumes judaicos
O que fez o Espírito Santo quando viu que a raça humana não
era conduzida facilmente à virtude, e que, devido à nossa incli-
nação para o prazer, damos pouca atenção a uma vida reta? Ele
misturou a doçura da melodia com a doutrina de modo que
inadvertidamente nós pudéssemos absorver o benefício das pa-
lavras através da gentileza e facilidade de ouvir [...]. Assim ele
criou para nós essas harmoniosas melodias dos salmos, de for-
ma que aqueles que são crianças na sua idade, bem como aque-
les que são jovens em comportamento, ainda que aparecendo
apenas para cantar pudessem ser treinados em suas almas. Pois
Desde que esse tipo de prazer é natural a nossa alma, e para que
os demônios não introduzam cânticos licenciosos e perturbem
tudo, Deus erigiu a barreira dos salmos, de forma que eles pu-
dessem ser uma questão de prazer e proveito. Pois a partir de
músicas estranhas, dano e destruição entram juntamente com
uma coisa temível, pois o que é arbitrário e contrário à lei nessas
canções instala-se nas várias partes da alma, tornando-a fraca e
flexível. Mas dos salmos espirituais pode vir considerável pra-
zer, muito do que é útil, muito do que é santo, e o fundamento
de toda filosofia, enquanto esses textos limpam a alma e o
Espírito Santo paira suavemente sobre a alma que canta tais
canções (WITVLIET, 2007, p. 6).
Eu digo essas coisas, não para que você sozinho cante louvores,
mas para que você ensine seus filhos e esposa também a cantar
tais canções, não somente enquanto costuram ou enquanto en-
gajados em outras tarefas, mas especialmente à mesa. Pois uma
vez que o demônio geralmente se coloca à espreita nos banque-
tes, tendo com seus aliados a bebedeira e a glutonaria, junto
com o riso desordenado e um espírito licencioso, é necessário
especialmente então, antes e depois da refeição, construir uma
defesa contra ele com os salmos, e levantar do banquete junto
com esposa e filhos para cantar hinos sacros a Deus (WITVLIET,
2007, p. 6).
[...] fora dos salmos há silêncio. Onde quer que você vire, o lavrador
canta Aleluia enquanto dirige seu arado; ceifador suado encan-
ta-se com Salmos e o vinhateiro canta algo de “David” enquanto
ele poda a vinha com sua foice (CABANISS, 1985, p. 195).
5. A CONTROVÉRSIA ENTRE O
CÂNTICO DE SALMOS E O
CÂNTICO DE HINOS
A partir do século IV, também se observam registros de
uma relevante controvérsia entre a psalmodia e a hinologia. O
Concílio de Laodiceia (meados do século IV) proibiu, em seu
artigo 59, o cântico de canções não inspiradas ou privadas na
liturgia. O Concílio de Calcedônia (451) e Concílio de Braga
(c. 560) confirmaram essa decisão (SCHAFF, 2002).
Por sua vez, em 633, o Concílio de Toledo, no cânone
17, “rejeitou a posição de que era ilegal cantar hinos compos-
tos por seres humanos simplesmente porque eles não eram
tomados das Escrituras ou autorizadas por longa tradição”
(CABANISS, 1985, p. 205).
A controvérsia, no entanto, perdurou por vários séculos.
No século IX, Agobard (794-840), bispo rigorista de Lyon,
declarou: “A Majestade Divina não deveria ser louvada pelas
fantasias de ninguém, mas pelas prescrições do Espírito Santo”
(CABANISS, 1985, p. 205). Tal declaração, a despeito de não
ter prevalecido na Igreja, tem sido reiterada por muitos indiví-
duos desde então, e, por exemplo, é notadamente similar
àquela adotada pela Confissão de Fé de Westminster (1647)
em seu artigo XXI.1:
7. O USO DA METRIFICAÇÃO
Cabaniss (1985) descreve que na história musical da
Igreja cristã conviveram lado a lado o cântico de salmos em
prosa e o cântico de hinos em versos métricos. Segundo ele,
Uma das razões por trás do surgimento dos hinos métricos foi
o fato de que ele facilitou a memorização. Na última parte do
século VII e início VIII, clérigos instruídos estavam tentando
sua habilidade em transformar salmos e outros cânticos em ver-
sos medidos, aparentemente com este fim em mente. O
Venerável Bede (m. 735) preparou um saltério “em versos sua-
ves” salmo por salmo, embora desde que Alcuin o descreveu
como um pequeno livro, ele pode não ter contido todos os
salmos.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O impacto e a importância do cântico de salmos na prá-
tica litúrgica da Igreja cristã assumem graus diferentes no de-
curso da história e ainda estão envoltos em muitos questiona-
mentos. O senso comum sobre as origens dessa prática na
Igreja tem sido amplamente debatido e carece de uma revisão
que leve em consideração as informações históricas hoje dis-
poníveis. Com esse intuito, o presente artigo buscou apontar
uma alternativa para essa origem no contexto das refeições fa-
miliares, trazendo à luz evidências tanto da ausência dessa prá-
tica no contexto da sinagoga como menções à sua recomenda-
ção nas refeições comunitárias da igreja.
A partir dessa proposta, buscou-se indicar que o valor
primordial dado aos cânticos de salmos não está no contexto
litúrgico, mas no contexto cotidiano, como um instrumento
de formação e moldagem dos valores cristãos. Tal utilização se
fazia, predominantemente, pelo cântico dos salmos do modo
como estavam traduzidos na Bíblia, sendo evitado o uso da
metrificação e da cristianização como é o padrão utilizado em
nossos dias.
ABSTRACT
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO (Sto.). Confissões. São Paulo: Paulus, 1997.
BATE, P. Psalm. In: SADIE, S. The new grove dictionary
of music and musicians. Londres: Macmillian Publishers
Limited, 1980. v. 15, p. 320-337.
BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo:
Aste/Simpósio, 1967.
CABANISS, A. The background of metrical psalmody.
Calvin Theological Journal, v. 20, n. 2, p. 191-206, 1985.
