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Sexualidade e poltica na Amrica Latina:

histrias, intersees e paradoxos


Sonia Corra e Richard Parker (Orgs.)

Sexualidade e poltica na Amrica Latina:


histrias, intersees e paradoxos
Sonia Corra e Richard Parker (Orgs.)

Rio de Janeiro, 2011

Realizao:

Apoio:

Copyright @ Sexuality Policy Watch, 2011 Observatrio de Sexualidade e Poltica www.sxpolitics.org / [email protected] Os secretariados do Observatrio de Sexualidade e Poltica (SPW, do ingls Sexuality Policy Watch) esto sediados no Rio de Janeiro, Brasil, na Associao Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), e em Nova York, Estados Unidos, na Universidade de Columbia. Comit diretivo: Richard Parker, Sonia Corra, Gloria Careaga e Rosalind Petchesky Secretariado SPW (ABIA) Sonia Corra, Jandira Queiroz e Marina Maria Associao Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) Av. Presidente Vargas, 446/13 andar - Centro 20071-907 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Telefax: (55 21) 2223-1040 E-mail: [email protected] / www.abiaids.org.br Coordenadora geral do projeto: Sonia Corra Reviso dos textos em portugus: Jandira Queiroz e Marina Maria Reviso dos textos em espanhol: Magaly Pazello Projeto grfico: Wilma Ferraz Capa: Metara Comunicao, Vincius Almeida e Wilma Ferrraz A srie de Dilogos Regionais sobre Sexualidade e Geopoltica um desdobramento do projeto de pesquisa Polticas sobre sexualidade: relatrios a partir das linhas de frente, realizado pelo Observatrio de Sexualidade e Poltica para para examinar aspectos relativos dinmica poltica de sexualidade nos dias atuais em oito pases Brasil, Egito, ndia, Peru, Polnia, frica do Sul, Turquia e Vietn e em duas instituies globais, a Organizao das Naes Unidas e o Banco Mundial. Para mais informaes, acesse http://www.sxpolitics.org/frontlines/espanol/home/index.php
CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S529 Sexualidade e poltica na Amrica Latina [recurso eletrnico] : histrias, intersees e paradoxos / Sonia Corra e Richard Parker (Orgs.). - Rio de Janeiro : ABIA, 2011. recurso digital (Dialgos sobre sexualidade e geopoltica ; 1) Formato: PDF Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Textos em portugus e espanhol ISBN 978-85-88684-52-2 (recurso eletrnico)

1. Poltica de sade - Amrica Latina. 2. Sexo - Poltica governamental - Amrica Latina. 3. Sade reprodutiva - Amrica Latina. 4. AIDS (Doena) - Aspectos sociais - Amrica Latina. 5. Livros eletrnicos. I. Corra, Snia. II. Parker, Richard G. (Richard Guy), 1956-. III. Srie. 11-4381. CDD: 362.1098 CDU: 614.2(8)

permitida a reproduo total ou parcial desta publicao, desde que citada a fonte e a autoria.

Sumrio
Prefcio Sonia Corra e Richard Parker ...................................................................... Apresentao Sonia Corra ............................................................................................ 5

SESSO 1: SEXUALIDADE, ESTADO E PROCESSOS POLTICOS Texto panormico Sexualidades y polticas en Amrica Latina: un esbozo para la discusin Mario Pecheny e Rafael De la Dehesa ........................................... 31 Painel Estado y procesos polticos: sexualidad e interseccionalidad Franklin Gil Hernndez ................................................................................

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Los puntos conflictivos en la relacin entre los Estados y las polticas sexuales Elsa Muiz ............................................................................... 100 Sexualidad, regulacin y polticas pblicas Gabriel Gallego Montes ........... 111 Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 1 ................ 120 SESSO 2: CINCIA E POLTICA SEXUAL Texto panormico Cincia, gnero e sexualidade Kenneth Camargo, Fabola Rohden e Carlos F. Cceres ....................................................................................... 125 Painel El corpus sexual de la biomedicina Juan Carlos Jorge .............................. 146 Transformaciones en el discurso sobre la epidemia al VIH como una epidemia sexuada paradojas y enigmas en la respuesta global Carlos F. Cceres ....................................................................................... 164 O campo da sexologia e seus efeitos sobre a poltica sexual Jane Russo ............................................................................................... 174 Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 2 ................ 188

SESSO 3: SEXUALIDADE E ECONOMIA: VISIBILIDADES E VCIOS Texto panormico Amor um real por minuto a prostituio como atividade econmica no Brasil urbano Ana Paula da Silva e Thaddeus Gregory Blanchette ............... 192 Painel Sexualidad, cuerpo y poder en el vaivn transnacional Mxico-Canad Ofelia Becerril Quintana .............................................................................. 234 Migrao e sexualidade: do Brasil Europa Adriana Piscitelli ................... 247 Sexo que vende: economa de la produccin de pelculas porno Mara Elvira Daz-Bentez ............................................................................. 259 O mercado virtual do sexo Bruno Zilli ..................................................... 276 Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 3 ................. 281 SESSO 4: RELIGIO E POLTICA SEXUAL Texto panormico Sexualidad, religin y poltica en Amrica Latina Juan Marco Vaggione ..... 286 Painel Transformaciones polticas de los grupos conservadores en el Per Jaris Mujica .............................................................................................. 337 Vises religiosas alternativas sobre sexualidade Elias Mayer Vergara ......... 350 Para pensar as relaes entre religies, sexualidade e polticas pblicas: proposies e experincias Fernando Seffner ........................................... 360 Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 4 ................. 376 ANEXO Programa do Dilogo ............................................................................. 381

Prefcio
Com muito prazer o Observatrio de Sexualidade e Poltica (SPW Sexuality Policy Watch) apresenta a publicao Sexualidade e Poltica na Amrica Latina: histrias, intersees e paradoxos. Os textos aqui apresentados foram produzidos para alimentar as discusses do Dilogo Latino-americano sobre Sexualidade e Geopoltica, que aconteceu no Rio de Janeiro em agosto de 2009, correspondendo a um dos trs debates regionais sobre esse tema amplo, promovidos pelo Observatrio entre 2009 e 2010. Os outros dois dilogos foram realizados na sia (Hani, no Vietn, maro de 2009) e na frica (Lagos, na Nigria, outubro de 2010). Esse conjunto de conversaes teve como um de seus objetivos abrir espaos de discusso entre pesquisadoras/es e ativistas sobre os desafios das polticas regionais contemporneas, quando examinadas sob um tica regional. Uma segunda meta a transformao dos contedos elaborados para essas reunies e dos debates numa anlise acerca de tendncias comuns, mas tambm diferenas e dissonncias, que podem ser identificadas nos vrios contextos culturais e polticos que hoje compem o mosaico da globalidade em termos de sexualidade, poltica, direitos humanos, cincia e religies. Essa publicao no teria sido possvel no fosse a generosidade das autoras e autores que, nessa oportunidade, compartilharam seu conhecimento e suas reflexes. Os debates tambm tiveram a importante contribuio dos/as mediadores/as e comentadores/as: Adriana Vianna, Berenice Bento, Corina Rodrguez, Gabriela Leite, Gloria Careaga, Lohana Berkins, Lucila Esquivel, Luiz Antonio Cunha, Margareth Arilha, Miguel Muoz-Laboy, Paula Machado, Rogrio Junqueira, Rosa Posa, Sergio Carrara, Tamara Adrian e Veriano Terto Jr. A elas e a eles, nossos sinceros agradecimentos. Boa leitura! Sonia Corra e Richard Parker

Apresentao
Essa nota no pretende examinar em detalhe o contedo da publicao ou mesmo transcrever a totalidade dos debates que se desdobraram a partir dos trabalhos apresentados durante o Dilogo Latino-americano sobre Sexualidade e Poltica, tampouco elabora uma sntese a partir do vasto e complexo conjunto de ideias a apresentadas. Um investimento no sentido de produzir uma meta-anlise que articule de maneira mais sistemtica e consistente o riqussimo contedo conceitual e analtico que autoras e autores levaram ao Dilogo est em curso, e espera-se que esteja disponvel no segundo semestre de 2011. As breves reflexes que seguem buscam apenas pontuar as contribuies mais instigantes de cada trabalho e compartilhar, de algum modo, o teor das questes e desafios que o Dilogo provocou. Elas buscam, sobretudo, estimular a leitura integral desse conjunto de textos de qualidade excepcional. Na primeira parte, esto includos os quatro trabalhos que examinam a trajetria da poltica sexual na sua relao com o estado e processos polticos. No texto panormico Sexualidades y polticas en Amrica Latina: un esbozo para la discusin, Mario Pecheny e Rafael De la Dehesa corretamente ressaltam que toda e qualquer anlise de escopo regional implica sempre o risco de homogeneizar indevidamente experincias muito heterogneas em termos de pases, experincias polticas e culturais, sexualidades. Tendo essa nota de cautela como referncia, o artigo examina um conjunto amplo de questes. Busca situar a poltica sexual contempornea na trajetria histrica em curso, desenha um panorama dos movimentos sociais da sexualidade e mapeia a percepo e resposta de outros atores sociais, institucionais e polticos face demanda que esses grupos tm articulado. O texto tambm examina criticamente os conceitos de polticas pblicas, governamentalidade, modernizao/modernidade e desenvolvimento na sua relao com questes de gnero, reproduo e sexualidade. Ao recuperar a trajetria de construo dos estados latino-americanos, desde as independncias no sculo XIX, os autores pontuam a permanncia de alguns temas como, por exemplo, a centralidade da questo populacional enquanto ao dos estados (governar povoar) e suas implicaes em termos das ordens de sexo e gnero. Sublinham os traos patriarcais das normas seculares adotadas no processo de descolonizao, assim como a ambiguidade da experincia latino-americana de laicidade, decorrente do papel poltico exercido desde sempre pela Igreja Catlica, e mais recentemente por setores evanglicos. Os autores recuperam lutas, debates e reformas em torno sexualidade e reproduo que se desdobraram por efeito dos processos contemporneos de redemo-

cratizao, lembrando que, em muitos contextos, essas lutas estiveram relacionadas s demandas e respostas suscitadas pela epidemia do HIV/AIDS. Enfatizam que as feministas foram pioneiras na demanda por reformas legais ps-democrticas, tens-democrticas, do sido bastante bem sucedidas, exceto em relao ao aborto (na maioria dos pases) e sublinham as formas como, nos anos 1990 e 2000, as demandas por direitos diversidade sexual passaram a ocupar o centro do palco poltico, contestando a heteronormatividade das leis e polticas que at ento no haviam sido desestabilizadas. O texto tambm analisa como outros atores sociais, polticos e institucionais tm reagido s demandas das polticas sexuais latino-americanas e d grande ateno ao novo cenrio religioso, seja no que diz respeito a novos modos de operao da Igreja Catlica, seja no que diz respeito expanso das igrejas evanglicas, especialmente em alguns pases. Embora reconhea a relevncia do dogmatismo religioso e sua influncia sobre o estado como obstculo para realizao dos direitos sexuais e reprodutivos, a anlise tambm pontua que as foras de esquerda hoje no poder em vrios pases embora tenham absorvido teoricamente esses temas ao chegar ao poder, na prtica, tm se movido de maneira muito contraditria. Os autores chamam especial ateno para a resistncia dos partidos polticos de esquerda em relao pauta da legalizao do aborto, que se explica pelo temor ao dogmatismo religioso e aos efeitos eleitorais que essas foras poderiam mobilizar. Ao mapear o campo da poltica sexual contempornea, o artigo sublinha e valoriza sua enorme diversidade como contribuio para consolidao da pluralidade democrtica. Recupera tanto a trajetria de mobilizao e advocacy em nveis nacionais e locais, como as iniciativas transnacionais em que as redes feministas e LGBT latino-americanas tm estado crescentemente envolvidas, em termos de construo de alianas atravs das fronteiras, mas tambm mobilizando incidncia poltica sobre os sistemas Organizao das Naes Unidas (ONU) e Interamericano. Ao reconstituir esses percursos contemporneos, chamam ateno tanto para a adoo da linguagem dos direitos humanos como lngua franca por feministas e grupos LGBT, quanto para estratgias de visibilidade e protesto que tm sido implementadas pela via dos mercados da diversidade sexual. Ao fazer essa cartografia, os autores se perguntam se a ecloso da luta poltica em torno dos direitos sexuais e reprodutivos, a partir dos anos 1990, no deveria ser analisada mais em relao hegemonia do liberalismo econmico que prevaleceu no perodo e que tambm implicou um refluxo de movimentos sociais clssicos. Finalmente, os autores sugerem que no contexto poltico dos anos 2000, marcado pela chegada ao poder de governos de esquerda as pautas da poltica sexual esto desafiadas a articular de maneira mais consistente questes de desigualdade e pobreza que ganharam primazia nas agendas de poltica pblica. Finalmente, De la Dehesa e Pecheny lembram, com razo, que, embora feministas e LGBT tenham inimigos comuns muito poderosos, no tem sido automtica ou simples a construo de alianas entre essas comunidades.
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Sexualidade e poltica na Amrica Latina

As contribuies mais instigantes da anlise panormica elaborada por la Dehesa e Pecheny situam-se nos aportes tericos que elaboram em relao poltica pblica, modernizao/modernidade e desenvolvimento como parmetros para situar a poltica sexual latino-americana dos anos 2000. Ao conceituar poltica pblica, por exemplo, eles nos lembram que os modelos clssicos que concebiam polticas pblicas exclusivamente como ao administrativa estatal nos marcos dos estados nacionais esto hoje superados. As concepes contemporneas nos dizem que os mbitos de ao da poltica pblica so tambm locais e globais e, sobretudo, que sua formao e implementao envolve uma extensa gama de atores no estatais. Essa lgica palpvel nos processos de incidncia, elaborao e acompanhamento de leis e polticas em que hoje se engajam os atores e atrizes da poltica sexual que, segundo os autores, podem e devem ser entendidos como expresses da governamentalidade, compreendida como dinmicas multidimensionais e contraditrias de formao e re-configurao dos estados, as quais podem contribuir tanto para a manuteno, quanto para a transformao do ordenamento social e poltico. Os autores enfatizam que polticas pblicas so sempre mecanismos de distribuio de recursos e de poder. Mas tambm sublinham que em sociedades mediatizadas as dimenses expressivas ou comunicativas das polticas pblicas, ou seja, a produo de discursos, simbologias e imagens, so exacerbadas. Pecheny e De la Dehesa levantam a hiptese de que, na Amrica Latina, as respostas dos estados frente s demandas de direitos sexuais e reprodutivos tm sido, sobretudo, traduzidas em termos de polticas expressivas que, no mais das vezes, no implicam maiores riscos, grandes investimentos financeiros ou desafios de gesto. No que se refere modernizao/modernidade e desenvolvimento, a anlise relembra que, na Amrica Latina, as elites historicamente lanaram mo de narrativas de progresso e modernizao para justificar tanto projetos autoritrios e excludentes quanto regimes democrticos e inclusivos. Tambm questiona a oposio simplista entre tradio e modernizao que tende a prevalecer nos discursos polticos e no senso comum, assinalando, inclusive, que no existe correlao automtica entre desenvolvimento (crescimento) econmico, modernidade e democracia. Os autores lembram que vrios pases da regio viveram sob ditaduras em tempos de grande crescimento e modernizao e se democratizaram em meio a crises econmicas profundas. Esses marcos conceituais e analticos so fundamentais para situar criticamente as polticas sexuais contemporneas, entre outras razes porque as transformaes observadas em relao a gnero e sexualidade em dcadas recentes tm sido associadas, de maneira simplista, a processos e/ou ideologias da modernizao. Os parmetros que De la Dehesa e Pecheny elaboram nos instigam a reconhecer que as intersees entre poltica, economia, modernizao, modernidade e democracia
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no so simples ou lineares. Crescimento da renda e modernizao tecnolgica no significam, automaticamente, ampliao do respeito pluralidade, liberdade privacidade. Essa uma nota de cautela importante, num momento em que vrios pases da regio experimentam uma fase excepcional de crescimento econmico e passam a atuar como global players. Tais consideraes tambm sugerem que pode no ser politicamente produtivo formular as demandas por direitos sexuais e reprodutivos como mera oposio entre modernizao e tradio, uma frmula que tem sido particularmente recorrente nos nossos embates com o dogmatismo religioso tema que, no curso do Dilogo, foi retomado nas discusses sobre religio, poltica e sexualidade. A despeito da cautela, os autores reconhecem que existe uma afinidade eletiva forte entre modernidade pensada como liberdade, equidade e democracia e as pautas da poltica sexual latino-americanas. Um trao marcante de tal afinidade , inclusive, a absoro crescente do vocabulrio e dos princpios dos direitos humanos por indivduos, grupos e movimentos inesperados (que j no so o homem branco, europeu, burgus dos direitos humanos oitocentistas). Contudo, eles tambm assinalam que essa proliferao e uso da linguagem de direitos coexiso o tem com os limites e distores da modernidade regional, que se manifesta, por exemplo, na brecha abissal que continua a existir entre a instituio formal de leis e de polticas pblicas, sua implementao efetiva e a vida cotidiana. Mas que tambm flagrante na permanncia de uma esfera privada desproporcionalmente ampla, que restringe a subordinao dos interesses (poderosos) racionalidade do direito e contribui para o clientelismo e relaes e favorecimento. Retomando Avritzer (2002), os autores chamam ateno para o fato que a poltica social se desenrola num contexto marcado por formas diversas de autoritarismo social que condiciona formas estratificadas de cidadania. Uma das mensagens centrais da anlise desenvolvida no texto panormico , possivelmente, indicar que o engajamento crescente de atrizes e atores mais diversos com os estados, os processos polticos, a formao de polticas pblicas e as reformas legais tem significado um mergulho na corrente principal da poltica, que no se faz sem riscos. Estamos hoje imersas e imersos em contradies, paradoxos e conflitos que no so especficos da poltica sexual per se, mas refletem dinmicas e paradoxos de economia poltica e das culturas polticas latino-americanas. Alterar as regras de regulao da reproduo e da sexualidade, estabelecer novas regras para o governo das diferenas tampouco so tarefas triviais e arriscadas. Mesmo reconhecendo essas complexidades e riscos, Pecheny e De la Dehesa finalizam suas reflexes afirmando que fundamental, no cenrio atual, resgatar a pauta da justia e examinar de forma mais sistemtica seus elementos e implicaes no caso de dinmicas de poltica sexual que j no se situam mais margem das correntes principais da macro poltica.
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Os trs outros trabalhos desta parte, embora elaborados a partir de recortes especficos, alm de examinar contextos nacionais e temas especficos, retomam vrias das questes suscitadas pelas reflexes de Pecheny e De la Dehesa. Por exemplo, o texto Estado y procesos polticos: sexualidad e interseccionalidad, de Franklin Gil, comporta um componente terico em que so elaboradas reflexes sobre o prprio conceito de interseccionalidade. Retomando ideias desenvolvidas por feministas negras Angela Davis, Bel Hooks, Patricia Hill Collins, Kimberley Crenshaw e Mara Viveros acerca da dupla discriminao ou dos efeitos cumulativos decorrentes da condio de gnero, raa, classe e orientao sexual, Gil reitera sistematicamente que esse efeito cumulativo no deve ser pensado como um empilhamento esttico, mas sim como uma dinmica instvel e complexa. O grande mrito do texto, porm, o esforo no sentido de traduzir esse debate terico para o contexto da poltica sexual colombiana. Gil identifica a naturalizao, a racializao ou a sexualizao do outro e o recurso constante a dade naturezacultura para explicar fatos sociais como dispositivos que ancoram e alimentam sexismo, racismo e classismo na sociedade colombiana. Portanto, leis e polticas democrticas pautadas pelo respeito pluralidade e promoo da justia tm como desafio desmontar esses dispositivos. Contudo, ao analisar as chamadas polticas de respeito diversidade hoje implementadas na Colmbia, Gil demonstra como o estado continua a pensar e governar diferenas numa perspectiva essencialista e fragmentadas: mulheres, crianas, indgenas, afrodescendentes, gays, lsbicas, travestis. Retomando algumas das questes levantadas por Pecheny e De la Dehesa, Gil sublinha que o estado governa diferenas com base na lgica influenciada pela matriz clssica do governo de populaes, ou seja, uma perspectiva tnico-essencialista de excluso ou incluso de minorias. O autor pontua, adicionalmente, que, nos dias atuais, essa lgica retroalimentada pelo apelo das identidades que caracteriza os novos movimentos sociais, especialmente o movimento pela diversidade sexual. Resulta da um ciclo vicioso: de um lado, o apelo identitrio dos novos movimentos sociais reitera a antiga lgica populacional (minorias) das polticas pblicas; de outro, o governo das diferenas realimenta o apego essencialista do movimento pela diversidade sexual. A injuno identificada por Gil , possivelmente, o que explica por que na Colmbia, assim como em outros pases, as demandas formuladas em termos de identidades tendem a ser mais eficazes, no sentido que obtm respostas mais rpidas dos estados. Por outro lado, no excessivo afirmar que as polticas pblicas pautadas por lgicas essencialistas ou identitrias tendem a ficar restritas s dimenses expressivas (ou comunicativas). Para retomar Fraser (1997), cumprem a funo do reconhecimento, sem necessariamente implicar redistribuio. O artigo de Gabriel Gallego Sexualidades, regulacin y polticas pblica tambm examina o caso colombiano. Ao tratar da regulao da sexualidade, Gallego
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enfatiza que todo e qualquer regime da sexualidade visa a promover a coerncia interna daquilo que uma sociedade define como normal. Nesse sentido, a regulao estatal do sexo visa a produzir coincidncias entre corpo, gnero, desejo, identidade e prtica. A regulao da sexualidade opera tanto no nvel poltico (crianas, famlias e parentesco, apropriao de espaos pblicos de sociabilidade), quanto no plano macro das polticas pblicas e das leis (igualdade, liberdade, privacidade, mas tambm crime e moralidade social). Segundo o autor, embora os processos de democratizao recentes tenham politizado a regulao da diversidade sexual, isso no significa que no passado o sexo estivesse excludo das lgicas do poder. Porm, a democratizao est tornando explcitas lgicas de regulao que eram antes naturalizadas, ao mesmo tempo em que aciona tanto foras desestabilizadoras da ordem estabelecida quanto reaes conservadoras. Gallego considera que a Colmbia constitui um caso paradigmtico para examinar ganhos e paradoxos da poltica sexual contempornea, pois, em anos recentes, tanto o movimento feminista teve ganhos importantes como a despenalizao parcial do aborto (2006) , quanto houve avanos jurdicos muito importantes por efeito da atuao estratgica de grupos intelectuais e de classe mdia junto Corte Constitucional. Essas iniciativas tiveram sucesso aps vrios fracassos no sentido de alterar as normas sexuais por via legislativa. Isso indica um cenrio privilegiado para examinarem-se, criticamente, as relaes entre hegemonia e subalternidade no que diz respeito s lutas ao redor da liberdade reprodutivas e sexualidade no heterossexual. O autor considera que esses ganhos decorreram mais da ao estratgica de grupos de intelectuais de classe mdia e no tanto de uma mobilizao social ampla (como pode ter acontecido em outros pases). Esse trao, ao seu ver, fragiliza os ganhos polticos, pois no est assegurado que a maioria da populao apoie plenamente essas vitrias. E, segundo Gallego, tambm preciso contabilizar a realidade brutal do persistente conflito armado colombiano que deixa vastos setores da populao merc da lgica de regulao imposta por setores no controlados pelo aparato de estado. Esses atores no estatais operam, sistematicamente, com base numa lgica de limpeza social, eliminando tudo o que est fora de ordem e afetando, especialmente, prostitutas e travestis. A anlise remete, portanto, para questes exploradas no texto panormico, como por exemplo os paradoxos entre demandas da sexualidade e as desigualdades e, mais especialmente, a permanncia de lgicas privadas e arbitrrias de regulao social que escapam, sistematicamente, s regras de racionalidade e justia dos direitos humanos. Por fim, o artigo de Elsa Muiz, Los puntos conflictivos en la relacin entre los Estados y las polticas sexuales, tem o contexto mexicano e os direitos reprodutivos como foco especfico, possibilitando um exame mais preciso e detalhado em relao aos procedimentos e estratgias que as foras religiosas dogmticas utilizam para
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conter ganhos e promover retrocessos autonomia reprodutiva das mulheres. Assim, o estudo analisa uma investigao iniciada pela Procuradoria Geral de Justia contra uma jovem de 20 anos que teria feito um aborto usando o medicamento Cytotec (Misoprostol), no estado de Guanajuato. O caso paradigmtico dos paradoxos da interseo entre polticas sexuais e polticas estatais, pois, de um lado, revela o peso da igreja catlica e, de outro, os setores conservadores, no apenas como foras sociais, mas como atores incrustados no aparelho de estado. Mas, segundo Muiz, os impasses observados no mbito da resposta e ao do estado em relao aos direitos reprodutivos no devem ser pensados apenas como resultado da influncia de foras religiosas, mas tambm como um efeito do carter esquizofrnico dos estados contemporneos transformados pela globalizao e o neoliberalismo. No caso mexicano, isso significou, sem dvida, abertura democrtica e uso crescente da linguagem dos direitos, seja pela sociedade, seja pelos governos. Contudo, na experincia cotidiana, o emprego constante de um discurso hiperdemocrtico no garante sua traduo em leis e respeito s mesmas. So, portanto, vrios os ngulos do trabalho que dialogam com as questes lanadas pelo texto panormico, em especial as correlaes entre direitos e liberalismo econmico e o tema do hiato brutal que persiste entre lei e realidade, em especial quando se tratam dos direitos sexuais e reprodutivos. O texto panormico que abriu o segundo momento do seminrio Cincia, gnero e sexualidade , elaborado por Kenneth Camargo, Carlos Cceres e Fabola Rohden, est organizado em quarto blocos. O primeiro traa um panorama crtico da histria do pensamento cientfico, privilegiando especialmente a perspectiva terica de Thomas Kuhn e dos chamados science studies. Um segundo bloco examina os campos de estudos mulher e cincia e gnero e cincia, sublinhando seus aportes mais significativos para anlise das disparidades entre gneros na produo cientfica e efeitos do androcentrismo da cincia. Em seguida, o texto recupera a produo crtica sobre cincia e sexualidade, resumindo as contribuies das autoras mais relevantes e incluindo informaes e anlise sobre a interseo entre produo cientfica, AIDS e sexualidade. A ltima seo trata do tema da medicalizao como efeito da cincia sobre as prticas e significados sociais. O primeiro tpico, como bem indica o ttulo, uma bela introduo sobre filosofia da cincia. A utilidade dessa resenha inequvoca nas condies da poltica sexual contempornea que est, inevitavelmente, atravessada pelos efeitos da cincia e tecnologia, mas cujas atrizes e atores nem sempre tm acesso s informaes e debates que abordam criticamente a produo cientfica e seus impactos. O texto situa o nascimento da cincia na transio da Alta Idade Mdia para o Renascimento ocidental, rev a trajetria de separao paulatina entre teologia/filosofia e lgica cientfica. Na recuperao desse trajeto, lembra que, desde o renascimento, a observao do mundo emprico com base na razo tem
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sido definida como mtodo de acesso verdade. Mas tambm sublinha que o descontentamento com a cincia no um fenmeno recente; de fato, remonta ao iluminismo, quando David Hume interrogou as premissas de objetividade e a lgica indutiva do pensamento cientfico. Na sequncia, feita uma cronologia das teorias crticas da cincia no curso do sculo XX, um movimento intelectual diretamente derivado da crise das certezas cientficas, que seguiu teoria da relatividade geral e aos achados da fsica quntica. Esse percurso vai dos positivistas lgicos dos anos 1920, ao chamado Programa Forte de Teoria Social da Cincia e aos science studies contemporneos, passando por Karl Popper e Thomas Kuhn. O artigo pontua de que forma as correntes tericas atuais concebem a cincia e os discurso cientfico como construes sociais contingentes e atravessadas pelo poder, efeitos econmicos e a situacionalidade dos sujeitos envolvidos que a produzem. Essa viso no s interroga as pretenses de verdade definitiva da cincia, como tem afinidades evidentes com as teorias de gnero e sexualidade informadas pelo construcionismo social, teorias ps-modernas, ou o interacionismo simblico. Nesse sentido, possivelmente uma das contribuies mais importantes do artigo para os debates em curso na poltica sexual a cautela sugerida pelo autores e autora em relao ao efeitos colaterais no antecipados das crticas radicais que reduzem o conhecimento cientfico a mera construo ou ideologia, como por exemplo, o risco de retrolimentar os argumentos anti-cientficos do dogmatismo religioso:
Os desenvolvimentos tecnocientficos carreiam ganhos bvios [como no caso da resposta ao HIV/AIDS]...O reconhecimento da impureza estrutural da cincia no a invalida, mas aumenta a responsabilidade de seus praticantes quanto a exercer uma redobrada vigilncia epistemolgica sobre seus achados. Esse reconhecimento traz a constante necessidade do dilogo com a sociedade e reflexo sistemtica quanto s repercusses do conhecimento produzido sobre a vida das pessoas.

Por outro lado, os autores e a autora no deixam de sublinhar como, na larga trajetria da histria da cincia no Ocidente, desde o Renascimento, as concepes cientficas gradativamente se converteram em referncias normativas para delimitar o que ou no aceitvel nas esferas do gnero e da sexualidade, deslocando o papel prescritivo originalmente ocupado pela doutrina religiosa. E, para avaliar os sentidos da insero entre cincia, poltica e gnero, os autores e a autora revisitam os estudos feministas inaugurados nos anos 1970, a partir dos trabalho de vrias autoras, especialmente Sandra Harding. A anlise faz uma distino necessria entre a linha de investigao que ficou conhecida como mulher e cincia e os estudos posteriores que se desenvolvem
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a partir da teoria de gnero. Sobretudo, diferencia as trs categorias estabelecidas por Harding para descrever o campo: o feminismo empirista que concorda com o projeto da cincia, mas critica os efeitos do androcentrismo que o caracteriza como m cincia; o feminismo perspectivista que defende a possibilidade de um saber fundamentado na experincia das mulheres; o feminismo ps-moderno que problematiza os fundamentos epistemolgicos da cincia, sublinhando que sob a aparente neutralidade e objetividade dos parmetros de investigao e raciocnio cientficos podem sempre ser identificados pressupostos androcntricos e heteronormativos. O texto chama ateno para o fato que essa segunda vertente de reflexo crtica , em grande medida, formada por feministas que so elas mesmas cientistas (geralmente bilogas), como o caso de Ruth Hubbard, Donna Haraway, Anna Fausto-Sterling, que interrogam a produo cientfica sobre gnero e sexualidade no de fora, mas de dentro do campo. A contribuio dessas autoras , portanto, de mo dupla, pois tanto contestam o essencialismo da cincia dura, quanto concepes das cincias sociais, inclusive feministas. O texto lembra que um legado fundamental dessa linha de trabalho foi a contestao da lgica binria que caracteriza a perspectiva feminista clssica sobre sexo e gnero, correspondendo o primeiro biologia e o segundo camada cultural que transformaria a base material biolgica em prtica social. Citando Fausto Sterling, o texto pontua que no adequado postular uma lgica simples de sobreposio entre cultura e biologia, pois as interaes entre os dois termos nem so opostas, nem correspondem a uma lgica simples em que o biolgico est dentro e o cultural est fora. Mas o texto tambm menciona Donna Haraway, para quem, mesmo quando seja preciso enfatizar todos, a produo de conhecimentos parcial e situada, no se trata de abandonar definitivamente a possibilidade da objetividade na qual se baseia a investigao cientfica. Ao resgatar as teorias relativas ao discurso cientfico sobre sexualidade, o texto retorna a Foucault e Jeffrey Weeks como referncias fundamentais para compreender a historicidade, complexidade e profundidade das articulaes entre cincia, sexualidade e poltica na era contempornea, ao mesmo tempo em que examina a contribuio do interacionismo cultural (cenrios culturais e scripts) como fonte inequvoca da perspectiva construtivista da sexualidade. Sobretudo, identifica as conexes, nem sempre isentas de tenses, entre a teorizao e a pesquisa em cincias sociais sobre sexualidade, de um lado, e as agendas de investigao biomdica em HIV/AIDS (e as polticas delas decorrentes) de outro. Finalmente, so revisados os aportes da teoria queer nos estudos contemporneos sobre sexualidade, em especial no que diz respeito crtica da ordem heteronormativa. O artigo tambm aborda rapidamente a medicalizao como fenmeno extensivo nas sociedades contemporneas. Uma vez mais pontua o paradoxo cientfico, chamando ateno para o fato de que a medicalizao, de um lado, soluciona proApresentao

