As Leves Ancas Da Perdiz BEIVELASKYS.

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Bei Baldjine

As Leves Ancas
Da
Perdiz
Não sei se sou um escritor, ou se ao menos, chego a ser um
contador de histórias, pois, não entendo muito das palavras e
facilmente me esqueço dos acontecimentos.

Bei Baldjine

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Índice

Selé
As Leves Ancas da Perdiz
A Filha do Regulo (O Nutricionista)

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Selé

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Selé
Era meio-dia de sexta-feira, a mana Selé e eu estávamos
sentadas na esteira a almoçar, era Xima com peixe frito e
molho de tomate. Como sempre, era eu quem preparava o
almoço. A mana Selé nunca me ajudava com a cozinha, ela
dizia para mim que se quisesse viver com ela, então tinha
que fazer os serviços todos de casa principalmente a
cozinha, se não, me mandava embora, para lá, na casa da
mamã. Eu ficava com medo porque lá na casa da mamã as
coisas não iam lá muito bem, se almoçávamos não
jantávamos e se jantávamos não almoçávamos e havia por
vezes tormentosos dias que não se passava refeição alguma
lá na casa da mamã. Eu sei que a mana Selé nunca me
mandaria embora para casa da mamã, porque bem no
fundo ela me amava muito, ela só gostava de dizer aquelas
coisas para me ameaçar e fugir da cozinha porque a mamã
me contou que a mana Selé não entendia lá muito da
cozinha.

Enquanto almoçávamos, o celular da mana Selé começou a


chamar, era o cunhado Sílvio o marido da mana Selé, queria
comunicar que regressava naquele dia, pois, o cunhado
Sílvio trabalhava no distrito como professor, e sempre que
fosse para lá, tardava entre duas a três semanas para
regressar. Eu e a mana Selé ficávamos aqui na cidade.

O cunhado Sílvio era um homem muito bom, eu gostava


dele porque era um desses homens difícil de se encontrar
nos dias de hoje, construiu uma casa aqui na cidade para
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mana Selé e colocou-a no instituto de saúde, esperava o fim
da sua formação para depois leva-la consigo ao distrito
onde trabalhava, e lá, procurar uma vaga para ela trabalhar
e estarem mais pertinho um do outro.

Eu via nos olhos da mana Selé, ela amava muito o seu


marido, era uma mulher apaixonada pelo cunhado Sílvio, eu
via do jeito como a mana Selé sorria quando cunhado Sílvio
estivesse perto dela conversando, e a alegria que carregava
no seu rosto a cada manhã que acordava em seus braços, a
mana Selé pulava de alegria quando o cunhado Sílvio
comunicava que estava vindo, ela preocupava-se muito,
mandava comprar isto mandava comprar aquilo, mandava
preparar isto mandava preparar aquilo, opha! Era uma
festa aqui em casa, mas estas coisas começaram a mudar
quando a mana Selé começou a sair com aquele amigo dele
meio claro de olhos grandes, aquele que trabalha na
administração, conversavam muito e quase que o tempo
todo o celular da mana Selé quando chamava, era ele, por
vezes vinha para casa, a mana Selé tirava cadeira e ficavam
ai atrás a conversar e por vezes ficava mesmo para jantar.

Naquele dia quando o cunhado Sílvio comunicou que estava


de regresso, a mana Selé não se preocupou muito, não
mandou comprar nada nem mandou fazer coisa alguma.

Quando o cunhado Sílvio chegou, trazia com ele duas


galinhas, batata-doce, um plástico de feijão manteiga, um
plástico com frutas: bananas, tangerinas e laranjas e trazia
também mandiocas que a mana Selé havia pedido a ele que

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trouxesse. Quando vi o cunhado Sílvio chegar fui ao
encontro dele, cumprimentei-lhe e ajudei-lhe com as coisas,
levei as galinhas e fui deixa-las na empoeirada capoeira lá
no fundo do quintal, junto com as outras galinhas, carreguei
as outras coisas e fui deixar na cozinha, a mana Selé estava
na casa de banho, tomava banho.

O cunhado Sílvio sentou-se, puxei uma cadeira e me sentei


ao lado dele, gostava de conversar com meu cunhado,
porque ele conversava muito bem e deixava todo mundo
confortável com a sua maneira de ser, perguntei-lhe como
foi a viagem e como era o trabalho lá no distrito, ficamos
minutos a fio conversando até que a mana Selé saiu da casa
de banho, com um sorriso no rosto deu um beijo ao
cunhado Sílvio e perguntou-lhe algumas coisas, em seguida
foram para o quarto e ali conversavam, depois, o cunhado
Sílvio saiu vestindo uma toalha e foi à casa de banho, tomou
um banho e tornou ao quarto. Ficaram lá muito tempo, não
sei o que lá faziam ,mas, ouvia-se musica vindo de lá do
quarto.

Já a noite se avizinhava, ouvia-se cantos de corvos e outros


pássaros que se recolhiam às suas tocas, começava o
inverno e soprava bastante um ar frio ao cair da noite, vesti
a minha camisola cor de limão pois o ar frio espaventava
com impetuosidade naqueles dias.

Para o jantar a mana Selé mandou preparar molho de


galinha cafreal com arroz, pois o cunhado Sílvio não
gostava lá muito do frango aviário, por isso sempre que

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regressava trazia consigo duas ou três galinhas cafreais que
eu colocava lá na copeira junto com as outras.

Durante o jantar o cunhado Sílvio contou-nos um pouco


sobre a vida lá no distrito, contou-nos que para encontrar
água, o seu trabalhador percorre km’s até ao rio, contou-nos
também que as temperaturas lá são muito amenas e
agradáveis.

O cunhado Sílvio ficou com a gente sexta, sábado e


domingo, na segunda-feira ao primeiro canto do galo partiu
a paragem, de lá, apanhou um machimbombo até ao distrito
onde trabalhava.

Durante o tempo em que o cunhado Sílvio esteve em casa, o


amigo da mana Selé não ligou e nem veio para casa, mas
depois que ele partiu, agora vejo-lhe aqui o tempo todo e
por vezes fica para almoçar e jantar. Eu não gosto muito
dele, com aqueles olhos assim tão grandes a olhar, metiam
medo aqueles olhos tão grandes e meio sombrios.

Por vezes, a noite, num cantinho escuro do quintal, a mana


Selé e o seu amigo que trabalha na administração sentam-
se ali a conversar, não sei se só conversam, mas ficam ali
naquele canto escuro. Eu não gosto dele, não gosto
daqueles olhos grandes, metem medo aqueles olhos assim
tão grandes, queria dizer para mana Selé que não gostava
daquele amigo dela mas não me atrevia tinha medo que a
mana Selé me mandasse embora, para lá, na casa da mamã.

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A mana Selé andava mudada, desde que começou a falar
com aquele amigo dela, aquele que trabalha na
administração, a mana Selé demorava para chegar a casa e
quando voltasse era o amigo que a trazia no seu carro.

Um certo dia, as horas das 20, o amigo da mana Selé veio


lhe acompanhar no seu carro, quando ouvi o barulho do
motor sai para ver quem era, era a mana Selé e o seu amigo,
se despediram com um abraço de irmão e a mana Selé
entrou. Fiquei ali parada a olhar para o carro manobrar

De repente, ouvi uma voz que chamava o meu nome, não


era estranha aquela voz vinha do outro lado do muro de
caniço.

— Bibiana! Aproxima lá aqui filha — continuou a voz

Olhei para onde vinha a voz e reconheci, era tia Maria nossa
vizinha aqui ao lado, aproximei-me do muro de caniço e
cumprimentei

— Boa noite tia Maria!


— Boa noite! Quem chegou de carro? É mana Selé? —
Avançou a tia Maria
— Sim é ela — respondi
— Ah! Está bem, e aquele senhor quem é?

Fiquei um instante a olhar para tia Maria, era a primeira


vez que ela perguntava sobre a mana Selé com tanto
interesse e avidez.
— Que senhor? — Perguntei
— Aquele que trouxe mana Selé de carro.
— ah! Aquele é amigo da mana Selé — respondi
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Depois de muito perguntar, a tia Maria se despediu e se
distanciou do muro de caniço, voltei para dentro e a mana
Selé perguntou-me se eu já havia jantado, respondi que era
antes, pois, não estava com fome, me sentei no sofá e fiquei
vendo novela.

A mana Selé não gostava muito da tia Maria nunca lhe


cumprimentou e a tia Maria não tinha muitas amigas aqui
no bairro, somente conversava com a sua filha e a tia Lídia.
Queria contar para mana Selé que a tia Maria perguntou
sobre ela mas fiquei com medo de ela me mandar para lá,
na casa da mamã, porque a mana Selé já havia me proibido
de falar com a tia Maria, não queria que a mana Selé
descobrisse que eu falei com a tia Maria.

Depois de se passar 30 minutos o celular da mana Selé


começou a chamar, era o cunhado Sílvio, eu pude ouvir a
voz dele do outro lado do telefone estava muito nervoso,
começou por perguntar onde ela estava, a mana Selé
respondeu que estava em casa, depois perguntou quem era
o homem que lhe trouxera de carro a poucos minutos, a
mana Selé ficou petrificada, um silêncio total pairou
naquele instante, depois tornou firme.
— Carro!?? — Perguntou a mana Selé com um ar de quem
nada sabia
— Sim um carro que veio te deixar agora.
— hi!! Eu estou aqui desde a tarde, pergunta-la mana
Bibiana vai te confirmar

O cunhado Sílvio pediu a mana Selé que me passasse o


celular, enquanto a mana Selé ia me passando o celular ela
piscou para mim e fez um gesto para que eu me calasse

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— Alô! Cunhado — respondi
— Oi Bibiana! Como estás?
— Estou bem, não sei ai cunhado?.
— Também estou bem, é assim Bibiana, eu quero que você
diga a verdade, não minta para mim por favor, me diz: a
mana Selé está ai em casa desde que horas?

Eu olhei para mana Selé um instante e ela olhava para mim


com um ar toda paralisada, com o dedo sobre os seus lábios
num gesto como se me pedisse para nada falar.
— Ela está aqui desde a tarde — respondi
— Tem certeza? Ela não chegou agora de um carro? —
Perguntou o cunhado Sílvio
— Tenho certeza sim cunhado, a mana Selé não saiu hoje de
casa e também não chegou nenhum caro aqui…

O cunhado Sílvio pediu que passasse o celular à mana Selé,


em seguida ela saiu e foi ao quarto, de lá, nada mais de
concreto pude ouvir, mas a mana Selé e o cunhado Sílvio
ficaram muito tempo discutindo ao telefone.

Na mesma noite, o cunhado Sílvio ligou para mamã e lhe


comunicou o sucedido, logo nas primeiras horas do dia
seguinte, ao raiar do sol a mamã apareceu em casa, a mana
Selé e eu nem havíamos acordado, despertamos ao ouvir
alguém pedir licença, era a mamã eu conhecia muito bem
aquela voz, levantei-me da cama e fui abrir a porta.

Lá estava a mamã com um ar de poucos amigos,


cumprimentei, mas ela não retornou apenas perguntou
onde estava a mana Selé.
— Mana Selé está no quarto, ainda está a dormir —
respondi

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— Vai curdar, dizer mamã está aqui, quer falar cuntigo —
disse a mamã

Fui ao quarto da mana Selé, bati a porta mas a mana Selé


não me respondeu, parecia que estava acordada e ouvia
tudo, levantou-se, ascendeu a luz, amarou a sua capulana e
saiu.

A mamã sentava-se na sala e a mana Selé sentou-se ao seu


lado, a mamã olhou para a mana Selé um instante, com uma
cara meio áspera, a mamã sempre fazia aquela cara quando
estivesse zangada.

— Bom dia mamã — cumprimentou mana Selé


A mamã não respondeu, continuou a olhar para mana Selé
com aquela cara meio zangada e meio engraçada, a mana
Selé começou a rir, era sempre assim, a mana Selé ria-se
quando a mamã fizesse aquela cara.
— Você estás a rir o quê? — Perguntou a mamã
— ãh! Eu não estou a me rir de nada mamã — respondeu a
mana Selé que sorria
— Sílvio ligar a noite e falar cum eu, ele queixar que você
subir no carro e vir aqui cum homem
— chiii!! eu não subi no carro de ninguém mamã, pergunta-
la mana Bibiana.
— Suca! purguntar, purguntar de quê? Eu num cunhecer
você Selé? Você minha filia eu nascer você, eu cunhecer
você Selé muito bem memo.
— Mas mamã eu não fiz nada Chi!!!
— Issu cosa que você ta fazer num fica bem Selé, eu num
gosta — disse a mamã muito zangada — cundo Sílvio te
deixar e num ter mais homem para casar você, depois vai

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falar que curpa é diquem? vai falar que curpa é de mamã
que é fiticeiro num é?

A mamã e a mana Selé ficaram ali na sala, me retirei para


passar o pátio com uma vassoura, os sermões da mamã se
prolongaram até as 7h, hora que a mana Sele ia ao instituto.

Depois daquele dia, dos sermões da mamã e da zanga do


cunhado Sílvio, a mana Selé mudou e começou a
comportar-se lindamente.

Depois de um tempo, das coisas acalmarem e a tempestade


passar, eu descobri que a mana Selé não havia mudado,
apenas tinha dado umas férias nas suas andanças e no seu
amigo.

Numa noite depois da novela, eu fui me deitar, a mana Selé


ficou na sala a ver televisão e a mexer no seu celular, depois
de passar um tempo, a mana Selé abriu a porta e saiu, foi a
casa de banho, não sei se ia lá tomar banho mas demorou
um bom tempo para retornar e fechar as portas.

A meia-noite, acordei para mijar e, como o quarto da mana


Selé ficava ao lado do meu, eu pude ouvir a voz da mana
Selé, conversava com alguém.
— Mas quem era? Será que a mana Selé conversava ao
telefone? — Me interrogava

Talvez a mana Selé conversava ao telefone porque ela


gostava muito teclar com suas amigas no whatssap, e por
vezes ouvia ela rir sozinha lá do quarto ao ouvir as
mensagens de voz que as suas amigas enviavam. Depois de
mijar apaguei a luz e me deitei.

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Era madrugada, quando ouvi um barulho na cozinha,
prestei mais atenção e notei que era mana Selé porque a luz
estava acesa, mas o que estava a mana Selé na cozinha a
fazer a aquelas horas de madrugada? — me perguntei —
Talvez quisesse beber um copo de água ou talvez estivesse
com fome e quisesse comer algo — Pensei.

Não tardou muito, comecei a ouvir um barulho vindo de lá


da cozinha como se a mana Selé estivesse a fritar algo,
devia ser um engano, a mana Selé nunca acordava a aquelas
horas para mexer com a cozinha e, além disso a mana Selé
se quisesse cozinhar algo sempre deixava para mim esse
fardo.

