Conhecimento e Ação - Descartes e Hegel

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Isto não é Filosofia

Curso Filosofia Prática


Módulo 2
Conhecimento e ação – Descartes e Hegel
Prof. Vitor Lima

Sumário
1. O que você saberá ao final deste módulo é ...................................................................... 2
2. Autorreflexão anterior ............................................................................................................ 2
3. Problema ................................................................................................................................. 2
4. História ..................................................................................................................................... 3
4.1 Biografia de Descartes .................................................................................................... 3
4.2 Biografia de Hegel ........................................................................................................... 4
5. Conceitos................................................................................................................................. 6
5.1 Descartes .......................................................................................................................... 6
5.1.1 O problema do método ............................................................................................ 6
5.1.2 As regras do método ................................................................................................ 8
5.2 Hegel................................................................................................................................ 10
5.2.1 A Razão é histórica, e a História é racional ....................................................... 10
5.2.2 Aufhebung (suspensão) ........................................................................................ 12
6. Exemplos ............................................................................................................................... 14
6.1 Suspensão (Aufhebung) e o casal .............................................................................. 14
6.2 Ponto de mutação e a visão mecanicista .................................................................. 15
7. Como orientar a ação .......................................................................................................... 16
8. Autorreflexão posterior ........................................................................................................ 17
9. Bibliografia comentada ........................................................................................................ 18

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1. O que você saberá ao final deste módulo é


• O que são as 5 regras do método cartesiano
• O que é suspensão (Aufhebung)
• Como decidir agir com base nesses dois conceitos

2. Autorreflexão anterior

Antes de iniciar o módulo, reflita sobre estas questões. Não é para acertar ou
errar. É apenas para que você registre como sua visão possivelmente poderá se
modificar após o que aprender neste módulo.
1. Que método você adota quando quer entender uma ideia?
2. Diante de uma situação difícil de resolver, como você faz para superá-la?

3. Problema

Os problemas centrais deste módulo são estes:

• “O que é o conhecimento da realidade?” e


• “Como minha concepção sobre o conhecimento pode interferir na minha
ação?”
A pergunta sobre o conhecimento pode ser expressa de inúmeras maneiras.
Algumas célebres são estas:

• De que é composto o conhecimento?


• Como justificar adequadamente uma crença?
• Em que aspectos fundamentais se basear para ter conhecimento confiável?
Todas essas questões epistemológicas relacionam-se a questões metafísicas de
algum modo, seja para afirmar o acesso à realidade, seja para negá-lo com base nas
limitações do nosso poder cognitivo. Neste módulo, investigaremos dois filósofos que
tinham confiança na capacidade humana de conhecer a realidade, mas que
discordavam profundamente como conhecer essa realidade e qual era a sua natureza
última.

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4. História

De acordo com a concepção que temos de mundo, como conhecê-lo? Eis a


pergunta básica. Na modernidade, duas visões foram predominantes: a mecanicista –
representada por Descartes, e a dialética, representada por Hegel.
O mecanicismo é uma teoria filosófica segundo a qual todos os fenômenos se
explicam em analogia ao mecanismo de uma máquina. Esta, por sua vez, pode ser
explicada em termos de causalidade linear. Do que se trata?
A causalidade linear ocorre quando uma causa provoca um efeito proporcional
Por exemplo, se uma bola está parada no chão e outra bola se choca com ela, o efeito
é proporcional à causa. Se alguém dá um chute numa bola e ela é atirada ao longe, a
causa do seu movimento foi a força muscular aplicada à bola através do chute. Se uma
maçã cai da árvore, dizemos que a causa de sua queda foi a força de atração da Terra
– a força gravitacional –, que se exerce sobre todos os corpos.
As explicações mecanicistas possuem todas a característica de conceber todos
os corpos dos animais, inclusive os corpos dos humanos, como máquinas, e seus
órgãos e sistemas orgânicos como mecanismos. Em outras palavras, as explicações
mecanicistas fazem a suposição fundamental de que o funcionamento dos organismos
animais (incluindo o humano) pode ser comparado ao de uma máquina e explicado em
termos unicamente de matéria e movimento.
A partir dessa visão, Descartes irá propor um método linear para separar de claro
e distinto os elementos da realidade a fim de neles interferir. Diferentemente dele, Hegel
irá propor que a realidade não é linear, mas em formato de espiral, nunca podendo ser
abordada por um efeito causal simples, mas sempre a partir de um efeito triádico, isto
é, de, no mínimo três partes. É o que veremos. Mas, antes, uma breve biografia de cada
um dos pensadores.

