DINÂMICA

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 75

Leis de Newton

Abner Maia - Projeto Olímpicos

1. Introdução
A Dinâmica é a parte da Mecânica que estuda os movimentos, considerando os fatores que o
produzem e modificam. As leis de Newton são um conjunto de três leis que fundamentam toda
a Mecânica Clássica. O agente capaz de mudar o estado de movimento dos corpos é chamado de
força, uma grandeza vetorial cuja unidade no SI é kg.m.s−2 . Quando trabalhamos com corpos
macroscópicos, as forças podem ser classificadas como forças de contato (por exemplo, a força
que aplicamos ao chutar uma bola de futebol ou empurrar uma parede) e como forças de ação a
distância (forças magnéticas, força elétrica, força gravitacional e etc).

2. Primeira Lei de Newton


Também conhecida como Lei da Inércia, essa lei é anunciada da seguinte forma: um corpo em re-
pouso ou em movimento retilíneo uniforme (isto é, aceleração resultante nula) permanecerá nesse
estado a menos que uma força externa atue sobre ele.

Para determinar se um objeto está em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, precisa-


mos analisar o referencial no qual ele é observado. Por exemplo, se uma pessoa está observando
uma bola dentro de um trem com velocidade constante que se move em linha reta, então, em
relação ao trem, a bola permanece em repouso, e em relação ao solo, a bola permanece se movendo
com a mesma velocidade do trem. Se o trem acelerar, a pessoa vai observar a bola rolando para
trás, mesmo que não haja fora horizontal agindo sobre ela.

Isso acontece pois, em referenciais acelerados (referenciais não inerciais) a primeira Lei de Newton
não se aplica, ou seja, ela só é válida nos referenciais que a aceleração do corpo permanece nula a
não ser que haja alguma força atuando no corpo. Na terra, geralmente os efeitos de interação e
rotação são desprezíveis, sendo assim uma boa aproximação considerá-la um referencial inercial.

3. Segunda Lei de Newton


Essa é a lei que mais aparece nos problemas, também é conhecida como Principio Fundamental da
Dinâmica, tem o seguinte enunciado: se um corpo tem massa constante, a força resultante agindo
nele é igual ao produto da massa pela aceleração.

F res = m. #»
a

Página 1
No sistema Internacional das Unidades ela é utilizada na unidade Newton (N ). A força resultante
é a soma vetorial de todas as forças atuando no corpo.

#» #» #» #» #»
F res = F 1 + F 2 + F 3 + ... F n

A massa é a medida da inércia do corpo, ou seja, está relacionada à dificuldade de se produzir na


partícula determinada aceleração. Por exemplo, ao chutarmos uma bola de boliche e uma bola de
vôlei, a bola de boliche resiste muito mais a ser acelerada.

3.1 Força peso


Experimentalmente, descobriu-se que a Terra exerce uma força de atração sobre todos os corpos
situados em suas proximidades. Na superfície, essa força tem módulo aproximadamente constante,
por isso que ao soltarmos uma esfera próximo ao solo, ela cai com aceleração constante g =
9,81m.s−2 , chamada de aceleração de queda livre, essa força é chamada de peso, escrevendo a
segunda lei de newton para ela temos:

P = m. #»g

3.2 Força elástica


Uma mola ao ser elongada ou comprimida exerce uma força proporcional a deformação. Também
conhecida como lei de Hooke sua expressão matemática é dada por:

F = −k. #»
x

Note que esse sinal de menos implica que é uma força restauradora (de sentido contrario a defor-
mação) que sempre tende a fazer a mola voltar à posição de equilíbrio. A constante de proporci-
onalidade positiva k é uma qualidade da mola considerada, depende do material de que é feita a
mola e de suas dimensões e tem por unidade no SI o N.m−1

Em um gráfico da intensidade da força em função da deformação temos um comportamento linear


até o limite da elasticidade da mola:

Página 2
A declividade do gráfico (tan θ) é numericamente igual a constante de proporcionalidade:
F
tan θ = =k
∆x
Quando temos 2 molas associadas em paralelo, ao deslocarmos elas do equilíbrio ambas sofrem a
mesma deformação de forma que:

F = F1 + F2 = k1 .x + k2 .x

keq · x = k1 .x + k2 .x = (k1 + k2 )x ⇒ keq = k1 + k2


Para n molas temos que:
keq = k1 + k2 + k3 + · · · + kn
Quando temos 2 molas associadas em série a deformação total do sistema é igual a soma das
deformações individuais de cada mola, então:

∆x = ∆x1 + ∆x2

Além disso, como F = k.∆x obtemos:


F F F 1 1 1
= + ⇒ = +
keq k1 k2 keq k1 k2
Para n molas temos que:
1 1 1 1 1
= + + + ··· +
keq k1 k2 k3 kn

3.3 Tração e normal



Normal (N ) está relacionada com a rigidez do corpo, é uma componente da força que surge quando
dois corpos entram em contato, ela é perpendicular a superfície de contato e impede que os blocos

se interponham e a tração ( T ) está relacionada com a rigidez da corda que pode ser comparada à

Página 3
uma mola de constante elástica tão grande que não pode ser distendida. Na figura a seguir temos
2 blocos tracionados por uma corda ideal sem massa:

3.4 Força de atrito


Analisando a figura a seguir, se o bloco for empurrado para a direita com uma força pequena, ele
não deslizará, por conta de uma força que surge chamada de força de atrito, contrária a tendência
de movimento relativo. Essa força surge devido as interações de origem eletromagnética entre os
átomos das regiões de contato entre as superfícies.


Antes do corpo deslizar, a força de atrito vai ter o mesmo modulo da força F e direção oposta
e tem valor máximo de:
f ate ≤ µe .N
onde µe é o coeficiente de atrito estático e depende da natureza das duas superfícies em contato.

Depois de atingido o valor f ate e o bloco começar a deslizar, geralmente se verifica uma dimi-
nuição na força de atrito que agora vai ter módulo constante se a normal não mudar:

f atc = µc .N

e µc < µe , onde µc é o coeficiente de atrito cinético. O gráfico a seguir (da força de atrito em

função da força recebida F ) resume essas propriedades:

Página 4
3.5 Aprofundando na segunda lei

Na realidade F = m. #»
a não foi a formulação original de Newton da Segunda Lei, para quem quiser
um pouco mais de rigorosidade, vamos fazer uma breve analise.

Definindo momento linear como #» p = m. #» v (produto da massa pela velocidade), pode ser en-
tendido como a medida de quão difícil é desacelerar um corpo em movimento. A segunda lei pode
ser definida da seguinte maneira: a força é a taxa de variação temporal do momento. Então, temos:

#» d #»
p d(m #»
v)
F = =
dt dt
fazendo a regra do produto temos:

#» dm #» d #»
v
F = . v + m. = µ. #»
v + m. #»
a
dt dt
pois #»

a = ddtv e chamamos a taxa de variação temporal da massa de µ. Como a maioria dos sistemas

tem massa constante, então dmdt
= 0 voltando para a expressão mais comum F = m. #»a.

4. Terceira lei de Newton


Também conhecida como Princípio da Ação e Reação, pode ser enunciada da seguinte maneira:
toda força de ação corresponde uma de reação, de modo que essas forças tem sempre mesma
intensidade, mesma direção e sentidos opostos, estando aplicadas em corpos diferentes.

Página 5
Na figura a seguir, observamos que ao empurrarmos 2 blocos em contato, o bloco de trás empurra
#» #»
o da frente com uma força f1 e é empurrado por uma força −f1 .

4.1 Aprofundando na terceira lei


Mais tarde no nosso curso, veremos que o momento linear total ( #» p ) de um sistema de partículas
isolado é constante. Sabemos que a derivada de uma constante é 0, então se derivarmos o momento
total de um sistema de 2 corpos de momento p#»1 e p#»2 obteremos a seguinte relação:

#» d #»
p #» d(p#»1 + p#»2 ) dp#»1 dp#»2
F = = 0 = = +
dt dt dt dt
Então:
dp#»1 dp#»2 #» #»
=− ⇒ F1 = −F2
dt dt
#» #»
Onde F1 é a força na partícula 1 devido à sua interação com a partícula 2, e F2 é a força na
partícula 2 devido à sua interação com a partícula 1 o que corresponde à Terceira Lei.

5. Problemas
Problema 1. * (Morin) No sistema da figura (maquina de Atwood), encontre a aceleração a das
massas e a tração T da corda (As massas da corda e da polia são desprezíveis)

Problema 2. ** (Tópicos da Física 1) No arranjo experimental do esquema seguinte, desprezam-


se os atritos e a influência do ar. O fio e a polia são ideais e adota-se para a aceleração da gravidade
o valor 10 m · s−2 . Largando-se o bloco D, o movimento do sistema inicia-se e, nessas condições, a
força de contato trocada entre os blocos B e C tem intensidade 20 N . Sabendo que as massas de
A, B e C valem, respectivamente, 6,0kg, 1,0kg e 5,0kg, calcule: a) a massa de D; b) a intensidade

Página 6
da força de tração estabelecida no fio; c) a intensidade da força de contato trocada entre os blocos
A e B.

Problema 3. ** (Moysés 1) Um bloquinho de massa igual a 100g encontra-se numa extremidade


de uma prancha de 2 m de comprimento e massa 0,5kg. Os coeficientes de atrito estático e cinético
entre o bloquinho e a prancha são, respectivamente, 0,4 e 0,35. A prancha está sobre uma mesa
horizontal lisa (atrito desprezível). Com que força máxima podemos empurrar a outra extremidade
da prancha para que o bloquinho não deslize sobre ela? Se a empurrarmos com uma força 3N ,
depois de quanto tempo o bloquinho cairá na prancha?

Problema 4. * (Moysés 1) Um bloco está numa extremidade de uma prancha de 2m de compri-


mento. Erguendo-se lentamente essa extremidade, o bloco começa a escorregar quando ela está a
1,03m de altura, e então leva 2,2s para deslizar até a outra extremidade, que permaneceu no chão.
Qual é o coeficiente de atrito estático entre o bloco e a prancha? Qual é o coeficiente de atrito
cinético?

Problema 5. ** (ITA - 2008) Na figura, um bloco sobe um plano inclinado, com velocidade
inicial V0 . Considere µ o coeficiente de atrito entre o bloco e a superfície. Indique sua velocidade
na descida ao passar pela posição inicial.

Problema 6. ** Da periferia de um aro de raio R solta-se simultaneamente três anéis lisos em A,


B e C. Qual deles chega primeiro ao ponto P ? (Considere que BP é um diâmetro vertical)

Página 7
Problema 7. ** (Morin)Uma máquina de Atwood dupla é mostrada na figura, com massas m1 ,
m2 e m3 . Encontre as acelerações das massas.

Problema 8. *** Um bloco de massa m é mantido imóvel sobre uma cunha sem atrito de massa
M e ângulo de inclinação θ (veja a figura). A cunha repousa sobre uma superfície horizontal sem
atrito. O sistema é liberado. Qual é a aceleração horizontal da cunha?

Página 8
6. Gabarito
(m2 − m1 )g 2m1 m2
Problema 1. a = e T =
m2 + m1 m1 + m2

Problema 2. a) 8,0kg b) 48N c) 24N

Problema 3. a) 2,35N b) 1,46s

Problema 4. a) Estático: 0,6 b) Cinético: 0,5

r
sin θ − µ cos θ
Problema 5. V0 .
sin θ + µ cos θ

Problema 6. Todos chegam ao mesmo tempo

4m2 .m3 − m1 (m2 + m3 ) 4.m2 .m3 + m1 (m2 − 3m3 )


Problema 7. a1 = g e a2 = −g ·
4m2 .m3 + m1 (m2 + m3 ) 4.m2 .m3 + m1 (m2 + m3 )

mg. sin θ cos θ


Problema 8. a =
M + m. sin2 θ

Página 9
Estática
Caio Augusto - Projeto Olímpicos

1. Introdução
No curso de Leis de Newton foi apresentado como a presença de forças causa um objeto a acelerar
seguindo a conhecida formula F~r = m~a.(a gigantesca lei de newton), e nesse folheto nós vamos
analisar o caso especifico de como forças devem interagir entre si para que um objeto se encontre
"Estático"(ou seja, para que ~a = 0)

Pra entender como funciona problemas de estática, eu vou dar um exemplo do que se pede e o que
se espera em um deles: Considere que haja uma barra uniforme de comprimento L e massa m que
esta sobre o efeito da gravidade ~g ; forças F~1 e F~2 atuam na barra a distancias x1 e x2 de um dos
finais da barra. Se quisermos que nossa barra não se mova, qual deve ser a relação entre F~1 , F~2 ,
x1 , x2 , m e L?

Questões de estática são basicamente isso. A questão te apresenta uma configuração com varias
forças atuando em um sistema e pergunta qual é a condição pro corpo se manter em repouso.

