Sebenta 2
Sebenta 2
Sebenta 2
de
Geometria Elementar
Fátima Pereira
Universidade de Évora
(2021/2022)
Índice
Índice 1
1 Geometria no plano 3
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Elementos geométricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.1 Termos primitivos: ponto e recta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.2 Semi-recta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.3 Segmento de recta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.4 Ângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Polígonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.1 Triângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.2 Quadriláteros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.4 Circunferência e círculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.4.1 Posição relativa entre duas circunferências . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.4.2 Posição relativa entre uma recta e uma circunferência . . . . . . . . . . . 33
1.4.3 Construções com régua e compasso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.5 Relação entre polígonos e circunferências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.5.1 Polígono inscrito numa circunferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.5.2 Polígono circunscrito a uma circunferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.5.3 Relação entre o lado do quadrado e o raio da circunferência circunscrita e
inscrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.5.4 Relação entre o lado do hexágono regular e o raio da circunferência cir-
cunscrita e inscrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.5.5 Relação entre o lado do triângulo equilátero e o raio da circunferência
circunscrita e inscrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.6 Composições de polígonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1.7 Notações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2 Geometria no espaço 48
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.2 Rectas e planos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.2.1 Ângulo diedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.2.2 Posições relativas entre planos no Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1
ÍNDICE 2
3 Medidas 66
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.2 Sistemas de unidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.3 Medição de grandezas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.3.1 O comprimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.3.2 A área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.3.3 O volume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.3.4 A área de uma superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Bibliografia 75
Geometria no plano
1.1 Introdução
A palavra geometria (em grego antigo: γεωµετ ρια) é composta por duas palavras gregas: geo
(terra) e metria (medida). Esta denominação deve a sua origem à necessidade que, desde os
tempos remotos, o Homem teve de medir terrenos.
Ano após ano o rio Nilo transbordava do seu leito natural, espalhando um rico limo sobre os
campos ribeirinhos, o que constituía uma bênção, a base de existência do país dos Faraós, que
na época se circunscrevia a uma estreita faixa de terra junto às margens do rio. A má notícia era
a de que as inundações faziam desaparecer os marcos de delimitação entre os campos, gerando
conflitos entre indivíduos e comunidades sobre o uso dessa terra não delimitada. Para marcarem
novamente os limites existiam os agrimensores, ou "puxadores de corda" (assim chamados devido
aos instrumentos de medida e às cordas entrelaçadas para marcar ângulos rectos que usavam)
que baseavam a sua arte essencialmente no conhecimento de que o triângulo de lados 3, 4, 5 é
rectângulo, e assim dividiam o terreno em rectângulos e triângulos.
Ponto
Um ponto representa-se por uma letra maiúscula do alfabeto latino.
3
1.2. ELEMENTOS GEOMÉTRICOS 4
Recta
Uma recta representa-se por uma letra minúscula do alfabeto latino ou por duas maiúsculas,
por exemplo: recta r ou recta AB, sendo A e B dois pontos da recta.
Notas:
(ii) dois pontos distintos determinam uma única recta, como é o caso dos pontos A e B que
definem a recta AB acima.
Feixe de rectas Por um ponto passa uma infinidade de rectas. Ao conjunto de todas essas
rectas chama-se feixe de rectas.
Posição relativa de duas rectas Dadas duas rectas no plano elas podem ter ou não pontos
em comum.
• Quando têm apenas um ponto em comum dizem-se rectas concorrentes (exemplo: rectas
r e s abaixo).
• Quando não têm pontos em comum ou têm todos os pontos em comum dizem-se rectas
paralelas. No primeiro caso dizem-se rectas estritamente paralelas (exemplo: rectas
Notas:
Pontos colineares Pontos situados sobre uma mesma recta dizem-se pontos colineares.
Semiplano Uma recta divide o plano em duas partes que se designam por semiplanos.
1.2.2 Semi-recta
Um ponto sobre uma recta divide-a em duas partes que se designam por semi-rectas. Uma
semi-recta tem origem num ponto dado e não tem fim. Representa-se por 2 letras maiúsculas
com uma "bolinha" sobre a primeira letra (a que representa ao ponto de origem). Exemplo:
semi-recta ÅB.
Nota: não podemos trocar a ordem dos pontos visto que o primeiro designa a origem da semi-
recta, ie, ÅB = B̊A.
No plano é possível encontrar outros pontos igualmente distanciados dos extremos do segmento
de recta considerado. Esses pontos formam uma recta que se chama mediatriz do segmento.
1.2.4 Ângulos
Um ângulo é a região do plano delimitada por duas semi-rectas com origem no mesmo ponto.
O ponto comum diz-se o vértice do ângulo, e as semi-rectas dizem-se os lados do ângulo.
Os ângulos podem ser convexos ou côncavos. Num ângulo convexo não é possível escolher
dois pontos tais que o segmento que os une tenha pontos exteriores ao ângulo. Num ângulo
côncavo tal já é possível.
Assim, duas semi-rectas diferentes mas com a mesma origem determinam no plano dois ângulos,
um côncavo e o outro convexo. Quando nada é dito, considera-se o ângulo convexo.