4.1 Biografia de Descartes

René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye, França, pertencendo a uma


família próspera. Estudou no colégio jesuíta de La Flèche, na época um dos mais
conceituados institutos de ensino da Europa. Logo se deu conta do abismo entre aquela
orientação cultural e os novos discursos científicos e filosóficos que brotavam por toda
parte. O ensino conduzia para as controvérsias típicas do período medieval escolástico,
afastando-se dos problemas do presente.
Prosseguiu seus estudos na Universidade de Poitiers, onde bacharelou-se em
Direito, carreira que não chegou a seguir. Em 1618, teve início a Guerra dos Trinta Anos.
Descartes alistou-se, então, nas tropas de Maurício de Nassau, que combatia contra os
espanhóis pela liberdade da Holanda.
Em 1619, ingressa em outro exército, capitaneado pelo duque Maximiliano da
Baviera. Nessa época, consta que Descartes recebeu uma espécie de revelação
intelectual sobre os fundamentos de uma “ciência admirável”, em decorrência da qual
fez uma promessa de ir em peregrinação à Santa Casa de Loreto.

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Em 1633, na Holanda, anunciou a um de seus amigos que um livro, o Tratado


sobre o mundo e sobre o homem, estava quase pronto, sendo finalizado até o final do
ano. Entretanto, tomando conhecimento da condenação de Galileu Galilei (1564-1642)
por causa da tese copernicana de que a Terra não é o centro do universo, apressou-se
a, em seguida, escrever ao mesmo amigo: “Estou quase decidido a queimar todas as
minhas apostilas ou, pelo menos, não as mostrar a ninguém.” Descartes era conhecido
como um espírito cuidadoso, avesso a tudo aquilo que prejudica a paz de espírito,
necessária para os seus estudos. Além disso, estava vivo na sua memória
possivelmente o martírio de Giordano Bruno (1548-1600) na fogueira e a prisão de
Tommaso Campanella (1568-1639), ambos os casos por confrontarem os dogmas
religiosos da época.
De 1633 a 1637, escreveu o célebre Discurso do método, que introduzia três
ensaios científicos: A dióptrica, Os meteoros e A geometria. Nessa obra, Descartes
demonstra o caráter objetivo da razão e indica regras em que todos devem se inspirar
para alcançar tal objetividade. Trata-se do texto que, muitos consideram, inicia a
Filosofia Moderna.
Em 1641, publica uma de suas principais obras, as Meditações metafísicas –
cujo título na íntegra é Meditações metafísicas onde se demonstra a existência de Deus
e a imortalidade da alma. A obra recebeu inúmeras críticas, algumas violentas dos
intelectuais da época – uma delas do célebre filósofo Thomas Hobbes (1588-1679).
Em 1649, aceita o convite da rainha Cristina da Suécia para compor a sua corte.
A rainha, devido ao hábito de ter suas conversações às cinco horas da manhã, obrigava
Descartes a levantar-se muito cedo, apesar do clima rigoroso e da fraca constituição
física do filósofo. Em 1650, Descartes contrai uma pneumonia, que, após uma semana
de sofrimentos, o conduz à morte.
Descartes é considerado o pai da Filosofia Moderna, porque empreendeu uma
virada no pensamento filosófico, principalmente devido à crítica que elaborou à herança
epistemológica da tradição. Desde então, o discurso filosófico passou não mais a ser
centrado no ser – isto é, na Ontologia típica da Filosofia Antiga – ou em Deus – ou seja,
na Teologia associada à Filosofia Medieval –, mas na racionalidade humana – vale
dizer, na Epistemologia que caracterizará a Filosofia Moderna.

4.2 Biografia de Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), nascido em Stutgart, Alemanha, foi


o principal expoente do idealismo alemão. Estudou Teologia no seminário protestante
de Tübinghen, mas logo abandonou a pretensão de se tornar pastor. Uma de suas
primeiras obras, porém, foi a Vida de Jesus (1795). Entre 1798-99, escreveu O espírito
do cristianismo e seu destino.
Professor da Universidade de Iena, assistiu à invasão da cidade pelas tropas de
Napoleão, em 1806, que fecharam a instituição. Durante esse período, elaborou uma
de suas mais famosas obras: Fenomenologia do Espírito (1806-7).
Enquanto diretor do Liceu de Nuremberg, escreveu a Ciência da Lógica (1812-
16). Em seguida, em 1816, tornou-se catedrático da Universidade de Heidelberg,

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quando redige a Enciclopédia das ciências filosóficas (1817), obra em que escreve
sobre Lógica, Filosofia da Natureza e Filosofia do Espírito.
Em 1818, assume como catedrático na Universidade de Berlim, o coroamento
de sua carreira acadêmica. Ali ministra uma série de cursos, frequentados por numeroso
público, que serão posteriormente publicados como Lições de História da Filosofia,
Lições de Estética, Lições de Filosofia da Religião e Lições de Filosofia da História.
Nesse mesmo período, escreve os Princípios de Filosofia do Direito.
Em 1829, no auge de seu prestígio intelectual, torna-se reitor da Universidade
de Berlim, e, em 1831, morre de cólera.
Sua obra costuma ser apontada, com frequência, como o ponto culminante do
racionalismo. Talvez nenhum outro pensador tenha conseguido elaborar, como ele, um
sistema filosófico tão abrangente.