1.1 Usando o que temos


Tentamos resolver o problema com o que temos até agora:

F~1 ,F~2 e m~g são as únicas forças externas que atuam no corpo. Como o corpo precisa ter uma

1
aceleração resultante nula em todos os seus pontos, a primeira equação que temos vem da lei de
Newton:
F~1 + F~2 + m~g = m~a = 0 (1)
Agora, essa questão que eu propus pode ser geral, e as forças podem ter qualquer direção em
geral, mas vamos analisar um caso mais especifico pra manter uma certa claridade: vamos assumir
que tanto ~g quanto F~1 e F~2 são perpendiculares a barra, onde as duas forças externas apontam na
direção oposta da gravidade (como mostra a primeira imagem). Nesse caso em especifico, podemos
analisar o problema com os módulos das forças, o que nos daria:

F1 + F2 = mg (2)

Veja que essa equação sozinha não me permite achar nem F1 nem F2 , o que é um problema: se
pensamos num caso real onde tentamos equilibrar um lápis com dois dedos, o problema é definido.
Dados x1 e x2 , as forças F1 e F2 são únicas, não tem como mudar qualquer uma dessas duas forças
sem mudar as distancias, ou seja: Com x1 e x2 definidos, as duas variáveis F1 e F2 possuem valores
definidos. Ou seja, temos duas icógnitas mas apenas uma única equação que as envolve, fica então
claro que tem alguma restrição faltando que define o equilíbrio do sistema. Ou seja, temos uma
equação que descreve um equilíbrio do nosso sistema mas ela não é suficiente

No caso, podemos entender a situação da seguinte maneira: a soma de forças externas nos dizem
como um corpo se move no espaço num quesito translacional, mas ele não nos diz sobre a tendencia
do objeto rotacionar. Falta analisar o equilíbrio rotacional do sistema: além do corpo não ter seu
centro se movendo, o corpo como um todo não pode rotacionar. Isso introduz uma nova restrição
ao sistema: A soma de todos os torques no sistema tem que ser zero.

2. Torque - A equação que falta


O tópico de torque sera introduzido brevemente sem uma prova matemática rigorosa; aqui eu ba-
sicamente usarei um pouco da intuição para explicar de onde ela vem, como ela é definida e como
ela é usada em estática. Basicamente apenas introduzirei a outra restrição para o corpo se manter
estático, mas não explicarei a fundo nada sobre rotações.

Em si, o torque de uma força é uma quantia que diz sobre o quanto ela tende a fazer um corpo
rotacionar: suponha que a mesma barra rígida mencionada na introdução agora esta pivotada em
um de seus vértices e aplicamos uma única força vertical F à uma distancia x do pivot, o peso da
barra tende a faze-la rotacionar ao redor do pivot, e para evitar isso é necessário aplicar uma força
pra mantê-la estática.

Página 2
O que esta acontecendo aqui é que, ao redor do Pivot, o torque da força peso da barra se anula com
o torque da força externa F~ que aplicamos: na medida que o peso tenta fazer a barra rotacionar
ao redor do pivot no sentido horário, a força F tenta fazer a barra girar no sentido anti-horário na
mesma proporção, e a barra no fim fica estática. Podemos então definir uma quantia relacionada a
objetos rotacionarem: ~τ . Cada força produz uma quantia desse tipo, e ela diz respeito a tentativa
da força fazer o corpo em que ele atua rotacionar ao redor da origem que estamos analisando.

Note que é muito importante associar essa quantia de rotação a uma origem: corpos rotacionam
ao redor de um ponto, então o torque precisa sempre estar falando sobre a tendencia do corpo
rotacionar ao redor desse ponto no qual falamos.
Há diversas maneiras de provar o que deveria ser essa quantia ~τ , mas eu vou fazer como todo bom
professor de ensino fundamental e não vou mostrar prova alguma: provar isso sem usar nada de
rotação é bem tenso.(Mas não deixo vocês presos a minha incapacidade de transcender; O capitulo
2 do Morin possui uma prova interessante de porque a equação de equilíbrio de torque deve ser
como ela é. Nessa parte do livro, ele não apresentou nenhum conceito de rotações, então estamos
no mesmo barco, por isso ver a prova la pode ser útil.)
Matematicamente, dada uma força F~ atuando em um ponto localizado a um vetor ~r da origem O
que usamos de referencia, o torque que essa força produz ao redor de O é dado por:

~τ = ~r × F~ (3)

Para aqueles que já viram algo de "alavancas"no ensino fundamental, este seria o analogo do "força
vezes distancia tem que ser igual dos dois lados da alavanca pra ter equilíbrio", o r estaria relaci-
onado a "distancia"que falamos em alavancas. No entanto, aqui não temos um simples produto
entre os modulo da força e o modulo da distancia; as direções da força e do local onde ela é aplicada
é muito importante aqui, e é por isso que temos um produto × entre os vetores aqui. × seria o
que chamamos de "produto vetorial", e eu vou explicar melhor disso na subsecção a frente.
No entanto, se olharmos para o produto vetorial como um produto normal quando os dois veto-
res são perpendiculares, podemos entender qualitativamente o pouco de o que o torque significa.
Nessa formula, quanto maior a distancia da origem O, maior é o torque que uma força exerce.
Analogamente, quanto mais longe da origem a força F é aplicada, menor ela tem que ser para
manter a barra em equilíbrio.(O que faz sentido, sempre que você vai brincar na gangorra com seu
amigo 3 vezes mais pesado que você, mais próximo do ponto fixo ele pode ficar pra que vocês dois
se equilibrem)

Entendido o que deveria ser essa quantia de rotação (embora sem uma prova com muito rigor
matematico), podemos aferir que a outra condição para que o sistema não acelere de maneira
alguma é que, ao redor de uma origem O que escolhemos para analisar nosso sistema:
X X
~τ = ri × F~i ) = 0
(~ (4)

Página 3
Onde F~i são as forças que atuam no sistema e r~i é o vetor posição de aplicação da força em relação
a uma origem O.

Note que O foi apontado como a origem ao qual o torque é calculado, mas até certo ponto, ele é
bem arbitrário: no nosso problema, eu podia ter falado que O era o pivot da barra, podia falar
que é no centro da barra, ou podia falar que era o ponto onde você aplica a força F, todos ainda
teriam torque resultante nulo. Isso de certo modo não é intuitivo: falamos que o torque resultante
ao redor de O deve ser zero, mas O nem é um ponto definido, então como isso faz sentido?

O fato é que, se um conjunto de forças F~i aplicadas em r~i ao redor de uma origem O tem i F~i = 0,
P

então a quantia V ecri × F~i não muda se você mudar a origem. Eu deixo isso como exercício no
P
fim do folheto, mas acho que da pra ver isso até que intuitivamente: se eu calculasse os torques de
cada força ao redor do pivot da barra, então teria o torque da força F e o torque da força peso se
anulando; a medida que eu mudo a minha origem para pontos mais a direita da barra, o torque
da força F diminui, mas o torque da Normal exercida no pivot começa a aumentar, e juntos, eles
conseguem sempre ser iguais ao torque do peso, independente de qual ponto eu uso como origem
pra calcular essas quantias de torque.
Mas agora eu vou parar de não explicar as coisas e vou tentar introduzir de maneira simplificada
o que seria o Produto Vetorial essencialmente.

2.1 Produto Vetorial


Para aqueles que já estão familiarizados com produto vetorial, essa subseção pode ser pulada sem
muitos problemas.
O Produto vetorial é uma forma de transformação entre dois vetores. Você pega dois vetores A ~e
B, aplica o produto vetorial e tem como resultado um outro C, tal que
~ ~

~×B
A ~ =C
~

Não precisamos entender muito sobre como C é obtido com rigorosidade matemática(porque isso
envolve matrizes e determinantes, o que é um saco). Precisamos apenas saber que, para qualquer
vetor A e B, o vetor C
~ é sempre perpendicular a A
~eB ~ de seguindo a regra da mão direita.

Se você pegar sua mão direita(sempre a direita, se pegar a mão esquerda as direções dos produtos
vetoriais vão estar sempre invertido) colocar o dedo indicador apontando na direção de A e o dedo
do meio apontando na direção de B, o polegar vai ta apontando na direção de C. Você não precisa
se perguntar porque isso é verdade: faz parte da definição de produto vetorial, sempre quando um
vetor A se transforma vetorialmente com B, a direção resultante é sempre obedecida pela regra da
mão direita.

Página 4
É importante ressaltar que o produto vetorial importa a ordem como os fatores são apresentados,
isto é:
A~×B ~ 6= B
~ ×A ~
O dedo indicador da mão direita sempre tem que ficar paralelo ao primeiro vetor que aparece no
produto, e com isso em mente da pra mostra que
~×B
A ~ = −B
~ ×A
~

Agora o modulo de C~ segue também uma regra advinda dos nossos grandes matemáticos (que
também não precisamos entender porque é verdade): Se o angulo entre A
~eB
~ é θ, então
~ × B|
|A ~ = AB sin(θ)

Isso significa que se A e B são paralelos, seu produto vetorial é zero.

Da pra entender isso no nosso caso do torque: O torque de uma força é dada pelo produto vetorial
do vetor do ponto aplicado com o vetor força,
~τ = ~r × F~
Então se a força for paralela ao vetor posição, o torque é nulo, e realmente, não tem como fazer
um lápis rotacionar pressionando ele contra o chão com uma força paralela ao eixo do lápis.

Figura 1: Uma força F sendo aplicada na barra, quando a força é paralela a direção da barra, é
intuitivo que a barra não rotaciona

Então basicamente o produto vetorial é uma transformação entre dois vetores da um novo vetor
perpendicular a eles cujo modulo é igual ao produto dos módulos vezes o seno do angulo que os
vetores fazem. Com isso em mente, o torque em uma direção diz respeito a tendencia do objeto
rotacionar ao redor dessa direção(tudo seguindo a regra da mão direita), então para calcular o
torque resultante de uma força no sistema, veja o angulo que o vetor posição e o vetor força fazer
e aplica a regra da mão direita pra saber a direção.

Foi bastaaante coisa jogada de uma vez só e o torque nem foi apresentado uma explicação razoável
de porque ele tem q ser zero, então na parte seguinte eu vou dar uma ideia de como esses conceitos
são usados.

Página 5
3. Exercícios resolvidos
Aqui eu vou resolver alguns problemas de estática pra dar uma ideia de como os conceitos de
torque são usados, aqueles que já se sentem confiantes sobre o assunto podem sem problema pular
essa seção e seguir adiante

3.1 Barra pivotada


Temos uma barra uniforme de comprimento L de massa m que esta na horizontal apoiada so-
bre um pivot em um de seus extremos. Se uma força F é aplicada a uma distancia x do pivot na
direção contraria a gravidade, qual deve ser o valor de F para que a barra se mantenha em equilibro?

Na aula de corpos rígidos é mostrado que o torque de uma força constante em um corpo rígido
é calculado como se a força total atuasse no centro de massa no sistema, ou seja: o peso da barra
exerce um torque em seu centro, a uma distância L/2 do pivot. e a barra esta perpendicular a
força peso, então o modulo do torque do peso usando o pivot como origem é:
mgL
|~
τg | = (5)
2
Para saber a direção do torque, o valor de ~r aponta do pivot até metade da barra, e a força aponta
para baixo, então pela regra da mão direita o torque do peso τ~g aponta para dentro da folha

Página 6
É bom conseguir descrever o torque como um vetor, então definimos a direção que aponta para
dentro da folha como k̂ e então temos:
mgL
τ~g = k̂
2
Analogamente, a força F é exercida a uma distancia x da origem O escolhida como o pivot, e a
força é perpendicular a barra, então o modulo do torque da força F ao redor da mesma origem é
dado por:
|τ~F | = F x (6)
a direção do torque pode ser encontrado novamente pela regra da mão direita e pela definição de
torque, de modo que agora temos:
τ~F = −F xk̂
o equilíbrio dos torques exige que:
τ~g + τ~F = 0
Então chegamos que:
mgL
F =
2x
Mas o que acontece se usarmos o centro da barra como origem? A força da gravidade teria então
um torque nulo mas o da força F não, o que esta de errado?

O erro esta em desconsiderar uma outra força que atua no sistema: O Pivot também exerce uma
força para manter o equilíbrio na barra, e ao trocar a origem o torque que este exerce se torna não
nulo. Vamos ser quantitativos em relação a isso:

A força que o pivot exerce de ser


Fp = mg − F (7)
apontando para cima, pois a força total exercida na barra deve ser nula. O torque que a força F
exerce agora muda pois ela atua em um ponto à uma distancia x − L/2 da origem escolhida.

A força F~p aponta para cima, e o Pivot é o centro da barra, então r~p aponta para direita, e a regra
da mão direita nos da então:
Fp · L
τ~P = k̂
2

Página 7
E dessa vez temos que
L
τ~F = −F (x − )k̂
2
e novamente a condição de torque nulo nos da que:
τ~g + τ~F = 0

L L
Fp = F (x − ) (8)
2 2
O qual, expandindo Fp , temos então
mgL
F = (9)
2x
O qual é a mesma coisa que obtemos antes, como esperado, pois a física não muda só porque eu
troquei de origem para analisar o torque.

3.2 Barra Livre- Questão inicial


Temos uma barra rígida uniforme de comprimento L de massa m que esta na horizontal sob efeito
gravitacional na vertical, a mesma é mantida em equilíbrio pela aplicação de duas forças F1 e
F2 , atuando a distancias x1 e x2 de um dos extremos da barra em direção contraria a vertical
(semelhante ao que foi apresentado na introdução), queremos saber quanto deve ser F1 e F2 dados
x1 e x2 .

