Barata e Um Santo Remedio - Introducao - EW - LN - CB

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“BARATA É UM SANTO REMÉDIO”:

INTRODUÇÃO À ZOOTERAPIA POPULAR NO


ESTADO DA BAHIA

Eraldo Medeiros Costa-Neto

Feira de Santana
1999
1

Eraldo Medeiros Costa Neto

“Barata é um santo remédio”:


Introdução à zooterapia popular no estado
da Bahia

Universidade Estadual de Feira de Santana

Feira de Santana
1999
2

Capa: Anjo Rafael ensinando o jovem Tobias a preparar um remédio com matérias-primas
de peixe. “Disse-lhe o Anjo: „Abre o peixe, tira-lhe o fel, o coração e o fígado.
Guarda-os contigo e joga fora as entranhas. O fel, o coração e o fígado são remédios
úteis‟” (Tobias 6,4).
Pintura de Domenico Zampieri, final do século XVI.

Ficha Catalográfica: Biblioteca Central Julieta Carteado

Costa Neto, Eraldo Medeiros


C874b “Barata é um santo remédio”: introdução à zooterapia
popular no Estado da Bahia/ Eraldo Medeiros Costa Neto.
– Feira de Santana : UEFS, 1999.
p.; il.
ISBN 85-7395-017-X

1. Medicina popular - Bahia. 2. Zooterapia popular - Bahia.


I. Título.

CDU: 615.324(814.2)

CDU 616 - 083


3

Para José Geraldo Wanderley Marques


4

SUMÁRIO

Apresentação e Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Lista de figuras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Primeira Parte: A Prática Zooterápica

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Cap. 1 Estado da Arte da Zooterapia Popular no Estado da Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Cap. 2 Os Grupos Animais Medicinalmente Utilizados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Cap. 3 A Importância dos Remédios Populares Baseados em Animais. . . . . . . . . . . . . . . 23

Cap. 4 O Uso Sustentável dos Recursos Zooterápicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Cap. 5 Recursos Zooterápicos e Prospecção Biológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Segunda Parte: Receituário

Cap. 6 Modos de Preparo e de Administração dos Recursos Zooterápicos. . . . . . . . . . . . . 33

Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

Apêndices. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5

APRESENTAÇÃO E AGRADECIMENTOS

A finalidade deste livro é apresentar informações sobre a utilização medicinal de


158 animais no estado da Bahia, tornando-os disponíveis para estudos mais aprofundados.
Observações sobre o assunto foram obtidas através da leitura de livros e dissertações, assim
como pela realização de trabalhos de campo em diversas comunidades do estado.
Embora a palavra zooterapia esteja dicionarizada significando simplesmente
“terapia dos animais”, ela aqui está sendo empregada no mesmo sentido que fitoterapia,
também dicionarizada. O conhecimento das propriedades terapêuticas dos animais
encontra-se bastante arraigado na tradição popular; daí ouvir-se frase como “barata é um
santo remédio”.
Parte dos dados apareceu em periódicos: Sitientibus, Journal of Ethnobiology e
Journal of Ethnopharmacology, e parte foi apresentada em encontros científicos: VI
Congresso Internacional de Etnobiologia (Whakatane, Nova Zelândia); I Congresso
Nacional de Meio Ambiente e XIII Jornada Universitária da UEFS (Feira de Santana,
Bahia); II Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia (São Carlos, São Paulo); XI
Encontro de Zoologia do Nordeste (Fortaleza, Ceará); III Congresso de Ecologia do Brasil
(Brasília, DF) e I Simpósio de Etnobiologia e Etnoecologia (Feira de Santana, Bahia).
Apesar de fascinante, a zooterapia é também um tema preocupante. Alguns animais,
como o tamanduá-bandeira, a ema, a anta, o lobo-guará, o macuco e o tatu-canastra,
originalmente comuns nas paisagens brasileiras, hoje são raros e correm o risco de
extinção. A exploração de recursos animais inclusive para fins medicinais é um fenômeno
ecológico/cultural que deveria ser assunto de pauta em discussões sobre biologia da
conservação, saúde pública, manejo sustentável de recursos naturais, prospecção biológica
e lei de patentes.
Espero que mais informação seja adicionada para preencher a lacuna em nosso
conhecimento do uso medicinal de animais e que os cientistas competentes examinem
alguns dos remédios registrados para ver se eles efetivamente têm valor terapêutico real. O
material aqui apresentado visa contribuir com elementos para uma discussão mais ampla e
6

crítica a cerca do tema de direitos de propriedade intelectual e uso sustentável das espécies
animais de interesse medicinal.
Ser-me-ia impossível agradecer a todos que auxiliaram durante a preparação deste
livro. No entanto, alguns nomes merecem ser lembrados: meus avós e mãe, pelo incentivo
constante. José Geraldo Wanderley Marques, eterno orientador e crítico, por seus
ensinamentos e orientações tão válidos, bem como pela revisão feita no texto. Professora
Gizélia Vieira dos Santos, pelo apoio enquanto Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-graduação da
UEFS.
Sou particularmente agradecido à Maria Vanilda Moraes Oliveira, funcionária do
Herbário da UEFS, pela lista de animais medicinais do município de Tanquinho e à Cássia
Tatiana da Silva Andrade, bióloga e funcionária do Laboratório de Etnobiologia da UEFS,
pela lista de animais medicinais utilizados na cidade de Andaraí e pela ajuda na confecção
das figuras das páginas 16 e 17.
Meus agradecimentos também se dirigem aos alunos que freqüentaram a disciplina
Etnobiologia, por seus trabalhos didáticos desenvolvidos sobre o assunto. Desejo expressar
sinceros agradecimentos à Isabel Cristina Nascimento Santana, Rejane Maria Rosa Ribeiro
e Graça Dutra Simões, funcionárias da Biblioteca Central Julieta Carteado, pela ajuda na
elaboração da ficha catalográfica e revisão no texto.
Desejo também expressar agradecimentos especiais a todos os informantes pelos
depoimentos prestados e troca de memes.
Por fim, o reconhecimento à UEFS pelo apoio logístico e financeiro, os quais me
permitiram viagens de campo para coleta de dados.

Feira de Santana, junho de 1999


Eraldo Medeiros Costa Neto
7

AVISO

Este livro não pretende prescrever nem receitar remédios para quaisquer
das enfermidades mencionadas. O autor não se responsabiliza pelo uso de
remédios à base de produtos animais, uma vez que tanto podem ser
perigosos quanto inócuos.
8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Desova de aruá (Pomacea sp.): utilizada na medicina popular como


tratamento para rachaduras nas solas dos pés . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Figura 2 Exemplo da universalidade zooterápica: partes animais comercializadas


no Centro de Abastecimento de Feira de Santana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

Figura 3 Distribuição por categorias taxonômicas dos animais (N=158) utilizados


na medicina popular do estado da Bahia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Figura 4 Percentual das categorias taxonômicas cujos animais (N=158) são


utilizados na medicina popular do estado da Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Figura 5 Exemplos de matérias-primas animais utilizadas na medicina popular


do estado da Bahia: ninho de exu-de-chapéu (Apoica pallens) e pêlo
de preguiça (Bradypus sp.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Figura 6 Cavalo-marinho: recurso utilizado na medicina popular baiana. . . . . . . . . . . . . 26

Figura 7 Barata-do-mar (Claridopsis dubia, Crustacea, Stomatopoda): utilizada


no tratamento da asma. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
PRIMEIRA PARTE: A PRÁTICA

ZOOTERÁPICA

Fig. 1 Desova de Aruá (Pomacea sp.): utilizada na medicina popular como tratamento para
rachaduras nas solas dos pés.
(Foto do autor).
9

INTRODUÇÃO

“Contra as verrugas. Apanhe a urina de um cão e o sangue de


um rato, misture bem e unte as verrugas com isso; elas não
tardam a desaparecer”(Sortilégio anglo-saxão).
RUSSELL in “A história da feitiçaria”, 1993.

O homem sempre buscou na natureza os recursos básicos a sua sobrevivência. Isso


incluía a utilização de plantas, animais e minerais na produção de remédios visando a cura
de suas enfermidades. Durante muito tempo, uma atenção maior foi voltada à divulgação da
flora medicinal, relegando-se os estudos sobre animais medicinais a um segundo plano.
Entretanto, recentes trabalhos de antropólogos, etnobiólogos e etnofarmacólogos
demonstram que, na ecologia da interação homem/animal, destaca-se a utilização medicinal
de recursos animais (zooterapia) em diferentes sociedades humanas (GUDGER, 1925,
WERNER, 1970, SILOW, 1983, BRANCH, SILVA, 1983, CONCONI, PINO, 1988,
BEGOSSI, BRAGA, 1992, ANTONIO, 1994, MARQUES, 1995, SOUSA-DIAS, 1995,
VAN HUIS, 1996, COSTA NETO, 1994).
Zooterapia ou o tratamento de doenças humanas(1) pelo uso de recursos obtidos de
animais ou que deles são derivados, caracteriza-se como um fenômeno historicamente
antigo e geograficamente disseminado (Fig. 2). Remédios elaborados a partir de partes do
corpo do animal, de produtos de seu metabolismo, como secreções corporais e
excrementos, ou de materiais construídos por eles, como ninhos e casulos, vêm sendo
utilizados desde a Antigüidade (WEISS, 1947, ANGELETTI et al., 1992, ROSNER, 1992,
UNNIKRISNAN, 1998). A evidência da zooterapia em diferentes culturas deu
________________________
(1)
A palavra “doença” é aqui utilizada em um sentido amplo, referindo-se tanto às
enfermidades de origem personalística (provocadas por um agente humano ou sobrenatural) quanto àquelas de
origem naturalística (provocadas pela intervenção de causas ou forças naturais), incluindo-se desde estado
dolorosos a perturbações de ordem psíquica (FOSTER, 1983). Neste trabalho, as doenças foram registradas
segundo a terminologia utilizada pelos informantes ou como foram encontradas na literatura.
10

Fig. 2 Exemplo da universalidade zooterápica: partes animais comercializadas no


Centro de Abastecimento de Feira de Santana. (Foto: C. Aldênia).

origem à “hipótese da universalidade zooterápica” (MARQUES, 1994), que afirma que


toda sociedade humana que apresenta um sistema médico desenvolvido utiliza animais
como remédios.
A zooterapia popular integra um sistema médico tradicional bastante complexo no
qual estão incluídos, entre outras práticas populares de saúde, as simpatias e as profilaxias
mágicas, tais como patuás, bentinhos, amuletos, talismãs, gestos e transferências
(ARAÚJO, 1977). Os conhecimentos e práticas zooterapêuticos são transmitidos de
geração a geração especialmente por meio da tradição oral e estão bem integrados com
outros aspectos da cultura da qual fazem parte (FLEMING-MORAN, 1993). Desse modo, o
uso de substâncias animais deve ser compreendido segundo uma perspectiva cultural, uma
vez que sistemas médicos são organizados enquanto sistemas culturais.
Tanto os animais selvagens quanto os domesticados e domésticos são fontes de
produtos de valor medicinal. Esses últimos são utilizados especialmente através das
11

chamadas pet therapies, ou seja, por meio de práticas terapêuticas que se utilizam de
animais domésticos, como cães, gatos e cavalos, para o tratamento e melhoramento de
diversos estados patológicos, como, por exemplo, as deficiências mentais (SILVEIRA,
1998). Medicamentos populares baseados em recursos zooterápicos são também
recomendados para tratar enfermidades animais, o que é tema de estudos da medicina
etnoveterinária (PADMAKUMAR, 1998). Ainda, a observação de uma medicina natural
praticada pelos animais (zoofarmacognosia) pode implicar a descoberta de novos remédios
para o uso humano (BONALUME NETO, 1993).
Recentemente, o fenômeno da zooterapia despertou o interesse de pesquisadores de
diferentes domínios da ciência, que tanto registram essa prática cultural quanto procuram
compostos que tenham ação farmacológica (BUT et al., 1991, BISSET, 1991,
FAULKNER, 1992, AMATO, 1992, LAZARUS, ATILLA, 1993, CHEN, AKRE, 1994,
BALDWIN, 1995, RODRÍGUES, WEST, 1995). Esse interesse vai mais além quando se
leva em consideração os benefícios que compostos derivados de animais oferecem em
termos de valor monetário e bem-estar humano. Por exemplo, a angiotensina, um
antihipertensivo, traz para a Companhia Squibb cerca de 1,3 bilhão de dólares por ano em
vendas, além de contribuir para o bem-estar e longevidade de milhares de pessoas
(LOVEJOY, 1997). Hoje, de 252 químicos essenciais que foram selecionados pela
Organização Mundial da Saúde, 11,1% têm origem nas plantas, enquanto que 8,7% têm
origem nos animais (MARQUES, 1997).
O caráter de pioneirismo na sistematização dos estudos sobre fauna medicinal deve-
se a José Geraldo W. Marques, que desde a década de 1980 vem registrando o uso de
animais como remédios. No Brasil, recursos zooterápicos provenientes de uma ampla
variedade de animais (cerca de 300 espécies já foram registradas!) podem ser encontrados
como produtos comercializados por erveiros e curandeiros nos mercados públicos de todo o
país (SÁ, 1995). Seu valor econômico, como expresso por aqueles que os negociam, é
considerável. Em Feira de Santana, por exemplo, pênis secos de quatis eram vendidos ao
preço de 20 reais a unidade em setembro de 1998. Infelizmente, muitos desses animais
estão incluídos na lista de espécies ameaçadas de extinção (INSTITUTO BRASILEIRO
DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS, 1989).
12

Considerando-se que a diversidade cultural é um recurso que também se encontra


ameaçado de extinção (ZWHALEN, 1996), os objetivos desse livro foram: registrar e
promover a divulgação do conhecimento sobre o uso medicinal de animais no estado da
Bahia; fornecer a identificação ou pista taxonômica das espécies utilizadas e contribuir para
a implementação do uso sustentável desses recursos. Além desses objetivos, o presente
trabalho também chama a atenção para temas atuais, como biopirataria e direitos de
propriedade intelectual.
13

CAPÍTULO 1

ESTADO DA ARTE DA ZOOTERAPIA POPULAR NO ESTADO DA BAHIA

“Los conocimientos de los pobladores nativos, se aprovechados


legalmente, puedem ahorrar tiempo y recursos en la producción
de medicamentos que de outra forma podrían demorar hasta 15
años”.
Marcos Terena, líder da Comunidade Terena no Brasil in
PORTILLO (1999).