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5. Conceitos
5.1 Descartes
5.1.1 O problema do método

Após seus anos de estudos iniciais, Descartes se deu conta do abismo entre a
orientação cultural que fundamentava seu currículo e as demandas das descobertas
científicas e filosóficas nascentes. Diz o filósofo1:
“Fui nutrido nas letras desde minha infância e, por ter-me persuadido de que era possível, por meio
delas, adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia um desejo muito
intenso de aprendê-las. Mas, tão logo terminei todo esse percurso de estudos, ao final do qual se
costuma ser admitido na classe dos doutos, mudei inteiramente de opinião. Pois eu me encontrava
emaranhado em tantas dúvidas e erros que me parecia não ter obtido outro proveito, ao procurar
instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais minha ignorância. E, no entanto, estivera em
uma das mais célebres escolas da Europa, onde pensava que devia haver homens sábios, se é
que existiam em algum lugar da Terra.” (Discurso do Método, Primeira Parte, p. 71-2)

Sua dúvida era tal que, após os estudos, resolveu lançar-se a uma vida dedicada
a experiências e não somente devotada aos livros:
“Eis por que, tão logo a idade permitiu-me sair da sujeição de meus preceptores, abandonei
inteiramente o estudo das letras. E, decidindo-me a não procurar mais outra ciência, a não ser
aquela que poderia encontrar em mim mesmo, ou então no grande livro do mundo, empreguei o
restante de minha juventude em viajar, em ver as cortes e os exércitos, em frequentar pessoas de
diferentes humores e condições, em recolher diversas experiências, e expor-me a mim mesmo aos
conflitos que a fortuna me propunha e em fazer em toda a parte, tal reflexão sobre as coisas que
se me apresentavam, para que delas pudesse tirar algum proveito.” (Discurso do Método, Primeira
Parte, p. 75)

O exame quanto ao proveito que poderia ser tirado dos estudos tradicionais se
estende à lógica, principalmente a aristotélica. Segundo Descartes:
“Quando mais jovem, estudara um pouco, entre as partes da filosofia, a lógica, e dentre as
matemáticas, a análise dos geômetras e a álgebra, três artes ou ciências que parecem dever
contribuir com algo para o meu desígnio. Mas, ao examiná-las, reparei que, no que diz respeito à
lógica, seus silogismos e a maior parte de suas outras instruções servem mais para explicar a
alguém as coisas que se sabem [...] do que para aprendê-las.” (Discurso do Método, Primeira
Parte, p. 80)

Assim, para o filósofo, a lógica, quando muito, ajuda a expor a verdade, mas não
auxilia quem quer obter a verdade. Em outras palavras, é possível imaginar que dominar
a linguagem lógica pode mesmo auxiliar a expressar falsidades. Se o propósito maior
da filosofia é chegar à verdade, então a lógica não basta.
Para entender o que Descartes fala sobre a lógica, você precisa entender a
lógica do seu tempo. O núcleo da questão é compreender a forma típica do raciocínio,
tal qual conceituada por Aristóteles e amplamente explorada por filósofos antigos e
medievais – o modelo que Descartes aprendeu em La Flèche. Primeiro, considere este
exemplo, talvez o mais célebre do pensamento ocidental, formulado pelo próprio
Aristóteles:

1
Todas as citações são tiradas de DESCARTES, 2018.

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#1
Todo homem é mortal
Sócrates é homem
Logo, Sócrates é mortal.
Trata-se de um raciocínio, um conjunto de enunciados, em que dois deles (as
premissas) conduzem ao terceiro (a conclusão). Uma das premissas é composta de um
enunciado universal, que liga duas propriedades, do tipo “Todo A é B”. A outra é
composta de um enunciado particular que expressa que um indivíduo possui uma
propriedade, do tipo “x é A”. A conclusão é o resultado das duas premissas anteriores,
que possuem um termo em comum a permitir a ligação. Se trocássemos os nomes por
variáveis – A, B, C e x –, então teríamos esta forma:
Todo A é B
xéA
Logo, x é B
O que esse formato nos permite visualizar? Que seja lá o que colocarmos no
lugar das variáveis, caso admitamos a verdade das premissas, então a verdade da
conclusão é inevitável. Por exemplo:
#2
Todo mamífero é animal
Bichano é mamífero
Logo, Bichano é animal

