Orientacao para Elaboracao Do Projecto

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Capítulo I: Projecto de Pesquisa

Geralmente todos trabalhos científicos são precedidos de um projecto de pesquisa. O projecto


de pesquisa é uma descrição breve de uma proposta de investigação, procurando nortear as
etapas a serem seguidas pelo pesquisador, bem como apresentar a metodologia e verificar a
viabilidade da pesquisa. Aliás, o investigador: (a) especifica o problema que pretende
pesquisar, situando-o espacial e temporalmente, (b) define os principais conceitos-chave da
pesquisa (a partir do qual irá desenvolver o seu quadro teórico); (c), descreve,
fundamentando, a metodologia que pretende adoptar; (d) apresenta os principais contributos
da pesquisa (e) identifica as limitações do estudo; (f) desenha o cronograma das actividades
de pesquisa., (g) apresenta as possíveis soluções ao problema, caso seja necessário
dependendo do tipo de estudo, que serão a posterior validadas ou refutadas.
O documento permitirá a avaliação da pesquisa pela comunidade científica e será apresentado
para se obter aprovação e/ou financiamento para sua execução. GIL (1991, citado por Silva e
Menezes, 2005, p.91). Só após a aprovação pelo Conselho Científico é que se passa as fases
seguintes da escrita.
Muitos autores apontam que, pelo facto de as pesquisas diferirem entre si, não pode haver,
naturalmente, um modelo fixo para a redacção do projecto, mas que é possível apresentar um
esquema/estrutura abrangente dos vários tópicos que o compõem:

Capa
Folha de Rosto
Índice

Introdução
Delimitação da pesquisa/tema
Problematização (Pergunta de partida)
Objectivos: objectivo geral e objectivos específicos
Questões de pesquisa (ou hipótese/s)
Relevância do estudo (motivação e contributos)
Marco teórico (Revisão da Literatura)
Metodologia: (opção, procedimentos e limites), Tipo de Pesquisa, Participantes (Universo e
Amostra), Instrumentos de Recolha de Dados, Modelo de análise de dados
Cronograma de actividades
Orçamento
Referências Bibliográficas
Apêndices e anexos (caso haja)

O projecto de pesquisa é na verdade uma orientação dinâmica e flexível que indica onde o
pesquisador quer chegar e os caminhos que pretende seguir e, por isso, pode ser feito um
reajustamento ad hoc sempre que necessário, adequando-o às novas exigências que vão
emergindo no desenrolar do trabalho.
A seguir procuramos apresentar e explicar com o mínimo de detalhes alguns elementos que
compõem o projecto de pesquisa:

3.1 Problematização
Em ciências sociais, a questão relacionada com a formulação de problema refere-se ao
processo de identificação, caracterização e delimitação de um determinado fenómeno
(acontecimento ou experiência) no sentido de aumentar o conhecimento sobre o mesmo e/ou
contribuir para resolver uma determinada problemática associada aquele e/ou ainda produzir
melhorias/mudanças (sociais ou profissionais). Enquanto alguns autores procuram distinguir
problema e oportunidade de pesquisa, outros apresentam uma perspectiva diferente, como
duas faces da mesma moeda que para serem solucionadas ou capitalizados dependem de uma
pesquisa de informação.
Alves-Mazzotti e Gewansznadjer (1999, p. 149), conceptualizam o problema de pesquisa, no
seu sentido mais estrito, como uma indagação referente à relação entre duas ou mais variáveis
ou como “uma questão relevante que nos intriga e sobre a qual as informações disponíveis
são insuficientes”.
Na verdade, o processo de formulação do problema, como se diz, envolve mais transpiração
do que inspiração, por isso mesmo, é a etapa mais difícil de projecto de pesquisa, exigindo
por parte do pesquisador muita arte e habilidade de leitura e reflexão para abordar o processo
com o máximo de cuidado.
Alves-Mazzotti e Gewansznadjer (1999, p. 145) acrescentam que o conhecimento da
literatura é uma condição necessária para formular o problema, no sentido de identificar ou
definir com mais precisão os problemas que precisam de ser investigados numa determinada
área ou campo de estudo. Aliás, estes teóricos dizem que há três situações que podem dar
origem a um problema de pesquisa: (a) lacunas no conhecimento existente, (b) inconsistência
entre o que uma 7 teoria prevê e o que realmente acontece e (c) inconsistências entre os
resultados de diferentes pesquisas ou entre estes e o que se observou na prática.
Por outro lado, Richardson (1999, p. 58) diz que o processo de formulação pressupõe dois
comportamentos distintos do pesquisador:
a) O primeiro aspecto implica que o pesquisador detenha domínio do fenómeno devido à
experiência adquirida em pesquisas anteriores e/ou em leituras, ou defina o problema de
pesquisa sem a participação da população em estudo e elabore instrumentos de recolha de
dados, que serão fornecidos a um grupo de pessoas utilizadas apenas como objectos de
estudo. Estas pessoas são designadas por amostra do estudo:

