Livro Texto - Unidade II PDF
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Unidade II
5 PROTEÍNAS
A grande diversidade de funções é, sem dúvida, em grande parte, determinada pela composição
química. Quimicamente, uma proteína é definida como uma estrutura polimérica complexa formada
por 20 aminoácidos diferentes unidos por ligações peptídicas covalentes entre o grupo ácido carboxílico
(-COOH) de um aminoácido com o grupo amino (-NH2) do aminoácido adjacente (18a). Cada aminoácido
possui, ligada ao carbono alfa, uma cadeia lateral responsável pela identidade do aminoácido que lhes
confere características químicas únicas responsáveis diretamente pela conformação tridimensional de
uma proteína nativa, ou seja, sua função biológica (18b) (YADA; BRYKSA; NIP, 2012; NELSON; COX, 2014).
A ordem na qual os aminoácidos aparecem em uma proteína é determinada pelo código genético
(genes), que são transcritos e traduzidos de forma a iniciar a síntese de uma nova proteína. Durante a
etapa de síntese, as proteínas passam por três a quatro níveis estruturais: estrutura primária; estrutura
secundária; estrutura terciária; estrutura quaternária (CAMPBELL; FARRELL, 2015).
Grupo
ácido
carboxílico Formação da ligação
R 1
H R 2 peptídica entre
+ dois aminoácidos
H3N — CH — C — OH + H — N — CH — COO- por condensação.
Nessa reação ocorre
O a liberação de uma
Grupo amino molécula de água.
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ANÁLISE DE ALIMENTOS
Estrutura primária
Ordem na qual os aminoácidos são ligados na cadeia polipeptídica por ligações covalentes
(peptídicas) de forma unidimensional (figura anterior). A estrutura primária (sequência, tipo e número
de aminoácidos) é a responsável por como a proteína será enovelada em sua estrutura terciária
tridimensional nativa e biologicamente ativa (VOET; VOET, 2013; NELSON; COX, 2014; CAMPBELL;
FARREL, 2015).
Estrutura secundária
Formada por interações entre o oxigênio dos grupos carbonila e os hidrogênios dos grupos
amino (ligação de hidrogênio) presentes no esqueleto carbônico da cadeia polipeptídica (figura
anterior). De acordo com a rotação que esses grupos assumem, a estrutura secundária pode
adquirir diferentes configurações estruturais, sendo as mais importantes e que ocorrem com
maior frequência a hélice α e a folha β pregueada. Essas estruturas são ditas periódicas, pois se
repetem em intervalos regulares, sendo a folha β pregueada à estrutura responsável por dar a
conformação bidimensional característica das estruturas secundárias (CARRIJO; BARACAT-PEREIRA,
2014; CAMPBELL; FARREL, 2015).
Ligação de
hidrogênio
α-hélice Ligação de
hidrogênio β-folha pregueada
Estrutura terciária
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Unidade II
Cadeia
polipeptídica
tridimensional
Estrutura quaternária
Trata-se de uma estrutura proteica tridimensional formada por mais de uma cadeia polipeptídica
(dímeros, trímeros, tetrâmeros, ou seja, oligômeros), que podem ser iguais ou diferentes. Cada cadeia
polipeptídica da estrutura quaternária é denominada de subunidades. A interação e estabilização entre
as subunidades ocorrem também de forma não covalente, assim como nas estruturas terciárias (figura
anterior) (CARRIJO; BARACAT-PEREIRA, 2014; CAMPBELL; FARREL, 2015).
Subunidade A Subunidade C
Subunidade B Subunidade D
62
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Ainda com relação à estrutura, as proteínas podem ser classificadas como globulares e fibrosas.
Essa classificação tem como base a forma, a estrutura, o grau de solubilidade em água e a função
biológica. As globulares (figura anterior) são caracterizadas por terem uma estrutura compacta e
esférica ou elipsoidal com núcleo hidrofóbico e regiões superficiais hidrofílicas formadas por interações
entre subgrupos estruturais de hélices α ou folhas β pregueadas somente, porções de hélices α ou
folhas β pregueadas que ocorrem em porções separadas da estrutura tridimensional e porções de
hélices α ou folhas β que aparecem de forma alternada (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009; CARRIJO;
BARACAT-PEREIRA, 2014).
A) B)
Exemplo de aplicação
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Unidade II
As proteínas fibrosas são cadeias polipeptídicas arranjadas em longos filamentos ou folhas “lineares”
de formato cilíndrico (figura anterior) que apresentam pouca ou nenhuma solubilidade em água devido
à alta concentração de resíduos de aminoácidos com cadeia lateral hidrofóbica tanto em seu interior
como na superfície. São normalmente proteínas com funções estruturais envolvidas com força e
flexibilidade como colágeno, queratina, elastina etc. Diferentemente das proteínas globulares, as fibrosas
são normalmente formadas por um único tipo de estrutura secundária (NELSON; COX, 2014).
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ANÁLISE DE ALIMENTOS
A) B)
Figura 24 – Estrutura fibrosa do colágeno. A) Três hélices enoveladas (cadeias polipeptídicas azul, roxo e cinza);
B) super-hélice de colágeno mostrada a partir de uma de suas extremidades
Nos alimentos, além das funções biológicas já citadas, tecnologicamente, as proteínas são muito
exploradas, pois contribuem diretamente com sabores, aromas e cores formadas durante as reações
de escurecimento não enzimático (reação de Maillard) e escurecimento enzimático. Possuem também
importantes propriedades físicas como formação e estabilização de géis, espumas e emulsões (BELITZ;
GROSCH; SCHIEBERLE, 2009).
À semelhança dos carboidratos e lipídios, as proteínas são compostos orgânicos que apresentam
em sua estrutura química carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), porém é a única que apresenta o
nitrogênio (N) (~16%) e outros minerais como o fósforo (P), ferro (Fe) e cobalto (Co) (TIRAPEGUI; CASTRO;
ROSSI, 2016). Metabolicamente, a oxidação de 1 g dessa macromolécula é capaz de gerar ~4 kCal/g,
valor muito semelhante à oxidação dos carboidratos (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009), entretanto,
nutricionalmente, sua principal função é suprir a demanda corporal por nitrogênio e aminoácidos, estes
últimos possuem um papel importantíssimo no metabolismo anabólico proteico, ou seja, são a base para
a síntese de proteínas para o organismo humano e demais organismos vivos, também são necessários na
construção, manutenção e reparação de tecidos (FRAIZER, 2015).
Os aminoácidos essenciais são definidos como aqueles que não podem ser sintetizados pelo
organismo humano a partir de outros compostos orgânicos e, dessa forma, devem ser obtidos através da
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Unidade II
alimentação. Para tanto, devem ser inseridas na dieta as proteínas de alto valor biológico, que nada mais
são que proteínas constituídas por todos os aminoácidos essenciais, ou seja, proteínas de origem animal
encontradas em ovos, carnes (bovina, suína, aves, peixes), leite etc. Os aminoácidos não essenciais são
aqueles que podem ser sintetizados por nosso organismo, entretanto o processo de síntese é inteiramente
dependente da ingestão de proteínas para que haja equilíbrio no fornecimento de nitrogênio. Além
das carnes, ovos e leite, os grãos (trigo, aveia), as oleaginosas (semente de girassol, gergelim) e as
leguminosas (soja, feijão, amendoim) também são uma importante fonte de proteínas devido à presença
constante nas refeições, porém esses alimentos são considerados fontes de proteínas de baixo valor
biológico, pois, de modo geral, são deficientes em alguns aminoácidos essenciais, especialmente lisina e
metionina (FRAIZER, 2015; TIRAPEGUI; CASTRO; ROSSI, 2016).
Adaptado de: Voet e Voet (2013, p. 1555); Tirapegui, Castro e Rossi (2016, p. 135).
Como visto anteriormente, as proteínas são estruturas poliméricas constituídas por aminoácidos.
Para que apresente atividade biológica, é necessário que apresente sua estrutura tridimensional
(terciária ou quaternária) perfeitamente estabilizada, para isso, as interações fracas (pontes de
hidrogênio, ligações iônicas, ligações hidrofóbicas, forças de Van der Waals) que começam a ser
formadas a partir da estrutura secundária precisam estar íntegras, caso contrário, a proteína poderá
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ANÁLISE DE ALIMENTOS
perder irreversivelmente sua função. Esse processo onde as ligações que estabilizam uma proteína
nativa são perdidas ou desfeitas é chamado de desnaturação proteica, um processo importante que
pode ocorrer durante o processamento de alimentos, o que nem sempre é indesejável (DAMODARAN,
2010; FRAIZER, 2015).
Desnaturação
Como as proteínas são sintetizadas para atuarem em determinados ambientes celulares, quaisquer
variações nessas condições, ou seja, nas condições encontradas nas células, podem resultar na
desnaturação. De modo geral, as proteínas podem ser desnaturadas por agentes físicos (temperatura,
tratamento mecânico, pressão hidrostática e irradiação) e químicos (solventes orgânicos, ácidos e
bases (pH), íons metálicos, agentes oxidantes e redutores, sais e vários outros compostos orgânicos)
(UCKO, 1992; DAMODARAN, 2010; NELSON; COX, 2014; FRAIZER, 2015).
Temperatura
Nos alimentos, a desnaturação pelo calor é muitas vezes desejável, pois contribui para melhorar
propriedades sensoriais, aumentar a digestibilidade, melhorar a capacidade de estabilizar emulsões e pela
formação de espuma; por outro lado, pode ser indesejável em determinados processos, pois a desnaturação
pode reduzir a solubilidade das proteínas podendo formar aglomerados e consequentemente levar a
sua precipitação e ao comprometimento sensorial do produto (DAMODARAN, 2010; FRAIZER, 2015).
No quadro a seguir, são apresentadas algumas proteínas e suas respectivas temperaturas mínimas
de desnaturação.
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Unidade II
Ácidos ou bases
Mudanças no pH, ou seja, no potencial hidrogeniônico, podem afetar a carga líquida total de
uma proteína, ou seja, podem ocorrer alterações na distribuição de cargas positivas e negativas
dentro da cadeia polipeptídica afetando as interações eletrostáticas tanto de atração como repulsão
(FRAIZER, 2015).
No que diz respeito a valores de pH, a maioria das proteínas é relativamente estável em pH próximos
à neutralidade e é mais afetada em extremos de alcalinidade do que em extremos de pH ácido, mas, de
modo mais específico, cada proteína tem o pH onde a sua estrutura assume o máximo de organização.
Mudanças no pH podem ocasionar estados de desnaturação, que são reversíveis, bastando apenas voltar
ao pH ideal de estabilidade (DAMODARAN, 2010). Um exemplo de desnaturação pelo pH é a coagulação
do leite feita por adição de um ácido (vinagre ou limão). Nesse caso, há uma agregação das proteínas
(caseínas) devido à carga líquida total ser nula (ponto isoelétrico), o que promove uma elevada interação
proteína-proteína resultando em precipitação.
