Paula de Paiva Villasbôas
Paula de Paiva Villasbôas
Paula de Paiva Villasbôas
FLORIANÓPOLIS
2003
2
Esta tese foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia de
Produção no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Luiz Fernando Jacintho Maia, PhD Prof. João de Deus Medeiros, PhD
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina
Orientador
Prof. Harrysson Luiz da Silva, Dr. Prof. João Bosco da Mota Alves, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina
Prof. Lauro Roberto Witt da Silva, Dr. Prof. Cláudia Regina dos Santos, Dra.
Fundação Universidade Federal do Rio Grande Ministério Público Federal
Agradeço:
Aos meus pais, Luiz Romero Jardim Villasbôas e Clarisse de Paiva Villasbôas,
pelo apoio, amor, e paciência dispensados a mim, principalmente durante estes
quatro anos de doutorado;
Aos meus avós paternos, Jacy Jardim Villasbôas e Raul Jardim Villasbôas (in
memoriam), aos meus avós maternos, Argentina Vieira de Paiva e Paulo Ari de
Paiva (in memoriam), pelos exemplos de vida e sabedoria;
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
Lista de Figuras........................................................................................................ 9
Lista de Quadros....................................................................................................... 9
Lista de Siglas........................................................................................................... 10
1 Introdução............................................................................................................. 13
1.1 O processo de demarcação do fenômeno................................................. 13
1.2 Caracterização do Problema..................................................................... 20
1.3 Objetivos.............................................................................................................. 22
1.3.1 Objetivo Geral....................................................................................... 22
1.3.2 Objetivos específicos................................................................. 22
1.4 Hipótese.................................................................................................... 22
1.5 Justificativa............................................................................................... 23
1.6 Procedimentos metodológicos.................................................................. 24
2 As Etapas da AIA e a Participação Pública...................................................... 28
2.1 A triagem (screening) e a definição do escopo (scoping)........................ 31
2.2 Dos estudos de base à tomada de decisão sobre a AIA............................ 38
2.2.1 A identificação, previsão e avaliação dos impactos.................. 40
2.2.2 A mitigação e o gerenciamento dos impactos........................... 47
2.2.3 A preparação e revisão do relatório de AIA............................ 48
2.2.4 A tomada de decisão................................................................. 54
2.3 O acompanhamento da AIA: o monitoramento e a auditoria................... 57
3 O Sistema de AIA no Brasil................................................................................ 63
3.1 A AIA e a Política Nacional do Meio Ambiente..................................... 63
3.2 A estrutura institucional para a AIA no Brasil......................................... 66
3.3 Legislação e regulamentações sobre a AIA............................................. 73
3.4 A Resolução CONAMA nº 1/86 ............................................................ 76
3.4.1 As diretrizes gerais e o conteúdo do EIA/RIMA....................... 83
3.4.2 A responsabilidade de elaboração do EIA/RIMA..................... 85
3.4.3 O Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)............... 87
3.4.4 A participação pública no processo de AIA.............................. 88
3.5 O papel dos atores envolvidos em AIA.................................................... 92
3.6 A implementação da AIA na prática........................................................ 102
4 O Envolvimento e a Participação Pública em AIA........................................... 108
4.1 A consulta e a participação pública em AIA............................................ 108
4.2 A educação pública para o processo de AIA............................................ 119
4.3 A educação crítica e a aprendizagem no processo de AIA...................... 126
4.4 Os mecanismos de participação pública propostos no Brasil.................. 131
4.5 O papel das ONGs no processo de AIA.................................................. 134
4.6 O papel da mediação no processo de AIA.............................................. 137
5 Estudo de Caso: Porto da Barra Ltda................................................................ 141
5.1 Descrição do projeto................................................................................ 141
5.2 Cronologia dos eventos............................................................................ 147
5.3 O envolvimento e a participação pública no caso Porto da Barra Ltda... 162
5.4 Identificação das opiniões,valores e preocupações dos atores principais 164
9
Referências
Anexos
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
EU – European Union
TBT – Tributiltin
1 INTRODUÇÃO
e da qualidade dos dados, da divulgação das informações e do acesso aos resultados dos
estudos, a AIA deve possibilitar a identificação e o gerenciamento dos conflitos de
interesse dos diferentes grupos ou atores sociais (Moreira, 1989).
Conforme Moreira (1989), o processo de AIA apresenta duas vertentes: uma
técnico-científica e outra político-institucional. A vertente técnico-científica consiste
nos estudos de impacto ambiental propriamente ditos – os métodos, as técnicas, as
pesquisas e os dados vinculados à previsão dos impactos prováveis gerados pelas ações
das diversas etapas de implantação de um projeto e suas alternativas: o planejamento, a
construção, a operação e a desativação, sempre que as características da atividade a ser
desenvolvida o justifiquem. Por outro lado, a análise dos impactos ambientais implica a
abordagem dos diversos fatores que compõem o meio ambiente, ou seja, o ar, a água, o
solo, os seres vivos; e também os fatores relativos aos valores sociais e à qualidade de
vida, como a saúde pública, a economia, a educação, a cultura, as condições de
habitação e de transporte, os bens históricos, a paisagem, etc. Além disso é necessário
que se estude as interações entre todos esses fatores, investigando-se os processos pelos
quais a alteração em um deles venha a se refletir nos demais.
A vertente político-institucional diz respeito aos procedimentos administrativos e ao
aparato legal e burocrático que os regulam. As condições do processo de AIA são
determinadas pelos princípios e objetivos da política ambiental vigente, pelas
instituições governamentais e pela legislação protetora do meio ambiente. A aplicação
da AIA pode ser estabelecida para:
• projetos individuais – uma unidade industrial, uma rodovia, uma lavra de minério,
uma estação de tratamento de esgotos, etc.
• planos de desenvolvimento – um novo distrito industrial, o aproveitamento turístico
de uma área costeira, um plano de renovação urbana, etc.
• políticas ou programas mais amplos – uma proposta legislativa para regular o uso de
agrotóxicos, um programa de desenvolvimento de alternativas energéticas, um
programa de desenvolvimento econômico regional, etc.
O escopo e a abrangência dos estudos são indicados pela opção política quanto ao
grau de controle ambiental que se quer garantir, aos fatores ambientais considerados e
aos recursos prioritariamente protegidos.
16
Para Sankoh (1996), embora a AIA forneça uma metodologia de avaliação, sua
aplicação é inevitavelmente política. Conseqüentemente, o escopo, o tempo e o
conteúdo dos procedimentos de AIA são largamente influenciados em todo o mundo por
várias medidas legislativas e administrativas. Por este motivo, se não existem
oportunidades para revisão pública a AIA fica exposta à captura por parte de interesses
do governo.
Segundo o UNEP (1996), nos anos iniciais da AIA, eram considerados impactos
ambientais os impactos sobre meio ambiente natural, biofísico (tal como efeitos sobre a
qualidade do ar e da água, flora, fauna, níveis de ruído, clima e sistemas hidrológicos).
A institucionalização da AIA, com a sua descoberta pelo público e com os processos de
consulta, atraiu indivíduos, grupos e agências que queriam a incorporação de outros
tipos de impactos dentro das decisões. A evolução do termo ‘ambiente’, a qual tem
crescentemente sido ampliada para incorporar aspectos sociais e outros também ajudou
a inclusão de outros tipos de impacto. Em 1994, o Comitê de Assistência ao
Desenvolvimento da OCDE incluiu no termo ‘ambiente’, para fins de AIA:
Segundo Furia e Wallace-Jones (2001), em muitos países têm sido feitos esforços
para tornar a AIA um procedimento colaborativo, no qual dados científicos e técnicos
são centrados nos interesses dos diferentes atores, levando a um aumento na
transparência dos processos administrativos e a debates relacionados com o papel ativo
do público na democracia e na tomada de decisão. Os benefícios provenientes da
participação não são apenas obtidos pelo público mas também pelo próprio
empreendedor, contribuindo para o fortalecimento do procedimento da AIA como um
todo, através do aumento da qualidade da decisão; de um planejamento mais eficiente;
do alcance de decisões transparentes e um nível mais alto de comprometimento com a
decisão; evitando controvérsias públicas e criando confiança no proponente e seu
planejamento.
Apesar dos benefícios citados acima, Fowler e Aguiar (1993) afirmam que
raramente é possível uma participação pública efetiva no processo de AIA brasileiro,
dentro do atual cenário institucional. Para tanto seria preciso uma melhor distribuição
de informação sobre os impactos de implementação do projeto e a criação de canais
através dos quais as comunidades afetadas pudessem identificar aqueles aspectos que
elas acreditam que deveriam ser levados em consideração na AIA, principalmente na
etapa inicial do processo, a definição do escopo (scoping).
21
Segundo Baasch (1995, p.46), existem fortes críticas sobre a participação pública
prevista no processo de AIA, uma vez que os momentos pertinentes para esta
participação, são algumas vezes julgados inapropriados. Um exemplo é a audiência
pública, na qual o público em alguns casos tem sido manipulado pelas partes
interessadas no projeto. “Poucos têm sido os momentos, durante o processo, em que a
comunidade verdadeiramente expressa seus interesses. A audiência pública tem sido um
dos únicos, e neste momento, a AIA já está concluída, só não autorizada.”
Não é apenas no Brasil que a participação pública em AIA é fraca, quando não
inexistente. Em vários países em desenvolvimento e mesmo desenvolvidos também
existem inúmeras deficiências no processo. Apesar do quadro negativo da participação
pública promovida em nível institucional no Brasil, alguns autores já abordam a questão
com um certo otimismo. Brito (1996 apud Glasson e Salvador, 2001), afirma que nos
estados do sul e sudeste há uma prática razoável de AIA, que está melhorando a
participação pública, a conscientização ambiental, mecanismos de negociação entre as
várias partes e interesses envolvidos com as questões ambientais, e um processo de
tomada de decisão democrática. Contudo, ainda resta muito a ser feito para a AIA se
consolidar como um instrumento da sociedade. Falta informação sobre como promover
uma participação pública eficaz, na qual os atores, entre eles empreendedores,
comunidades, órgãos ambientais, ONGs, possam atuar para que os benefícios da
participação pública sejam plenamente alcançados. Portanto, a questão principal
formulada por esta pesquisa é a seguinte:
Como promover o envolvimento e a participação pública em AIA de forma
eficaz, especialmente em procedimentos complexos, envolvendo vários atores e
interesses diversos?
22
Esta pesquisa busca soluções para este problema, e o estudo de caso realizado
posteriormente procura mostrar a importância do envolvimento e da participação
pública para o aprimoramento do processo de AIA. O caso escolhido é o Porto da
Barra, um dos poucos empreendimentos que promoveram o envolvimento e
participação pública antes da audiência pública no Estado de Santa Catarina e que
gerou muita controvérsia entre os atores.
1.3 Objetivos
1.4 Hipótese
Para que se alcance uma participação pública mais eficaz em AIA é preciso que
sejam incorporados ao processo os seguintes elementos:
⇒ Promoção do envolvimento e participação pública a partir da etapa de escopo;
⇒ Utilização de outros canais de participação além das audiências públicas;
23
1.5 Justificativa
• Impacto local, quando a ação afeta somente o próprio sítio e suas imediações;
• Impacto regional, quando um efeito se propaga por uma área além das imediações
do sítio onde se dá a ação;
• Impacto estratégico, quando é afetado um componente ambiental de importância
coletiva ou nacional.