O pesquisador, procurando ampliar e produzir conhecimentos, pode definir os problemas de


investigação a priori, baseando-se em experiências cognitivas anteriores bem como em
investigações exploratórias ou em aproximações sucessivas à realidade. Os problemas
poderão também surgir a partir da necessidade que o pesquisador tem de complementar
acervos sobre determinados fenómenos. (Barros & Lehefeld, 2003, p. 47)
b) O segundo aspecto está relacionado com uma espécie de briefing ou diagnóstico
participativo do problema junto da população, estabelecendo mútuos laços de confiança,
evitando blackout da população de modo a identificar os seus problemas reais:

O pesquisador insere-se na população que deseja estudar e juntamente com seus elementos,
em constante interacção, tenta levantar os problemas que serão pesquisados, com o objectivo
de produzir um conhecimento concreto da prática que vivencia. Aqui o pesquisador acredita
que a população que pretende estudar é a única que tem condições de levantar os problemas
prioritários de pesquisa. (Richardson, 1999, p. 58)
Nesta fase o pesquisador, deverá formular algumas questões norteadoras: Qual a importância
do fenómeno a ser pesquisado? Que factores ditaram o surgimento do fenómeno? Há quanto
tempo ocorre o fenómeno? Por que pesquisar este fenómeno? Quem beneficiará dos
resultados da pesquisa?
Claro que ao colocar estas questões, ou seja, ao problematizar ou ao identificar a
oportunidade, o pesquisador deve ter em conta que, num ambiente social, existem,
essencialmente, duas causas básicas que podem ter dado espaço para o surgimento do
problema. São elas, mudanças não planeadas e mudanças planeadas, que surgem devido a
vários factores externos e internos tais como factores económicos, factores tecnológicos,
factores científicos, factores socioculturais, 8 factores demográficos, factores ecológicos e
factores político-legais, entre outros.
É importante realçar que o pesquisador, dentro deste processo de formulação do problema,
deve, acima de tudo, procurar delimitar o problema através de uma pesquisa exploratória. A
sua atitude deve ser idêntica à de um médico que escuta o seu paciente para diagnosticar o
problema e poder prescrever o tratamento adequado.
Haja cuidado durante este processo, pois Richardson (1999, p. 59) elucida que nem todas as
questões devem ser consideradas problemas de pesquisa, mas sim aquelas que necessitam de
uma resposta devido à sua importância na sociedade ou no campo das ciências humanas.

3.1.1 Relevância do estudo


A relevância do estudo coloca-nos em contacto com o quadro de referência a partir do qual o
investigador decide definir o seu objecto de estudo, bem como perante os motivos/razões que
o levam a realizar esse estudo. É nesta secção que se deve referir os principais contributos
teóricos e práticos da pesquisa.

3.1.2 Delimitação da pesquisa/ tema


Para se conduzir a pesquisa de maneira adequada, deve-se tornar o problema mais específico,
pois nem todos os termos usados deixam claro os contornos da sua extensão. De facto, não é
plausível que se queira investigar os vários registos implicados numa investigação. Parte-se,
sempre, de um enfoque (ou abordagem). Daí a exigência de delimitar o campo da pesquisa.
A prática manda que se delimite a pesquisa tendo em conta o espaço e o tempo em que se faz
sentir e ocorre o problema, para além do ponto de vista temático e das teorias em que o
estudo será conduzido.
Ao se delimitar, tendo em conta o ponto de vista das metodologias de investigação, o estudo
deve fazer menção à área disciplinar ou à interdisciplinaridade (ou ainda à
transdisciplinaridade) do estudo quando se tratar de um trabalho que abarca várias
disciplinas, referindo-as e mostrando como se relacionam com o fenómeno em estudo.

