Direitos-Fundamentais Joana Lopes
Direitos-Fundamentais Joana Lopes
Direitos-Fundamentais Joana Lopes
§ Bibliografia:
• Para a 1ª parte, mais teórica, importa o livro de Robert Alexy (editora Martins
Fontes)- teoria dos direitos fundamentais. Está traduzido. É importante, por
exemplo, para a teoria da norma. Ler as primeiras 200 páginas.
• Para a 2ª parte da disciplina podemos ler Jorge Miranda, Gomes Canotilho.
Mas a sugestão é ler as constituições anotadas- interessa perceber a forma
como as normas estão expostas na Constituição.
• Vão ser enviados artigos que cobrem alguns aspetos da matéria.
0: INTRODUÇÃO.
Ponto prévio: a linguagem não pode ser confundida com o Direito, porque a norma é
o resultado da interpretação, pelo que interpretamos textos normativos, não normas.
Aplicamos o significado de um texto a um dever ser.
Questão ontológica do direito: o direito é uma criação humana, tal como são
as mais variadas criações humanas (literárias, artísticas). Enquanto criação humana,
tem uma existência meramente virtual, ou seja, existe num mundo em que
partilhamos as nossas criações. Acontece um fenómeno evidente, mas às vezes não
pensamos sobre ele: a necessária intermediação da linguagem. As nossas criações
humanas são produtos do nosso cérebro, e só se tornam partilhadas pela comunidade
através da linguagem. A linguagem é um fator de intermediação necessária no
Direito. Nunca podemos confundir duas coisas distintas: O direito e a sua
linguagem. Do ponto de vista ontológico, do ponto de vista do ser, que é a análise da
qualidade das coisas enquanto coisas existentes, o direito e a sua linguagem não se
confundem. São coisas distintas: o texto da coisa que diz que é proibido matar e a
norma ao abrigo da qual a conduta de matar é proibida.
O circuito linguístico das normas procura ilustrar como é que este processo se
desenvolve: norma-texto-norma. Nas democracias parlamentares as autoridades
normativas resultam de órgãos colegiais. Uma norma é uma obrigação, proibição ou
uma imposição de qualquer coisa: é permitido, é proibido, é obrigatório.
Quando a CRP diz que a vida humana é inviolável no art. 24º/1 CRP), quer
dizer que há uma proibição de matar, o que tenho é: um enunciado normativo, que é
um texto (o art. 24º/1), e dentro desse texto, enquanto seu significado, tenho uma
norma que vigora no direito português (a proibição de matar).
Assim, não vamos confundir os dois planos e vamos perceber que uma coisa é
o texto e outra é a norma que o texto contem, independentemente das dificuldades
que tenhamos entre a conformação do texto. O que nos compete é pegar nos
enunciados normativos e a partir daí descobrir as normas que eles contém.
• Previsão;
• Operador deôntico;
• Estatuição;
Concluindo:
05.03.18
Para que é que isto serve? São conhecimentos teóricos que têm
consequências práticas relevantes. A previsão das normas tem uma importância
grande, e para ilustrar esta afirmação podemos ver que sem termos a compreensão do
conteúdo normativo,não podemos compreender o esquema do conteúdo normativo.
Grande parte das questões jurídicas que se colocam são questões de conflitos
entre direitos. Um conflito de um direito com outro resulta de a norma que confere
aquele direito estar em conflito com a norma que confere outro direito. Não
conseguimos saber que tipo de conflito é e como se pode resolver se não tivermos
uma compreensão cabal do conflito normativo.
Todo este discurso aparentemente teórico sobre a estrutura das normas e seu
conteúdo, é um conjunto de conhecimentos que são pressupostos em fases mais
adiantadas, pois vamos precisar destes conhecimentos.
Ø Muitas vezes, o operador deôntico (dever ser) não está escrito como deve
ser. Muitas vezes vemos normas redigidas no presente do indicativo: por
exemplo, os alunos pagam propinas. Mas os alunos não pagam propinas,
eles devem pagar propinas. Muitas vezes, o próprio operador deôntico
está escondido através de formas verbais que escondem o dever ser. Mas
como interpretes, temos de ver que o ato de fala da autoridade normativa é
um dever ser independentemente da construção verbal que ele utiliza.
Os enunciados das normas são escritos numa certa língua natural. No nosso
caso, a língua portuguesa. A língua é ela própria normativa, tem normas, mas estas
geram muitas vezes incerteza. Há certas palavras em relação às quais não temos
duvidas do seu significado, por exemplo, “água” é aquilo a que chama um natural
kind, correspondendo ao H2O. São palavras rígidas e fixas, que não têm textura
aberta. Mas a esmagadora maioria das palavras têm zonas de incerteza.
Nós temos um enunciado normativo e este vai levar-nos a uma norma, mas
apenas nas circunstâncias em que o enunciado normativo não é equivoco, ou seja, em
casos claros, em que a sintaxe está bem formulada e em que retiramos do texto uma
norma límpida que não coloca duvidas. Aqui há apenas uma possibilidade de norma.
Este é o caso frequente mas não é o caso que gera os hard cases, ou seja, os
casos complexos do ponto de vista da interpretação. O que gera os hard cases é algo
diferente: quando temos enunciados normativos que são linguisticamente incertos,
gerando incerteza linguística. Desse texto posso tirar mais do que uma norma
possível, por isso, a interpretação acaba por ser a escolha entre as várias normas
possíveis que um enunciado normativo linguisticamente incerto compreende.
Quando o enunciado linguístico é incerto, isso significa que ele compreende
mais do que uma norma potencial. Ao interpretar, procedo a uma escolha de qual é
a norma que ele compreende, de entre as várias possibilidades.
Temos situações de incerteza linguística que geram este segundo cenário. Este
é um esquema que nos é útil, permitindo perceber que quando interpretamos, o que
estamos a fazer é escolher uma de várias normas possíveis.
As autoridades normativas empurram-nos para esta confusão porque não
sabem fazer melhor. A língua natural é permeável a este tipo de situações, porque as
palavras geram equívocos. Acaba por ser uma fatalidade do uso de qualquer língua a
criação de cenários como este. Este cenário de alternativas linguísticas aparece em
razão das incertezas linguísticas. Estas são casos de:
• Polissemia: uma palavra significa diferentes coisas, pelo que podemos ter as
duvidas sobre qual o significado utilizado. A palavra representa coisas
diferentes no mundo. Por exemplo: banco.
• Vagueza: a fatia do mundo que as palavras cobrem não é rigorosamente
definida. Por exemplo: perto, bom, belo. São palavras em que não sabemos
onde é que esta acaba. Onde é que acaba a beleza. Se por alguma razão a
autoridade normativa utiliza a palavra beleza no enunciado, não sabemos ao
que se está a referir.
• Sintaxe
Depois dizemos que o que está escrito é a norma 3: aqui já estou no domínio das
normas, não volto a discutir linguagem. É a partir daqui que consigo apurar se uma
norma entra em conflito com a outra. A diferença entre as componentes de análise
linguística e as componentes dos problemas jurídicos que são exclusivamente
relativos a questões dos problemas normativos: quando digo que tenho um conflito de
normas já não tenho um conflito linguístico porque já fiz a escolha do que consta do
conteúdo normativo.
Como é que passo de cenários de incerteza jurídica para a escolha: os
ordenamentos jurídicos reagem a esta realidade e à indefinição linguística que decorre
da utilização de uso língua natural e fazem-nos através de:
Existiu um senhor, chamado Hehhfeld, que tem uma teoria de construção das
posições jurídicas. Estas são as situações que as normas conferem ás pessoas. Este
autor defendeu a correlatividade: é a afirmação segundo a qual uma posição jurídica
tem sempre uma posição jurídica contraposta.
Nos últimos 100 anos, todo o mundo se tem debatido em duas correntes: os
hofelianos e os anteofelianos. Estes grupos discutem se há ou não correlatividade.