CALVINO, J. The necessity of reforming the church. Dallas:
The Protestant Heritage Press, 1995.
_______. O livro dos Salmos. São Paulo: Edições
Paracleto, 1999. v. 1.
52 APRESENTAÇÃO
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Os orixás e os filhos de santo cantam e dançam para cada
um em todos os rituais. Mais do que isso: o corpo é a própria
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1
Trata-se apenas de uma anotação: seria interessante aprofundar o quanto há de deuses africanos no
cristianismo de base neopentecostal, com suas danças, seus cantos, seus transes, seus rituais corpóreos.
Antônio Risério (2007) aponta nesse sentido quando trata da “morte” dos deuses africanos em território
estadunidense, o que abriu a possibilidade para um cristianismo negro naquele país, mas igualmente
exigiu-se o branqueamento desses negros convertidos. Risério, porém, anota a inventividade dos negros
na sua criação de um protestantismo negro nos Estados Unidos. Talvez seja interessante aprofundar
essa percepção, haja vista a diáspora dos rituais cristãos próprios das Igrejas cristãs negras dos Estados
Unidos para o resto do mundo, o quanto o cristianismo se africanizou e quais foram as consequências
disso para o próprio cristianismo, especialmente em terras brasileiras.
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2
É interessante perceber que um dos principais nomes da Comunidade Canção Nova, Dunga, um
verdadeiro pop star da Comunidade, em um libelo exemplar da moralidade carismática, que aliás
virou programa moral intensivo – o PHN: Por Hoje Não [vou pecar] –, parece trabalhar bem com
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a etimologia do sintagma diabólico. Dunga (2005, p. 12, grifo nosso) diz expressamente: “Hoje, o
mundo secularizado é dominado pelo demônio, que é divisor. Primeiro, ele rompe com os nossos
laços com Deus; depois, divide nossos relacionamentos: esposa e esposa, irmãos, pais e filhos. Este é
o trabalho do diabo. Ele vai nos enfraquecendo até chegarmos à beira da morte”.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se se pode dizer de um projeto pós-modernista, certa-
mente ele se localiza no esforço de desmaterialização da vida,
como bem disse Mooers (2006, p. 17), como um sinônimo de
emancipação: nossos corpos, “liberados dos constrangimentos
de sua corporeidade”, se nos apresenta como nossa liberação
“de várias formas de discriminação corporal expressas no racismo
e sexismo”. Desmaterializados, nossos corpos, transformados
em puro significante, libertos de um passado material incômodo
e de uma necessidade do porvir projetivo, podem enfim se lan-
çar na aventura do instante. O corpo cotidiano se desintegra,
apenas significa – e sobre si vê as marcas daquele para o qual se
dispõe: o consumo sempre porvir. A topia se torna utópica.
Porém, como nos lembra Terry Eagleton (1998, p. 74): “Para
uma nova somatologia, nenhum corpo velho serve. Se o corpo
libidinoso está in, o corpo laborioso está out. Existem corpos
mutilados aos montes, mas poucos corpos subnutridos”.
A natureza é a última fronteira da máquina significante
pós-modernista – mas, contraditoriamente, a transformação
da matéria em signo, da determinação em produto da vonta-
de, esconde atrás de si a naturalização das relações sociais mer-
cantilizadas. Estranhamente, a transformação do corpo em sig-
no faz dele não uma potência real, mas uma determinação que
deve se dispor para a reprodução concreta das relações sociais
capitalistas, transformado, em razão da desmaterialização co-
mo valor, em mito.
O perigo anotado por Reginaldo Prandi (2005, p. 237)
quanto à paulatina desaparição das religiões afro-brasileiras;
seu clamor angustiado, segundo o qual, tal desaparição não
desenharia “um horizonte promissor para o cultivo da dife-
rença cultural e do pluralismo religioso, cujo alargamento ali-
mentou promessas do final do século XX de democracia com
ABSTRACT
In the religion of the orixás, the body is the home of the life: the gods dance,
they sing, they eat and make sex. Their references are destined to sensual
rituals of the own body of the gods and of the followers, or the sensuality is
assumed from the natural elements. Like this, is not the human that enrolls
on the no-human nature; to the opposite, the nature and the place they
enroll on the body and the soul humans. If that characteristic is present
above all and still today in the candomblés, also in the umbanda the body
is evidenced, but what separates it of the candomblé is what approximates
it of those that pursue them: of the Christianity and its Utopia, its denial
of the sensual body and statement of the world eternal post-mortem. And,
however, also the contemporary Christian pursuers discovered the sensual.
and they impute to those pursued the diabolical of the sensual. This text
DEUSES QUE DANÇAM: DA “TOPIA” DOS ORIXÁS À UTOPIA TÓPICA CRISTÃ, p. 52-71 69
Gilson Raslan Filho
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
_______. Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
DUNGA. PHN – Sementes para uma nova geração.
Cachoeira Paulista: Canção Nova, 2005.
EAGLETON, T. As ilusões do pós-modernismo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
MAFFESOLI, M. No fundo das aparências. Petrópolis:
Vozes, 1996.
_______. O instante eterno: o retorno do trágico nas
sociedades pós-modernas. São Paulo: Zouk, 2003.
MOOERS, C. Missing bodies: visibility and invisibility in the
bourgeois public sphere. Disponível em: <http://www.cpsa-
acsp.ca/paper-2003/mooers.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2006.
PIERUCCI, A. F.; PRANDI, R. A realidade social das
religiões no Brasil: religião, sociedade e política. São Paulo:
Hucitec, 1996.
PRANDI, R. Um sopro do espírito: a renovação conversadora
do catolicismo carismático. São Paulo: Edusp; Fapesp, 1997.