#3
Todo vegetal é azul
O mar é vegetal
Logo, o mar é azul
Em #1 e #2, talvez você não tenha sido conduzido a espanto algum. Porém, em
#3, você tenha dito, com alguma razão, que o raciocínio não faz o menor sentido. Porém,
porque eu disse “alguma” e não “toda” razão? Pelo seguinte.
O raciocínio #2 apresenta premissas falsas, mas não uma forma inválida. De
fato, é simplesmente falso dizer que “Todo vegetal é azul” e que “O mar é vegetal”.
Igualmente, não é correto dizer que “o mar é azul”, porque às vezes é verde,
transparente etc. Porém, se você trocar esses nomes pelas variáveis, verá, então, que
a forma do raciocínio é a mesma de #1, isto é:
Todo A é B
XéA
Logo, x é B
O que significa dizer que a forma é válida? Significa que se, e somente se,
aceitarmos as premissas como verdadeiras, então a conclusão também o será.
Inevitavelmente. Isso ocorre em virtude tão somente não do conteúdo dos enunciados,
mas do modo como o raciocínio está estruturado. É a diferença em lógica entre validade

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e verdade. Aquela se refere à forma do raciocínio. Esta se refere ao conteúdo de seus


enunciados;

Validade Verdade
(forma do raciocínio) (conteúdo dos enunciados)
Premissas X
Conclusão X
Raciocínio (premissas e
X
conclusão em conjunto)

Se tivermos premissas que sabemos serem verdadeiras, como em #1 e #2,


então a forma do silogismo é perfeita. Ela ajuda a encadear os raciocínios de maneira
clara, de modo a expor a verdade de modo evidente.
Porém, se as premissas utilizadas não forem verdadeiras, como em #3, então a
forma do silogismo de nada serve. Apenas mostra de modo encadeado e claro uma
série de absurdos. Sim, é exatamente isso que você está pensando: um raciocínio pode
ser válido e, ainda assim, conter premissas e conclusão falsa.
O que isso nos diz? Que esse formato não nos ajuda a obter a verdade.
Agora, você está em condições de entender o que Descartes disse. Para ele, a
lógica, quando muito, ajuda a expor a verdade, mas não auxilia quem quer obter a
verdade. Em outras palavras, é possível imaginar que dominar a linguagem lógica pode
mesmo auxiliar a expressar falsidades. Se o propósito maior da filosofia é chegar à
verdade, então a lógica não basta.
Qual foi a saída proposta?

5.1.2 As regras do método

A resposta veio em seu Discurso do método. O modelo no qual Descartes se


inspira é o matemático, principalmente o exposto nos tratados geométricos. A clareza e
o rigor desse procedimento, se captados na essência e depurados de seus aspectos
estritamente técnicos, poderiam auxiliar qualquer um na busca pela verdade:
“Essas longas cadeias de razões, todas simples e fáceis, das quais os geômetras têm o costume
de servir-se para chegar a suas demonstrações mais difíceis, deram-me ocasião de imaginar que
todas as coisas que podem ser incluídas no conhecimento dos homens decorrem umas das outras
da mesma maneira e que, contanto que nos abstenhamos somente de aceitar por verdadeira
alguma que não o seja e sigamos sempre a ordem necessária para deduzi-las umas das outras,
não pode haver coisas tão afastadas que não alcancemos por fim, nem tão escondidas que não
as descubramos.” (Discurso do Método, Primeira Parte, p. 81)

Descartes acreditava, assim, que a razão humana era capaz de alcançar a


verdade, desde que bem orientada. Porém, como exatamente conduzir a si mesmo
rumo ao saber verdadeiro?
O filósofo visa a oferecer regras acessíveis que, caso observadas com rigor,
conduzam ao conhecimento seguro. O número de regras que propõe são quatro:

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1. Evidência,
2. Análise,
3. Síntese,
4. Revisão.
Sobre a evidência, assim se pronuncia o filósofo:
“O primeiro era o de jamais admitir como verdadeira alguma coisa que eu não conhecesse
evidentemente como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada
mais compreender em meus julgamentos senão aquilo que se apresentasse tão clara e
distintamente ao meu espírito que eu não teria ocasião alguma de colocá-lo em dúvida.” (Discurso
do Método, Primeira Parte, p. 81)

