SBMR 03 0010

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Avaliação da Estabilidade e Dimensionamento de Chumbadores em um Talude


Rochoso da Cidade do Rio de Janeiro

Conference Paper · October 2016


DOI: 10.20906/CPS/SBMR-03-0010

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4 authors, including:

Marco Antonio Grigoletto Conte André Cezar Zingano


Laval University Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas – SBMR 2016
Mecânica das Rochas e Engenharia de Rochas para Inovação e Desenvolvimento
Conferência Especializada ISRM 19-22 Outubro, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
© CBMR/ABMS e ISRM, 2016

Avaliação da Estabilidade e Dimensionamento de Chumbadores


em um Talude Rochoso da Cidade do Rio de Janeiro
Marco Antonio Grigoletto Conte
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, [email protected]

Rogério Aguirre Dias


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, [email protected]

André Cezar Zingano


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, [email protected]

Fernando Henriques de Carvalho


GEOEXP, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

RESUMO: Uma encosta de gnaisse facoidal (GnF), localizada no município do Rio de Janeiro, vem
apresentando uma série de movimentos de massa de pequena magnitude. Como medida de
estabilização, aventou-se a execução de chumbadores associados a um faceamento em tela metálica.
Este trabalho busca uma melhor compreensão dos mecanismos de ruptura do talude, bem como
expor a metodologia de projeto utilizada na concepção dos chumbadores. Ensaios de tilt indicam
que o ângulo de atrito básico das descontinuidades do maciço é igual a 32°. O mapeamento
geoestrutural aponta a existência de quatro famílias de fraturas, responsáveis pela potencial
ocorrência de deslizamento planar, deslizamento em cunha e tombamento, de acordo com as
análises cinemáticas conduzidas com o software Dips. Retroanálises foram efetuadas através de um
método analítico e dos programas computacionais RocPlane e Swedge, sugerindo que a coesão nos
planos de descontinuidades é igual a 41 kPa. Os chumbadores, dimensionados segundo o critério de
ruptura de Tresca, possuem diâmetro de 32mm, f yk de 55 kN/cm2, espaçamento horizontal e
vertical igual a 2,25 m e comprimento total de ancoragem igual a 9,0 metros. Conclui-se que a
ruptura mais crítica é a do tipo planar e que a estabilidade do talude é fortemente influenciada pelo
surgimento de subpressões em trincas de tração.

PALAVRAS-CHAVE: Dimensionamento de Chumbadores, Critério de Ruptura de Tresca, Análise


Cinemática, Tilt Test, Gnaisse Facoidal, Taludes Rochosos.

1 INTRODUÇÃO possuindo 13 m de altura e 30° de upper face.


A existência de lascas e blocos de material
A cidade do Rio de Janeiro, em especial, é solto junto ao pé da encosta demonstra que é
palco comum de movimentos gravitacionais de premente a necessidade de intervenção.
massa, abrigando diversas encostas em situação Contígua ao talude, há uma extensa cortina
problemática. Inserido neste contexto está um atirantada, já indicando uma preocupação
talude (Figura 1) situado no desemboque do pretérita quanto a movimentos de massa. Além
novo túnel do Joá, às margens da Avenida Ivan de investigar os possíveis mecanismos de
Lins, que apresenta histórico de quedas e ruptura através de análises cinemáticas, este
tombamentos de blocos rochosos de pequeno trabalho apresenta o dimensionamento
porte. A face instável atinge 26 m de extensão, estrutural de chumbadores, que associados a

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um faceamento com tela metálica constituem De maneira geral, a rocha encontra-se
uma alternativa adequada do ponto de vista moderadamente alterada. Os grãos de feldspatos
técnico e econômico para a estabilização da já perderam parte de seu brilho, assim como as
massa rochosa. biotitas. O maciço apresenta diversas fraturas
localizadas principalmente na zona de contato
entre os facóides e a matriz mais fina,
paralelamente à foliação.