O estado da Bahia apresenta uma extensão territorial e diversidades biológica e


cultural significativas. Diferentes grupos étnicos, como sociedades indígenas, comunidades
quilombolas, pesqueiras e camponesas habitam no estado, mantendo uma gama de
interações com os recursos faunísticos locais. Diferentemente do que é observado para
plantas medicinais, o número de estudos direcionados para o conhecimento tradicional
sobre o uso de animais nas práticas médicas populares são ainda muito escassos.
Atualmente, a utilização de animais como fontes de medicamentos populares está registrada
para 15 localidades do estado, em áreas tanto urbanas quanto rurais (Tabela 1).
Dentre os autores que estudaram a interação medicinal homem/animais na
farmacopéia baiana, citam-se: BANDEIRA (1972), que registrou o uso de 13 animais pelos
índios Kiriri de Mirandela; RÊGO (1994), que registrou a interação junto a pescadores
artesanais de Velha Boipeba; COSTA NETO, que registrou o uso de 22 animais na cidade
de Lençóis (1996), 16 animais em Feira de Santana (1999a) e 55 no município de Conde
(1998) e 49 animais (1999b) entre os índios Pankararé da Aldeia Brejo do Burgo;
PACHECO (1998), que registrou a zooterapia na cidade de Correntina; MELO (1999) e
LIMA (2000), que encontraram o uso zooterápico de 43 e 9 animais no povoado Fazenda
Matinha dos Pretos, respectivamente; MELO (1999), que registrou aspectos comerciais de
15 animais medicinais em Feira de Santana; DIAS (1999), que registrou 9 animais no
povoado de Mombaça, em Serrinha; MATOS et al. (1999), que registraram 12 animais no
distrito de Humildes; MOURA (2000), que registrou o uso de 52 espécies animais na Área
de Proteção Ambiental de Marimbús-Iraquara, Chapada Diamantina.
14

Além da fonte bibliográfica, utilizaram-se listas de animais medicinais fornecidas


por Maria Vanilda Moraes Oliveira, para o município de Tanquinho, por Cássia Tatiana da

Tabela 1. Animais utilizados na medicina popular do estado da Bahia, distribuídos segundo as localidades em
que foram registrados.
Localidade Fonte Número de animais registrados
Acupe Dados do autor 09
Andaraí Cássia Tatiana da Silva Andrade (com. pess.) 31
Conde COSTA NETO (1998) 55
Correntina PACHECO (1998) 06
Fazenda Matinha MELO (1999) 43
dos Pretos LIMA (2000) 13
Feira de Santana COSTA NETO (1999a) 16
MELO (1999) 15
Glória COSTA NETO (1999b) 49
Hunildes MATOS et al. (1999) 12
Ichu Kátia Luciana Gordiano Lima (com. pess.) 13
Itaberaba Favízia Freitas de Oliveira (com. pess.) 02
Lençóis COSTA NETO (1996) 22
Mirandela BANDEIRA (1972) 13
Mombaça DIAS (1999) 09
Salvador Dados do autor 05
Santa Terezinha COSTA et al. (1997) 03
Tanquinho Maria Vanilda Moraes Oliveira (com. pess.) 34
Utinga Dados do autor 03
Velha Boipeba RÊGO (1994) 06
15

Silva Andrade, para o município de Andaraí, e por Kátia Luciana Gordiano Lima, para o
município de Ichu. A análise dos trabalhos didáticos desenvolvidos pelos alunos que
cursaram a disciplina de Etnobiologia desde o primeiro semestre de 1995 foi uma terceira
fonte de dados. Tanto as listas quanto os trabalhos (relatórios de conclusão de disciplina
mais especificamente) encontram-se depositados no Laboratório de Etnobiologia da
Universidade Estadual de Feira de Santana. No entanto, boa parte das informações aqui
registradas provém de pesquisas de campo desenvolvidas pelo autor e ainda não publicadas.
O estudo de animais medicinais no estado da Bahia faz parte de uma linha de
pesquisa do Laboratório de Etnobiologia da UEFS, que atualmente registra cinco projetos
de pesquisa aprovados pelo Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão que tratam
da utilização terapêutica de animais em diferentes regiões do estado. Entre eles, citam-se o
projeto de autoria do professor Francisco José B. Souto intitulado “Utilização de Animais
na Medicina Popular na Chapada Diamantina e na Região do Recôncavo, Bahia” e o
projeto de autoria do professor José Geraldo W. Marques intitulado “Fauna Medicinal
Brasileira: Recursos do Ambiente ou Ameaças à Biodiverdidade ?”. Esses estudos são
importantes, uma vez que o registro e a valorização dos saberes tradicionais têm
implicações na medicina, ecologia e manejo dos recursos biológicos (POSEY, 1987).
16

CAPÍTULO 2

OS GRUPOS ANIMAIS MEDICINALMENTE UTILIZADOS

Até o presente momento, cerca de 158 animais (espécies populares) foram referidos
como tendo propriedades medicinais para o tratamento de diversas enfermidades
diagnosticadas popularmente. Os recursos faunísticos, representados por invertebrados e
vertebrados, enquadram-se em 12 categorias taxonômicas distintas, distribuídas
percentualmente em: anelídeos (1%), moluscos (7%), equinodermos (2%), aracnídeos
(1%), insetos (19%), diplópodos (1%), crustáceos (5%), peixes (18%), anfíbios (1%),
répteis (13%), aves (11%) e mamíferos (21%) (Figs. 3 e 4). Desses animais, extraem-se
cerca de 250 matérias-primas, que são utilizadas na elaboração dos remédios populares. O
modo como esses remédios são preparados e administrados aos pacientes, bem como as
doenças para os quais são receitados são descritos na segunda parte desta obra.
Deve-se lembrar que muitas das doenças e enfermidades relatadas pelos informantes
fazem parte de seu contexto cultural e foram encaradas segundo a perspectiva interna do
grupo, registrando-se o modo tal qual foram narradas. Sua interpretação e possíveis
paralelismos com patologias conhecidas pela ciência médica ocidental requerem estudos
mais aprofundados.
Os animais são utilizados integralmente ou em partes, como pena, perna, pêlo,
couro, dente, banha (gordura), leite, carne, esporão, chifre, espinho, escama, unha, sangue,
pênis, ossos, fígado, carne, coração, cabeça, testículo, tutano, olho e orelha, entre outros.
Produtos de seu metabolismo, como os excretas (fezes e urina), méis e materiais
construídos por eles, como ninhos e casulos, são também recursos medicinalmente
utilizáveis (Fig. 5). O mel de abelha mandassaia (Melipona sp.?) é também utilizado como
cosmético para limpeza da pele e para dar brilho aos cabelos (Melo, 1999). Ocorre ainda
manipulação comportamental, como é o caso do uso de ferroadas de abelhas (Apis mellifera
scutellata) e de formigas (Paraponera sp.) para o tratamento de reumatismo e dores em
geral e do uso de descargas elétricas provocadas pelo peixe-elétrico (inclusive
Electrophorus electricus), também indicadas para a cura de reumatismo.
17

35

30

Nº de animais utilizados
25

20

15

10

0
A B C D E F G H I J L M

Categorias taxonômicas

A= Mamíferos G= Crustáceos
B= Insetos H= Equinodermos
C= Peixes I= Aracnídeos
D= Répteis J= Anelídeos
E= Aves L= Anfíbios
F= Moluscos M=Diplópodos

Fig. 3 Distribuição por categorias taxonômicas dos animais (N=158)


utilizados na medicina popular do estado da Bahia.

Dos animais registrados, pelo menos uma espécie popular, o peixe-boi, caracteriza-
se como um recurso zooterápico exógeno à fauna baiana, uma vez que as espécies
Trichechus manatus e T. inunguis não são encontradas no estado. Por serem espécies raras
e ameaçadas de extinção, muito provavelmente compradores/usuários de produtos
medicinais à base de peixes-boi (e. g., enlatados com sua “banha”) estejam adquirindo e
utilizando banhas de outros animais, como a de galinha. Exemplos de falsificações
zooterápicas são registradas na literatura (MARQUES, 1997, 1999).
No uso integral, os animais são geralmente secos ao sol, torrados, moídos ou
pisados e, reduzidos a pó, utilizados, em sua grande maioria, sob a forma de chás para o
tratamento de doenças respiratórias. Como exemplos, tem-se a utilização de remédios feitos
18

à base de estrelas-do-mar, cavalos-marinhos e caranguejeiras. Recorre-se também ao uso de


animais vivos, como o muçum (Synbranchus marmoratus), o caboge (Callichthys cf.

1%
1%1% 1%
2%
5% 21%

7%

11%

19%

13%

18%

A B C D E F G H I J L M

A= Mamíferos G= Crustáceos
B= Insetos H= Equinodermos
C= Peixes I = Aracnídeos
D= Répteis J= Anelídeos
E= Aves L= Anfíbios
F= Moluscos M=Diplópodos

Fig. 4 Percentual das categorias taxonômicas cujos animais (N=158)


são utilizados na medicina popular do estado da Bahia.

callichthys ) e o cágado (Geochelone carbonaria). Os dois primeiros são receitados para o


tratamento de asma, bronquite, “umbigo grande” (hérnia umbilical) e, ainda, para apressar o
andar de uma criança. Segundo a citação de um informante: “a pessoa que tem fé, cospe na
boca dele (do caboge) três vezes e depois solta ele no rio para se curar de asma”. O último é
19

Fig. 5 Exemplos de matérias-primas animais utilizadas na medicina popular do


estado da Bahia: ninho de echu-de-chapéu (Apoica pallens) e pêlo de
preguiça (Bradypus sp.). (Fotos do autor).
20

criado como animal de estimação para livrar os moradores da casa de adquirirem bronquite
(em Conde) e erisipela (em Tanquinho).
Procedimentos de passar peixes vivos sobre partes do corpo de uma pessoa doente
ou de cuspir em sua boca e soltá-los são também registrados na literatura. BRANCH,
SILVA (1983) descreveram, para a região do Pará, o ato de cuspir na boca de um
eritrinídeo para o mesmo fim que o encontrado em Conde. BEGOSSI, BRAGA (1992)
registraram que no Rio Tocantins, moradores cospem na boca de um ciclídeo visando obter
a cura da tuberculose. MARQUES (1995) cita, para o baixo São Francisco alagoano, o uso
do caboge para o tratamento de hérnia umbilical (“umbigo grande”). Colocar peixes vivos
sob as solas dos pés de pacientes sofrendo de icterícia ou doença semelhante já era utilizado
na cidade de Veneza em 1743 (ROSNER, 1992).
As matérias-primas são primariamente obtidas através de atividades de caça, pesca e
coleta manual. Dos 158 animais listados, 111 fornecem apenas uma matéria-prima, que é
usada na elaboração de remédios prescritos para o tratamento de doenças específicas (e. g.,
fezes secas de cães usadas para tratar sarampo, asma e catapora). A aplicação dos remédios
varia de acordo com a natureza da enfermidade, do objetivo de uso e dos ingredientes
utilizados. A maior parte dos remédios populares são administrados na forma de chás,
seguindo-se os defumadores e o uso tópico. Beber a água na qual animais inteiros ou suas
partes (e. g., lagartixa e o pênis do boi) foram cozidos é procedimento recomendado para a
cura de determinadas doenças. Poucas são as receitas que prescrevem o consumo do animal
(e. g., a carne cozida do urubu, que é indicada para o tratamento da tuberculose).
A banha (gordura) animal sobressai-se como um dos recursos zooterápicos de maior
uso. Dos peixes, tem-se o registro do efeito medicinal da banha do peixe-elétrico
(Electrophorus electricus), que é usada para pancadas, torções e picadas de insetos, do
baiacu (Sphoeroides testudineus), utilizada para reumatismo e da traíra (Hoplias
malabaricus), recomendada para problemas oftalmológicos (catarata). Dos répteis, citam-se
o uso da cascavel (Crotalus cf. durissus) e da jibóia (Boa constrictor), que são usadas para
tratar reumatismo. Das aves, citam-se o uso da banha de ema (Rhea americana), que é
usada em dores em geral e da galinha (Gallus domesticus), a qual é colocada morna em
furúnculos e recomendada também para tratar catarro. Dos mamíferos, citam-se o uso
medicinal do sebo de carneiros capados (Ovis aries), para tratar torções e a banha da
21

capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), utilizada para reumatismo. Esses remédios são


usados como um emplastro, passando-os nas áreas doloridas/afetadas.
Os pescadores da comunidade pesqueira de Siribinha, localizada no litoral norte do
estado, têm uma maneira singular de se tratarem das injúrias causadas por peixes
peçonhentos, notadamente com o niquim (Thalassophryne nattereri) (COSTA NETO,
1998). Esse peixe é provido de acúleos operculares e apresenta espinhos ocos na nadadeira
dorsal associados a volumosas glândulas de peçonha. Devido ao seu hábito bentônico,
vivendo enterrado na areia ou lama de fundo, em águas pouco profundas, os pescadores às
vezes pisam-no; o peixe defende-se injetando sua peçonha na planta do pé do “agressor”.
Para se verem livres das dores e outras complicações, os pescadores devem, imediatamente
após o contato, retirar a “goga do olho” ou o “miolo da cabeça” do niquim e passá-lo no
local afetado. Um outro modo de evitar sentir as dores é consumir o peixe sem sal, pois,
assim, conseguem imunidade à peçonha. Procedimento análogo é feito com os bagres
(Ariídeos) e com o capado (Balistes vetula), extraindo-lhes a “goga do olho” e passando-a
sobre a área afetada. Segundo relatos testemunhais de usuários, pode-se levantar a hipótese
de que substâncias analgésicas estejam de fato presentes nas matérias-primas acima
utilizadas. Segundo NORSE (1993), a identificação das toxinas de peixes peçonhentos e
venenosos só agora está sendo determinada.
Estudos desenvolvidos com membros da tribo dos índios Pankararé que vivem na
Aldeia Brejo do Burgo demonstram que a preparação dos remédios tendo recursos animais
como ingredientes principais pode envolver ou não a participação de recursos vegetais, bem
como serem administrados em conjunto com orações e medicamentos da medicina oficial
(COSTA NETO, 1999b). Dentre as fontes zooterápicas mais inusitadas, citam-se: a ponta
da orelha do gato, usada no tratamento da asma; o caldo da carne da cangambá, bebido para
tratar reumatismo; o mijo da vaca, ingerido para curar "tosse braba"; o chá de um pinto
pisado no pilão, ainda vivo, recomendado para "acidente grave" (?), entre outros.
Quanto ao modo de uso desses remédios, verificou-se que a inalação é a forma
predominante, com o emprego de defumadores feitos a partir de diferentes fontes animais,
seguindo-se a ingestão de beberagens e o uso tópico de banhas e outros itens. Registra-se
também a instilação de um líquido presente na perna traseira do grilo nos olhos de pessoas
com problemas oftalmológicos (“vermelhão no olho”) e o envolvimento de partes animais
22

em simpatias, a exemplo dos dentes do jacaré e do “osso da pá” do cágado, os quais são
recursos utilizados para a prevenção de “mazelas” durante o surgimento da primeira
dentição. As enfermidades mais citadas pelos informantes durante as entrevistas foram
“mal do tempo” (derrame?), reumatismo e doenças do aparelho respiratório.
Provavelmente, estas sejam as doenças mais comuns entre a população local.
Na aldeia, tanto os homens quanto as mulheres reconhecem as finalidades
terapêuticas dos animais. Entretanto, o domínio do conhecimento e da prática cabe ao
“caecó” (curador), que aprendeu com os “encantados” a manipular e a prescrever
corretamente os produtos de uso medicinal. Na cosmologia dos Pankararé, os encantados
são percebidos como entidades sobrenaturais protetoras dos recursos naturais locais. A
aprendizagem acontece durante reuniões realizadas no “Poró”, a Casa da Ciência, ou
mesmo dentro das residências indígenas quando, na ocasião, os “encantados” são
invocados e se manifestam, dando conselhos, realizando consultas, ensinando os remédios
e “rezando os presentes”. Os casos diagnosticados como de difícil tratamento são enviados
ao "camisa branca" (médico ocidental) de cidades próximas. Desta maneira, a real
compreensão das interações etnobiológicas e etnoecológicas que os Pankararé mantêm
com o mundo natural e, em conseqüência, o entendimento de sua adaptação ao ambiente
semi-árido nordestino, necessitam de estudos que enfatizem as interações
Pankararé/mundo sobrenatural, uma vez que muito do saber ecológico indígena encontra-
se codificado sob a forma de mitos e rituais (POSEY, 1987).
A zooterapia também é um recurso empregado na medicina etnoveterinária.
Registram-se 14 animais representados por equinodermos, insetos, peixes, anfíbios, répteis
e mamíferos (Apêndice 1). Alguns exemplos são: o sapo, cujo couro e banha são utilizados
para extrair farpas (“estrepe” ou “esporão”) e para tratar reumatismo, respectivamente; a
cascavel e a jibóia, cujas banhas são também utilizadas no tratamento de reumatismo
animal; o cangurupim, de cuja escama se prepara um defumador para tratar “doença do
vento”; o michila (Tamandua tetradactyla), cujo couro é passado em verrugas; baratas,
cujo chá é indicado para tratar diarréias.
A prática do uso de recursos animais na medicina etnoveterinária tem sido
registrada em outras realidades nacionais, como, por exemplo, na Paraíba (SOUTO, 1997)
e em Alagoas (COSTA NETO, 1994).
23

Animais são ainda usados em rituais afro-brasileiros para diversas finalidades


(Apêndice 2), como o uso do pó de caranguejeiras para a confecção de pembas (giz
utilizado no candomblé para riscar no chão os pontos que devem atrair os santos) com o
objetivo de afastar pessoas indesejáveis ou mesmo matá-las; defumadores feitos com as
raspas dos chifres de veado e de boi para serem usados em oferendas rituais, conhecidas
vulgarmente como “despachos”. Galinha, pombo, bode, sapo, cavalo-marinho e estrela-do-
mar são alguns dos animais também utilizados nesses rituais. Patas de veados são usadas
ainda como amuletos de sorte.
A emergência de uma ampla gama de recursos zooterapêuticos utilizáveis na
farmacopéia baiana revela a importância etnobiológica do fenômeno, ao tempo que reforça
a hipótese da universalidade zooterápica. O fenômeno torna-se de alta relevância para
programas de saúde pública culturalmente planejados.
O uso disseminado e constante de matérias-primas animais e o relato testemunhal de
seus usuários quanto a sua eficácia permitem supor que substâncias de valor medicinal
desconhecidas pela ciência ocidental possam estar presentes. Se adequadamente estudado,
esse conhecimento abriria perspectivas para a descoberta de novas fontes de remédios para
o bem-estar humano, além de possibilitar a valorização econômica de espécies animais
tidas como nocivas e/ou inúteis (e. g., a barata).
24

CAPÍTULO 3

A IMPORTÂNCIA DOS REMÉDIOS POPULARES BASEADOS EM ANIMAIS

“Potions that call for toadstools plucked from a graveyard or the


blood of a black rooster may indeed have some scientific basis
beyond superstition”.
McGIRK (1998)

Embora a utilização medicinal de animais seja considerada por muitos como


superstição popular sua importância não pode ser negada, uma vez que se tornaram fontes
de drogas para a ciência médica moderna (LAUNET, 1993). O uso medicinal de insetos,
por exemplo, constava do Index de 1907 do Laboratório Merk: baratas (Blatta orientalis)
eram recomendadas para o tratamento da coqueluche, úlceras, verrugas, hidropisia,
furúnculos, entre outras enfermidades (GORDON, 1996). Na década de 1940, o
Laboratório Ciba publicou artigos sobre animais e produtos como remédios. Atualmente, o
percentual de fontes animais para obtenção de fármacos essenciais é bastante significativo e
não fica muito abaixo daquele das fontes vegetais (MARQUES, 1997).
Muitos estudos têm confirmado o que os praticantes da zooterapia conhecem e vêm
empregando por séculos. Os chineses administravam a pele e as secreções das glândulas
parótidas de sapos para regular as funções corporais internas e a fertilidade ou como uma
panacéia contra mordida de cachorro. LAZARUS, ATTILA (1993) dizem que pesquisas
laboratoriais demonstraram que sapos e rãs fornecem compostos com ação terapêutica,
como a magainina (antibiótico). Peptídeos extraídos das secreções da rã da espécie
Phyllomedusa bicolor, por exemplo, já são usados no tratamento da depressão, derrame e
perda cognitiva em doenças degenerativas, como o mal de Alzheimer (AMATO, 1992).
Segundo McGIRK (1998), cientistas brasileiros estão estudando uma espécie de rã que é
usada pelos índios Yawanawa para curar doenças intestinais.
Vários outros compostos de eficácia comprovada derivados de animais também
foram encontrados. Por exemplo, CHEN, AKRE (1994) estudaram os usos terapêuticos de
formigas na medicina tradicional chinesa; ZHANG et al. (1992) registraram os usos
25

terapêuticos de minhocas e encontraram que esses animais apresentam efeitos antipirético,


antiespasmódico, diurético, desintoxicante, anti-asmático, anti-hipertensivo, anti-alérgico e
espermicida; MEBS et al. (1996) isolaram um fator anti-hemorrágico (a erinacina) do
plasma do porco-espinho europeu; BUT et al. (199l) demonstraram ações antipiréticas dos
extratos aquosos dos chifres de rinocerontes e búfalos. Mesmo substâncias letais podem
tornar-se remédios. O estudo da peçonha das cobras das famílias Viperidae, Crotalidae e
Elapidae mostraram a presença de atividade analgésica, a qual, no caso dos venenos
ofídicos, é mais forte que a morfina e, portanto, de uso em casos de câncer terminal
(BISSET, 1991). Um desenvolvimento mais recente é a introdução do captopril e
substâncias relacionadas para o tratamento da hipertensão (FERREIRA, 1993).
Sanguessugas (anelídeos da classe Hirudinea) são uma outra fonte de remédios que
incluem um anticoagulante, um anestésico local, um vasodilatador e um antibiótico
(BISSET, op. cit.). O uso de sangrias por sanguessugas (Hirudo medicinalis) ainda hoje é
praticado, especialmente em cirurgias avançadas, a exemplo de plásticas de reimplantes de
extremidades (MARQUES, 1997).
Com relação aos insetos, drogas anticâncer promissoras foram isoladas das asas de
borboletas asiáticas da espécie Catopsilia crocale e das pernas de besouros de Taiwan
(Alomyrina dichotomus) (THÉMIS, 1997). Os insetos têm sido utilizados na medicina
popular como tratamento para vários tipos de doenças e enfermidades, sendo usados vivos,
cozidos, macerados, em infusões e como ungüentos. RAMOS-ELORDUY (1998) diz que
em muitos países da Europa Oriental, hospitais dedicam-se a usar diferentes produtos de
abelhas através da inalação, ionização, fisioterapia e eletroforese.
Formigas, em particular, têm um potencial considerável como fontes de antibióticos.
Recentemente, mandíbulas de formigas saúvas (Atta spp.) foram usadas como grampos
cirúrgicos não apenas juntando a ferida, mas também induzindo a cicatrização, sendo a
infecção prevenida por meio da produção de substâncias bactericidas pelas glândulas
mandibulares. Na China, a venda de produtos à base de formigas chega a U$ 100
milhões/ano (THÉMIS, op. cit.). Segundo o autor, a superexploração está ameaçando uma
espécie localmente conhecida como formiga-tecelã (Polyrhachis vicina).
A quitosina, substância derivada da quitina, está sendo usada como um tratamento
para abaixar o colesterol e reparar tecidos em casos de queimaduras, agindo também como
26

um anticoagulante e como um agente que acelera a cicatrização a age contra patógenos do


sangue e da pele. É até mesmo usada na fabricação de lentes de contato (THÉMIS, ibid.).
De acordo com NORSE (1993), um número razoável de companhias farmacêuticas
de todo mundo está apoiando pesquisas sobre compostos marinhos derivados para serem
usados diretamente como medicamentos e como novas estruturas químicas que poderiam
ser transformadas em remédios. Segundo ele, o atual interesse em obter remédios do mar
data da descoberta de arabinosídeos em extratos da esponja Tethya crypta, em 1950. Desde
esta época, descobriu-se que celenterados, esponjas, moluscos e peixes apresentam
determinados princípios ativos, alguns dos quais já utilizados pela medicina oficial no
tratamento de certas doenças dos sistemas circulatório, nervoso, digestório e alguns
inclusive eficazes contra tumores malignos (FINKL, 1984).
No que concerne aos peixes, vários compostos deles extraídos foram e estão sendo
empregados como remédios na prática médica oficial. FINKL (op. cit.) refere-se às
espécies Eptatretus stoutii, Dasyatis sabina e Taricha sp. como fontes de estimulantes
cardíacos, antitumorais e analgésicos, respectivamente. Do fígado do tubarão extrai-se o
óleo ômega-3, capaz de controlar a aterosclerose e reduzir a pressão arterial. Outro óleo, o
alcoxiglicerol, estimula as defesas imunológicas do organismo e o processo de cicatrização
de lesões (ADEODATO, 1997). Um exemplo de um composto produzido por organismos
marinhos é a tetrodotoxina, um composto solúvel em água (BISSET, 1991) que é
encontrado no fígado e órgãos reprodutores de baiacus. Quando diluída, atua como um
extraordinário narcótico e analgésico. COLWELL (1997), avaliando o uso médico dessa
substância, diz que “a tetrodotoxina é um analgésico muito poderoso. No Japão, ele é usado
para tratar dores em lepra neurogênica e câncer”. Talvez isso explique o uso popular do
“fel” do baiacu no tratamento de dores de dente pelos pescadores de Conde, apesar de ser
um veneno letal.
Constituintes inorgânicos das vértebras de peixes têm sido usados como materiais
artificiais biologicamente ativos em uma ampla variedade de remédios: osso artificial,
raízes de dentes artificiais, etc. (HAMADA, NAGAI, 1995). Ainda, a presença de um
sistema anticoagulante no plasma do salmão do Atlântico (Salmo salar L.) e da truta arco-
íris (Ancorhynchus mykiss Walbaun) foi confirmada, e este mostra similaridades com a
27

proteína C do sistema anticoagulante de mamíferos, cujo valor médico poderá ser de grande
utilidade no futuro (SALTE et al., 1996).
Cavalos-marinhos são recursos bastante utilizados e facilmente encontrados em
bancas e barracas de erveiros de todo o país (Fig. 6). De acordo com BOTSARIS (1995), a
prática do uso terapêutico desses peixes foi introduzida no país pelos escravos africanos.
Esses peixes têm sido recomendados na medicina tradicional brasileira como tônico para
tratar debilidade física, impotência e asma, bem como reumatismo, bronquite e gastrite
(LAGES-FILHO, 1934, MARQUES, 1995). O mapeamento do uso terapêutico de cavalos-
marinhos permite, até agora, situá-lo em oito estados brasileiros, nomeadamente Alagoas,
Bahia, Espírito Santo, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo (Marques

