TCC - Adreani Araujo Da Conceição
TCC - Adreani Araujo Da Conceição
TCC - Adreani Araujo Da Conceição
Agradeço primeiramente a Deus, por ser meu refúgio, fortaleza e por renovar minhas
forças todos os dias ao longo desses anos sem a sua presença em minha vida nada disso
seria possível.
Á Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e ao Centro de Ciências Agrárias,
Ambientais e Biológicas pelo apoio logístico;
Á Pró Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (PROPAAE) pela
concessão de bolsa de estudo vinculada a projetos institucionais (PPQ);
Ao Profº Sergio Schwarz Rocha, pela orientação, confiança, paciência, ensinamentos e
dedicação ao longo desses anos;
Aos colegas do Laboratório de Biecologia de Crustáceos (LABEC) em especial a
Rosiane Barbosa, Aline Ferreira e Ricardo Silva pelo auxílio nas coletas de campo e por
compartilharem comigo os anseios, as alegrias e as aflições da vida de estagiário;
Ao Prof. Elinsmar V. Adorno (in memoriam) e à bióloga Jayane de Lima Santos pelo
auxílio na identificação dos organismos coletados;
Agradeço a banca pela presença e pelas sugestões que virão que com certeza farão
diferença;
Á todo o corpo docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em especial
aos professores da Biologia que com empenho, profissionalismo e dedicação
contribuíram para a minha formação.
Aos meus pais Vitalino Lima da Conceição e Maria Solidade Santana de Araújo vocês
são meus exemplos, obrigada por todo amor, esforço, dedicação e incentivo. Mãe,
obrigada por sempre estar ao meu lado! Seu apoio, amor e doação ao longo desses anos
formam essenciais para a concretização desse sonho. Nada disso seria possível sem a
sua presença ao meu lado! A vocês minha eterna gratidão!
Às minhas irmãs Adrieli e Alice, por todo carinho, amor e pela presença constante
durante todos os momentos dessa jornada. Obrigada pela paciência em assistir as
prévias das minhas apresentações (risos);
Aos meus familiares, avós, tios (as), primos (as), pelas orações, palavras de incentivo e
carinho;
Às minhas amigas irmãs Dalma Brito, Cátia Santana, Thaís Aline dos Santos e Lorena
dos Santos. Obrigada, pela amizade, companheirismo e por todos os momentos únicos e
inesquecíveis compartilhados ao longo desses anos e que ficarão registrados para todo
sempre em minha memória. Amo vocês!!!
Às minhas companheiras de repúblicas: Ana Angélica Mascarenhas, Jayane Santos,
Vanuze Oliveira e a Rafaela dos Santos. Obrigada pelos momentos de descontração,
pelas resenhas na madrugada, conselhos e pela amizade. Vocês tornaram os meus dias
longe de casa mais felizes.
Aos colegas da Biologia em especial à Beatriz Pimentel, Geralda Bispo, Lucimara Reis
e Mariane Alves.
iii
RESUMO
iv
RESUMO
Aquatic ecosystems over the past decades have been constantly degraded as a result of
population growth and the rise of anthropogenic activities. Currently it has become a
growing need to monitor and manage appropriately these ecosystems. Aiming to
monitor and assess the health of aquatic ecosystems have been proposed and
implemented different methodologies for assessing ecological integrity. An important
tool used is the biomonitoring that is the use of bodies to assess the changes in the
environment. The bioidicadores bodies should be easy to identify, have well-defined
taxonomy, presenting broad geographic and low mobility distribution. The fish fauna,
the periphyton and benthic macroinvertebrates are important bio-indicators. The wide
use of this community as bioindicators due to the characteristics, such as sedentary
lifestyle, lifecycles relatively short, reflecting faster environmental changes through the
changes in the structure of populations and communities; high biological diversity; and
easy sampling. In Brazil, the biological index most widely used in biomonitoring of
aquatic ecosystems is BMWP (Biological Monitoring Working Party). This index was
developed by the UK Department of Environment, in 1976 to be used in biological
classification of water quality. Its wide use is attributed to the fact that this requires an
identification of bodies only to the family level is therefore more suitable for the
evaluation of Brazilian ecosystems due to lack of taxonomic keys and specific
taxonomists. Therefore, this study aims to contribute information on the benthic fauna
and its use as a bio-indicator of an urban pond water quality in Cruz das Almas. This
monograph is divided into two parts: a literature review and a scientific article
presenting the results of this study.
v
SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................................... 1
Revisão bibliográfica ........................................................................................................ 2
Referências bibliográficas ................................................................................................ 7
Resumo ........................................................................................................................... 13
Material e Métodos ......................................................................................................... 16
Resultados....................................................................................................................... 18
Discussão ........................................................................................................................ 26
Referências bibliográficas .............................................................................................. 30
Anexos ............................................................................................................................ 36
vi
APRESENTAÇÃO
Esta monografia está estruturada em duas partes: (1) uma revisão bibliográfica
sobre a importância dos bioindicadores, considerando aspectos do biomonitoranto nos
ecossistemas aquáticos continentais utilizando os macroinvertebrados e o índice
Biological Monitoring Working Party (BMWP); e (2) um artigo científico apresentando
os resultados obtidos nesse estudo. O artigo segue as normas da revista Biotemas (ver
anexo I).