Outro modo de caracterizar espacialmente os impactos em relação à área de
abrangência é:
• Impacto extensivo, caracterizado pela impossibilidade ou grande dificuldade de
delimitar sua área de abrangência, bem como seus possíveis efeitos cumulativos,
progressivos e acrônicos.
• Impacto intensivo, aquele que abrange uma área bem delimitável, qualquer que seja
a sua extensão.
Características temporais ou dinâmicas:
• Impacto imediato, quando o efeito surge no instante em que se dá a ação;
• Impacto de médio ou longo prazo, quando o efeito se manifesta depois de decorrido
um certo tempo após a ação;
• Impacto temporário, quando o efeito permanece por um tempo determinado, após a
execução da ação;
• Impacto permanente, quando os efeitos não cessam de se manifestar num horizonte
temporal conhecido, uma vez executada a ação.
Os impactos ainda podem ser caracterizados quanto a sua
reversibilidade/irreversibilidade, seus efeitos cumulativos e sinérgicos1 e também pela
sua distribuição social, uma vez que os impactos benéficos e adversos nunca são
igualmente sentidos pelos diversos grupos sociais.
Os impactos ambientais também possuem dois tipos de atributos, a magnitude
(grandeza em termos absolutos) e a importância (ponderação do grau de significância do
impacto).
1
Efeito cumulativo ou potencial cumulativo “é o impacto no meio ambiente resultante da soma do
impacto incremental de uma ação aos impactos de outras ações, passadas, presentes ou com razoável
possibilidade de ocorrer no futuro, independentemente do agente que executa as ações” (USA, 1997
apud Dias e Sanchez, 1999). Já um efeito sinérgico ocorre quando “o impacto total é maior do que a
soma dos impactos individuais”.(ACP, fl.1717)
30
1. Avaliação preliminar
2. Avaliação detalhada
3. Acompanhamento
De acordo com o UNEP (1996), o processo para determinar se uma proposta requer
ou não avaliação de impacto ambiental e o respectivo nível de avaliação é chamado de
triagem (screening). A triagem envolve o julgamento acerca dos impactos esperados de
uma proposta sobre o meio ambiente, para determinar se eles são ou não significativos.
A maioria das propostas pode passar por uma triagem muito rapidamente (uma ou duas
horas) e a conclusão pode ser de que não precisa haver maiores investigações. Outras
propostas podem requerer uma avaliação de impacto ambiental completa, pois podem
causar uma série de impactos adversos.
A escolha da metodologia de triagem é determinada geralmente por tomadores de
decisão política quando o sistema de AIA é estabelecido. Todas as metodologias de
triagem requerem informação sobre a proposta e todos envolvem o uso subjetivo de
julgamentos de valor em alguma etapa durante o seu desenvolvimento. A escolha do
método de triagem estabelecerá o número de propostas que serão sujeitas um processo
de AIA detalhado. As abordagens para a triagem envolvem uma, ou uma combinação
das seguintes técnicas:
• julgamento/discernimento por parte dos tomadores de decisão;
• avaliação ambiental inicial, avaliação ambiental de baixo custo que utiliza toda a
informação disponível sobre o projeto;
• listas de projetos que devem ser submetidos à AIA; e
• listas de exclusão de projetos que não precisam ser submetidos à AIA.
A responsabilidade da triagem depende da metodologia adotada.2 Quando existem
listas de projeto na legislação (como no caso brasileiro), os próprios proponentes podem
facilmente fazer a triagem de suas propostas. Contudo, quando a metodologia envolve
2
Para informações mais detalhadas sobre as metodologias de triagem consultar o UNEP (1996).
32
o escopo do trabalho possa ser melhorado à medida que surgirem novas questões e
informações. O escopo de uma AIA deve ser flexível o suficiente para permitir a
incorporação de novas questões que surgirem durante o curso dos estudos ambientais,
como resultado de mudanças no projeto ou através das consultas. A Diretiva da União
Européia permite que as autoridades competentes requeiram informação adicional em
uma etapa posterior no processo de AIA, mesmo se esta informação não foi requerida
no início da etapa de definição do escopo (European Commision, 2001).
Seja quando realizado como parte de um processo legal ou como uma medida de
‘boa prática’ dentro da AIA, a definição do escopo traz vários benefícios, entre eles:
• Ajuda a assegurar que a informação ambiental a ser usada na tomada de decisão
forneça um quadro amplo dos impactos importantes do projeto, incluindo questões
de interesse particular para grupos e indivíduos afetados.
• Ajuda a concentrar recursos nas questões importantes para a tomada de decisão e
evita o desperdício de esforços em questões de pouca relevância.
• Ajuda a assegurar que a informação ambiental forneça uma visão equilibrada e não
seja sobrecarregada com informação irrelevante.
• Estimula a consulta adiantada entre o empreendedor e a autoridade competente, e
com as autoridades ambientais, outras partes interessadas e o público, sobre o
projeto e seus impactos ambientais.
• Ajuda no planejamento, gerenciamento e alocação de recursos dos estudos
ambientais.
• Reduz o risco de atrasos no processo causados por pedidos de informação adicional
depois da submissão da informação ambiental, contida nos estudos e relatório de
AIA, à autoridade competente.
• Reduz o risco de desacordos sobre as metodologias de avaliação de impactos
(estudos de base, metodologias de previsão e critérios de avaliação) depois da
submissão da informação ambiental.
O escopo é focalizado principalmente na identificação dos impactos a serem
avaliados e quais destes são mais importantes, mas também pode tratar alguns ou todos
os seguintes assuntos:
• Os tipos de alternativa que devem ser consideradas;
34
tempos iniciais da AIA. Muitos desses instrumentos também têm sido talhados para o
uso em setores específicos, aumentando portanto a eficiência e precisão do processo de
identificação de impactos.
Os instrumentos formais mais comuns usados para a identificação de impactos,
alguns dos quais podem ser chamados de metodologias, são mostrados abaixo. Para
obter informações mais detalhadas4 sobre cada um deles consultar Gartner (2001),
Moreira (1992), Pastakia e Jansen (1998).
• Checklists (listagens de controle) – são desenvolvidas geralmente a partir de listas
das características ambientais ou atividades que deveriam ser investigadas para os
possíveis impactos. Elas podem variar em complexidade e propósito, consistindo em
uma listagem simples ou descritiva ou em um sistema que também confere
significância através do escalamento e ponderação dos impactos (as listagens
escalares e ponderadas são usadas para a avaliação dos impactos, sendo que a mais
conhecida é a Batelle5). As checklists podem ser melhoradas e adaptadas para se
adequar às condições locais e também podem ser desenvolvidas especificamente
para certos setores (como represas ou rodovias). Checklists setoriais são geralmente
usadas quando os proponentes se especializam em uma área particular de
desenvolvimento. Este recurso não é efetivo na identificação de impactos de ordem
mais alta ou do inter-relacionamento dos impactos.
• Matrizes – são metodologias que podem ser usadas para identificar a interação entre
as atividades do projeto e as características ambientais. A interação entre uma
atividade e uma característica ambiental pode ser mostrada na célula comum a
ambos. Podem ser feitas observações nas células para destacar a severidade do
impacto ou outras características relacionadas à natureza do impacto, utilizando por
exemplo, marcas ou símbolos que identificam o tipo de impacto (direto, indireto,
cumulativo), de forma ilustrada; números ou uma série de pontos de tamanho
diferente para indicar a escala; ou observações descritivas. A matriz de interação
mais conhecida é a matriz de Leopold, que é formada por 100 colunas que
4
Julgou-se suficiente apenas uma breve explicação de cada um dos métodos, uma vez o foco deste
trabalho é a questão do envolvimento e participação pública na AIA, e devido à existência de vários
trabalhos que descrevem detalhadamente os vários métodos para a identificação de impactos.
5
Para maiores detalhes sobre a listagem conhecida como Batelle consultar Gartner (2001) e Moreira
(1992).
42
6
Um painel é uma reunião na qual personalidades ou especialistas apresentam seus pontos de vista a
respeito de um tema, a fim de serem debatidos pelo plenário (Dicionário Aurélio, 1995).
7
Nos Estados Unidos, o termo ‘avaliação ambiental’ (AA) é utilizado significando uma avaliação
preliminar.
52
Estados Unidos em geral não são observadas, e não existe em relação aos ‘estudos
iniciais’ californianos. No entanto, a consulta e a participação públicas nas etapas
anteriores à submissão do relatório de avaliação de impacto ambiental estão fortemente
embutidas nos sistemas de AIA, como na Holanda e na Austrália Ocidental (EIA
Centre, 1995).
Os objetivos da revisão são revisar a qualidade do relatório de AIA, avaliar a
aceitabilidade da proposta, e obter comentários por parte dos atores. O processo de
revisão pode também ser usado para obter um julgamento imparcial de interesses
específicos, e geralmente conflitantes, das partes envolvidas e para evitar custos e
atrasos desnecessários. Geralmente a revisão identificará informação adicional que é
requerida ou medidas mitigadoras que poderiam ser incluídas. A revisão dos relatórios
de AIA geralmente é iniciada depois que o relatório é concluído, no entanto, ela pode
ser iniciada mais cedo e ser usada como um instrumento de monitoramento para
assegurar que o progresso é satisfatório e que a informação está de acordo com os
termos de referência. Portanto, é preferível que a revisão seja realizada antes que o
relatório final de AIA seja submetido à consideração por parte dos tomadores de decisão
finais.
A revisão dos relatórios de AIA pode ser realizada pelo governo, por autoridades
independentes, especialistas credenciados independentes ou painéis de revisão. Os
membros dos painéis de revisão não deveriam ser atores da proposta. Quando existem
questões que podem requerer pesquisa adicional, aspectos da proposta que requerem
modificação do relatório de AIA ou quando o relatório é inadequado, a revisão pode ser
um processo iterativo, com o retorno do relatório ao proponente para emendas que
visam remediar as inadequações identificadas.
A revisão através dos atores também pode ser realizada usando informação reunida
através de várias maneiras, que incluem informação fornecida pelo público quando da
exibição do relatório (ou quando o relatório é disponibilizado para o público), e da
realização de reuniões com as pessoas afetadas ou interessadas. Nesta etapa geralmente
são realizadas audiências públicas, que podem ser estruturadas de uma maneira formal
ou informal. Uma das maneiras de obter informação pública é receber comentários
escritos, contudo, a maioria das pessoas, com exceção dos mais instruídos e articulados,
53
fica intimidada em fazer tais comentários, portanto deveria haver outras maneiras de
alcançar respostas do público.
A revisão também pode ser realizada pelos proponentes durante a preparação do
relatório de AIA, como parte do processo de alcance da qualidade. Desta forma os
proponentes podem assegurar que seu trabalho tem um padrão apropriado, antes que ele
seja submetido à revisão externa.