Se as semi-rectas que formam o ângulo estiverem no prolongamento uma da outra (ie, formarem
uma recta) então temos um ângulo raso:
Exemplo:
Dois ângulos são adjacentes se têm o mesmo vértice, um lado comum e se situam um de cada
lado do lado comum.
Dois ângulos são congruentes (ou geometricamente iguais) se puderem fazer-se coincidir
ponto por ponto, por meio de um deslocamento. Como tal, ângulos congruentes têm a mesma
amplitude.
Nota: Em geometria, duas figuras só são iguais se coincidem completamente (isto é, se forem
congruentes e estiverem no mesmo sítio). Se forem "iguais" a menos de um deslocamento dizem-
se congruentes.
Dois ângulos que têm apenas em comum o vértice e um lado, e cuja reunião é um ângulo raso
dizem-se ângulos suplementares. Por outras palavras, se a soma das amplitudes de 2 ângulos
Dois ângulos que têm apenas em comum o vértice e um lado, e cuja reunião é um ângulo recto
dizem-se ângulos complementares. Por outras palavras, sempre que a soma das amplitudes
de 2 ângulos adjacentes for 90o , os ângulos dizem-se complementares.
Dois ângulos dizem-se verticalmente opostos se têm o mesmo vértice e os lados de um estão
no prolongamento dos lados do outro.
Assim, os ângulos opostos obtidos pela intersecção de duas rectas são ângulos verticalmente
opostos (pode comprovar usando dobragens de papel).
Se os 4 ângulos obtidos pela intersecção de duas rectas concorrentes forem congruentes, então
Dois ângulos dizem-se da mesma espécie se são ambos agudos ou ambos obtusos. Dois ângulos
da mesma espécie em que os lados de um são ambos paralelos (ou ambos perpendiculares) aos
lados do outro são ângulos congruentes.
Na figura abaixo temos duas rectas paralelas e uma terceira recta concorrente.
Podemos fazer uma leitura recíproca da figura: se duas rectas (que não sabemos à partida se
são paralelas) ao serem intersectadas por uma outra recta formarem ângulos designados como
na figura anterior e de tal forma que α1 = α3 e β 1 = β 3 (ou α2 = α4 e β 2 = β 4 ), então as rectas
iniciais serão paralelas.
A bissectriz de um ângulo é a semi-recta formada pelos pontos do ângulo que estão a igual
distância dos lados do ângulo.
1.3 Polígonos
Uma linha poligonal simples é formada por sucessivos segmentos de recta que não se cruzam,
tendo os segmentos consecutivos um extremo em comum e estando em rectas diferentes.
Exemplo e contra-exemplos:
Uma linha poligonal simples fechada é uma linha poligonal simples em que o extremo inicial
e o extremo final coincidem. Exemplo:
As linhas poligonais que iremos considerar são sempre simples e serão chamadas apenas de linhas
poligonais.
Uma linha poligonal fechada divide o plano em três regiões: a própria linha poligonal, a
região plana limitada pela linha poligonal (ou por outras palavras, a região plana interior à
linha poligonal) e a região plana que lhe é exterior.
Polígono é a região do plano delimitada por uma linha poligonal simples e fechada. Exemplo
Um polígono tem tantos lados quantos os segmentos de recta que constituem a linha poligonal
da sua fronteira. Os pontos de união dos segmentos de recta são os vértices do polígono. Cada
vértice é também vértice de um ângulo (interno) do polígono. O número de vértices coincide
com o número de lados e com o número de ângulos. A designação que se atribui aos polígonos
relaciona-se com o seu número de lados
Um polígono é convexo se para quaisquer dois dos seus pontos o segmento de recta que os
une está contido no polígono, e é não convexo (ou côncavo) caso contrário (ie, se for possível
encontrar dois pontos cujo segmento que os une não esteja contido no polígono).
Diagonal de um polígono é um segmento de recta que une dois vértices não consecutivos.
Nota: De cada vértice de um polígono com n lados saem n−3 diagonais, como tal o número
total de diagonais (d) de um polígono com n lados é dado por
n (n − 3)
d= .
2
Um polígono diz-se regular se tiver todos os lados e todos os ângulos internos congruentes
entre si, caso contrário diz-se irregular.
1.3.1 Triângulos
Um polígono com três lados chama-se triângulo. Não existem polígonos com menos de 3 lados.
Representa-se por [ABC] um triângulo de vértices consecutivos A, B e C. 1
Os ângulos internos de um triângulo são os ângulos internos formados pelos lados do triângulo.
Os ângulos externos de um triângulo são os ângulos formados por um lado do triângulo e pelo
prolongamento do outro lado que incide no mesmo vértice. A amplitude de um ângulo externo
de um triângulo é igual à soma dos ângulos internos do triângulo não adjacentes a ele: a+b+c =
180 ⇔ a + c = 180 − b
Classificação de triângulos
Os triângulos podem classificar-se de acordo com o comprimento dos seus lados, e de acordo
com a amplitude dos seus ângulos internos.
1. Marque o ângulo dado usando duas semi-rectas com origem num mesmo ponto.
2. Marque em cada uma dessas semi-rectas, e a partir da sua origem, um segmento com
o comprimento desejado.