1
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2
da alteração da água sobre as comunidades biológicas (GOULART & CALLISTO,
2003). Neste contexto, o monitoramento biológico é uma importante ferramenta e
alternativa para identificar as respostas do ambiente aos impactos causados pela ação
antrópica (BUSS et al., 2003).
O biomonitoramento ou monitoramento biológico caracteriza-se por utilizar
organismos vivos para avaliar as mudanças ocorridas no ambiente (AMORIM &
CASTILLO, 2009; PINTO 2009; KAMADA et al., 2012; RINALDI, 2007). A
avaliação da integridade biótica dos ecossistemas aquáticos utilizando o
biomonitoramento pode ser mensurada e interpretada por modificações na diversidade e
abundância de organismos resistentes, perda de espécies sensíveis e avaliação da
riqueza de espécies (GOULART & CALLISTO, 2003; SILVA et al., 2014).
Organismos bioidicadores têm sido amplamente utilizados na avaliação de
distúrbios de origem natural, antrópica e na avaliação da integridade ecológica de
diversos ecossistemas em todo o mundo (FERNADES, 2007). De acordo com Buss &
Nessimean (2003) e Rinaldi (2007) para que uma espécie possa ser considerada como
bioindicadora ela deve ser de fácil identificação, ter sua taxonomia bem definida,
apresentar ampla distribuição geográfica e baixa mobilidade, ser abundante e de fácil
amostragem, além de possuir características ecológicas bem conhecidas. A ictiofauna, a
comunidade perifítica e os macroinvertebrados bentônicos são importantes
bioindicadores (TANIWAKI & SMITH, 2011). Dentre estes grupos, a comunidade
bentônica é a mais utilizada como boindicadora da integridade ecológica (CALLISTO
et al., 2001; CORTEZZI et al., 2009; FLYNN et al., 2015; BUSS et al., 2015).
Rosenberg & Resh, (1993) definem os macroinvertebrados bentônicos como
aqueles indivíduos que habitam o sedimento do fundo dos ecossistemas aquáticos,
colonizando substratos lodosos e/ou arenosos, macrófitas aquáticas, algas filamentosas,
folhiços, cascalho, restos de troncos e rochas durante uma fase ou todo o seu ciclo de
vida.
O modo de vida basicamente sedentário da maioria dos macroinvertebrados, sua
elevada abundância nos mais diversificados ambientes, a baixa mobilidade (CALLISTO
& ESTEVES, 1995; GOULART & CALLISTO, 2003), a facilidade de amostragem e
identificação (METCALF, 1989) sua ampla tolerância às diferentes variações de
poluição e o fato de apresentarem um ciclo de vida geralmente curto quando comparado
com outros organismos (DOCILE & FIGUEIRÓ, 2013), são características
3
apresentadas pela comunidade bentônica que torna a sua utilização como bioindicadora
bastante difundida e frequente em todo o mundo (GALVES et al., 2007).
A composição, estrutura e a distribuição da comunidade bentônica são
influenciadas pela disponibilidade de recursos, competição, concentração de oxigênio e
a natureza química do substrato (BARBOLA et al., 2011). De maneira geral, a fauna
bentônica dulciaquícola é composta por uma grande variedade de táxons tais como:
Arthropoda (insetos, ácaros e crustáceos), Mollusca (gastrópodos e bivalves), Annelida
(oligoquetos e sanguessugas), Nematoda e Platyhelminthes. Dentre todos esses táxons,
destaca-se a abundância e a diversidade das formas imaturas (larvas, pupas e ninfas) de
insetos, principalmente Diptera, Coleoptera, Ephemeroptera, Hemiptera, Neuroptera,
Odonata, Plecoptera e Trichoptera (RIBEIRO & UIEDA, 2005; NUNES et al., 2010).
Nos ambientes lóticos e lênticos, os macroinvertebrados constituem uma
importante comunidade desempenhando inúmeras funções ecológicas, dentre elas a
ciclagem de nutrientes através da fragmentação de matéria orgânica, reduzindo o
tamanho das partículas orgânicas e facilitando a ação dos organismos decompositores
(MARQUES et al., 1999; CALISTO & ESTEVES, 1995; CAMELO, 2013). Além
disso, ocupam uma posição importante dentro da cadeia alimentar, como componentes
da dieta de anfíbios, répteis, aves e peixes (ABÍLIO et al., 2007).
Visando monitorar e avaliar a integridade dos ecossistemas aquáticos foram
propostas e implementadas diferentes metodologias de avaliação, cujo objetivo foi
monitorar as condições ecológicas destes ecossistemas (MELO et al., 2015). Os
primeiros trabalhos científicos que avaliaram os efeitos dos impactos ambientais sob as
comunidades de fungos, protozoários e bactérias foram realizados no início do século
XX por Kolkwitz & Marsson (1909), tais trabalhos foram de suma importância para o
surgimento de diversos índices bióticos que utilizavam outros organismos como
bioindicadores da qualidade da água (DOCILE & FIQUEIRÓ, 2013).
No final da década de 1960 alguns países da Europa começaram a utilizar índices
bióticos que utilizavam macroinvertebrados bentônicos como organismos
bioindicadores na avaliação da qualidade ambiental (TOLKAMP, 1985). Esses índices
consistiam em atribuir um valor numérico a um determinado táxon de acordo com a sua
tolerância às perturbações ambientais (BUSS et al., 2003).