3 METODOLOGIA

3.1 Determinação do Ângulo de Atrito

O ângulo de atrito interno em descontinuidades


é parâmetro de resistência fundamental para a
Figura 1. Vista Frontal do Talude. avaliação da estabilidade em taludes rochosos.
Neste trabalho, o método empregado para
determiná-lo foi o tilt test. O ensaio é bastante
2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA simples, com o ângulo de inclinação dos corpos
de prova no qual ocorre deslizamento definindo
Os condicionantes naturais, bem como aspectos o próprio ângulo de atrito da descontinuidade,
ligados à micro e macro-estrutura dos materiais, visto que não há coesão; entretanto, o processo
estão intimamente relacionados à estabilidade pelo qual uma superfície desliza sobre a outra
de encostas. O contexto geológico, do mesmo pode ser bastante complexo (HUDSON e
modo, exerce grande influência na geração de HARRISON, 2000).
deslizamentos. Face à importância deste fatores,
discorre-se a seguir sobre alguns deles. 3.2 Mapeamento Geoestrutural
A litologia do maciço é característica dos
gnaisses facoidais (GnF), uma rocha Em rochas, especialmente, as descontinuidades
especialmente emblemática no cenário carioca. estruturais exercem importante papel sobre a
Segundo a classificação de Helmbold et al. estabilidade do maciço. Condicionam o seu
(1965), o GnF pertence à série superior de comportamento hidrogeológico e mecânico,
gnaisses do Rio de Janeiro, com idade típica de favorecendo não apenas a aceleração do
620 Ma. Trata-se de uma rocha leucocrática, de processo de intemperização, mas também
cor cinza-claro, com massa granoblástica proporcionando o surgimento de subpressões
envolvendo feldspatos porfiroblásticos quando do seu próprio preenchimento com
amendoados, por sua vez contornados por água. Em suma, constituem planos de fraqueza.
filmes de mica-biotita (Figura 2). O mapeamento geoestrutural foi realizado
com vistas a identificar as principais famílias
de descontinuidades presentes na encosta. Neste
trabalho lançou-se mão do tradicional método
da scanline, que consiste no registro do
espaçamento entre as feições quando estas
cruzam a linha de varredura. Uma bússola do
tipo “Clar” foi utilizada. Além da atitude e
espaçamento, dados relativos ao preenchimento,
persistência e rugosidade das descontinuidades
também foram coletados.
Figura 2. Zona Fraturada e Intemperizada da Face do
Talude.

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3.3 Análises Cinemáticas estereográfica, o polo da linha formada pela
interseção de dois planos possuir um mergulho
Análises cinemáticas permitem avaliar o menor que o da face do talude e maior que o
potencial de ruptura de taludes em rocha. Para ângulo de atrito da descontinuidade.
tal requer-se um conhecimento detalhado da Finalmente, o mecanismo de tombamento pode
estrutura do maciço e suas descontinuidades ser verificado através da seguinte equação:
(geologic breaks), tais como disjunções, falhas,
zonas de cisalhamento, foliações, dentre outras. 90     
f j  p (1)
Estas descontinuidades estruturais são, em sua
essência, complexas e tridimensionais, sendo Onde  f representa o mergulho da face
comum que um mapeamento revele a existência
de milhares delas em uma encosta. Assim, a do talude (°), p o mergulho da
representação simplificada destas feições em descontinuidade (°) e  j o ângulo de atrito da
um plano bidimensional (estereograma) torna-se mesma (°). Para a definição dos limites laterais,
bastante conveniente e prática na análise isto é, a divergência aceitável entre as direções
cinemática de taludes em massas rochosas. É de mergulho da face e das descontinuidades do
verdade, entretanto, que constituem uma talude, nas análises do tipo planar e
abordagem de ordem qualitativa, já que omitem tombamento foram utilizados os valores
coesão, altura do talude e influência da água, sugeridos por Wyllie e Mah (2004),
parâmetros fundamentais no controle da equivalentes a 20° e 10°, respectivamente.
estabilidade de uma vertente (GOODMAN, Julgou-se que os valores indicados por
1989; WYLLIE e MAH, 2004). Goodman (1989) são conservadores em
Neste trabalho utilizou-se o software Dips demasia.
(versão 7.0) como ferramenta de análise.
Seguindo as sugestões de Wyllie e Mah (2004), 3.4 Retroanálises
optou-se pelo emprego da rede de Schmidt-
Lambert (igual área). Segundo estes autores, Após a verificação dos mecanismos de ruptura
projeções do tipo polar somente são com potencial de ocorrência, retroanálises
recomendadas na representação de polos, ao foram conduzidas com o propósito de definir a
passo que a equatorial pode ser utilizada tanto coesão em um possível plano de movimentação.
na graficação de polos, quanto na de planos. Para a simulação de uma ruptura planar com a
Além disso, apenas o estereograma de Schmidt- movimentação de um bloco rochoso, foi
Lambert permite o desenvolvimento da rede utilizado um método analítico, descrito em
estereográfica de contorno das isoconcentrações detalhes por Norrish e Wyllie (1996) e
de polos. O hemisfério inferior, rotineiramente, facilmente implementável em uma planilha
é utilizado para visualização bi ou eletrônica. Paralelamente empregou-se o
tridimensional de dados estruturais com o uso software RocPlane (versão 2.0), tendo em vista
dos stereonets. que a metodologia de cálculo deste programa é
As análises cinemáticas abarcam três tipos bastante similar. A determinação do fator de
de movimento: escorregamento planar, segurança do talude pode ser realizada através
escorregamento em cunha e tombamento. Os da seguinte equação:
overlays, ou janelas cinemáticas, foram
estabelecidos em consonância com as
FS 
cA  W cos   U  V sin tan 
p p j
(2)
W sin   V cos 
recomendações de Wyllie e Mah (2004) e
Goodman (1989). Segundo estes autores, um p p