3. Una os dois pontos obtidos no passo anterior. O segmento de recta que obteve é o
terceiro lado do triângulo.
Para perceber melhor a resposta anterior temos o seguinte resultado, válido para qualquer
triângulo:
Exercício 1.5 Verifique se é possível construir um triângulo em que as medidas dos lados são:
Nota: Por vezes, para nos referirmos ao comprimento da hipotenusa ou ao comprimento dos
catetos, usamos apenas as palavras "hipotenusa" e "cateto", respectivamente.
Exercício 1.6 Sabendo que no triângulo [ABC] tem-se B ÂC = 90o , AB = 3cm e AC = 2cm.
Determine BC.
Alturas de um triângulo
Chamam-se alturas de um triângulo aos segmentos de recta que unem, perpendicularmente,
cada vértice ao lado oposto ou ao seu prolongamento. Assim, cada triângulo tem 3 alturas. Em
certos contextos também se chama altura ao comprimento do referido segmento.
Medianas
As medianas de um triângulo são os segmentos de recta que unem cada vértice com o ponto
médio do lado oposto.
Centros de um triângulo
Num triângulo podem ser identificados quatro centros.
Qualquer que seja o triângulo, os três vértices e o seu ortocentro estão sempre relacionados,
isto é, qualquer triângulo formado por três destes quatro pontos tem o ponto sobrante como o
seu ortocentro (ver figura anterior) - Carnot, 1753-1823.
2. Baricentro Cada triângulo tem 3 medianas que se intersectam num único ponto a que
se chama baricentro. O baricentro é também o centro de massa (ou centro de gravidade)
do triângulo, ou seja é o ponto que equilibra o triângulo, quando este é feito de um material
homogéneo e está suspenso na horizontal.
2
Recordemos que a mediatriz de um segmento é a recta que lhe é perpendicular e que concorre com o segmento
no seu ponto médio.
3
Como veremos mais à frente, prova-se que os dois triângulos rectos representados a amarelo na figura abaixo
são congruentes, por terem os ângulos congruentes entre si e terem um lado em comum. Donde se conclui que os
outros dois lados também são congruentes entre si, e portanto, em particular, os lados assinalados a amarelo têm
o mesmo comprimento, ou seja d (I, [AC]) = d (I, [AB]) .
Congruência de triângulos
Num triângulo é possível distinguir seis elementos: três lados e três ângulos.
Dois triângulos [ABC] e [DEF ] dizem-se congruentes, e escreve-se [ABC] ≡ [DEF ], se
coincidirem ponto por ponto. Portanto, se os três lados de um triângulo forem congruentes com
os três lados do outro e se os três ângulos de um forem congruentes com os três ângulos do outro,
os dois triângulos serão congruentes.
Exemplo
ou
• dois lados de um congruentes com dois lados do outro e o ângulo por eles formado também
congruente (LAL)
ou
Semelhança de triângulos
Dois triângulos [ABC] e [DEF ] dizem-se semelhantes, e escreve-se [ABC] ∼ [DEF ], se os
ângulos de um forem congruentes aos do outro e os lados correspondentes forem proporcionais.
(Dois triângulos são semelhantes se um for uma ampliação do outro como numa fotocopiadora.)
Exemplo
ou
ou
De uma forma geral, dois polígonos com o mesmo número de lados são semelhantes se têm, um
em relação ao outro, ângulos correspondentes congruentes e lados correspondentes proporcionais.
1.3.2 Quadriláteros
Da longa lista de polígonos, a "família" que se segue aos triângulos é a dos quadriláteros.
Um quadrilátero é um polígono com 4 lados. Existem quadriláteros convexos e quadriláteros
côncavos:
(Podemos verificar este resultado dividindo o quadrilátero em dois triângulos e relembrando que
a soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo é sempre 180o . Logo a soma das
amplitudes dos ângulos internos do quadrilátero, que é igual à soma das amplitudes de todos os
ângulos internos dos dois triângulos, é igual a 2 × 180o = 360o . 4 )
Quadrado é um quadrilátero com os quatro lados congruentes e com os ângulos internos também
congruentes (rectos).
· Trapézio escaleno é um trapézio em que os lados não paralelos não são congruentes.
· Trapézio rectângulo é um trapézio em que um dos lados não paralelos é perpendicular aos
paralelos.
(Os ângulos identificados na figura são todos da mesma espécie e como os lados opostos
do paralelogramo são paralelos, logo os ângulos são congruentes.)
(Consideremos os triângulos [ABM] e [CDM]. Estes triângulos são congruentes, pois têm
um lado congruente e os ângulos que lhe são adjacentes também são congruentes. Por
conseguinte, AM = M D e BM = M C, o que mostra que M é o ponto médio da duas
diagonais.)
(Pelo critério (LLL) os triângulos [DAB] e [BCD] são congruentes e portanto ABD =
DBC. Assim, pelo critério (LAL), os triângulos [ABE] e [EBC] são congruentes, e por-
tanto AEB = C EB. Mas, por outro lado, AEB + C EB = 180o , o que só pode ser se
AEB = C EB = 90o . Pelo que se conclui que os segmentos [BD] e [AC] são perpendicu-
lares.)
