Gestação de Substituição
Gestação de Substituição
Gestação de Substituição
DIREITO CONSTITUCIONAL II
FEVEREIRO DE 2022
MESTRADO EM DIREITO
BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................................29
Atualmente, a gestação de substituição é definida pela lei como “qualquer situação em que a
mulher se disponha a suportar uma gravidez por conta de outrem e a entregar a criança após o
parto, renunciando aos poderes e deveres próprios da maternidade.”1
Todavia, o ato de gerar filhos por e para outrem é algo que ultrapassa apenas as técnicas
atuais de PMA e que encontra raízes muito mais antigas, sendo fácil encontrar resquícios desta ao
longo da história e, até mesmo na Bíblia2. A verdade é que com o evoluir dos tempos, a questão só se
mostra cada vez mais complexa não só de um ponto de vista jurídico, mas principalmente de uma
perspetiva ética e moral, apresentando-se como um mundo completamente diferente daquele pintado
pela Bíblia. Desde os direitos de autodeterminação da gestante (e talvez mais importante – aos seus
deveres!), aos direitos do casal (ou pessoa singular) que fornecem os seus gâmetas contratualmente
em troca de uma criança, até ao próprio bebé (que pode dizer-se ser puramente objeto do contrato?),
há várias vertentes a considerar e que certamente não terão resposta fácil.
Nas palavras quase humorísticas de GUILHERME DE OLIVEIRA, “os bebés são tão
pretendidos que, quando não se podem fazer, até se encomendam”3, podemos levantar outra questão
fulcral no seio da gestação de substituição: estaremos a comercializar a reprodução? Ou antes, o
produto de transação é a criança? Na prática e do ponto de vista legal, quem serão os casais que
poderão usufruir deste negócio? E quem serão as gestantes preferidas?
Compreende-se que este tópico é extremamente relevante nos dias que correm, em que cada
vez mais nos apercebemos que vivemos num mundo plural e em que o direito de constituir família,
1
Cfr. Art.º 8.º n.º 1 da Lei n.º 25/2016, de 22 de agosto.
2
No capítulo 30 do livro de Génesis encontramos a história de Jacob e Raquel, que por ser infértil não conseguia ter
filhos próprios, o que a leva a dar a sua serva ao marido para que estes gerem o seu herdeiro – uma espécie de “adultério
consentido”.
3
Cfr. OLIVEIRA, Guilherme Freire Falcão de (1992) – Mãe há só (uma) duas! O contrato de gestação, Coimbra
Editora, cit. p. 8.
No seguimento da mesma linha lógica, VERA LÚCIA RAPOSO, apresenta a seguinte definição:
“acordo mediante o qual uma mulher se compromete a gerar um filho, dá-lo à luz, e posteriormente
entregá-lo a outra (s) pessoa(s), renunciando em favor desta(s) todos os direitos sobre a criança,
inclusivamente à qualificação jurídica de Mãe.”6.
Já para MARIA BERENICE DIAS, e no seio do direito brasileiro, este tipo de PMA nada mais é
que “um negócio jurídico de comportamento, compreendendo para a Mãe de aluguer obrigações de
fazer e não fazer, culminando com a obrigação de dar, consistente na entrega do filho.”7.
4
A par do dever do Estado de regular as técnicas de PMA garantido a dignidade humana, consagrado na alínea e) do n.º
2 do art.º 67.º da CRP.
5
Cfr. OLIVEIRA, Guilherme Freire Falcão de (1992) – Mãe há só (uma) duas! O contrato de gestação, Coimbra
Editora, cit. pp. 8 e 9
6
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2005) – De mãe para mãe, Questões Legais e Éticas suscitadas pela Maternidade de
Substituição, Coimbra Editora, cit, pp. 10-11..
7
Cfr. DIAS, Maria Berenice (2013) – Manual de direito das famílias. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
pp. 379 apud SAMPAIO, Sara (2015) – Maternidade de Substituição (Dissertação apresentada para obtenção do Grau de
Mestre em Direito, com Especialização em Ciências Jurídico-Forenses), para Instituto Superior Bissaya Barreto, cit. p.14.
Disponível em
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/28945/1/Maternidade%20de%20Substitui%C3%A7%C3%A3o.pdf .
Consultado a 17.01.2022.
8
Cfr. MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus (2010) – Curso de bioética e biodireito, São Paulo: Atlas apud
SAMPAIO, Sara (2015) – Maternidade de Substituição (Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre em
Direito, com Especialização em Ciências Jurídico-Forenses), para Instituto Superior Bissaya Barreto, cit. p.14.
Disponível em
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/28945/1/Maternidade%20de%20Substitui%C3%A7%C3%A3o.pdf .
Consultado a 17.01.2022.
9
Cfr. Art. ºs 1022.º e ss. do Código Civil Português (doravante CC).
10
Cfr. Art. ºs 1129.º e ss. do CC.
11
Cfr. Art. ºs 874º e ss. do CC.
12
Cfr. Art.º 940º do CC.
13
Cfr. Art..º 8.º n.º 7 da LPMA. As únicas retribuições que os beneficiários devem dar são aquelas que correspondem aos
normais custos que uma gestante tem de suportar durante a gravidez, nomeadamente custos médicos, abrangendo os
gastos com transportes, como define na lei na segunda parte do n.º 7, do art.º 8º da LPMA.
14
De acordo com art.º 8.º n.º 11 da LPMA que remete para os artigos 12º, 13º (no caso dos beneficiários) e para artigos
13.º-A e 13.º-B (no caso da gestante) da mesma lei.
15
Cfr. PINTO, Carlos Alberto da Mota (2005) – Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª ed., Coimbra Editora, cit. p. 385.
Posto isto, fica claro que o contrato de gestação de substituição é um contrato bilateral e
necessariamente gratuito, sendo demarcado pelos clássicos princípios do direito contratual: o
princípio da autonomia privada e liberdade contratual, o princípio da confiança ou pacta sunt
servanda, o princípio da consensualidade e o princípio transversal a todo o direito, a boa-fé.
Destaca-se neste âmbito, o princípio da autonomia privada ou liberdade contratual, que pode ser
definido como a possibilidade consagrada pelo direito civil17 e, até mesmo pelo direito
constitucional18, de um sujeito jurídico poder estabelecer uma relação contratual vinculativa com
outro sujeito que, à partida, escolhe livremente, de modo a produzirem-se efeitos na esfera jurídica
de ambos. Partindo desta noção, é importante considerar também que a liberdade contratual tem
limites, nomeadamente no que diz respeito ao seu objeto, conforme expressa o art.º 280.º CC. Deste
modo, sendo o contrato de gestação de substituição um negócio jurídico e, atendendo às limitações
legais e caraterísticas próprias do contrato, que tipo de negócio jurídico temos em mãos?
Ora, excluindo desde logo todas as opções supramencionadas (contrato de aluguer, comodato,
compra e venda e doação), para VERA LÚCIA RAPOSO só podemos estar perante um contrato de
prestação de serviços especial; a autora explica “o que se contrata é a prestação de um serviço.
