01 - O QUE É HERMENÊUTICA (Recuperação Automática)

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2022

HERMENÊUTICA

FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA


JOÃO RICARDO FERREIRA DE FRANÇA
Sumário
INTRODUÇÃO.................................................................................................................2

I – DEFINIÇÃO................................................................................................................2

2.1 – A Hermenêutica Bíblica.......................................................................................2

1.2 – Os Processos Hermenêuticos................................................................................4

a. Preparação..............................................................................................................4

b. Investigação............................................................................................................6

c. Aplicação...................................................................................................................7

II – A LEITURA E O PROCESSO HERMENÊUTICO..................................................7

III – A HERMENÊUTICA: GERAL E ESPECIAL.........................................................9

3.1 – A Hermenêutica Geral..........................................................................................9

3.2 – Hermenêutica Especial.........................................................................................9

IV – PRINCIPIOS BÁSICOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA................................10


O QUE É HERMENÊUTICA?

Rev. João França.

INTRODUÇÃO.

A tarefa do estudante de Teologia é Buscar compreender a revelação de Deus


dada e estruturada nas Escrituras. O alvo de tudo sempre é a glória de Deus, pois, se
empreendermos o estudo da revelação de Deus (o que é propriamente Teologia) nas
Escrituras, sem a devida consideração de que tudo deve ser feito para a glória de Deus,
nada fazemos. A multiplicidade de teologias presentes deve-se ao fato de que não tem
havido uma unanimidade na interpretação dos textos bíblicos; e isto, por sua vez é
resultado da falsa concepção de que o texto sagrado tem mais de uma interpretação.
Quem já ouviu a famosa frase: “Isto é o que significa para você, mas não tem o mesmo
significado para mim.”? Apela-se para a riqueza da Palavra de Deus para abusar-se nas
interpretações mais aberrantes possíveis.

Este curso visa apresentar ao aluno a importância e a necessidade do estudo da


Hermenêutica visando capacitar a igreja de Cristo a interpretar as Escrituras de modo
adequado, mas não somente disso, de um modo que Deus seja glorificado e santidade de
sua palavra seja evidenciada! Ressaltamos que a interpretação bíblica não é para
especialistas. Parece-nos que a Igreja evangélica categoriza esta disciplina como algo
pertencente ao seleto crentes seminaristas.

I – DEFINIÇÃO:

O uso da terminologia pode causa alguma confusão sobre o termo


“Hermenêutica”. Nesse primeiro momento consideraremos a definição básica daquilo
que entendemos por Hermenêutica Bíblica, e posteriormente, focalizaremos nossa
atenção em três processos hermenêuticos importantes.

2.1 – A Hermenêutica Bíblica.

A palavra Hermenêutica é uma palavra bastante comum nos estudos bíblicos e


teológicos em seminários e faculdades de teologia. A palavra “Hermenêutica” deriva de
uma família de palavras gregas relacionadas ao verbo grego “`Ermhneu,w”[hermeneo]
que significa “interpretar” ou “explicar” juntamente com os seus termos correlatos
“`hrmhnei,a, ‘interpretação’ diermhneu,w, ‘interpreto’, ‘significo’; meqaermhneu,w /
omai, ‘interpreto’, ‘significo’; e`rmhneuth,j, ‘intérprete’; e dusermh,neutoj, ‘de difícil
interpretação.”1
Friederich Schleiermacher (1768-1834) é considerado o pai da hermenêutica
moderna. Ele declarou que há uma necessidade de uma “hermenêutica geral”;
insistindo que “toda hermenêutica deve compartilhar um método comum de
interpretação”. Para Schleirmacher o que “possibilita a interpretação e a comunicação
não é a existência da verdade absoluta, mas fato de que somos todos humanos e
compartilhamos de um mesmo espírito”2 Vivemos um tempo quem a abordagem
hermenêutica se encontra basicamente em vários campos dos saberes acadêmicos. As
discussões hermenêuticas hoje aparecem na filosofia, pedagogia, literatura e até em
artes.
Entretanto, estamos interessados na chamada hermenêutica bíblica, que é o
estudo da interpretação do significado e importância das Escrituras para a vida cristã. O
Estudo sério da Palavra de Deus exige de cada um de nós um interesse pela
interpretação bíblica. Pois, esta disciplina pode nos ajudar na tarefa da exposição da
Palavra de Deus. “Até meados do século XIX, hermenêutica era uma disciplina
associada à pregação. Os
pregadores eram intérpretes por excelência das Escrituras.”3
A pergunta ainda persiste o que é hermenêutica? Virkler em sua obra sobre
hermenêutica apresenta a seguinte definição:
em seu significado técnico, muitas vezes se define a hermenêutica como a
ciência e arte de interpretação bíblica. Considera-se a hermenêutica como
ciência porque ela tem normas, ou regras, e essas podem ser classificadas
num sistema ordenado. É considerada como arte porque a comunicação é
flexível, e, portanto uma aplicação mecânica e rígida das regras às vezes
distorcerá o verdadeiro sentido de uma comunicação 4
Em síntese pode-se dizer que se trata de “uma codificação dos processos que
normalmente empregamos em um nível consciente para entender o significado de uma