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blemas e reduz sofrimento, e de outro abre campo para que problemas no mdicos sejam patologizados e resolvidos tecnicamente. Os efeitos da medicalizao sobre a poltica sexual so inmeros, como pode se ilustrado pela expanso dos uso de medicamentos para disfuno ertil, que no altera a lgica de poder dos sistema sexo/gnero, e que tem como contraponto a sistemtica hormonizao da sexualidade feminina. A anlise situa a medicalizao em relao economia poltica da sade e dos produtos biomdicos, mas a diferencia do imperialismo mdico. Como concluso, os autores e a autora relembram que desde muito tempo concepes ideolgicas sobre o que natural, normal e saudvel foram sacramentadas pelo discurso cientfico, contribuindo para estigmatizao da sexualidade e, em especial, das formas divergentes de sexualidade, bem como para a dominao da das mulheres. Em tais circunstncias, as teorias que problematizam os pressupostos e achados da cincia so ferramentas relevantes para a poltica sexual. Contudo, segundo Carmargo, Cceres e Rodhen, a adoo dessa perspectiva crtica no deveria levar concluso simplificada que toda a cincia mera reificao de preconceitos e instrumento de dominao. Se a cincia como prtica implica, de fato, crtica reflexiva sobre o mundo e suas relaes, sempre possvel imaginar dilogos e alianas que permitam a construo de conhecimento prudente para uma vida decente. Os trs outros trabalhos da sesso examinam a interseo entre sexualidade, cincia e poltica a partir de recortes especficos. O trabalho desenvolvido por Carlos Cceres Transformacin en el discurso sobre la epidemia al VIH como una epidemia sexuada paradojas y enigmas en la respuesta global reconstri a trajetria histrica do HIV/AIDS, revelando como ela alterou radicalmente os investimentos e prioridades das pesquisas em sexualidade. O artigo faz uma retrospectiva de eventos (como conferncias regionais e globais), atores polticos e agncias que tiveram um papel importante na construo de uma resposta global epidemia. Sobretudo, mapeia as tenses persistentes entre a lgica biomdica (tecnocientfica) e a perspectiva das cincias sociais que tem caracterizado os debates sobre a epidemia desde os anos 1980. Esse veio de reflexo dialoga diretamente com os problemas apontados pelo texto panormico. Cceres pontua por exemplo que um fato que alterou definitivamente tanto o desenho de respostas ao HIV quanto o tratamento das questes de sexualidade foi a descoberta dos anti-retrovirais (ARVs) e a crescente ampliao de acesso ao tratamento desde os anos 1990. Segundo o autor, por um lado, os ARVs permitiram a conteno da epidemia, mas, de outro, significaram o renascimento das abordagens biomdicas como resposta privilegiada para a crise da AIDS. Hoje, essas tenses se manifestam de maneira muito evidente nos debates e propostas sobre polticas preventivas, ou mais especificamente na nova nfase nos mtodos de preveno baseados em evidncia, como a circunciso e a profilaxia com ARV, no caso de grupos expostos grande vulnerabilidade. Segundo Cceres, o caminho para hegemonia
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das novas tecnologias biomdicas em preveno est, perigosamente, aberto. Isso implica, entre outros desafios, em um esforo para ressexualizar os debates em curso sobre as respostas epidemia. O trabalho de Jane Russo O campo da sexologia e seus efeitos sobre a poltica sexual faz uma reviso histrica do surgimento e evoluo da sexologia e, sobretudo, mapeia as tendncias dominantes observadas na sexologia contempornea. Russo examina, em cada etapa desse percurso, as vinculaes mais ou menos contraditrias com a poltica sexual. A autora observa que, mesmo nos momentos seminais da sexologia, no sculo XIX, podem ser identificadas afinidades virtuosas entre sexologia e poltica sexual. Se, por um lado, os estudos de Kraft-Ebing que estavam focados nas perverses se situam, marcadamente, no terreno da biomedicina, em especial na psiquiatria, os esforos de Karl Ulrich e Magnus Hirshfeld, o inventor da homossexualidade, se desenvolveram no marco de uma agenda de reforma sexual, pois tinham como objetivo deslocar a questo do campo criminal para o terreno da cincia mdica para contestar a punio legal da sodomia na Alemanha. Russo tambm relembra que a primeira sexologia foi europeia, sobretudo alem, tendo sido varrida da cena poltica e cientfica aps a ascenso do nazifascismo, em contraste com a segunda onda sexolgica que teve como palco os Estados Unidos no perodo ps II Guerra Mundial. Esse deslocamento geogrfico tambm implicou inflexes significativas em termos dos mtodos, enfoques e objetos de investigao. A primeira sexologia se dividia entre a clnica e a poltica de reforma sexual, focalizando sobretudo a variabilidade da conduta sexual. J a sexologia norte-americana se voltou centralmente para a pesquisa da sexualidade do homem normal e privilegiou os mtodos quantitativos de investigao do comportamento sexual, que fizeram de Alfred Kinsey um cone da pesquisa em sexualidade no sculo XX. Seus/as sucessores/as seriam o casal Master e Johnson, que normalizariam ainda mais o enfoque da pesquisa sexolgica, privilegiando os estudos, em laboratrio, da resposta sexual dos casais heterossexuais. Tendo a primeira sexologia como referncia, a fase norte-americana da pesquisa sexolgica corresponde, segundo a autora, a um movimento de mainstreaming e despolitizao. Contudo, nos anos 1960-1970, a nova onda de politizao da sexualidade abriria, inevitavelmente, novas frentes de contestao ao discurso biomdico, em particular no que se refere patologizao da homossexualidade. No s os movimentos gay e lsbico faziam protestos nos congressos de sexologia, como o campo seria definitivamente impactado pela chamada revoluo sexual. Finalmente, o texto examina as diferenciaes e os desdobramentos que caracterizam o cenrio da sexologia contempornea. Analisa o surgimento e a rpida expanso da medicina sexual, a partir dos anos 1980, que a autora caracteriza como sendo uma terceira onda sexolgica que nasceu como um ramo da urologia,
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a partir do sucesso dos medicamentos para disfuno ertil. Essa vertente, por um lado, fortemente associada indstria farmacutica. Mas, por outro, se inscreve de algum modo nas perspectivas ditas libertrias da sexualidade moderna, pois visa busca do prazer e a separao entre sexualidade e reproduo, aprofundando uma lgica tcnica de autonomizao da sexualidade. Segundo Russo: A nfase na performance, no comportamento, j presente em Masters e Johnson, levada s ultimas consequncias, na medida em que os aspectos que poderamos chamar de relacionais da atividade sexual esto ausentes . Russo avalia que a novidade da medicina sexual implica um recrudescimento da medicalizao do sexo, que, entre outras coisas, reifica a centralidade do coito e a dominncia da genitlia masculina como referentes de sade sexual e prazer. Contudo, ela tambm pontua que esse movimento ocorre simultaneamente a uma nova onda de repolitizao da sexologia de que so ilustraes as iniciativas lanadas, desde a segunda metade dos anos 1990, pela antiga Associao Mundial de Sexologia (WAS) e suas ramificaes regionais. Por exemplo, a organizao mudou seu nome para Associao Mundial de Sade Sexual e, em 1999, aprovou uma Declarao dos Direitos Sexuais que se inspira nas agendas e propostas elaboradas pelos movimentos feministas e LGBT nos ltimos trinta anos. Num balano final, a autora considera ser fundamental reconhecer que nem no passado, nem nos dias atuais a sexologia pode ser descrita com um campo homogneo e que, sobretudo, a despeito de tenses e conflitos, sempre existiu a circulao de ideias e afinidades potencialmente virtuosas entre o campo sexolgico e a poltica sexual, pensada como o terreno das lutas por direitos e transformaes sociais mais profundas. Juan Carlos Jorge, no trabalho El corpus sexual da biomedicina, reflete criticamente sobre como o corpo sexuado construdo a partir das concepes e discursos da cincia e que, constantemente, criam e recriam o binarismo sexual (macho e fmea). Segundo Jorge, desde 1910, quando os cromossomos foram descobertos, essa lgica binria tem prevalecido como critrio para definir o sexo das pessoas. Ao longo do sculo XX, os estudos genticos tm sido complementados pelo estudo dos tecidos das gnadas e pesquisas neurais acerca do funcionamento cerebral. Contudo, as descries cientficas irrevogavelmente binrias do corpo sexuado e da identidade sexual continuam prevalecendo. O autor menciona que linhas de pesquisas biolgicas desenvolvidas em anos recentes demonstram que, de fato, os processos de diferenciao sexual so muito mais complexos e tardios do que sugerem as correntes cientficas dominantes. Contudo, esses estudos e achados no tm maior visibilidade, seja na academia, seja no debate pblico. Por exemplo raramente se d a conhecer ao pblico mais amplo a perspectiva de investigadores/as, como a embriologista portuguesa Clara PintoCorreia que no tem maiores dvidas em afirmar que:
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A determinao sexual no caso dos mamferos continua sendo um quebra-cabea gigantesco e no resolvido (Pinto-Correia, 1997, p. 261). Os dados cientficos disponveis mesmo no interior do paradigma biomdico permitem hoje questionar a noo de que uma fmea apenas ausncia daquilo que produz um macho e que o se tornar fmea um processo biolgico passivo (Manolakau et al, 2006). Cabe assim perguntar se esse deslocamento ideo-lgico no exatamente o que explica por que esses achados moleculares, disponveis h vinte anos, no so citados em nenhum livro texto de medicina ou da biologia molecular.

A anlise de Juan Carlos Jorge tambm enfatiza, com razo, a questo da hegemonia das instituies cientficas e profissionais norte-americanas como produtoras de parmetros e normas de aferimento e determinao das identidades sexuais e de gnero como o caso das Associao Americana de Pediatria e da Associao Americana de Psiquiatria, cujos protocolos so adotados no mundo inteiro, sem maiores questionamentos. Jorge avalia que uma perspectiva crtica acerca da geopoltica contempornea da sexualidade, no pode prescindir de uma investigao mais sistemtica quanto aos efeitos desse poder de influncia. O texto panormico que abriu a sesso sobre sexualidade e economia A prostituio como atividade econmica no Brasil urbano tem como autor e autora Ana Paula Silva e Thaddeus Blanchette. A dupla de pesquisadores/as realizou um estudo sobre turismo sexual em uma boate da praia de Copacabana, cujos achados indicaram que era necessrio alargar os estudos sobre a economia da prostituio feminina como atividade econmica no Brasil urbano e conhecer melhor a lgica do mercado sexual no Rio de Janeiro e seus condicionantes. Foi realizada ento uma segunda investigao, mais ampla, que coletou informao antropolgica, durante cinco anos, sobre pontos de prostituio, prostitutas e clientes na cidade do Rio de Janeiro. O texto relembra que, historicamente, a prostituio percebida no Brasil como um fenmeno semicriminoso ou, quando no, como uma questo de ordem pblica:
[cuja] ..anlise, ordenao e (ocasional) represso cabem propriamente s autoridades institudas do Estado. Em geral, essas so oriundas de dois campos polticos/ cientficos: o jurdico (composto de policiais, juzes e criminologistas) e o mdico, particularmente a rea da sade pblica. A preocupao principal desses agentes tem sido limitar os supostos contgios do vcio do sexo comercial para que estes no infectassem a famlia.

Isso implica, portanto, que, mesmo a percepo secularizada dominante sobre o problema da prostituio, foi e continua permeada de concepes que enfatizam a imagem da mulher viciosa, que tambm vulnervel e escravizada. Por outro lado, os discursos religiosos, especialmente nas suas verses dogmticas, descrevem as prostitutas como pecadoras que devem ser salvas antes de serem perdoadas. EsApresentao

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sas duas vises da prostituio compartilham um trao comum que o de negar a possibilidade de que uma pessoa possa tomar a deciso de se prostituir, com base na racionalidade econmica. Em contraste com essas molduras morais, o material emprico, coletado e analisado pela pesquisa, indica que quase a totalidade das entrevistadas opta pela prostituio como atividade que as remunera melhor do que outras opes do mercado de trabalho, ou como diz uma das entrevistadas: Its money, honey. tudo por dinheiro. O que voc acha?. Silva e Blanchette consideram que a prostituio no chamado eixo Rio-So Paulo modelar, j que a regio concentra cerca de 30% da populao brasileira, constitui um plo histrico de migrao interna e, mesmo nos dias atuais, o que acontece nestas duas capitais repercute por todo o pas. Os resultados da pesquisa indicam que, ainda hoje, Rio de Janeiro e So Paulo atraem trabalhadoras sexuais de todo o pas e continuam sendo as cidades mais citadas pelos clientes entrevistados, particularmente os estrangeiros. Esse achado contrasta com a imagem projetada pelos meios de comunicao que o Nordeste do pas seria hoje o novo plo de turismo sexual. O texto enfatiza que uma compreenso mais fina da prostituio como atividade econmica deve ser feita em articulao com uma anlise do panorama do mercado de trabalho brasileiro a partir de uma perspectiva de gnero. Isso porque, quando se consideram os trs indicadores que compem o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) esperana de vida, educao e renda , existe paridade ou mesmo vantagem da populao feminina no caso das duas primeiras variveis. Mas no caso da renda, a disparidade de gnero persiste. As mulheres so hoje 45% da populao economicamente ativa; mas, em mdia, sua renda salarial 30% menor que a dos trabalhadores masculinos. Alm disso, as mulheres continuam concenm o, tradas no setor de servios, especialmente servios domsticos (cerca de 19% do total de trabalhadoras brasileiras). Por fim, a diviso sexual do trabalho faz com que as mulheres continuem, predominantemente, responsveis pelos afazeres domsticos, o que demanda horrios de trabalho flexveis. Nesse contexto paradoxal, a prostituio oferece iguais ou at melhores oportunidades de insero econmica, cuja remunerao tende a ser maior que os salrios oferecidos nos espaos de insero laboral feminina que continuam a ser caracterizados por razovel precariedade. No s a remunerao maior na prostituio, como tambm os horrios so mais flexveis. Alm disso, as entrevistadas avaliam, de maneira geral, que as violaes dos direitos das trabalhadoras sexuais no so muito piores do que os abusos que ocorrem em outras profisses femininas no universo urbano. Na mostra da pesquisa h, inclusive, casos de mulheres que abandonaram profisses de maior status e razoavelmente bem remuneradas como o trabalho de corretora de imveis para trabalhar na prostituio. Os/as autores/as observam que o casamento no , em geral, percebido como uma porta de sada
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potencial da prostituio. Alis, vrios depoimentos revelam que muitas mulheres se prostituem para complementar a renda da famlia. Apesar das vantagens do trabalho sexual descritas pelas informantes, a anlise tambm pontua que se trata de uma atividade que pode ser muito cansativa e que implica em riscos e insalubridade. A legislao vigente no pas contraditria no criminaliza as mulheres, mas sim a explorao da prostituio. Mas so muitos os obstculos para que se aprove uma regulamentao profissional que poderia, eventualmente, criar melhores condies laborais. O trabalho, inclusive, descreve situaes de explorao e violncia exercidas por cafetes, donos de boates, casas noturnas e termas, que no nunca coibida, pelo fato da profisso no ser reconhecida como trabalho.
Em outras palavras, embora a cafetinagem, em sua acepo mais brutalmente exploradora, no parea ser estruturalmente significante na organizao econmica da prostituio urbana (particularmente no Rio de Janeiro), existe uma srie de agentes que exploram a prostituta, no sentido marxista da palavra, atravs da expropriao dos frutos de seu trabalho. A desregulamentao do trabalho sexual impede a organizao efetiva das prostitutas, enquanto classe, para manter as atividades desses agentes dentro dos limites do aceitvel.

O estudo comporta uma geografia do trabalho sexual no Rio de Janeiro, ou seja, um mapa preliminar do mercado de servios sexuais femininos na cidade. Nesse exerccio, os/as autores/as problematizam a hierarquia consagrada nas cincias sociais acerca do baixo, mdio e alto meretrcio, observando que tal classificao estabelece uma escala tanto econmica quanto moral para classificar tipos de trabalho sexual. O argumento desenvolvido que no existe evidncia palpvel que a prostituio mais barata seja, intrinsecamente, mais violenta, degradante ou at promscua que os servios sexuais melhor remunerados. No mapa dos locais de servio sexual no Rio de Janeiro, foram identificados 304 pontos que podem ser classificados em trs categorias: pontos fechados, que so lugares com pouca ou nenhuma visibilidade frente ao entorno social, como o caso de termas, boates, casas de massagem e privs; pontos abertos, que so locais ao ar livre potencialmente visveis aos olhos da sociedade, como ruas, bares, restaurantes e praias; e lugares mistos, que so estabelecimentos simultaneamente abertos e fechados. A pesquisa tambm detalha as atividades e modalidades encontradas em cada tipo de ponto e analisa categorias morais da prostituio. Em linhas gerais, o objetivo central do estudo contribuir para desnaturalizar e desconstruir os preconceitos relacionados ao mercado do sexo no Brasil, estimulando a elaborao de pesquisas semelhantes em outras regies do pas. O artigo de Ofelia Becerril Sexualidad, cuerpo y poder en el vaivn transnacional relata e analisa os achados de um estudo sobre a dinmica migratria entre
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o Mxico e o Canad, um deslocamento populacional sazonal cujas regras so definidas por um acordo bilateral, o Programa de Trabalhadores Agrcolas Temporais (PETA), entre os dois pases. Os/as migrantes permanecem, a cada ano, algumas semanas no Canad trabalhando em setores da agroindstria durante a colheita e esto sujeitos/as aos mais variados dispositivos de controle de sua sexualidade, tais como: estabelecimento de horrios para encontros amorosos, vigilncia permanente com cmeras de vdeo nos dormitrios e regulao estrita dos espaos de sociabilidade. O desrespeito a essas regras pode significar deportao automtica. Alm disso, a experincia vivida por mulheres e pessoas homossexuais ainda mais marcada por restries e violaes, pois essas pessoas so muito mais controladas, seja por parte dos empregadores, seja pela prpria comunidade migrante cuja moral se rege por padres heterossexuais restritos. O achado mais interessante da pesquisa, contudo, que as pessoas resistem sistematicamente a essa lgica disciplinar, reafirmando seus desejos sexuais e desafiando abertamente os dispositivos de controle, como, por exemplo, mantendo relaes sexuais em locais proibidos. Becerril tambm observa que, a despeito das normas sexuais restritas nos locais de trabalho, a chegada dos migrantes mexicanos suscita, a cada ano, uma migrao interna de trabalhadoras sexuais que vo de Toronto e Montreal a essas zonas para prestar servios sexuais. O trabalho desenvolvido por Adriana Piscitelli, por sua vez, analisa o fluxo de brasileiras que migram para a Espanha a fim de trabalhar na indstria do sexo. As mulheres entrevistadas so, na maioria, muito jovens, mas no so nem muito pobres, nem de baixa escolaridade. Em geral, pertencem aos setores de classe mdia baixa e seus nveis de escolaridade so iguais ou superiores mdia brasileira. Embora algumas sejam negras, a maioria das entrevistadas se considera branca. Muitas nunca haviam trabalhado na indstria do sexo no Brasil. No entanto, h tambm mulheres de faixa etria mais avanada que eram prostitutas, mas que estavam perdendo mercado em razo da idade e emigraram em busca de novas alternativas. A pesquisa explorou trs aspectos desse movimento migratrio: como se d a deciso de migrar? Quais so as possibilidades de insero na indstria do sexo espanhola? Quais so os efeitos dessa deciso na trajetria destas mulheres? Os relatos das entrevistadas revelam que a deciso de emigrar motivada tanto por aspiraes de mobilidade social e econmica j que o trabalho sexual paga melhor na Espanha do que no Brasil , quanto por um imaginrio de aventura e glamour relacionado ao projeto de viver na Europa. Ao situar a experincia dessas mulheres no contexto de controle de migrao, regulao da prostituio e da crise econmica de 2008, Piscitelli identifica como efeitos mais significativos desses condicionantes violncia sistemtica por parte das autoridades migratrias a crescente violncia policial nas ruas e, desde o ano passado, perdas econmicas que levaram algumas dessas mulheres a voltar (ou pensar em voltar) ao Brasil.
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A pesquisa informa ainda que, a despeito de dificuldades, um tero das entrevistadas considera que teve xito ao sair do pas para trabalhar na indstria do sexo na Espanha, pois tiveram ganhos financeiros maiores do que se ficassem no pas. Muitas enviam remessas de dinheiro para o Brasil, seja para apoiar suas famlias, seja como investimento. Uma das entrevistadas, por exemplo, hoje dona de uma fazenda em Rondnia e paga os/as trabalhadores/as desse empreendimento com os recursos que ganha como prostituta na Espanha. A autora conclui, portanto, que o fluxo internacional de pessoas relacionado ao mercado do sexo deve ser compreendido e analisado como parte do movimento mais amplo de migrao internacional, pois suas motivaes e efeitos no diferem, substantivamente, de outros deslocamentos populacionais transnacionais. O artigo Sexo que vende: economa de la produccin de pelculas porno, de Mara Elvira Dias-Bentez, apresenta resultados parciais do amplo estudo sobre o mercado de produo de cinema pornogrfica no Brasil que foi sua tese de doutorado, hoje publicada em livro1. A anlise parte da premissa que a pornografia no um fenmeno contemporneo, mas tem uma longa histria vinculada ao crescimento da cultura de massa e da indstria de entretenimento. Contra esse pano de fundo histrico, a pesquisa investigou a configurao e lgica da produo de filmes pornogrficos em So Paulo (que o grande centro produtor do pas). Segundo Bentez, a produo de filmes e vdeos porns comporta uma complexa cadeia produtiva, na qual:
O dinheiro determina os ritmos e funcionamentos do processo de elaborao de um filme: o recrutamento de elenco, a negociao dos cachs, o oramento destinado s filmagens (dependendo tambm da capacidade econmica da produtora, a disposio das performances sexuais, a qualidade e trajetria de atores e atrizes, as locaes, as prticas, corpos e repertrios sexuais que se pretende expor).

Este mercado tem um elevado grau de rotatividade das pessoas envolvidas, especialmente atrizes a atores. A exigncia de renovao particularmente intensa no caso das mulheres, travestis e homens que atuam em filmes para gays. J os homens heterossexuais permanecem no mercado por mais tempo. Embora a pornografia heterossexual seja dominante, tanto no mercado interno quanto no externo, o Brasil detm um fatia importante do nicho de mercado internacional em que circulam vdeos de pornografia com travestis. O Brasil tambm se destaca na exportao de filmes de pornografia bizarra ou dos fetiches, como aqueles que, por exemplo, exibem sexo feito com pessoas muito gordas ou com animais. Bentez observa, finalmente, que na produo e no mercado pornogrfico tambm se identificam moralidades e hierarquias sexuais. Atores e atrizes que atuam na

Bentez, Mara Elvira Das, 2010. Nas redes do sexo: os bastidores do porn brasileiro. So Paulo, Ed. Zahar.
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chamada pornografia bizarra recebem cachs mais baratos e so estigmatizadas/os nos circuitos de produo. Em contraste, homens que tm bom desempenho sexual, celebridades e mulheres jovens que fazem o estilo patricinha so mais respeitadas e valorizadas. Ela conclui sublinhando que, assim como a sexologia e a biomedicina, a pornografia tambm produz classificaes, taxonomias, normalidades e perversidades. O trabalho de Bruno Zilli que encerrou o painel sobre economia e sexualidade traz reflexes tericas inspiradas em uma pesquisa j finalizada sobre comunidades virtuais BDSM2 e nos marcos conceituais desenhados para uma pesquisa sobre usos e regulao da internet e suas intersees com questes de sexualidade. O trabalho informa que, em 2009, segundo o IBOPE, 38.2 milhes de pessoas acessavam a internet de suas prprias casas no pas, entre as quais 87% tm acesso banda larga. Tambm assinala que extenso tanto o uso do MSN, utilizado por 75% dos/ as internautas brasileiros/as (48% dessas pessoas tm entre 6 e 24 anos), quanto do Orkut, que contava com mais de 23 milhes de cadastros em 2008, ou seja, 53% dos/as usurios/as da plataforma no mundo inteiro segundo a Google. Citando Pierre Lvy, que interpreta o virtual como uma nova modalidade do ser, Zilli enfatiza que as pessoas engajadas no ciberespao o percebem como um lugar real. O uso de expresses como navegar, ir, acessar um site, informam que o mundo online vivido como espao mvel no interior do qual as pessoas tambm se movem. Isso altera radicalmente noes de tempo e presena e exige que problematizemos a oposio convencional entre real e virtual. A anlise pontua ainda que a internet desempenha um papel crucial nas dinmicas contemporneas de sociabilidade e auto-expresso, e nesse sentido, no s contribuiu para novas conectividades no interior da poltica sexual, como abre amplo espao para o surgimento de comunidades ligadas a identidades e prticas sexuais especficas, como no caso da comunidade BDSM. Dito de ouro modo, trocas sexuais so hoje um componente nodal da internet, comportando modalidades que vo do sexo virtual aos namoros e casamentos. Mas, ao mesmo tempo, a internet se converteu num espao perigoso que precisa ser controlado ou regulado, especialmente no caso das crianas, objetos clssicos da tutela e do disciplinamento sexual. As reflexes desenvolvidas por Juan Marco Vaggione no texto panormico Sexualidad, religin y poltica en Amrica Latina destacam inicialmente que sexualidade e religio so dimenses estruturais inequvocas das polticas contemporneas. A modernidade, enquanto projeto ideolgico, buscou confinar o sexo e a religio esfera privada. Contudo, isso no ocorreu e, no mundo da vida, tanto a religio quanto a sexualidade tm sido sistemtica e crescentemente politizadas. Seja no passado, seja no dias atuais, instituies e discursos religiosos incidem sobre os processos formativos do estado e das polticas pblicas, tanto nos planos nacio2

Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo.


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nais quanto nas esferas internacionais, exercendo influncia sobre os mais diversos temas, inclusive aqueles relacionados sexualidade. No que se refere sexualidade, Vaggione observa que sua regulao esteve, desde sempre, no cerne das lgicas de regulao do estado moderno e, mais especialmente que, nos anos 2000, questes de gnero e sexualidade so temas inescapveis nos debates sobre direitos e cidadania na Amrica Latina e, ao mesmo tempo, em doutrinas e foras religiosas. Em particular, as vertentes mais dogmticas buscam influenciar os debates pblicos e as reformas legais e de polticas pblicas. Sexualidade, religio e poltica esto, portanto, to interconectadas que quase impossvel analisar cada uma dessas dimenses de maneira isolada, sem considerar a outra. De modo a deslindar essa imbricao, Vaggione faz uma reviso da literatura sobre sexualidade, religio e poltica na Amrica, ponderando que, apesar do incremento recente de pesquisas nesse campo, muito resta a ser feito e persistem indagaes tericas importantes sobre o que j foi produzido. A interseo entre essas trs dimenses ou esferas pode ser analisada de maneiras diversas e eventualmente contraditrias. Segundo o autor, a anlise mais conhecida contrape as polticas emancipatrias da sexualidade s polticas do religioso, ou seja, a religio descrita como principal obstculo frente a definies plurais e diversas da sexualidade. Historicamente, esse papel foi desempenhado pela Igreja Catlica, que continua a ser muito influente. Mas Vaggione menciona, com razo, que hoje muito significativo o papel das igrejas evanglicas, em particular as igrejas pentecostais, que propem como explicao para a homossexualidade a presena de foras sobrenaturais (demonizao) sobre os indivduos, das quais eles precisam ser libertos a partir da orao, do exorcismo e da cura. A influncia religiosa sobre as normas e as prticas da sexualidade opera em dois nveis. No plano subjetivo, produz dissonncias cognitivas entre a filiao religiosa, por um lado, e os desejos e as prticas dos indivduos, por outro. No plano poltico, identificam-se aes e intervenes sistemticas dos grupos religiosos sobre o aparelho de estado e a opinio pblica. Nos dias atuais, no s a hierarquia catlica opera, como sempre fez, no mbito das relaes com o poder para influenciar polticas de estado. As identidades religiosas, sejam elas catlicas ou evanglicas, se tornaram uma dimenso do ativismo cidado contra os direitos sexuais e reprodutivos e se manifestam como vozes legtimas do debate pblico e, sobretudo, por via eleitoral. Vaggione reconhece que o chamado retorno do religioso um enorme obstculo para a pluralidade, para a sedimentao do respeito pluralidade religiosa e para a ampliao dos direitos sexuais e reprodutivos. Porm, tambm enfatiza que preciso identificar mudanas em curso no campo religioso, ou seja, buscar a grupos e vozes que esto abertos liberdade e diversidade sexual. Neste sentido, prope uma ruptura com a definio do religioso como instncia necessariamente repressiva com
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relao a questes de sexualidade, a fim de buscar e dialogar com novas perspectivas que enfatizam a possibilidade de transformaes emancipatrias nos dois campos:
...as religies constituem um obstculo para as polticas emancipatrias da sexualidade, preciso reconhecer a heterogeneidade religiosa. Reduzir o religioso a posturas heteronormativas e/ou patriarcais simplificar o leque de possibilidades, pois existem indivduos, instituies e discursos religiosos que compatibilizam as identidades religiosas com uma concepo ampla e plural da sexualidade, pluralismo que no s se d entre distintas tradies religiosas, como tambm no interior das mesmas.

Retornando ao campo das relaes entre sexualidade, religio e poltica, Vaggione assinala que quando hoje as foras religiosas dogmticas buscam exercer sua influncia sobre o estado e a sociedade, usando novas estratgias, atores e atrizes da poltica sexual, de seu lado, tm reativado os debates sobre laicidade ou secularismo como horizonte normativo das democracias (liberais) para conter esse avano conservador. Experimentamos, portanto, politizao religiosa reativa, de um lado, e manifestaes em prol da laicidade ou secularismo estratgico, de outro. Essa ltima pauta se traduz na defesa do estado laico como um regime cuja legitimao se baseia na soberania popular e no em princpios religiosos, pois este deve garantir a liberdade e a diversidade sexual, baseando-se no princpio geral de respeito liberdade de conscincia e privacidade dos cidados e cidads. Na viso de Vaggione, porm, a defesa da laicidade, do estado laico e da secularizao da sociedade, embora fundamentais, no solucionam ou esgotam os desafios que se colocam para a ampliao da agenda de direitos sexuais e reprodutivos na regio. Ele lembra, por exemplo, que, mesmo sendo o estado efetivamente laico, juizes/as, legisladores/as ou as pessoas, em geral, continuaram sendo fiis s suas convices religiosas particulares que, como sabemos, carregam concepes estritamente morais acerca da sexualidade e da reproduo. Por essa razo, segundo ele, vrias/os pesquisadoras/es e tericas/es que tratam do tema tm repensado a questo do lugar e papel das crenas religiosas na esfera pblica. Muitas delas/es defendem a posio clssica de que as fronteiras entre estado e religio devem ser ntidas e que as pessoas devem despojar-se de seus valores religiosos quando atuam como agentes pblicos. J outros/as consideram que as vises religiosas devem circular livremente nos debates pblicos e legislativos, mas que as leis no podem estar fundadas em princpios de doutrina religiosa. Finalmente, h aqueles/as que consideram que as linhas de demarcao devem se dar em termos de razes e argumentos privados, por um lado, e argumentos pblicos, por outro. O autor argumenta que, nas condies polticas atuais, a construo de marcos analticos e normativos mais complexos em relao s intersees entre sexualidade e religio exige, possivelmente, que as concepes de laicidade que estabelecem
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Sexualidade e poltica na Amrica Latina

fronteiras rgidas entre religio e poltica, ou religio e direitos, sejam revisadas. No mundo da vida, de fato, as fronteiras entre poltica e religio so mais porosas, dinmicas e flexveis. E, na sua avaliao, as posturas que se apegam de maneira muito rgida defesa da laicidade ou secularismo, no seu sentido clssico, no resolvem essa complexidade, mas apenas deslocam o problema. Nesse sentido, o pesquisador faz uma proposio forte que como ele mesmo a qualifica de que pensemos as intersees entre religio, poltica e sexualidade numa perspectiva ps-secular:
Numa regio como a Amrica Latina, onde por sculos a igreja catlica tem exercido poder hegemnico sobre as construes legais da sexualidade, um programa poltico baseado na separao entre religio e poltica, autonomia do estado e defesa do pblico como exclusivamente secular era considerado como condio para o avano dos direitos sexuais e reprodutivos. () A questo religiosa agora inescapvel, mas esta urgncia se d num tempo no qual nem o secularismo nem a secularizao nem a esperana do desaparecimento do religioso servem de base, racional ou irracional, para as anlises e polticas. () O desafio , ento, propor marcos tericos e estratgias polticas baseadas numa compreenso do religioso como parte legtima do poltico.

No painel que complementa os debates sobre o tema, Fernando Seffner, no trabalho Direitos sexuais e laicidade: novos desafios polticos, retoma vrias das ideias desenvolvidas no texto panormico. Sugere, por exemplo, que preciso, nos dias atuais, abandonar uma lgica simplista de anlise que concebe, por um lado, a religio exclusivamente como atraso, moralidade tacanha e negao da cincia e, por outro, a modernidade como progresso incontestvel, avanos da cincia e iluminismo. O texto relembra de setores catlicos progressistas para a defesa dos direitos humanos durante a ditadura no Brasil e que, mesmo hoje, quando esto muito acirrados os conflitos em torno da sexualidade e religio, a Igreja Universal faz campanhas de distribuio de preservativos nas suas bases e misses em pases africanos. O autor tambm considera problemtico sustentar, de maneira dogmtica, nos dias atuais, posio clssica de que a religio pertence ao foro ntimo, esfera individual e no tem um lugar legtimo na poltica ou nas instituies pblicas. Para elaborar essa afirmao, o texto menciona alguns estudos. O primeiro uma pesquisa conduzida no estado de So Paulo, cujos achados informam que juzes das varas de famlia realizam audincias de conciliao, que no so exigidas pela lei quando um casal se apresenta para solicitar o divrcio. Isso significa que as crenas religiosas e os dogmas cristos penetraram profundamente no judicirio, mesmo quando existe uma regra tcita de separao entre estado e religies. Em contraste, pesquisa realizada pela Associao Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), intitulada Respostas religiosas AIDS no Brasil, identificou uma instituio catlica cujos dirigentes elaboraram um texto teolgico sobre preveno. Nesse espao, a
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camisinha no distribuda porque a distribuio proibida , mas sempre disponibilizada. Seffner avalia, portanto, que urgente complexificar e politizar o fenmeno religioso, abandonando a crtica negativa estreita do pensamento poltico convencional sobre a questo. Sublinha que uma vasta literatura est hoje disponvel, pelo menos no Brasil, que revela o quanto as pessoas que so religiosas praticantes so cada vez mais autnomas em suas decises, face s hierarquias, doutrinas e dogmas religiosos. Segundo o autor, um olhar privilegiado sobre essa autonomia crescente dos sujeitos religiosos face s doutrinas e hierarquias pode, eventualmente, oxigenar a discusso sobre laicidade, de modo a no sermos capturados por vises rgidas e simplistas acerca das intersees entre sexualidade, religio e poltica. J o trabalho de Jaris Mujica apresenta os resultados de uma pesquisa que investigou a estrutura e a ao dos grupos catlicos dogmticos no Peru, identificando suas principais agrupaes, formas de articulao interna e externa, dispositivos operacionais e discursivos, estratgias que adotam em relao a grupos pr-direitos sexuais e reprodutivos, bem como perfil e trajetria de suas lideranas. Os achados informam que os setores conservadores catlicos peruanos estabeleceram, em anos recentes, relaes muito ntimas com a poltica formal e hoje incidem sobre o debate democrtico com fora inusitada. Sobretudo, suas estratgias se alteraram significativamente. No passado, baseavam-se centralmente nas premissas clssicas da doutrina catlica, nos termos conhecidos de defesa intransigente da tradio, da famlia e da propriedade. As estratgias adotadas para difuso dessa viso eram desenhadas como aes sociais e culturais nos planos locais e nacionais. Hoje, embora a viso moral seja a mesma, esses grupos se globalizaram, se politizaram e a aggiornaram. A pesquisa identificou, por exemplo, conexes orgnicas entre grupos to dspares quanto o Opus Dei e Sodalicio de la Vida Cristiana diretamente vinculados Igreja Catlica e grupos internacionais da sociedade civil, como o Population Research Institute (PRI) ou a Aliana Latino-americana para a Famlia (ALAFA). Alm disso, essas fora tm penetrado sistematicamente na poltica estatal e mobilizam continuamente aes de natureza legislativa e jurdica. Uma de suas metas centrais usar a lei como instrumento para alterar o comportamento e as prticas cotidianas. Ou seja, j no se trata de colonizar espaos estatais, como as foras religiosas conservadoras faziam no passado. Mas sim de alterar profundamente as normas legais, de modo a estabelecer uma plataforma de ao slida e de longo prazo, a qual, preciso compreender, j no se sustenta apenas em lgicas doutrinrias morais, mas se fundamenta em princpios de democracia e de direitos humanos. Segundo Mujica, as atrizes e atores da poltica sexual precisam reconhecer que o campo de interveno dessas foras hoje domnio do biopoder. Por essa razo, um dos focos centrais de atuao poltica e jurdica desses grupos exatamente a
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Sexualidade e poltica na Amrica Latina

promoo de debates e reformas jurdicas em torno ao significado e interpretao do conceito de vida. O artigo do reverendo Elias Vergara, Vises religiosas alternativas sobre sexualidade, por sua vez, desloca o foco de reflexo para o interior do campo religioso. O autor prope uma reconstruo radical do mito do Jardim do den, no qual a expulso do paraso j no interpretada como queda, mas sim como liberao ou encontro com o desejo. Fora do Jardim, Ado e Eva fizeram sexo e dessa relao de amor nasceu seu primeiro filho. Antes do desejo, a vida de Eva e Ado era sem graa, rida, estando nus na presena um do outro, nada sentiam. Na re-interpretao elaborada por Vergara, essa castrao era um efeito da obedincia cega imposta por Jav. Ficar no Jardim significava morrer; a vida plena estava fora dos limites do den e, nesse sentido, a rebelio de Ado e Eva pode e deve ser interpretada positivamente. Mas Vergara assinala ainda que no possvel fazer essa interpretao positiva se continuarmos apegados a uma lgica dogmtica que v na serpente o demnio, ou seja, uma oposio a Jav. Segundo ele, assim como o jardim pode ser interpretado como confinamento, a serpente pode ser compreendida como uma divindade concorrente. Esse esforo de reconstruo do Mito do Jardim busca, entre outros objetivos de reflexo crtica, demonstrar que quanto mais hegemnica e totalitria a postura de qualquer instituio, sempre existe a possibilidade de romper com esta lgica dominante e que, muitas vezes, preciso faz-lo. Viver na lgica do Jardim ou romper com essa lgica: esse o grande desafio humano. O autor tambm sublinha que, ao discutir religio e sexualidade, necessrio refletir de maneira mais sistemtica sobre o encontro entre o sagrado e o humano. Na sua viso, esse encontro est hoje em franca transformao, como pode ser exemplificado pela entrada das mulheres no sacerdcio, mas tambm pelas crescentes discusses que transcorrem, no campo religioso, sobre sexualidade, direitos reprodutivos e gnero. Vergara tambm considera que, essa perspectiva teolgica renovada, permite, inclusive, pensar que as paradas do orgulho LGBT so tambm um espao do sagrado, j que podem ser interpretadas como uma grande celebrao religiosa do culto ao amor. Esse conjunto de textos e reflexes permitir, sem dvida, s leitoras e leitores, a elaborao de intersees e questes que so hoje cruciais para compreender melhor os ganhos, perdas, riscos e paradoxos da poltica sexual latino-americana. Inclusive um esforo de meta-anlise a partir do conjunto de contribuies que compem o contedo dessa publicao est sendo elaborado para compor a anlise global que deve emergir do compartilhamento dos resultados dos trs dilogos regionais promovidos pelo Observatrio de Sexualidade e Poltica, a ser publicada, possivelmente, em 2012. Boa leitura! Sonia Corra

Co-coordenadora do Observatrio de Sexualidade e Poltica


Apresentao

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Sesso 1:
Sexualidade, estado e processos polticos

TEXTO PANORMICO

Sexualidades y polticas en Amrica Latina:


un esbozo para la discusin
Mario Pecheny1 y Rafael De la Dehesa2

Una parte de mi pesa, pondera Otra parte delira

Introduccin En el presente ensayo, ofrecemos una interpretacin del panorama de poltica sexual en Amrica Latina, trazando algunas genealogas de tendencias importantes actuales. No est de ms recordar que este ejercicio implica homogeneizar una diversidad de experiencias irreducibles en trminos de subregiones (pases, contextos urbanos, semi-urbanos y rurales), historias, puntos de vista de las y los actores, y aproximaciones metodolgicas y tericas. La meta no es describir cerradamente un panorama o brindar una interpretacin consistente de fenmenos complejos y en movimiento si no brindar puntos de partida para el debate. Quisiramos enmarcar la exposicin en trminos de dos paradojas centrales. Una tiene que ver con la problemtica de como traducir el campo ertico, marcado por cierta fluidez en el deseo, las identidades, y las prcticas, o bien una nocin de justicia ertica a polticas pblicas institucionalizadas. La otra, con las contradicciones del momento histrico en cual los movimientos por derechos sexuales se han consolidado en la regin, entrecruzados al mismo tiempo por procesos de democratizacin poltica y de reestructuracin econmica neoliberal. Empecemos con las polticas. Las coordenadas de la poltica institucional y su traduccin en polticas pblicas pueden resumirse en torno a la vieja pregunta: quin obtiene qu, cundo y cmo? Las polticas pblicas definen en este sentido la distribucin (y procedimientos de distribucin) de bienes y prerrogativas, lo cual
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CONICET Universidad de Buenos Aires; Grupo de Estudios sobre Sexualidades (GES) Instituto Gino Germani. Universidad de la Ciudad de Nueva York/Facultad de Staten Island (CUNY/CSI).

implica en los hechos la inclusin o exclusin de determinadas categoras de personas dentro de la comunidad poltica. En otras palabras, las polticas pblicas contribuyen a la definicin y contenidos de la ciudadana (Lefort 1986; Jeln 1996), de los asuntos y sujetos considerados como susceptibles o dignos de la accin del estado y la deliberacin pblica. Una poltica pblica es una accin llevada a cabo por el gobierno o el Estado, por una autoridad pblica, sola o en colaboracin, y a distintos niveles. En su sentido estricto, el modelo de poltica pblica ms administrativo y limitado al Estado ha estallado: los mbitos de accin son cada vez ms globales y ms locales, al tiempo que proliferan los actores y espacios polticos por fuera del Estado y el territorio nacional. Las polticas pblicas hoy son medidas que comnmente envuelven una red de actores articulndose entorno a la gobernamentalidad ms que programas aislados y limitados al mbito estatal (Foucault 2004; Lascoumes y Le Gals 2007:6). Toda poltica contribuye as a la reproduccin o transformacin de un orden social y poltico, la regulacin de tensiones, la integracin de grupos sociales y la resolucin de conflictos. Una poltica es conducida con el fin de resolver en trminos prcticos y simblicos una cuestin (issue) o situacin considerada como socialmente problemtica. Desde esta ptica las polticas pblicas pueden ser vistas como un conjunto de posiciones polticas sucesivas del Estado sobre controversias o cuestiones sociales (Oszlak y ODonnell 1976; Oszlak 1982). La ausencia de polticas, es decir, el no actuar, tambin es una manera de tomar partido. Las polticas pblicas son, junto con el uso de la fuerza fsica, manifestaciones de los aspectos instrumentales de lo poltico, pero tambin tienen dimensiones expresivas y comunicativas, una dimensin no menor de lo poltico en contextos populistas tan tpicos de las culturas y regmenes polticos en Amrica Latina. Las polticas como mensajes a la sociedad siguen una lgica expresiva, propias a su vez de las polticas identitarias. No es sorprendente pues que las polticas expresivas sean una de las formas ms extendidas de las polticas sexuales (Pecheny 2009:2). Inversamente, cuando pensamos en polticas sobre campos de accin inherentemente instrumentales (empleo, impuestos, transporte, salud), las polticas pblicas puramente expresivas son consideradas como vacas de sentido cuando no implican intervenciones materiales, con metas medibles e impactos concretos en la poblacin. En resumen, la poltica pblica rene tres aspectos clave: a) es la palabra oficial, la opinin del Estado sobre una controversia social, al modo de un mensaje a la sociedad; b) es un conjunto de acciones, una provisin de servicios o intervenciones a travs de diversos instrumentos; c) tiene efectos y consecuencias que re-forman la sociedad.