_______. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001.
DEUSES QUE DANÇAM: DA “TOPIA” DOS ORIXÁS À UTOPIA TÓPICA CRISTÃ, p. 52-71 71
Gilson Raslan Filho
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Ao longo de séculos, com a elevação do cristianismo de
religião tolerada a religião oficial do Império Romano, o mundo
ocidental viu muitos dos seus traços culturais serem suplantados,
substituídos ou, no mínimo, hibridizados a partir de conceitos
cristãos. Em relação à temática da morte, bem como aos seus
subtemas corolários, essa afirmação constitui-se como igual-
mente válida. Como demonstrado por Ariès (1981, p. 36-38),
os cemitérios romanos deixaram paulatinamente de ser organi-
zados ao longo das estradas, distantes das cidades, simbólico,
1
Num contraponto, o Cemitério Protestante de São Paulo, anexo ao Cemitério da Consolação, na
capital paulista, é desprovido de elementos simbólicos cristãos. No máximo, em relação aos ministros
presbiterianos lá sepultados, lápides num padrão “americanizado”. Ao passo que o Cemitério da
Consolação é marcado por sepulturas vistosas e simbólicas, pela expressão artística nelas presentes.
2
Pode-se argumentar que os presbiterianos mantêm alguns túmulos. Contudo, há que considerar
que são casos raros, geralmente sendo túmulos de seus fundadores e lideranças das duas maiores
denominações do Brasil, como é o caso dos túmulos dos pastores presbiterianos Ashbel G. Simonton
e José Manuel da Conceição, sepultados lado a lado no Cemitério Protestante de São Paulo. Este
último foi sepultado como indigente, por ser um ministro itinerante, sendo seus restos mortais
trasladados posteriormente, sob acusação por parte dos católicos de que os protestantes não cuidavam
dos seus mortos.
3
O luteranismo no Brasil se divide em dois grandes ramos: a Igreja Evangélica de Confissão Luterana
no Brasil (IECLB), organizada a partir dos grupos eclesiásticos formados no país com o início da
imigração alemã; e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, ligada à Lutheran Church – Missouri
Synod, uma igreja de missão, porquanto a LC-MS enviara pastores ao Brasil para congregar alemães
e seus descendentes em comunidades luteranas.
Ou
4
Sobre esse assunto, recomendo a leitura de Huff Junior (2006).
5
Chamo de pomerano típico aquele indivíduo que é membro do grupo étnico, falante do pomerisch,
luterano e residente no meio rural. O indivíduo que se adapta a esse padrão possui uma cosmovisão
mais ou menos semelhante.
6
Sobre isso, ver Cunha (2010, p. 34-60).
7
Tal crença, segundo o folclorista Câmara Cascudo (2000, p. 465-466), também encontra lugar no
folclore brasileiro, no conceito do pagão, isto é, da criança natimorta ou que morreu antes de receber
o batismo. Contudo, essas crianças possuem um poder ambivalente, ao mesmo tempo que assustam,
protegem, por exemplo, o gado, se sepultadas junto ao curral, aguardando um batismo pós-morte.
8
Há histórias contadas por pessoas que podem deixar qualquer um admirado, como: Certo agricultor
pomerano, uma caricatura do Jeca Tatu, chamou um “brasileiro” de confiança, um sargento da
PM do Espírito Santo, para acompanhá-lo numa ida a Vitória – algo raro entre muitos pomeranos
típicos. O interesse era apenas um: comprar um caminhão novo para a propriedade. Ao chegar à loja,
o vendedor dirigiu a atenção ao sargento, mais bem vestido que o verdadeiro comprador. Espantoso
foi o fato de o pomerano sacar dos bolsos notas e mais notas de dinheiro – muitos deles não gostam
de bancos –, pagando à vista o novo caminhão. Com o seguinte comentário do sargento: “De onde
veio esse dinheiro tem mais para comprar uns dez caminhões”.
9
No III Simpósio Internacional sobre Religiosidades, Diálogos Culturais e Hibridações, realizado em
Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o GT Vida/morte e suas representações no campo das religiões
e das religiosidades, coordenado pelo Prof. Dr. Marco Antonio Neves Soares, da Universidade
Estadual de Londrina, recebeu várias comunicações baseadas em diversos estudos no Cemitério
Municipal de Londrina (PR).
10
Obra produzida por iniciativa da União Paroquial Norte do Espírito Santo, unidade do Sínodo
Espírito Santo a Belém, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, constituindo-se, portanto,
numa obra de caráter oficial dessa unidade eclesiástica.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em sua obra, O dossel sagrado, Peter Berger (2004)
constrói uma crítica muito vigorosa contra o protestantismo.
Segundo Berger (2004), o protestantismo teria mutilado radi-
calmente os elementos essenciais da religiosidade, de modo
que o sagrado se perde na expressão religiosa do protestantis-
mo, especialmente na sua versão calvinista. Essa ideia pode ser
resumida da seguinte conclusão:
11
Moltmann ficou conhecido pela sua opus magna Teologia da esperança, cujo cerne é a defesa da tese de
que o centro da teologia cristã é a esperança na vinda do Reino de Deus. Alguns autores denominam
seu método teológico de teologia escatológica, ao qual também se liga o teólogo luterano Wolfhart
Pannenberg (GRENZ; OLSON, 2003). A parte grifada na citação remete este pesquisador a um
trecho dos Artigos de Esmalcalde, escrito por Lutero (1981, p. 317), que diz: “A invocação dos
santos é um dos abusos anticrísticos. […] É verdade que os anjos no céu intercedem por nós (como
também faz o próprio Cristo; da mesma forma os santos na terra ou, talvez, também os santos no
céu. Disso, porém, não se segue que devamos invocar os anjos e os santos […]”.
ABSTRACT
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO (Sto.). O cuidado devido aos mortos. 2. ed.
São Paulo: Paulus, 1990.
