MOLINA, R. Aula 12 - Observações Sobre o Amor Transferencial

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‘Com isso, aie am SS Eee SES SE ee onduzit deste capftulo, Muito obrigado, A préxima aula sent ye Matta bre o amor transferencial, texto de Freud. Serf Observacg, Pane 2 "5 So. Rio, 28/5/84 CADERNO DE AULA ~ 12 Observagées sobre 0 amor transferencial -87- —86— Esse trabalho que vamos abordar hoje, a meu ver, tem um ponto central: Aqueles que ainda sio jovens € nao esto ligados por fortes la. 0s podem, em particular, aché&lo tarefa &rdua — O que seriam esses fortes lasos? Para iniciar, gostaria de apontar algumas idéias de voces a esse respeito. Vamos 14, podem dizer, sem constrangimentos! Em pri- meiro: fortes lacos de experitncia € fortes lagos do analista com o ana. lisando. Em segundo: 0 fato do analista trabalhar referido ao processo pelo qual passou. Em terceiro: 0 que se trata € do desejo do analista, Aesse respeito, gostaria de Ihes dizer 0 que iremos ver hoje sobre esse assunto, $6 que, iremos tentar desenvolvé-lo um pouco mais, aliés, sera mesmo por isso que depois colocarei no quadro o que Lacan fala no capftulo XX, Em Ti mais do que em Tu, do Semindrio XX, quando propée 0 oito interior no qual procura mostrar onde esté a demanda, a identificaco, © ponto da transferéncia e 0 desejo. (© que tenho a dizer sobre as observagdes que fizeram & que todas elas procedem: as respostas esto absolutamente certas: jé ter passado na propria pele, jé ter emergido 0 desejo porque os fortes lacos pintam no desejo do anzlista, ter transado com a transferéncia, enfim, tudo isso esté implicado. Na verdade, esses fortes lagos querem dizer assujei¢ao 2 castraco, ou seja, que o analista esteja assujeitado a ela; ¢, € também quando surge o Sintoma do analista. No né borromeano de quatro ele~ mentos: Real, Simbélico, Imaginério © Sintoma — 6 6 quarto elo que embanana toda a cadeia, fazendo mesmo o forte lago. Portanto 0 Sintoma do analista tem que estar bendito porque € “condigéo sine qua non” para que se possa realmente fazer um traba- Iho bascado na transferéncia, tal como Freud diz aqui. Mas, sobretudor 6 importante que o analista tenha destacado o seu Sintoma ¢ a ¢le este} asshjeitado, na 0 Como eu disse, 0 quarto elo, 0 Sintoma, € 0 elo que embanané & 16 borromeano. A partir do que eu disse, um aluno quis saber se es = 88— + oe kee ee Jemento no seria @ inclusio de mais um Sto tive € que 4 pode mesa flr neo eS O gue fe, 0 quarto elo j6 € a amarrasio dos outros tes os eign? 82 VOTO dae Real, Simb6lico, Imagingrio ~ 0 Sintoma jé exté imate ee 09s suits, mas ele tem que ser destacado vito por soot Ni® €m todos gue, se essa probleméticanB0 for resolvida pelo pros ses meee Pec Fae amt pe me ainece para que esses fortes lagos se estabelecam. Essa € una condivas oy gual ndo se pode abrir mio de modo algum Freud néo se dé por vencido e tenta mais uma vez falar do que transfertncia 208 analistas que no tenham esses Tomes lacen neces, aaa duo hi ooo jel, tomes que far eae ge hnitir 0 que € esse amor transferencial, 0 analista cai nua beans temrfvel porque € realmente diffeil falar disso. Isto foi s6 para hes cha. rar a atencao. Ele comeca falando que o manejo da transferéncia € una das dif culdades realmente sérias no trabalho analttico, e diz que no enamora- mento hé aspectos aflitivos, aspectos cOmicos e aspectos sérios. verdade, um 6 aspecta pode ser aflitivo para quem o sofe, asto para © analisando quanto para o analista, e, esse mesmo aspecto pode ser cémico depois ou logo depois, enfim, um pouco depois, nSo precisa set muito tempo depois e, na verdade, ou sobretudo, é uma questo séria. Freud diz algo interessante: até agora nfo estivemos precisamente apressados em cumprir esta tarefa, ~ Portanto nfo teve muita pres em abordar 0 tema, esse trabalho € de 1914/1915, esperou mais ou menos Vinte anos para falar nisso, aliés, foi calmo demas, esperou como era de seu feitio, porque, come sabem, Freud nfo publicava assim que s- cava e articulava alguma coisa, ele sempre esperava, ov seja, dava-se tempo para compreender. Freud sempre fez isso. evidente que tais coisas nfo foram sacadas assim de repente, ele J4 tinha sacado em 1895, s6 que no tinha como dizer ¢ por isso espe- Tou, Ou seja, se deu tempo para dizer melhor dessa questio. Tanto as- sim que, no final de sua vida, por volta dos anos trinta, reviu esse tra balho € continuou dando-lhe 0 mesmo valor que havia Ibe dado em 1914/1915, Era alguma coisa que permaneceu fiel 8 sua experiéncia € ue portanto no mudou muito. . Hi esses trés aspectos do enamoramento: aflitives, cémicos ¢ sé ios, alids, se nfo houver o chiste e sua relagSo com o Inconsciente fica tudo muito chato, tem mesmo que haver esse aspecto cOmico na trans- -89- feréncia porque, As vezes, a coisa € muito aflitiva € a guestio mito g¢ ria. Freud continua dizendo que desprezou um pouco a discricéo exe. tamente porque pereebeu que isso havia atrasado em uma década a pai. canflise no caso de J. Brever € de Anna O., porque, Breuer fugin da aia, a um ponto tal que custou muito para contar para Freud a respeito Geste, por sua vez, custou muito para falar e isso atrasou muito a coisa’ (© que ele diz aqui € o exemplo vivo de alguém que esté reconhecendy que atrasou a hist6ria, alids j4 Ihes falei disso outras vezes. O que Freud est fazendo € exatamente admitir que tal excesso de zelo atra- sou 0 movimento psicanalitico e a propria psicanélise, entretanto esse atraso foi perfeitamente compensdvel € n&o danificou tanto assim. Logo a seguir € engracado porque ele fala do leigo instrufde como sendo a pessoa ideal, civilizada, em relagio & psicandlise e, para o qual, a questio do amor é important{ssima. Vocés se lembram da aula em que alguém me perguntou sobre os oligofrénicos e eu disse que no podia fazer nada por eles? Observem agora que Freud € um pouquinho mais exigente, ou seja, ele quer um leigo culto, instrufdo. Eu no fui ‘do longe. Podem me mandar criancinhas nfo instrufdas que eu as ins- truo. Mas Freud quer leigos instrufdos, ou seja, quer 0 cliente ideal. ‘Que Venha um leigo instrufdo, 0 cliente ideal mesmo! Nesse sentido eu diria que a psicandlise € um pouco racista. ‘Uma moca entre os presentes quis saber por que Freud, neste tex to, se refere as analisandas e aos médicos, 0 tempo todo. Seria uma questo de época? Ou seria de fato maciga a presenga feminina? ‘Guanto a essa pergunta, se