Marcellus Polastri Lima
Marcellus Polastri Lima
Marcellus Polastri Lima
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Artigo publicado originalmente na Revista de Ciências Criminais n. 46, IBCCRIM. São Paulo: Revista
dos Tribunais Ed., jan-fev.2004, pp. 371/390 (com acréscimos referente ao julgamento de mérito
da AD!n 1570-DF, pelo Pleno do STF).
I. Polícia Federal.
II. Polícia Rodoviária Federal.
III. Polícia Ferroviária Federal.
IV. Polícias Civis.
V. Policias Militares e Corpo de Bombeiros Militares.
§ 1° - À polícia federal, instituída por lei como órgão
permanente, estruturado em carreira, destina-se a:
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Exemplo da obrigatoriedade na instauração de inquérito encontramos na Espanha.
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O próprio STF julgou que " Ao cuidar das funções de policia judiciária e investigações criminais
atribuídas às Policias Civis, o texto constitucional do parágrafo 4° do art. 144 não utiliza o termo
exclusividade"(ADin 1517-DF, Rei. Ministro Maurício Corrêa, in Informativo STF-71.)
• LIMA, Marcellus Polastri. "O Controle Externo da Atividade Policial", in Suplemento Jurídico do
Diário Oficial do Rio de Janeiro, ano III, n. 31, janeiro de 1991.
5
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva,1993, p. 82.
• LoPES JUNIOR. Aury. Sistemas de Investigação Preliminar no Processo Penal, Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2001, pp. 142/143.
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Cf arts. 22, 49 e 51 da CF.
8
MAZZ1Lu, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 179.
13 FREYSLEBEN, Márcio Luís Chila. O Ministério Público e a Polícia Judiciária: Controle Externo da Atividade
Policial, 2• ed., Belo Horizonte: Dei Rey, 1993, pp. 16-17.
14
MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público, p. 169.
Como dito supra, o método histórico utilizado pelo eminente relator não nos
leva a um bom resultado hermenêutico, sendo melhor, em matéria de
hermenêutica, a utilização do método teleológico e, conforme argumentam
ALUISIO FIRMO GUlMARÃES DA SILVA e outros:
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HC 7445/RJ, 5' Turma, Relator Min. Gilson Dipp, DJU 1.2.1999.
16 FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira, v. 2. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 132.
Ora, não há dúvida que o Ministério Público não pode instaurar inquérito
policial (sic), o que seria até teratológico, já que o Ministério Público não é polícia.
O inquérito é meio e instrumento para investigação por parte da polícia. O
Parquet, quando investigar, se utilizará de um procedimento próprio, e não de
inquérito policial, até porque, segundo entendemos, o atuar investigatório do
Ministério Público deve ser supletivo, não se autorizando a usurpação de funções
próprias da autoridade policial.
Assim, até aqui, nenhuma impropriedade no voto do eminente relator, já
que, por óbvio, não pode o Ministério Público realizar inquérito policial.
Agora, no ponto em que afirma que o Ministério Público não pode realizar
diretamente diligência investigatórias é que reside o equívoco.
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Cf.GuIMARAE.5 DA SILVA, Aluísio Firmo et al/i. "A Investigação Criminal Direta pelo Ministério
Público". ln Boletim do IBCCrim 66, maio de 1988.
18
MA ZZJLLJ , Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. S.P, Saraiva, 1991, p. 121.
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• Cj Ob. citada, p. 178.
Como se vê, a Lei Complementar 75/93 com melhor redação do que a Lei
8625/93, não deixa margem adúvidas quanto à operacionalização das
investigações criminais diretas no âmbito do Ministério Público.
Este, também, o entendimento de AuRY LoPFS JR.:
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Obra citada, pp. 142/143.
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ln Revista do Ministério Público, nº 9, 1999, pp. 409/ 413.
Ora, se o Pleno do STF decidiu que mesmo o juiz, que tem a função de
julgar, pode investigar, o que não dizer do Parquet, cuja função é promover a
ação penal pública, necessitando ser dotado de meios para alcançar este fim.