As palavras-chave aqui são clareza e distinção. Trata-se de dois princípios


fundamentas para o filósofo, de onde se deve partir e para onde se deve rumar. Deve-
se partir delas porque não devem ser algo compreensível somente depois de um
raciocínio ou de uma explicação. São o mais simples de onde podemos partir para iniciar
o caminho de busca pela verdade. Deve-se chegar a elas porque, nem sempre – quase
nunca, na verdade – é possível encontrar, de primeira, ideias desse tipo. Por isso,
depois de percorrer as três regras a seguir, ganha-se maior compreensão sobre o que
se estava tentando captar.
Sobre a análise, diz Descartes:
“O segundo, de dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas partes quantas
possíveis e quantas fossem requeridas para melhor resolvê-las.” (Discurso do Método, Primeira
Parte, p. 81)

O termo que resume a segunda etapa é decomposição. Como nem é possível


partir de algo claro e distinto, é preciso dividi-lo em tantas partes quantas forem
possíveis a fim de buscar mais clareza e distinção em cada uma dessas partes. Trata-
se de um momento preparatório para o estudo propriamente dito: um esforço de quebrar
aquilo que é complexo em partes mais simples.
A respeito da ordem, o filósofo atesta:
“O terceiro, de conduzir em ordem meus pensamentos, a começar pelos objetos mais simples e
mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como que por degraus, até o conhecimento
dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre aqueles que não precedem
naturalmente uns aos outros.” (Discurso do Método, Primeira Parte, 2018, p. 81)

Não basta decompor o complexo no simples, é preciso estabelecer entre eles os


nexos a fim de torná-los um sistema novamente. É preciso um esforço de ordenação. O
esforço intelectual de reestabelecer esses laços e compreender como funcionam
consiste no esforço de compreensão propriamente dito. Na síntese, a compreensão vai
progressivamente do mais simples para o mais complexo até alcançar a visão de
conjunto de um só golpe, típica da clareza e da distinção.
Mas o método precisa de uma etapa de revisão. É o que anuncia o último
degrau:
“E o último, de fazer por toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu
estivesse seguro de nada omitir.” (Discurso do Método, Primeira Parte, p. 81)

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Para impedir desvios no percurso, é preciso verificar cada etapa. É preciso tanto
atenção para a correção do processo de análise, quanto para o procedimento de
síntese. Esse controle permite que o método funcione como deve.
Trata-se de regras criadas com o intuito de todos seguirem. São feitas para
serem um modelo de conhecimento. Como elas podem orientar nossa ação? Diante de
ideias confusas e obscuras, é preciso identificar suas partes constituintes (análise),
examiná-las uma a uma, da mais simples a mais complexa (ordem), certificar-se de que
não foi esquecida nenhuma e repetir o processo (revisão) até chegar a uma
compreensão clara e distinta do fenômeno que se quer compreender (evidência).

5.2 Hegel
5.2.1 A Razão é histórica, e a História é racional

Você já percebeu o modo pelo qual falamos sobre a espécie humana? Sem
qualquer tipo de teoria em mente, não achamos estranho dizer que a espécie humana
evoluiu, decaiu, desenvolveu seu conhecimento etc. Já notou? Tratamos a espécie
humana – que é uma abstração –, como se fosse um ser humano concreto que pudesse,
por si só e a partir da sua deliberação, conduzir-se de modo a evoluir, decair ou conhecer
a realidade. Pois bem, Hegel faz algo semelhante. Porém, ao invés de utilizar a
expressão “espécie humana”, utiliza a palavra “Espírito”, em alemão, “Geist”.
Para entender como Hegel iguala realidade a Espírito, acompanhe o raciocínio
em etapas. Peço que você vá com calma junto comigo. Vamos construindo um tijolo de
cada vez nesse complexo castelo.
Primeiro, a etimologia da palavra. No idioma germânico, há duas diferentes
acepções para o vocábulo.
Antes de tudo, designa “mente”, em oposição a “corpo”. Por exemplo, “doença
mental” é escrita em alemão como Geisteskrankheit.
Em seguida, indica “espírito” em vários sentidos – dois deles são os seguintes.
Considere a expressão Zeitgeist. Ela designa o “espírito do tempo”, ou “espírito da
época”, isto é, o clima intelectual de uma região ou coletividade, seja local, seja histórica.
Em outras palavras, aponta para as características constitutivas de um determinado
período. Outro uso para a palavra é referir-se a um dos elementos da Santa Trindade
Cristã: Pai, Filho e Espírito Santo (Heilige Geist)
No sentido etimológico, então, Hegel utiliza a palavra Espírito querendo designar
algo próximo a uma “mentalidade” ou algo de “constituição mental”.
Agora vamos para o sentido propriamente filosófico. Disse acima que o filósofo
faz algo semelhante à expressão “espécie humana”. Porém, não só. Também
acrescenta dois tipos de camadas de significado.

