Karl Marx

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Universidade Federal do Amapá


Pró-Reitoria de Ensino de Graduação
Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia
Disciplina: Fundamentos da Filosofia
Educador: João Nascimento Borges Filho

Karl Marx
Como pareceria o mundo hoje, se Karl Marx tivesse realizado seu projeto
de vida original? É que o jovem Marx se considerava um porta nato, e alguns
produtos de suas inspirações poéticas chegaram até nós. Eles trazem títulos
altamente líricos, algo como "Canto dos elfos", "Canto dos gnomos" ou "Canto
das sereias", ou seja, trata-se de fúteis cantilenas mitológicas. Uma poesia
particularmente comovedora, ainda que profundamente triste, é intitulada
"Tragédia do destino". Vale citar algumas estrofes:

"A menina está ali tão reservada,

tão silente e pálida;

a alma, como um anjo delicada,

está turva e abatida...

Tão suave, tão fiel ela era,

Devotada ao céu,

da inocência imagem pura,

que a Graça teceu.

Aí chega um nobre senhor

sobre portentoso cavalo,


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nos olhos um mar de amor

e flechas de fogo.

Feriu-a no peito tão fundo;

mas ele tem de partir,


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em gritos de guerra bramando:

nada o pode impedir".

Mas Marx também encontra outro tom:

"Os mundos uivam o próprio canto fúnebre.

e nós somos macacos de um Deus frio".