Mais tarde vamos discutir isto. Há agora um aspeto essencial: na compreensão da
estrutura das normas, temos de assumir se há ou não correlatividade. A
correlatividade é uma premissa ao abrigo da qual afirmamos que sempre que
uma norma confere uma posição jurídica, confere a outro universo de
destinatários uma posição jurídica contraposta. Por exemplo: a CRP diz que todos
têm direito à habitação. Com isto, a CRP está a dizer que o estado está obrigado a
Na parte final da ultima aula começamos a olhar para um outro lado das estruturas
normativas, que é muito importante para aprender as normas e as posições jurídicas
relativas aos direitos fundamentais. Como é que se pode estudar direitos fundamentais
sem estudar posições jurídicas? Esta disciplina é sobre normas que compreendem
posições jurídicas subjetivas, tendo de ser analisado o seu conteúdo. Isso também
não é exequível se não compreendermos como é que as normas incorporam os
No final da última aula dissemos que a esta estrutura tem de ser adicionada a
componente subjetiva da norma. As normas incidem sobre sujeitos, caso contrário
não regulavam a ação humana. Essa é a finalidade da norma. A consequência
normativa é a descrição de uma ação, ordenada, regulada.
Como isso é assim, temos de compreender onde é que esse recorte dos sujeitos
é efetuado. Não há uma descrição de sujeitos no operador deôntico, que é uma
modalização da conduta, refletindo a norma como se esta se dirigisse a um estado
ideal de coisas. Esta expressão estado ideal de coisas é satisfatória para descrever o
que é normativo: o estado ideal de coisas é o que se pretende obter através da
criação de uma norma. Por exemplo, é permitido P leva a que não seja proibido
ou imposto P. O operador deôntico tem uma conexão com os sujeitos.
Ø Por exemplo: uma norma que diz que se os taxistas fizerem greve, é
obrigatório que os sindicatos comuniquem o respetivo pré-aviso. A
ação humana é os taxistas fazerem greve, mas esta ação não é regulada
Se é assim, então temos de assumir que as normas não têm apenas um mas dois
recortes de destinatários: isto significaria que, em rigor, quando olhássemos para um
qualquer enunciado da CRP relativo a direitos fundamentais, o que deveríamos fazer
do ponto de vista da interpretação seria, lendo esse texto, descobrir o que é a previsão,
o operador deôntico, a consequência, os destinatários diretos e os destinatários
indiretos/correlativos.
Se olharmos para todos os direitos fundamentais construídos numa lógica de
direitos de proteção, vemos que têm uma estrutura de correlatividade, como os
direitos sociais. São direitos construídos com base na criação de um dever.
Ø Sempre que temos este modelo relativo a uma ação, daí resulta uma posição
jurídica recondutível a uma destas 3 hipóteses. Do outro lado, estas posições
jurídicas vão ter contrapostos. As normas de direitos sociais são construídos
numa lógica de obrigação de X (ex: o Estado tem a obrigação de prestar
cuidados de saúde, e o direito está no destinatário correlativo, que somos todos
nós, que passamos a ter o direito a receber todos esses cuidados de saúde).
Temos assumida a premissa como verdadeira segundo a qual as normas têm estes
dois círculos de destinatários. Como é que eles se podem compor? Cada circulo de
destinatários podem compreender 3 grandezas/conjuntos:
• Todos;
• Alguns;
• Um.
Vamos pensar apenas nas duas categorias superiores. Não somos capazes de
dizer quantos são os elementos que contém a liberdade de expressão- teríamos de
saber se só as pessoas físicas têm liberdade de expressão ou também as coletivas e
isso é discutível. Cada um de nós somos um desses elementos, ou seja, todos significa
cada um de nós. Por exemplo, todos temos liberdade de expressão.
Isto tem outra consequência: temos de perceber que cada norma, na sua
generalidade, encerra um número potencialmente infinito de normas particulares.
Quando a CRP diz que há liberdade de expressão, inclui-se aqui todos nós. Ou seja, A
tem liberdade, B, C ... Portanto, dentro de uma norma geral de direitos fundamentais,
há um nº infinito de normas particulares de direitos fundamentais. Sobre uma norma
geral existem posições jurídicas individuais, ou seja, há permissões dirigidas a cada
uma das pessoas. Numa norma como a liberdade de expressão em que todos estão
permitidos de se expressar mas têm o dever de não interferência, ou seja, A tem
liberdade de expressão mas tem o dever de não interferir na liberdade de expressão
alheia. Se isto é uma verdade sobre o direito, a cada um de nós estas normas conferem
duas posições jurídicas: a posição jurídica primária relativa à realização da ação-
permissão de fazer uma coisa-, e a posição jurídica contrária, que é um dever de não
interferência quando os outros realizam essa ação.
Temos 2 alternativas:
SISTEMATIZAÇÃO:
O critério que subjaz a classificação não diz respeito a qualquer coisa que seja
próprio ou identitário da norma em questão, mas sim da posição em que a norma
se coloca em relação a outra dentro do conjunto normativo do ordenamento
jurídico.
CLASSIFICAÇÕES RELACIONAIS:
HART defende que a constituição dos ordenamentos jurídicos tem por detrás
uma regra consuetudinária que existe em todos os ordenamentos e tem a função
de determinar o sistema de fontes. Há uma aceitação generalizada, com consciência
de obrigatoriedade por parte de todos os que interagem com o direito português, no
sentido de o nosso sistema de fontes decorrer desse sistema de reconhecimento. As
fontes são todas as previstas na CRP e o costume. Para além destas regras secundarias
há outras (ex: regras revogatórias, suspensivas).
1. Normas primárias;
2. Conferem situações ativas ou de vantagem para o particular;
3. Normas constitucionais;
4. Normas formalmente qualificadas enquanto tal, enquanto normas de
direitos Fundamentais;
Ø Afasta todas as outras normas que não são primárias, como por exemplo,
as normas de competência (nos termos do art. 165/1/b) da CRP). Esta não é
uma norma de competência é uma norma sobre direitos fundamentais, que
habilita alguém a produzir efeitos jurídicos no domínio dos direitos
fundamentais, mas não é ela própria uma norma de direitos fundamentais,
pode ser uma norma secundária, neste caso de competência, pelo que não há
nenhum direito fundamental que resulte deste artigo.
Esta não seria já uma propriedade necessária pois é uma propriedade que decorre já
das normas primárias, sendo estas por isso, normas que atribuem direitos. Com isto,
relembrando que esta é uma circunstância já constante das normas primárias,
pergunta-se:
Porquê destacar esta propriedade? Por ser uma questão de cautela técnica,
ou seja, se for verdadeira a hipótese científica segundo a qual não podemos ter uma
situação jurídica de vantagem sem deveres, então de facto este conjunto é um
conjunto relacionado com normas que atribuem direitos e não normas que atribuem
posições jurídicas passivas.
§ NORMAS CONSTITUCIONAIS
morais, que não têm nada haver com os ordenamentos jurídicos, pelo
FUNDAMENTAIS;
Esta é uma propriedade na qual revela uma qualificação feita pelo próprio
Direito, portanto, nós sabemos que há normas na Constituição que se aplicam apenas
ü O Prof. DAVID DUARTE refere que não obstante haver um catálogo infindável
de conceções materiais, existe sempre um cisne preto relativamente às
posições de natureza material que determina que esta concepção não é a
correta.
Há sempre algo que determina que estas concepções não estão corretas, pois se
digo que a norma de direitos fundamentais deve ter certo conteúdo, mas se no
momento a seguir descubro uma norma de direito fundamentais não o tem, então tal
conceito não está correto.
ü Temos de perceber que o Direito é composto por normas e que cada norma é
uma unidade e a isto chama-se individuação normativa, que é a análise de
uma norma completa.