(Consideremos o trapézio isósceles [ABDC] com AB = CD. Comecemos por mostrar que
ABM = C DN, para tal consideremos os triângulos rectângulos [AMB] e [CND]. Como
os segmentos [AC] e [BD] são paralelos então AM = CN e pelo Teorema de Pitágoras
BM = ND. Portanto, pelo critério (LLL), os triângulos [AMB] e [CND] são congruentes,
e por conseguinte os ângulos ∡ABM e ∡CDN são congruentes.8
Estamos agora em condições de mostrar que as diagonais do trapézio [ABCD] são con-
gruentes. Para tal consideremos os triângulos [ABD] e [CDB]. Estes triângulos são con-
gruentes pelo critério (LAL), pois AB = CD, o lado [BD] é comum e mostrámos acima
que os ângulos ∡ABM e ∡CDN são congruentes. Pelo que se conclui que AD = BC.)
(iv) Para mais propriedades das diagonais dos quadriláteros ver, por exemplo, [3, p. 276].
A distância entre cada ponto da linha e o centro da circunferência chama-se raio da circunfer-
ência.
Uma circunferência de raio r divide o plano em duas zonas: uma interior (formada pelos
pontos cuja distância ao centro é inferior a r) e a outra exterior (formada pelos pontos cuja
distância ao centro é superior a r). A circunferência serve de fronteira entre as duas zonas.
8
Daqui também se conclui que os ângulos ∡BAM e ∡DCN são congruentes, e por conseguinte também os
ângulos ∡BAC e ∡ACD são congruentes. (Justifique!)
Assim mostrámos que, num trapézio isósceles, os ângulos adjacentes à mesma base são congruentes.
• Cada segmento de recta que une um ponto da circunferência ao centro também se chama
raio da circunferência.
• Um segmento de recta cujos extremos sejam pontos da circunferência designa-se por corda
da circunferência.
Teorema 1 Considere uma circunferência e uma recta r que passa pelo centro da circunfe-
rência. Se r é perpendicular a uma corda, então bissecta a corda.
Teorema 2 Considere uma circunferência e uma recta r que passa pelo centro da circunfe-
rência. Se r bissecta uma corda, então é perpendicular à corda.
(Os triângulos [ACX] e [BCX] da figura anterior são congruentes pelo critério (LLL) (justifique)
donde, em particular, os ângulos suplementares ∡AXC e ∡BXC são congruentes, então AXC =
B XC = 90o .)
Caso 1 As duas circunferências C e C ′ não têm pontos comuns. Isto ocorre quando as circun-
ferências são exteriores ou interiores.
Caso 4 As duas circunferências C e C ′ têm todos os pontos comuns. Isto ocorre quando as
circunferências são coincidentes.
(Para demonstrar o Teorema 4 basta usar o Teorema 3 e o Teorema de Pitágoras, como se pode
ver, por exemplo, em [3, p. 282-3].)
— caso particular
triângulo equilátero (L1 = L2 = L3 ) .
• de um triângulo isósceles:
1. Desenhe primeiro o lado que tem comprimento diferente (suponhamos que é o seg-
mento [AB]).
2. Com a medida comum aos outros dois lados e a ponta de metal do compasso em A e
depois em B, trace dois arcos de circunferência e encontre o ponto de intersecção C.
3. Com a régua, trace os segmentos congruentes [AC] e [BC].
• de um ângulo de 60o :
siga os passos da construção do triângulo equilátero.
• de um ângulo de 30o :
determine a bissectriz do ângulo de 60o .
O pentágono [CDEF G] está incrito na circunferência de centro A. (Ou, por outras palavras, a
circunferência de centro A está circunscrita ao pentágono [CDEF G].)
• Mas nem todos os polígonos com 4 (ou mais) lados podem ser inscritos em circunferências.
Por exemplo, os polígonos abaixo não podem ser inscritos em nenhuma circunferência.
(i) Se um quadrilátero pode ser inscrito numa circunferência então a soma dos ângulos opostos
é 180o .
Justificação: já vimos antes que a soma dos ângulos internos de qualquer quadrilátero é
360o . Num quadrilátero inscrito numa circunferência podemos ter 4 triângulos isósceles
com vértice no centro da circunferência, tal como sugere a figura
α + β + γ + θ + α + β + γ + θ = 2 (α + β + γ + θ) .
α + β + γ + θ = 180o .
Ora esta última soma é exactamente a que resulta da soma de cada um dos pares de
ângulos opostos, como se pode ver na figura.
(ii) Um quadrilátero pode ser inscrito numa circunferência se e só se as mediatrizes dos seus
quatro lados se intersectarem todas no mesmo ponto.
(ii) Dado um polígono regular (isto é, com todos os lados e ângulos internos congruentes),
existe sempre uma circunferência circunscrita ao polígono.
Exemplos:
O quadrilátero [F GHI] está circunscrito à circunferência de centro A. (Ou, por outras palavras,
a circunferência de centro A está inscrita no quadrilátero [F GHI].)
• Mas só alguns dos polígonos com 4 (ou mais) lados podem ser circunscritos a circun-
ferências. Por exemplo os polígonos abaixo não se podem circunscrever em nenhuma
circunferência:
A soma dos lados opostos é dada por h1 + h2 + h3 + h4 em qualquer dos casos. Portanto
a soma de lados opostos é a mesma.