era uma questo eminentemente femi- nina, posso dizer-lhes que acho-a muito bea, porque eu também me cents na mesma situacéo e me interroguei a respeito: ué, gozado is%, por que seré? Ora, isso € um macete de Freud, sem divide Imagine Pocés a Epoca em que essas coisas estavam se pasando, O more tT Vitoriano imperava. Néo ficava bem abrir publicamente que um nr fe apaixonava pelo analista, Era uma época diffcil, portanto, 61 Pte fo usar de prudéncia, porque Freud para abordar esses assur jue enfrentar problemas muito sérios. ee igs a peca “Freud no distante pafs da alma” mostra bem 0 = ses momentos de crise. Aquela discusséo que ele tem com a mée Ft a odo trabalho que preparol e apresentou junto & Sociedade de Gicina que tratava de um caso de histeria masculina e que gerou © -90- ‘onda de reacSo contra Freud. Naquela discussio ela irot hiisteria nfo € nem pode ser doenca de homem, Lembramec? © 02 1% sun feta wae ane ee junho, dia de Santo Anténio, 0 casamenteito, estaei Id no teatro pare debater com 08 atores e€ 0 pibico, sobre o tema da peca, Vecks oan ‘convidados. ‘Mas, como eu dizia, esse foi 0 primeiro trabalho ane wotbu de Pas. Trnava de om caso de hive SOY A Sociedade vetou; o professor de Freud foi contra a a jquer modo, ele a defended. Vosts podem ler eae wate ee sinal € absolutamente neurol6gico, mas que tem observacées muito ine teressantes ¢ valeria a pena ler. ‘Outra questo que me foi proposta: por que ele diz que o analisan- do ao se apaixonar e tentar trazer 0 analista para sua paixSo o estaria rebaixando? Isto € verdade: 0 analisando ao tentar trazer 0 analista para sua paixéo esté querendo rebaixé-lo do posto de analista para o posto de amante, porque analista € muito mais do que amaote, € um super fmante. Eum amante que no satisfaz jamais. Nada melhor do que is- so, ou seja, nunca satisfaz e nunca satisfez tanto! Freud tinha razo, porque isso € tentar fazer com que o analista saia do seu discurso. Na verdade, hoje, isto pode ser dito de outra maneira, ou seja, 0 analisando estaria tentando tiré-lo do Discurso Psicanalftico levando-o a um outro discurso qualquer e, abandonar o Discurso Psicanalttico, € no ter anélise em vigor. E a isso que ele estava chamando de rebaixa- mento do analista, ou seja, a tentativa de tirar o analista do seu discur- so € fazé-lo freqiientar um outro, ou seja, torné-lo tio histérica quanto © proprio analisando. Entretanto, isso nfo significa que nao se trata de amar o analisando; na verdade, Freud amava seus analisandos, era muito amoroso com eles, geralmente o analista o &, no tem por que no ser, mas isto nfo significa que tenha que trepar, mesmo porque, iio se trata disso numa andlise, também, se for tepar com 0 analista, vai ser uma decepcfio porque € igual_a todos. Nao tem diferenga. Qu ser que vocts acham que 0 analista trepa diferente? No & que seja uma droga, mas devido ao que vocé esté imaginando vai acabar fatal- mente achando uma droga, porque é igual, nem 0 pau nem @ xoxota $80 diferentes, Nao h& um sexo entre no caso. Q analista se faz de andréei- BO, mas isso no quer dizer que ele seja de fato um, porque s fesse, S118 0 maior barato, eu seria 0 primeiro 4 querer, € claro! ; ‘Outro dia, uma aluna, ao estudar 0 trecho no qual Freud dizia tar tueze de 0 de Freud depois ria num paraplégi- -91- eae - | tar como algo irreal ~ para essa moga, isso teve o sentido de se sustene tar aquela situacao no nfvel do discurso, que € 0 1ugar onde © desejo do, sujeito se estrutura. Isto est absolutamente correto: tratar aquilo come, irreal significa fazer com que © analisando passe da demanda para a identificasio € desta para o desejo, porque 0 que interessa € levé-lo até © desejo ¢ néo ficar apenas na identificacao. Freud € bastante enfiéticg quando diz que © analista nfo pode sait do seu lugar, no pode ser re. baixado e freqiientar outro discurso, a nao ser que seja 0 caso, E claro que enquanto fora da psicandlise seja em extensio ou em intens3o certo que ele pode freqiientar outro discurso, mas no seu trabsiho ele tem que manter 0 Discurso Psicanalitico 0 maior tempo possfvel em vigor. No pode abrir mio disso de modo algum, j6 que Discurso Psicanalftico faz liame social e € 0 que permite passar para outros discursos € dar-Ihes sentido, Freud diz que, para 0 leigo colocam-se trés questdes. Primeira: € que todas as circunstincias permitam uma unigo legal — Quer dizer, ‘uma unigo legal entre analista ¢ analisando, j4 que hd uma paixdo a ser resolvida. Cue ge casem os pombinhos e vivam felizes para todo sem- pre! O que aliés nés jé temos varios exemplos por af. A segunda possi- bilidade € a de que a analisanda se v4, e, no que se vai, vai para outro analista e If ocorre a mesma coisa. Isto € compulsio a repeticao, aquilo que Vimos noutra aula, ou seja, que 0 analisando repete em ato aquilo que nfo tem consciéncia. Essa compulsao & repeticéio transformada em ato na situacdo descrita nfo é send uma fungio que todos jé ouviram falar porque léem o peri6dico do Colégio — Maisum -, que € a funcdo de +1 analista, +1 analista, +1 analista, s6 que essa leitura esté errada, € +1 analista nouto sentido. Nao é papar +1 analista, mas quem sabe, produzir mais um analista. Mas, no caso anteriormente citado © que ‘ocorre € que a moca vai de +1 em +1 analista jé feito, ao invés de fa- ver +1. Observem 0 quanto Freud foi prudente no seu trabalho. Lendo esse trecho em que ele fala da paciente e do médico, poderfamos incorrer na ingenuidade de chamé-lo de machista. Meu Deus, mas 0 homem s6 fala nela, a paciente. Seré possfvel! . Entretanto, meu caros, a razSo vai muito mais além desse racioct- nio simplista. O assunto, vocés bem o sabem, requer tato, ow melhor dizerdo, pru-dén-cia. Freud estava falando de amor na transferéncia © © fez baseado no que Ihes falei, que € da ordem da transferéncia neg’ tiva, ou seja, esté-se de olho nele, e portanto hé que ser prudente. O- -92- wue isso aconteceu em 1914/1915 — Primeira Gi fun sane Sorat um tengo Hl cle una eae = Mencia, NSo que no houvesse analisandos apaixonados por ele, mesina Gorque, analisando 8 apaixona pelo aralista com a maior fecilidade, Froje em dia até mais do que as mocas, naquela época ndo sei, mas hoje aeidia est tudo trocado. Mas, quer me parecer que essa tenha sido Sia boa e suficiente razSo: prudéncia, 0 que nunca € demais recomen. Jarlhes, assim como canja de galinha, dizem os mineiros, ‘Finalmente a