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Una poltica organiza relaciones especficas entre el poder pblico y sus beneficiarios en funcin de sus representaciones y significados. Implica una concepcin de la relacin entre poltica y sociedad, y una concepcin de regulacin. Los instrumentos (instituciones sociales como los censos o los impuestos), tcnicas (procedimientos y recursos operacionalizados, como las nomenclaturas estadsticas, los tipos de normas) y las herramientas (micro-instrumentos, categoras estadsticas) son simplemente formas de la objetivacin y definicin de la realidad social, es decir, de reduccin de la realidad a categoras fijas y funcionales, coherentes con la lgica legal-racional y burocrtica tal como la describi Weber (Lascoumes y Le Gals 2004: 14-15).

Encontrar definiciones unvocas o coherentes de sexualidad es ms complicado. Weeks (1985), Vance (1991), Parker, Barbosa y Aggleton (2000), Parker et al. (2004) y Boyce et al. (2007), entre otros, mostraron las implicancias de varias definiciones, de acuerdo con diversas tradiciones culturales y tericas. Una definicin operativa que dio la Organizacin Mundial de Salud (WHO 2005), es la siguiente:
La sexualidad es un aspecto central del ser humano a lo largo de la vida y abarca al sexo, gnero, identidades y roles, orientacin sexual, erotismo, placer, intimidad y reproduccin. La sexualidad se experimenta y expresa en pensamientos, fantasas, deseos, creencias, actitudes, valores, comportamientos, prcticas, roles y relaciones. Mientras que la sexualidad puede incluir todas estas dimensiones, no todas ellas se experimentan o expresan. La sexualidad se ve influida por la interaccin de factores biolgicos, psicolgicos, sociales, econmicos, polticos, culturales, ticos, legales, histricos, religiosos y espirituales.

Rosalind Petchesky (2007) nos alerta sobre extendidas concepciones errneas sobre la sexualidad, que tienen implicancias directas para el anlisis poltico sobre derechos sexuales:
En primer lugar, la sexualidad no es reducible a una parte del cuerpo o a un impulso; debe ser entendida como parte integral de una matriz de fuerzas sociales, econmicas, culturales y relacionales; es construida ms que concedida. Esta propuesta [] oculta la dualidad convencional sexo-gnero, que ha sido el sostn de los estudios sobre la mujer y la literatura sobre sexologa durante dcadas, esto es, la presuncin de que podemos distinguir claramente entre sexo, entendido como un impulso o sustrato biolgico fijo (ya sea gentico, hormonal, anatmico, o psquico) y gnero, entendido como los significados conductuales y sociales y las relaciones de poder adscritos al sexo (13). Una segunda propuesta terica tiene que ver con la independencia, y a la vez interdependencia, entre la sexualidad, el sexo y el gnero. [] Esto significa que la
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conducta sexual (lo que la gente hace) es diferente tanto de la orientacin o deseo sexual (eleccin del objeto o fantasa) como de la identidad sexual (que puede o no coincidir con la conducta o el deseo). Todas ellas son diferentes de la conducta de gnero, la orientacin de gnero y la identidad de gnero (subjetividad). (13-14)

Cruzar polticas, polticas pblicas y sexualidades no es una tarea sencilla. En lo que sigue, planteamos algunas tendencias y reflexiones sobre este cruce para Amrica Latina. Una primera comprobacin, que habra sorprendido a cualquier activista o analista unas tres dcadas atrs, es la adopcin como lingua franca del discurso de los derechos. Lenguaje de matriz liberal que sin embargo ha llegado a ser bastante hegemnico en boca de individuos, grupos y movimientos inesperados, ms all de los varones occidentales blancos burgueses propietarios originarios. De ah que hoy podamos hablar con cierta justicia y justeza de sujetos (de derechos) sexuales. Esto no se da en el contexto de armona natural que supone una visin ideolgicamente (falsamente) neutral de la conflictividad poltica y social, incluyendo la conflictividad ligada a los rdenes jerrquicos, desiguales y a veces violentos que estructuran las relaciones generizadas y sexuales en Amrica Latina. Por el contrario, el lenguaje de derechos (y otros lenguajes) dan cuenta del largo proceso histrico, en curso y lejos de haber terminado, a travs del cual una diversidad de actores se fueron conformando social y polticamente en pos de ciudadanizar y redefinir relaciones de gnero y sexuales. As, la desigualdad heredada de la colonia que institucionaliza y naturaliza las jerarquas de gnero entre varones y mujeres ha sido objeto de un largo siglo de luchas por instaurar patrones de igualdad de derechos, estatus y poder entre varones y mujeres, luchas que vieron entrar en escena nuevas cuestiones y sujetos impugnando incluso las propias nociones binarias que han estructurado por largo tiempo estos conflictos y las identidades que los soportan: varones, mujeres, heterosexuales, homosexuales, y una larga lista de etcteras.
I. Panorama general de las polticas sobre sexualidades en Amrica Latina: El presente con mirada histrica

En el siglo XIX, la herencia colonial perpetu un orden jerrquico de gnero en el cual los varones, respecto de las mujeres, disfrutaban de un privilegio econmico, poltico y sexual legalmente protegido, socialmente reconocido, y apoyado en instituciones como la Iglesia catlica o la incipiente corporacin mdica. Hasta la sancin de los Cdigos Civiles a lo largo del siglo XIX, las normas heredadas del perodo colonial sentaban los lineamientos de la vida de las mu34
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jeres y los varones. Estas normas fueron influenciadas por el derecho espaol y portugus de la poca, fundamentado en los principios cannicos que reconocan la competencia de los tribunales eclesisticos. Las mujeres no podan actuar en el mundo pblico y los derechos en materia de propiedad, herencia y matrimonio eran extremadamente limitados. El Derecho Penal juzgaba de modo diferente a ambos sexos, especialmente en los delitos contra la honestidad. La independencia no modific la subordinacin jurdica de las mujeres. Las constituciones liberales a mediados del siglo XIX impulsaron las reformas de la legislacin basada en el derecho cannico, y el derecho se fue secularizando a travs de leyes como las del matrimonio civil. Este nuevo corpus convalid jurdicamente el modelo de relaciones familiares del Cdigo Cannico, al consagrar el matrimonio religioso, monogmico e indisoluble, y al reafirmar el carcter patriarcal de la familia definida por una fuerte autoridad del varn en sus dos manifestaciones: hacia la esposa (autoridad marital) y con respecto a los hijos (patria potestad). Los nuevos cdigos establecan una relacin conyugal asimtrica que legalizaba el radio de accin que las costumbres asignaban a las mujeres y a los varones. La constitucin de los Estados nacionales liberales implic confluyentes procesos de estatidad. Analticamente, la estatidad supone la adquisicin por parte de esta entidad en formacin, de una serie de propiedades: 1) capacidad de externalizar su poder, obteniendo reconocimiento como unidad soberana dentro de un sistema de relaciones interestatales; 2) capacidad de institucionalizar su autoridad, imponiendo una estructura de relaciones de poder que garantice su monopolio sobre los medios organizados de coercin; 3) capacidad de diferenciar su control, a travs de la creacin de un conjunto funcionalmente diferenciado de instituciones pblicas con reconocida legitimidad para extraer establemente recursos de la sociedad civil, con cierto grado de profesionalizacin de sus funcionarios y cierta medida de control centralizado sobre sus variadas actividades; y 4) capacidad de internalizar una identidad colectiva, mediante la emisin de smbolos que refuerzan sentimientos de pertenencia y solidaridad social y permiten, en consecuencia, el control ideolgico como mecanismo de dominacin (Oszlak 2009:16-17). En cada uno de estos procesos, y de un modo tan ideolgico que ha sido histricamente invisible para los propios actores y analistas, el modelo heteronormativo se fue consolidando ya no por un orden poltico-religioso en camino a su secularizacin, sino por los propios estados laico-liberales de la segunda mitad del siglo XIX y principios del siglo XX. Durante todo el siglo XIX y bien entrado el siglo XX, existieron numerosas restricciones legales a la capacidad civil de las mujeres y sus posibilidades de actuar y decidir en los mbitos domstico, econmico y profesional. Esa articulacin jerrquica de los sexos, y tambin de las generaciones, cristalizaba un orden familiar en el cual la mujer estaba subordinada al varn como los hijos a los padres. DisSexualidades y polticas en Amrica Latina Mario Pecheny e Rafael De la Dehesa

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tingua entre la capacidad legal de derecho y de hecho para las mujeres casadas y las solteras, y entre las solteras menores de edad y las mayores o adultas. La mujer casada estaba legalmente subordinada a su marido, quien por ejemplo ejerca su representacin necesaria, tena el derecho de fijar el domicilio comn, administrar los bienes conyugales, y autorizar o no el ejercicio profesional de su mujer. Por el contrario, sin tutela marital, la mujer soltera mayor de edad tena plena capacidad de hecho, pero numerosas incapacidades de derecho: no poda actuar como testigo en un instrumento pblico, no poda otorgar fianzas ni avales, etc. La viuda ejerca la patria potestad sobre sus hijos mientras no volviera a casarse. En este marco de parcial secularizacin patriarcal se entienden los rdenes sociales y normativos que subordinan las mujeres (especialmente las casadas) a los varones, regulan la prostitucin femenina en un contexto de migraciones europeas predominantemente masculinas y en un contexto de higienismo racializado, establecen las polticas (o simplemente discursos ideolgicos) en materia de una demografa pronatalista en la que gobernar es poblar (poblar de europeos desplazando al indio incluso mediante el intento de aniquilacin, como en el Cono Sur; casi un siglo antes de la inversin del signo hacia el control poblacional, diferencial), y las variadas degeneraciones que caracterizaron los saberes expertos y populares, materializados a su vez en una profusin de leyes, reglamentaciones y discursos. El orden colonial y luego oligrquico, inherentemente excluyente y jerrquico, basado en la explotacin social atravesada tnicamente, tambin se estructuraba en un orden de gnero y regulador de las sexualidades (segn clase y etnia, de modo diferencial) que ha sido menos estudiado por las ciencias sociales y menos cuestionado polticamente que las exclusiones y opresiones socio-econmicas. Los avances que llevaron a la inclusin de las clases medias y los sectores populares, con las primeras experiencias populistas de fines del siglo XIX hasta bien pasada la mitad del siglo XX, cuestionaron los modelos econmicos de enclave y/o agro-exportadores. Estos procesos histricos, ligados a modelos de industrializacin sustitutivos de importaciones, abrieron el camino para el voto universal (al cual llegaron, ltimas, las mujeres) pero no cuestionaron la matriz heterosexual jerrquica que privilegiaba a los varones en el orden socio-sexual y exclua a una diversidad de sujetos y prcticas que escapan al binarismo heterosexual hasta de la posibilidad de pensarse como parte de un orden desigual. Las experiencias polticas democratizantes, bajo las variantes nacional-populares, populistas, de izquierda, ms o menos revolucionarias, implicaron redefiniciones de los modos autoritarios e incluso violentos que sealaban las distancias de clase (distancias, no est de ms repetir, racializadas bajo patrones tnicos, lingsticos, migratorios). Procesos de redistribucin econmica, acompaados (ms o menos simultneamente) de extensiones del espacio pblico-poltico, fueron complementados con avances del estatus poltico y social de las mujeres, quienes con36
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quistaron el voto prcticamente en toda la regin en la primera mitad del siglo XX. Cabe recordar que los procesos que llevaron al sufragio femenino adulto no estuvieron libres de contradicciones. En algunos pases, fueron los progresistas de principios del siglo XX quienes se opusieron a l, argumentando que las mujeres podran ser influenciadas por sus confesores y/o invocando argumentos republicanos vigentes para esos aos, por ejemplo, en Francia, que consideraban que el sufragio femenino reintroducira la voluntad particular en la proclamada voluntad general rousseauniana, percibida no como masculina sino como universal. En tiempos de conquistas de derechos sociales, numerosas normativas permitieron la equiparacin relativa de mujeres y varones aunque quiz en todos los casos esto haya sido desde una condescendiente visin que dejaba intacta la distincin entre roles naturales previstos para cada sexo, distincin que supone un sexo dbil, asociado a la maternidad, que el Estado puede en el mejor de los rdenes, proteger. Los avances sociales y los procesos modernizadores (segn modelos de clases medias) desembocaron en dcadas sangrientas en varios pases, donde regmenes autoritarios y dictaduras militares intentaron restaurar las distancias jerrquicas de clase, gnero, etnia, y generacin que estaban siendo cuestionadas por muchos sectores sociales. Las violentas dictaduras dieron lugar a las llamadas transiciones democrticas de los aos 1980. Las luchas contra las dictaduras, tanto internas como desde los exilios, trajeron consigo una revalorizacin del Estado de Derecho, del lenguaje de los derechos humanos, de la democracia y poltica formales, y de la noviolencia. Estos procesos coincidieron con la constitucin de una agenda trasnacional sobre la violencia contra la mujer y de equidad de gnero. Es as que en los aos 1980 y 1990, la transicin a regmenes democrticos y su consolidacin (aun en contextos neoliberales y de reforma del estado) dieron lugar a rpidos (aunque en algunos casos como Chile, muy conflictivos o limitados) procesos de reforma del derecho civil, de pareja y familiar: igualdad de hijos matrimoniales y extra-matrimoniales y reformas de las leyes de matrimonio, patria potestad, y adulterio. El divorcio constituye en pases como Argentina y Chile (donde solo se reconoce legalmente en 2004) un tema de modernizacin y democracia. Aparecen tambin como cuestiones polticas la violencia familiar, domstica y conyugal, el acoso sexual, y las edades de consentimiento. Todas estas y muchas otras cuestiones redefinen las relaciones en el marco de las heterosexualidades, en la direccin (inconclusa pero clara) de la equiparacin civil entre mujeres y varones. (Ver los panoramas organizados por Vianna y Lacerda 2004, en Brasil; Petracci y Pecheny 2007, en Argentina; Dides et al. 2008, en Chile; Dador et al., en prensa, en Per). En estos procesos un actor clave ha sido y es la Iglesia catlica. Sistemticamente se ha opuesto a cualquier modificacin del orden jerrquico y fuertemente
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estructurado que asocia gneros a binarismo natural, y sexo a familia y reproduccin. La Iglesia es el actor que lidera intelectualmente y organizativamente la resistencia a cualquier cambio. De ah que numerosos autores consideren el campo de lo sexual y del gnero como el terreno privilegiado en que pasa hoy el proceso (inconcluso, y no tan claro) de separacin entre el estado laico y la religin. La equidad de gnero (que involucra una diversidad irreducible de aspectos) y la redefinicin de las heterosexualidades no agotan la dinmica poltica sobre sexualidad de las transiciones. Si las mujeres son probablemente la novedad poltica de los 1980 y los 1990 en la regin liderando las organizaciones de derechos humanos y de resistencia en un principio; luego con demandas feministas y especficamente polticas como las cuotas de sexo en la representacin poltica los aos 1990 y 2000 se abren a nuevos actores y cuestiones. Los viejos movimientos de liberacin homosexual reaparecen renovados y diversificados como movimientos gays y lsbicos y subsecuentemente LGBT en un contexto definido, centralmente, por la epidemia del VIH/sida. Paralelamente, y abierto el proceso poltico de reconocimiento de la salud y los derechos reproductivos, los movimientos feministas y de mujeres van consolidando una posicin comn en materia de aborto. Ambas cuestiones (diversidad sexual y aborto) ponen en el centro la lucha la disociacin entre (hetero)sexualidad y reproduccin. No obstante esta confluencia y el hecho de compartir enemigos (la Iglesia, los sectores conservadores, los sectores progresistas y de izquierda que consideran estas inquietudes como secundarias), los movimientos de mujeres y de gays/lesbianas han tenido y tienen dificultades en integrar agendas y luchas. Los clivajes y alianzas se hacen ms complejos al entrar al centro de la escena nuevos sujetos y nuevas cuestiones. En muchos pases de la regin, ha sido crucial la aparicin de los movimientos de travestis y transexuales o trans. El cuestionamiento a la heteronormatividad tambin se hace desde otros lugares. La interseccionalidad de varios ejes de opresin (gnero, sexualidad, clase, raza, etnia, educacin, estilos de vida, y trabajo, incluyendo el trabajo sexual) se hace evidente e imposible de soslayar. Finalmente, el estatus legal y social de la prostitucin o el trabajo sexual (y la propia definicin del problema) muestra hasta qu punto cualquier anlisis y posicionamiento en polticas sexuales es contextual y hasta qu punto los derechos sexuales oscilan entre planteos victimistas y planteos polticos, ambos atendibles y entendibles. Las ligazones (ms o menos honestamente planteadas) entre prostitucin, trabajo sexual y trfico de personas, implicando estructuras ms amplias de sexualidad, patriarcado, violencia y capitalismo, han entrado en la agenda de movimientos sociales que estn pugnando por dar un marco polticamente inteligible a sus luchas. Si bien en algunos asuntos o algunos contextos, la complejidad de aristas polticas aparece ms clara relaciones sociales desiguales, heteronormatividad, violencia, interseccionalidad, ambivalencia en la construccin de identidades, con38
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fluencias posibles o clivajes excluyentes podemos decir que en todos subyace una complejidad que la organizacin de las demandas en issues decidibles o legislables y en polticas pblicas intenta reducir con fines de objetivacin poltica y procesamiento institucional (Cabal et al. 2001; Pecheny 2003; Amuchstegui y Rivas 2004; Vianna y Lacerda 2004; Amuchstegui y Aggleton 2007; Petracci y Pecheny 2007; Dides et al. 2008). Esto que puede parecer (apenas) una crtica en realidad solo describe una consecuencia de las transformaciones en los modos de hacer poltica adoptados por diversos actores sociales contestatarios. En la medida en que estos actores han pasado de una relacin de exterioridad al estado y la poltica (autoritarios) a formas diversas de vinculacin con los mismos, muchos han reconocido tambin el valor de traducir sus reclamos en legislaciones y polticas pblicas (aun con limitaciones y ambigedades, como veremos). Han luchado no slo por la inclusin de sus demandas en las agendas de deliberacin pblica y de toma decisiones sino por el derecho de participar en la conformacin de los procesos poltico-formales donde tales agendas se articulan, a nivel tanto nacional como internacional. El contexto de la ltima ola de democratizacin poltica en Amrica Latina, en trminos econmicos, ha sido el de la crisis de las deudas externas, la hegemona neoliberal del ajuste y la reforma del estado. Una pregunta a discutir es hasta qu punto y cmo este contexto de despolitizacin y reflujo de los actores reformistas y revolucionarios, de las clases ms desfavorecidas, explotadas y excluidas, determin las condiciones de reforma y lucha poltica en torno a los derechos sexuales. Por ejemplo, hasta qu punto y cmo las polticas sociales focalizadas preconizadas por el Banco Mundial y otros organismos durante los aos 1990 repercutieron en el activismo feminista, de la salud reproductiva, LGBT y en VIH/sida: instaurando o reforzando lgicas, visibilizando o invisibilizando, dando lugar a un ambiguo proceso de ciudadanizacin y reconocimiento basado en supuestos de precariedad, victimizacin y vulnerabilidad, no incompatibles con otros procesos tambin ambiguos de ciudadanizacin a travs de los mercados de consumo incluyendo consumo de estilos de vida? Particularmente en la ltima dcada, reemergieron en toda la regin movimientos sociales de base territorial, populares, fuertemente movilizados en sus demandas socioeconmicas e identitarias que, en muchos casos, desde Mxico (Chiapas) hasta Argentina (Gran Buenos Aires) han integrado cuestiones de gnero y sexualidad. Si bien sus interpelaciones no son estrictamente de clase sino segn discursos populares ligados a la pobreza, la marginalidad, el acceso al trabajo o la tierra, podemos decir que estos movimientos recuperan la dimensin productiva y territorial de la movilizacin social. De ah el inters que nos despiertan estos modos articulados entre movilizacin ligada a la exclusin que analticamente consideramos de clase con estas otras dimensiones histrico-culturales que en ciertos casos emblemticos incluyen al gnero y la sexualidad.
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Los actores: movimientos sociales

En temas de gnero y sexualidad, las primeras a entrar en la escena poltica fueron las mujeres, en diversas olas de movilizacin y reivindicacin de reclamos a los derechos de las mujeres (polticos, laborales, familiares). Los movimientos sufragistas, anarquistas, socialistas y feministas desde principios del siglo XX han sido voces no siempre masivas, pero constantes tanto en el plano poltico como intelectual. Si las mujeres fueron protagonistas de las luchas durante y contra las dictaduras desde las organizaciones de familiares y de derechos humanos, hasta las organizaciones barriales populares de subsistencia econmica en los recurrentes perodos de crisis, como las ollas populares y comedores comunitarios , en democracia se fueron desarrollando movimientos de mujeres tanto de clases medias como de clases populares. En el ltimo cuarto de siglo, los movimientos de mujeres y feministas (ms fcil de distinguir analticamente que empricamente) fueron diversificndose en su composicin, reclamos e identidades. Los estudios sobre movimientos sociales de mujeres y feministas, las teoras feministas latinoamericanas, las respuestas ms o menos dinmicas a los desafos polticos y tericos, dan cuenta de un saludable estallido poltico e intelectual en un perodo que en otros aspectos es calificable de reflujo y reprivatizacin. A nuestro criterio, la proliferacin sostenida de encuentros de mujeres y de encuentros feministas, a nivel local, nacional, y regional, ya sea contemplando universalmente al colectivo mujeres o bien segmentando por lneas de identidad e intereses (mujeres lesbianas etc.), constituye un interesantsimo fenmeno social y poltico al que se le ha prestado creciente anlisis desde las ciencias sociales (Alvarez et al. 2002). Siguiendo la terminologa propuesta por Nancy Fraser, estos espacios pblicos subalternos, ms focalizados en la deliberacin y acumulacin de fuerzas simblicas y organizacionales, que en la toma de decisiones, han sido cruciales para la transversalizacin de las luchas femeninas en otros mbitos. Esto ha permitido la articulacin intersectorial e interpartidaria en torno a diversas cuestiones, como las cuotas de representacin (adoptadas como ley en diversos pases como Argentina desde los aos 1990) hasta la oposicin al endurecimiento de las leyes de aborto. Y tambin ha permitido no sin dificultades la visibilizacin primero interna y luego hacia fuera de las diferencias al interior del colectivo de mujeres. La agenda de la salud reproductiva desplaz a la de las polticas demogrficas, poniendo el acento en las mujeres en tanto poseedoras de una subjetividad y un cuerpo inalienables an en un plano que permanece objetivado, como es el de la salud, y que permanece vinculado a la vulnerabilidad y victimizacin ante las vicisitudes de la naturaleza (reproduccin, gestacin, enfermedades) como de los varones (violencia). La salud reproductiva ha sido y es un lenguaje que en tiempos de despolitizacin mantiene un cariz universalista que ha permitido avances en
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trminos de derechos y la inclusin en la agenda poltica y de polticas pblicas de cuestiones de gnero y sexualidad. De ah la adopcin entusiasta de los (recientemente inventados) derechos reproductivos, los cuales fueron progresivamente incluidos en Conferencias, documentos internacionales y regionales, e instrumentos normativos al nivel de cada pas. Los movimientos homosexuales de los aos 1960 y 1970, marginados por la derecha y desdeados por las izquierdas, reaparecen en las transiciones usando el recuperado lenguaje de los derechos humanos. Si las consignas transgresoras en nombre de la liberacin sexual (que se sumara a la liberacin nacional y social) dan lugar a un reformismo poltico-legal, aun para los ms optimistas activistas y observadores la situacin actual no deja de ser auspiciosa: las identidades, organizaciones, reivindicaciones y planteos polticos de individuos y grupos que no se ajustan al binarismo heterosexual (lesbianas, gays, bisexuales, travestis y trans, intersex) han adquirido un derecho de ciudadana, en trminos de deliberacin pblica, legislacin y polticas pblicas. Hace muy pocos aos era impensable la extensin del acceso al matrimonio a parejas del mismo sexo y hoy la unin civil ya parece una medida tmida. No nos vamos a extender aqu (Pecheny 2003), pero simplemente sealemos que la epidemia de VIH/sida que afect en sus inicios y sigue hacindolo de manera particularmente fuerte a varones gays y otros hombres que tienen sexo con hombres, y a travestis, en la regin, dio lugar a respuestas sociales sin precedentes que enfrentaron la sinergia de estigmas (Parker y Aggleton 2003) de un modo virtuoso: promoviendo el respeto de derechos, el acceso a la salud sobre todo a los tratamientos anti-retrovirales y la organizacin de los implicados en movimientos y agrupaciones que politizaron no slo la seropositividad (Terto 2000) sino la orientacin sexual atravesada por la extrema diversidad de experiencias sociales de la sexualidad y los relacionamientos personales. Dada la pregnancia del VIH/sida, en parte por el flujo de dinero y visibilidad que otorg a los individuos, grupos y problemticas gays, los primeros aos 1990 dejaron a las organizaciones de lesbianas en un relativo segundo plano. La epidemia de VIH/sida no es el nico ni principal factor de esta invisibilidad relativa (hay matrices culturales e histricas, ligadas a la divisin entre pblico y privado, oficial y oficioso, etc.); pero lo cierto es que los movimientos lsbicos a caballo entre los movimientos de mujeres / feministas y movimientos LGBT recin estn tomando hoy un protagonismo que las organizaciones de gays (o hegemonizadas por gays) han tenido desde fines de los 1980. Dicho esto, probablemente la mayor transformacin del campo de las (antes) llamadas minoras sexuales (Petchesky 2008) en la regin sea la aparicin rpida y decidida de las organizaciones trans. Tambin favorecidas (en toda su ambigedad) por las respuestas a la epidemia de VIH/sida, en toda la regin las lderes travestis tomaron la palabra y mostraron una realidad del orden sociosexual que las ubica en un lugar de marginalidad, explotacin y violencia.
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Paralelamente, la academia extrauniversitaria primero, y universitaria formal despus, fue incluyendo a los estudios de mujeres, gnero, feministas y de sexualidades, estudios gay-lsbicos, y las perspectivas queer como campos de investigacin y reflexin terica y metodolgica. Aqu aparece una complejidad suplementaria: ya no la doble militancia en el mbito partidario y del movimiento social, sino la doble afiliacin en tanto activistas (miembros de organizaciones, movimientos, etc.) y en tanto intelectuales o profesionales. Una de las deudas pendientes es la inclusin, no slo de las temticas, sino de los propios sujetos trans en la educacin superior en un movimiento que revierta la histrica y activa exclusin de las y los trans de los espacios sociales propios de la educacin formal. Notables excepciones hay en la regin lderes no slo en Amrica Latina sino a nivel global como Mauro Cabral o Lohana Berkins han planteado desafos polticos e intelectuales con una inteligencia que a la inercia institucional y disciplinar le cuesta procesar, aun dentro del propio campo. En toda la regin, adems, se ha formado un movimiento amplio (no gubernamental, comunitario, profesional, acadmico, gubernamental) de respuesta al VIH/sida. En pocas palabras, este campo ha sido fuertemente sexual en sus inicios (tanto en lo que se refiere a estigma, negacin y discriminacin, como a las identidades y organizaciones desde las cuales se respondi a los primeros estragos de la epidemia), la adopcin del lema el sida nos afecta a todos, la (no siempre corroborada epidemiolgicamente) heterosexualizacin y pauperizacin de la poblacin infectada, y la creciente e inacabada medicalizacin de la respuesta, conllevan una des-sexualizacin de la epidemia en la que estamos que va de la mano de un proceso de despolitizacin. Como en el caso de los derechos reproductivos, en coyunturas polticas determinadas un discurso (medicalizado) de salud ha contribuido a la inclusin del tema en agendas de polticas pblicas, si bien a veces ocultando sus dimensiones polticas; es decir, sus vnculos a estructuras de injusticia y desigualdad. Finalmente, un crecientemente organizado movimiento de trabajadoras/es sexuales, de mujeres y travestis en situacin de prostitucin, segn denominaciones que no son solo terminolgicas sino que refieren a cosmovisiones polticas a veces opuestas hasta en cmo diagnosticar la situacin y orientar las luchas. Lderes nacionales y regionales tambin bajo el impulso de la lucha contra el sida, pero tambin desde los movimientos por los derechos laborales y humanos en general se han fortalecido en la ltima dcada, instaurando quiz por primera vez en la historia de la regin un discurso en primera persona sobre trabajo sexual y prostitucin.
Los actores: partidos polticos y clase poltica