A desnaturação nesse caso ocorre através da quebra de ligações dissulfeto entre os resíduos de
cisteína que possam estar presentes na cadeia polipeptídica (UCKO, 1992).
Solventes orgânicos
eles vão atuar sobre as ligações hidrofóbicas que normalmente ocorrem entre resíduos de aminoácidos
hidrofóbicos ou apolares e, dessa forma, há aumento na solubilidade da proteína na fase orgânica e
redução na fase aquosa (DAMODARAN, 2010; FRAIZER, 2015).
Os alimentos são estruturas complexas formadas pelas interações entre os mais diversos nutrientes.
Essas interações, quando bem conhecidas e exploradas, podem colaborar significativamente com o
desenvolvimento de produtos que tenham atributos sensoriais amplamente aceitos pelos consumidores.
Pensando nas proteínas alimentares, a sua constituição química nos permite realizar uma série de
procedimentos que resultem em reações cujos produtos finais sejam altamente desejáveis do ponto
de vista sensorial (cor, aroma, sabor e textura). Temos como exemplo as propriedades viscoelásticas do
glúten, tão desejáveis em alguns produtos de padaria, a textura de produtos lácteos, a clara de ovo “em
neve”, a reação de escurecimento não enzimático (reação de Maillard) etc. (DAMODARAN, 2010).
As proteínas do ovo, por exemplo, são muito versáteis do ponto de vista tecnológico, pois apresentam
diversas funcionalidades como gelificação, emulsificação, formação de espuma, ligação com a água e
coagulação pelo calor (COULTATE, 2002; ABEYRATHNE; LEE; AHN, 2013).
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Unidade II
Hidratação proteica
A água é muito importante em sistemas alimentícios, pois a forma de interação com os solutos,
principalmente os macromoleculares (proteínas, carboidratos e lipídios), é determinante para definição
das características reológicas e de textura. De acordo com a complexidade química das proteínas,
a sua interação com a água pode ocorrer de várias formas, entre elas, a interação íon-dipolo com
grupos carregados, grupos peptídicos da cadeia principal; grupos amida da Asn e Gln; grupos hidroxila
dos resíduos de Ser, Thr e Tyr (todas as interações dipolo-dipolo); e resíduos não polares (interação
dipolo-dipolo induzida e hidratação hidrofóbica). Essas diferentes formas de hidratação determinam
muitas das propriedades funcionais das proteínas como dispersibilidade, umectabilidade, expansão,
solubilidade, espessamento/viscosidade, capacidade de retenção de água, gelificação, coagulação,
emulsificação e formação de espuma (DAMODARAN, 2010).
Entre todas essas propriedades, vamos falar um pouco mais sobre solubilidade, formação de espumas
e géis e capacidade emulsificante.
Solubilidade
Determinada pela relação entre a densidade de grupos polares e grupos apolares e como eles estão
distribuídos na molécula, além das características do meio onde estão dispersas.
Com relação aos sais, podemos ter os fenômenos de salting in ou salting out. O salting in é a
condição na qual em um meio aquoso contendo proteínas se adicionam pequenas quantidades de sais
neutros, as cargas provenientes da dissociação do sal passam a interagir com as moléculas proteicas,
diminuindo a interação entre elas. Consequentemente, temos um aumento da solubilidade da proteína
no meio aquoso. Em contrapartida, o salting out é o fenômeno no qual a solubilidade das proteínas em
meio aquoso é reduzida pelo aumento da interação proteína-proteína. Isso ocorre devido ao aumento
na concentração de sal no meio (aumento da força iônica). A água de hidratação por sua vez passa a ter
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ANÁLISE DE ALIMENTOS
um maior poder de solvatação para os sais dissolvidos “abandonando” a estrutura proteica, aumentando
a interação proteína-proteína e reduzindo a solubilidade através da precipitação (BELITZ; GROSCH;
SCHIEBERLE, 2009).
Moléculas anfipáticas ou anfifílicas são aquelas que apresentam na mesma molécula grupos
químicos com propriedades hidrofílicas (afinidade com a água) e grupos químicos com propriedades
hidrofóbicas (afinidade com lipídios e solventes orgânicos), ou seja, são capazes de reduzir a tensão
superficial da água (COULTATE, 2002). Essa importante característica permite que essas moléculas
sejam muito exploradas como moléculas estabilizantes de espumas e emulsões, o que garante outras
denominações como moléculas tensoativas ou surfactantes. De modo geral, a ação estabilizante
ocorre devido à capacidade de essas substâncias atuarem na interface entre duas fases distintas como
líquido-sólido, líquido-gás e líquido-líquido, o que possibilita, por exemplo, uma homogênea dispersão
de uma fase oleosa (emulsão; por exemplo: maionese) ou fase gasosa (espuma; por exemplo: clara em
neve e sorvete de massa) em um ambiente aquoso (VOET; VOET, 2013).
As espumas são sistemas coloidais em que um gás se encontra disperso em um líquido cuja interface
é separada por uma fina película (SCHRAMM, 2014). Essa fina película é o agente tensoativo (que pode
ser uma proteína), em que os grupos hidrofóbicos estarão voltados para a fase gasosa e os grupos
hidrofílicos para a fase aquosa (DALTIN, 2011). A estabilidade de uma espuma pode ser afetada pelo pH do
meio, pela interação com outras moléculas como lipídios e carboidratos, presença de sais, concentração
proteica, flexibilidade molecular da proteína para envolver a bolha de gás, distribuição de cargas e
hidrofobicidade proteica (DAMODARAN, 2010).
Com relação à capacidade emulsificante, o mecanismo químico de ação das proteínas é muito
semelhante ao que ocorre durante a formação de espumas. As características anfipáticas das proteínas
atuam reduzindo a tensão superficial da água na interface óleo-água de modo a manter as gotículas
de gordura dispersas de modo homogêneo, o que configura a emulsão. Assim como na formação de
espumas, as proteínas em uma emulsão se associam aos lipídios através de seus grupos hidrofóbicos
e à água através de seus grupos hidrofílicos. Essa propriedade tensoativa é muito importante para a
produção de cremes, sorvetes, embutidos etc.
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Unidade II
Formação de géis
Os géis estão muito presentes no setor alimentício e são parte de um processo de grande importância
no que se refere aos aspectos de textura e reologia de alimentos. Na produção de alimentos, os agentes
gelificantes naturais mais utilizados são geralmente de origem proteica ou de carboidratos. Seus
derivados, quando em contato com uma fase aquosa, apresentam a capacidade de formar uma rede
tridimensional entre uma fase sólida (proteína ou carboidrato) e uma líquida (água). Nesse processo, os
polímeros formam ligações cruzadas entre si (rede) através de ligações covalentes ou não covalentes
para a formação de uma rede capaz de aprisionar a água, bem como outras substâncias de baixo
peso molecular.
No caso das proteínas, elas sofrem uma transformação em seu estado “sol” para um estado
“semelhante a gel”, principalmente quando concentradas e sob ação do calor. Nesse caso, as ligações
fracas que estabilizam a estrutura proteica nativa são rompidas e com o resfriamento, novas
ligações fracas (ligações não covalentes estáveis) são formadas (estrutura “desnaturada”), porém
de forma desordenada e com formação de rede proteica (por exemplo, gelatina), ou seja, interação
proteína-água (DAMODARAN, 2010).
A gelatina, proteína solúvel obtida a partir da hidrólise do colágeno, é um dos gelificantes mais
conhecidos e usados na atualidade. Trata-se de um gel proteico termo-reversível, ou seja, quando
aquecido na presença de água e, posteriormente, resfriado, há formação de gel (hidrogel), porém,
se aquecido novamente, se liquefaz.
Outra situação em que a formação de gel é muito importante é no processo da rede de glúten.
O glúten é o resultado do complexo proteico formado em proteínas globulares gliadina e glutenina na
presença de água e sob ação mecânica formando uma massa viscoelástica capaz de aprisionar o gás
durante a fermentação (DAMODARAN, 2010). A viscoelasticidade é o resultado de uma rede proteica
reticulada formada durante a transição das proteínas na forma de “sol” (proteínas) para uma forma de
gel (proteína-água). Essa rede é estabilizada principalmente por ligações dissulfeto entre os resíduos
de cisteínas encontrados em grande quantidade nessas proteínas, além de ligações de hidrogênio
(LEE; MULVANEY, 2003, NG; MCKINLEY, 2008).
72
ANÁLISE DE ALIMENTOS
A determinação de proteínas nos alimentos, assim como de quaisquer outros nutrientes, é fator
primordial para definir as propriedades nutricionais de um alimento, a confecção de tabelas nutricionais
(rotulagem), para determinação de parâmetros de qualidade, fraudes, atividade funcional e biológica
das proteínas etc. (CHANG; ZHANG, 2017).
Entre os métodos de análise mais usados, o tipo mais básico é a determinação de proteínas totais
em alimentos, que está baseado no conteúdo médio de nitrogênio presente em uma proteína, que é de
16% (BRYKSA; YADA, 2015). O método oficial mais praticado para determinação de proteínas totais nos
alimentos é denominado de método de Kjeldahl, que tem como princípio a determinação do conteúdo
proteico a partir da quantificação de nitrogênio (N) orgânico total.
5.3.2 Digestão
Nessa etapa, uma massa de amostra deve ser pesada com exatidão e transferida para o tubo de
digestão de forma a evitar que a amostra entre em contato com a parede do tubo para que não haja
perda de massa. Em seguida, são adicionados a mistura catalítica e o ácido sulfúrico (H2SO4) e se inicia
o processo de digestão que tem como fim a formação de uma mistura límpida levemente esverdeada.
Nesse momento, todo carbono e oxigênio foram oxidados havendo a formação de gás carbônico (CO2(g)),
água (H2O) e o nitrogênio orgânico foi convertido em sulfato de amônio (NH4)2SO4 (CHANG; ZHANG,
2017). Reação geral do processo de digestão:
Mistura catalítica
aquecimento
Proteína + H2SO4 CO2(g) + H2O + (NH4)2SO4
5.3.3 Destilação
A amostra digerida será neutralizada com uma solução de hidróxido de sódio. A mistura
ácido-base forte fará com que o sulfato de amônia (não volátil) seja degradado a amônia (NH3 – volátil).
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Unidade II
A amônia (gás) será destilada e recolhida em uma solução de ácido bórico contendo os indicadores de
azul de metileno e vermelho de metila (CHANG; ZHANG, 2017). Reação geral do processo de destilação:
5.3.4 Titulação
A solução contendo o íon borato (proporcional ao conteúdo de nitrogênio) será titulada com uma
solução padronizada de ácido clorídrico (HCl) com concentração conhecida (CHANG; ZHANG, 2017).