terceira possibilidade: E que eles iniciem um relacio- namento amoroso ilfcito © que no se destina a durar para sempre. — Quer dizer, um caso passageiro entre os dois, o que também ocorre. Continua dizendo que 0 leigo nos pede que se The dé garantias de que isso nfo se passe jamais. Foi exatamente isso, dar garantias, que ele tratou de fazer, j que isso contava no Imaginério do leigo, porque tanto 0 leigo quanto © analista, voc8s sabem, tém Imaginério. Ele diz que, do lado do analista nao se trata dos encantos de sua propria pessoa, mas indugio da situaco analttica. Qual a diferenca en- tre os encantos da pessoa do analista € a indugo da situaco analftica? Nio € fécil faz8-la porque nada impede que o analista seja encantador, aliés, pode até ajudar a situagSo. Como se desembanana, os encantos ou a induc&o da situagio analftica? Realmente a situacdo analttica in- uz a isso, mas € evidente que o analista pode ter um certo charme nesta hist6ria, alids deve ter. A distinc&o fica diffcil de fazer porque, na Verdade, 0 que se passa € que quando 0 analista acredita que s80 0s seus encantos ele tem também um pouco de razio porque é também um pouco isso, mas nfo € 6 isso. O que se pode acrescentar 0 que Ihes falei dos fortes lacos, nifcleo central desse trabalho. Ou seja, 0 analista sabe que esté fazendo aquilo por seu encanto, mas também, ele tem um sintoma que € a arte de encantar 0 outro. E o sedutor por sintoma, ou seja, tal como Dom Juan, 0 analista vai de +1 em +1, € a situacdo do setting analftico € por si muito sedutora. __Uma coisa € 0 analista saber disso porque Ihe & sintomético, outra Coisa 6 saber que isso serve para induzir a situacdo snalitica entre ana- lista e analisando, mas, uma outra coisa diferente € 0 que Freud cha- = de contratransferéncia, ou seja, valer-se disso para comer alguém. Sto € da ordem da covardia porque 0 analisando dé, € s6 pedir. Eu diria que a contratransferéncia incompeténcia_ds_comet Sente 14 fora. Ora, v4 testar seu charme, se & que existe, Id fora, porque "Stilo dentro da situago analftica € facflimo, Tudo preparado, luz de -93- penumbra, © sujeito ali quase todo dia € 0 analista pedindo sempre mais, ele acaba se entregando. Ora, assim até eu! Assim até 0 vampiro! Portanto, se temos que lembrar que existe a transferéncia positiva ¢ ‘a negativa, temos que lembrar também que existiria uma contratransfe- réncia positiva e negativa? E uma questo. Uma contratransferéncia que seria a aceitaso erstica, digamos assim, € 0 abandono do Discurso Feicanalftico, ou seja, 0 analista aceita a demanda do analisando, por- que isso nBo & desejo, est na ordem da demanda ainda; e a contra- transferéncia negativa seria uma demanda de morte, seria Thénatos, como vimos recentemente a respeito da transferéncia negativa, aligs, falou-se no meu seminério de um analista, Tausk, que se matou, aquilo foi contratransferéncia negativa, entregou 0 ouro para o bandido. Estou dizendo que se 0 conceito de contratransferéncia positiva € a aceitaso da demanda erética, 0 conceito de contratransferéncia negati- va € a aceitacdo da demanda de morte, entretanto isso ficard resolvido mais adiante, qualquer dia desses. Portanto o analista resiste a esse ato que néo € ato no sentido psicanallitico do termo, mas no caso € muito mais um acting-out. (© enamoramento coloca para a analisanda duas questées: abando- nar o tratamento; os parentes certamente optaro por esse lado se por acaso ela estiver apaixonada pelo analista, ficario aliviados com o rompimento; ou entio, como diz Freud: aceita enamorar-se de seu mé- dico como um destino inelutfvel. — Essa € a opso que o analista vai fazer, diz ele. Aceitard essa paixdo do analisando e o far dizer disso. Fazé-lo dizer disso & faz8-lo deslizar, dizer melhor desse amor. Freud diz que isso € fazer metonimia, 6 fazer deslizamentos disso, propondo 20 analisando substitutos de objeto para que nfo fique preso ao analis~ ta. Vots se lembram que na ditima aula falei-Ihe de cortar 0 arrimo? © analista ao aceitar essa paixo, na verdade, esté acolhendo-a, mass absolutamente, néo muda de discurso, ou seja, © que tenta através da escuta & fazer com que 0 analisando ao dizer daquilo possa com 0 tem po cortar 0 artimo €, com isso entio, fazer substituigdes de objeto- Deslizar & uma atitude entre essas atitudes que o Ieigo pensaria em 6% colher. Diz Freud: 0 bem-estar da paciente deveria ser a pedra de (0° que; o amor dos parentes no pode curar-lhe a neurose. — Nao interess® 2 opinigo dos parentes, nem do meio vigente, nem da cultura, © ave importa 6 0 bem-estar da paciente, ou seja, Ievé-la para um ponto Que seja de cura para que tenha bem-estar. O amor dos parentes ndo pode -94- Mig. ne a neurose. ~ Isto & importantssimo, mesmo porque, foi esse cura ne ong neurose, esse amor nao vai curar ninguém. Se existe al- amor que Irs pode curar € 0 amor de transferéncia, que deve ser muito gum amor dv Frtizado, j& que € uma ferramenta de primeira, porque, se bem cae gerve para resistir, a transferéncia € essencialmente resis~ por um lado 1ado, faclita bastante as coisas também. £ uma questao rente, Por Mresperar em nome desse amor. de 5 Po ge transferencia 6 que vai cursr, ou, pelo menos, através dele, vamos tent eurar, porque existem algumas situagGes em que es- wer nor realmente € tho terrfvel que nao deixa curar. Isto € verdade & ten mas quem sabe, S© eSperarmos wm pouguinbo mals, ese amor airs em faléncia? Um dia teré mesmo que falir de tanto que 0 oe eta pede um sentido para esse amor. Qual 0 sentido? Por que vo- pa tanto? Isto € fazer 0 analisando deslizar, fazé-lo falar de Smo, Gue, segundo Lacan, € 0 que se pode fazer, f ie Lacan diz que a linguagem no foi feita para outra coisa sendo para igo, ou seja, 0 sujeito usa a linguagem na tentativa ‘de falar de amor € eevone, Todas as conversas entre aqueles que falam € falar de amor © monte 2 Eros e Thénatos—néotemoutropapo. “Freud diz qué a preparacio do paciente pelo analista para a trans- feréncia amorosa € uma insensatez do tipo: olha, voc8 vai ficar apaixo- nado por mim, mas isso é absolutamente natural! Ora, no precisa dizer, isso, porque apaixonar-se € da ordem do inevitével quando h4 anélise, ‘u seja, se 0 analisando for patinho, se for inocente, ele vai cair, nfo precisa avisar nada, Freud diz que essa preparacao € ‘uma insénsatez. ‘Muitas vezes um analista que assim faz pode até estar ajudando al- guns espertinhos