1
ANGLADA, Paulo. Introdução à Hermenêutica Reformada – Correntes Históricas,
Pressuposições, Princípios e Métodos Linguísiticos. Ananindeua: Knox Publicações, 2006, p.21.
2
Apud, LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus Intérpretes – Uma Breve História da
Interpretação. São Paulo: Editora Cultura Cristã,2004,p.207
3
ANGLADA, Paulo. Introdução à Hermenêutica Reformada – Correntes Históricas,
Pressuposições, Princípios e Métodos Linguísiticos. Ananindeua: Knox Publicações, 2006, p.20.
4
VIRKLER, Henri. Hermenêutica – Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. [ hoje com o
título de Hermenêutica Avançada] Tradutor: Luiz Aparecido Caruso, São Paulo: Vida, 1987, p.9.
comunicação”5.Este tem sido o significado do termo “hermenêutica”. Em suma
podemos dizer que é “a disciplina que lida com os princípio de interpretação”.
1.2 – Os Processos Hermenêuticos.

No estudo da Bíblia sempre nos deparamos com o que costumamos chamar de


processos hermenêuticos. Uma vez que sabemos que a Hermenêutica é a arte e a
ciência da interpretação surge uma questão: como interpretamos? Para responder a esta
pergunta precisamos está consciente de que há três processos hermenêuticos
fundamentais na interpretação Bíblica que são eles:
1.Preparação
2. Investigação
3. Aplicação
Observemos o quadro abaixo para visualizar de forma geral estes processos
hermenêuticos que nos ajudam na interpretação das Escrituras:6

a. Preparação:

5
OSBORNE, Grent R. A Espiral Hermenêutica – um a nova abordagem à interpretação bíblica.
Tradução: Daniel Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2009,
p.25.
6
PRATT, JR. Richard. Ele nos deu Histórias. Tradução: Suzana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã,
2004, p.20.
Os processos hermenêuticos ocorrem antes de começarmos interpretar uma
porção das Escrituras. E, claro, isso significa que nos preparamos repetidamente, porque
lemos e estudamos a Bíblia repetidamente. Em um sentido muito importante, a
preparação é inevitável porque ninguém vem à Bíblia como uma tabula rasa – uma
lousa em branco. Todos nós abordamos as Escrituras influenciados por uma variedade
de conceitos, comportamentos e emoções.

Quer percebamos ou não, toda vez que começamos a ler a Bíblia, muitas
influências já nos prepararam para lidar bem com as Escrituras, mas outras influências
criaram obstáculos para uma interpretação bíblica sólida. Por essa razão, essas lições
ajudarão a nos preparar para interpretar a Bíblia da melhor maneira possível.