ü Hoje sabemos que as normas não definem o seu âmbito apenas por aquilo
que elas compreendem, mas por ação de outras quando entram em
conflito. Ex. Norma x: “Posso fazer aquilo que me apetecer” Constatamos
que em todas as oportunidades em que puder fazer aquilo que me
apetecer, nós somos permitidos a fazer o que nos apetecer. É-nos
permitido realizar um conjunto infinito de ações e omissões associadas à
natureza humana, como coçar o nariz ou matar.
ü MAS, as normas são sempre prima facie, ou seja, o direito só é definitivo
quando apuramos todas as normas aplicáveis ao caso. Isto passa-se assim
pois, depois ao lado da norma permissiva geral temos, por exemplo, o
direito de propriedade e o direito à vida, que chocam com a norma
permissiva geral, logo não posso roubar ou matar.
O Prof. David Duarte referiu que o que nos ocupa, são os sistemas normativos
formais, e nesta situação específica, podemos dizer que não pode haver uma
proposição jurídica sem norma. Temos de pensar em nomes: Tem uma consequência
curiosa, se de facto estas são as três pautas de comportamento:
Fx
Ox
Px
O DD já nos disse que estas posições jurídicas são originárias, são as que
decorrem da ordenação da conduta, são consequentes, geram um efeito correlativo, é
de aqui que aparece a correlatividade, é uma compreensão das posições jurídicas:
permite constatar que destas posições jurídicas, decorrem posições jurídicas
contrapostas, se alguém tem o dever de fazer algo, gerará qualquer coisa noutro
grupo de pessoas, a partir de aqui podíamos chegar à seguinte afirmação: existe uma
liberty, uma liberdade, existe um dever e uma liberdade, à primeira vista: o que de
aqui resulta é um dever e uma liberdade, mas esta situação vai gerar um empate,
(entre o dever e a liberdade) = que é o direito, claim right.
Mais, nem todas estas quatro realidades parecem ser situações jurídicas
atomísticas. Veja-se o exemplo da faculdade, que o Autor exemplifica como sendo “o
poder concedido ao dono de uma coisa de a usar”. Não será esta realidade jurídica
divisível? O uso da coisa pode implicar uma miríade de situações jurídicas. Aliás, será
exatamente esta premissa que levará MENEZES CORDEIRO a classificar a
faculdade como um “conjunto de poderes ou de outras posições ativas, unificado
numa designação comum.”
As realidades que a doutrina portuguesa subordina ao conceito de poder não
correspondem na totalidade às realidades subordinadas aos poderes hohfeldianos com
sujeições como correlativos –, entendidos como competências. Isto deve- se ao facto
de a doutrina portuguesa não diferenciar entre poder e capacidade de facto.
Com efeito, definir poder com base no critério de alteração de situações
jurídicas é insuficiente, na medida em que é concebível haver uma alteração de
situações jurídicas sem implicar a criação de uma sujeição na contraparte. O critério
que tem sido avançado para distinguir poder e capacidade de facto é a necessidade de
uma norma de competência.
Desta forma, correspondem aos poderes, em sentido próprio, os poderes
potestativos, cuja posição correlativa será a sujeição. Não trataremos destas situações
jurídicas. A situação jurídica classificada por MENEZES CORDEIRO como poder
de crédito é perfeitamente reconduzível à noção hohfeldiana de direito supra
referido, uma vez que o Autor a define como “a exigência de uma conduta (isto é,
uma pretensão)”.
Quem fizer uma aproximação às posições jurídicas, aqui põe o non right, o
quadrado hofeliano: o direito tem o correlativo ao dever, e a liberdade tem o
correlativo ao outro não ter o direito: a relação dos opostos não nos interessa.
ü Hart (Legal Rights) onde Hart nega a existência de uma situação correlativa à
liberdade. Imaginemos que o meu vizinho passa a vida olhar para o meu
jardim, e tem a permissão de olhar para onde ele quiser, não há nada que eu
possa fazer (eu posso contruir uma vedação, ) a liberdade que eu tenho não
tem um constrangimento para qualquer outra pessoa, posso interferir na
liberdade do vizinho de olhar para o meu jardim;
Estas normas entram em conflito, ao entrarem em conflito nada nos diz que o
dever de não interferência não possa ser violado, no fundo, temos sistematicamente o
problema que as normas têm proposições jurídicas prima facie, sob reserva que
prevalece, tenho direito a qualquer coisa, mas temos de ver se há uma outra qualquer
norma que prevalece: são proposições jurídicas prima facie, para situações
correlativas.
b) Critério da distinção
d) Irrelevância da derrotabilidade
Como já decorre de ter sido apresentado como uma propriedade das normas,
genericamente consideradas, a adopção do critério da regulação variável afasta da
contraposição entre regras e princípios o factor da derrotabilidade e, muito
especificamente, o da derrotabilidade amputativa.
e) Explicação normativa
a) A norma é «a1 ∨ a2 Pr b», sendo que «a1 ∨ a2» é o conjunto limitado de pressu-
postos, relativo às duas condutas que despoletam a proibição normativa.
Torna-se agora clara a razão pela qual as normas de princípio provocam uma
«regulação variável». Na estrita medida em que os pressupostos da previsão são
disjuntivos e ilimitados, nunca se define de forma precisa a quantidade de
pressupostos que, numa situação concreta, vem a ser coberta pela previsão e que,
assim, espoletam o efeito previsto na estatuição.
a) Se a norma é «a1 ∨ a2 ...∨ an P b», «b» é gradual na estrita razão de vir a aplicar-
se a mais ou a menos pressupostos do conjunto ilimitado que «a1 ∨ a2 ...∨ an»
consubstancia; naturalmente, e como já se referiu, essa definição de «mais ou
menos» não pertence à norma «a1 ∨ a2 ...∨ an P b».
i) Optimização
Ilustrando-o:
j) Conflitualidade
k) Dependência normativa
Ilustrando-o:
Quais são as normas que os ordenamentos jurídicos contem? Não são normas
de Direitos Fundamentais, já tínhamos falado sobre normas de competência; mas
temos mais categorias de normas de direitos fundamentais, como as normas de
definição de âmbito, que abrangem normas de definição de âmbito material e
subjetivo;
O art. 12/2.º da CRP: é um artigo que determina que as posições jurídicas da CRP
podem ser aplicas às pessoas coletivas, com adaptações, significa que norma a norma,
vamos ter de descobrir se essa posição jurídica é passível de ter como titular uma
pessoa coletiva, porque o art. 12/2.º não faz diferenciação entre pessoas públicas e
privadas. Como o artigo não faz distinção, então podemos perguntar se tem o Estado
liberdade de expressão? O Prof. David Duarte referiu que se formos objetivos, e
se nos despedirmos da conceção histórica, a liberdade de expressão é garantida a
todas as pessoas (singulares e coletivas; públicas e privadas), assim sendo o Prof.
David Duarte não vê nenhum argumento para não reconhecer ao Estado liberdade de
expressão.
Por exemplo, imaginemos que o primeiro ministro (representa o Estado quando
discursa) fala para o público, tem de se atender à maneira como ele realiza o discurso,
pelo que de alguma forma ele está a realizar uma permissão que o Direito lhe
concede, porque está a exercer a sua liberdade de expressão. Assim sendo o Prof.
David Duarte acha que este raciocínio faz todo o sentido, ao contrário de autores
como o Prof. Jorge Miranda, que tem em conta outros elementos, sem ser o
puramente objetivo.