100 APRESENTAÇÃO
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Embora seja personagem tão central na gênese da Igreja
Presbiteriana do Brasil, e assim, à própria inserção do protes-
tantismo brasileiro, a vida de José Manoel da Conceição tem
sido pouco explorada. Parcos são os estudos e artigos a seu res-
peito. De igual forma, não se ouve falar, com frequência, de
dissertações e teses que o tenham como tema. A solidão bus-
cada pelo primeiro pastor brasileiro em seu ministério iti-
nerante parece também incluir a pesquisa a seu respeito. Esse
aparente ostracismo acadêmico pode ser decorrente de certa
“canonização” da sua história, tomando escritos pioneiros e
clássicos que a narram, como se fossem a última palavra (e, pra-
ticamente, a primeira?) sobre o assunto. Os excelentes traba-
lhos biográficos de Boanerges Ribeiro quanto à matéria: O
padre protestante e José Manoel da Conceição e a Reforma Evan-
gélica, talvez tenham causado alguma acomodação ou mesmo
receio aos pesquisadores de ir além do caminho desbravado
pelo pioneiro escritor, quiçá trilhar novo percurso, inibidos à
sombra projetada pela monumental e competente pesquisa.
Se, por um lado, a “canonização” de clássicos pode ser fator
desmotivador para o estudo, por outro, a “totemização” do
personagem onera a investigação. Quando o agente histórico
é ícone, como é o caso de José Manoel no protestantismo, ten-
de a se tornar “mito”. Em outras palavras, constrói-se uma aura
exageradamente “positiva” ou “correta” ao redor de sua pessoa,
que impede que erros, mesmo associações ou influências pouco
1
O presbiterianismo tem como estrutura uma organização de governo, que se inicia na igreja local,
dirigida por uma diretoria chamada de “Conselho”, formado pelos presbíteros eleitos pela Igreja
e presidido por seu pastor. Com número mínimo de quatro igrejas geograficamente próximas,
forma-se um “Presbitério”, que tem sobre si uma diretoria que o administra. Contando com análoga
liderança, com no mínimo três Presbitérios, forma-se um “Sínodo”. No cume da pirâmide está o
Supremo Concílio, cuja Comissão Executiva é o órgão maior da denominação no país.
2
3. JOÃO MARIA DE AGOSTINI
Oswaldo Cabral (1979, p. 107) descreve o João Maria I
da seguinte forma:
2
Este tópico segue o que discorro em Almeida Junior (2009b, p. 79-83).
3
Quanto a isso, há um fato curioso que demanda pesquisa mais aprofundada e de resultado pouco
provável. Em 1866, José Manoel, já pastor presbiteriano, conta em um de seus relatórios que, pas-
sando por Atibaia encontrou um “padre” João Maria, que mostrou grande interesse no evangelho
(COLEÇÃO CARVALHOSA, [s. d.], p. 34, 35). Seria uma pista do paradeiro do morador de Pedra
Santa em seus últimos anos? O monge estaria com 65 anos e estabelecido em uma cidade, radicado
em uma igreja católica. Embora seja chamado “padre” no relatório de José Manoel, pode ser que tal
designação não seja literal. Lembremo-nos de que João Maria, mesmo não sendo sacerdote católico,
tinha franqueada a palavra ao término das missas em Ipanema. É provável que sua nacionalidade
italiana lhe favorecesse quanto a isso, destacando-o entre os católicos. O perfil de João Maria I era
ortodoxo o bastante para se fixar em uma igreja. Era amigo dos padres e acentuadamente devoto.
Embora de vocação eremita e itinerante, sua estada em Santa Maria (RS), no Campestre, quando
chegou a se estabelecer e erigir uma capela, deixa claro que a solidão não era algo insuperável ou
indispensável a suas convicções. Seria, portanto, o caso de ter se fixado em Atibaia, trilhando o ca-
minho, de certa forma, inverso ao de José Manoel, de um modelo rústico para o ortodoxo? Seria
um final mais feliz, alternativo à hipótese de terminar seus dias em Ponta-Grossa (PR) ou Lagoa
Vermelha (RS), ainda que, na mentalidade popular, encontre-se em estado de encantamento no
Taió (SC). Talvez tenha escolhido como última morada um lugar mais perto de onde se fixou pela
primeira vez no Brasil: Atibaia (SP).
4.1. O DIÁLOGO
Admitindo que José Manoel e João Maria tenham se en-
contrado, o que teriam conversado? Primeiramente, é necessário
4.2. MEIA-BATINA
Quando de seu provável contato com o “monge”, José
Manoel não havia, ainda, sentenciado o romanismo. Era sub-
diácono católico recém-ordenado, provavelmente, ansioso por
alcançar sua ordenação ao sacerdócio. Foi respirando o sempre
fresco ar protestante das manhãs de Ipanema que José Manoel
viu suas aspirações católicas cada vez mais rarefeitas. Possivel-
mente, ali começou a se acentuar um dilema que, até então,
poderia ser descrito como apenas “não conformismo”. A ami-
5. SEMELHANÇAS
Vejamos a seguir as principais características que aproxi-
mam a prática de José Manoel daquela do primeiro “monge”
do Contestado.