Após essa amostra, surge a pergunta se a poesia alemã perdeu muito


com a decisão de Marx, ainda que sob profusos sofrimentos da alma, de
abdicar da carreira poética. Em todo caso, o pai, um advogado bem-sucedido,
exprime-se assim: "Lamentaria ver você como um poetinha." Sugere,
entretanto, que o filho escreva uma "ode em grande estilo" sobre a Batalha de
Waterloo. Os pósteros, porém, dependendo de se enxergar no marxismo a
salvação ou a perdição do mundo, sentem-se aliviados ou angustiados por
Marx ter desistido, após longo tempo, de cavalgar o Pégaso.
Karl Marx nasce em 1818, em Trier, "a menor e mais desgraçada aldeia,
cheia de mexericos e ridículos endeusamentos locais". De sua juventude não
se sabe nada de significativo. Interessante é no máximo observar que o futuro
ateísta fanático tenha escrito um ensaio de conclusão do curso secundário
sobre o tema "A Unificação dos Crentes em Cristo". Depois, quando segue
para Bonn a fim de estudar Direito, encontra notoriamente dificuldades em lidar
com as coisas exteriores. Em todo caso, assim lhe escreve a mãe apreensiva:
"Você não deve considerar de modo algum uma fraqueza feminina, se eu agora
estiver curiosa para saber como tem administrado sua vida doméstica, se a
economia representa também algum papel, o que é uma necessidade
inevitável tanto para grandes como para pequenas casas. Permito-me assim
observar, querido Karl, que você nunca deve considerar limpeza e ordem
coisas secundárias, pois disso depende a saúde e o bem-estar. Observe
rigorosamente que seu quarto seja lavado. E lave-se você também, querido
Karl, semanalmente com esponja e sabonete." Essa advertência certamente
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não é sem fundamento, pois as condições sob as quais Marx conduz seus
estudos são tudo menos ordeiras: ingressa em uma corporação e, se as
notícias sobre isso procedem, é ferido em um duelo. É encarcerado por
"perturbar a ordem com alarido noturno e bebedeira". É indiciado por "porte
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ilegal de arma". Acumula dívida sobre dívida. Não obstante, fica noivo de Jenny
von Westphalen, se bem que a nobre família da noiva só tenha aceito o zé-
ninguém com hesitação. Até seu pai o adverte sobre o "exagero e exaltação do
amor de uma índole poética" de ligar-se a uma mulher.
Após dois semestres, Marx continua seus estudos em Berlim, mas
também lá se evidencia que ele não é nenhum estudante modelar. Seu pai tem
razão em se queixar. "Desordem, divagação apática por todas as áreas do
saber, meditação indolente junto da sedenta lamparina de azeite;
embrutecimento erudito em robe de chambre em vez de embrutecimento junto
da caneca de cerveja, insociabilidade repugnante com menosprezo total pelas
boas maneiras", tudo isso ele censura no filho. Marx assiste apenas a poucas
aulas, e mesmo essas antes do âmbito da Filosofia e da História do que do
âmbito do Direito. Por semestres inteiros quase não freqüenta a universidade.
De qualquer modo ele se forma aos 23 anos com um trabalho sobre um tema
filosófico, em Jena, sem nem sequer ter estado lá por uma única hora. Mas
esses acontecimentos não o impressionam. Para ele mais importante é
pertencer ao "Clube do Doutor", uma agremiação de jovens discípulos de
Hegel, e lá discutir dia e noite. Seus amigos atestam que ele é um "arsenal de
pensamentos", uma "alma-danada de ideias". Ao mesmo tempo escreve "um
novo sistema metafísico fundamental". Naturalmente, quer se tornar professor;
mas desiste quando vê que seus amigos, os hegelianos de esquerda, quase
sem exceção naufragavam no governo reacionário.
Em vez disso, Marx torna-se redator no Jornal Renano, de tendência
liberal, publicado em Colônia. Essa atividade força-o a ocupar-se com
problemas concretos de natureza política e econômica. Ele redige a folha em
um espírito intrépido e liberal. Porém, recusa rudemente o comunismo, do qual
mais tarde deveria tornar-se o cabeça. Após breve tempo, contudo, tem de
suspender sua atividade de editor sob pressão policial. O jornal – "a meretriz do
Reno", como o rei prussiano havia por bem chamá-lo – deixa de ser publicado.
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Depois de ter-se casado com sua noiva de longos anos, Marx dirigi-se
para Paris, onde edita juntamente com seu amigo Arnold Ruge os Anuários
Franco-Germânicos. Por um tempo vive juntamente com a família Ruge em
uma "comunidade comunista", que porém logo se desagregaria devido à
incompatibilidade de gênios. Em Paris, Marx entra em contato com Heine e
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com socialistas franceses. Mas também sua permanência nesta cidade não é
muito longa. A pedido do governo prussiano é expulso da França e estabelece-
se provisoriamente em Bruxelas, onde funda o primeiro partido comunista do
mundo (com 17 membros). Marx vai por pouco tempo para Londres, retornando
então durante a Revolução de 1848 – por ocasião da qual escreve O Manifesto
Comunista –, à França e à Alemanha a fim de promover seus planos
revolucionários. Em Colônia, funda o Novo Jornal Renano. Mas é novamente
expulso e vive até seus últimos dias, com apenas algumas interrupções para
breves viagens ao continente, em Londres. Porém, todos esses anos em Paris
e Bruxelas são cheios de contendas amargas e não particularmente tolerantes
conduzidas contra revolucionários dissidentes; há também um trabalho
intensivo em manuscritos filosóficos e econômicos, os quais em grande parte
só serão publicados após sua morte.
Em Londres, Marx vive em situações muito limitadas com uma família que
se multiplica com rapidez. Freqüentemente padecem necessidades. A
fundação de um jornal fracassa. Marx tem de levar a vida em grande parte por
meio de donativos, sobretudo de seu amigo Friedrich Engels. As condições de
moradia são na maioria das vezes catastróficas; ocasionalmente, até a mobília
é penhorada. Ocorre inclusive de Marx nem sequer poder sair de casa por sua
roupa ter sido penhorada. As doenças perseguem a família; apenas algumas
das crianças sobrevivem aos primeiros anos. Pressionado por dívidas, Marx
pensa em declarar bancarrota; apenas o fiel amigo Engels consegue impedir
esse ato extremo. A senhora Jenny desespera-se freqüentemente e deseja
para si e suas crianças antes a morte do que viver uma vida tão miserável.
Acresce que Marx se envolve em um caso amoroso com a empregada
doméstica, que não fica sem consequências e prejudica sensivelmente o clima
doméstico já afetado pela miséria financeira. Continuam também as
desavenças com os correligionários. Apesar de tudo, Marx trabalha
ferreamente, ainda que interrompido por períodos de inatividade causada por
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esgotamento, em sua obra-prima, O Capital. Ele consegue enfim publicar o