Temos varias normas de produção na CRP, entre elas temos o art. 9.º da CRP, nas
alíneas b) e d), que obriga o Estado a realizar aquelas tarefas, mas a partir do art. 24.º
da CRP, vamos encontrar imensas normas de produção: , podemos classifica-las do
seguinte modo:
1. Necessidade;
2. Adequação;
3. Proporcionalidade em sentido estrito;
§ Adequação
§ NECESSIDADE
Impõe que a utilização do meio seja o equivalente ao menos oneroso para a obtenção
do fim. Efeitos secundários conhecidos (na lei epistémica);
Ex. Dois tipos de vacinas disponíveis – a segunda tem efeitos secundários nocivos
para a saúde
Como é que se faz esta operação? Duas coisas são sempre iguais e sempre
diferentes: A e B são sempre iguais e diferentes dependendo da perspetiva com que eu
analise, imaginemos que A é um aluno e B é aluna, pelo que são iguais, mas depende
do critério: se for do género eles são diferente, se for pelo atraso às aulas eles são
iguais (…):
Então como é que aplico o p. da igualdade? Tenho de escolher o critério de
comparação, para decidir como é que uma coisa é igual ou diferente, eu posso
manipular tudo, os critérios todos, depende do fator de comparação, é um aspeto que
mostra a primeira característica do principio da igualdade, não nos diz nada quanto a
isto, o p. da igualdade mostra a primeira característica da parasitagem, está
dependente do principio da proporcionalidade.
§ Conclusão:
Art. 19º:
Número 1 – Decorre desde logo que esta suspensão é excecional, ou seja, a
suspensão por ter também um efeito restritivo sobre normas de direitos fundamentais,
não pode ser utilizado como regra. Já sabemos que temos uma regra que proíbe a
suspensão dos direitos, liberdades e garantias; Parece que o conjunto de direitos que
pode ser suspensos cinge-se aos direitos, liberdades e garantias, restando saber se é
possível ou não analogicamente aplicar este regime aos Direitos Sociais – porque
seria quase irónico, o legislador constituinte tentou atribuir uma menor importância a
determinados pontos ou uma maior margem de conformação aos Direitos Sociais e
depois os direitos, liberdades e garantias podiam ser suspensos e os direitos sociais
não.
podem perder.
A nossa CRP tem aliás uma norma que é quase contrária ao apresentado,
relativamente às penas – art. 30º/4 – embora também esta disposição seja algo
problemática (ex. autárquicas).
Esta norma não acrescenta grande coisa aos mecanismos que existem já de
responsabilização civil no nosso ordenamento jurídico. Hoje isto está estabilizado na
lei da RC. à Art. 22º - apesar de já termos no ordenamento jurídico a tutela e a
especificação de como tudo isto funciona, isto não é uma coisa completamente
absurda. Imaginem que por alguma razão, o legislador se lembrava e dizia que ia
acabar com a responsabilidade pública dos entes públicos e com a respetiva lei ou se
extinguia um dos tipos de responsabilidade civil dos entes públicos – tal atuação, ao
violar o art. 22º é inconstitucional.
Px
Fx
Alf Ross:
2 AlfNiels Christian Ross foi um jurista e filósofo dinamarquês, além de professor de Direito
Internacional. É conhecido como um dos fundadores do realismo jurídico escandinavo.
a) Sobreposição;
b) Consunção;
c) Intersecção com pressupostos;
Sempre que cada uma das condições se verificar, significa que há sobreposição, se
houver uma incompatibilidade de efeitos jurídicos, então há um conflito;
NORMATIVOS?
i) Normas de especialidade;
ii) Lex superior;
iii) Lex posterior;
Ex. Todos temos direito à vida, todos beneficiamos da proibição de matar e da vida
protegida. Todos estamos adstritos a proteger a vida todos, no entanto no caso em que
duas pessoas correm perigo de vida mas apenas consigo salvar uma delas à conflito
remanescente no seio de uma única norma de direitos fundamentais.
Nota: todos os conflitos que não podem ser resolvidos por normas de conflitos à
juízo de ponderação
§ SISTEMATIZAÇÃO:
2. Exemplo 2: L1- à terça feita é proibido fumar; L2- à terça feira quando se está
a beber o café é permitido fumar. A especialidade carateriza-se por “beber o
café”. A norma 2 é especial em relação à norma 1 (há uma contradição
normativa e há uma consumpção de previsões).
Existe no ordenamento jurídico português uma norma que faz prevalecer sempre a
norma especial (L2).
3. Exemplo 3: L1- à terça feita é proibido fumar; L2- à terça feira quando chover
é permitido fumar. L2 tem pressupostos comuns com L1 mas também se
aplica a realidades que não se tocam. Como estas duas normas não são
incompatíveis- caso contrário não se aplicam ao mesmo tempo.
ü Estas normas não são dirigidas ao conteúdo das normas de conflitos. A única
que mais ou menos se aproxima disto é a norma de especialidade, mas não
é relativa ao conteúdo mas sim que uma norma tem um âmbito de aplicação
menor que outra.
ü O que há de específico nos conflitos parcial-parcial é que como as normas
não têm nada que as diferencie do ponto de vista estrutural, no conflito
em causa não ficamos a saber nada de estruturalmente distinto de umas
em relação ás outras. O conflito parcial-parcial chama-se de dupla
especialidade. Como não há nada de estrutural que permita identificar o
L1:Py(liberdade de expressão)
L2: Pr x (bom nome)
Dúvida de aluno:
L1: é anterior
L2: é posterior
Exemplo:
L1- liberdade de manifestação
L2- proteção da segurança interna
1. Adequação
2. Necessidade
3.2 - Lei epistémica de ponderação – Tem a ver com o conhecimento. Quando nos
operadores jurídicos vamos resolver um problema jurídico, nós termos problemas
de conhecimento do direito aplicável e dos factos. Portanto temos problemas de
conhecimento a 2 níveis, (ao nível do dever-ser, ao nível deôntico) e ao nível
empírico. E portanto as nossas decisões estão muitas vezes condicionadas pelo
nosso grau de conhecimento.
Quanto maior for o grau de interferência de uma norma maiores têm de ser o
grau de conhecimento epistémico presente. Ou seja, “eu” não admito que haja
resultados ponderativos em que se façam interferências em direitos fundamentais sem
se ter a noção ou uma consciência consistente da realidade. O princípio diz que
sancionará com a inconstitucionalidade/ilegitimidade jurídica, qualquer ponderação
em que haja uma interferência de uma norma de direitos fundamentais que não esteja
baseada em conhecimentos à altura.
De que conhecimento estamos a falar? Tendencialmente num conhecimento que seja
consistente.
4.1 Esta vertente não se confunde com a necessidade, vamos imaginar que eu
tenho dois meios para atingir a finalidade, no meio A eu ganho 10 e perco 5,
Vamos agora imaginar que não há nenhum estudo cientifico consistente que
determine que aquela vacina consegue ter um efeito relevante no combate à doença.
Portanto, o Prof. DD apresenta aquela que acha ser a mais brilhante forma de
racionalização da ponderação:
FÓRMULA DO PESO
𝐼1 𝑊1 𝑅1
𝑊1,2 =
𝐼2 𝑊2 𝑅2
W – weight/peso
I – intensity of interference/intensidade da interferência
W – weight/peso
R – reliability of empirical assumptions/ fiabilidade ou confiabilidade das assunções
empíricas.
O que se pretende é: eu tenho um conflito entre a Norma 1 e a Norma 2. Esta
fórmula diz que o peso - nós vamos ponderar a norma 1 contra a 2 e alguma delas vai
ter mais peso no caso concreto que é aquela que vai ganhar a ponderação - concreto
destas normas (que é o quociente desta operação) é igual ao resultado disto, da divisão
de umas variáveis pelas outras.
No fundo o que temos de fazer na ponderação é esta coisa de perceber em
que medida é que enfiar uma agulha numa pessoa para a vacinar é algo que tem
uma dimensão maior ou menor do que as pessoas todas ficarem curadas.
Vou fazer então uma coisa muito simples, vou contrapor a norma 1 com a
norma 2, vou dizer qual a interferência da N1 em N2 e vice-versa e vou pegar
naquelas 3 grandezas e vou enfiar nas variáveis da fórmula. Se o resultado da fórmula
for superior a 1 ganha a N1, se for inferior a 1 ganha a N2.