Reação geral do processo de titulação:
O cálculo será realizado a partir do volume de ácido clorídrico (HCl) usado na titulação, pois o
número de mols de HCl gastos é igual ao número de mols de amônia (NH3) que equivale ao número de
mols de nitrogênio orgânico da amostra (N). Para conversão de mols em porcentagem de nitrogênio na
amostra, se aplica a equação a seguir:
K * V * Fator
Proteína total ( % ) =
P
Onde:
K = Fc x 0,0014 x 100
Como a técnica quantifica o N orgânico não proteico (aminoácidos livres, pequenos peptídeos,
ácidos nucleicos, fosfolipídios, porfirina e algumas vitaminas, alcaloides, ácido úrico, ureia e íons de
amônio), e considerando que cerca de 16% das proteínas são constituídas por N (16 g/100 g), durante a
quantificação, é necessário considerar um fator de transformação geral para N proteico, esse fator é de
6,25, obtido da seguinte relação (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008):
74
ANÁLISE DE ALIMENTOS
16 g de N 100 g de proteína
X g de N Y g de proteína
N * 100
Y= = X * 6,25 g de proteínas
16
Cabe ressaltar que esse fator de transformação em N proteico deve ser utilizado para alimentos de
forma geral, porém alguns alimentos possuem fatores de transformação estabelecidos e específicos,
conforme descrito no quadro a seguir.
Observação
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Unidade II
6 VITAMINAS
Desde muito cedo, fomos orientados que uma alimentação à base de carnes, verduras, legumes e
frutas eram fontes nutritivas de vitaminas e minerais e, assim, paulatinamente, esse conceito foi incutido
em nossa sociedade. Uma dieta rica desses nutrientes condiciona o funcionamento do organismo como
um todo, modulando a resposta imunológica a combater agentes patogênicos, como vírus, fungos
e bactérias.
Define-se por avitaminose ou hipovitaminose, a deficiência de vitaminas, que pode ser resultante
tanto de uma dieta inadequada, quanto de disfunções do organismo decorrentes de determinadas
doenças. A hipervitaminose, ao contrário da hipo, refere-se ao excesso de vitaminas, levando à queda
capilar, ao ressecamento da pele e a outros danos, embora o excesso de vitamina seja excretado através
da urina (MATOS; MACEDO, 2015).
Em 1912, Casimir Funk chamou o composto orgânico de “vitamina” para descrever uma “amina vital”
do arroz integral utilizado para a cura da patologia chamada de beribéri, uma doença que acomete
alguns animais e os seres humanos, ocasionada pela carência nutricional, resultando em manifestações
clínicas envolvendo o sistema cardiovascular, gastrointestinal e o sistema nervoso (MORAN et al., 2013).
As formas mais graves podem levar o indivíduo a óbito.
As vitaminas são compostos orgânicos importantes para a homeostase do organismo, não são
energéticas, as doses necessárias diariamente são mínimas (miligrama/micrograma), não são digeridas
como os carboidratos e os lipídios, sendo absorvidas diretamente, pois são moléculas pequenas, além
de atuarem como cofatores enzimáticos. Para algumas enzimas, os cofatores são partes essenciais da
catálise enzimática.
76
ANÁLISE DE ALIMENTOS
A vitamina C ou ácido ascórbico não é uma coenzima, mas um agente redutor de diversas reações
enzimáticas, sendo a hidroxilação do colágeno a mais importante delas (MORAN et al., 2013). A oxidação
do composto está elucidada na figura a seguir.
Conhecida por ser um agente antiescorbuto, uma doença antiga encontrada a partir de meados
do século XVIII em marinheiros que ficavam grande tempo à deriva, cuja alimentação era quase que
exclusivamente à base de peixes e carboidratos. O consumo de vegetais e frutas, em específico frutas
cítricas, como limão e laranja, eram escassos.
O escorbuto é uma doença cuja principal causa é a carência de vitamina C, acometendo indivíduos de
ambos os sexos e com idade variável. Os sintomas incluem depleção do sistema imunológico, fraqueza,
fadiga, hematomas e sangramento das gengivas.
A voracidade e, muitas vezes, a necessidade pela comida rápida fazem com que a população atual
consuma cada vez menos alimentos frescos e saudáveis, ricos em micronutrientes e minerais. Para isso, a
indústria de alimentos vem a cada dia enriquecendo seus produtos alimentícios para atender à demanda
e à carência nutricional da população. Mas, infelizmente, a maioria desses produtos apresenta, além
dos micronutrientes essenciais, macronutrientes hipercalóricos, como carboidratos simples e lipídios,
contribuindo para o sobrepeso e a obesidade mundiais. Portanto, uma alimentação à base de produtos
frescos e in natura é uma estratégia profilática para obtenção de vitaminas e minerais.
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Unidade II
CHO CHO
CHO CH2OH
H C OH H C OH
Enzima Enzima HO CH O Enzima HO CH O
HO C H 1 HO C H 2 3
H H O H H O
H C OH H C OH H H
H C OH H C OH HO OH HO OH
CH2OH COO Lactona do ácido L-gulono-lactona
D-glicurônico
D-glicose Ácido Enzima
D-glicurônico 4
2-ceto- L-gulono-
Ácido CH2OH L-gulono- CH2OH gama-lactona
L-ascórbico lactona oxidase (GULO)
Importante: o ácido HO CH O HO CH O
ascórbico é sintetizado a
partir da D-glucose. O O
A última etapa é catalisada
pela enzima GULO. H H
HO OH HO O
Quantidade de vitamina C
Funções Fonte Exigências diárias
(mg/100 g de alimento)
Laranja 40,9 mg
– Necessária para a saúde da pele e
mucosas Limão 63,2 mg
– Favorece a cicatrização de feridas Melão 58,7 mg
15-120 mg/dia,
– Aumenta a competência do sistema Morango 72,8 mg dependendo da idade
imunológico e do sexo
Brócolis 80 mg
– Tem participação no controle dos Couve-flor 48 mg
níveis de colesterol
Couve 92 mg
Adaptado de: Pinheiro, Porto e Menezes (2005, p. 33); Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 89).
Molecularmente, a tiamina apresenta um anel pirimidínico e uma fração tiazol, ligados por uma
ponte de metileno (CH2), demostrada na figura a seguir. Ambas as frações são importantes para a
atividade biológica. Após absorção pela célula, a tiamina é imediatamente fosforilada em difosfato de
tiamina (TDP). O TDP atua como um cofator enzimático essencial no metabolismo dos aminoácidos e
da glicose pela célula.
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ANÁLISE DE ALIMENTOS
H3C N H
A) Tiamina
O O
-
H3C CH2 CH2 O P O P O
NH2 - -
+ 4 5 O O
CH2 N3 2 1S
N C
Tiamina
H difosfato (TDP)
B) H3C N
A deficiência nutricional de tiamina pode afetar o sistema cardiovascular, nervoso e, como ocorre, na
doença beribéri. O beribéri seco é caracterizado por neuropatia periférica, devido ao comprometimento
das funções sensitivas, motoras e reflexas. No beribéri úmido, o paciente pode apresentar neuropatia
periférica, associado à taquicardia, cardiomegalia e insuficiência cardíaca congestiva. Pacientes
etilistas crônicos podem desenvolver uma complicação neuropsiquiátrica, como a encefalopatia de
Wernicke (WILEY; GUPTA, 2020). O quadro a seguir faz uma descrição breve e importante a respeito
da vitamina tiamina.
Quantidade de tianina
Funções Alimento Exigências diárias
(mg/100 g de alimento)
Farinha de trigo integral 0,4-0,5
Arroz integral 0,50
– Atua no metabolismo dos Arroz polido 0,03
carboidratos 0,5-1,0 mg/dia,
Ervilhas 0,36 dependendo da idade
– É aliada ao sistema nervoso e e do sexo
muscular, combatendo a dor Outras leguminosas 0,4-0,6
Carne bovina 0,3
Carne suína < 1,0
A riboflavina ou vitamina B2 (figura a seguir) deriva duas coenzimas importantes nas funções
celulares normais: crescimento e desenvolvimento. A flavina mononucleotídeo (FMN) e a flavina-adenina
dinucleotídeo (FAD) fazem parte da cadeia transportadora de elétrons. Estruturalmente, a riboflavina é
composta por um anel planar de isoaloxazina ligada a uma cadeia lateral de ribitol (SAID; ROSS, 2016).
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Unidade II
H2N
CH3 N
N
H3C
OH O OH N
N
P OH
N O OH
O P O O
N OH OH
N O
OH
O N O
H
Riboflavina
A deficiência nutricional da riboflavina comumente manifesta-se após alguns meses sem o consumo
da vitamina, resultando em dermatites e descamações labiais. A riboflavina pode ser encontrada na
maioria dos tecidos vegetais e animais com concentrações variadas. As vísceras apresentam a maior
proporção em miligramas/100 gramas de alimento (quadro a seguir).
Quantidade de riboflavina
Funções Alimento Exigências diárias
(mg/100 g de alimento)
Carne vermelha 0,17
Fígado de boi 2,0
– Essencial para o metabolismo dos Peixe 0,10
carboidratos, lipídios e aminoácidos
Abacaxi 0,13 0,3-1,6 mg/dia,
– Função antioxidante dependendo da idade
Brócolis 0,11 e do sexo
– Necessária para a pele e mucosas
saudáveis Feijão branco 0,30
Vagem 0,20
Alface 12,0
Adaptado de: Pinheiro, Porto e Menezes (2005, p. 34); Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 77).
O termo “niacina” é um descritor genérico para designar tanto o ácido nicotínico (origem
vegetal) como a nicotinamida (origem animal). Sua síntese em humanos é insuficiente para suprir
suas necessidades metabólicas e, portanto, se faz fundamental ingeri-la diariamente (MARIA;
MOREIRA, 2011).
80
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Ela atua como componente das coenzimas do nucleotídeo de piridina, NAD e NADP, que são
essenciais em todas as células para a produção de energia e ao metabolismo (GALLAGHER;
YALAMANCHILI; SMITH, 2012, p. 78). A figura a seguir elucida a estrutura química dessas moléculas.
NH2
COOH N
N
O
N N
N -
O P O CH2
Ácido
nicotínico O O
O P O -
O OR(H ou PO3)
OH
CONH2 CONH2
CH2
N N+
O
Nicotinamida
Nicotinamida adenina
dinucleotídeo fosfato
OH
OH
As principais fontes alimentares são as de origem vegetal e animal (quadro a seguir), fornecendo o
ácido nicotínico e triptofano. Na deficiência de niacina, o indivíduo apresenta sintomas como fraqueza
muscular, anorexia e erupção cutâneas. A pelagra, causada pela deficiência mais grave da niacina,
apresenta sinais clínicos clássicos conhecidos como os “3 ds”: diarreia, dermatite e demência. A ingestão
diária de alimentos contendo niacina e triptofano previne contra as formas leve e grave da doença.
