Psicopatologia - Introdução e Definição

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Psicopatologia: Introdução e Definição

Psicopatologia pode ser definida como estudo descritivo dos fenômenos psíquicos de cunho
anormal, exatamente como se apresentam à experiência imediata, de forma independente dos
problemas clínicos. Estudando os gestos, o comportamento e as expressões dos enfermos
além de relatos e autodescrições feitas pelos mesmos.

De acordo com PAIM (1992), o estudo desses elementos contribui para o conhecimento de
fenômenos que conhecemos por nossa própria experiência, fenômenos os quais temos apenas
noções e fenômenos que se caracterizam por não impossibilidade de descrição podendo ser
alcançados apenas por analogias. Diferencia-se da Psiquiatria por ser uma ciência normativa
que estuda e classifica fenômenos e não como um ramo da clínica médica aplicada sem
objetivar necessariamente tratamento e assistência aos doentes mentais.
Segundo BAUMGART (2006), O termo foi empregado primeiramente por Ermming Naus,
predecessor de Kraeplin, desde 1878 como sinônimo de “psiquiatria clínica”. Adquire seu
atual significado pela obra de Karl Jaspers publicada em 1913, Psicopatologia Geral
(Allgemeine Psychopatologie). A partir desse livro JASPERS (1913), tenta construir uma
teoria geral das questões relativas a enfermidade psíquica. Idéia que pode ser constatada já no
prefácio à primeira edição na qual afirma que:
O presente livro pretende dar uma visão panorâmica de todo âmbito da Psicopatologia Geral,
de seus fatos e de suas perspectivas (...) meus esforços visam à distinção, separar nitidamente
os caminhos bem como a expor a pluridimensionalidade da Psicopatologia”
Entretanto, segundo BAUMGART (2006), atualmente a Psicopatologia tem dificuldades de
coesão teórica devido aos muitos discursos que abarca. Percebe-se que os conhecimentos a ela
relativos parecem constituir-se apenas como um aglomerado de especialidades
A Psicopatologia está ligada a diversas disciplinas: as psicologias, as psiquiatrias e o corpo
teórico psicanalítico. Dentro da Psicologia liga-se com Psicologia Clínica (dedicada ao
diagnóstico e estudo da personalidade), Psicologia Geral (noções de subjetividade,
intencionalidade, representação, atos voluntários etc), e ainda Psicologia ligada às
neurociências, tradições hindus e outros.
Para Jaspers, a Psicopatologia seria responsável pelo estudo das manifestações da consciência
sejam essas manifestações consideradas normais ou anormais.
“Aqui todo trabalho se relaciona com um caso particular. Não obstante, para satisfazer a
exigência decorrente dos casos particulares, o psiquiatra lança mão, como psicopatologista de
conceitos e princípios gerais (...) seus limites consistem em jamais poder reduzir o indivíduo
humano a conceitos psicopatológicos”. A Psicopatologia deve considerar o individuo
globalmente atentando sempre para os padrões de normalidade aonde o indivíduo a ser
questionado está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas. Considerar um
sintoma isolado é fazer com que o objetivo principal de entende-lo (compreender o indivíduo)
seja esquecido.

Psicopatologia é uma área do conhecimento que objetiva estudar os estadospsíquicos


relacionados ao sofrimento mental. Pode ser considerada, a nível teórico e clínico, o coração
da psiquiatria. É um campo de saber, um conjunto de discursos com variados objetos,
métodos, questões: por um lado, encontram-se em suas bases as disciplinas biológicas e as
neurociências, e por outro se constitui com inúmeros saberes oriundos da psicologia,
antropologia, sociologia, filosofia, linguística e história.

Pode-se considerar a psicopatologia um campo de pesquisa principalmente de psiquiatras e de


psicólogos clínicos. A palavra "Psico-pato-logia" é composta de três palavras gregas:
"psychê", que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; "pathos", que resultou em
"paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento", e "logos", que resultou em
"lógica", "discurso", "narrativa", "conhecimento". Psicopatologia seria, então, um discurso,
um saber, (logos) sobre o sofrimento, (pathos) da mente (psiquê). Ou seja, um discurso
representativo a respeito dopathos, o sofrimento psíquico, sobre o padecer psíquico.1
A psicopatologia enquanto estudo dos transtornos mentais é às vezes referida como
psicopatologia geral, psicologia anormal, psicologia da anormalidade e psicologia do
patológico. É uma visão das patologias mentais, e pode estar vinculada a uma teoria
psicológica específica (por exemplo, psicanálise, psicologia humanista, uma área da
psicologia (psicologia do desenvolvimento) ou mesmo a outras áreas do conhecimento
(neurologia, genética, evolução). Pode-se dizer que a psicopatologia pode ser compreendida
por váriosvieses, e estes, combinados, dão determinada leitura acerca do sofrimento mental.
Essa diversidade de compreensões, ao mesmo tempo em que mostra a complexidade da área,
pode causar certa confusão; assim, é fundamental que o interessado no estudo da
psicopatologia tenha ciência de que existem várias teorias e abordagens na compreensão dos
transtornos mentais e de comportamento.