Com muito mais razão devemos admitir a atuação do Ministério Público na
investigação própria, até porque este é titular privativo do exercício da ação
penal pública (art. 129, I, da CF) e destinatário da investigação criminal.
Não se pretende afirmar que foi feliz a decisão do Pleno do STF, uma vez
que, para nós, o juiz, constitucionalmente, não está autorizado a investigar, já
que vigora no Brasil o sistema acusatório, ex vi do art. 129, I, da CF, e restaria,
de outra parte, comprometida a imparcialidade do mesmo, vulnerando-se a
regra ne procedat ex officio. E, aliás, no voto vencido do lúcido Ministro Sepúlveda
Pertence, não passou despercebida tal conclusão.
O que se afirma é que, no momento em que o Pleno do STF reconhece que o
juiz pode investigar, resulta completamente contraditório e conflitante com a
orientação da Suprema Corte o julgado capitaneado pelo eminente Ministro
Nelson Jobim, ao afirmar, ao contrário, que a investigação é exclusiva da polícia
e que o Ministério Público não pode realizar diligências investigatórias diretas.
Se o magistrado, que deve ser imparcial, pode, com muito mais razão o Parquet,
que tem a função de formar a opinio delicti e sendo parte na ação penal, deve
poder.
Recentemente, julgando o mérito da ADin 1570-DF, o Pleno do STF acabou
por mudar de posição e, por maioria, fixou o entendimento que o juiz não deve
investigar na fase preliminar do processo, preservando-se sua imparcialidade e
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<www.stf.gov.br>. ln: ADin. n. 1517-UF, Rei. Min. Maurício Corrêa, julg. em 30/4/97. Ver
Informativo do STF, n. 69.
6. Conclusão.
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Este, segundo o Informativo do STF, o resumo do julgamento: "Coleta de provas por Juiz: Due
Process of Law. O Tribunal, por maioria, julgou procedente em parte o pedido formulado em
ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República contra o art. 3° da Lei 9.034/95, que
conferia ao juiz competência para diligenciar pessoalmente nos procedimentos de investigação e
obtenção de provas nas persecuções penais relativas a atos de organizações criminosas, nas
hipóteses em que houvesse possibilidade de violação de sigilo. Preliminarmente, o Tribunal
considerou prejudicada a ação direta no ponto em que autorizava o acesso a dados, documentos
e informações bancárias e financeiras, em razão da superveniência da LC 105/2001,
hierarquicamente superior, que regulou integralmente a questão, revogando a norma i~pugnada
por incompatibilidade. Em seguida, no que se refere aos dados, documentos e informações fiscais
e eleitorais, o Tribunal julgou procedente o pedido, por ofensa ao princípio do devido processo
legal, por entender que a coleta pessoal de provas desvirtua a função do juiz, de modo a comprometer a
imparcialidade deste no exercício da prestação jurisdicional. Vencido o Min. Carlos Velloso, que julgava
improcedente o pedido, por considerar que o caráter público do processo não proibiria, em hipóteses
excepcionais, a participação ativa do juiz na busca da verdade material (Lei 9.034/95, art. 3°: "Nas
hipóteses do inciso Ill do art. 'Z' desta Lei, ocorrendo possibilidade de violação de sigilo preservado pela
Constituição ou por lei, a diligência será realizada pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigoroso segredo
de justiça." - "art. 2° - Em qualquer fase de persecução criminal que verse sobre ação praticada por
organizações criminosas são permitidos, além dos já previstos na lei, os seguintes procedimentos de
investigação e fonnação de provas: ... III - o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias,
financeiras e eleitorais.")". ADI 1570/DF, rei. Min. Maurício Corrêa, 12.22004.
r1 MA~CELLUS POLASTRI LIMA é Procurador de Justiça RJ, Mestre e Doutorando em Ciências Penais
pela UFMG, Professor de Direito Processual Penal da Universidade Estácio de Sá - Centro, RJ,
Professor dos Cursos de Pós-Graduação da UNESC - Vitória-ES, FEMISP, Salvador,BA e da
Fundação Getúlio Vargas-RJ e Professor Convidado da Escola da Magistratura-RJ.