A primeira equação nós ja obtemos e diz respeito a resultante nula das forças:
F1 + F2 = mg (10)
Também sabemos agora que a soma dos torques deve ser nulo, e qualquer ponto pode ser usado
como origem O, mas como foi dado os valores das distancias em relação a um dos finais da barra,
é conveniente usa-lo como origem para calcular o torque. Aplicando a regra da mão direita pra
saber a direção do torque e vendo que as forças são totalmente perpendiculares aos vetores do
ponto de atuação, chegamos que:
mgL
F 1 x1 + F 2 x2 = (11)
2
Temos duas equações, e duas icógnitas, F1 e F2 , então resolvemos o problema, isolando-as temos
que:
mg( L2 − x2 )
F1 = (12)
x1 − x2
e
mg( L2 − x1 )
F2 = (13)
x2 − x1

Página 8
3.3 Escada na parede
Esse aqui sera o ultimo exercício resolvido e é um clássico dos problemas de estática: Uma escada
de massa m e comprimento l esta em um chão com um coeficiente de atrito µ e é posta a uma
parede lisa com uma inclinação θ com a horizontal. Um pedreiro de massa M planeja subir a
escada, Quando ele esta a uma distancia x do vértice no chão, qual deve ser a força de atrito no
chão para que o sistema se mantenha em equilíbrio? e com isso, qual o máximo valor de x para o
qual o sistema consegue se manter em equilíbrio

Há diversos dados na questão, a primeira coisa que deve ser analisado é: Quantas e quais forças
atuam no sistema? Analisando a configuração é possivel perceber que sobre a escada atuam 5
forças: As duas forças peso (mg e M g), uma força normal vindo da parede vertical (ao qual
chamamos de Fx ), uma força normal vindo do chão (ao qual chamamos de Fy ) e uma força de
atrito vindo do chão (Fat ).

A direção das primeiras 4 forças são fáceis de ser achadas, mas a direção do atrito nem sempre é
algo óbvio, nesse caso podemos acha-la de dois jeitos, o primeiro parte da intuição: Se não houvesse
atrito, é intuitivo ver que a barra escorregaria para a direita, e a força de atrito aponta na direção
contraria a tendencia de movimento, então Fat aponta para esquerda. O segundo é uma regra mais
geral quando a intuição não esta ajudando: Assume uma direção qualquer, seja esquerda ou seja
direita, e resolva as equações de equilíbrio. Se no fim Fat der negativo, significa que na verdade
ela aponta na direção contraria a o que estabelecemos.

De qualquer jeito, assumiremos então que Fat aponta para a direita, o que nos da o sistema de
forças abaixo:

Página 9
Para o sistema estar em equilíbrio, a soma das forças e dos torques vetorialmente deve ser nulo. O
equilíbrio na horizontal nos da que:
Fx = Fat
E o equilibrio na vertical nos da que
Fy = M g + mg
A outra equação que temos é o equilíbrio dos torques, e como origem escolhemos o ponto da escada
que toca o chão, e então calculamos o torque de cada força:
τ~y = τ~at = 0
As outras forças agora não atuam a 90º da linha que parte da origem ao ponto de aplicação, então
o modulo não seria apenas o produto da distância pela força. Há varias maneiras de calcular esse
torque, a mais direta é usando a definição do modulo do torque e calculando o angulo entre a força
e o vetor do ponto de aplicação, isso nos daria que(definindo a direção k̂ apontando para dentro
da pagina):
τ~x = (Fx · L · sin θ)k̂
L
τ~M = −(M g cos θ)k̂
2
L
τ~M = −(mg cos θ)k̂
2
Outra maneira, que as vezes é mais intuitivo do que achar o angulo é usar o fato que rsinθ é
a menor distancia que a linha que representa a força tem com a origem O, isso pode ser visto
geometricamente na imagem debaixo:

Página 10
Usar isso é bem útil as vezes porque essa distancia é um quesito geométrico, de modo que a distância
miníma que a linha do vetor de Fx faz com O é Lsinθ(olha a imagem que mostra graficamente
o r sin θ pra ver se fica claro isso). Então τ~x = (Fx · L · sin θ)k̂ o que esta de acordo com o que
conseguimos anteriormente. A soma dos torques tem que ser zero, de modo que:
L
Fx · L sin θ = mg cos θ + M gx cos θ
2
Então:
1 mg M gx
Fx = ( + )
tan θ 2 L
E como Fx = Fat , segue que:
1 mg M gx
Fat = ( + )
tan θ 2 L
A condição para o qual o sistema consegue manter essa configuração é que a força de atrito consiga
realmente atingir esse valor, mas é sabido que
Fat ≤ µ · N
No nosso sistema, N = Fy , então a força critica de atrito é:
Fat = µ · (M g + mg)
Substituindo Fat pelo que obtemos inicialmente, podemos achar o valor máximo de x ao qual o
sistema pode se manter em equilíbrio (o qual eu não escrevo a resposta aqui porque é meio grande
o resultado de Xc , mas é só substituir os valores e isolar x), e então resolvemos o problema.

4. Regra geral para resolução de exercícios


Não tem muito segredo em questões de estática, o sistema obedece duas regras:
X
(F~i ) = 0 (14)
e X
ri × F~i ) = 0
(~ (15)
O qual pode parecer que se trata de apenas duas equações que relacionam as variáveis, mas não é
o caso: a soma vetorial das forças ser zero incita que a soma de cada componente deve ser zero.
Ou seja, definindo os eixos cartesianos x, y e z de forma um tanto quanto arbitraria, a soma das
forças paralelas a cada eixo deve ser zero, o que em si nos da 3 equações sobre forças. Geralmente,
no entanto, os problemas de equilíbrio são 2d, então, na maioria dos casos, o equilíbrio de forças
nos da apenas duas equações.

Analogamente, o torque também é um vetor que tem 3 direções, então o seu valor ser nulo nos
da também 3 equações, mas, novamente, a maioria dos problemas é 2d, então qualquer rotação só
pode acontecer dentro de um plano, o que nos da que apenas uma componente do torque não seria
nula por ’obviedade’, então realmente só teríamos uma equação vindo do torque.

A regra pra resolver problemas de estática é então: Analise todas as forças que atuam no sistema,
desenhe seus vetores, componentes em x e y( o qual, ou você define como lhe convém para fazer
os cálculos, ou o exercício pediu o valor de uma componente especifica), veja o torque que cada
força gera e estabeleça o equilíbrio de forças e torque. Há apenas um ponto que eu sinto que vale
a pena se tocar:

Página 11
4.1 O que precisa ter torque nulo?
Em si, podemos ter um sistema formados por vários sistemas separados que não formam um mesmo
corpo, e queremos que tudo esteja estático, mas temos que perceber algo: Torque aplicado em um
corpo rigido diz respeito unicamente a rotação desse corpo rigido.
Pondo de maneira melhor: Supõe que eu tenho uma roda do meu lado e uma barra de ferro a
300km de distancia de mim e da roda. Supõe também que eu quero rotacionar a roda que esta no
chão; para isso, eu vou aplicar um torque ~τ na roda ao redor de uma origem O que eu escolho, mas
o que acontece se eu aplicar um mesmo torque ao redor da mesma origem, só que agora na barra
de ferro que esta a 300 km de distancia da minha roda? Obviamente, a roda não vai rotacionar.

No entanto, note que a quantia torque aplicada no meu sistema "Roda+Barra"é a mesma, e mesmo
assim o resultado é totalmente diferente.
O ponto é que cada corpo rígido tem a sua equação de torque, e analisar o torque atuando num
sistema completo pode não nos dar o insight completo da situação: sabendo apenas o torque
atuando no sistema Roda+Barra, eu nunca saberia se a minha roda ta girando ou não.
Numa questão de estática, cada corpo rígido sozinho precisa ter o torque atuando nele sendo nulo,
e isso é importante pra questões que envolvem vários objetos: No caso de uma sistema estático
"Roda+Barra"sofrendo forças, eu poderia usar que "O torque no sistema Roda+Barra precisa ser
nulo", mas isso não é o único fato que temos, a realidade é que tanto o sistema Roda quanto o
sistema Barra separados precisam ter torque nulo, e perceber isso é essencial em problemas de
estática mais complicados.

4.2 Mais incógnitas do que equações


Na ultima questão dos exercícios resolvidos, foi assumido que a parede vertical é lisa, de forma
que ela não causa uma força de atrito, mas e se esse não fosse o caso? você pode tentar esse
novo problema resolver na mão, dessa vez adicionando uma força de atrito na parede vertical, mas
você se deparará com o fato que há mais incógnitas do que equações(o numero de equações não
muda, mas uma incógnita a mais é adicionada, então algo fica faltando ai), e você pode chegar
a conclusão que talvez esteja faltando mais uma equação, mas esse não é caso: é possível que
nosso equilíbrio possua mais incógnitas do que temos de equação. Isso não significa que a física
explodiu, mas sim que varias configurações diferentes de força podem garantir o equilíbrio, e, ou
é realmente impossível de resolver porque não há um valor especifico pras incógnitas, ou é dado
alguma informação a mais para resolver, provavelmente uma relação entre as forças que diz respeito
a como essas forças estão atuando ou em qual estado o sistema esta.

5. Problemas
Problema 1. Prove que se um conjunto P de forças F~i atuam em um sistema de modo que a
resultante é nula , o valor do torque ~τ = r~i × F~i independe da origem escolhida para calcula-lo
(Dica: mudar a origem de O a O’, conectados por um vetor r~0 pode ser entendido como adicionando
um vetor r~0 a todos os vetores r~i , de modo que ao trocar a origem, r~i0 = r~0 +~
ri ; na nova somatória, r~0
é constante e Fi = 0, e podemos abrir a nova quantia de torque em duas somatórias diferentes)
P~

Problema 2. (Tópicos de Física) Suponha que, para arrancar um mourão fincado no chão, um

Página 12
homem, puxando -o diretamente com as mãos, tivesse de exercer nele uma força de intensidade
1800 N, no mínimo. Observe a figura:

Usando uma viga amarrada no mourão e apoiada em uma tora, como indica a figura, determine a
mínima intensidade da força que o homem precisa exercer na viga para arrancar o mourão. Para
simplificar, desconsidere o peso da viga e suponha que a força total exercida nela pelo homem
esteja aplicada no ponto médio entre suas mãos.

Problema 3. A figura indica uma superfície semicircular lisa de raio R onde repousa uma barra
homogênea de comprimento L. Nestas condições, podemos afirmar corretamente que o ângulo θ
para a condição de equilíbrio da referida barra vale:

 √ 
a) θ = arcsin L+ L2 +128R2
64R
 √ 
b)
2 +128R2
θ = arccos L+ L16R
 √ 
c) θ = arcsec L+ L2 +128R2
16R
 √ 
d)
2 +128R2
θ = arcsin L+ L32R
 √ 
e) θ = arctan L+ L2 +128R2
32R

Problema 4. (Krotov) Um cilindro e uma cunha com uma face na vertical estão se tocando e
estão em equilíbrio em dois planos inclinados com o mesmo angulo α com a horizontal, se a massa
do cilindro e da cunha são m1 e m2 respectivamente, e negligenciando qualquer força de atrito no
sistema, qual é a força normal entre os dois?

Página 13
Problema 5. (Krotov) 2 barras de massa desprezível e comprimento l são conectas ao teto nos
pontos A e B que estão na mesma horizontal separados por uma distancia 2l e nos seus outros
extremos, C e D, é colocada uma outra barra idêntica ficando na horizontal. uma massa m é
colocada no ponto C, qual é o valor da forma miníma aplicada no ponto D pelo qual a barra do
meio se mantém horizontal?

Problema 6. (Morin) Um bastão de massa por unidade de comprimento ρ repousa em equilíbrio


em um circulo de raio R, o bastão faz um angulo θ com a horizontal e tangencia o circulo. Há
atrito em todos os pontos de contato e tem valores que garantem o equilíbrio do sistema, qual é a
força de atrito do circulo com o chão?

Problema 7. (Morin) Um carretel consiste em um eixo de raio re um círculo externo de raio R


que rola no solo. Uma linha é enrolada em torno do eixo e é puxada com tensão T em um ângulo
θ com a horizontal

Página 14
a) Dados R e r, o que θ deve ser para que o carretel não se mova? Suponha que o atrito entre o
carretel e o solo seja grande o suficiente para que o carretel não escorregue.
b) Dado R, r, e o coeficiente de atrito µ entre o carretel e o solo, qual é o maior valor de T para
o qual o carretel permanece em repouso?

Problema 8. (Tópicos de Fisica) Uma bolinha de aço, de peso P, encontra -se em repouso presa
em um fio suposto ideal, de comprimento l e apoiada em um hemisfério fixo de raio R, praticamente
sem atrito. Sendo d a distância do polo do hemisfério ao ponto de suspensão do fio, determine a
intensidade da força de tração exercida pelo fio em função de P, l, d e R.

Problema 9. Na figura indicada a seguir os cilindros são idênticos e estão em equilíbrio. Despre-
zando possíveis forças de atrito, o valor de θ é:

Página 15
 √ 
a) θ = arcsin 4 53
 √ 
b) θ = arccos 2 53
 √ 
c) θ = arcsec 4 33
 √ 
d) θ = arcsin 4 33
 √ 
e) θ = arctan 2 33

Problema 10. (Morin) Um cilindro uniforme de massa M se encontra em um inclinado com um


ângulo θ com a horizontal. Uma corda é amarrada ao ponto mais à direita do cilindro, e uma
massa m pende da corda, como mostrado na figura abaixo. Suponha que o coeficiente de atrito
entre o cilindro e o plano seja suficientemente grande para evitar escorregões. Qual o valor de m
em termos de M e θ se a configuração é estática?