primeiro volume; como quase não aparecem comentários, ele mesmo escreve
críticas positivas e negativas. Em 1883, porém, antes que a obra de três
volumes esteja completa, Marx morre aos 65 anos.
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O aspecto e a personalidade de Marx são descritos por um amigo russo


de modo bem intuitivo, ainda que sua magnífica barba seja esquecida: "Ele
representa o tipo de homem constituído por energia, força de vontade e
convicção inflexível, um tipo que também segundo a aparência era
extremamente estranho. Uma grossa juba negra sobre a cabeça, as mãos
cobertas pelos pêlos, o paletó abotoado totalmente, possuía contudo o aspecto
de um homem que tem o direito e o poder de atrair a atenção, por mais
esquisitos que parecessem seu aspecto e seu comportamento. Seus
movimentos eram desastrados, porém ousados e altivos; suas maneiras iam
frontalmente de encontro a toda forma de sociabilidade. Mas eram orgulhosas,
com um laivo de desprezo, e sua voz aguda, que suava como metal,
combinava-se estranhamente com os juízos radicais que fazia sobre homens e
coisas. Não falava senão em palavras imperativas, intolerantes contra toda
resistência, que aliás eram ainda intensificadas por um tom que me tocava
quase dolorosamente e que impregnava tudo o que falava. Esse tom
expressava a firme convicção de sua missão de dominar os espíritos e de
prescrever-lhes leis. Diante de mim estava a encarnação de um ditador
democrático, assim como se fosse em momentos de fantasia."
Desde o início de sua atividade filosófica, Marx insere-se na maior disputa
espiritual de seu tempo, determinada pela vultosa figura de Hegel, cujo
pensamento ele chama de "a filosofia atual do mundo". Inicialmente, Marx
dedica-se a Hegel com paixão para, depois, distanciar-se dele com tanto maior
aspereza.
Sua crítica inicia-se pela concepção da história de Hegel. Para este, a
história não é uma mera seqüência casual de acontecimentos, mas um suceder
racional que se desenvolve segundo um princípio imanente, ou seja, uma
dialética interna. O decisivo nisso é que o verdadeiro sujeito da história não são
os homens que agem. Na história antes dominaria um espírito que tudo
abrange, ao qual Hegel designa como "espírito do mundo" ou "espírito
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absoluto" ou mesmo "Deus". Esse, o Deus que vem-a-ser, realiza no curso da


história sua autoconsciência. Ele chega, por meio dos diferentes momentos do
processo histórico, a si mesmo.
Hegel era da opinião de que em seu tempo e em seu próprio sistema o
espírito absoluto teria, após todos seus descaminhos através da história,
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finalmente alcançado seu objetivo: a perfeita autoconsciência. "O espírito


universal chegou ora até aqui. A última filosofia é o resultado de todas as
anteriores; nada está perdido, todos os princípios foram preservados. Esta
ideia concreta é o resultado dos esforços do espírito por quase 2500 anos, seu
fervoroso trabalho, de reconhecer-se." Portanto, após o surgimento da filosofia
hegeliana, não pode haver mais nada realmente inconcebível. Esse é o sentido
da conhecida frase do Prefácio à Filosofia do Direito: "O que é racional é real; e
o que é real é racional." Razão e realidade chegaram portanto, segundo Hegel,
finalmente à adequação uma com a outra; elas foram verdadeiramente
conciliadas. O espírito absoluto compreendeu a si mesmo como a realidade
total e a realidade total como manifestação sua.
Aqui entra o protesto de Marx. Aquele pensamento de Hegel, de que a
realidade toda tinha de ser entendida a partir de um espírito absoluto, consiste
para ele em um injustificado "misticismo". Pois assim se filosofa a partir de um
ponto acima da realidade factual, não a partir dessa mesma. Em oposição a
isso a decidida exigência de Marx – de colocar a filosofia, ora de ponta-cabeça,
de volta sobre os pés – é que a visão da realidade deveria ser invertida. A
realidade deste mundo não deve ser explicada com base em uma realidade
divina. Contrariamente, o ponto de partida do pensamento tem de ser a
realidade concreta. Esse pensamento imprime à filosofia de Marx seu cunho
ateísta. "A missão da história é, após o além da verdade ter desaparecido,
estabelecer a verdade do aquém."
Quando Hegel afirma que a realidade estaria conciliada com a razão, ele
não poderia, segundo Marx, ter em vista a realidade concreta. Em Hegel, tudo
se passa no âmbito do mero pensamento. Mesmo a realidade sobre a qual ele
fala, é a mera realidade pensada. Para Marx, porém, a realidade factual
mostra-se contraditória, inconcebível e, portanto não conciliada com a razão.
Todo o empenho filosófico de Hegel fracassa porque ele não é capaz de incluir
essa realidade efetiva em seu pensar, por mais abrangente que esse seja. "O
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mundo é portanto um mundo dilacerado, que se opõe a uma filosofia fechada