Este aspecto do processo hermenêutico dá-se mediante aquela pergunta quem


precisa de hermenêutica? Muitas pessoas sugerem que não precisam estudar com afinco
a Bíblia para poder compreendê-la uma vez que tudo na escritura é claro; os
“protestantes têm continuamente enfatizado a doutrina da perspicuidade ou clareza das
Escrituras"7 e com base nesta doutrina muitos cristãos tem abandonado o estudo sério
da Palavra de Deus. Ainda que seja verdadeira a doutrina da clareza das Escrituras a
tradição protestante reconhece que há pontos difíceis de interpretação na Palavra de
Deus, uma das declarações confessionais importantes do protestantismo, a Confissão de
Fé de Westminster, declara esta verdade:

Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do


mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser
obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da
Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos,
mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar
uma suficiente compreensão delas. (Confissão de Fé de Westminster,
capítulo 1.Seção VII, ênfase nossa)

A Escritura admite que há certa dificuldade no entendimento de verdades que


foram reveladas e que estão registradas. 2ª Pedro 3:15,16 aqui há um reconhecimento
por parte de um apóstolo de que existem textos de extrema complexidade para o
entendimento, e que muitos distorcem para sua própria condenação. Por isso, há uma
necessidade do estudo laborioso da Palavra.
Uma das formas pelas quais podemos nos preparar para o estudo sério da
Palavra de Deus é nos equiparmos de boa literatura especializada na intepretação,

7
KAISER, JR. Walter C; SILVA, Moisés . Introdução à Hermenêutica Bíblica. Tradução: Suzana
Klassen e outros. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.16
exegese, homilética. É no estudo sério das Escrituras que podemos conhecer mais sobre
Deus e sobre sua revelação; buscar, compreender a Palavra de Deus é fundamental para
todo teólogo e futuro pastor que estará dominicalmente ensinando a Bíblia à Igreja.
b. Investigação:

Neste processo hermenêutico nos concentramos em entender o mundo antigo no


qual o texto bíblico foi escrito. Nos concentraremos na intenção original que Deus
tencionou ao comunicar sua verdade ao autor bíblico. De muitas maneiras, toda vez que
lemos as Escrituras, não podemos deixar de lidar com o significado original pretendido
pelo autor. Walter C. Kaiser jr, citando um amigo, diz algo importante sobre esta
temática:
Bright foi ainda mais contundente ao apresentar uma proposição que
despertou uma explosão de protesto, mais uma preposição que eu defendo
como sendo a única saída de nossa complicação atual. Bright declarou:
‘Vamos dizer isto claramente: o texto tem apenas um significado, o
significado pretendido pelo seu autor; e há um único método para descobrir
este significado, o método histócio-gramatical’ 8
Por exemplo, se explorarmos a Bíblia em seus idiomas originais, temos que
levar em conta as normas linguísticas dos antigos textos hebraicos, aramaicos e gregos.
Mesmo que nos baseemos em uma tradução moderna da Bíblia, essa tradução é baseada
em avaliações dos significados antigos de termos e expressões gramaticais. Dessas e de
muitas outras maneiras, o significado original da passagem bíblica é sempre crucial para
sua interpretação.

E, vale salientar que isso significa “que os critérios para o entendimento do


significado intencional de um texto estão inseridos nele próprio .” 9 O sentido autoral
dever ser buscado na gramática e no contexto da passagem, pois, há passagens que usam
termos que no campo semântico podem oferecer uma distinção de sentido – sentido
logicamente pretendido pelo autor.
Também no processo hermenêutico da Investigação deve-se dá uma atenção as
línguas originais, entretanto, tenha em mente o conselho de Moisés Silva “não exagere a
importância das línguas bíblicas”, ao declarar isso, este erudito, não tenciona
menosprezar o estudo do hebraico ou do grego, mas fazer um alerta de que os
“estudantes do seminário são conhecidos por darem a impressão de qualquer um que

8
KAISER, JR. Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Tradução: Degmar Ribas. Rio Janeiro: CPAD, 2009, p. 15.
9
BRUGGEN, Jacob Van. Para Ler a Bíblia. Tradução: Thedoro J. Havinga. São Paulo: Cultura Cristã,
1998, p.21.
não estiver familiarizado com as línguas originais deve ser um cristão de segunda
categoria”.10

c. Aplicação.

