A Utilização de Coberturas Vegetais em Clima Mediterrânico
A Utilização de Coberturas Vegetais em Clima Mediterrânico
A Utilização de Coberturas Vegetais em Clima Mediterrânico
Dissertação
Orientador:
Maria da Conceição Lopes Castro
Coorientador:
Rute Sousa Matos
Abril 2012
Mestrado em Arquitetura Paisagista
Dissertação
Orientador:
Maria da Conceição Lopes Castro
Coorientador:
Rute Sousa Matos
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar não podia deixar de agradecer aos meus pais. Eles que sempre me
apoiaram nas minhas decisões e escolhas, que me deram força para continuar e que
fizeram tudo o que estava ao seu alcance para eu poder chegar até aqui e tornar-me no que
sou hoje.
ao meu amigo e colega António Serrano pelo apoio e forte incentivo que sempre me deram,
por acreditarem em mim e nas minhas potencialidades e por me ajudarem sempre que
necessitei e que a eles recorri, não só nesta fase mas também durante o meu percurso
Quero também agradecer à professora Conceição Castro e aos amigos José Alberto
Barata e Aldina Lopes pelo apoio e carinho demonstrado, pela constante preocupação e III
pala importante ajuda prestada. Ao amigo Luís Babo Nobre pela paciência e importante
amigo Paulo Monteiro pela oportunidade que me deu de trabalhar consigo na AP e pela
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo estabelecer algumas bases para a discussão das
necessidade de fazer frente às problemáticas ambientais que se fazem sentir nos tempos
que correm.
estética da cidade. IV
A abordagem deste tema torna-se pertinente uma vez que as coberturas vegetais
vegetais, apresentando o seu projeto de execução e fazendo uma análise crítica ao mesmo.
ABSTRACT
This work aims to establish some basis for the discussion of the advantages and
disadvantages of the installation of green roofs in urban areas, given the need to tackle the
From the description of the historical evolution of green roofs, it is intended put in
evidence the advantages coming from the use of these structures, mainly in the increase of
rainwater retention (runoff decrease), in the decrease of urban heat island effect, in the
increase of slab life span and her waterproofing, in the reduction of thermal insulation, in the
increase of building energy efficiency, in the creation of habitats for animal species and
improving air quality and the aesthetic quality for the city.
The approach to this issue becomes appropriate as green roofs can be part of a range
of new solutions in the context of the environmental current situation characterized mainly by V
This paper exposes also practical examples of application of green roofs, presenting its
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS............................................................................................................ III
RESUMO............................................................................................................................... IV
ABSTRACT............................................................................................................................ V
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 1
CAPÍTULO I........................................................................................................................... 3
CAPÍTULO II.......................................................................................................................... 8
2.1. Das civilizações da Mesopotâmia ao final do século XVIII................................9
2.2. A reclamação pelas coberturas planas do início do século XX......................16
2.3. As coberturas vegetais após a II guerra mundial.............................................21
2.4. As coberturas vegetais em Portugal.................................................................26
CAPÍTULO III....................................................................................................................... 33
3.1. Tipologias............................................................................................................34
3.2. Materiais e componentes...................................................................................42
3.2.1. Laje/cobertura do edifício..............................................................................44
3.2.2. Membrana de impermeabilização.................................................................45
VI
3.2.3. Barreira de proteção......................................................................................47
3.2.4. Barreira antirraízes........................................................................................47
3.2.5. Isolamento.....................................................................................................48
3.2.6. Sistema de drenagem e retenção de água....................................................49
3.2.7. Camada filtrante............................................................................................51
3.2.8. Meio de cultura..............................................................................................52
3.2.9. Vegetação.....................................................................................................53
3.3. Benefícios ...........................................................................................................54
3.3.1. Retenção e diminuição do escoamento das águas pluviais..........................55
3.3.2. Isolamento térmico e eficiência energética....................................................58
3.3.3. Diminuição do efeito Ilha de Calor Urbano (UHI)...........................................59
3.3.4. Durabilidade da membrana de impermeabilização do edifício......................62
3.3.5. Qualidade do ar.............................................................................................63
3.3.6. Valor Estético................................................................................................64
3.3.7. Agricultura urbana.........................................................................................65
3.3.8. Habitats e biodiversidade..............................................................................66
3.3.9. Absorção/ Redução da poluição sonora........................................................66
3.4. Custos.................................................................................................................67
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
CAPÍTULO IV.................................................................................................................. 70
4.1. Coberturas vegetais em edifícios escolares – Os casos de Portalegre e
Moura.......................................................................................................................... 71
4.1.1. Apresentação da proposta.............................................................................71
4.1.2. Discussão......................................................................................................74
4.2. Um desafio na redução do consumo energético.............................................77
CAPÍTULO V........................................................................................................................ 78
ANEXO – A.......................................................................................................................... 85
ANEXO – B.......................................................................................................................... 87
ANEXO – C.......................................................................................................................... 98
VII
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
X
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo o estudo e compreensão dos benefícios que podem
Cada vez se verifica uma maior atenção relativamente às questões ambientais, por
crise que se faz viver. Em Portugal, alguns autores debatem-se, desde há muito, pela
pela redução da utilização dos combustíveis fósseis e promoção das energias renováveis,
RESUMO DE CAPÍTULOS
Este trabalho está dividido em quatro capítulos principais, no primeiro capítulo são
em dia um dos principais problemas em meio urbano, causando danos irreversíveis ao nível
importância que estas apresentavam para a evolução da sociedade. Neste capítulo é ainda
principais benefícios destes espaços para a sustentabilidade das áreas urbanas e para a
seu projeto de execução bem como uma análise critica ao mesmo, à forma como todo o
processo decorreu, bem como à sua execução. No mesmo capítulo é feita referência ao
CAPÍTULO I
3
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
O Homem, ao longo dos tempos, tem alterado a paisagem natural com a finalidade de
urbano versus rural, alterações essas que se continuam a manifestar nos nossos dias.
mundial nas últimas décadas. Em 1900, cerca de 10% da população mundial vivia em
cidades, prevendo-se uma subida para 60% até 2030 (Platt, 2004). Segundo a ONU, a
população urbana mundial ultrapassou a população rural pela primeira vez em 2007, feito
uma autonomia completa que reposiciona o princípio que nos faz mover e que nos faz parar.
urbanus tem que encontrar um sentido. Como efeito desta procura cada vez se verifica uma
relacionados com o urbanismo e com a cidade, consequência da crise que se faz viver
(Matos, 2011).
Por todo o mundo, autores debatem-se, desde há muito, pela redução da utilização dos
combustíveis fósseis e pela promoção das energias renováveis em todas as suas formas. É
Alguns autores defendem que muitos dos problemas ambientais bem conhecidos em
forma mais convencional de construir, ignora todos os problemas que daí possam surgir. O
desrespeito pela dinâmica dos sistemas naturais, pelo recurso solo e a ocupação indevida
de áreas que mantêm em funcionamento o meio biofísico, tem sido a principal causa de
infiltrada e absorvida por este, causando uma grave diminuição na taxa de recarga de
aquíferos. Outra desvantagem deste processo são as alterações significativas nos níveis de
forma de vapor. Segundo Helena Farral, numa área não edificada (não urbana), se
partirmos do princípio que toda a água que chega ao solo é sob a forma de precipitação,
40% dessa água sofre o processo de evapotranspiração, 50% é infiltrada no solo e 10%
Face a esta realidade os impactes das águas pluviais na cidade vão ser substanciais,
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
causando inundações nas áreas urbanas, alterações no ciclo hidrológico das bacias
hidrográficas, nas taxas de infiltração que vão alimentar os aquíferos, alterações ao nível
dos dinamismos dos cursos de água que estão associados aos meios urbanos bem como à
sua morfologia, alterando os habitats das zonas ribeirinhas, a qualidade da água, bem como
a degradação e/ou perda de habitats aquáticos e dos ecossistemas que lhe estão
associados.
Outra grande alteração causada pela perda da paisagem natural e sua vegetação
devido ao processo de urbanização e expansão das cidades tem a ver com as alterações
atenuado consoante a geometria dos edifícios, a sua posição relativa, a sua inércia térmica
e o seu revestimento exterior, nomeadamente das suas fachadas e coberturas (Oke, 1987).
como impactes sobre a saúde pública, consumo de água, economia e stress dos
ecossistemas.
Nas grandes cidades cada vez mais se opta por remeter para o subsolo a localização
Um dos métodos para travar os problemas ambientais que se fazem sentir na cidade e
uma forma para minimizar os impactes causados pela expansão urbana pode passar pela
construção de coberturas vegetais que, segundo vários estudos efetuados, trazem à cidade
Certamente a solução não passará apenas pela construção destas estruturas, mas
estas podem ser uma forma de minimizar perdas e uma das muitas soluções que, quando
aplicada em conjunto com outras já existentes, credíveis e não utópicas e com resultados
7
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
CAPÍTULO II
2. INTRODUÇÃO HISTÓRICA
8
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
jardins sobre coberturas remontam aos tempos antigos na Mesopotâmia. Civilizações, como
estruturas edificadas conhecidos por Zigurates2 (Fig. 1). Estes edifícios, de forma piramidal
truncada, eram construídos em patamares, que segundo o arqueólogo britânico Sir Leonard
(605-562 a.C.), mandou construir durante o seu reinado aquilo a que viríamos a chamar de
Jardins Suspensos da Babilónia (Fig. 2). Estes teriam sido erguidos com o objetivo de
agradar e consolar uma das suas esposas, que tinha nascido junto a uma paisagem de
campos e florestas e rodeada por montanhas. Neles podíamos encontrar uma enorme
2 O mais conhecido dos Zigurates, a torre do deus Babilónio Marduk, Etemenanki, foi construída na praça do templo da
cidade Esagila. Segundo vários autores, Etemenanki poderá ser a célebre torre bíblica, Torre de Babel.