O processo de revisão envolve o estabelecimento de um conjunto de critérios que
devem ser satisfeitos e padrões mínimos que devem ser alcançados. Estes padrões
variam de acordo com a importância relativa de um critério particular. Em alguns países
a revisão do relatório de AIA pode ser escrita, para consideração de um painel
independente.
A revisão pode ser realizada para verificar se:
• O relatório trata adequadamente o que foi estabelecido pelos Termos de Referência;
• Existe informação suficiente sobre os objetivos da proposta e seu cenário ambiental,
alternativas, impactos, mitigação e monitoramento;
• A informação é científica e tecnicamente correta;
• O processo de AIA foi conduzido apropriadamente, e os pontos de vista das partes
envolvidas têm sido levados em consideração;
• A informação tem sido apresentada de forma que possa ser entendida tanto pelos
tomadores de decisão quanto pelo público;
• A informação é relevante para as partes envolvidas na tomada de decisão; e
• Existe informação suficiente para que as implicações dos impactos ambientais sejam
tratadas pelos tomadores de decisão.
Quase todas as jurisdições preparam-se para a consulta e participação públicas
durante a revisão do relatório de impacto ambiental. Em um sistema de AIA
inteiramente participativo, estes direitos deveriam ser estendidos também à revisão da
informação posterior submetida pelo proponente. Cópias dos relatórios de impacto
ambiental deveriam ser obtidas gratuitamente ou a um preço razoável. Nos Estados
Unidos, tais documentos em geral são gratuitos, enquanto que em outras jurisdições
algumas vezes pode ser cobrada uma taxa substancial.
Em alguns sistemas de AIA (por exemplo, Polônia e Hong Kong), é difícil o público
obter acesso às cópias dos relatórios de impacto ambiental para certos tipos de projetos,
54
e quando isso é possível, os relatórios podem ser altamente técnicos. Em muitos países
em desenvolvimento é difícil, e algumas vezes impossível obter ou consultar cópias de
relatórios de AIA (EIA Centre, 1995).
auditoria pode ser vital para aumentar a credibilidade do processo de AIA e melhorar o
grau de confiança pública. Além disso, ela pode também ser usada para identificar e
corrigir (mitigar) impactos não antecipados (EIA Centre, 1998).
Para realizar a auditoria em AIA são requeridos os dados do monitoramento. Porém,
vários estudos destacam a falta de dados de monitoramento como o principal problema
quando se tenta realizar uma auditoria. Os requerimentos para o monitoramento variam
muito entre os diferentes países, embora requerimentos obrigatórios pareçam ser a
exceção e não a regra. Se os dados de monitoramento estão disponíveis para a auditoria,
eles podem não ser sempre apropriados. Existe também o perigo de que os dados de
monitoramento possam ser enviesados em direção aos interesses do empreendedor.
Mesmo se um programa de monitoramento existe, as variáveis que são monitoradas
podem não corresponder às variáveis (e/ou unidades) usadas na previsão, dificultando a
realização de uma auditoria. O monitoramento das condições de base pré-
desenvolvimento precisa ser realizado por tempo suficiente para assegurar que a
variabilidade natural dentro das variáveis relevantes sejam adequadamente entendida.
Além disso, a literatura indica que freqüentemente a formulação das previsões de
impacto nos relatórios de AIA é muito vaga, experimental ou incerta para permitir uma
auditoria rigorosa.
O custo do monitoramento e da auditoria é geralmente proibitivo para o
empreendedor, e existe uma falta geral de interesse nos benefícios que podem surgir de
uma AIA apropriadamente implementada e auditada. Existem também dificuldades
causadas por questões de confidencialidade e de acesso a dados. A percepção de que a
auditoria meramente destaca a inadequações de um relatório de AIA individual, e a
natureza freqüentemente adversa do processo, dificulta a melhoria da imagem da
auditoria. Muitas autoridades competentes podem enxergar a auditoria como uma
ameaça e um criticismo ao processo de tomada de decisão (Bisset, 1980).
A capacidade de comentar os resultados da etapa de monitoramento depende da
verificação dos procedimentos de operação e monitoramento. Os resultados do
monitoramento estão freqüentemente disponíveis, mas em geral são difíceis de obter.
Várias jurisdições, como o Canadá, recentemente tem tornado suas provisões relativas
ao monitoramento da AIA mais severas, requerendo a disseminação de informação para
o público. Na Holanda, a autoridade competente deve preparar um relatório pós-
62
Segundo Monosowski (1989), em 1981, iniciou-se uma nova fase para a política
ambiental brasileira, com a criação da lei da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei
nº 6.938/81) e com sua regulamentação em julho de 1983. Os objetivos nacionais
relativos à questão ambiental são determinados procurando-se levar em consideração as
desigualdades e especificidades regionais e propondo novos instrumentos técnicos e
institucionais. Segundo a autora, em nível institucional, duas inovações principais dessa
lei se destacaram:
• A criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), diretamente
vinculado ao Presidente da República e encarregado da formulação das políticas
ambientais. Desta forma foi definida uma nova instância política de decisões. A criação
do CONAMA e dos conselhos ambientais propiciaria a integração e a coordenação das
ações de diferentes setores governamentais. A participação pública nas decisões foi
contemplada, embora de forma limitada, através da inclusão de organizações
representativas da sociedade civil entre os membros do conselho;
• A criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), tendo por instância
superior o CONAMA. O SISNAMA incluiu o conjunto das instituições governamentais
que se ocupam da proteção e gestão da qualidade ambiental, em nível federal, estadual e
municipal, e também de órgãos da Administração pública Federal, cujas atividades
afetem diretamente o meio ambiente.
A Política Nacional do Meio Ambiente propôs também algumas inovações quanto
aos instrumentos e estratégias de sua implantação. Entre as questões prioritárias para
64
Para atingir esse objetivo, a Lei 6.938/81 prevê a Avaliação de Impacto Ambiental –
AIA e uma série de outros instrumentos complementares e inter-relacionados, citados a
seguir:
• Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, que
exige a elaboração a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo
Relatório de Impacto no Meio Ambiente (EIA/RIMA) e/ou outros documentos
técnicos como o Plano de Controle Ambiental (PCA), o Relatório de Controle
Ambiental (RCA) e o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), os quais
constituem instrumentos básicos de implementação da AIA;
• O zoneamento ambiental, o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental e a
criação de unidades de conservação, que condicionam e orientam a elaboração de
estudos de impacto ambiental e de outros documentos técnicos necessários ao
licenciamento ambiental;
• Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa ambiental, os
Relatórios de Qualidade Ambiental, as penalidades disciplinares ou compensatórias
ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da
degradação ambiental, os incentivos à produção, a instalação de equipamentos e a
criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental,
que facilitam ou condicionam a condução do processo de AIA em suas diferentes
fases (Moreira, 1989).
Segundo o artigo 10º da Política Nacional do Meio Ambiente,
conselho deliberativo criado em 1981 pela Lei 6.938 (PNMA), cujo papel é estabelecer
e coordenar a política ambiental, fazer as regulamentações principais e gerais, e propor
leis federais a serem submetidas ao Congresso Nacional.
Conforme Machado (2000), o CONAMA teria como finalidade a articulação de
todos os órgãos e entidades nas diversas instâncias governamentais, bem como de
instituições investidas pelo poder público de responsabilidade pela proteção e melhoria
da qualidade ambiental.
Entre as competências do CONAMA, incluem-se:
• estabelecer diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e recursos
naturais;
• baixar normas necessárias à execução e implementação da Política Nacional do
Meio Ambiente;
• estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras;
• determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das
possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando
aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como a entidade privadas, as
informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e
respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação
ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional (Lei 6938,
Artigo 8º ).
O CONAMA legisla por meio de Resoluções, quando a matéria se tratar de
deliberação vinculada à competência legal e através de Moções, quando versar sobre
matéria, de qualquer natureza, relacionada com a temática ambiental. Por meio de suas
resoluções, o CONAMA organizou um conjunto coerente de normas essenciais para a
preservação e melhoria da qualidade do meio ambiente (Machado, 2000).
Atualmente o CONAMA é composto de Plenário e Câmaras Técnicas, sendo
presidido pelo Ministro do Meio Ambiente. A Secretaria Executiva do CONAMA é
exercida pelo Secretário Executivo do Ministério de Meio Ambiente (MMA).
O Conselho é um colegiado, representativo de diversos setores do governo e da
sociedade que lidam direta ou indiretamente com o meio ambiente. A composição do
Plenário é feita da seguinte forma:
68
• um representante do IBAMA;
• um representante da Agência Nacional de Águas - ANA;
• um representante de cada um dos Ministérios, das Secretarias da Presidência da
República e dos Comandos Militares do Ministério da Defesa, indicados pelos
respectivos titulares;
• um representante de cada um dos Governos Estaduais e do Distrito Federal,
indicados pelos respectivos governadores;
• oito representantes dos Governos Municipais que possuam órgão ambiental
estruturado e Conselho de Meio Ambiente com caráter deliberativo;
• vinte e um representantes de entidades de trabalhadores e da sociedade civil;
• oito representantes de entidades empresariais;
• um membro honorário indicado pelo Plenário;
• um representante do Ministério Público Federal; (sem direito a voto)
• um representante dos Ministérios Públicos Estaduais, indicado pelo Conselho
Nacional dos Procuradores-Gerais de Justiça; (sem direito a voto)
• um representante da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e
Minorias da Câmara dos Deputados (sem direito a voto) .
a necessidade de se regulamentar a matéria, para evitar que a AIA viesse a ser utilizada
sem os critérios adequados. Levantou-se a necessidade de submeter ao licenciamento
ambiental todas as atividades que por seu porte, localização ou natureza, modificassem
significativamente o meio ambiente, principalmente aquelas executadas pelos órgãos e
instituições públicas, que até então ficavam livres de qualquer controle ambiental.
Conseqüentemente, o representante do Estado do Rio de Janeiro tomou a iniciativa de
encaminhar ao Presidente do CONAMA uma proposta de resolução que tivesse como
objetivo estabelecer as diretrizes gerais para a implementação do uso da AIA em nível
nacional.
Com base na terminologia e nas diversas determinações do Decreto nº 88.351/83,
que regulamentava a PNMA, a proposta de resolução definia impacto ambiental,
estabelecia a lista das atividades modificadoras do meio ambiente que deveriam ser
obrigatoriamente submetidas à AIA, atribuía as responsabilidades dos participantes e
fornecia diretrizes gerais para a elaboração do estudo e apresentação do respectivo
RIMA, determinando seus conteúdos mínimos. A proposta foi aprovada depois de
discussões exaustivas, constituindo a Resolução CONAMA nº 1, de 23/01/1986. Um
dos pontos mais importantes dessa resolução é a obrigatoriedade de licenciamento
ambiental para projetos governamentais, que antes não tinham de ser licenciados
(Moreira, 1989).