Acordei, amarei a capulana de flores que a mana Selé me


tinha oferecido e vesti a minha camisola cor de limão, me
dirigi a cozinha, se a mana Selé estava a cozinhar a aquelas
horas de madrugada, talvez precisasse da minha ajuda.
— Mana! — Era eu
— Bibiana! — Disse a mana Selé — ainda bem que
acordaste, peço para descascares essas batatas e fritar,
depois peço também para por no termo essa água já esta
ferver, faça isso minha maninha, depois te dou uma boa
cena… — disse a mana Selé toda sorridente

A mana Selé estava nua, amarava uma capulana pelas


mamas e parecia estar muito feliz, saiu da cozinha e foi ao
seu quarto. Fiquei ali a fazer os serviços que a mana Selé
me havia ordenado, fritei as batatas, os ovos mexidos e
arrumei a mesa, enquanto fazia aqueles trabalhos fiquei
interrogada, mas porquê a mana Selé iria precisar daquela
quantidade de comida? Aquelas batatas, aqueles ovos e a

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salada de pepino? A mana Selé não gostava de salada de
pepino e sempre preferia o ovo estrelado que o mexido. de
onde vinha aquela vontade de querer comer tanta coisa a
aquelas horas de madrugada?

Depois de cozinhar e arrumar a mesa, informei a mana Selé


que tudo estava pronto, a mana Selé veio à cozinha, serviu
colocando algumas coisas numa travessa enorme e
carregou tudo quanto tinha servido ao seu quarto, depois
voltou e levou duas chávenas, o termo e a caixa de leite e a
lata de café para o quarto.

Mais uma vez fiquei admirada, a mana Selé estava meio


estranha naquele dia, nunca a mana Selé tomava café, alias,
odiava, somente o cunhado Sílvio atrevia-se a tomar aquilo,
por isso demorava bastante aqui em casa porque só o
cunhado Sílvio tomava quando voltava do distrito.

O cunhado Sílvio deve estar aqui, chegou a noite, sim por


isso a mana Selé levou o seu café para o quarto, ele deve
estar cansado e com muita fome — pensei — Mas porquê o
cunhado Sílvio não ligou? Ele sempre comunica quando
está para vir, porquê não comunicou naquele dia e porquê
chegou tão tarde? — Interrogava-me — talvez tenha
chegado tarde por causa do transporte, esses
machimbombos de agora são todos podres não custam
avariar — conclui.

Estava cansada e não me apetecia comer nada a aquelas


horas da madrugada, mas pelo menos estava feliz em ter
ajudado a mana Selé a preparar aquelas coisas para o
cunhado Sílvio, coitado! Devia estar com muita fome o
cunhado Sílvio, a viagem deve ter sido um total desastre.

15 | P á g i n a
Depois da mana Selé ter levado aquelas coisas para o
quarto, me deitei no sofá da sala, naquele instante eu estava
cansada mas meio tranquila porque havia ajudado a mana
Selé a preparar algo para o cunhado Sílvio comer a aquelas
horas da madrugada.
Não tardou muito para que aquela meia tranquilidade se
esvaísse num instante. De repente vi passar pelo corredor
um homem meio claro usando a toalha da mana Selé, se
dirigia a casa de banho interna.

O meu coração bateu forte um instante, eu conhecia aquele


homem e ele não era o cunhado Sílvio
— Bom dia! — Me cumprimentou o estranho homem
enquanto ia passando por mim

Fiquei tartamuda e paralisada enquanto olhava para o


estranho homem ir a casa de banho, naquele instante senti
um forte aperto aqui no peito, era ele, eu não gosto dele,
não gosto daqueles olhos tão grandes, metiam-me medo
aqueles olhos. Era ele, o amigo da mana Selé.

Naquele momento compreendi tudo, tudo e mais nada,


aquele homem era mais do que um simples amigo da mana
Selé. Levantei-me e fui ao meu quarto, tentei me deitar e
fingir que nada havia visto, mas, a imagem daquele homem,
vestindo a toalha da minha irmã não me saia da cabeça,
aqueles olhos tão grandes, metiam medo aqueles olhos.

Não acreditava no que os meus olhos acabavam de ver, por


um instante fiquei com náuseas, mas que merda a mana
Selé estava fazendo? Um homem dentro de casa? Um
amante em sua cama? Santo Cristo! — Peguei a cabeça

16 | P á g i n a
Não consegue sair, fiquei trancada no quarto até que o
amigo, amante, ficante, não sei como podia chamar a aquele
homem, pois, não sabia a sua real relação com a mana Selé,
mas fiquei trancada no quarto até que ele fosse embora.

Ainda era cedo, no bairro todos estavam dormindo, o frio


matinal tornava as pessoas fiéis prisioneiros dos lençóis,
todos estavam dormindo, todos, menos o Bobi, o cachorro
do tio Djho e a velha Marina. A vovô Marina as vezes
acordava muito cedo e se preparava para ir a machamba,
foi quando ouvi uns passos no corredor, era a mana Selé e o
seu amante, a mana Sele apagou a luz da sala e a luz de fora,
depois abriu a porta, saiu e espreitou para a estrada e tudo
quanto era canto, estava calmo e frio, ninguém ainda estava
acordado menos o Bobi, o cachorro do tio Djho e a velha
Marina. Percebendo que não havia perigo algum lá fora, a
mana Selé entrou abraçou o seu amante e lhe despediu com
um beijo profundo, quente e molhado, em seguida abriu a
porta e partiu, feliz.

Depois daquela noite, muitas outras noites iguais se


seguiram, a mana Selé estava viciada naquele homem, eu
não gostava dele, não gostava daqueles olhos tão grandes,
metiam medo aqueles olhos assim tão grandes. Queria dizer
a mana Selé que o que estava a fazer era pecado, mas, tinha
medo que a mana Selé me mandasse embora, para lá, na
casa da mamã, por isso me calei e nada comentei com
ninguém sobre o que vinha vendo.

Naquele dia que a mamã deu um sermão a mana Selé por


ela aparecer de carro aqui em casa, a mamã disse para ela
que tudo quanto estava encoberto seria um dia descoberto,

17 | P á g i n a
pensei que fosse mais uma ameaça da mamã para colocar a
mana Selé na linha, sim, porque a mamã diz muita coisa
quando alguém faz uma asneira, e as vezes penso que ela
inventa só para colocar-nos na linha. Nunca pensei que
aqueles conselhos, que aquelas palavras fossem uma luz,
um aviso protegendo-nos do perigo.

O cunhado Sílvio nada suspeitava, a mana Selé era


especialista em fingimento, não sei onde aprendera ou de
quem herdara aquelas inclinações tão facínoras, conseguia
arquitectar tudo de maneira tal, tão profissional que
ninguém no bairro nem o cunhado Sílvio suspeitava que
entrava ali a noite um homem na sua casa, em sua cama, em
seus lençóis, com o corpo da sua mulher se saciava e na
madrugada se retirava.
Dizem os sábios: podemos enganar muita gente em muito
tempo, alguns em algum tempo mas não podemos enganar
ninguém em todo tempo.

Eram 03:27 de madrugada quando alguém bateu a


porta.

Era uma noite fria de quarta-feira, eu e a mana Selé


jantávamos assistindo novela. Na noite anterior eu lembro-
me de ter tido um sonho, era um sonho estranho em que vi
a mana Selé sentada num claro do quintal da mamã a
chorar. Em seus braços, carregava uma criança que também
chorava. Queria contar aquele estranho sonho a mana Selé
mas tinha medo, a mana Selé não gostava que lhe
contassem aquele tipo de coisa.

Depois de jantar e a novela terminar, fui me deitar, a mana


Selé ficou na sala uns minutos a mexer no seu celular, então

18 | P á g i n a
eu soube que a mana Selé esperava mais uma vez pelo seu
amigo, era sempre assim, sempre que a mana Selé ficava na
sala depois das 22h mexendo no seu celular, sem antes
trancar as portas, toda preocupada, saindo e olhando o
movimento lá fora, esperava pelo seu amigo.

Naquela noite não me sentia bem, não pegava sonos, algo


me incomodava e não sabia o que era, tinha um
pressentimento estranho de que algo iria acontecer, o meu
olho esquerdo na tarde daquele dia piscava sozinho sem a
minha mediação, a minha colega Bina me contou que
quando os nossos olhos piscam sozinhos sem a nossa
mediação é porque eles estão nos alertando sobre algo que
vai acontecer muito em breve, ela também me contou que a
coisa poderia ser boa ou má conforme o olho que piscava.
Ela contou que um dia quando ia a escola o seu olho direito
também piscava sozinho e pela estrada ela apanhou
dinheiro. Desatei-me a rir naquele instante, a irmã da Bina,
a Jessica, dizia que ela não batia muito bem lá da cabeça,
sim, porque a Bina dizia muita besteira.

Fiquei pensando no que disse a minha amiga Bina naquela


tarde, sim ela não batia muito bem lá da cabeça e dizia
muitas besteiras, mas se o que a Bina me contou estivesse
prestes a se tornar real? O que de ruim poderia acontecer
comigo a aquelas horas da noite? Porquê o mal me bateria a
porta? Fiquei pensando

Talvez não fosse acontecer comigo, talvez fosse acontecer


com alguém da minha família com a mamã ou com a mana
Selé, mas a mamã estava bem de saúde e a mana Selé
também, o cunhado Sílvio também estava muito bem e

19 | P á g i n a
partiu na segunda-feira muito saudável e ligou dizendo que
tinha chegado bem.

Naquele todo processo de tanto pensar apanhei sono e


dormi sem que me apercebesse.
O que nem eu nem a mana Selé sabíamos, era que o
cunhado Sílvio não tinha viajado naquela segunda-feira, ele
não apanhou o machimbombo para ir trabalhar no distrito,
o que não sabíamos, era que o cunhado Sílvio vigiava a casa
carregando uma catana todas as frígidas noites daqueles
dias.

Não sei como o cunhado Sílvio ficou sabendo sobre os


bárbaros pecados que a mana Selé executava aquando a sua
distante ausência, não sei como as informações chegaram
até ao cunhado Sílvio se a mana Selé era tão cuidadosa e
tinha a noite, a escuridão a sua aliada?

Eram 03:27h de madrugada, eu dormia feito uma pedra


embalada nas minhas calorosas mantas pesadas e no meu
colchão fofinho de sumaúma que o cunhado Sílvio
comprava para mim quando vim aqui morar. A mana Selé
também devia estar agasalhada nos braços do seu amigo de
olhos grandes, não gostava daqueles olhos, metiam-me
medo aqueles olhos tão grandes assim a olhar. A mana Selé
devia estar quentinha nos braços do seu amigo depois de se
afogarem em beijos e amaços naquela longa e frígida noite,
sonhavam, talvez.

De repetente, no meio daquela madrugada tão fria e


sossegada, esperávamos o nascer do sol, um novo
amanhecer tão cheio de luz e paz, o que não esperávamos

20 | P á g i n a
era um triste amanhecer, o começo de um amanhecer cheio
de dor e tristeza.
Comecei por ouvir um leve bater de porta, depois uma voz
que gritava dizendo para mana Selé abrir a porta.
— Abri a porta Selé! Abri a porta! — Gritava alguém
batendo a porta com muita força.
— Abri a porta…

Me levantei da cama e prestei atenção para saber quem


gritava e batia a nossa porta com tamanha fúria a aquelas
horas de madrugada. Liguei a luz do quarto e me foquei no
timbre da voz
— Abri a porta Selé! abri…

Meu coração bateu forte naquele instante, o timbre daquela


voz era a do cunhado Sílvio, era ele quem com muita força,
batia a porta.

A mana Selé levantou-se com o seu amante, abriram a porta


do quarto e ficaram no corredor, abri a porta do meu
quarto e me dirige também ao corredor. A mana Selé estava
ali toda petrificada, mesmo com aquela temperatura frígida,
caiam-lhe gotas de suor pelo corpo.
— Abri essa porta Selé! Você vai me explicar bem quem é
este homem com que me trai todas as noites… — gritava o
cunhado Sílvio todo enraivecido
— Abri a porta Selé! Eu vou matar este gajo, eu lá no
distrito a trabalhar e ele aqui na minha casa, a foder a
minha mulher? Abri esta porta! Eu vou trabalhar com ele…

O cunhado Sílvio batia a porta de tal maneira que fazia


estremecer a casa toda, o amigo da mana Selé estava ali
todo vermelho ao ouvir os gritos enfurecidos do cunhado

21 | P á g i n a
Sílvio vindo de lá de fora. Ele ali dentro, parecia um rato na
gaiola, andava de um lado para o outro com o coração
pulando-lhe pela boca, por um instante, fiquei com pena
dele.
— Eu vou matar este gajo, este fedaputa hoje não vai sair
daqui com vida, eu juro alma da minha mãe que está no
cemitério! — gritava o cunhado Sílvio lá de fora

O cunhado Sílvio contornou a casa e veio a janela do meu


quarto.
— Bibiana! — Gritou ele
— Bibiana, abri a porta por favor!

A mana Selé toda com calor, tremendo e aflita, pegou os


meus braços e pediu para que eu não abrisse a porta. Olhei
para ela um instante e deu-me pena ver a mana Selé
naquela situação.
O suor que caia do corpo dela era tanto que inundaria a
casa se ali permanecêssemos por muito tempo. A mana Selé
andava de um lado para outro, ora pegava a cabeça ora o
peito e a barriga, deu-me pena ver ela ali assim toda
desesperada, até achei por um instante que a mana Selé
pudesse cagar ali e deixar o corredor todo fedido.

De tantos gritos e o barulho que o cunhado fazia, veio para


o quintal todo o bairro, ouviam-se vozes lá de fora.
— O que aconteceu?
— É a Selé…
— ãh! o que fez?
— Também não sei, acho que está com homem dentro…

22 | P á g i n a
Apareceram alguns vizinhos que pediam ao cunhado Sílvio
para se acalmar, mas o cunhado Sílvio não se acalmava, não
havia coisa que o acalmasse naquele instante.
— Selé abri-me esta porta se não eu vou incendiar a casa —
gritou o cunhado Sílvio

O povo gritava, ouviam-se risos e comentários femininos lá


de fora.
— Mas Selé também é maluca esta gaja pha! Como é que
leva homem para dentro?
— Não é isso?!
— Epha vocês mulheres são todas putas pha!! Não dá para
vos confiar — disse uma voz masculina revoltado com a
situação.
— Puta é sua avó, seu estúpido! — Respondeu alguém no
grupo das mulheres.

Depois de tanto bater a porta e não conseguir arrombar, o


cunhado Sílvio pediu a uns jovens ali fora para que o
ajudassem a rachar a porta. Trouxeram paus, martelos e
mão de pilões, conseguiram rachar a porta.

Quando a porta rachada, o cunhado Sílvio entrou, em seu


rosto, só ódio, em suas mãos um velha catana.
Vi uma porrada esvoaçar na cara da mana Selé e ela cair do
outro lado, o seu amigo ao ver a fúria do cunhado Sílvio,
tentou escapar saindo correndo pela porta, mas a sua fuga
foi sem sucesso porque foi de imediato pego pelos jovens
do bairro.

— Vamos amarar esse caralho que dorme com as nossas


mulheres — gritou um homem ávido para bater o amigo da
mana Selé.

23 | P á g i n a
— Ninguém aqui vai ser amarado — disse o outro.

Uma confusão pairou naquela triste madrugada, pegaram o


cunhado Sílvio e acalmaram-no com os seus amigos para
que não fizesse besteiras, ele estava abatido sem forças e
umas lágrimas lhe caiam do rosto, ele chorava gritando:
porquê meu Deus? Porquê meu Deus?