a se defender com unhas ¢ dentes da possibilidade do amor j& que € ele que vai curar. O amor da curra é inevitével. Nao pre- oes bem gue, por onto lado, bss acho que para um ino- (ents Rodevse até avisar porque ele eai do mesmo jito Aligs, 0 ana- Mia nfo precisa nem avisar porque hoje em dia todo mundo sabe, 0 £2 No consult6rio dizendo que a nica coisa que ele ndo {ter € fear epaixonado pelo anata, Quer dizer, no que dence0v deo deel! Ne segunda volta do ponteiro vem o sim atrés: a tinica coisa Naot, hfe auero € me apaixonar por voce ~ esté cero, acito 0 ato, aBor que nfo aceite, accitose e experese, ‘ intecen’, Save nesse momento de intensa paixo, due nada mais memes St € Qbe @ paciente perde toda compreensio ¢ inteesse no Hats: » Porque, como voces sabem, se a paixéo leva até Id, hé também -95- tum determinado momento em que ela € tho intensa € resistente que o sujeito nfo fala de outra coisa ¢ nfo faz nenhum trabalho em nome des. se amor. E exatamente neste momento que 0 analista pede ao analisando que, em nome desse imenso amor, Ihe dé um sentido, para esse amor. (© que estou dizendo quanto ao trabalho no sentido analftico, € de gue 0 sujeito tem de dar sentido As coisas ~ elaboracéo — porque nesse momento o amor fica tho forte que a pessoa nio fala de outa coisa, e, nio Ihe df sentido. Na verdade, isso também € parte do processo, mesmo um tempo que cle esté precisando para elaborar, aliés mais adiarte Freud fala nisso a0 se referir a Adler. Isto faz parte do processo, entretanto, esse momento de resistencia ndo permite a produséo de um trabalho efetivo. Viré a produzir, mas, o analista ter que esperar que essa paixio seja um pouco desgastada pa ra chegar 14, Freud diz: ocasio precisa em que se esté tentando levé-la admitir ov recordar algum fragmento particularmente aflitivo e pesa- damente recalcado — Portanto, € quando se est chegando ao niicleo patdgeno e, muitas vezes, por isso, 0 paciente agarra-se Aquela paixao, Ele faz também no texto uma distincdo entre o estado de enamora- mento € a utilizacBo desse enamoramento para resistir, que so duas coisas absolutamente diferentes. Facamos uma suposigéo: uma anali. sanda durante seu processo analftico, apresenta uma transferéncia ca- racteristicamente positiva, no entanto, ao chegar préximo ao nitfcleo de resisténcia, poderia ocorrer que, essa transferéncia até entZo, digamos, positiva, transforma-se numa coisa profundamente negativa. E uma su- posicéo interessante e que nos d4 margem a algumas consideracées. Podemos considerar que estamos tratando da transferéncia negativa como: esté-se de olho nele! Portanto, de certo modo, ela continua sen do positiva, embora, como todos vocés jé sabem, onde hé amor forso- samente tem que haver 6dio, porque eles so faces de uma mesma moeda. Aliés, eu ousaria dizer que, af, neste momento de virada, quan- do comega haver 6dio, que se trata de um bom momento porque come- a haver também uma espécie de descolamento. Acho 0 édio muito bem-vindo em qualquer circunstincia, mas, neste caso, mesmo assim, # transferéncia continua sendo positiva. . A transferéncia negativa, para mim, seria outra coisa completa- mente diferente, digamos, seria por exemplo 0 analisando romper com a andlise por causa da transferéncia positiva, e por isso, sair por 3 matando 0 analista de todos os modos € meios possfveis, porque nao se ‘mata apenas com uma arma, mata-se também verbalmente. Voces si -96- cultural, © por favor, 0 Falando € 4 morte mesmo, porque, como j& disse. o 6 Senn tandtica, da m-vindo: jue a fees io ms 6 até bem-vindo Pordue hd um deslocamenta: a? 0° PrOETama € manter 0 analisando grudado ao analisis tempo te ao fe Pretende lo. Ainda bem, A diferenca entre 0 enamoray ‘ ment quanto resisténcia so duas coisas que nig so i2a6%0 desse amor en- ue ni tando Adler, que esses aspectos fazem pone = CoMfundem. Diz ele, ch, também que 2 analisanda tenta provar-the » tando transformar 0 médico em amanie So gens prometidas que so : izer que, se 0 Wransar com a anali- Ordem. Ele cai e depois, analista cai nessa demanda de namorar mesmo, sanda, pode num dado momento ser chameta ¢ ‘ analisanda maiha, ia negativa termina sempre € se haveria um instrumento para 6 ene, tsa : transferéncia negativa resulta otine Pato 88 andlise, mas, no que dis espetoa Um howe do hé. O que ha € apenas e tao-somente prodénenn E bem o termo enfrentar. E disso que se tra. 2 term mui oe COM Prudéncia, isso Lacan disse Ponto n> 2 final, faa orn sttumentaizar isso, aid, esse tabalho Freud, £0 foro aa TIM", do “ignis"e da “medicina™ dizendo ee, Ho danas arnt F080 cur, se nem feo nemo foo cuam, cm. Entretanes cite: E mis ou menos o que ele diz eeu acho pert, 5 © sal por oy St S8a¥a falando que o aralisando rompe com a and disse, ane a8sassinando verbalmente 0 analista, porque, como eu nato cultural existe mesmo e 0 sujeito fica mortalmente com a interrupso da anélise, lista enfrenté-Ia. E verdade, A -97- exposto, € portanto, a Sinica defesa que se fem € a prudéncia, mas ngg fe tem muito controle sobre esse fato, O que Se tem de aprender ¢ a, dar com retorno disso, Gostaria de esclarecer que estou dizendo iggy no nfvel mesmo da prevensio, porque depois, meu amor, dentro go caixio no dé para dizer mais nada, Aqui no cabe 0 s6-depois, o s6. depois aqui j& era. Na encenacio que € uma anflise, analisando ¢ analista, tém suag fungies distintas. O analisando € 0 ator de um texto que, embora talves ‘conhesa, ele mal o conhece, no sentido de que, além de no recq. nhecé-lo como seu, ainda 0 maldiz. Absolutamente nfo estou dizendo gue © analisando sabe © texto que ali vai se passar. Nio € isso, J4 6 analista, funciona, digamos, como 0 diretor da peca no sentido de en. camishar, de fazer precipitar, de pedir mais luz ou mais som numa de. terminads cena, mas, isso nfo significa que, tal como um diretor artist co, ele tenha acesso prévio ao texto, Na andlise, meus caros, no ha nem ponto nem script. Uma moga muito sagaz me fez a seguinte observacio: 0 analista, na posico de objeto amoroso, nao seria o préprio analisando se aman. do? E desse modo, ele nao estaria aprendendo a amar de um modo mais geral? E por isso que eu disse: moga sagaz! E verdade, quando tal fato ocorre, 0 analisando est4 aprendendo a amar de um modo mais geral. Entretanto, aproveito para lhes dizer que uma ciéncia muito especial, em especial, faturou em cima disso: a psi- canflise. O que fez a