Problema 11. (Morin) Duas varas, cada uma com massa m e comprimento l, são conectadas
por uma dobradiça em seus extremidades superiores. Cada uma delas faz um ângulo θ com
a vertical. Uma corda sem massa conecta a parte inferior da barra esquerda à barra direita,
perpendicularmente como mostrado na figura abaixo. Toda a configuração está em uma mesa sem
atrito

Página 16
a) Qual a tensão na corda?
b) Qual a força que a barra esquerda exerce na barra direita através do ponto de contato entre os
dois? (Dica: Não é necessário contas "feias")

Problema 12. (Morin - Desafio) Um grande número de bastões (com densidade de massa por
unidade de comprimento ρ) e círculos (com raio R) apoiam-se uns nos outros, como mostrado na
Figura. Cada bastão faz um ângulo θ com a horizontal e é tangente ao próximo círculo em sua
extremidade superior. As varas são articuladas ao chão, e cada a outra superfície não tem atrito
(ao contrário do problema anterior). No limite de um grande número de bastões e círculos, qual é
a força normal entre um bastão e o círculo em que ela se apoia, muito à direita? Presumir que o
último círculo se apoia contra uma parede, para impedi-lo de se mover.

6. Gabarito
Problema 1. Provou?

Problema 2. 300N

Problema 3. b)

2m1 m2
Problema 4. m1 +m2
g tan α

mg
Problema 5. 2

Página 17
1
Problema 6. 2
ρgR cos θ

Problema 7. -

a) cos θ = r
R

b) T ≤ µM g
cos θ+µ sin θ

Pl
Problema 8. T = d+R

Problema 9. e)

sin θ
Problema 10. m = 1−sin θ
M

Problema 11. -

a) T = mg sin θ
2 cos 2θ

b) F = T = mg sin θ
2 cos 2θ

ρRg cos3 (θ/2)


Problema 12. N = 2 sin(θ/2)

Página 18
Atrito e Plano Inclinado
Gabriel Silva - Projeto Olı́mpicos

1. Introdução
O atrito é um fenômeno muito importante para a Fı́sica, caso não conseguı́ssemos vencer o
atrito em nosso cotidiano, não conseguirı́amos caminhar sobre o solo ou andar de bicicleta, não
seria possı́vel fazer com que o carro fosse ao destino desejado e nem mesmo ouvir a melodia de um
violino.
Ora pois! Mas o que seria o atrito? A força de contato entre duas superfı́cies sólidas possuem
duas componentes, uma perpendicular, que se chama normal e uma horizontal, denominada atrito.
Observe na figura 1, com o auxı́lio de um instrumento óptico é possı́vel enxergar asperezas entre
o contato do bloco e a superfı́cie, neste caso, uma superfı́cie irá empurrar a base do bloco, este
fenômeno recebe o nome de normal.

Figura 1: Asperezas

Imagine uma superfı́cie qualquer com um bloco B sobre a superfı́cie S plana e horizontal, em
que uma força F⃗ é aplicada ao bloco B na direção horizontal com sentido para a direita, entretanto,
o bloco, apesar da força aplicada, permanece em repouso. Você deve estar se perguntando, como
um bloco que tem uma força aplicada sobre ele, continua em repouso? a explicação disso advém da
força de atrito, que corresponde a uma força que age no bloco na mesma direção que a força inicial,
mas com sentido trocado. Devo alertar que a força de atrito sempre age no sentido contrário ao
MOVIMENTO.

Página 1
Figura 2: Força de atrito

Observe na figura 2 e repare que temos a força F⃗BS (Ação) sendo a que o bloco B aplica
na superfı́cie S, pela terceira lei de Newton devemos ter uma força de mesmo módulo e direção,
entretanto, com sentido oposto aplicado em um corpo diferente, isto é, F⃗SB (Reação) a força que
a superfı́cie S aplica no bloco B. É claro que se F⃗ for igual ao vetor nulo (⃗0), não teremos as
forças F⃗BS e F⃗SB . No entanto, caso o bloco esteja em movimento teremos as forças de atrito,
independente de que haja uma força F atuando, ou não.

Se F⃗ = 0⃗ ⇒ F⃗BS = F⃗SB = ⃗0

2. Atrito Estático
Considere a seguinte situação: Joãozinho dispõe de uma mesa plana e nesta, tem alguns objetos,
como régua, caderno, lápis, borracha, apontador, etc., nosso caro Joãozinho, gostaria de saber qual
seria o ângulo máximo para uma borracha apoiada sobre um plano inclinado começar a deslizar.
Para isto, com o auxı́lio de um aplicativo de celular, ele gradualmente, eleva o plano inclinado
de modo que o ângulo máximo, fosse a iminência do movimento da borracha. Essa situação nos
diz que o atrito possui um valor máximo, isto é, a força de atrito máximo que ainda mantém a
borracha em equilı́brio. Chamamos força de atrito de destaque (F⃗atd ) a força de atrito máximo,
quando um bloco que se encontra na iminência de deslizar.

Figura 3: Força de atrito de destaque

É claro que a força de atrito irá variar de zero até um certo valor máximo, este que chamamos
força de atrito de destaque, isto é, em termos matemáticos:

0 ≤ Fat ≤ Fatd

Podemos afirmar que a força normal de uma superfı́cie em contato com um bloco é diretamente
proporcional a massa do bloco, tendo em vista, que quanto maior a massa do bloco, maior a força

Página 2
peso do sistema e mais intenso é a força normal, portanto para haver deslizamento, a força inicial
F deverá ser maior. Em termos matemáticos, podemos escrever a força de atrito de destaque
como:

∣F⃗atd ∣ = µe ⋅ ∣F⃗n ∣ (I)


O coeficiente de proporcionalidade µe que aparece na equação acima, é chamado coeficiente de
atrito estático que remete as asperezas entre o bloco e a superfı́cie.

3. O Atrito Cinético
A ideia aqui será semelhante à situação da figura 2, imagine a mesma situação, com as mesmas
forças, no entanto, o bloco deverá entrar em movimento, e para isto, a força F⃗ inicial, deverá ser
maior que a força de atrito de destaque. Enquanto o bloco está em repouso, dizemos que o atrito é
do tipo estático. Agora, porém, ele é denominado como atrito cinético. A configuração da situação
atual está destacada na figura a seguir, em que teremos, agora, uma aceleração a ⃗, que obviamente,
está apontada para o mesmo sentido que a força externa e, agora, uma nova força, a força de atrito
cinético F⃗atc

Figura 4: Situação com atrito cinético

A intensidade da força de atrito cinético (Fatc ) é diretamente proporcional a constante de


proporcionalidade do atrito cinético (µc ) e a força normal (Fn ), isto é, matematicamente:

∣F⃗atc ∣ = µc ⋅ ∣F⃗n ∣ (II)


A partir de experimentos, é possı́vel observar que µc < µe , portanto, Fatc < Fate .
Observe os dois gráficos a seguir, em que o primeiro resume a teoria acima para o coeficiente
de proporcionalidade µc < µe . Na segunda figura temos o coeficiente de proporcionalidade µc = µe

Página 3
4. Lei do Atrito
A partir de experimentos, podemos concluir que:
“As forças de atrito de destaque e cinético são praticamente independentes da área de contato
entre as superfı́cies atritantes”
Isto é, não importa a área de contato com a superfı́cie, imagine uma caixa que possui uma área
igual a A1 sendo empurrada por uma força F1 , e outra caixa com área igual a A2 , com uma força
externa F2 , supondo que A1 > A2 , se F1 = F2 , então a força de atrito que atua nas respectivas
caixas 1 e 2, também serão iguais (Fat1 = Fat2 ), independente dos termos A1 e A2 .

5. Atrito no Plano Inclinado


Iremos explorar as propriedades no plano inclinado em um exemplo do livro do David Morin.
Um bloco de massa M repousa sobre um plano fixo inclinado em um ângulo θ. Você aplica
uma força horizontal M g no bloco, como mostrado na Fig. 5. Suponha que a força de atrito entre
o bloco e o plano seja grande o suficiente para manter o bloco em repouso. Quais são as forças

Página 4
normais e de atrito (chame-as N e Ff ) que o plano exerce sobre o bloco? Se o coeficiente de atrito
estático for µ, para qual intervalo dos ângulos θ o bloco de fato permanecerá em repouso?

Figura 5: Exemplo de Plano Inclinado

Na figura 6 foi colocado as forças que atuam no bloco e no plano. As forças são N , Ff , o M g
aplicado e o peso M g. Equilibrar as forças paralelas e perpendiculares ao plano dá, respectivamente
(com para cima ao longo do plano considerado positivo):

∑ Fx = 0
Ff − M gsinθ + M gcosθ = 0 ∴ Ff = M gsinθ − M gcosθ
Perceba que fiz a decomposição das forças M g no eixo x, adotei para cima como positivo e
disse que a soma é igual a zero. Para o eixo y, o processo é análogo.

∑ Fy = 0
N − M gsinθ − M gcosθ = 0 ∴ N = M gsinθ + M gcos

Figura 6: Componentes

Perceba que se a tangente de θ for maior que 1, a força de atrito Ff será positiva, portanto a
força estará apontando para o sentido correto. Mas, se a tangente for menor que 1 o valor de Ff
será negativo, portanto o próprio problema irá corrigir o seu sentido, então não há necessidade de
se preocupar com para que lado ele aponta ao desenhar o diagrama.

Página 5
Sabendo que ∣Ff ∣ ≤ µN

M g∣sinθ − cosθ∣ ≤ µM g(cosθ + sinθ)


Veja que coloquei o módulo, isso significa que devemos considerar dois casos:

i. Se θ ≥ 1, então
1+µ
sinθ − cosθ ≤ µ(cosθ + sinθ) ⇒ tanθ ≤
1−µ

ii. Se θ ≤ 1, então
1−µ
−sinθ + cosθ ≤ µ(cosθ + sinθ) ⇒ tanθ ≥
1+µ

1−µ 1+µ
≤ tanθ ≤
1+µ 1−µ

6. Problemas
Problema 1. (Tópicos de Fı́sica) Sobre um plano inclinado, de ângulo θ variável, apoia-se uma
caixa de pequenas dimensões, conforme sugere o esquema a seguir.

Sabendo-se que o coeficiente de atrito estático entre a caixa e o plano de apoio vale 1,0, qual o
máximo valor de θ para que a caixa ainda permaneça em repouso?

Problema 2. (Moysés Nussenzveig) Um bloco está numa extremidade de uma prancha de 2 m de


comprimento. Erguendo-se lentamente essa extremidade, o bloco começa a escorregar quando ela
está a 1,03 m de altura, e então leva 2,2 s para deslizar até a outra extremidade, que permaneceu
no chão. Qual é o coeficiente de atrito estático entre o bloco e a prancha? Qual é o coeficiente de
atrito cinético?

Problema 3. (David Morin) Um livro de massa M é posicionado contra uma parede vertical. O
coeficiente de atrito entre o livro e a parede é µ. Você deseja manter o livro caia ao empurrá-lo
com uma força F aplicada em um ângulo θ em relação à horizontal (- π2 < θ < π2 ), como mostrado
na figura a seguir. Para um dado θ, qual é o F mı́nimo necessário?

Página 6
Problema 4. (Kalda) Imagine a seguinte situação representada pela figura a seguir. Temos quatro
blocos, dois deles maiores com massa M e dois menores com massa igual a m, os dois blocos
superiores estão atados por uma corda ideal, e a superfı́cie inferior é lisa (sem atrito). Existe uma
força F aplicada na direção horizontal, da esquerda para a direta, qual deve ser o valor limite desta
força para que os quatro blocos se desloquem junto para a direita, com a mesma aceleração?

Problema 5. Na situação esquematizada na figura, os blocos A e B têm massas iguais a 6 kg e 4


kg respectivamente, os coeficientes de atrito valem µe = 0,7 e µc = 0,5 e a inclinação da rampa vale
θ = 37° (sin 37° = 0,6; e cos 37° = 0,8). Quando o sistema é abandonado do repouso, determine:
a) se o bloco irá escorregar ou não.
b) a intensidade da força de atrito e da tração no fio.

Problema 6. (ITA-SP) Na figura seguinte, os dois blocos A e B têm massas iguais. São des-
prezı́veis as massas dos fios e da polia e esta pode girar sem atrito. O menor valor do coeficiente
de atrito estático entre o plano inclinado de α em relação à horizontal e o bloco B, para que o
sistema não escorregue, é:

Página 7
1 − sinα
a)
cosα
a − cosα
b)
sinα
c) tg α
d) cotg α
1
e)
sinα

Problema 7. (Kalda) Suponha a seguinte situação hipotética ilustrada pela figura a seguir. O
bloco está descendo um plano inclinado num regime estacionário, a velocidade que o bloco desce o
plano é igual a v e constante, além disso, o plano inclinado está agitando, isto é, se movendo de um
lado para o outro com velocidade igual a u - para simplificação, despreze o processo de aceleração
e desaceleração do plano, ou seja, ele vai e volta com a mesma velocidade. Encontre uma equação
que nos permite calcular tal velocidade v. Considere que o coeficiente de atrito seja maior que a
tangente.