Deixaram o amigo da mana Sele ir embora a salvo, pois o


secretário do bairro ordenou que não tocassem nele, o
homem partiu envergonhado, pois era um homem casado e
muitos o reconheceram e conheciam a sua esposa e seus
filhos.

A mana Selé não saiu para fora naquele dia, ela estava
desconsolada. Depois de cozinhar levei o almoço para ela,
mas ela não comeu, ficou ali parada no mesmo lugar até
anoitecer. Aproximei-me dela um instante para consola-la,
e céus! Jamais vi coisa selvagem com pena se si mesma.

Depois de se aconselhar naquela tarde com os mais velhos,


o cunhado Sílvio decidiu que deixava a mana Selé, apesar de
algumas pessoas mais velhas, seus amigos, e pessoas
religiosas o terem aconselhado a não abandonar a sua
mulher argumentado que ela não foi culpada porque tinha
sido tentada pelo diabo, o cunhado Sílvio não aceitou, para
ele não tinha perdão o que a mana Selé lhe havia feito.

Naquela tarde, arrumei as nossas coisas e coloquei numa


basta as minhas roupas e na outra as da mana Selé,
partiríamos a noite para lá na casa da mamã com a
segurança da escuridão que esconderia um pouco as
vergonhas que carregávamos.

24 | P á g i n a
Depois de jantar, fui despedir o cunhado Sílvio, foi uma
despedida muito triste gostava do meu cunhado e nunca
pensei que um dia pudesse dizer um adeus para ele.
Quando ia sair, o cunhado Sílvio pediu que esperasse um
pouco, pois pretendia me entregar algo. Foi ao quarto e
trouxe um envelope consigo, me entregou e disse que ali
tinha dinheiro suficiente para que a mana Selé pagasse as
suas mensalidades de dois anos no instituto de saúde.
Abracei o cunhado Sílvio e agradeci-lhe bastante, sai para a
varanda, Carreguei as nossas malas, a minha e a da mana
Selé e partimos.

Quando chegamos a casa da mamã, a mamã nada disse,


olhou para mana Selé um instante e começou a chorar, não
teve a coragem de me ajudar com as malas porque não
trazíamos nada na bagagem, senão, tristeza e dor.

Acomodamo-nos na humilde casa da mamã, ali onde


crescemos. O pior não foi o candeeiro à petróleo, a cozinha
à lenha ou a humilde refeição que as vezes partilhávamos
naquela modesta casinha de caniço da mamã, o pior, foi
quando a mana Selé confirmou depois de dois meses que
aquela casinha acomodaria mais um bebezinho cujo pai que
negara assumir a barriga era o mesmo que lhe trouxera
desgraças no seu casamento. A mamã não aguenta, ela só
chora.

25 | P á g i n a
26 | P á g i n a
As Leves Ancas da Perdiz

27 | P á g i n a
I. Capitulo

Cantara o primeiro galo quando Sara acordou, como


sempre, para dar os remédios à sua mãe. A velha estava
desfigurada, aquela doença desconhecida estava acabando
com o seu corpo. Estava morta, diziam, o espírito há muito
se tinha ido descobrir com os antepassados, ali naquela
cama só restara o seu corpo apodrecendo.
— Acorda mãe! — Proferiu a donzela, preparando as ervas.

A menina olhou um instante para sua mãe naquele estado


toda esfalfada com o sofrimento. A doença há muito não
passava, mil galos e bodes foram sacrificados e banhado o
corpo da velha com inocente sangue das aves, mas nada
desaparecera.

Lá fora, o selvagem frio da madrugada, castigava


impiedosamente a aldeia. Em sua humilde cama, tossiu a
velha com tamanha força que se encheu de sangue o quarto
e a palhota toda.
— Vou morrer filha — disse a velha com os olhos
despedaçados.

Rolaram tristezas nos olhos da donzela, os ventos do


infortúnio sopravam. Depois do seu bravo pai, agora a sua
mãe também partiria em descanso, junto aos antepassados.

Como as brisas em passagem, assim passavam os dias


e a linda donzela se tornava cada vez mais formosa,
alargavam-se as suas ancas e os seus seios a uma média
papaia, agora, se equiparavam.

28 | P á g i n a
Numa tarde, as horas das dezasseis, dançava sara num
fresco da floresta. Praticava os seus movimentos, pois, se
preparava para a grande competição de dança entre aldeias
que se realizaria na primeira noite da primeira lua cheia.

Ainda morria a sua querida mãe, naquela isolada palhota,


na cama que a agora tinha a cor encarnada, um pavoroso
rubro.

O conselho dos anciões se reunira mais uma vez para


trazer soluções à doença da velha.
— Isso é uma maldição, os espíritos estão encolerizados,
que doença é essa que não passa? Proponho que a
expulsemos destas terras antes que a doença se alastre
para as outras mulheres.
— Eu também concordo!
— Proponho que chamemos o Nhamessoro das montanhas.
— O quê? Nem pensar, da última vez que faltou chuva
nestas terras, este feiticeiro não trouxera soluções, dormira
com donzelas virgens na palhota grande, comera e bebera
mas a chuva não trouxera, duvido que este traga soluções
— contrapôs um dos anciãos.

Ordenado pelo ancião chefe, trouxeram o Nhamessoro das


montanhas, este com suas bugigangas, entrou na palhota
ensanguentada da mãe de Sara, ele e a Donzela.
O feiticeiro mexera em seus encantos, dilacerara pescoços
de bodes e jogara sangue na palhota inteira, falava línguas e
uma fumaça esvoaçando a palhota.

29 | P á g i n a
Enquanto tratava dos seus encantos o Nhamessoro não
evitara olhar as curvas do corpo da donzela ali ao seu lado,
espreitava-lhe as ancas, os peitos e os lábios.

No final do dia, saia o feiticeiro da palhota, altivo, como se


de um Deus se tratasse.
— É a doença do Makuku. Posso curar — proclamou o
Nhamessoro.

Encheu-se de luz e alegria a aldeia toda, brilharam os olhos


da Sara como duas estrelas no meio da noite, voltara a
esperança em seu peito, suspirara de paz.

Prepararam a palhota grande, assaram aves, trouxeram


bebidas, as mais bem fermentadas. Comida e bebida, o
feiticeiro deleitou-se descansadamente na sua enorme
palhota.

Já a lua no alto, estavam as moças ali no canto, a volta


da fogueira, conversavam, quando de repente uma voz com
um timbre metálico ecoou no alto, era o velho Mokala,
chamando as moças.

As donzelas se aproximaram, o velho espreitou os seus


corpos, observou os seios, as ancas e escolhera duas das
donzelas. — Vamos! — Proferiu o velho já com os passos
avançados.
— Para onde vamos? — Perguntou uma das donzelas à
outra, enquanto seguiam o ancião.
30 | P á g i n a
A outra não respondera, mas ambas viram o velho
caminhar em direcção a palhota grande. Era ali que estava o
feiticeiro, já satisfeito, saciado com as delícias, as iguarias
da aldeia, agora era a hora de satisfazer os seus apetites
sexuais com frescas virgens a sua escolha.

— Entrem! — Ordenou o velho Mokala.


Entraram as donzelas na palhota grande, o ancião se
curvara diante do feiticeiro em seguida se retirara deixando
as donzelas ali.

Levantou-se o feiticeiro, com o ar sombrio e poderoso,


espreitou o corpo fresco das donzelas ali na sua palhota.
Algo estava errado, mudou-se o semblante do feiticeiro, não
tinha entre as donzelas a donzela que ele desejava — quero
a donzela que estava comigo na palhota! — Gritou o
Nhamessoro, altivo — tragam-me aquela donzela!
Retiraram-se as duas donzelas e foram a busca da desejada.

Sara, estava na palhota da sua mãe, fazendo-lhe companhia,


olhava para ela e se lembrava dos tempos distantes, quando
ela era uma menininha amarada com uma capulana ao colo
da mãe e ali naquele colo embalador baloiçava de um lado
para outro.
— Farei de tudo para salva-la mãe — Disse Sara, limpando
o suor que escoria no rosto da velha.

31 | P á g i n a
II. Capitulo

Ainda Sara estava na palhota da mãe, quando chegou o


ancião para leva-la e servir aos anseios, aos apetites sexuais
do majestoso feiticeiro das montanhas.
— O Nhamessoro vos chama, minha donzela! — Disse o
velho Mokala — precisa vir agora! — Acrescentou.

A noite ainda adulta, as brisas nocturnas deixavam aquela


noite fresca e calma. Sara levantou-se, pois, o grande
feiticeiro que livraria a sua adorada mãe daquela doença
infernal, à solicitava em seus aposentos, para saciar os seus
apetites sexuais.

Quando a donzela aprontou os passos para se dirigir com o


ancião à cobertura do Nhamessoro, a mãe a pegou pelo
braço.
— Não vá filha! — Disse a velha com a voz débil.

A inocente donzela recuou e tornou a ajoelhar ao leito da


mãe, olhou para ela mais uma vez, estava muito doente
— Não se preocupe mãe, volto já — disse a moça
Porém, a velha insistiu que a sua amada filha,
permanecesse ali ao seu lado.

— Não vou amanhecer — disse a velha com os olhos sem


alma — não chegarei a ver o sol novamente filha…
— Não fala isso, mãe! — Pingaram lágrimas nos olhos da
donzela — o Nhamessoro irá curar a senhora, drenará toda
essa cruel dor para fora do teu corpo mãe! — Disse a
donzela desesperada.
— Não! O seu pai está aqui, veio buscar-me — disse a velha
agarrando as mãos da filha
32 | P á g i n a
Nos olhos da donzela, só tristezas — não chores filha!
— Disse a mãe — eu não te deixarei só, sempre que
precisares de mim olhe para o céu, também estarei olhando
para te minha filha…

De repete, enquanto a velha proferia aquelas palavras, um


silêncio acompanhado de um ar frio, invadiram a aldeia
naquele instante.
Aquela calmaria em noite, assustava, deambulavam ali
espíritos, visitando a velha terra.

Não tardou muito, o sol nem havia raiado, ouviram-se


fortes gritos vindo da palhota da mãe de Sara, era ela que
chorava.
Ninguém se deu a maçada de perguntar o que havia
acontecido, pois estava claro para todos até para os mais
novos.

Ouvindo Nhamessoro a notícia, enfureceu-se bastante,


pois, a donzela, a apetitosa perdiz lhe fugiu das suas
poderosas mãos, porém, não parou por ali o feiticeiro,
negociou com os anciões prometendo trazer soluções aos
inúmeros problemas que assolavam a aldeia, como a falta
de chuva que provocava a seca e matava os gados. O
feiticeiro também prometeu trazer vitoria à aldeia, na
grande competição de dança. Faria tudo isso se lhe dessem
a linda jovem virgem que a sua alma tanto almejava.

Contudo, por mais promessas aliciantes que fizesse, o


Nhamessoro, nada lhe era dado, a sua incompetência há
muito e há muitos se tinha revelado. — Prometo que irão se
arrepender — jurou o feiticeiro levantando-se

33 | P á g i n a
Partiu furioso e humilhado, Nhamessoro, sem nada de
virgens donzelas conseguir.

Depois de a dor ter passado, em um fresco e escondido


canto da floresta, praticava Sara os seus movimentos de
dança, pois, aproximava-se a grande competição e, como
chefe do seu grupo, exercitava as suas ancas e peitos.

A donzela era boa em seus movimentos, porém, o público


adorava, Zarina, a chefe do grupo da aldeia vizinha, ela sim
era a estrela do povo, todas as vezes que este grupo levou
as 320 cabeças de vaca, foi por sua causa, chamavam-lhe,
Zarina, o cisne negro.

Zarina conseguia levar o público à loucura com seus


movimentos encantados, quando o cisne negro entreva em
cena, até as guerras paravam para assistir ela requebrar-se
ao som do tambor. Zarina era a única, a temível ameaça
para todos os grupos.

— Nunca ganharemos as 320 vacas, não deveríamos


arriscar em pagar 60 cabeças para sermos eliminados na
primeira volta, deviam poupar essas cabeças, não sabemos
se a seca pode vir a se prolongar — reclamava o povo.

As vezes, em noites, quando a saudade batia forte e a


alegria fugia, a tristeza lhe fazia companhia, Sara, olhava
para o céu e uma estrela brilhava para ela, era a sua mãe,
então ela sorria um instante e a alegria voltava a lhe fazer
companhia.

Quando a primeira lua cheia deu sinal da sua


comparência naquela noite, prepararam-se os grupos, o

34 | P á g i n a
grupo de Sara também preparou-se, foram abençoadas pelo
ancião mais velho — Tragam-nos vitoria! — Disse o ancião
olhando para Sara, em seguida, se retirou.

O grupo da Sara partiu ao terreiro da competição, o campo


estava cheio, veio todo mundo assistir a grande competição
anual, o povo gritava, ávido para mais uma alegria.

Sara, estava ali no canto, orientando o seu grupo, nisto,


passava por ali o cisne negro e o seu elenco, e vendo ela
Sara de longe, aproximou-se, ela e suas sequazes.

— Então és tu, a tão falada perdiz das ancas leves? —


Perguntou Zarina com um ar irónico.

Sara nada respondeu, mas ficou encarando a sua


adversaria, o que provocou a fúria na gloriosa cisne negro.

— O que foi? Não tem medo de mim hein? Não tem


respeito, quem você pensa que é? — perguntou Zarina,
aproximando-se com o ar impetuoso.

O cisne negro e a perdiz ficaram ali se olhando um instante,


como duas cobras defrontando a mesma presa.

— Se você tem algo para resolver com a Sara, resolva na


roda! — gritou alguém no grupo da Sara.

De repente o apito tocou, prepararam os tambores e


batuques
— Zarina! Seremos as primeiras — gritou alguém no grupo
da Zarina.

35 | P á g i n a
Logo o aglomerado se desfez, Zarina e suas sequazes se
retiraram dali e se posicionaram no centro junto ao grupo
adversário.

Como mandava a tradição, as representantes dos


grupos eram as primeiras a começar, seguindo os outros
elementos. Zarina e a chefe do grupo adversário entraram
na roda, o povo gritou de alegria ao ver Zarina ali na roda, o
seu nome ecoava na boca do povo.
Tocou-se a primeira batida de tambor, e as moças
puseram-se a dançar. As ancas e os movimentos da
adversária eram bons, porém, os de Zarina eram excelentes.
Zarina requebrava-se como uma serpente encantada, ao
som da Marimba, do tambor, do batuque, os seus
movimentos eram tais que enlouqueciam o povo e deixava
a plateia toda de joelhos.

Enquanto o mundo clamava o nome da Zarina, o cisne


negro, Sara espreitava-lhe de longe, os movimentos
espectaculares, nunca antes vistos — ela é boa — disse Sara
no seu íntimo.

A plateia estava agitada, todo mundo queria ver de perto


doces donzelas requebrarem-se ao som dos tambores,
jovens e velhos, todos queriam.
— Olha! É o Nhamessoro, ele está sentado na mesa dos
jurados — disse o velho Mokala, apontando para a mesa
dos jurados.