Aqueles que se incomodam com a classificação da gestação como um serviço devem questionar-se
porque não os repugna que os demais serviços prestados com o corpo assim sejam qualificados,
desde o trabalho manual ao trabalho intelectual, passando pelo desporto, pela moda ou pela
pornografia.”19. Esta é a noção que adotamos, uma vez que o contrato de gestação é que a prestação
16
Cfr. Art.º 6.º n.º 1 da LPMA. Neste âmbito também se levanta o problema de a legitimidade contratual ser atualmente
restringida a casais heterossexuais, casais homossexuais compostos exclusivamente por mulheres, e por pessoas
singulares do sexo feminino, ou seja, o contrato de gestação não está ainda disponível a casais homossexuais composto
por dois homens, nem mesmo a homens singulares, o que a meu ver não faz qualquer sentido. Aplicando-se os critérios
legalmente previstos para ser beneficiário de um contrato de gestação de substituição, ao excluírem-se casais composto
por homens e homens singulares, o legislador não consegue justificar esta discriminação legalmente – podemos então
falar de uma discriminação baseada puramente no género (algo completamente inadmissível perante o art.º 13º n.º 2 da
CRP). Exploraremos à frente com mais cuidado.
17
Cfr. Art.º 405.º e ss. do CC.
18
Cfr. Art.º 26.º n.º 1 e o art.º 61.º da CRP.
19
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2012) – Quando a cegonha chega por contrato, em Boletim da Ordem dos Advogados, n.º
No que concerne ao art.º 280.º do CC., a natureza deste contrato pode ser ainda algo controversa,
mas em muito se assemelha a diversos outros tipos de contrato que se estabelecem corriqueiramente,
embora com diferenças, em que o corpo humano é utilizado, nas suas mais variadas vertentes para
um fim contratualmente estabelecido e, neste âmbito, recupero os exemplos supra apresentados
como a pornografia ou, até mesmo, a prostituição. Esta ideia de que há contratos com conteúdo
controverso que ainda assim são aceites pelo direito (ou pelo menos descriminalizados) é essencial
de um ponto de vista da liberdade contratual, ou pelo menos, para assegurar a proteção legal das
partes envolvidas e impedir que se desenvolva um mercado à margem da lei autorregulado e
perigoso21. Acresce a este argumento o facto de, em matéria de gestação de substituição, não
estarmos a falar de assegurar um mercado de bebés22 nem meramente de garantir o princípio da
autonomia privada, antes referimo-nos a, de um ponto de vista social, responder a anseios profundos
e justificados de poder ter uma criança e deixar uma linhagem e, de um ponto de vista jurídico,
garantir o cumprimento do direito constitucionalmente consagrado de constituir família.
Neste sentido, VERA LÚCIA RAPOSO considera mesmo a gestação de substituição “como um
demerit good, que a sociedade não deve proibir, mas sim regular de forma a conferir adequada
proteção às partes envolvidas, particularmente à mais frágil, o feto.”23 e afirma que “a solução não
reside na sua proibição, mas na criação de um regime jurídico que garanta acompanhamento
jurídico (e até psicológico) a ambas as partes.”24 – posição que subscrevemos integralmente.
O art.º 8.º n.º 2 da LPMA, consagra que este tipo de contrato só estará ao dispor de certas
mulheres: aquelas que nasçam sem útero, com algum tipo de lesão, doença ou malformação uterina
que comprometam a normal capacidade de engravidar e suportar a gravidez, e ainda, no caso de
“outras situações clínicas que o justifiquem”29.
25
Cfr. Lei n.º 25/2016, que procedeu à alteração da Lei n.º 32/2006, de 26 de julho.
26
Cfr. a redação original do art.º 8.º n.º 1 da Lei n.º 32/2006, de 26 de julho.
27
Cfr. Art.º 1796.º; art.º 1826.º do CC e a redação original do art.º 8.º n.º 3 da Lei n.º 32/2006, de 26 de julho.
28
Cfr. Art.º 39.º n.º 1 da Lei n.º 25/2016, de 22 de agosto.
29
Formulação, desde logo, bastante ampla e genérica, que necessitaria de mais clarificação por parte do legislador, visto
tratar-se de uma matéria tão sensível.
30
Cfr. REIS, Rafael Vale e (2021) – Gestação de Substituição: Soluções Portuguesas numa Perspetiva Transnacional,
em Gestação de Substituição: Perspetivas Internacionais, Instituto Jurídico da Faculdade de Direito da Universidade de
É verdade que uma mulher que tenha problemas uterinos ou outras situações clínicas
pertinentes37, muitas vezes, ainda poderá produzir ovócitos, enquanto um homem com problemas no
seu sistema reprodutivo, terá mais probabilidade de ter toda a sua capacidade reprodutiva afetada o
que, poderá colocar em causa a exigência legal dos beneficiários do contrato partilharem material
genético com a criança. Insiste-se, todavia, na ideia de que, mesmo sendo esta a motivação do
legislador para barrar um grupo de pessoas de aceder a este contrato, não se compatibiliza com os
requisitos do princípio constitucionalmente protegido da igualdade38 e, muito menos, poderá
consubstanciar-se num tratamento proporcional de situações, ainda que se queira proteger a
excecionalidade do regime.
Reconhecendo que as situações reprodutivas dos homens e das mulheres são bastante diferentes
de um ponto de vista biológico e científico, há que reconhecer também que isto não deve justificar o
impedimento legal em questão. Se a admissibilidade deste regime a mulheres e casais homossexuais
femininos já não é um problema (pelo menos para o legislador), o anseio a ter filhos com o nosso
código genético é considerado um anseio justo e, criando-se um regime que procura equilibrar a
dignidade humana com a autodeterminação pessoal e liberdade contratual, não há desculpa para que
esta possibilidade não esteja também ao dispor de homens individuais e casais homossexuais
masculinos que possuam os mesmos anseios. Como realça VERA LÚCIA RAPOSO, para este grupo
de indivíduos a gestação de substituição seria “a única forma possível de ter filhos”39 com o seu
código genético, devendo o legislador prever estas situações de forma fundamentada e proporcional.
36
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2017) – Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação (mas o
legislador teve medo de responder), em Revista do Ministério Público, ed. 149, cit. p.12.
37
E que a coloquem nos casos em que a lei permite que se recorra aos contratos de gestação de substituição, segundo o
art.º 8.º n.º 2 da LMPA. Note-se que este conceito é extremamente amplo albergando diversas situações, daí a
necessidade de delimitação e esclarecimento do mesmo por parte do legislador.
38
Cfr. Art.º 13.º n.º 1 da CRP.
39
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2017) – Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação (mas o
legislador teve medo de responder) – em Revista do Ministério Público, ed. 149, cit. p. 26.
Nada no regime em análise parece repudiar esta hipótese que, aliás, demonstra ser aquela em o
dito “altruísmo” da gestante40 fará mais sentido. Falamos aqui da existência do vínculo familiar que,
à partida, poderá ser aquele mais facilmente mobilizado para explicar os motivos pelos quais a
gestante aceita submeter-se à gravidez de uma criança que não será sua.