De nuevo, las transiciones democrticas de las ltimas dcadas han visto una aproximacin de participantes en estos movimientos a partidos polticos y a la arena
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electoral y parlamentaria. De hecho, muchos/as fundadores/as de estos movimientos en la regin surgieron de partidos de izquierda y grupos revolucionarios, reaccionando a las culturas polticas machistas que encontraron ah. Y si bien muchos/ as activistas han visto a la izquierda como un aliado natural, sus relaciones con ella no siempre han sido fciles. En base a preceptos ideolgicos privilegiando la lucha de clases, militantes marxistas comnmente descalificaban cuestiones de gnero y sexualidad como divisivas, burguesas o secundarias. Muchos activistas, a su vez, sospechaban de la izquierda no solo por este rechazo a sus demandas si no por el temor a su instrumentalizacin para fines partidarios. Varios factores fomentaron cambios en el pensamiento marxista clasista latinoamericano sobre la sexualidad. Entre otros, los esfuerzos de activistas, especialmente dobles militantes, y la influencia de contraculturas juveniles en los aos 1960 y 1970 crearon un nuevo discurso de izquierda que politizaba el cuerpo, la sexualidad, la familia, y la vida cotidiana. Estas transformaciones tambin reflejaban cambios en corrientes marxistas a nivel internacional, consolidando alternativas en poltica sexual dentro del marco de globalizaciones disidentes. El pensamiento de Gramsci y el Eurocomunismo, por ejemplo, promovieron un reconocimiento de la cultura como un campo de batalla central con una multiplicidad de sujetos histricos y una revalorizacin estratgica de la poltica electoral como va de transformacin social (Stoltz Chinchilla 1992; De la Dehesa 2007). El giro parlamentario de la izquierda, al comps de procesos de democratizacin, ha tenido efectos contradictorios. Si, por una parte, desplaz el lugar privilegiado del proletariado como sujeto histrico y promovi una ampliacin de la base de la izquierda para abarcar toda la sociedad civil, en muchos casos, su compromiso con la base (sea como se defina) ha sido sujeto a clculos poltico-partidarios y a la percepcin que los derechos sexuales implican un alto costo electoral. Y si bien algunos partidos han creado secretaras o comisiones de la mujer, movimientos sociales, o diversidad sexual para consolidar articulaciones con la base, en la prctica, estas oficinas muchas veces juegan un papel coyuntural, en poca de elecciones, y pueden paradjicamente encapsular debates en burocracias especializadas. Ms all de la izquierda, se puede afirmar que la gran mayora de los partidos en la regin no ha abarcado seriamente los derechos sexuales, aunque sus ejecutivos o grupos parlamentares en algunos casos han apoyado demandas especficas. Tal apoyo puede responder a simpatas personales o, de nuevo, a clculos poltico-partidarios, en la medida en que los derechos sexuales pueden venderse al electorado en un marco de los derechos humanos o incluso como marcador simblico de un partido moderno. Un caso aparte pero emblemtico lo constituye el derecho al aborto. Los partidos polticos populistas incluso, por dcadas, los partidos de izquierda no toman el tema o bien, cuando se presenta la posibilidad porque el aborto accede a
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la agenda pblica, posponen el tema con el argumento de que no es el momento oportuno para un debate serio y maduro y el asunto queda sin discutirse. Mientras tanto, cientos de miles de abortos se realizan en Amrica Latina, adems de los centenares de muertes de mujeres por complicaciones de abortos clandestinos (Pecheny 2006). Las propias lgicas de los sistemas de partidos contribuyen a cercenar el debate sobre aborto, cuando la competencia interpartidaria sigue una dinmica centrpeta segn la cual los partidos moderan su discurso y evitan cualquier tema susceptible de alejar una porcin decisiva del electorado. De acuerdo con la percepcin predominante en las clases polticas que evitan enfrentar el veto de la Iglesia catlica, el aborto polariza opiniones y promueve una dinmica centrfuga. En consecuencia, la nica posicin polticamente defendible es el estatus quo. Los partidarios de conservar la ilegalidad del aborto (y algunos oportunistas) no dudan en levantar el estandarte de la lucha por el derecho a la vida desde la concepcin, mientras que aquellos que son favorables a la despenalizacin, no se atreven a reivindicarla pblicamente por temor al alejamiento del electorado, a la separacin de los pares dirigentes de su propio partido o al anatema de la Iglesia Catlica. Como resultado, los actores polticos terminan siendo sustituidos por los voceros catlicos y el movimiento de mujeres con el aporte espordico de los profesionales de la salud. Por ltimo, hay casos en que se mezcla moral privada y construccin poltica colectiva, privilegiando a la primera incluso de manera escandalosa, como cuando el presidente de izquierda uruguayo, Tabar Vzquez vet una ley sobre aborto aprobada por el congreso. En siguiente seccin, relacionamos estas historias a teoras ms amplias de modernizacin y desarrollo, para ofrecer algunas perspectivas crticas de las limitaciones y desafos que enfrentan los militantes de movimientos sociales en este mbito dinmico. Posteriormente retomamos algunas de las cuestiones aqu planteadas al considerar la coyuntura poltica actual en la regin. II. La modernizacin y sus crticas Una literatura significativa en las ciencias sociales ha apuntado a la coexistencia de mltiples sistemas que organizan expresiones de gnero y sexualidad en las sociedades latinoamericanas, resaltando diferencias que atraviesan lneas regionales, raciales, tnicas, y de clase. Estos estudios han prestado atencin particular a los vnculos estructurales entre una variedad de prcticas polticas y simblicas sexuales asociadas con un proyecto trasnacional de modernidad englobando cuestiones de secularizacin, democracia y desarrollo econmico con estos campos mucho ms heterogneos (Carrier 1995; Prieur 1998; Ponce Jimnez, Lpez Castro, and
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Rodriguez Ruiz 1999, 2004; Miano and Giglia 2001; Miano Borruso 2003; Nuez Noriega 1999; Crdova Plaza 1993; Carrillo 1999, 2002; List Reyes 2004, 2005; Parker 1986, 1995, 1999; Perlongher 1987; Heilborn 1996; Matory 1997; Marcos 2003; Loyola 2000 Decena 2008; Lacombe 2006). As, por ejemplo, se puede afirmar que cierta ideologa modernizadora propia de las clases medias persiste en la regin, asociada directamente a los patrones ms flexibles de gnero y sexualidad. Sectores de las clases medias urbanas se han construido a s mismos como modernos y esto se refleja en consumos culturales que incluyen estilos de vida sexuales. Los efectos de demostracin citados en la literatura sobre modernizacin efectos que tienen que ver con patrones de consumo econmico de las clases medias de los pases centrales, adoptados por las clases medias de los pases perifricos se reflejan en tendencias de las clases medias latinoamericanas a reprocesar (copiar, adaptar, traducir) modos de ser, identidades (como la gay o la mujer liberada) y prcticas. Los efectos de demostracin, sin embargo, han sido cuestionados en el sentido de no corresponder con un desarrollo econmico o productivo acorde, de nuevo colocando cuestiones de acceso y desigualdad al centro del debate. Dado tales conexiones tericas y empricas, vale la pena considerar las implicaciones de los debates sobre modernizacin para la poltica sexual en la regin.
Modernidad, dependencia y sexualidades

Histricamente, los sectores de elite latinoamericanos han adoptado narrativas teleolgicas de progreso y modernizacin como justificaciones de sus proyectos poltico-econmicos, tanto liberatorios como represivos. Tales proyectos comparten una distincin binaria que inscribe de un lado todo aquello que es moderno, y del otro, calificado de tradicional (pre- o incluso anti-moderno), todo aquello que presumiblemente ha de ser superado al irse completando el proceso (lineal, evolutivo) de modernizacin. As, por ejemplo, los tericos de la modernizacin de posguerra atribuyeron las enormes desigualdades sociales y la inestabilidad de las democracias formales en la regin a los resabios de las relaciones econmicas precapitalistas como el latifundismo o a los vestigios de las culturas pre-modernas, y vieron al desarrollo sostenido dentro del sistema capitalista como la va hacia sociedades ms equitativas y democrticas. No sorprende pues que estas teoras llegaron a ser cuestionadas en sus supuestos tanto empricos como polticos. Empricamente, el colapso de la democracia y la emergencia de regmenes burocrtico-autoritarios precisamente en los pases ms desarrollados econmicamente de la regin en los 1960 y 1970 desminti las predicciones modernizadoras que ligaban el desarrollo poltico (es decir, hacia la democracia) y el desarrollo econmico. Polticamente, los sesgos profundaSexualidades y polticas en Amrica Latina Mario Pecheny e Rafael De la Dehesa

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mente ideolgicos y euro-cntricos segn los cuales todos los pases se encuentran en diferentes etapas del mismo sendero y Amrica Latina era simplemente no lo suficientemente moderna (o capitalista) comenzaron a ser impugnados. Sosteniendo que el modelo de desarrollo dependiente prevaleciente en la regin no representaba una anomala o un resabio del pasado sino parte constitutiva del sistema capitalista moderno, los economistas asociados con la Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe (CEPAL) y ms tarde los partidarios de la teora de la dependencia propusieron polticas que promovieron el desarrollo nacional autnomo, aun en el contexto del capitalismo global. Reubicando la divisin binaria entre tradicional y moderno entorno al eje de inclusin y exclusin, el paradigma dependentista puso el acento en las graves limitaciones de acceso al espacio pblico, a los derechos civiles y sociales, y a los mercados de consumo y de trabajo formal, as como en la importancia central de integrar a sectores socialmente excluidos. Muchas de estas cuestiones fueron sometidas a prueba por los procesos de democratizacin desde los aos 1980. Estas transformaciones capturaron la atencin de acadmicos y lites polticas, en parte por la incertidumbre econmica que los acompa, coincidente con los efectos devastadores de la crisis de la deuda y las crecientes restricciones de la economa global (Montecinos 2001). Intentando evaluar las perspectivas de las democracias emergentes en la regin, la primera literatura sobre transiciones y consolidacin (ODonnell y Schmitter 1986) subray la importancia de las reglas e instituciones polticas formales, fundamentalmente como medios de asegurar la estabilidad de acuerdos democrticos dbiles, particularmente contra las lites anti-democrticas y las propias fuerzas armadas. Presumiendo una distincin clara entre lites y masas e incluso una contradiccin entre estabilidad poltica y participacin de masas (lo que recuerda la tradicin modernizadora a la Huntington), la democracia fue generalmente identificada en sus parmetros institucionales ms estrechos como gobierno representativo liberal (elecciones peridicas, partidos de oposicin legales, derechos polticos y libertades civiles bsicas, estado de derecho, libertad de prensa) (Linz y Stepan 1996; Avritzer y Costa 2006; Avritzer 2002; Collier y Levitsky 1997; ODonnell y Schmitter 1986). A principios de los aos 1990, sin embargo, el optimismo inspirado por el fin de los autoritarismos dio lugar a desilusin ante la persistencia de desigualdades sociales, violaciones de derechos humanos, y corrupcin bajo nuevos gobiernos democrticos. En respuesta, numerosos acadmicos ampliaron su foco de los estrechos parmetros institucionales privilegiados en la literatura sobre transiciones a los contextos sociales en los que se desarrollan (ODonnell 1996, 1999; Alvarez, Dagnino, y Escobar 1997; Panizza 1995; Avritzer 2002; Avritzer y Costa 2006; Dagnino 1997; Dagnino et al. 1998). Un tema de preocupacin particular de esta literatura es la configuracin histrica de la divisin pblico/privado en la
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regin, extendiendo teoras de hibridez cultural a la prctica democrtica. Segn el socilogo poltico Leonardo Avritzer (2002: 73), la diferenciacin entre pblico y privado ha tomado una forma particular en Amrica Latina: Podra incluso decirse que fracas por completo. El resultado, concluye este autor, ha sido una esfera privada desproporcionadamente amplia y la posibilidad siempre abierta de extender las relaciones personales al mbito pblico. De una manera u otra, la incapacidad de instituciones supuestamente racionalizadas para subordinar los intereses particulares de las lites ha contribuido al clientelismo y las relaciones de favor que intervienen rutinariamente en las acciones estatales; a la impunidad sistemtica y experiencias muy dismiles del estado de derecho en el seno de una misma sociedad; y a la persistencia de un autoritarismo social que condiciona experiencias de ciudadana estratificadas. Ante este panorama, algunos han visto la proliferacin de movimientos sociales y la creciente centralidad de los derechos humanos en el discurso pblico como un marco fundamentalmente nuevo reestructurando las relaciones entre las sociedades civiles y polticas en la regin y sosteniendo la promesa que estos movimientos podran extender y profundizar los parmetros de ciudadana en modos que permitan interceder y desafiar las relaciones asimtricas de poder en la esfera privada. La importancia de estos debates para los defensores de los derechos sexuales es doble. Primero, las configuraciones histricas particulares de la divisin entre pblico y privado en la regin sin duda representan un aspecto constitutivo del espacio en que se han movido las y los activistas. Han dado forma no slo a los trminos negociados que han condicionado su entrada a la poltica democrtica formal sino tambin al impacto social ms amplio de sus logros formales. Segundo, construcciones particulares del gnero y la sexualidad articuladas con discursos sobre nacin, clase, etnicidad y raza han formado parte histricamente de los discursos teleolgicos asociados a los proyectos modernizadores. As, los partidarios de polticas eugensicas a principios del siglo XX que promovieron los certificados prenupciales con el fin de asegurar el desarrollo nacional y la salud racial; los militantes marxistas en los 1960 y 1970 que relegaron la homosexualidad en tanto desvo burgus a ser superado en el sendero revolucionario hacia el socialismo; y los actores polticos de hoy en da que presentan al reconocimiento legal de los derechos sexuales como marca simblica de un estado moderno: todos ellos de un modo u otro inscriben las sexualidades en torno a un binarismo de pasado y presente, tributarios de un telos universal. Nuestro punto aqu no es plantear una equivalencia tica entre dichos proyectos sino sealar cmo la gobernancia del deseo sigue siendo mapeada en ideologas ms amplias de desarrollo econmico y poltico en maneras que al menos levantan cuestiones sobre quienes tienen acceso a los productos y prcticas dichas modernas y sobre que se est construyendo como un pasado a ser superado. En este espiritu, cabe considerar algunas perspectivas
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crticas de los avances logrados en materia de derechos sexuales en Amrica Latina en el contexto de la modernidad tarda.
Algunas miradas crticas

Cuando las y los activistas y sus aliados entran a una arena institucional ya sea legislaturas, tribunales, medios masivos de comunicacin, etc. los trminos de esta entrada estn en gran medida predeterminados. Tericos explorando la interseccionalidad de las opresiones han impugnado la manera en que los trminos negociados de entrada a tales espacios instituyen categoras de identidad que privilegian las experiencias de algunos/as pocos/as (Collins 2002; Butler 1990, 1993, 2000; Moraga y Anzaldua 1983; Crenshaw 1991; Manalansan 2006; Guzmn 2006; Gmez 2008). En las interacciones cotidianas, los ejes de poder sexuales, racializados, clasistas y genricos se cruzan o intersectan en la produccin de subjetividades y lmites sociales. Cuando una travesti negra pobre enfrenta abusos policiales, son su raza, clase, gnero y sexualidad los que permiten esta forma de subjetivacin por el estado. En el discurso poltico y legal, sin embargo, la desagregacin de vectores porosos de poder en categoras identitarias discretas y rgidas oscurece sus complejas articulaciones entre cada una de ellas. Dado que las categoras de identidad que conforman la base de demandas polticas de un grupo se construyen de modo tal que desdibujan las diferencias a su interior, las agendas mnimas que definen sus intereses colectivos aquellas demandas en torno de las cuales todos presumiblemente acuerdan tienden a reflejar las posiciones de privilegio relativo en su interior. As, el acceso a las terapias hormonales se inscribe polticamente como una cuestin o issue trans pero ms difcilmente como una demanda del movimiento de trabajadoras sexuales; del mismo modo, cuestiones como la reforma agraria o de propiedad de la tierra, central en las luchas de las mujeres (y varones) indgenas rurales, terminan inscriptas por fuera de las agendas feministas hegemnicas (Deere y Len 2001; Sierra 2008; Prieto et al 2008). No es de extraar, tal como sealara la terica Kimberl Crenshaw (1991), esta tendencia de la poltica identitaria a oscurecer las diferencias dentro de los grupos puede tambin exacerbar las tensiones entre ellos, en tanto una lgica institucional dependiente de la reivindicacin de identidades construidas como mutuamente excluyentes inevitablemente implica la competencia por recursos y acceso poltico. En cierta medida, esta dinmica refleja una tendencia ms general de la poltica liberal democrtica a fragmentar la representacin al modo de la competencia de grupos de inters, tributaria de una lgica que presume la escasez de derechos, el juego suma cero. Mientras que en principio una perspectiva de anlisis interseccional podra proveer las bases a una poltica de alianzas o coaliciones en torno a agendas colectivas ms amplias, su traduccin en poltica pblica en gran parte respondiendo a los imperativos institucionales de las agencias financiadoras,
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legislaturas, burocracias estatales, y otras arenas formales corre el riesgo de mover en otra direccin, al segmentar an ms la representacin y representatividad de la sociedad civil. Desde el activismo, el tema de las desigualdades raciales y tnicas presentes tanto en movimientos sociales por derechos sexuales como en colectivos sociales ms amplios se ha planteado en varios encuentros nacionales e internacionales. En 1992, por ejemplo, ms de 300 representantes de 32 pases se reunieron en Santo Domingo para el Primer Encuentro de Mujeres Negras de Amrica Latina y el Caribe, organizado como una alternativa a la celebracin del quinto centenario de la Conquista. Entre otros puntos, las participantes resaltaron las maneras en que el racismo y el sexismo se articulan para limitar el acceso de mujeres Afro-descendientes a la educacin y el mercado laboral y desafiaron al movimiento feminista en la regin a incorporar el anlisis del racismo como eje poltico central3. Ms recientemente, en el II Encuentro de Lderes Indgenas y Lderes Feministas, organizado en Lima en 2008 por representantes del Enlace Continental de Mujeres Indgenas y la Campaa por una Convencin Interamericana de Derechos Sexuales y Derechos Reproductivos, tambin fueron discutidas varias tensiones entre los movimientos feministas e indgenas en la regin, como la importancia relativa que se da a los derechos individuales y colectivos en las respectivas agendas4. Investigadoras que trabajan desde una perspectiva basada en las teoras poscoloniales han reiterado algunos puntos planteados en estos dilogos (Sierra 2008; Prieto et al 2008; Hernndez Castillo 2007). Segn la antroploga Sylvia Marcos (2003:2), por ejemplo, las prioridades polticas y supuestos epistemolgicos del movimiento feminista actual, fuertemente influenciados por agendas internacionales, dejan afuera las prioridades definidas dentro del movimiento de mujeres indgenas: Estamos insertas en el discurso feminista internacional global y dominante y existe un cierto tipo de movimiento feminista en Mxico que es una derivacin del movimiento en el Norte. Sin tener que tachar necesariamente a los movimientos por derechos sexuales como enajenados o incluso colonizadores, las aproximaciones a la sexualidad desde perspectivas poscoloniales y de interseccionalidad sin duda llaman la atencin a la pluralidad de voces que existe dentro de ellos; a las dinmicas, particularmente tnicas, raciales y regionales, por los cuales algunas de estas voces se vuelven hegemnicas; y a la manera en que estas relaciones asimtricas pueden imponer agendas y estrategias que no toman en cuenta prioridades, procesos polticos y cdigos simblicos locales. En este sentido, cabe mencionar tambin la defensa que algunos
Irene Len, Contra la discriminacin y el racismo: I Encuentro de Mujeres Negras Latinoamericanas y del Caribe, 1 octubre, 2005, http://alainet.org/active/1001&lang=es.
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Memoria: II Dilogo entre lderes indgenas y lderes feministas, Lima, 4-6 de agosto, 2008.
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crticos han hecho del derecho al silencio contra la imposicin de una narrativa transnacional de salir del closet como el (nico) camino a la liberacin (Guzmn 2006; Lopes 2007; Santiago 2002; Decena 2008; Manalansan 2006; Cruz-Malav y Manalansan IV 2002). No solo reconociendo si no valorizando un campo mucho ms heterogneo de sexualidades disidentes en la regin, estos autores resaltan los lmites de las identidades y polticas LGBT y sugieren que tachar a estrategias alternativas como de closet o productos de una falsa conciencia puede inadvertidamente producir una nueva misin civilizadora, de nuevo inscribiendo identidades en teleologas de modernizacin. Quiz la principal contribucin crtica de estos anlisis tiene que ver ms con el proceso a travs del cual se llega a determinadas agendas polticas. Dada la propensin de las identidades polticas tanto a homogeneizar como a excluir, estas perspectivas subrayan la centralidad de los procesos deliberativos relativos a las dinmicas interseccionales en que se basan las polticas identitarias, los lmites que deben permanecer abiertos y sujetos a crtica. Tales perspectivas idealmente no slo nos daran lentes crticos atentos a las consecuencias no intencionales de las actuales polticas, sino en ltima instancia ayudaran a producir una perspectiva ms holstica y comprehensiva a las polticas pblicas, proyectando marcos que puedan dar cuenta articuladamente de ejes diversos de subordinacin. Todas estas crticas, de alguna manera u otra, cuestionan la construccin y los lmites de las identidades privilegiadas en la esfera pblica. Es importe, sin embargo, reconocer que algunos discursos incluso el de derechos sexuales ofrecen la posibilidad de crear coaliciones que trascienden los lmites de la poltica de identidad (Correa y Jolly 2007). En este sentido, podramos considerar tambin las posibilidades abiertas por el discurso de diversidad sexual, cuyo peso poltico en muchos pases ha incrementado significativamente en la ltima dcada. En parte, este peso refleja una valoracin emergente de la diversidad a nivel internacional, enmarcada en documentos como el Programa de Accin de la Conferencia de Durban (2001) y la Declaracin Universal de Diversidad Cultural (2001). En principio, el discurso podra servir como base de alianzas entre sectores sociales y descentralizar la heteronormatividad dominante. En la prctica, sin embargo, muchas veces se convierte en un cdigo para referirse a identidades LGBT (los diversos) y al mismo tiempo invisibilizarlas y corre el riesgo de despolitizar demandas al enmarcar la inequidad social como diferencia cultural. El crtico cultural George Ydice (2005) ha argumentado que la celebracin internacional de la diversidad en la modernidad tarda refleja un cambio epistmico, en trminos foucaultianos, caracterizado por una conciencia elevada de la arbitrariedad del signo y la performatividad de prcticas anteriormente adscritas a lo natural. Cabe resaltar que este cambio epistmico se presta tan fcilmente a la deconstruccin poltica de narrativas totalizadoras como a la mercantilizacin y despolitizacin de prcticas por fuerzas de mercado, depen50
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diendo de una lectura crtica de los contextos de poder en que prcticas simblicas (e identitarias) se producen y circulan. Lo importante aqu no es desechar la diversidad sexual u otros discursos si no llegar a una conciencia crtica de sus posibilidades, peligros, y lmites en situaciones particulares. Ms all de las posibilidades y lmites de estrategias discursivas especficas, tambin pueden plantearse interrogantes acerca de si, cundo y cmo sea siquiera deseable involucrarse con el estado, dada la cristalizacin que ocurre cuando normas informales se traducen en polticas pblicas y dado el hecho de que el reclamo de derechos sexuales en la arena pblica formal a veces implica introducir nuevos campos de visibilidad y control social. La legislacin en materia de identidad de gnero avanz en varios pases bajo el impulso de los movimientos trans, por ejemplo para permitirse la modificacin del nombre y gnero en la documentacin, usualmente dependiendo de un diagnstico mdico de trastorno de identidad de gnero y de la intervencin quirrgica de los genitales. Se requiere as a los individuos que se hagan visibles al estado a travs de una categora diagnstica patologizante, que se vuelve la nica puerta de entrada para poder reivindicar sus derechos sexuales (Park 2007). El requerimiento de la ciruga, adems, refuerza el binarismo de gnero y la ecuacin estrecha entre gnero y genitales, exigiendo, como lo plantean Cabral y Viturro (2006), el cuerpo sexual y reproductivo como precio de acceso a la ciudadana. Dinmicas parecidas estn en juego en la regulacin del trabajo sexual a travs de credenciales sanitarias requiriendo pruebas peridicas de VIH e ITS. Aunque tales medidas permiten cierto reconocimiento legal, generalmente presuponen una visin estrecha de la poblacin que regulan, principalmente como portadores de enfermedades a ser controladas/ os. En ambos casos, el gran reto para activistas es despatologizar las identidades que sirven como puertas de entrada al estado e incorporar una visin ms democrtica e integral de servicios de salud. Finalmente, el recurso de los activistas al derecho penal tambin plantea cuestiones importantes, especialmente en un momento histrico en que las poblaciones encarceladas estn creciendo exponencialmente en la regin y la seguridad se ha vuelto la principal divisa de la derecha (Nuez Vega 2005). Sin desconocer la importancia de los esfuerzos para enfrentar la discriminacin y violencia sexuales y contra las mujeres, Correa (2008) justificadamente nos advierte que una comprensin de los derechos sexuales como derechos a castigar entraa el riesgo de restablecer una esttica visin moral de las sexualidades, el placer y el deseo, y al menos merece una mayor reflexin de la que ha desarrollado el activismo y sus aliados. En este mismo sentido, buscando problematizar la incansable bsqueda del remedio legal por activistas a travs de medidas contra el discurso de odio incluidas en varios proyectos antidiscriminatorios en debate actualmente en Amrica Latina la terica feminista Judith Butler (1997) advierte acerca de los peligros potenciales de
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extender los poderes del estado a nuevos terrenos discursivos y as potencialmente dar poder al estado para evocar tales precedentes contra cualquier movimiento social que pelee por su aceptacin en la doctrina legal (24).
Brechas entre legislacin, polticas pblicas y prcticas cotidianas

Estas ltimas crticas, en cierto sentido, presuponen un estado fuerte y leyes con un poder normalizador bastante eficaz. Uno de los dilemas centrales en el avance de los derechos sexuales en Amrica Latina, sin embargo, ha sido la notoria disparidad entre las leyes y polticas pblicas formales y su ejecucin, de modo similar a lo que sucede con varios de los derechos humanos reconocidos positivamente (Jeln 1996). La brecha entre el discurso pblico y las prcticas privadas se manifiesta en dos modos distintos aunque relacionados: por un lado, en leyes y polticas pblicas en principio diseadas para promover los derechos sexuales que en la prctica, son letra muerta; y por otro, en la implementacin selectiva de las leyes, inclusive legislaciones represivas. Pocas reas reflejan tan claramente esta brecha como el caso de la criminalizacin del aborto. La regin presenta una de las legislaciones ms restrictivas y represivas en materia de aborto del mundo, en gran parte un reflejo de la sostenida influencia poltica de la Iglesia catlica y sectores religiosos. Las autoridades pblicas, sin embargo, hacen la vista gorda en cuanto se trata de hacer cumplir la ley, a su vez los abortos clandestinos estn muy extendidos en todos los pases. El aborto slo es legal en Cuba y Puerto Rico, con avances hacia la despenalizacin en la Ciudad de Mxico y Colombia. No obstante, el panorama generalizado es de ausencia de debate e incluso retroceso, como en el caso del Salvador, Nicaragua y Repblica Dominicana. El caso uruguayo mostr hasta qu punto el aborto es una cuestin difcilmente procesable polticamente. Un informe del Instituto Allan Guttmacher estima que cuatro millones de mujeres abortan anualmente en Amrica Latina, la mayora en condiciones ilegales y riesgosas para su salud e incluso su vida5. Los abortos inseguros constituyen una de las primeras causas de mortalidad materna en la regin y la primera por causas evitables: aproximadamente un tercio del nmero total6. En este contexto, sin embargo, Nicaragua con un gobi-

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Allan Guttmacher Institute, Issues in Brief: An Overview of Clandestine Abortion in Latin America. 2001.

International Human Rights Law and Abortion in Latin America, Human Rights Watch, July 2005; Over Their Dead Bodies: Denial of Access to Emergency Obstetric Care and Therapeutic Abortion in Nicaragua. Human Rights Watch. 19(2), October 2007; Michael Clulow, ed. Derechos sexuales y derechos reproductivos en Centroamrica: Hacia una agenda de accin. Asociacin Civil Grupo Nenancia, Asociacin de Mujeres por la Dignidad y la Vida (Las Dignas), Asociacin Movimiento de Mujeres Mlida Anaya Montes (Las Mlidas); Centro de Apoyo a la Mujer, Tierra Viva; Centro de Estudios de la Mujer-Honduras (CEM-H); One World Action), Diciembre de 2004. <http://www.oneworldaction.org>. 52
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erno presumiblemente de izquierda pas una legislacin en 2006 prohibiendo el aborto en cualquier circunstancia. Como sealara Bonnie Shepard (2000), el doble discurso que rodea a los derechos reproductivos y sexuales en Amrica Latina y las restricciones al aborto en particular implica extraordinarios costos sociales as como desafos especficos para el activismo. Por un lado, refuerza las desigualdades existentes en materia de raza, etnia, clase y regin en la medida en que las mujeres de los sectores sociales ms marginados y pobres enfrentan los abortos clandestinos en las condiciones ms precarias, padeciendo las peores consecuencias de las polticas represivas. Al mismo tiempo, el acceso de mujeres de clases medias y altas a abortos clandestinos seguros crea vlvulas de escape privadas que pueden alivianar la presin social y poltica para cambiar las polticas represivas. Y aunque las leyes no sean aplicadas, actan como una espada de Damocles sobre la cabeza de activistas, de modo que los cuestionamientos abiertos pueden resultar en cerrar tales vlvulas de escape en detrimento de las mujeres que buscan terminar un embarazo. En Chile, hace algunos aos, la publicacin de las estimaciones del Alan Guttmacher Institute segn las cuales se practicaban anualmente 159.650 abortos clandestinos, result en la invasin a clnicas clandestinas en los aos subsiguientes (Shepard 2000). Esta clase de aplicacin discrecional de la ley tambin ha caracterizado la regulacin del trabajo sexual y las morales pblicas en gran parte de la regin. Mientras un doble discurso, nuevamente, ha creado vas de escape privadas para sexualidades disidentes, son sujetas a repentinas redadas y acciones policiales o incluso a control mediante arreglos informales de corrupcin y abuso policial. Adems de la aplicacin discrecional de las polticas represivas, la brecha entre prcticas pblicas y privadas se manifiesta en el relativo desuso de leyes y polticas orientadas a proteger los derechos sexuales. Un ejemplo claro de esto son las leyes antidiscriminatorias que contemplan la orientacin (o preferencia) sexual y en algunos pocos casos incluso la identidad de gnero, bajo la forma de estipulaciones constitucionales o regulaciones de establecimientos comerciales en casos de legislacin penal. En la regin, Ecuador presenta la segunda Constitucin en el mundo que reconoce la no discriminacin por orientacin sexual; la Ciudad de Buenos Aires tiene desde 1996 una Constitucin que reconoce el derecho a ser diferente y la no discriminacin por gnero y orientacin sexual; y en 2009, Bolivia fue el primer pas en la regin a contemplar la no discriminacin por orientacin sexual e identidad de gnero a nivel constitucional. Por una variedad de razones, tales medidas han quedado la mayora de las veces en el papel. En algunas instancias, esto se debe al menos en parte a obstculos procedimentales, tales como la falta de reglamentacin para hacer posible la implementacin o puesta en vigencia de las medidas. En Rio de Janeiro, por ejemplo, a las y los activistas les llev casi dos aos de presin al gobernador Anthony Garotinho, un populista evanglico, para lograr
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que se reglamente la ley de antidiscriminatoria aprobada en febrero del 2000. Pero incluso cuando los procedimientos ya existen, la discriminacin es difcilmente probable y a menudo sujeta a la discrecionalidad de las autoridades, en un contexto en el cual el acceso al sistema de justicia en general est profundamente determinado por el conocimiento diferencial de los derechos, as como por el tiempo y recursos disponibles para la gente. En la Ciudad de Mxico, solo 11 quejas relativas a orientacin sexual fueron interpuestas entre la adopcin de la primera ley antidiscriminatoria en 2000 y mayo de 2007, ninguna de las cuales lleg a juicio7. En contraste, en una encuesta nacional realizada por la CONAPRED, ms del 70% de los entrevistados identificados como homosexuales dijeron no sentirse tratados con igualdad ante la ley y 57% experimentaron discriminacin en el ao previo8. Datos similares se desprenden de encuestas realizadas en las Marchas del Orgullo en varias ciudades latinoamericanas, bajo la iniciativa del Centro Latinoamericano de Sexualidad y Derechos Humanos. Dadas las dificultades para probar la intencin de discriminacin y el tiempo y recursos involucrados en proseguir tales casos, quiz no sorprenda el relativo desuso de la legislacin antidiscriminatoria. Similares procesos suceden respecto de los cambios en la legislacin sobre familias. En la Ciudad de Mxico, en el primer ao posterior al reconocimiento legal de las parejas del mismo sexo en 2007, solo 302 parejas formaron sociedades de convivencia; en contraste, en Massachusetts, en los ocho meses siguientes a que este estado se convirtiera en el primero en Estados Unidos en reconocer el casamiento a parejas del mismo sexo, casi 6.000 parejas formalizaron su unin (con 8.9 y 6.5 millones de habitantes respectivamente). La razn para este relativo desuso de la legislacin, nuevamente, en algunos aspectos puede residir en la naturaleza de las propias leyes. Por ejemplo, luego de 16 meses de haber sido aprobada la Ley de Unin Concubinaria en Uruguay en 2008, primera ley federal en la regin que reconoce a las parejas del mismo sexo y que requiere a las parejas probar una relacin estable por cinco aos, slo 180 parejas demandaron reconocimiento; las cortes de familia haban considerado 40 de estas peticiones y reconocieron solamente a 20 (la mitad, parejas del mismo sexo y la otra, de sexo opuesto)9.
Oficio N OIP/600/605/0833/06-07. Subprocuradura de Atencin a Vctimas del Delito y Servicios a la Comunidad, Direccin General de Servicios a la Comunidad, Oficina de Informacin Pblica. Procuradura General de Justicia del DF, 12 de junio de 2007. Registro oficiales identificaron a nueve de quienes solicitaron el reconocimiento como masculinos; una como femenina; y uno como varn identificado como mujer. Para junio de 2007, dos de estos casos seguan siendo investigados y los dems fueron cerrados sin juicio. Dada la pobreza de los registros en la materia, estas cifras pueden sub-reportar el nmero de caso.
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Primera Encuesta Nacional sobre Discriminacin en Mxico, Mxico, D.F: Consejo Nacional para Prevenir la Discriminacin and Secretara de Desarrollo Social, Abril de 2005, CD Rom.
8

Pablo Melndez. Poco inters de parejas en legalizar concubinato: Ley, desde enero de 2008 la Justicia reconoci solo 20 uniones en 180 solicitudes, El Pas, Mayo 10, 2009, <http://www.elpais.com.uy/090510/pnacio-416069/
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Estos fenmenos ilustran brechas ms amplias entre el estado y la sociedad y entre los derechos sexuales construidos en la esfera pblica y las sexualidades (y prcticas de ciudadana) experimentadas en la vida cotidiana. Como han sealado bastantes autores, la presencia diferencial del estado en la regin ha creado no solo formas estratificadas de ciudadana si no grandes reas de marginacin y exclusin social (Alvarez, Dagnino, y Escobar 1997; Panizza 1995; Avritzer 2002; Dagnino 1997; Dagnino et al. 1998; Weffort 1989; Beverley 1999). En reas como las favelas y cinturones de miseria esparcidos en las grandes ciudades de la regin, el estado de excepcin, donde la ciudadana se suspende en prctica, se ha convertido en la norma (Agamben 2005). Sin negar la responsabilidad de gobiernos o la falta de voluntad poltica para actuar, cabe resaltar que estos estados de excepcin generalmente no reflejan como nos sugiere Agamben (2005), con la metfora del campo de concentracin la omnipresencia de un poder soberano fuerte, sino todo lo contrario, una presencia precaria o nula, si bien muchas veces de agentes de estado corruptos y represores. En estos espacios, la gobernamentalidad de la vida cotidiana incluyendo las normas que regulan el gnero y la sexualidad es articulada y disputada por y entre varios otros actores, desde guerrillas, narcotraficantes, y fuerzas paramilitares hasta compaas transnacionales, iglesias, y ONGs. Por lo tanto, buscando un poder soberano ms presente y eficaz, las y los activistas en varios pases han creado oficinas de consejera legal para acercar el estado de derecho formal a la vida cotidiana y para promover la demanda de respuestas de poblaciones excluidas por parte de agencias estatales. Tales esfuerzos sugieren que la presin por legislacin o polticas pblicas es, en el mejor de los casos, slo el inicio de un proyecto ms largo que aborda tambin tanto la eliminacin de expresiones de ciudadana estratificadas o incluso ausentes como la apropiacin subjetiva de derechos sexuales en la vida cotidiana (Amuchstegui y Rivas 2008). Cmo se puede lograr es una pregunta crucial para la militancia. III. Coyuntura actual y desafos Ante estos dilemas polticos, el panorama actual en la poltica sexual en Amrica Latina presenta una serie de desafos. En este ltimo apartado, consideramos las posibilidades y los peligros que enfrentan los activistas, resaltando algunas tendencias que nos parecen ms importantes.

