POSITIVISMO
POSITIVISMO
POSITIVISMO
1. Introdução.............................................................................................................. 2
4. Conclusão ............................................................................................................ 10
Bibliografia ................................................................................................................. 11
1. Introdução
Apesar dos pressupostos teóricos iniciais do positivismo, como diz Löwy (1994,p.26),
estarem relegados ao museu das ideologias do século XIX, o fato é que as sementes do
positivismo e de suas premissas epistemológicas, plantadas a partir da reflexão do
filósofo francês Augusto Comte, estavam destinadas a tornarem-se um dos pilares da
ciência moderna. E, de fato, de modo poucas vezes explicitado, mas muitas vezes
subjacente, o positivismo está presente nas análises de diversas das áreas das “ciências
humanas”.
Löwy (1994,p.26) afirma que ao se abordar alguns aspectos desta ampla corrente de
pensamento (sobretudo na forma como ela se manifestou no século XIX, quando nasceu
e teve enorme influência), convêm antes de tudo demarcar de modo claro que a maneira
como o positivismo incidiu no âmbito filosófico, sociológico, jurídico e histórico não
foi simétrico. Muito embora possa ser identificada uma “matriz” epistemológica comum
(sobre a qual se reflectirá logo adiante), o fato é que podemos assinalar a existência de
um positivismo filosófico, um sociológico, um jurídico, outro histórico e assim por
diante.
Mas uma pesquisa acurada veria poucos reflexos do positivismo filosófico nesse âmbito
jurídico – até porque esse “positivismo jurídico” é, em certa medida, até mesmo anterior
ao chamado “positivismo filosófico” de Comte (Idem).
Essa falta de diálogo ou, às vezes, até mesmo uma ausência de genealogia entre essas
várias formas de positivismo, também é marcada no âmbito do conhecimento histórico:
aquilo que comummente se conhece como “positivismo histórico” (leia-se, o modo de
se fazer história a partir do modelo de Leopold von Ranke, de quem se falaremos mais
detidamente adiante), tinha uma declarada aversão aos grandes modelos filosóficos
criados no século XIX, incluindo-se nesses modelos filosóficos as abstracções de
Augusto Comte! A partir daqui, alguns autores inclusive chegam a sustentar a
impropriedade de se denominar a história “rankeana”, que também é conhecida como
“história tradicional” de história positivista.
A segunda corrente, por outro lado, também em termos gerais (e em diversos graus) via
a existência do objecto condicionada pelo sujeito, ou, dito de outro modo, via que a
existência do mundo real só se tornava possível em vista da existência de uma
consciência (na modernidade se dirá: de uma razão subjectiva) que o percebe, pois aqui
o mundo se constitui através de actos mentais.
Pois bem: como se pode perceber, essa posição “idealista” representa exactamente o
contrário daquele pressuposto de que parte o positivismo. Como já dito, para o
positivismo, como corrente “realista” que é, o objecto existe em si, bastante em si
mesmo, e independe de quem o observa.
Independentemente de quem observa ele “é” daquela maneira, tem um estatuto que lhe é
próprio. Como se vê, assim, a posição “epistemológica” do positivismo no sentido de
que o objecto existe e que a realidade é dotada de exterioridade é uma peculiaridade do
seu método.
Há uma dualidade entre fatos e valores. Do mesmo modo que existe uma separação
radical do objecto de um lado e o sujeito de outro (como diz o primeiro pressuposto), há
também, de modo paralelo, uma separação radical, uma verdadeira dualidade, entre os
fatos de um lado e os valores de outro. Os fatos pertencem à ordem do objecto; os
valores pertencem à ordem do sujeito. No processo cognitivo, entende-se que não
existem valores no objecto bem como não se pode encontrar uma instância fática com o
sujeito. (Santos, 2003, p. 40)
Fonseca (2005, p. 45) advoga que depois desse traçado que, para chegar às
características (os “pressupostos”) da história positivista, teve que antes passar pelas
premissas epistemológicas do positivismo e pelos pressupostos do positivismo nas
ciências humanas, convém indicar, ainda que brevemente, o contexto histórico e teórico
em que surgiu e desenvolveu-se esta “história tradicional”.
Polémicas a parte – e aqui fazemos uma ligação do que foi visto antes com aquilo que
se desenvolverá a partir de agora –, se tomarmos todos aqueles pressupostos teóricos
antes assinalados (em particular aqueles referentes à história), resultará, de fato, uma
historiografia com algumas características mais ou menos definidas: será uma história
centrada sobre os fatos e, dentre esses fatos, serão os eventos políticos, militares e
diplomáticos aqueles considerados com efectiva “dignidade histórica”.
Daqui deriva a grande tendência dessa forma de fazer história a privilegiar os grandes
eventos e os grandes personagens do passado (e aqui mais uma vez é de se notar a
influência que Ranke traz da „Escola histórica‟ alemã). Tudo isso, como se pode prever,
implicará num certo ocaso de uma história do tipo „cultural‟, ou „religiosa‟, ou „social‟,
ou mesmo „económica‟.
3. Alguns Problemas na abordagem positivista
Burke (1972, p. 30) afirma que É claro que muito poderia ser dito a respeito das
implicações desta „história positivista‟ ou a respeito dos seus limites e de seus impasses.
Aqui não é o lugar para intentar um discurso exaustivo a este propósito. Todavia,
algumas das críticas centrais a esse modo “rankeano” de vislumbrar o passado serão
aqui tecidas, até porque boa parte da historiografia subsequente constrói suas
alternativas a partir das críticas que são formuladas a essa ‟história tradicional‟.
Assim sendo, nos limitamos a apontar três problemas, aqui considerados centrais, da
abordagem positivista da história: o modo pouco matizado como se dá a relação sujeito-
objecto; o pressuposto (tomado de modo absoluto) da necessidade de uma neutralidade
axiológica no conhecimento; o excessivo valor dado ao evento singular na sua
abordagem, com as consequências que daí derivam.
De fato, para o positivismo este problema simplesmente não é colocado pois, ali, há
uma espécie de auto-exigência do objecto, que poderia ser apreendido pelo sujeito de
um modo completo e definitivo – o que é muito tributário, como já dissemos, de uma
certa forma do século XIX de encarar a questão do saber e da ciência.
BURKE, Peter. O mundo como teatro: estudos de antropologia histórica. Lisboa: Difel,
1992.
FONSECA,
GIDDENS, Anthony. Studies in social and political theory. Londres: Hutchinson, 1980
apud SANTOS, Boaventura Souza. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de
Janeiro: graal, 1989