O melhor exemplo deste tipo de construções, preservado até aos nossos dias, é o Zigurate de Nanna (2113 a.C),
construído na antiga cidade de Ur durante o reinado de Ur-Nammu.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
jardins foram construídos sobre terraços, edificados uns em cima dos outros, apoiados em
colunas de 25 metros de altura que assentavam sobre duas filas de sete câmaras
fixadas com alcatrão espesso, seguido de duas fiadas de tijolo de barro cozido
argamassado com cimento. Por fim foi colocada uma cobertura de chumbo para evitar que a
ascendente, na galeria maior foram instaladas condutas para condução e elevação de água,
bombeada em grandes quantidades do Rio Eufrates (citado por Finkel, 1988) 3 (Osmundson,
1999).
10
Fig. 2 – Desenho dos Jardins Suspensos da Babilónia baseado nas descrições do arqueólogo
Robert Koldewey. Fonte: Osmundson, (1999), p.113.
ambiências amenas, dominado pelo verde da vegetação, pela constante presença de água
Império Romano, a verdade é que as coberturas (terraços) das suas habitações eram
Durante a erupção do Monte Vesúvio, em 79 d.C., numa villa vizinha da antiga cidade
preservadas as ruínas de três luxuosas villas. Uma delas, a maior, a Villa dei Misteri, com
noroeste da antiga cidade de Pompeia, na estrada principal para Herculaneum (Fig. 3).
diretamente no solo, são suportados por uma câmara abobadada apoiada sobre uma
colunata de arcos em pedra (Fig. 4). Durante os meses mais quentes, esta câmara era
utilizada para fugir ao calor intenso que se fazia sentir na região (Osmundson, 1999).
Fig. 3 e 4 – Desenho da Villa dei Misteri (à esquerda); Ruínas da Villa dei Misteri após escavações.
Fonte: Osmundson, (1999), p.114.
manuscritos do historiador Plínio, defende-se a teoria de que foram importadas árvores para
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
jardins instalados nos terraços das habitações e que comerciantes plantavam vinha nas
coberturas planas dos seus estabelecimentos. Estes jardins tinham essencialmente uma
Adriano, na cidade de Roma, onde foram plantadas árvores nos terraços (Peck &
Callaghan, 1999).
existiram muitas casas de cidadãos ricos que nelas mandaram construir jardins sobre as
coberturas. Apesar de todas estas casas terem sido destruídas durante as invasões
espanholas de 1521, é possível saber da sua existência devido às cartas enviadas por
12
Fig. 5 e 6 – Claustro do Mont-Saint-Michel (à esquerda); Pequeno jardim sobre cobertura num dos
terraços do mosteiro (à direita). Fonte: Osmundson, (1999), p.116.
vários terraços, para vencer os desníveis, aproveitar a vista privilegiada e fazer face ao
escadarias, pérgulas, fontes, lagos e muros de suporte de terras para permitir a construção
de socalcos e canais para a irrigação (Fig. 5 e 6). Estes jardins eram sobretudo para ser
vividos no verão, como local de encontro social ou repouso (Jellicoe, 1995). Os claustros do
construir em 1459 pelo Papa Pio II) em Pienza, Itália, são dois exemplos clássicos da
inclusão daqueles jardins na arquitetura eclesiástica, que perduraram até aos nossos dias
(Fig. 7 e 8).
edifícios em espaço urbano, datado de 1488, deve-se a Leonardo da Vinci e foi descrito
num dos seus manuscritos (Paris Manuscript) para a reformulação de Milão. Da Vinci
projetou vilas urbanas, com jardins sobre a cobertura dos edifícios, sustentadas por arcos e
galerias de serviço, onde é evidente a sua preocupação com a utilização das coberturas
(Almeida, 2008). 13
metros de altura, pertencente à família Guinigi, foi construído um pequeno jardim onde
foram plantados quatro carvalhos num canteiro de tijolo com 61 cm de altura. A data precisa
Ainda em Itália, na cidade de Careggi foi construída uma villa no início do século XV
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
por Cosimo de'Medici, atualmente em ruínas, que continha um jardim sobre a cobertura.
Pouco se sabe sobre este jardim renascentista, apenas que foi plantado com importantes
espécies vegetais, muitas exóticas, que durante este período eram importadas de outros
jardins da Residência do Cardial Johann von Lamberg em Passau, construída por volta do
século XVII.
14
Fig. 10 e 11 – Kremlin no século XVII, desenho de 1843 (à esquerda) e Jardim sobre a cobertura do
Hermitage, Russia (à direita). Fonte: Osmundson, (1999), p.119 e 120.
jardins, de quatro hectares, foram construídos ao mesmo nível dos quartos da mansão,
tendo dois patamares adicionais que se desenvolviam em direção ao Rio Moskva (Fig. 10).
colocados no jardim. No muro de pedra que encerrava o jardim interior foram plantadas
espécies vegetais, com o objetivo de dar a ilusão de expansão do espaço para além dos
seus limites. Os jardins foram construídos sobre amplas salas abobadadas, com colunas
reforçadas com vigas de ferro, para onde eram feitas as descargas de carga. A
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
palácio original e os seus jardins foram destruídos para dar lugar ao novo palácio
(Osmundson, 1999).
conhecidos arquitetos e arquitetos paisagistas para desenhar o seu palácio, jardins e alguns
edifícios públicos em São Petersburgo. O primeiro jardim sobre cobertura foi construído
sobre os estábulos do Palácio de Inverno, hoje parte do Hermitage (Fig. 11). Mais tarde,
Catarina II mandou construir novos jardins num grande terraço retangular, confinado pelas
paredes do palácio (Fig. 12). O seu longo tempo de vida tem demonstrado claramente que o
sistema escolhido, bem como a sua manutenção, foi um caso de perfeito sucesso em clima
15
metros de comprimento e uma estrutura de vidro e ferro com 10 metros de altura, que o
cobria por completo, continha no seu interior vegetação exuberante de origem exótica e um
SÉCULO XX
destas coberturas, cujo sistema construtivo permitia agora maiores cargas e melhores
coberturas surgiam como terraços-jardim, dando uma nova dimensão e imagem à cidade
moderna.
impermeabilização da laje, foi construída no norte da Europa pelo alemão Samuel Haüsler 16
diretamente aplicado sobre a laje, e revestido por uma camada de areia e cascalho
(Almeida, 2008).
d'Industrie), foi apresentado um modelo de uma cobertura vegetal aplicada sobre uma laje
de betão (Dunnett & Kingsbury, 2008). Criada por Karl Rabbitz, a membrana vulcanizada
aplicada sobre a laje foi considerada um grande avanço nas questões relacionadas à
realidade, evoluindo das pesadas camadas de lonas e chumbo, para as finas membranas
e cinemas com terraço-jardim e os jardins sobre coberturas, surgiam um pouco por todo o
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
mundo.
Nos finais do século XIX, início do XX, devido ao impacto provocado pela expansão das
Embora com filosofias arquitetónicas radicalmente diferentes, dois dos mais influentes
arquitetos do início do século passado, Frank Lloyd Wright e Le Corbusier, contribuíram para
pequenas áreas plantadas. Estas áreas são consideradas terraços-jardim, devido à fraca
presença de vegetação e à forma como esta surgia no espaço, no entanto são exemplos
demolido em 1923 (a sua utilização centrava-se na época estival, servindo como terraço ao
ar livre com esplanada); Wright's Larkin Building (Fig. 14), construído em Buffalo em 1904 e
demolido em 1950 (este edifício incluía um terraço na cobertura, erigido como extensão do
refeitório a ele adjacente); Imperial Hotel (Fig. 15), construído em Tokyo em 1922 e demolido
em 1967 (este edifício tinha na sua cobertura, terraços que funcionavam como áreas de
jardim).
4 Frank Lloyd Wright (1867-1959), arquiteto americano, acreditava na conceção de estruturas que estivessem em harmonia
com a humanidade e o seu ambiente, uma filosofia que chamou Arquitetura Orgânica.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
utilização das coberturas como áreas exteriores habitáveis. Via nestas a conquista do
coberturas faziam parte. A sua arquitetura, pensada essencialmente para acolher coberturas
planas, convidava os seus habitantes a ir para o exterior e a usufruir deste como lugar para
Dos seus trabalhos, os que melhor refletem a forma como tratou e abordou a utilização
das coberturas planas são: a famosa Villa Savoye5 (1928-31), em Poussy, Paris; as casas
No meio de uma cidade que passava a ser mais vertical, a utilização de vegetação
aplicada sobre coberturas planas surgiu como uma das soluções à constante procura de
modelo de cidade onde o homem poderia passear ao longo das coberturas vegetais criadas
Fig. 16,17 e 18 – Terraço do 2º piso da Villa Savoye (à esquerda), Villa Savoye – ligação interior-
exterior (ao centro). Fonte: <http://www.divhouse.com/villa-savoye-by-architect-le-corbusier>;
Pessac workers house (à direita). Fonte: <http://mtkomori.hubpages.com/hub/Frank-Lloyd-Wright-
and-Japanese-Woodblock-Prints>.
A utilização das coberturas dos edifícios como espaço exterior começou a ser acessível 19
a uma grande parte da população. Este tipo de espaços de recreio e lazer passava agora a
estar disponível para classes sociais mais baixas, ao contrário do que se vinha a verificar
até então, quando estes eram apenas acessíveis a Duques, Reis e milionários que os
Em 1933, nos EUA, após ficar horrorizado com a vista de uma das janelas dos
Raymond Hood pensou que a renda de cada escritório podia ser determinada tendo em
conta a qualidade da vista sobre a envolvente (Fig. 19). Propôs então que sobre as
coberturas planas dos edifícios dos escritórios mais baixos fossem instalados pequenos
jardins, densamente plantados, de forma a valorizar a vista que se tinha de cada escritório.
vegetais de forma a permitir que a ligação entre elas fosse efetuada através de pontes.
Apesar de bem aceite, o seu projeto nunca foi totalmente executado. Após a sua morte em
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
1934, o caráter de oásis urbano de “uma cidade acima da cidade” que tinha sido previsto,
No Brasil, com Lúcio Costa como Ministro da Educação e Saúde, o arquiteto paisagista
Roberto Burle Marx foi convidado a projetar duas coberturas vegetais no Rio de Janeiro
1999).