TEMOS 2 NORMAS:
Norma 1 – Liberdade religiosa
Norma 2 – Direito à vida
§ Portanto, variáveis:
2 2 1
𝑊 =
4 4 1
4
𝑊 =
16
𝑊 = 1/4
O exercício que acabou de ser feito aqui é o exercício que nos faz chegar ao
resultado em que porventura intuitivamente chegaríamos ao mesmo resultado. Mas o
que conseguimos aqui foi perceber que nestes conflitos há grandezas distintas, então
arranjámos uma escala para medir as grandezas, temos quanto a R a certeza do
conhecimento. Conseguimos agarrar em medidas para avaliar estas magnitudes e
conseguimos encadear vários processos mentais importantes.
Conseguimos encadear o processo em que vou avaliar em que medida a
liberdade religiosa interfere na vida e em que medida é que a vida interfere na
liberdade religiosa neste caso concreto. Depois vou fazer uma ponderação e vou criar
De outra perspetiva, como é que um juiz justificava isto? Ele vai fazer a
sentença, vai justificar toda a etapa de justificação externa da decisão se for baseada
nisto temos a garantia de que é uma excelente justificação, porque o juiz vai ter de
arranjar argumentos para dizer porque é que a interferência aqui é menor num lado do
que no outro, vai ter de explicar porque é que dá 2 ou 4, qual é a importância relativa
das normas em colisão, vai ter de avaliar a consistência empírica dos dados
subjacentes. Vai fazer uma fundamentação fantástica. Portanto, isto é um instrumento
de racionalidade.
Esta fórmula por mais deficiente que seja é a mais real, é a única fórmula
que nos permite racionalizar o pensamento, permite racionalizar um processo
que seria à partida meramente intuitivo. Portanto, o que está aqui em causa é a
racionalização de todas estas etapas. É preciso perceber que as normas são diferentes
e têm níveis de interferência diferentes umas nas outras, que têm impactos sociais
diferentes…
Outro exemplo:
Algo que o autor desta fórmula fez muito mal feita à Há um problema que não
estamos a considerar e que é muito difícil, estamos a ficcionar todos os conflitos
normativos como sendo binormativos, ou seja, que todos os conflitos normativos têm
uma norma de um lado e uma norma do outro. Mas a esmagadora maioria dos casos
os conflitos não são binormativos mas plurinormativos. E acontece que temos uma
espécie de duas trincheiras, e estão várias normas de cada lado a empurrar.
(𝐼 𝑊 𝑅) + (𝐼 𝑊 𝑅)
𝑊=
𝐼 𝑊 𝑅
A modificação:
𝐼 𝑊 𝑅𝑛 𝑅𝑒
𝑊 =
𝐼 𝑊 𝑅𝑛 (−) 𝑅𝑒
- Confiabilidade normativa
- Confiabilidade empírica
Quando se faz uma ponderação, dessa vai sair um resultado, uma das normas
vai prevalecer. Mas essas normas estão associadas a um caso. Como já sabemos,
não havendo nenhuma hierarquia entre estas normas, noutro caso qualquer, pode ser
exatamente ao contrário, posso ter uma situação em que entre N1 e N2 prevalece N1
em vez de N2 como poderia ocorrer. E portanto, esta prevalência que se cria que é
uma relação de prevalência condicionada (ela está condicionada à especificidade do
caso), embora não tenha de ocorrer sempre. Mas, seja qual for o caso ou a solução
obtida, o que vai acontecer é que para determinado conjunto de circunstâncias vai sair
um resultado normativo e é a isto que se chama law of competing principles ou lei da
colisão ou norma da ponderação (mais correto para o Prof. DD). à é uma espécie
de regra que sai da ponderação. Ex.
N1 = Permissão X
N2 = Proibição X
(C 1, 2, 3 )
Q
X = Q (consequência jurídica vitoriosa)
CàQ
Norma da ponderação: pode ser tudo e pode ser nada porque ela está
totalmente dependente do sistema de fontes e da ponderação de que estivermos a
falar. Imaginemos que o legislador vai agora fazer uma nova lei da liberdade religiosa
e vai ter que resolver o caso das transfusões de sangue nas testemunhas de jeová, ou
vai querer resolver, vai querer que esse problema não seja resolvido pelo juiz,
portanto vai ele assumir a responsabilidade.
Ele vai fazer a ponderação e porventura vai chegar a um sentido qualquer e vai
escrever isso no ato legislativo. Nesse tipo de situações quando há essa ponderação, a
norma da ponderação é uma norma jurídica do ordenamento jurídico, vamos imaginar
uma norma da AR devidamente promulgada e publicada e que entra em vigor e então
a tal norma da ponderação é uma norma jurídica e nós até já nos esquecemos que ela é
resultado de uma ponderação. É bom ter em conta que num sistema de normas como é
o sistema de normas ao nível constitucional, essencialmente formado por normas que
são princípios, necessariamente quase todas as normas jurídicas que sejam aprovadas
por autoridades normativas infraconstitucionais (legisladores) serão quase
garantidamente resultados ponderatório.
Se olharmos para os Códigos, quase todas as normas são resultado de
ponderação, obviamente. Mas essa norma da ponderação, a norma legislativa
produzida pelo legislador ou norma administrativa produzida por uma autoridade
administrativa num contexto de regulamento administrativo à essas normas são
fáceis (CàQ), pois podemos olhar para os princípios, mas já não precisamos porque
temos uma norma que resolve o conflito.
Onde se torna complicado perceber o papel da norma da ponderação é nas
ponderações concretas judiciais, ou seja, naquelas em que não estamos a falar de
introdução de normas novas no ordenamento mas daquilo que equivale á ratio
decidendi de uma decisão judicial, ou seja, não há norma nenhuma como esta no
ordenamento jurídico, há um problema que se coloca, o juiz tem de intervir, tem de
fazer uma definição do direito e ele vai resolver uma ponderação e vai criar uma
norma da ponderação, o tal CàQ. Qual é o valor que isto tem? Dominado pelo
sistema de fontes que existir nesse ordenamento jurídico.
Exemplo: Jornalista escreve um artigo de opinião em que revela coisas sobre a vida
de determinada pessoa. Há múltiplas variantes que podem condicionar o caso – a
pessoa está ou não identificada, a gravidade das coisas que são ditas.
CRP 1 N3
L 2
ü Isto serve para demonstrar que embora só haja duas situações lógicas de
conformidade e desconformidade constitucional, há aqui um elemento
qualquer em que a norma legislativa é constitucional e há outro momento
qualquer em que ela passa a ser inconstitucional. Mas isto é progressivo.
à Expressão do Prof. GOMES CANOTILHO de “quase inconstitucionalidade” –
PROF. DAVID DUARTE: Não há quase inconstitucionalidade, porque as normas
ou são contrárias ou não são. Neste tipo de situações a solução jurídica é
obviamente binária. Mas esta expressão é muito ilustrativa para descrever que
muitas vezes a minha qualificação de N2 como norma inconstitucional
depende da análise de pesos e medidas, da forma como N1 e N3 se
relacionaram no caso concreto. E portanto, muitas vezes isto são questões
estritamente quantitativas e de grau e algures nessa linha (48h-3anos) passa a
ser inconstitucional, mas quando passa a ser inconstitucional?
Isto traz à colação outro aspeto. Quando aceitamos a premissa segundo a qual
os ordenamentos jurídicos são de forma excludente compostos por princípios e regras
– teoria da exclusão – que significa na prática que todas as normas no ordenamento
jurídico só podem ser princípios ou regras e portanto, não há nenhuma 3ª via, o
N1 – constitucional
N2 – infraconstitucional
Uma das questões centrais dos direitos fundamentais é o que diz respeito
à restrição. Este é um conceito normativo, cumprindo as funções de assinalar as
circunstâncias em que uma posição jurídica conferida pela CRP é de alguma forma
limitada ou diminuída. É um conceito que visa descrever as circunstâncias em que
uma posição jurídica da constituição é limitada.