3.1.3 Problema
Embora não existam regras rígidas para a formulação do problema, o problema em si deve ser
colocado na forma de uma pergunta, precedido da sua respectiva formulação. Quer dizer que
depois de descrever todo o background do fenómeno, definindo-o, apresentando as
características, dizendo onde ocorre, quando ocorre, como se manifesta, identificando os
intervenientes e explicando factos que se relacionam com o fenómeno, o pesquisador coloca
o problema ou seja a pergunta de pesquisa, sempre na forma interrogativa, com o auxílio do
como, que, quando e por que, esta última expressão, como diz Richardson (1999, p. 27), sem
resposta fácil para pesquisas desenvolvidas pelo método científico.
É importante destacar que ao longo do projecto há uma relação entre o problema, o tema, os
objectivos, a pergunta de partida (ou hipótese/s) e as técnicas ou instrumentos de recolha de
dados. Para além disso, é a partir do problema que o pesquisador define o título (tema, para
alguns) do trabalho.

3.2 Pergunta de partida ou hipótese (s)


A pergunta de partida, na pesquisa de índole qualitativa, visa orientar o processo de
investigação ao longo da pesquisa. Considerando que, nesta modalidade de pesquisa, o
“problema” não é definido a priori, então torna-se necessário ter um ponto de partida que vai
assumindo, progressivamente, uma maior consistência e sustentação, podendo no final do
processo de pesquisa dar origem a uma hipótese (ou várias). Quando se parte de uma hipótese
(ou várias), significa que o problema já está bem definido e delimitado. A abordagem, neste
caso, é uma abordagem de índole quantitativa, tendo como propósito validar ou testar essa (s)
hipótese (s).
Importa, no entanto, referir que nem todos os tipos de pesquisa requerem hipóteses (neste
caso opta-se por uma pergunta de partida). Existem na literatura especializada sobre pesquisa,
vários tipos de hipóteses e exigências na sua formulação. Para uma maior compreensão,
recomendamos uma leitura aprofundada da matéria (Richardson, 1999).

3.2.1 Variáveis ou questões de investigação


Como se pode ver, a hipótese pode também ser entendida como uma relação hipotética entre
duas ou mais variáveis. As variáveis têm como propósito efectuar uma correlação causal
(causas versus efeitos), enquanto as questões de investigação procuram realizar sucessivas
aproximações a um determinado objecto de estudo, de modo a compreendê-lo a partir do
quadro de referência simbólico (sentido, significados, valores, afectos…) dos actores ou,
ainda, para produzir conhecimento prático (emancipador) que se revista de utilidade social
e/ou comunitária (e/ou profissional). (Flick, 2005; Gutiérrez, 2003; Lessard- Hérbet &
Boutin, 2010).
3.2.1.1 Indicadores ou unidades de análise
Os indicadores são factores que possibilitam a mensuração da variável no fenómeno em
estudo (abordagens de índole quantitativas). É a partir dos indicadores que se desenham os
instrumentos de recolha de dados. Há uma discussão entre os autores sobre os indicadores na
medida em que alguns são da posição de que a definição operacional das variáveis deve
conter os indicadores, outros são da posição contrária. Mas é de consenso que o projecto de
pesquisa apresente os indicadores quer esteja na definição operacional ou não.
Contudo, se se tratar de uma pesquisa de índole qualitativa, do que se trata é de definir as
principais unidades de análise, com base na articulação entre o quadro teórico e a pesquisa
empírica. Habitualmente, este processo é designado como o processo de categorização da
informação recolhida (análise de conteúdo). Para um aprofundamento desta temática, ver a
obra de Bardin (2009).

3.3 Objectivos
A definição dos objectivos da pesquisa é um processo muito importante para a solução do
problema focado, pois estes antevêem e expressam os passos que o pesquisador vai dar para o
solucionar. Por essa razão, os objectivos devem ser extraídos do problema levantado.
A experiência do pesquisador nesta fase é relevante, mesmo porque se deve ter em conta que
alguns dos objectivos, normalmente, surgem durante a formulação do problema.
Os objectivos dividem-se em geral e específicos. Enquanto o objectivo geral se relaciona
directamente com o problema (pergunta de partida ou hipótese/s)., focalizando a pesquisa de
maneira ampla, os específicos operacionalizam o objectivo geral, visando facilitar a
formulação das variáveis (abordagem quantitativa) ou das questões de investigação
(abordagem qualitativa).
O pesquisador deve elaborar objectivos tendo em conta que ele deve ser claro, simples e
preciso para não dar lugar a interpretações subjectivas. Deve ser mensurável (nas abordagens
quantitativas), dando a possibilidade de avaliar o seu cumprimento. Deve ser alcançável
durante o período em que a pesquisa irá decorrer e deve ser orientado para o fenómeno
estudado, de modo a satisfazer a necessidade concreta do grupo-alvo.
Há que se prestar atenção, também, à escolha dos verbos a usar ao traçar o objectivo geral ou
o específico.
Na formulação de objectivos podem-se usar os verbos abaixo indicados, segundo a pretensão
do pesquisador:
1. Determinar estágio cognitivo de conhecimento: os verbos apontar, arrolar, definir,
enunciar, inscrever, registar, relatar, repetir, sublinhar e nomear;
2. Determinar estágio cognitivo de compreensão: os verbos descrever, discutir, esclarecer,
examinar, explicar, expressar, identificar, localizar, traduzir e transcrever;