psicandlise se no usar esse amor que brota, esse artiffcio que surge ali, para que o analista possa ensinar alguma coisa 20 analisando, ou seja, alguma coisa que é da estrutura desse saber, Porque 0 analista no tem script, mas esté referido & estrutura. Pelo contratio, ele no sabe que peca ser encenada, que persona- gem ele vai eventualmente representar, que imago Ihe ser transferida, se a paterna, se a materna, se a da vovd, se a do vov6, ou se a da amir ga. Isto ele nao sabe, mas quando emergir, ele vai ter que se sai fo Impromptu, como disse Lacan. Na hora da marcacfo ele faz porque est4 referido & estrutura. E 0 maximo que ele faz. . Freud fala da resisténcia como “agent provocateur” que justfica ® funcionamento do recalque, ou seja, que 0 atendimento dessa deman mantém 0 recalque € 0 que interessa, 0 que deveria retornar, no re10F a em fungio do atendimento dessa provocaco, da resistencia © transferéncia, ou ainda, nfo acontece a rememoragio ¢ @ elaborasior que € a0 que visamos. -98- Freud diz que nfo vai aconselhar ao analista a aceitar uma transa- 40 comum, nem moralisticamente condené-la. O que & interessante € gue cle esté fazendo uma distingdo: o que se esté falando nfo € uma transagéo comum nem tampouco © que se passa na andlise deve ser objeto de um exame moralista da questéo. Como se sair dessa € fog0. Entretanto, ele diz que esté escrevendo para analistas, e portanto, o que se trata seria apontar novamente para a questo do desejo estruturével no discurso. Ou seja, apontar para os fortes laos novamente, que tém a ver com esse desejo. Ele diz: também, porque, neste caso, posso re- montar a prescri¢0 moral & sua fonte, ou seja, a conveniéncia. — Por tanto, remete essa questo de uma abordagem moralista da situacdo 2 sua origem, a conveniéncia, porque € conveniente ser moralista, porque 6 fécil demais. O nome disso € hipocrisia. E diz mais: Encontro-me, nesta ocasito, na feliz posigfo de poder substituir © impedimento moral por consideragées de técnica analftica,- sem alteracdo no resultado. ~ Ou seja, substituir considerag6es hip6- ss € convenientes. Isto € textual, Gostaria de ler 0 ditimo parggrafo da pégina 213: Ainda mais de- cididamente, contudo, recuso-me a atender & segunda das expectativas que mencionei. Instigar a paciente a suprimir, renunciar ou sublimar suas pulsées, no momento em que ela admitiu sua transferéncia erética, seria no uma maneira analftica de lidar com eles, mas uma maneira in- sensata, Seria exatamente como se, apés invocar um espfrito dos infer- nos — Flectero si nequeo superos Acheronta movebo — mediante astu- tos encantamentos devéssemos mandé-lo de volta para baixo, sem Ihe haver feito uma pergunta, Ter-se-ia trazido o recalcado & consciéncia, apenas para recalcd-lo mais uma vez, num susto. — Quer dizer, iss0 se- ria pura sacanagem. Ora, se ndo agtientas com as forgas do inferno, nao mexa com 0 diabo! E prossegue: Nao devemos iludir-nos sobre 0 éxito de qualquer procedimento desse tipo. Como sabemos, as paixdes pouco so afetadas por discursos sublimes. — Lindo isso. O velho quando que- ria sabia dizer as coisas. ‘Mais adiante ele chama de condendvel um caminho intermedisrio €m que alguns analistas enveredam, eles o admitam como particular mente engenhoso, entretanto, esse caminho intermedifrio € engenhoso no 6 entre no sentido psicanalftico, mas apenas astuto, ou seja, acena com um sim e & mentira. Aliés, essa & a diferenga que MDMagno fez em Aos odes e aos porcos, entre 0 farsante ¢ 0 embusteiro. O caminho intermediério engenhoso € coisa de embusteiro, nfo € coisa de farsante, -9- porque a farsa analftica € muito bendita. O analista esté ali vivendg farsa mesmo, ele brinca A vera nesse playground que € a transferéngig Ea crianga que brince num faz-de-conta verdadero, Nio € mero ere, buste. Freud diz também que o analista deve manter controlada @ contra: transferéncia, porque, cuidado, diz ele, pode-se ir além. Portanto, » imiscSo por pate do anlista de um determinado testo € bastante OrGus n4S € Gul € a denceasSo disso, porgue, uma ver aguilo dene de, 0 analista no tem como manté-la sob controle, ou seja, tem que hhaver a admissBo no campo da Consciéncia, uma representaco no cam, Po psfquice do tesSo que o analista possa vir a ter. Pode acontecer dg so por algum dos seus analisandos ou analisandas; se lista mentiver isso recalcado ou denegado € muito mais perigos E methor admitivo porque, na medida em que 0 faz, pode mantes contratransferéncia sob controle. E muito melhor. Basta admiti-lo para si mesmo, se for 0 caso admiti-lo para outros também. Admita porque Freud também falou que a andlise deve se passar em abstinéncia, Alguém me perguntou como ficaria essa questo fora do setting analftico. Transa ou nio transa? Sinceramente, confesso-Ihes, no sei se estou ouvindo bem: no transa dentro, mas transa fora? Ora, em primeiro lugar, isso é uma tremenda hipocrisia. A questo se reduziria apenas a dentro e fora do setting analftico. E, por favor, nisso que falei nfo vai nenhum ranco moralista. O que estou tratando nfo passa por af. Mas, voltando & questéo que me foi colocada, 0 que tenho a dizer € que isso daf € simplesmente aquela coisa intermedidria ¢ engenhosa, cujo nome nfo € outro sendo embuste. Ora, aqui no consultério nfo, mas naquela outra sala talvez. Isto € embuste, mesmo porque, quando 0 analista encontra seu analisando fora do setting, este nao deixa de ser seu analisando e aquele seu analista. Daf que, uma aluna minha, moca chela de humor, ap6: ; indagou: quer dizer endo, que € s6-depois? Bom, 0 que eu posso dizer € que depois, se quiser, pode, ué! Mas, durante 0 proceso de andlise # coisa se passa em abstingncia, cujo objetivo € levar 0 analisando substitutos desse objeto que esté impregnado demais nesse moment Néo € uma abstinéncia do tipo moralista, religioso, pecaminoso, guma coisa desse género. A abstinéncia permite deslocar esse amet transferencial para seu verdadeiro objeto de desejo, que nfo € 0 ane lista, j4 que este é um faz-de-conta que esté ali para fazer compareeer © objeto de desejo do analisando através de sua mediago, mas 0 analist® oual- —100- 50 € esse objeto. H& um grande equivoco que precisa ser nie te, Se eaen apres ser ond E teria também 0 sentido de aproveitar esse instrumento, porque, ea ee misns Dicies emmin yes eee coisa, mas, o fato € que é diferente, mesmo porque, quando o analican do faz 0 deslocamento para outros