Em 1976 foi desenvolvido na Grã-Bretanha, pelo Departamento Britânico de
Meio Ambiente, um grupo de trabalho para sintetizar as informações e conhecimento
sobre os índices bióticos existentes na época, culminando na origem do índice biótico
4
Biological Monitoring Working Party Score System (BMWP), desenvolvido para ser
utilizado na classificação biológica da qualidade da água (METCALFE 1989; BUSS et
al., 2003,CAMELO, 2013).
O BMWP utiliza os macroinvertebrados bentônicos como indicadores da
integridade ambiental. Esse índice baseia-se na identificação dos organismos até o nível
de família, sendo que cada uma delas recebe uma pontuação que oscila de 1 a 10 de
acordo com o seu grau de tolerância ambiental (BUSS et al., 2003).Desta forma,
famílias que são consideradas sensíveis recebem pontuações maiores e aquelas
consideradas tolerantes recebem pontuações menores; o somatório das pontuações de
todas as famílias amostradas irá corresponder a uma das cinco classes de classificação
da qualidade da água estabelecidas pelo índice e, quanto maior o valor obtido, maior o
nível de integridade do ambiente estudado (PINTO, 2009).
Segundo Corgozinho et al., (2004), a ampla utilização do BMWP é atribuída aos
seguintes fatores: 1) identificação dos organismos somente ao nível de família sendo,
portanto, ideal para a avaliação dos ecossistemas brasileiros, devido à escassez de
chaves taxonômicas e taxonomistas específicos de alguns grupos zoológicos; 2)
facilidade e baixo custo da amostragem, tornando sua utilização mais econômica
quando comparados com outros indicadores de qualidade ambiental.
Pelo exposto, a criação do BMWP foi um grande marco para a conservação e
monitoramento dos ecossistemas aquáticos e sua versão original foi utilizada por
diversos países na Europa dentre eles a Espanha e a Holanda e em diversas regiões do
mundo (METCALFE, 1989; GONÇALVES, 2006). Entretanto, esse mesmo índice têm
sofrido constantes atualizações e adaptações, nos anos noventa, Alba-Tercedor e
Sánchez-Ortega (1998) fizeram uma nova versão do BMWP para utilização na
Península Ibérica, onde o índice passou a ser denominado BMWP’. No Brasil, foi
adaptado por Junqueira & Campos (1998), Loyola (2000) e, mais recentemente, pelo
Instituto Ambiental do Paraná (IAP, 2002, 2007), passando a ser denominado também
BMWP’.
As últimas adaptações foram feitas após dez anos de estudos sobre as famílias
frequentes e importantes da fauna brasileira, resultando na adição de novas famílias, as
quais foram adicionadas por equivalência ecológica ou por semelhanças ao nível de
tolerância à poluição (RUARO et al., 2010). Atualmente o BMWP’ tem sido
amplamente e frequentemente utilizado na avaliação de ecossistemas aquáticos
brasileiros em diferentes regiões, tais como Mato Grosso do Sul (FERRAZ et al., 2014),
5
Rio Grande do Sul (CUNHA et al., 2003; STRIEDER, 2006; COPATTI et al., 2010) e
Paraná (RUARO et al., 2010; REMOR et al., 2014).
Dessa forma, dada a importância da comunidade bentônica na estrutura e
dinâmica dos ecossistemas aquáticos continentais e seu relevante papel como
bioindicadora, torna-se necessário o estudo desses organismos principalmente no
Recôncavo Baiano onde pesquisas utilizando os macroinvertebrados como
bioindicadores da qualidade de água ainda são escassos. Nesse contexto, o presente
trabalho visa contribuir com informações sobre a fauna de macroinvertebrados e sua
utilização como bioindicadora da qualidade de água de um açude urbano no município
de Cruz das Almas.
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUSS, D. F.; CARLISLE, D. M.; CHON, T. S., CULP, J.; HARDING, J. S.; KEIZER-
VLEK, H. E.; HUGHES, R. M. Stream biomonitoring using macroinvertebrates around
the globe: a comparison of large-scale programs.Environmental monitoring and
assessment. Environmental monitoring and assessment, v. 187, n. 1, p. 1-21. Dez.
7
CAMELO, F. R. B. Avaliação da qualidade ambiental da bacia do Rio Uberabinha
através de um índice BMWP adaptado. 2013. 61p. Dissertação (Mestrado em
Ecologia) Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2013.
8
São Paulo-SP. RevInter Revista de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 3,
n. 1. Nov/Fev. 2015.
GRAF. A. C. B. Água, bem mais precioso do milênio: o papel dos Estados. Revista
CEJ, v. 4, n. 12, p. 30-39. Set/Dez. 2000.
9
METCALFE, Janice L. Biological water quality assessment of running waters based on
macroinvertebrate communities: history and present status in Europe. Environmental
pollution, v. 60, n. 1, p. 101-139. Mar.1989.
MONTEIRO, T. R.; OLIVEIRA, L. G.; GODOY, B. S. Biomonitoramento da qualidade
de água utilizando macroinvertebrados bentônicos: adaptacão do índice biótico
BMWP'à bacia do rio Meia Ponte-GO. Oecologia brasiliensis, v. 13, n.3, p. 555-563,
2008.
MORAES, D.S.L., & JORDÃO, B.Q. Degradação dos recursos hídricos e seus efeitos
sobre a saúde humana. R. Saúde Pública, v.36, p.370-74. Mar. 2002.
