Anotações Sobre Poder Constituinte - Direito Constitucional

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As nações, no decorrer da história, passam por diversas constituições, como é o caso

do Brasil, que está em sua sétima – ou oitava, caso se considere a Emenda n. 1 à Constituição
Federal de 1967, outorgada pela junta militar. Os Estados Unidos, por outro lado, ainda mantêm
em vigor a Constituição de 1787. O fato é que, independente de onde se vive, a vida em
sociedade é dinâmica e por isso as constituições precisam se adequar a essas mudanças, seja
pela introdução de emendas ou pela elaboração de uma nova.
É dessa necessidade que surge o Poder Constituinte, que, segundo César Gregório
Junior, “é aquele capaz de editar uma Constituição, estabelecendo uma organização jurídica
fundamental, dando forma ao Estado, constituindo poderes e criando normas de exercício de
governo, tal qual o estabelecimento de seus órgãos fundamentais, os limites da sua ação e as
bases do ordenamento econômico e social.”
O Poder Constituinte se subdivide em originário e derivado (ou decorrente); ao
primeiro é incumbida a tarefa de elaborar uma nova Constituição; ao segundo, de reformar a
Constituição vigente.

O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO


Têm como objetivo estabelecer um novo Estado, diferente do que vigorava
anteriormente. No Brasil, a Constituição de 1988 veio como resposta ao regime antidemocrático
que vigorava durante a Ditadura Militar. Eis o seu preâmbulo:
"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

Dele extraímos princípios norteadores do novo ordenamento jurídico, assim como a


necessidade de assegurar direitos fundamentais, que por tanto tempo foram suprimidos no
regime anterior. A Constituição brasileira de 1988 foi elaborada durante a quarta geração de
direitos, que é marcada pelos avanços sociais. Isso explica a sua extensão, já que se preocupou
com muitos temas, principalmente os direitos humanos.
Sobre esse objetivo de criar um novo Estado, Temer traz o seguinte conceito:
“ressalte-se a ideia de que surge novo Estado a cada nova Constituição, provenha ela
de movimento revolucionário ou de assembleia popular. O Estado brasileiro de 1988
não é o de 1969, nem o de 1946, o de 1937, de 1934, de 1891, ou de 1824.
Historicamente é o mesmo. Geograficamente pode ser o mesmo. Não o é, porém,
juridicamente. A cada manifestação Constituinte, editora de atos constitucionais
como Constituição, Atos Institucionais e até Decretos (veja-se o Dec. n. 1, de
15.11.1889, que proclamou a República e instituiu a Federação como forma de
Estado), nasce o Estado. Não importa a rotulação conferida ao ato constituinte.
Importa a sua natureza. Se dele decorre a certeza de rompimento com a ordem
jurídica anterior, de edição normativa em desconformidade intencional com o texto
em vigor, de modo a invalidar a normatividade vigente, tem-se novo Estado.”

O Poder Constituinte Originário se divide em histórico e revolucionário. O histórico


é aquele que instituiu pela primeira vez o Estado. O revolucionário, aquele que rompe com o
ordenamento anterior, criando uma nova ordem; esse poder é ilimitado, sendo os constituintes
livres para estabelece-lo como bem entender. A titularidade do Poder Constituinte Originário
em um Estado democrático é o povo, exercido por seus representantes.

O PODER CONSTITUINTE DERIVADO


O Poder Constituinte Derivado é aquele estabelecido na Constituição pelo Poder
Originário. Os constituintes sabiamente criam mecanismos de alteração da Constituição para
que ela se adeque a novas realidades, sem, contudo, abrir mão de direitos fundamentais que os
constituintes entenderam como irrenunciáveis. Assim, há limites para esse poder, e nem todos
os aspectos da Constituição de 1988 podem ser mudados. Subdivide-se em reformador,
decorrente e revisor.
O poder constituinte derivado reformador
O poder reformador altera e amplia o texto constitucional através das emendas e dos
Tratados de Direitos Humanos. É exercido pelo Congresso Nacional, que deve obedecer aos
limites impostos pelo poder originário, bem como ritos específicos, para que tenha legitimidade.
Assim, a Constituição Federal estabelece, em seu art. 60, a quem compete a iniciativa de
emenda:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

No parágrafo segundo do art. 60 tem-se as disposições sobre a deliberação, que deve


ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, sendo necessário
obter três quintos dos votos dos respectivos membros. O parágrafo terceiro do mesmo artigo
estabelece que a promulgação de emenda será feita pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, respeitando-se o respectivo número de ordem.
Como dito acima, o poder reformador é limitado pelo poder originário, e é no parágrafo
quarto do art. 60 que a Constituição de 1988 estabelece aquilo que não é passível de alteração,
as chamadas cláusulas pétreas:
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

O poder constituinte derivado revisor


A Constituição Federal de 88, no art. 3⁰ da ADCT, previu que passados 5 anos de sua
promulgação, o Congresso Nacional poderia modifica-la por meio de um processo dificultoso.
Seu poder já foi esgotado e dele foram feitas seis emendas constitucionais.
O poder constituinte derivado decorrente
O poder decorrente é aquele conferido aos Estados-membros para que criem suas
próprias constituições, respeitada a supremacia da Constituição Federal. As constituições
estaduais deveriam ser elaboradas dentro do prazo de um ano após a promulgação da
Constituição Federal. O Distrito Federal é exceção, pois tem organização regida por leis
orgânicas.

O PODER CONSTITUINTE DIFUSO


A doutrina fala ainda do poder constituinte difuso, que trata do fenômeno da mutação
constitucional. Por meio dela atribui-se novas interpretações aos dispositivos da CF, sem, no
entanto, modificar o seu texto. É consequência das novas realidades que vem a surgir, as quais
não foram previstas e também de novas visões jurídicas acerca de um tema do Direito.
REFERÊNCIAS
COSTA. Saraiva Bruno. Uma nova constituinte ou apenas uma reforminha?. Conteúdo
Jurídico. Disponível em <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,uma-nova-constituinte-
ou-apenas-uma-reforminha,50014.html>. Acesso em: 13 set. 2018.

GREGÓRIO, César. O Poder Constituinte. Jus Navigandi. Disponível em


<https://jus.com.br/artigos/63100/poder-constituinte>. Acesso em: 12 set. 2018.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

QUEIROZ, Antônio Augusto de. Emendas à Constituição no Brasil e nos EUA. Portal
Vermelho. Disponível em
<http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=2328&id_coluna=9>. Acesso em:
12 set. 2018.

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