cbjetos, ele desliza mesmo. Freud diz que a paciente alcanca satisfacdo real, entretanto, eu continuo a Ihes dizer que, satisfaco € muito pouco, 0 nome certo & goz0, 0 anali- staria.de.relembrar que 0 analisando est4 na demanda "u quero ser amado. Por que ninguém me ama, pinguém ge quer?! — enlretanto, que se tem de atingir € o desejo de amar atra- vyvés da abstinéncia. Aqui podemos colocar 0 que Lacan desenvolveu no capftulo “Em ti mais do que em Tu”, 0 esquema do oito interior: linha da demanda Mj D linha da interseso D ““idemtificacio” onto da transferéncia a= desejo ‘Temos aqui a demanda de amor; quando se chega neste ponto, a partir daqui Lacan chama isso de segmento da identificago. Esse outro ponto seria 0 ponto da transferéncia, e depois seria 0 desejo. Entéo a demanda de amor vem vindo até que haja a identificag2o com esse ob- Jet0; ©, € af que, essa identificagdo passando pelo ponto da transferén- cia, que hé a possibilidade de pintar um a-zinho, de se descolar um &- Zinho, af ento, 0 analisando comeca a dizer do seu desejo de amar, nfo mais demanda de ser amado, no que, com isso, ele aprendeu a amar, o que € diferente. Entretanto 0 desejo esté do outro 1ado, do lado do avesso, ¢, para se aprender a desejar amar hé que s¢ ir para o lado do avesso, porque, €o lado de c& tudo € demanda de amor e, como tal, tem muito a ver com o Imagingrio, tanto assim que s6 ha identificaso simbélica, que absolutamente nao € identificagio com 0 analista, depois que s¢ Passa ara 0 lado do avesso, depois do reviréo. A partir dat, hé a possibilida- de de comparecer 0 desejo do analisando enquanto desejo mesmo, quey segundo Lacan, € desejo do analista, O desejo do analista € a libertaséo de-fi-ni-ti-va da neurose, como disse enfaticamente Freud. = 101- sn an aes 20 Atender & demanda de amor do analisando € exatamente out, ou seja, € permitir-Ihe alcancar seu objetivo, 0 do analigg et nfo 0 do analista, jf que 0 objetivo deste € que o analisanda en seu préprio desejo, via demanda, via identificaco, pasearst'® ponto da transferéncia, mas chegando If, O objetivo do mame’ Peo cangar 0 desejo do snalisando, enquanto que o deste € ter ena sts € de amor atendida pelo analista. 8 demands Falemos dessa questo de passar pelo ponto da tran: lemos do amor ¢ do Sdio. Mas falemos particularmente do él, que, quando dele se fala um passo esté se dando. Neste oP quando comesa a haver 6dio, € quando comeca a haver um geo mento, ¢ € quando também, realmente € possfvel ao analisando "sso © seu objeto. Exatamente af € quando surge um objeto a para che ny cts se lembram da aula passada em que falei da abertura e do free mento? Em que Ihes disse que nfo se pode fechar antes que a ae mostre de corpo inteiro? Eu Ihes disse que aquilo também se destampa, Lacan diz que no final € objeto a e que ele serve exatamente para © sujeito regular esse fechamento dessa abertura que € o Inconsciente. Neste momento 0 sujeito est no regime do desejo e no mais da de- manda, aliés, € muito provavel que af entfo o sujeito se ofereca en- quanto objeto da demanda de um outro, porque € desejo seu, E a dialé- tica do senhor e do escravo. Essa leitura que estou fazendo do ponto da transferénci rer do processo analftico € nfio de uma sessfio € a mesma leitura que Freud faz neste texto, talvez vocés tenham notado 0 que ele fala aqui: como parte essencial de todo 0 proceso. — Ele absolutamente nfo abandona esse conceito de processo. Portanto, aquilo que Ihes falei na Ultima aula teria a acrescentar que, hé momentos durante 0 processo d8 andlise que, 0 analista tem que usar essa transferéncia © que ainda n° € 0 fonto da transfertncia — 0 ponto ideal — digamos assim, mas ave © analista tem de usar para dar um tempo no processo porque esté mull? violento € 0 analisando nfo esté agtientando, ou entéio porque 0 ani lista est querendo amefecer o ritmo, mas sabendo 0 que estf fazendo, ‘© que nao € a mesma coisa que fechar a toda hora. Eu diria que © Ee da transferéncia € 0 ponto méximo da transferéncia, ou seja, € quan? h& 0 estrebucho final e que se cai duro mesmo, alids, 0 sujeito pode ter pequenas antecipag6es, trailers, até que se passe o filme todinho. Eu Ihes disse também que a neurose acaba quando emerge © OFS jo, ou seja, um substitui o outro. E diffcil, aliés nao sei o que € pior, sferéncia, Fa. no decor -102- a emenda ou 0 soneto, mas, €m todo caso, convido-os a fazer esse per- curse. = Adiante Freud d& um exemplo que acho perfeito ~ 0 pastor e 0 vendedor de seguros que € um live pensador e esté moribundo: 0 pas. tor vai vé-lo para tentar converter aquela pobre alma moribunda ¢ sai ‘com um seguro na mo. O que ele diz com isso € que o analisando po- Ge ter um discurso to coerente, que acabe vendendo um seguro para o ‘analista, porque, analisando d4 um trabalho danado — € um cabra da peste ~ 86 que 0 analista € mais. O analista € 9 verdedeiro cabra da peste porque Para ser analista o sujeito tem que ser cabra da peste do ‘Gabra da peste, ou seja, cabra da peste a0 quadraco. Tem que ter muita ‘quilometragem rodada, porque senéo, 0 analisando coloca 0 analista no bolso direitinho. i gaa esa hist6ria do pastor € do livre pensador € um exemplo de como Freud brinca com 0 chiste € sua relagio com 0 Inconsciente, para mos- trar aos analistas essa questo da qual € muito diftil falar. E preciso ter humor, brincar. Lacan fala que a psicanslise para na parte pudenda, ov seja, a psi- canflise nfo fez absolutamente nada para melhorar 0 mecanismo da relacio sexual, nfo andou um fasso para fazer as pessoas treparem melhor. Neste exato momento alguém perguntou: entéo Lacan reconhece que existe a relacdo sexual? Brilhante a pergunta, Deveras interessante. Lacan diz 0 seguinte: Por que eu digo que a relagSo sexual nio existe, isto nao quer dizer que nfo exista relagio a0 sexo — Fortanto nao quer dizer que no se trepe, alids € 0 que mais se faz por af, nio é verdade? Ou como ele diz: reproduco & moda de voces. ‘A relacdo sexual ndo existe - isto no tem nada a ver com trepar. Lacan diz que, a relagio sexual s6 existe no incesto.