5.1. REVOLUCIONÁRIOS?
Certamente é um exagero dizer que José Manoel e João
Maria foram revolucionários. No entanto, por mais absurdo
que pareça, ambos estão ligados a insurreições. Como vimos,
José Manoel subscreveu a declaração da Revolta Liberal, de
17 de maio de 1842. Referindo-se ao “pai de criação” de José
Manoel, Boanerges Ribeiro (1979, p. 43) opina: “Padre Men-
donça, envelhecido e sensato, era avesso a políticas e revoltas;
nem mesmo era íntimo de Rafael Tobias. Assinara a ata da
rebelião, mais por solidariedade com os paroquianos que por
interesse no assunto, parece-me”. Portanto, se o experiente
tio-avô não era afeito à revolta, é provável que seu sobrinho-
5.3. ITINERÂNCIA
José Manoel é descrito como alguém que em sua histó-
ria mostra excentricidade e genialidade, um evangelista ardo-
roso e andarilho solitário (HACK, 2001, p. 67). Primeiro
pastor ordenado no Brasil, a ele é atribuída a reformulação da
estratégia missionária na implantação do protestantismo em
nosso país. O método de grandes concentrações utilizado pe-
los pregadores americanos nas regiões de fronteira nem che-
gou a ser cogitado. Seria praticar reducionismo, é verdade, se
limitássemos a obra missionária no Brasil à evangelização
grupal. Foram utilizadas outras estratégias de disseminação
do protestantismo, como o ensino nas Escolas Dominicais e
a fundação de escolas seculares de orientação protestante
(MENDONÇA, 2008, p. 144-167). A importância de José
Manoel, não apenas para o presbiterianismo, mas para o pro-
testantismo brasileiro de forma geral está na adoção de traba-
lho itinerante, motivado inicialmente pela responsabilidade
que sentia de revisitar os locais onde havia servido como sacer-
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
José Manoel da Conceição e João Maria de Agostini es-
tiveram algum tempo residindo muito próximos, ou, até mes-
mo, na mesma localidade. São várias as semelhanças que os
aproximam tanto na formação católica como na prática dos
chamados que ambos reconheciam ter. Tais “coincidências”
podem estar ligadas a alguma interação entre eles em Sorocaba
ou mesmo relatos repassados pelo povo. José Manoel em con-
tato com João Maria possivelmente ficaria impressionado em
razão de sua dedicação, ser italiano recém-chegado e conside-
ravelmente mais velho. Se assim foi, os calvinistas comemo-
ram e reconhecem aí a doutrina da soberania de Deus. Dois
personagens que marcaram a religiosidade brasileira com pen-
samentos tão diferentes foram deliberadamente colocados
juntos pelos desígnios divinos para originar um modelo mis-
sionário tão peculiar, inédito no protestantismo de então: a
itinerância, nos moldes dos anacoretas do agreste. Conside-
rando a hipótese de terem se encontrado exatamente no mo-
mento em que José Manoel via-se cada vez mais protestante,
pode ter assimilado algo da religiosidade popular, o modelo
despojado de “profeta rústico” muito comum na época. É evi-
dente que José Manoel assumiu o método “andarilho” dos
profetas populares e que isso contribuiu enormemente para a
expansão do protestantismo no Brasil. Resta-nos saber se isso
se deu como fruto do provável contato com João Maria e se foi
consciente ou não. De qualquer forma, fica evidente que um
matiz social formata a propagação religiosa, mesmo de credos
tão diferentes. Por fim, é certo que não temos a intenção de
reescrever a história. O objetivo é contribuir com informações
nunca exploradas, que ligam dois personagens tão importan-
tes no panorama religioso brasileiro. Aberta fica a porta para
outras pesquisas que venham elucidar muitas das questões ora
sem resposta.
ABSTRACT
Born in São Paulo City, José Manoel da Conceição was created by his
great-uncle priest after his mother’s death. His new address became
Sorocaba. He suffered strong Jansenist influence in his education, with
emphasis in penitence and in introspection. Already like sub deacon,
assigned the acta of the Liberal Revolt probably more by sympathy for
his “stepfather”. After, José Manoel goes work in a small village called
Ipanema originated by installation of a foundry. It was in its surroundings
that João Maria was lived. At the chapel of the Village where watching
José Manoel like sub deacon, that was franchised the word to the hermit
by the foundry’s director. On Christmas Eve, 1844, João Maria made his
register of stranger in Sorocaba, stating to be resident in the region yet. For
some time, José Manoel and João Maria had opportunities for meeting,
since on 29 September 1844, the first is ordered deacon and goes to center
of Sorocaba. Others possibilities are seen in the celebrations of Christmas,
1844, and the visits of José Manoel for his Protestants friends, at Ipanema.
The probability of have had some contact can find some support in
“popular religious” pattern adopted by José Manoel later, seen in simplici-
ty almost ragged, refusing receive anything gift like “payment” or gratitude
by religious services, the direct living together with the people instead of
institutionalized religion. Even historically, the lives of José Manoel e João
Maria approach themselves, to have been involved in two insurgencies: the
Liberal Revolt and the Contestado War, respectively. It is likely that José
Manoel still retained some influences of his previous Catholicism, especially
seen in his tendency to independence no rebel (Jansenism), to loneliness
(monasticism), what includes the continuity of celibacy, although he had
manifested his disagree about this practice, still like catholic. Possibly, this
option was exercised to be more convenient to the model of evangelism
that had adopted. This argumentation serves to show that is plausible the
hypothesis of two characters had met, and, who knows, it has served of
influence for that José Manoel had a “popular religious” pattern in his
protestant evangelism.
REFERÊNCIAS
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Editoria Presbiteriana, 1952.
_______. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. 2. ed. São
Paulo: Cultura Cristã, 1992. v. 1.
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Afirma-se, geralmente, que a obra de Kierkegaard é di-
fícil de ser circunscrita. Nela, encontramos um pouco de tudo:
discursos teológicos (edificantes), ensaios filosóficos com apa-
rência clássica e textos que podemos chamar literários, entre os
1
Claro que o sentido semântico dessa palavra não se esgota nesses três momentos que aqui
circunscrevemos. Podemos pensar em tantas outras relações: do autor (Kierkegaard) com o seu leitor;
sua relação com Hegel; sua relação com a Igreja dinamarquesa etc. O que de fato nos interessa,
aqui, é mostrar que a palavra relação possui esse elemento aglutinador, capaz de transformar-se em
estrutura toponímica com poder de explicação de fenômenos intrínsecos à interioridade de cada
indivíduo e/ou sua relação.
2
Quando da escrita do Diário do sedutor, Kierkegaard já havia concluído sua tese em teologia e, em
seguida, partido para Berlim. Nesse período, ele já havia lido a obra Princípios da filosofia do direito
(Hegel), da qual a estrutura do sumário se assemelha ao sumário da tese defendida em 1841, de
modo invertido (vide O conceito de ironia).