36 | P á g i n a
III. Capitulo

As donzelas levantavam poeira nos seus movimentos


fascinantes tentando provar ao público quais das duas era a
melhor, Zarina, como sempre, sabia como agradar o ávido
público, bastava um instante, pousar aquelas enormes
ancas avantajadas em movimentos provocantes como se
estivesse na cama, isto era suficiente, levava os homens
todos a loucura fazendo-os gritar pedindo por mais e mais.
As vezes na sua astúcia, fazia tais movimentos provocantes
em frente dos jurados que também sorriam aplaudindo.

— Sem chance, Sara! Eu juro que não ganharemos, olha


como o publico grita para a Zarina! Ela é a rainha de tudo
isso — disse Selé, uma dos elementos do grupo de sara
desesperada com o grito da plateia.
— Cale a boca! — Repudiou a outra

Cessaram os tambores, Suadas, as donzelas imobilizaram-


se, o publico gritou de felicidade, de longe Sara assistia
preocupada. Estava claro feito dia, as 320 cabeças, iriam à
aldeia da Zarina

Levantaram os jurados, em um tom solene, os seus votos


foram para a grande e majestosa Zarina, o cisne negro, o
povo gritou forte, concordando.

37 | P á g i n a
Zarina sendo aplaudida, dirigiu-se em direcção a Sara,
olhou nos seus olhos, sorrindo, lhe disse — vou
envergonhar-te na roda, sua cobra nova.
Em seguida se retirou desfilando com um ar sublime.

Sara ficou ali impotente, olhando a majestosa cisne negro


se retirar
— Sara, é a nossa Vez — gritou Selé.

Todavia, Sara não ouvia ao chamado da sua companheira,


olhava Zarina se retirar desfilando e gabando-se por entre o
povo.
— Sara! — Gritou Selé com mais força
Assustou-se a donzela — vamos! Ordenou ela.

Sara entrou na roda, a sua adversaria era mais experiente,


já duas vezes havia competido agora estava ali para acabar
com uma novata e ensinar-lhe a lição.

Tocou-se a primeira batida, Sara tremia naquela noite de


lua cheia, ela girou a cabeça e olhou de longe para sua
companheira Selé, procurava conforto — tragam-me vitoria
— as palavras do chefe ancião não saiam da cabeça da
donzela.

Tocou-se a segunda batida e as donzelas se puseram a


dançar, gritou o povo agitado
As donzelas encaravam-se tentando convencer ao público
quais das duas era a melhor.

Na sua experiencia e em seus movimentos espaventosos, a


adversária da Sara convencia o publico e este aclamava por
ela.

38 | P á g i n a
Sara tremia, vacilando e hesitando nos seus movimentos.

— O que ela está fazendo? — Perguntou alguém no grupo,


vendo Sara vacilar
— O que é isso Sara? Se continuar assim vamos para casa
— gritou Selé, lá de longe chateada.

Mais uma vez nesta luta


Nesta grande luta
Vencer ou perder neste dia
Viver ou Morrer neste dia
Você decide.

Era a estrofe que o seu bravo guerreiro pai recitava sempre


antes de partir a batalha contra os bárbaros, Sara
lembrava-se dele mais nunca entendera a essência
daqueles versos, até naquele instante ali na roda encarando
a sua inimiga.

Os tambores tocavam alto e mais alto, o povo gritava de


alegria. Sara, fechou os olhos, suspirou num instante, em
seguida decidiu vencer.

Então a donzela retocou a postura, acrescentou uma pitada


de sal aos seus fascinantes movimentos que logo, todo o
mundo se viu em total admirar.
— Quem é ela? — Perguntavam-se os jurados fascinados
com o requebrar do corpo da donzela.

Nhamessoro não pode evitar, de longe espreitava a donzela,


aquele corpo jeitoso, aquelas ancas delicadas, aqueles
mamilos balouçando, o suor em sua pele descendo entre os

39 | P á g i n a
mamilos parecendo o mel das abelhas… Nhamessoro
sonhava.

Cessaram os tambores, o povo mais uma vez gritou de


alegria, levantaram-se os jurados e em um tom solene os
seus votos foram a novata dançarina que agora prometia.
Gritou o povo em um tom forte validando o voto dos
jurados.

Sara foi carregada com o seu grupo, volteavam-lhe no ar


como se uma rainha fosse, o seu nome ecoava em tudo
quanto era canto. Zarina lá de longe, espreitava a vitória da
sua adversaria.
— Não te preocupes Zarina, ela não é nada, tu és a rainha —
disse alguém no grupo da Zarina

O evento foi se desenrolando, os grupos foram sendo


eliminados até que no meio da noite apenas dois grupos
sobravam, era a primeira vez que o grupo da aldeia de Sara
chegava ao final.

— Não vou deixar que você ganhe, sua cobra nova, tenha
medo… — ameaçou Zarina
— Eu não tenho medo de te, sua cobra velha — repostou
Sara impetuosa, escondendo-se atrás da Selé e das outras
donzelas do seu grupo.

A majestosa cisne negro encheu-se de fúria, foi uma


humilhação intolerável para sua formosa personalidade.
— O quê? O que você disse? Repete-la o que acabaste de
dizer? — Aproximava-se Zarina ardendo de fúria, enquanto
Sara, recuava escondendo-se dentro do seu grupo.

40 | P á g i n a
Os dois grupos se agitaram, quase que pairava naquele
instante uma briga fervorosa entre os membros dos grupos,
cada um defendia a sua rainha não importava se esta estava
dentro ou fora das razões. Viu-se o ódio nos olhos da Zarina
fervendo, pronta para explodir.

Tocou o tambor com o som grave, anunciando a presença


das dançarinas na grande roda final. Aprontaram-se as
meninas, desfazendo o aglomerado.

Apresentaram-se as meninas na grande roda, o povo


agitou-se gritando de felicidade, a perdiz das ancas
delicadas não via nada senão fúria nos olhos da sua
adversária cisne negro.

Sara como sempre tremia muito, tremia e tremia, não se


sabe de quem teria herdado aquele genes de tão tremer
muito, se o seu pai era um bravo guerreiro e a sua mãe uma
corajosa mulher.
Levaria para casa 320 cabeças de vaca o primeiro grupo
vencedor e o segundo grupo 120 , os restantes nada
lavariam.

Tocou-se a primeira batida do tambor, os batimentos


cardíacos nas entranhas da Sara aumentara, chegara a hora,
era a hora, mais uma vez os versos do seu guerreiro pai lhe
invadiram a mente:

Mais uma vez nesta luta


Nesta grande luta
Vencer ou perder neste dia
Viver ou Morrer neste dia
Você decide

41 | P á g i n a
Tocou-se a segunda batida e as rainhas se puseram a
requebrar, chegara a hora de provar ao mundo, qual das
duas era a melhor.

Zarina saracoteava-se como uma serpente em


encantamento e rebolava as suas enormes e pesadas
bundas, equiparadas com às de uma gazela.
Sara, em seus movimentos letais e aquelas ancas delicadas,
roubava todos os olhos só para ela.

Nhamessoro de longe não deixava de espreitar a doce


donzela com o hálito perfumado, que ele fervorosamente
desejava. Era seu estilo suave, a calmaria em sua alma, a
beleza em seu estilo de dançar e seu corpo que enlouquecia
a ele e ao mundo.

Zarina chicoteava-se agressivamente, desesperada ao ouvir


os gritos do povo que clamava o nome da Sara. Cambaleava
no areal, tirava da mala os seus melhores movimentos,
tanto se esforçava o cisne negro que quanto mais se
esforçava para vencer menos controlava a sua performance
e menos convencia o publico, Zarina. Enlouquecia. No ar, só
o nome da perdiz ecoando os quatro cantos.

Sara, sorria enquanto dançava, os seus movimentos eram


tais, formosos, espectaculares, sublimes que cativava o
povo todo.

Cessaram os tambores, as donzelas se imobilizaram, o


publico gritou, satisfeito, ávidos, que carregaram Sara para
cima, volteando-lhe no ar e gritando o seu nome.

42 | P á g i n a
Nhamessoro estava lá no alto, na mesa dos jurados,
sussurrou qualquer coisa nos ouvidos do seu colega mais
próximo, este olhou para ele com um olhar de desdém,
parece que não gostara o que o seu companheiro lhe tinha
proposto.

O grupo da Sara festejava, festejava e gritava. Em um certo


momento na altura da noite, os jurados levantaram-se,
todos os três, em uma voz solene o majestoso Nhamessoro
declarou o grupo da Zarina o vencedor.

Um silêncio pairou naquele instante, depois seguiu-se


um forte murmúrio entre o povo, parecia que o povo estava
insatisfeito, muitos consideravam injusto a declaração dos
jurados.

Nhamessoro no seu imponente título, argumentava


ferozmente tentado convencer ao povo, porém, o murmúrio
era enorme e nada que o feiticeiro dizia, se ouvia.

Não se sabe quem atirou a primeira pedra para o


Nhamessoro, alguns dizem que foi Selé, mas a verdade foi
que depois de aquela pedra bater no feiticeiro, muitas
outras lhe chicoteavam o corpo, o mundo viu o grande
Nhamessoro fugir para dento da floresta enquanto as
pedras o seguiam como abelhas.

Uma confusão pairou naquela noite de lua cheia, os outros


dois jurados em apuros, revelaram ao povo que
Nhamessoro os havia obrigado a participar daquela
mascarada, pois, os seus reais votos foram para o grupo da
Sara.

43 | P á g i n a
Deste jeito, os dois jurados foram obrigados a
considerar o desejo do povo e, o grupo de Sara foi
declarado vencedor.
Gritou o povo de alegria, os tambores rufaram, Sara e a sua
aldeia dançavam, dançavam e festejavam às 320 cabeças.

Lá de longe Zarina olhava para Sara com receio, desejava


lhe falar algo, mas, partiu sem nada dizer, ela e seu grupo.

Sara, era agora o novo orgulho da aldeia, o seu nome soava


em todo canto daquela humilde aldeia onde ela nascera.
Depois de tanto voltear pelo ar nas mãos do seu povo,
finalmente ao amanhecer foi deixada pisar a terra firme.

Sara caminhou até a um fresco e isolado lugar da aldeia. A


donzela desejava que os seus pais estivessem ali consigo e a
vissem vencer, então a menina olhou para o céu na
esperança de ver alguma estrela brilhar para ela, mas isto
não aconteceu, as estrelas haviam se retirado cedo de mais
naquela dia, então a donzela suspirou um instante e
olhando para o chão, os versos do seu bravo guerreiro pai
invadiram-lhe mais uma vez a mente.

Mais uma vez nesta luta


Nesta grande luta
Vencer ou perder neste dia
Viver ou Morrer neste dia
Você decide

44 | P á g i n a
A Filha do Regulo

45 | P á g i n a
I. Capitulo
Pedro, era um jovem licenciado em saúde e nutrição e a sua
bela e formosa esposa Paula, era uma técnica de medicina
geral e trabalhavam ambos na cidade. O casal tinha uma
casa própria, um carro e dois filhos, uma menina e um
menino. Eram felizes, mas por vezes, pingavam tristezas
nos olhos da Paula, quando bisbilhotando o celular do seu
esposo via por vezes conversas de namoriscos entre seu
esposo e jovens mocinhas. Paula se irritava bastante, não
gostava daquela atitude do seu esposo, mas, as mensagens
não eram o pior, uma vez Paula caiu desmaiada quando
recebeu na sua casa uma mocinha que dizia estar grávida
do seu esposo, a mocinha alegou não saber que o
nutricionista era casado, deixou-se engravidar porque o
jovem nutricionista à tinha enganado muito bem, lhe
prometendo em casamento, contou a mocinha. O pior para
Paula era saber que o seu esposo teria um filho fora do
casamento, fruto do seu comportamento astuto e
irresponsável.

Numa madrugada de domingo, Paula acordou, arrumou as


roupas do seu esposo e pô-las numa mala, preparou algo
para ele comer durante a viagem e colocou numa marmita.

Pedro juntamente com seus três colegas, tinham sido


contratados por uma empresa não governamental (FGH)
para trabalhar na área de nutrição durante seis longos
meses no interior dos distritos de Magude, Muanza e
Namacura. Pedro fora indicado à Magude e os seus colegas
foram indicados aos restantes distritos.

46 | P á g i n a
Depois de tudo arrumado, Paula voltou à cama, deu uns
carinhos ao seu esposo e entregou o seu corpo para que ele
se saciasse um instante antes de partir.

Depois de deixa-lo saciado, Paula, acompanhou o seu


esposo à paragem. Conversavam e namoravam enquanto
esperavam a chegada do carro. Quando o carro chegou,
Paula olhou um instante para Pedro seu marido e lhe
conhecendo, pediu para que se comportasse bem lá onde ia
trabalhar.
— Amor! É para lá ires trabalhar, não é para lá procurares
outras coisas, concentrasse no seu trabalho… — Disse
Paula olhando bem nos olhos do jovem seu esposo —
Lembre-se de mim e dos nossos filhos, nós te amamos
muito e ficaremos à sua espera — acrescentou beijando-o
na testa

Pedro se despediu da sua querida e amada esposa e partiu


rumo à uma tradicional vila no interior do pais, ali o jovem
trabalharia durante seis longos meses.
Pedro, um homem inteligente, bonito e finório, tinha entre
seus amigos a fama de conseguir ter em sua cama a mulher
por quem se interessasse. Apelidaram-no Paganhine,
porque da bubuta, não se cansava. Quando a sua presa não
caísse em sua rede com os seus encantos físicos, caia então
com suas grandes e enganosas lábias.

Depois de muitas horas de viagem, Pedro finalmente


chegou ao seu destino, uma vila no interior de um
longínquo distrito, hospedou-se numa luxuosa residencial a
custos da empresa. Ali, o jovem doutor firmou o seu novo
lar.

47 | P á g i n a
No dia seguinte, depois do trabalho, o jovem doutor deu
umas voltas pela vila, apreciou o ar, as paisagens e o mais
importante as mulheres daquele lugar, sentou-se num bar
ao relento e ali tomou umas cervejas enquanto apreciava o
ambiente.

Sendo um homem de muita conversa, rapidamente o jovem


nutricionista fez muitas amizades com pessoas locais e
vientes como ele. Dentre estas amizades, Pedro achegou-se
bastante ao Aurélio, um professor na escola secundária de
Magude. Aurélio conhecia toda a vila e como as coisas ali
funcionavam.

Num dia ao entrar da noite, estava o nutricionista num bar


a beber, quando de repente, viu uma linda moça que por ali
passava regressando do mercado. Os encantos físicos
daquela mulher eram tais que deixaram o jovem doutor
interessado por ela. Imediatamente o doutor Pedro com o
ar de moço da cidade, à solicitou um instante de atenção,
porém, a linda moça não se fez parar, continuou andando
desculpando-se de que estava atrasada.

Pedro ficou ali a olhar para aquela mulher enquanto ela ia,
ficou a olhar para aquele rabo alavancado, aqueles seios
tesos, aqueles lábios rubros selvagens, aquela pele macia,
brilhante e aquele ar natural, parecia uma deusa.
Naquele instante, o jovem nutricionista ligou para o seu
homólogo Aurélio, o que muito conhecia a vila, Procurava
saber quem era aquela formosa jovem moça que chamou a
sua atenção.
— Como é que ela é? Me explica bem… — perguntou
Aurélio do outro lado do celular

48 | P á g i n a
— É um pouco preta, lábios carnudos, tem umas pernas
grossas e um rabo grande.
— Amarou um fio de missangas na perna?
— Ya! A gaja amarou…
— Ah! Conheço essa ai! Nome dela é Luísa e é a filha mais
nova do régulo, relaxa! Quando eu estiver a largar, passo
dai para te pegar, daremos umas voltas e aproveito para te
mostrar onde a gaja vive — disse Aurélio.
— Ok! Vou ficar a sua espera meu mano, não me matrecar
então boss! — Disse o nutricionista, todo imprudente.