20
modernos. Localizado a 30 metros de altura, sobre o edifício Derry and Toms Department
Store, existe ainda hoje um enorme jardim (aproximadamente 4000 metros quadrados)
peso simbólico dado à natureza foi ignorado, tendo sido favorecido o caráter naturalista da
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
paisagem.
21
Fig. 21, 22 e 23 – Terraços do Derry and Toms Department Store no inicio do séc. XX(em cima à
esquerda); Terraços do Derry and Toms Department Store atualmente (em cima à direita); Vista
panorâmica atual do jardim Derry and Toms Department Store (em baixo) Fonte:
<http://thlandscapedesign.blogspot.pt/2010/06/kensington-roof-gardens.html>.
edifício isolado, como Le Corbusier já tinha enunciado no seu estudo Ville Radieuse.
tradição passa a constituir a referência mais forte para se concretizar uma mudança na
interpretação da natureza.
benéficas que a vegetação transporta para o meio urbano, confirmadas por investigadores
vegetação. Propunham torres com vegetação, superfícies planas plantadas, bem como
vegetação nas varandas e coberturas. No início dos anos 70, estas imagens,
Ainda durante a mesma década foi levada a cabo uma quantidade significativa de
Este facto, associado a muitos outros, como o elevado custo de solo urbano e a
edificações.
todo o mundo.
Hoje em dia, as coberturas vegetais estão a ser instaladas um pouco por todo o mundo,
rápido crescimento das cidades alemãs levou a uma enorme perda de solo e do seu coberto
dos edifícios, coberturas vegetais. Atualmente, 43% das cidades alemãs concedem
incentivos fiscais a entidades que pretendam instalar estes sistemas construtivos. Em 1989
conhecida por FLL, publica em 1995 a sua primeira edição das Diretrizes para o
À semelhança do que acontece na Alemanha, na Áustria, em Linz, desde 1983 que são
pagas contrapartidas a quem construir nos seus edifícios coberturas vegetais. Este incentivo
deve-se ao facto de Linz, devido à sua história de evolução da cidade, apresentar elevado
Na Suíça, atualmente, mais de 12% das coberturas planas dos edifícios são plantadas,
aprovaram medidas municipais para a promoção das coberturas vegetais na sua cidade.
como uma estratégia para reduzir o gasto de energia, consumida sobretudo pelos sistemas
de ar condicionado, levando a uma poupança a longo prazo (Dunnett & Kingsbury, 2008).
Estas estruturas começam a ser comuns em cidades como Chicago, Toronto, Atlanta e
Portland.
coberturas vegetais têm surgido com a função de mitigar o efeito de Ilha de Calor Urbano
exigência de que os novos edifícios privados com mais de 1000 m 2 e edifícios públicos com
mais de 250 m2 deverão ter pelo menos 20% da cobertura com vegetação) 6 como forma de
6 Dunnett, N. & Kingsbury, N. (2008). Planting Green Roofs and Living Walls, 2nd edition. Timber Press Inc., Potland, USA
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
minimizar o efeito UHI, de promover espaços verdes urbanos para a população e como
problemas que a cidade atual apresenta começa a surgir uma forte necessidade de
encontrar soluções que possam atender às suas exigências. Apesar das coberturas
vegetais ainda serem instaladas principalmente como uma solução estética, muitos autores
têm vindo a debater as suas reais funções e benefícios tanto em ações de formação como
o entendimento dos seus benefícios, as coberturas vegetais surgem como uma real forma 25
Um pouco por todo o mundo têm surgido associações nacionais e internacionais com o
objetivo de promover uma maior utilização das coberturas vegetais, divulgar os seus
A EBF foi criada em 1997 pelas Green Roof Associations da Áustria, Alemanha e Suíça.
Itália, Polónia e Inglaterra. Em 2010 a associação Grega passou também a fazer parte deste
grupo.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
primeira metade do século XVIII pelo Infante D. Francisco, prolongando-se a sua construção
até ao início do século XIX. Das obras levadas a cabo na segunda metade do século XVIII,
socalcos, os quais foram amenizados pela colocação de vegetação nas suas coberturas
(Fig. 24). Dos seus patamares pode-se tirar partido da vista privilegiada sobre o jardim de 26
buxos, existente no nível inferior, e deambular pelo meio da vegetação percorrendo os seus
corredores.
A Quinta Real de Queluz, hoje conhecida por Palácio Nacional de Queluz, deve a sua
construção à iniciativa de D. Pedro III (1717-1786). Um dos jardins desta Quinta é o jardim
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
Pênsil ou de Neptuno, o qual foi construído sobre um reservatório de água, peça central do
sistema de captação e distribuição de águas (Fig. 25). O seu sistema hidráulico foi
árvores e arbustos, nomeadamente buxo e murta (in pagina oficial 7 Palácio Nacional de
Queluz).
Só séculos mais tarde, influenciado pela arquitetura modernista e pelos seus princípios
Projetada pelos arquitetos paisagistas Viana Barreto, Álvaro Dentinho e Albano Castelo
Branco sobre os terraços do Hotel Ritz em Lisboa, surge em 1956 a primeira cobertura
vegetal da época moderna em Portugal. As suas experiências viriam mais tarde a ser
Gulbenkian segundo um projeto dos arquitetos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo
Ribeiro Telles. Parte integrante deste projeto são as coberturas vegetais propostas para o
topo de alguns dos edifícios, cobertos parcial ou totalmente por vegetação (Fig. 27). Desta
7 http://pnqueluz.imc-ip.pt/pt-PT/jardins/ContentList.aspx
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
obra interessa realçar o importante papel que a vegetação das coberturas vegetais e do
a partir do interior do edifício e pelo acesso de emergência existente, a partir da Praça José
Fontana (Fig. 28). Estes jardins, com desenho formal, foram construídos sobre um eficiente
cresce com grande pujança, povoando toda a área da cobertura. Os jardins inferiores, bem
como o parque José Fontana com o qual mantêm proximidade e forte ligação visual, são
envolvente.
28
No início dos anos 90, foi construído em Lisboa, sobre parte da cobertura dos edifícios
do Cento Cultural de Belém (CCB), uma cobertura vegetal com aproximadamente dois
hectares, da autoria de Francisco Caldeira Cabral e Elsa Matos Severino, hoje conhecida
como Jardim das Oliveiras (Fig. 29). Os jardins distribuem-se pelos diferentes módulos do
edifício, sendo um exposto a Norte, com vista para o Mosteiro dos Jerónimos e três
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
expostos a Sul, com vista para o Rio Tejo. Constituindo um elemento fundamental na
ser o suporte de atividades culturais, os seus jardins procuram devolver aos seus
malha essencialmente ortogonal, são povoados por todo tipo de estratos vegetais
água é uma constante, quer pela presença de grandes tanques de água quer pela
acesso aos mesmos pode ser feito pelo interior do edifício ou por escadarias de acesso
Após a Exposição Mundial de 1998 (Expo '98) que decorreu em Lisboa, foi dado início
ao projeto de requalificação urbana que engloba o antigo recinto de exposições bem como 29
alguns dos terrenos contíguos, dando forma ao conhecido Parque das Nações.
Concluído ainda em 1998, surge naquele que viria a ser o Parque das Nações, um
Verde é um edifício de habitação com projeto bioclimático que usufrui de uma área
proporciona aos habitantes áreas de interação com vistas privilegiadas sobre o Mar da
Palha e o próprio Parque das Nações. Livia Tirone refere que “são espaços verdes de
cidades”8. Este projeto pretende demonstrar a nível nacional e internacional que, mesmo em
contexto urbano de alta densidade, é possível alcançar elevados níveis de conforto durante
8 Tirone, L., apud Pereira, G., (2009). A Quinta Fachada. National Geographic Portugal, nº98, p.103
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
técnicas construtivas.
baseados nas novas tendências e tecnologias bem como nas importantes questões
Levados a cabo pelo atelier Topiaris, coordenado pelo arquiteto paisagista Luís Paulo
Ribeiro, surgem a partir do ano 2000 no atual Parque das Nações um elevado numero de
destacar o Edifício SONY e IBM construídos em 2000, sobre uma área de cobertura do piso
de estacionamento dos edifícios, que constitui uma área privada de acesso publico e o
conjunto de terraços contíguos afetos aos edifícios de escritórios das Torre Zen, Torre
executados entre 2001 e 2002 e localizados na nova zona urbana do Parque das Nações
(Fig. 30 e 31).
Ainda em 2001, levado a cabo pelo atelier AP, Estudos e Projectos de Arquitectura
acesso livre. Neste foi instalado um grande relvado e plantadas diversas árvores e arbustos,
estrategicamente localizadas, bem como um elemento de água que marca forte presença
no espaço.
atelier Topiaris. Com 14 hectares, constitui um grande espaço de recreio e lazer, o qual é
apoiado por 4 pavilhões temáticos encaixados ao longo da encosta e com uma presença
Justiça de Lisboa, localizado no Parque das Nações. Com 12000 m 2, a área de intervenção
Fig. 32, 33 e 34 – Jardim da Praça Joaquim António de Aguiar, Évora (à esquerda). Fonte:
<http://clubebadmintonevora.blogspot.pt>; Parque Temático de Santana (ao centro) e Campus
da Justiça de Lisboa (à direita). Fonte: <http://www.topiaris.com/>.
Arte Antiga, na cobertura do edifício foi instalado um deck de madeira e vegetação arbustiva
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
Almada Business Center, da responsabilidade do atelier Topiaris. Construído sobre uma laje
Fig. 35, 36 e 37 – Cobertura vegetal da sede do Banco Mais em Lisboa (à esquerda). Fonte: 32
<http://www.byrnearq.com>; Espaços exteriores do Almada Business Center (ao centro).
Fonte: <http://www.topiaris.com/>; Estação de Tratamento de águas Residuais de
Alcântara (à direita). Fonte: <http://www.leonardofinotti.com/projects/etar-slash-alcantara>.