NUNES, M. V.; MACHADO, E. R., DE LUCCA, J. V.; ROCHA, O. C omposição da
macrofauna bentônica durante o processo de recuperação da mata ciliar do rio mandu
em Pouso Alegre, MG. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta
Paulista, Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 6, n. 2, 2010.
10
SILVA, D. R.; LIGEIRO, R.; HUGHES, R. M.; CALLISTO, M. Visually determined
stream mesohabitats influence benthic macroinvertebrate assessments in headwater
streams. Environmental monitoring and assessment, v. 186, n. 9, p. 5479-5488. Abr.
2014.
11
Macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores da qualidade de água em um
açude urbano no Recôncavo Baiano
12
Resumo
Abstract
English title. Benthic macroinvertebrates as bioindicators of water quality in an urban dam in the
Recôncavo of Bahia.
The freshwater macroinvertebrates represent a diverse group of organisms that live in the sediment
of aquatic environments and have an essential role in aquatic ecosystem maintenance. The benthic
fauna has been widely used as a bioindicator of the ecological integrity nsa Continental Aquatic
Ecosystems providing information relevant to the actions Development que aimed at recovery and
conservation of these environments. The aim of this study was the identification of the
composition and structural patterns (density, richness, and diversity) of benthic macroinvertebrate
fauna as well as assess the quality of the Clube de Campo Laranjeiras dam in Cruz das Almas,
Bahia. A total of 3,822 specimens were found and taxonomic richness of the represented
macrofauna for 52 taxa distributed in the following phyla: Annelida (1.7%), Arthropoda (84.7%)
and Mollusca (13.6%). The subphyla Hexapoda was the most abundant (63.9%) and had the
highest taxonomic richness with 42 families sampled. In the insect group, the order Diptera was
the most abundant representing 63.5% of the insects sampled and the order Hemiptera had the
highest taxonomic richness with six families sampled. The results obtained for the biological
indexes BMWP’ and Shannon-Wiener diversity index, show that the Laranjeira dam, although in
an urban area and therefore vulnerable to the human changes, has what is considered good water
quality. Our finds were helpful for the advancement on the knowledge of the local macrobenthic
fauna, and corroborate the importance of the animals as important tools on the evaluation of the
integrity of aquatic ecosystems.
Keywords: Biological monitoring, BMWP’, Aquatic ecosystems, Benthonic invertebrates
13
Introdução
Os lagos urbanos são ecossistemas importantes, pois abrigam uma grande diversidade de
fauna e flora, além de serem componentes importantes da paisagem das cidades (NABOUT;
NOGUEIRA, 2011). A biota de um corpo d’água reflete as condições do ambiente fornecendo
um diagnóstico das características ambientais do ecossistema, uma vez que quaisquer mínimas
alterações influenciam na composição e estrutura da comunidade (AGOSTINHO et al., 2005;
CORBI et al., 2009).
Um dos principais componentes da biota aquática são os macroinvertebrados bentônicos,
os quais são definidos como organismos que vivem associados ao sedimento dos ecossistemas
aquáticos pelo menos durante uma fase do seu ciclo de vida colonizando diferentes tipos de
substratos (TANIWAKI; SMITH, 2011).
A estrutura da comunidade de macroinvertebrados bentônicos varia no tempo e no espaço
devido à influência dos fatores abióticos e bióticos (CORTEZZI et al., 2009). Portanto,
características morfométricas e físico-químicas do habitat, bem como as interações bióticas
(ANDRADE et al., 2008) e disponibilidade de alimento (LIMA et al., 2013) podem influenciar
diretamente a riqueza, abundância, composição e distribuição desses organismos.
Atualmente inúmeras atividades antrópicas decorrentes do crescimento urbano
(desmatamento, lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados e a introdução de
espécies exóticas) têm contribuído para uma expressiva redução na riqueza, abundância e
distribuição desses organismos nos ecossistemas aquáticos brasileiros (AGOSTINHO et al.,
2005; CARVALHO et al., 2008). Por este motivo, a avaliação da integridade ecológica tornou-
se um assunto de fundamental importância para a manutenção deste recurso em todo o mundo
(BAGATINI et al., 2012), fornecendo subsídios para criação de estratégias de conservação e de
recuperação desses ecossistemas (MAROTTA et al., 2008).
Uma importante ferramenta utilizada na avaliação dos ecossistemas aquáticos é o
biomonitoramento, o qual consiste na utilização de organismos vivos para avaliar as mudanças
ocorridas no ambiente, geralmente decorrentes das ações antrópicas (AMORIM; CASTILLO,
2009; NUNES et al., 2015). Baseia-se, portanto, na utilização de organismos cuja presença,
quantidade e distribuição servem como indicadores de impactos ambientais no ecossistema
aquático (CALLISTO et al., 2004).
Neste contexto, os macroinvertebrados bentônicos são importantes bioindicadores da
integridade ecológica, pois são de fácil amostragem e identificação, apresentam uma ampla
14
distribuição geográfica (PEREIRA et al., 2014; NUNES et al., 2015), ciclo de vida longo
possibilitando uma análise temporal dos efeitos das perturbações ambientais sobre a
comunidade (KRAWCZYK et al., 2013; REMOR et al., 2014; RASHID & PANDIT, 2014;).