7. Gabarito
Problema 1. θ = 45°

Problema 2. Estático: 0,6; e cinético: 0,5.

2(m + M )
Problema 3. F = ⋅ µmg (Resolução feita pelo professor Cadu vı́deo)
2m + M

Mg
Problema 4. F ≥
sinθ + µcosθ

Página 8
Problema 5. a) O bloco irá escorregar; e b) Fat = 16N ; e T = 48N.

Problema 6. Letra a

µtgθ
Problema 7. v = √ (Resolução feita pelo professor Cadu vı́deo)
µ2 − tg 2 θ

Página 9
Polias e Sistemas Mecânicos
Gabriel Silva - Projeto Olı́mpicos

1. Introdução
Polias é um assunto cobrado com uma certa frequência em olimpı́adas e vestibulares, por isso,
cá estou eu, caro leitor, para lhe apresentar este tema. Nesta parte, irei lhe apresentar um exemplo
de polia fixa como motivação para você adquirir este conhecimento em seu arsenal de ideias.
Determine as acelerações dos blocos e as trações nos fios em função das massas a e b, sendo
que a superfı́cie é plana e sem atrito e ma e mb .

Figura 1: Situação Problema

Analisando todo o sistema, temos que o bloco A possui a sua força peso na vertical para baixo
e a força normal N na mesma direção com sentido trocado. O bloco A está atado por uma corda
ideal, por isto, temos uma força de tração T na horizontal da esquerda para a direita. O bloco
B também têm suas componentes verticais, sendo o peso PB e a tração 2T , 2T devido às duas
trações que aparecem no fio acima. Colocado todas as forças, basta resolver certo? Vamos ver.
Fazendo o somatório das forças no eixo x e y, temos que:

1. T = mA aA

2. PB − 2T = mB aB

Página 1
Figura 2: Forças que atuam no sistema

Você deve ter percebido que fiz algo diferente dos problemas mais clássicos que envolvem
dinâmica, em que tu diz que a aceleração é igual a a, no entanto, neste caso, temos duas acelerações.
Pensa o seguinte: observe a figura 3 e veja que o comprimento total do fio é igual a L, então aquele
pedaço de fio horizontal é igual a LA1 , na vertical temos um comprimento de fio 2LB1 , além disso,
a soma entre os comprimentos x e y é igual a z, não era necessário colocar, mas no final verá que
é irrelevante.

Figura 3: Comprimento dos fios

Agora imagina que você deixou esse sistema andar, depois de um intervalo de tempo o bloco
estará, por exemplo, na situação que colocada na figura 4.

Página 2
Figura 4: Após um intervalo de tempo

Perceba que apenas modifiquei o nome do tamanho dos fios, mas o seu comprimento total
continua o mesmo. Isto é, podemos escrever em termos matemáticos:

LA1 + 2LB1 + z = L

LA2 + 2LB2 + z = L
LA1 + 2LB1 + z = LA2 + 2LB2 + z
Então note que o comprimento z é realmente irrelevante, tanto que podemos subtrair z de ambos
os lados e simplificar um pouco mais a equação:

LA1 + 2LB1 = LA2 + 2LB2

Podemos subtrair 2LB1 e LA2 de ambos os lados e ficamos com:

LA1 − LA2 = 2LB2 − 2LB1

O que é esse resultado que encontramos? Perceba que a parcela LA1 − LA2 corresponde ao desloca-
mento do bloco A, o mesmo se aplica para 2LB2 − 2LB1 , sendo o deslocamento do bloco B. Então,
temos que ∆LA = 2∆LB . Se formos tratar esse resultado a partir das derivadas, podemos fazer
uma segunda derivada temporal e obteremos que:

aA = 2aB (I)

Feito toda essa análise, provamos que a aceleração do corpo A difere do corpo B, a partir disso
poderı́amos retornar ao problema e finaliza-lo, contudo, esse não é o objetivo.

Página 3
2. Polia Móvel
Agora considere a seguinte situação ilustrada na figura 5. Determine as acelerações aA e aB
em função dos parâmetros mA , mB , mC e g.

Figura 5: Sistema com polia móvel

A ideia aqui seria realizar os mesmos procedimentos do exemplo anterior, em que, primeiro,
colocarı́amos as forças que atuam nos blocos e no fio. Como eu sou gente boa, já coloquei tudo na
figura 6, observe:

Figura 6: Forças que atuam no sistema

Agora basta aplicar as leis de Newton novamente.

1. T = mA aA

2. T = mB aB

3. PC − 2T = mC aC

Eis que então nos deparamos com um problema, temos três equações e quatro incógnitas,
portanto não tem como resolver. A solução para esse problema é utilizar a mesma ideia apresentada
anteriormente. Então veja que na figura 7 coloquei as medidas correspondentes aos fios, lembrando
que o comprimento total é constante.

Página 4
Figura 7: Comprimento dos fios

Imagine que o sistema começou o andar por um determinado tempo, de modo que ele fique
igual à configuração da figura 8. Perceba que o tamanho dos fios mudou, no entanto, a soma de
todos esses pedaços é constante.

Figura 8: Após um intervalo de tempo

Portanto:
LA1 + LB1 + 2LC1 = L
LA2 + LB2 + 2LC2 = L
LA1 + LB1 + 2LC1 = LA2 + LB2 + 2LC2
Subtraindo LA2 , LB2 e 2LC1 , obtemos:

LA1 − LA2 + LB1 − LA2 = 2LC2 − 2LC1

E o que encontramos? Exatamente o deslocamento dos blocos nesse determinado tempo que se
passou. Portanto, podemos escrever:

∆LA + ∆LB = 2∆LC

Agora, se fizermos uma segunda derivada temporal, obteremos as acelerações dos blocos. Veja:

Página 5
aA + aB = 2aC (II)
Com isso, temos agora quatro equações e quatro incógnitas, agora conseguimos resolver. A
ideia será achar os valores da aceleração em função das trações e substituir na última equação.
T
1. aA =
mA
T
2. aB =
mB
mC g − 2T
3. aC =
mC
Pronto, agora basta substituir e fazer continha de padaria.
T T mC g − 2T
+ = 2( )
mA mB mC
T mB + T mA 2mC g − 4T
=( )
mA mB mC
T mB mC + T mA mC = 2mA mB mC g − 4T mA mB
T (mB mC + mA mC − 4mA mB ) = 2mA mB mC g

2mA mB mC g
T= (III)
mB mC + mA mC − 4mA mB
Ufa, conseguimos encontrar a tração, agora só voltarmos nas equações e encontrar as ace-
lerações. Vem comigo:

2mB mC g
aA = (IV)
mB mC + mA mC − 4mA mB
2mA mC g
aB = (V)
mB mC + mA mC − 4mA mB

3. Variante com duas Polias Móveis


Na figura 9, temos uma situação com dois blocos A e B de massas respectivamente, igual a mA
e mB . Os blocos estão sendo puxados por uma força de intensidade igual a F, numa plataforma
sem atrito. Sua missão é encontrar as acelerações aA e aB e a tração T no fio.

Figura 9: Duas polias móveis

Página 6
A ideia seria fazer igual aos casos anteriores, mas nomear os fios parece uma tarefa meio difı́cil.
A pergunta a ser feita é: qual fio depende de A? e qual depende de B? Pensa o seguinte, se o bloco
A for fixo e o bloco B se movimentar, quais fios irão se mover? Ora, apenas os três primeiros
contando de cima para baixo. Agora imagine a situação contrária, o bloco B está fixo e o bloco A
móvel, se movermos ele para a direita, o que iria acontecer? todos os fios tenderiam a esticar e o
primeiro iria arrebentar. Portanto, temos que:
L = 3LB
L = 4LA
3LB = 4LA
Agora basta aplicar a ideia apresentada nos casos anteriores, imagine que o sistema irá se
mover, daı́ os pedaços do fio irão assumir valores diferentes e no final chegaremos que:
3∆SB = 4∆SA
Fazendo a segunda derivada temporal, temos que:
3aB = 4aA (VI)
Agora basta aplicar as leis de Newton que é sucesso.
1. F − 4T = mA aA
2. 3T = mB aB
3. 3aB = 4aA
E agora? Bom, agora é só conta de padaria né.
mB aB 3
F − 4( ) = mA aB
3 4
4mB aB 3mA aB
F− =
3 4
12F − 16mB aB = 9mA aB

12F
aB = (VII)
9mA + 16mB

4. Problemas
Problema 1. (David Morin) Considere o sistema a seguir (Máquina de Atwood), encontre a
aceleração a das massas e a tração T da corda. Considere o fio inextensı́vel e a massa da polia
desprezı́vel.

Página 7
Problema 2. (Renato Brito) No sistema representado na figura, os fios e as polias são ideais. A
aceleração da gravidade tem módulo 10 sm2 e as massas de A e B são respectivamente iguais a 3,0
kg e 8,0 kg. Calcule:
a) as acelerações de A e B.
b) a tração no fio ligado ao bloco A.

Problema 3. (Renato Brito) A figura mostra dois blocos A e B de massas mA = 2kg e mB =


6kg puxados por uma força de intensidade F = 14N sobre um solo liso. Determine:
a) a aceleração de cada bloco.
b) a tração no cabo.

Página 8
Problema 4. Encontre as relações entre as acelerações utilizando vı́nculo geométrico.

Problema 5. (OBC - 2018) No arranjo da figura o plano inclinado está fixo numa mesma hori-
zontal. Os blocos A e B possuem massas, respectivamente, 4,0kg e 6,9kg. Despreze o atrito entre

A e o plano inclinado. O fio é inextensı́vel e passa sem atrito pela polia de massa desprezı́vel.
3
Sendo sin 30° = 0,5 e cos 30° = , pode-se afirmar que a força resultante que o fio exerce na
2
polia tem intensidade:
a) 12N

b) 12 3N
c) 24N

d) 24 3N
e) 48N

Problema 6. (David Morin) Uma máquina de Atwood dupla é mostrada na figura abaixo, com
massas m1 , m2 , e m3 . Encontre as acelerações das massas.

Página 9
Problema 7. (Renato Brito) Na figura, todas as polias e fios são ideais, bem como todos os atritos
são desprezı́veis. Abandonando-se o sistema do repouso, pede-se determinar a aceleração da cunha
de massa M em relação à Terra. A massa do bloco vale m e a gravidade local vale g.

Problema 8. (IME) A figura mostra três blocos, que podem se mover sem atrito. Sendo α = 30○ .
determine a relação entre m1 , m2 e m3 para que os blocos se movam, sem que m3 escorregue em
relação a m1 .

Página 10
5. Gabarito
(m2 − m1 )g 2m1 m2 g
Problema 1. a = eT=
m2 + m1 m1 + m2

Problema 2. aB = 2 sm2 ; aA = 1 sm2 ; e T = 36N

Problema 3. aA = 3 sm2 ; aB = 2 sm2 ; e T = 4N

aA
Problema 4. aC =
4

Problema 5. letra A

Problema 6.
4m2 m3 − m1 m2 − m1 m3
a1 = g ;
4m2 m3 + m1 m2 + m1 m3
4m2 m3 + m1 m2 − 3m1 m3
a2 = −g ;
4m2 m3 + m1 m2 + m1 m3
4m2 m3 + m1 m3 − 3m1 m2
a3 = −g
4m2 m3 + m1 m2 + m1 m3

mg
Problema 7. a =
M + 2m

m1 + m2 + m3 √
Problema 8. = 3
m2

Página 11
Impulso e Momento Linear
Gabriel Silva - Projeto Olı́mpicos

1. Introdução
Qual das seguintes situações, é mais provável de ser parado: um carro com uma velocidade de
20km/s ou uma bola com a mesma velocidade? O senso comum nos diz que é a bola, mas por
quê? Ora, isso está diretamente relacionado com o conceito de momento linear. Além disso, para
os amantes de 8 ball pool, veremos a respeito das colisões entre bolinhas de bilhar.

2. Momento Linear
Momento linear é definido matematicamente como o produto entre a massa e a velocidade de
um corpo qualquer.
p⃗ ≡ m ⋅ v⃗ (I)
Em questão da análise dimensional, é dado por:
L m
[p] = M ⋅ = kg ⋅
T s
Então, assim como qualquer corpo em movimento, tem associado a si, energia cinética, o
mesmo acontece para o momento linear, todo corpo que possui massa e velocidade, traz consigo,
essa grandeza vetorial.
Veja na figura 1, que o momento linear tem sempre a mesma direção e sentido da velocidade v
sendo, sempre tangente a trajetória descrita pela partı́cula.