Mais tarde, passou Aurélio a levar o jovem doutor. Pelo


caminho, Pedro todo entusiasmado, procurava saber mais
sobre aquela aprazível jovem mulher.
— Mas a gaja não é muito bandida? — Perguntou Pedro
— Eh! Aquela gaja nunca lhe vi com homem algum, nenhum
gajo que veio aqui lhe comeu, me disseram que o pai é
muito complicado.
— Muito complicado como?
— Me contaram que é um velho muito drogado, muitas
pessoas da vila tem medo dele

Pedro e o seu amigo iam conversando, quando num certo


momento, de longe, Aurélio apontou para uma casa. — É lá
onde ela mora, aquela casa ai grande — disse Aurélio
apontando.
Ficaram parados ali um instante a olhar para aquela
enorme casa, depois giraram e partiram.
Na sua mente e no seu coração, o jovem doutor não estava
sossegado, imaginava-se a penetrar e a tomar aquele
deslumbrante e tentador corpo da filha de régulo.

49 | P á g i n a
O nutricionista em sua astúcia, arquitectou um plano para
conquistar a linda e iletrada jovem moça. Em seu veste
executivo, um relógio de ouro em seu pulso e um perfume
importado da Itália, fisgou ela numa esquina. Ficaram ali se
olhando eternidades, a formosa filha do régulo com receio
do doutor, tentou fugir o olhar, mas o experiente doutor
pegou ela pelo braço, de costas, a linda moça fechou os
olhos, pegou o peito e suspirou um instante, em seguida
tornou a restabelecer o olhar e sorriu um instante.

O doutor, convidou a jovem moça para um passeio, não


pode negar, no fundo a iletrada moça também se havia
derretido ao doutor. Foram eles pela sombra a conversar, a
linda jovem moça tremelicava diante do tão educado e
lindo cavalheiro.

Era aquele o quinto mês de trabalho, o jovem Pedro


esquecendo as instruções da sua esposa, andava de
namoriscos com a filha do régulo, porém, a linda e formosa
jovem não havia até aquele instante liberado nada mais do
que uns simples beijos. Apesar de não conhecer bem as
letras e os números, a jovem moça parecia mais esperta do
que nutricionista esperava.

O doutor, furioso, por não conseguir tomar aquele corpo até


aquele instante mesmo que muito charme jogasse e muito
fino se mostrasse, nada de bubuta lhe caia à rede,
arquitectou então um plano.

Foi num sábado a tarde, quando a jovem moça, depois do


almoço, limpa e perfumada, se fez à luxuosa residencial
onde estava hospedado o nutricionista. A formosa jovem

50 | P á g i n a
cedeu muitos e muitos beijos, mas, sempre recusava-se a
abri um instante as pernas.
— Eu sei que você és casado moço — disse a formosa
jovem

Pedro olhou um instante para a linda moça sentada ali na


sua cama, olhou para aqueles seios, aquelas coxas, o cheiro
que exalava. O doutor todo excitado com o pénis ardendo-
lhe lá nas calças respondeu:
— Quem te disse?
— Ninguém que me disse, eu sei moço, você és lindo, és
doutor, é possível não teres mulher?
— Não tenho…— disse Pedro
— ihh! niku swééé!! Queres me mentir? — Disse a moça
sorrindo
— Estou a falar verdade, estou sozinho e quero uma esposa
Levantou-se o doutor, com um tom de seriedade no rosto e
nas palavras, continuou — Se você se comportar bem,
quero te lobolar e te levar comigo à cidade.

A filha do régulo ficou tartamuda diante a aquelas palavras,


o doutor parecia estar a falar serio. O nutricionista se
aproximou dos lábios da jovem moça, com calmaria a
beijou fogosamente deitando-lhe na cama, naquele instante
a filha do régulo se comportando bem, deixou-se abrir as
pernas e o nutricionista sentindo o cheiro selvagem
daquela bubuta, se excitou bastante e tomou por completo.

A partir daquele dia a filha do régulo passou a se comportar


muito bem, cedendo a bubuta por tudo quanto era canto
para o seu carismático doutor, que ajudava as crianças
desnutridas lá no hospital e que em breve lhe lobolaria e
lhe levaria consigo à cidade.

51 | P á g i n a
A formosa jovem, encantada com o doutor e com as suas
boas intenções, contou então ao pai o grande homem que
tinha encontrado e o quanto estava apaixonada por ele.
Contou ao regulo que o homem com quem ela passavas as
tardes era um doutor bem-educado e pretendia lhe lobolar
e lhe levar consigo à cidade.
O majestoso régulo em sua prudência, mandou a sua
querida filha que convidasse o doutor a um almoço em sua
casa.

Pedro estava ali sentado com seu amigo Aurélio, tomavam


umas cervejas e Pedro contava ao seu parceiro como a filha
do régulo era gostosa, como era apertadinha e burra.
— Ya! A gaja era virgem meu mamo! Tem uma boa cena a
gaja, uma rata nice — disse Pedro
— Mas aquela gaja é difícil como é que lhe conseguiste?
— Lhe enganei a gaja, lhe disse que ia lhe lobolar, a pita
assim não sabe que este é meu ultimo mês aqui nessa vila,
daqui há pouco estou a bazar — disse Pedro, bebendo sua
cerveja.

Naquela tarde, veio à luxuosa residêncial Luísa, a filha do


régulo, estava ali para convidar o seu amado Pedro a um
almoço à sua casa. — O meu pai quer te conhecer! — Disse
a formosa jovem.

Pedro sabendo que nada de comprometimento queria com


o pai da Luísa, inventou que estaria ocupado trabalhando,
mas informaria o dia, assim que tivesse uma folga. — Disse
o jovem

52 | P á g i n a
Naquela tarde, afogaram-se na cama, em beijos e transas,
pois, sobrava apenas uma semana para o doutor Pedro se
retirar daquela vila e voltar para os braços da sua esposa e
dos seus amados filhos, por isso, aproveitava o máximo
daquele corpo.

Foi na madrugada de sábado, Pedro carregou as suas pastas


e pegou o primeiro machimbombo para casa. Partiu assim,
sem despedir a sua formosa e gostosa Luísa e sem um
almoço passar com o respeitado régulo.

Chegou à cidade ao por do sol, lá estavam na paragem a sua


esposa e seus dois filhos com muitas saudades, esperando
por ele.
Os seus filhos ao vê-lo de longe descer do machimbombo,
correram ao seu encontro, contentes, agarraram-lhe pelas
pernas, o doutor os carregou e os deu dois beijinho à cada
um.
A sua esposa se aproximando, deu-lhe um beijo e ajudou-
lhe com as bagagens.

Luísa ouvira naquele dia com amigas, contaram-lhe que


tinham visto o doutor com suas malas partir naquela
madrugada. A formosa moça não acreditou e foi à
residencial onde o seu doutor estivera hospedado e, então,
lhe foi confirmada que aquele cliente já não estava mais ali.

Desesperada, a amada filha do régulo não acreditou, voltou


para casa e em prantos contou tudo ao seu pai. O temido
régulo limpou as lágrimas da sua filha, segurou-lhe pela
cabeça e lhe disse firmemente — Não chores filha, o doutor
voltara muito em breve para cumprir o que prometeu —
jurou o régulo.

53 | P á g i n a
II. Capitu
Chegado o doutor, foi o empregado ajudar-lhe com as
malas. Finalmente estava o nutricionista em casa, junto da
sua linda e paciente esposa e dos seus amados filhos. O
doutor Pedro finalmente sentiu uma paz no peito, estava
agora distante, tão distante daquela maldita vila, e longe do
ofegante trabalho.

Naquela noite, a técnica Paula entrou na cozinha, o jantar


foi arroz branco com molho de feijão manteiga e frango à
zambeziano, do jeito que o seu marido gostava.
Numa mesa redonda, jantava a família conversando, o
doutor Pedro, contava das suas façanhas no trabalho, como
salvara muitas crianças desnutridas e como foi bom
conhecer aquele lugar, aquela inesquecível vila.

Quando os meninos foram à cama, foi a técnica Paula ao seu


esposo, vestia uma sensual e excitante lingerie vermelha
que realçava com perfeição o seu corpo.
— Ai amor, que saudades! — Disse a técnica Paula, jogando
o seu esposo na cama
— Sentiu minha falta? — Perguntou a técnica Paula,
sussurrando nos ouvidos do seu esposo e lhe fazendo
carícias.
— Ah! — Suspirou o jovem Pedro — como senti! Senti
muita falta, muita falta de minha mulher — disse Pedro,
cheirando os cabelos e o pescoço da sua esposa.

O casal ficou ali aos beijos fogosos, suspirando e se


agarrando com ardência. Num dado momento, toda
molhada, pronta para receber o pénis do seu esposo, pronta
para sentir o seu esposo penetrar-lhe depois de seis longos

54 | P á g i n a
meses, a técnica Paula se surpreendeu ao notar que o pénis
do seu esposo ainda continuava mole.

Paula, com a cara meio azeda, olhou para seu esposo um


instante.
— O que foi? — Perguntou Paula
— Nada! Não foi nada.
— Tens a certeza?
— É claro…

A técnica Paula, achou estranho o pénis do seu esposo não


levantar naquele momento tão excitante. Talvez fosse ela
que não estava fazendo as coisas direitinho, pensou.

A técnica persistiu, não podia deixar aquele reencontro com


o seu esposo, depois de seis longos meses, passar assim,
sem uma cópula inolvidável de boas vindas.

Paula levanta, cheia de coragem, decide usar as técnicas


que aprendera com amigas, chupa que chupa, como uma
chupa-chupa, vai lambendo devagarinho olhando para seu
esposo, ele geme, Paula chupa na pontinha, seu esposo
geme, geme que geme e, só geme, não levanta, nada fica
erecto.

— Me diz a verdade Pedro! — Disse a técnica Paula — você


andou dormindo com outra mulher? — Perguntou a
técnica.
— Não! Amor que é isso? Eu juro! Não dormi com mulher
alguma… — disse Pedro
— Então o que está se passando? Pode me explicar?

55 | P á g i n a
Pedro pegou a cabeça um instante, nem ele mesmo
percebia o porquê do seu pénis não levantar.
— Amor, também não percebo, talvez seja por causa da
ansiedade ou mesmo o cansaço, estou muito cansado amor
— disse o nutricionista.

Paula, stressada, não conseguiu pegar o sono naquela noite.


Se pegava pensando no que acabava de acontecer com o
seu esposo, não acreditava na ansiedade nem na desculpa
do cansaço — Andou saindo com outra mulher — concluiu
Paula.

No dia seguinte, depois de uma noite stressante, estava


Pedro na sala, deitado no sofá a assistir futebol. Perfumada,
de uma calcinha, usando a camisa do seu marido, veio a
técnica Paula ao seu esposo. Tentou mais uma vez lhe
seduzir com beijos, o perfume dos seus cabelos e seu jeito
de mulher, porém, por mais que Paula lhe deslumbrasse,
lhe chupasse ou utilizasse as técnicas mais avançadas de
deixar um homem loucamente excitado, o pénis do seu
esposo não levantava.

— Mas que merda é esta Pedro! Já não te excitas mais por


mim? — Perguntou Paula, toda cheia de nervos
— Não! amor…
— Então o que é? Pode me explicar?

Um silêncio pairou naquele instante, Pedro, não conseguia


encontrar uma explicação para sua amada esposa.

— Estou cansada Pedro! — Disse Paula chorando — Seis


meses Pedro! Seis meses esperando todos os santos dias,
todas as noites sozinha nessa enorme cama, te esperando

56 | P á g i n a
para fazer amor, esperando o meu homem para que ele me
abrace e me ame, e quando tu apareces Pedro, quando tu
apareces já não te excitas por mim? Você vai me explicar
Pedro como isso é possível, Vai me explicar quem é esta
mulher com quem você andou saindo — disse Paula, toda
fervida andando de um lado para outro.

Pedro, nada explicou, ficou ali a olhar para sua esposa, até
que ela, com muita raiva, se retirou.

Depois daquele dia, Pedro começou a perceber que a sua


situação não era tão normal como ele imaginava.
Preocupado, tentou um teste, fechado no quarto, abriu o
seu laptop e, em um site pornográfico, entrou, assistiu o
nutricionista quase meia dúzia de vídeos imorais, porém, a
o seu pénis não levantava, mole e frouxo continuava.
Procurou ajuda médica o jovem doutor, vários remédios de
erecção lhe foram prescritos por renomados doutores,
contudo, a sua disfunção eréctil permanecia.

Cansado e desesperado, num canto isolado do quintal,


repousava o jovem nutricionista todo abatido. Procurava
em sua mente, entender o porquê daquele mal, de onde
vinha? Que Deus permitira tamanha impiedade em sua
vida? Que mal teria feito para merecer aquele castigo
repentino? Todavia, por mais que o jovem nutricionista
questionasse a origem do seu problema, nada lhe vinha à
cabeça.

Foi Paula, sua esposa, que lhe vendo naquele isolado canto
do quintal, todo sem norte, se aproximou, o abraçando, lhe
disse para que não se preocupasse, que tudo daria certo e
as coisas voltariam ao normal.

57 | P á g i n a
— Eu posso te ajudar amor! — Disse Paula — mas eu
preciso que sejas sincero comigo.

Pedro e Paula se olharam um instante.

— Eu preciso, que me respondas com franqueza Pedro…


— Amor, eu não tenho nada para contar, eu não fiz nada —
disse Pedro se levantando
— Como não fizeste nada Pedro? — Disse Paula, seguindo-
lhe atrás — como não fizeste nada? Há seis meses, tu
partiste saudável desta casa e, na tua vinda, voltas com esse
problema? Como isso é possível Pedro? Você precisa me
contar o que eu não sei, Pedro!

o jovem doutor, nada revelou à sua esposa, não queria que


ela soubesse que lhe fora infiel, porém, Paula, não se deixou
sossegada, o importunou de tamanha forma que o jovem
seu esposo chegou a lhe revelar a sua deslealdade.
— Chega, Paula! — Disse Pedro — chega! Eu conto.

Pedro suspirou um instante antes de abrir a boca, em


seguida, olhou para sua esposa, não tinha coragem de falar
— Me conta Pedro, seja lá o que for, eu prometo que não me
vou chatear — disse Paula.

Pedro, vacilando com às palavras, contou tudo à sua esposa,


contou da sua infidelidade aquando a sua estadia naquela
longínqua vila.