Quantidade de niacina
Funções Alimento Exigências diárias
(mg/100 g de alimento)
Carne de boi 2,9
Peixe 5,9
– Controla os níveis sanguíneos de Ostra 1,9
colesterol
Ervilha 1,9 2-18 mg/dia,
– Regulação do apetite dependendo da idade
Acelga crua 2,2 e do sexo
– Necessária para o funcionamento
das glândulas suprarrenais Inhame cozido 1,1
Maracujá 2,6
Tomate cru 0,5
Adaptado de: Pinheiro, Porto e Menezes (2005, p. 39); Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 79).
81
Unidade II
A vitamina B5, ou ácido pantotênico, possui papel relevante no metabolismo para a produção de
energia através da integração com a acetil-CoA. A CoA auxilia na distribuição do acetato e outras
moléculas através da glicose, ácidos graxos e vias metabólicas. O ácido pantotênico está amplamente
distribuído nos alimentos (quadro a seguir) e raramente ocorrem casos de deficiência clínica.
Quantidade de ácido
Funções Alimento pantotênico Exigências diárias
(mg/100 g de alimento)
Arroz branco 1,13
Carne bovina, moída, 0,33
cozida
– Metabolismo dos carboidratos
Fígado frito 5,92
– Ação fungicida e bactericida 1,7-7 mg/dia,
Castanha de caju 1,22 dependendo da idade
– Atua na cicatrização da pele
Leite em pó 0,76 e do sexo
– Na forma alcoólica, o pantenol exibe
ação protetora na pele e cabelos Brócolis cru 0,53
Ovos cozidos 1,40
Farinha de cereais 1,73
Adaptado de: Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 81); Matos e Macedo (2015, p. 64).
A composição estrutural (figura a seguir) é formada por um hidróxi-ácido complexo, o ácido pantoico
e a molécula de beta-alanina, unidos por um grupo amina ligados à carboxila do ácido (MORESCHI;
ALMEIDA-MURANDIAN, 2007).
82
ANÁLISE DE ALIMENTOS
SH
CH2
Betamercaptoetilamina
CH2
NH
C O
CH2
Beta-alanina Panteteína
CH2
NH
C O Ácido
pantotênico
CHOH
CH2
O P O
O
NH2
-
O P O
O N C
C N
HC Adenina
C CH
CH2 N N
O
H H
H H
Ribose 3’-fosfato
O OH
PO32-
A piridoxina, ou vitamina B6, nomenclatura mais aceita pela literatura, deriva o 2-metil-3,5 –
di-hidroximetilpiridina, forma ativa biológica de piridoxina (PN) e mais dois compostos ativos, o aldeído
piridoxal (PL) e a amina piridoxamina (PM) (figura a seguir) (GALLAGHER; YALAMANCHILI; SMITH, 2012).
83
Unidade II
Grupo R O
O
R 4’
CH
HO 4 5
CH2OH Piridoxal CH HO CH2OH
3 5’
2 1 6
Piridoxamina CH2NH2
H3C N H H3C N H
Estrutura basal Piridoxina CH2OH Ácido 4-piridóxico
HOH2C
R O CH2OH O OH
HO CH2 O P OH HO CH2 O OH
OH
OH
H3C N H H3C N H
Derivado 5’-fosfato Piridoxina-5’-β-D-glicosídeo
A vitamina B6 pode ser obtida através dos alimentos, principalmente, das carnes, produtos de
grãos integrais, como trigo, vegetais e nozes (quadro a seguir) e através da síntese da microbiota normal
do intestino grosso. A deficiência desse micronutriente leva a manifestações clínicas, como depleção das
células leucocitárias, fraqueza, insônia e neuropatias periféricas – dormência, formigamento e pontadas
nas mãos e pés (GALLAGHER; YALAMANCHILI; SMITH, 2012).
Quantidade de piridoxina
Funções Alimento Exigências diárias
(mg/100 g de alimento)
Couve-flor 0,10
– Responsável pela elasticidade do Cebola crua 0,14
colágeno
Farinha de mandioca 0,81
– Atua no sistema imunológico 0,1-2,0 mg/dia,
Grão de bico 0,75
– Prevenção do envelhecimento dependendo da idade
Banana-maçã 0,14 e do sexo
– Desempenha papel importante na Peito de frango 0,52
produção de energia pela quebra do
glicogênio e gliconeogênese Costela assada 0,35
Amendoim 0,76
Adaptado de: Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 81); Matos e Macedo, (2015, p. 64).
A biotina compõe as vitaminas do complexo B, apresenta um anel ureído ligado a um anel tiofeno e
cadeia lateral de ácido valérico e a um átomo de enxofre (figura a seguir). Nos alimentos, a biotina está
unida às proteínas. A liberação ocorre após a digestão por enzimas proteolíticas para produzir biotina
livre e biocitina (GALLAGHER; YALAMANCHILI; SMITH, 2012; BRINQUES, 2015). Ela atua como coenzima
nas reações de carboxilação e descarboxilação, expressão gênica, síntese de ácidos graxos e glicogênio
(BENASSI; MERCADANTE, 2018).
84
ANÁLISE DE ALIMENTOS
O O
Biotina Biocitina
HN NH HN NH
H H H H H
N COOH
S S
A) B) O NH2
Habitualmente, a concentração não é declarada nas tabelas de composição alimentar pela falta de
dados acurados.
O folato, vitamina B9, ou ácido fólico, é considerado um micronutriente “ouro” para a manutenção
da saúde e prevenção de patologias. Destacam-se as principais funções, sendo atuação como coenzima
em diversas reações metabólicas de aminoácidos, convertendo homocisteína, a metionina e biossíntese
precursora de ribonucleotídeos e desorribonucleotídeos para síntese de RNA e DNA (STELUTI et al.,
2021). Algumas outras funções estão ilustradas no quadro a seguir.
Adaptado de: Pinheiro, Porto e Menezes (2005, p. 40); Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 84).
É demonstrado por Steluti et al. (2021) a adoção por diversos países e o Brasil da política para a
fortificação de alimentos com ácido fólico. Essa prática reduz a incidência dos defeitos do tubo neural.
Uma dieta ineficiente em folato leva à deficiência dessa vitamina. Os principais problemas decorrentes
são diminuição dos glóbulos brancos e vermelhos, das células epiteliais do estômago, do intestino, da
vagina e do colo uterino.
85
Unidade II
Estruturalmente, o ácido fólico contém um anel de pterina com ponte para o ácido
para-aminobenzoico (PABA) via grupo metileno para formação do ácido pteroico (figura a seguir).
A adição do resíduo glutamato (GLU) via ligação peptídica resulta na formação de ácido fólico
(FIELD; STOVER, 2018).
O O-
C
CH2
O CH2
H
O HN C N CH
10
HN N
5 C
pABA O O-
H2N N N
Glu
Pterina
O
HO
86
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Quantidade
Funções Alimento Exigências diárias
(mcg/100 g de alimento)
– Junto com a vitamina B9, está Bife de fígado cozido 112
associada à síntese de DNA e RNA, Carne bovina cozida 2,5
células digestórias, nervosas e 0,4-2,8 mcg/dia,
hemácias Atum cozido 1,8 dependendo da idade
e do sexo
– No tecido tegumentar tem função Leite integral 0,87
contra o envelhecimento precoce Ovo cozido 0,49
Adaptado de: Mafra, Pinto e Cardoso (2013, p. 513); Matos e Macedo (2015, p. 64).
6.3.1 Vitamina A
Conhecida como retinol, a vitamina A (figura a seguir), desempenha diversas funções: atua na
acuidade visual (evitando a cegueira noturna), na diferenciação celular e na regulação de genes.
Os betas carotenos ou carotenoides são destacados por terem função de pró-vitaminas A, sendo capazes
de se transformarem em vitamina A no organismo (MATOS; MACEDO, 2015).
De acordo com o grau de oxidação do grupo funcional, a vitamina A se apresenta de três formas:
álcool retinol, aldeído retinal e o ácido retinoico (MORAN et al., 2013).
CH3
CH3
OH
CH3 CH3 CH3
87
Unidade II
Quantidade
Alimento de vitamina A Exigências diárias
(µg/ER/110 g)
Óleo de fígado de bacalhau 30.000
Lactentes e crianças jovens - AI = 400-500 ERA/dia
Fígado de vaca 8.340
Crianças mais velhas e adolescentes - RDA = 600-900 RAE/dia
Ovo de galinha 220
Adultos - RDA = 700-900 RAE/dia
Taioba 1.210,23
Gestante - RDA = 750-770 RAE/dia
Rúcula 810,86
Lactante - RDA = 1.200-1.300 RAE/dia
Brócolis 352,16
Depende da idade
Suco de laranja com cenoura 1.081,6
AI - ingestão adequada
ERA - equivalentes da atividade de retinol
RDA - ingestão diária recomendada
1 RAE = 1 mcg de retinol; RAE a partir de fontes vegetais calculados com base no 12 mcg β-caroteno = 1 ERA
Adaptado de: Gallagher, Yalamanchili e Smith (2012, p. 61); Chagas e Martini (2013, p. 414).
6.3.2 Vitamina D
A vitamina D é uma terminologia generalista para expressar o conjunto de vitaminas desse grupo.
Essa vitamina pode ser produzida pelo organismo através de exposição suficiente à luz ultravioleta
e do colesterol do tecido tegumentar. Quando expostas suficientemente à luz solar, a vitamina D3
(colecalciferol) é sintetizada por enzimas na pele a partir do hormônio esteroide. Logo, a vitamina D2
(ergocalciferol), que apresenta metila adicional (figura a seguir), é a forma artificial ou derivada de vegetal,
utilizada na indústria de alimentos e farmacêutica para suplementos alimentares e medicamentos,
respectivamente (MORAN et al., 2013; GALLAGHER; YALAMANCHILI; SMITH, 2012).
A forma sintética é similar à natural. Além do mais, a vitamina D3 e D2 são importantes na cura
do raquitismo, cuja manifestação se dá na infância, e da osteomalácia, na fase adulta (GALLAGHER;
YALAMANCHILI; SMITH, 2012).
CH3 CH3
H3C CH3 H3C CH3
CH3 H CH3 H
CH3 CH3
H H
CH2 CH2
A) HO B) HO
Quantidade
Alimento de vitamina D Exigências diárias*
(*UI/100 mg)
Salmão de cativeiro 100 a 250 Lactentes - 100 mcg (400 UI)
Sardinha em lata 300 Crianças e adolescentes - 12 mcg (600 UI)
Atum em lata 230 Adultos - 15 mcg (600 UI)
Adultos > 70 anos de idade - 20 mcg (800 UI)
Cogumelo tipo shitake fresco 100
Gestante - 15 mcg (600 UI)
Cogumelo tipo shitake seco ao sol 1.600 Lactante - 15 mcg (600 UI)
Gema de ovo 20 Depende da idade
*Unidades internacionais *Recalculado em microgramas de D3: UI = 0,025; 1 mcg = 40 UI.