em sua própria totalidade."
Para Marx, portanto, a realidade concreta é a realidade do homem. "As
pressuposições com as quais iniciamos são os indivíduos reais." A filosofia
como Marx a postula – em contraposição a Hegel e em concordância com
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Feuerbach – é uma filosofia da existência humana. "A raiz do homem é o


próprio homem." Marx denomina sua filosofia por isso mesmo de "humanismo
real". O real primeiro e originário para o homem é o próprio homem. É dele,
portanto, que o novo pensar também tem de partir.
Mas o que é o homem? O significativo aqui é que Marx não considera o
homem, como o faz Hegel, essencialmente a partir de sua faculdade de
conhecer. Ao contrário, trata-se decisivamente da práxis humana, da ação
concreta. "Na práxis, o homem tem de comprovar a verdade, isto é, a
realidade, o poder e a mundanalidade de seu pensamento." "Parte-se do
homem real que age."
É da essência da práxis humana que ela se realize na relação com o
outro. Se Feuerbach queria conceber o homem como indivíduo isolado, Marx
ressalta com toda clareza: o homem vive desde sempre em uma sociedade
que o supera. "O indivíduo é o ser social." "O homem, isto é o mundo do
homem: Estado, sociedade." Essa natureza social constitui para Marx o ponto
de partida para toda reflexão subseqüente. Assim deve-se entender a muito
discutida frase: "Não é a consciência do homem que determina seu ser, mas é
seu ser social que determina sua consciência."
Mas por que meio se constitui a sociedade humana? Marx responde:
basicamente, não por meio da consciência comum, mas por meio do trabalho
comum. Pois o homem é originariamente um ser econômico. As relações
econômicas e particularmente as forças produtivas a elas subjacentes são a
base (ou a "infraestrutura") de sua existência. Apenas na medida em que essas
relações econômicas se modificam, também se desenvolvem os modos da
consciência, que representam a "superestrutura ideológica". Desta
superestrutura fazem parte o Estado, as leis, as ideias, a moral, a arte, a
religião e similares. Na base econômica reencontram-se também aquelas leis
do desenvolvimento histórico, como as que Hegel atribuiu ao espírito. As
relações econômicas desdobram-se de modo dialético, mais precisamente, no
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conflito de classes. Por isso, para Marx, a história é principalmente a história