¢ no assassinate. ‘Guando eu digo que @ felagdo sesual no existe eerf que Ele diz: quero dizer que isso existe, mais ainda? — Quer dizer, que isso val ocorrer mais ainda no circuito da pulséo, que € 0 desejo, porque, come ‘eu disse, daf para a frente o que se trata é do desejo. Uma vez 0 desejo instalado, isso daf vai virar, porque se_virou uma vez vai virar para sempre e no vai parar mais de virar. E 0 conceito de necessério for” rmulado por Lacan, Se 0 ponto ds transferéncia € contingencial s° 89 continuar enquanto desejo € 0 necessério ~ 0 no para de se escrevet = ou seja, vai se escrever a vida inteira, porque uma vez analisado pars sempre analisado. E por isso que @ cura da neurose € definitive -103- Este assunto da relagio sexual df sempre panos pra may dia, uma senhora muito bem intencionads, comentava num pry analistas que, a psicanslise ainda nfo havia tido tempo para fare & uma coise pela elasto sexual, Ela dizia isso baseada na idéig get a s 0 objetivo da psicandlise € a cura das pessoas, na medida em o<.%% 5 Cura 'vai se fazer, que as pessoas Vo methorendo, eon gee one o vlcionancin sv cu las tee eens meee seja, que a cura proporcionaria um melhor relacionamento eel malmente isso iria acontecer. Interessante issc, no? Normalmente, a relaco sexual J que a psicandlise visa a cura. Gostei do normalmente, d interessante. A psicanslise, eu teria dito a essa senhora, nfo teve tempo nem te- 4, Além do que restaria a determinar que “melhor” seria esse a que te pessoa se referiu. O que € uma relagtio sexual normalmente melhce? A meu ver, isto € 0 que a sexologia tenta fazer, aliés, em Sio Faulo est passando a peca “Oh Calcuté” 0 meno: std pass que fala, pelo menos quando eu assisti_h4 muitos anos falava, dos experimentos de Master ¢ Johnson. Engracadfssimo. Valeria a pena ver a brincanagem que eles fazem com aquilo. verdade, 0 méximo que a psicandlise faz ¢ desmistificar a tran- sagdo sexual, porque, trepar € trepar e ponto, Chega de mistérios! E bom? Deu? Se deu, est dado, Deodato! Nao hf por que ter mistério. E Por isso que insisto em dizer que, resta a determinar que “melhor” € esse, porque para cada um € de um jeito, inclusive, hé pessoas que acham melhor no trepar. Cada um tem o seu barato. Mas, voltando A questfio de Lacan, de que a relacio sexual nfo existe. Gostaria de Ihes dizer que nesse caso seria a definico mesmo de impossfvel, ou seja, que no se dé conta do Real de todo. A relacio sexual existiria se 0 sujeito pudesse, tal como no reino animal, aliés, MDMagno desenvolveu este conceito de etologia no Pato légico, ¢ La can fala disso no L’étourdit, ou seja, de que haveria uma complementa- so biunfvoca de homem e mulher. Isto, se houvesse, seria a promessa totalmente satisfeita de se encontrar a to propalada cara-metade, 0 que seria o fim, porque, uma vez que 0 sujeito a encontrasse, tudo se aca" baria, nfo haveria recomeco. E, 0 que se pode mesmo fazer ¢ recone car. Seria o final feliz. Vocés se lembram daquele filme francés ““* mulher do lado”? Na hora em que pinta aquele momento de complet de, 0 que aconteceu € que ela mata ele ¢ se mata também. NE. Outs Sexual; nor. melhoraria, le fato muito —104— B exatamente isso: pinta a morte, Isto € sem dvida um exemps tem imaginarizado de demonstra a impossibligade, porque ne ney gue M4 completude, morte © nio tem mais graga. Na verdade,¢ soon falico nfo € senfio um basta naquele momento para que @ sicannocy possa recomecar toda de novo, outra vez, E $6 isso. Porque, se howres, relacBo sexual € © sujeito chegzsse a um fim dltimo de todas os can fas, tudo se acabaria e voltarfamos 20 reino animal. Voltarfames ae fafso, nada mais teria graga, e af danou-se porque o parafso € umma cha. tice. E uma tremenda chatice. Freud diz que seria desastroso que 0 anseio da paciente fosse aten-= ido tanto quanto fosse suprimido, ou seja, nem uma coisa nem outra, Uma vez que tu provocaste 0 aparecimento daquilo, meu bem, agentes agora! E Freud diz também que 0 caminho do analista nio tem modelo na vida real, isto 6, 0 que se passe 14, essa solucdo entre, néo tem mo- delo na vida real. Aquela letra que diz que no se vive a vida real se ‘aplica muito bem a essa transagio do analista, porque neste caso no tem modelo mesmo por af. ‘A abstencio, tal como ele diz no texto, é para rememorar, € para elaborar, serve para abrir caminho as rafzes infantis do amor, porque até prova em contrério, nao hé outras rafzes desse amor senéo as infan- tis, Fortanto, para 0 sujeito no tem outro jeito se no dar de cara com as rafees origingrias desse amor que infantil sempre. E, uma vez que der de cara com elas, nunca mais vai deixar de ser crianga;€ af, meus amigos, ele aprendeu a amar, ‘Mas, com isso, ele vai ter que comesar a passar a limpo de novo: fase oral, fase anal, fase genital. E Lacan diz assim: Seré que singuém entendeu que essas fases $0 apenas uma mera hipstese de desenvolvi- mento de mestria? — Por que, na verdade, se hé uma rememoragio da fase oral, anal ¢ genital numa anilise, s6 se passa a limpo depois do Ponto da transferéncia, portanto, j& na vigéncia do desejo, af, de fato, 14 fase oral, anal e genital, tudo de novo. Como Lacan diz: inféncia, Puberdade, maturidade e tal, de quatro em quatro anos. E af ele com- Pleta dizendo que nao foi & toa que Freud esperava quatro anos para Publicar seus escritos. Lacan falava isso s6 de g0z2¢80. Freud diz uma coisa interessante: que existem algumas analisandas Que so filhas da natureza, categoria na qual aquela menina Dora se enquadra muito bem, que se recusam a aceitar 0 psfquico em lugar do ‘material ~ Isto € interessante porque 0 psfquico € material, € © que ele Std dizendo € que elas confundem o psfquico com 0 corporal. Af esté 2 =105- questo, porque 0 significante, que € psfquico, tem materia nto fem corporeidade,¢ a ftha da natureza quer um compo, Bae 88 acessiveis apenas 2 I¢zica da sopa com bolinhos por argumengs = S% usam essa I6gica como argumento para retribuir seu amor ¢ no, TES lista 20 desprezS-a ter seu Sdio. Ou seja, elas team que gion 8 pa sem os bolinhos, mas nfo querem. tara so. Freud diz ainda nesse parggrafo que a neurose uma cessidade de amor sem substitutos, porque, na verdade, papai, a mamie ou seja If quem fosse, pela transferéne analista, entretanto, o anclista esté alii exatamente par haja deslocamento e portanto formacdo de substitutos, A seguir Freud se_pergunta acerca da genuinidade desse como vimos pa sitima aula com o texto de Lacan, — Esse amor que ce passa na anélise € genufno ou no? — Diz ele: © amor genutno, torné, lavia décil € intensificaria sua presteza em solucionar os problemas do seu caso, simplesmente porque o homem de quem esté enamorada espe. ma isso dela, ~ Ou seja, assim ela 0 deseja, e 0 analista para