Para Capocianco (1997) apud Machado (2000), entre 1984 e 1986 o CONAMA
conseguiu desempenhar o papel de articulador das diversas áreas de governo no espaço
ambiental estatal, buscando promover a co-responsabilidade na formulação e
implementação das suas políticas ambientais e assegurando-lhe uma certa unidade. Mas
a partir de 1986, começou um processo crescente de tecnificação da política ambiental
formulada, sendo que as discussões do conselho começaram a se concentrar em torno
da definição de normas e procedimentos ambientais, com uma forte redução do
conteúdo político. Com isso, ocorreu uma retroalimentação entre a despolitização das
questões discutidas no CONAMA (através da tecnificação ou normalização técnica do
meio ambiente) e a perda do poder político desse órgão. A partir deste fato, abriu-se
espaço para a entrada de novos agentes e novos arranjos institucionais no cenário da
formulação e implementação da política ambiental brasileira.
70
8
Em Santa Catarina, o OEMA (FATMA) desenvolveu Instruções Normativas para diferentes
tipos de licenciamentos (por exemplo, para Atividades Industriais, Atividades de Mineração, Estações de
Tratamento de Esgoto, Suinocultura, e outros).
72
O EIA apareceu pela primeira vez no âmbito da Legislação Federal através da Lei n°
6.803/80, que dispõe sobre o zoneamento industrial, mas sem definições e critérios
(Barbieri, 1996). De acordo com essa lei o EIA só era exigível na aprovação de limites e
autorizações para a implantação de zonas de uso estritamente industrial destinadas à
localização de pólos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos, bem como de
instalações nucleares. Em nenhum momento a lei previu a participação da comunidade
no processo decisório de escolha das alternativas ou sequer na fiscalização do EIA
(Milaré, 1994). Somente depois da decretação da Lei n° 6.938/81, que dispõe sobre a
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que a avaliação de impactos ambientais
passou a ser objeto de provisões explícitas em nível federal.
74
“Foi exatamente para prever (e, a partir daí, prevenir) o dano antes de
sua manifestação que se criou o EIA. Daí a necessidade de que seja
elaborado no momento certo: antes do início da execução, ou mesmo
de atos preparatórios, do projeto. Não é à toa que a Constituição
Federal preferiu rebatizar o instituto, passando de ‘avaliação de
impactos ambientais’ para ‘estudo prévio de impacto ambiental10”
(Milaré, 1994, p. 53).
9
Consultem-se, a propósito, as constituições dos Estados de Alagoas (art. 217,1V), Amazonas (arts. 230,
VI, e 235). Bahia (art. 214. IV), Ceará (art. 264), Espírito Santo (art. 187), Goiás (art. 132, § 3º),
Maranhão (art. 241, VIII). Mato Grosso (art. 263, § único, IV), Mato Grosso do Sul (art. 222, § 2º,
IV), Minas Gerais (art. 214, §§ 1º, IV, e 2º) Pará (art. 255, § 1º), Paraíba (sri. 228, § 2º), Paraná (art.
207, §1º, V), Pernambuco (art. 215), Piauí (art. 237, § 1º, IV), Rio de janeiro (art. 258, § 1º, X), Rio
Grande do Norte (art. 50, § 1º, IV), Rio Grande do Sul (art. 251, § 1, V), Rondônia (art. 219, VI),
Santa Catarina (art. 182, V), São Paulo (art. 192. parágrafo 2º), Sergipe (art. 232, § 1º, 1V).
10
Na verdade, a expressão Avaliação de Impacto Ambiental é utilizada neste trabalho para designar o
instrumento da política ambiental, que consiste no processo de avaliação de impactos, enquanto que o
Estudo de Impacto Ambiental ou Estudo Prévio de Impacto Ambiental consiste no documento técnico
resultante deste processo.
75
II ferrovias;
—
sanitários;
VII obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como barragens para
—
acima de 10 MW;
XVI qualquer atividade que utilize carvão vegetal, derivados ou produtos similares, em
—
11
Acrescentado pela Resolução CONAMA nº 11/86.
78
espeleológico nacional.12
De acordo com Barbieri (1996), além das atividades acima relacionadas, depende
de EIA a ser submetido ao IBAMA o licenciamento de atividades que por lei sejam de
competência privativa da União (art. 3º). O EIA também é necessário para o
licenciamento do parcelamento e remembramento do solo, bem como da construção,
instalação, ampliação e funcionamento de atividades que alteram as características
naturais das zonas costeiras, de acordo com a Lei nº 7.661 de 1988 (Plano Nacional de
Gerenciamento costeiro - art. 6º). A Resolução CONAMA nº 5/88 determinou que
ficam sujeitas a licenciamento as obras de saneamento para as quais seja possível
identificar modificações ambientais significativas.
De acordo com a listagem aprovada pelo CONAMA, a aplicação da AIA limita-se
quase que exclusivamente a projetos individuais; apenas os distritos e as zonas
estritamente industriais se referem a planos. Contudo não existe impedimento legal para
que, implantado o processo para essas atividades, os órgãos ambientais possam utilizar
as mesmas técnicas e procedimentos para apreciar outros planos e programas de
desenvolvimento, caso seja essa a estratégia de atuação mais adequada. (Moreira, 1989).
A lei brasileira exige o EIA apenas para empreendimentos que possam causar
significativa degradação ao meio ambiente. No entanto, é difícil indicar com precisão o
conceito de “significativa degradação”, pois na implantação de um projeto sempre
existirão alterações adversas das características do meio ambiente.
12
Acrescentado pela Resolução CONAMA nº 5/87.
79
Para tentar resolver esse problema, a legislação brasileira elaborou a lista mostrada
acima (Art. 2º da Resolução CONAMA nº 1/86), enumerando as obras e atividades
qualificadas para produzir efeitos ambientais indesejáveis. Contudo, a expressão tais
como, utilizada na Resolução CONAMA nº 1/86 apresentou um elenco meramente
exemplificativo de atividades ou empreendimentos modificadores do ambiente que
dependem da aprovação de EIA e de seu respectivo RIMA. Os incineradores de lixo,
por exemplo, não são citados pela Resolução, apesar de seu grande potencial poluidor,
com emissão de dioxinas, metais pesados e organoclorados de maneira geral. Esta
expressão, geralmente mal interpretada, permite aos órgãos governamentais ambientais
não exigir a realização de EIA para outros tipos de empreendimentos, que não são cita-
dos explicitamente neste artigo (Milaré, 1994; Barbieri, 1996).
De acordo com Alves (1995), a listagem de projetos fornecida pelo artigo 2º da
Resolução CONAMA nº 1/86 não é suficiente para garantir que a proteção do meio
ambiente, visto que existem casos relacionados que não provocam impactos
significativos, bem como casos de menor importância do que aqueles previstos que
oferecem oportunidade para a previsão de danos significativos na sua instalação ou
operação.
Portanto, é necessário
como” é utilizada novamente, seguida de uma lista de obras, geralmente de grande porte
e causadoras de impacto ambiental significativo.
Em relação ao inciso XV, que faz menção a “projetos urbanísticos, acima de l00
hectares ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério do IBAMA
e dos órgãos municipais e estaduais competentes”, a mesma autora afirma que:
“À evidência, não pode ser tida como absoluta uma listagem que deixa
decisões e definições a critério do órgão aplicador. As ‘áreas de
relevante interesse ambiental’ (não definidas legalmente), se não
forme integrantes de uma unidade de conservação ou se já não tiverem
sido assim previamente consideradas, deverão ser identificadas, em
cada caso concreto, à vista de suas características e de acordo com o
julgamento feito pelo órgão ambiental (...) Ora, arremata a autora, para
que um elenco possa ser considerado obrigatório em todos os seus
termos, não admitindo o uso de critério pelo aplicador da norma, deve
ser preciso, exato, não podendo dar margem a dúvidas ou
interpretações casuísticas”. (Gouvêa, 1989 apud Milaré, 1994, p. 66-7)
Por outro lado, o art. 2º da Resolução CONAMA nº1/86 tem sido objeto de muitas
críticas, pois permite aos órgãos governamentais exigir a realização de EIA para
qualquer empreendimento.
Na verdade, não tem sido tão comum a exigência deste estudo para
empreendimentos em operação, e deveria ser, especialmente nos casos de ocorrência de
acidentes graves como os ocorridos com a PETROBRÁS no passado recente, e não
apenas para a expansão dos empreendimentos ou mudanças em seus regimes de ope-
ração.
Nesse sentido, Custódio (1995, p. 60) recomenda que deveria ser aplicada a AIA,
juntamente com propostas para a recuperação do ambiente danificado, no caso de
82
Conforme Moreira (1989), esse artigo salienta a necessidade das entidades de meio
ambiente e os órgãos governamentais e empresas estatais, tanto aqueles responsáveis
por concessões de uso de recursos ambientais, quanto àqueles executores de projetos
(como a PETROBRÁS), compatibilizarem os processos de licenciamento com as etapas
de planejamento e implantação de atividades modificadoras do meio ambiente. Até
então os órgãos e empresas estatais nunca haviam sujeitado suas atividades aos prazos,
exigências e controles dos órgãos ambientais.
83
III – definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a
bacia hidrográfica na qual se localiza;
De acordo com Alves (1995, p.67), “como será possível que todas as despesas e os
custos referentes à realização do EIA/RIMA fiquem por conta do proponente, sem que
com ele haja uma relação de dependência da equipe técnica que o elaborará?” Portanto,
a expressão “não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto” é
86
demais atores para definir quais as questões prioritárias a serem tratadas no Estudo
de Impacto Ambiental;
• Estruturar grupos específicos de assessoramento popular através do seu setor de
Educação Ambiental;
• Criar, especialmente em casos de empreendimentos complexos ou controversos,
Grupos de Trabalho e/ou Comitê de Assessoramento Técnico-Científico;
• Propor a criação ou fortalecimento de Conselhos Estaduais de Meio Ambiente
CONSEMA e/ou Conselhos Municipais de Meio Ambiente - CONDEMAS. Esses
Conselhos constituem instâncias regulamentadoras do licenciamento ambiental e
podem servir de fórum de discussão de processos controversos de licenciamento
ambiental, através de suas Câmaras Técnicas;
• Desenvolver metodologias para análise de EIA/RIMA;
• Organizar as audiências públicas, sendo que no dia de sua realização a audiência é
dirigida pelo representante do órgão de meio ambiente, que após a exposição
objetiva do projeto e seu respectivo RIMA, abre a discussão com os interessados
presentes;
• Alocar recursos humanos, físicos e financeiros para a fiscalização dos efeitos
ambientais negativos e para o acompanhamento e monitoramento dos impactos
ambientais de empreendimentos licenciados.
• Estruturar a Equipe de Auditoria Ambiental, composta por técnicos próprios,
especialistas diversos, representantes do empreendedor e dos grupos sociais afetados
pelo empreendimento.
Segundo Bastos e Almeida (1999), quando o empreendedor submete os estudos de
impacto ambiental ao órgão ambiental licenciador, estes estudos devem ser
cuidadosamente analisados por uma equipe técnica qualificada, que aprovará os estudos,
ou fará sugestões de algumas modificações para poder aprovar os relatórios, ou
definitivamente não aprovar os referidos estudos. Caso aceito, o órgão ambiental coloca
o EIA/RIMA à disposição do público, e marca-se audiência pública.