Com projeto iniciado em 2006 e obra concluída em 2011 é de salientar a nova Estação
a cobertura vegetal da estação foi projetada pelo atelier PROAP, e permitiu a requalificação
Portugal, muitos outros existem, principalmente a partir do século XXI. Estes surgem
CAPÍTULO III
33
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
3.1. TIPOLOGIAS
O termo cobertura vegetal (vegetated roof), também conhecido por coberturas verdes
(green roof), coberturas ecológicas (eco-roof), coberturas vivas (living roof), coberturas
plantadas (planted Roof), entre outros, tem como base o uso da vegetação, autóctone ou
Existindo várias definições para cada um dos termos acima apontados e, não havendo
vegetal, por se considerar ser o mais correto e que melhor traduz este tipo de construções.
Proveniente da junção dos termos Cobertura do latim cooperio mais -ire, cobrir
sobre uma laje ou cobertura, plana ou inclinada, em que sobre uma camada de solo de
qualquer espessura é instalada vegetação. Desta forma, entende-se por cobertura vegetal
ambiental, instalado sobre um edifício ou estrutura, de uso publico ou privado. Este pode-se
localizar ao nível do solo ou vários níveis acima deste, servindo outras funções
simultaneamente.
As coberturas vegetais são um sistema de construção, tal como o nome indica, que
de acordo com o tipo de projeto. No entanto, todas as coberturas vegetais têm os mesmos
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
componentes básicos. Para que uma cobertura funcione corretamente, devem fazer parte
para crescimento e suporte de plantas (substrato ou substrato técnico) e por fim vegetação,
quer herbácea, quer arbustiva ou arbórea. Pensadas sobretudo para albergar vegetação, o
método construtivo das coberturas vegetais destina-se a imitar o que acontece na natureza
35
estabilidade do sistema que se criou poderá ser posta em causa, podendo levar ao declínio
Uma boa compreensão dos materiais que constituem uma cobertura vegetal é
9 Os solos evoluídos possuem normalmente várias camadas sobrepostas, designadas de horizontes. Estas camadas são
formadas pela ação simultânea de processos físicos, químicos e biológicos e podem distinguir-se entre si através de
diferentes propriedades. (Fonte: http://www.dct.uminho.pt)
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
fundamental para entender a forma e a função ecológica de cada cobertura (Earth Pledge,
2005).
construção e do método utilizado para realizar o trabalho (Tabela 1). Esta distinção entre
de vegetação possíveis de utilizar (Fig 40). Cada uma destas tipologias de coberturas
transições perfeitas entre ambos, aplicados em diferentes locais específicos (FLL, 2002).
Peso (saturado) 85 – 150 Kg/m2 150 – 250 kg/m2 200 - >500 Kg/m2
gramados, são conhecidas por serem leves, de baixa manutenção, geralmente inacessíveis
e de reduzida utilização e acesso, exceto para manutenção (Fig. 41, 42 e 43). A espessura
de substrato aplicado varia na sua maioria ente os 8 e os 15 cm, atingindo quando saturado
os 85 a 150 Kg/m2, variando a carga sobretudo com o tipo de substrato aplicado e a sua
surgir a necessidade de instalação de sistemas de rega que lhes forneçam água nos
períodos mais quentes. Regra geral, os sistemas extensivos são os que têm custos de 37
centro), Ford Rouge Center Truck Plant (à direita). Fonte: Earth Pledge (2005).
antigos jardins construídos até ao final do século XVIII. Segundo (Osmundson, 1999) as
semelhantes aos que encontrados por todo o mundo, ao nível do solo (Fig. 44, 45 e 46). Na
sua maioria instaladas em coberturas ao nível do solo, estas são geralmente de livre acesso
ser de origem privada. Este tipo de cobertura pode suportar na sua composição percursos,
nomeadamente pérgulas.
38
passível de ser instalada e devido à sua maior ou menor necessidade de rega (ver tabela 1).
Instaladas para ser utilizadas e servir de espaço de recreio e lazer, o edifício onde
estão implantadas deve estar preparado para suportar a sua carga bem como a da
plantações são efetuadas de forma cuidada e instaladas sobre camadas de substrato mais
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
profundas que nas extensivas, podendo neste caso suportar uma maior variedade de
substrato disponível e da carga que a laje possa suportar. No caso das coberturas
centímetros, condicionando desta forma o tipo de vegetação a utilizar. Este sistema é capaz 39
de reter mais água da chuva do que o sistema de cobertura extensivo, oferecendo um maior
potencial para a criação de um sistema ecológico mais rico. Com um custo de construção
mais baixo que o sistema intensivo, este pode-se aproximar em muito da tipologia de jardim.
coberturas vegetais, existem outros espaços construídos sobre cobertura de edifícios, que
Sheltering.
uma cobertura construída sobre madeira e casca de bétula, com terra como forma de
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
cobertura (Fig, 47). A terra e grama aplicada sobre a casca de bétula era retirada da
colocada com a grama virada para baixo, de forma a proteger a casca de bétula e a
favorecer a drenagem, sendo a segunda camada colocada com a grama virada para cima,
favorecendo o seu desenvolvimento e criando uma estrutura sólida. Sendo que estas
40
Fig. 47, 48 e 49 – Pormenor da construção de um Sod Roof (à esquerda). Sod roofs numa quinta
em Gudbrandsdal, Noruega (ao centro). Fonte:<http://en.wikipedia.org/wiki/Sod_roof>; Sod Roof na
escandinávia (à direita). Fonte: <https://picasaweb.google.com>
durante o tempo dos Vikings e Idade Média, este tipo de coberturas era bastante vulgar na
das diferenças entre métodos construtivos os Sod Roofs estão possivelmente na origem das
biodiversidade surgem os Brown Roofs. Este tipo de construção apresenta uma grande
flexibilidade no que respeita à sua conceção, podendo ser adaptado de acordo com as
exigidas para a execução do edifício. O substrato utilizado na execução dos Brown Roofs,
entulho proveniente de demolições que posteriormente são triturados e juntos com terra. De
diferentes camadas constituintes deste tipo de coberturas devem ser na sua maioria
oriundos de materiais reciclados (Fig. 50). Assente nos princípios da evolução natural do
meio, onde a vegetação deve surgir e se propagar de forma espontânea, os Brown Roofs
devem sofrer o mínimo de intervenção humana possível. Para isso devem ser criadas 41
condições de base para o desenvolvimento de habitats para insetos, zonas húmidas para o
concluir que a força motriz que sustenta toda a teoria subjacente aos Brown Roof é o desejo
Pledge, 2005).
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
Com base nas soluções arquitetónicas praticadas em alguns países do norte da Europa
construções e sobre a cobertura, com o intuito de criar isolamento térmico e desta forma
reduzir a perda de calor interna dos edifícios. Esta técnica, apoiada pelos defensores da
do ar, que de outra forma se alteraria facilmente. Estes edifícios são geralmente edificados
fora das zonas urbanas, sendo comuns em montes ou embutidos em zonas planas,
42
das plantas e a camada composta pela vegetação que irá povoar toda a cobertura.
10 Do latim hortus, -i, horto, jardim + cultura, significa cultivo e/ou arte de cultivar hortas e jardins.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
meio de cultura (substrato) e a vegetação (Fig. 54 e 55). Os elementos que compõem cada
camada permitem à vegetação crescer sobre uma superfície protegendo ao mesmo tempo a
estrutura subjacente.
43
manutenção.
uma maior flexibilidade no design da cobertura. Numa grande percentagem dos projetos
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
instalação levada a cabo pelo mesmo, de forma a assegurar uma maior viabilidade da obra.
Por outro lado o arquiteto paisagista, juntamente com a equipa de arquitetos e engenheiros
pode desenvolver um sistema eficaz com a mesma viabilidade. A opção dos materiais a
utilizar depende em grande parte do tipo de cobertura, das cargas suportadas pelo edifício,
A laje do edifício é a principal camada estrutural de uma cobertura vegetal. Esta pode
ser de betão, madeira, metal, ou outro material de construção que apresente capacidade
estrutural de suporte adicional, sendo por isso necessária a elaboração de cálculos com 44
base no aumento de carga que a laje irá sofrer e nas suas variações (substrato
provenientes da manutenção).
Edifícios existentes cuja cobertura já é plana e que contêm outras formas de proteção
oportunidades para a instalação de coberturas vegetais pois na sua maioria não necessitam
muitas vezes chamada camada de forma. Esta camada tem como principal objetivo a
não exista qualquer pendente ou caso seja necessário criar mais do que um sentido de
escoamento. Esta pode ser aplicada sobre a laje ou na maioria dos casos sobre o
existente abaixo (laje). É ainda importante que a seleção da membrana a instalar esteja de
e força destas membranas ao betume é adicionada borracha sintética. As folhas feitas com
efetuada recorrendo a fogo e a uma forma liquida, muitas vezes referida como borracha
asfáltica, que quando aplicada sobre a laje e incendiada derrete e entrando em contacto
limpeza total da laje. O volume cilíndrico é desenrolado sobre a laje de forma a ocorrer
caracterizadas por serem fortes e resistentes a perfurações. Apesar da sua forte resistência 46
este tipo de membranas não é muito utilizado na construção de coberturas vegetais, tudo
devido ao facto de estas serem coladas umas ás outras por meio de adesivo, o que fragiliza
feitas à base de fibras de poliéster e polipropileno são caracterizadas por serem duras,
fortes e duráveis.
devendo ser deixada no local durante a construção da cobertura, sendo instalado sobre si o
cargas e onde não é aplicada camada de forma esta barreira de proteção deve ser aplicada
raízes. As coberturas vegetais onde se opte pela aplicação de membranas de PVC não
necessitam de barreira antirraízes uma vez que este material é naturalmente repelente de
raízes.
Este tipo de barreira pode também ser aplicado sobre a camada de drenagem, evitando
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
assim a passagem de raízes e assegurando a sua eficácia. A sua localização pode variar
3.2.5. Isolamento
O isolamento limita essas trocas de energia através da cobertura, criando uma barreira
superfícies que estão expostas a temperaturas altas e baixas em lados opostos (Dunnett &
Kingsbury, 2008).
maioria dos códigos de construção prevê a sua instalação como forma de redução das 48
perdas de calor do edifício. Na maioria dos casos a camada de isolamento é aplicado sobre
poliestireno extrudido.
produzidas de forma a oferecer um bom isolamento térmico, deve ser aplicado sobre
impermeabilização.