3. Determinar estágio cognitivo de aplicação: os verbos aplicar, demonstrar, empregar,


ilustrar, interpretar, inventariar, manipular, praticar, traçar e usar;

4. Determinar estágio cognitivo de análise: os verbos analisar, classificar, comparar,


constatar, criticar, debater, diferenciar, distinguir, examinar, provar, investigar e
experimentar;

5. Determinar estágio cognitivo de síntese: os verbos articular, compor, constituir,


coordenar, reunir, organizar e esquematizar;

6. Determinar estágio cognitivo de avaliação: os verbos apreciar, avaliar, eliminar,


escolher, estimar, julgar, preferir, seleccionar, validar e valorizar.

3.4 Marco teórico


O marco teórico (quadro teórico para uns, referente teórico ou epistemológico para outros),
normalmente começa com a revisão da literatura (bibliografia), ou seja, com a análise ou
levantamento das mais recentes obras científicas disponíveis (artigos científicos ou outro tipo
de documentação considerada relevante), que tratem do assunto ou que dêem corpo teórico e
metodológico para o desenvolvimento do projecto de pesquisa. O desenvolvimento do marco
teórico está dependente da correcta formulação do problema.
Nesta fase, o pesquisador apresenta o “estado da arte”, mostrando que se encontra actualizado
sobre as últimas discussões no campo do conhecimento em estudo. Além de artigos em
periódicos nacionais e internacionais e livros já publicados, as monografias, dissertações e
teses constituem fontes de referência e de consulta.

O marco teórico deve integrar o relatório. É um elemento importante dado que nele são
explicitados os principais conceitos e termos técnicos a serem utilizados na pesquisa. A
coerência e a vinculação entre o marco teórico, o problema e a metodologia adoptada são
essenciais pois clarificam a lógica da construção do objecto de estudo, além de serem os
principais referentes para a interpretação e discussão dos resultados da pesquisa. Para além
disso, é nesta exigência de articulação que se vai construindo o rigor metodológico, condição
sine qua non do processo de validação interna do estudo.
Contudo, a forma de apresentação do marco teórico nos trabalhos científicos não é
consensual entre pesquisadores. Alguns preferem uma apresentação sistematizada dentro de
um capítulo ou secção (como acontece no Centro de Ensino à Distância), reservado para o
efeito. Outros consideram essa prática desnecessária, inserindo o marco teórico ao longo da
análise dos dados. Esta última alternativa exige maior competência e capacidade de
raciocínio por parte do pesquisador:
Em qualquer circunstância, porém, a literatura revista deve formar com os dados um todo
integrado: o referencial teórico servindo à interpretação (...) orientando a construção do
objecto e fornecendo parâmetros para a comparação com os resultados e conclusões do
estudo em questão. (Alves- Mazzotti & Gewansznadjer, 1999, p. 185).

Contudo, no CED, recomenda-se que o marco teórico seja dividido em títulos e subtítulos
para que o relatório seja elegante e bem articulado.
Não há diferença entre o marco teórico duma monografia e duma dissertação. Entretanto, o
marco teórico, apresentado no projecto de pesquisa, deve continuar a ser enriquecido até à
finalização do relatório de pesquisa.
Assim, ao redigir o relatório final tanto na monografia como na dissertação é imperativo a
inserção de alguns elementos do marco teórico ao longo da interpretação e discussão dos
resultados. Por outras palavras, deve haver uma confrontação dos dados pesquisados com a
teoria ou com o pensamento de vários autores. Este facto não retira a possibilidade de, se
necessário, em texto corrido e em espaço próprio do marco teórico, o pesquisador fazer a
definição de conceitos mais usados no estudo, discutindo os diferentes pontos de vista dos
autores e como o mesmo conceito deve ser entendido no trabalho.