A 1 /\ A 2 /\ A3/\ A n... P x
§ Homicídio:
É proibido matar em qualquer circunstância.
É permitido matar em legitima defesa.
Se ao nível legal criar uma norma que diz que é permitido matar em legitima
defesa, há uma oportunidade menor: estou proibido de matar em todas as
circunstâncias no primeiro caso; estou permitido de matar num caso específico que
é a legitima defesa.
Se uma pessoa começa a tocar trombone à noite, isso entra em conflito com
outras normas. Mas supondo que a pessoa está a tocar trombone no sitio em que
houve uma festa e esse exercício já não é desconfortável. As posições jurídicas e as
ações variam de acordo com o contexto? Tocar trombone à noite não é legitimo
numa circunstância e é legitimo noutra circunstância? Os factos alteram o direito?
Isto é praticamente inaceitável.
Há ainda outra questão relevante no contexto desta teoria: se vamos dizer que
só está coberto pelo direito aquilo que é a sua manifestação paradigmática, então o
direito a expressar-se tem de ser hoje exercitável no mesmo contexto que o eram à 20
ou 30 anos. É uma posição conservadora porque só reconhece como exercício de
direitos fundamentais aquilo que já é o exercício de direitos fundamentais.
Esta teoria dos limites imanentes abre a porta a situações perigosas do ponto
de vista do rigor: a CRP compreende uma norma sobre restrições, que é o art.
18ºCRP- uma das coisas que acontece de acordo com a teoria dos limites imanentes é
que se dizemos que certo exercício de direitos fundamentais não está coberto pela
norma, quando o legislador intervém nesse exercício, não está a fazer uma restrição.
A posição em causa já não estava, sequer, na posição originária. Logo, fugimos ao art.
18º e ao princípio da proporcionalidade. Isto é uma porta aberta para se fazerem
controlos sem qualquer atenção à proporcionalidade. Fazem-se verdadeiras acrobacias
para justificar que uma posição jurídica não está inserida dentro da norma
constitucional, pelo que nem sequer se aplica a proporcionalidade nem o art. 18º.
§ 6.2.1 A CONFORMAÇÃO
§ 6.2.2 A REGULAÇÃO
§ 6.2.3 A CONCRETIZAÇÃO
Nota: Estas 3 figuras não servem para nada. A única coisa relevante é olharmos para
o texto da constituição e para uma definição saudável da norma que lá está e
compreendermos se as normas emanadas pelas autoridades normativas são a
reconfiguração permitida da posição prima facie. A restrição é um processo co-natural
à verificação de manuseamento de normas de direitos fundamentais.
Por exemplo: se é verdade que vigora uma permissão genérica (art. 26º/1),
como o regente entende, então qualquer norma emitida pelo legislador que colida
com a liberdade das pessoas (ex: definir como é que uma esplanada se pode
construir, pôr um sinal vermelho), tudo isso são restrições às normas de direitos
fundamentais e devem ser tratadas como tal, estando sujeitas a um juízo de
proporcionalidade.
Naquilo que é o verdadeiro sistema de normas de direitos fundamentais, o
conflito é uma realidade natural à configuração das normas e a existência de
decisões normativas que corrigem as posições prima facie é algo com que temos
de lidar. Na maioria dos casos, as restrições não levantam problemas. A norma que
proíbe matar genericamente é uma restrição à nossa liberdade individual mas é
irrelevante pois há uma prevalência do direito a estar vivo relativamente aos nossos
Restrição
• Individual
• Normativa
Supondo uma outra situação: não existia a norma que determina que a
manifestação tem de ser feita com pré aviso de 48h. Se existisse uma decisão do juiz
nesta matéria e este dissesse que a manifestação é permitida mas tem de haver um pré
aviso, então a restrição é individual mas desta vez não se baseia numa norma existente
no direito, pelo que é uma restrição individual constitutiva.
A fronteira que separa estas restrições nem sempre é muito rígida, porque
temos de introduzir um elemento: o elemento da verificação de alguma criatividade
na passagem deste momento. Quer para o administrador no exercício da função
administrativa quer para o juiz no exercício da função judicial, a norma pode conferir
Se olharmos para a CRP, vemos que tem uma parte primeira que consagra como
direitos e deveres fundamentais e esta parte primeira divide-se em 3 títulos:
1- PRINCÍPIOS GERAIS;
2- DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS;
3- DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS.
À primeira vista poder-se-ia dizer que do art. 12º ao art.79º, somente existem
disposições que compreendem normas direitos fundamentais. No entanto, algumas
delas não são normas primárias (que atribuem posições de vantagem) – portanto se o
conceito apresentado de normas de direitos fundamentais é válido, então podemos
dizer que algumas normas constantes destes artigos (12º-79º) não são normas de
direitos fundamentais.
E portanto, nada disto desfigura a nossa perspetiva até agora, ou seja, são
normas de direitos fundamentais no Direito português, aquelas que são normas
primárias. Logo, aqui não parece haver para o Professor qualquer incoerência que
O grande problema é outro: qual será o critério para determinar quais os direitos
(que estão fora do “catálogo” da CRP) que se devem ter como fundamentais? –
v Professor JORGE MIRANDA E RUI MEDEIROS – Dizem ser preciso fazer uma
análise da fundamentalidade e que a fundamentalidade se liga à DPH,
portanto, aquilo que de alguma forma tiver uma ligação directa à DPH estará
para cá da fronteira. Ou seja, o critério é uma linha de demarcação - isto
significa, na prática, que onde encontrássemos essa fundamentalidade haveria
um direito fundamental e quando não encontrássemos não haveria.
O Prof. David Duarte considera isto obviamente insatisfatório por duas razões
muito claras:
i) A fraqueza total na demarcação – qual é o juiz que pode dizer com um
grau mínimo de segurança, que numa qualquer situação jurídica existe
relevo de uma fundamentalidade ligada à DPH – vagueza - incapaz de
ter alguma função explicativa.
ii) Para além disso, se o que está em cima da mesa é a ideia de almejar a um
critério de fundamentalidade material (que de alguma maneira explique os
direitos fundamentais formais) isto é absolutamente inconsistente, pois que
existem posições jurídicas ativas (na CRP) que nada têm a ver com a DPH.
Portanto, o Prof. DAVID DUARTE diria que, sem prejuízo do que subjaz a este tipo
de orientações, daqui não resulta nada de palpável, ou seja, um jurista não terá aqui
nenhuma linha de demarcação. Esta chama-se cláusula aberta pois estabelece a
abertura a outros direitos fundamentais mas o Professor acha que ela devia ser
aberta ao quadrado, porque ela não só abre direitos fundamentais mas fica
completamente aberta;
O Prof. DAVID DUARTE não entende esta 3ª perspectiva – “cheira” a uma certa
ocidentalização dos direitos fundamentais – não nos podemos esquecer que existe
uma norma permissiva geral na CRP que permite prima facie a “burka”. E portanto, a
ideia de que existe uma certa concepção de condição humana que é cultural, a partir
da qual construímos a fundamentalidade material parece-lhe difícil de digerir. Parece-
lhe muito mais política do que técnica.
Para que é que serve o 16º/1? – o 16º/1 diz: os direitos fundamentais da CRP não
excluem outros – portanto está a dizer que para além destes direitos, há outros que são
direitos fundamentais – bifurcação: ou isto não significa nada ou então existem
verdadeiras consequências jurídicas – isto significa que são direitos constitucionais
com um regime de direitos constitucionais – esta parece ser a única solução.
Ora, o 16º/1 é uma norma que estabelece uma presunção – porque quando diz que
“não se excluem”, diz que todos os A’s devem passar a ser B’s – ou seja: todos os
direitos ali referidos e que tiverem aquela propriedade (seja ela qual for) passam a ser
direitos fundamentais – e quando todos os A’s passam a ser B’s o que é que significa?