Fig. 6 Cavalo-marinho: recurso utilizado na medicina


popular baiana. (Foto do autor).
28

in COSTA NETO, 1998). Estudos clínicos e farmacológicos desenvolvidos em


camundongos com extratos alcoólicos de Hippocampus levaram a um aumento de peso do
útero e ovários, além de alongar o período de estrogênio em fêmeas. Nos machos, causaram
um aumento de volume da próstata e dos testículos e uma prolongação do tempo de ereção
(BOTSARIS, op. cit.). Entretanto, devido ao uso indiscriminado de remédios à base de
cavalos-marinhos, estes peixes estão se tornando raros em algumas regiões do mundo. Na
Indonésia, por exemplo, a população desses animais reduziu-se à metade desde 1990, uma
vez que os machos “grávidos” são as presas mais comuns (Revista Manchete, dez. 1995, p.
28).
Estudos farmacológicos realizados com espécies de equinodermos revelaram que
esses animais também são fontes de compostos ativos importantes. Como exemplo, citam-
se Actinopyga agassizi (antitumorais), Acanthaster planci (antivirais) e Asterias forbesi
(antiinflamatórios) (FINKL, 1984). Segundo MALLMANN (1996), Roberto Lima,
professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Alagoas, conseguiu
isolar um antibiótico extraído dos espinhos de um ouriço-do-mar (Echinometra lucunter).
Equinóides também têm sido usados para a fabricação de vasos sanguíneos artificiais
(RUSSEL apud MALLMANN, op. cit.). Na medicina popular dos pescadores de Conde,
chás feitos a partir do pó de estrelas-do-mar (Luidia senegalensis), pinaúnas (Echinometra
lucunter) e estrelas-da-costa (Mellita sp.) são sempre recomendados para asma (puxado,
cansaço).
Pelo que se observa, os animais tanto quanto as plantas, demonstram possuir
princípios ativos de interesse para a medicina. Descobrir novas fontes de drogas a partir de
informações populares requer dos pesquisadores formados nas técnicas e métodos da
ciência ocidental que se despojem de seu etnocentrismo e encarem o fenômeno da
zooterapia sem preconceitos, investigando laboratorialmente as espécies indicadas como
medicinais para comprovar se compostos de valor farmacológico estariam, de fato,
presentes. Como afirmado por MARQUES (1999), há evidência científica bastante para o
uso medicinal de animais que vêm tendo emprego popular no Brasil.
29

CAPÍTULO 4

O USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS ZOOTERÁPICOS

“(...), ampliar a agenda para incluir a dimensão cultural é muito


importante, uma vez que culturas locais e globais têm muito a
dizer sobre as espécies (...) que elas usam e que estão
intimamente ligadas ao seu modo de vida. Sem endereçar temas
de diversidade cultural, será muito difícil manejar temas de
diversidade biológica”.
SERAGELDIN, MANTIN-BROWN (1998).

O registro de pelo menos 158 animais utilizados como recursos medicinais no


estado da Bahia representa uma forte evidência do uso tradicional de recursos naturais.
Segundo SILVA, MARQUES (1996), esse fenômeno é relevante porque implica pressão
adicional sobre populações críticas. Na maior parte das vezes, usuários e compradores de
recursos zooterápicos não sabem que determinados animais são espécies ameaçadas de
extinção. Um exemplo tipifica a questão: dos 55 recursos zooterápicos medicinalmente
utilizados pelos pescadores do povoado de Siribinha, em Conde, sete encontram-se listados
pelo IBAMA (1989) como animais ameaçados de extinção (COSTA NETO, 1998). São
eles: jacarés (Caiman cf. latirostris), tartarugas marinhas (Chelonia mydas, Caretta caretta,
Lepidochelys olivacea e Eretmochelys imbricata), lontra (Lutra longicaudis ?) e preguiça
(Bradypus sp.). Embora tenham sua caça, perseguição e abate proibidos pela Lei Federal
5.197, de 3 de janeiro de 1967, estes animais continuam a ser usados, de forma clandestina,
tanto trófica quanto medicinalmente. Jacarés e lontras, por exemplo, fornecem duas
matérias-primas cada, enquanto que a preguiça fornece apenas uma. Das tartarugas,
animais de uso múltiplo, extraem-se quatro matérias-primas que são empregadas na
elaboração de seis remédios prescritos para a cura de 12 enfermidades. Segundo o
depoimento de um pescador: “A banha de tartaruga sustenta e cura qualquer doença”.
Um corpo crescente da literatura reconhece que os aspetos sócio-culturais devem ser
considerados em todas as discussões sobre desenvolvimento sustentável (MORIN-
LABATUT, AKHTAR, 1992, AGRAWAL, 1995, ZWAHLEN, 1996, SACHS, 1997,
30

POSEY, 1997). Esta perspectiva social inclui o modo como os povos percebem, utilizam,
alocam, transferem e manejam seus recursos naturais (JOHANNES, 1993). Desse modo,
discutir a zooterapia dentro da multidimensionalidade do desenvolvimento sustentável
traduz-se como um dos elementos fundamentais para se chegar à sustentabilidade dos
recursos faunísticos, uma vez que o uso de animais devido ao seu valor medicinal é uma
das formas de utilização da diversidade biológica (CELSO, 1992).
Sob o ponto de vista ambiental, o uso de medicamentos tradicionais pode ameaçar a
biodiversidade, especialmente levando à extinção alguns animais superexplorados para fins
medicinais (CITES: http://foltecs.lab.rl.fws.gov/lab/am/GLOSS.HTM). Deve-se considerar,
contudo, que o valor dos recursos medicinais derivados de animais é significativo; eles,
juntamente com as plantas, geralmente são quase os únicos recursos disponíveis para a
maioria da população humana, que tem acesso limitado aos remédios da medicina oficial e
a cuidados médicos apropriados. COSTA NETO (1999) já afirmou que ao invés de mandar
os praticantes da zooterapia para a prisão ou forçá-los a abandonar tal prática, essa
interação homem/natureza deveria ser vista dentro de sua dimensão cultural. Desde que
povos vêm utilizando animais por um longo tempo, não é a supressão do uso que salvará as
espécies da extinção.
O princípio básico que governa o uso de recursos naturais diz que a taxa de extração
de um recurso renovável não deve exceder a taxa de renovação desse recurso. Uma
alternativa para diminuir a demanda por produtos naturais de uso medicinal deveria ser o de
buscar nos laboratórios a forma sintética de determinado composto ao invés de coletar
populações inteiras de espécies na natureza, levando-as à exaustão. Segundo KUNIN,
LAWTON (1996), as espécies envolvidas em remédios populares deveriam estar entre as
mais altas prioridades para a conservação.
31

CAPÍTULO 5

RECURSOS ZOOTERÁPICOS E PROSPECÇÃO BIOLÓGICA

“As indústrias farmacêuticas tornaram-se as maiores


exploradoras do conhecimento medicinal tradicional sobre os
principais produtos, com lucros anuais de 43 bilhões de dólares
no mercado mundial”.
POSEY (1996)

A depender de como sejam executados, estudos sobre medicina popular podem


levar à bioprospeção de recursos naturais que contêm compostos de importância
farmacológica (KUNIN, LAWTON, 1996). Segundo esses autores, o interesse não se limita
apenas à busca e coleta de genes, mas inclui também a divulgação de conhecimentos
tradicionais ligados ao uso medicinal dos recursos. Tal prática pode constituir-se em
biopirataria, a qual se define como o roubo de recursos genéticos com fins comerciais.
De acordo com MARQUES (1999), os interessados em investigar a zooterapia
devem prestar atenção a três questões éticas: a) direitos de propriedade intelectual dos
detentores primários do conhecimento; b) o bem-estar dos animais utilizados e c) a
sustentabilidade dos recursos implicados. Com relação à primeira, POSEY (1996) diz que
“os direitos de propriedade intelectual dos povos tradicionais devem ser protegidos e
compensados de forma justa como conhecimento garantido”. O tratado da biodiversidade
reconhece que os povos indígenas deveriam receber alguma recompensa sempre que uma
companhia farmacêutica ou uma firma agrícola desenvolver um produto baseado nos
recursos ou nos conhecimentos tradicionais (McGIRK, 1998).
No entanto, o que freqüentemente se observa é que grandes empresas privadas,
como as gigantes farmacêuticas, vêm testando metodologicamente os recursos naturais dos
países em desenvolvimento sem pagar qualquer ônus aos governos e povos indígenas
desses países (ACHARYA, 1999).
No que se refere aos conhecimentos e práticas zooterapêuticas encontrados no
estado da Bahia, mecanismos adequados que assegurem um retorno econômico aos povos
32

que genuinamente detêm o conhecimento de uso de determinado animal devem ser


procurados.
SEGUNDA PARTE: RECEITUÁRIO

Fig. 7 Barata-do-mar (Claridopsis dubia, Crustacea, Stomatopoda): utilizada no


tratamento da asma. (Foto do autor).
33

CAPÍTULO 6

MODOS DE PREPARO E DE ADMINISTRAÇÃO DOS RECURSOS ZOOTERÁPICOS

Neste capítulo, descrevem-se os modos de preparo e de administração dos remédios


baseados em matérias-primas, processos e produtos de animais utilizados na medicina
popular do estado da Bahia. As espécies foram identificadas por especialistas ou foram
determinadas taxonomicamente consultando-se bibliografia especializada. As espécies são
listadas, quanto aos grandes grupos, seguindo-se a ordenação taxonômica de BRUSCA,
BRUSCA (1990) para os invertebrados e de POUGH et al. (1993) para os vertebrados.
Dentro de cada grupo, os animais são arranjados em ordem alfabética.
Parte das matérias-primas e produtos aqui descritos encontram-se catalogados e
depositados no acervo da coleção científica do Laboratório de Etnobiologia da
Universidade Estadual de Feira de Santana.
O presente receituário está longe de ser conclusivo, pois a cada novo trabalho de
campo realizado, essa ou aquela parte animal é envolvida em novas formas de preparo e de
administração, bem como novas doenças ou rituais são registrados.
Mais uma vez, é importante ter em mente que essa obra não pretende prescrever
nem receitar remédios para quaisquer das enfermidades mencionadas, uma vez que o uso
indevido de remédios à base de substâncias animais pode ocasionar danos à saúde, bem
como ser inócuo.
34

ANELÍDEOS

Minhoca (muzumba) Oligochaeta


Espécime não coletado
Preparar uma garrafada com um punhado de minhocas para curar cansaço (asma).
Se for criança, dá-se a metade da garrafa e se for um adulto, a garrafa toda;
O mesmo procedimento é feito para que uma pessoa deixe o vício da bebida;
Torrar uma minhoca , triturá-la e fazer um chá com o pó para curar asma.

Sanguessuga Hirudinea
Espécime não coletado
Torrar uma sanguessuga, triturá-la e colocar o pó resultante em feridas brabas
(abscessos).

ARACNÍDEOS

Caranguejeira Aranae, Theraphosidae


Espécime não coletado
Torrar uma caranguejeira inteira, depois moê-la e colocar o pó resultante na comida,
ou então fazer um chá para o tratamento da asma;
Esmagar uma caranguejeira e colocar o fato (massa visceral) no local atingido pelos
seus pêlos.

Escorpião Scorpiones, Buthidae


Tityus spp.
Esmagar um escorpião e colocar a massa resultante no local ferroado pelo mesmo.
35

INSETOS

Abelha-branca Hymenoptera, Apidae


Frieseomellita sp.
Comer o fio azedo (potes de cera) para o tratamento da gripe.

Abelha-européia (italiana ou oropa) Hymenoptera, Apidae


Apis mellifera scutellata
A ferroada é indicada para o tratamento de reumatismo, dores nas costas e nas
juntas;
Misturar o mel ao sumo do limão e tomá-lo para curar gripe, tuberculose, bronquite
e rouquidão;
Tomar vermífugo junto com mel de abelha para eliminar as vermes.
Colocar mel sobre feridas e queimaduras;
Tomar o mel puro para o tratamento de úlceras, diabetes e tosse;
Tomar uma colher de sopa de mel pela manhã, em jejum, como vermífugo;
Fazer o defumador da cera e respirar a fumaça para tratar dores de cabeça e tontices.