Com relação ao monitoramento, os órgãos estaduais de meio ambiente vêm
adotando os seguintes procedimentos:
• Recebimento dos Relatórios de Monitoramento Ambiental elaborados pelo
94
• Empreendedor
• Equipe Multidisciplinar
13
As siglas PCA, RCA e PRAD significam Plano de Controle Ambiental, Relatório de controle
Ambiental e Plano de Recuperação de Áreas Degradadas, respectivamente.
97
Para maior efetividade de seu papel, deve estabelecer uma relação de parceria
permanente com o órgão de meio ambiente e os grupos criados para orientar e
assessorar processos de AIA. Essa interação, realizada nos foros instituídos pelo órgão
de meio ambiente com esse fim, deve resultar em revisões que permitam o
aprimoramento dos estudos (IBAMA, 1995).
Para Bastos e Almeida (1999), a empresa de consultoria deve formar uma equipe
multidisciplinar habilitada e administrativa; obter dados e informações técnico-
científicas e dar um tratamento a esse material; obedecer a um cronograma de trabalho;
e garantir a gestão da qualidade dos estudos.
Na audiência pública a empresa consultora deve apresentar os estudos ambientais
realizados e suas conclusões.
A equipe multidisciplinar deve conferir total transparência às informações
trabalhadas, colocando-se sempre disponível ou tomando a iniciativa de discutir com os
demais agentes participantes do processo de elaboração do EIA/RIMA ou de outro
documento técnico semelhante:
• a base conceitual do método adotado no estudo de impacto ambiental;
• as análises e conclusões do Estudo Ambiental:
• as possibilidades reais de operacionalização dos programas propostas para o
acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais do empreendimento,
com o efetivo envolvimento dos atores sociais previstos (IBAMA, 1995).
O estudo de impacto ambiental (EIA) tem um caráter interdisciplinar, e por isso a
equipe multidisciplinar deve envolver profissionais dos diversos ramos técnico-
científicos, possibilitando a troca de conhecimentos e a obtenção de resultados que
reflitam a síntese das interações das diversas disciplinas e não apenas a justaposição de
trabalhos individuais (Moreira, 1989).
• Ministério Público
Com a promulgação da Lei nº 7.347/85, conhecida como Lei da Ação Civil Pública
ou Lei dos Interesses Difusos, conferiu-se ao Ministério Público, estadual e federal, bem
como aos órgãos e instituições do governo federal e às associações ambientalistas, a
legitimidade para acionar, mesmo que liminarmente, os responsáveis por danos
101
AIA não estão sendo aplicados de acordo com a lei (Lei 6938/81 e Resolução
CONAMA nº 1/86). Estas regulamentações estabelecem que o EIA/RIMA tem de ser
realizado durante a etapa de licença prévia (LP), mas em muitos casos este
procedimento está sendo realizado apenas na etapa de licença de instalação (LI),
reduzindo o papel da AIA como um instrumento preventivo e de planejamento.
Em nível estadual, o processo de AIA é empreendido pelas SEMAs/OEMAs, com
um forte foco setorial. Outras secretarias de estado que têm algum relacionamento com
questões ambientais (por exemplo, secretarias de transporte e energia) estão menos
envolvidas com a AIA diretamente, tendo em alguns casos apenas uma participação
distante e secundária no processo, sem consulta, através de seus representantes no
CONSEMA. Esta abordagem setorial produz fortes lutas entre as instituições
ambientais e as outras instituições que acreditam que a AIA possa perturbar seus
próprios projetos. Uma solução possível para estes problemas poderia ser a
implementação de regulamentações secundárias, que redistribua a responsabilidade da
AIA de alguns tipos de projetos para a competência de outras secretarias (apesar de
algumas poucas exceções, não existem regulamentações secundárias e orientação para
projetos específicos). Além disso a maioria dos estados brasileiros possui problemas
ambientais muito sérios, e as SEMAs/OEMAs não possuem pessoal treinado e
qualificado e recursos materiais, nem apoio político para revisar o RIMA e outros
procedimentos de AIA (Glasson e Salvador, 2001). Em muitos casos o órgão ambiental
estadual alega falta de pessoal e recursos para justificar sua omissão, no entanto,
quando não existem condições para sua atuação esta competência deve ser transferida
para o órgão federal.
Na maioria dos casos, as OEMAs não providenciam os Termos de Referência para
que os EIA de projetos específicos levem em consideração as características ambientais
e do projeto. Os Termos de Referência geralmente são feitos pelos empreendedores
(proponentes) e a etapa de definição do escopo (scoping) pode ser deficiente. A falta de
Termos de Referência ou sua elaboração inadequada resulta em EIA/RIMAs de baixa
qualidade, dificultando a revisão do RIMA. Alguns RIMAs feitos por certas empresas
de consultoria são repetitivos, e comenta-se severamente sobre a “indústria do
EIA/RIMA”, já citada anteriormente neste trabalho.
Para o IBAMA (1995), as principais dificuldades que têm limitado a capacidade do
104
14
O termo Avaliação Ambiental Estratégica representa uma maneira convencionada de identificar o
processo de avaliação dos impactos ambientais de decisões feitas nos níveis de planejamento, políticas e
programas, no estágio mais inicial possível. A AAE considera uma série de alternativas possíveis de
modo sistemático, e assegura uma integração completa das questões relevantes, incluindo considerações
biofísicas, econômicas, sociais e políticas. Atualmente, a AAE é utilizada como uma abordagem
fundamental no processo de melhoria do desempenho da avaliação ambiental, sendo uma ferramenta
inestimável para a integração de questões ambientais dentro do processo de tomada de decisão e para a
busca de metas relacionadas à sustentabilidade (Partidário, 1996).
106
critério estabelecido que seja mais usado para este processo, e atualmente são
geralmente usados os índices de qualidade ambiental ou escalas ordinais.
A importância de um impacto é considerada em termos de seu retorno social, ou
quanto importante pode ser o impacto para a qualidade de vida da população afetada.
Atualmente, os impactos são em primeiro lugar julgamento de valor social, e as
decisões técnicas freqüentemente entram em conflito com decisões políticas. Por isso é
importante que o público participe nas decisões que se baseiam na importância daqueles
impactos.
O monitoramento ambiental é obrigatório no sistema brasileiro de AIA, apesar de
seu custo. A definição e medida dos impactos ambientais projetados incorporam
elementos desconhecidos por causa das limitações do diagnóstico ambiental e das
previsões da magnitude e inter-relações destes impactos. Independentemente da
avaliação do impacto, o critério, importância e interpretação de impactos refletem o
conhecimento atual, bem como julgamentos de valor pessoal, sejam eles provenientes
de grupos de trabalho técnicos ou de representantes do público que têm a última palavra
sobre o projeto e as dimensões da AIA. O monitoramento ambiental deveria iniciar com
as fases de aprovação e implementação do projeto, para verificar aqueles parâmetros
identificados na AIA e permitir o desenvolvimento de estimativas de parâmetros mais
realísticas.
Para realizar o acompanhamento e monitoramento ambiental da execução, pelo
empreendedor, do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos
positivos e negativos, os órgãos de meio ambiente têm encontrado as seguintes
dificuldades:
• Falta de pessoal qualificado para análise dos relatórios de monitoramento elaborados
pelo empreendedor, vistorias técnicas mais produtivas e elaboração de pareceres
técnicos, provocando atraso na tomada de decisão;
• Falta de articulação interna no sentido de utilizar as informações produzidas
pontualmente pela fiscalização, no processo contínuo de acompanhamento e
monitoramento ambiental exercido pelos órgãos sobre o empreendimento, falta de
conhecimento do conteúdo e respectivo embasamento técnico dos programas de
acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais aprovados no
EIA/RIMA ou em outros documentos técnicos semelhantes e falta de conhecimento
107
15
Neste trabalho utiliza-se o termo ‘participação pública’, e não ‘participação popular’, por considerar
que o termo ‘pública’ implica na participação de todos os atores envolvidos no processo de AIA, e por
entender que o termo ‘popular’ refere-se somente à participação das comunidades locais.
109
assegurar que os benefícios sejam maximizados e que nenhum impacto maior tenha
sido negligenciado;
• Fornecer uma oportunidade para o público influenciar o design do projeto de uma
maneira positiva;
• Obter conhecimento local e tradicional (corretivo e criativo), antes da tomada de
decisão;
• Aumentar a confiança pública nos revisores e tomadores de decisão;
• Fornecer uma maior transparência e responsabilidade na tomada de decisão;
• Reduzir conflitos através da identificação antecipada de questões contenciosas.
Benefícios menos tangíveis são obtidos através do envolvimento público à medida
que os participantes vêem que suas idéias podem ajudar a melhorar as propostas. As
pessoas ganham confiança e auto-estima tomando parte do processo e as percepções são
melhoradas através da reunião, e do intercâmbio de idéias e informação com pessoas
que têm valores e visões diferentes.
Para Webler et al. (1995), existem três razões principais para a inclusão de
oportunidades para a participação pública na avaliação de impactos ambientais e sociais.
Em primeiro lugar, a competência da decisão final é mais alta quando o conhecimento
local é incluído e quando o conhecimento de especialistas é examinado publicamente.
Segundo, a legitimidade do resultado final é mais alta quando as partes potencialmente
afetadas podem declarar os próprios argumentos antes dos especialistas e têm chances
iguais para influenciar o resultado da decisão, isto é, o processo é justo. Terceiro, a
participação pública é identificada como uma conduta apropriada do governo
democrático em atividades de tomada de decisão pública.
Através do envolvimento público desde o início do processo de AIA é possível
identificar questões que os ‘especialistas’ não consideram importantes, mas que podem
ter um grau de importância desproporcional à magnitude do impacto (EIA Centre,
1995).
De acordo com Dias e Sánchez (1999, p. 90), o sucesso da AIA depende mais de
uma atitude aberta e flexível, com muita participação, do que a utilização de qualquer
procedimento rígido para identificar e prever cientificamente os impactos. “A
participação pública, muitas vezes, é capaz de revelar implicações de uma ação não
112
informar uma grande parte da comunidade e pode em geral avisar sobre outras
atividades de participação. Porém, a quantidade de informação que pode
efetivamente ser comunicada é limitada e não dá oportunidade a retroalimentação
por parte do público.
• Panfletagem – folhetos, panfletos e pacotes de informação podem ser distribuídos ao
público em geral, sendo um método rápido e fácil de fornecer informação geral. Esta
informação deveria ser breve mas deveria incluir um sumário do projeto, as questões
envolvidas e detalhes de outras atividades de participação (com números de telefone
e endereços). O fluxo de informação em uma via pode estar sujeito a
tendenciosidades ou interpretação errada por parte do público em geral.
• Uso da mídia – a cobertura através de jornais, televisão e rádio são métodos
efetivos e não muito dispendiosos para alcançar uma grande parcela da
comunidade. Este método sozinho não fornece uma retroalimentação para o
proponente e também é restringido pela quantidade de informação que pode ser
disponibilizada para o público através de cada meio da mídia.
• Exposições e exibições – estas técnicas empregam a comunicação visual de
informação para educar e informar o público. Quando realizadas em locais
acessíveis elas fornecem um meio de baixo custo para alcançar um grande número
de pessoas, que de outra forma, podem falhar em participar em um programa de
participação pública. As exposições deveriam basear-se em fotografias, mapas e
diagramas em vez de textos para permitir uma fácil comunicação. Um diálogo em
duas vias somente é facilitado através de pessoal preparado ou por outros meios de
participação.