4. SEDUÇÃO DO TRANSCENDENTE,
SACRIFÍCIO DO IMANENTE
O resultado preliminar do que foi discutido até aqui
indica, claramente, que a passagem do estético ao religioso
não ocorre dialeticamente, seguindo a lógica da razão natural,
mas paradoxalmente. Essa passagem é paradoxal porque ela se
3
Sacrifício, em boa medida, faz sentido no estádio religioso, em que o sacrifício é o passo seguinte após
o abandono, ao menos se pensamos na mise-en-scène de Abraão, descrita poeticamente em Temor
e tremor. Sacrifício, de modo geral, tanto na tradição vetero quanto neo testamentária, é descrito
como uma “realidade” antiética, portanto, anti-humana. Na tradição judaica (AT), o sacrifício
das primícias (animais, frutas, legumes...) era permitido, bem como era questionável o sacrifício
humano, como procura descrever essa “lição divina”, por meio do sacrifício de Isaac. Na tradição
cristã (NT), o próprio Cristo é muito claro quanto à condenação do sacrifício de vítimas humanas:
“Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9.13).
A moça, mais uma vez, não tem nenhuma realidade, mas ela é
o reflexo dos movimentos que animam o rapaz; assim como sua
excitação. A moça ganha uma prodigiosa significação, ela não
poderia jamais esquecer; mas, esta significação, ela não a tem
dela mesma, mas de sua relação com ele. Ela está, por assim
dizer, na fronteira do ser essencial do rapaz; mas tal relação não
é erótica. Religiosamente falando, poder ia-se dizer que tudo se
passa como se o próprio Deus se servisse dessa moça para torná-
lo cativo; quanto à moça, ela não tem nenhuma realidade, mas
ela é como aquelas iscas artificiais que se colocam em um anzol
(KIERKEGAARD, 1990, p. 129).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse caminho para o absoluto, onde a iniciativa é sem-
pre da divindade, Kierkegaard interpõe entre a sedução da
amada pelo amado, por meio do erotismo, um sedutor capaz
de seduzir o poeta que pressente o religioso, levando-o à renún-
cia da esfera ética, a suspensão da norma. Em outras palavras,
o espaço sagrado que o poeta criou, por meio do sacrifício,
torna-se uma espécie de estrutura topológico-existencial que
permite existir fora de toda pertença humana (campo da éti-
ca), relacionando como um ser de exceção com o geral. Esse
espaço indica a possibilidade de retomar ao ponto de uma jun-
ção possível entre o imanente e o transcendente, entre a hori-
zontalidade finita e a verticalidade absoluta, ponto de retomada
da primitividade do eu-personagem e do eu-leitor-ouvinte.
No itinerário rumo ao absoluto, essas obras literárias re-
velam que a exceção é o estado que caracteriza o sedutor-poeta
que, ressignifica a sua sedução, ganhando um eco religioso e se
colocando a si mesmo no lugar de encontro entre o estético e o
religioso. Na relação de sedução que ele persegue para a qual
ele se sacrifica, o poeta do absoluto se constitui, verdadeira-
mente, num espaço sagrado. Ele cria um espaço onde ele pode
seduzir e ser seduzido. Esse espaço ou essa exceção particular
ABSTRACT
KEYWORDS
PALAVRAS-CHAVE
2. ORIGENS HISTÓRICO–SOCIAIS DO
PROTESTANTISMO BRASILEIRO
No segundo quartel do século XIX, no Brasil, começa-
vam a despertar os interesses econômicos e políticos da Europa
e dos Estados Unidos da América, ocasião em que este último
iniciou o envio sistemático de missionários protestantes para o
país. O protestantismo missionário, como se apresentava no
Brasil, quer fosse britânico, quer escocês ou norte-americano,
6. A CONVERSÃO NA PSICOLOGIA
SOCIAL DA RELIGIÃO
A abordagem psicológica do fenômeno da conversão no
campo religioso protestante brasileiro pode lançar luz sobre a
dimensão psíquica dessa experiência. Nessa dimensão, podem
contribuir, para a compreensão dos afetos, as conexões deno-
tativas das cognições, os desejos, grande parte dos conflitos
pessoais, interpessoais e sociais, incluindo aqueles que têm co-
mo objeto a conversão em toda a sua dimensão: suas relações
com as entidades sagradas selvagens ou domesticadas, com os
estados alterados da consciência, com saúde, doença e cons-
trução da identidade do sujeito nesse processo.
O campo de interesse da Psicologia da Religião situa-se
naquele espaço humilde e limitado, destinado à ocorrência
dos fenômenos que acontecem no campo da consciência e do
inconsciente. Os acontecimentos cujas crenças os situam no
campo das parábolas em movimento, da supra-história, dos
milagres propriamente ditos, ou seja, dos fenômenos ditos so-
brenaturais e/ou transcendentes por imposição do método
científico, permanecem inacessíveis aos estudos psicológicos.
No evento da conversão, o que interessa à Psicologia da
Religião são aqueles acontecimentos sensoriais que se reportam
às sensações, emoções, sentimentos, contraintuição e as mudan-
ças decorrentes desses fenômenos no comportamento do sujeito.
Assim, os psicólogos (STARBUK, 1911; JAMES, 1902,
1910) estudaram o fenômeno da conversão, utilizando o mé-
todo indutivo, e procuraram compreender as diversas forças
psicológicas que operam na conversão. A conversão para esses
autores foi considerada um processo natural e tão sujeito às
leis ordinárias da psicologia como qualquer outro. Outro
ABSTRACT
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO. (Sto.) Confissões. 3. ed. São Paulo: Paulinas,
1984.
AZEVEDO, I. B. de. A celebração do indivíduo: a formação
do pensamento Batista Brasileiro. Piracicaba: Unimep; São
Paulo: Exodus, 1996.
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Na simbologia nada é indiferente. Tudo exprime algo e
tudo é significativo. Dessa forma, os símbolos fazem parte do
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O símbolo no contexto religioso tem sua representativi-
dade e relevância. Ele pode exprimir algo, ou mesmo unir o
grupo social em torno da divindade que o símbolo representa.
Analisou-se que muitas comunidades e grupos sociais têm
suas culturas intrinsecamente relacionadas à religião; entre-
tanto, no caso da Iurd, outros fatores também se apresentaram
formadores do ideário simbólico da denominação.