O processo hermenêutico não inclui apenas preparação e investigação, mas


envolve também o processo de aplicação. Em termos simples, a aplicação equivale a
conectar corretamente o significado original com o público contemporâneo. Uma vez
que tenhamos entendido o significado original, viajamos através dos milênios até nossa
situação moderna. Na aplicação, refletimos sobre as maneiras pelas quais as Escrituras
devem se aplicar a nós como povo de Deus.
Mas antes de tudo devemos considerar o que não é aplicação?
Primeiro, a aplicação não é uma informação adicional— simplesmente
acrescentar mais fatos. Quer no trabalho de detetive quer no estudo da
Bíblia, reunir fatos é o início do processo, mas não o completa. Os fatos
precisam ser usados. Por exemplo, é bom saber que Mateus era um coletor de
impostos e que coletores de impostos conspiravam com Roma para se tornar
ricos, explorando seus contribuintes. Tais informações contextualizam
Mateus e nos ajudam a entender a Bíblia. Mas para que se torne útil, a
informação precisa ser combinada com a ação que o ouvinte possa realizar.
Segundo, a aplicação não é mera compreensão. Entender a verdade de Deus,
o passo que precisa seguir a coleta dos fatos, é vital. Precisamos saber o que a
Bíblia significa, não apenas o que ela diz. Novamente, entretanto, um sermão
deixado aqui é incompleto. Muitas pessoas entendem verdades bíblicas, mas
as verdades não fazem nenhum impacto na sua vida. Posso entender que
Jesus citou as Escrituras para conter os ataques de Satanás no deserto e que a
Palavra de Deus é poderosa. Terceiro, aplicar o texto não é apenas ser
relevante. A relevância explica como o que aconteceu nos tempos bíblicos
pode acontecer hoje. Por exemplo, podemos descrever Corinto como
semelhante a muitas cidades de hoje — selvagens e repletas de ídolos,
violência e imoralidade sexual. Uma descrição relevante pode nos deixar
mais abertos à aplicação. Mas esse passo é insuficiente, visto que ele não nos
diz o que podemos fazer em relação à situação que reconhecemos.
Finalmente, a ilustração — explicar como outra pessoa lidou com uma
situação similar— não se qualifica como aplicação. Ilustrações emitem luz
sobre uma passagem e nos mostram como outra pessoa aplicou a verdade a
sua vida. Mas isso permanece afastado do individual — de nós. Mas e daí?
Como eu farei isso na minha vida?11

Em termos práticos podemos dizer que se trata da conexão correta entre o


sentido original de uma passagem bíblica com o mundo contemporâneo. Mas, há
sempre o perigo de aplicarmos indevidamente a Palavra de Deus ao nosso mundo.
10
KAISER, JR. Walter C; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. Tradução: Suzana
Klassen e outros. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.52.
11
VEERMAN, David. APLICAÇÃO INTERNA Um método para se chegar à reação prática
requerida no texto IN: ROBISON, Haddon; LARSON, Graig Brain Org.. O Ofício da Pregação Bíblica.
São Paulo: Shedd Publicações, 2009,p. 348-349
A transposição do mundo do autor bíblico para o leitor contemporâneo ocorre na
aplicação pelo processo hermenêutico.

II – A LEITURA E O PROCESSO HERMENÊUTICO.