Os indivíduos que constituem essa comunidade apresentam diferentes graus de tolerância às
perturbações ambientais, o que favorece sua utilização como bioindicadores (GONÇALVES;
MENEZES, 2011; KRAWCZYK et al., 2013). Além da sua função bioindicadora esses
organismos participam de diversos processos ecológicos, tais como a ciclagem de nutrientes
(MOREYRA; PADOVESI-FONSECA, 2015), decomposição de detritos (OLIVEIRA;
CALLISTO, 2010; TELES et al., 2014) e compõem a dieta de outros invertebrados e
vertebrados (COPATTI et al., 2010).
De acordo com REMOR et al., (2014), a avaliação da integridade ecológica dos
ecossistemas aquáticos utilizando as respostas biológicas é o método mais vantajoso quando
comparados com outros métodos que utilizam as variáveis abióticas (e.g. medidas físicas e
químicas), pois estas últimas registram apenas a situação no momento da coleta, necessitando
assim de mais repetições de análises para a realização de um monitoramento temporal eficiente.
No Brasil, o índice biológico mais amplamente utilizado no biomonitoramento dos
ecossistemas aquáticos é o Biological Monitoring Working Party System (BMWP’). Este foi
desenvolvido pelo Departamento Britânico de Meio Ambiente, em 1976 (BAPTISTA, 2008) e
adaptado para diversas regiões no mundo (JUNQUEIRA; CAMPOS et al., 1998; ALBA
TERCEDOR et al., 2002; MUSTOW, 2002; SEDEÑO-DÍAZ et al., 2012; MONTEIRO et al.,
2008). Sua ampla utilização é atribuída ao fato dele exigir uma identificação dos organismos
somente ao nível de família, sendo, portanto mais indicado para a avalição dos ecossistemas
brasileiros devido à escassez de chaves taxonômicas e taxonomistas específicos para alguns
grupos de organismos (CORGOSINHO et al., 2004). Ao longo dos últimos anos tem sido
constantemente utilizado na avaliação de lagoas (CUNHA et al., 2013; CARDOSO et al.,
2014), córregos (NUNES et al., 2015; SILVA et al., 2007) reservatórios (BARBOLA et al.,
2011), bacias (COPATTI et al., 2010) e rios (REMOR et al., 2014; MONTEIRO et al., 2008)
brasileiros.
Pelo exposto, estudos utilizando a comunidade de macroinvertebrados bentônicos como
bioindicadores da integridade ecológica têm se mostrado como uma importante ferramenta,
fornecendo relevantes informações acerca da qualidade ambiental de diversos ecossistemas
aquáticos no Brasil e no mundo. Entretanto, estudos desta natureza ainda são escassos no
Recôncavo Baiano, que vem sendo explorado de maneira predatória há muitos anos e com
contínuo e intenso processo de poluição e degradação dos ambientes dulcícolas. Portanto, o
15
presente estudo teve como objetivo verificar a qualidade da água de um açude no município de
Cruz das Almas, Bahia, utilizando a comunidade bentônica como bioindicadora da integridade
biológica, através da aplicação do índice biológico BMWP’.
Material e Métodos
16
FIGURA 1: (A) Mapa da região do Recôncavo da Bahia, com destaque para o município de
Cruz das Almas (ponto preto); (B) açude Laranjeiras, município de Cruz das
Almas, Bahia.
17
Resultados
Ao todo foram coletados 3.822 espécimes sendo a riqueza da macrofauna representada por 48
táxons distribuídos entre os seguintes filos: Arthropoda (n = 3.238; 84,7%), Mollusca (n = 520;
13,6%) e Annelida (n = 64; 1,7%) (Tabela 1).
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Tabela 1. Composição taxonômica e abundância absoluta da comunidade de macroinvetebrados bentônicos do açude Laranjeiras.
TÁXONS OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET TOTAL
FILO ANNELIDA
Classe Hirudinea 1 1 6 3 32 2 45
Classe Oligochaeta 1 1 7 10 19
FILO ARTROPHODA
SUB-FILO HEXAPODA
ORDEM COLEOPTERA
Família Curculionidae 1 1
Família Dytiscidae 1 4 1 1 2 2 2 2 3 3 21
Família Dytiscidae (Larva m1) 1 2 4 3 3 8 1 2 24
Família Dytiscidae (Larva m2) 2 2 4
Família Haplidae 1 2 3
Família Hydrophilidae 1 3 6 5 15
Família Hydrophilidae (m1) 2 2
Família Noteridae 1 1 3 3 1 13 14 3 39
Família Noteridae (larva) 3 5 1 9
ORDEM DIPTERA
Família Ceratopogonidae 11 32 1 19 6 24 3 23 119
Família Ceratopogonidae (pupa) 1 2 49 14 66
Família Chironomidae (m1) 32 111 4 8 72 69 122 10 198 94 66 23 809
Família Chironomidae (m2) 11 10 11 10 18 14 72 20 45 41 252
Família Chironomidae (m3) 2 11 81 77 4 175
20
Família Chironomidae (m4) 11 3 3 5 22
Família Chironomidae (pupa m1) 3 3 6
Família Chironomidae (pupa m2) 1 3 4
Família Chironomidae (pupa) 4 1 5
Família Culicidae 14 2 13 3 10 5 23 4 74