3.5 Metodologia
A metodologia é o conjunto de métodos e técnicas utilizadas para a execução de uma
pesquisa. Nesta secção pretende-se que o pesquisador apresente a abordagem/tipo e o nível de
pesquisa, faça a apresentação do universo, da amostra e do respectivo processo de selecção,
dos métodos/técnicas de recolha de dados e do plano de apresentação e análise de dados (este
último se se trata de um projecto de pesquisa).

3.5.1 Tipo de Pesquisa


Existem vários tipos de abordagens (enfoques ou paradigmas) de investigação: (a) positivista
(empírico-teórico ou hipotético-dedutivo), (b) interpretativo (sentido ou significado), (c)
crítico (participativo ou emancipador) (d) experimentais, (e) quase-experimentais, (f) estudo
de casos e (h) investigação acção. Estas abordagens utilizam métodos “qualitativos” e/ou
“quantitativos” conforme a definição do objecto de estudo. Por conseguinte, o que determina
a escolha destes é, precisamente, a problemática em estudo. Como referem Lessard-Hérbet e
Boutin (2010, pp. 32-33) “(…) O facto de uma investigação poder ser classificada de
«interpretativa ou qualitativa provém mais da sua orientação fundamental, do que dos
procedimentos que ela utiliza. Uma técnica de pesquisa não pode constituir um método de
investigação» ”.
Daí que para estes autores (Lessard-Hérbet e Boutin, 2010, p. 31), a expressão “metodologias
qualitativas” engloba, habitualmente, um conjunto diversificado de abordagens: “observação
participante, etnografia, estudo de casos, interaccionismo simbólico, fenomenologia, ou,
muito simplesmente, abordagem qualitativa.”
No caso concreto do CED, pela sua missão e oferta formativa, sugerimos abertura na
aplicação de metodologias de investigação. Assim, no campo de educação, as abordagens que
hoje se tendem a impor, são, sobretudo, a interpretativa (ou etnográfica) e a crítica (ou
investigação-acção).

3.5.2 Universo
O campo de estudo é toda a população a que pertence o grupo focal da pesquisa. Deve ser
mencionada brevemente, mas de maneira completa. Esta população é o universo da pesquisa.
Faz-se necessário, contudo, definir o que é universo. Este pode ser compreendido como o
conjunto, a totalidade de elementos ou indivíduos que possuem determinadas características,
definidas para um estudo. É do universo que se retira uma parte para submeter às técnicas de
recolha de dados. O universo deve ser quantificado em números exactos ou aproximados à
realidade.

3.5.3 Amostra
As monografias e as dissertações são trabalhos científicos que têm limitações temporais e
financeiras. Daí a necessidade de trabalhar com uma parte da população, a amostra.
Existem dois procedimentos de selecção de amostras, o probabilístico e o não probabilístico,
cada um com as suas limitações e vantagens quando se fala em representatividade. Neste
manual, não vamos explicar a tipologia de cada uma delas. Esse é um trabalho feito na
literatura especializada.
Neste manual pretende-se esclarecer que nesta matéria de amostragem o importante é que,
para além de definir e descrever com exactidão o seu tipo de amostra e os critérios usados
para a sua selecção, o pesquisador deve garantir a representatividade (excepto na abordagem
qualitativa) da população identificando elementos com características que lhe possibilitem
responder validamente às questões colocadas. Quer dizer que, conforme for seleccionada a
amostra, deve haver uma probabilidade adequada de ela ser representativa da população.
O que interessa ao construtor de inquéritos é obter uma fracção desta população na qual
algumas destas características estariam distribuídas do mesmo modo que na população, ou
aproximadamente. Que características? Aquelas que têm uma relação directa com o inquérito
que vamos realizar. (Jeveau cit. em Cabrito et al., 1992, p. 178).
A amostra é, portanto, qualquer subconjunto da população estudada cujas características, que
a levam a fazer parte do estudo, devem ser amplamente descritas.
Em pesquisas qualitativas, a definição da amostragem não se baseia no critério numérico para
garantir sua representatividade. Uma pergunta importante neste item é "quais indivíduos
sociais têm uma vinculação mais significativa para o problema a ser investigado?" A
amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em
suas múltiplas dimensões (Minayo, 1992).

3.5.4 Técnicas de recolha de Dados


As técnicas de pesquisa são os instrumentos específicos que o pesquisador utiliza para aceder
ao campo (trabalho empírico). As técnicas mais usadas são: (a) inquérito (por entrevista e/ou
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questionário), (b) observação (directa-sistemática e/ou participante) e (c) análise documental.
As técnicas estão muito relacionadas com a abordagem/natureza adoptada para a pesquisa.

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