No sentido da validade desta solução e até mesmo do seu reforço, o Concelho Nacional de
Procriação Medicamente Assistida (CNPMA) emitiu ao Parlamento, no seguimento do acórdão do
Tribunal Constitucional (doravante TC) n.º 255/2018, um documento intitulado “Breves notas sobre
a gestação de substituição – preocupações do CNPMA e propostas de alteração”41 no qual
manifestam a preferência que a lei deve ter por laços familiares ou de afinidade entre gestante e
beneficiários, de modo a diminuir ao máximo o risco de eventuais incumprimentos contratuais.
Desta forma, ainda não é claro o motivo pelo qual a lei não dispõe expressamente neste sentido.
Em relação à ética ou moralidade deste procedimento entre familiares, não poderemos focar-nos na
questão biológica, uma vez que a gestante não contribui com o seu material genético para a gravidez;
não obstante, é importante perguntar quais os possíveis efeitos que esta informação poderá ter
futuramente para a criança. Será mais impactante e possivelmente mais traumatizante para a criança
saber que foi formada no útero de uma parente sua? Ou será mais aceitável para a mesma a
informação de que uma mulher sem quaisquer laços familiares consigo, suportou a gravidez que a
fez existir?42 Estas perguntas são difíceis de responder especialmente pelo reduzido universo de
40
Altruísmo no sentido de ajudar um casal ou indivíduo a concretizar o seu sonho de ter filhos a título gratuito.
41
CNPMA, Breves notas sobre a gestação de substituição – preocupações do CNPMA e propostas de alteração.
Disponível em
https://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c324679626d56304c334e706447567a4c3168
4a53556c4d5a5763765130394e4c7a6c445579394562324e31625756756447397a5357357059326c6864476c3259554e76
62576c7a633246764c7a6b354f5451795a6d526b4c545935595755744e4445344e4330344e5755304c546734595468694e6
d5a6d4d6d46694e6935775a47593d&fich=99942fdd-69ae-4184-85e4-88a8b6ff2ab6.pdf&Inline=true . Consultado a
24.01.2022.
42
Sobre a questão do direito da criança de saber a identidade da sua gestante de substituição, nomeadamente ao que
concerne à confidencialidade (art.º 15.º LPMA) no contrato de gestação de substituição, explanaremos mais à frente.
i. Preferência, para assunção do papel de gestante de substituição, por mulheres que já tenham
sido mães43;
ii. Aprovação prévia do contrato pelo CNPMA, entidade supervisora destes processos, tendo em
vista os limites legais e sempre antecedida de uma audição da Ordem dos Médicos e da
Ordem dos Psicólogos44;
iii. Proibição de qualquer tipo de pagamento que não aqueles que respondam às normais
despesas da gestante com a gravidez, nomeadamente as dispostas no art.º 8.º n.º 6 da LPMA;
iv. Proibição da celebração do contrato quando pré-exista uma relação de subordinação
económica, de vínculo laboral ou semelhante45;
v. Obrigatoriedade de o contrato ser reduzido a escrito, sob pena de ser considerado nulo46, onde
devem constar necessariamente cláusulas que digam respeito aos deveres e direitos da
gestante, direitos e deveres de informação para ambas as partes, disposições que respondam a
possíveis problemas durante a gravidez e até mesmo em relação à interrupção voluntária da
gravidez e a forma de resolução de conflitos respeitante à execução ou interpretação do
contrato, entre outros47;
Realça-se que, na última alteração legislativa implementada através da Lei 90/2021, várias
insuficiências apontadas ao regime do contrato de gestação de substituição foram efetivamente
colmatas, nomeadamente, a explicitação do conteúdo obrigatório do contrato com a imposição de
cláusulas imperativas, antes não previstas, afunilando assim a liberdade contratual das partes, algo de
extrema importância num contrato que versa sobre assuntos tão sensíveis. Acresce a esta alteração, a
obrigatoriedade de acompanhamento psicológico para a gestante durante todo o processo, algo
impreterível neste âmbito.
43
Cfr. Art.º 8.º n.º 3 da LPMA.
44
Cfr. Art.º 8.º n.º 5 da LPMA.
45
Cfr. Art.º 8.º n.º 8 da LPMA.
46
Cfr. os termos gerais do direito civil previstos no art.º 286.º do CC.
47
Cfr. Art.º 8.º n.º 13 da LPMA.
Esta disposição foi incluída na lei portuguesa após o TC ter se pronunciado, por duas vezes50,
desfavoravelmente à Lei n.º 25/2016, de 22 de agosto, alegando como uma das principais razões a
não previsão do direito ao arrependimento da gestante após o início dos tratamentos de PMA, bem
como a insuficiência de explicitação dos direitos da gestante e da criança.
Será que o mesmo direito que estabelece a filiação através da presunção do parto, não terá
nada a dizer sobre a frustração das expetativas dos beneficiários do contrato53?
A verdade é que, como menciona PEDRO VAZ PATTO “o útero é inseparável do corpo e
da pessoa, não é um alojamento temporário, ou um instrumento técnico. A mulher grávida não é
48
A contrario sensu do estabelecido no art.º 8.º n.º 9 que lê “Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a criança
que nascer através do recurso à gestação de substituição é tida como filha dos respetivos beneficiários.”; indicando que,
caso seja revogado o consentimento da gestante, a criança já não será tida como filha dos beneficiários do contrato, antes
a filiação da mesma, na falta de disposição diferente, será determinada nos termos gerais do direito civil, sendo
considerada filha da mulher que dá à luz.
49
Cfr. Art.º 96.º n.º 1 do Código de Registo Civil.
50
Em 2018 e 2019, através do Acórdão TC. n.º 225/2018, 7/5 e Acórdão TC n.º 465/2019, 18/10.
51
Cfr. Ac. TC n.º 225/2018, de 7/5/2018, https://dre.pt/dre/detalhe/acordao-tribunal-constitucional/225-2018-115226940
52
Cfr. Ac. TC n.º 225/2018, de 7/5/2018, https://dre.pt/dre/detalhe/acordao-tribunal-constitucional/225-2018-115226940
53
Note-se que neste caso não falamos de meras expetativas frustradas em sede contratual por falta de entrega da
“prestação” devida pelo “devedor”. Falamos de uma criança, um ser humano, gerado através da combinação dos gâmetas
dos beneficiários do contrato que, por força do direito de arrependimento da gestante, não poderão encontrar e criar o seu
filho, agora considerado automaticamente filho da gestante de substituição. É um assunto sensível, que coloca diversos
direitos em conflito, onde parecem ficar esquecidos os direitos da parte mais frágil, a da criança.
À partida, a gestante de substituição não terá a sua decisão manchada por possíveis
retribuições de cariz financeiro ao decidir contratar55. Ademais, à garantia de uma decisão livre,
informada e esclarecida, acresce a exigência legal de acompanhamento psicológico antes, durante e
após a gravidez de substituição56, a par do cumprimento de diversos deveres de informação57
trocados entre as partes, como já foi mencionado. Assim, seguindo-se na prática as diretivas da lei,
podemos afirmar que a gestante de substituição estará apta não só a nível físico, mas mais
importante, a nível mental e psicológico a tomar a decisão de contratar ou não com os beneficiários
do contrato. Idealmente, estamos a falar de uma mulher com “suficiente maturidade psicológica
para desempenhar a função de gestante (…), averiguada mediante uma prévia avaliação
psicológica”58 e que presta um verdadeiro consentimento59, sendo seguro assumir, que entende as
consequências sociais, físicas, mentais e jurídicas de levar avante um contrato desta natureza.