• Visitações públicas (Open houses) – estas visitações deveriam ser promovidas em
um local dentro da comunidade onde o público possa assistir a exposições, fazer
perguntas e discutir questões com o pessoal do projeto. A natureza informal desta
participação pode atrair indivíduos que podem ser dissuadidos a comparecer a
reuniões públicas mais formais. Os problemas associados a este método incluem o
alto custo de fornecer pessoal para receber uma retroalimentação (feedback) do
público e discutir as questões relevantes.
• Linha telefônicas (‘hot lines’) – números telefônicos que são alocados para uso do
público em geral permite a colocação de perguntas ou comentários sobre os
116
criar outros planos de ação. Porém, ele é limitado pelo uso de grupos pequenos de
representantes da comunidade e requer uma organização extensiva pelos
proponentes, o que pode torná-los caros.
• Reuniões públicas – estas reuniões requerem que o proponente faça uma
apresentação descrevendo o projeto e as questões relevantes, que é então seguida de
uma sessão de perguntas e respostas. Deveriam ser realizadas em um local central e
de fácil acesso para a comunidade. As reuniões públicas são relativamente baratas.
A informação fornecida pelo proponente deveria ser simples, para ser comunicada a
uma ampla seção da sociedade, de outra forma a discussão pode falhar em beneficiar
o proponente ou o público.
• Audiências públicas e inquéritos – as audiências são mais formais do que as
reuniões públicas e são vistas como o método tradicional de participação pública em
muitas jurisdições. No entanto, muitos indivíduos não estão dispostos a expressar
suas opiniões em um ambiente tão formal onde a discussão é altamente estruturada.
Estes métodos também consomem tempo e são caros para todas as partes que
desejam apresentar suas opiniões. Apesar disso, elas fornecem uma oportunidade
para a comunicação em duas vias.
As técnicas apresentadas acima possuem vantagens e desvantagens quando usadas
em diferentes circunstâncias nacionais e em diferentes etapas do processo de AIA. É
preciso atingir um equilíbrio entre os benefícios positivos da consulta e participação
pública na melhoria dos impactos das ações, e alcançar um consenso sobre os resultados
ambientais e os custos financeiros e tempo envolvidos. O ponto de equilíbrio varia entre
os sistemas de AIA e com o tempo, mas a tendência em direção a uma consulta e
participação mais efetivas é indiscutível.
A escolha da técnica deveria ser obviamente apropriada à etapa do processo de AIA
para o qual ela é empregada. Por exemplo, uma audiência pública pode ser apropriada
imediatamente após a tomada de decisão, e é muito improvável que seja apropriada para
a etapa de triagem (screening). Na prática, muitas jurisdições deixam os tomadores de
decisão e proponentes à vontade na escolha das metodologias de consulta e
participação.
A escolha da técnica de participação também deve ser apropriada à sociedade no
meio da qual o projeto proposto será localizado. Por exemplo, o tamanho e o estilo das
118
uma forma de educação e informação legal pública, de modo que ela lida com
legislação e regulamentações de AIA, políticas de governo, audiências públicas, e
procedimentos administrativos.
• As pessoas que são instruídas sobre a lei serão mais capazes de proteger seus
direitos e cumprir suas responsabilidades sob a lei do que aquelas que não são;
que é comunicada e elas, mas também das perguntas que outros fazem. Os
participantes são três vezes mais dispostos a perguntar questões sobre material
escrito se ele é apresentado em forma de aula em vez de sem nenhuma apresentação.
Quadro 5 - Lista das técnicas de educação pública para AIA
geralmente as partes têm pouca paciência para discussões que não são relacionadas
ao projeto. Em grande parte por esta razão as visitações públicas ocorrem
geralmente muito tarde para discussões sobre o processo de AIA. Além disso, as
visitações públicas geralmente têm oferecido um tempo limitado para o
questionamento.
• Uso de Linguagem simples – proporcionar uma legislação com linguagem clara e
simples auxilia muito as pessoas no seu entendimento do processo e faz com que
elas sintam-se como parte dele. Embora certos grupos tenham discutido a
necessidade da linguagem simples em documentos e legislação por anos, tem havido
pouco desenvolvimento a esse respeito. Os impedimentos principais parecem ser a
não disposição para aceitar a idéia de que conceitos complexos possam ser
expressos em termos simples, e uma inércia geral de parte das instituições legais e
do governo com relação à mudança de qualquer tipo.
• Linhas telefônicas – As linha telefônicas têm se tornado uma técnica muito popular
no provimento de informação e educação pública. Muitas municipalidades têm
linhas telefônicas para informação sobre a redução de resíduos, re-uso e programas
de reciclagem. Grupos ambientais fazem uso desta técnica assim como organizações
de educação legal pública. Existem linhas telefônicas para dar informação legal por
todo o Canadá e são usadas extensivamente porque são convenientes, gratuitas e
anônimas. O custo é a maior desvantagem desta técnica porque é preciso pessoal
para operar as linhas.
• Publicações – materiais escritos, prontamente disponíveis, oferecem um modo
efetivo e de custo-eficiente de proporcionar a educação. A informação escrita sobre
o processo de Avaliação de Impacto Ambiental e a participação dentro desse
processo é essencial para desmistificar a AIA. Além da desvantagem óbvia da
necessidade das pessoas serem capazes de ler e interpretar materiais escritos,
precisa ser fornecido um serviço de informação para responder questões que
poderiam surgir.
• Vídeo/filme – um vídeo ou filme a respeito do processo de AIA seria um meio
efetivo de educação. Embora este possa ser um modo agradável, divertido e custo-
efetivo para aprender, precisa também ser auxiliado com um serviço de informação
para responder à questões levantadas pelo filme.
125
Em seu modelo para educação crítica, Diduck (1999) destaca também a teoria da
aprendizagem transformadora de Mezirow (1981), a qual focaliza o processo de
aprendizagem e acomoda o contexto social no qual a aprendizagem ocorre, para tentar
explicar como os adultos aprendem. 16
A aprendizagem transformadora descreve um processo através do qual os indivíduos
melhoram sua competência instrumental e comunicativa e desenvolvem quadros de
referência mais funcionais. Competência instrumental refere-se a aprender como
controlar ou manipular o ambiente, isto é, como lidar com o mundo externo.
Competência comunicativa envolve tentar entender o que alguém quer dizer quando ele
se comunica com você. Isto ajuda o aprendiz a negociar significados, intenções e
valores, em vez de meramente aceitar aqueles de outros. Um quadro de referência
consiste de duas dimensões: uma significando perspectivas (amplas predisposições
psicológicas, sócio-culturais e epistêmicas); e outra significando esquemas mentais
(crenças, sentimentos, atitudes e julgamentos de valor específicos). Os quadros de
referência são mais funcionais quando eles se tornam mais inclusivos, diferenciadores,
criticamente reflexivos e quando integram experiências pessoais.
16
O sistema de conceitos, valores, hábitos, etc. a partir do qual se avalia um conjunto de dados,
informações, idéias, etc. (Dicionário Aurélio, 1999).
129
atividade econômica, com mandato por período pré-determinado. Sua estruturação pode
ser viabilizada através de convênios ou cooperações técnicas entre o órgão licenciador e
instituições de ensino e pesquisa e órgãos da administração pública ou de contratação
direta de especialistas.
3) Grupo de Assessoramento Popular - organizado preferencialmente com o apoio
do setor de Educação Ambiental do órgão ambiental licenciador, com a função de:
• auxiliar a equipe multidisciplinar, o Grupo de Trabalho e o Comitê de
Assessoramento Técnico-científico na identificação empírica dos efeitos ambientais
esperados do empreendimento e de medidas alternativas de prevenção/correção de
efeitos negativos;
• auxiliar o órgão licenciador na análise do EIA/RIMA ou de outro documento técnico
semelhante;
• servir de elo de ligação entre o empreendedor e o órgão de meio ambiente e as
comunidades que representam, fazendo chegar até elas as informações e propostas
inerentes ao processo de licenciamento ambiental;
• fiscalizar permanentemente os efeitos ambientais do empreendimento.
Esse grupo deveria ser formado por representantes de organizações não-
governamentais interessadas e das comunidades a serem potencialmente afetadas pelo
empreendimento, em suas diferentes alternativas de localização. Poderiam ser criados
mais de um Grupo de Assessoramento Popular ou, ainda, subgrupos, para
aprofundamento de questões específicas e setoriais demandadas pelo empreendimento,
desde que mantida a interação entre eles.
4) Audiências Públicas Intermediárias - visam um escalonamento do processo de
AIA, com possibilidade de concessão de licença Prévia a empreendimentos, antes de
concluído o EIA/RIMA ou outro documento técnico semelhante exigido pelo órgão de
meio ambiente. Este mecanismo permite correções no processo, antes da Audiência
Pública final, podendo agilizar a tomada de decisão e reduzir custos, tanto para o
empreendedor quanto para o órgão ambiental. A quantidade de audiências dependeria
da complexidade do empreendimento e das necessidades detectadas pelos grupos e
comitês de assessoramento ou pela sociedade.
134
Ação Ecológica, entre outras. Esta planta tem sido estudada visando o tratamento da
doença de Chagas, e segundo Convenção da Diversidade Biológica, áreas onde existem
espécies cientificamente catalogadas para estudo devem ser protegidas
permanentemente. Além deste importante impacto específico, o EIA e o RIMA não
apresentaram elementos quantitativos e qualitativos suficientes com relação à fauna e a
flora para que a sociedade e os órgãos licenciadores pudessem avaliar com mais
precisão os impactos reais do projeto.
O segundo exemplo refere-se à Usina Hidrelétrica de Cubatão, que seria implantada
no município de Joinville. Apesar de o órgão estadual responsável pelo licenciamento
(FATMA) ter concedido a licença ambiental prévia e de instalação, a atuação de uma
ONG formada especialmente para fazer oposição pública frente ao empreendimento –
SOS Cubatão – conseguiu reverter o processo de implementação da referida usina.
Neste caso o estudo de impacto ambiental havia constatado, através de amostragem
muito pequena, que na área a ser desmatada para a construção do empreendimento
existia somente e vegetação rasteira e pinus, mas a atuação da ONG junto ao IBAMA
mostrou a existência de uma grande área com remanescente de mata nativa (floresta
ombrófila densa), fazendo com que este órgão não concedesse o licenciamento.
Em países da Europa Central e Oriental, segundo Richardson et al. (1998), a
participação pública em AIA é um fenômeno relativamente novo que está sendo
introduzido em processos de planejamento tradicionalmente fechados. Devido à inércia
contra a democratização da tomada de decisão, as organizações não-governamentais
(ONGs) estão começando a desempenhar um papel crítico, advogando a necessidade de
uma reforma e estabelecendo pró-ativamente novas práticas de participação pública.