(1999).
poderá ser desnecessária, uma vez que a água escoa naturalmente, no entanto a sua
importante, ajudando a água a escoar e evitando excesso da água na cobertura que poderia
Atualmente existem dois sistemas que permitem a drenagem das coberturas vegetais,
50
nomeadamente polietileno (Fig. 58). São fornecidas em placas ou em rolos e podem adquirir
variadas formas (células em forma de caixa de ovos e favos de mel) e dimensões de acordo
ranhuras ou por sobreposição. As células que constituem estas placas servem para
retenção e armazenamento de água que quando cheias vão passando por transbordo umas
para as outras criando um enorme reservatório de água. No caso de placas com células de
grande dimensão estas podem ser cheias com material granular de forma a criar uma
geotêxtil e substrato).
são essencialmente minerais, tais como gravilha de baixa granulometria, argila expandida
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
(leca), escória de tijolo e pedra-pomes. Durante anos este foi o principal material utilizado
como base drenante, sobretudo devido à sua baixa densidade, facilidade de manuseamento
sistema.
A camada filtrante instalada sobre o sistema de drenagem tem como principal função a
finos e indesejados que desta forma poderiam levar à rutura do sistema de drenagem
usualmente feita à base de fibras de poliéster ou polipropileno não tecido. A aplicação deste
vegetação de uma cobertura vegetal o mesmo que o solo é para as plantas de um jardim
cultura em coberturas vegetais extensivas, nada se assemelha ao solo utilizado num jardim
vegetal. O meio de cultura, também denominado substrato, utilizado numa cobertura vegetal
é feito a partir de diferentes compostos do solo natural (base mineral com material 52
tamanho do grão. Em geral, um meio de cultura deve ter as seguintes características: uma
boa e consistente drenagem, bom arejamento, uma estrutura que lhe permita reter água
para absorção pela vegetação, capacidade de tornar os nutrientes acessíveis às raízes das
conta o tipo de vegetação que se pretende utilizar (conhecer as suas necessidades hídricas
e nutricionais), o tipo de clima onde se pretende instalar a cobertura vegetal (climas frios e
húmidos exigem uma capacidade de drenagem maior que em climas quentes) e a tipologia
da vegetação.
3.2.9. Vegetação
não só no que respeita à função estética mas também às questões ambientais. Os critérios
utilizados nessa seleção podem não ser os mesmos aplicados à escolha de plantas para um
cobertura vegetal intensiva ou extensiva e a altura em que esta é construída são fatores
muito importantes na seleção da vegetação, uma vez que com a altura variam os fatores
climáticos e com elas a exposição da planta ao stress. As diferenças regionais são outro
fator que condiciona a escolha de vegetação, pois com elas podem ocorrer grandes
métodos, os quais variam com o tipo de plantação pretendido e com os seus custos. Caso
se opte por uma “finalização imediata” da cobertura existem no mercado tapetes pré-
mesma forma que num jardim convencional. Esta última possibilita uma maior criatividade
por parte do projetista, podendo este criar desenhos e formas com a vegetação.
Em ambos os casos deverá ser respeitada a época ideal para plantação, início da
como o caso de Portugal. Neste tipo de clima a rega tem como principal objetivo assegurar 54
o fornecimento de água à planta nos períodos mais quentes, podendo este sistema ser
requerem um maior cuidado no que toca à rega, pois as suas reservas de água no substrato
são muito baixas e em climas como o de Portugal aquelas podem sofrer grandes perdas de
vegetação. A rega deve ser sempre pensada de acordo com as necessidades da planta,
sendo no entanto essencial quando não ocorra precipitação em período superior a seis
semanas. Nestas situações deve ser aplicada uma rega de aproximadamente 10 mm/m2.
3.3. BENEFÍCIOS
“Uma cobertura vegetal é uma comodidade valiosa que aumenta o valor da estrutura
que ocupa e gera benefícios tangíveis na forma de retornos financeiros, bem como de
das águas pluviais (efeito runoff), mitigação do efeito ilha de calor urbano, aumentar o
importante papel que a vegetação tem na cidade referido por Manuela Raposo Magalhães
cidade (Mentens, 2005). Em espaço natural, não edificado, a água da chuva infiltra-se 55
escorrência superficial baixa (Fig. 59). Contudo, em áreas urbanas, a situação é bem
pesados, óleos e gases fixados no pavimento e sobre a cobertura dos edifícios (Srivastava,
2011).
forma lenta ao longo do tempo. Parte da água que fica retida no substrato é depois
cidade de Vancouver, levados a cabo por Graham & Kim16 (2003), para analisar a
potencialidade das coberturas vegetais como ferramenta de gestão das águas pluviais,
revelaram que este tipo de construções, quer intensivas quer extensivas, apresenta elevada
56
Fig. 59 – Modelo Hidrológico de uma cobertura vegetal. Fonte: Brian L. Taylor, P.E., and Drew A.
Gangnes, P.E., (2004) Method for quantifying runoff reduction of green roofs. Portland, Oregon.
De acordo com o Guia da FLL o coeficiente de descarga de águas pluviais varia com a
16 Graham, P. And Kim, M. (2003). Evaluating the Stormwater Management Benefits of Green Roofs Through Water Balance
Modeling. Greening Rooftops for Sustainable Communities. Geen Roofs for Healthy Cities. Chicago.
17 Monterusso, M. (2003) Species Selection and Stormwater Runoff Analysis from Green Roof System. Master Thesis,
Department of Horticulture, Michigan State University
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
O mesmo Guia refere ainda a percentagem de água retida anualmente por duas
substrato a retenção de água anual pode rondar os 40%; já numa cobertura à base de
retenção anual aumenta substancialmente podendo atingir os 60% (estes valores foram
obtidos em estudos efetuados em cidades alemãs com precipitação anual média entre os
650-800 mm). Os valores obtidos pela FLL só se aplicam a regiões com o mesmo tipo de
clima.
Em Portugal os valores não são idênticos aos obtidos na Alemanha, apesar de numa 57
grande parte do nosso território ocorrer uma média anual da precipitação semelhante à
período húmido e no período seco (altura do ano que faz baixar a média anual) a
precipitação ser menor, e, portanto, uma grande parte da água tenderá a ficar retida,
Num estudo levado a cabo por Maureen Connelly, publicado em 2006, na cidade de
Vancouver o autor concluiu que 86 a 94% da água precipitada entre março e setembro era
retida pela cobertura vegetal, sendo que a mesma cobertura num período compreendido
cobertura mas também da intensidade da chuvada. A redução do pico pode atingir até 30%
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
de coberturas vegetais extensivas. Em média uma cobertura vegetal extensiva pode reter
cerca de 61% do total da água da chuva, dependendo sempre este valor da intensidade da
chuvada (Fig. 60). Quanto menor for a intensidade da chuvada, maior a espessura do
58
Fig. 60 – Modelo do efeito runoff antes (à direita) e depois (à esquerda) do solo impermeabilizado.
Fonte: Earth Pledge, (2005).
preocupantes arrastados pelas águas é menor em edifícios com cobertura vegetal do que
com as que o ser humano considera confortáveis em espaço exterior (entre os 18ºC e
26ºC). No entanto, Portugal é um país com picos térmicos bastante desconfortáveis. Grande
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
parte das habitações não têm a capacidade de trazer para o seu interior as temperaturas
médias, à semelhança do que é feito nos países do norte da Europa, com condições
exterior, no verão. Por outro lado, o isolamento extra proporcionado pelos jardins de
cobertura faz também com que, no inverno, a perda do ar aquecido no interior dos edifícios
seja menor. Neste processo a vegetação têm um papel fundamental na regulação térmica
das construções, impedindo que a energia solar atinja o solo e fornecendo-lhe sombra
(Dinsdale et al., 2006). Do total da radiação absorvida pelas plantas de uma cobertura
vegetal, 27% é refletida, 60% é absorvida pela planta e pelo solo e 13% é transmitida para o
economia de energia a partir de uma cobertura vegetal, concluiu-se que colocar plantas em 59
dos 80%, embora seja mais correto apontar reduções de 25% a 50% (Meier, 1991).
Singapura mostra que estas podem reduzir 1 a 15% no consumo anual de energia e 17 a
79% nos gastos de energia para arrefecimento interior do edifício durante o período de
consumo energético.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
calor entre este e a atmosfera por evaporação da água (calor latente). A impermeabilização
do solo, não só impede a infiltração da água da chuva e baixa a humidade do solo, como
altera as trocas de energia que recebe do Sol e do meio circundante. Este efeito é reforçado
ou atenuado consoante a geometria dos edifícios, a sua posição relativa, a sua inércia
Todas estas alterações contribuem para a efeito ilha de calor urbano (Oke, 1987),
caracterizado por regiões urbanas onde as temperaturas são mais elevadas do que em
ser reduzido pelo aumento do albedo ou pelo aumento da vegetação e da humidade do solo
albedo baixo (quanto menor o albedo da cobertura, maior a absorção de energia solar e
(telhado negro) para uma cobertura vegetal, pode ter efeitos positivos, não apenas na
microescala (do edifício) mas também à escala urbana (Susca et al, 2011).
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
uniforme, a 50% dos edifícios de Toronto uma cobertura vegetal, os resultados mostraram
que a temperatura do ar poderia sofrer uma oscilação de cerca de 2ºC em algumas áreas
pesando imenso quando utilizado massivamente. Um edifício bem isolado absorve menos
calor nos meses quentes de verão, e vai perder menos na sua refrigeração do ar, reduzindo
61
Lopes18 demonstra num dos seus estudos, para a cidade de Lisboa, a importância do
18 Lopes, A. (2003). Modificações no clima de Lisboa como consequência do crescimento urbano. Vento, ilha de calor de
superfície e balanço energético. Tese de Doutoramento em Geografia Física. Portugal: Universidade de Lisboa.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
acumulado na cidade.
arquitetura e o urbanismo têm de ser adaptados ao clima e às novas tendências para que
emissões dos gases de efeito de estufa. Se forem plantadas árvores nas cidades as
edifícios pode duplicar o tempo de vida útil de uma cobertura convencional, protegendo a 62
mecânicos (Peck, 2003). No estudo levado a cabo por Porsche em 2003, o autor chega à
mesma conclusão que Peck, afirmando que uma cobertura vegetal dura pelo menos o dobro
de vida superior a 50 anos. Em Berlim, coberturas vegetais antigas demonstram que o seu
tempo de vida útil pode superar os 90 anos até que seja necessária uma intervenção de
Liu (2003) mencionou num dos seus trabalhos que num edifício, localizado em Ottawa,
Canadá, a temperatura da superfície da membrana exposta ao sol atingira os 60ºC num dia
rasteira (grama), a membrana da cobertura não tinha chegado aos 30ºC. Isto mostra que a
19 Domingos, D. (2009). Cidades do Futuro - Por uma sociedade com menos CO2. [http://jddomingos.ist.utl.pt/ - oficial
website, acesso a 05.06.2011].