Família Culicidae (pupa m1) 1 1 4 4 1 2 1 14
Família Culicudae (pupa m2) 4 4
Família Tabanidae (pupa) 1 1
ORDEM EPHEMEROPTERA
Família Baetidae 3 2 2 3 1 10 3 1 1 26
Família Caenidae (Caenis sp.) 1 1
Família Leptophlebiidae 2 1 3
ORDEM HEMIPTERA
Família Belostomatidae (m1) 2 1 1 3 3 1 9 6 1 27
Família Belostomatidae (m2) 3 4 1 3 2 13
Família Corixidae 1 1
Família Mesoveliidae 6 2 1 4 13
Família Naucoridae 3 1 34 1 1 1 1 1 11 4 58
Família Notonectidae 40 44 105 62 34 24 52 103 30 9 9 512
Família Pleidae 2 1 3
ORDEM ODONATA
Família Aeshinidae (Limnetron) 1 1
Família Coenagrionidae (m1) 2 9 1 4 3 2 21
21
Família Coenagrionidae (m2) 7 7
Família Corduliidae (Neocordulia) 4 1 1 1 1 8
Família Libellulidae (Dythemis) 2 1 1 4
Família Libellulidae (Elasmothemis) 1 1
Família Libellulidae (Erythrodiplax sp
1) 2 13 18 2 1 2 2 6 1 47
Família Libellulidae (Erythrodiplax
ssp2) 1 4 4 1 10
Família Libellulidae (Idiataphe sp1) 1 1
Família Libellulidae (Idiataphe sp2) 1 1
Família Libellulidae (Libellula) 1 10 11
ORDEM TRICOPTHERA
Família Hydroptilidae 2 4 6
SUB- FILO CRUSTACEA
Classe Ostracoda (m1) 134 35 5 7 11 16 32 4 24 8 276
Classe Ostracoda (m2) 21 10 10 4 8 53
ORDEM MALACOSTRACA
ORDEM DECAPODA
Família Palemonidae 86 75 53 97 27 23 58 9 27 1 7 2 465
Macrobrachium jelskii
FILO MOLLUSCA
ORDEM GASTROPHODA
Família Thiaridae
Melanoides tuberculata 37 28 8 49 38 25 82 47 26 32 53 58 483
22
Família Planorbidae 2 1 3 21 1 9 37
TOTAL 411 410 197 229 255 199 375 311 554 340 337 204 3822
23
O subfilo Hexapoda apresentou a maior riqueza e abundância da amostra (n = 2.444;
63,9%), sendo representado por 23 famílias distribuídas nas ordens Coleoptera (n = 118),
Diptera (n = 1551), Ephemeroptera (n = 30), Hemiptera (n = 627), Odonata (n = 112) e
Trichoptera (n = 6).
Dentre os hexápodes, a ordem Hemiptera apresentou a maior riqueza representada por
seis famílias (Belostomatidae, Corixidae, Noteridae, Notonectidae, Mesoveliidae e Pleidae).
Em termos de abundância relativa, a família Notonectidae foi a mais abundante representando
(81,6%) de todos os hexápodes amostrados. Por outro lado, a ordem Diptera foi a mais
abundante com um total de 1.551 exemplares, distribuídos em quatro famílias (Chironomidae,
Ceratopogonidae, Culicidae e Tabanidae). Dentre estas, a família Chironomidae foi a mais
abundante, representando (n = 1236; 82,1%) dos dípteros amostrados, seguida por
Ceratopogonidae (n = 185; 11,9%), Culicidae (n = 92; 4,8%) e Tabanidae (n = 1; 0,1%).
O subfilo Crustacea foi o segundo grupo taxonômico mais abundante com 794 indivíduos
amostrados, representando 20,6% de toda a amostra. Este subfilo esteve representado pela
classe Ostracoda (n = 329; 41,4%) e família Palemonidae (n = 465; 58,6%), sendo esta última
representada por uma única espécie, Macrobrachium jelskii (Miers, 1877).
O filo Mollusca, por sua vez, foi representado por apenas duas famílias: Planorbidae (n =
37; 7,1%) e Thiaridae (n = 483; 92,9%). A família Thiaridae foi a mais abundante com uma
única espécie amostrada, Melanoides tuberculata (Muller, 1774).
Dentre todos os filos amostrados, o filo Annelida foi o menos representativo em termos
de abundância sendo representado por apenas duas classes: Hirudinea (n = 45; 70,3%) e
Oligochaeta (n = 19; 29,7%).
A análise dos macroinvertebrados revelou que as famílias Chironomidae, Thiaridae e
Palemonidade, estiveram presentes em todas as coletas. Por outro lado, as famílias Aeshinidae,
Curculionidae, Tabanidae, Caenidae e Corixidae foram amostradas uma única vez e apenas um
exemplar de cada uma delas foi coletado.
A diversidade da fauna de macroinvertebrados estimada pelo índice de Shannon-Wiener
foi igual a 2,7 enquanto a dominância e a equitabilidade foram iguais a 0,1 e 0,7,
respectivamente (Tabela 2).
24
Tabela 2. Índices de riqueza taxonômica, diversidade de Shanon-Wienner, Dominância e
Equitabilidade calculados a partir da fauna de macroinvertebrados bentônicos
coletada no açude Laranjeiras, município de Cruz das Almas, Bahia.
Riqueza taxonômica 48
Diversidade de Shanon-Wienner 2,7
Dominância 0,1
Equitabilidade (Pielou) 0,7
O valor calculado (score total) para o índice biótico BMWP’ foi 120, classificando a
água do açude Laranjeiras como de Classe II, portanto considerada de boa qualidade (Tabelas 3
e 4).
25
Tabela 4. Classificação da qualidade da água de acordo com o BMWP’ (IAP, 2007),
com modificações.