(ii) Dado um polígono regular, existe sempre uma circunferência inscrita nele.
Exemplos:
O triângulo assinalado é isósceles, pois dois dos seus lados são raios da circunferência. O triângulo
também é rectângulo. (Justifique!) Aplicando a este triângulo o Teorema de Pitágoras, obtemos
√
2 2 2 2 2 2 l2 l 2l
r + r = l ⇔ 2r = l ⇔ r = ⇒ r = √ = .
2 2 2
Considere, por exemplo, o ponto P , determine a bissectriz do ângulo ∡QP R e marque o ponto
M, como mostra a figura anterior. O segmento de recta [P M] é um diâmetro da circunferência
e divide-a em duas partes congruentes, duas semicircunferências; o segmento [QM ] representa
√
2 2 2 2 2 2 2 l2
2 2 l 23l 2 2
l + r = (2r) ⇔ l + r = 4r ⇔ l = 4r − r ⇔ l = 3r ⇔ r = ⇒r= √ = .
3 3 3
obtemos √
2 2
l 2 2 2 2 l 3l2
2 3l
+m =l ⇔m =l − ⇔m = ⇒m= .
2 2 4 2
9
Para justificar este facto precisamos de matéria que sai fora do âmbito da disciplina:
Definição: Um ângulo inscrito num arco de circunferência é um ângulo cujo vértice pertence a esse arco
e cujos lados passam pelos extremos do arco.
√
Assim, a hipotenusa do triângulo roxo é 23l − r. Como esse triângulo também é rectângulo
(justifique) temos
√ 2
2 l 2 3l 2 l 2 3l2 √ l2 3l2 √
r + = −r ⇔r + = − 3lr + r2 ⇔ = − 3lr
2 2 2 4 4 4
√
√ 3l2 l2 √ l2 l 3l
⇔ 3lr = − ⇔ 3lr = ⇔ r = √ =
4 4 2 2 3 6
isto é, o raio da circunferência inscrita num triângulo equilátero é metade do raio da circunfer-
ência circunscrita.
Também com recurso a trapézios isósceles especiais é possível construir hexágonos regulares.
Muitas outras formas podem ser obtidas usando, por exemplo, hexágonos regulares, quadrados
e triângulos equiláteres. Estes polígonos são colocados justapostos, sem deixar espaços livres
entre si e sem que ocorra qualquer sobreposição. Com os polígonos referidos gerou-se um novo
polígono - um dodecágono- que também é regular.
Quando se preenche uma porção do plano com figuras, sem deixar espaços vazios e sem que
essas figuras (muitas vezes chamadas de ladrilhos) se sobreponham, dizemos que se realizou
uma pavimentação. As pavimentações mais usuais utilizam quadrados e rectângulos, como as
que vemos nos soalhos e nas paredes de azulejos. Podem ser pavimentações lado a lado, uma
vez que os polígonos utilizados partilham os lados, ou pavimentações não lado a lado quando tal
não acontece.
O mesmo acontece aos triângulos equiláteros e aos losangos e trapézios isósceles que foram
usados para construir o hexágono regular.
NOTA: para que um polígono pavimente o plano a soma das medida dos ângulos internos em
torno de cada vértice tem de ser 360o . Então, as únicas pavimentações regulares possíveis são
aquelas em que o polígono usado é um triângulo equilátero, um quadrado, ou um hexágono
regular10
Todas as pavimentações aqui apresentadas foram construídas com polígonos convexos. No en-
tanto também é possível pavimentar o plano com polígonos não convexos, como por exemplo,
com o hexágono seguinte.
10
Para perceber melhor isto convém saber que cada ângulo interno de um polígono regular de n lados é dado
pela expressão (n−2)
n
× 180o e que
Mas mostra-se que com os pentágonos não se consegue obter uma pavimentação. (Para mais pormenores
consulte, por exemplo, pag. 9 de [Rosiene Castro, Pavimentações no plano Euclidiano, Belo Horizonte, Julho de
2008]).
1.7 Notações
A Ponto A (um ponto representa-se por uma letra maiúscula).
r Recta r (uma recta pode ser representada por uma letra minúscula).
AB Recta que passa pelos pontos A e B.
ÅB Semi-recta de origem A e que passa pelo ponto B.
[AB] Segmento de recta de extremos A e B.
AB Comprimento do segmento [AB].
∡AOB Ângulo de vértice em O e lados O̊A e O̊B.
AOB Amplitude do ângulo ∡AOB.
[ABC] Indica a ordem consecutiva dos vértices de um triângulo.
[A1 A2 ...An ] Indica a ordem consecutiva dos vértices de um polígono com n-lados.
Geometria no espaço
2.1 Introdução
No espaço tridimensional:
• as figuras têm comprimento, largura e altura;
(Um plano pode ser representado por uma letra minúscula do alfabeto grego ou por três
letras maiúsculas do alfabeto latino, por exemplo: plano α ou plano ABC, sendo A, B e
C três pontos não colineares do plano.)
• cada plano é ilimitado, mas só conseguimos representar uma porção finita (geralmente com
a forma de um paralelogramo) que imaginamos extensível nas duas direcções.