H3C O CH3
CH3
CH3
89
Unidade II
6.3.4 Vitamina K
H3C
Quantidade de
Alimento Peso (g) Exigências diárias
vitamina K (mcg)
Espinafre cozido 1 xícara 1,027 Lactentes - 2,0-2,5 mcg/dia
Brócolis cozido 1 xícara 220 Crianças jovens - 30-55 mcg/dia
Aspargo cozido 1 xícara 144 Crianças e adolescentes - 60-65 mcg/dia
Adultos - 90-120 mcg/dia
Ovo cozido 48-50 g 24
Gestante - 75-90 mcg/dia
Leite integral 244 9,8 Lactante - 75-90 mcg/dia
Frango 100 1,2 Depende da idade
Lembrete
90
ANÁLISE DE ALIMENTOS
7 ADITIVOS ALIMENTARES
Com o advento da Revolução Industrial em meados do século XVIII, o trabalho manufaturado foi
substituído paulatinamente pelo feito através de máquinas, o que foi imprescindível para suprir as
necessidades humanas e aumentar a expectativa de vida. Demograficamente, a população expandiu-se,
a natalidade sobrepôs-se à mortalidade, ou praticamente foram equiparadas, dependendo do continente
ou país, fato ainda recorrente contemporaneamente.
Para suprir as necessidades dessa crescente população e aquecer a economia, o capitalismo, através
da indústria, especificamente, a alimentar, inovou seus produtos a fim de apetecer o consumidor, seja
ele adulto, infantil; fitness, vegetariano, vegano, de fast-food etc.
Os aditivos alimentares são utilizados há muito tempo pelo homem a fim de prolongar a vida útil
do alimento. Com a descoberta do fogo, o homem pré-histórico utilizava desse artifício para defumar a
carne dos animais que eram abatidos, aprendeu a utilizar o sal na conservação de peixes e carnes, além
de técnicas fermentativas, um grande marco na era biotecnológica, em que os microrganismos, sem
muito conhecimento dos nossos ancestrais, fermentavam o mosto produzindo o vinho, por exemplo.
Graças aos avanços tecnológicos, a indústria de alimentos tem se beneficiado de substâncias seguras
e eficazes utilizadas nos alimentos a fim de melhorar a aparência, o sabor, o aroma, a durabilidade de
prateleira (GAVA; SILVA; FRIAS, 2009).
A necessidade de unificação mundial fez com que a Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura/Organização Mundial da Saúde (FAO/OMS), criasse a Comissão do Código Alimentar o
(Codex Alimentarius Comission-CAC), a fim de internacionalizar os padrões de aditivos para alimentos e
assegurar a saúde do consumidor final (GAVA; SILVA; FRIAS, 2009).
A Portaria n. 540, de 27 de outubro de 1997, define aditivo alimentar como “qualquer ingrediente
adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar
as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais durante a fabricação, processamento,
preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação de
um alimento”. Ao agregar-se ao alimento, o próprio aditivo ou os seus derivados se convertem em um
componente de tal alimento. Essa definição não inclui os contaminantes ou substâncias nutritivas que
sejam incorporadas ao alimento para manter ou melhorar suas propriedades nutricionais (BRASIL, 1997).
91
Unidade II
• Conservantes: substância que impede ou retarda a alteração dos alimentos provocada por
microrganismos ou enzimas.
• Edulcorantes: substância diferente dos açúcares, que confere sabor doce ao alimento.
7.1.1 Aromatizantes
• Óleos essenciais: obtidos através dos vegetais por extração química, física e mecânica, ou por
qualquer outro método adequado. Exemplos são o óleo essencial de limão e cebola.
• Extratos: para a extração, é utilizada metodologia química ou física de fontes animal, vegetal e
microbiana. Devendo preservar as características aromáticas voláteis e fixas correspondentes ao
produto natural. Podem apresentar-se na forma líquida ou sólida, de acordo com o método de
obtenção. Extrato de guaraná é um exemplo dessa classificação (GAVA; SILVA; FRIAS, 2009).
Os aromatizantes sintéticos são classificados como compostos quimicamente definidos obtidos por
processos químicos:
• Aromatizante artificial: substâncias químicas obtidas por síntese, que ainda não tenham sido
identificadas em produtos de origem animal, vegetal e microbiana. Por exemplo, o antranilato de
metila, que confere sabor doce e agradável, semelhante ao da uva (SHIBAMOTO; BJELDANES, 2014).
7.1.2 Corantes
92
ANÁLISE DE ALIMENTOS
• Corante orgânico sintético: a obtenção ocorre através de síntese química por processo
tecnológico, sendo classificado como artificial ou idêntico ao natural. São exemplos: amarelo
crepúsculo e tartrazina, entre outros.
7.1.3 Conservantes
Um dos principais e mais importantes aditivos são os conservantes, não somente pelo fato de
retardarem o crescimento dos microrganismos (bactérias, fungos filamentosos e leveduras), como
também pelo processo de oxidação do alimento, prolongado a vida de prateleira do produto. Além do
mais, a utilização adequada do composto impedirá a alteração do sabor e da cor do alimento.
• Edulcorantes artificiais: obtidos através da síntese química, pode ser encontrados diversos
subprodutos de acordo com o composto utilizado. O aspartame, por exemplo, é obtido através
da síntese dos aminoácidos fenilalanina e ácido aspártico. Os sais de cálcio, potássio e sódio são
utilizados para a obtenção do ácido ciclâmico e da sacarina. Os edulcorantes artificiais podem
ser utilizados em conjunto, melhorando o sabor e a estabilidade do alimento (GAVA; SILVA;
FRIAS, 2009).
É fato que muitos estudos associam o uso de aditivos, em específico, os artificiais, a alguns tipos
de câncer. Portanto, se faz importante a confiabilidade nos estudos que assegurem as doses máximas
93
Unidade II
permissíveis a fim de proteger-se contra o potencial poder de toxidez, cancerígeno e mutagênico, que
algumas substâncias presentes em determinados aditivos possam trazer a seres humanos e animais.
Embora existam muitos microrganismos benéficos para o homem, o estudo desses seres vivos – em
especial, bactérias, fungos e vírus – tem como objetivo entender as doenças que eles provocam, suas
formas de disseminação e controle.
Observação
Porém alguns desses microrganismos interagem com seu hospedeiro de forma a alterar a fisiologia
normal do organismo, desencadeando um processo patológico que causa danos teciduais por
consequência da ação direta de fatores microbianos e/ou da própria resposta imune do hospedeiro.
94
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Os fungos são microrganismos eucariontes pertencentes ao reino fungi. Devido à sua natureza
eucarionte, possuem uma organização celular mais complexa do que as bactérias, que, como
visto, são organismos procariontes. A principal característica dos fungos é o fato de o seu material
genético não estar em contato direto com o citoplasma, mas envolto por uma membrana nuclear.
Também são encontradas no meio intracelular organelas citoplasmáticas e um citoesqueleto
organizado, que são delimitados por uma membrana plasmática típica cujo componente esteroide
recebe o nome de “ergosterol”. Sua parede celular é composta majoritariamente por quitina
– nunca por proteoglicanos –, o que a diferencia grandemente da parede celular bacteriana.
As bactérias possuem uma membrana plasmática que, assim como nos eucariontes, é formada de
fosfolipídios e proteínas com funções de transporte, comunicação celular e uma cadeia respiratória
semelhante àquela existente nas mitocôndrias dos eucariontes. No entanto, esta é envolta por uma
estrutura rígida – a parede celular –, que está presente (com exceção dos micoplasmas) em todas
as bactérias.
As bactérias podem ser diferenciadas umas das outras pela sua morfologia – incluindo não apenas o
tamanho, mas também a forma e as características da parede – e por suas características metabólicas,
antigênicas e genéticas. Em relação à forma, as bactérias podem ser classificadas em:
95
Unidade II
Embora seja comum nos referirmos aos vírus como microrganismos, não se deve esquecer de que
os vírus não apresentam estrutura celular definida como os fungos e as bactérias, de modo que não
são considerados células. De acordo com muitos autores, vírus não podem ser considerados seres vivos
porque, além da ausência de uma estrutura celular composta por membrana, citoplasma e material
genético, não possuem independência metabólica, ou seja, necessitam da maquinaria molecular da
célula hospedeira para manterem suas reações vitais. Por isso, nos referimos à estrutura viral como
partícula viral.
Os vírus são seres de estrutura muito simples, sendo formados basicamente por um material genético
que é protegido por um complexo proteico chamado capsídeo. Alguns vírus possuem por cima do
capsídeo um envelope lipídico, sendo assim denominados “vírus envelopados”.
Nem sempre a presença do vírus no organismo vai causar a doença imediatamente. Alguns são
conhecidos pela sua capacidade de latência, permanecendo em equilíbrio com o hospedeiro por vários
anos até que ocorra um evento de imunossupressão, permitindo o reinício do seu ciclo.
A conservação dos alimentos surgiu com a civilização. O homem pré-histórico logo cedo compreendeu
que deveria guardar as sobras de alimentos dos dias de fartura para os tempos de escassez. Com os
alimentos preparados, surgiram os problemas de transmissão de doenças e da rápida deterioração
dos alimentos, os quais foram causados, sobretudo, pelo armazenamento inadequado.
Os primeiros métodos de conservação deveriam ser e foram extremamente simples. Tudo indica que
os pedaços da carne de mamutes eram secos ao sol, a secagem rápida da camada externa possibilita a
conservação da parte interna.
Com a descoberta do fogo, surgiu a defumação, ainda hoje utilizada. Seguiu-se a descoberta da
salga, um processo simples e muito prático. Homero e Hesíodo mostram que na Grécia antiga, a salga
da carne e do peixe era amplamente utilizada. Os fenícios em suas longínquas viagens alimentavam-se
com peixes e carnes salgados. Comiam também caças provenientes de distantes regiões conservadas
no mel. Outro método de conservação de alimentos que aparentemente surgiu nessa época foi o uso
de óleos, como de oliva e de gergelim, o que resultou em alta incidência de intoxicações. Os romanos
96
ANÁLISE DE ALIMENTOS
utilizavam neve para conservação de carnes e frutos do mar em 1000 a.C. Nessa época, foram aprimoradas
as técnicas de defumação de carnes e produção de queijos e vinhos.
O homem e os microrganismos têm muito em comum no que se refere a suas exigências nutricionais.
Ambos dependem basicamente das proteínas e dos hidratos de carbono, que, somados às gorduras,
compõem os principais produtos alimentícios.