Figura 1: Momento linear em uma trajetória

Página 1
3. O Teorema do Impulso
Considere um bloco submetido a uma força constante F no instante t0 = 0 que adquire uma
velocidade v0 . Depois de um certo tempo t, este bloco irá adquirir uma velocidade v, se quiséssemos
descrever o movimento deste bloco, qual equação irı́amos utilizar? a função horária da velocidade.
Então, veja:
v = v0 + at
Multiplicando ambos os lados pela massa (m), temos:

m ⋅ v = m ⋅ v0 + m ⋅ a ⋅ ∆t

Se formos tratar de seus vetores, temos:

m ⋅ v⃗ = m ⋅ v⃗0 + F⃗ ⋅ ∆t

Como vimos, p⃗ = m ⋅ v⃗:

p⃗f = p⃗i + I⃗ (II)


Você deve ter percebido uma semelhança entre trabalho e energia e colisões e impulso, veja na
tabela 1 as diferenças por meio de uma tabela:

Trabalho e Energia Momento Linear e Impulso


mv 2
Ecin = p⃗ = m ⋅ v⃗
2
W =F ⋅d I⃗ = F⃗ ⋅ ∆t
Ecinf = Ecini + W p⃗f = p⃗i + I⃗

Tabela 1: Comparação entre Trabalho e Energia e Momento Linear e Impulso

Se voltarmos na equação 2 e isolarmos o impulso, encontraremos algo interessante, veja:

I⃗ = p⃗f − p⃗i

I⃗ = ∆⃗
p (III)
A esta equação acima que encontramos, denominamos como: Teorema do Impulso.
Mas perceba que se expandirmos e fatorarmos essa mesma equação, teremos que:

F⃗ ⋅ ∆t = m ⋅ v⃗ − m ⋅ v⃗0

F⃗ ⋅ ∆t = m ⋅ (⃗
v − v⃗0 )
m ⋅ ∆⃗
v
F⃗ =
∆t
F⃗ = m ⋅ a
⃗ (IV)

Página 2
Ora, ora, ora... o que encontramos aqui? a lendária segunda lei de Newton. Então perceba que
a segunda lei é um caso particular para momento e impulso, pois:
dp
F=
dt
Caso a massa não fosse constante, terı́amos:
d(m ⋅ v) dv dm
F= =m⋅ +v⋅
dt dt dt
dm
F = ma + v
dt
dm
Caso a massa fosse constante, o termo seria zero, portanto acharı́amos a segunda lei de Newton.
dt
Então se o impulso é igual a variação do momento linear, é claro que sua unidade de medida é
correspondente.
L
[F ] = M ⋅ 2 = N
T
L m
[I] = N ⋅ T = M ⋅ = kg ⋅
T s
Pensando um pouco sobre o significado fı́sico do teorema de impulso, podemos entender que,
se um corpo qualquer tem associado consigo momento linear p0 e é submetido a uma força F
constante, então o momento linear final p desse corpo, irá depender da intensidade dessa força e o
intervalo de tempo, isto é, do impulso.
Propriedade 01: O impulso pode ser dado numericamente pela área sob o gráfico F x t
durante um intervalo de tempo.

3.1 Sistema
• Forças internas: dizemos que uma força é interna quando temos a aplicação da terceira lei de
newton (ação-reação), isto é, tanto o corpo que aplicou a força, quanto o que recebe a força,
fazem parte do sistema.

• Força externa: é dita uma força externa, quando um corpo que está fora do sistema, aplica
uma força em outro corpo que está dentro do sistema.

Então, em um sistema, o somatório de todos os momentos lineares corresponde ao momento


linear final

p⃗ = m ⋅ v⃗ = m ⋅ r⃗˙ 1
d⃗
p ⃗˙
F⃗ext = =P
dt
n
P⃗ = ∑ p⃗α (V)
α=1

Se F⃗ext = 0 ⇒ P⃗ é constante
d⃗
r
1
O vetor r⃗˙ simboliza a derivada temporal da posição, isto é, r⃗˙ =
dt

Página 3
4. Princı́pio da Conservação do Momento Linear
Considere a seguinte situação hipotética ilustrada na figura 2, nela temos dois blocos com
respectivamente massas iguais a mA e mB , com suas velocidades iguais a vA e vB . Por conta da
massa e da velocidade, cada bloco possui um momento linear, isto é, p⃗A e p⃗B . Portanto, podemos
escrever que:
P⃗i = p⃗A + p⃗B

Figura 2: Antes da Colisão

Na figura 4, podemos observar a situação da figura anterior durante a colisão entre os blocos.
Perceba que o bloco A aplicou uma força de intensidade F no bloco B, que por sua vez, pela
terceira lei de Newton, aplicou uma força de mesma intensidade no bloco B, na mesma direção,
com sentido trocado. Mas que força é essa? se multiplicarmos isso pelo tempo durante a colisão,
vamos obter o impulso I - vale lembrar que esse tempo é igual tanto para o bloco A, quanto para o
bloco B, pois se a força é a mesma, não tem como esse tempo for maior para um dos blocos. Mas
lembrando, o impulso é a variação do momento linear, portanto, durante essa colisão, teremos a
variação do momento desse sistema.

Figura 3: Durante a Colisão

Volte na figura 3 e veja para qual direção e sentido aponta o vetor velocidade de ambos os blocos,
pois lembrando, o momento linear atua na mesma direção e sentido da velocidade. Portanto, veja
na figura 4 novamente, a direção e o sentido dos vetores velocidade dos blocos.

Figura 4: Após a Colisão

Se formos somar o momento linear antes e durante a colisão, de modo a obter o momento linear
do sistema, teremos:
P⃗A = p⃗1 + I⃗
A

P⃗B = p⃗1B + (−I)


Página 4
Se formos observar o somatório dos momentos do sistema antes da colisão e depois do sistema,
haverá alguma mudança? Vamos verificar:

P⃗antes = p⃗A + p⃗B

P⃗depois = p⃗A + I + p⃗B − I


P⃗depois = p⃗A + p⃗B
P⃗antes = P⃗depois (VI)
Ora bolas, então o momento linear antes é igual o momento linear depois da colisão, portanto
o momento linear se conserva. Mas por que isso acontece? Devido a terceira lei de Newton, que
durante a colisão entre dois blocos, haverá a troca entre os corpos de impulsos iguais e contrários,
isto é, o que um corpo ganhará de momento linear, o outro irá perder.
Propriedade 02: Em um sistema isolado de forças externas o momento linear total do sistema
se conserva, isto é:
Se F⃗ext = 0, então P⃗ é constante.

5. Colisões
5.1 constante de restituição

1 1 1 1
m1 v12 + m2 v22 ≥ m1 v1′2 + m2 v2′2 (VII)
2 2 2 2
m1 v1 + m2 v2 = m1 v1 + m2 v2′

(VIII)
Veja, na equação 7 temos a conservação de energia cinética e na equação 8, temos a conservação
de momento linear. Agora, basta fatorar e dividir uma equação pela outra

m1 (v12 − v1′2 ) ≥ m2 (v2′2 − v22 ) (IX)


m1 (v1 − v1′ ) = m2 (v2′ − v2 ) (X)
Dividindo a equação 9 pela equação 10, temos:

v1 + v1′ ≥ v2′ + v2

Seja e a constante de restituição, definida por:

v2′ − v1′
e= (XI)
v1 − v2

Dependendo do valor de e, a classificação da colisão irá mudar, isto é:

1. e = 1 - Colisões elásticas (ou perfeitamente elásticas);

2. e = 0 - Colisões inelásticas; e

3. 0 < e < 1 - Colisões parcialmente elásticas.

Página 5
5.2 Colisão Inelástica em uma Dimensão
Por definição, uma colisão inelástica é dita como aquela que a energia cinética não se conserva.

5.2.1 Colisão Perfeitamente Inelástica


Uma colisão é considerada perfeitamente inelástica, quando os corpos permanecem unidos após
a colisão. Veja na figura 7 dois corpos um de massa m1 e velocidade v⃗1i e o outro corpo tem massa
m2 e velocidade v⃗2i . Após um intervalo de tempo, haverá uma colisão, em que o corpo 1 irá se
unir com o corpo 2 e, portanto, irão se mover ao longo do eixo x com velocidade V⃗ .

Figura 5: Exemplo de uma colisão perfeitamente inelástica antes do contato

Figura 6: Exemplo de uma colisão perfeitamente inelástica depois do contato

Então perceba, se F⃗ext = 0, então temos a conservação de momento, portanto:

m1 v⃗1i + m2 v⃗2i = (m1 + m2 )V⃗


m1 v⃗1i + m2 v⃗2i
V⃗ = (XII)
(m1 + m2 )
É claro que se a velocidade inicial do corpo 2 for zero, então a velocidade final será dada por:
m1 v⃗1i
V⃗ = (XIII)
m1 + m2
Analisando um caso particular, o que terı́amos, se:
(i) Se m1 ≪ m2
Podemos dividir tudo por m2 para manter a igualdade, então temos:
m1
v⃗1
m2 i
V = m1

+1
m2
m1
Então perceba, que ao dividir , temos um adimensional, portanto, podemos comparar com
m2
m1
o número 1 que também é um adimensional. Veja que, se m1 ≪ m2 , então ≪ 1, então podemos
m2
desprezar ele, no entanto, não podemos fazer o mesmo com o numerador, se não vai dar ruim (,).
m1
V⃗ = v⃗1
m2 i

Página 6
5.2.2 Colisão Parcialmente Inelástica
A diferença para a colisão perfeitamente inelástica para a parcialmente inelástica, é que nesta,
após a colisão os corpos não ficam unidos, isto é, suponha que tenhamos a situação idêntica a da
figura 5, mas após a colisão, teremos a seguinte situação ilustrada pela figura 7.

Figura 7: Exemplo de uma colisão parcialmente inelástica depois do contato

Se F⃗ext = 0, então temos a conservação de momento, portanto:

m1 v⃗1i + m2 v⃗2i = m1 v⃗2i + m2 v⃗2f

5.3 Colisão Elástica em uma Dimensão


Um corpo de massa m1 com velocidade v⃗1i se aproxima de outro corpo estacionário de massa m2
(ver Fig. 8). As massas ricocheteiam elasticamente. quais são as velocidades finais das partı́culas?

Figura 8: Exemplo de uma colisão elástica antes do contato

Após o contato, teremos uma configuração igual a da figura 7.


Escrevendo a conservação de energia cinética total e a conservação de momento linear, temos:

m1 v⃗1i + 0 = m1 v⃗1f + m2 v⃗2f (XIV)

1 1 1
m1 v12i + 0 = m1 v12f + m2 v22f (XV)
2 2 2
A partir de agora, vou escrever as velocidades em função de seus módulos.

⎪m1 (v1i − v1f ) = m2 v2f


⎪ m (v 2 − v12f ) = m2 v22f
⎩ 1 1i

Dividindo uma equação pela outra, obtemos:

m1 (v1i + v1f )(v1i − v1f ) m2 v22f


=
m1 (v1i − v1f ) m2 v2f

v1i + v1f = v2f (XVI)

Página 7
Substituindo a equação 16 na equação 14, temos:

m1 v1i = m1 v1f + m2 (v1i + v1f )

(m1 − m2 )v1i = (m1 + m2 )v1f


(m1 − m2 )v1i
v1f = (XVII)
(m1 + m2 )
Ora bolas, se agora descobrimos a v1f , podemos substituı́-la na equação 9 e obter:

(m1 − m2 )v1i
v1i + = v2f
(m1 + m2 )

(m1 − m2 )v1i (m1 + m2 )v1i


+ = v2f
(m1 + m2 ) (m1 + m2 )
2m1 v1i
(XVIII)
m1 + m2

5.4 Colisão em Duas Dimensões


Uma bola de bilhar com velocidade v aproxima-se de um idêntico estacionário (Ver Fig. 9). As
bolas quicam umas nas outras elasticamente, de tal forma que a que está entrando é desviada por
um ângulo θ (ver Fig. 10). Como podemos escrever as equações?
Se Fext = 0, então P⃗ é constante. Como se trata de uma colisão elástica, então temos conservação
de energia cinética também.

Figura 9: Exemplo de uma colisão bidimensional antes do contato

Figura 10: Exemplo de uma colisão bidimensional após o contato

Então, podemos escrever a conservação do momento em função dos parâmetros x e y.

Página 8
Para a componente x:
mv1i = m1 v1f cosφ + m2 v2f cosθ
Para a componente y:
0 = m1 v1f sinφ + m2 v2f sinθ

Página 9
Vetores e Cinemática Vetorial
Gabriel Silva - Projeto Olı́mpicos

1. Introdução
A motivação para o estudo dos vetores e da cinemática vetorial nasce a partir de uma necessi-
dade de descrever de corpos, objetos, ou o que seja que esteja ao nosso arredor de maneira mais
precisa. Suponha, por exemplo, que Joãozinho (famoso Joãozinho da OBMEP) esteja perdido no
centro de sua cidade e queira chegar até a universidade local, então ele decide pedir uma informação
e a pessoa gentilmente diz: “Basta você subir cinco quarteirões e depois dobre a direita”, perceba
que a linguagem utilizada para descrever, é a linguagem vetorial. Tendo isso em vista, espero que
no final desta aula, você consiga interpretar e utilizar dessa linguagem matemática.

2. Vetores
Antes de definir propriamente dito, o que seria um vetor, primeiro devo-lhe apresentar a noção
de grandezas escalares e vetoriais. Define-se uma grandeza escalar, como um número (módulo)
acompanhado por uma unidade de medida correspondente, por exemplo: temperatura, densidade,
volume, etc., percebe-se que para a interpretação de uma grandeza escalar, basta o seu valor
numérico e uma unidade de medida correspondente. Por outro lado, as grandezas vetoriais ne-
cessitam de mais informações, o que chamamos de direção e sentido. Não confunda direção com
sentido, podemos pensar que a direção corresponde a uma linha imaginária qualquer que liga um
ponto a outro, e a esta direção, temos associado dois sentidos - supondo que a reta imaginária
esteja no eixo x, o sentido seria direita ou esquerda.
Ora pois! O que seria um vetor? Definimos um vetor como um ente matemático constituı́do de
módulo, direção e sentido. Com o auxı́lio deste conceito, seremos capazes de descrever movimentos
em mais de uma dimensão com uma maior facilidade.