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Cambios en poltica partidaria, particularmente de izquierda

Como un repudio al modelo neoliberal que prevaleci en los aos 1980 y 1990, los triunfos recientes de la izquierda en varios pases latinoamericanos sin duda representan una de las tendencias polticas ms importantes en la regin de las ltimas dcadas. En trminos de derechos sexuales, sin embargo, el record de estos gobiernos ha sido mixto, dependiendo del tema y del pas; y en muchos casos, las distinciones clsicas entre izquierda y derecha hacen poca diferencia poltica. La politloga feminista Rosalind Petchesky (1999) ha sealado un mayor consenso internacional que concibe los derechos sexuales en trminos negativos ms que positivos: es decir, ms como un derecho a estar libre de coercin o discriminacin que como un derecho positivo, por ejemplo, a disfrutar el placer sexual. Estas tendencias se reflejan en la poltica partidaria latinoamericana, inclusive en gobiernos de izquierda, donde ha habido mayores avances en propuestas para proteger a la ciudadana de violencia sexual, violencia domestica, trfico de personas, y discriminacin que en reas como el derecho al aborto, derechos laborales en el trabajo sexual, y el reconocimiento legal de parejas del mismo sexo. Tales dinmicas en parte reflejan las culturas machistas que an prevalecen en la poltica formal en la regin. Aunque varios pases han aprobado leyes de cuotas para mujeres en candidaturas a puestos electorales, la efectividad de estas medidas ha variado, dependiendo en parte del sistema electoral, por ejemplo, con un mayor impacto en sistemas de representacin proporcional con listas cerradas que con listas abiertas. Incluso en el congreso argentino, donde el impacto de estas medidas ha sido mayor, dos tercios de los puestos legislativos an son ocupados por hombres. Entre electorados, por su parte, segn datos publicados por Latinobarmetro en 2004, ms de 30 por ciento de los encuestados concordaron con la declaracin los hombres son mejores lderes que las mujeres en 11 pases de la regin. En la Republica Dominicana, donde el congreso aprob una medida constitucional en el 2009 prohibiendo el aborto en cualquier circunstancia, el nmero lleg al 50 por ciento (Htun 2005). Ms all de una falta de compromiso o un conservadurismo enraizado, la cautela de gobiernos responde en gran medida a clculos electorales, particularmente ante la presin poltica de la Iglesia Catlica y otros grupos religiosos. En Nicaragua, por ejemplo, poco antes de la eleccin de 2006, el congreso nacional, dominado por la Frente Sandinista de Liberacin Nacional (FSLN) y el Partido Liberal Constitucionalista (PLC), vot por unanimidad la abolicin del aborto teraputico cuando la vida de la mujer corre riesgo (permitido en el cdigo penal desde 1893). A pesar de peticiones de grupos feministas, del Ministerio de Salud, y de la comunidad mdica para posponer el voto hasta despus de la eleccin, ambos partidos precipitaron el proceso legislativo para congraciarse con la Iglesia Catlica (Kampwirth 2003, Gago 2007, Kane 2008).
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Segn la feminista nicaragense Sofa Montenegro (2006), la coyuntura tambin surgi de una historia de concertacin entre las dos principales fuerzas polticas, creando una partidocracia que paradjicamente subvirti la apertura poltica en un contexto de competicin electoral. Su anlisis refleja una desafeccin respecto de la poltica partidaria evidente en varios pases de la regin y resalta como lgicas institucionalizadas en sistemas de partidos pueden impedir avances en los derechos sexuales. En Chile, donde el Partido Socialista forma parte de la Concertacin gubernamental desde 1990, su coalicin con el Partido Demcrata Cristiano ha colocado claros lmites en tales avances, especialmente en el rea de aborto (Ros Tobar 2007). Y aunque la aprobacin de una nueva ley contra violencia domestica en 2006 puede contarse como un avance importante en Brasil, la dependencia del ejecutivo en la articulacin de consensos en un congreso sumamente conservador ha impedido progreso en otras reas. Cabe resaltar que mientras el gobierno de Lula lanz un programa federal sin precedentes en 2004 bajo la divisa de Brasil sin Homofobia, los proyectos de ley presentados por el movimiento LGBT en el pas estn paralizados.
Nuevo paisaje religioso

En muchos casos, las dificultades en avanzar los derechos sexuales en la arena poltica se deben a la influencia que ejercen la Iglesia Catlica y otras fuerzas religiosas. En las ltimas dcadas, el Vaticano ha promovido una campaa ideolgica y poltica contra los derechos sexuales y reproductivos a nivel internacional, descalificndolos como expresiones de liberalismo, hedonismo, relativismo, y una ideologa de gnero promovida por feministas. Tanto el Papa Juan Pablo II como Benedicto XVI han promovido a los sectores ms conservadores dentro de la propia Iglesia en la regin; y a travs de encclicas, documentos, y organismos de presin, han buscado incidir en las polticas pblicas de gobiernos latinoamericanos (Gonzlez Ruiz 2005). El punto de lanza de este esfuerzo ha sido el Consejo Pontificio para la Familia, establecido en 1991 y presidido por el cardenal colombiano Alfonso Lpez Trujillo. En los aos 1990, el CPF promovi una serie de encuentros regionales, empezando con el Primer Encuentro con Polticos y Legisladores de Amrica, en Rio de Janeiro en 1993. Las conclusiones de aquel encuentro reafirmaron la validez de la Carta de los Derechos de la Familia, emitida por el Vaticano en 1983; advirtieron de una conspiracin contra la vida encabezado por un feminismo radical y apoyada por pases ricos e instituciones internacionales; y llamaron a la constitucin de grupos parlamentares en cada pas para defender la vida y la familia. Un segundo encuentro ocurri en la Ciudad de Mxico en 1996 y un tercero en Buenos Aires en 1999, asistido por ms de 400 personas incluyendo el ex presidente Carlos Menem. Los
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participantes de este ltimo encuentro nuevamente recomendaron la creacin de bancadas multipartidarias a nivel nacional y de una red continental de legisladores y polticos en defensa de la vida y la familia10. Adems de la Iglesia Catlica, el crecimiento explosivo de iglesias evanglicas protestantes ha transformado el campo religioso latinoamericano en los ltimos aos. Hoy, los protestantes representan ms de 15% de la poblacin en diez pases de la regin (Brasil, Colombia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Hait, Honduras, Nicaragua, Panam, Uruguay), en algunos casos llegando a tener un peso poltico importante (Oro y Ureta 2007). En Brasil, por ejemplo, algunas iglesias como la Universal del Reino de Dios han construido mquinas electorales bastante fuertes, y sus legisladores organizan bancadas multipartidarias a nivel municipal, estadual y nacional. Si bien es importante hacer distinciones entre e incluso dentro de iglesias, donde sin duda hay sectores ms progresistas, los derechos sexuales y reproductivos, ms que cualquier otro tema, han podido catalizar alianzas que cruzan lneas denominacionales. En la Ciudad de Mxico en 2004, por ejemplo, el III Congreso Mundial de la Familia reuni a lderes conservadores catlicos, protestantes y de otras confesiones, un evento organizado por la Red Familia, una coalicin de grupos mexicanos conservadores, y el Howard Center for Family, Religion, and Society, un centro dedicado a la defensa de la familia natural, establecido en Estados Unidos en 1997. Para activistas buscando avanzar los derechos sexuales, la principal estrategia para contrarrestar la influencia poltica de estos grupos ha sido una insistencia en la laicidad del estado. A nivel regional, activistas y acadmicos han lanzado iniciativas como la Campaa contra Fundamentalismos y la Red Iberoamericana de Libertades Laicas. Como estrategia discursiva, la defensa del estado laico ciertamente tiene ms resonancia en algunos pases que en otros. La fuerte tradicin de laicismo en Mxico, por ejemplo, le da cierta efectividad, incluso en la construccin de alianzas partidarias. Su efectividad en otros pases, sin embargo, es ms limitada, en gran medida por la influencia poltica que disfrutan las iglesias y el temor de polticos a las consecuencias electorales de desafiarlas. Es ms, los grupos religiosos conservadores tambin han podido adaptarse estratgicamente a las nuevas realidades polticas en la regin. Tanto la organizacin de ONGs de laicos como los grupos ProVida, muchas veces articuladas a nivel nacional e internacional, como el uso de secularismos estratgicos, empleando lenguajes universalistas como la defensa de los derechos humanos para avanzar sus causas, estn probando los lmites de
Pontificio Conselho para a Famlia, Concluses do encontro com polticos e legisladores da Amrica, Comunicado Mensal, Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil, June 1996, (45)502; III Encuentro de Polticos y Legisladores de Amrica: Declaracin de Buenos Aires Familia y Vida a los 50 aos de la Declaracin Universal de Derechos Humanos, August 5, 1999, <http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/family/documents/ rc_pc_family_doc_05081999_buenos-aires_sp.html>.
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la defensa de la laicidad y colocando nuevos retos para los defensores de derechos sexuales (Vaggione 2005).
Nuevas lgicas de subjetivacin y relacin en el marco de los mercados

Paralelamente a estos procesos polticos, aunque no de manera desarticulada con ellos, las sexualidades en la regin tambin se han visto transformadas por dinmicas de mercado. Segn el antroplogo Nstor Garca Canclini (1995a), en un contexto latinoamericano marcado por un creciente desafecto popular con los sistemas polticos y por un estado que ha ido cediendo sus funciones a corporaciones y otros entes privados, la importancia del consumo como base de la identidad e incluso de la participacin ciudadana se ha ido incrementando. Nuevas subculturas urbanas con sexualidades u expresiones de gnero disidentes, como los emos (quienes valoran el look depresivo) y los osos (gays gordos), reflejan las maneras en que nuevas identidades y constelaciones del deseo se estn constituyendo a travs del consumo de repertorios simblicos, creando lo que Garca Canclini denomina comunidades globales de consumidores interpretativos. En estos repertorios, padrones de belleza, de lo ertico, de gnero, y de cuerpos deseables y no deseables circulan en una economa poltica del deseo a travs de revistas y peridicos, industrias pornogrficas, el internet y otros medios de comunicacin. La importancia del mercado en la constitucin de identidad necesariamente levanta cuestiones de acceso y desigualdad. Una amplia literatura ha sugerido que las identidades lsbico-gay en la regin, por ejemplo, fueron apropiadas inicialmente por clases medias urbanas, participantes tambin en repertorios simblicos transnacionales. Y si bien han trascendido en cierta medida fronteras regionales, de clase, tnicas, y raciales, hoy coexisten en terrenos hbridos, intercalndose con otras maneras de organizar el deseo sexual. En la era moderna, el cuerpo se ha convertido en una condensacin de subjetividades, jugando un papel importante como significante de clase y origen social (Jarrn 2009). Dado su lugar como sitio privilegiado de normalizacin, poco sorprende que hayan surgido nuevas industrias de manipulacin corporal, cuyo acceso tambin est marcado fuertemente por contextos de desigualdad (Vieira Garca 2008). Para comunidades trans, por ejemplo, la transformacin del cuerpo a travs de la aplicacin de silicona y otras tcnicas es parte de un proceso de construccin identitaria. Aunque hay centros especializados en el cambio esttico del cuerpo, la mayor parte de quienes buscan estos servicios, por falta de recursos, recurren a una economa informal con personas no capacitadas y condiciones sanitarias precarias, corriendo graves riesgos, incluso de muerte11.
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Secretariado Trans de ILGA, Uso de Silicn. T-Informa. 2(13), enero 2009, <http://trans_esp.ilga.org>.
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Las asimetras del mercado operan no solo dentro de naciones como entre ellas, con consecuencias tambin para la poltica sexual. Las luchas entabladas por la grande industria farmacutica con apoyo de gobiernos del Norte para extender sus derechos de propiedad intelectual en la Organizacin Mundial de Comercio y otros espacios internacionales han tenido serios efectos prejudiciales en la salud sexual. Aunque Amrica Latina ha logrado una cobertura con tratamientos antirretrovirales contra VIH de 62%, la calidad de servicios vara dramticamente entre pases y poblaciones, con el acceso ms precario entre los sectores ms pobres y discriminados (ONUSIDA 2009). Segn un estudio de ONUSIDA y Mdicos Sin Fronteras, el precio de una dosis de terapia combinada con AZT patentada es ms de 13 veces el de una versin genrica producida en Brasil. El liderazgo brasileo junto a otros pases del sur global como India y frica del Sur para garantir el acceso a medicamentos dentro del marco de derechos humanos ha sido crucial para un cuestionamiento de la prioridad de la propiedad intelectual y lucros privados (Petchesky 2003). Cabe mencionarse en este contexto, finalmente, el movimiento internacional de personas. En la medida que industrias tursticas han transformado economas locales, por ejemplo, tambin lo han hecho con expectativas y roles de gnero y sexualidad. Y en 2005, cerca de 25 millones de latinoamericanos haban emigrado de sus pases de origen, lo equivalente a 4% de la poblacin regional y 12% de la poblacin migratoria global12. La expansin de este fenmeno y de los estados receptores, su feminizacin, y nuevas polticas migratorias en pases receptores y expulsores responden a cambios en el mercado laboral, a la creciente importancia de remesas como estrategia de desarrollo, y a otras relaciones marcadas por las asimetras en la economa global. Para muchos/as, la emigracin tambin implica nuevas vivencias de su sexualidad (y de su latinidad), condicionadas no solo por el distanciamiento de sus comunidades de origen sino por las nuevas relaciones laborales e interpersonales que encuentran, incluyendo experiencias de racializacin, discriminacin, y control social (Gonlez-Lpez 2005; Decena 2008; Guzmn 2006; Moraga y Anzalda 1983). Un rea que ha recibido atencin particular en este contexto es el trfico internacional de personas. Sin desmentir la gravedad de las violaciones a los derechos humanos de personas transportadas e inducidas a entrar al mercado sexual por coercin, es importante tambin mencionar los daos colaterales de algunas polticas para combatir este fenmeno. Estudios han documentado una falta de claridad en las definiciones del crimen en instrumentos nacionales e internacionales, que se prestan a calificar a emigrantes que trabajan en la industria sexual voluntariamente
Patricia Gainza, Tendencias migratorias en Amrica Latina, Revista GLOOBALhoy, 27 de julio de 2006, <http:// www.gloobal.net/iepala/gloobal/fichas/ficha.php?entidad=Textos&id=2047>.
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como victimas (Da Silva y Blanchette 2005; Grupo Davida 2005). En algunas medidas policiales contra el trfico en Europa, las supuestas victimas del crimen mujeres trabajando en la industria sexual, incluso algunas que negaron haber sido traficadas lejos de ser protegidas por la ley, fueron deportadas como ilegales (Piscitelli 2008).
Articulacin en torno a organismos supranacionales

Como muchos de estos procesos demuestran, los conflictos entorno a la poltica sexual se estn articulando simultneamente a nivel local, nacional e internacional. En el sistema de las Naciones Unidas, la participacin de activistas latinoamericanos/as por derechos sexuales ha tenido dos vertientes principales. Por una parte, feministas y activistas LGBT, particularmente activistas lesbianas, han presionado por el reconocimiento de los derechos sexuales y el concepto de salud sexual en conferencias y cumbres de la ONU, especialmente a partir de los aos 1990, con la Conferencia de Poblacin y Desarrollo del Cairo (1994) y la Cuarta Conferencia Mundial sobre la Mujer en Beijing (1995); los procesos de revisin de sus plataformas de accin; y La Conferencia Internacional Contra el Racismo,
la Discriminacin Racial, la Xenofobia y Formas Conexas de Intolerancia (2001)

(Corra 1997, Careaga y Jimnez 1997, Petchesky 2003). Por otra, activistas de VIH/sida, LGBT, trabajadoras sexuales y otros grupos particularmente afectados por la epidemia han avanzado una visin de la salud como cuestin de derechos humanos en la Sesin Especial sobre VIH/SIDA de Asamblea General de las Naciones Unidas (2001) y los procesos de revisin de su Declaracin de Compromiso. En ambos casos, las y los activistas entraron a la arena global para disputar visiones biomdicas reduccionistas, en el primer caso, enmarcando la salud de la mujer dentro de polticas de planificacin familiar neomalthusianas ligadas a proyectos de desarrollo; y, en el segundo, estigmatizando a los llamados grupos de riesgo y personas viviendo con VIH/sida y sometiendo el acceso a medicamentos a los clculos de costo y beneficio del mercado. No cabe duda de que, en ambos casos, se logr ampliar estas visiones estrechas con nociones ms integrales de la salud, legitimar el concepto de derechos sexuales dentro de un marco de derechos humanos y resaltar la importancia de incluir a los grupos directamente afectados por polticas pblicas en su formulacin. En muchos pases, la preparacin para estos eventos foment una movilizacin importante a nivel nacional, sus logros formales han creado un marco simblico que ha sido apropiado y desplegado selectivamente al avanzar de agendas locales. Tambin es importante reconocer, sin embargo, que el acceso a estos organismos es selectivo y que estas trayectorias tambin han reforzado la ONGizacin del activismo y asimetras al interior de movimientos nacionales (Alvarez et al. 2002).
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En aos recientes, las y los activistas tambin han buscado incidir en organismos a nivel regional. Entre sus logros en la Organizacin de Estados Americanos cuentan la Convencin Interamericana para Prevenir, Sancionar, y Erradicar la Violencia contra la Mujer (o la Convencin de Belem do Par), de 1994, y la aprobacin unnime en 2008 de una resolucin repudiando la violacin de derechos humanos en base a orientacin sexual e identidad de gnero. Hoy, la campaa para la aprobacin de una Convencin Interamericana de Derechos Sexuales y Derechos Reproductivos ha organizado una serie de encuentros regionales para discutir su contenido, contemplando la interseccionalidad de las sexualidades con desigualdades de clase y tnico-raciales. Ms all de este tipo de movilizacin social, la principal importancia de la Convencin sera aadir una pieza ms al marco simblico internacional que ha ido legitimando paulatinamente a los derechos sexuales y reproductivos. Pero si la distancia entre la ley y la prctica ya es grande a nivel nacional, la que separa la vida cotidiana de estos organismos regionales es abismal. Y los casos concretos envolviendo derechos sexuales y reproductivos que han llegado a la Comisin Interamericana de Derechos Humanos son contados (Cabal et al. 2003). Cabe mencionar, finalmente que ms all de estos esfuerzos ante organismos intergubernamentales, ha habido una movilizacin en torno a espacios extraoficiales como el Foro Mundial Social. Buscando articular una poltica sexual con proyectos de globalizacin alternativos, los activistas en estos espacios han resaltado la importancia de reconocer la diversidad de las diversidades y de articular luchas transversalmente dentro de una crtica amplia al capitalismo y el neocolonialismo global13.
Estado y sociedad civil: nuevos patrones de articulacin

Respondiendo a dinmicas tanto nacionales como internacionales, sectores importantes de los movimientos por derechos sexuales en Amrica Latina han sido incorporados en las ltimas dcadas a la formulacin e implementacin de polticas pblicas. Esta incorporacin ha implicado la participacin de ONGs en asociaciones pblico-privadas con organismos estatales o incluso con empresas privadas y organizaciones internacionales con el fin de desarrollar proyectos dirigidos a determinadas poblaciones en un periodo definido. El gran mpetu de este modelo ha sido la articulacin de activistas con el sector salud, particularmente en cuestiones de VIH/SIDA, aunque tambin en otras reas. En este sentido, el modelo forma parte de un proceso ms amplio de medicalizacin de la poltica sexual. Si el sector
Fernanda Sucupira, FSM Caracas: Por um movimento GLBT ainda mais politizado, Agencia Carta Maior, January 26, 2006, <http://agenciacartamaior.uol.com.br>; FSM: Conclusiones del II Foro Social por la Diversidad Sexual. 28 de febrero, 2005, <http://movimientos.org>.
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salud, por una parte, ha abierto puertas, tambin ha conllevado a tendencias de despolitizacin y dessexualizacin. La incorporacin de activistas en proyectos de salud, en cierto sentido, podra entenderse como una victoria, sin duda respondiendo a sus demandas histricas a ser incluidos/as y escuchados/as en espacios que en otro momento les eran cerrados. Pero tambin responde a la consolidacin de una nueva gobernamentalidad transnacional es decir, de una nueva racionalidad o lgica en la regulacin del comportamiento cuyos efectos en el activismo ciertamente no han sido neutros. Desde esta perspectiva, el aporte de activistas tiene que ver con su conocimiento especializado sobre las poblaciones-albo de polticas pblicas. El Banco Mundial lo explica de esta manera:
La implementacin de esfuerzos de control de VIH/sida y ETS entre ciertos grupos de alto riesgo puede ser desarrollada ms efectivamente por organizaciones sociales que han formulado una relacin de confianza con miembros de ciertos grupos de alto riesgo. Los individuos-albo de las polticas frecuentemente pertenecen a segmentos de la sociedad con quienes los gobiernos tienen poca experiencia. Las ONGs pueden aportar un conocimiento especializado para establecer credibilidad con las poblaciones albo14.

La antroploga social Jane Galvo (2000), antigua coordinadora del Sector de Articulacin con ONGs del Programa Nacional de EST/SIDA de Brasil, ha enmarcado las transformaciones fomentadas por este modelo en trminos del peso relativo de dos paradigmas, llevando a lo que llama una dictadura de los proyectos. Galvo resalta la creciente importancia de un paradigma basado en la salud pblica que busca intervenciones en los comportamientos de poblaciones especficas, priorizando resultados cuantificables que pueden ser evaluados, por ejemplo, en la determinacin de fondos futuros, por encima de un paradigma que prioriza la accin cultural y poltica, cuyos resultados son menos cuantificables. El primero, en efecto, reproduce el individualismo abstracto de la teora econmica y poltica liberal, contemplando a los individuos-albo de las polticas como consumidores libres para escoger prcticas sexuales en un mercado de ideas e informacin. Tal reduccin de cuestiones sexuales a puras cuestiones de salud, aisladas de las otras dimensiones que las hacen fenmenos sociales y polticos, es una operacin ideolgica que las sustrae de la estructura social de desigualdad (de clase, gnero etc.) y de la historicidad que las explica y en las que es pertinente actuar si se piensa en polticas pblicas ms all de una ingeniera social fragmentaria. Un aspecto paralelo pero relacionado a estas tendencias es la transformacin
Brazil: Third AIDS and STD Control Project, Project Information Document PID11512, World Bank, November 15, 2002.
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de sujetos sexuales en victimas sexuales y la reduccin de demandas de derechos a pedidos de reparacin a vctimas. Con el eje centrado en la visin negativa de los derechos sexuales, los sujetos son construidos vctimas de un virus, de embarazos no buscados, de violencia, de desigualdades sociales y de gnero, restando poco espacio para los proyectos colectivos e instalando la idea de que los sujetos poderosos, que hablan y actan pblicamente, es decir los sujetos polticos, son sospechosos. Cuanto ms sexual una cuestin o un sujeto parece ser, ms poltico es en un sentido especfico: como particular, interesado, conflictivo. El desafo es cmo sexualizar y politizar las cuestiones y los sujetos en una direccin democrtica, en una direccin de justicia ertica. Luego de los aos setenta y la hegemona del discurso de la liberacin, la comprensin de las posibilidades y limitaciones del discurso de salud pblica ha visto tres momentos. Primero, el amplio uso del discurso de la salud como vehculo para la promocin de derechos sexuales. Segundo, el reconocimiento del discurso de la salud como un obstculo para la evolucin de estos derechos. Tercero, el cuestionamiento del lenguaje tanto de salud como de derechos como formas de despolitizar las prcticas relativas a las sexualidades, reconocidas ahora como inherentemente conflictivas e irreducibles a lo racional, lo pblico y lo normativo. Tanto conceptualmente como en la prctica, estos avances han revelado paulatinamente las limitaciones y contradicciones del discurso de salud pblica y las formas en que puede obliterar el avance, diversificacin y profundizacin de los derechos sexuales. En el mbito de las polticas, las cuestiones sexuales se volvieron manejables para la toma de decisiones y la intervencin. En el mbito de los derechos, procesos similares de construccin (framing) tambin condujeron a formas de despolitizacin. Como resultado, la sexualidad permanece escondida detrs de lenguajes que inherentemente violentan su lgica: los lenguajes de las polticas de salud tanto como el lenguaje de los derechos formales, positivos y garantizados por el Estado. Estos lenguajes liberales suponen sujetos identificables y estables, y la posibilidad de disponer (la propiedad) del propio cuerpo, en contradiccin con prcticas alternativas que son ms sustantivas, fluidas y borrosas. La nocin de justicia ertica ha sido avanzada para trascender estos lmites. Segn la activista y terica feminista Sonia Corra (2007: 12), el reto ahora es consolidar a los derechos sexuales como fundamento para la justicia ertica, un concepto que avala principios de placer, auto-realizacin y deleite en la sexualidad; consentimiento en las prcticas sexuales; y un clima pblico que restringe la violencia, el estigma, y la discriminacin. La justicia ertica, argumenta la autora, debera tener la misma legitimidad poltica que los principios de justicia social y justicia de gnero. La nocin provee de un discurso poltico potente a actores que plantean reivindicaciones en la esfera pblica, pero es menos til como gua
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para la poltica institucional y las polticas pblicas. Traducir principios de justicia ertica en leyes y polticas es ms difcil que hacerlo en los casos de la justicia social o de gnero. Cul debera ser el papel del Estado en respetar, cumplir y promover la justicia ertica (Garca y Parker 2006)? Qu medidas y polticas pueden reclamar los movimientos sociales? Quines deben dar respuestas (ser accountable), y respecto de qu? Cul es la conexin entre justicia social y justicia ertica? La politizacin presupone el reconocimiento de los conflictos inherentes a un particular momento histrico y estructura social. Adems, la politizacin es un proceso por el cual las experiencias aisladas e individuales se inscriben en el marco de una experiencia colectiva ms amplia, reconociendo a las cuestiones sexuales no solamente como destinos individuales, sino como construidas por conflictos intrnsicos a una estructura de relaciones sociales desiguales e injustas en un momento histrico particular. En contraste, el proceso de despolitizacin implica el ocultamiento o secuestro del carcter poltico, estructural e histrico de relaciones y prcticas especficas. La des-politizacin puede tomar diversas formas, entre ellas la victimizacin, la medicalizacin y la judicializacin. La victimizacin (o victimismo) presupone que los individuos y grupos merecen ser escuchados en sus reclamos slo como vctimas de injusticias, y no como plenos sujetos de derechos. La medicalizacin supone que los problemas sociales se construyen y resuelven objetivamente por la intervencin de los mdicos y el sistema mdico. La judicializacin se refiere a la nocin de que los reclamos deben ser llevados ante los jueces en casos individuales, y que las injusticias deberan resolverse en trminos de reparaciones individuales. Estos tres mecanismos permitieron avances en derechos sexuales, dieron reparaciones individuales y mejoraron la posicin relativa de grupos subalternos, pero al precio de la fragmentacin y competencia entre grupos. Estimularon la competencia entre vctimas, una competencia perversa cuyas caractersticas son consistentes con los actuales procesos de desarticulacin social y con las dinmicas polticas neoliberales (Pecheny 2004). IV. Reflexiones finales Cuando hablamos de sexualidad y polticas pblicas, surgen problemas derivados de la naturaleza instrumental de estas ltimas. Reducir la sexualidad a un aspecto particular o a otro tipo de prcticas o relaciones; aislar la sexualidad de sus relaciones y estructuras sociales constitutivas, es decir el gnero y el poder; y no reconocer la sexualidad como un medio y un fin del poder (conservador) son, como insistiera Petchesky, peligros recurrentes. La objetivacin, reduccin y clasificaciones de las prcticas relativas a las sexualidades son ineficaces (si no violenSexualidades y polticas en Amrica Latina Mario Pecheny e Rafael De la Dehesa

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tas) cuando pensamos, por ejemplo, en polticas de sida (Ayres 2002; Paiva 2003, 2006). La objetivacin y reduccin de las prcticas y sujetos sociales son requisitos de toda intervencin social, independientemente de sus intenciones y contenidos. Cuando las polticas apuntan al mbito sexual, no slo los implementadores religiosos conservadores ejercen violencia sobre la (in-objetivable) sexualidad, sino tambin lo hacen los implementadores con perspectivas de salud pblica y derechos humanos. En relacin con la sexualidad, las limitaciones de las polticas no pueden explicarse solamente por las intenciones de los decisores o implementadores de polticas, sino por la forma instrumental de toda poltica pblica. La construccin de la sexualidad como objeto de poltica pblica es en este sentido uno entre mltiples procesos de objetivacin de las prcticas relativas a las sexualidades. El contexto de instauracin y consolidacin precaria del estado de derecho y el lenguaje de derechos humanos favoreci la agenda regional en materia de sexualidad y, valga la redundancia, de derechos sexuales. Ahora bien, quizs el principal reto para la democracia en Amrica Latina hoy no es tan nuevo: es hacerla valer para la mayora de las personas. Notando que en 2003, 225 millones de personas en la regin vivan en condiciones de pobreza, un reporte del Programa de Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) resalt la creciente desafeccin de la ciudadana en muchos pases con sus gobiernos e incluso con la democracia electoral, atribuyndolo a las profundas desigualdades sociales, a un crecimiento econmico lento y desparejo, y a la falta de efectividad de servicios sociales y sistemas legales (Hagopian 2005). Para algunos actores nacionales e internacionales incluyendo agencias financiadoras la respuesta a este dilema se encuentra en el papel de control social que puede jugar la sociedad civil. Es decir, que la sociedad civil ejerza un monitoreo al estado demandando transparencia y rendicin de cuentas y en algunos casos participe en la formulacin e implementacin de polticas pblicas. La esperanza es que este tipo de control social, en efecto, reestructure y refuerce la esfera pblica y mejore la calidad de la gobernabilidad democrtica (Avritzer 2002). No cabe duda de que en algunos casos la movilizacin de organizaciones y grupos sociales en articulacin con agencias estatales e internacionales, partidos, acadmicos, financiadoras, y otros actores ha logrado avances importantes en las polticas pblicas y la legislacin. Pero este papel tambin conlleva ciertos riesgos, incluyendo la tecnocratizacin de los movimientos sociales a travs de la mencionada dictadura de los proyectos, la reorientacin de las prioridades subjetivas en funcin de las agendas externas, y la erosin del papel verdaderamente crtico de la esfera pblica por la dependencia econmica y poltica que pueden implicar tales articulaciones. El texto que aqu concluye no ha pretendido listar la totalidad de cuestiones
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que cruzan poltica y sexualidad ni describir cerradamente las tendencias polticas sobre sexualidad en la regin, sino sealar (a partir de nuestros intereses personales, polticos y profesionales) algunos nudos problemticos que permitan avanzar en una discusin a la vez terica y poltica, discusin que no ha hecho sino complejizarse en estos aos dificultosos, pero desafiantes, de la diversa Amrica Latina. Referencias bibliogrficas
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sexualidad e interseccionalidad
Franklin Gil Hernndez1

1. Interseccionalidad Hablar del tema de relaciones entre rdenes de poder (clase, raza, gnero, sexualidad) es necesariamente remitirse a los trabajos de mujeres afroamericanas suscritas al llamado Pensamiento Negro Feminista2 (desde el trabajo pionero del Combahee River Collective, y los trabajos de ngela Davis, Bell Hooks y Patricia Hill Collins, entre otras). El mismo concepto de interseccionalidad es tomado del trabajo de Kimberl Williams Crenshaw (feminista negra), y especialmente de la discusin que hace esa autora sobre la violencia producida contra las mujeres de color en los Estados Unidos3 (Gil, 2008). Antes de concentrarme en la descripcin de algunos casos colombianos para localizar la reflexin sobre interseccionalidad y sexualidad, quiero presentar algunos apuntes sobre el concepto fundamental de este escrito: interseccionalidad, entendido como un modelo de anlisis de las diferencias sociales. Para explicar la categora tendr de base algunas autoras norteamericanas que han desarrollado reflexiones al respecto, tratando de conectar algunas de sus ideas con debates ms locales. En segundo lugar, analizar varios casos locales con el objetivo de mostrar que el modelo de comprensin de las diferencias sexuales en las polticas pblicas poco tiene que ver con ese modelo de interseccionalidad, y me centrar en los problemas del modelo usado para administrar las diferencias sexuales en las
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Investigador asociado de la Escuela de Estudios de Gnero de la Universidad Nacional de Colombia.

Menciono el origen de este concepto porque considero que es una fuente terica y poltica supremamente rica que puede ser mejor aprovechada para comprender las desigualdades sociales contemporneas. Resalto adems esta cuestin como legado del feminismo, y especialmente de los desarrollos feministas de mujeres de grupos minoritarios (negras, lesbianas, tercermundistas, chicanas), porque ningn movimiento social ha sido aliado de otras causas sociales como ste. Para esto basta mirar el papel que han tenido los feminismos y los grupos de mujeres en relacin con la inclusin de los temas de minoras sexuales, o histricamente el papel que las mujeres sufragistas jugaron en las luchas antiabolicionistas y las denuncias de linchamiento hacia los hombres negros en los Estados Unidos, por ejemplo, como lo refiere ngela Davis (2004), aunque la autora tambin refiere las fallas y la falta de inclusin de estos temas en los trabajos de reconocidas feministas acadmicas. Concepto ms amplio que se refiere no solamente a las mujeres negras, sino tambin a otras mujeres de grupos racializados: mujeres de otras minoras raciales y migrantes.
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polticas pblicas, especialmente en la ciudad de Bogot. Finalmente, mostrar algunas expresiones polticas que se inscriben en un modelo ms cercano al de la interseccionalidad. La categora interseccionalidad puede ser entendida de mltiples maneras. Para este caso abordo algunos comentarios pensando en dos posibles entradas: una terica y una poltica, consciente de que esas dimensiones no necesariamente estn separadas en la vida pblica.
1.1. Interseccionalidad como herramienta analtica

En el caso colombiano, el trabajo de Mara Viveros (2002, 2006) es una referencia en este tipo de aproximaciones analticas. Su trabajo nos da, al menos, tres pistas fundamentales que nos sirven de punto de partida para entender las relaciones entre formas de desigualdad social: 1) que el sexismo, el racismo y el clasismo tienen algunos dispositivos comunes de funcionamiento: la naturalizacin, la racializacin del otro, el uso de la dupla naturaleza-cultura; 2) que estas estructuras sociales se reconstruyen y afectan mutuamente, y 3) que no es posible comprender gnero y sexualidad en Colombia sin la dimensin tnico-racial. En orientaciones tericas contemporneas un enfoque como ste puede parecer obvio, sin embargo, en la historia de las ciencias sociales, al menos en el caso colombiano, los estudiosos de las desigualdades de clase, por ejemplo, poca o ninguna vez se interesaron por la relacin entre la distribucin desigualdad de la riqueza y de las tensiones de clase con otros rdenes de poder, adems con el supuesto an predominante de que la clase es el principal elemento de distribucin del poder y de los recursos. Es importante entender que cuando hablamos de interseccionalidad entre gnero, raza, clase, sexualidad etc. estamos hablando de varias modalidades de relacin, que no son siempre las mismas, que sus combinaciones no son infinitas y, en ese sentido, metodolgicamente implica hacer evidente el tipo de relacin que quiero estudiar y describir. Y esa aproximacin metodolgica se puede hacer en varios niveles: en un primer nivel, podemos estar interesados en saber la manera en que se expresan cada una de estas categoras en un problema, y eso lo podemos responder de manera separada. En un segundo nivel, podemos explorar las relaciones entre categoras y el modo en que interactan unas con otras. En un tercer nivel, estaremos atentos a las modalidades de las relaciones entre categoras, que no son siempre intersecciones: esta categora A se parece a B, es un tipo de relacin, A + B = AB (esto ms esto produce esto otro nuevo) es otro tipo de relacin, A en lugar de B (hablar de la raza con los materiales del gnero, por ejemplo) etc. Podemos, en ese sentido, estar atentos a las categoras presentes, al tipo de relaciones que se dan en un problema social especfico y al momento cuando es conveniente privilegiar una categora sobre otras o separar analticamente (Gil, 2008).
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En ese sentido, no es suficiente anunciar que vamos hacer una lectura de gnero, raza, clase, sexualidad etc., sino que es necesario plantear un marco comprensivo que indague sobre las modalidades de relacin, y no necesariamente proponer de antemano el tipo de relacin antes de estudiar el problema, o suponer que hay relacin siempre de la misma manera. Hay entonces formas diversas de entender esas relaciones entre categoras. Veamos algunas posibles relaciones: a) Doble (o mltiple) discriminacin: como lo plantearon las feministas negras en relacin con gnero y raza (ngela Davis, Bell Hooks, Patricia Hill Collins), es posible identificar en un sujeto varias posiciones de subordinacin, las cuales son contextuales. stas no estn necesariamente relacionadas, y como deca alguno de nuestros interlocutores en el marco de una investigacin4 una cosa es ser negro y otra cosa es ser marica (Gil, 2008) o como propuso Gayle Rubin (1989), en este caso desde la una perspectiva analtica, el gnero y la sexualidad a veces demandan herramientas analticas que las aborden como dimensiones separadas. b) Efecto acumulativo: sin embargo, como lo expresan tambin las feministas negras, estas posiciones de subordinacin generan un efecto acumulativo de atributos estigmatizantes que por un efecto de suma ponen a estos sujetos en una posicin ms dominada: ser mujer, ser mujer-negra, ser mujer-negra-lesbiana, ser mujer-negra-lesbiana-pobre Este efecto acumulativo tambin puede darse de manera positiva. Cuando se contrarrestan atributos negativos con capitales culturales y econmicos. Es decir, algunos sujetos, por ejemplo, tienen ms recursos para no ser discriminados o para tomar medidas en contra de la discriminacin: un capital cultural alto, una determinada posicin de clase o una identidad de gnero masculina, estar vinculado o no a redes o movimientos polticos. La clase social puede hacer, por ejemplo, ms aceptable la diferencia sexual o, de otro lado, como lo plantea Daz la clase social puede diluir el color (2005:16). c) Sexualidad, gnero o sexo como metforas raciales: como lo plantea, por ejemplo, Elsa Dorlin (2006), para hablar de la genealoga sexual y colonial de la nacin francesa, en la que la raza se ha construido con base en la diferencia sexual. Histricamente, a nivel local y global, tanto las producciones cientficas como el sentido comn han recurrido a operaciones lgicas como: A es igual a B, A en lugar de B, A metfora de B (donde A es sexualidad o gnero y B es raza o clase).
Investigacin Ciudadana racial, ciudadana sexual realizada conjuntamente con Samantha Palacios (activista travesti) en el ao 2005. Ver Gil, 2008.
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Esta cuestin hace referencia a la manera en que los atributos raciales feminizados se han usado en los procesos de subalternizacin: la lubricidad de las mujeres puede ser convertida en la lubricidad de los hombres negros o en la promiscuidad de los homosexuales, por ejemplo. Alude tambin a la manera en que la sexualidad o el gnero han servido de relatos histrico-ideolgicos para construir las diferencias raciales. As mismo, la manera en que la racializacin ha sido un modelo de dominacin, donde un grupo minoritario basado en una diferencia sexual, poltica o religiosa, puede ser descrito como un grupo racial subordinado, es decir, sin diferencias individuales, moralmente inferior, genticamente corrompido, tendiente a lo imperfecto, naturalmente violento o ignorante, extremamente emotivo, poco racional, intuitivo, incapaz de regirse a s mismo adjetivos que han servido para describir a varias minoras en diversos momentos histricos. Finalmente, esta cuestin de la interseccionalidad puede ir ms all, en el sentido no slo de que las categoras tengan la posibilidad de cruzarse en algunos individuos y experiencias sociales, sino tambin como premisa terica en el entendido de que los atributos de gnero siempre estn racializados y viceversa, que una orientacin sexual no est desclasada y viceversa. Luz Gabriela Arango expone la complejidad de estas relaciones:
Las interrelaciones entre los sistemas de clase, raza y gnero son complejas y variables. La posicin en el orden de gnero y en el orden racial no es dicotmica: las personas concretas no se definen por el rtulo simple y unvoco de hombre o mujer, blanco o negro. Opera ms bien un continuo de posiciones que se modifican de acuerdo con la situacin y las relaciones que se involucran. La marca del gnero y la raza, aparentemente corporal y evidente, depende de esquemas de clasificacin que no slo interpretan el tono de piel en la gama de color o los atributos fsicos sexuales, sino que manejan un conjunto de propiedades enclasadas y enclasantes que incluyen el cuerpo externo (vestido, peinado, maquillaje) y la hexis corporal (modales, tono de voz, postura). De este modo, la clasificacin de una persona en el orden racial y en el orden de gnero depender de las relaciones que definen su posicin en un momento dado y en un espacio o campo determinado y se modifican en el tiempo y en el espacio (2006:37).