Cabe compreender que o sucesso da doutrina simbólica
e mágica iurdiana não surgiu por acaso, pois como Emile
Durkheim (1989, p. 38) afirmou “a religião é coisa eminente-
mente social” com isso, percebe-se que as aspirações sociais
contribuíram para o avanço do simbolismo iurdiano como re-
gra de fé, visto que no Brasil é fácil observar o desejo de me-
lhorias na saúde, na diminuição da pobreza, ou seja, uma reli-
gião mais prática e menos dogmática. Alicerçada na Teologia
da Prosperidade, a doutrina visa como fim o que se almeja, ou
seja, o símbolo gera ou materializa a bênção. Como Ricardo
Mariano (2010, p. 159) escreveu:
ABSTRACT
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
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São Paulo: Paulus, 1989.
ELIADE, M. Mito do eterno retorno. Tradução José de A.
Ceschin. São Paulo: Mercuryo, 1992.
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
O período de 1808 a 1821 é de grandes transformações
religiosas no Brasil: Brasil Colônia passa a Brasil Império; a
inquisição, que tivera seus tentáculos no Brasil, agora cede lu-
gar a uma relativa liberdade religiosa (TARSIER, 1936; COS-
TA, 2006). As transformações não foram pacíficas, mas quais
são? No entanto, não podemos nos queixar, o Brasil entrava
em uma nova fase sem derramamento de sangue – pelo menos
não em demasia como acontecera na Europa durante as gran-
des metamorfoses políticas, sociais e religiosas.
1
Certamente por ignorância, tenho dificuldade em aceitar essa tese. O autor não cita documentos e,
também, em nenhum momento percebi discurso semelhante entre os deputados da Constituinte.
2
Razões adicionais são indicadas por Joachim Fischer (1986, p. 12), que segue Martin N. Dreher.
3
Veja-se também: Hunsche (1983, p. 11). O art. 7º do contrato especifica isso. Veja-se: Tschudi
(1953, p. 100).
4
O missionário metodista Daniel P. Kidder (1951, p. 267) demonstra o seu apreço pelo Catecismo de
Montpellier como facilitador para a introdução do ensino religioso.
5
Veja o Catecismo digitalizado de uma edição impressa na Bahia (1817). Disponível em: <http://
www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/03903600#page/293/mode/1up>. Acesso em: 12 jan. 11.
6
O Alvará dizia: “... E mando, que em lugar dos ditos processos, e sentenças, se ensine aos meninos
por impressos, ou manuscritos de diferente natureza, especialmente pelo Catecismo pequeno do
Bispo de Montpellier Carlos Joaquim Colbert, mandado traduzir pelo Arcebispo de Evora para
instrução de seus Diocesanos, para que por ele vão também aprendendo os Princípios da Religião,
em que os Mestres os devem instruir com especial cuidado, e preferência a outro qualquer estudo. E
este se cumprirá tão inteiramente como nele se contêm, sem duvida ou embargo algum”.
7
Weber (1970, p. 445) chega a dizer que o jansenismo surgiu da busca do “Calvinismo Católico”.
8
Essa designação pegou; Conceição tornar-se-ia conhecido desse modo. A própria Imprensa, quando
noticia a adesão de um padre ao protestantismo em Roma, intitula: “Um padre protestante e a
inquisição em Roma” (IMPRENSA EVANGÉLICA, 6 dez.1873, p. 184).
9
Como Ribeiro (1995, p. 32) acentua, o conflito de Conceição agravava-se por ser ele, de certa forma,
uma “peça da máquina e participa, digamos assim, do negócio da comutação dos pecados”.
10
Léonard (1981, p. 57- 64) faz um paralelo entre a crise de Conceição e a de Lutero.
11
Os noivos que depois aderiram ao protestantismo eram: José Correa de Lacerda e Marciana Alves
de Mira.
12
Esposa de Blackford e irmã de Simonton.
13
“Em setembro de [28 de setembro] 1864 separei-me da Igreja Romana desfazendo-me, no exercício de
um direito inalienável, de tudo quanto ela tinha pretendido me dar e impor” (CONCEIÇÃO, 1867,
p. 14). “Em 28 de setembro de 1864 participou ao Bispo de São Paulo sua definitiva retirada daquela
igreja, e a renúncia dos cargos que nela tinha exercido” (LIVRO DE ATAS DO PRESBITÉRIO DO
RIO DE JANEIRO, Sessão de 6/8/1875).
14
Veja-se também: Livro de Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 164; Trajano (1902, p. 14); Ribeiro
(1981, p. 109).
15
Veja-se a transcrição dessa circular, no editorial da Imprensa Evangélica, 21/10/1865, p. 1-2.
16
Essa Tipografia, localizada à rua dos Inválidos, nº 71, pertencia aos protestantes Eduard Laemmert
e Heinrich Laemmert, que organizaram sua tipografia em 2 jan. 1838, a qual tornou-se, no século
XIX, a segunda maior e mais importante gráfica do Rio de Janeiro (visitada inclusive por D. Pedro
II em 9 jul. 1862), perdendo apenas para a Garnier.
17
Quanto à reação romana à Imprensa Evangélica e a relevância do jornal, veja-se Costa (1999, p. 47-57).
18
No Relatório ao Presbitério do Rio de Janeiro em agosto de 1868, relata o Rev. Schneider: “A
Imprensa Evangélica tem sido publicada sem interrupção alguma duas vezes cada mês durante o ano
inteiro e embora seja impossível dizer que tenhamos conseguido bons resultados, quantos almejamos,
contudo somos de opinião de não serem inúteis os trabalhos que com ela tivemos” (COLEÇÃO
CARVALHOSA, 8/8/1868). Para maiores detalhes sobre a Imprensa Evangélica, veja-se Costa
(2009b, p. 105-110).
19
O texto integral está transcrito em Conceição (1867, p. 5-6).