das lutas de classes.
Até aqui tudo poderia parecer como uma das muitas teorias
antropológicas e histórico-filosóficas, em que a história da filosofia é bastante
rica, isto é, até interessante, mas realmente apenas mais uma interpretação
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entre muitas outras. Por que, então, o que Marx diz é tão estimulante? Como
se explica que seu pensamento tenha determinado tão amplamente o tempo
seguinte? Isso reside obviamente em que Marx não se detém no âmbito do
pensamento puro, mas que se põe a trabalhar decisivamente na transformação
da realidade: "Os filósofos têm apenas interpretado diversamente o mundo;
trata-se de modificá-lo."
Nessa intenção, Marx empreende uma crítica de seu tempo. Observa que
em seus dias a verdadeira essência do homem, sua liberdade e independência,
"a atividade livre e consciente", não se podem fazer valer. Por toda parte o
homem é tirado a si mesmo. Por toda parte perdeu as autênticas possibilidades
humanas de existência. Esse é o sentido daquilo que Marx chama de "auto-
alienação" do homem. Ela significa uma permanente "depreciação do mundo
do homem".
Também aqui Marx recorre às relações econômicas. A auto-alienação do
homem tem sua raiz em uma alienação do trabalhador do produto de seu
trabalho: este não pertence àquele para seu usufruto, mas ao empregador. O
produto do trabalho torna-se uma "mercadoria", isto é, uma coisa estranha ou
alheia ao trabalhador, que o coloca em posição de dependência, porque ele
precisa compará-la para poder subsistir. "O objeto que o trabalho produz, seu
produto, apresenta-se a ele como uma essência estranha, como um poder
independente do produtor." Da mesma forma também o trabalho se torna
"trabalho alienado": não a ele imposto de sua autoconservação; o trabalho
torna-se, em sentido próprio, "trabalho forçado". Esse desenvolvimento atinge
sua culminância no capitalismo, no qual o capital assume a função de um
poder separado dos homens.
A alienação do produto do trabalho conduz também a uma "alienação do
homem". Isso não vale apenas para a "luta de inimigos entre capitalista e
trabalhador". As relações interpessoais em geral perdem cada vez mais a sua
imediação. Elas são mediadas pelas mercadorias e pelo dinheiro, "a meretriz
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universal". Enfim, os próprios proletários assumem caráter de mercadoria; sua


força de trabalho é comercializada no mercado de trabalho, no qual se
encontra à mercê do arbítrio dos compradores. Seu "mundo interior" torna-se
"cada vez mais pobre"; sua "destinação humana e sua dignidade" perdem-se
cada vez mais. O trabalhador é "o homem extraviado de si mesmo"; sua
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existência é "a perda total do homem"; sua essência é uma "essência


desumanizada".
Mas, no ápice desse desenvolvimento – o que Marx crê poder demonstrar
–, tem de sobrevir a guinada. Ela se torna possível desde que o proletariado se
conscientize de sua alienação. Ele se compreende então como "a miséria
consciente de sua miséria espiritual e física, a desumanização que, consciente
de sua desumanização, supera por isso a si mesma". Concretamente, segundo
os prognósticos de Marx, chega-se a uma concentração do capital nas mãos
de poucos, a um crescente desemprego e empobrecimento das massas. Com
isso, porém, o capital torna-se seu próprio coveiro. Pois a essa concentração
de capital devem seguir-se, segundo "leis infalíveis" – com necessidade
histórica, cientificamente reconhecida e dialética –, a subversão e a revolução.
A missão dessa revolução é "transformar o homem em homem", para que "o
homem seja o ser supremo para o homem". Trata-se de "derrubar todas as
relações em que o homem é um ser degradado, escravizado, abandonado e
desprezado". Importa realizar "o verdadeiro reino da liberdade", desenfronhar o
homem em "toda a riqueza de sua essência" e, com isso, superar
definitivamente a alienação.
Marx considera tudo isso tarefa do movimento comunista. É chegado o
tempo do "comunismo como superação positiva da propriedade privada
enquanto auto-alienação do homem e por isso como apropriação real da
essência humana por meio de e para o homem; por isso, como regresso –
perfeito, consciente e dentro da riqueza total do desenvolvimento até aqui –, do
homem para si mesmo enquanto homem social, ou seja, humano. Esse
comunismo é a verdadeira dissolução do antagonismo entre o homem e a
natureza e entre o homem e o homem. A verdadeira solução do conflito entre
liberdade e necessidade. Ele é o enigma decifrado da história, a verdadeira
realização da essência do homem". Com o comunismo, "encerra-se a pré-
história da sociedade humana" e inicia-se a sociedade "realmente humana".
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Mas sobre como essa sociedade comunista deve ser, Marx não nos dá
nenhuma informação adicional.
P.S.: O texto servirá como elemento reflexivo para os acadêmicos da
UNIFAP, na matéria Filosofia da Educação, ministrada pelo Sociólogo e
Psicopedagogo João Nascimento Borges Filho, Docente efetivo desta IFES.

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