1.2. Interseccionalidad poltica. Tensiones entre desigualdades sociales y agendas polticas

La tensin entre derechos de las mujeres y culturas locales, as como la tensin entre feminismos y otras causas polticas como el antirracismo, la defensa de la diferencia tnica y la autonoma poltica de los grupos culturales minoritarios, se expresan de diversas formas. Algunos debates sobre sexualidad en Colombia expresan
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estas tensiones como fue el caso del ltimo debate en relacin con el aborto y el recurrente uso que se hizo del argumento del feminismo como una ideologa invasiva, intervencionista e imperialista que atentaba directamente contra valores culturales propios relacionados con los roles de las mujeres, con los modelos familiares y con definiciones ticas y metafsicas en relacin con el valor de la vida humana, o el debate entre los derechos de autonoma y diferencia cultural y los derechos sexuales y de salud de las mujeres en relacin con el caso de las mutilaciones genitales femeninas5 entre el grupo tnico Ember-Cham en el Departamento de Risaralda6 (Gil, 2009a). A continuacin miraremos como Kimberl Williams Crenshaw, promotora de la categora abordada, analiza las tensiones entre antirracismo y feminismo en su trabajo sobre la violencia contra las mujeres de color en los Estados Unidos, y como algunas de las reflexiones que hace sobre esas tensiones pueden ser tiles para entender los debates colombianos mencionados7. Crenshaw (1994), hablando de la violencia domstica contra las mujeres de color8 en los Estados Unidos, muestra los dilemas de politizar las cuestiones de gnero en los grupos minoritarios9. El caso especfico de la politizacin de estas violencias hizo emerger la resistencia de los movimientos antirracistas a la denuncia de la violencia contra las mujeres, tanto dentro como fuera del grupo minoritario. Esa denuncia feminista ha sido vista como un elemento que divide la causa racial (adentro), de la misma manera que visibilizar la violencia contra las mujeres negras es reafirmar los estereotipos estigmatizantes construidos sobre las comunidades negras (hacia fuera), en el entendido que sus modelos represivos de gnero demostraran precisamente su primitivismo y su inferioridad moral. Crenshaw (op. cit.) al captar esta tensin, subraya que, a pesar de los temores de los lderes antirracistas, visibilizar esta violencia no significa ni banalizar el racismo exgeno, ni sus relaciones con esa misma violencia interna. Esa relacin entre el
Un nombre genrico que rene diversas prcticas de intervencin en los genitales femeninos para controlar la sexualidad de las mujeres como la clitoridectoma, la escisin, la infibulacin, cortes, raspados y cauterizaciones genitales (Cook, 2003).
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Ms detalle sobre esa tensin sobre derechos de las mujeres, diferencias culturales y colonialismo en: Moller Okin, Susan (2007) Diritti delle donne e multiculturalismo. Raffaello Cortina Editore. Miln. y en Gil, Franklin (2009a) Relativismo cultural, diferencia colonial y derechos de las mujeres. Quinto Observatorio Sociopoltico y Cultural: Conocimiento cientfico, tica y poltica: nuevos retos para Latinoamrica y el Caribe. Coloquio: El gnero una categora til para las ciencias sociales? Saln Oval. Edificio de Posgrados, Facultad de Ciencias Humanas, Universidad Nacional de Colombia. Bogot D.C. Abril 19 -20 de 2006.
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Teniendo siempre presente que se trata de dos contextos diferentes y con historias raciales particulares.

Aunque el trabajo de Crenshaw se refiere a mujeres de color, es decir, no slo a las mujeres negras, sino tambin a otras mujeres migrantes y mujeres de grupos racializados, aqu tomar en consideracin especficamente lo que se refiera a las mujeres negras. Cuando me refiero a grupos minoritarios hago alusin al lugar que ocupan los grupos sociales en la estructura de poder y no a una cuestin numrica.
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racismo y la violencia contra las mujeres no es directa ni sencilla, precisamente Crenshaw explica:
Hay tambin una tendencia general al interior del discurso antirracista de considerar el problema de la violencia contra las mujeres de color slo como otra manifestacin del racismo (como una consecuencia). Si bien es bastante probable que el racismo contribuya al ciclo de la violencia, dado el estrs que los hombres de color experimentan en la sociedad dominante [] la cadena de la violencia es ms compleja y se extiende ms all de este lazo particular (p. 107)10.

Como lo expone Crenshaw, si se pone la cuestin racial por encima al analizar la violencia contra las mujeres negras se supondra que extirpando la diferencia de poder entre hombres de color y hombres blancos el problema ser solucionado (ibd.), cuestin que no es probable; a esto habra que agregar que los hombres blancos tambin golpean a las mujeres. Podemos entender estos silencios de los movimientos y grupos sociales frente a algunos temas cuando est presente el grave problema del racismo o cuando estn presentes cuestiones que amenazan la existencia misma de los grupos, como la propiedad comunitaria sobre la tierra o el acceso al trabajo. Precisamente, los grupos minoritarios concentran sus esfuerzos en estos problemas que consideran mayores y aplazan otras cuestiones de poder internas, que generalmente no sern abordadas, como sucede con la cuestin de la violencia poltica en Colombia que aplaza y absorbe todas las dems agendas pblicas. El reto est precisamente en mirar de manera compleja los diferentes elementos presentes sin jerarquizarlos a priori o de poner a competir causas polticas y vctimas entre s. En el caso analizado por Crenshaw sera hablar de violencia contra las mujeres de color sin reforzar los estereotipos racistas y clasistas que suelen construirse en relacin con el tema de la violencia domstica. As en el caso latinoamericano, no podemos olvidar que aunque an existen fuertes desigualdades de gnero, como lo explica Mara Viveros (2006), esto que llamamos machismo es tambin una representacin racializada de las masculinidades de los grupos subalternos (de los hombres negros, de los hombres campesinos, de los hombres de sectores populares, de los hombres de sociedades tradicionales), sin que esto signifique decir que no exista dominacin masculina en esos grupos sociales. En el debate citado, sobre las mutilaciones genitales femeninas, este esquema nos invitara a pensar al tiempo tanto las posibles relaciones de dominacin masculina en los grupos tnicos (adems porque las mujeres de eso grupos tambin lo han pensado), como las posibles relaciones colonialistas que se dan cuando si imponen

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Traduccin ma, como lo sern en adelante las dems citas de Crenshaw.


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ciertos discursos de salud y de derechos humanos11 que se presentan como universales y ms deseables, como si las sociedades occidentales hubieran ya resuelto las inequidades de gnero. Volviendo al caso estudiado por Crenshaw, su esquema de anlisis nos invita a pensar las relaciones o interseccin entre categoras, al tiempo de pensar tambin cierta independencia analtica temporal. En el problema por ella estudiado entonces nos invita a pensar a los hombres negros como hombres, como negros, y como hombres-negros, as mismo las mujeres. El ejercicio a primera vista contradictorio se resume en esta frase popularizada en los espacios de las feministas negras: olvdate de que soy negra, pero no te olvides de que soy negra12. Esta frase tiene la intencin de librarse del esencialismo y la racializacin, hablando al tiempo desde un lugar marcado y a la vez universal, pero propone tambin que aunque ninguna posicin (de clase, racial, sexual, de gnero) es la totalidad de la experiencia social de un sujeto o sujeta, todas esas posiciones son importantes. Entre la agenda antirracista y la de las minoras sexuales hay otras tensiones. Como lo han comentado algunos investigadores, el rechazo de la homosexualidad en el mundo poltico negro se basa muchas veces en la identificacin de sta como un elemento blanco, forneo, en todo caso algo extrao a la cultura negra, la idea de que la homosexualidad es cosa de blanco, inconcebible para el negro, inaceptable para los negros (Cerqueira, 2005). Como lo plantea Daz, tambin, para el caso de Brasil:
Varios acadmicos y militantes describieron los radicalismos e intolerancias de los movimientos sociales quienes opinan que la homosexualidad no existe dentro de los valores del ser negro (vase Monteiro, 1983; McRae, 1990, citado en Daz, 2005). Para ellos [] hasta para respetados valores intelectuales de aquellos movimientos, la homosexualidad es una depravacin tpica del blanco que contamin uno u otro negro sin vergenza aculturado existente por ah (Monteiro, 1983:118 citado en Daz, 2005:11).

Para responder a ese conflicto, algunos activistas de minoras sexuales, especialmente hombres, han recurrido a la estrategia de demostrar que la homosexualidad forma parte del propio legado cultural africano (Cerqueira, 2007). sta es una alternativa esencialista muy problemtica que adems contribuye a esencializar la sexualidad y a tratar de resolver la cuestin de la diferencia sexual al amparo de
El libro de Angela Davis, Mujeres, Raza y Clase (2004) tiene una captulo en el que argumenta que los derechos a la anticoncepcin y el aborto mismo, ni como hecho ni como derecho, tienen el mismo sentido para las mujeres pobres, o para las mujeres educadas de clases medias, o para las mujeres de los grupos racializados que fueron objeto de intervenciones eugensicas. Ver Gil 2009a.
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Tomado de la conferencia de Ochy Curiel en el debate sobre los encuentros feministas latinoamericanos y del Caribe, 11 de mayo de 2009, Universidad Nacional de Colombia.
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una diferencia ms aceptada: la tnica. De esa forma no se cuestiona la estructura particular de subordinacin y se fundamenta el derecho y la justicia social en la Tradicin, en lugar de ubicarla como un campo de debate social. Otras alternativas proponen crear alianzas entre los dominados, luchando contra todas las formas de discriminacin. Es un camino menos frecuente y difcil en la prctica, ya que se enfrenta a difciles negociaciones entre agendas polticas y a jerarquizaciones entre causas polticas y entre vctimas. Finalmente, est la doble militancia, que en muchos casos, se resuelve de la siguiente manera: cuando las personas tienen dobles militancias tienen que luchar continuamente en dos espacios polticos diferentes, casi siempre infructuosamente, hasta decidir formar su grupo de mujeres negras, su grupo de mujeres lesbianas, su grupo de homosexuales negros. Esto no para decir que esas opciones de diferencia no sean legtimas, sino como un indicativo de la manera en que se resuelve esta cuestin de las diferencias en el contexto multicultural: cada uno tiene su espacio diferente en el mundo, sobre todo cuando se ha renunciado a que este mundo sea diferente, a que cambie. Estas dos ltimas propuestas incluyen el aprovechamiento de una conciencia situada, cuestin que ha sido fundamental en el desarrollo de teoras y postulados polticos para hablar de la cuestin de la interseccionalidad entre desigualdades sociales y de la puesta en marcha de luchas combinadas antirracistas, feministas y sexuales. En ese sentido podemos decir, como lo refiere Patricia Hill Collins (2000) en el caso del feminismo, que es posible identificar algn tipo de conciencia y experiencia particular que permita una lectura diferente del feminismo, relacionada con la experiencia doble de opresin, de gnero y racial, cuestin que no es automtica. Al respecto, Collins explica que es necesario
renunciar a una visin materialista y determinista que suponga un tipo de experiencia y conciencia automtica por el hecho de ser mujer y ser negra, pero tambin evitar una posicin idealista que lo considere un pensamiento aislado de la poblacin donde nace y que adems ignore un ngulo crtico que puede ser fruto de una historia particular y una ubicacin social particular que produzca un tipo de experiencia histrica (Collins, 2000).

Precisamente, esta experiencia compartida de las mujeres negras no se basa en un determinismo biolgico o cultural, sino que es un resultado histrico y social: todas las mujeres afroamericanas comparten la experiencia comn de ser mujeres negras en una sociedad sexista y racista (Collins, 2000). Podramos decir algo similar de otros sujetos subalternizados:
Las experiencias, en este caso de racismo, o de violencia sexual, o de sexismo o de acoso sexual o de falta de oportunidades o de maltrato o de nominaciones degradantes, las cuales pueden ser observadas en parientes, en amigos, en vecinos o en uno mismo
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pueden generar una serie de preguntas y de reflexiones, de conciencia, de darse cuenta de lo que pasa a su alrededor y de hacer algo al respecto (Collins, 2000).

La cuestin est en buscar el potencial poltico de esas experiencias. Es, en palabras de Crenshaw (Op. cit.), convertir algo ntimo en pblico, premisa que ha sido fundamental en los movimientos feministas (Gil, 2008). 2. Polticas sexuales y gobierno de las diferencias A este punto, entendemos que la interseccionalidad es entonces una manera tanto de analizar las desigualdades sociales como de movilizarse polticamente, es entonces una manera de entender las diferencias. Considerada as, aunque empieza a ser un modelo utilizado directa o indirectamente por funcionarios pblicos y activistas, la interseccionalidad no es una categora citada en los documentos de polticas pblicas para entender las diferencias y las desigualdades en Colombia. Es importante considerar que la interseccionalidad, como otras categoras crticas, tiene adems lmites prcticos muy grandes. Como lo refieren Pecheny y De la Dehesa (2009) hay modelos comprensivos de la sexualidad, y de otros mbitos sociales, ms emancipatorios, pero menos prcticos para ser puestos en marcha como polticas pblicas o como agenda poltica por los movimientos sociales. Es el ejercicio frustrante al que se enfrentan algunos investigadores que tambin hacen intervencin social o hacen consultoras para el Estado o Agencias Internacionales, a la hora de aplicar marcos menos normativos que son considerados intiles para los tecncratas e ineficientes para cumplir las metas de los proyectos de intervencin. Si no es la interseccionalidad el marco comprensivo de las diferencias cul es? Si revisamos tanto la puesta en marcha como la formulacin de polticas pblicas en una ciudad como Bogot, podemos identificar cmo se administran las diferencias y como han utilizado a su acomodo y a medias esa comprensin de las diferencias. Cabe decir que los Estados en los ltimos aos han tenido una fuerte capacidad de absorber discursos crticos de los movimientos sociales y de la academia. Nos han quitado nuestras palabras de lucha es una frase que podran emitir las y los militantes de varios movimientos sociales, como reflejo de la captacin, despolitizacin e institucionalizacin de algunas agendas sociales, como la de gnero por ejemplo. Hay un modelo predominante usado para administrar las diferencias en Bogot: el modelo poblacional. Este modelo es resultado de dos influencias: una marcada por las organizaciones y movimientos sociales y otra influencia del modelo tnico-esencialista.
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La primera influencia est relacionada con el hecho de que las polticas pblicas en Bogot desde los ltimos gobiernos locales, han tenido una importante inclusin de los movimientos sociales en la formulacin de acciones pblicas y polticas sociales. Cuestin iniciada por gobiernos de movimientos cvicos que llegaron al poder y profundizada por los dos ltimos gobiernos de izquierda13, cuyo partido poltico, el Polo Democrtico Alternativo, tambin se ha organizado interiormente en sectores sociales. En ese modelo, la ciudad ha organizado sus polticas sociales en grupos poblacionales: niez, adulto mayor, afrodescendientes, indgenas, rom, mujeres, discapacitados, habitantes de calle, jvenes y LGBT, entre otros. Varios de ellos ya con polticas pblicas en desarrollo y otras aprobadas oficialmente como la de mujer y gneros (2003) la de discapacidad (2007) y la de las personas LGBT (2007 y 2009)14, algunas, como la de afrodescendientes, estn en desarrollo aunque no hayan sido sancionados con decretos o acuerdos y otras atraviesan proceso de construccin como la de adultez y la de familia. Es difcil hacer aqu un balance de los alcances de esta manera de administra las diferencias15. Particularmente considero que ha contribuido a una democratizacin importante de la ciudad, a la inclusin de sectores subordinados y al fortalecimiento de la participacin ciudadana. Sin embargo, quiero resaltar algunos problemas de ese modelo en su tarea de administrar la diferencia, centrado en lo que podemos llamar un modelo tnico-esencialista. Si bien como deca, esa orientacin poblacional ha redundado en ampliacin de ciudadana, tambin deja consecuencias en la manera de representar esos grupos poblacionales: en los dos sentidos de hacerse una imagen de ellos y de organizarse para hablar en nombre de ellos. Algunas veces, da la impresin de que todas las diferencias van para el saco comn de los otros, y hay un consenso polticamente correcto que impone nombrar todas diferencias posibles sin que esto signifique un cambio en las representaciones sobre esas minoras ni una necesaria reduccin de su exclusin y su discriminacin. As, en el Plan de Igualdad de Oportunidades de la poltica pblica de Mujer y Gneros de Bogot podemos encontrar esta formulacin reiterada en todas sus metas y propuestas, aunque no haya acciones concretas a tal propsito, al menos en el documento de formulacin:
mujeres negras, afrodescendientes, indgenas, raizales, rom, segn su edad, culturas, orientacin sexual y condicin biopsicofsica, socioeconmica, situacin de
Con antecedentes en las administracin de Antanas Mockus (2001-2003) y profundizado con las administraciones de izquierda de Luis Eduardo Garzn (2004 2007) y la actual de Samuel Moreno (2008-2011).
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La poltica pblica LGBT se sancion mediante el Decreto 608 del 28 de diciembre de 2007 y posteriormente se aprob en el Concejo de Bogot, despus de mltiples fracasos, a travs del Acuerdo N 371 del 1 de abril de 2009.
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Cuestin que amerita una investigacin profunda que est an por hacer.
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desplazamiento, reinsercin y desmovilizacin, procedencia rural y urbana, especficamente en temas relacionados con la salud mental, VIH/SIDA, seguridad laboral y autocuidado.

Quiz la dinmica de los movimientos de mujeres y la poltica pblica misma son las expresiones sociales que ms incluyen otras diferencias, cuestin concretada en el Consejo Consultivo de mujeres y en la Mesa Diversa de Mujeres. De todas maneras, encontramos en sta y en las dems polticas que hacen este listado de diferencias pocos indicios de cmo se ha puesto en la prctica a relacionar esas diferencias exceptuando la lgica de competencia entre diferencias mencionada por Pecheny y De la Dehesa (2009). Cuando hablo de un modelo tnico-esencialista, hago alusin a un dato ms general de la historia de Colombia, en el entendido de que el modelo de la diferencia institucionalizado por excelencia estuvo referido a los pueblos indgenas16. Ese modelo tnico indgena, trado ms o menos de la etnologa, no slo ha servido para administrar la diferencia racial de las poblaciones negras, sino la de los otros sectores sociales. As por ejemplo tanto las personas discapacitadas, como la poblacin LGBT son descritas e intervenidas como etnias, es decir, como grupos con una cosmovisin propia, con unos valores, un legado histrico y una cultura. Para referir un caso ilustrativo, a principios del 2006 fui invitado por una institucin del Distrito a una reunin con el objetivo de generar una estrategia para hacer dinmicas integradas de esos sectores poblacionales. La funcionaria que estaba al frente de la reunin se dirigi de esta manera a unos lderes del sector LGBT: Ustedes que son tan alegres y pacficos pueden aportar algo muy importante a este proceso sobre todo por los conflictos que hay entre algunos sectores sociales. Me pregunto qu consecuencias tiene que desde el Estado se piense as estas poblaciones? por qu varios lderes de las minoras sexuales tambin se presenten y se describen as? por qu se ha instaurado eso modelo? En el siguiente ttulo espero explorar esas preguntas. Cabe decir, que ese modelo local de entender las diferencias de las minoras sexuales contrasta con el modelo a nivel nacional. En el nivel nacional se expresa ms un modelo de tipo integracionista, expresado en la nica poltica pblica nacional17: la sancin de los derechos de las parejas del mismo sexo18. Pareciera que
Es un debate que han trado varios estudiosos en relacin con el reconocimiento tnico de los afrocolombianos (Cunin, 2004; Wade, 1996; Urrea, 2004).
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Entendiendo poltica pblica en uno de los sentidos expuesto por Pecheny y de la Dehesa: como acciones que contribuyen a la definicin y contenidos de la ciudadana (Lefort 1986; Jeln 1996), de los asuntos y sujetos considerados como susceptibles o dignos de la accin del estado y la deliberacin pblica (2009:1).
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El 28 de enero de 2009 la Corte Constitucional de Colombia (Sentencia C-029/09), fall a favor de la homologacin de derechos y deberes de parejas homosexuales y heterosexuales, exceptuando la adopcin, aunque cursa en el momento una demanda de inconstitucionalidad sobre el tema de adopcin.
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las minoras sexuales a nivel local son diferentes y a nivel nacional son iguales. En ese sentido, la defensa de las parejas del mismo sexo menos que ser una defensa de la diversidad de relaciones de parentesco, fuera una forma de demostrar la capacidad de una minora sexual para encarnar el modelo normativo (Gil, 2009). Ni hablemos de la posibilidad de discutir sobre la multiplicidad de otras expresiones sexuales emancipatorias. Eso modelo nacional integracionista es coherente con el desbalance de la agenda LGBT, comprando los avances de los derechos de las parejas, en comparacin con lo poco que se ha logrado en el tema de crmenes por prejuicio sexual, violencia contra las travestis y cobertura del sistema de salud para las personas transexuales e intersexuales. 3. Movimiento LGBT e interaccin con el Estado La experiencia de Bogot, especialmente con un gobierno favorable a los derechos de las personas LGBT, permite ver los resultados de un esfuerzo conjunto Movimiento LGBT-Estado, cristalizado en una poltica pblica, lo cual ha sido un logro fundamental. Sin embargo, tambin este proceso invita a hacer una reflexin sobre los lmites de esas relaciones Estado-Movimiento social LGBT y las consecuencias en la forma como se entienden las diferencias. Las prcticas polticas del sector LGBT vienen cambiando, especialmente en su relacin con el Estado, cuestin que implica tambin cambios en la manera como se construyen como diferentes, y como el Estado los construye como otros o como los mismos. Esto es un fenmeno comn a otros movimientos sociales, que vienen transitando hace ya unos aos de una dinmica de confrontacin con el Estado a una de tipo integracionista con varias expresiones: varios activistas del sector LGBT, ahora vinculados a partidos polticos, se lanzan a candidaturas de eleccin popular; otros han sido contratados como funcionarios pblicos y como consultores para el desarrollo de polticas pblicas; de otro lado, hay organizaciones LGBT que se han cualificado fuertemente en experticias, como es el caso del litigio de alto impacto, las acciones constitucionales y un lugar ms protagnico en los proyectos de Ley de parejas del mismo sexo. Actualmente, en Bogot existen alrededor de 40 organizaciones19: 3 redes o coaliciones, 4 de mujeres lesbianas y bisexuales, 2 de personas bisexuales, 3 de personas transgeneristas, 6 mixtos, 2 mams lesbianas y de familiares de personas LGBT, 4 iniciativas productivas de mujeres, 4 de jvenes, 5 de universitarios, 6 proyectos comunicativos y artsticos y 1 grupo deportivo. A esto habramos que
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Datos tomados del Directorio de organizaciones LGBT 2008. IDPAC Alcalda Mayor de Bogot D.C.
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agregar colectivos no incluidos en las listas oficiales y otros colectivos sexuales que no se sienten recogidos en la sombrilla LGBT20. Y cul es el panorama de ese activismo en relacin con las formas de concebir las diferencias? y cmo se manifiestan las diferencias en ese sector social? antes de responder es necesario describir rpidamente el estado actual del Movimiento LGBT en la ciudad que podramos caracterizar en dos cuestiones: un momento formativo y un conflicto generacional. Ambas cosas muy relacionadas entre s. El momento formativo se refiere 1) al surgimiento de nuevas expresiones polticas que antes no estaban en juego: los y las bisexuales, los y las queer y las y los jvenes y los grupos vinculados a partidos polticos21. 2) No hay un proceso cohesionado de construccin de agenda poltica, dndose una mayor dispersin y segmentacin. 3) Una centralidad de las acciones en cuestiones identitarias. El conflicto generacional hace alusin a: 1) que el punto de la agenda ms notorio, por no decir el nico: los derechos de las parejas del mismo sexo, comienza a agotarse, 2) Una desconexin entre los viejos y los nuevos activistas: los nuevos no quisieron aprender de los viejos y piensan que la historia arranc con ellos. Los viejos no renovaron sus discursos y son poco permeables a nuevas agendas y discursos sobre la sexualidad. Esa es una cuestin que amerita ser profundizada, pero en ese ocasin menciono algunos aspectos de la nueva generacin de activistas, porque considero que hay en ellas varias expresiones que son consecuencia de la manera como el Estado ha administrado las diferencias sexuales. Cabe resaltar de la generacin ms nueva dos importantes elementos de su discurso: la denuncia de la endodiscriminacin y la proliferacin de identidades. stas, en mi opinin, han sido un efecto de la exposicin a cierta forma de concebir la diferencia por las polticas pblicas y los discursos expertos. Al contrario de lo que pasa con la poltica pblica de Mujer y Gneros que menciona el listado de diferencias entre mujeres, la formulacin estatal y experta de la diversidad sexual ha logrado crear una diversidad inconmensurable a su interior: de lesbianas, gays, bisexuales, transgeneristas, travestis, transexuales, intersexuales, queer, bisexuales, heteroflexibles, bicuriosos, etc. Y en la que no hay ninguna reflexin sobre cuestiones raciales o de clase. Podramos pensar que esa proliferacin de categoras fuera la expresin de una multitud sexual que horada el orden dominante (Preciado, 2003), o una oportunidad, que comparto, de denunciar una serie de relaciones de dominacin al interior del movimiento LGBT entre hombres y mujeres; entre hombres y mujeres en relacin con las personas
En otras ciudades podemos contar unas 14 en Cali, 7 en Medelln, 3 Manizales, 2 Bucaramanga, 1 Pasto, 1 Pereira <http://www.guiagaycolombia.com/grupos/index.htm>.
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En el pasado ha habido activistas al interior de Partidos Polticos, pero en dimensin y significados la relacin del movimiento LGBT con un partido como el Polo Democrtico Alternativo es una situacin nueva.
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trans; entre asumidos y politizados y los superficiales de bares y saunas; entre la clase media pro-matrimonio y las pocas expresiones sadomasoquistas, pansexualistas y hedonistas. Sin embargo, esa expresin de diversidad se resuelve ms como: Un intento de controlar esas expresiones a travs del inventario y el nombramiento, con el objetivo de aumentar el radio de accin de control sobre los cuerpos hasta las fisuras menos accesibles. Una forma de debilitar y fragmentar un sujeto poltico ya de entrada dbil. Incluida la posibilidad de alianzas con otras minoras. Si ni siquiera se puede hacer una agenda conjunta entre minoras sexuales cmo hacer una agenda conjunta con minoras raciales? Finalmente la insistencia en la endodiscriminacin, acaso no es una forma de confortar la imposibilidad de cambiar el orden sexual general, reducindolo a problemas intracomunitarios?22 Como lo refieren Pecheny y De la Dehesa (2009) es una lgica que pone a los sujetos en una competencia entre minoras para demostrar quienes son las vctimas ms honorables. El caso del discurso victimista del emergente movimiento bisexual en Bogot es un ejemplo de esa forma de reivindicacin identitaria: construyndose como los ms excluidos, tanto por heterosexuales como por homosexuales, a quienes han agrupado en la categora de monosexuales. Categoras como endodiscriminacin y autoexclusin se unen a un panorama interpretativo que empieza a ser predominante, el cual responsabiliza a los sujetos minoritarios de su situacin, individualiza los problemas de discriminacin, desresponsabiliza al Estado como garante de derechos y profundiza la lgica privada. 4. Posibilidades de interseccionalidad poltica Ya puse diversos ejemplos de administracin de diferencias que no recurren a la interseccionalidad. En este ltimo apartado reseo algunas expresiones posibles de esa interseccionalidad.
Una cosa es ver el papel de los sujetos subordinados en la reproduccin de la subordinacin de la que son objeto, otra cosa es hablar de endodiscriminacin como un problema en s mismo. Lo que llamamos endodiscriminacin en las comunidades sexuales no responde a un fenmeno particular de esas comunidades. Los sujetos de las minoras sexuales hacen parte de universos sociales ms amplios que en nuestro caso son sexistas y clasistas. Si sopesamos los problemas que genera esta llamada endodiscriminacin frente a un problema social y cultural ms amplio nos damos cuenta que la violencia mayor que se ejerce sobre las minoras sexuales se hace desde instituciones, personas y prcticas sociales que defienden la heteronormatividad y no de los propios sujetos minoritarios. En todo caso, por ejemplo, el rechazo de los machos gays hacia las locas, no es otra cosa que una consecuencia de un sexismo y una misoginia ms general en el que lo femenino es igualmente devaluado, no es un fenmeno original, particular de los espacios de homosocializacin.
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Quiz el nico proceso institucional que ha hecho un trabajo interesante sobre alianzas estratgicas entre agendas de diferentes minoras ha sido el proceso de construccin del proyecto de Ley estatutaria de igualdad y no discriminacin, liderado por la Defensora del Pueblo23. El objetivo de ese proyecto es
desarrollar el derecho constitucional fundamental de igualdad, con el fin de promover las condiciones para que la igualdad sea real y efectiva; prevenir, eliminar y sancionar toda forma de discriminacin y adoptar medidas a favor de grupos discriminados por razones de raza, color, origen familiar, sexo, religin, edad, nacionalidad, opiniones polticas o de otra ndole, identidad de gnero, idioma, orientacin sexual, discapacidad, condicin econmica, social y, en general, por otras causas o condiciones (Defensora del Pueblo, 2006).

En este proceso se han hecho grupos de trabajo de discusin sobre la discriminacin (tema dbil y a veces ausente en el modelo de polticas poblacionales ya descrito) con organizaciones indgenas, afros, discapacitados, minoras sexuales, mujeres, desplazados, etc. Lamentablemente, este proceso, iniciado en el ao 2004, no ha podido ser presentado al Congreso de la Repblica debido a diversos obstculos de orden burocrtico, pero tambin a la dificultad de poner el tema de la discriminacin en el debate pblico en un pas que se supone igualitario de antemano. La negacin del racismo como problema para una sociedad mestiza y la forma como se ha entendido las acciones afirmativas: como formas de privilegiar algunos sectores sociales, hacen parte de ese panorama: as se han entendido las cuotas polticas para las mujeres y las personas negras y los derechos de las parejas del mismo sexo. Adems de esas formas institucionalizadas de administrar diferencias, podemos ver como se manifiestan alianzas e intersecciones polticas de maneras menos oficiales pero ms interesantes que muestran la posibilidad de entender la diferencia de otras formas. En la ltima marcha de la ciudadana LGBT 2009 de Bogot podemos encontrar pancartas como stas que no corresponden a la voz ms oficial de la Marcha:

Fotos de la Marcha de la Ciudadana LGBT de Bogot 2009. Archivo Personal.


La Defensora del Pueblo es una institucin del Estado colombiano, creada en la reforma constitucional de 1991, responsable de promocionar, divulgar y proteger los derechos humanos y el derecho internacional humanitario.
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Una de ellas alude a la posibilidad de pensar una propuesta integral de lucha contra diferentes exclusiones. La otra alude a una apuesta por una diferencia si se quiere ms universalista en la que no sobresale ni el victimismo ni la estrategia de superioridad moral a veces usada en los debates sobre minoras sexuales. Otro caso ms concreto de proceso comunitario es el de las personas que ejercen prostitucin en la Localidad de Mrtires, que ha unido, no sin tensiones, a mujeres, travestis y en menor media a hombres que ejercen prostitucin alrededor de una agenda de trabajo para dialogar con el gobierno local en relacin con acceso a salud, seguridad, derechos humanos y participacin en los planes de regulacin de uso del espacio pblico y de la prostitucin en Bogot. La iniciativa se centra ms en un problema compartido que en una reivindicacin identitaria sea ella de gnero o sexual. Finalmente, resalto la intervencin de parlamentarias negras a favor de los derechos patrimoniales de las parejas del mismo sexo en el ltimo proyecto presentado en el Senado al respecto, el 28 de agosto de 2008. Las senadoras Piedad Crdoba y Mara Isabel Urrutia, adems de los argumentos constitucionales que expusieron, insistieron en dos argumentos que las motivaba como ciudadanas a defender ese proyecto de Ley, el hecho de ser mujeres y de pertenecer a una minora racial. Mara Isabel Urrutia, contradiciendo uno de los argumentos manifestado en el debate sobre el posible engao al Estado por parte de parejas que podran hacer pasar por homosexuales, expuso:
En un pas tan machista, en un pas tan clasista, como es Colombia, nadie se va hacer pasar por homosexual o lesbiana para obtener un derecho, porque es condenado desde la familia para afuera y ms tarde aade: Lo digo por el tema que trabajo que es de minoras tnicas. En el Congreso se dice que no existe discriminacin racial, que no existe discriminacin de sexo, y existe, y la Corte Constitucional lo que ha hecho es hacer lo que nosotros no hacemos, por eso apoyo este proyecto y por eso estoy aqu, porque veo que es algo de humanidad, que es lgico que se d, [es un principio de justicial].

Por su parte, Piedad Crdoba, ante el panorama mayoritario de rechazo del proyecto expuso:
No me extraan para nada muchas de las argumentaciones que se dan hoy aqu, porque es una asunto largo y un trayecto largo que muestra las dificultades de la sociedades para transformar los contenidos culturales y sobretodo los pactos por la libertad.

Luego relaciona ese debate con el de aborto (ambos temas movilizados en el Congreso por ella en varias ocasiones):
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Para quienes nos hemos movido en el campo de los derechos civiles y buscando remover de la sociedad lo que impide que haya igualdad [es muy difcil]. En el debate sobre el aborto fue igual, la persecucin religiosa y social para quienes estamos a favor de esos derechos es muy fuerte.