Outro aspecto importante a ser considerado no estudo introdutório à
Hermenêutica Bíblica é a compreensão da relação entre a leitura do texto e a
interpretação cognitiva.
No cenário atual tem havido a compreensão que existe “muitos modos ler a Palavra de
Deus”.12 Esta concepção pode ser ilustrada da forma que segue:

A leitura da Palavra de Deus muitas vezes entra no nível devocional que o


processo hermenêutico orante! Este é o modo “mais básico e espontâneo do contato
com a Bíblia”13 Também observamos que a leitura hermenêutica das Escrituras passa
pelo processo da liturgia e da pregação. Todos os textos lidos e usados na liturgia
tendem levar para a pregação. É uma leitura pastoral das Escrituras; outra forma, de se
ler a Escritura sagrada é catequética onde se faz uma litura dogmática ou doutrinária das
Escritura com a finalidade de fundamentar crenças importantes à fé cristã.
A leitura teológica envolve os saberes teológicos e especializados dos estudantes
de teologia cristã. Nesta leitura vemos o interesse direto pelo dogma, onde filosofia,
história e etc fazem parte ou abarcam esta forma de leitura bíblica.

12
SILVA, Cássio Murilo Dias da. Leia a Bíblia como Literatura. São Paulo: Edições Loyola, 2007,p.11
13
Ibid, p.12.
Na leitura exegética [consequentemente também hermenêutica] é um tipo de
leitura bíblica “mais analítica para a compreensão do texto bíblico em si mesmo.”14
Bem como a leitura histórica e antropológica da Bíblia nos fornece concepções
corretas sobre o mundo que nos cerca. Nossas leituras bíblicas estão envolvidas em
algum destes aspectos acima mencionados.

III – A HERMENÊUTICA: GERAL E ESPECIAL.

3.1 – A Hermenêutica Geral.

Nos compete agora considerar dois aspectos importantes sobre a Hermenêutica


em quanto disciplina. É a conhecida “Hermenêutica geral” e “Hermenêutica especial”.
Kuruvilla lembra-nos que na Hermenêutica geral o princípio norteador será sempre a
ideia de que “o discurso é o mediador entre a mente e o mundo; o que é pensado na
mente torna-se o que é expresso no mundo.”15
A perspectiva deste enunciado é possível porque a oralidade e escrita podem
caminhar juntas; embora, na hermenêutica contemporânea se propaga a ideia de que o
texto é distinto da intenção autoral, e por tanto, da intencionalidade oral (veremos este
assunto em outra ocasião); isto não nos deve levar ao desespero hermenêutico 16; pois,
um desligamento total da oralidade autoral e da escrita tornaria “inviável a
interpretação” ou o processo hermenêutico.17 A Hermenêutica geral que é aplicável a
qualquer texto se concentra nas discussões: Texto/Autor; Texto/ouvinte e por fim,
Texto/leitor.
No primeiro nível discute-se a mobilidade da oralidade do autor para construir o
texto, então, existe uma relação entre o texto e seu autor no que tange ao seu
significado; o segundo nível discute-se a relação agora do texto com seu ouvinte, ou
seja, a audiência original que teve o primeiro contato com o texto; e o terceiro nível é o
texto e o leitor posterior onde a audiência original do texto não se encontra e nem o seu
autor; deste último nível desdobra-se duas ideias importantes: (1) O leitor deve buscar o
sentido original do texto? (2) O leitor deve determinar o próprio sentido do texto?
3.2 – Hermenêutica Especial.
14
Idem
15
KURUVILLA, Abraham. O Texto Primeiro - Uma Hermenêutica Teológica para a Pregação.
Tradução: Sandra Salum Marra. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017, p.30.
16
Ibid, p.32
17
Idem.
Lidamos agora com aquilo que se conhece como Hermenêutica especial. Isso é
importante considerar porque a interpretação do livro sagrado da fé cristã tem regras
hermenêuticas específicas. “A Escritura, portanto, não deve ser negligenciada, mas lida,
e seu mundo projetado e apropriado.”18
Como discurso divino a Escritura deve ser trabalhada e interpretada tendo esse
pressuposto fundamental. Por isso devemos considerar alguns regras interpretativas da
Bíblia como palavra de Deus; estas regras nos ajudarão na compreensão adequada
daquilo que Deus revelou em seu livro santo. Consideremos resumidamente estas
regras:
(1) Exclusividade: Isto aponta que o objeto de nossa interpretada deva ser um livro
canônico (os 66 livros conforme conhecemos – 39 livros do Antigo Testamento
e 27 livros do Novo Testamento).
(2) Singularidade do texto: Esta regra certamente reclama a unidade singular da
Escritura como Palavra revelacional de Deus aos homens. Olhar o Antigo e o
Novo Testamentos no momento de um processo hermenêutico.
(3) Finalidade do texto: Aqui o interprete deve considerar a forma final do cânon.
Ou seja considerar a mensagem e a intencionalidade do autor do texto.
(4) Eclsisalidade: Se a nossa abordagem hermenêutica não considerar ou invalidade
a catolicidade da igreja deve-se considerar se a nossa interpretação está correta
ou não.
(5) Centralidade: Qual é o tema central de minha interpretação e de toda a leitura
das Escrituras? Me conduz à cristo? Ou me leva para longe dEle?
(6) Aplicabilidade: O processo hermenêutico não possui um fim em si mesmo!
Deve visar aplicar o ensino da Escritura e sua compreensão a comunidade
eclesiástica. Ou seja, a igreja deve ser edificada pelo processo de interpretação
que se faz do texto bíblico. Como isso pode ser feito? Pela exposição e ensino da
Palavra!I