48
2.1. INTRODUÇÃO 49
Enunciemos agora algumas propriedades intuitivas sobre pontos, rectas e planos no espaço,
na forma de afirmações óbvias, verdades indemonstráveis.
Axiomas
1. No espaço, por dois pontos distintos passa uma e uma só recta.
2. No espaço, por dois pontos passa uma infinidade de planos.
4. No espaço, dada uma recta existem pontos que pertecem a essa recta e existem outros
pontos que não lhe pertencem.
(A, B ∈ r e C, D ∈
/ r).
5. No espaço, dado um plano, existem pontos que pertencem a esse plano e existem outros
pontos que não lhe pertencem.
6. Se dois planos possuem um ponto em comum, então eles possuem pelo menos uma recta
em comum.
Na figura anterior está representado um ângulo diedro formado pela intersecção de duas
regiões rectangulares mas também é possível falar-se de ângulo diedro formado por dois planos
que se intersectam.
(ii1 ) perpendiculares - quando os quatro ângulos diedro são congruentes (iguais a 90o );
ou
(ii2 ) oblíquos - quando os quatro ângulos diedro não são congruentes.
Pelo que dissemos é fácil conjecturar que os planos actuam no Espaço como as rectas actuam
no Plano, pois, encontrámos o mesmo tipo de situações quer no caso de intersecção de planos
no Espaço (como de rectas, no Plano), quer no caso de ângulos entre planos no Espaço (como
de ângulos entre rectas, no Plano). Mas nem sempre esta analogia se verifica, como veremos na
secção seguinte.
(i1 ) paralelas se não têm pontos em comum (e dizem-se rectas estritamente parale-
las), ou se têm todos os pontos em comum (e dizem-se rectas coincidentes);
(ii) não complanares se estão situadas em planos diferentes. Ou seja as rectas não com-
planares não têm pontos em comum e não são paralelas. São chamadas também de rectas
enviesadas.
Definição 2.3
(i) O ângulo entre rectas enviesadas é o ângulo formado por duas rectas concorrentes e que
são paralelas às rectas dadas.
(ii) Duas rectas enviesadas dizem-se ortogonais se formam um ângulo recto, caso contrário
dizem-se oblíquas.
(ii) concorrente - quando tem um só ponto em comum com o plano, podendo ser perpen-
dicular ao plano (quando a recta é perpendicular a todas as rectas do plano que passam
pelo seu ponto de intersecção com o plano) ou oblíqua (no caso contrário).
Critério de paralelismo entre uma recta e um plano Se uma recta é paralela a uma
recta contida num plano, então é paralela a esse plano.
Critério de paralelismo entre dois planos Se um plano contém duas rectas concorrentes,
paralelas a outro plano, então os dois planos são paralelos.
Critério de perpendicularidade entre dois planos Se um plano contém uma recta per-
pendicular a um outro plano, então os dois planos são perpendiculares.
2.3.1 Poliedros
Definição Um poliedro é uma figura geométrica tridimensional, limitada por um número
finito de figuras poligonais (chamadas faces do poliedro), das quais quaisquer duas têm, quando
muito, um lado em comum (chamado aresta do poliedro) e em que os lados comuns se inter-
sectam em grupos de três ou mais dando origem aos chamados vértices do poliedro.
Este poliedro chama-se cubo e tem: 6 faces (que são quadrados geometricamente iguais), 12
arestas (que são segmentos de recta geometricamente iguais) e 8 vértices (que são pontos).
Os poliedros podem ser convexos (quando qualquer segmento de recta que une dois quais-
quer dos seus pontos está contido no poliedro ou no seu interior) ou não convexos (caso
contráro):
Apesar de simples, esta classificação não é muito útil. Uma classificação mais útil, e que será
por nós utilizada, agrupa os poliedros que têm determinadas características em comum. Assim
temos os prismas, as pirâmides e os poliedros regulares.
Prismas
Os prismas são poliedros com duas faces opostas que são polígonos geometricamente iguais e
paralelos (isto é, situados em planos paralelos). A estas duas faces chamamos bases. As outras
faces, designadas faces laterais, são paralelogramos.
Num prisma o número de arestas é sempre múltiplo de 3.
Classificação dos prismas quanto às faces laterais Por outro lado, se as faces laterais
do prisma forem rectângulos, o prisma diz-se prisma recto. Nesse caso, o ângulo diedro formado
por uma base e uma face lateral é recto. Caso contrário, o prisma diz-se oblíquo.
Um prisma também se diz regular quando for um prisma recto e as suas bases forem
polígonos regulares1 .
Pirâmides
As pirâmides são poliedros em que uma das faces é um polígono qualquer (que constitui a única
base da pirâmide) e as outras faces são triângulos que concorrem num ponto (chamado vértice
da pirâmide). Numa pirâmide o número de vértices é igual ao número de faces, e o número de
arestas é sempre um número par.
Classificação das pirâmides quanto às bases Tal como os prismas, as pirâmides têm
nomes específicos de acordo com o tipo de polígono que forma a sua base; por exemplo: pirâmide
1
Recordemos que um polígono diz-se regular se tiver todos os lados e todos os ângulos internos congruentes
entre si.
triângular (se a base for um triângulo) ou pirâmide hexagonal (se a base for um hexágono).