Luego lo relaciona con la discriminacin racial:


Igual me pas con la ley 70 de negritudes, y con propuestas que hay en desarrollo para la igualdad de oportunidades para afrodescendientes () La dificultad con el tema muestra que an no hace parte del pacto societario la igualdad sin importar el color de la piel.

Luego con los derechos de las mujeres:


La tica pblica considera que no debe haber discriminacin de ningn tipo. Por ejemplo las mujeres, la mitad de la poblacin, a pesar de las normas aprobadas en el Congreso (), [basta ver la banalizacin que algunos congresistas hicieron] cuando se abord el tema de la violencia contra las mujeres.

Luego cita su experiencia como sujeta minoritaria:


Quienes la hemos sentido [la discriminacin] por el hecho de ser afrodescendientes, o por el hecho de ser mujeres, o por el hecho tan duro de pensar distinto, entendemos de qu se trata este proyecto. Es muy difcil ser distinto en la prctica cotidiana.

Luego hace un paralelo entre el llamado closet de los homosexuales y la baja declaracin de la pertinencia tnico-racial:
Es que no hay cosa ms dura que estar escondido, de no poder decir pblicamente quien se es []. Es que ser negro es muy verraco24, por qu tan poquitos decimos en el Censo que somos afrodescendientes, es que es espantoso ser afrodescendiente [en este pas].

Finalmente, la Senadora Gloria Ins Ramrez (mestiza), ponente del proyecto, centra su argumento en comparar el estatuto de las personas homosexuales con el estatuto de las mujeres en la historia del pas:
Lo aplicamos a las mujeres tambin, Colombia es una sociedad machista y patriarcal, el problema no es ser diferentes, sea por edad, sexo, religin [] el problema es cuando esa diferencia nos pone en desventaja jurdica como le ocurri a las mujeres: por el hecho de ser mujeres no tuvimos acceso al voto hasta 1957, por ser mujeres nuestra autonoma para manejar nuestro patrimonio fue slo posible

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Expresin local que significa valiente o que pone esfuerzo y empeo en las cosas.
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hasta 1976 y tuvimos acceso a la educacin hasta el ao de 1939, es decir, claramente es una discriminacin que se evidencia en el ordenamiento jurdico y de esto se trata este proyecto de ley en sus trminos fundamentales.

Estas formas argumentativas presentadas en el debate por las tres senadoras estn relacionadas con las experiencias subjetivas de discriminaciones cruzadas explicadas antes a partir de los trabajos de Crenshaw (1994) y Hill Collins (2000) como una herramienta potencial tanto para interpretar la realidad como para la accin poltica. 5. Recopilando Empec explicando la interseccionalidad como un modelo analtico para entender las diferencias, o de manera ms precisa entender las desigualdades sociales, para despus mostrar que las polticas pblicas orientadas a las diferencias sexuales no usan ese modelo, sino uno que he descrito como poblacional y tnico-esencialista. De la descripcin de ambos modelos y de su relacin con algunas dinmicas locales y nacionales se ocup buena parte del escrito. Los ejemplos brevemente descritos en el ltimo apartado muestran en la vida pblica como el potencial de la interseccionalidad poltica empieza a manifestarse y que esas formas hegemnicas de administrar la diferencia tienen fisuras a pesar de su fuerza. Cabe resaltar que esa manera de movilizar las diferencias se da ms por fuera de las polticas pblicas y de una manera an dispersa e incipiente. A pesar de las crticas de las mujeres negras y de las lesbianas en relacin con las falencias de los movimientos feministas y de mujeres de incluir diferencias, siguen siendo en especial las mujeres, sea colectiva o individualmente, las que ms recurren al reconocimiento de otras diferencias y de otras agendas polticas. Esto se ve tanto en el caso de las senadoras como en el ms institucional de la poltica pblica de Mujer y Gneros de Bogot. Queda del lado de las personas que trabajan tericamente en el tema de interseccionalidad entre categoras sociales ofrecer recursos prcticos para aprovechar mejor ese marco lgico, pero tambin de renunciar en muchas ocasiones a la instrumentalizacin de esas apuestas tericas y polticas que precisamente surgen con la idea de erosionar el rgimen de los estados sobre los cuerpos y que proponen formas alternativas de agencia poltica ante el Estado y a veces por fuera del Estado. Cabe preguntarnos tambin por las consecuencias que tienen en la administracin de las diferencias la teora y las categoras que producimos sobre sujetos y sujetas sexuales. Sin restar la importancia que puedan tener las estrategias identitarias, tanto desde el Estado como desde los movimientos sexuales, expresados en polticas pblicas y agencia, quiz el mayor problema de la incorporacin de las reflexiones
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sobre interseccionalidad, radica en que no se entienden las diferencias de la mima manera. Aunque las reflexiones sobre interseccionalidad no abandonan totalmente cuestiones identitarias, su modelo analtico se centra en una reflexin sobre desigualdades sociales y en ese sentido en la combinacin de diferentes rdenes de poder. En el caso de que se incorporen algunas ideas de este modelo: las reflexiones sobre relaciones de poder y desigualdades son convertidas en identidades que se cruzan, que se suman y que se intersectan. Aunque en la vida social casi siempre la diferencia es jerarqua, la lgica dominante de gobierno de las diferencias, en una empresa de reproduccin de esa jerarqua, hace que toda diferencia sea identidad, y slo eso, cuestin que invisibiliza las relaciones de poder y por tanto reduce la posibilidad de que el orden sexual sea puesto en cuestin y por esa va cambiado. Referencias
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Su objetivo verdadero y no declarado era quitarle todo placer al acto sexual. El enemigo no era tanto el amor como el erotismo, dentro del matrimonio y fuera de l. 1984, George Orwell

Introito Quiero comenzar mi intervencin con la lectura de una nota que apareci el 5 de agosto de 2009 en el peridico La Jornada de Oriente:
La Procuradura General de Justicia (PGJ) inici investigaciones sobre una joven de 20 aos que abort. Se trata de las primeras indagatorias de esa naturaleza luego de que el Congreso local aprob en marzo de este ao reformas a la Constitucin estatal para endurecer las penas por la interrupcin voluntaria del embarazo [] Organizaciones no gubernamentales que han luchado por la legalizacin del aborto advirtieron que ha iniciado una persecucin contra las mujeres que ejercen sus derechos reproductivos, y anunciaron que apoyarn legalmente a Alejandra Gmez Snchez, quien est sujeta a la averiguacin previa 61/2009/ EH [] era el primer embarazo de la paciente, quien se provoc el legrado consumiendo varias pastillas de Cytotec, medicamento que sirve para atender problemas del aparato digestivo como gastritis, lceras y agruras, pero que en los ltimos aos se ha popularizado como un frmaco abortivo debido a que aumenta la frecuencia e intensidad de las contracciones de la matriz [] Brahim Zamora, vocero de la asociacin civil Democracia y Sexualidad, declar al respecto: Vamos a darle seguimiento al caso, pues tememos que pase como en Guanajuato, donde algunos sucesos similares han servido como castigos ejemplares para algunas jvenes. Como el [] de una adolescente de 16 aos que fue condenada a 40 aos
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Universidad Autnoma Metropolitana - GESyS (Mxico).

por homicidio al practicarse un aborto, agreg el activista [] El 12 de marzo pasado la mayora de los diputados del PRI y toda la bancada del PAN, junto con el nico diputado del Panal en el Poder Legislativo de Puebla, aprobaron reformas a la Constitucin local que impiden la despenalizacin del aborto y de la eutanasia [] Das antes de la aprobacin se supo que lderes de cmaras empresariales, dirigentes del PAN y hasta el arzobispo Vctor Snchez Espinosa presionaron al gobierno del priista Mario Marn Torres para que endureciera las penas contra las mujeres que abortanEl pasado 15 de julio, asesoradas por la Red Democracia y Sexualidad, 112 mujeres interpusieron sendos amparos indirectos ante la justicia federal en contra de las reformas que penalizan el aborto.

Los sucesos que se narran en dicho reportaje, ejemplifican claramente lo que est siendo una constante en diversos lugares de Mxico, habla de acciones del Estado instrumentadas por los gobiernos y las Legislaturas locales, las que han impulsado y concretado cambios en sus constituciones a partir de la reforma al Artculo 1, que declara que persona es todo ser humano desde la concepcin hasta su muerte. La aprobacin de esta reforma desmantela los avances logrados en trminos de despenalizacin del aborto en 15 entidades federativas del pas, lo que se ha traducido en procesos de criminalizacin y judicializacin de la sexualidad, como han sealado, Pecheny y De la Dehesa. La participacin de los empresarios y de la Iglesia Catlica en la toma de decisiones, pone en entredicho, por un lado, la neutralidad del Estado y por otro el laicismo estatal, condicin sine qua non, de la existencia del Estado (neo)liberal democrtico. Asimismo, enuncia con claridad quienes son actualmente los rbitros del deseo (como los llama Jeffrey Weeks) que tienen en sus manos el control de los cuerpos de las mujeres y los hombres. He tomado este ejemplo para mostrar la complejidad que caracteriza la actuacin del Estado bajo las actuales condiciones del capitalismo, basadas en el imperio del mercado y la globalizacin; y la manera en que se expresan las paradojas de un discurso hiperdemocrtico que reconoce la diversidad y defiende el Estado de derecho, al mismo tiempo que realiza constantes ejercicios de fuerza e impunidad desde distintas instancias gubernamentales. Es claro en el texto panormico que se ha presentado, que las polticas de la sexualidad son histricas pues obedecen a un tiempo y a un espacio especficos, no obstante, considero que en los Estados Latinoamericanos actuales podemos encontrar similitudes y tendencias arraigadas tanto en un pasado comn como en las experiencias compartidas en los procesos que los llevaron a constituirse en Estados Nacionales soberanos, primero, y en Estados Neoliberales, despus. Hablar del Estado en los pases de Amrica Latina y su relacin con las polticas de la sexualidad nos remite a una conexin problemtica cuya historia est marcada por la multiplicidad de procesos que implican contextos polticos, econmicos, sociales y culturales. Reconocer que el nexo entre Estado-sexualidad-polticas sexuales
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no es causal sino complejo y mltiple posibilita hurgar en la participacin de los distintos actores las instituciones, las dependencias gubernamentales, las iglesias, los organismos internacionales y las acciones de la sociedad civil con el fin de encontrar los puntos conflictivos caractersticos de tal relacin en el momento actual. De esta manera, en la siguiente exposicin retomo algunas de las caractersticas del Estado democrtico-liberal bajo las condiciones actuales, as como algunos puntos conflictivos para analizar sus componentes y mostrar su complejidad. Hago nfasis en el caso mexicano porque es mi realidad, la que conozco mejor, pero adems porque en momentos actuales presenciamos una embestida desde diversos frentes en un claro impulso por imponer una poltica sexual conservadora y porque, en el contexto de una lucha contra el narcotrfico y el combate a la delincuencia, ejrcito y policas federales y estatales violentan los derechos humanos de mujeres y hombres. El esquizofrnico2 Estado Neoliberal Segn Eric Hobsbawm, en la dcada de los 1980, eventos mundiales signaron la vida de los sujetos, me refiero a la cada del muro de Berln, el fin de la guerra fra por el derrumbe de la bipolaridad y el inicio de lo que llamamos la globalizacin, que para el economista John Gray no es ms que el imperio del mercado, impuesto por un modelo neoliberal cuya vigencia contina a pesar de los triunfos recientes de la izquierda en algunos pases de Amrica Latina. Esta es una de la primeras manifestaciones de la esquizofrenia del Estado neoliberal puesto que las izquierdas no han mostrado una clara voluntad para modificar un modelo que a todas luces es inequitativo y ha propiciado que en los pases pobres los ricos sean ms ricos y los pobres ms pobres. La competitividad del mercado se ha trasladado a todos los mbitos de la vida de las sociedades y el espectro de la poltica formal no es la excepcin. La coincidencia en las demandas abstractamente democratizadoras abanderadas tanto por las derechas como por las izquierdas, han desdibujado el compromiso poltico, en muchos caso, hasta hacerlo desaparecer, y como plantean Pecheny y De la Dehesa, la competencia poltica gira en torno a los clculos electorales. Desde mi punto de vista, las llamadas transiciones democrticas, llegaron tuteladas por las necesidades de un nuevo orden mundial. El Estado neoliberal se erige entonces como la forma adecuada a nuevos momentos de la acumulacin de capiLa esquizofrenia es un trastorno grave, que presenta sntomas que se caracterizan por: dificultad en distinguir fantasa de realidad, alteraciones del pensamiento (por ejemplo ideas delirantes), alteraciones de la percepcin (por ejemplo alucinaciones), alteraciones en los afectos (imposibilidad de reaccionar de manera adecuada), alteraciones de la comunicacin, alteraciones de comportamiento social y laboral. <http://www.esquizo.com/que-es-la-esquizofrenia/>.
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tal. En economa, se pone fin a los proteccionismos, se desmantelan las fronteras, se promueven procesos de privatizacin y de adelgazamiento del Estado Social. El Estado abandona su papel asistencialista y da paso a otras formas de solucin a los conflictos, es el caso de las polticas pblicas emprendidas desde la sociedad civil cuya forma de participacin aceptada y propiciada, segn James Petras, es a travs de los organismos no gubernamentales y la sociedades y asociaciones civiles constituyndose en el brazo social del Estado neoliberal. Cabe mencionar que la competitividad arrastra a los organismos de la sociedad civil a una disputa por los recursos, cada vez ms restringidos que, en muchos casos, se destinan a resolver problemas que emanan de las agendas internacionales ms que del propio sentir colectivo. Me parece que este es el caso de las polticas de la sexualidad que desde dichas agendas conciben los derechos sexuales en trminos de salud reproductiva y de control del VIH-SIDA. En muchos pases, la transicin democrtica ha permitido nuevas formas de participacin poltica y ha dado paso a nuevos actores, pero tambin ha sido negociada con las fuerzas ms retardatarias de la sociedad. Las diversas iglesias y los grupos conservadores se han posicionado de manera tan firme, que al mismo tiempo que en otros lugares de Amrica Latina la izquierda se asienta como gobierno es el caso de Chile, Bolivia, Brasil encontramos pases como Mxico y Colombia encabezados por partidos de derecha. Me parece, por otro lado, que parte de la complejidad del Estado bajo el orden neoliberal se encuentra en las mltiples paradojas que lo constituyen y que encuentran punto de condensacin en la poltica sexual expresada en las polticas pblicas que impulsa, al mismo tiempo que ejerce su contra-poltica. En tal sentido es que lo considero un Estado esquizofrnico, pues coincido con Pecheny y De la Dehesa en que se ha revalorado el Estado de Derecho. Pero en todo caso tendramos que matizar tal afirmacin, pues si bien en Argentina se est haciendo un poco de justicia al juzgar a ms de 500 responsables de actos de lesa humanidad durante la dictadura, en Mxico lo que hay es un discurso vaco de contenido, la fiscala que se form para investigar los delitos del pasado qued en letra muerta. Los casos en los que ha intervenido la Suprema Corte de Justicia mexicana han estado marcados por promover la impunidad, la investigacin sobre la red de pederastia es un ejemplo: se ha constituido en las entidades federativas de Quintana Roo y Puebla, donde presumiblemente las complicidades llegan a las esferas ms altas de los gobiernos, incluyendo gobernadores, altos funcionarios, as como personajes del mbito empresarial y del clero, y a pesar de eso no se lleg a resultados importantes. Aunque tambin en Argentina, en mayo pasado, las integrantes de la Casa de la Mujer Azucena Villaflor exigieron la aplicacin efectiva del Protocolo de Asistencia Humanitaria del Post-aborto y el suministro gratuito de los mtodos anticonceptivos, entre otras medidas, no se obtuvo xito. El reclamo se centraba en la necesidad de
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disponer de los recursos, normativas y respaldos legales necesarios para su proteccin y puesta en prctica en la vida cotidiana de las mujeres. Muy importante ha resultado la existencia de los espacios que la sociedad civil se ha dado con la finalidad de vigilar el respeto de los derechos humanos, entre ellos los derechos sexuales, sin embargo tales luchas se advierten como una ms de las paradojas de los sistemas democrticos actuales. Otra vez Mxico me permite ejemplificar mi dicho, los casos de violacin a los derechos humanos se multiplican y la consecuente impunidad se documenta. Mujeres de todas las edades fueron ultrajadas, violadas y golpeadas en un operativo en San Salvador Atenco, el caso fue llevado a la Suprema Corte y los responsables no fueron castigados. O el caso tan sonado y citado, por indignante, de la anciana indgena de la sierra de Zongolica, en el estado de Veracruz, quien fuera vctima de violacin por parte de soldados. Tanto el discurso oficial, en palabras del propio presidente, como el de la Comisin Nacional de Derechos Humanos en boca del Ombudsman, coincidieron en que la mujer haba muerto por una lcera sangrante, a pesar de tener a su disposicin los peritajes que se hicieron en los momentos del fallecimiento. A partir de casos como estos, es que se est discutiendo la presencia del ejrcito en las calles, debate que lleg a la Suprema Corte en trminos de replantear el fuero militar cuando las querellas sean con civiles, no obstante, por formalismos se desech sin siquiera abrir el expediente. Es indiscutiblemente significativo que en la apertura democrtica, la utilizacin del lenguaje de los derechos se asuma como lingua franca por parte de los gobernantes y la sociedad, sin embargo, la experiencia cotidiana nos muestra que el empleo de un discurso hper-democrtico, no garantiza en nada su reflejo en las leyes y/o en la aplicacin de las mismas. La esquizofrenia del Estado neoliberal se vuelve relevante cuando sus paradojas caractersticas impactan en la sociedad transformndose en tensiones sociales que en muchos casos obstaculizan la bsqueda de soluciones y en cambio propician el acercamiento a un mal equilibrio.3 As, una gran tensin es la que se establece entre la universalidad y la diversidad o la homogeneidad frente a la heterogeneidad expuesta claramente en la relacin entre los individuos. El discurso del reconocimiento de la diferencia y la aceptacin de la diversidad toca de manera directa a los individuos de diferente clase, raza y sexo, as como de diversas orientaciones sexuales. Reconocer al otro, al diferente puede, sin embargo, darse desde un plano de igualdad que a todas luces es inexistente o desde la desigualdad real que convierte a la supuesta aceptacin en sumisin de una parte y en dominacin de otra. El poder diversificado, difuminado y omnipresente ha autorizado a la sociedad civil para que encabece todas las luchas sociales desde sus propias trincheras y los individuales
3

Vase, Paz Xchitl Ramrez Snchez, Hacia una tica de la diversidad, en, Alteridades, 4(8), 1994, pp. 67-74.
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malestares de hombres y mujeres en contra de lo que no ve ni oye pero siente. Este es el mito de la participacin, de la autogestin y de la autoeleccin que no est por supuesto ajeno de su propia tensin. Desde el discurso y la teora, la sociedad de clases ha dado paso a una sociedad civil democrtica que no tiene ya lugar para el gran Leviatn, aunque s para un Estado autoritario sin poder hacia el exterior, en el caso de los pases pobres, pero omnipotente y omnipresente hacia dentro. Finalmente, en este contexto donde sobrevive la exclusin abierta y velada, que tiene su correlato en las otras relaciones entre diferentes, el triunfo de la democracia se vislumbra an lejano. De los derechos y las polticas pblicas Es indispensable recordar, sobre todo frente a estas expresiones de poder, que el Estado liberal, bajo un rgimen que se dice democrtico, tiene como presupuesto filosfico la doctrina de los derechos humanos elaborada por la escuela del derecho natural (yusnaturalismo), tal doctrina se refiere a que todos los seres humanos, mujeres y hombres indistintamente, tienen por naturaleza, y por tanto sin importar su voluntad, mucho menos la de unos cuantos o de uno solo, algunos derechos fundamentales, como el derecho a la vida, a la libertad, a la seguridad, a la felicidad. Que el Estado, o ms concretamente aquellos que en un determinado momento histrico detentan el poder legtimo de ejercer la fuerza para obtener la obediencia a sus mandatos, deben respetar no invadindolos y garantizarlos frente a cualquier intervencin posible por parte de los dems4. La idea (lockiana) de que el ejercicio del poder poltico sea legtimo slo si se basa en el consenso de las personas sobre las cuales se ejerce, y por tanto en un acuerdo entre quienes deciden someterse a un poder superior y con las personas a las que ese poder es confiado, deriva del presupuesto de que los individuos tengan derechos que no dependen de la institucin de un soberano y que la institucin del soberano tenga como funcin principal el permitir el desarrollo mximo de estos derechos compatibles con la seguridad social5. Lo expuesto por Pecheny y De la Dehesa confirman esta visin fusionada de contractualismo y derechos naturales cuando afirman:
Una poltica organiza relaciones especficas entre el poder pblico y sus beneficiarios en funcin de sus representaciones y significados. Implica una concepcin de la relacin entre poltica y sociedad [el] modelo de poltica pblica ms administrativo y limitado al Estado, ha estallado: los mbitos de accin son cada vez

4 5

Norberto Bobbio, Liberalismo y democracia, Fondo de Cultura Econmica, Mxico, 1989, p. 11. Ibidem, p. 13.
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ms globales y ms locales, al tiempo que proliferan los actores y espacios polticos por fuera del Estado Nacional y los actores transnacionales. La poltica pblica se concibe hoy entonces ms como gobernamentalidad que como medidas o programas aislados.

Desde ese planteamiento, se enfatiza la presencia de diversas instancias en la definicin y prctica de las polticas pblicas, implican la agencia efectiva de los individuos y de los colectivos. Sin embargo, ante eventos como los narrados anteriormente, considero que a pesar de que el Estado neoliberal se propone como una instancia administradora, vigilante y, en el mejor de los casos, gobernante, el Estado sigue siendo el eje sobre el cual se constituye el orden social acorde al modelo de acumulacin bajo la etapa globalizadora. Si bien desde la visin terica que nos presentan, las polticas pblicas aparecen como una manera concensuada de ejercer el poder o como una suerte de co-gobierno, sabemos que es desde el activismo que se proponen programas y acciones para polticas especficas e iniciativas de ley para las que, finalmente, es necesario recurrir a las diversas instancias gubernamentales de distinto nivel y enfrentar aparatos burocrticos, insensibles, neoconservadores y corruptos. Si, como tambin se ha afirmado, las polticas pblicas son la palabra oficial, la opinin del Estado sobre una controversia social, al modo de un mensaje a la sociedad, entonces el Estado y sus dependencias de gobierno se constituyen no solo en los interlocutores sino en los territorios desde los cuales se toman decisiones y se operativizan dichas polticas pblicas. Lo interesante es que, al mismo tiempo, surgen una suerte de contra-polticas o polticas perniciosas cuyos mensajes son acciones ejemplares contra quienes desoigan las prescripciones que desde el Estado, en voz de sus poderes, se transmiten a la sociedad en forma de leyes y/o modificaciones a las leyes, en el mejor de los casos, o haciendo uso de los recursos militares y policacos. Los lmites de la laicidad del Estado Como ya sealamos, los nuevos y viejos rbitros del deseo que ubicamos en partidos polticos de derecha, en las cpulas eclesisticas en organizaciones civiles ligadas a asociaciones de padres de familia, por mencionar algunos, han rebatido la lucha por los derechos sexuales y extendido su influencia en diversos mbitos, especialmente en escuelas y universidades privadas. La introduccin de programas y planes de estudio que incluyan educacin sexual siguen siendo motivo de debates y pugnas que impiden disear polticas ms efectivas, en particular, para los jvenes quienes ven peligrar sus derechos sexuales al satanizarse el uso de preservativos y mtodos anticonceptivos como la pldora del da siguiente, que al considerarse aborti106 Sesso 1 Sexualidade, estado e processos polticos

va fue prohibida por el Vaticano. Tal medida intent aplicarse por algunos gobiernos, recordemos el intento del congreso argentino por criminalizar su uso en el ao 2002. El gran logro que ha significado el aumento de causales para la despenalizacin del aborto en Mxico, D.F., es constantemente refutada por la derecha, aunque, como se mencion al principio, tales impugnaciones junto a otros factores llevaron a la modificacin de constituciones locales, que de inmediato y sin mediar reglamentaciones precisas, iniciaron persecuciones y encarcelamientos de mujeres que decidieron interrumpir voluntariamente el embarazo. Considero que, aun con la presencia significativa de gobiernos de izquierda en Amrica Latina, gobiernos conservadores han propiciado la intervencin de las iglesias en la poltica. Gran parte de su participacin desmedida nos habla del desvanecimiento de los lmites de la laicidad en el Estado contemporneo. El Estado moderno se basa en la separacin de la iglesia y el Estado, el cual se sustenta en la libertad del individuo, en particular, en la libertad de conciencia. Debemos admitir que en los pases en los que se ha logrado la despenalizacin del aborto, en los congresos nacionales y locales, ha prevalecido la neutralidad y como representantes del pueblo, los legisladores actuaron en funcin del inters pblico y no de sus creencias personales, lo cual, desgraciadamente no siempre es as. La centralidad de la salud Se habla del contexto actual como de una era democrtica a la que las sociedades hemos arribado despus de una etapa de Estados nacionalistas con gobiernos fuertes y populistas como Mxico, Argentina o Brasil. Eran los aos dorados del capitalismo, tal como Eric Hobsbawm ha denominado a la etapa posterior a la II Guerra Mundial. La mayora de los Estados de Bienestar en Amrica Latina se instrumentaron con la finalidad de manejar la crisis heredada de la etapa industrializadora mediante la regulacin de los procesos de socializacin y acumulacin de capital. Del mismo modo, se propuso incidir en los procesos culturales para desde ah legitimar el poder del Estado a partir de la formulacin de objetivos metasociales representados por el avance y la modernizacin del pas. Tambin se preocuparon por la creacin de comunidades de sentido a partir de elementos simblicos constitutivos, en el caso mexicano, de un nacionalismo americanizado y de una cultura de la revolucin institucionalizada, objetivos que lograra mediante procesos de negociacin colectiva con los sindicatos, las organizaciones campesinas, empresariado y de la adopcin de polticas de bienestar tendientes a corregir y regular dichos procesos de socializacin. Los regmenes autoritarios se reflejaron en la seguridad social debido a la intervencin directa del Estado en la administracin
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y control de los sistemas de asistencia social. Tal asistencialismo tuvo su expresin mxima en la preocupacin mostrada por la salud de las mujeres y los nios, pues aun antes de la obtencin del derecho al sufragio eran ya los sujetos de las polticas de bienestar. Podramos citar el ejemplo del Mxico prista6 y la Argentina peronista7. En estos ejemplos afloran los discursos de la maternidad y de la salud en perfecta conjuncin, como vehculo para la promocin de los derechos, en este caso, sociales y el reconocimiento de las mujeres como ciudadanas, en tanto sujetos de las polticas de bienestar, encaminadas a refrendar su papel como reproductoras. Papel que fue seriamente cuestionado por el feminismo de los aos sesenta y setenta, a la vez que puso sobre la mesa de la discusin poltica el cuerpo de las mujeres, su salud y la violencia de que eran objeto8. Recuperar la centralidad del discurso sobre la salud en las polticas sociales instrumentadas por los Estados de Bienestar, es reconstruir uno de los nexos ms poderosos de los gobiernos autoritarios del anterior rgimen con los actuales la finalidad es la de llamar la atencin sobre uno de los discursos ms arraigados de la modernidad, desde su surgimiento hasta nuestros das, y que ha sido abrazado de manera entusiasta por todos los regmenes, fundamentalmente el nazi-fascismo. Coincido plenamente con lo expuesto en el texto panormico Sexualidades y polticas en Amrica Latina: un esbozo para la discusin, de Pecheny e De la Dehesa, el discurso de la salud es encubridor y despolitizador en lo referente a los derechos sexuales, no obstante, es ms que eso, los sujetos seguimos siendo discriminados por diversas causas (sida, cncer, discapacidad) y la justificacin viene desde la medicina cientfica.
En Mxico, que es el caso que mejor conozco, durante el mismo perodo, el inters de los ginecobstetras era conocer a profundidad las enfermedades de las mujeres y por ende su cuerpo, con esta finalidad, todas las mujeres que accedan a los hospitales y maternidades, centros materno infantiles, hospitales generales se les practicaba de rutina un examen de laboratorio (VDRL- Serodiagnstico de la sfilis), para la deteccin de enfermedades venreas, y el papanicolau, para detectar oportunamente el cncer crvico uterino, tal disposicin formaba parte de Campaas Nacionales de Lucha Contra el Cncer Femenino. Crearon centros para el cuidado prenatal, la atencin del parto y del perodo posnatal a mujeres pobres, e instrumentaron la vigilancia peditrica, la proteccin permanente al nio abandonado, subsidios vigilados a familias econmicamente dbiles, tratamiento de la salud mental y los trastornos emocionales de la poblacin infantil, asistencia a menores a travs de las casas de cuna, hogares sustitutos, amparo a madres soltera y embarazadas, guarderas, colonias de vacaciones, parques de recreacin y asistencia jurdica para legalizar uniones familiares, para registro de menores y para trmite de pensiones, alimentos y adopciones. Vase, Elsa Muiz, Cuerpo, representacin y polticas de bienestar. Mxico, 1956-1970, en, Mara Herreras, et. al., Mujeres y gnero, construcciones culturales, UAM-CONACYT, Mxico, 2004, pp. 57-99.
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Vase, Susana Bianchi, Las mujeres en el peronismo (Argentina, 1945-1955), en, Historia de las mujeres en Occidente, George Duby y Michel Perrot, Vol. 5 (El siglo XX) Francoise Thbaud, 1993, pp. 697-708.
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En Mxico, se lleg a proponer una indicativa de ley, en 1979, por La Maternidad Libre y Voluntaria que era una propuesta integral que inclua el derecho de las mujeres al aborto y a la informacin sobre anticoncepcin lo que se traduca en una apuesta por la re-apropiacin de sus cuerpos. La importancia de las movilizaciones antiautoritarias de esos aos es que los aires democrticos llegaron desde abajo, desde las estructuras sociales. Como dira Agnes Heller, la revolucin fue en la vida cotidiana.
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Pero tambin el discurso mdico es la muestra inefable de uno de los mayores puntos de conflicto, cuando observamos que los proyectos surgidos de la sociedad civil que involucran la salud son los que mejor califican para la obtencin de financiamientos, aunque al mismo tiempo, es el espacio en dnde las polticas de la sexualidad son desmentidas por una realidad en la que se imponen los criterios de una cultura de la exclusin. Un ejemplo inequvoco son los hospitales que atienden pacientes con VIH-SIDA. El mbito de la salud y no solamente el discurso, sino la prctica mdica en su conjunto y las instituciones que la constituyen, ofrece una complicacin ms, pues anteriormente cuando el Estado era el encargado de la salud de la poblacin, presentaba una cara al menos identificable. Ahora, bajo las condiciones neoliberales, la obligacin de los gobiernos se ha difuminado en una multiplicidad de encargados de la salud. Las privatizaciones, al menos en Mxico, han llevado a que el sistema de salud pblica deje el lugar a la medicina privada y a la buena voluntad de ciudadanos que se han organizado para ofrecer servicios de salud compitiendo, como ya lo seal, por los recursos que, cuando se trata del bienestar social, llegan a cuentagotas o a travs de procesos tortuosos. En estas condiciones a quin se debe apelar si el Estado ha declinado ante esa responsabilidad? Por el bien social El bien comn es tambin una premisa de los estados liberal-democrticos, y la doctrina se encarg de designar a los encargados de salvaguardar el bien comn quienes desde la prctica poltica seran, a su vez, investidos por el soberano que es el pueblo. Para John Locke, el poder legislativo es el ms importante atributo del Estado y en el Segundo Tratado sobre el Gobierno Civil seala los fundamentos de su existencia, a partir de los cuales obtiene la confianza del pueblo. El ms importante, considero, es aquel que advierte que las leyes con las que se gobierne deben ser sancionadas y promulgadas e iguales para todos. Dichas leyes sern establecidas con el nico fin del bien popular. Asimismo, indica la necesidad de los gobiernos de constituirse en tres poderes con el fin de lograr el equilibrio y evitar la corrupcin. Coincido plenamente en lo sealado en la ponencia panormica en relacin a la manera en las que los partidos polticos administran las demandas sobre sexualidad, en la medida en que son o no aceptadas por los votantes. Este hecho es relevante, ya que una vez que los legisladores ocupan su lugar en el congreso y su voto se vuelve significativo y hasta decisorio para la aprobacin de leyes o modificaciones a una ley, la falta de compromiso y de posturas claras, permite un amplsimo margen de apuesta sobre el voto a emitir. Un voto que en
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muchos casos tambin se ha convertido en una mercanca con valor de uso y valor de cambio. Para finalizar El papel que cumplen actualmente las polticas pblicas, entre ellas las polticas sobre la sexualidad, estn inevitablemente ligadas al Estado y a las instancias de donde provienen los recursos. En este sentido, un primer riesgo lo constituye la dependencia respecto a las agendas pre-establecidas por las instancias financiadoras y los propios intereses de un Estado cuyos gobiernos en turno son, en algunos pases de Amrica Latina, conservadores y de filiacin religiosa. Acorde con lo anterior, ms que riesgo, es un verdadero atentado a la integridad de los individuos el surgimiento de legislaciones perniciosas que responden a las acciones de ciertos legisladores que llegan a los congresos sin una idea clara y comprometida respecto a este tipo de asuntos. Concuerdo con lo expuesto, en relacin a ese discurso de la salud que encubre los derechos sexuales en trminos de la justicia ertica, retomando el concepto de Sonia Corra. Sin embargo, la compleja dinmica de avances y retrocesos, as como la heterogeneidad de los procesos en los pases latinoamericanos, nos conducen a atender lo urgente, como en el caso mexicano en el que las circunstancias son de emergencia.

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Existe un consenso en las ciencias sociales de reconocer la sexualidad como una construccin social, histrica, altamente regulada (Foucault, 1989; Weeks, 1993, Petchesky, 2008). El rgimen de la sexualidad promueve la coherencia interna de un patrn de sexualidad que cada sociedad define como normal y promueve una concordancia entre cuerpo, gnero, deseo, identidad y prcticas sexuales. Tambin se instaura ciertas formas de organizacin colectiva en torno a la sexualidad (Butler 2001 y 2002). Este dispositivo de la sexualidad (Foucault, 1989), produce la inteligibilidad de los cuerpos (Butler, 2001), en lo que el mismo Foucault (1980) llama el sexo verdadero: aquel lugar recndito pero accesible, en ltimo trmino, donde se encontrara la verdad de los sujetos, las seas ms precisas de sus subjetividades y de sus biografas. Sin embargo, como nos invita Baudrillard (2000) frente al orden instituido coexiste un orden del simulacro, soportado en lgicas y actuaciones que se configuran al margen, desde la resistencia, en un ejercicio de reversibilidad de las relaciones de poder. Un rgimen de la sexualidad consiste no slo en develar el orden de lo pautado, sino y ante todo identificar los desplazamientos. La regulacin de la sexualidad constituye un ejercicio de normalizacin de lo desviado y de generacin de nuevos campos de abyeccin en este proceso. Nuevos sujetos polticos surgen de esta tensin. La radicalizacin y ampliacin de la democracia, permite la emergencia de nuevos sujetos polticos y la politizacin de una serie de relaciones, entre ellas las que se vinculen con la sexualidad, el deseo y el erotismo (Weeks, 1993; Parker, 1994). La diversidad de identidades sexuales es objeto de una politizacin y regulacin creciente, no porque antes hayan sido neutras o ajenas al poder, sino por su carcter polticamente construido y su potencial fuerza desestabilizadora del orden establecido.

Director del Observatorio en Gnero y Sexualidades GESEX, Universidad de Caldas, Manizales, Colombia.