Abelha-papa-terra Hymenoptera, Apidae


Cephalotrigona capitata ?
Tomar o mel quando se é picado por cobras.

Arapuá Hymenoptera, Apidae


Trigona (Trigona) spinipes
Molhar um chumaço de algodão na infusão feita com o scutellum (pedra do arapuá)
e passá-lo em espinhas, ou então lavar o rosto com essa infusão;
Fazer a infusão da pedra do arapuá e tomá-la para tratar gripe e inflamações (?);
O mel é consumido para tratar inflamação na garganta, acessos de tosse, diabetes e
“vento” (derrame ?);
Fazer o defumador da pedra do arapuá e respirar a fumaça para tratar derrame, dor
de cabeça, mau olhado e bronquite;
36

Preparar um chá misturando-se o pó do escutelo, o pó de um cavalo-marinho, de


uma estrela-do-mar e dos espinhos do luís-cacheiro. Beber esse chá para curar
bronquite;
Torrar o escutelo e transformá-lo em pó, o qual deve ser tomado misturado ao mel e
cebola-branca (lambedor) para o tratamento da asma;
Fazer o lambedor misturando-se alho, cebola, açúcar, água e um pedaço da pedra do
arapuá para curar tosse, gripo e bronquite;
Pisar a pedra, peneirar e colocar um pouquinho de água. Depois, botar para ferver e
dar para beber para quem sofre de “dor de estanho” (?);
Mastigar o samburá também é bom para “dor de estanho”.

Barata Blattodea, Blattidae


Periplaneta americana
Beber a água na qual uma barata foi cozida para tratar azia;
Torrar uma barata na chapa de fogão, moê-la e fazer um chá, o qual deve ser bebido
contra cólica (a pessoa não deve saber o que bebeu);
Torrar uma barata inteira, moê-la e fazer um chá com o pó para tratar asma e dor de
barriga;
Esmagar uma barata, adicionar água e cozinhar até ferver. Depois, coar e beber para
o tratamento da asma;
Colocar a casca da barata em cima de feridas para cicatrizá-las;
Machucar uma barata e pôr a massa em um chumaço de algodão e colocar no
ouvido para tratar dores de ouvido.

Barata-de-tanque Hemiptera, Belostomatidae


Espécime não coletado
Colocar o “ovo” (desova) sobre furúnculos.

Barata-preta/Carocha Blattodea ?
Blaberus sp.
37

Pegar uma barata-preta e colocá-la viva dentro de uma caixa de fósforos e ir


abrindo-a aos poucos perto do nariz de uma criança. Isso serve para curar bronquite
asmática. Esse procedimento deve ser feito três vezes. A barata deve ser solta.

Barbeiro Hemiptera, Triatomidae


Triatoma sp. ?
Pegar um barbeiro-macho, colocá-lo numa panela e fazer um chá, o qual é indicado
para o tratamento de todo tipo de doença do coração.

Besouro-do-amendoim Coleoptera, Meloidae


Palembus dermestoides
Esse besouro, consumido cru ou cozido, é considerado como um fortificante e útil
no tratamento da impotência sexual, irritação nos olhos e reumatismo.

Bicho-do-ouricuri Coleoptera, Bruchidae


Pachymerus cf. nucleorum
Fritar uma porção (larvas) em sua própria gordura para extrair um óleo, o qual é
usado como cosmético para evitar caspa.

Caixinha (chocalho-de-cobra, baía) Lepidoptera, Psychidae


Oiketicus sp. ?
Machucar um casulo (inclusive com a larva), torrá-lo, depois moê-lo e pôr o pó em
um chumaço de algodão, o qual é levado ao ouvido para curar dores de ouvido;
Fazer o defumador do casulo e respirar a fumaça para o tratamento de mal do tempo
(derrame ?).

Cavalo-do-cão Hymenoptera, Pompilidae


Espécime não coletado
Tirar as pernas, torrá-las e fazer um chá para o tratamento da asma.
38

Cigarra Homoptera, Cicadidae?


Espécime não coletado
Recomenda-se torrar uma cigarra inteira e colocar o pó resultante no olho para curar
glaucoma.

Cupim-preto Isoptera
Espécime não coletado
Um lambedor preparado com a raspa do pau-ferro-miúdo e um pedaço do
cupinzeiro é indicado para curar pneumonia;
Fazer o defumador da casa e respirar a fumaça para curar mal do tempo (derrame?);
Crianças com prisão de ventre são sentadas no cupinzeiro três vezes seguidas.

Cupim
Espécime não coletado Isoptera
Pegar um pedaço de pano, esfregá-lo no umbigo da criança e colocá-lo dentro de um
cupinzeiro. Quando o cupinzeiro fechar, o umbigo murcha. Deve ser feito onde a
criança nunca passará. Acredita-se que isso trate verrugas e umbigo grande.
Tirar um pedaço do cupinzeiro do lado que o sol se põe, colocar para ferver e depois
coar e dar ao paciente no momento em que estiver sofrendo de asma.
Fazer o lambedor do cupim apenas com água e açúcar e dar a alguém que sofre de
tosse e gripe.
Quando a criança tem convulsão, deve-se tirar a sua roupa pela cabeça e colocar no
cupinzeiro. Só serve se a roupa for tirada pela cabeça.

Cupim-branco Isoptera
Fazer um chá da casa desse cupim para o tratamento da asma. O doente não pode
saber o que está tomando.

Cupira Hymenoptera, Apidae


Partamona cf. cupira
Tomar o mel para curar inflamação na garganta.
39

Formiga Hymenoptera, Formicidae


Espécime não coletado
Misturar formigas ao açúcar e usá-lo normalmente para adoçar cafés ou sucos com o
objetivo de melhorar a visão.
Prender uma formiga em um saco e pendurá-lo no pescoço, devendo o paciente
permanecer usando-o até na hora de tomar banho. Depois de um mês, solta-se a
formiga. Fazendo isso, a pessoa nunca mais tem asma.

Formiga-conga Hymenoptera, Mutilidae


Espécime não coletado
Conseguir uma formiga-conga, torrá-la e depois moê-la e preparar um chá com o pó
resultante, o qual é dado a uma criança para fazê-la parar de urinar na cama.
Tirar a bunda (abdome) e deixar a formiga viva. Torrar, pisar e fazer um chá, o qual
é bebido para curar asma.

Formiga-preta-grande Hymenoptera, Formicidae


Paraponera sp.
Torrar uma formiga inteira, depois moê-la e misturar o pó resultante na comida ou
fazer um chá para tratar asma;
A ferroada é indicada para o tratamento de reumatismo e dores nas costas.
O chá feito com o abdome e bebido por nove dias trata problemas de urina.

Gafanhoto Orthoptera, Acrididae


Tropidacris sp. ?
Da casca (exoesqueleto) torrada e moída, faz-se um chá que é bebido para curar
doenças da pele e derrame;
Torrar ou secar ao sol um gafanhoto inteiro, moê-lo e colocar o pó na água fervente.
Depois, coar e beber essa água para curar asma e hepatite.

Grilo Orthoptera, Gryllidae


40

Achaeta domestica
Torrar ou secar ao sol um grilo inteiro, moê-lo e colocar o pó na água fervente.
Depois, coar e beber essa água para a cura da asma ou para “soltar a urina”
(diurético). O mesmo chá pode ser tomado para “dilatação da uretra”;
Torrar um grilo, pisá-lo e colocar o pó resultante na comida e/ou na bebida de
indivíduos que sofrem de asma;
Extrair a perna traseira, torrá-la, moê-la e fazer um chá com o pó, o qual é bebido
como diurético;
Extrair a perna traseira e espremê-la para pingar um líquido no olho para o
tratamento de “óio verméio” (carne crescida?);
Cozinhar um grilo inteiro e beber a água para curar “doenças de mulher”.

Inxu-cachorro Hymenoptera, Vespidae


Protopolybia exigua exigua
Preparar um defumador da casa (ninho) e envolver o indivíduo na fumaça para tirar
mau olhado.

Inxu-verdadeiro (marimbondo-de-pote, inxu-de-pote) Hymenoptera, Vespidae


Brachygastra lecheguana
Tomar o mel para tratar tosse;
Passar um inxu no local ferroado pelo mesmo para passar a dor.

Jataí (jitaí) Hymenoptera, Apidae


Tetragonisca sp. ?
Pingar o mel no olho para tratar catarata, avelide e glaucoma;
O mel é consumido para curar gripe.

Lagarta-de-ouro Coleoptera, Tenebrionidae


Tenebrio sp.
Torrar e colocar o pó resultante em um copo de água quente e deixar abafado por
um tempo. Depois, tomar para o tratamento de cólicas intestinais e uterinas.
41

Mandassaia Hymenoptera, Apidae


Melipona sp. ?
Consumir o mel como um fortificante e quando se é picado por cobras;
Tomar uma colher de sopa do mel pela manhã como tonificante e para “afinar o
sangue”.

Mangangá-mirim Hymenoptera, Anthophoridae


Xylocopa sp. ?
Colocar um pouca da cera derretida em um chumaço de algodão e colocá-lo no
ouvido para tratar dores de ouvido.

Marimbondo-chapéu (eixu-chapéu) Hymenoptera, Vespidae


Apoica pallens
Preparar um defumador da casa (ninho) e respirar a fumaça para curar mal do tempo
(derrame ?);
Pegar a casa, colocar num braseiro e defumar a pessoa contra “mufina”, preguiça e
corpo quebrado.
Preparar um chá com um pedaço da casa para tratar asma.

Marimbondo-de-barro (maria-de-barro, caçador) Hymenoptera, Sphecidae


Espécime não coletado
Desmanchar as casas de barro na água para formar uma lama, a qual é aplicada na
caxumba (papeira).

Marimbondo-santa-maria Hymenoptera, Vespidae


Polistes canadensis
Pegar um pedaço da casa (ninho), colocá-lo na água com açúcar e deixar ferver
bastante. Depois, deixar esfriar e beber contra tosse e coqueluche.

Morotó-de-prensa Diptera, Asilidae


Espécime não identificado
Torrar um morotó e fazer um chá para curar asma e gripe.
42

Mosca Diptera, Muscidae


Musca domestica
Esmagar um punhado de moscas até obter uma massa, a qual é colocada em
furúnculos imaturos;
Pisar a cabeça da mosca com farinha e botar em cima do furúnculo;
Pisar uma mosca inteira com quiabo e farinha e colocar sobre furúnculos;
Esmagar um punhado de moscas, colocar a massa no azeite doce e passá-la em
tumores para extrair o “carnegão”/”cabeça de prego”.

Mosquito Hymenoptera, Apidae


Plebeia spp.
Colocar o mel em um chumaço de algodão ou pano e passá-lo nos lábios de uma
criança para curar “doença de boca de menino” ou sapinho (micose oral);
O mel é consumido para tratar dores de garganta.

Percevejo Hemiptera, Pentatomidae ?


Espécime não coletado
Torrar um percevejo e colocar o pó na água para curar cansaço;
Machucar o percevejo e colocar a massa no nariz ajuda a desentupi-lo.

Rola-bosta Coleoptera, Scarabaeidae


Espécime não coletado
Lavar bem o besouro e fazer um chá, o qual é recomendado para o tratamento de
cansaço e derrame.

Tanajura Hymenoptera, Formicidae


Atta spp.
Torrar uma tanajura inteira, moê-la e fazer um chá para o tratamento de falta de ar e
dor de garganta;
Comer a bunda (abdome) da tanajura para tratar dor de garganta;
Comer crua ou frita para curar tuberculose;
43

Colocar cerca de 100 tanajuras em 100 ml de álcool e depois usar essa tintura para
massagear tendinite três vezes ao dia durante sete dias.

Tarantantã Hymenoptera, Vespidae


Polybia sericea
Fazer um defumador do ninho e respirar a fumaça contra mal do tempo (derrame).

Traça Thysanura
Espécime não coletado
Colocar a traça na água e ferver um pouco. Depois, coar e tomar três vezes ao dia
para o tratamento da asma.

Trombeta Hymenoptera, Apidae


Plebeia sp. ?
Misturar a cera à urina do doente, levar ao fogo para que seja derretida e deixar
esfriar; depois, administrar à pessoa que tem diabete;
Fazer o defumador da cera para curar mal do tempo (derrame), inalando-se a fumaça
três vezes seguidas.

Uruçu Hymenoptera, Apidae


Melipona scutellaris
O mel é consumido como um fortificante, um afrodisíaco e para curar acessos de
tosse, gripe, bronquite e coqueluche;
O mel também deve ser consumido para curar picada de cobra e mordida de
cachorro “doido” (hidrofóbico).

DIPLÓPODOS

Gôngolo (gongo, embuá ou piolho-de-cobra) ?


Espécime não coletado
44

Machucar um gongo inteiro e esfregar a massa em cravos, frieiras e rachaduras do


pé.

CRUSTÁCEOS

Barata-do-mar Stomatopoda
Claridopsis dubia
Torrar uma barata-do-mar inteira, moê-la e fazer um chá com o pó para curar asma.
A pessoa não deve saber o que está tomando.

Camarão Decapoda, Penaeidae ?