Classificação das pirâmides quanto às faces laterais Por outro lado, se as faces
laterais da pirâmide forem triângulos isósceles a pirâmide diz-se recta, e no caso contrário
diz-se oblíqua.
Uma pirâmide diz-se regular se, além de ser recta, a sua base for um polígono regular.
Poliedros regulares
Falámos anteriormente de prismas e pirâmides regulares, mas a "regularidade" também pode
ser definida para qualquer outro poliedro.
Definição Um poliedro regular é um poliedro convexo cujas faces são polígonos regulares
geometricamente iguais e em que a cada um dos vértices concorre o mesmo número de arestas.
Estes cinco poliedros também são designados de Sólidos Platónicos, por terem sido estudados
por Platão e que os associou aos cinco elementos naturais (tetraedro - Fogo, cubo - Terra,
octaedro - Ar, dodecaedro - Universo e icosaedro - Água).
Um resultado muito interessante diz respeito a um padrão numérico que resulta da análise
dos números no quadro anterior. Tal resultado, conhecido como Fórmula de Euler, é válido
para qualquer poliedro convexo:
F + V = A + 2,
onde F representa o número de faces, V o número de vértices e A o número de arestas.
Algumas planificações
Apresentamos agora planificações de alguns poliedros:
Nota: como se pode verificar, estas planificações não incluem abas para colar.
Cilindros
Consideremos duas curvas fechadas simples iguais (directrizes) e contidas em planos paralelos.
Supomos que todos os pontos de uma dessas curvas estão unidos aos pontos correspondentes na
outra curva por segmentos de recta (geratrizes).
Cones
Tomemos agora uma curva fechada simples (directriz) e um ponto P não pertencente ao plano
da curva. Supomos que todos os pontos dessa curva estão unidos ao ponto P por segmentos de
recta (geratrizes).
Definição Chama-se cone à união de todos os segmentos de recta, juntamente com a curva
fechada simples e o seu interior.
Chama-se base do cone à curva fechada simples juntamente com o seu interior, e ao ponto
exterior P chama-se vértice do cone.
Classificação quanto às bases Se a base for um círculo, o cone diz-se circular, caso
contrário diz-se não circular.
Classificação quanto às geratrizes Se a recta que une o vértice do cone com o centro
da base for perpendicular à base, o cone diz-se recto, e no caso contrário diz-se oblíquo.
Esfera
Há quem diga que a esfera é a forma tridimensional que corresponde ao círculo. De facto, temos
Definição A esfera de centro num ponto O e raio r é o conjunto de todos os pontos, no espaço
tridimensional, cuja distância ao ponto O é menor ou igual a r.
A superfície esférica é o conjunto de todos os pontos, no espaço tridimensional, cuja
distância ao ponto O é igual a r (e não menor que r).
Os segmentos de recta que unem o centro a qualquer ponto da superfície esférica são chamados
raios da superfície esférica.
Os segmento de recta que unem dois pontos da superfície esférica e que passam pelo ponto
O dizem-se diâmetros da superfície esférica.
NOTAS 1. No caso de outros sólidos não sentimos a necessidade de fazer a distinção entre o
conjunto dos pontos que estão na fronteira e o conjunto dos que pertencem ao seu interior. O
mesmo acontece com as figuras no plano onde só fazemos a distinção entre fronteira e interior
(com ou sem fronteira incluída) quando nos referimos à "circunferência" e ao "círculo".
2. O termo "raio" é usado, neste contexto (tal como no plano), com duplo significado: como
segmento de recta e como medida desse segmento. O mesmo acontece com o termo "diâmetro".
Secções do cilindro Mostram-se aqui quatro secções cilindricas. A primeira é uma circun-
ferência, resultando do corte feito por um plano paralelo às bases do cilindro. A segunda é
uma elipse, que resulta da intersecção do cilindro com um plano oblíquo às bases. A terceira é
um quadrilátero, provocado por um plano paralelo às geratrizes. A última é uma variante da
segunda, em que o plano secante corta uma das bases; daqui resulta uma secção formada por
um arco de elipse e um segmento de recta. Há ainda a possibilidade de o plano apanhar
ambas as bases, ficando a secção formada por dois segmentos de recta e dois arcos de elipse.
Medidas
3.1 Introdução
Para medir um atributo comparamos duas grandezas do mesmo tipo, por exemplo, dois compri-
mentos, duas áreas, dois volumes, etc. - sabendo que um resultado do tipo "o comprimento do
segmento [AB] é maior que o comprimento do segmento [CD]" não é, em geral, adequada para
um problema de medição. Normalmente, queremos responder a uma pergunta do tipo "quantas
vezes cabe uma unidade de comprimento em outro comprimento?". Para isso importa registar
que, quando medimos:
- seleccionamos um objecto e um atributo desse objecto que pretendemos medir: um com-
primento, uma área, um volume, uma massa ou uma temperatura;
- escolhemos uma unidade apropriada com a qual possamos comparar o atributo seleccionado
do objecto;
- determinamos o número de unidades necessárias para completar o atributo.