Os microrganismos podem desempenhar papeis muito importantes nos alimentos, sendo possível
classificá-los em três grupos, dependendo do tipo de interação existente entre microrganismo
e alimento:
97
Unidade II
O valor absoluto de atividade de água fornece uma indicação segura do teor de água livre do
alimento, sendo esta a forma ideal de água usada pelos microrganismos. As bactérias são usualmente
mais exigentes quanto à disponibilidade de água livre, seguida das leveduras e dos bolores. Algumas
espécies de bolores destacam-se pela elevada tolerância à baixa Aa..
pH
• Alimentos pouco ácidos: pH superior a 4,5. Nessa faixa de pH, a microbiota do alimento é
bastante variada, havendo condições para o desenvolvimento da maioria das bactérias, inclusive
as patogênicas, bolores e leveduras.
• Alimentos ácidos: pH entre 4,0 – 4,5. Nessa faixa, a microbiota já é bem mais restrita, representada
por bactérias láticas e algumas formas esporuladas do gênero Bacillus e Clostridium.
• Alimentos muito ácidos: pH inferior a 4,5. Nessa faixa, a microbiota capaz de se desenvolver é
restrita, praticamente, aos bolores e leveduras, além de bactérias lácteas e acéticas.
Composição do alimento
98
ANÁLISE DE ALIMENTOS
A estabilidade de alguns produtos de origem animal e vegetal ocorre na natureza devido à presença
de constituintes antimicrobianos, que são substâncias naturalmente presentes nesses alimentos, tendo
a capacidade de retardar ou inibir a multiplicação microbiana. Por exemplo: eugenol – cravo e canela;
timol – orégano; lisozina – ovo; alcina – alho.
Os fatores relativos ao ambiente que cerca o alimento poderão atuar positiva ou negativamente
sobre os microrganismos; são os descritos a seguir.
Temperatura
O binômio UR/temperatura não pode ser desprezado, geralmente, quanto mais baixa a temperatura
de estocagem, menor deverá ser a UR, sendo o inverso verdadeiro. Alterando-se a atmosfera gasosa, é
possível retardar a deterioração da superfície sem o abaixamento da UR.
Composição gasosa
Utilizada com indicador de contaminação fecal presente na água desde 1982. Hoje, também
utilizada como indicador da qualidade higiênico-sanitária do alimento. Além dos requisitos citados,
também apresenta outras características que a classifica como um bom MO indicador, tais como
habitat exclusivo do intestino do homem e de outros animais de sangue quente; número elevado
nas fezes; alta resistência ao ambiente extra-enteral; técnicas laboratoriais rápidas, simples e
precisas para detecção e contagem.
Coliformes são bactérias gram-negativas, não esporuladas, na forma de bastonetes e que fermentam
a lactose com produção de ácido e gás dentro de 24 a 48 horas a 32 – 37 °C. A definição do grupo
abrange os gêneros Escherichia, Klebsiella, Citrobacter e Enterobacter.
A contagem de coliformes pode diferenciar dois grupos: totais e fecais. O primeiro é utilizado
para avaliar as condições higiênicas, sendo que as altas contagens significam contaminação
pós-processamento, limpeza, sanificação e tratamento térmico deficientes; ou ainda, multiplicação durante
o processamento ou estocagem. O índice de coliformes fecais é empregado como indicador de
contaminação fecal, isto é, condições higiênico-sanitárias, presumindo-se que a população desse grupo
seja constituída de uma alta proporção de Escherichia coli, que tem seu habitat exclusivo no trato
intestinal do homem e de animais, indica-se a adoção ou não de boas práticas de fabricação durante o
processamento (condições higiênico-sanitárias), ou seja, a presença de coliformes totais indica práticas
incorretas (presença de sujeira).
100
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Nessa etapa de análise de alimentos, a avaliação microbiológica é fundamental não apenas para
conhecer as circunstâncias sanitárias na qual o alimento foi preparado ou produzido, mas principalmente
os riscos envolvidos em seu consumo, como também se a validade informada condiz com o estado real
de preservação.
Existem diversos métodos que podem ser utilizados, tanto para a quantificação (enumeração) de
microrganismos quanto para a avaliação qualitativa deles. Sua escolha dependerá de alguns fatores,
como o tipo ou os tipos de microrganismo que se pretende pesquisar (caso haja previamente uma
suspeita), o tipo de alimento e o designo da investigação, se é quantitativa ou apenas qualitativa.
É importante, também, que o método tenha sido regulamentado e aprovado pelos órgãos responsáveis.
Basicamente, podemos diferenciar os métodos em clássicos (que podem ser diretos ou indiretos)
e os métodos rápidos.
Os clássicos, por sua vez, são subdivididos em métodos diretos ou indiretos. Os diretos são aqueles
em que o número de microrganismos detectados nos materiais é contado através de uma relação direta
entre o número de colônias observadas e a quantidade inicial de células microbianas. Os indiretos são
os métodos que utilizam a atividade metabólica como relação da quantidade de bactérias no material.
Esse tipo de método, apesar de seu custo ser relativamente baixo, depara-se com a questão do
tempo de análise, que, dependendo do caso, pode afetar a precisão e eficiência do mesmo.
Contagem de placas
Um método clássico direto, uns dos mais utilizados para a análise de diversos tipos de microrganismos,
de acordo com o meio de cultura e condições de incubação.
Se imaginarmos que cada colônia separada observada originou-se de uma única célula de um
determinado microrganismo, pode-se realizar a contagem do número de microrganismos inicialmente
presentes na amostra, correto? Infelizmente, não. Sabemos que as células dos microrganismos ocorrem
em cadeias ou agrupamentos, então a premissa da contagem por célula unitária não é adequada, porém
sua lógica é verdadeira. Se pudéssemos fazer uma relação entre certo número de células iniciais e as
colônias separadas observadas, teríamos a possibilidade de estimar com alguma precisão o número de
microrganismos presentes inicialmente na amostra. Felizmente, isso é possível através da relação entre
unidades formadoras de colônias (UFC) por grama (ou mililitro) de material.
101
Unidade II
Também conhecida como técnica dos tubos múltiplos, tal como o nome sugere, é um método
estatístico indireto. É simples, porém menos preciso, oferecendo a probabilidade de 95% de chance
de que o material analisado contenha o número de bactérias utilizando uma tabela estatística que
contém o número mais provável para várias combinações de resultados positivos em tubos usados na
diluição. Além da imprecisão, a grande quantidade de vidrarias necessárias no preparo também é uma
desvantagem, pois, quanto maior o número de bactérias em placas, maior a necessidade de diluições,
de modo a eliminar o crescimento nos tubos. Estima-se o valor de NMP por unidades de mililitro (mL)
ou grama (g), através do número de tubos positivos em cada uma das diluições feitas, sejam três ou
cinco tubos.
Este método fornece dados sobre a população presuntiva e real de coliformes fecais, totais e
Staphilococcus aureus, e os resultados obtidos geralmente são maiores do que os realizados por
contagem de colônias em placas.
Saiba mais
Você pode saber mais sobre a técnica dos tubos múltiplos lendo a
Norma Técnica da Cetesb indicada a seguir:
102
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Assim como o nome indica, esses métodos produzem resultados em menor tempo quando
comparados aos métodos clássicos. E ao contrário do que diz o senso comum, mesmo sendo mais
rápidos, são também mais precisos que os clássicos.
Sistema Simplate®
Esse sistema utiliza a metodologia de NMP (tabela NMP fornecida pelo fabricante) para a análise
de bolores e leveduras, coliformes totais, bactérias aeróbias e E. coli. Os materiais de análise vêm em
placas plásticas de dois tamanhos – com 84 e 198 cavidades, de 738 e 1659 NPM de contagem máxima,
respectivamente – prontas para o uso. Como o meio de cultura presente na placa vem liofilizado,
para que possa ser utilizada, deve previamente ser reidratada com um diluente estéril, por exemplo,
água destilada.
Pipetam-se as amostras a serem analisadas no centro das placas Simplate®, e, a seguir, cobrindo
com o meio hidratado, nesse processo, o material se dispersa para as cavidades individuais. Colocam-se
as placas em estufa e após determinado tempo, verifica-se o resultado utilizando a tabela NMP do
fornecedor das placas.
Para a contagem total na análise de bactérias E. coli, leveduras, bolores e coliformes totais, o
processo de contagem se baseia na utilização de múltiplos substratos enzimáticos, que se relacionam
com a atividade bioquímica enzimática das bactérias presentes no alimento. A detecção ocorre quando
a amostra é hidrolisada por enzimas, após 24 horas de incubação para mesófilos aeróbios, coliformes
totais e E. coli; e a 48 horas para leveduras e bolores, em todos os casos. a 35 °C, há a produção da
substância 4-metilumbeliferona (4-MU) de cor azul fluorescente, podendo ser observada com a irradiação
ultravioleta no comprimento de onda de 365 nm. Mesmo que nem todas as bactérias apresentem as
enzimas ativas, é esperado que ao menos uma bactéria apresente, o que já é suficiente para a detecção.
A vantagem está no fato de não ter a necessidade ajustadores de pH ou antibióticos para bolores e
leveduras, sem a necessidade de filtração e diluição das amostras de alimentos.
Suas desvantagens estão relacionadas ao fato de se tratar de técnica de NMP, não podendo, desse
modo, definir os números reais e nem distinguir a predominância de um determinado microrganismo.
Além disso, alimentos como iogurte, fígado, nozes e farinha de trigo, possuem naturalmente algumas
enzimas que geram o efeito de fluorescência, produzindo resultado falso-positivo.
103
Unidade II
Sistema Petrifilm®
O sistema Petrifilm® é similar em muitos fatores ao de Simplate®. Ele baseia-se na multiplicação dos
microrganismos em meios de cultura já prontos, em cartões de papel (chamados de placa) revestidos por
um determinado meio de cultura previamente desidratado.
Para microrganismos aeróbios mesófilos, utiliza-se uma placa específica chamada Petrifilm® AC,
revestidas por meio de cultivo desidratado específico, contendo, entre outros compostos, o corante
indicador 2,3,5-cloreto de trifeniltetrazólio (TTC) e agentes geleificantes solúveis em água. De acordo
com o fabricante, a incubação das placas deve ser feita em anaerobiose aproximadamente por 48 horas
a temperatura de 30 °C a 35 °C.
A detecção e contagem das colônias são realizadas a olho nu ou usando um contador Quebec.
Por causa da redução do TTC do meio, observam-se as colônias com coloração avermelhada.
Para coliformes totais e diferenciação de E. coli, utiliza-se a placa Petrifilm® EC, que segue o
mesmo introito da placa Petrifilm® AC, todavia o meio é constituído por ágar vermelho violeta bile (VRBA),
o 5-bromo-4-cloro-3-indolil-β–D-glucuronídeo (BCIG), que é o indicador de atividade glucuronidásica
para E. coli, e um indicador tetrazólico com o objetivo de ajudar na numeração das colônias, que se
apresentam na coloração vermelha. A incubação se dá num período de 24 horas a temperatura de 35 °C.