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
caso de edifícios com coberturas vegetais. Além disso, a cobertura vegetal reduziu também
tempo de vida e exigindo menos reconstruções da estrutura. Para além dos benefícios
3.3.5. Qualidade do ar
As coberturas vegetais são cada vez mais uma prática corrente nas nossas cidades.
Essencialmente porque são uma estratégia importante na forma de abordar algumas das
Le Corbusier, no início do século XX, defendia que era preciso dar sol, dar ar puro e dar
luz à cidade, e que esta teria que nascer de um espaço verde. No entanto em pleno século
muito, pela redução da utilização dos combustíveis fósseis. Domingos (2009) acrescenta
Para este cientista o CO2 e os gases com efeito de estufa são tão importantes nas questões
20 Telles, G. (1996). Conferências de Matosinhos - Um novo conceito de cidade: a paisagem global. Contemporânea Editora,
Lda., Matosinhos.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
edifício, as coberturas vegetais surgem como uma das soluções para minimizar esse
impacto, suportando uma pequena parte da vegetação que seria possível instalar ao nível
do solo. A instalação de uma cobertura vegetal numa cidade não tem qualquer expressão na
redução de CO2. No entanto, se a maior parte dos edifícios de uma cidade tiverem uma
cobertura vegetal, a sua expressão torna-se significativa, não só na redução dos níveis de
e qualidade do ar.
partículas, posteriormente, são arrastadas das folhas para o substrato pela ação da chuva.
Um estudo Britânico estimou que 2000 m2 de grama numa cobertura poderia remover 64
(Johnson, 2004)21. Num outro estudo efetuado em Singapura observou-se que uma
cobertura vegetal pode reduzir até 37% do dióxido de enxofre e até 21% de ácido nitroso
Aos seus benefícios são incluídos a redução do stress, da pressão arterial, do alívio da
21 Johnson, J. (2004). Building Green: A guide to using plants on roofs, walls and pavements. Greater London Authority
. London. [Download: http://legacy.london.gov.uk/mayor/strategies/biodiversity/docs/Building_Green_main_text.pdf ]
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
de lazer e recreio em áreas urbanas, principalmente quando estes são acessíveis ao público
e têm uma tipologia intensiva. No caso de coberturas extensivas os espaços de lazer trazem
uma melhor imagem estética ao tecido urbano, principalmente quando visíveis do topo de
edifícios vizinhos. Estes podem ainda ser fruídos pelos habitantes do edifício, podendo
Assim podemos dizer que as coberturas vegetais, devido ao seu importante valor
vida em meio urbano de alta densidade, atribuindo valor estético a espaços morto,
Existem cada vez mais adeptos do cultivo de vegetais para consumo próprio. O desafio
solo nas cidades o topo dos edifícios surge como uma oportunidade para a instalação da
horta, que em muitos casos pode ser de caráter comunitário. Estas áreas, criadas no topo
agrícolas em área urbana, atribuindo assim uma nova função às coberturas planas muitas
vezes abandonadas.
Em Vancouver foi instalado sobre o Fairmont Waterfront Hotel uma cobertura vegetal
onde são produzidos legumes, ervas aromáticas, fruta e flores comestíveis para confeção
no próprio hotel. Esta ideia economiza ao hotel cerca de 25000 a 30000 dólares por ano
(Tomalty, 2010)22 .
Este tipo de opção começa a ser uma prática muito comum, principalmente num
22 Tomalty, R. and Komorowski, B. (2010). The Monetary Value of the Soft Benefits of Green Roofs. Smart Cities Research
Services. Montreal [http://www.scribd.com/doc/55834566/17/Case-Study-2-Fairmont-Waterfront-Hotel-Vancouver-BC]
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
hostil/inóspito dentro da comunidade urbana. Este mundo, estéril, teve um efeito devastador
sobre o meio natural. Parques e jardins perdidos dentro da malha urbana e dos limites da
cidade como oásis, tornam-se insuficientes para aliviar as ameaças provocadas pela perda
perfeitos refúgios para aves e insetos, criando corredores de vida selvagem em áreas
urbanas. Nestas áreas deve ser criado um ambiente adequado para as espécies
abrigo e água. 66
Este tipo de situação tem que ser pensado à grande escala, sendo necessária a
para onde as aves possam voar, migrar e nidificar e criar o seu próprio território.
fábrica de camiões da Ford em Dearborn, Michigan, onde foram observadas a fazer ninho
aranhas das quais duas foram classificadas como raras, seis como novas em Londres e
2011).
cobertura vegetal com 0.10 cm de espessura é capaz de reduzir os níveis de ruído em 5dB
3.4. CUSTOS
67
Segundo Edmund Snodgrass a construção de uma cobertura vegetal é inicialmente
mais cara do que a de uma cobertura convencional plana. No entanto conclusões obtidas
por diferentes autores, nomeadamente Haemmerle23 (2002), Porsche & Köhler (2003) entre
outros24, referem que a longo prazo estas coberturas tornam-se mais económicas.
Tal como acontece noutros países, em Portugal a construção deste tipo de estruturas é
cada vez mais comum. Apesar de não existirem incentivos, como acontece em muitos
Um estudo elaborado por Porsche & Köhler identificou os benefícios quantificáveis por
23 Haemmerle, F., 2002. Jahrbuch Dachbegrünung. Dachbegrünungen rechnen sich. Bundesverband Garten, Landschafts
und Sportplatzbau, pp. 18-19
24 ALL, 2004. Green Roofs – Benefits and cost implications. Eastside Sustainability Advisors. London
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
Nesse mesmo estudo Porsche conclui que os custos das coberturas vegetais são duas
elaborou um quadro onde aponta os custos iniciais de instalação para diferentes tipos de
valores abaixo apresentados não incluem os gastos com a manutenção vegetal, pavimentos
e mobiliário urbano.
Cobertura
40 De 10 em 10 15 6 x 40 =240 20 RC, 20 RECY 320
betuminosa
Tabela 2 – Estimativa dos gastos durante o tempo de vida útil de diferentes coberturas na Alemanha
(construção e reparação, custos de eliminação e reciclagem de materiais). Os dados são estimados
num ciclo de vida de 90 anos, de uma cobertura com 100 m 2. Os valores são calculados em m2.
Adaptado de Porsche, U. & Köhler, M., (2003). Life Cycle of Green Roofs – A Comparison of
Germany, USA, and Brazil. World Climate & Energy Event. pp. 461-467. Rio de Janeiro, Brasil
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
Este quadro demonstra-nos que os gastos com uma cobertura não vegetal, num
período de 90 anos, podem ser até oito vezes superiores ao seu valor inicial e atingir o
dobro dos gastos efetuados com uma cobertura vegetal extensiva. Estes valores são
significativos, uma vez que as coberturas extensivas podem custar até duas vezes mais que
as coberturas convencionais.
69
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
CAPÍTULO IV
4. CASOS PRÁTICOS
70
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
PORTALEGRE E MOURA
Ensino Secundário, levado a cabo pela Parque Escolar. Do consórcio que elaborou o projeto
faziam ainda parte o atelier de arquitetura NRL e o grupo de engenharia composto pela
TRIEDE e OMF. A equipa de arquitetura paisagista foi composta pelos arquitetos paisagistas
Paulo Sal Monteiro, coordenador de projeto, António Ganhão Serrano e Sérgio Rodrigo
71
Moura, inserem-se na segunda e terceira fase, respetivamente, deste programa, tendo sido
As coberturas vegetais apresentadas nesta tese fazem parte de um projeto muito mais
vasto, tendo sido a sua construção proposta pela equipa de arquitetura e arquitetura
distintas, devido ao tipo de uso previsto (num caso só para manutenção e no outro
substrato, sobre o qual foi instalado um sistema de rega gota-a-gota para auxiliar o
crescimento da vegetação durante os primeiros anos de vida, sobretudo nos períodos mais
quentes (Fig. 63). Em Moura, optou-se por um sistema relvado, à base de gramíneas,
espessura de solo, sobre o qual foi instalado um sistema de rega por aspersão (Fig. 62).
72
Fig. 62 e 63 – Corte das cobertura vegetais de Moura (em cima) e Portalegre (em baixo). Fonte: AP,
Estudos e Projectos de Arquitectura Paisagista
acesso efetuado a partir do interior do edifício principal da escola. A proposta de esta não
ser acessível aos alunos prende-se com questões de segurança, primeiro por este não
poder ser sempre vigiado e segundo por regras impostas pelo dono da obra. Nas suas
arbustos de médio porte. Junto às claraboias que possibilitam a entrada de luz no interior do
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
edifício foi projetada uma área com seixo rolado onde não se prevê a existência de
vegetação.
como uma extensão da sala de música, opção tomada pela equipa de arquitetura que viria a
condicionar o tipo de coberto vegetal a propor e com isso o sistema de rega. Numa das
suas extremidades foi criado um pequeno palco, formalizado por lajes de betão, para
rigidez de planos e criar cor no espaço foi proposta a instalação de floreiras para a
73
eliminada do projeto da biblioteca devido a este ter perdido um dos seus pisos e
pela Parque Escolar foi criada uma nova cobertura sobre o edifício de sala de aulas junto ao
refeitório, o qual também viu perdido um dos seus pisos, ficando a cobertura à mesma cota
da escola, que passa pela criação de uma horta. A pedido da escola foram criados cinco
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
relvado que posteriormente será substituído por uma pequena horta levada a cabo pela
médio porte que criarão uma barreira visual com o campo de jogos. No extremo oeste
espaço cor e diversidade vegetal e impedirá o fácil acesso ao extremo do edifício criando
4.1.2. Discussão
Portalegre apresenta uma temperatura média anual entre os 15.1-16ºC e uma precipitação
anual acumulada entre 601-800 mm, Moura apresenta temperaturas médias mais elevadas, 74
entre 16-17ºC, e menor precipitação anual acumulada <600 mm. Segundo a classificação
Os projetos em estudo, estão ainda numa fase inicial do seu desenvolvimento, pelo que
não foi possível testar a sua eficácia na regulação térmica dos edifícios e demonstrar os
respetivos resultados.
