MARIA EDUARDA DA MAIA Os Maias
MARIA EDUARDA DA MAIA Os Maias
MARIA EDUARDA DA MAIA Os Maias
Tais revelações, se servem para iluminar outras faces de Maria Eduarda, não
são suficientes para arruinar sua integridade moral perante o leitor. Antes, porém, a
neta de Afonso enfrenta com altivez a rede de fatalidades que sobre si recai, distante
da fragilidade romântica do pai e da libertinagem leviana da mãe, e próxima da
postura atribuída idealmente pelo avô à estirpe Maia. Sua dignidade nobre realça,
sobretudo, a força de um destino inexorável e imprevisível, avesso ao controle
sociocultural e educacional. Maria não age voluntariamente para a catástrofe final,
mas cada um dos seus passos vai ao encontro desse destino, como se conduzida por
um poder transcendental, analogamente aos heróis da tragédia clássica. Enfim, seu
percurso figural sublinha uma noção fatalista da existência, em concordância com a
crise de confiança do autor nas coordenadas positivistas do naturalismo.
Sendo assim, é mais difícil ao leitor nutrir sua representação de Maria Eduarda
com decalques comuns da vida real, ou com modelos femininos retirados de páginas
consagradas da época, como o da mulher satânica fatal do Romantismo ou o da
cortesã adúltera do realismo e naturalismo. Também não lhe é possível assemelhar a
personagem a tipos criados por Eça, como a burguesinha entediada da Baixa (O Primo
Basílio), a beata ingênua (O Crime do Padre Amaro), ou mesmo a afetada condessa de
Gouvarinho, envolvida com Carlos. Com uma figuração dinâmica e ambivalente,
baseada em valores mais positivos, Maria Eduarda atrai e surpreende o leitor, que é
convidado a amparar-se nas pistas e nuances do texto para compor e recompor seu
desenho enigmático.