Habeas Corpus
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HABEAS CORPUS
com pedido liminar
O paciente foi denunciado por incurso nos artigos 35 e 33, caput, c.c. artigo 40, VI,
todos da Lei nº 11.343/06, sob o fundamento de que durante perícia realizada no aparelho
celular do denunciado Gustavo da Silva Ramos, os investigadores e polícia encontraram, no
"WhatsApp" conversas sobre a divisão de tarefas para a comercialização de drogas entre
ambos, onde combinavam quanto cada um venderia de drogas, bem como acertavam a
"padronização da embalagem".
O MM. Juiz de primeira instância decidiu decretar prisão preventiva sem, contudo,
elencar elementos concretos que fundamentem a decisão. Apenas aduz genericamente à
gravidade em abstrato do crime, pois “fomenta a prática de outros delitos e atormenta a
sociedade”. Sob tal manto, decretou a prisão preventiva para garantia da ordem pública, para
conveniência da instrução processual e para assegurar a aplicação da lei penal
No que concerne à garantia da ordem pública, sabe-se que está voltada para a
proteção de interesses estranhos ao processo. A expressão “ordem pública” é vaga, de
conteúdo indeterminado. Realmente, a ausência de um referencial semântico seguro para a
“garantia da ordem pública”, coloca em risco a liberdade individual. A jurisprudência tem se
valido das mais diversas situações, todas elas reconduzíveis à garantia da ordem pública:
“gravidade do crime”, “comoção social”, “periculosidade do réu”, “perversão do crime”,
“insensibilidade moral do acusado”, “credibilidade da justiça”, “clamor público”, “repercussão
na mídia”, “preservação da integridade física do indiciado”... Tudo cabe na prisão para garantia
da ordem pública.
Em suma, quando se prende para “garantir a ordem pública” não se está buscando a
conservação de uma situação de fato necessária para assegurar a utilidade e a eficácia de um
futuro provimento condenatório. Ao contrário, o que se está buscando é a antecipação de
alguns efeitos práticos da condenação penal. No caso, privar-se o paciente de sua liberdade,
ainda que juridicamente tal situação não seja definitiva, mas provisória, é uma forma de tutela
antecipada, que propicia uma execução penal antecipada.
Justamente por isso, a doutrina, tem destacado que a prisão para garantia da ordem
pública não tem finalidade cautelar: José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual
Penal. Rio de Janeiro: Forense, 1965, p. 49-50; Roberto Delmanto Jr., As Modalidades de Prisão
Provisória e seu Prazo de Duração. Rio de janeiro: Renovar, 1998, p. 156; Aury Lopes Jr.,
Introdução Crítica ao Processo Penal – Fundamentos da Instrumentalidade Garantista. 3 ed.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 208.
Por tudo isso, não se acredita que exista eventual necessidade de prisão preventiva
do paciente, para “garantia da ordem pública”, mormente identificando-a com a gravidade
abstrata do delito, por ser equiparável aos crimes hediondos.
Todavia, caso seja diverso o posicionamento deste Tribunal de Justiça, que adita, em
tese, a possibilidade de prisão preventiva para garantia da ordem pública, passa-se a
demonstrar a inocorrência do periculum libertatis, no presente caso, identificado com tal
requisito da prisão preventiva.
O único fundamento invocado seria, em tese, a gravidade do delito, que por
“fomentar a prática de outros delitos e atormentar a sociedade”, necessitaria da custódia
cautelar, para a garantia da ordem pública.
Há, implicitamente, em tal forma de pensar, a manutenção da prisão cautelar
obrigatória, como simples corolário a imputação penal, no caso o tráfico de drogas, tido de
tamanha gravidade por uma convicção pessoal do magistrado.
Por outro lado, a tentativa de ressuscitá-la, na Lei dos Crimes Hediondos, sob a
vedação de qualquer forma de liberdade provisória (art. 2º, inc. II) e, posteriormente, em
dispositivo semelhante constante da Lei n. 11.343/2006, art. 44, caput, foi frustrada, vez que
revogados tais artigos pela Lei n. 11.464, de 2 de março de 2007, posto que incompatíveis
com a presunção de inocência.
Não tem sido aceita a prisão decretada com base apenas na gravidade abstrata do
delito, mesmo quando se trate de crime hediondo ou, no caso, tráfico ilícito de entorpecente,
que se equipara a tais delitos por disposição legal. Nesse sentido: STF, HC n. 90.862/SP, 2ª T.,
Rel. Min. Eros Grau, j. em 27/04/07. v.u.; STF, HC n. 88.408/SP, 1.ª T. Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, j. em 22/09/06; STF, HC n. 87.041/PA, 1.ª T., Rel. Min. Cezar Peluso, j. em 24/11/06
v.u.; STF, HC n. 81.126/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, j. em 08/03/02; STJ, RHC n. 11.755/RS, 6.ª T.,
Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. em 12/11/01. v.u.; STJ, HC n. 18.633/SP, 5.ª T., Rel. Min. José
Arnaldo da Fonseca, j. 08/04/02 v.u.
Por último, a necessidade de assegurar a aplicação da lei penal visa evitar que diante
de uma possível fuga do Acusado, pelo temor da condenação, uma possível execução da
sanção penal pudesse ser frustrada. Busca garantir, assim, os fins do processo. Porém,
também não há nos autos nada, absolutamente nada, que evidencie que o paciente procure
evadir-se.
O paciente fora surpreendido pela ação policial dentro de sua residência, em uma
QUINTA-FEIRA, ÀS 22:20HRS, acordando-o, onde lhe fora dada voz de prisão.
A prisão não merece prosperar, tendo em vista que fora baseada em entrada
estritamente ilegal.
A prisão da forma efetuada, ofendeu o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição
Federal, pois se deu mediante violação de domicilio.
TAL AÇÃO, SE DEU MEDIANTE CONDUTA ARBITRÁRIA, ENTENDENDO-SE A
ARBITRARIEDADE EM SEU CONCEITO GRAMATICAL, COMO AVESSO À LEI, JÁ QUE OS AGENTES
INVADIRAM A RESIDÊNCIA EM PERÍODO NOTURNO.
Também é arbitrária a conduta no sentido jurídico, uma vez poder o agente público,
no caso o servidor público policial, pelo ato da prisão, agir apenas de modo discricionário,
sempre obedecendo os limites legais. NÃO FIZERAM. Foram ao local e invadiram a residência
do paciente.
DOS PEDIDOS