Efetivamente, durante a gravidez, as circunstâncias poderão alterar-se e, a par do direito ao
arrependimento, é exigível que se preveja no contrato cláusulas correspondentes a uma possível
interrupção voluntária da gravidez60, dentro dos limites legais para a mesma.
Realça-se neste ponto a ideia transmitida pelo TC de que, apesar do conflito inevitável de
direitos entre as partes61, o direito ao arrependimento da gestante é um direito que não deverá ser
54
PATTO, Pedro Vaz (2021) – Ecologia humana e “gestação de substituição”, em OBSERVADOR. Disponível em
https://observador.pt/opiniao/ecologia-humana-e-gestacao-de-substituicao/ . Consultado a 02.02.2022.
55
Cfr. Art.º 8.º n.º 7 e art.º 39.º da LPMA.
56
Cfr. Art.º 8.º n.º 13, al. c) e art.º 13.º-A n.º 1, al. d) da LPMA.
57
Cfr. Art.º 13.º, al. e), f) e art.º 12.º, 13.º, 13.º-A e 13.º-B da LPMA.
58
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2017) – Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação (mas o
legislador teve medo de responder) – em Revista do Ministério Público, ed. 149, cit. p.41.
59
Assumindo mais uma vez que as exigências legais da LMPA foram cumpridas completamente, gerando-se um
consentimento livre e esclarecido, passível de ser alterado com a decorrência do contrato.
60
Cfr. Art.º 8.º n.º 13, al. h) da LPMA.
61
O TC no AC. n.º 225/2018 entende que neste conflito de direitos devem prevalecer os direitos de personalidade da
gestante de modo a garantir uma verdadeira liberdade de escolha durante toda a execução do contrato de gestação, que
inclui o nascimento da criança.
Dito isto, concordamos que a gestante (e a criança, claro) são as partes mais frágeis neste
contrato, no entanto, também consideramos estarem reunidas legalmente todas as condições para
garantir os direitos supramencionados bem como para proteger a mulher que escolhe tomar o papel
de gestante de substituição e conhecer a extensão da sua decisão, não se justificando assim um
direito ao arrependimento tão amplo, que se estende até 20 dias após o nascimento da criança, sem
que venha acompanhado de algum tipo de indemnização aos beneficiários do contrato. Acreditamos
que esta disposição legal coloca também em causa direitos fundamentais dos beneficiários65, assim, a
mobilização do direito de arrependimento da gestante (especialmente) após o nascimento da criança
não deixa de consubstanciar-se num incumprimento contratual aceite pelo direito. O TC demonstra
uma visão diferente desta questão afirmando que “As obrigações contratualmente assumidas e
consentidas a priori, podem, a partir de um dado momento, deixar de corresponder à vontade da
gestante, de modo tal que o respetivo cumprimento deixe de traduzir uma afirmação da sua
liberdade de ação e autodeterminação. O consentimento inicial deixa, assim, de ser atual, por
razões atendíveis.”66.
A LPMA, em linha com o parecer do TC, não consagra expressamente nenhum tipo de
“sanção” à gestante de substituição que, no caso de se arrepender, poderá registar o filho como seu e
os beneficiários do contrato simplesmente terão de aceitar esta situação67. Defendemos que, embora
estes contratos tenham uma natureza especial, a mobilização do direito ao arrependimento por parte
da gestante numa fase tão avançada do contrato por motivos que só lhe poderão ser imputados, não
62
Cfr. Art.º 26.º CRP.
63
Cfr. Art.º 1.º e art.º 26.º/2 da CRP.
64
Cfr. Art.º 36.º CRP.
65
Como o direito a constituir família, previsto no art.º 36.º da CRP, nomeadamente o n.º 6 que prevê que os filhos não
podem ser separados dos seus pais, salvo em situações específicas em que os pais não cumpram deveres fundamentais
para com os filhos e sempre mediante decisão judicial (partindo da assunção que um feto que partilha material genético
com os beneficiários é, à partida, filho deles, posição da qual o TC se afasta no Ac. n.º 255/2018). Os beneficiários do
contrato, ao longo de toda a gestação, criam legítimas expetativas de poder ver e receber a criança em casa. Estas
expetativas só se intensificam com o nascimento da mesma. Permitir que após 20 dias do nascimento da criança esta
possa ser retirada aos beneficiários do contrato, pais da criança, é algo verdadeiramente perigoso e preocupante, uma vez
que a criança não é uma coisa fungível que poderá facilmente ser substituída por outra, ficando este direito fundamental
dos beneficiários e da criança necessariamente comprometido.
66
Cfr. Ac. TC n.º 255/2018, de 7/5/2018, https://dre.pt/dre/detalhe/acordao-tribunal-constitucional/225-2018-115226940.
67
Esta solução legal de não impor nenhum tipo de indemnização à gestante que decide usar do seu direito ao
arrependimento, é baseada nas considerações do TC no Ac. n.º 255/2018, cuja argumentação vai no sentido de garantir
que uma revogação do consentimento verdadeiramente livre, i.e., sem a “ameaça” legal de ter de indemnizar os
beneficiários se fizer uso deste direito.
Deste modo, é necessário que o legislador regule expressamente os efeitos que o direito de
arrependimento produzirá em sede de contrato de gestação de substituição, de modo a que tenhamos
um regime mais equilibrado e que não forneça um tratamento privilegiado à gestante de substituição
que, como qualquer outro sujeito contratual, obriga-se livre e esclarecidamente a cumprir a sua parte
no contrato e, não cumprindo por causa que lhe é imputável70, especialmente numa fase tão tardia do
mesmo, deve ser responsabilizada através do pagamento de danos patrimoniais e não patrimoniais
causados à outra parte.
Note-se que defendemos que a indemnização só será devida nos casos em que a gestante por
livre e espontânea vontade decide não entregar a criança nascida, após ter gerado legítimas
expetativas de que o faria, sendo fulcral considerar a que estágio da gravidez em que esta decisão é
tomada e quais as suas motivações. Já quando o direito ao arrependimento é mobilizado em sede de
interrupção voluntária da gravidez dentro dos limites legais, não consideramos que a gestante deva
indemnizar os beneficiários do contrato da mesma forma que o faria em caso de recusa de entrega da
criança já nascida, antes a indemnização deve ser calculada tendo em conta os motivos que levam à
decisão de abortar71 e tendo em conta a situação financeira da gestante72.
68
Cfr. Art.º 81.º n.º 2 do CC que refere que “A limitação voluntária, quando legal, é sempre revogável, ainda que com
obrigação de indemnizar os prejuízos causados às legítimas expectativas da outra parte.”.