Se eu tenho normas jurídicas cuja previsão é B’s e se os que estão fora da CRP são
tidos como os que estão dentro da CRP então estão sujeitos ao regime constitucional –
Adquirem um sentido de constitucionalidade;
E que regimes serão estes? (regimes constitucionais) – Ora, há A’s que devem
ser tidos como B’s (direitos fundamentais da CRP) – E, bem assim, os A’s passam a
estar sujeitos ao regime jurídico dos B’s – ou seja: às normas sobre normas de direitos
fundamentais (normas secundárias) – daqui resulta que os A’s passam a estar sujeitos
a ‘x’ (ou seja: se A = B e B está sujeito a ‘x’ (=) B está sujeito a ‘x’) – no fundo, o
que está em causa é a aplicação de regimes jurídicos a normas de direitos
Há ou não há um direito fundamental a dar milho aos pombos? Pelo facto de, por
exemplo, as CM proibirem de dar milho aos pombos?
Alimentar os pombos, é, num sistema como o nosso onde existe o direito geral de
liberdade, uma concretização do direito geral de liberdade. Porque é que não está
previsto na CRP? Porque historicamente nunca se sentiu necessidade de prever este
direito na Constituição. Se politicamente, historicamente e culturalmente for
necessário prevê-lo, haverá porventura uma Convenção Internacional que o defina. O
que significa o 16º/1 é que a Constituição não exclui a relevância disso. É uma norma
que neste sentido é aberta; significa uma capacidade no sistema de se adaptar àquilo
que venha a ser a positivação da norma de direitos fundamentais e este é o sentido do
16º/1 tal como ele tem sido compreendido.
Há uma boa parte da discussão desta matéria da cláusula aberta dos direitos
fundamentais, que numa posição como a do Prof. DD, que afirma não ser possível
afirmar que existe um critério material que identifica os direitos fundamentais extra-
constituição, não tem sentido.
1 – regra geral
2 – exceções:
Número 4 – Em princípio os direitos políticos não podem ser abertos, mas aqui o
legislador entende que a relação com a soberania é mais distante e assim sendo, e
estando em causa interesses das populações locais, abre aqui a possibilidade de em
condições de reciprocidade, abrirmos direitos nessa matéria de capacidade eleitoral
ativa e passiva para as autarquias locais.
Número 5 – Possibilidade das eleições para o PE serem utilizadas de certa forma
como um preculsor da cidadania europeia num sentido mais concretizado. As eleições
para o PE poderem ser abertas a cidadãos estrangeiros mesmo quando do contigente
nacional de cada EM, as eleições para o PE poderem expressar essa ideia de existe um
§ NORMAS DE PROMOÇÃO;
Isto não significa que não possam também existir normas de promoção para
direitos, liberdades e garantias, o que acontece é que é algo mais característico dos
direitos sociais, embora também possam existir nos direitos, liberdades e garantias.
Ex. Tutela jurisdicional efetiva. Haverá aqui um qualquer dever que recai sobre o
Estado de promover o acesso.
Não esquecer também que estas normas de promoção, só impõem deveres sobre o
Estado se efetivamente existirem. Não podemos pura e simplesmente pensar na norma
fundamental como um todo que engloba tudo, porque há outras que têm uma série de
dimensões e impõem deveres. Temos de encontrar, seja uma norma de promoção
geral ou especial, ele tem de efetivamente assumir que recaia sobre o Estado o tal
dever de promoção, numa linguagem um pouco mais Reis Novaiana, que permita o
acesso ao bem que seja protegido pelo direito fundamental.
Ex. Direito à saúde – Norma que obriga o Estado à criação de um serviço global
de saúde. Mas aqui já estamos a pensar na criação de determinadas condições
contextuais, por exemplo, condições económicas, sociais e ambientais, que
também têm indiretamente uma ligação ao Direito à saúde. Aqui temos qualquer
coisa como “relativamente à saúde das pessoas impõe-se ao Estado a criação das
tais inerentes condições contextuais referidas”. O facto de lhes atribuir, por parte
do Estado, estas condições contextuais, não gera uma situação jurídica de
Norma que está muito dependente de outras normas, não só porque ela própria
não estabelece um critério de igualdade; o seu critério de igualdade é sempre um
critério funcionalizado a um objetivo e isso é dado pelo princípio da
proporcionalidade ou é dado pelo juízo que se faz.
Não existe igualdade em si, apenas igualdade em relação a qualquer coisa, é
funcionalizada a uma posição jurídica específica.
1 – Decorre desde logo que esta suspensão é excecional, ou seja, a suspensão por ter
também um efeito restritivo sobre normas de direitos fundamentais, não pode ser
utilizado como regra. Já sabemos que temos uma regra que proíbe a suspensão dos
direitos, liberdades e garantias; Parece que o conjunto de direitos que pode ser
suspensos cinge-se aos direitos, liberdades e garantias, restando saber se é possível ou
não analogicamente aplicar este regime aos Direitos Sociais – porque seria quase
irónico, o legislador constituinte tentou atribuir uma menor importância a
determinados pontos ou uma maior margem de conformação aos Direitos Sociais e
depois os direitos, liberdades e garantias podiam ser suspensos e os direitos sociais
não.
Regra excecional – Em que se permite a suspensão dos direitos, liberdades e
garantias nos dois casos de estado de sítio ou de emergência, se preenchidos os
requisitos na constituição.
6 – É este que delimita os direitos, liberdades e garantias que podem ser suspensos.
Nós já sabemos nos termos do /1 que estamos a falar da suspensão de direitos,
liberdades e garantias e este número faz uma delimitação pela negativa. Afinal não é
2 tipos de normas:
i) Que implicam a perda de direitos;
ii) Indemnizatórias;
Esta norma não acrescenta grande coisa aos mecanismos que existem já de
responsabilização civil no nosso ordenamento jurídico. Hoje isto está estabilizado na
lei da RC. Art. 22º - apesar de já termos no ordenamento jurídico a tutela e a
especificação de como tudo isto funciona, isto não é uma coisa completamente
absurda. Imaginem que por alguma razão, o legislador se lembrava e dizia que ia
acabar com a responsabilidade pública dos entes públicos e com a respetiva lei ou se
extinguia um dos tipos de responsabilidade civil dos entes públicos – tal atuação, ao
violar o art. 22º é inconstitucional.
9.2.2: A RETROATIVIDADE;
O que fazer? Nada disto indica um outra coisa. Aquilo que parece ao Prof.
DD que pode ser pensado como conteúdo essencial não é nada que nós possamos
definir a priori mas é eventualmente alguma coisa que possamos construir através da
vivência da posição jurídica nos seus contornos concretos.
A norma usada como exemplo, da liberdade de expressão é uma norma que
irá colidir com outras e é uma norma que vai estar sujeita à derrotabilidade
adveniente da colisão com outras. Aquilo que podemos ver, que o Prof. DD acha
que será eventualmente a maneira de caminhar para algo que possa ser considerado
como “conteúdo essencial”, mas que não é um conteúdo essencial, é no fundo apenas
uma espécie de registo estatístico.
É que destes biliões de ações , de todas as variáveis possíveis que saem da
ação expressar-se, há de facto algumas que têm uma enorme intensidade de derrota e
Este é talvez o requisito mais insensato e o que mais criticas tem recebido por
parte da doutrina. Existindo hoje a ideia de que este é um requisito destituído de
sentido e será provavelmente uma norma que já não vigorará no Direito português
porque é sistematicamente violado. Porquê? Porque a CRP neste enorme catálogo de
direitos, liberdades e garantias tem várias normas que elas próprias preveem restrições
e autorizam restrições. Há restrições que estão expressamente previstas e que… Mas
há outras que não têm restrição rigorosamente nenhuma (ex. esmagadora maioria das
liberdades – consciência, culto, religião).