Saiba mais
8.7 Aspectos clínicos e etiológicos das doenças transmitidas por alimentos (DTAs)
Doença transmitida por alimento (DTA) é uma expressão genérica, aplicada a uma síndrome
geralmente constituída de anorexia, náuseas, vômitos e/ou diarreia, acompanhada ou não de febre,
atribuída à ingestão de alimentos ou à água contaminadas. Sintomas digestivos, no entanto, não são
104
ANÁLISE DE ALIMENTOS
as únicas manifestações dessas doenças, podem ocorrer ainda afecções extraintestinais, em diferentes
órgãos e sistemas, como meninges, rins, fígado, sistema nervoso central, terminações nervosas periféricas
e outros, de acordo com o agente envolvido.
• Toxinas: produzidas pelas bactérias Staphylococcus aureus, Clostridium spp, Bacillus cereus,
Escherichia coli, Vibrio spp etc.
Nos alimentos ácidos como frutas e hortaliças, com pH entre 4,0 e 4,5, predominam bactérias
esporuladas, bolores e leveduras. Em alimentos muito ácidos, com pH <4, como produtos derivados do
leite, frutas, sucos de frutas e refrigerantes, predominam bactérias lácticas, bactérias acéticas, bolores
e leveduras. Algumas bactérias, como o Clostridium perfringens, desenvolvem formas esporuladas
resistentes a altas temperaturas, mas inativadas pelo frio. Com relação às toxinas, sabe-se que algumas
são termolábeis (inativadas pelo calor), como a toxina do botulismo, e outras são termoestáveis
(não são inativadas pelo calor), como as toxinas produzidas pelo Staphylococcus aureus e o Bacillus cereus.
Parasitas intestinais, como helmintos de transmissão fecal-oral (por exemplo, Ascaris lumbricoides,
Trichuris trichiura e Enterobius vermicularis) podem também estar envolvidos em surtos de DTA. Existem
vários mecanismos patogênicos envolvidos com a determinação das DTA. De forma simplificada,
pode-se agrupar as DTA nas seguintes categorias:
• Intoxicações não bacterianas: quando outros agentes não bacterianos estão envolvidos
com DTA, como nas intoxicações por metais pesados, agrotóxicos, fungos silvestres, plantas e
animais tóxicos (por exemplo, moluscos, peixes). Os mecanismos fisiopatológicos são variáveis,
envolvendo ação química direta do próprio agente sobre tecidos ou órgãos específicos ou a ação
de aminas biogênicas presentes no alimento tóxico. A ação mecânica da Giardia lamblia deve-se à
aderência do parasita à mucosa intestinal, impedindo a absorção das gorduras, levando a diarreias
persistentes. A irritação superficial da mucosa também agrava condições patológicas coexistentes.
A figura a seguir apresenta os dados de surtos de DTA nas diferentes regiões do Brasil entre os anos
de 2000 e 2017.
45%
39,2%
40%
33,9%
35%
30%
25%
20%
15,9%
15%
10% 6,0% 5,0%
5%
0%
Região Região Região Região Região
Sudeste Sul Nordeste Centro-oeste Norte
Figura 39 – Distribuição dos surtos de DTA por região. Brasil, 2000 a 2017
106
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Reservatório – frequente no solo e meio ambiente, encontrado em baixos níveis em alimentos crus,
secos ou processados.
Modo de transmissão – ingestão de alimentos mantidos em temperatura ambiente por longo tempo,
depois de cozidos, o que permite a multiplicação dos organismos. Surtos com vômitos predominantes
são mais comumente associados ao arroz cozido que permaneceu em temperatura ambiente. Uma
variedade de erros na manipulação de alimentos tem sido apontada como causa de surtos com diarreia.
Descrição da doença – resultante da ação de uma potente toxina produzida por uma bactéria
denominada Clostridium botulinum (C. botulinum), habitualmente adquirida pela ingestão de alimentos
contaminados (embutidos e conservas em latas e vidros), de ocorrência súbita, caracterizada por
manifestações neurológicas seletivas, de evolução dramática e elevada letalidade.
Agente etiológico e toxina – o Clostridium botulinum é um bacilo Gram positivo, que se desenvolve
em meio com baixa concentração de oxigênio (anaeróbio), produtor de esporos, encontrado com
frequência no solo, em legumes, verduras, frutas, fezes humanas e excrementos animais.
Modo de transmissão – são descritos os seguintes modos de transmissão para o botulismo: por
ingestão de alimentos; por ferimentos; por vias aéreas, através da inalação da toxina; por via conjuntival,
aerossol ou líquido.
Período de incubação – os sintomas podem surgir entre duas horas a cerca de cinco dias, em
período médio de 12 a 36 horas, após a ingestão de alimento contaminado, dependendo da quantidade
de toxina ingerida.
107
Unidade II
Descrição da doença – gastrenterite conhecida como diarreia dos viajantes, tem como quadro
clínico diarreia líquida, dor abdominal, febre baixa, náusea e mal-estar. A doença é usualmente
autolimitada, durando não mais que cinco dias, exigindo, contudo, em crianças e idosos debilitados,
reposição hidroeletrolítica.
Ocorrência – uma infecção características de países pobres. Durante os três primeiros anos de
vida, as crianças desenvolvem múltiplas infecções por ETEC; a doença em adultos nessas áreas é
menos frequente.
Agente etiológico – bactéria móvel, com morfologia de bacilo gram-negativo. A Salmonella enterica,
subespécie entérica, sorotipo Enteritidis (S. Enteritidis) é um enteropatógeno classificado no gênero
Salmonella, pertencente à família Enterobacteriaceae. Existem atualmente cerca de 2400 sorotipos
de Salmonella dos quais mais de 1300 pertencem à subespécie entérica.
Modo de transmissão – a bactéria é transmitida por alimentos contaminados ingeridos crus ou mal
cozidos. Esses alimentos são frequentemente de origem animal, a carne de frango e, principalmente,
ovos, os mais contaminados por S. Enteritidis. O ovo de galinha, ingerido cru ou mal cozido, vem sendo
implicado na maioria dos surtos por Salmonella em vários países, inclusive os chamados desenvolvidos,
desde os anos 1980.
Período de incubação – os sintomas iniciais da doença surgem entre 6 a 48 horas após a ingestão
de alimento contaminado.
108
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Lembrete
Agente etiológico – a Staphylococcus aureus é uma bactéria esférica (coccus) que aparece aos
pares no exame microscópico, em cadeias curtas ou em cachos similares aos da uva ou em grupos.
É um gram-positivo, sem motilidade, sendo que algumas cepas produzem uma toxina proteica altamente
termoestável, que causa a doença em humanos.
Ocorrência – a real frequência da intoxicação estafilocócica é desconhecida, seja por erro diagnóstico,
por ser similar a outras intoxicações (Bacillus cereus – toxina do vômito), por coleta inadequada de
amostras para testes laboratoriais, exames laboratoriais impróprios, investigações epidemiológicas
inadequadas dos surtos ou por muitos pacientes não procurarem atendimento médico devido ao curto
período de duração da doença.
Reservatório – seres humanos, na maioria das vezes. Os estafilococos estão presentes nas fossas
nasais, garganta, pele e cabelo de 50% ou mais dos indivíduos saudáveis.
Descrição da doença – infecciosa intestinal aguda, causada pelo Vibrio cholerae (V. cholerae),
geralmente moderada ou assintomática, manifesta-se com quadro grave em cerca de 5% das pessoas
que a adquirem. Caracteriza-se, em sua forma mais evidente, por diarreia aquosa súbita e profusa, com
aspecto de “água de arroz”, vômitos ocasionais, desidratação rápida e cãibras nas pernas. Sem terapia de
reidratação, a taxa de mortalidade pode atingir de 30% a 50% dos casos.
109
Unidade II
Agente etiológico e toxina – o Vibrio cholerae é bactéria gram-negativa que se apresenta na forma
de bastonete encurvado, e ocorre naturalmente em ambientes aquáticos.
Ocorrência – o Vibrio cholerae causa estimadamente 11 milhões de casos de doença no mundo por
ano, incluindo os surtos.
Período de incubação – os sintomas geralmente aparecem entre poucas horas a três dias da
ingestão do agente.
Modo de transmissão – o Vibrio cholerae é transmitido por via oral, ou seja, pela ingestão de água
ou alimentos contaminados com fezes de uma pessoa infectada.
Ocorrência – apresenta uma incidência de aproximadamente 1600 casos anualmente nos Estados
Unidos. No Brasil, é subdiagnosticada e subnotificada. Infecções assintomáticas provavelmente
ocorram em todas as idades, embora, sejam de importância apenas na gravidez.
Reservatório – o principal reservatório do organismo é o solo, lodo, forragem e água. Alguns estudos
sugerem que 1-10% de humanos podem carregar no intestino a L. monocytogenes.
Modo de transmissão – a maioria das infecções humanas ocorre por consumo de alimentos
contaminados. Quanto à infecção por alimentos, surtos registrados estavam associados à ingestão de
leite contaminado (inadequadamente pasteurizados e de fontes não seguras ou cru), queijos, sorvetes,
água, vegetais crus, patês de carnes, molhos de carne crua fermentada, aves crus ou cozidas, peixes
(inclusive defumados) e frutos do mar.
110
ANÁLISE DE ALIMENTOS
8.7.8 Hepatite A
Descrição da doença – início usualmente abrupto com febre, mal-estar, anorexia, náusea e
desconforto abdominal e aparecimento de icterícia dentro de poucos dias. O quadro pode ser leve, com
duração de um a dois semanas, ou mais grave, podendo durar meses, ainda que seja uma situação rara.
Agente etiológico – vírus RNA, de 27 nm de diâmetro, possui um único sorotipo, classificado como
hepatovírus e membro da família Picornaviridae.
Modo de transmissão – normalmente pessoa a pessoa pela via fecal-oral. O agente da infecção
é encontrado nas fezes, alcançando níveis de pico uma ou duas semanas antes do aparecimento dos
sintomas ou da disfunção hepática, diminuindo rapidamente em seguida, concomitante ao aparecimento
na circulação dos anticorpos para o VHA.
8.7.9 Rotavírus
Descrição da doença – a infecção pelo rotavírus varia de um quadro leve, com diarreia aquosa
e duração limitada a quadros graves com desidratação, febre e vômitos, podendo evoluir a óbito.
Praticamente todas as crianças se infectam nos primeiros três a cinco anos de vida, mesmo nos países
em desenvolvimento, mas os casos graves ocorrem principalmente na faixa etária de 3 a 35 meses.
Agente etiológico – um RNA vírus da família dos Reoviridae, do gênero Rotavírus. São classificados
sorologicamente em grupos, subgrupos e sorotipos. Até o momento, sete grupos foram identificados:
A, B, C, D, E, F e G, ocorrendo em diversas espécies animais, sendo que os grupos A, B, e C são associados à
doença no homem.