Normalidade, saúde mental e psicopatologia

Uma das primeiras, e talvez uma das mais importantes, discussões sobre psicopatologia diz
respeito à questão da normalidade. Existem várias definições sobre o que é "normal".
Estatisticamente, normal refere-se a uma propriedade de uma distribuição que aponta uma
tendência, o que seria "mais comum" de encontrar em determinada amostra, o mais provável
(cf. distribuição normal). Assim, o normal é o que seria o mais provável de encontrarmos
numa população, o comum, o esperado.2 . Portanto, deste ponto de vista, os comportamentos
que são considerados típicos, ou seja, que são os "esperados" de se encontrar ou de acordo
com os padrões sociais aceitáveis para o agir, podem ser considerados comportamentos
"normais"3 . Nessa definição, os parâmetros da cultura (morais) são a referência para aquilo
que é o esperado em termos de comportamento, e o que estiver fora deste padrão, já pode ser
pensado como indício de patologia. A norma ou referência da saúde mental seria um
"comportamento médio" da população, e a partir deste os comportamentos individuais
poderiam ser avaliados.

Saúde, normalidade e psicopatologia são termos altamente relacionados. A psicopatologia


passa a ocorrer quando o comportamento esperado de uma pessoa, ou eventualmente de um
grupo de pessoas, foge àquilo que é esperado como referência de determinada sociedade,
quando a pessoa passa a ter alterações importantes em relação ao comportamento que tinha no
passado, com prejuízos significativos em seu funcionamento (comportamento), causando a si
e a outros, especialmente seus familiares, acentuado grau de sofrimento. Tem-se como
expectativa que a normalidade seja o tipo de comportamento que mais ocorre em qualquer
cultura. A saúde mental, por sua vez, seria então uma condição ideal ou desejada para que
essa normalidade possa vir a existir, com qualidade e capaz de oferecer as melhores condições
para que as pessoas vivam satisfatoriamente, produzam com eficiência e possam gozar de
certo grau de felicidade para com as pessoas próximas a si. Segundo a OMS,4 a saúde mental
refere-se a um amplo espectro de atividades direta ou indiretamente relacionadas com o
componente de bem-estar, que inclui a definição de um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não somente a ausência de doença. Este conceito engloba não apenas o
comportamento manifesto, mas o sentimento de bem-estar e a capacidade de ser produtivo e
bem adaptado à sociedade.

Considera-se a presença de alguma psicopatologia a partir de critérios diagnósticos. Esses


critérios são catalogados em manuais que apresentam o conjunto de sintomas necessários e
suficientes para que se possa considerar que alguém está apresentando algum tipo de
transtorno mental. Os critérios variam muito de grupo de transtornos (p. ex., transtornos de
humor e transtornos de ansiedade possuem diferentes critérios gerais) e dos transtornos entre
si (p. ex., transtorno depressivo maior e distimia), exigindo muitas vezes a elaboração de um
diagnóstico diferencial. O Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais e de
Comportamento da Associação Psiquiátrica Americana, quarta edição (DSM-V-TR), que é o
manual utilizado nos Estados Unidos como referência para entendimento e diagnóstico, define
os transtornos mentais como síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos com
importância clínica, que ocorrem num indivíduo. Estes padrões estão associados com
sofrimento, incapacitação ou com risco de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda
importante da liberdade. Essa síndrome ou transtorno não deve constituir uma resposta
previsível e culturalmente aceita diante de um fato, como o luto. Além disso, deve ser
considerada no momento como uma manifestação de uma disfunção comportamental,
psicológica ou biológica no indivíduo. O DSM-V assinala que nem comportamentos
considerados fora da norma social predominante (p. ex., político, religioso ou sexual), nem
conflitos entre o indivíduo e a sociedade são transtornos mentais, a menos que sejam sintomas
de uma disfunção no indivíduo como descrito antes.

São vários os fatores que podem caracterizar um transtorno. De forma geral, considera-se que
a presença de uma psicopatologia ocorra quando houver uma variação quantitativa em
determinados tipos específicos de afetos, comportamentos e pensamentos, afetando um ou
mais aspectos do estado mental da pessoa. Neste sentido, a psicopatologia não é um estado
qualitativamente diferente da vida normal, mas sim a presença de alterações quantitativas. Por
exemplo, considera-se que a tristeza seja normal e esperada na vida de qualquer pessoa, e é
mesmo necessária em determinados momentos da vida (p. ex., em situação de luto).
Entretanto, num quadro depressivo estabelecido, a tristeza é mais intensa e mais duradoura do
que seria esperado numa situação normal e transitória. Assim, uma situação normal e esperada
torna-se patológica não por ser uma experiência ou vivência qualitativamente diferente, mas
por ser mais ou menos intensa do que se espera em situações normais.

Visões sobre a psicopatologia


Da mesma forma que as diversas correntes da psicologia consideram as causas e
consequências do comportamento de forma diferenciada, elaborando com frequência teorias
com termos e nomenclaturas específicasnt 1 , quando se trata da psicopatologia esta influência
se faz sentir de forma muito intensa. Os transtornos mentais são usualmente compreendidos a
partir destas teorias psicológicas, e pode ocorrer que dependendo da teoria à qual se está
tomando como referência, a linguagem e os conceitos sejam diferentes. Para minimizar esta
situação, usualmente utiliza-se uma nomenclatura psiquiátrica mais descritiva como "fiel" ou
referência para a compreensão dos transtornos mentais.

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