IV – PRINCIPIOS BÁSICOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA.

Quais são os princípios de interpretação que deve guiar o estudante das


Escrituras Sagradas? Consideremos os princípios interpretativos das Escrituras
sagradas.
18
Ibid, p.60
a. Princípios Gerais:
1. Que tipo de Literatura estamos interpretando?
O primeiro principio interpretativo deve ser analisar a que tipo de literatura o
documento a ser interpretado pertence: (a) É uma narrativa?; (b) É uma poesia?; (c) É
uma epístola?; (d) É um Evangelho?; (e) É uma profecia?.
2. O Princípio da Auto-interpretação:
Um dos princípios perenes na Hermenêutica é “Scriptura, Scripturae interpres”
esta frase latina significa “A Escritura, interpreta a escritura”. A Palavra de Deus se
interpreta a si mesma. Um exemplo clássico deste principio está nos evangelhos com os
famosos textos sinóticos. Como vemos nos textos de Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21.
Nesta passagem lendo Mateus 24 para entender o que significa o “abominável da
desolação que falou Daniel” precisamos olha para Lucas 21 onde apresenta o
significado do abominável da desolação como uma referência a um exército inimigo.
Então, temo a Escritura interpretando a Escritura.
3. O Princípio da Analogia da Fé.
Nunca faça uma interpretação de um texto que contrarie um ensino geral de toda
a Escritura. Quando Paulo por exemplo afirma que o “Justo viverá por fé” ele não está
criando uma doutrina nova, ele segue o principio da analogia da fé em Habacuque 2.4.
b. Princípios Específicos:19
1. Quem escreveu/falou a passagem e para quem era endereçada?
2. O que a passagem diz?
3. Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precise ser examinada?
4. Qual é o contexto imediato?
5. Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro?
6. Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a
compreensão desta?
7. Qual é o fundo histórico e cultural?
8. Qual a conclusão que eu posso tirar desta passagem?
9. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras
ou com outras pessoas que já estudaram esta passagem?
10. O que eu posso aprender e aplicar à minha vida?

19
LOPES, Augustus Nicodemus. Principios da Interpretação da Bíblia in: I (monergismo.com)
acessado 20/07/2022.
CONCLUSÃO:
Nesta aula consideramos as questões pertinentes ao conceito de Hermenêutica.
Observamos o conceito da disciplina como “arte e ciência da interpretação bíblica”. De
posse dessa definição lidamos diretamente com as questões relacionadas ao processo
interpretativo que ocorre naturalmente em três passos importantes: 1.Preparação; 2.
Investigação; 3. Aplicação.
Também consideremos a leitura como um processo hermenêutico as diversas
formas de leitura bíblica acionam o processo de interpretação; leitura orante; leitura
exegética-hermenêutica e pastoral.

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