Não se percebe como se relaciona com a previsão expressa. Aqui parece ser
uma exigência de previsão cumulativa. Está aqui nesta parte final do /2 uma exigência
de apoio constitucional da restrição.
Uma norma infraconstitucional não é inconstitucional só por contrariar uma
norma constitucional. Não é a contrariedade direta entre a N2 e a N1 que faz gerar a
sua inconstitucionalidade; se por hipótese numa é permitido x e na outra é proibido x
(há obviamente uma incompatibilidade de efeitos) – a aferição da
inconstitucionalidade da N2 está sempre dependente da existência de uma outra
norma, a N3, que eventualmente possa justificar a N2. Portanto temos sempre dois
cenários possíveis: ou a N3 não existe na CRP (não há nenhuma norma que
fundamente a restrição que N2 opera em N1, e se não existe então N2 é
inconstitucional descaradamente) ou existe N3 (e N2 não é mais do que uma
ponderação entre N1 e N3, então o nosso juízo de constitucionalidade ou
Ex.
N1 – liberdade de manifestação
N2 – obrigatoriedade de pré-aviso de 48h
Existe claramente algo que temos que ter em atenção – não existe nenhuma
alínea no art. 164º ou 165º que fale em direitos sociais mas há obviamente nesse
sentido, alíneas que dizem respeito a matérias que cobrem direitos sociais (basta por
Ao Prof. parece-lhe que não tem qualquer apoio na CRP a ideia de haver
um regime unitário - a ideia segundo a qual temos um regime genérico e específico
de direitos liberdades e garantias e depois os direitos sociais beneficiam desse regime
genérico.
Para terminar a questão da justicialidade, o ponto que está aqui nos direitos
sociais são os chamados direitos com custos (financeiros). Isto não é exclusivo dos
direitos sociais, porque se fosse assim tínhamos que ter um critério material que nos
permitisse fazer uma diferenciação; há direitos, liberdades e garantias que também
têm custos (Ex. direito à saúde). Logo, isto é apenas uma característica tendencial
aplicável àquela categoria selecionada com base em critérios que a CRP definiu.
Os direitos que que têm custos geram um problema complexo, que é o problema de
todos eles terem custos interrelacionados. Portanto, não se pode dizer que há dinheiro
para este direito ou não há dinheiro para este direito
Todos os direitos de custos têm um problema transversal que é um problema
de derrotabilidade. Todos os direitos sociais são genericamente mais aptos a
derrotabilidade do que os direitos de liberdade e são mais aptos por causa do
custo. Portanto, se for a Tribunal a dizer que tenho o direito a manifestar-me e quero
manifestar-me é óbvio que o Tribunal dirá com facilidade se estou ou não em
condições de me manifestar, mas se for a Tribunal dizer que quero uma casa porque
tenho direito a uma casa como está previsto na CRP, o Tribunal aí vai ter que fazer
uma ponderação em que terá como “limite” a reserva económica do possível.
A nossa CRP determina claramente no 105º que o Orçamento de Estado deve
compreender as receitas necessárias para a realização do indispensável e isto vem ao
encontro de uma questão que é no fundo a grande questão de saber se a existência de
receitas é um limite de facto ou um limite jurídico. A existência ou não de recursos
financeiros é um limite fáctico ou jurídico?
1 – O Prof. não sabe onde esse princípio está nem de onde ele vem – preciso
de uma fonte, de alguém que demonstre a existência da norma, como é que a norma
entra em vigor no Direito português. Ela não está na CRP, se é uma norma
consuetudinária jurisprudencial… não é fundamento suficiente para justificar a sua
vigência;
Word Bill – uma norma que estabeleçe uma liberdade, e uma norma que
estabeleça um claim right, está dependente de um dever de um sujeito direto –
tecnicamente é errado pensar que os direitos sociais não são percetivos, o Prof. diz
que os direitos sociais são percetivos como quaisquer outros, simplesmente os direitos
sociais dependem de um dever, e portanto essa word hability, está obviamente
depende do dever, não significa que não sejamos logo tutelados da posição jurídica, o
DD diz que é evidente eu ir ao tribunal exigir um direito social, este direito social, é
um direito que precisa de ser ponderado que precisa de uma decisão pelo juiz,
O grande problema, - os direitos sociais, esta transição é diferente, a transição
dos direitos sociais depende de juízos extremamente complexos, - que gera condições
que muitas vezes são delimitadas, em Estados com recursos limitados – significa um
maior rateio nos direitos sociais, significa uma diminuição na satisfação dos direitos –
os direitos sociais não são direitos que não sejam exercitáveis – os direitos sociais são
sujeitos a uma significativa de uma realização ponderatória; - a diferença é apenas
essa – isto é complexo no sentido em que o juiz possa vir a decidir numa decisão
social, que depende de múltiplas variáveis – como é que fazemos a ponderação, no
Em França havia uma discoteca que tinha um canhão que lançava anões, e
por causa disso os contratos foram declarados nulos pelos tribunais porque iam
contra a DPH, e os anões impugnaram esta nulidade, - e diziam, que assim se
sentiam respeitadas , e a nulidade dos contratos é que ia contra a DPH. Portanto é
preciso perceber o que é a DPH;
ii) Todas as questões que se prendem com a DPH, é uma fórmula muito
utilizada pelos tribunais, e tem uma fórmula – é uma norma que nunca
aparece sozinha, na jurisdição espanhola, nunca foi feita autonomamente, -
é uma norma cuja definição do conteúdo é complexa e cuja complexidade
é apontada à própria expressão em si. A complexidade não surge na
questão semântica, temos de ver na dignidade a cosificação da pessoa –
ideia segundo a qual quando falamos de DPH, as pessoas não podem ser
instrumentalizadas, se há alguma substância transversal que comunica
aquilo que tem sido uma aplicação mais ou menos concetual, é a ideia de
não coisificação, o DD diria com alguma ligeireza, que a DPH é a
proibição da instrumentalização, e se assim é podíamos começar a pensar é
que a DPH faça emanar uma proibição de instrumentalizar as pessoas.
iv) O PROF. REIS NOVAIS, refere que a DPH é um princípio e não um direito,
entre as quais, O PROF. REIS NOVAIS diz que não se deve qualificar a DPH
como direito, porque impede força, e nunca pode ser contrariada, e na
nossa terminologia não é derrotável.
v) O DD contesta estas afirmações: a ideia de que a DPH não é um direito
mas um princípio, e que a DPH não é derrotável: ser um direito ou ser
um princípio não tem nada haver, porque temos de fazer uma diferença
entre regras e princípios, e os direitos estão numa categoria diferente.
Como é evidente, sempre que temos uma estrutura ordinatória de proibição, ou
permissão, cria-se uma posição jurídica, se isso são verdadeiros direitos
subjetivos, assim sendo temos de ir às situações atomísticas – são variações dentro
da posição atomística que temos como ponto de partida – na verdade as
conclusões não depende de nada exterior, tratando-se de uma norma e
compreendendo uma ordenação deontica, se há uma proibição de não coisificação,
não significa que temos um direito a não ser coisificados – não pode ser obrigado
a ser instrumentalizado:
Dito isto tem alguma utilidade a DPH para a distinção entre direitos,
liberdades e garantias e direitos sociais? O DD diz que não lhe parece, não
concorda; podemos conceber circunstâncias em que há um exercício da liberdade, -
mas posso estar numa situação financeira tal: o problema do art. 17.º é um
problema sério, de facto o que discutimos aqui, são as grandes tendências, - o art.
17.º é a prova que não existe critério, ele só chama porque ele próprio sabe que ele
não está lá. Temos de ver como é que a DPH é tratada em Portugal, a CRP anotada
pelo Jorge Miranda, não apresenta um critério, para distinguir os direitos , liberdades
e garantias e os direitos sociais;