69
Cfr. Art.º 81.º n.º 2 do CC (no que diz respeito aos direitos de personalidade) e art.º 801.º CC (no que diz respeito ao
direito das obrigações) onde se lê: “Tornando-se impossível a prestação por causa imputável ao devedor, é este
responsável como se faltasse culposamente ao cumprimento da obrigação.”. De todas as disposições sobre os
incumprimentos contratuais, esta parece ser aquela que melhor se adequa ao caso em análise e, articulada com o art.º 81.º
n.º 2, a ideia de indemnização só é reforçada em todos os prismas legais em que este contrato possa ser considerado. A
verdade é que a gestante de substituição não atua com culpa, apenas mobiliza o seu direito de arrependimento, concedido
pela lei em virtude dos seus direitos de personalidade, todavia, fá-lo por livre e espontânea vontade. Embora não
saibamos o que leva, em cada caso específico, a gestante a recorrer a este direito como forma de resolver o contrato,
podemos assumir que, na maioria dos casos, fá-lo por vontade própria e não por força de razões externas à mesma que a
constrangem a tomar tal decisão, daí podermos considerar que a causa lhe é imputável. Sendo a impossibilidade de
cumprimento do contrato, ainda que não culposa, imputável à gestante, esta terá o dever de indemnizar os beneficiários
da prestação pelos eventuais danos e prejuízos que lhes possam ter causado. Além dos gastos que os beneficiários
suportaram com as normais despesas decorrentes do acompanhamento médico da gestante de substituição (exigência do
n.º 7 do art.º 8.º da LPMA), geram-se danos não patrimoniais sérios (art.º 496º do CC) que não poderão simplesmente ser
ignorados, devendo ser indemnizados pela parte incumpridora do contrato a par dos primeiros. Estes seriam os efeitos
normais e expetáveis em sede de incumprimento de obrigações, efeitos que consideramos ter uma aplicabilidade
adequada e proporcional ao contrato de gestação de substituição que não deixa de ser um contrato, ainda que com
natureza especial e com nuances específicas.
70
Ainda que no exercício de um direito essencial e completamente legítimo, o direito ao arrependimento.
71
Referimo-nos neste ponto à necessária análise das condições em que a interrupção da gravidez tomou lugar: se foi por
livre vontade da gestante que simplesmente decide unilateralmente resolver o contrato (até às 10 semanas de gravidez,
cfr. Art.º 142.º n.º 1, al. e) do Código Penal, doravante CP) ou por situações clínicas que coloquem em risco a saúde e/ou
vida da gestante e do feto (cfr. Art.º 142.º n.º 1, als. a, b e c de CP). No primeiro caso, admite-se a possibilidade de haver
Como nota final no que concerne ao regime jurídico dos contratos de gestação de
substituição, é importante realçar que a algum momento faz o legislador menção ao superior
interesse da criança. Como explica VERA LÚCIA RAPOSO, esta omissão pode dever-se ao facto de
“a Lei n.º 32/3006 regular os contratos de gestação de uma perspetiva puramente contratual e não
como uma questão de conflito entre diferentes pretensões de filiação, sendo que apenas neste último
cenário faz sentido reivindicar o superior interesse da criança”76. Não obstante, é consensual que
este regime não versa sobre um contrato comum e, se a finalidade do mesmo é a entrega de uma
criança, um ser humano, com direitos e interesses que carecem de proteção legal, o legislador deveria
algum tipo de indemnização, nem que se consubstancie apenas na restituição dos gastos que os beneficiários suportaram
até aquele momento com a gestação. No segundo caso, parece claro não haver lugar a indemnização de qualquer tipo,
uma vez que falamos de causas imperiosas que conduziram à interrupção da gravidez.
72
De modo a garantir o princípio da proporcionalidade cfr. Art.º 18.º n.º 2 da CRP.
73
Cfr. CHABY, Estrela (2016) – “Direito a constituir família, filiação e adoção: Notas à luz da jurisprudência do
Tribunal Constitucional e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”, in Estudos em Homenagem ao Conselheiro
Presidente Rui Moura Ramos, Vol. II, Coimbra, Almedina, pp.329-356 apud ALMEIDA, Catarina Sofia Martins de
(2020). O contrato de gestação de substituição no ordenamento jurídico português: O designado “direito ao
arrependimento” da mulher gestante (Dissertação de Mestrado em Direito), para Faculdade de Direito, Escola do Porto.
Disponível em https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/33657/1/00509_02_catarina-sofia-almeida-345018061-
dissertacao-integral.pdf . Consultado a 07.02.2022.
74
Cfr. XAVIER, Rita Lobo (2019) – “A constitucionalização do contrato de gestação de substituição e a traição das
imagens: “isto não é uma gestação de substituição”, in Estudos em Homenagem ao Conselheiro Presidente Joaquim de
Sousa Ribeiro, Vol. I, Coimbra, Almedina, pp.345-362. apud ALMEIDA, Catarina Sofia Martins de (2020) – O contrato
de gestação de substituição no ordenamento jurídico português: O designado “direito ao arrependimento” da mulher
gestante (Dissertação de Mestrado em Direito), para Faculdade de Direito, Escola do Porto. Disponível em
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/33657/1/00509_02_catarina-sofia-almeida-345018061-dissertacao-
integral.pdf . Acedido a 07.02.2022.
75
ALMEIDA, Catarina Sofia Martins de (2020) – O contrato de gestação de substituição no ordenamento jurídico
português: O designado “direito ao arrependimento” da mulher gestante (Dissertação de Mestrado em Direito), para
Faculdade de Direito, Escola do Porto – cit. p. 53. Disponível em
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/33657/1/00509_02_catarina-sofia-almeida-345018061-dissertacao-
integral.pdf . Consultado a 07.02.2022.
76
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2017) – Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação (mas o
legislador teve medo de responder) – em Revista do Ministério Público, ed. 149, cit. p. 28.
O princípio da dignidade humana81, já referido por diversas vezes, é a linha condutora que
devemos seguir nesta análise uma vez que é ele que nos dirá na prática se, de acordo com as atuais
disposições legais, a gestante é ou não instrumentalizada durante o contrato e se a criança, nascida ou
em formação, é efetivamente tratada como res, objeto ou parte contratual.
É consensual entre diversos autores que o serviço prestado no contrato em causa não é um
serviço como qualquer outro e que o útero da gestante utilizado para gerar a criança é indissociável
da mesma. Dito isto, averiguamos no ponto anterior que a lei prevê diversos instrumentos, tal como o
direito ao arrependimento até ao registo da criança, como forma de salvaguardar a dignidade da
mulher que, não sendo uma fábrica de bebés, é um ser humano passível de criar uma relação afetiva
e emocional com o nascituro e decidir não seguir com a execução do contrato82.
Todavia, não é por acaso que a CRP no seu primeiro artigo afirma que a Républica e o Estado de
Direito Democrático (no seu segundo artigo) são baseados na dignidade da pessoa humana. Na
77
Nomeadamente no que respeita à previsão do direito da criança de poder saber que foi concebida com recurso à
gestação de substituição e, eventualmente, o direito de saber a identidade da gestante de substituição. Esta ideia é
reforçada pelo TC no Ac. n.º 255/2018 onde invoca o direito à historicidade, direito à identidade, dignidade da pessoa
humana e proteção da infância como direitos que fundamentam a inconstitucionalidade do art.º 15.º da LPMA no qual se
exclui por absoluto a possibilidade da criança, parte de um contrato de gestação de substituição, saber da existência do
mesmo e da identidade da gestante.