• Fala não apenas da espécie humana, mas da própria realidade.


• Considera a realidade como algo orgânico que possui um ciclo de vida
parecido com o de um ser vivo.

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Em termos filosóficos, Hegel nos convida a pensar a realidade como observamos


organismos específicos da natureza. Por exemplo, uma planta passa por estágios,
produzindo ramos, folhas, flores e frutos – e o faz de acordo com um padrão específico
de sua própria espécie. Uma planta, naturalmente, não tem consciência desse processo.
O exemplo da planta é elucidativo, mas ainda não captura exatamente o que
Hegel quer dizer. Para avançar, considere um ser humano. À medida que suas
capacidades corporais e intelectuais se desenvolvem, consegue gradualmente uma
consciência de si e de sua natureza. Diferente da planta, o ser humano, que aos poucos
vira adulto, adquire autoconsciência.
Isso quer dizer que Hegel defende ser a realidade uma espécie de mente
humana em escala cósmica? Não é bem assim. O Espírito não deve ser igualado a uma
consciência individual. Em outras palavras, Espírito não é uma divindade, semelhante à
monoteísta das grandes religiões abraâmicas.
Em sentido filosófico, o que Hegel quer dizer é que a Realidade, em seu aspecto
mais fundamental, é de ordem mental. Assemelha-se a uma mentalidade que,
progressivamente, vai se desenvolvendo – como a planta – e vai tomando consciência
de seu desenvolvimento – como os humanos. Não faz isso, porém, deliberadamente.
Por esse motivo, não pode ser vista como um humano ou uma divindade. Seu
desdobramento segue uma lei interna. De acordo com essa lei interna, a História
cósmica acontece, rumo à progressiva tomada de autoconsciência.
Em escala humana, o desenvolvimento do Espírito pode ser visto na História. As
Épocas pelas quais a humanidade passa nada mais são que desenvolvimentos
racionais pelos quais passa a Realidade. A Razão é histórica, e a História e racional.
Em que sentido?
A Razão é histórica, porque se manifesta no tempo.
A História é racional, porque se desenvolve segundo regras e padrões.
Como a História se manifesta em etapas (suas Épocas), o Espírito, para ser
apreendido na sua inteireza, precisa ser compreendido em todas as etapas históricas.
Cada etapa particular da História é uma etapa particular do Espírito e, portanto, uma
etapa particular da Realidade.
Todas elas reunidas fornecem a Realidade inteira e, assim, a Verdade inteira.
Separada, cada uma fornece uma Verdade parcial. Porém, como saber qual é a
Verdade inteira, se nós ainda não chegamos ao final? Não há como saber. Resta,
entretanto, indicar quais padrões segue. Segundo Hegel, trata-se de um movimento
baseado em três etapas.

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5.2.2 Aufhebung (suspensão)

Segundo Hegel, a Realidade (Espírito), em seu movimento, comporta-se


realizando sempre três movimentos que nunca param de reiniciar

• Afirmação
• Negação
• Negação da negação
Para entender, voltemos aos três exemplos: da planta, do homem e da História.
Para iniciar com o exemplo da planta, o ponto de partida é a semente. O broto,
para se afirmar e se desenvolver, nega a semente, rompendo-a e desabrochando. A
flor, para se afirmar e se desenvolver, nega o broto, florescendo. O fruto, para se afirmar
e se desenvolver, nega a flor, amadurecendo. A semente, para se afirmar e se
desenvolver, nega o fruto, germinando. Fecha-se, assim, um ciclo de sucessivas
negações e afirmações, reiniciando outro ciclo.
Em seguida, pense no homem, cujo ponto de partida pode ser a vida intrauterina.
O bebê, para se afirmar e se desenvolver, nega o feto, saindo para o mundo. A criança,
para se afirmar e se desenvolver, nega o bebê, aprendendo a andar e a falar. O adulto,
para se afirmar e se desenvolver, nega a criança, iniciando a vida madura. O velho, para
se afirmar e se desenvolver, nega o adulto, rumando à morte, mas não sem antes gerar,
junto com outro ser humano, uma vida intrauterina. Fecha-se, assim, um ciclo de
sucessivas negações e afirmações, reiniciando outro ciclo.
Por fim, a História, cujo ponto de partida é difícil de enxergar. Por esse motivo,
assumamos arbitrariamente o que chamamos de Idade Antiga. A Idade Média, para se
afirmar e se desenvolver, nega os antigos, introduzindo novas ideias religiosas. A Idade
Moderna, para se afirmar e se desenvolver, nega os medievais, introduzindo novas
ideias humanistas. A Idade Contemporânea, para se afirmar e se desenvolver, nega os
modernos, introduzindo novas ideias anti-humanistas. Não sabemos no que isso irá
acabar, justamente porque a História se parece, mas não é idêntica ao desenvolvimento
da planta, tampouco do ser humano. Para Hegel, o movimento é incessante e vai ao
absoluto. Tudo o que podemos captar, sem nele chegar – não, pelo menos, em nosso
tempo de vida individual –, é a lei pela qual se desenvolvem os acontecimentos.
Há uma diferença entre a negação e a negação da negação. A primeira
simplesmente refuta a afirmação. A última, porém, suspende o contraste anterior entre
negação e afirmação. O ato de suspender é chave para pensar esse terceiro momento
do movimento do Espírito. É útil para entender a proposta hegeliana analisar a palavra
em alemão e sua tradução: Aufhebung.
Essa palavra guarda em si três significados possíveis: negar, conservar e elevar.
Para entender, vamos retomar os três exemplos anteriores.
O broto nega a semente, na medida em que se transforma em outra coisa. Porém
também conserva, porque não se transforma em algo de completamente diverso – um
animal, por exemplo. É razoável supor que o que se torna, de algum modo, já estava