A escolha dos métodos utilizados no envolvimento do público é um fator importante
para determinar a qualidade da participação. No sistema de AIA da Tchecoslováquia,
por exemplo, o uso de métodos padronizados - consultas formalizadas e audiências
públicas, limita a acessibilidade ao processo bem como o que pode ser debatido dentro
dele. Contudo, está surgindo uma série mais ampla de técnicas participativas, mostradas
no Quadro 7, para a tomada de decisão, tanto na Tchecoslováquia como em outros
países, para possibilitar uma participação mais forte dos cidadãos na AIA.
Em vez de fazer pressão para uma melhoria da participação pública, as ONGs
decidiram desenvolver seus próprios programas informais para a participação pública
136
sobre mediação ambiental e resolução de disputa alternativa é útil para mostrar com
criar um diálogo construtivo entre as partes. Em muitos casos o processo é injusto
porque os diferentes níveis de habilidade fazem com que algumas partes dominem a
discussão, silenciando outras.
Com base em um estudo de caso na Finlândia (uma estratégia de gerenciamento de
resíduos regionais), Saarikoski (2000) sugere que um processo de AIA colaborativo
deveria incluir um mediador externo para permitir que todas as partes tenham espaço
para falar e explorar opções conjuntamente. Além disso um processo de mediação
ajuda a tratar questões como as responsabilidades, identidades, medos e desconfianças
das partes. No estudo de caso citado acima, uma fonte importante de desigualdade foi a
capacidade limitada de grupos mais fracos produzirem informação que poderia ter
ajudado e dado mais credibilidade ao caso. Esta é uma tendência que atua contra
novas idéias vindas geralmente de grupos de oposição ou marginalizados e que
consolida os modos estabelecidos de pensamento.
De acordo com o EIA Centre (1995), a mediação envolve a assistência de um
mediador para auxiliar as partes em negociações sobre a disputa em relação a um novo
desenvolvimento. Existem quatro pré-requisitos para o sucesso de uma mediação: uma
situação de impasse (‘beco-sem-saída’), ou o reconhecimento de que uma situação de
impasse é inevitável; a participação voluntária; algum espaço para flexibilidade; e um
meio de implementar acordos. No entanto, esses pré-requisitos parecem aplicar-se
somente a uma pequena minoria de decisões envolvendo a AIA.
Segundo Sadler (1993), o Canadá, através do Canadian Environmental Assessment
Act (CEAA), a principal lei sobre avaliação ambiental canadense, tem instituído um
procedimento formal de mediação como um caminho em seu novo sistema de avaliação
ambiental, a ser utilizado ocasionalmente, quando as circunstâncias ditam a necessidade
de negociações detalhadas entre as partes. O propósito fundamental do CEAA é
promover o desenvolvimento sustentável, assegurar que os efeitos ambientais de
projetos sejam totalmente considerados na tomada de decisão, e fornecer oportunidades
apropriadas para a participação pública na avaliação ambiental. O processo é dividido
em fases de auto-avaliação e revisão pública. A revisão pública é requerida para
projetos que possam causar efeitos ambientais potencialmente significativos, ou quando
os interesses/preocupações públicas garantem uma revisão. A mediação é uma das
139
O Setor Central é constituído por um eixo principal de acesso, que une a estrada
geral da Barra da lagoa ao Canal da Barra no local denominado “Enseada”, tendo seu
foco na Praça do Mercado, ponto de maior convergência do projeto. A configuração
desses espaços coletivos é concretizada por edificações de uso misto: (a)
Residencial/Comercial, no caso do eixo de acesso e adjacências; (b) Turístico/Hoteleiro
com comércio, no caso da Praça do Mercado.
Complementando o Setor Central, foram projetados equipamentos coletivos:
• Um estacionamento público com previsão para até 630 vagas de carros, em 3 níveis
de implantação;
• Um Clube Náutico, com áreas para exposição e comércio, bem como pequenos
reparos, guarda e zeladoria de embarcações;
• Um Hotel/Apart Hotel de porte médio, na Praça do Hotel, conjugado à Praça do
Mercado, consolidando as atividades turísticas de hospedagem e gastronomia.
145
Após o deferimento da LAP, o MPF buscou mais uma vez a ajuda dos especialistas
da Fundação Lagoa e da UFSC. Em 6 de novembro de 1996, A Fundação Lagoa envia à
Procuradoria os pareceres de professores que apontam riscos irreversíveis do projeto no
Canal da Barra. Em 11 de novembro, a Procuradoria da República entrega à Fundação
Lagoa, documentos complementares para serem analisados por professores da UFSC.
Em 19 de dezembro de 1996, o Ministério Público Federal e a União Federal,
através de seus Procuradores e de seu advogado, propõem a Ação Civil Pública
(Processo nº 97.0000001-0) com pedido liminar contra os réus Porto da Barra Ltda. e
FATMA, requerendo que o empreendedor fosse condenado “à recomposição ambiental
e ao desfazimento de obras que tenham degradado o meio ambiente”, bem como “seja
reconhecida a incompetência da FATMA para o licenciamento em discussão, bem como
a nulidade do ato administrativo – LAP, pelas irregularidades cometidas e omissões
constatadas” (ACP, fl. 20, 1996). Os autores, na referida ACP, sustentam portanto a
ilegalidade da Licença Ambiental Prévia, além de afirmarem que o Estudo de Impacto
Ambiental – EIA – elaborado não considera toda a área de influência do projeto, nem
analisa todos os impactos ambientais que possivelmente serão gerados. Afirmam
também que a competência para o licenciamento ambiental da obra é do IBAMA, a teor
dos artigos 10, § 4º, da Lei nº 6.938/81 e 3º da Resolução CONAMA nº 01/86 (ACP,
fls. 647, 1996).
Em fevereiro de 1997, o empreendedor através de seus advogados, contestou a Ação
Civil Pública junto à 4ª Vara de Justiça Federal, abordando alguns aspectos teóricos
negligenciados pelos autores da ACP, entre eles o seguinte:
Para o empreendedor a Ação Civil Pública nega ao estudo de impacto esse caráter e
desqualifica todos os estudos, informações complementares e medidas que, em virtude
da própria avaliação de impacto ambiental, foram somadas no curso do processo de
licenciamento.
Após a contestação dos réus, é indeferida pela Justiça Federal a liminar pleiteada
pelo Ministério Público Federal para a paralisação do processo de licenciamento. O
MPF e a União renovaram o pedido de decisão liminar em 20 de junho de 1997,
criticando os argumentos utilizados pela defesa da Ré, principalmente no que diz
respeito à “natureza evolutiva” do EIA/RIMA. A Procuradoria da República também
aponta para a falta de estrutura da FATMA e despreparo da equipe técnica responsável
pela análise do estudo de impacto ambiental, evidenciada pela necessidade de
contratação de pessoal especializado para esta tarefa. Segundo a Procuradora, esta
contratação só feita pelo fato da Direção do órgão estadual de meio ambiente negar-se a
aceitar a colaboração dos professores da UFSC.
A decisão do Poder Judiciário considerou válida a Licença Ambiental Prévia,
mantendo o indeferimento da liminar, em 15 de novembro de 1997, ressalvando “a
possibilidade de renovação do pedido de liminar, na hipótese de as licenças ambientais
serem expedidas sem os requisitos legais ou esgotamento dos estudos ambientais
necessários” e “afastou as preliminares de incompetência e ilegitimidade suscitadas na
contestação” (ACP, fls. 647/650, 1997). Através desta decisão do Poder Judiciário,
também foram fixados os ‘pontos controvertidos da demanda’, que são os seguintes:
(a) a afetação, pelo empreendimento, de áreas de propriedade da União, sem
autorização ou com autorização irregular dos órgãos competentes;
(b) a existência de formação de mangues ou outras áreas de preservação permanente
na área de implantação do projeto;
(c) a possibilidade de dano ambiental irreparável na Lagoa da Conceição em razão
da instalação do empreendimento;
(d) a possibilidade de danos irreparáveis no próprio canal da Barra e na Lagoa em
razão dos poluentes liberados pelas embarcações que freqüentarão o porto de lazer;
(e) influência do projeto nos laboratórios de moluscos e camarões mantidos pela
UFSC, próximos ao local do empreendimento;
(f) legalidade e suficiência do processo de licenciamento ambiental, ponto no qual
podem ser incluídas as importantes alegações de que o EIA/RIMA não aprecia a área
158
ambiental estadual, enquanto não havia sido concedida a liminar. A decisão inicial do
Poder Judiciário, em abril de 1998, foi de não conceder o efeito suspensivo requerido
pelo empreendedor.
Em 12 de junho de 1998, diversos moradores da Barra da lagoa manifestaram-se
junto à Procuradora da República Analúcia Hartmann, a favor do empreendimento
Porto da Barra Ltda. O Manifesto Público alega a existência de quase 1.500 pessoas que
são favoráveis à implantação do empreendimento, as quais acreditam que o mesmo
proporcionará melhores condições econômicas, sociais e educacionais as comunidades
locais. “Com esse empreendimento teremos a oportunidade de acesso a 400 novos
empregos diretos, além é claro, de todo o desenvolvimento econômico que trará para a
região” (ACP, fl. 1078, 1998).
O documento declara a opinião da comunidade com relação ao projeto:
entidade de interesse público e científico. Nesta ocasião, o atual Reitor foi convidado
para conhecer os resultados da análise dos prováveis impactos ambientais do
empreendimento, trabalho realizado pelos professores da instituição durante quatro
anos. Também se manifestou junto ao Reitor o chefe do Departamento de Aqüicultura
da UFSC, expondo sua preocupação com a construção do empreendimento Porto da
Barra, pelo fato de que o empreendedor não tenha demonstrado, técnica nem
cientificamente, que o impacto ambiental do projeto não afetará os laboratórios de
maricultura localizados nas proximidades do Canal da Barra, onde se pretende implantar
o projeto.
não são suficientes para desacreditar a opção técnica do órgão ambiental em expedir a
LAP e a LAI.”
Em fins de 1998 o MPF renovou o pedido de liminar para a suspensão dos efeitos
das licenças ambientais expedidas pela FATMA, não reconhecida pelo juiz por não
estar fundada em fato novo.
No ano de 2001, durante fase de produção de prova pericial, as partes
apresentaram assistentes técnicos e quesitos relacionados à questão técnica do
empreendimento.
De acordo com o Código de Processo Civil (Brasil, 1973), a perícia poderá consistir
apenas na inquirição pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de
instrução e julgamento a respeito das coisas que houverem informalmente examinado
ou avaliado. A parte que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico,
requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo
as perguntas, sob forma de quesitos.
O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com
outros elementos ou fatos provados nos autos. O juiz poderá determinar, de ofício ou a
requerimento da parte, a realização de nova perícia, se a matéria não lhe parecer
suficientemente esclarecida.
A parcela da comunidade que apóia o projeto o faz contando com benefícios como a
geração de empregos, melhorias na urbanização local e tratamento de esgoto.