Discussão
26
A elevada abundância da família Chironomidae em ecossistemas lênticos brasileiros
também foi observada por Lucca et al., (2010) no Lago Caçó no Maranhão, por Souza et al.,
(2008) no açude Jatobá na Paraíba, por Lima et al., (2013) na Lagoa da Figueira no Rio Grande
do Sul, por Copatti et al. (2013) no rio Tigreiro no Rio Grande do Sul. A dominância desta
família nos mais diversificados ambientes está relacionada à elevada capacidade competitiva e as
inúmeras adaptações morfofisiológicas que permite que esses organismos colonizarem desde
ambientes conservados até locais altamente poluídos que apresentam baixas concentrações de
oxigênio (CALLISTO et al., 2001; AYRES- PERES et al., 2006; COPATTI et al., 2013; LIMA
et al., 2013; LUCCA et al., 2010).
Yuan e Norton (2003) destacaram que a estrutura e a composição da fauna bentônica de
um corpo hídrico podem variar de acordo com o grau de enriquecimento orgânico. Nesse
contexto, é comum encontrar em ambientes mais impactados elevada densidade e riqueza de
táxons considerados como sensíveis o contrário é observado em ambientes menos impactados.
As ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT), são consideradas excelentes
bioindicadoras da qualidade da água sendo os mesmos como sensíveis às perturbações (BISPO et
al., 2006). No açude Laranjeira os EPTs apresentam uma baixa riqueza e abundância, durante o
período estudado nenhum indivíduo pertencente à ordem Plecoptera foi amostrado. Apenas uma
família classificada como sensível pertencente à ordem Ephemeroptera foi amostrada (ver IAP,
2007 para a pontuação dos táxons). Por outro lado, famílias consideradas tolerantes, tais como
Hydroptilidae (n = 6), Baetidae (n = 26), Caenidae (n = 1) e Leptophlebiidae, (n = 3), foram
amostradas em baixa frequência e abundância. Possivelmente, a baixa frequência e riqueza
dessas ordens estejam relacionadas com o fato do açude Laranjeiras tratar-se de um ambiente
lêntico. A baixa representatividade desses táxons na área estudada pode estar relacionado com a
com o fato destes organismos apresentarem preferência por ambientes de correntezas com
elevadas concentrações de oxigênio onde apresentam maior diversidade (COPPATI et al., 2010;
PACIENCIA et al., 2011).
Os moluscos amostrados no presente estudo são frequentemente encontrados em outros
ecossistemas lênticos brasileiros (ABÍLIO et al., 2006; SOUZA et al., 2008; MOLOZZI et al.,
2011; MARTINS et al., 2015). Ao analisar a fauna de gastrópodes e de outros invertebrados em
um açude hipertrófico do semi-árido paraibano, Abílio et al. (2006) também amostraram apenas
um representante da família Thiaridae, M. turbeculata. Esta espécie é exótica e possui elevado
potencial competitivo podendo, portanto, interferir na dinâmica populacional de espécies nativas
(FRANÇA et al., 2007). Além disso, é capaz de colonizar desde ambientes oligotróficos a
eutrofizados (SANTOS & ESKINAZI-SANT’ANNA, 2010). Desta forma, a presença de M.
27
turbeculata, bem como de representantes da família Planorbidae no açude Laranjeiras deve ser
observada com atenção já que a primeira pode ocasionar a supressão de espécies nativas e
algumas espécies de planorbídeos podem ser hospedeiros intermediários de parasitas
(Paragonimus westermani (Kerbert, 1878), Clonochis sinensis (Cobbold, 1875) e Schistosoma
mansoni (Sambon, 1907), causadores de enfermidades de veiculação hídrica (ABÍLIO et al.,
2007; LOYO & BARBOSA, 2016).
De acordo com Soares (2015), a espécie Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) é
comumente encontrada em águas marginais e lênticas, vivendo associada a raízes de plantas
aquáticas onde encontram alimento, refúgio contra predadores e proteção para as fêmeas
ovígeras e para o desenvolvimento dos estágios larvais da espécie. Nesse contexto, a presença de
grande quantidade de macrófitas aquáticas no açude Laranjeiras pode ter contribuído para a
elevada abundância da espécie durante todo o período de estudo.
Os hirudíneos e os oligoquetos são importantes indicadores de poluição, geralmente esses
animais são favorecidos pelos altos teores de poluentes orgânicos presentes em ambientes
impactados (CORTEZZI, et al., 2009; ROSA et al., 2014). Especificamente no caso dos
oligoquetos, estes constituem um importante grupo taxonômico que compõe a fauna bentônica
dos ecossistemas aquáticos, sendo extremamente tolerantes às perturbações ambientais, uma vez
que são capazes de viver em condições de depleção de oxigênio (PAMPLIN et al., 2005,
DORNFELD et al., 2006). Além disso, possuem hábito de vida fossorial e não apresentam
nenhum tipo de exigência quanto à diversidade de hábitats e microhábitats podendo, portanto,
colonizar ambientes com diferentes graus de degradação (GOULART & CALLISTO 2003).
As famílias Notonectidae, Thiaridae e Palemonidae são consideradas tolerantes às
perturbações ambientais. Estes organismos apresentam características morfológicas e/ou
fisiológicas que favorecem a permanência em ambientes impactados. Portanto, apresentam uma
ampla capacidade adaptativa podendo colonizar desde ambientes conservados até locais
altamente poluídos. (GOULART; CALLISTO, 2003).