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contido no estágio anterior. Nesse sentido, também eleva, visto que alcança
potencialidades que a semente sozinha seria incapaz de alcançar.
O bebê nega o feto, na medida em que se transforma em outra coisa – afinal,
vira um ser que não depende de outro corpo diretamente. Porém também conserva,
porque não se transforma em algo de completamente diverso – um gato, por exemplo.
O estágio anterior já guardava características que, ainda que não desenvolvidas, já
apontavam para um desenvolvimento. Nesse sentido, também eleva, visto que alcança
forças que o feto isolado não alcançaria.
A Idade Média nega a Idade Medieval, na medida em que se transforma em outra
coisa – afinal, introduz uma crença religiosa sem igual no mundo antigo. Entretanto,
também conserva, porque não se transforma em algo de completamente diverso – ainda
se trata dos mesmos povos, não de povos completamente alheios, de outras
civilizações, por exemplo. O estágio anterior já guardava características que, ainda que
não desenvolvidas, já apontavam para um desenvolvimento, dado que inclusive a
Filosofia de Platão e a de Aristóteles foram amplamente influentes no período. Nesse
sentido, também eleva, visto que conduz as conclusões a usos não antes vislumbrados
no período anterior, como a questão da salvação da alma imortal.
Há uma palavra em Língua Portuguesa para traduzir Aufhebung: “suspender”.
Suspender quer dizer negar, quando se diz, por exemplo, “O aluno está
suspenso da classe”. Isso quer dizer, em outras palavras, que ao aluno foi negado o
direito de assistir às aulas.
Além disso, suspender significa conservar, quando o juiz diz, por exemplo, “A
corte está suspensa”. Em outra palavras, o que isso significa é que o julgamento
permanece conservado até outra data, quando será continuado.
Suspender, por fim, quer dizer elevar, quando observamos alguém e dizemos,
por exemplo, “Fulano está suspenso na árvore, apanhando um fruto”. Nesse caso,
suspender significa elevar-se fisicamente.
Nesse sentido, o que Hegel chama de negação da negação não é uma
aniquilação total, mas uma negação parcial, uma conservação daquilo que é negado, e
sua elevação a um nível superior. O movimento, assim, não é de zigue-e-zague, entre
a afirmação e a negação apenas, mas de espiral entre os três pólos, de modo que o
terceiro é sempre mais elevado que os dois anteriores.
O terceiro, por sua vez, não é fim da linha. Logo que se consolida, vira uma
afirmação para, em seguida, confrontar uma negação, que será suspensa por uma
negação da negação – a assim sucessivamente. O movimento da realidade é
incessante até chegar ao absoluto.
O que esse esquema extremamente abstrato de Hegel nos diz? Que não
sabemos o que é o absoluto, a verdade total, a síntese de todas as ideias. Ainda assim,
a lição é que, caso queiramos conhecer as verdades acessíveis, temos que analisar as
ideias sempre a partir do movimento triádico da realidade: precisamos distinguir o que
é negação, conservação e elevação na ideia em relação às outras que a geraram.

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6. Exemplos
6.1 Suspensão (Aufhebung) e o casal

Pense em um casal que se ama.