Caso a instalação destas coberturas vegetais seja bem sucedida, não existindo
climas, espera-se que, nas alturas de maior calor, a temperatura interna destes edifícios
venha a ser menor, comparativamente aos mesmos edifícios se não tivesse sido aplicada
cobertura vegetal.
utilizada, influencia os resultados a obter. Como referido anteriormente (vide página 53)
quanto maior for a densidade da vegetação e a sua altura. A vegetação arbustiva apresenta
à base de gramíneas não exerce efeitos tão notórios. Portanto, com base nestes critérios, é
Este seria o termo esperado numa construção ideal e sem problemas. Porem no
decorrer de todo o processo, e após realização da pesquisa teórica para este trabalho,
foram detetadas algumas falhas, quer de troca de informação entre profissionais quer na
técnicas das diferentes camadas foi inexistente. A especificação e composição das camadas
que compõem as coberturas vegetais ficou a cargo da equipa de engenharia, tendo esta
assim por saber que tipo de tela impermeabilizante foi proposta e se foi instalada alguma
barreira antirraízes.
execução do projeto, que devia ter sido cedida pelas outras equipas ou exigida por esta,
faltou a recolha de informação sobre a vegetação adequada a propor para o tipo de situação
especifica e clima em questão, uma vez que esta foi proposta sem conhecimento da sua
falta de informação. Estas lajes foram projetadas para ser assentes sobre o substrato; no
entanto, na sua base (em vez de substrato) deveria ter sido tomada a opção de instalar um
composto granular inerte, devidamente acondicionado, que promoveria uma maior eficiência
cobertura vegetal).
Portalegre, uma vez que foi a única a ser concluída. Nesta obra a maior falha foi o seu 76
incorreto acompanhamento, sobretudo pela falta de visitas a esta e pela fraca troca de
informação ente a fiscalização e os projetistas. Devia ter existido uma fiscalização total dos
trabalhos e dos componentes para garantir a correta instalação dos mesmos e com isso a
verificação e deteção de falhas quer de obra quer de projeto. No que diz respeito à escolha
não foi respeitada, o que irá provocar uma demora na concretização dos objetivos. A baixa
qualidade e tamanho das espécies vegetais poderão provocar uma maior perda de
exemplares.
No caso da cobertura vegetal a instalar em Moura ainda podem ser evitadas algumas
Toda a investigação feita na realização deste trabalho, assim como o caso prático
congresso “Mind the Gap, Landscape for a New Era - EFLA Regional Congress of
consumo energético nas cidades. O referido artigo é apresentado em anexo (Anexo – B).
CAPÍTULO V
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
78
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
que se fazem sentir na cidade atual. A resolução de problemas deve passar pela tomada de
renováveis ou não, que integram o território e que em muitos casos estão a ser
Será então necessária uma “revolução urbana” para procurar contrariar esta tendência.
É importante criar regras e normas, que tenham como objetivo a realização de uma
urbanização congratulante e equilibrada, que não destruam a natureza, nem a vida, que não
terão pouco impacto sobre qualquer uma das questões ambientais. No entanto com a 79
urbano, após alguns anos começarão a ser visíveis os seus benefícios, à semelhança de
Unidos da América.
para a população.
edificação as coberturas vegetais trazem à cidade uma nova oportunidade para a existência
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
cidade quando são de uso público, como é o caso da maioria das coberturas vegetais
intensivas. No entanto a sua construção nunca deve ser apontada como justificação para a
inatingíveis pelas coberturas. Estas devem ser construídas apenas para minimizar o
impacto provocado pela construção de edifícios, pela perda de solo e pela perda de
perdidas no meio de tanta construção, as coberturas vegetais podem ser uma das soluções
fauna que foi obrigada a desaparecer ou a adaptar-se a condições insanas à sua existência. 80
interior dos edifícios. As pequenas alterações térmicas provocadas por estas estruturas na
nível dos benefícios energéticos de uma cidade, revelam reduções substanciais na energia
consumida na cidade.
Segundo defendeu Livia Tirone na sua comunicação, Portugal pode ser um dos países
Para que estes sistemas sejam eficientes e tragam ao edifício e à cidade as vantagens
inerentes à sua construção, temos que olhar para os mercados internacionais, aprender e
aplicar as boas práticas neles desenvolvidas. Temos contudo, devido às diferenças de clima,
É ainda necessário regular a sua construção, não só criando legislação que impeça a
edificadas a troco de coberturas vegetais, mas também criando incentivos à sua construção,
No que respeita aos estudos de caso apresentados ainda não foi possível tirar
conclusões definitivas relativamente aos benefícios que estas estruturas trazem para os
edifícios, uma vez que num deles a vegetação ainda não se encontra suficientemente
desenvolvida e no outro a construção não foi ainda concluída. Assim, não é ainda possível 81
estudar as variações de temperatura que se fazem sentir dentro dos edifícios. Podemos, no
normal, apesar das grandes amplitudes térmicas a que tem sido sujeita. Se toda a
trazer alterações nas variações térmicas internas dos edifícios e, consecutivamente, uma
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32. Hutchinson, D., Abrams, P., Retzlaff, R. And Liptan, T. (2003). Stormwater 84
ANEXO – A
respectivamente, bem como algumas variáveis que determinam esses mesmos valores.
(Costs assume an existing building with sufficient loading capacity; roof hatch and ladder access only. The larger
the green roof, the cheaper the cost on a square metre basis.)
85
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
(Costs assume an existing building with sufficient loading capacity; roof hatch and ladder access only. The larger
the green roof, the cheaper the cost on a square metre basis.)
86
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
ANEXO – B
Abstract
As a consequence of the current crisis we are living, we have an increasing awareness in the
professionals connected with the city and town planing to the environmental issues.
In Portugal, there are ongoing debates between authors, for the reduction of the use of fossil fuels and
for the promotion of various forms of renewable energies. Promoting all types of energy efficiency is
crucial, starting with a reduction of energetic consumption
In this presentation we intend to demonstrate the relevance of green roofs in the global climatic
regulation, especially due to their influence over the variation in the value of albedo and the CO 2 levels
in the atmosphere and consequentially of the urban heat island effect that affects most of the cities.
We also intend to demonstrate that the impermeability of the roofs with vegetation brings benefits to
the building itself, especially lowering the temperature inside. Based in the information obtained with 87
the theoretical investigation, we applied it to the two different case studies to obtain a preview of how
the end results should be.
The lowering of the temperatures in the city and consequently inside the builds, brings great benefits
in energy saving, contributing to a higher efficiency in the use of resources.
Introduction
Man over time, has altered the natural landscape in order to meet their needs and desires by
inevitably creating environmental imbalances. During the last century there where severe
changes in the proportion of urban and rural populations, these changes continue to
increase today.
Rapid population growth in the cities, the increase in the built space and the radical
landscape changes, have characterized the process of urbanization worldwide in the recent
decades. In 1900, about 10% of the world population lived in cities, this number was
expected to increase to 60% by 2030 (Platt, 2004). According to the UN, the world´s urban
population exceeded the rural population for the first time in 2007, a feat that has
consequences as desertification and scarcity of resources in urban areas.
Throughout the world, authors are struggling since long to reduce the use of fossil fuels and
to promote the use of renewable energy in all its forms. It is important to promote energy
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
efficiency in all its aspects, including the spacial organization of activities, construction, town
planing and the effects on urban climate, health and environmental quality.
A set of environmental impacts, particularly in terms of water resources, soil and air
temperature, have forcefully influenced the search for solutions to minimize or reverse the
harmful man-made actions.
One method to cut back the environmental problems that are felt in the city and a way to
minimize the impacts caused by urban sprawl is the construction of roof gardens that,
according to several studies, bring vast environmental and ecological benefits to the city.
Subsequently, our aim is to try to understand what benefits may arise from the construction
of green roofs due to the need to reduce energy consumption. For this purpose this
investigation was based on the theoretical and practical works of authors such as N. H.
Wong, N. Dunnett, B. Bass and Livia Tirone. The aim is thus to demonstrate the relevance of
green roofs in regulating the cities climate (less Urban Heat Island Effect) as well as its
importance in reducing the temperature inside the buildings. The temperature changes can
bring large benefits in terms of energy savings.
The aim is also to understand other advantages derived from the use of green roofs either in
climate regulation and in reducing the Urban Heat Island Effect (UHI). 88
It is also presented practical examples of the application of green roofs in two buildings
located in Alentejo, one in Portalegre and the other in Moura, from which benefits are
expected in the reduction of energy cost for the buildings indoor climate.
Some authors argue that many well known environmental problems in urban areas are
caused by the loss of biodiversity and natural habitats, mainly as a result of the soil
impermeability caused by construction measures, the increase of heavy metals and organic
compounds and the emission of greenhouse gases (Schrader, 2006).
The disrespect for the dynamics of natural systems, soil resources and the improper
occupation of areas that maintain the biophysical environment in work, are the leading
causes of the problems that are felt.
The topic discussed here, namely the reduction of energy consumption, which included the
green roofs, led to a discussion by several authors, leading to the production of literature and
work supported by practical applications that support their relevance. We are interested, as
theoretical support, in the authors that consider the green roofs as an advantage for the city
and its buildings, particularly in relation to the reduction of the thermal levels.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
This article develops from a literature review that is based in the theoretical and practical
studies produced on the green roofs, where the base study was to understand and quantify
the decrease in the internal temperature of the buildings. On the other hand it is also
interesting to understand the advantages brought about by the existence of masses of
vegetation, especially when associated with green roofs, in the climate regulation of the
cities and the reduction of the UHI effect that is felt in them.