2.1 Conceitos iniciais importantes


2.1.1 Vetor Deslocamento
O vetor deslocamento, é definido como o segmento de reta obtido através da diferença entre a
posição final e inicial do corpo a ser analisado. Então se imaginarmos que Joãozinho esteja parado
Ð→
no ponto A (Figura 1) e queira ir até o ponto B indicado, isso corresponde ao vetor AB. Portanto,
basta fazer a diferença entre os pontos A e B, porque ele teria que percorrer diferença dos pontos
na horizontal (xa e xb ) e em seguida, o mesmo se aplicaria na vertical (ya e yb ), isto é, em termos
matemáticos, temos:

(xb − xa ; yb − ya ) (I)

Página 1
Ð→
Figura 1: Vetor deslocamento AB

2.1.2 Módulo de um Vetor


O módulo de um vetor u⃗ corresponde ao seu valor numérico que expressa o comprimento do
segmento de reta orientado. A ideia é encontrar uma equação geral para obter o módulo de
qualquer vetor, para isso, iremos trabalhar com vários triângulos no R3 (Figura 2) e a partir disso
chegar numa equação.

Figura 2: Módulo de um vetor


Ð→
Olhando para o ∆OGF, podemos aplicar um Pitágoras e obter o módulo do vetor OF :
Ð→
∣OF 2 ∣ = yu2 + zu2
Fazendo o mesmo procedimento para o ∆OFP, temos:

Página 2
Ð→ Ð→
u∣2 = ∣OF ∣2 + ∣F P ∣2
∣⃗
Ð→
Mas sabemos que ∣F P ∣2 é igual a x2u , então substituindo e tirando a raiz de ambos os lados,
ficamos com: √
u∣ = x2u + yu2 + zu2
∣⃗ (II)

2.2 Operações com Vetores


Da mesma forma que a partir de grandezas escalares somos capazes de realizar operações, é
claro que o mesmo se aplica para grandezas vetoriais, entretanto não podemos efetuar essas tais
operações da mesma maneira, tendo em vista que vetores possuem módulo, direção e sentido, e
são descritos a partir de coordenadas no espaço.

2.2.1 Soma Vetorial


1. Regra da Poligonal
Ð
→ Ð →
Supondo que temos dois vetores quaisquer A e B , e queremos efetuar esta soma vetorial. Para
Ð
→ Ð→
isto, devemos posicionar o vetor A de modo que coloquemos a origem do vetor B na extremidade
do primeiro vetor (Figura 3), dessa maneira, teremos um ângulo θ entre eles, e o vetor soma, seria
Ð
→ Ð
→ Ð→
a origem do vetor A até a extremidade do vetor B , que chamaremos de AB. Feito isto, observe
que temos uma figura geométrica em que conhecemos dois lados e um ângulo, portanto, podemos
aplicar a lei dos cossenos — constate a demonstração desta lei em Apêndices.

Ð→
Figura 3: Vetor posição AB obtido a partir da soma vetorial

Esta maneira de somar vetores também é chamada como “regra do paralelogramo”, pois se
tivermos dois vetores quaisquer w⃗ e p⃗ e encaixe a origem do vetor p⃗ na extremidade do vetor
w⃗ (Figura 4) e sabemos que um vetor pode ser transportado, desde que ele mantenha o seu
módulo, direção e sentido, assim ele será o mesmo vetor, portanto se transportamos os vetores w⃗
e p⃗ paralelamente, o vetor soma será construı́do com a sua origem em um ponto qualquer e sua
extremidade será do segundo vetor.

Página 3
Figura 4: Soma do vetor w⃗ + p⃗ através da regra do paralelogramo

2. Representação Geométrica

Imagine que Joãozinho queira sair do ponto A (Figura 5) e andar até o ponto B, depois até o
ponto C, isto é, queremos somar os vetores u⃗ e v⃗. Assim fica fácil, pois já sabemos encontrar o
vetor deslocamento a partir de suas coordenadas, então podemos fazer a diferença entre os pontos
B e A, e dos pontos C e B, e a partir disso, somar as suas coordenadas.

u⃗ = (xb − xa ; yb − ya )
v⃗ = (xc − xb ; yc − yb )

Agora, basta somar em função das componentes de cada coordenada:

u⃗ + v⃗ = (xc − xa ; yc − ya ) (III)

Figura 5: Soma do vetor u⃗ + v⃗

Página 4
2.2.2 Multiplicação por um escalar
Podemos definir um escalar como um número qualquer. Neste caso, multiplicaremos um escalar
α por um vetor u⃗, para isto, devemos claro, multiplicar todas as componentes das coordenadas do
vetor u⃗ pelo escalar α, isto é, em termos matemáticos:

w⃗ = α ⋅ u⃗ = (α ⋅ ux ; α ⋅ uy ; α ⋅ uz ) (IV)

2.2.3 Negativa de um vetor


O negativa de um vetor, consiste em multiplicar um vetor qualquer t⃗ por um escalar negativo
−β, então basta realizar o mesmo procedimento anterior. Ao fazer isso, você irá notar que o sentido
do vetor irá trocar, porque todas as componentes da coordenada, estará sendo multiplicada por
um escalar negativo.

2.2.4 Subtração Vetorial (Representação geométrica)

Dados dois vetores quaisquer k⃗ e d⃗ e queremos determinar a diferença entre esses dois vetores:
⃗ d),
(k− ⃗ basta pegar o primeiro pegar e fixá-lo e multiplicar o segundo vetor por −1, porque queremos
o vetor diferença, então a ideia seria multiplicar o mesmo por −1 e somar os dois vetores a partir
da regra do paralelogramo, isto é:

p⃗ = k⃗ + (−d)
⃗ (V)

2.2.5 Decomposição dos vetores em eixos


Suponha que temos um vetor qualquer v⃗ no espaço e que seja de alguma utilidade ter esse vetor
em função do eixo x ou y. Como podemos decompor este vetor? Simples, observe a Figura 6 e
note o ângulo θ que temos entre o vetor v⃗ e os eixos.

Figura 6: Decomposição vetorial

Página 5
A partir desta figura, podemos encontrar o vetor v⃗ no eixo x e y:
v⃗y
sinθ =
v⃗
v⃗x
cosθ =
v⃗

v⃗x = v⃗ ⋅ cos(θ) (VI)

v⃗y = v⃗ ⋅ sin(θ) (VII)


Mas supondo que seja importante encontrar o vetor resultante e temos apenas v⃗x e v⃗y , basta
notar que a na Figura 6, temos um triângulo retângulo, então aplicando o teorema de Pitágoras:

v 2 = vx2 + vy2 (VIII)

2.2.6 Vetores unitários (Versores)


Definimos um vetor unitário como um vetor de módulo 1 que aponta para uma dada direção.
Denotamos os vetores unitários da direção x, y e z, respectivamente como, î, ĵ e k̂.

Figura 7: Versores no R3

Os versores têm uma grande importância para a Fı́sica, pois nos permite escrever muitas
equações de maneira reduzida, observe no Apêndice, na dedução da aceleração centrı́peta, que eu
escrevi a decomposição do vetor posição r⃗ em x e y e a partir dos vetores unitários, eu consegui
reescrever aquelas duas equações em apenas uma, simplificando as contas.

Página 6
2.2.7 Produto Escalar
2.2.7.1 Método Algébrico

O produto escalar consiste no produto entre dois vetores que irá resultar um escalar (por isso
o nome produto escalar). Denotamos o produto escalar como:

⃗ ⋅ ⃗b = ⟨⃗
a a, ⃗b⟩
Para determinar o produto escalar, basta multiplicar cada componente da coordenada pela
outra e depois somar, isto é, trata-se de uma soma dos produtos das respectivas coordenadas de
cada vetor.

a, ⃗b⟩ = (xa ; ya ; za )(xb ; yb ; zb )


⟨⃗

a, ⃗b⟩ = xa ⋅ xb + ya ⋅ yb + za ⋅ zb
⟨⃗ (IX)
O produto escalar tem algumas consequências importante dessa sua definição, irei listar cada
uma delas, tente demonstrar cada uma delas.

u∣2
1. u⃗ ⋅ u⃗ = ∣⃗

2. u⃗ ⋅ w⃗ = w⃗ ⋅ u⃗

3. u⃗ ⋅ (⃗
v + w)
⃗ = u⃗ ⋅ v⃗ + u⃗ ⋅ w⃗

2.2.7.2 Método Geométrico

O produto escalar também possui uma interpretação geométrica, assim como a soma vetorial.
A versão geométrica do produto escalar é expressa como:

u⃗ ⋅ v⃗ = ∣⃗
u∣ ⋅ ∣⃗
v ∣ ⋅ cos(θ)

Figura 8: Produto Escalar (Método Geométrico)

Ora pois! Temos acima a Figura 8, será que dará bom se aplicarmos uma lei dos cossenos ali?
Descobriremos a seguir:

Página 7
u − v⃗∣2 = ∣⃗
∣⃗ u∣2 + ∣⃗
v ∣2 − 2 ⋅ ∣⃗
u ⋅ ∣⃗
v ∣ ⋅ cos(θ)
u − v⃗)(⃗
(⃗ u − v⃗) = u⃗ ⋅ u⃗ + v⃗ ⋅ v⃗ − 2 ⋅ ∣⃗
u ⋅ ∣⃗
v ∣ ⋅ cos(θ)
u⃗ ⋅ u⃗ + v⃗ ⋅ v⃗ − 2 ⋅ u⃗ ⋅ v⃗ = u⃗ ⋅ u⃗ + v⃗ ⋅ v⃗ − 2 ⋅ ∣⃗
u ⋅ ∣⃗
v ∣ ⋅ cos(θ)
−2 ⋅ u⃗ ⋅ v⃗ = −2 ⋅ ∣⃗
u ⋅ ∣⃗
v ∣ ⋅ cos(θ)
Como sabemos pela propriedade 2, o produto escalar ele é comutativo, dividindo ambos os
lados por −2:
u⃗ ⋅ v⃗ = ∣⃗
u∣ ⋅ ∣⃗
v ∣ ⋅ cos(θ) (X)

2.2.8 Produto Vetorial


O produto vetorial, como o próprio nome sugere, corresponde ao produto entre dois vetores
que irá resultar outro vetor. A notação utilizada para expressar o produto vetorial é:

u⃗ × v⃗

Figura 9: Regra da mão direita - Produto Vetorial

A regra da mão direita é um bizu criado pelo engenheiro eletricista John Ambrose Fleming,
que nos aponta a direção e o sentido do produto vetorial, funciona da seguinte forma: você irá
com sua mão direita (obviamente kk) apontar o seu dedo indicador ao primeiro vetor e o dedo do
meio ao segundo (como indica a figura 9) e ao esticar o dedão, teremos a direção e o sentido do
produto vetorial.
O produto vetorial é dado por:
u × v⃗∣ = ∣⃗
∣⃗ u∣∣⃗
v ∣sin(θ) (XI)
Propriedades:

1. u⃗ × v⃗ = -(⃗
v × u⃗)

2. u⃗ × (⃗
v + w⃗ = u⃗ × v⃗ + u⃗ × w⃗

3. u⃗ × k⃗
v = (k ⋅ u⃗) × v⃗ = k ⋅ (⃗
u × v⃗)

Página 8
3. Cinemática Vetorial
Assim como a cinemática escalar que tem como objeto de estudo a descrição de corpos, sem se
preocupar com as causas que levaram ao movimento ou repouso, a dita cuja, cinemática vetorial,
considera o mesmo objetivo, entretanto, utiliza dos vetores para uma descrição mais abrangente.

3.1 Deslocamento Vetorial


Considere uma partı́cula que se move de maneira não uniforme (Figura 10 — imagem retirada
do livro “Tópicos de Fı́sica”), em que os pontos P1 e P2 corresponde ao vetor posição da particular
nos instantes t1 e t2 . O deslocamento vetorial corresponde aos segmentos d⃗ indicado na figura, esse
vetor é descrito como a diferença vetorial entre r⃗2 e r⃗1 .