escorregamento planar ocorre somente quando o


mergulho da descontinuidade é aflorante na face Onde c corresponde à coesão no plano da
do talude e superior ao ângulo de atrito do plano fratura (kPa), A é a área do plano de
de movimento. A formação de uma cunha, por deslizamento (m2), W o peso do bloco (kN/m),
sua vez, só é possível quando, na projeção p o ângulo de mergulho da fratura (°), U o

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empuxo hidrostático na base do bloco (kN/m), um bloco rochoso semelhante àquele das
V o empuxo hidrostático na trinca de tração retroanálises. Para tanto, utilizou-se o critério de
(kN/m) e  j o ângulo de atrito da junta (°). ruptura de Tresca, apresentado a seguir:
Adotou-se como peso específico do GnF o valor 2 2
de 26 kN/m³, típico para rochas desta litologia.  Ta   Tc 
    1 (4)
Os empuxos hidrostáticos foram supostos com T  T 
distribuição triangular de tensões. A posição  a ,máx   c ,máx 
horizontal crítica da trinca de tração foi
estabelecida a partir da delimitação de uma
faixa de valores possíveis de serem assumidos, Onde Ta representa a resultante das
compreendida entre a crista do talude ( b  0 ) e tensões normais à seção transversal da barra de
o valor calculado pela equação proposta por aço (kN), Tc a resultante das tensões
Hoek e Bray (1981):
tangenciais à seção transversal da barra (kN) e
Ta , máx e Tc , máx representam, respectivamente, as
 cot f cot p    f
b
(3)
H resistências da seção de aço do chumbador à
tração simples e ao cisalhamento simples (kN).
Onde b corresponde à posição da trinca Estes valores são definidos a seguir:
(m), H à altura do talude (m) e  f ao ângulo
de mergulho de sua face (°). Esta equação, f yk As
apesar de ter sido incialmente desenvolvida para Ta ,máx  (5)
1,10
taludes secos e com vertente horizontal, pode
ser usada como uma boa estimativa, segundo
Norrish e Wyllie (1996). 0,58 f yk As
Análises de sensibilidade foram Tc ,máx  (6)
1,10
efetuadas de modo a determinar a coesão no
momento da ruptura ( FS  1 ) para diferentes
níveis de saturação da trinca (0%, 20%, 40%, Onde f yk é a tensão característica de
60%, 80% e 100%). Já retroanálises simulando
a formação de cunhas tridimensionais foram escoamento do aço (kN/cm²) e As a área da
efetuadas através do software Swedge (versão seção transversal da barra de aço (cm²). A força
4.0). Devido à complexidade física deste resultante T (kN) equivale graficamente a uma
mecanismo de ruptura, é preferível que elipse, e pode ser expressa pela equação (7),
programas computacionais sejam utilizados em com suas componentes reescritas em função do
detrimento a métodos analíticos, os quais seu ângulo com o eixo do chumbador,  (°),
normalmente envolvem ábacos e possuem através das equações (8) e (9):
aplicação limitada. Análises de sensibilidade
T 2  Ta  Tc
2 2
com a coesão também foram efetuadas (7)
considerando este tipo de movimento.
  Ta ,máx  
3.5 Dimensionamento dos Chumbadores Ta  Ta ,máx cosa tan  tan  

(8)
  Tc ,máx  
3.5.1 Análise dos Chumbadores e da
Estabilidade do Maciço   Ta ,máx  
Tc  Tc ,máx sina tan  tan  