Exemplos
66
3.2. SISTEMAS DE UNIDADES 67
resultados relativamente imprecisos. Mas, a partir das unidades informais, podemos construir
um sistema de medida.
Por exemplo:
Sejam u1 um palito, u2 um lápis e u3 uma vara de madeira. As unidades u1 , u2 , u3 podem
construir um sistema de medida (de comprimento).
O comprimento de um certo objecto pode ser expresso por:
o que significa que no objecto que medimos cabem 2 palitos, 3 lápis e 5 varas.
Este tipo de expressões tomam o nome de complexas, uma vez que a medição se efectuou
recorrendo a várias unidades.
u3 = ku2 e u2 = k′ u1 com k′ = k,
Se tivermos um sistema de medida {u1 , u2 , ..., un } em que un+1 = kun , n ∈ N, para alguma
constante k, dizemos que se trata de um sistema regular, se k = 10 o sistema regular diz-se
décimal ou de base 10 (como é o caso do sistema que temos para medir o comprimento).
Quando se elege uma dada unidade de medida fundamental, u, dentro de um sistema de me-
dida, todas as outras unidades são consideradas em relação à eleita. Assim as unidades maiores
que u designam-se por múltiplos de u enquanto as menores se designam por submúltiplos.
Existem outras unidades de medida reconhecidas oficialmente, ditas derivadas, são um total
de 22 e dizem respeito às mais variadas grandezas. O quadro seguinte apresenta as que são mais
relevantes no contexto desta disciplina
Unidades
Como vimos anteriormente a unidade de medida utilizada é o metro (m).
Conversões
Quilómetro Hectómetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
km hm dam m dm cm mm
Algumas fórmulas:
3.3.2 A área
Ao medirmos a porção do plano que uma dada figura plana ocupa, estamos a calcular a área
dessa figura.
Unidades:
A área é uma medida que se obtém a partir da medição com quadrados de 1 metro de lado, por
isso se diz que a unidade de medida da área é o metro quadrado (m2 ).
Conversões
Quilómetro Hectómetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
Algumas fórmulas:
Área de um rectângulo A área de um rectângulo é dada por
Os triângulos seguintes têm a mesma base e a mesma altura, por isso têm todos a mesma
área
Note que qualquer um dos lados do triângulo pode ser utilizado para calcular a sua área.
Note que as expressões das áreas do paralelogramo e do rectângulo são casos particulares desta
expressão.
Recorde que um losango é um caso particular de um papagaio, por isso tem a mesma fórmula
para o cálculo da sua área.
Área de um polígono qualquer A área de qualquer polígono com mais do que 3 lados pode
ser obtida dividindo o polígono em triângulos e somando as respectivas áreas.
Área = πr2
3.3.3 O volume
De um modo intuitivo podemos dizer que o volume de uma figura tridimensional é a quantidade
de espaço que ela ocupa.
Unidades:
Para medir o volume de uma qualquer figura tridimensional usamos um cubo cuja aresta mede
1m, por isso se diz que a unidade de medida do volume é o metro cúbico (m3 ).
Conversões
Quilómetro Hectómetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico
km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
Princípio de Cavalieri
Dois sólidos geométricos que ao serem cortados por planos paralelos produzem secções com áreas
iguais têm volumes iguais.
Algumas fórmulas:
Vejamos as fórmulas para o cálculo de volumes de alguns sólidos geométricos.
Prisma Não importa se o prisma é regular ou não, ou se é recto ou oblíquo, o seu volume será
sempre obtido multiplicando o valor da área da base pela sua altura. A altura de um prisma é
a distância entre as bases, medida perpendicularmente.
Volume de uma pirâmide Tal como no caso dos prismas, o volume de qualquer pirâmide
(regular ou não, recta ou oblíqua) é dado por
Volume = 1
3 × Abase × altura
(onde Abase representa a área da base e a altura é a distância entre o plano da base e o vértice,
medida perpendicularmente).
Ou seja, o volume da pirâmide corresponde a um terço do volume de um prisma da mesma
altura e base com a mesma área.
Volume = 43 πr3
(Arquimedes enunciou o seguinte resultado: "O volume de qualquer esfera é igual a quatro
vezes o volume do cone que tem a base igual ao círculo máximo da esfera e cuja altura é igual
ao raio da esfera.")
Conversões
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
kl hl dal l dl cl ml
Nota:
Tal como na conversão dos metros, da esquerda para a direita, multiplica-se sucessivamente
por 10. Da direita para a esquerda divide-se sucessivamente por 10.
Assim 1kl = 1000l = 1000dm3 = 1m3 .
Algumas fórmulas:
Vejamos as fórmulas para o cálculo de áreas de superfície totais de alguns sólidos geométricos.
Cubo de lado a
Atotal = 6a2
Paralelepípedo
Prisma
Atotal = 2Abase + Alateral
Cilindro
Cone
Esfera de raio r
Atotal = 4πr2
[2] Y. Lima, F. Gomes: Xeq Mat, Matemática 10o , Editorial o Livro, 1999.
[3] P. Palhares: Elementos de Matemática para Professores do Ensino Básico, Lidel, 2004.
[4] I. Passos, O. Correia: Matemática em Acção, A teoria e a prática, Vol 2, Lisboa Editora,
1999.
75