— Desculpa amor, eu estava me sentindo só e…


— Esta mulher, a filha do régulo, como fez para dormir com
ela? Lhe ofereceu dinheiro? — Perguntou Paula

58 | P á g i n a
Pedro não respondeu à aquela pergunta, tentou virar-se e
dar as costas à sua esposa, mas, Paula o seguiu
— Fala! Pedro, como fez para dormir com esta mulher? Deu
à ela dinheiro? Me conta Pedro! — Gritou Paula
— Não! — Disse Pedro — ela não queria dinheiro
— Então como fez?
— Menti — disse o doutor pegando a cabeça
— O quê? O que você mentiu? Pedro!
— Eu prometi que lhe daria lobolo, se ela se comportasse
bem comigo.
— O quê? — Perguntou Paula, desatinada, pegando a
cabeça

Mais uma vez, o silêncio pairou naquele instante. Paula,


toda endoidecida, o nível de tenção lhe subira de maneira
tal que as pernas lhe tremia e a técnica procurou uma
parede pare se apoiar.

Depois do nível de tenção descer à níveis aprazíveis, a


técnica Paula, se recompôs, arrumou os cabelos e limpou as
lágrimas em seu rosto.

— Tens que voltar à vila! — Disse a técnica, se dirigindo ao


quarto
— O quê? Porquê? Espera amor…— disse Pedro, correndo
atrás da sua esposa

Paula, levou a pasta que estava pendurada ali em cima e,


com pressa, a enchia com roupas do seu marido.
— Espera amor! O que você está fazendo Paula? —
Perguntou Pedro.

59 | P á g i n a
— Maldição, tens que voltar á vila Pedro! — Gritou Paula
desesperada.
— Mas que maldição? O que você esta falando Paula?
— Escuta aqui Pedro, você tem que voltar à vila enquanto
ainda houver tempo — disse Paula
— Mas porquê? — Perguntou Pedro, todo assustado.
— A mulher com que você se deitou, não é uma mulher
comum, ela passou por um sagrado ritual, foi banhada em
raízes, sangue e testículos de animais logo que saiu do
ventre da sua mãe. — Disse Paula — O homem com quem
ela se deitar, outra mulher, o seu pénis não reconhecerá…
— acrescentou
— Para! para! Mas que merda estás por ai a falar Paula? —
Perguntou Pedro
— A minha avó me contou uma vez sobre isto. Você tem
que voltar à vila Pedro e pedir desculpas — disse Paula, sua
esposa.

O nutricionista sem mais questionar, viu-se pegar na sua


pasta, em desespero, à longínqua vila retornar.

60 | P á g i n a
III. Capitulo

Raiava o sol, quando o astuto nutricionista chegou à


longínqua vila, mais uma vez, posou os pés naquele lugar.
Estava uma manhã ensolarada na vila de Magude, o dia
parecia prometer muito calor. Pedro, carregou a sua pasta e
se pôs a andar.

Pelo caminho, o estudo nutricionista procurava maneiras


de como se explicar e pedir desculpas à filha do régulo e a
sua família.
Depois de muito pensar e seleccionar as suas explicações,
concluiu — direi a verdade, que sou um homem casado e
tenho dois filhos e, se quiserem me multar, pagarei o que
estipularem, não me importarei com o montante desde que
me curem o pénis — disse o nutricionista.

Às horas das 9 da manhã, chegava o jovem doutor à casa do


régulo, a porta parecia estar aberta e havia pessoas dentro
conversando. Na cozinha, havia uma chicandarinha na
fogueira, fervia.
— Colicença! — colicençou o nutricionista.
Ninguém respondeu, o doutor aproximou-se mais da porta,
segurava a sua pasta.
— Colicença! — Gritou com mais força.

Uma das pessoas que estava dentro levantou-se, parada na


porta, pediu que o doutor entrasse.
— Pode entrar! — Pediu a mulher.

O doutor tentou hesitar em entrar naquela espantosa casa,


mas, a mulher insistiu

61 | P á g i n a
— Entre! Não tenha medo! Estávamos a sua espera — disse
a mulher.

O nutricionista entrou, havia na sala muitas pessoas, Luísa e


suas irmãs, sua tia materna e seu tio materno, sua tia
paterna e seu tio paterno, o régulo e outras pessoas.
— Sente-se! — Disse a mulher, apontando para uma
cadeira ali no fundo,

O nutricionista sentou-se ao lado da Luísa, a filha do régulo,


pareciam um casal a formalizar a sua relação perante a
família.

O doutor, espantado com a multidão naquela sala e a forma


como fora recebido, questionava-se em seu íntimo: o que é
isto? Como sabiam que eu vinha? Porquê está toda esta
gente reunida?

— Como foi a viagem? — Perguntou o régulo


— Foi boa. — Disse o nutricionista como o peito a arder-
lhe.

O régulo, depois de cumprimentar o jovem nutricionista,


falou algumas coisas e, em seguida pediu para que a sua
família se apresentasse ao jovem doutor, o futuro genro.
Começou pelo irmão mais velho, levantou-se e apresentou-
se, em seguida veio a irmã mais velha do régulo que
também se apresentou, assim, de uma maneira hierárquica,
todos se apresentaram.

Luísa estava ali, ao lado do seu amado doutor, o seu coração


não se continha na presença daquele homem, batia-lhe uma
vontade louca de o agarrar e o beijar ali na frente das suas

62 | P á g i n a
irmãs, e mostrar para elas o lindo e letrado homem que
tinha conseguido, mas, a formosa e analfabeta jovem moça,
estava meio chateada com o seu doutorzinho por a ter
abandonado e por isso, fingia e não olhava muito para ele.

Depois de todos se apresentarem, a família pediu para que


o futuro genro se apresentasse e falasse um pouco dele.
O nutricionista, desconfortável, com a voz trémula e
desesperado, levantou-se, falou algumas coisas que não se
ouviram bem, excepto o seu nome, em seguida, voltou
sentar-se.

Havia sobre a mesa, muita comida e, pelo cheiro, acabavam


de preparar. Cheirava sobre a sala, galinha assada, cheirava
temperos picantes, especiarias que perfumavam a sala toda.
Havia também sobre a mesa, bebidas e refrigerantes.

O nutricionista com o ar desconfortável, pouco abria a boca,


via-se transpirar e limpar o rosto com um lencinho. Luísa,
olhou pare ele um instante e sorriu agarrando-lhe as mãos.

— Sabemos o que veio aqui fazer, e sabemos porque veio —


disse o régulo
— Nossa filha, contou-nos sobre o senhor e dos nobres
objectivos que pretende com ela, estamos muito felizes por
teres voltado, mas, estamos um pouco triste porque vieste
sozinho, achávamos que traria a tua família para esta
cerimónia — falava o régulo.

Espantado, o nutricionista não sabia o que o régulo estava


por ali a dizer.
— Mas hoje, como é primeiro dia, não há problemas, vais
levar a lista e, quando regressares para entregar as coisas,

63 | P á g i n a
podes vir com a sua família para junto nos conhecermos e
acertamos o dia do lobolo — falava o régulo

Levantou-se da cadeira o irmão mais velho do régulo, com


um comprido papel na mão, dirigiu-se ao jovem doutor e
lho entregou.

Naquele instante enquanto o régulo falava, Pedro percebeu


então o objectivo daquela reunião, Lobolaria a filha do
régulo.
Em desespero, temendo que as coisas fossem mais longe, o
jovem Pedro ganhou coragem e, levantando-se, contou que
era um homem casado e que tinha dois filhos, contudo, a
família do régulo não se surpreendeu ao ouvir o doutor
revelar que era casado e que tinha filhos.

— Esta mulher com quem tenho filhos, sou casado na igreja


e no registo, posso pagar uma multa pelos danos que causei
à família, mas não posso lolobar à vossa filha — disse o
nutricionista — podem pedir o valor que quiser, eu pagarei
— acrescentou

O tio da Luísa da parte materna, levantou-se, e com um ar


aborrecido disse — meu caro jovem, a multa por teres
desvirginado a nossa filha, por teres desrespeitado a honra
da família, pagará, podes confirmar o valor na lista. Agora
sobre o lobolo da nossa filha, o senhor fará, como prometeu
a ela.
— Sim! — Acrescentou a tia.
— Isto que o senhor estás a dizer, é brincadeira, como que
não vai lobolar? A menina não já usaste? — Acrescentou a
outra tia.

64 | P á g i n a
O nutricionista se viu amarado, tentou de várias formas
explicar que era casado, tentou pedir que o perdoassem,
implorou que o multassem, mas, a família do régulo nada
queria, senão o lobolo.
A discussão findou no dealbar do meio-dia, quando o régulo
ordenou que servissem o almoço.
Foi Luísa à mesa e serviu um prato para o seu amado
doutor. Trouxe a chicandarinha com água morna e
ajoelhou-se para lavar as mãos do seu futuro marido. O
nutricionista estava muito nervoso com a situação, quase
que não tocara na comida.

Depois do almoço, partia o astuto nutricionista


desesperado, nas suas costas, uma pasta com suas roupas,
no seu bolso, uma lista de lobolo, partiu.

Hospedou-se o nutricionista na casa do seu amigo Aurélio,


atormentado, contava-lhe o que lhe sucedera.

— Ih! Mas é fudido mano! O velho não quer multa só quer


lobolo? hi nada pha!! — Lamentava Aurélio
— Assim não sei o que vou explicar para minha esposa, ela
ligou toda manhã. — Disse Pedro, com uma voz triste.
— Agora assim, estás a pensar fazer o quê mano? —
Perguntou Aurélio
— Não sei mano, se voltar à cidade, ainda continuarei com
os mesmos problemas, só a família dela sabe como quebrar
esse feitiço. Assim estou nas mãos deles mano — disse
Pedro.

Depois de dois dias na vila, Pedro regressou à cidade


abatido, e lá, procurou se hospedar na casa da sua tia Maria,
a imã da sua mãe, se escondendo da sua mulher

65 | P á g i n a
Lá, Pedro, procurou se aconselhar com sua tia Maria, esta,
depois de analisar a situação, o aconselhou a lobolar a moça
sem que a sua esposa soubesse.
— Eh sobrinho! A tua esposa não pode saber disso, ela não
vai aceitar, o que vamos fazer é lobolar essa miúda, lhe
trazermos aqui e arranjarmos uma casa para ela.

Pedro decidiu seguir os conselhos da sua amada tia,


lobolaria a miúda e arranjava uma casa para ela morar na
cidade.

Depois de três dias, Pedro comprou tudo quanto a lista


exigia e, juntamente com suas duas tias, a tia Maria e a tia
Gloria, os seus dois tios, o tio Serra e o tio Pinto, partiram à
vila.

Chegado a vila, apresentaram-se a casa do régulo, foram


recebidos com muita pompa e alegria.

Ficaram ali os tios e tias em negociação durante dois longos


dias, no dia terceiro, realizou-se a cerimónia de Lobolo.

Muitas pessoas da vila foram convidadas à festa, Luísa


estava linda e causava inveja às outras mulheres da vila.
Um vestido e chapéu branco de linho, um colar e brincos de
pérola conforme vinha na lista, o seu amado Pedro trouxe
para ela.
Sapatos, fatos, capulanas, cobertores, bebidas, uma mota
para o régulo e muitos outros presentes, a família do Pedro
trouxe.

66 | P á g i n a
O nutricionista estava sentado numa mesa, junto com o
regulo e outros mais velhos a beber, não estava muito feliz
Pedro, mas, de vez em quando fingia um sorriso ao seu
novo sogro, que insistia em conversar.

67 | P á g i n a
IV. Capitulo

Depois das cerimónias lobolais, o doutor e a sua família,


levaram a linda e analfabeta jovem moça à cidade. Pelo
caminho, o nutricionista procurava saber consigo mesmo,
onde deixaria a sua nova esposa.

Falou com as suas tias para a deixarem morar com elas


durante uma semana, enquanto ele arranjava um lugar para
ela se estalar, porém, estas recusaram, alegando que Paula
sempre passava por lá, podia suspeitar e, elas não queriam
ser cúmplices de nada.
— Vai deixa-la no hotel filho, tem um hotel barato ali na
cidade — disse uma das tias

Chegado a cidade, o doutor junto com a sua nova esposa,


estalaram-se num hotel de luxo, tinha posses o jovem
doutor não queria abrigos desprezíveis.
Naquela fria noite, o doutor Pedro viu o seu pénis ficar
erecto e, a sua nova esposa lhe deitando na cama, lhe subiu
e lhe fez coisas inesquecíveis, ejaculou cinco vezes o
nutricionista.

Já saciados de beijos e tranzas, Luísa, toda feliz, deitou-se


no peito do seu amado doutor, que parecia somente estar
ali fisicamente, mas, os seus pensamentos estavam tão
distantes, se pegava a pensar em outra mulher. —
Descobriu Luísa.

— Eu sei que você não me amas — disse Luísa olhando


para seu marido — assim estás a pensar na mãe dos seus
filhos, eu sei.

68 | P á g i n a
— Não, não estou, só estou um pouco cansado — disse o
doutor dando-lhe um beijo na testa.
Luísa olhou para seu esposo um instante, o seu coração
ardia por aquele homem, ela estava disposta a fazer de tudo
para não tê-lo pela metade.
— Eu te amo muito Pedro, podes não me gostares porque
eu não sei falar bem e não sou da cidade, mas, eu te amo
muito e você és meu marido, eu não vou te deixar. — Disse
Luísa com um tom de tristeza.

Naquela noite, Pedro deixou claro para Luísa que poucas


vezes ficaria com ela, alugaria uma casa para ela, mas não
viveriam juntos. — Virei algumas vezes te ver, mas sempre
de dia — disse Pedro

No dia seguinte, deixando Luísa no hotel, o doutor pegou


nas suas pastas e foi à sua esposa e filhos, convicto que o
seu pénis estava agora sarado.
— Preciso ver a minha família, voltarei amanhã — despediu
Pedro.

Chegado à casa, o doutor foi recebido com carinho e muita


alegria com sua família.
— Pai, onde você estava? — Perguntou a sua filha
— O pai tinha viajado filha, mas agora voltou — disse Pedro
dando um beijo a sua filha.

A técnica Paula estava num canto da sala, chorava ao ver


seu esposo de volta, foram quase quatro semanas sem se
comunicar.
— Amor não chora, eu…

69 | P á g i n a
Antes que o nutricionista terminasse com as palavras, a
técnica Paula desfraldou-lhe a bochecha com uma porrada,
em seguida, o abraçou.
— Nunca mais faça isso Pedro, nunca mais abandones a sua
família desse jeito — disse Paula chorando.
Foi uma alegria para a família do nutricionista naquele dia.
De vez em quando, o doutor fingia sorrir um instante, mas,
havia uma certa expressão de tristeza e angustia no seu
rosto, parecia que escondia algo no seu peito. Suspeitava
Paula.

— Amor, como foi? — Perguntou Paula — porquê cortou a


comunicação comigo? Porquê ficou em silêncio quase um
mês? Porquê não deu notícias suas?…

Pedro olhou para sua esposa um instante, ali, lhe fazendo


tantas perguntas, queria contar-lhe o que realmente
acontecera, mas temia que ela se zangasse e se divorciasse
dele.
— Está tudo resolvido amor, consegui! — Disse Pedro.
— Serio? — Perguntou Paula
— Eh, falei com os pais dela e paguei uma multa.
— Que bom amor! Estou muito feliz. — Disse Paula
abraçando o seu esposo.