Espécime não coletado
Colocar camarões ainda vivos em uma garrafa de cachaça e oferecê-la a quem bebe
com o objetivo de fazer com que o indivíduo deixe o vício da bebida.

Caranguejo-da água-viva ?
Espécime não coletado
Torrar o animal inteiro, triturá-lo e fazer um chá para tratar asma.

Caranguejo-ermitão Anomura, Paguridae


Espécime não coletado
Torrar o animal inteiro, triturá-lo e preparar um chá para tratar hemorragia de
mulher.

Caranguejo-gaiamum Decapoda, Gecarcinidae


Cardisoma guanhumi
Fazer um emplastro com o fel (?) para ajudar a cicatrização de “perebas”
(abscessos).
45

Caranguejo-uçá Decapoda, Ocypodidae


Ucides cordatus
Machucar a banha (corpo gorduroso), coar e tomar com vinho branco para tratar
hemorragia de mulher (menstruação ?).

Grauçá Decapoda, Ocypodidae


Ocypode quadrata
Torrar um grauçá, pisá-lo, colocar o pó em uma xícara de água fervente e beber para
tratar asma.

Tatuzinho Isopoda
Armadillidium cf. vulgare
Machucar um punhado de tatuzinhos, adicionar água e cozinhar até ferver. Depois,
coar e beber para curar asma;
Pisar um punhado de tatuzinho, pôr a massa em um chumaço de algodão e colocá-lo
no ouvido para tratar dores de ouvido.

MOLUSCOS

Aruá (aruará, caramujo) Gastropoda, Pulmonata


Pomacea lineata
Esmagar a massa de ovos e colocar a pasta resultante no pé desmentido ou fazer um
chá com a massa de ovos para curar asma.

Carongondé Gastropoda
Espécime não coletado
Torrar um corongondé, triturá-lo e colocar o pó em água morna. Esse remédio é
para ser tomado durante os acessos de asma.
46

Catassol (búzio do mangue) Gastropoda


Espécime não coletado
Conseguir três catassóis, torrá-los, triturá-los e colocar o pó em água morna. Esse
remédio é para ser tomado durante os acessos de asma.

Lambreta
Lucina pectinata Bivalvia, Lucinidae
Tanto a moqueca quanto o caldo são consumidos como afrodisíaco.

Lesma Gastropoda, Pulmonata


Strophocheilus sp. ?
Esfregar o animal vivo na sola do pé para tratar as rachaduras;
Passar a lesma na verruga.

Lula Cephalopoda, Lolliginidae


Loligo sp. ?
Torrar a pedra (concha interna), triturá-la e fazer um chá para curar asma.

Polvo Cephalopoda, Octopodidae


Octopus sp.
Torrar as pernas e as tripas, depois moê-las e preparar um chá para o tratamento de
cansaço (asma);
Preparar um defumador do couro das costas e respirar a fumaça para curar dor de
cabeça;
Torrar a lixa (concha interna), triturá-la e fazer um chá para curar doença do vento
(derrame ?).

Rochelo Gastropoda, Melongenidae


Pugilina morio
Tanto a moqueca quanto o caldo são consumidos como afrodisíaco.
47

Taguari Gastropoda, Strombidae


Strombus puginis
Tanto a moqueca quanto o caldo são consumidos como afrodisíaco.

Taioba Bivalvia
Espécime não coletado
Tanto a moqueca quanto o caldo são consumidos como afrodisíaco.

Tapu Gastropoda, Turbinellidae


Turbinella laevigata
Cozinha-se com o búzio e bebe-se o caldo para tratar nervo fraco (impotência).

EQUINODERMOS

Estrela-da-costa Echinoidea, Mellitidae


Mellita sp.
Torrar um pedaço, depois moer e fazer um chá com o pó para curar asma.

Estrela-do-mar Asteroidea, Luidiidae


Luidia senegalensis
Torrar uma estrela inteira, depois moer e fazer um chá com o pó para curar asma,
bronquite e derrame.
Usá-la como amuleto para espantar mau-olhado

Echinaster (Othilia) echinophorus Asteroidea, Echinasteridae


Idem.

Pinaúna Echinoidea, Echinometridae


48

Echinometra lucunter
Torrar uma pinaúna, moê-la e fazer um chá para tratar asma.
PEIXES

Arraia Myliobatiformes, Myliobatidae


Myliobates sp.
Torrar o esporão e preparar um chá para curar asma;
Colocar o pó do esporão torrado no dente “quebrado” para aliviar as dores;
Beber a banha torrada para curar asma;
Passar o óleo (banha) em feridas.

Bacalhau Gadiformes, Gadidae


Gadus sp.
Colocar o couro em furúnculos.

Bagre-do-mangue Siluriformes, Ariidae


Netuma barba
Furar seu olho, retirar a “goga” e passá-la no lugar afetado pelo seu esporão com o
objetivo de aliviar as dores causadas pelo mesmo.

Bagre-fidalgo Siluriformes, Ariidae


Bagre bagre
Idem.

Bagre-urutu Siluriformes, Ariidae


Sciadeichthys luniscutis
Idem.

Baiacu Tetraodontiformes, Tetraodontidae


49

Sphoeroides testudineus
Extrair a banha e passá-la em reumatismo.

Baiacu-de-espinho Tetraodontiformes, Diodontidae


Diodon sp.

Preparar um defumador do couro e respirar a fumaça para curar asma.

Baiacu-xaréu Tetrodontiformes, Tetraodontidae


Colomesus sp.
Colocar o fel no dente para aliviar dor de dente;
Cobrir ferimentos com o couro.

Bonome Perciformes, Haemulidae


Haemulon sp.
Extrair o óleo do fígado e passá-lo em áreas inchadas.

Caboge Siluriformes, Callichthyidae


Callichthys cf. callichthys
Cuspir em sua boca três vezes e soltá-lo vivo para curar asma;
Comer um caboge para tratar umbigo grande (hérnia umbilical).

Cação-rabo-seco Carcharhiniformes, Carcharhinidae


Rhizoprionodon sp.
Torrar o fígado para extrair a banha (gordura) e tomá-la para curar asma;
Passar a banha em feridas e reumatismo.

Cação-chapéu Carcharhiniformes, Carcharhinidae


Sphyrna lewini
Idem.

Cangurupim Elopiformes, Elopidae


50

Tarpon atlanticus

Fazer o defumador da escama e respirar a fumaça para tratar doença do vento, falta
de ar e dor de cabeça;
Torrar a escama e fazer um chá para tratar asma (puxado).

Cascudo Siluriformes, Callichthyidae ?


Espécime não coletado
O caldo no qual o peixe foi cozido é bebido para tratar fastio.

Cavalo-marinho Gasterosteiformes, Syngnathidae


Hippocampus reidi
Secar ao sol um cavalo-marinho inteiro, depois torrá-lo, moê-lo e fazer um chá para
tratar asma (puxeira ou puxado). Também é indicado para casos de derrame e
bronquite;
Tomar o lambedor de cavalo-marinho para tratar asma. Prepara-se o lambedor com:
cebola-branca, pedra do arapuá, alecrim-de-quintal, palha de alho, açúcar e água.
Leva-se ao fogo brando por cerca de 20 minutos, acrescentando-se o pó do cavalo-
marinho depois de pronto. Dosagem: se for adulto, deve-se dar uma colher de sopa
três vezes ao dia e se for criança, dar uma colher de chá também três vezes ao dia.

Cumbá (molé) Siluriformes, Auchenipteridae


Parauchenipterus galeatus
Extrair um esporão e deixar o peixe ir embora. Depois, torrar o esporão, triturá-lo e
fazer um chá com o pó para tratar impotência sexual.

Curvina Perciformes, Scianeidae


Micropogonias furnieri
As pedras da cabeça (otólitos) são colocadas em um “breve”, o qual é atado em
volta do pescoço de uma criança para tratar acessos de tosse e asma.
51

Muçum Synbranchiformes, Synbranchidae


Synbranchus marmoratus
Cuspir na boca de um muçum e soltá-lo vivo é procedimento recomendado para o
tratamento da bronquite;
Passar um muçum vivo nas pernas de uma criança para que ela ande mais depressa.

Niquim Batrachoidiformes, Batrachoididae


Thalassophryne nattereri ?
Passar a “goga do olho” e/ou o miolo da cabeça no local afetado pelo seu ferrão
para passar a dor;
Comer três niquins assados, sem sal, para prevenir as dores na próxima vez que o
indivíduo é atingido pelo seu ferrão.

Pegador Perciformes, Echeneidae


Echeneis naucrates
Secar ao sol a capa da cabeça (= lixa, casaca ou serria), torrá-la, pisá-la e fazer um
chá com o pó resultante para curar bronquite e asma.

Peixe-elétrico Torpediniformes, Narcinidae


Narcine brasiliensis ?
Colocar a banha no dente dolorido para tratar dor de dente.

Electrophorus electricus Gymnotiformes, Electrophoridae


O choque que ele provoca é indicado para o tratamento de reumatismo;
Passar a banha em reumatismo, bem como aplicá-la no ouvido e no dente para tratar
dores de ouvido e de dente, respectivamente;
Usar a banha para massagear pancadas, torções e picadas de insetos.

Peixe-pena Perciformes, Sparidae


Calamus penna ?
Torrar a “pena” (nadadeira) e fazer um chá para curar cansaço (asma).
52

Peixe-porco (capado ou peroá) Tetraodontiformes, Balistidae


Balistes vetula
Fazer o defumador da escama e inalar a fumaça para tratar derrame;
Extrair a banha do fígado, pô-la em um chumaço de algodão e aplicá-lo no ouvido
para tratar dores de ouvido;
Fazer o defumador do couro e inalar a fumaça para tratar derrame e asma;
Preparar um chá do couro para “empachamento” (?) e asma;
Torrar a banha e bebê-la para tratar derrame;
Torrar o esporão, moê-lo e colocar o pó resultante no local afetado pelo mesmo;
Passar a “goga do olho” no local afetado por seu esporão.

Piaba-branca Characiformes, Characidae ?


Espécime não coletado
Pegar três piabas brancas e colocá-las em uma garrafa de cachaça, a qual é enterrada
por três a nove dias. Depois desse período, a garrafa é desenterrada e a cachaça é
oferecida a quem tem vício da bebida para que o deixe;
Utiliza-se também do pó da espinha torrada de uma piaba para o mesmo fim.

Piaba-mirim Characiformes, Characidae


Astyanax cf. bimaculatus
Pegar três piabas vivas e pisá-las inteiras. Colocar a massa resultante em uma
garrafa de aguardente e enterrá-la por cinco a seis dias. Depois, desse período, a
garrafa é desenterrada e a cachaça é oferecida a quem tem vício da bebida para que
o deixe.

Piranha Characiformes, Characidae


Serrasalmus spp.
O caldo de piranha é tomado como um fortificante.
53

Rubalão Perciformes, Centropomidae


Centropomus undecimalis
Torrar a banha e passá-la nas pernas para desinchá-las.
Traíra Characiformes, Erythrinidae
Hoplias malabaricus
Torrar a banha e usá-la para tratar reumatismo, catarata, surdez, ferimentos, dor de
dente, puxado, hemorragias e caroço (furúnculo);
A banha crua é recomendada como antídoto contra mordida de cobra e é passada
por volta do olho para tratar conjuntivite;
Colocar uma traíra-marinheira (?) viva na cachaça por três dias, Depois, dar a
alguém que bebe para que deixe o vício da bebida. No Centro de Abastecimento de
Feira de Santana, diz-se que a banha deve ser colocada dentro da aguardente sem a
pessoa saber. Com o tempo, ela enjoará da bebida;
Torrar escamas, moê-las e fazer um chá com o pó resultante, o deve ser bebido
contra alcoolismo;
Fritar a banha em um recipiente virgem (“que nunca viu carne vermelha”) sem sal,
deixar esfriar e depois passá-la nos olhos ou em pancadas.

Xira Characiformes, Prochilodontidae


Prochilodus sp.
Fazer um emplastro com a banha para tratar caroço (furúnculo).

ANFÍBIOS

Jia-de-peito Anura, Leptodactylidae


Leptodactylus cf. labyrinthicus
A banha serve para tratar dores de ouvido;
Passar a banha aquecida em reumatismo.

Sapo Anura, Bufonidae


54

Bufo cf. paracnemis


Beber o chá feito com o pó do couro torrado como abortivo;
Comer sapo cozido sem o couro, em jejum, como abortivo;
Amarrar um sapo em volta da virilha para que o indivíduo volte a urinar;
Ferver um sapo e beber o líquido para tratar “prisão de urina”;
Colocar um pedaço do couro em espinhas para secá-las;
Abrir um sapo ainda vivo e colocá-lo sobre o abdome em casos de retenção urinária;
Os ossos dos membros são usados para palitar os dentes prevenindo-se, assim, as
cáries;
Extrair a banha de um sapo ainda vivo e bebê-la para tratar inflamação da garganta;
Retirar a banha, colocá-la em água morna e depois beber para curar câncer. A banha
também é usada em casos de dores de coluna, massageando-se a área dolorida;
Pingar umas gotas da banha sobre as feridas para ajudar no processo de cicatrização;
Colocar a banha ou o couro sobre estrepe ou esporão para retirá-lo. O mesmo
procedimento é feito para se extrair furúnculos;
Colocar o couro sobre a mama para curar câncer de mama;
Colocar o couro em feridas.