isso tem que usar a pressa: presteza em solucionar os problemas, 0s enigmas da- quele caso. A esse amor décil eu acrescentaria: servidio consentida, « meu ver no se trata de outra coisa. A resisténcia a esse amor genufno usado para desenvolver um tra- balho, ou seja, de se curar uma neurose; a recusa do médico em atender A demanda leva a seu oposto que € 0 afastamento do tratamento, por duas raz6es. Em primeiro lugar, por amor ostensivo. Em segundo lugar, por vinganca € ressentimento de ter sido desprezada pelo analista Fortanto, trata-se de moderar e/ou transformar esse amor por substitul- do, Freud repete-nos isso 0 tempo todo nesse trabalho, que aliés ¢ muito repetitivo, 0 que no caso € bom. A Ele ainda diz mais, diz assim: O que fazemos, acima de tudo acentuar para a paciente o elemento inequivoco dessa resistencia nests amor. — Nao tenham divida que 0 analista s6 pode fazer isso quate de alguma forma quilo j& foi enunciado pelo analista, ou sels analisando de alguma forma j estiver apontando ¢ a0 mesmo LAN estiver resistindo. Nao € necessdrio que 0 analista diga: olha, voc" Tt resistindo. E bobagem, porque a resisténcia em si jé € bastante Ti” rua, ou seja, evidente, j& que 0 analisando nao Ihe dé nenhum SS Qual © sentido desse amor? O que ele representa? E 0 sujcill 0 consegue Ihe dar sentido, ele diz apenas que nfo sabe. Nao st {que te amo, mas nio sei por que te amo ~ mas essa resisténd obstinada ne. Se antes era ia, agora, & 5 2 Permitit que amor, tal = 106 - ntigurando a ponto do préprio analisando perceber, trata de jogar-Ihe uma verdade na cara, simplesmems 6 anliga vod, espera de que essa verdade v4 208 poucos tomando-se clara: Evidene ciando-se. Outro dia, alguém com muita propriedade, disse que o analsta pox deria ir aos poucos soltando significantes para o analisando no senino fe Ihe apontar que h& uma resisténcia, mas nBo cleramente, muito sua, vemente, com muita sutileza talvez. ‘Aligs, 0 proprio Freud disse da seducSo naquele pardgrafo que li 'A seduco € a via que permite a0 analista condicées de poder enfrentar vencer a resisténcia. E a melhor maneira. HA que se ter savoir faire, po se pode jogar a resisténcia na cara do resistente porque ele vai fi car muito mais resistente ainda, Entretanto, a seduséo tem e deve ser bem-feita porque cabe a quem seduz fazer a exigéncia suplementar de ‘que se diga disso. O analista ndo cria a sedusio para que néo se diga a seu respeito, a0 contrério, € para que se diga dela, a fim de que isso no se torne um namorico. Se ele transa a sedus&o € para exigir algo mais que € justamente falar disso, que € justamente dar um sentido a esse amor. —O que voc vé em mim de tio especial? Diga isso. Decifre esse enigma! — o amor um enigma € 0 analista deve exigir isso, mas terd que esperar para que isso aconteca. O analista tem que saber espe~ rar. Avancemos. Esse enamoramento € real? Ele, Freud, responde: ‘Acho que dissemos & paciente a verdade, mas nio toda, sem atentar pa- Fa as conseqiiéncias. — Interessante. Eis af 0 conceito de no-todo sur- zindo em Freud, quer dizer, 0 analista nfo diz toda a verdade, mas o5o- toda exatamente para permitir que 0 analisando contioue a dizer dessa verdade porque senio 0 analista vai tampé-la com a sua verdad. Outra coisa que diz € que a resisténcia nao cria esse amor, encon- tta-o € se aproveita dele agravando suas manifestagdes. Faz uma dite Tenciago entre amor transferencial € 0 amor que chama de normal. © amor 6 uma repeticdo de estados ¢ escolhas objetais infantis de forma compulsiva, portanto, ndo & outrs coisa sendo Prinefpio do Prazer, bei- Tando 0 patolégico. O amor transferencial possui menor grau de liber~ dade, exibe a dependéncia do amor infantil mais claramente, € menos ‘Adaptvel e capaz de modificasdo. Interessante isso: menos adaptvel ¢ menos C3} Por isso dé mais trabalho, exatanente porque quam Perto do niicleo patégeno, que é real, a resisténcia aumen paz de modificacéo. «do vai se chegando ta, Mas de- -107- (Se Pois, passando desse ee se amor de transfer€ncia, vai © amor de transferéneia € P; compulsivamente sem o saber, dessa situacio transferencial, ¢ emergir 0 Pri mas, uma vez E 1, € 0 momento entio seat @ Princfpio de Realidade, que € dizer do LESTE Ponto, jf nBo esta mais confundide com o serve para isso, alids, € por isso que se chama y Rencial, € uma compulsio & repetic&o. cham Ainda segundo Freud 0 amor na trans! Pareca to desprovido de normalidade. Isto de que na vida comum o amor também € Seu objeto, ¢ qua lista. A transferén. de neurose transfe. feréncia € genutno embora se explica também pelo fato i mais semelhante \ome- od i aos fer mentais anormais do que aos normais. O amor € absolutamenc an anormnal as pessoas ficam tresloueadas. O amor a que ele est se rete indo aqui € a paixéo mesmo, porque o almor € s6-depois, é na vigén- cia do desejo. Na demanda € a paixo que assola 0 sujeito. _O almor € quando surge 0 almor no sentido que se fala em psica- néllise. Lacan diz que 0 sujeito fica tomado pela sua alma. A alma ama a alma, no que entio © sujeito foi tomado por sua alma, ou seja, ele est entregando sua alma ao diabo para ganhar uma outra vida, 0 infer- no. Uma outra vida que € Principio de Realidade. E por isso que Lacan diz que a alma alma a alma, ou seja, hé aqueles que se reconhecem, ou seja, aquele que jé teve sua alma entregue ao demOnio deve saber reco nhecer seu semethante, embora cuja experiéncia tenha sido diferente. O que significa dizer que, € € nfo 6 semelhante; foi semethante 36 0 ato de entrega, mas o que resultou desse ato de entrega foi uma diferenca que é sintoma daquele sujeito. Continuando: 0 amor de transferéncia € genufno e anormal: € pro” vocado pela situacdo analftica; € intensificado pela transferéncla GN domina a situacdo: falta-Ihe a consideracdo pela realidades portanto, & Princfpio do Prazer. E menos sensato na avaliagao da pessoa amada, 7 seja, 0 que acontece na transferéncia & a intensificasto dese amor, portanto os analistas tém que se preparar para receber uma cares pov intensidade, porque tendo o amor de transferéncia mene grou de liberdade, tem em razo disso também menor grau de adaptabil Sto que 0 torna muito mais intenso em cima daquela pesso suposto e momentaneamente verdadeiro. ae Quanto ‘a linha de ago 0 analista ndo deve esquecer ouene primeira caracterfstica desse amor: que € de ‘

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