Modo de transmissão – rotavírus são isolados em alta concentração em fezes de crianças infectadas
e são transmitidos pela via fecal-oral, por contato pessoa a pessoa e também através de fomites.
111
Unidade II
Descrição da doença – amebíase é o nome da infecção causada pelo E. histolytica. As infecções que
duram, às vezes, anos, podem ser assintomáticas ou apresentar sintomatologia gastrointestinal vaga ou
disenteria (diarreia com sangue e muco).
Reservatório – humanos.
Período de incubação – variável, de poucos dias até meses ou anos; em média dois a quatro semanas.
Agente etiológico – a toxina denominada aflatoxina produzida pelos fungos Aspergillus flavus e
A. parasiticus e outras espécies de micotoxinas produzidas por Fusarium e Penicillum.
Período de incubação – pouco descrito na literatura no que se refere quando ingerido. Quando
inalado, dois dias a semanas.
112
ANÁLISE DE ALIMENTOS
A figura a seguir apresenta os dados dos dez agentes etiológicos mais comumente envolvidos com
doenças transmitidas por alimentos nas diferentes regiões do Brasil entre os anos de 2000 e 2017.
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
ella oli reu
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reus ella irus ens irus
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Figura 40 – Distribuição dos dez agentes etiológicos mais identificados em surtos de DTA
Saiba mais
Para saber mais sobre surtos de doenças transmitidas por alimentos, leia:
Exemplo de aplicação
É uma das áreas de habilitação do profissional biomédico que atuará na área da saúde pública nas
equipes que desenvolvem suas atividades junto aos centros de vigilância epidemiológica e sanitária.
Vale a pena conhecer mais sobre essa área de atuação.
113
Unidade II
A intoxicação por alimentos contaminados pode causar mais de duzentos tipos de doenças, desde
manifestações mais simples, como a diarreia, podendo chegar a situações mais sérias e complexas, como
o câncer. Segundo a OMS, os principais patógenos são a E. coli, Salmonella Typhi e o norovírus, oriundos,
principalmente, do consumo de alimentos crus de origem animal ou frutas vegetais contaminados com
fezes e mariscos contendo biotoxinas marinhas (AGÊNCIA BRASIL, 2015).
Além da questão de saúde pública, que é a principal, ressalta-se também as grandes perdas
econômicas envolvidas nesse processo. Segundo a OMS, no ano de 2011, devido a um surto de E. coli
na Alemanha, houve, por parte dos produtores agrícolas e industriais, uma perda de US$ 1,3 bilhão para
esses setores (AGÊNCIA BRASIL, 2015).
O Brasil possui diversas leis, decretos e instruções federais e estaduais, que têm por objetivo a
regulamentação de produtos ou alimentos de origem animal. Com relação às federais, até o momento,
temos basicamente:
• Lei n. 7.889/1989: ordena sobre a inspeção sanitária e industrial dos produtos de origem animal,
entre outras medidas.
• Lei n. 1.283/1950: também versa, basicamente, sobre a inspeção industrial e sanitária dos
produtos de origem animal.
114
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Observe que apenas entre as leis e normas federais já há sobreposição de assuntos, conteúdos e
temas. Somam-se a isso, as legislações estaduais, e o resultado não pode ser outro a não ser os conflitos
de competências na fiscalização de alimentos de origem animal, a sobreposição de textos que versam
sobre um mesmo assunto, acarretando a judicialização de todo e qualquer processo, pois, em vários
momentos, a legislação exprime ambiguidades e conflitos de competências entre os órgãos ajuizados
de fiscalização e regulamentação.
Esse é um fato que ocorre na totalidade da legislação de alimentos no Brasil. Dessa forma, por
parte do profissional de análise de alimentos, torna-se imperativo o conhecimento preciso e o
estudo das normas e legislações vigentes e as atualizações que se aplicam a cada tipo de negócio e
empreendimento, para relacionar com as várias legislações e impedir possível confusão de duplicidade
de regulamentação e inspeção.
Resumo
Exercícios
B) Os aromatizantes com a classificação “idêntico ao natural” são substâncias sintéticas que apesar
de terem estrutura química diferente das substâncias presentes nas matérias-primas naturais,
apresentam as mesmas características organolépticas.
D) O uso de corantes naturais para realçar a cor do alimento não apresenta riscos, pois esses produtos
são derivados de animais e vegetais e, portanto, não são fiscalizados pela Anvisa.
E) Em geral, o uso de aditivos alimentares é seguro. Portanto, não existe resolução específica que
determine a quantidade máxima desses compostos que pode ser adicionada aos alimentos.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
116
ANÁLISE DE ALIMENTOS
C) Alternativa correta.
Justificativa: os conservantes são substâncias adicionadas aos alimentos com o objetivo principal de
aumentar sua validade. Para isso, essas substâncias impedem a oxidação do alimento e a proliferação
de microrganismos.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: alguns indivíduos podem desenvolver reação alérgica contra esses corantes naturais.
Além disso, seu uso deve ser aprovado pelo Mapa e pela Anvisa.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: existem estudos que associam a utilização inadequada dos aditivos alimentares a
efeitos prejudiciais à saúde, como o aparecimento de câncer, de alergias e de outras enfermidades.
Por esse motivo, estipula-se a quantidade máxima de aditivos alimentares que pode ser adicionada
aos alimentos.
Torcedores passam mal e Vigilância Sanitária apreende alimentos no Maracanã – Fim do jogo,
Brasil campeão da Copa das Confederações, festa de grande parte do Maracanã. Em uma ambulância,
um paramédico atende uma paciente. Ao informar que o caso não era grave, ele revelou a preocupação
com a ingestão de alimentos de qualidade duvidosa no estádio. Vários torcedores procuraram o centro
médico e as ambulâncias, apresentando mal-estar, vômito e diarreia, ao mesmo tempo em que a
Vigilância Sanitária realizava a apreensão de 59 quilos de alimentos. Entre os alimentos apreendidos,
alguns apresentavam prazo de validade vencido, outros não apresentavam identificação e ainda
havia alguns alimentos que não estavam armazenados em temperatura ideal.
A Vigilância notificou imediatamente as empresas responsáveis pelos produtos, que haviam recebido
concessão da Fifa para a venda no estádio. De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro,
lanches prontos, tais como hambúrguer e cachorro-quente, estavam fora da validade; três quilos de
salsicha estavam sem identificação; sanduíches com pasta de frango, que seriam distribuídos aos
stewards (seguranças), estavam guardados fora da temperatura ideal; o queijo ralado também não tinha
procedência, embora embalado. Os relatos dos pacientes apontavam para o cachorro-quente como
causador da intoxicação.
117
Unidade II
II – A rapidez do surgimento dos sintomas nos consumidores que estavam no estádio sugere a
contaminação dos alimentos por Staphylococcus aureus, que pode ter ocorrido a partir do contato com
as mãos dos manipuladores dos alimentos, provavelmente no momento do preparo.
III – Medidas básicas de higiene, como, por exemplo, lavar as mãos antes do preparo de alimentos e
após usar o banheiro, são suficientes para prevenir a contaminação dos alimentos por microrganismos
como Escherichia coli e Salmonella spp. e, por isso, são medidas de prevenção aos surtos de intoxicação
ou toxinfecção alimentar.
A) I, II e III.
B) II e III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) I e III, apenas.
E) II, apenas.
Análise da questão
118
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 6
LEE, S. H.; LABUZA, T. P. Destruction of ascorbic acid as a function of water. Journal of Food Science,
v. 40, 2. ed. p. 370-373, mar. 1975. Adaptada.
Figura 7
LEE, S. H.; LABUZA, T. P. Destruction of ascorbic acid as a function of water. Journal of Food Science,
v. 40, 2. ed. p. 370-373, mar. 1975. Adaptada.
Figura 15
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,
2014. p. 359. Adaptada.
Figura 17
COSTA, K. A. et al. Estudo do processo de lixiviação controlada da escória de aciaria em extrator soxhlet
visando emprego em pavimentos. Revista Matéria, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 4, 2017.
Figura 18
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,
2014. p. 86. Adaptada.
Figura 19
RICE UNIVERSITY. Organic compounds essential to human functioning. Houston, 2021. Disponível
em: https://bit.ly/3bY6FXF. Acesso em: 17 mar. 2021. Adaptada.
Figura 20
119
Figura 21
Figura 22
Figura 23
Figura 24
A) NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,
2014. p. 127. Adaptada.
B) NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,
2014. p. 127. Adaptada.
Figura 26
MORAN, C. et al. Mutational analysis of Sse1 (Hsp110) suggests an integral role for this chaperone in
yeast prion propagation in vivo. G3 (Bethesda), v. 3, n. 8, p. 1409-1418, 2013. Adaptada.
Figura 27
Figura 28
ROSS, A. C. et al. Modern nutrition in health and disease. Philadelphia: Lippincott Williams &
Wilkins, 2016. p. 326.
120
Figura 29
Figura 30
TRUMBO, P. et al. Dietary reference intakes: vitamin A, vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper,
iodine, iron, manganese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium, and zinc. Journal of The American
Dietetic Association, v. 101, n. 3, p. 352, 2016.
Figura 31
SILVA-GONDIM, M. B. et al. Suckling in litters with different sizes, and early and late swimming
exercise differentially modulates anxiety-like behavior, memory and electrocorticogram potentiation
after spreading depression in rats. Nutritional neuroscience, v. 20, p. 1-10, 2017. Adaptada.
Figura 32
Figura 33
FIELD, M. S.; STOVER, P. J. Safety of folic acid. Ann N Y Acad Sci., v. 1414, n. 1, p. 59-71, fev. 2018. Adaptada.
Figura 34
PANIZ, C. et al. Physiopathology of vitamin B12 deficiency and its laboratorial diagnosis. Jornal
Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 41, n. 5, p. 325, 2005.
Figura 35
Figura 36
121
Figura 37
Figura 38
Figura 39
BRASIL. Ministério da Saúde. Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil. Brasília:
MT, jun. 2018. p. 9. Disponível em: https://bit.ly/2Q9dvRE. Acesso em: 16 mar. 2021.
Figura 40
BRASIL. Ministério da Saúde. Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil. Brasília:
MT, jun. 2018. p. 12. Disponível em: https://bit.ly/2Q9dvRE. Acesso em: 16 mar. 2021.
REFERÊNCIAS
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processing or as nutraceutical and pharmaceutical agentes – a review. Poultry Science, v. 92, n. 12,
p. 3292–3299, dez. 2013.
AGÊNCIA BRASIL. OMS estima 2 milhões de mortes por comida e água contaminada. Brasília,
7 abr. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3lqgfpx. Acesso em: 17 mar. 2021.
ALLEONI, A. C. C. Albumen protein and functional properties of gelatioin and foaming. Scientia
Agricola, v. 63, n. 3, p. 291-298, maio/jun. 2006.
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Exercícios
128
129
130
131
132
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000