RÉPTEIS

Cágado-d‟água Testudines, Chelidae


Phrynops spp.
Fritar a banha ou mesmo passá-la crua em reumatismo. Ela pode ser bebida;
Torrar o casco, moê-lo e fazer um chá para curar derrame;
O ovo do cágado é consumido para o tratamento de bronquite;
Bater um ovo no liqüidificador e beber contra prisão de ventre e bronquite;
Bater o cágado no chão três vezes para inchar o fígado. Depois, partir o cágado e
extrair o fígado. Bater no leite cru sem sal e sem açúcar para tratar diabetes;
Misturar a banha ao chá de hortelã-miúdo e bebê-la para tratar reumatismo;
Passar a banha em queimaduras e furúnculos;
55

Torrar o casco, raspá-lo e deixá-lo desmanchar em água fria juntamente com tapioca
e tauá-branco. Beber o líquido sem açúcar em casos de disenteria com hemorragia.

Camaleão Squamata, Lacertilia, Iguanidae


Iguana iguana
Pingar gotas da banha no ouvido para curar dores de ouvido;
Passar a banha em erisipelas.

Cascavel Squamata, Ophidia, Crotalidae


Crotalus durissus cascavella
Torrar o chocalho (guizo) da cascavel, moê-lo e fazer um chá com o pó resultante
contra seu próprio veneno, bem como para curar asma, dores nas juntas e doença do
ar. Ás vezes, mistura-se o pó à cachaça;
Usar o chocalho diariamente para se proteger contra “coisa ruim”;
Fazer o defumador do chocalho e inalar a fumaça para curar derrame (mal do
tempo);
Fritar a banha e bebê-la contra tuberculose;
Passar a banha em feridas brabas, pancadas, reumatismo e luxações.

Cobra
Após a picada, matar a cobra, tirar o fígado e comê-lo.

Cobra-coral Squamata, Ophidia, Elapidae


Micrurus sp.
Colocar uma cobra-coral dentro de uma garrafa de cachaça, a qual é bebida para
prevenir acidentes com cobras peçonhentas.
Oxyrhopus sp. Squamata, Ophidia, Colubridae
Idem.

Cobra-de-coragem Squamata, Ophidia


Espécime não coletado
56

Cortar um pedaço da cauda, colocar em volta do pescoço e deixar a cobra ir embora.


Isso é acreditado curar epilepsia.

Cobra-de-duas-cabeças Squamata, Amphisbaenia, Amphisbaenidae


Amphisbaenia sp.
Tirar o couro e cozinhar o animal só com água. Depois, beber essa água para o
tratamento de doenças do coração;
A carne cozida é consumida para a cura de ardência do estômago.

Cobra-pequena-verde Squamata, Ophidia, Colubridae


Espécime não coletado
A carne é consumida para a cura de dores de barriga.

Jabuti Testudines, Testudinidae


Geochelone carbonaria
Passar o sangue quente em erisipela;
Criar um jabuti como animal de estimação evita que os indivíduos que residem na
casa desenvolvam erisipela e bronquite;
Deixar um cágado (jabuti) dentro de casa durante uma reza contra erisipela;
Comer o coração evita sentir sede.

Jacaré-de-papo-amarelo Crocodilia, Crocodilidae


Caiman cf. latirostris
Beber o chá feito com um pedaço do couro torrado para curar reumatismo, derrame
e dores de coluna;
Usar uma figa feita com as unhas (garras) para prevenir mau-olhado;
Fazer um defumador do couro e respirar a fumaça para curar asma e derrame;
Cortar um pedaço da cauda, torrar, moer e pôr o pó em uma garrafa de cachaça, a
qual é bebida para tratar impotência sexual masculina;
Torrar o pênis, moê-lo e colocar o pó dentro de uma garrafa de cachaça, a qual é
bebida para tratar impotência sexual masculina;
57

Fazer um chá com a raspa dos dentes e bebê-lo contra picadas de cobra;
Esquentar a sua banha e passar no local afetado de reumatismo;
Confeccionar um colar com os dentes de jacaré e usá-lo em volta do pescoço de
uma criança previne que ela apresente mazelas durante o aparecimento da primeira
dentição.

Jacaré-preto Crocodilia, Crocodilidae


Paleosuchus palpebrosus
Idem

Jibóia Squamata, Ophidia, Boidae


Boa constrictor
Passar a banha crua em reumatismo;
Derreter a banha e respirar o vapor para o tratamento de doenças do pulmão;
Adicionar uma colher de sopa da banha ao café e tomá-lo para tratar mal do tempo
(derrame?);
Colocar a banha em água morna e bebê-la para tratar derrame;
Tomar duas colheres de sopa da banha para estourar pus e tratar asma;
Passar a banha no peito para curar tuberculose;
Derreter um pouco da banha, colocá-la em uma colher de sopa e bebê-la, em jejum,
para curar dor de estômago;
Os ossos, torrados e misturados a algum líquido, é “bom pra tudo”;
Consumir a carne cozida para tratar reumatismo.

Lagartixa Squamata, Lacertilia, Gekkonidae


Espécime não coletado
Cozinhar uma lagartixa inteira e comer a carne sem sal para curar sarampo
recolhido, catapora, papeira e dor de garganta;
Torrar uma lagartixa inteira, moê-la e misturar o pó à comida ou à água. Acredita-se
que esse remédio é bom para o sangue e para romper dentes de criança. Também é
recomendado no tratamento da sífilis, do sarampo e da catapora;
58

Beber a água na qual uma lagartixa foi cozida para tratar doenças do coração. Ela
pode ser comida;
Fazer gargarejo com a água na qual uma lagartixa ainda viva foi cozida para tratar
sarampo;
Retirar a cabeça e o rabo, torrar o corpo e moer. Depois, colocar o pó no café ou
mistura à comida. Isso trata asma e sarampo;
Fazer um xarope da lagartixa, misturado com certas plantas medicinais, para tratar
asma;
Cozinhar uma lagartixa sem o couro apenas em água. Depois de cozida, beber a
água para o tratamento de problemas hepáticos;
Torrar o couro de uma lagartixa, moer e fazer um chá para o tratamento da asma e
dor de cabeça;
Torrar uma lagartixa e colocar o pó na cachaça e dar ao indivíduo que bebe para que
deixe o vício da bebida;
Torrar o rabo da lagartixa, triturá-lo e depois fazer um chá com o pó para tratar
derrame e sarampo.

Lagartixa-de-lajedo Squamata, Lacertilia, Tropiduridae


Tropidurus semitaeniatus
Beber a água na qual o lagarto foi cozinhado vivo para curar sarampo recolhido;
Cuspir na boca de um lagarto três domingos seguidos para curar asma.

Papa-pinto Squamata, Ophidia


Espécime não coletado
Passar a banha em reumatismo.

Salamanta Squamata, Ophidia, Boidae


Epicrates ceuchria xerophilus
Esquentar a banha e passá-la nas áreas afetadas com reumatismo.

Sucuiú Squamata, Ophidia, Boidae


59

Eunectes murinus
Usar a banha para curar problemas de pele;
Misturar três pingos de sua banha ao café e tomar contra reumatismo.

Surucucu Squamata, Ophidia


?
Passar a banha nas áreas afetadas com reumatismo.

Tartaruga-cabeçuda Testudines, Cheloniidae


Caretta caretta
Fritar a banha e passá-la em feridas, pancadas e reumatismos;
Colocar a banha em um chumaço de algodão, aplicando-o no dente dolorido;
Preparar o defumador das patas traseiras e inalar a fumaça para tratar doença do
vento (derrame ?);
Torrar a casca do ovo, moer e colocar o pó na água fervente, abafar e beber para o
tratamento da asma;
Cozinhar o ovo e comê-lo para o tratamento da diabete;
Fritar a banha e bebê-la em casos de dor de cabeça, tosse, bronquite e rouquidão
asmática;
Beber a banha com mel de abelha para curar asma e gripe.

Tartaruga-de-couro Testudines, Cheloniidae


Lepidochelys olivacea
Idem

Tartaruga-de-pente Testudines, Cheloniidae


Eretmochelys imbricata
Idem

Tartaruga-verde Testudines, Cheloniidae


Chelonia mydas
60

Idem

Teiú Squamata, Lacertilia, Teiidae


Tupinambis merianae
Inserir a ponta da cauda do teiú no ouvido para tratar dores de ouvido;
Preparar um chá com o pó do couro torrado para curar reumatismo. Diz-se que
também é “bom para o sangue”;
Tomar o fel na cachaça contra picada de cobra;
Pingar gotas da banha no ouvido para curar dores de ouvido;
Passar a banha em erisipelas e reumatismo.

AVES

Anu (anum) Cuculiformes, Cuculidae


Crotophaga sp.
Cozinhar um anu sem as penas e beber a água para curar asma;
Torrar as penas e fazer um chá para tratar bronquite e asma;
Torrar um anu inteiro, depois pisá-lo e colocar o pó resultante na água. Pacientes
sofrendo de asma devem tomar uma colher de chá três vezes ao dia.

Bem-te-vi
Pitangus sulfuratus
Colocar a banha em um chumaço de algodão e pô-lo sobre o dente dolorido.

Bezunga (beija-flor) Apodiformes, Trochilidae


Espécime não coletado
Preparar um defumador do ninho e respirar a fumaça para curar derrame;
Torrar um beija-flor sem as penas (ou o ninho), moê-lo e fazer um chá apenas com o
pó para o tratamento da asma.
61

Caga-sebo Passeriformes, Emberizidae


Coereba flaveola
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para tratar derrame.

Cancão Passeriformes, Corvidae


Cyanocorax cyanopogon

Criar um cancão em casa evita que os moradores contraiam asma.

Codorna Tinamiformes, Tinamidae


Nothura boraquira
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para tratar derrame;
Colocar a banha em um chumaço de algodão e pô-lo sobre o dente dolorido.

Ema Rheiformes, Rheidae


Rhea americana
Passar a banha em reumatismos e dores em geral;
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para tratar derrame;
Fazer um chá do pó da casca do ovo torrada e dar à pessoa para tratar asma. Ela não
pode saber o que está tomando.

Galinha Galiformes, Phasianidae


Gallus domesticus
Usar a banha morna em casos de congestão nasal e furúnculos;
Torrar a banha e bebê-la para curar tosse e gripe;
Aquecer a banha e passá-la no peito de criança ou tomar algumas gotas para tratá-la
de “catarro no peito”;
Lavar o bucho da galinha e pôr para secar. Depois, torrá-lo e dar à pessoa para tratar
indigestão;
Bater no liqüidificador uma gema e óleo de rícino e beber a mistura para tratar
bronquite;
62

Cozinhar um pinto novo em pedaços, fazendo um caldo temperado e engrossado


com farinha ou aveia, o qual é recomendado como um fortificante;
Colocar as fezes da galinha em verrugas;
Usar a clara do ovo como um anti-hemorrágico, colocando-a em feridas para deter o
sangramento;
Bater a clara do ovo muito levemente, adicionar água e açúcar e então beber para
tratar disenteria;
Pagar um pinto ou dois e pisá-los no pilão ainda vivos. Depois, adicionar água para
formar um caldo. Depois de coado, esse remédio é bebido para tratar acidentes
graves;
Cozinhar um ovo, descascá-lo e tirar a gema. Depois, torra-se a gema até aparecer
um óleo, o qual é recomendado para curar feridas brabas;
Tirar a banha de uma galinha de quintal e deixar secar. Depois, torrar e colocar três
gotas na água e beber para o tratamento de catarro no peito.

Galinha-d‟angola (saqüé)
Numida mellagus

Comer o fígado e/ou a carne assada sem sal para tratar doença de pele (?).

Jacu Galliformes, Cracidae


Penelope jacucaca
Beber a água na qual os ossos foram cozidos para curar acessos de insônia;
Beber a banha no café ou chá para o tratamento da asma.

João-de-barro (maria-de-barro) Passeriformes, Furnariidae


Furnarius sp.
Molhar um pedaço do ninho na água e aplicar a massa na papeira.

Juriti Columbiformes, Columbidae


Leptotila rufoaxila
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para curar derrame.
63

Nambu (alambu ou lambu) Tinamiformes, Tinamidae


Crypturellus sp.
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para tratar derrame.

Papagaio Psittaciformes, Amazona aestiva


Cozinhar as fezes, coar e beber o líquido para curar asma.

Pato Anatidae
Misturar no liquidificador dois ovos e uma lata de leite condensado. Depois,
oferecer ao indivíduo com asma.

Perdiz Tinamiformes, Tinamidae


Rhynchotus rufescens
Torrar um dos pés e fazer um chá contra picada de cobra;
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para curar derrame;
Misturar a banha ao café ou à cachaça para tratar tuberculose.

Peru
Mellaguis gallopavo
Torrar a escova (pena do peito) de um peru preto, colocar o pó na água e fazer um
chá para tratar asma.

Pombo Columbiformes, Columbidae


Columba livia
Pegar uma quantidade de fezes secas e cozinhar na água até desmanchar. Depois,
acrescentar mel, cravo e metade de uma folha de manga espada. Deve ser bebido
para a cura da asma.
64

Quero-quero Charadriiformes, Charadriidae


Vanellus chilensis
Comer o coração para evitar sentir sono.

Rolinha Columbiformes, Columbidae


Columbina sp.
Preparar um defumador do ninho e respirar a fumaça para tratar derrame. Pode-se
fazer um chá também.