Devido à localização em área urbana, o açude Laranjeiras encontra-se vulnerável a
impactos antrópicos. Durante as coletas foi possível registrar a presença de lixo e fezes de
animais em seu entorno e nos últimos meses (julho, agosto e setembro) do período amostral eram
visíveis alguns sinais de eutrofização, tais como maciça proliferação de Salvinia sp. Tais fatores
podem ter favorecido a permanência de espécies que são capazes colonizarem esse tipo de
ambiente, limitando a presença das espécies sensíveis à essas condições.
Segundo Pinto (2009) o índice de diversidade de Shannon-Wienner relaciona o aumento da
diversidade taxonômica com a boa saúde do ecossistema. De acordo com Piedras et al., (2006) e
28
Barbola et al., (2011) valores de Shannon-Wienner inferiores a 1,0 indicam ambientes
fortemente poluídos; entre 1,0 e 3,0 indica ambientes com poluição moderada e valores
superiores a 3,00 indicam água não poluída. Desta forma, o açude Laranjeiras pode ser
considerado um ambiente com poluição moderada.
Apesar do resultado do índice BMWP’ ter considerado as águas do lago Laranjeiras como
não poluídas/alteradas, ao observamos as condições do entorno (discutidas acima) e os dados da
comunidade estudada, cujo número de famílias consideradas sensíveis foi reduzido, há fortes
indícios de que o ambiente estudado sofra poluição e enriquecimento orgânico. Portanto, é
provável que o resultado do índice BMWP’ deveu-se à elevada quantidade de táxons tolerantes
e/ou resistentes amostrados, cujos valores foram se somando e resultaram em uma classificação
superestimada da qualidade do ambiente aquático. Neste contexto, a classificação a partir do
índice de diversidade demonstra que, neste caso, o índice BMWP’ deve ser considerado com
cautela, uma vez que a presença de grande quantidade de táxons tolerantes pode resultar em altos
valores do referido índice, mascarando situações de poluição e/ou degradação.
Pelo exposto, os resultados obtidos no presente estudo foram úteis para corroborar com o
papel desta comunidade como importante ferramenta para avaliação da integridade dos
ecossistemas aquáticos. Entretanto, recomenda-se associação do BMWP’ a outros índices para
um melhor reconhecimento das condições do corpo d’água. Finalmente, recomenda-se o
monitoramento contínuo dos fatores físicos, químicos e biológicos da água do açude Laranjeiras,
especialmente aqueles indicadores do aumento da carga orgânica (nitrito, nitrato, clorofila a,
sólidos suspensos, etc.), a fim de verificar a influência em um possível processo de eutrofização
do referido açude.
29
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35
Anexo
Revista Biotemas
1) Os trabalhos de Revisão só poderão ser submetidos em inglês. As demais formas de publicação podem
ser redigidas em português, inglês ou espanhol, mas a revista recomenda a publicação em inglês sempre
que possível. Deverão ser enviados em versão eletrônica (arquivo .doc), digitados com espaçamento de
1,5, fonte Times New Roman, tamanho 12; obedecendo às margens de 3 cm. ACESSE E FAÇA O
DOWNLOAD DESTE MODELO e use como base para o manuscrito.
3) Na página de rosto, deverão constar o título do manuscrito, o nome completo dos autores e das
instituições envolvidas. A autoria deve ser limitada àqueles que participaram e contribuíram
substancialmente para o trabalho. Caso não esteja enquadrada nessa situação, a pessoa deverá ser
incluída nos agradecimentos. Deve-se indicar o autor para correspondência e seus endereços, institucional
completo e eletrônico (essas informações serão retiradas pela Comissão Editorial durante o processo de
revisão, para garantir o anonimato dos autores). Na segunda página, o título completo deve ser repetido
e, abaixo, devem vir: resumo, palavras-chave (máximo de cinco, colocadas em ordem alfabética,
separadas por ponto e vírgula e grafadas com a inicial maiúscula), abstract, key words (máximo de cinco,
colocadas em ordem alfabética, separadas por ponto e vírgula e grafadas com a inicial maiúscula) e título
abreviado (máximo de 60 caracteres).
4) O resumo e o abstract não poderão exceder 200 palavras. Se o manuscrito for redigido em inglês, o
resumo deve ser precedido pelo título em português negritado; se redigido em português, o abstract deve
ser precedido pelo título em inglês negritado.
5) O limite de páginas de Artigos e Revisões, incluindo figuras, tabelas e referências, é de 25; enquanto
que para as Comunicações Breves e Resenhas de livros esse limite é de sete páginas.
7) Quando for o caso, o título deve indicar a classificação do táxon estudado. Por exemplo:
8) No caso de trabalhos envolvendo experimentação animal (em acordo com a lei nº 11.794/08), o
número da autorização da Comissão de Ética no Uso de Animais deve constar na seção Material e Métodos.
Da mesma forma, trabalhos envolvendo a captura ou coleta de animais regulados pela legislação vigente
devem apresentar o número da autorização do órgão fiscalizador (IBAMA, SISBIO ou o respectivo órgão
estadual/municipal).
9) As citações de referências no texto devem obedecer ao seguinte padrão: um autor (NETTO, 2001); dois
autores (MOTTA-JÚNIOR; LOMBARDI, 2002); três ou mais autores (RAMOS et al., 2002).
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