Quando caiu a noite, Paula mais uma vez, se vestiu de


sensuais roupas, fresca e perfumada, seduziu o seu esposo.
Se entregava toda em seus braços, amaços, beijos quentes e
molhados rolavam, mas, o pénis do seu esposo, mais uma
vez tardava em levantar.

— Me diga a verdade Pedro — disse Paula, saindo de cima


do seu esposo. — Você não resolveu, resolveu?

70 | P á g i n a
— Amor eu…
— Não, por favor, só me diz a verdade Pedro, o que
realmente aconteceu lá?

O nutricionista suspirou um instante, não queria continuar


a mentir para sua esposa, temia que a sua esposa
descobrisse ou ouvisse com terceiros sobre a sua nova
mulher.

— Amor — disse Pedro, ajoelhando e pegando as mãos da


sua esposa — eu vou contar, mas antes, eu peço que
prometa para mim, que não me vais abandonar, que vais
lutar comigo, que vais ficar ao meu lado, aconteça o que
acontecer.
— Fala Pedro! — Disse Paula, sacudindo as mãos do Pedro.
— Me prometa por favor. — Chorava Pedro.

Paula nada prometeu, mas disse que analisaria a situação,


se desse para ficar, ela ficava.

Pedro em prantos, contou tudo à sua esposa, contou do


lobolo e da localização da sua nova mulher.
— Amor, eu juro que não quis, eu fui obrigado… —
pranteava Pedro.

Paula não acreditou no que o seu esposo havia feito, chorou


muito naquela noite, foi a noite mais triste da sua vida.
— Eu não sei como me apaixonei por te Pedro — disse
Paula em lágrimas — nem tudo é flores e alegria em uma
relação, mas contigo, foi mais espinhos e dor.

71 | P á g i n a
— Amanhã Pedro, amanhã vou me embora e levo os
meninos comigo, você é um monstro, um monstro e eu não
posso mais viver em suas sombras — disse Paula chorando

O nutricionista desatinado, arrependido e desesperado,


doía-lhe o peito por causar tanto sofrimento à sua esposa e
à sua família.
Pedro, de joelhos, falava
— Eu sei que te causei muito sofrimento Paula, — disse
Pedro — estou muto arrependido, eu não quero te perder
Paula, não quero ficar longe dos meus filhos longe da
mulher que amo. Por favor Paula, pelo amor que sentes por
mim, por nossos filhos, por Deus, Lute comigo! — Disse
Pedro com os olhos tristonhos.

Paula só chorava diante a tanta dor, amava seu esposo e por


amor, sempre perdoou as suas irresponsabilidades, sempre
tolerou os seus mal feitios e sempre o respeitou.

Naquela triste noite, estava Luísa em um luxuoso quarto de


hotel, linda, senhora de um lindo doutor, olhava para as
luzes da cidade, e planejava ter o doutor por inteiro.

72 | P á g i n a
V. Capitulo

Quando amanheceu, continuava o nutricionista a implorar


para que a sua esposa não o abandonasse, implorava para
que ela lutasse ao seu lado, pois, Pedro acreditava que havia
uma maneira de quebrar aquela maldição e se livrar da
filha do régulo, porém, Paula, levando os filhos, partiu a
casa da sua mãe.

— Preciso de um tempo para pensar, me recompor, não


tenho forças para lutar. Quando quiser, podes vir visitar os
teus filhos em casa da minha mãe, ficaremos lá — disse
Paula

Doeu-lhe muito aquela partida, a técnica, sentiu um forte


aperto no peito ao abandonar a casa e o seu amado e astuto
esposo. Mas a técnica estava farta, cansada da trabalheira
que o seu marido lhe arranjava, dava mais trabalho que o
Pedrito e a Paulinha, seus filhos.

O nutricionista ficou ali pegando a cabeça, não sabia como


lidar com a situação, via a família que um dia criou com
tanto sacrifício, se destruir.

A mãe da Paula, tia Mafalda estava sentada no quintal,


conversando com a sua mãe, a avó Nhelete, quando de
repente viram o portão se abrir, era a Paula junto com as
suas bagagens e seus filhos.

Os meninos ao verem a sua avó, correram para os seus


braços.
— Ih! Você está gordo, anda comer o quê você Pedrito? —
Perguntou a avó Mafalda ao seu neto

73 | P á g i n a
— Eu também to gorda vovô, repara para meu braço —
disse paulinha, mostrando o braço à sua avó.
— Ih! Você também está gorda? — Perguntou a avó
Mafalda à sua neta, sorrindo

Paula ainda descarregava as suas bagagens, não


cumprimentou, parece que lacrimejava. Foi a vovô Nhelete
que lhe viu limpar uma lágrima e logo avisou a sua filha, a
tia Mafalda.

— Qual é o problema? — Perguntou a mãe da Paula


— Estás a chorar porque? Filha!

Paula olhou para sua mãe um instante e não aguentou,


desatou-se a chorar como uma criança. A mãe preocupada,
procurava saber o que se passava com a filha.
— Foi o Pedro mãe — disse Paula
Paula em prantos contava tudo a sua mãe e a sua avó
Nhelete, que lhe consolavam.

— Isso que o teu marido fez, não se faz, ele não pode
humilhar assim a minha filha, isto vamos resolver na
esquadra, agora, eu vou meter queixa, ele vai ter que me
explicar onde já se viu um homem fazer isso — gritava a
mãe da Paula, procurando a sua capulana, para amarar e ir
a esquadra.
— Mãe, espera! Eu ainda não acabei de contar — disse
Paula.

Paula contou tudo quanto estava sucedendo ao seu esposo,


contou das aflições que estava vivendo, do sofrimento, do
infortúnio que não lhe parava de fazer visita. Ao ouvirem a

74 | P á g i n a
outra parte da história, a tia Mafalda e a avó Nhelete,
lamentavam.
— Mas esses homens de hoje são assim porquê? Epha
Vadios, vadios, vadios, hiii só Deus… — lamentava a tia
Mafalda pegando a cabeça
— Mamã, eu avisei Pedro antes de partir, eu disse para ele
ir trabalhar e não ficar a procurar mulher, só Pedro não me
ouvi mamã — dizia Paula.
— É assim mesmo filha, esse homem d’hoje num gosta ficar
sozinho, sempre prucurar mulher, onde que está, prucurar
mulher, onde que vai, prucurar mulher — disse a avó
Nhelete

Pedro, depois de ficar naquela casa um tempo, regressou ao


hotel, furioso com o que tinha acontecido. Luísa estava ali,
acabava de voltar do banho e se esfregava creme.
— Me diz Luísa! — Disse Pedro chateado — Eu não paguei
o lobolo? Não fiz tudo o que a tua família exigiu? —
Perguntou Pedro
— Fizeste — respondeu Luísa, esfregando-se creme
— Então pode me explicar porquê o meu pénis não levanta
quando estou com a minha esposa?

Luísa olhou um instante para Pedro, com um ar meio


chateada, não respondeu, continuou se esfregando creme.
— Eu estou a falar contigo — gritou Pedro, agarrando-lhe
pelo braço.
— Epha! Não me tocas, que esposa que estas a dizer? Eu é
que sou sua esposa. — Disse Luísa com ciúmes
— Luísa para com isto, eu estou a falar da minha mulher, a
mãe dos meus filhos.
— Eu não sei, perguntas para meu pai, ele que vai te falar
— Como assim o teu pai?

75 | P á g i n a
— Perguntas para ele, ele vai te falar, eu não sei de nada. —
Você me dissestes que não eras casado, agora estás me
dizer de esposa, que esposa que tens? Eu sou sua única
esposa — disse Luísa, sussurrando para si mesma

Pedro ficou ali aparvalhado, doía-lhe a cabeça


— Eu estou cansada de ficar aqui, me levas para passear,
quero conhecer a cidade — disse Luísa.

Paula ainda conversava com sua mãe e sua avó Nhelete


sobre o seu esposo, o que ele fizera e o que vinha
acontecendo.
— Mas este num é prubulema grande — disse a avo
Nhelete — Cundo homem num levanta com esposa dele, so
levanta cum outra mulher é por cause de Mimbi
— Mimbi? — Perguntou Paula admirada
— hum! mimbi
— O que isso de mimbi vó? — Perguntou Paula
— Mimbi é aquele cosa que mulher amara no corpo, para
homem ficar cum ela, homem só vai durmir com ela só

Paula prestou atenção no que a sua avó Nhelete lhe estava a


explicar, pois, lhe parecia interessante.
— Avó me explica bem, não estou a entender.

A avó Nhelete, não dominava bem a língua de Camões,


aquela língua que partira de muito longe, da longínqua
Lusitânia, atravessara mares virgens e chegara até ela de
canoa, por isso, a avo Nhelete explicou a sua neta utilizando
a sua língua.

A avó Nhelete explicou que num passado distante, certas


mulheres após o parto, submetiam as sua filhas à um ritual

76 | P á g i n a
sagrado, as crianças eram banhadas em sangue de animais,
por vezes em raízes misturadas com sal e terra vermelha,
este ritual proporcionava sorte às crianças, elas eram por
vezes casadas com grandes guerreiros, Mwénes (chefes) e
homens que possuíam grandes extensões de terra e muito
gado. A avó Nhelete explicou que estas praticas foram
perdendo valor com o tempo, por uma parte porque os
feiticeiros que conheciam os segredos destes rituais foram
se extinguindo, por outra parte, porque exigia muito
sacrifício da parte da mulher, pois, após o ritual, a mulher
era entregue um “mimbi”, um objecto que podia ser uma
pulseira de missangas ou um anel que a mulher carregava
no seu corpo para todo sempre, até que tivesse um filho
com o homem que ela desejasse. Estes mimbis, acreditasse
que tenham poderes extraordinários, podiam fazer com
que os homens se apaixonassem pela mulher que carregava
no seu corpo, as vezes, bloqueavam o desejo sexual do
homem por outra mulher fazendo com que o seu pénis só
funcionasse diante da vagina da mulher que carregava o
objecto. Os mimbis possuíam diversos efeitos, e por vezes
chegavam a enlouquecer o homem pela mulher — explicou
a avó Nhelete.

— Para teu esposo voltar a levantar cum você, tunque ser


voce memo filha a tirar o mimbi do corpo dessa mulher
cum robou teu marido. — Disse a avó Nhelete.

Naquele momento, os olhos da Paula brilharam um


instante, ela percebeu o que estava se passando com o seu
esposo, era o mimbi, a filha do régulo devia estar a carregar
um mimbi — pensou ela.

77 | P á g i n a
Estava Luísa a mudar no quarto do hotel, vestiu uma blusa
preta e uma saia preta, se perfumou um instante e calçou
também uns sapatos, saltos alto cor preto.
Havia uma fina pulseira de finas missangas amarrada sobre
a sua perna.
— Essa pulseira ai, tira-la, você não está mais na sua terra
— disse Pedro
— Não posso, esta pulseira quem me deu foi a minha mãe
antes de ela morrer, ela me protege contra maus espíritos
— disse Luísa.

Luísa estava ali cheirosa, toda produzida. Aproximou-se do


seu doutor e o beijou um instante. Pedro não resistiu ao seu
perfume, à sua frescura, ao seu jeito de mulher que logo lhe
beijou com muito gosto e fogosidade.

— Eu sei que você não me amas Pedro! — Disse Luísa —


mas um dia vais me amar, um dia quando eu te dar um filho
— prometeu a filha do régulo

78 | P á g i n a
IV. Capitulo

No seu carro, Foi o nutricionista mostrar a cidade a sua


esposa Luísa, mostrou-lhe o mercado central, mostrou-lhe o
museu, a catedral, o jardim. O nutricionista mostrou a filha
do régulo quase toda a cidade.

— Amor — disse Luísa


— Fala!
— Não vais me levar a casa das tuas tias? Eu não conheço,
me leva! Eu quero conhecer toda sua família.
— As minhas tias vivem muito longe daqui, não temos
combustível
— Não tens irmãs, primos, que vivem perto para me
apresentares? Eu quero lhes conhecer.
— Não! Não tenho — disse o doutor

Luísa olhou para Pedro um instante, sabia que o doutor


mentia, não queria que ela conhecesse a sua família.
— Pedro estás ma mentir né? Só não queres que eu conheça
sua família, estás ma proibir porquê? Eu não sou pessoa? —
Perguntou Luísa meio chateada.
— Eu não estou a mentir, porquê que mentiria?
— Me leva para casa de qualquer tua família, quero
conhecer eu, ih!! — Proferiu Luísa.
— Já sei para onde vamos — disse o doutor — vamos à
baixa, vi umas casas hoje de manhã quando vinha, acho que
estão a mandar arrendar.

Entrava o meio-dia, o sol já na vertical, reluzia com


ardência fazendo as pessoas procurar um sombreado canto
para se refrescar. Ia o doutor no seu carro. Havia muito que
o doutor desembolsava somas avultadas naquele luxuoso

79 | P á g i n a
hotel. Procurava uma casa para arrendar e se poupar da
desmedida conta que no final da tarde, vinha o gerente, um
velho ambicioso, lhe apresentar.

— Ali! — Disse o doutor apontando para uma das casas a


esquerda da rua.
— Fica no carro, eu vou perguntar
— Ficar no carro porquê? Você queres me esconder de
pessoas, eu não vou aceitar isso Pedro, sou tua esposa eu,
ih! — Disse Luísa saindo do carro.

O doutor pela frente, seguia-lhe Luísa a sua trás. Era uma


casa melhorada tipo dois, três quartos, uma sala espaçosa,
uma varanda, uma cozinha, uma despensa e uma casa de
banho externa. Havia no enorme quintal da casa quatro
árvores de fruta, uma garagem no fundo do quintal e um
estreito muro que cobria todo o quintal.
— Esta casa é boa, amor, eu gostei — disse Luísa
O nutricionista ficou ali ao lado do senhorio que lhe guiava
lhe apresentando a casa. Percorreu com a vista todo o canto
da casa, estava em condições aquela morada.
— Quanto faz? — Perguntou o doutor
— Vinte mil, meu senhor — Respondeu o senhorio
— O quê? Não! Isto está puxado, vamos negociar…
— Amor! Eu quero esta casa, é grande eu gostei — disse
Luísa, pasmada com a magnificência estética daquela
morada. — Vamos ficar com ela, o meu marido é doutor,
pagará — disse Luísa ao senhorio.
— Sem problemas minha senhora — respondeu o senhorio
lhe entregando as chaves.
— Viu meu senhor, até a sua linda mulher gostou da
morada — acrescentou o senhorio sorrindo

80 | P á g i n a
O doutor olhou para Luísa um instante, desejava
estrangular-lhe o pescoço, se bem que não o fez na sua
mente.

— Paula o que vais fazer filha? — Perguntou a tia Mafalda.


— Vou ao encontro desta tal filha do régulo, vou observar o
seu corpo se ela tiver um mimbi como a avó Nhelete disse,
eu vou arrancar do seu corpo, mãe, depois vou enche-la de
porradas por me roubar o marido e causar muita dor a mim
e aos meus filhos — Disse Paula levando a sua bolsa.