EMPREENDEDOR
FUNDAÇÃO LAGOA
⇒ O MPF deu início à ACP por causa das deficiências encontradas no estudo de
impacto ambiental. Se tanto o empreendedor quanto a FATMA tivessem acatado
todas as determinações do MPF, no sentido de melhorar os estudos, talvez não
houvesse a ACP;
⇒ O papel da Fundação Lagoa foi essencial para expor os pontos frágeis do
EIA/RIMA e exigir as complementações;
⇒ Não faz parte das atribuições do MPF participar das discussões promovidas pelo
Fórum da Barra;
⇒ Quando há a participação do MPF esta deve ser apenas como ouvinte;
⇒ As discussões e negociações devem ser feitas entre o procurador e o empreendedor,
depois de ouvir a comunidade e outros atores;
⇒ Possivelmente o empreendedor quisesse a presença do MPF para legitimar o
projeto;
⇒ A Procuradora fez várias audiências com o empreendedor e tentou inclusive fazer
um Termo de Ajustamento de Conduta, propondo em primeiro lugar a não
realização dos canais secundários, mas não houve consenso, pois o empreendedor
recusava-se terminantemente a aceitar a proposta.
170
CASAN
a construção dos canais internos for realizada como está previsto, a seco, utilizando-se
escavadeiras hidráulicas e depois a abertura para o canal da Barra, não haverá aumento
na turbidez das águas do canal. O principal impacto dos canais internos da marina será a
possibilidade de criação de áreas de estagnação dentro dos mesmos, o que poderá levar
ao estabelecimento de ambientes anóxidos e com altas taxas de deposição de sedimentos
finos. Portanto, caberá ao empreendedor identificar tais áreas e tomar as medidas
necessárias para minimizar os efeitos dessa situação.
Quanto à modelagem hidrodinâmica apresentada pelo EIA, fica claro que não está
correta e portanto não permite avaliar as variações do fluxo da corrente que resultará
dos trabalhos de aumento do calado do canal.
Além disso, o estado da arte para a avaliação da estabilidade de embocaduras de
canais de maré está ainda em desenvolvimento e a adoção de uma ou outra abordagem
pode levar a diferentes conclusões. É necessário que o Poder Judiciário defina que o
ônus da manutenção das características de profundidade e largura do canal deve recair
sobre o empreendedor, independente dos usos futuros que o canal venha a ter.
Para os peritos do empreendedor (2003), em épocas passadas o Canal da Barra
possuía meandros e os canais artificiais de alguma forma irão recompor esses meandros.
O modelo matemático da circulação das águas formulados no EIA/RIMA e em estudos
adicionais induziram a um desenho dos canais de modo que não ocorra a estagnação das
águas. Além disso os estudos mostram que não haverá transporte significativo de
sólidos, com desprezível risco de assoreamento pela movimentação das águas no canal
principal e nos canais artificiais, sendo que estes poderão beneficiar a biota marinha.
Quanto a possíveis influências na hidrodinâmica do Canal da Barra, os estudos não
apontaram nada de significativo neste sentido. Foi realizado um estudo complementar
com registros de maré, correntes e parâmetros físico-químicos da água e sedimentos que
servirão como subsídios para melhoria e aferição do Modelo hidrodinâmico
desenvolvido.
Haverá um maior fluxo que permitirá uma maior taxa de renovação das águas da
Lagoa da Conceição, levando a uma melhoria da sua qualidade. Pode ocorrer também
um aumento da salinidade. Atualmente a salinidade média da Lagoa é de 27 ppm.
Devido à fixação do Canal da Barra, a Lagoa passou da condição mixohalina (salobra)
para eurihalina (marinha). A possibilidade de aumento da salinidade da água da lagoa
178
organismos incrustantes. Nas embarcações que aportarão na marina, mesmo não sendo
aplicado algum tipo de tinta durante sua permanência no local, ainda pode ocorrer
pequeno desprendimento de partículas. Entretanto, podem ser usadas tintas de baixa
toxicidade como o óxido cúprico, que diminuiria a contaminação das águas por tintas a
base de metacrilato de TBT.
Para os peritos do empreendedor (2002) é necessária a introdução de um controle
rígido da aplicação das tintas. Atualmente essa aplicação é feita de modo incorreto pelos
pescadores artesanais. As tintas de baixa toxicidade devem ter seu uso obrigatório no
empreendimento, sendo necessária uma campanha pública de esclarecimento através de
um Programa de Educação Ambiental. A mitigação dos impactos ambientais das tintas
anti-incrustantes depende da implantação do programa de monitoramento proposto pelo
empreendedor, sendo que este deve ser aplicado com ou sem a presença do
empreendimento, pois todos os riscos decorrentes destas tintas estão presentes hoje. O
sistema de monitoramento proposto pelo empreendedor será disponibilizado à
comunidade e às autoridades públicas.
Para os peritos do MPF (2002), como as tintas anti-incrustantes são usadas somente
em barcos de maior porte, que permanecem na água, elas já são aplicadas no estaleiro e
o barco chega na marinha com a tinta aplicada. As tintas anti-incrustantes na base de
óxido cúprico também podem causar impacto sobre a fauna. Estudos mostram a
toxicidade sobre as larvas da ostra Cassostrea gigas, a mesma espécie que é criada no
laboratório de Cultivo de Moluscos Marinhos da UFSC.
Substâncias como o TBT, em concentrações mínimas (2 partes por trilhão) causam
efeitos maléficos em moluscos bivalves (ostras), gastrópodes (litorina) e microalgas
(fitoplâncton), que vão desde a redução das populações, deformações da concha e
esterilidade, até a mortalidade massiva de ostras com perdas econômicas graves, como
por exemplo, da ordem de 147 milhões de dólares na baía de Arcachon (França).
Para os Peritos do Juiz (2002), serão criados aproximadamente 600 novos empregos
no pico da fase de implementação e 533 na operação, podendo levar a uma expansão da
população economicamente ativa (PEA) residente na Barra da Lagoa, devido às
oportunidades de emprego e trabalho, caso o empreendedor não procure absorver a PEA
local, o que poderá levar a uma ocupação desordenada, inclusive em áreas de proteção.
Para os peritos do empreendedor (2002), durante a realização das obras haverá
contratação de mão-de-obra específica de construção civil, com absorção temporária de
pessoas da comunidade local e de fora. Durante a fase de operação a mão-de-obra será
permanente, sendo que o empreendedor se compromete com o treinamento e absorção
de pessoas da comunidade local, como descrito no EIA/RIMA.
manchas de óleo diesel e gasolina gerados por acidente que possam vir a ocorrer com as
embarcações. Os laboratórios da UFSC, no entanto, não estão livres de derramamentos
de óleo, uma vez que podem acontecer acidentes com lanchas oriundas de outras
localidades, barcos de pesca, navios cargueiros, petroleiros, plataformas de petróleo
operando na Bacia de Santos, etc.
Para os peritos do empreendedor (2003), os riscos de contaminação das águas
captadas pelos laboratórios da UFSC, decorrentes da presença do empreendimento, são
praticamente nulos, mas o PBA prevê medidas corretivas caso corram acidentes, tendo
sido feita uma análise dos riscos.
185
O projeto Porto da Barra Ltda. foi um dos primeiros casos em que se promoveu o
envolvimento e a participação pública, no município de Florianópolis, antes da
realização do EIA/RIMA e da audiência pública, e espera-se que ele seja pioneiro neste
sentido, abrindo o caminho para que outros empreendimentos submetidos à Avaliação
de Impacto Ambiental façam o mesmo. No entanto, é possível que a percepção das
pessoas, principalmente de outros empreendedores, a partir do caso do Porto da Barra,
leve a conclusões errôneas, como por exemplo, ‘a participação pública estimulou a
oposição’, ou ‘causou atrasos no processo’, portanto, é preciso que se esclareçam os
conflitos que acabaram resultando em uma Ação Civil Pública.
Inicialmente, devemos considerar que as constatações feitas pelo estudo de caso
apontam em primeiro lugar para as deficiências do EIA/RIMA produzido para o
empreendimento Porto da Barra Ltda., em vista de um empreendimento vultoso e com
impactos variados sobre o meio ambiente. Os aspectos abordados no EIA/RIMA não
forneceram um quadro amplo dos impactos importantes do projeto, incluindo questões
de interesse particular para todos os grupos e indivíduos afetados.
Através deste estudo de caso é possível constatar o papel fundamental da
participação pública no processo de Avaliação de Impacto Ambiental, principalmente
no sentido de aprofundar os estudos de impacto ambiental e permitir a inclusão de
questões e interesses que de outra forma não seriam considerados. A participação
pública evita que impactos importantes sejam negligenciados, e mesmo que torne o
processo mais trabalhoso para o empreendedor, o ajuda a assegurar uma maior
confiança e credibilidade junto à comunidade, além de evitar surpresas desagradáveis
que podem acontecer durante a implementação e operação do projeto, devido a uma
avaliação de impacto ambiental deficiente.
No caso Porto da Barra, o envolvimento e a participação pública ocorreram antes da
realização do EIA/RIMA e da audiência pública, no entanto, seria desejável que este
envolvimento tivesse iniciado na etapa de escopo. Relatou-se neste trabalho que a
elaboração inadequada do Termo de Referência resulta em EIA/RIMAs de baixa
qualidade. Segundo o empreendedor, o Termo de Referência do empreendimento nunca
foi atacado ou invalidado, mas como o escopo apenas mostra ao empreendedor os
186
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
RECOMENDAÇÕES
consultas públicas com os atores, antes da preparação dos Termos de Referência, para
uma ampla identificação dos impactos e interesses envolvidos.
A audiência pública deveria ser obrigatória em todos os estados brasileiros, e não
somente naqueles que estabelecem esta obrigatoriedade por reconhecer que isto é o
mínimo que se pode fazer para que o processo de avaliação de impacto ambiental seja
aberto e democrático. Além disso, deveriam ser realizadas audiências públicas em todas
as localidades a serem afetadas pelo projeto. Também é preciso que haja uma
informação extensiva ao público e às pessoas interessadas sobre o processo de AIA, e
sobre o acesso aos estudos de impacto ambiental, além de um prazo maior para se
fazerem comentários sobre o projeto.
A legislação poderia tornar obrigatório que cada empreendedor desenvolvesse seu
próprio programa de envolvimento e participação pública e o apresentasse ao órgão
ambiental estadual no início do processo de licenciamento. A extensão do programa de
envolvimento e participação pública requerido deveria ser proporcional ao tamanho e
aos impactos do projeto, bem como ao número de atores envolvidos e comunidades a
serem afetadas, e os meios de envolvimento e participação utilizados deveriam adequar-
se às peculiaridades de cada caso. Desta forma, não somente os órgãos ambientais
arcariam com a responsabilidade e com os custos do envolvimento e participação
pública.
A legislação também poderia determinar que em processos complexos envolvendo
questões litigiosas, poderiam ser utilizadas técnicas de mediação e resolução de
conflitos ambientais.
Enfim, é essencial que sejam desenvolvidas diretrizes e guias para
empreendedores, administradores de órgãos ambientais, cidadãos e advogados
interessados em participar do processo de AIA.
196
REFERÊNCIAS
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http://www.bsi.com.br/~unilivre/centro/textos/Forum/leicrimes.htm Acesso em: 21
maio 2002
ANEXO A
Questionamentos/Entrevistas
2. Empreendedor
3. Fundação Lagoa
4. CASAN
ANEXO B
RESOLUÇÕES CONAMA