(9)
Os chumbadores foram dimensionados para um   Tc ,máx  
estado complexo de tensões, prevendo a
ocorrência de solicitações de flexo-tração e Considerando que a condição crítica dos
cisalhamento quando houver deslocamento de chumbadores se dá quando a sua força resistente

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T for mobilizada paralelamente ao plano de comprimento de ancoragem. Neste trabalho
escorregamento, é válida a seguinte equação: optou-se pelo procedimento de cálculo baseado
na resistência ao arrancamento dos
 crit  90   n (10) chumbadores, que pode ser expresso através da
equação (13).
Onde crit corresponde ao ângulo crítico
Ta ,crit FS
da força resistente T em relação ao eixo do La  (13)
chumbador (°), e  n ao ângulo de inclinação do q s D f
chumbador com relação à normal ao plano de
deslizamento (°). Após a introdução dos
chumbadores o fator de segurança do maciço Sendo La o comprimento de ancoragem
deve ser maior ou igual a 1,5. É conveniente, (m), D f o diâmetro de perfuração (m), qs o
então, calcular a carga requerida ( Treq , kN/m)
atrito unitário no contato bulbo-maciço (kPa),
para estes elementos de modo a satisfazer essa
Ta ,crit a componente axial crítica do chumbador
condição, através da equação (11):
(kN), de acordo com a equação (8), e FS o
Treq  W sinp   V cosp   coeficiente de segurança desejado. O fator qs
foi definido com base no trabalho de
 
 cA  W cos p   U  V sin p  tan  j  Bustamante e Doix (1985), que apresentam uma
  (11) série de resultados para rochas alteradas e
 FS 
fragmentadas. O patamar inferior de qs obtido
Definindo-se o número de chumbadores por estes autores é da ordem de 230 kPa. Em
( nv ) e o seu espaçamento em uma linha vertical seguida, este valor deve ser comparado com a
S v (m), o espaçamento horizontal S h (m), e resistência à compressão característica da nata
de cimento ( f ck ) minorada 30 vezes. O menor
estabelecendo-se o fator de segurança desejado,
é possível calcular a carga requerida para cada dos dois valores é então utilizado na equação
chumbador isoladamente, Ti (kN), através da (13). Nota-se que foi utilizada a carga axial
seguinte expressão: crítica do chumbador, e não sua carga de
resistência à tração máxima, já que este valor
Treq S h FS poderia gerar um superdimensionamento. Estes
Ti  (12) procedimentos estão detalhados em GeoRio
nv
(2014).

Em seguida deve ser feita a comparação 4 RESULTADOS


dos valores fornecidos pelas equações (12) e
(7), salientando que esta última deve ser 4.1 Ângulo de Atrito
calculada com os seus parâmetros na condição
crítica ( crit ), quando então a carga resultante O ângulo de atrito (  j ) determinado para as
passa a ser definida como Tcrit . Caso a carga descontinuidades do maciço rochoso é igual a
crítica do chumbador adotado seja menor que a 32° Este resultado enquadra-se dentro da faixa
requerida individualmente, deve ser selecionado de valores esperados, que situa-se em geral
outro mais robusto. entre 25° e 35°.

3.5.2 Comprimento de Ancoragem

Existem diversas abordagens para o cálculo do

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4.2 Mapeamento Geoestrutural e Análise Plano do Cone
Cinemática das Fraturas de Fricção