Regressava o nutricionista no seu carro e discutia com a


sua mulher
— Vinte Mil? Mas quem é que paga uma casa á vinte mil
nestes tempos Luísa?
— Amor a casa era linda e …
— Linda um raios caramba! Tu paras de me arranjar
problemas Luísa, olha que tu levaste as chaves e tu sozinha
pagas a renda, prontos! — Gritou o doutor acudindo com
um ar de prontos.
Enquanto discutiam, o celular do doutor começou a chamar,
era Paula, a sua esposa o doutor pode ver no visor do
celular a foto dela.

— Alô! — Disse o doutor com a voz calma.


— Estou aqui em baixo, podes descer um minuto? —
Perguntou Paula
— Oi Paula! Desculpa neste momento não me encontro no
hotel, mas, estou a um minuto dai.
— Óptimo, te espero — disse Paula desligando celular

Um minuto depois chegava o doutor, ávido para saber o que


estava a mãe dos seus filhos por ali a fazer. Desceu o doutor

81 | P á g i n a
do seu Mazda BT-50 4x4 2017 e se pôs a andar sem usar do
cavalheirismo e abrir a porta para sua linda e formosa
mulher.
Luísa ficou ali no carro, olhando para o doutor partir
caminhando apressado, uma angústia lhe invadiu o peito
naquele momento.

— Paula — disse o doutor


— Oi, preciso te contar algo — disse Paula
— O que foi amor? Aconteceu algo com os nossos filhos?
— Não, venha! — Disse Paula puxando o braço do doutor

Paula suspirou um instante antes de abrir a boca, estava


densa, tremia e parecia suar.
— Eu acho que descobri o que te faz impotente diante de
mim
— O quê? — Perguntou o doutor pasmado
— Sim, a minha avó me contou algo muito importante,
mimbi — disse Paula
— Mimbi?

— Posso saber quem é esta mulher? Pedro, — perguntou


Luísa se aproximando

Luísa e Paula se olharam um instante, um silêncio pairou


naquele momento. Ambas deitaram-se um olhar
desprezível, percorrendo com a vista os seus corpos, se
olhando de cima para baixo e vice-versa.
— Esta é a Paula minha mulher e mãe dos meus filhos —
disse o doutor
— Prazer, eu sou Luísa, a sua nova esposa — disse Luísa
estendendo a mão num gesto de saudação

82 | P á g i n a
Paula não ergueu as mãos, olhava para Luísa tão
desprezivelmente que a causou desconforto.
— Porque estas me olhar assim moça? — Perguntou Luísa
— Escuta aqui sua crapulosa, eu sei muito bem dos seus
segredos, sei como faz para acorrentar e manter o meu
esposo perto de te.
— Teu esposo? Que esposo tens moça? Ele é o meu esposo.

Enquanto as rivais discutiam, Paula ia atentamente


percorrendo com os olhos o corpo da Luísa, procurava algo.
— Eu sou a esposa e temos filhos, apesar de tudo ele me
ama, você só foi um simples brinquedo sexual que o meu
marido usou para se divertir, no final ele vai voltar para
mim, para sua família, sua bruxa — gritou Paula, vibrando.
Luísa nervosa humilhada, subiu, deixando o doutor com a
Paula.
— Tenho que acabar com isso de uma vez, preciso
engravidar do Pedro — disse Luísa

Pedro e Paula ficaram em baixo conversando, a técnica


contou a ele tudo o que a sua avó Nhelete lhe contara.
— Tu só precisas descobrir um objecto que ela sempre usa,
algo que ela muito estima e não sai do seu corpo.
O doutor preocupado, procurava lembrar de algo o que a
formosa filha do régulo nunca tirava do seu corpo e muito
estimava.
— Ela tem um fio de finas missangas que amara no seu pé
esquerdo — disse o doutor
— Tem certeza que ela nunca tirou este fio?
— Eu não me lembro bem, mas ela usa isto desde que a vi
pela primeira vez.
— Então é isto — concluiu Paula com um certo ânimo no
rosto.

83 | P á g i n a
Naquele momento os olhos do doutor brilharam de
esperança, há muitas luas que não dormia direito e o
infortúnio lhe batendo a porta a cada minuto, naquele dia a
sua esposa lhe trouxera uma nova que lhe dera um pouco
de paz.
— Então como vamos fazer? — Perguntou o doutor
— Depois desta discussão que tivemos hoje, é provável que
a Luísa tente algo esta noite para engravidar — disse a
técnica toda convicta
— Como sabes? — Perguntou o doutor
— Eu faria o mesmo — Respondeu a técnica.
— E o que eu faço para ajudar?

O doutor desesperado para resolver o infortúnio que há


muito insistia em lhe açoitar, combinou com a técnica, sua
esposa, um estratagema. Entregaria as chaves do quarto à
ela, e a meia-noite quando a Luísa estivesse em profundo
sono, entrava a técnica com a segurança do silêncio e então
arrancava dos pés da Luísa o fino fio de finas missangas.

Ao entrar da noite, estava Luísa preparada, fresca,


perfumada, exalava um ar excitante, usava uma calcinha
vermelha que realçava a sua enorme bunda deixando-a
mais tentadora. Pintou os seus carnudos lábios com cores
do pecado que causavam tentação aos olhos do homem. Em
sua pele um fresco creme esfregou e nas suas grossas coxas
uma vermelha fita de renda amarou. Estava uma deusa do
prazer Luísa, só à Lilite e à Afrodite se equiparava —
Depois desta noite o doutor será só meu — disse a filha do
régulo.

84 | P á g i n a
As horas das 20, chegava o doutor das suas andanças.
Parado na porta, viu Luísa deitada na cama assistindo
televisão, estava cheirosa e provocante. O doutor olhou
para ela um instante e viu em uma fina calcinha vermelha a
bunda da sua esposa exposta. Não usava um sutiã para
encaixar os seus seios tesos de uma adolescente, a sua pele
macia sem pelos brilhava. A filha do régulo deitou um olhar
provocante para o doutor e levantando-se da cama, agarrou
o nutricionista que já tinha nas calças o barão a arder-lhe.

Ávida, pronta para o sexo, a filha do regulou sem nada falar,


ajoelhou-se e baixou as calças do jovem doutor, tirou de
dentro das calcas o barão do jovem nutricionista e viu em
suam mão o pénis do doutor arder, via-se veias rígidas,
algumas grosas, outras, finas. A donzela ainda ajoelhada,
linda em seus encantos sexuais, usou um instante da sua
boca e da sua língua e viu o nutricionista com os olhos
fechados tremer de prazer
— Para! para! — Gritou o nutricionista colocando o bicho
para dentro das calças
— Para, por favor…
— O que foi? — Perguntou a filha do régulo com estranheza
se levantado.

O doutor suspirou um instante, pegou a cabeça, o fogo que


lhe ardia entre as pernas era tanto que o descontrolava.
Andou de um lado para o outro com as mãos ainda presas a
cabeça evitando deitar um olhar no tentador corpo da filha
do régulo.
Aproximou-se do doutor a donzela, nua, formosa e fresca.
Fixou com calmaria os seus hipnotizantes olhos sobre os
dele, acariciou o seu rosto um instante e o beijou
calorosamente.

85 | P á g i n a
— Já disse que pare! — Gritou o doutor sem ar
— O que foi? — Perguntou a filha do régulo impaciente.
— Não quero que me toques esta noite — disso o doutor
sem muita certeza
— Porquê?
— Porque não me sinto bem, dói-me a cabeça.

A donzela olhou para o doutor um instante, usando seus


instintos de mulher, percebeu que algo estava errado com o
seu esposo.
— Preciso descasar, vou me deitar — disse o doutor.

Deitado na cama, o nutricionista deu as costas à sua esposa.


Ela pode ouvir o doutor gemer e a pila ainda arder-lhe com
furor, só não percebia porquê o doutor a rejeitava.
— Não vais me rejeitar para sempre, ainda tenho duas
semanas férteis — disse a filha do régulo pelo coração.

Não pegou no sono o doutor naquela noite, esperava


ansiosamente a chegada da Paula. Olhava para o corpo da
Luísa que dormia e para aquele fio de missangas atados nos
seus pés.

A meia-noite, ouviu o doutor um barulho como se alguém


estivesse mexendo a porta, a luz do quarto estava acesa, e
Luísa dormia feito uma pedra no enorme e almofadado
colchão.
O doutor fixou os olhos sobre a porta, segundos depois, viu
ela se abrir lentamente. Era a Paula, o doutor levantou-se
calmamente da cama e silenciando os passos como um gato
silencia em caça, caminhou até Paula fazendo um gesto
como se pedisse Silêncio.
— Está a dormir? — Perguntou Paula baixinho

86 | P á g i n a
— Sim — respondeu o doutor

Paula com o coração batendo-lhe forte, caminhou até ao


leito, olhou para Luísa que dormia calma e serena como
uma criança embalada em quentes lençóis, olhou para o seu
pé esquerdo e viu nele um fino fio de finas missangas
atados sobre este.
— Então é este o teu mimbi? Sua cobra! — Disse Paula pelo
coração

87 | P á g i n a
VII. Capitulo

O coração do doutor batia forte ali naquele quarto onde o


silêncio e o medo reinavam. A técnica Paula também
tremia, não sabia porquê arriscava a sua vida mexendo com
o sobrenatural, tentando salvar um homem que não
merecia o seu amor, um homem que merecia o infortúnio
que lhe sobrevinha.

Num movimento rápido a técnica Paula puxou com energia


o fino fio de finas missangas rebentando-o.
Depois daquela impiedosa acção da técnica Paula, um
pavoroso grito invadiu aquele quarto, era a filha do régulo
que acordara gritando, o grito era forte e aterrorizante. A
jovem moça gritava como se alguém tivesse tirado uma
parte de si, gritava pegando o peito como se alguém a
tivesse apunhalado o coração com uma faca pontiaguda.

A técnica Paula e o doutor assistiam de longe assustados


com os gritos da jovem filha do régulo aquela a quem ele
muito amava. A donzela caiu da cama, abriu
desmesuradamente os olhos pegando o pescoço, saltou-lhe
um jacto de sangue pela boca, se esticou com mais força
tentando levantar a cabeça até que tombou
definitivamente.

Um silêncio sepulcral pairou naquele instante. Assustados,


a técnica Paula olhou para o sangue coagulado espalhado
por todo o soalho, olhou para o corpo da Luísa que não
mais se movia estendido ali no chão.
Desesperada a técnica Paula sentiu um forte aperto no
peito lhe congelar a alma.
— Paula o que fizeste? — Perguntou o doutor assustado

88 | P á g i n a
— Eu não sei, eu só arranquei o fio — disse a técnica
desesperada

O doutor aproximou-se do corpo da Luísa, abaixou os


ouvidos no peito da moça para sentir se ainda restava
algum sopro de vida naquele jovem corpo. Sentiu de longe
um leve respirar e um lento e fraco bater do coração
— Acho que ainda está respirando
— Vamos leva-la ao hospital, por favor… — disse Paula
desatinada.

Levaram a jovem moça à uma clínica que ficava ali ao lado


do hotel, por sorte o estabelecimento estava operacional a
aquelas horas da madrugada. Foram de imediato
socorridos.

Andava de um lado para o outro a técnica Paula,


desesperada, não conseguia se conter, pois, os seus
membros tremiam, ela tremia. Na sua mente, a imagem do
sangue e os tenebrosos gritos da filha do régulo não lhe
saiam da cabeça.
— Meu deus o que eu fiz? — Paula se questionava.
— Amor …— Disse o nutricionista tentando consolar a
técnica
— Não! Não me toque Pedro. Tu és o culpado de tudo isto
— Fica calma eu…
— E se esta moça morrer, Pedro?
— Não, não fala isto, ela não vai morrer

As horas das 7 da manhã, veio o doutor informar que a


paciente estava óptima e que iria sobreviver. A técnica
sentiu um forte alívio no peito ao ouvir a notícia.

89 | P á g i n a
Quatro horas depois o doutor liberou a paciente, ainda
estava ali o nutricionista e a técnica, não se moveram para
lugar algum desde o sucedido. A técnica ao ver a filha do
régulo sair da clínica assim tristonha, sentiu em seu coração
uma culpa. Olhou para ela um instante depois baixou a cara,
não havia coragem nela para lhe dirigir a palavra.

Levaram a tristonha filha do regula à casa. Pelo caminho


palavra alguma proferira, somente desconsoladas lágrimas
lhe escoriam dos seus inocentes olhos.
— Escuta Luísa, — disse o doutor com um tom de desânimo
— Eu sei que houve pouca beleza naquilo que fiz, sou um
vadio, um o monstro que projectou sombras em sua vida.
Eu menti para te, te usei para satisfazer as minhas
desvirtudes, causei muito sofrimento para te e para minha
família. Eu estou muito arrependido se houvesse um jeito
de mudar as coisas, eu mudaria. Luísa, eu amo a minha
esposa, amo a Paula, amo a mãe dos meus filhos — disse o
doutor.
Luísa nada dizia apenas chorava.

No dia seguinte, foi o doutor acompanhar a filha do régulo à


paragem, não foi o doutor com ela à sua terra, temia do
régulo, seu pai.
Voltou para casa feliz, finalmente os seus problemas com a
filha do régulo estavam resolvidos.
Estava a técnica Paula na casa da sua mãe, de pé em frente
ao portão, quando viu o doutor chegar no seu Mazda BT-50
com um brilhante sorriso no rosto, segurava na sua mão um
buquê de lindas rosas vermelhas.
O doutor desceu do seu carro animado, com o ar vaidoso,
convencido de que tinha recuperado a sua esposa.

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O doutor caminhou até a técnica, olhou para ela um
instante sorrindo e disse: — Obrigado amor por me salvar
Em seguida o nutricionista entregou a sua esposa as
vermelhas rosas que trazia consigo, a técnica sorriu um
instante cheirando as flores. O doutor pegou a técnica pela
cintura, fechou os seus olhos e avançou com a boca
tentando beija-la, foi quando a técnica o surpreendeu com
uma árdua bofetada no rosto.
— Quem disse que estás perdoado Pedro? — Perguntou a
técnica Paula olhando para o doutor pegar as suas
bochechas que ardiam.
— Tu ainda não estás perdoado. — Acrescentou a técnica
— Mas mor eu…
O astuto nutricionista nem havia terminado com as
palavras quando Paula fechou o portão no seu nariz,
batendo o portão com muita força. O doutor ficou ali
aparvalhado, a distância entre o portão e o seu nariz era de
milímetro e meio, foi a primeira vez que se viu o
nutricionista agradecer a deus, pois, por milímetro e meio
de avanço, o nutricionista tinha o nariz partido até talvez os
dentes. — Agradeceu o astuto nutricionista.

Fim

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Notas Sobre o Autor

Beirão Pascoal Dozelia, conhecido na literatura por Bei


Baldjine Velaskis e na música por Lasvegas, é um jovem
Moçambicano nascido aos 09/06/1994.
Escreveu muitos contos, dentre eles, destacam-se: Ndzinga,
A Calculista, Dupla paixão, tempestades no amor, paixões
proibidas e muitos outros.
O autor não tem um livro editado e publicado em formato
físico. Neste momento Baldjine está fazendo uma campanha
para arrecadar fundos para pagar a editora que vai editar o
seu romance “A Morte da avó Marina, a feiticeira”
Para ajudar podes doar qualquer valor via Mpsa pelo
número 841483262 (Beirão) ou via IZI para a conta
298409831 BIM.

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