8. O PRESBITÉRIO DO RIO E A
ORDENAÇÃO DE CONCEIÇÃO
O Sr. Conceição volta para Brotas e prega. Brotas se
tornará o grande celeiro de Reforma Evangélica (RIBEIRO,
1979; LÉONARD, 1981). Quando Chamberlain vai embora,
Conceição continua: “Está pronto, mas não sabe disso, nem,
muito menos, os pastores seus amigos. Ele intuitivamente e
guiado pelo Espírito, descobrirá” (RIBEIRO, 1995, p. 47). A
Igreja Presbiteriana crescia: agora, temos um Presbitério. As-
sim, no sábado, 16 de dezembro de 186521, organizou-se o
20
Cerqueira Leite, viajando como colportor por São Paulo e Minas, escreve em 30/8/1886 de Santo
Antonio da Cachoeira: “Aqui já estivemos com o vigário, e mostra ser uma bela pessoa; ele recolheu-nos
[estava em companhia de Miguel Torres] em sua sala, e conversamos muito tempo com ele sobre religião,
e em muitas coisas concorda conosco: deseja muito ouvir o Padre José Manoel pregar, e disse-nos que
a religião do Padre José Manoel pouca diferença faz da dele” (PEREIRA, 1912, p. 21). “Em setembro
do mesmo ano [1866], percorre ele [Cerqueira Leite] Sorocaba, Tatuí, Itapetininga, encontrando nesta
última cidade o padre Francisco de Assunção Albuquerque, ‘belo moço’ que se manifestou inteiramente
protestante, mas que não se descobria por medo do povo” (PEREIRA, 1912, p. 23). A Imprensa
Evangélica (1874, p. 104), relatando a perseguição havida em Campos, diz: “Os padres pregaram contra
a pregação do evangelho, e os devotos quebraram as janelas e cobriram com pasquins as paredes da casa
do ex-padre Dr. Canto, onde o pregador evangélico estava hospedado” (grifo nosso).
21
Simonton na ata citou janeiro de 1866; todavia, mais tarde verificou-se o erro e corrigiu-se na
própria ata apresentando a data de 16/12/1865. Para a verificação correta, o Presbitério do Rio
de Janeiro nomeou uma Comissão que deu seu relatório explicando o equívoco de Simonton.
Veja-se relatório da mesma Reunião do Presbitério do Rio de Janeiro de 6/9/1884, “nona sessão”
(p. 371-372). A comissão era composta pelos pastores: A. L. Blackford (relator), F. J. C. Schneider e
Robert Lenington. Ao Rev. Modesto P. B. Carvalhosa, como secretário permanente do Presbitério,
coube a tarefa de providenciar a retificação onde coubesse. No final da primeira ata do Presbitério
a correção é feita com a assinatura de Carvalhosa (veja-se: LIVRO DE ATAS DO PRESBITÉRIO
DO RIO DE JANEIRO, p. 7).
22
O livro de atas tem em sua primeira página a inscrição: “Actas do Presbyterio do Rio de Janeiro
constituído em São Paulo a 16 de dezembro de 1865 – Livro Primeiro”.
23
Atas do Presbitério do Rio de Janeiro (p. 2-3).
24
Um dos participantes da reunião (Mc. F. Gaston), referindo-se à ordenação de Conceição, escreveu:
“Este acontecimento representa um passo importante no progresso do protestantismo neste país
papal; o caráter desse homem, e sua influência entre o povo, vão ter, fora de toda dúvida, efeito
considerável sobre a mente popular” (apud FERREIRA, 1992, v. 1, p. 61; RIBEIRO, 1981, p. 80).
25
Os primeiros oficiais só foram eleitos em 1866: Os diáconos, em 2/4/1866. Eram três: Guilherme
Ricardo Esher (de origem irlandesa), Camilo José Cardoso (de origem portuguesa) e Antonio Pinto de
Sousa (brasileiro). Os presbíteros, em 7/7/1866. Eram dois: Guilherme R. Esher e Pedro Perestrello
da Câmara (primo do futuro Rev. Modesto Carvalhosa). Todos foram ordenados no dia 9/7/1866,
permanecendo Guilherme R. Esher como Presbítero (SIMONTON, Relatório apresentado ao
Presbitério do Rio de Janeiro no dia 10/7/1866, p. 7-8; LESSA, 1938, p. 41; TRAJANO, 1902,
p. 8; FERREIRA, 1952, v. 1, p. 28-29).
26
Conceição (Relatório de 14/8/1869), diz: “Em princípio de outubro voltei para São Paulo, e seguindo
para o Rio, acompanhei o Rev. Chamberlain visitando Angra do Reis e Parati. Dirigimo-nos a
Cunha e a Lorena, onde nos demoramos pregando ao povo, até que uma grande desordem veio
interromper nossos trabalhos...”.
ABSTRACT
In this first of two articles, Costa describes aspects of the life and formation
of Rev. José Manoel da Conceição, the first Protestant minister of Brazil,
which, due to his teachings, even before joining the Protestant faith, was
known as “Protestant priest. “ It also analyses the moments of tension and
anxiety that marked the abandonment of his ancient faith and the adop-
tion of a new one, as well as his admission to the pastoral ministry in the
Presbyterian Church in Brazil.
KEYWORDS
José Manoel da Conceição; Presbyterianism; Brazilian Protestantism;
Protestantism; Brazilian Empire.
REFERÊNCIAS
AZZI, R. O altar unido ao trono: um projeto conservador.
São Paulo: Paulinas, 1992.
CAMPOS, L. de. Rev. José Manoel da Conceição. Revista
das Missões Nacionaes, Campinas, v. 34, n. 395, p. 9, 1921.
COLEÇÃO CARVALHOSA. Relatório de Conceição
apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro. Relatórios
Pastorais, 1866-1875. Fonte manuscrita.
_______. Relatório de Schneider apresentado ao Presbitério
do Rio de Janeiro. Relatórios Pastorais, 1866-1875. Fonte
manuscrita.
_______. Relatório de Simonton apresentado ao Presbitério
do Rio de Janeiro. Relatórios Pastorais, 1866-1875. Fonte
manuscrita.
CONCEIÇÃO, J. M. da. Sentença de excomunhão e sua
resposta. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1867.
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