O que são os indivíduos antes de se casarem? Cada um é uma afirmação de si
mesmo. Cada um age a partir de si mesmo, unilateralmente. Cada um é um Eu.
Quando se encontram, o que se tornam? A princípio, do ponto de vista de cada
um, trata-se de um Eu, reunido a um Tu. Do lado de cá, Eu amo Tu. Do lado de lá, Tu
ama Eu. Mas e depois?
Em seguida, ambos deixam de ser atos unilaterais e transformam-se num único
ato, que é bilateral. Não é mais decisivo quem ama quem, porque Eu e Tu perderam o
caráter individual. Surge algo novo: o Nós.
O Nós nega o Eu e o Tu, porque interesses individuais passam a desaparecer
em vista da existência do casal.
O Nós conserva o Eu e o Tu, porque não são todos os interesses individuais que
desaparecem, apenas aqueles que não se coadunam com a nova condição. Alguns
permanecem e já existiam antes do Nós se formar.
O Nós eleva o Eu e o Tu, porque não é mera soma dos interesses do Eu e do
Tu. O Nós trás consigo interesses que só existem na união e que vão muito além dos
individuais. Daí ser uma elevação.

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6.2 Ponto de mutação e a visão mecanicista

Um belo exemplo da visão mecanicista de mundo e um confronto em relação a


ela está contado no filme Ponto de Mutação [Mindwalk] (1990), dirigido por Bernt
Amadeus Capra, adaptado de um conto seu, por sua vez baseado em “The turning
point”, um livro de não ficção de seu irmão, o físico teórico Fritjof Capra.
O filme aborda um diálogo de três pessoas, em um castelo medieval na França.
O primeiro é um senador e ex-candidato à presidência (político). Sente-se desmotivado
com a política, argumentado não ter discurso próprio, tendo que repetir os discursos que
que as pessoas querem ouvir. O segundo é um professor de literatura e escritor (poeta)
que se sente na crise de meia idade. Veio à França para fugir da competitividade das
grandes cidades. A terceira é uma cientista especialista em Física que vive uma crise
existencial ao ver a intenção do uso militar em sua pesquisa.
A cientista é convidada a entrar na conversa que o poeta e o político estão tendo
sobre o relógio. Logo que ela entra na conversa, faz uma dura crítica sobre a maneira
cartesiana de enxergar o mundo. É aqui que se encontra o exemplo. Veja o cena a
seguir:

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7. Como orientar a ação

Análise do conhecimento de uma ideia com vistas à ação


Conhecimento variáveis Perguntas para orientar a ação

Em quantas partes se divide a ideia que você quer


Análise
entender?

Em que ordem – da mais simples à menos simples –


Síntese
você iniciaria a compreender essas partes?
Clareza e distinção
(visão linear)
Há alguma parte que ficou faltando ou que precisa ser,
Revisão
ela própria, subdividida?

A ideia está mais clara para você agora? (considere


Evidência clareza não saber de tudo, mas ter diante de si de
modo evidente inclusive as dificuldades a superar)

Negação Que ideia(s) anterior(es) essa ideia nega?

Suspensão Conservação Que ideia(s) anterior(es) essa ideia conserva?


(visão dialética)

De que modo essa ideia, em vez de meramente negar


Elevação e conservar, leva a outro patamar a(s) ideia(s)
anterior(es)?

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8. Autorreflexão posterior

Antes de iniciar o módulo, você refletiu sobre algumas questões. Agora é hora
de revisitá-las.
1. Que método você adota quando quer entender uma ideia?
2. Diante de uma situação difícil de resolver, como você faz para superá-la?
Compare o que você pensa agora com o que você pensava antes. Algo se
modificou? Por quê? Não se esqueça de deixar suas impressões nos comentários
abaixo.

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9. Bibliografia comentada

Para iniciar os estudos em Descartes:

• DESCARTES, René. Discurso do método & Ensaios. Título original: Discours


de la methode pour bien conduire as raison et hercher la verité dans les sciences
plus La Dioptrique, Les Météores et La Géométrie qui sont des essais de cette
méthode. Organizado por Pablo Rubén Mariconda. Traduzido por César Augusto
Battisti, Érico Andrade, Guilherme Rodrigues Neto, Marisa Carneiro de Oliveira
Franco Donatelli, Pablo Rubén Mariconda, Paulo Tadeu da Silva. São Paulo:
Editora Unesp, 2018.
(o livro é uma das melhores traduções da obra do filósofo já feitas e Língua
Portuguesa. Há uma excelente introdução de Pablo Rubén Mariconda, um dos
maiores especialistas em Descartes do Brasil.)
Para iniciar os estudos em Hegel:

• D’HONT, Jacques. Hegel e o hegelianismo. Cadernos Culturais. Portugal:


Edições 70, 1982
(trata-se de um livro básico. Aqui, o panorama básico é apresentado.)

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