Figura 10: Deslocamento Vetorial

O vetor posição é dado pela coordenadas:

r⃗ = xî + y ĵ + z k̂
∆⃗
r = (xb − xa )î + (yb − ya )ĵ + (zb − za )k̂
∆⃗
r = ∆xî + ∆y ĵ + ∆z k̂

Portanto, o deslocamento vetorial é dado por:

d⃗ = (xb − xa )î + (yb − ya )ĵ + (zb − za )k̂ (XII)

3.2 Velocidade vetorial média e instantânea


A definição matemática de velocidade vetorial média é:

d⃗ r⃗2 − r⃗1
v⃗m = = (XIII)
∆t t2 − t1

Página 9
Podemos reescrever essa velocidade em função dos vetores unitários, obtendo:

(xb − xa )î + (yb − ya )ĵ + (zb − za )k̂


v⃗ =
t2 − t1
Se comparamos os módulos da velocidade vetorial média e da velocidade escalar, notaremos
que o módulo da velocidade vetorial média será menor ou igual ao módulo da velocidade escalar,
porque se observamos na figura 10, a distância d⃗ é menor ou igual ao ∆S, já que a distância em
tracejado corresponde a variação do espaço, logo:

vm ∣ ≤ ∣vm ∣
∣⃗

Quando estivermos falando da velocidade de uma partı́cula em modo geral, ou seja, sua velo-
cidade em um dado instante, estamos falando da velocidade instantânea da partı́cula, nesse caso,
devemos considerar o limite de ∆t tendendo a zero, dessa forma, teremos:
d⃗
r
v⃗ =
dt

3.3 Aceleração vetorial média e instantânea


Tendo um corpo qualquer para análise, se sua velocidade varia de v1 para v2 durante um
intervalo de tempo ∆t, dizemos que este corpo possui aceleração. A definição matemática de
aceleração média é dada por:
v⃗2 − v⃗1 ∆⃗v
a
⃗m = = (XIV)
∆t ∆t
Quando consideramos ∆t tendendo a zero em relação a um certo instante, temos a aceleração
instantânea daquele corpo.
d⃗
v
a
⃗=
dt
Caso o módulo ou a orientação da velocidade do corpo em análise varia (ou se ambos variam),
a partı́cula possui uma aceleração. Nesse caso, podemos reescrever a equação acima em função
dos vetores unitários e obtemos:
d
a
⃗= (vx î + vy ĵ + vz k̂)
dt
dvx dvy dvz
= î + ĵ +
dt dt dt

3.4 Velocidade relativa, de arrastamento e resultante


Imagina a seguinte situação, temos um barco em um rio (Figura 11 - imagem retirada do livro
“Tópicos de Fı́sica”) e a este barco, temos uma velocidade relativa (⃗
vrel ) que seria o movimento
provocado pelo motor em relação à correnteza e a velocidade de arrastamento que é provocado
pela correnteza (⃗varr ).

Página 10
Figura 11: Velocidade Relativa

Como às duas velocidades possuem o mesmo sentido, então podemos simplesmente somar essas
velocidades, isto é:
v⃗res = v⃗rel + v⃗arr (XV)
Caso o barco estivesse navegando em sentido contrário ao da correnteza, deverı́amos subtrair
uma velocidade da outra.

4. Problemas
Problema 1. (Unicamp-SP) A figura abaixo representa um mapa da cidade de Vectoria o qual
indica o sentido das mãos do tráfego. Devido ao congestionamento, os veı́culos trafegam com a
velocidade média de 18 km/h. Cada quadra dessa cidade mede 200 m por 200 m (do centro de uma
rua ao centro da outra rua). Uma ambulância localizada em A precisa pegar um doente localizado
bem no meio da quadra em B, sem andar na contramão.

a) Qual é o menor intervalo de tempo gasto (em minutos) no percurso de A para B?


b) Qual é o módulo do vetor velocidade média (em km/h) entre os pontos A e B?

Problema 2. (Olimpı́ada Brasileira de Ciências - Primeira Fase) Uma partı́cula parte do ponto
A e percorre uma trajetória constituı́da de duas semicircunferências de raio R = 5,0m, atingindo
o ponto B. O intervalo de tempo transcorrido nesse percurso foi de 20s. Adote π = 3.

Página 11
A velocidade escalar média e o módulo da velocidade vetorial média no percurso AB são, respec-
tivamente, iguais a:
a) 0,75m/s e 0,75m/s
b) 1,0m/s e 0,75m/s
c) 1,0m/s e 1,5m/s
d) 1,5m/s e 1,0m/s
e) 1,5m/s e 1,5m/s

Problema 3. (Tópicos de Fı́sica) Uma balsa percorre o Rio Cuiabá de Porto Cercado a Porto
Jofre (Pantanal mato-grossense), gastando 9,0 h na descida e 18 h na subida. O motor da balsa
funciona sempre em regime de potência máxima, tal que a velocidade da embarcação em relação
às águas pode ser considerada constante. Admitindo que a velocidade das águas também seja
constante, responda: quanto tempo uma rolha, lançada na água em Porto Cercado e movida sob
a ação exclusiva da correnteza, gastará para chegar até Porto Jofre?

Problema 4. (UFBA) Um barco vai de Manaus até Urucu descendo um rio e, em seguida, retorna
à cidade de partida, conforme esquematizado na figura.

A velocidade da correnteza é constante e tem módulo vC em relação às margens. A velocidade


do barco em relação à água é constante e tem módulo vB . Desconsiderando-se o tempo gasto na
manobra para voltar, a velocidade escalar média do barco, em relação às margens, no trajeto total
de ida e volta tem módulo dado por:
VB + VC
a)
2
VB − VC
b)
2

Página 12

c) VB ⋅ VC
V 2 + VC2
d) B
VB
V − VC2
2
e) B
VB

Problema 5. (Renato Brito - Saraeva) Um barco a motor, que ia subindo um rio, encontrou uma
balsa que se movia no sentido da correnteza. Após uma hora do encontro, o motor do barco parou.
O conserto do motor durou 30 min e durante esse tempo o barco moveu-se livremente no sentido
da corrente. Depois do conserto, o barco começou a se mover na direção da corrente, seguindo rio
abaixo com a mesma velocidade relativa à água e encontrou a balsa a uma distância de 7,5 km em
relação ao primeiro encontro. Determine a velocidade da correnteza.

a) 5km/s
b) 4km/s
c) 3km/s
d) 2km/s
e) 6km/s

Problema 6. (Renato Brito) A figura mostra em escala a velocidade vetorial de dois navios A
e B que se movem com velocidade constante num oceano de águas paradas. Pede-se determinar
qual a menor distância entre os navios durante essa travessia, em km. Cada célula quadrada tem
lado 10 km.

Problema 7. (Renato Brito) No instante t = 0 s, uma canoa e uma lancha passam, respectiva-
mente, pelos pontos A e B da água de um lago, movendo-se com velocidades constantes Vc e VL
conforme mostra a figura. Determine qual será a mı́nima distância entre a canoa e a lancha e após
quanto tempo elas estarão em tal situação.
Dados: α = β = 60○ , Vc = 40km/h, VL = 80km/h, AB = 20km.

Página 13
Problema 8. (Renato Brito) Um rio de margens paralelas tem uma correnteza de velocidade 6
m/s. Um piloto de uma lancha desejando ir de uma margem à outra, orienta o eixo do navio
perpendicularmente às margens do rio e segue viagem, com o seu velocı́metro indicando uma
velocidade de 8 m/s. Se a distância de uma margem a outra é de 24 m, calcule:

a) a rapidez da lancha em relação às margens do rio;


b) o intervalo de tempo da travessia;
c) a distância percorrida pela lancha; e
d) o deslocamento da lancha, rio abaixo.

Página 14
5. Gabarito
Problema 1. a) 3,0 minutos.
b) 10 km/h.

Problema 2. Letra D.

Problema 3. 36 horas.

Problema 4. Letra e.

Problema 5. Letra c.

Problema 6. Dmin = 96km

Problema 7. Dmin = 10Km e ∆t = 15min

Problema 8. a) v = 10m/s
b) t = 3 segundos
c) dy = 30 metros
d) dx = 18 metros

Página 15
6. Apêndice
6.1 Dedução da Lei dos Cossenos
A lei dos cossenos no diz que em um triângulo qualquer (Figura 12), se tivermos dois lados e
um ângulo entre eles, somos capazes de determinar o terceiro lado utilizando a seguinte equação:
c2 = a2 + b2 − 2 ⋅ a ⋅ b ⋅ cos(γ)

Figura 12: Triângulo

Nossa missão é a partir deste triângulo encontrar a ralação apresentada acima.


Perceba que temos um triângulo maior ∆ABC, que a partir de sua altura h deste triângulo,
conseguimos dividi-lo em outros dois triângulos menores ∆ACD e ∆BCD. Então utilizando as
relações trigonométricas nos triângulos, temos:
m
1. cos(γ) = ⇒ m = b ⋅ cos(γ);
b
2. n = a − m ⇒ n = a − b ⋅ cos(γ);
h
3. sin(γ) = ⇒ h = b ⋅ sin(γ); e
b
4. c2 = n2 + h2 .
Mas sabemos que:
n2 = (a − b ⋅ cos(γ))2 e que h2 = b2 ⋅ sin(γ)
Logo:
c2 = a2 − 2 ⋅ a ⋅ b ⋅ cos(γ) + b2 ⋅ cos2 (γ)2 + b2 ⋅ sin2 (γ)
c2 = b2 ⋅ (cos2 (γ) + sin2 (γ) + a2 + b2 − 2 ⋅ a ⋅ b ⋅ cos(γ)
Pela relação fundamental de trigonometria: cos2 (γ) + sin2 (γ) = 1, obtemos:

c2 = a2 + b2 − 2 ⋅ a ⋅ b ⋅ cos(γ) (XVI)

Página 16
6.2 Dedução da Lei dos Senos
A lei dos senos é uma ferramenta muito poderosa que relaciona diferentes lados, com diferentes
ângulos. Esta lei é expressa da seguinte forma:

a b c
= = (XVII)
sin(α) sin(β) sin(γ)

Nosso objetivo é chegar na equação apresentada acima, a partir de um triângulo qualquer


(Figura 13). Para isto, devemos relacionar os ângulos β e γ com os seus lados a partir das relações
trigonométricas.

Figura 13: Triângulo 02

h
1. sin(γ) = ⇒ h = b ⋅ sin(γ)
b
h
2. sin(β) = ⇒ h = c ⋅ sin(β)
c
Então percebe-se que a partir dessas relações, chegamos que:

b ⋅ sin(γ) = c ⋅ sin(β)

Logo, manipulando a expressão, conseguimos obter que:


b c
=
sin(β) sin(γ)
a
Para provar que toda aquela expressão é igual a , basta traçar uma altura relativa ao
sin(α)
ponto B e realizar os mesmos procedimentos. Demonstre isso!

6.3 Dedução da Aceleração Centrı́peta


Em primeiro lugar, devemos saber a diferença entre a aceleração tangencial e centrı́peta. Na
verdade, sabemos que a aceleração é um vetor e pode ser quebrado numa soma entre a aceleração
tangencial e centrı́peta, isto é: a
⃗=a
⃗cp + a
⃗t

Página 17
A aceleração tangencial é responsável pela variação do módulo do vetor velocidade. Por outro
lado, a aceleração centrı́peta é responsável pela variação da direção do vetor velocidade, sendo a
responsável pelo corpo fazer curvas.
Imagine que em uma circunferência de raio r, tenhamos um corpo no ponto A e começa a se
mover e chega até o ponto B (Figura 14).

Figura 14: Circunferência de raio r

Pela definição da circunferência, temos que a distância do centro até o ponto B é o vetor raio,
que podemos decompor em:
r⃗x = r⃗ ⋅ cos(α)
r⃗y = r⃗ ⋅ sin(α)
Além disso, podemos a partir dos versores unitários, unir essas duas equações apresentadas, em
apenas uma:
r⃗ = r ⋅ cos(α)î + r ⋅ sin(α)ĵ
Se derivarmos o vetor posição em relação ao tempo, temos:
d⃗
r d(α) d(α)
v⃗ = = −r ⋅ sin(α) ⋅ î + r ⋅ cos(α) ⋅ ĵ
dt dt dt
d(α)
Mas sabemos que = ω, portanto, se substituirmos, temos:
dt
v⃗ = −ω ⋅ r ⋅ sin(α)î + ω ⋅ r ⋅ cos(α)ĵ

A expressão que acabamos de encontrar nos permite encontrar a velocidade em qualquer ponto
π π π
da trajetória, supondo que α seja , temos que cos ( ) = 0 e sin ( ) = 1, ora pois, então o corpo
2 2 2
estará a 90° no sentido do ponto A, com uma velocidade igual a −ω ⋅ r.
Nesse caso, derivamos o vetor posição uma vez e encontramos a velocidade, entretanto, estamos
em busca da aceleração, para isto, basta derivar novamente em função do tempo.
d⃗
v
a
⃗= = −ω 2 ⋅ r ⋅ cos(α)î − ω 2 ⋅ r ⋅ sin(α)ĵ
dt

Página 18
Na equação de cima efetuei tudo direto, mas, na verdade, como ω ⋅ r é uma constante, então ele
irá sair da derivada e teremos apenas a derivada em relação ao sin(α) que é cos(α) e como estamos
derivando em relação ao tempo, devemos multiplicar pela derivada do argumento em relação ao
tempo, por isso temos um ω 2 .
Podemos fatorar a equação encontrada e deixar em função do −ω 2 , ou seja,

⃗ = −ω 2 ⋅ (⃗
a r ⋅ cos(α)î + r ⋅ sin(α)ĵ)

Percebeu algo curioso? Justamente o que temos no argumento, é o vetor posição que demons-
tramos anteriormente, logo podemos escrever esta equação em função dele:

⃗ = −ω 2 ⋅ r⃗
a
Como nesse caso, não temos a aceleração tangencial, acabamos de demonstrar a aceleração
centrı́peta, basta tirar o módulo de ambos os lados e lembrar que v = ω ⋅ r, então, podemos concluir
que:
v2
acp = (XVIII)
r

Página 19

Você também pode gostar