Saracura Gruiformes, Rallidae


Aramides cajanea
Fazer o defumador das penas para prevenir mau-olhado.

Tenten Passeriformes, Emberizidae


Tachyphonus sp. ?
Comer a cabeça da tenten para tratar insônia.

Urubu Ceconiiformes, Cathartidae


Cathartes sp. ?
Consumir a carne cozida para curar tuberculose;
Torrar a pena e fazer um chá para curar asma, alcoolismo e tuberculose;
Pisar o fígado de um urubu, acrescentar água e beber para o tratamento da asma;
Cozinhar o ovo por um dia, descascá-lo e tirar a gema. Depois, torra-se a gema até
aparecer um óleo. Coloca-se três gotas desse óleo em água morna e dá para o
indivíduo beber, sem saber o que está tomando. Isso é indicado para curar epilepsia;
Passar a banha nas áreas afetadas com reumatismo.

Zabelê Tinamiformes, Tinamidae


Crypturellus noctivagus zabele
Fazer o defumador das penas e respirar a fumaça para curar derrame;
Misturar a banha ao café ou à cachaça para tratar tuberculose.
65

MAMÍFEROS

Baleia Cetacea
Espécime não coletado
O óleo extraído da banha é usado topicamente em reumatismo;
Colocar o óleo em uma colher de chá, esquentá-lo e bebê-lo para curar asma;
Sentar no pilão (vértebra) para se livrar de dores de coluna.

Bode (cabrito) Artiodactyla, Bovidae


Capra hircus
Passar o sebo de um bode castrado (capado) em torções;
Derreter o sebo de um bode capado e passá-lo morno em aleijão.

Boi Artiodactyla, Bovidae


Bos taurus
Cozinhar o pênis e beber a água como um afrodisíaco em casos de impotência
sexual masculina;
Desmanchar as fezes frescas na água com um dente de alho, coar e beber para curar
sarampo;
Embrulhar as fezes frescas em uma pano e pôr para ferver junto com açúcar. Esse
remédio é bom para tratar problemas de bexiga e catapora;
Bater o fígado no liqüidificador, acrescentar água e beber para curar anemia;
Torrar o chifre, moê-lo e fazer um chá com o pó para tratar dor de umbigo (hérnia
?);
Extrair o tutano do fêmur e cozinhá-lo até restar um óleo, o qual é usado como
cosmético para prevenir a calvície;
Comer o pirão do mocotó insosso para curar mal do tempo (derrame ?);
66

Torrar o chifre (se for homem, de vaca; se for mulher, de boi) e triturá-lo. Depois,
misturar o pó à tapioca de mandioca e usar durante três dias ou mais se necessário
para curar “andaço” e “provocação” (disenteria e vômitos);
Torrar o chifre para prevenir olho grande (mau olhado).

Cabra Artiodactyla, Bovidae


Capra hircus
O leite de cabra é bebido como um “fortificante”.

Cachorro Carnivora, Canidae


Canis familiaris
Embrulhar as fezes secas em uma pano, ferver, depois coar e pôr a massa em
sarampo ou então beber na forma de chá para curar asma e catapora.

Caititu Artiodactyla, Tayassuidae


Tayassu tajacu
Fazer o defumador do couro e respirar a fumaça para curar derrame.

Cambambá (gambambá) Carnivora, Mustelidae


Conepatus semistriatus ?
Colocar a bufa do animal em uma garrafa de cachaça e enterrá-la por três dias.
Depois de desenterrada, deixar a garrafa esfriar e beber o líquido para curar
reumatismo;
Misturar a banha à cachaça ou água e beber para o tratamento do derrame e
reumatismo;
Cozinhar a carne sem sal e beber o caldo para curar reumatismo.

Capivara Rodentia, Hydrochaeridae


Hydrochaeris hydrochaeris
Passar a banha em reumatismos;
Fritar a banha, misturar à água beber contra derrame;
67

Pingar algumas gotas da banha no chá ou no café para curar asma.

Carneiro Artiodactyla, Bovidae


Ovis aries
Passar o sebo de um carneiro castrado (capado) em torções;
Derreter o sebo de um carneiro capado e passá-lo morno em aleijão;
Aquecer o sebo e passar em reumatismos e pancadas. Deve-se manter o local
aquecido.

Cavalo Perissodactyla, Equidae


Equus caballus
Misturar o excremento ao sumo da folha da jurubeba e aplicar essa mistura em
cortes fundos;
Colocar a raspa do casco na cachaça e passar essa mistura em dermatoses.

Coelho Lagomorpha, Leporidae


Sylvilagus brasiliensis
Engolir cocô de coelho é bom para conjuntivite. Se a pessoa engolir cinco bolotas,
levará cinco anos sem ter.

Coelho-do-mato Lagomorpha, Leporidae


Sylvilagus brasiliensis
Colocar o pêlo em queimaduras.

Gato Carnivora, Felidae


Felis catus
Cortar a ponta da orelha de um gato, torrá-la, pisá-la e pôr o pó em um copo de
água. Depois coar e beber para curar asma. O paciente não deve saber o que está
bebendo;
Fazer xarope das fezes de um gato para o tratamento da gripe.
68

Gato-do-mato Carnivora, Felidae


Leopardus sp.
Torrar a língua do gato-do-mato e fazer um chá como antídoto contra picada de
cobras.

Guará Carnivora, Canidae


Chrysocyon brachyurus
Torrar o couro e fazer um chá para curar epilepsia.

Jegue (jumento) Perissodactyla, Equidae


Equus asinus
Beber o leite de uma jega preta em casos de picada de cobra;
Torrar os ossos de uma jega preta e colocar as cinzas na cachaça, a qual é bebida
visando a cura de reumatismo;
Beber o leite fresco para curar coqueluche (“tosse de agarra”) e asma.

Lontra Carnivora, Mustelidae


Lutra longicaudis ?
Preparar um defumador do couro e respirar a fumaça para derrame.

Mocó Rodentia, Caviidae


Kerodon rupestris
Desmanchar as fezes na água, coar e tomar essa água por três dias para curar
obstipação („intuído”).

Morcego Chiroptera
Espécime não identificado
Colocar o sangue de um morcego dentro de uma garrafa de cachaça e enterrá-la por
três dias. Depois, desenterrá-la e oferecer a cachaça a um indivíduo que bebe para
que ele deixe o vício da bebida;
69

Cozinhar um morcego em um litro de água, coar e dar para criança que sofre de
asma.

Ouriço-cacheiro (luiz-cacheiro, porco-espinho) Rodentia, Erethizontidae


Coendou sp. ?
Preparar o defumador do couro e respirar a fumaça para curar derrame;
Torrar os espinhos, moê-los e fazer um chá para curar asma, bronquite e epilepsia.

Paca Rodentia,
Agoutidae
Agouti paca
Torrar a língua, moê-la e colocar o pó na água, no café ou no suco para tratar
problemas do estômago.

Peixe-boi Sirenia, Trichechidae


Trichechus inunguis, T. manatus
Passar a banha em reumatismo, picadas de insetos e pancadas.

Porco Artiodactyla, Suidae


Sus scrofa domesticus
Aquecer a banha de uma leitoa virgem e passá-la em furúnculos e tumores para
madurá-los;
Castrar o testículo esquerdo de um porco e torrá-lo em uma chapa por três dias.
Depois, moê-lo e misturar o pó resultante ao café ou à água para curar asma. O
indivíduo não deve saber o que está tomando.

Preguiça Xenarthra, Bradypodidae


Bradypus sp.
Preparar um defumador do couro e inalar a fumaça para curar asma e derrame;
Em casos de insônia, o couro é colocado debaixo do travesseiro.
70

Quati Carnivora, Procyonidae


Nasua nasua
Torrar o pênis (geralmente conhecido pelo nome de cipó de quati), torrá-lo, triturá-
lo e fazer um chá com o pó para tratar impotência sexual masculina.

Queixada Artiodactyla, Tayassuidae


Tayassu pecari
Fazer o defumador do couro e respirar a fumaça para curar derrame.

Raposa Carnivora, Canidae


Dusicyon sp. ?
Passar a banha em reumatismo;
Dissolver o fígado na água e tomar contra diabetes;
Misturar a banha à cachaça e ingeri-la para curar reumatismo.
Ralar o osso, pôr o pó na água e pingar no olho como colírio para tratar problemas
de visão;
Colocar o fel (?) em um recipiente com água para que seja dissolvido e então beber
para curar diabetes;
Fazer um defumador do couro para tratar derrame (ar do vento);
O chá do couro torrado é bom para tratar infecção urinária;
Comer a carne assada e sem sal para tratar doença da pele.

Sagüim Primates, Callithridae


Callithrix sp.
Comer a carne de um sagüim sem sal para tratar de dores nos ossos.

Saruê (sariguê) Marsupialia, Didelphidae


Didelphis sp.
Torrar os ossos, moê-los e misturar o pó à cachaça, a qual é bebida para tratar dores
nas articulações. Também pode ser colocado na comida;
71

Passar a banha na garganta para tratar dores de garganta.

Tatu-bola Xenarthra, Dasypodidae


Tolypeutis tricinctus
Queimar o casco, pisar e fazer um chá com o pó para curar reumatismo;
Queimar o casco, pisar, pôr um pouco de água e coar a mistura. Depois, dar a um
indivíduo que sofre de dor de barriga.

Tatu-peba Xenarthra, Dasypodidae


Euphractus sexcinctus
Fazer o defumador dos ossos e deixar que a fumaça envolva os ferimentos para
cicatrizar as feridas;
Extrair a banha, esquentá-la um pouco e passá-la nas feridas;
Passar o sangue ainda quente nas feridas para cicatrizá-las;
Inserir a ponta do rabo no ouvido para curar dores de ouvido;
Passar a banha em estrepada (perfuração por farpas) e aleijão.

Tatu-verdadeiro Xenarthra, Dasypodidae


Dasypus novemcinctus
Inserir a ponta do rabo no ouvido para curar dores de ouvido.

Tamanduá-bandeira Xenarthra, Myrmecophagidae


Myrmecophagus tridactyla
Fazer o defumador do couro e respirar a fumaça para curar derrame;
Passar a banha em aleijão;
Banhar-se com água na qual a carne de um tamanduá foi cozida para tratar coceira.

Vaca Artiodactyla, Bovidae


Bos taurus
Beber o mijo em jejum para tratar tosse braba;
Beber a urina de uma vaca preta com leite para tratar bronquite.
72

Veado Artiodactyla, Cervidae


Mazama cf. gouazoubira
Queimar o couro e respirar a fumaça para curar derrame;
Moer o fêmur e adicionar o pó à comida ou fazer um chá, o qual é dado a uma
criança para que ela ande mais cedo;
Fazer um chá das raspas das unhas (casco) para curar asma;
Raspar a ponta do chifre e colocar um pouco do pó no dente dolorido;
Carregar consigo o cabo (cauda) para prevenir mazelas (acidentes);
Passar a banha em feridas;
Torrar uma das patas, depois moer e fazer um chá, o qual é bebido para o tratamento
da diabetes;
Extrair o óleo da canela (secreção da glândula tarsal) e passar em reumatismo.
73

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APÊNDICES
74

APÊNDICE 1

Animais utilizados na medicina etnoveterinária do estado da Bahia.


Nome vernacular Pista Parte/produto Animal tratado Enfermidade
Taxonômica utilizado
INSETO
Abelha-branca Frieseomellita Mel Gado “Encaramento”
sp.
Arapuá Trigona Casa Cachorro Sarna e parasitas
spinipes
Barata Periplaneta Integral Gado Dor de barriga
americana
Cavalo-do-cão Pompilidae Integral Cachorro de Restituir o faro,
caça evitar hidrofobia
Cupim Isoptera Integral Idem Restituir o faro

EQUINODERMO
Estrela-do-mar Luidia Integral Cachorro Falta de ar
senegalensis

PEIXE
Arraia Myliobates sp. Espinho Várias Ferimentos
espécies
Cangurupim Tarpon Escama Idem Doença do vento
atlanticus
ANFÍBIO
Sapo Bufo sp. Couro Idem Extrair estrepe

RÉPTIL
Cágado Phrynops sp. Casco Cachorro Evitar hidrofobia
Tartaruga marinha Caretta caretta Banha Idem Nariz entupido
75

Cont.

Nome vernacular Taxonomia Parte/produto Animal tratado Enfermidade


utilizado
Cascavel Crotalus cf. Idem Várias espécies Reumatismo, extrair
durissus estrepe
Jibóia Boa constrictor Idem Idem Reumatismo, extrair
estrepe
AVES
Urubu Cathartes aura Inteiro Galinha Doenças
Pena Cachorro Hidrofobia
MAMÍFEROS
Michila Tamandua Couro Cachorro de Verruga
tetradactyla caça
Tatu Dasypodidae Casco Idem Melhorar o faro
76

APÊNDICE 2

Animais utilizados em rituais afro-brasileiros no estado da Bahia.


Nome vernacular Parte/produto Utilidade
utilizado
Caranguejeira Pó Preparar pembas
Búzio Integral Jogo de búzios
Sapo Couro Trabalho de despacho
Cavalo-marinho Integral Idem
Estrela-do-mar Idem Idem
Galinha Idem Idem
Pomba (branca) Idem Trabalho de união e de despacho
Urubu Pena Preparar pembas
Boi Raspa do chifre Idem
Bode Cabeça Idem
Veado Raspa do chifre Defumador em despachos
Pata Amuleto de sorte

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