O talude apresenta face com atitude igual a


65°/144°, sendo identificados quatro Plano do Talude
agrupamentos de fraturas, descritos a seguir:
(i) família 18°/296°: fratura sub-
horizontal e fechada, com 12 metros de
persistência; superfície rugosa, sem material de Ponto de Zona
Interseção Crítica
preenchimento, com grau de alteração
moderado; direção paralela à foliação do Figura 4. Análise Cinemática de Ruptura em Cunha.
maciço, com espaçamento entre
descontinuidades variando de 1,5 m a 2 m; Plano do Talude
(ii) família 89°/280°: fratura vertical e
fechada, com cerca de 4 metros de persistência;
superfície rugosa, sem material de
preenchimento e sem alteração; espaçamento
entre descontinuidades igual a 3,5 m;
(iii) família 70°/322°: fratura fechada,
com 13 metros de persistência; superfície quase
lisa, sem material de preenchimento e
Zona
ligeiramente alterada; espaçamento entre Crítica
Limite
descontinuidades variando de 0,7 m a 1,5 m; Deslizamento Limites Laterais
(iv) família 45°/160°: fratura fechada, Figura 5. Análise Cinemática de Tombamento.
pouco persistente e com espaçamento entre
descontinuidades variando de 2 m a 3 m. 4.3 Retroanálises
As análises através do Dips revelam que há
potencial de ocorrência dos três tipos de 4.3.1 Ruptura Planar
movimentos: escorregamento planar (Figura 3),
escorregamento em cunha (Figura 4) e Os resultados (Figura 6) demonstram que a
tombamento (Figura 5), sendo que baixos valores de coesão, mesmo na condição
possivelmente os blocos rochosos verificados seca, o talude apresenta um fator de segurança
junto ao pé da encosta são fruto deste último muito pobre, abaixo de 1,2. É mais razoável
mecanismo, gerado pela família (ii). Quanto à considerar que, nesta condição, o talude
ruptura planar, esta seria ocasionada pela apresente um fator de segurança acima de 1,3,
família (iv), ao passo que uma cunha seria vindo a sofrer instabilização somente com
gerada pelas famílias (ii) e (iv). precipitações mais intensas. Definindo-se,
então, um valor intermediário de 60% de
Plano do Talude
Zona saturação da trinca de tração como suficiente
Crítica
para levar o maciço ao fracasso, a coesão no
Limites
plano de movimentação é igual a 41 kPa. Se
Laterais fossem fixados valores mais elevados de
saturação, por outro lado, a coesão correria o
Daylight risco de ser superestimada. As retroanálises
Envelope
e
realizadas através do programa RocPlane
Ângulo apresentam resultados muito semelhantes aos
Atrito
do método analítico. O bloco rochoso formado
na condição de 60% de saturação da trinca é
Figura 3. Análise Cinemática de Ruptura Planar. exibido na Figura 7, apresentando um fator de
segurança muito próximo a 1.

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2 70 kPa de mecanismo o maciço apresenta fator de
1,8 54 kPa
segurança maior que 1,5 mesmo na situação
1,6 41 kPa
31 kPa
mais adversa, isto é, com suas juntas
1,4
1,2 25,5 kPa completamente preenchidas por água.
21,5 kPa
1
FS

2,6
0,8 2,4 41 kPa
0,6 2,2
2 27,5 kPa
0,4 1,8 19 kPa
0,2
1,6 13 kPa

FS
1,4
0 1,2 10 kPa
0 20 40 60 80 100 1 9 kPa
Fração de Saturação (%) 0,8
8,5 kPa
0,6
0,4
Figura 6. Curvas do Fator de Segurança do Talude Versus 0,2
0
Saturação das Juntas para Diversos Valores de Coesão, 0 20 40 60 80 100
Considerando Ruptura Planar. Fração de Saturação (%)

Figura 8. Curvas do Fator de Segurança do Talude Versus


Saturação das Juntas para Diversos Valores de Coesão,
Considerando Ruptura em Cunha.

4.4 Dimensionamento dos Chumbadores

Tendo em vista que o talude apresenta fator de


segurança adequado quanto à ruptura em cunha,
e que o mecanismo de tombamento possui
atuação restrita a blocos de pequenas
dimensões, o dimensionamento dos
chumbadores foi efetuado prevendo a
ocorrência de ruptura planar.
As análises foram conduzidas
considerando a situação mais desfavorável para
a estabilidade do maciço, isto é, formação de
um bloco cuja trinca de tração estivesse
Figura 7. Forças Atuantes em um Bloco Rochoso em uma completamente preenchida por água e
Análise Conduzida com o Software Rocplane, para posicionada no local mais crítico. Foram
Coesão Igual a 41 kPa. selecionados chumbadores com diâmetro 32
mm e f yk igual a 550 MPa, resultando, a partir
4.3.2 Ruptura em Cunha
das equações (8) e (9), cargas máximas de
resistência à tração e ao cisalhamento iguais a
As retroanálises (Figura 8) sugerem que uma
402 kN e 233 kN, respectivamente. A partir das
ruptura com este tipo de mecanismo, mesmo na
equações (7), (8) e (9) foram calculadas as
condição de 80% de saturação da trinca,
forças atuantes no chumbador de acordo com o
ocorreria somente após intensa degradação
ângulo  (Figura 9).
mecânica do material, levando a coesão a
O ângulo de instalação dos chumbadores
patamares inferiores a 20 kPa. Ora, se uma
em relação à horizontal foi definido, para fins
redução dos parâmetros de resistência tão
práticos, como sendo 10° e, portanto, seu
acentuada viesse a se confirmar, então uma
ângulo em relação à normal ao plano de
ruptura planar de grandes proporções já deveria
ter ocorrido anteriormente, como foi deslizamento (  n ) igual a 35°. Da equação (10),
demonstrado no item 4.3.1. Se considerarmos  crit é igual a 55°. Na sequência, foi calculada a
válida a coesão de 41 kPa, então para este tipo carga requerida para estabilização do bloco,