78
Cfr. Art.º 8.º n.º 13, al. m) da LPMA; assumindo que estes “eventuais conflitos” entre gestante e beneficiários, possam
tocar diretamente nos direitos e interesses da criança.
79
Cfr. Art.º 8 n.º 13, al. a) da LPMA que lê: “(...) tendo em vista assegurar a evolução normal da gravidez e o bem-estar
da criança ”.
80
Cfr. Art.º 66.º n.º 2 do CC
81
Cfr. Art.º 1.º e 26.º n.º 2 da CRP.
82
Reitera-se que ainda que discordemos com a atual extensão do direito ao arrependimento e a falta de disposições que
prevejam indemnizações no caso de incumprimento contratual por causa imputável à gestante; não podemos deixar de
aceitar que o reconhecimento deste direito “humaniza” a gestante. A lei, ao dar prevalência à relação intensa entre
grávida e nascituro desenvolvida durante a gravidez, reconhece a dignidade da mulher que formou por diversos meses
um ser humano no seu útero e concede-lhe o direito de ser mãe do mesmo.
Em relação à criança é inconcebível, por razões óbvias, classificá-la de um ponto de vista legal
como uma coisa passível de ser objeto contratual. A partir do momento do nascimento completo e
com vida, a criança adquire personalidade jurídica sendo necessariamente um sujeito com direitos84,
o que não afasta a justa proteção legal conferida aos nascituros85, ainda que não lhes seja conferida
personalidade jurídica86. Na mesma linha, é estranho considerar a criança como parte contratual uma
vez que, ao momento da celebração do contrato, esta nem existe e não possui personalidade jurídica,
não podendo concordar ou ser chamada a intervir no mesmo de forma direta. A única solução
possível é a de assumir a criança como um terceiro no contrato, semelhante ao terceiro num processo
civil87, mais concretamente uma parte acessória, uma vez que se vê diretamente afetada pela
execução do negócio ainda que não tenha tido um papel interventivo no mesmo. Ademais, o papel da
criança não se restringe a ser um mero interveniente no contrato, antes será um interveniente
compulsório, pois não existia aquando da celebração do negócio e, após o seu nascimento, é
necessariamente tida como participante deste88.
Atualmente sabemos que a dignidade da pessoa humana, tanto no caso da gestante como no caso
do nascituro, é exatamente o que divide a doutrina no que toca à admissibilidade destes contratos. Há
quem defenda que a própria natureza do contrato é inerente à instrumentalização da capacidade
reprodutiva das mulheres, especificamente porque culmina na separação entre mãe e recém-nascido
por força de um mútuo acordo entre partes. Neste âmbito são mobilizados diversos argumentos:
83
Cfr. KANT, Immanuel (2014) – Fundamentação da metafísica dos costumes – Edições 70, Lisboa, 2014; apud
MACHADO, Maria João Salazar (2020) – O contrato de gestação de substituição: Implicações da revogação do
consentimento e salvaguarda do superior interesse da criança (Dissertação de Mestrado – Mestrado em Ciências
Jurídico-Forenses), para Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Disponível em
https://eg.uc.pt/bitstream/10316/92805/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O_MJ_final%5B14616%5D.pdf . Consultado a
08.02.2022.
84
Cfr. Art.º 66.º n.º 1 do CC.
85
Cfr. Arts.º 140.º e 141.º CP.
86
Cfr. Art.º 66.º n.º 2 do CC.
87
Cfr. Art.º 631.º n.º 2 do Código do Processo Civil.
88
Cfr. SALES, Ana Amélia Ribeiro (2011) – O incumprimento dos contratos de doação de gameta, em Estudos sobre
o incumprimento, Coimbra Editora, NR 37, p. 91 apud SILVA, Joana Isabel Santos da (2018) - O Contrato de Gestação
de Substituição (Dissertação de Mestrado em Ciências Jurídico Forenses), para Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra, pp. 24 -25. Disponível em https://eg.uc.pt/bitstream/10316/85786/1/O-contrato-de-gesta%C3%A7%C3%A3o-
de-substitui%C3%A7%C3%A3o-COMPLETO.pdf . Consultado a 08.02.2022.
De acordo com RITA FONTOURA “Quando se considera que uma mulher pode receber,
alimentar, dar vida durante nove meses a um bebé e depois desligar-se dele num estalar de dedos,
sem que os seus mais íntimos sentimentos sejam abalados, está-se a desumanizar as mães. Quando
se esquece que há um bebé a quem é retirada a sua mãe, aquela que ele ouviu durante nove meses,
aquela que cuidou dele, está-se a menosprezar o direito da criança.”90
Para PEDRO VAZ PATTO “Entre a mãe gestante e a criança nascem laços de vinculação
estreitíssimos que, por imposição de um contrato, são quebrados violenta e abruptamente à
nascença, tornando obrigatório para a mulher gestante (a mãe) o abandono do seu filho e a
renúncia à mais espontânea, instintiva e natural tendência que é a de continuar a cuidar da vida de
que cuidou durante nove meses.”91
Em primeiro lugar, não podemos deixar de aludir o cariz absolutista das afirmações
suprarreferidas. Os autores mencionados assumem absoluta e indiscriminadamente que as mulheres
grávidas criam laços afetivos intensos e, aparentemente, indomáveis que as impedem (ou deveriam
impedir) biologicamente de se separar quer do nascituro quer da criança nascida e, que estes laços
deveriam ter prevalência na nossa legislação. Como já reconhecemos, esta relação entre gestante e
feto tem uma grande relevância não só a nível pessoal como biológico e jurídico, no entanto, é
perigoso afirmá-la como absoluta e preponderante sobre qualquer outra coisa, até mesmo sobre a
vontade da própria mulher. Quando mobilizamos argumentos desta espécie para justificar a
89
Cfr. ANDRADE, Domingos Freire de (2017) – Por quanto se vende um filho?, em OBSERVADOR. Disponível em
https://observador.pt/opiniao/por-quanto-se-vende-um-filho/ . Consultado a 09.02.2022.
90
Cfr. FOUTURA, Rita (2017) – Eu alugo e tu queres alugar, então está tudo certo!, em OBSERVADOR. Disponível
em https://observador.pt/opiniao/eu-alugo-e-tu-queres-alugar-entao-esta-tudo-certo/ . Consultado a 09.02.2022.
91
Cfr. PATTO, Pedro Vaz (2021) – Ecologia humana e “gestação de substituição”, em OBSERVADOR. Disponível em
https://observador.pt/opiniao/ecologia-humana-e-gestacao-de-substituicao/ . Consultado a 09.02.2022.
92
Cfr. LEITE, Ricardo Batista (2016) – Não às barrigas de aluguer, em PÚBLICO. Disponível em
https://www.publico.pt/2016/05/12/sociedade/opiniao/nao-as-barrigas-de-aluguer-1731658 . Consultado a 09.02.2022.