As a practical case we have the construction of two green roofs on the top of two libraries,
with an average height of 4m, located in Moura and Portalegre.
These green roofs were constructed according to conventional techniques (layers of
protection/waterproofing, drainage, filter mats, soil and vegetation), having as cover two
distinct types of solutions (FLL, 2008). In Portalegre, the choice was a low cover of native
shrubs, installed about a 40cm thick layer of pre-selected soil and a drip irrigation system
was installed to assist in the early days and in the peak of summer. In Moura the choice was
a system based on grasses, adapted to the climate conditions of the region, over a 40cm
thick layer of soil and with pre-instalation of a sprinkler irrigation system.
The first roof installation was concluded in January 2010 and the evolution of the vegetation
has been continuously monitored. The second installation is still in the building construction 89
Discussion
Theoretical Investigation
The green roof practice is increasingly spreading in our cities. Essentially because they are
an important strategy in order to address some of the major urban environmental issues
(Nagase, 2010). According to Dunnett and Kingsbury (2008), the green roof can provide
many benefits to the city and the building. Among the many benefits pointed to these
structures, we are interested, in the context of this work, those that directly or indirectly help
to decrease energy consumption.
In Portugal, Ribeiro Telles and Delgado Domingos, among others are struggling since long to
reduce the use off fossil fuels and to promote renewable energy in all its forms. Domingos
(2009) adds that the most important thing is to promote energy efficiency in all its
aspects,among which is important to highlight the spatial organization of activities, building,
city planing and the consequences in the urban climate. For this scientist CO 2 and
greenhouse gases are so important in the climate and energy issues as the changes in land
use. In this sense, the vegetation plays a key role in the city due to its ability to transform
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
night. This effect can be reduced by increasing albedo, or the increase in vegetation along
with increasing soil moisture and consequently evapotranspiration (Akbari et al, 2001). The
UHI effect has multiple negative consequences in therms of energy consumption, especially
in buildings with a low albedo (the lower the albedo of the coverage, the greater the
absorption of solar energy and more energy is needed for cooling the inside).
The vegetation, applied to green roofs, has a very positive effect on mitigating the UHI effect,
favoring an increase in albedo and an decrease in temperatures that are felt outside the
building. The decrease in albedo strongly influences the impact caused by conventional
roofing systems. Changing the conventional roof (black roof) for a green roof system, can
have positive effects not only in micro-scale (the building) but also on an urban scale (Susca
et al, 2011).
The Mediterranean region has very mild average temperatures, these being considered by
many, the temperatures in which a human being feels comfortable outside (between 18º and
26ºC), however, Portugal is a country with uncomfortable heath peaks. According to a study
conducted by Dublin University in 2006, Portugal is one of the countries where more people
die of cold, this problem has to do with the way we construct our buildings. Most of the
houses do not have the ability to bring the outside average temperatures into the houses,
like it is done in the countries of the northern Europe, which have completely opposite
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
buildings, preventing the sun´s energy from reaching the soil and providing it with shade
(Dinsdale et al, 2006). Of the total radiation absorbed by the plants in a green roof, 27% is
reflected, 60% is absorbed by plants and soil and 13% is transmitted to the ground
(Ekaterini, 1998). According to studies by Meier (1991) on the temperature reduction and
energy savings from green roofs, it was concluded that growing plants on land occupied by
buildings can significantly reduce the surface temperature of the building by up to 20%,
leading to a saving in energy consumption of air conditioning in the order of 80%, although it
is more correct to point reductions of 25% to 50%.
The green roofs have the ability to reduce energy use for cooling and heating, resulting in
the reduction of peaks energy (Susca et al, 2011). A study of commercial buildings gardens
in Singapore shows that green roofs can reduce 1-15% in annual energy consumption, 17-
79% in cooling load inside the building and within 17-79% of peak load (Wong, 2003). These
studies demonstrate the importance of greenery and the shade it produces to reduce energy
consumption of buildings.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
Figure 1. Methodology to analyze the impact of shade trees, cool roofs, and cool
pavements on energy use and air quality (smog). (Akbari et al, 2001)
For Livia Tirone (2010), Portugal may be one of the most prosperous countries in Europe if
we know how to transform in a decentralized and equitable way their indigenous renewable
resources. According to this researcher, Portugal is a country extremely rich, this wealth
corresponding to the indigenous renewable energy resources (soil, wind, sun and rain) . 92
Portugal currently has an increasing market level tendency for the installation of green roofs.
There is therefore an opportunity to start working well, particularly with regard to techniques
and construction methods. So that these systems are efficient and bring to the building and
to the city the advantages inherent to its construction, we have to look to international
markets, learning and applying the best practices developed, especially in the center of
Europe. However, due to the differences in climate, we must learn to adapt these practices to
the Portuguese reality.
Lopes (2003), demonstrates one of his studies for the city of Lisbon, the importance of open
space (the case of Monsanto Park) on the change in the value of albedo,surface
temperature and soil available energy, as well as flow of heat accumulated in the city.
The green roofs, like the gardens and parks, can provide important benefits to our cities, yet
it is important that the model of evolution of the city to be re-thought, especially regarding the
need for open spaces in order to safeguard the cotinuum naturale.
Case Studies
According to the data pointed by the Meteorological Institute of Portugal (IMP), Portalegre
has an average annual temperature between 15.1-16ºC and an annual rainfall between 601-
800mm, Moura presents higher average temperatures between 16-17ºC, and lower
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
accumulated annual rainfall less than 600mm. According to the climatic classification of
Koppen, Alentejo are located in a temperate climate (Csa) characterized by rainy winters and
hot dry summers and with maximum temperature in the summer reaching over 40ºC.
In order to minimize the high temperatures that often manifest inside the buildings, the
construction of two libraries opted for the installation of green roof instead of the convention
roofs, because of the advantages that green roof presents.
The case studies are in an initial phase of their development, for that reason it isn’t yet
possible to test their efficiency in the thermal regulation of the buildings (we intend to do so in
a second phase of this project). However, Based on the works studied, and focusing on the
benefits that green roofs had when used in other buildings and in different climates, it is
expected that in times of great heat, the temperature inside these buildings will be smaller
compared to the same buildings if they had regular roofs and other similar buildings in the
region without green roof. This will contribute to a lower energy consumption, there is less
need for air conditioning in these buildings.
However, not only the installation of green roofs, but also the vegetation in them influences
the results you get. According to Kolb (2002), building features a larger inside temperature
variation the higher the density of vegetation and its height. The shrub has a great capacity 93
for damping temperature ranges, while the vegetation on the basis of grasses has an effect
less notorious.
Therefore, it is likely that the best results are observed in the library in Portalegre taking into
account the type of vegetation used.
Figure 2. Section of Moura (above) and Portalegre (below) libraries green roofs projects.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
94
Conclusions
The construction of green roof is not itself the solution to all problems, which must go trough
better planning policies and urban development, particularly in safeguarding and respecting
the natural resources, whether renewable or not, that make up the territory and that in many
cases are being abused and depleted by successive constructions.
It will be necessary a “urban revolution” to undermine this tendency. It is important to create
rules and regulations, aiming for a balanced town planning, that does not destroy nature or
life, that doesn’t harm man or the conditions needed to insure their future existence.
Although it is considered that he construction of green roofs is a step in the right direction,
one or two green roofs in a city of 2 million inhabitants, will have little impact on any of these
environmental issues and especially the reduction of energy consumption on a global scale.
However with the systematic construction of these structures, with awareness of the
population about its benefits and the problems inherent to the city due to rapid urban growth,
after a few years its benefits start to be visible like in other world cities.
The green roofs as an element that are mostly vegetable, bring great benefits to the city,
specially as an air temperature regulator, as a filter of dust and elements suspended in the
atmosphere, creating micro-climates, reducing CO2 levels and the variation of albedo.
The construction of green roofs brings the city and the buildings thermal benefits that are
reflected in the reduction of outside air temperature by decreasing the UHI effect, which then
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
manifest themselves in the air conditioning inside the buildings. Small thermal changes
cause by the structures in the reducing the energy required for cooling of buildings, when
counted in terms of energy benefits of a city, show substantial reduction in energy
consumption in a city.
With regard to the case studies it as not been possible to draw definitive conclusions
regarding the benefits they bring to the buildings, since the vegetation in one is not yet
sufficiently developed and in the other, the building was not yet completed. Thus, it is still not
possible to study the temperature variations that are felt within the buildings, or the energy
consumed in its acclimatization.
However, we note that so far the vegetation continuous to develop normally, despite the
extreme temperature ranges that they have been subjected. If all the vegetation grows as
expected, we believe that like in the works we have analyzed, the structures will bring great
changes in temperature variation inside the building and consecutively reducing the energy
spent in they’re acclimatization.
Acknowledgements
95
The work described in this paper was supported by the following funding agencies:
University of Évora, Center for History of Art and Artistic Research (University of Évora) and
Foundation for Science and Technology (Portuguese Ministry of Education and Science).
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University of Singapore.
Biography
Rute Matos is a Professor of the Department of Landscape, Environment and Planning at
the University of Évora, Portugal. With a Degree in Landscape Architecture, a Master in
Landscape Recovery and Heritage Architecture and a PhD on Arts and Techniques of the
Landscape, her research interests focuses on the theme of the new urban realities and 97
challenges, namely the multifunctionality of the landscape, the interstitial urban spaces and
the urban agriculture as a new design approach. Since 1996 she teaches on Landscape
Architecture Degree. Since 2010 she teaches on Architecture Degree and on Civil
Engineering Degree.
Sérgio Águas is a Landscape Architect at the studio AP, Estudos e Projectos de Arquitectura
Paisagista, Lda, in Évora, Portugal, since 2009. With a Degree in Landscape Architecture he
is currently registered at University of Évora as a Master Student on Landscape Architecture.
His research interests focuses on the theme of the new urban realities, new tendencies and
techniques on urban spaces construction, eco-cities, sustainable design and new materials.
A UTILIZAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS EM CLIMA MEDITERRÂNICO
ANEXO – C
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