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resultando em um valor igual a 349 kN/m. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Adotando 6 chumbadores em uma linha vertical
de 13 m (altura do talude) com espaçamento Os procedimentos empregados neste trabalho
igual a 2,25 m, espaçamento horizontal igual a são, de modo geral, já consagrados à luz da
2,25 m e um fator de segurança igual a 1,75, a Mecânica das Rochas. Embora simples, são
equação (12) indica que a carga requerida para fundamentais para uma melhor compreensão do
cada chumbador ( Ti ) deve ser maior ou igual a comportamento do talude e para a adoção de
229 kN. A carga crítica total do chumbador uma medida adequada de proteção e
pode ser determinada através da Figura 10 ou estabilização. O critério de ruptura de Tresca,
então através das equações (7), (8) e (9), embora não seja empregado com frequência no
resultando em 263 kN, valor maior que o dimensionamento de chumbadores, mostra-se
requerido. pragmático e racional, já que permite a
consideração de um estado complexo de
450 tensões, isto é, uma abordagem mais realista.
400
Componente Axial Diversamente, outros métodos mais simplórios
Componente Cisalhante
consideram apenas a atuação de forças de
Forças no Chumbador (kN)

350 Resultante T
tração, de modo que a estrutura acaba sendo
300
superdimensionada para contornar este
250
problema. Por fim, conclui-se que a ruptura do
200 tipo planar é a que apresenta maior criticidade,
150 sendo a estabilidade do talude fortemente
100 influenciada pelo nível de saturação das trincas
50 de tração.
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
ω( )
REFERÊNCIAS
Figura 9. Forças Atuantes no Chumbador Versus ω.
Bustamante, M. e Doix, B. (1985) Une Méthode pour le
Calcul des Tirants et des Micropieux Injectés. Section
Finalmente, calculou-se o comprimento de des Fondations, Laboratoire Central des Ponts et
ancoragem. Foi adotado fator de segurança Chaussées, Paris. p. 75-92.
igual a 2 para o mecanismo de arrancamento. GeoRio. (2014) Manual Técnico de Encostas. Rio de
Janeiro, V. I, 522 p.
Quanto ao diâmetro de perfuração definiu-se
Goodman, R.E. (1989) Introduction to Rock Mechanics,
um valor de 75 mm, bastante usual. Se for 2nd ed., John Wiley & Sons, New York, NY, USA,
adotado um f ck de 25 MPa para a nata de 566 p.
Helmbold, R.; Valença, J.G. e Leonardos, O.H. (1965)
cimento, seu q s vale cerca de 833 kPa; o valor a
Mapa Geológico do Estado da Guanabara, Escala
ser utilizado, portanto, é aquele extraído de 1:50.000. DNPM, Rio de Janeiro.
Bustamante e Doix (1985), que seria o fator Hoek, E. e Bray, J. (1981) Rock Slope Engineering, 3rd
condicionante do arrancamento. A componente ed., Inst. Mining and Metallurgy, London.
Hudson, J.A. e Harrison, J.P. (2000) Engineering Rock
axial crítica, por sua vez, vale 151,3 kN. Assim, Mechanics: an Introduction to the Principles, 1st ed.,
o comprimento de ancoragem resulta em 5,6 m. Pergamon, London, 458 p.
Entretanto, este valor deve ser tomado a partir Norrish, N.I. e Wyllie, D.C. (1996) Rock Slope Stability
do plano de fratura do bloco rochoso, fazendo Analysis. In: Turner, A. K.; Schuster, R. L. (Ed.).
com que o comprimento total dos chumbadores Landslides: investigation and mitigation. National
Academy Press, Washington, D.C. p. 391-425.
seja equivalente a 8,7 metros. Considerando a Special Report 247, Transportation Research Board.
disposição usual das barras metálicas, pode ser Wyllie, D.C. e Mah, C.W. (2004) Rock Slope
adotado um comprimento de 9 metros. Engineering: Civil and Mining, 4th ed., Spon Press,
New York, NY, USA, 432 p.

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