Ora, se a relação entre mãe e feto deve ser causa de invalidade do regime de gestação de
substituição, semelhantemente, deveria ser causa de proibição do aborto e da adoção. Nesta
sequência e no caso do aborto (felizmente regulado e permitido95), seria impensável aceitar que uma
mulher grávida pudesse simplesmente “descartar-se” do feto, uma vez que a relação entre ambos
constituiria um facto imperioso para o direito. Paralelamente no caso da adoção, ao invocar
justificações daquela natureza, seria inconcebível permitir que a mulher que gerou o seu filho e,
necessariamente criou a tal relação vital com o mesmo, pudesse simplesmente abrir mão deste
colocando-o à adoção. Assim sendo, impõe-se uma pergunta muito importante: não será pior, do
ponto de vista biológico e moral, a mulher gestante que decide separar-se por livre e espontânea
vontade da criança gerada em condições normais e que carrega o seu material genético, do que
aquela que altruisticamente carrega um bebé gerado com o projeto genético de outrem, entregando-o
após o parto aos autores deste projeto?
O que se desconsidera aqui por inteiro é a vontade da mulher gestante. Não poderemos só
assumir incondicionalmente que esta mulher não está em condições de decidir livremente sobre o seu
corpo e sobre o futuro da criança que gera porque engravida. Para isto, temos leis que impõem o seu
devido esclarecimento e acompanhamento psicológico, culminando assim, na liberdade de escolha.
A gravidez não é uma doença que incapacita a mulher de decidir conforme os seus interesses. É um
processo complexo, acompanhado com alterações hormonais, claro, mas que não poderá servir como
desculpa para impedir que dentro dos limites legais, respeitando a boa-fé, as boas práticas e a
dignidade humana, seja retirado à mulher tenha o poder de autodeterminação. Só a própria mulher
poderá dizer se esta relação é imperiosa para si ao ponto de manter a criança gerada, sendo
despropositado criminalizar estas práticas com base em argumentos cegos e generalizados e (atrevo-
me até a dizer) paternalistas.
93
Cfr. Art.º 142.º do CP.
94
Cfr. Arts.º 1882.º, 1973.º e ss. do CC.
95
Permitido dentro de situações muito específicas e com respeito pela dignidade do nascituro, cfr. Art.º 142.º n.º 1 do CP.
Neste ponto do trabalho abordaremos alguns fenómenos que têm marcado os contratos de
gestação de substituição não só em Portugal como no mundo, e que consideramos dignos de
referência num caminho complicado de construção e implementação destes contratos.
O turismo reprodutivo, como vulgarmente é conhecido, pode ser definido como o fenómeno em
que indivíduos que pretendem ter filhos através de técnicas de PMA não permitidas no seu país,
nomeadamente contratos de gestação de substituição, escolhem outros ordenamentos jurídicos mais
permissivos ou atrativos em termos legais para prosseguir o seu objetivo. SUSANA COSTA NETO
delimita este conceito como “o movimento de pessoas para outro estado ou jurisdição, de modo a
obter determinado tipo de assistência médica reprodutiva, à qual não podem aceder no seu País de
origem.”97.
96
Cfr. MACHADO, Maria João Salazar (2020) – O contrato de gestação de substituição: Implicações da revogação do
consentimento e salvaguarda do superior interesse da criança (Dissertação de Mestrado – Mestrado em Ciências
Jurídico-Forenses), para Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, cit. p. 21. Disponível em
https://eg.uc.pt/bitstream/10316/92805/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O_MJ_final%5B14616%5D.pdf . Consultado a
10.02.2022.
97
Cfr. NETO, SUSANA COSTA (2012) – Um exemplo de turismo médico: a maternidade de substituição além
fronteiras (Mestrado em Direito com Especialização em Ciências Jurídico-Forenses), para Instituto Superior Bissaya
Barreto, cit. p. 19. Disponível em
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/29034/1/Um%20Exemplo%20de%20Turismo%20M%C3%A9dico_A%20M
aternidade%20de%20Substitui%C3%A7%C3%A3o%20Al%C3%A9m%20Fronteiras.pdf . Consultado a 10.02.2022.
Acreditamos que seria sensato por parte do legislador esclarecer este ponto, visando dar
legitimidade contratual a partes que tenham nacionalidade portuguesa ou, pelo menos, um título de
residência português, residindo habitualmente em Portugal, como forma de combater este fenómeno
tão prejudicial. Todavia, nada impede que o CNPMA, no momento em que procede à avaliação dos
pedidos para contratar, possa vetar o acesso a esta técnica de PMA a não-nacionais se houver
indícios desta prática, isto com base na lei geral. Falamos especificamente da possível mobilização
do art.º 334.º do CC onde se lê “É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda
manifestamente os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou
económico desse direito.”. Ademais, como alerta VERA LÚCIA RAPOSO “Este silêncio do
legislador deve ser entendido como uma não-proibição de uso destes contratos por parte de
estrangeiros, mesmo que não residam habitualmente em Portugal. Claro que esta possibilidade vai
levantar problemas em sede de direito internacional privado, nomeadamente no que respeita ao
reconhecimento do contrato de gestação nos demais países e ao concomitante reconhecimento das
regras de estabelecimento da filiação que resultam da lei;”99.
Portanto reiteramos a necessidade de uma previsão expressa nesse sentido de modo a combater o
turismo reprodutivo conjuntamente com o fenómeno crescente da comercialização da reprodução,
consequência do primeiro.
98
NEVES, Céu (2019) – Portugueses procuram no estrangeiro maternidade de substituição. E quem os pode punir?, em
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Disponível em https://www.dn.pt/vida-e-futuro/portugueses-procuram-no-estrangeiro-
maternidade-de-substituicao-e-quem-os-pode-punir-11132153.html . Consultado a 11.02.2022.
99
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2017) – Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação (mas o
legislador teve medo de responder) – em Revista do Ministério Público, ed. 149, cit. p. 47.
Quando falamos de comercialização, na esmagadora maioria dos casos, é natural assumir que há
um preço a ser pago por algo (o que se compra) e por alguém (normalmente quem compra). Em
Portugal, como já vimos, o legislador quis evitar este fenómeno no âmbito da gestação de
substituição prevendo diversas medidas, entre elas, a obrigatória gratuitidade do contrato e a
criminalização da promoção e celebração de contratos onerosos ou que não respeitem os requisitos
da LPMA.
A verdade é que isto não é suficiente. Neste domínio nunca é demais relembrar a especial
natureza do contrato de gestação de substituição que, inevitavelmente, toca em assuntos tão pessoais
e sensíveis. O contrato de gestação de substituição confronta os princípios mais basilares da nossa
sociedade como o direito à autodeterminação, a constituir família, a dignidade humana e, mais
intensamente, faz-nos questionar a extensão e os limites destes direitos. É por isso um campo
jurídico que merece a maior atenção e clarificação e onde, certamente, não queremos deixar a ótica
da oferta, da procura e do lucro (típicas da comercialização) reinar.
Por um lado, felicitamos o legislador pela opção de proibir a onerosidade dos contratos de
gestação de substituição. Esta imposição colmata uma das maiores preocupações sociais levantadas
no âmbito deste contrato: a questão de o incentivo monetário ser especialmente aliciante a mulheres
mais carenciadas que, veriam nele uma oportunidade de ganhar sustento através da venda da sua
capacidade reprodutiva. E não nos enganemos em pensar que esta matéria não tem a mais alta
relevância social, pois abriria portas a uma maior precarização destas mulheres já bastante
fragilizadas pelas suas condições financeiras, conduzindo mesmo à sua desumanização. Verificamos
estas ocorrências nomeadamente em casos de prostituição onde, ainda que profundamente diferente
da gestação de substituição100, a utilização do corpo de um individuo101 para atingir um fim alheio
aos seus próprios interesses com a contrapartida de remuneração, conduz quase que inevitavelmente
à sua desumanização. Esta desumanização provém de uma ideia de que a pessoa é um produto ao
serviço de outrem e que o seu bem-estar, os seus direitos, liberdades e garantias estão num patamar
abaixo dos restantes. O mais grave aqui é que as vítimas deste fenómeno são sempre as mesmas102:
as pessoas, especialmente mulheres, com maiores carências financeiras. Daqui decorre a importância
100
No que concerne à sua finalidade, interesses e direitos em conflito.
101
Maioritariamente mulheres, note-se.
102
Com raríssimas exceções, claro.
Por outro lado, é fácil compreender a dificuldade em encontrar uma gestante de substituição que,
por puro altruísmo, aceitará celebrar um contrato deste nível de forma gratuita. Forçosamente
qualquer gestante terá sempre um preço a pagar quando suporta uma gravidez, preço esse que se
torna mais caro se o fruto da mesma pertencer a outra pessoa. Nesse quadro, LAURINDA ALVES
atesta que “(...) há custos tão ou mais elevados que os financeiros. O preço físico, moral e emocional
a pagar por todo este processo pode ser brutal.”103.
103
Cfr. ALVES, Laurinda (2017) – Cheira a negócio, em OBSERVADOR. Disponível em
https://observador.pt/opiniao/cheira-a-negocio/ . Consultado a 11.02.2022.
104
Cfr. OLIVEIRA, Guilherme Freire Falcão de (1992) – Mãe há só (uma) duas! O contrato de gestação, Coimbra
Editora ,cit. p. 45.
105
Note-se que falamos de uma gratuitidade flexível no sentido de acreditarmos poder haver espaço a compensações
proporcionais e fundamentadas de forma a ressarcir a gestante de substituição nem que seja pelos incómodos que
suportou durante a gravidez (como ocorre em muitos outros campos do direito).
106
Tal como a LPMA também incentiva no art.º 12.º, al. e), é importantíssimo dar-se relevo a outros institutos que
permitam aos beneficiários constituir família, nomeadamente com a promoção de uma adoção responsável.
4. Conclusão
Após todo o nosso estudo, é interessante voltarmos à questão realizada na Introdução deste
trabalho: qual o atual preço da gestação de substituição? Nos moldes legais atuais, o preço da
gestação de substituição prende-se com um regime pouco desenvolvido e mal justificado em diversas
vertentes, desde a legitimidade contratual das partes, aos direitos e deveres da gestante e questões de
incumprimento contratual até à desconsideração do superior interesse da criança. É um contrato,
portanto, que por agora custa caro a quem consegue aceder e participar no mesmo (ainda que seja
obrigatoriamente gratuito) por existirem diversos conflitos de direitos que, a nosso ver, a lei não
consegue ainda dar uma resposta satisfatória.
Há, no entanto, que reconhecer que o atual regime alterado pela Lei 90/2021 trouxe melhorias
consideráveis ao mesmo e acreditamos que a reflexão sobre esta técnica de PMA tão complexa e
sensível deve continuar e aprofundar-se, de modo a alcançarmos um regime mais equilibrado e
sensato.
A única certeza que temos em matéria de gestação de substituição é que esta prática não deve ser
simplesmente criminalizada, até porque já vimos que é possível a elaboração de um regime que
proporcione um equilíbrio seguro entre os interesses e direitos das partes, e assim sendo, é mais do
que exequível (e necessário!) uma regulamentação da gestação de substituição que proporcione o
direito a constituir a família a quem não o possa fazer pela via comum agregado a uma proteção
efetiva da gestante e da criança. Como expõe com muita sensatez VERA LÚCIA RAPOSO “(...) a
solução não reside na sua proibição, mas na criação de um regime jurídico que garanta
acompanhamento jurídico (e até psicológico) a ambas as partes, um estrito controlo das prestações
devidas e um adequado período de reflexão para a mãe de substituição” e “tenha-se sobretudo em
conta que este contrato não se destina a satisfazer um capricho fútil, mas pelo contrário, a
concretizar direitos fundamentais que a todos nos cabem, o direito à saúde, o direito à reprodução e
o direito a constituir família (...) a sua limitação exige uma justificação acrescida, que não se basta
“Em todo o caso, não duvido que está aberto um novo e importante (embora difícil) caminho
para a gestação de substituição em Portugal. Apesar das imperfeições técnicas, a aplicação das
regras pode ser melhor do que, neste momento, se antecipa. É o que desejam aqueles que, como eu,
vêm na gestação de substituição, mais do que uma perigosa cedência ao argumento da ladeira
escorregadia, a concretização de um avanço civilizacional que pode trazer felicidade a alguns, sem
prejuízo dos outros.”109.
107
Cfr. RAPOSO, Vera Lúcia (2012) – Quando a cegonha chega por contrato, em Boletim da Ordem dos Advogados,
n.º 88, Lisboa, cit. pp. 26-27. Disponível em https://portal.oa.pt/media/118051/n%C2%BA88-mar2012.pdf . Consultado
a: 13.02.2022.
108
Motivos esses assentes em bases subjetivas de avaliação.
109
VALE E REIS, Rafael (2017) – O difícil caminho da gestação de substituição em Portugal, em OBSERVADOR.
Disponível em https://observador.pt/opiniao/o-dificil-caminho-da-gestacao-de-substituicao-em-portugal/ . Consultado a
13.02.2022.
CHABY, Estrela (2016) – “Direito a constituir família, filiação e adoção: Notas à luz da
jurisprudência do Tribunal Constitucional e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”, in
Estudos em Homenagem ao Conselheiro Presidente Rui Moura Ramos, Vol. II, Coimbra, Almedina.
COELHO, Rute (2017) – Conselho vai decidir antes do Natal sobre avó dar à luz o neto, em
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Disponível em https://www.dn.pt/sociedade/conselho-vai-decidir-antes-do-
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FOUTURA, Rita (2017) – Eu alugo e tu queres alugar, então está tudo certo!, em OBSERVADOR.
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LEGISLAÇÃO
Código Civil (CC).
Código Penal (CP).
Código do Processo Civil (CPC).
Constituição da República Portuguesa (CRP).
Código de Registo Civil (CRC).
Lei n.º 25/2016, que procedeu à alteração da Lei n.º 32/2006, de 26 de julho (LPMA).