La regulacin de la sexualidad es un ejercicio inestable como inestable es la accin sobre la que acta. Siguiendo los desarrollos de la teora de la regulacin en el plano de la economa y el Estado postulados por Jessop (2001)2, podra proponerse una nocin, a modo de aproximacin, de la regulacin sexual entendida como el conjunto de acciones que desarrollan los actores sociales, a veces con intereses contrapuestos y antagnicos, que tienden a normalizar la sexualidad y producen formas de sexualidad marginales tanto espacial como simblicamente en este proceso. En este ejercicio intervienen diferentes actores: gobiernos nacionales y locales a travs del sistema escolar, la regulacin de la produccin cultural y cientfica y las acciones de poltica pblica; el sistema judicial mediante sentencias y fallos; los cuerpos de polica con su accin represiva y punitiva. Tambin actan los grupos organizados de la sociedad civil, las iglesias y las instituciones privadas de distinto orden y propsitos. Y los actores armados en pases en conflicto interno o con brotes de resistencia. En una trama de regulacin sexual los actores pueden actuar de manera conjunta, a veces en resistencia o al margen de la accin del Estado y la sociedad, pero siempre en accin de regulacin y normalizacin. La regulacin de la sexualidad toca diferentes aristas y actores: se mueve desde el plano micro-social de las prcticas de crianza y socializacin, define un usoapropiacin del espacio urbano y unas fronteras de la sexualidad en la vida privada, y se traduce en acciones de gobierno, a nivel macro social, a travs de las polticas pblicas en torno al gnero, la salud sexual y reproductiva y la diversidad sexual e incluso la titularidad de derechos por parte del sistema jurdico3. El caso colombiano es paradigmtico en torno a los proceso de regulacin sexual en Amrica Latina. Las conquistas en materia de derechos sexuales, especialmente para las minoras sexuales, no obedeci a un proceso fuerte de movilizacin social o de organizacin de la disidencia sexual como si ocurri en la ciudad de Mxico, la provincia de Buenos Aires y Brasil. Si bien el movimiento feminista tuvo logros importantes en la ampliacin de nocin de derechos sexuales y reproLa teora de la regulacin, o la aproximacin regulacionista (AR) siguiendo a Jessop (2001) es una teora postmarxista de economa poltica que analiza cmo el desarrollo capitalista, a pesar de sus contradicciones puede llegar a estabilizarse. Es un conjunto de fuerzas socialmente enraizadas, regularizadas y estratgicamente selectivas de organizaciones, fuerzas sociales y acciones organizadas (o, al menos, involucradas) en la ampliada reproduccin del capital como una relacin social.
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Las polticas pblicas son el resultado de procesos polticos y son creadas a partir de la interpretacin de problemas pblicos (Josephson, 2008). Constituyen un juego de poder y reflejan la percepcin que los grupos hegemnicos tienen sobre poblaciones objetivos. Lo anterior supone que los hacedores de poltica tienen una percepcin de los sujetos a los cuales van dirigidos sus polticas; en el plano de la sexualidad existe una idealizacin del concepto de ciudadana sexual, de antesala heterosexual. Las identidades hegemnicas son recreadas y defendidas por las polticas de regulacin sexual, y en ltima instancia por la poltica pblica. De esta manera los sujetos construidos por la poltica pblica no operan nicamente en la esfera pblica, sino que tal definicin tiene profundos efectos en la vida social y en la sociedad civil y en la clase de sujetos que se consideran visibles y deseables (Josephson, 2008). En otras palabras en la subjetividad.
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ductivos hasta lograr la despenalizacin parcial del aborto en 2006, nunca existi en paralelo un movimiento de gays o lesbianas lo suficientemente fuerte como para incidir en la agenda ni siquiera la de salud pblica asociada al VIH-SIDA. Ni que pensar en movimientos basados en la identidad sexual. Los logros en materia de ampliacin de derechos para las parejas del mismo sexo tienen origen en una organizacin social central Colombia Diversa, cuya junta directiva presidida por Virgilio Barco Isakson, hijo de un ex presidente de la Repblica, acompaado por un selecto grupo de intelectuales y juristas de las ms prestigiosas facultades de derecho del pas, adelantaron un proceso de demanda constitucional de sendas leyes en materia familiar, seguridad social, penal, rgimen militar y de polica. Las demandas transcurridas en espacio tres aos, entre 2006 y 2009 lograron poner en jaque el ordenamiento jurdico colombiano. Las acciones de Colombia Diversa en el ms alto lobby poltico, gubernamental y judicial pueden servirnos de escenario para repensar la relacin hegemona/subalternidad o dominacin, teniendo como criterio central el ejercicio de la sexualidad no heterosexual. Las acciones desplegadas por esta ONG nos invitan a pensar que la relacin es mucho ms compleja. Como antecedente a esta cruzada, es necesario recordar que en aos anteriores se haban presentado ante el Congreso de la Repblica cinco proyectos de ley que buscan dar status legal a las uniones entre personas del mismo sexo; todas las iniciativas fueron fallidas. El ltimo intento normativo ocurri en el ao 2006 cuando el proyecto de ley aprobado por ambas cmaras se hundi en la etapa de conciliacin. La iniciativa, que no inclua un debate sobre matrimonio y adopcin, estableca un rgimen comn de bienes y de seguridad social para los homosexuales que corresidan en pareja. El proyecto de ley presentado por un senador del partido oficialista, lase de derecha, se enmarcaba dentro de los linderos sealados por el presidente lvaro Uribe frente a esta temtica: Matrimonio gay, no; adopcin, no; derechos patrimoniales s; acceso a la seguridad social, s. Despus de esta derrota parcial, durante los aos 2007 y 2008 se inicia un proceso de demanda ante las altas cortes del pas de la ley 54 de 1990 que regula la unin marital de hecho y la ley 100 de 1993 o ley de seguridad social. Esta ruta constituy la va alternativa para la conquista de derechos para las minoras sexuales. Las sentencias favorables proferidas por los tribunales permitieron el reconocimiento de las parejas del mismo sexo en Colombia y el otorgamiento de tres derechos bsicos: patrimoniales, salud y pensiones; posteriormente se agreg seguridad alimentaria, derecho a la ciudadana, amparo judicial, entre otros. La sentencia C-075/07, reconoci las uniones entre personas del mismo sexo y las equipar con las uniones maritales de hecho, en este ejercicio se extendi el derecho al patrimonio entre compaeros permanente del mismo sexo. Para la comprobacin de su calidad y vocacin de permanencia, la Corte determin que tales
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uniones deben regularse por el mecanismo establecido en la Sentencia C-521 de 2007, esto es, declaracin ante notario en la que conste que la pareja convive efectivamente y que dicha convivencia tiene vocacin de permanencia, independiente de su tiempo de duracin. En materia de Salud, mediante sentencia C-811/07, la Corte Constitucional estudi una demanda contra el artculo 163 de la ley 100 de 1993, que no permita que las parejas del mismo sexo accedieran como beneficiarias al sistema seguridad social en salud. Se argumentaba en la demanda que la cobertura familiar exclua a las parejas del mismo sexo. Despus de un arduo debate, la Corte declaro constitucional el artculo 163 de la Ley 100 de 1993, en el entendido que el rgimen de proteccin en ella contenido se aplica tambin a las parejas del mismo sexo. En la sentencia C-336/08, el alto tribunal entr a estudiar las expresiones: familiar y el compaero o la compaera permanente contenidas en los artculos 47 y 74 de la ley 100 de 1993 que exclua a los compaeros permanentes del mismo sexo como beneficiarios del derecho a la sustitucin pensional. La Corte declar acordes a la Constitucin las expresiones demandadas, en el entendido que las parejas del mismo sexo, tambin son beneficiarias de la pensin de sobrevivientes. Mediante sentencia C-798/08 la Corte ampar el derecho de alimentos entre compaeros/as permanentes del mismo sexo, la cual haba quedado excluida de la ley 1181 de 2007 que tipifica el delito de inasistencia alimentaria. Recientemente, la Corte Constitucional mediante sentencia C-029/09 modific 40 artculos en 20 leyes ampliando la franja de derechos a las parejas del mismo sexo; estos cambios abarcan el patrimonio de familia inembargable y la afectacin de bienes inmuebles a vivienda familiar extensible a las parejas del mismo sexo; reconocen el derecho a la ciudadana colombiana para la pareja extranjera; amplia la garanta de no incriminacin en materia penal, penal militar y disciplinaria. Tambin revis normas penales y preventivas sobre delitos que tiene como sujeto pasivo al compaero o compaera permanente, como el caso de la violencia intrafamiliar y que no contemplaban las relaciones entre personas del mismo sexo. En materia de derechos a la verdad, la justicia y la reparacin de las vctimas de crmenes atroces, contenidas en la Ley 975 de 2005, se amplio la nocin de vctima que ahora tambin cubre este tipo de relaciones. Tambin se extendi el derecho a la reunificacin familiar de los desplazados, el cual no inclua a las parejas del mismo sexo (ley 387de 1997). La misma sentencia ampli la franja de subsidios para este tipo de parejas y modific el rgimen pensional y de salud en las fuerzas militares hacia las parejas del mismo sexo que hacen parte de la institucin. Finalmente, la Corte extendi el lmite al acceso y ejercicio de la funcin pblica y la celebracin de contratos estatales, estableciendo la obligatoriedad de declaracin juramentada del nombre y documento de identidad de la pareja en el caso de los servidores pblicos. De igual modo, las inhabilidades de los compaeros
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y compaeras permanentes de los diputados, concejales, gobernadores y alcaldes establecidas en la Ley 1148 de 2007 se extienden a las parejas del mismo sexo; as mismo, las inhabilidades e incompatibilidades para contratar previstas en la Ley 80 de 1993 incluyen ahora a la pareja permanente del mismo sexo. Estos cuatro fallos proferidos, adems de una serie de sentencias anteriores, ponen a Colombia a la vanguardia en Latinoamrica y el mundo, tal vez en el rango de Espaa, Canad y Blgica en materia de derechos a las parejas del mismo sexo. Frente a esta avalancha normativa, los gobiernos locales no se han quedado atrs. Las ciudades capitales de Bogot, Medelln, Cali y recientemente Manizales han formulado o estn en proceso de formulacin de polticas pblicas para atender las necesidades particulares de la poblacin LGTBI. Tambin la Federacin nacional de personeros FENALPER4 a travs del proyecto LGBTI Pas Diverso con Derechos, viene haciendo un esfuerzo en los cuatro puntos de la geografa nacional por desarrollar una reflexin en torno a los derechos de la poblacin con prcticas e identidades sexuales no heterosexual y un seguimiento al desarrollo de acciones en los gobiernos locales en este sentido. No sobra por dems resaltar el esfuerzo meditico con la produccin de novelas como el ltimo matrimonio feliz, produccin con el rating ms alto en la ltima dcada y que tuvo entre sus protagonistas dos varones gay en proceso de enamoramiento. Tambin han aparecido una serie de programas televisivos y radiales de denuncia de prcticas homofbicas y transfbicas ocurridas en diferentes contextos y lugares. Bajo este abanico de ampliacin de derechos por va judicial y normalizacin meditica, la Direccin Nacional de la Polica Nacional promulg la directiva administrativa transitoria 058 del 22 de abril de 2009 (ver anexo) mediante la cual se definen una serie de acciones de proteccin la comunidad LGTB en todo el territorio nacional. La directiva instruye a toda la jerarqua de la polica y fija criterios para garantizar el respeto y especial proteccin a la poblacin Lesbiana, Gay, Transexual y Bisexual (LGTB) en el marco de la poltica de direccionamiento policial basado en el humanismo (Directiva 058/09) y genera espacios de encuentro, fuera de las instalaciones policiales entre integrantes del movimiento LGBT y la Polica Nacional, en busca de implementar y desarrollar proyectos con las dems instituciones del Estado para garantizar el goce efectivo de los derechos fundamentales (Directiva 058/09) (El subrayado es mo). Lo ms paradjico del asunto, es la mencin que hace la directiva al mencionar la intencin del Grupo de Derechos Humanos de la Polica Nacional para que funcionarios de la USAID desarrollen un proceso de sensibilizacin sobre la temtica
Las personeras son las oficinas de gobierno a nivel local defensoras y promotoras de los derechos humanos. A nivel nacional y regional cumplen funciones complementarias con las defensoras del pueblo.
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LGTBI en diferentes ciudades del Pas, durante el segundo semestre de 2009. Es muy extrao que la USAID se interese en promover este tipo de derechos en un pas como Colombia, derechos que por dems no existen o existen parcialmente en los Estados Unidos. Entonces, por qu promoverlos en Colombia? La respuesta no es clara y genera un manto de duda para este dilogo regional sobre sexualidad y geopoltica. Este nuevo clima de conquista y respeto de los derechos sexuales promete ser un nirvana en materia de prerrogativas para las minoras sexuales, en una sociedad que tiene un conflicto interno con ms de 50 aos de historia, que ha puesto miles de muertos, 4 millones de desplazados, cerca de 600 mil refugiados en las fronteras con Ecuador, Venezuela y Panam y un sin nmero de colombianos/as residiendo en el exterior bajo la figura del asilo poltico. Sin embargo, como lo plantean Pecheny y De la Dehesa (2009), en su documento preparado para este dilogo, existen brechas entre la legislacin, las polticas pblicas y las prcticas cotidianas expresadas en la notoria disparidad entre las leyes formales y su ejecucin. Especialmente las brechas son ms notorias, para el caso colombiano, en el campo simblico y de concrecin real de los derechos, amparados bajo lo que Nancy Fraser (1997) denomina el dilema reconocimientoredistribucin. En Colombia, y esto a diferencias de otros pases de la regin como Mxico, Argentina o Brasil, es especialmente contradictorio el avance normativo en materia de derechos para las parejas del mismo sexo y la comunidad LGTBI y la pronunciada censura para las demostraciones pblicas de afecto, incluso para las relaciones heterosexuales. Frente a esto puede uno preguntarse, Cmo un pas que est a la vanguardia en materia de derechos sexuales censura, incluso con pena de muerte, las manifestaciones pblicas de afecto, deseo y placer, es decir, de sexualidad? Para un observador desprevenido o avezado que transite por las calles de las ciudades colombianas le sera muy llamativo la escasez de grandes besos en los parques o en las calles, o besos de ms de un minuto de duracin, que decir de un parche, una bluyiniada o un faje intenso en un lugar pblico, a si este transcurra en altas horas de la noche. Se nos olvida que en pases en conflicto o en proceso de contencin del mismo, como Colombia, Mxico y Venezuela, existen fuerzas de ultra-derecha y de izquierda que ejercen un control de la sexualidad regulando su ejercicio. No obstante se debe precisar que las fuerzas de ambos lados existen en todas partes como contrapeso o refuerzo a la accin del Estado, con niveles diferenciados de intensidad, aceptacin o rechazo por parte de la poblacin civil. En Colombia particularmente, la regulacin de la sexualidad no solo tiene como actor fundamental al Estado con todo su aparato ideolgico, sino que participan de manera activa la insurgencia de las FARC y los grupos Paramilitares. En el cual todos estos actores ejercen control de la sexualidad de los sectores populares
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y de aquellas personas que se apartan de lo que se entiende como deber sexual: el matrimonio heterosexual y la procreacin. La accin ms reciente de los grupos paramilitares en esta materia se presenci en todo el territorio nacional, entre el mes de marzo y abril de 2009, cuando los grupos de las ahora autoproclamadas guilas Negras o como el Gobierno de lvaro Uribe prefiere llamarlos grupos emergentes post-desmovilizacin, inundaron todos los pueblos y caseros y los barrios populares en las ciudades grandes e intermedias, con un panfleto donde se anuncia una nueva campaa de limpieza social. La limpieza social en Colombia es una estrategia combinada de diferentes actores en el conflicto que ha redituado bastante bien el pasado en trminos de control social de la poblacin.

LLEGO LA HORA DE LA LIMPIEZA SOCIAL


AHORA LE TOCO EL TURNO A LAS MALPARIDAS PUTAS BASUQUERAS Y SIDOSAS VENDEDORES DE DROGAS, LADRONES CALLEJEROS Y APARTAMENTEROS, JALADORES DE CARROS, SECUESTRADORES Y JOVENES CONSUMIDORES.

YA LO TENEMOS IDENTIFICADOS
Para el pueblo en general, ustedes han notado una creciente de la violencia, robos o atracos, prostitucin, consumo de drogas etc., en los ltimos tiempos, debido a todo esto nuestra organizacin ha tomado irrevocable decisin de atacar la violencia con VIOLENCIA. Ya no van a contagiar de SIDA a nadie ms, solamente a los gusanos. Tienen las horas contadas, todas las putas de los bares y cantinas y las malparidas prepagos. Han contagiado a mucha gente de SIDA. Preprense HIJUEPUTAS! Todo malparido que se encuentre en estos bares despus de las 10:00PM no responderemos si caen inocentes vives mas con tu familia. Jvenes, no los queremos ver en las esquinas parchados drogndose, estamos en limpieza esto es serio. No consuma droga estudie mas y este con sus padres reciban sus consejos y buenos ejemplos. Esto es PRODRIDO. Vendedores de drogas ltimamente se esta creciendo el negocio de hasta vender droga en las esquinas, ya mas, mtase esa droga por el CULO ARRIBA, no mas. Ladronzuelos, dejen trabajar a la sociedad, pilas que estn PILLADOS.JUICIO O MUERTE USTED LO DECIDE TA TENEMOS UNA LISTA DE BARRIDO INICIAL. La organizacin lo ha decidido as, esta limpieza se necesita. Empezaremos muy pronto, le pedimos perdn a la sociedad si caen inocentes. ESTO ES SOLO POR UNOS MESES. SEOR PADRE DE FAMILIA ESTEN MAS CON SUS HIJOS, NO SEA UNO DE ELLOS LOS QUE CAEN EN ESTA LIMPIEZA. DIALOGEN. Ogdis. Si usted encuentra esta hoja, squele varias copias y reprtalas a lo amigos, vecinos o a un familiar suyo no caigan por no enterarse. La organizacin no puede entregar esta hoja en cada casa, por eso pedimos su colaboracin.

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Histricamente la limpieza se ha enseado contra movimientos completos de izquierda como la Unin Patritica que perdi en la dcada de los 1980 a ms de 5 mil de sus miembros, tambin hubo limpieza sobre los desmovilizados del grupo guerrillero M-19 incorporada a la vida civil despus de 1991. En los 1990 y estos aos del siglo XXI, la limpieza social ha tenido como objetivos a jvenes drogadictos, expendedores de droga, prostitutas, varones afeminados, travestis, transgneros y transexuales en su comn denominador travestis, etiquetadas bajo el manto de seres sidosos. Para esta nueva campaa, la accin de los grupos paramilitares incluye una modalidad de prostitucin, las prepagos o mujeres que ejercen la prostitucin no en la va pblica o en un prostbulo, sino que sus servicios se venden por catlogo. Tambin incluyen el ya tradicional toque de queda despus de las 10 de la noche que ha sido parte del control de la poblacin, especialmente de los jvenes, en las zonas de conflicto. Discusin final El caso colombiano delinea los logros polticos en materia de derechos sexuales en un contexto de calles vacas, discotecas llenas y silenciamientos selectivos mltiples y muchas veces cmplices. Un mapa con escasas resistencias por parte de grupos sociales amparados en la disidencia sexual o el VIH-SIDA, en otras palabras, de escasa politizacin de los derechos en el plano sexual. En este caso y siguiendo el mismo criterio epistemolgico que Laclau y Mouffe (1990) esgrimen para lo social, la sexualidad debe leerse como un campo abierto y no suturado y no como totalidades autosuficientes basadas en la identidad. Pienso, en este sentido, que hay que determinar mucho mejor aquello es regulacin sexual, para distinguir y reconocer la forma como opera el poder y la resistencia en el campo de la sexualidad y que se traduce en un control sobre los cuerpos, el deseo, las posiciones, las narrativas. La sexualidad constituye un terreno de disputa poltica, punto de constitucin de hegemonas y de resistencias (Butler, 2002 y 2001; Rubin, 1984), de disidencias y acuerdos, dispositivo eficaz y persistente de delimitacin y organizacin del cuerpo, y hasta de control sobre el tnatos. Los caminos analticos y conceptuales propuestos debemos enriquecerlos si queremos comprender el proceso de politizacin de la sexualidad en su complejidad5. El concepto de gobernamentalidad, entendida como articulacin de acciones por parte de diferentes actores sociales, propuesto por Pecheny y De la Dehesa para
Por politizacin de la sexualidad constituye el proceso de conformacin de sujetos polticos a partir de identidades y prcticas sexuales. Asimismo, correspondera al proceso de desnaturalizacin de ciertas relaciones sociales (de gnero y sexuales) y su integracin como elementos de un debate pblico y colectivo (Parrini, 2009).
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Sesso 1 Sexualidade, estado e processos polticos

este dilogo puede quedarse corto y tal vez no de cuenta de la nocin de regulacin sexual como he intentado delinearla en este escrito. Estoy convencido que no toda lectura entorno a la politizacin de la sexualidad en la regin puede explicarse desde la nocin de gobernamentalidad. Referencias bibliogrficas
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Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 1


Gloria Careaga1 foi a comentarista do texto panormico. Suas observaes, inicialmente, enfatizaram aspectos relacionados trajetria do feminismo e do movimento de lsbicas que, ao seu ver, mereceriam ganhar maior visibilidade nos percursos analisados por Pecheny e De la Dehesa. Ela lembrou, por exemplo, que a sexualidade foi um tema importante do feminismo latino-americano nos anos 19701980, mesmo quando mais tarde essa linha de atuao tenha, de algum modo, perdido densidade. Segundo ela, nos dias de hoje, de modo geral, assume-se a postura de que a luta pela sade sexual, os direitos reprodutivos e o aborto possam dar conta das questes de sexualidade. Entretanto, quando se examinam as discusses e aes feministas mais de perto, verifica-se que discusses elas so, de fato, dbeis e escassas. Alm disso, em anos mais recentes, setores importantes do feminismo regional fizeram uma inflexo no sentido de discutir temas macropolticos e macroeconmicos, o que a comentarista considera positivo. Mas de algum modo esse deslocamento se fez em detrimento das questes da intimidade, da vida privada e mesmo das lutas por legalizao do aborto. Para Careaga, isso tem reflexos negativos sobre a poltica sexual como um todo. Hoje, em apenas trs pases da regio, possvel identificar conexes orgnicas entre poltica feminista, lutas por direitos LGBT e aes desenvolvidas por trabalhadoras sexuais. Da mesma forma, muito embora em anos recentes os grupos e iniciativas lsbicas tenham se multiplicado e mesmo quando a sigla LGBT comece hoje com o L , na maioria dos pases a visibilidade garantida por lideranas individuais e carece de uma base ativista mais organizada e vocal. A comentarista tambm chamou ateno para a urgncia de enfrentar o desafio da interseccionalidade no apenas no interior da poltica sexual, mas para alm dela. Isso porque, na sua percepo, tanto o movimento feminista quanto o ativismo LGBT padecem de um vis de classe mdia educada que dificulta, sistematicamente, a aproximao com outros grupos sociais. E sublinhou os traos complexos e contraditrios do tabuleiro poltico regional em 2009:
O binarismo de esquerda/direita j no nos d elementos suficientes para analisar o que acontece ao nosso redor. Um governo de revolucionrios, como o da
Integrante do Comit diretivo do SPW, co-secretria da Associao Internacional de Lsbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex (ILGA) e professora no Departamento de Psicologia da Universidade Nacional Autnoma do Mxico (UNAM).
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Nicargua, aboliu o acesso ao aborto e persegue as feministas, ao mesmo tempo que descriminaliza as relaes entre pessoas do mesmo sexo e so ocultados os dados acerca dos crimes de dio contra pessoas trans Em contraste, em um pas governado por conservadores, como a Colmbia, foram adotados marcos legais de proteo aos casais do mesmo sexo e esto sendo implementadas polticas favorveis populao LGBT.

Careaga concordou com a anlise de Pecheny e De la Dehesa acerca de um enorme hiato entre leis e poltica pblicas e realidades vividas. Mas sugeriu que seria interessante pensar que as letras mortas no so somente identificadas nas leis ou documentos governamentais. Elas tambm so, muitas vezes, palpveis nas declaraes que movimentos pela diversidade sexual fazem em relao a seus ganhos polticos, pois h uma distncia significativa entre ser capaz de influenciar a gesto das polticas e, de fato, alterar as condies da vida cotidiana. Examinando mais de perto o movimento pela diversidade sexual, Gloria lembrou tambm que suas lutas tm se concentrado nos esforos de despenalizao e no campo de direitos especficos como em relao ao HIV/AIDS ou unio/casamento entre pessoas do mesmo sexo. Embora ela considere que sejam importantes os ganhos conseguidos nesses campos, tambm avalia que essa pauta no possibilitou at hoje a construo de uma agenda de cidadania sexual mais clara e ampla que permita, de fato, romper com esteretipo e estigmas. Concordando com os autores, ela pensa que os ganhos obtidos nas ltimas dcadas podem ter sido efetivos para lutar contra a violncia e a criminalizao, mas no tiveram tanta eficcia no que diz respeito aos direitos de livre expresso e ao tema do prazer. Adriana Vianna2 e Rosa Posa3 foram as comentaristas dos trabalhos de Franklin Gil, Gabriel Gallego e Elza Muiz. Entretanto, suas reflexes dizem respeito ao conjunto dos trabalhos. Adriana Vianna iniciou seu comentrios falando de perturbaes que havia experimentado ao ler os trabalhos. Por exemplo, identificou como um problema no texto panormico elaborado por Rafael De la Dehesa e Mario Pecheny a sugesto de que pensemos em polticas pblicas interseccionais. Isso porque ela considera que sempre difcil adotar uma perspectiva interseccional quando se trata de polticas de estado, pois elas se definem a partir de dois macroidiomas polticos contemporneos, os quais esto sempre em tenso: um idioma mais universalista e outro idioma mais identitrio. A partir dessa moldura de entendimento, ela pergunta:
Reconhecendo que nenhum movimento pode dar conta da pluralidade de situaes de discriminao e subalternidade, no seria pedir demais dos movimentos que
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Professora do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Comisso Internacional de Direitos Humanos para Gays e Lsbicas (IGLHRC).
Comentrios 121

eles deem conta de mximos abrangentes e minuciosos? Qual seria uma pauta mnima e ampla o bastante que pudesse agregar atores e sujeitos que falam de lugares to diferentes?

No que diz respeito s apresentaes do painel, Vianna interrogou uma certa tendncia a privilegiar o estado como foco central das anlises. Lembrou que, de maneira geral, o conceito de estado suscita, tanto entre ativistas quanto entre pessoas ligadas ao mundo acadmico, o imaginrio de uma entidade moral fabulosa que, ora se apresenta em contraposio com a poltica sexual, ora significa a esfera de resoluo de nossos problemas e direitos. A partir da fala de Gallego sobre os diferentes atores presentes no processo de regulao da sexualidade na Colmbia, ela chamou ateno para um aspecto ou dimenso de que pouco se fala: o estado como experincia na vida concreta dos sujeitos, ou seja, as instituies estatais que intervm no cotidiano das pessoas, que marcam as experincias individuais no plano da micropoltica, uma marca que, quase sempre, se materializa atravs dos corpos. Rosa Posa tambm retomou as concepes de intersecionalidade, no do ponto de vista do estado ou das polticas pblicas, mas sim do ponto de vista dos movimentos pela diversidade sexual. Segundo ela, interessante pensar que, ao contrrio da imagem dos conjuntos em interseo que se aprende nas aulas de matemtica, nas quais os centros se intersecionam, no caso da poltica sexual, em geral, so as partes perifricas dos diferentes movimentos que se sobrepem. Na sua avaliao, essa iniciativas de aproximao entre causas atravs das conexes pelas margens tm tido resultados interessantes na Amrica Latina e no Caribe, pois permitem colaborao, consenso e solidariedade em relao a temas e situaes concretas. Essa uma perspectiva distinta das grandes unidades e consensos do passado. Especificamente em relao ao texto de Gabriel Gallego, a comentarista elogiou o esforo realizado no sentido de dar visibilidade a outras formas de disciplinamento sexual que vo alm da regulao estatal no sentido clssico, e reiterou o comentrio acerca dos efeitos danosos da cooperao internacional, ressaltando que no apenas no campo LGBT ou dos direitos das mulheres, mas de uma forma mais ampla, a interveno da cooperao em anos recentes tem levado a uma ditadura dos projetos. Rosa Posa tambm ressaltou, a partir da anlise desenvolvida nos trs trabalhos, que a relao dos movimentos com os estados partindo do conceito de que estado aquilo que administra a esfera pblica uma contradio perene. Isso pode ser ilustrado pelos debates em curso no interior do movimento LGBT paraguaio que, ao mesmo tempo em que reivindica o reconhecimento da unio civil de casais homossexuais, questiona se, de fato, o estado deve regular essas relaes.
122 Sesso 1 Sexualidade, estado e processos polticos

O mesmo paradoxo tambm foi tratado por Vianna numa perspectiva mais conceitual, quando sublinhou que os direitos no so apenas uma norma estatal, mas tambm constituem uma categoria moral, uma ferramenta de articulao poltica fundamental. Nesse sentido, importante resgatar a natureza polissmica da categoria direitos. Por outro lado, tambm preciso lembrar que o estado, ele mesmo, tambm um conjunto contraditrio de discursos e prticas, um emaranhado de experincias complexas e diversificadas. Para Vianna, o reconhecimento dessa multiplicidade de significados pode contribuir para esclarecer nossa compreenso acerca das insuficincias da poltica quanto complexidade das intersees entre sexualidade, estado e direito.

Comentrios

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Sesso 2:
Cincia e poltica sexual

TEXTO PANORMICO

Cincia, gnero e sexualidade


Kenneth Camargo1, Fabola Rohden2 e Carlos F. Cceres3

Introduo Uma das caractersticas mais marcantes da modernidade a vida sob a gide da cincia. Tanto numa dimenso material, onde produtos tecnocientficos ocupam cada espao da vida cotidiana, quanto num nvel simblico, enquanto princpio geral de explicao e referencial ltimo do conhecimento confivel, dificilmente se poderia superestimar sua importncia. At mesmo na linguagem corrente, v-se com frequncia a associao entre palavras do tipo cientfico, verdadeiro e real, como se fossem sinnimos. Por outro lado, ao menos desde a dcada de sessenta do sculo passado e cada vez de forma mais intensa, crticas perspectiva da cincia, tambm nestas duas dimenses, tm-se feito presentes. Ameaas ao ambiente e prpria sobrevivncia da espcie humana, bem como a suposta desumanizao das relaes sociais so atribudas, com ou sem razo, ao domnio material e simblico do pensamento cientfico. Em parte talvez por conta desta reao ao domnio da cincia, neste mesmo perodo, uma perspectiva filosfica crtica comea a desenvolver-se, tendo como um de seus marcos a publicao, em 1962, de um dos livros de maior repercusso no sculo XX, A estrutura das revolues cientficas, de Thomas Kuhn (mais detalhes na prxima seo). Enquanto teorias filosficas precedentes preocuparam-se sobretudo com a criao de um critrio de demarcao que separaria o que cincia daquilo que lhe seria estranho, num reconhecimento implcito da sua primazia epistemolgica, Kuhn
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Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ).

Departamento de Polticas e Instituies de Sade do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ); Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ).
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Profesor de Salud Pblica en la Universidad Peruana Cayetano Heredia, en Lima, Per.

ofereceu um modelo que abriu a perspectiva de estudar a cincia como uma atividade social e cultural, aberta crtica e compreenso geral. Na trilha aberta por Kuhn, socilogos e antroplogos, alm de historiadores e filsofos, debruaram-se sobre a atividade de cientistas, buscando descrev-la e compreend-la para alm do discurso de apresentao de seus prprios atores principais, os cientistas. Nos ltimos 30 anos, esta perspectiva crtica foi confrontada por cientistas de reas duras, surgindo as chamadas Guerras da Cincia, contrapondo uma viso da cincia como atividade de descoberta da estrutura ltima da realidade s vrias concepes abarcadas pelo rtulo da cincia como construo social. No ltimo campo, uma leitura poltica, a partir da dcada de 1970 e de autores como Foucault, trouxe perspectivas crticas, entre outros aspectos, sobre como vises patriarcais e heteronormativas teriam se entricheirado na produo da cincia, transformando em fato cientfico aquilo que seria, a priori, uma perspectiva ideolgica. Alguns cientistas contra-atacaram, afirmando que a perspectiva construcionista negaria qualquer materialidade aos objetos da cincia, reduzindo-a produo de discursos e manobras retricas. Anos mais recentes tm assistido a tentativas de rever esta polarizao danosa, tentando incorporar, ao mesmo tempo, uma viso que relativiza a ideia de uma autoridade final da cincia, mas tambm sem deixar de lado inegveis ganhos aportados pelo empreendimento tcnico-cientfico. Um autor relevante neste contexto Ian Hacking, filsofo canadense que escreveu, em 1999, um livro cujo ttulo j expressa sua posio no debate: The social construction of what? Nesta obra, Hacking tenta se desvencilhar da polarizao, mostrando que as diversas perspectivas abarcadas sob a rubrica construo social tm em comum um ponto de partida: o objeto definido como socialmente construdo tido como um dado perene da natureza, mas seria, na verdade, contingente, tendo uma histria e poderia, portanto, ter sido constitudo de outra forma. Mais que isso, essas perspectivas assumem que o estado atual de tal objeto indesejvel, produziria consequncias nefastas para as pessoas e, ao apontar a perspectiva construcionista, se estaria, na verdade, buscando a instabilizao de tais objetos com vistas sua reforma, em verses mais brandas, ou sua completa eliminao, numa chave mais radical/revolucionria. Os objetos que nos interessam neste texto so os sistemas relacionais de gnero que estruturam interaes entre homens e mulheres em diversas culturas, bem como as ideologias sexuais associadas a tais sistemas. Em momentos histricos anteriores, ainda com ecos no presente, o pensamento religioso foi o principal regulador destes sistemas de interao, atravs de suas instituies. Com a introduo da perspectiva da cincia, a partir do renascimento, sua autoridade passa progressivamente a se estender sobre vrios domnios da vida humana, como j foi mencionado no incio do texto, e as concepes cientficas sobre
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Sesso 2 Cincia e poltica sexual

o que seria a natureza humana no poderiam deixar de incluir as esferas do gnero e da sexualidade, tomando, progressivamente, ainda que incompletamente, o controle das mos da religio organizada. Sendo assim, as definies cientficas sobre sexualidade e gnero passam a definir o que aceitvel ou no, patologizando e/ou criminalizando o que se enquadra no segundo caso. Ao examinar tais definies sob o prisma da construo social da cincia, buscaramos desvelar os componentes ideolgicos, ligados s relaes de poder, mascarados pela autoridade da cincia, contribuindo para a sua instabilizao e, espera-se, substituio por formas eticamente mais defensveis de conceber estas questes. Antes de chegar a isso, contudo, necessrio um exame mais detalhado do prprio empreendimento cientfico, aplicando ao mesmo o ferramental crtico dos science studies, o que fazemos a seguir. Histria e filosofia da cincia: uma introduo O que cincia, afinal? O objetivo desta seo do texto oferecer uma resposta, ainda que incompleta e esquemtica, desta pergunta fundamental. Para isto, faremos uma rpida digresso histrica, necessria para compreenso adequada dos problemas relacionados ao que parece uma simples questo de definio. Embora a origem histrica de disciplinas claramente consideradas cientficas no presente, como a astronomia, por exemplo, se perca nos primrdios da prpria histria escrita da humanidade, aquilo que poderamos chamar de cincia moderna tem seu marco consensual4 na transio entre modalidades epistemolgicas que teve lugar na transio da Alta Idade Mdia para o Renascimento (Hall, 1988)5. Ao contrrio do saber convencional herdado, que aponta a Idade Mdia como um perodo de desenfreado misticismo irracional, diversas inovaes tecnolgicas (como na metalurgia, construo civil e na produo de vidros, das quais so testemunha as catedrais gticas europeias) surgiram neste perodo. Tambm na Idade Mdia que surge a universidade e, com ela, processos de formao acadmica que traziam currculos padronizados (compostos por trivium gramtica, dialtica e retrica e quadrivium aritmtica, msica, geometria e astronomia) sob a gide da teologia, a rainha das cincias naquele perodo histrico. Do ponto de vista filosfico, o grande empreendimento no mundo ocidental foi a sntese efetivada
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Ou nem tanto vide Shapin (1996).

Esta uma histria ligada histria da Europa, onde aquilo que chamamos de cincia no presente tem sua origem. Isto no significa que outros povos e outras culturas no tenham desenvolvidos saberes e tecnologias at mais avanados que seus contemporneos europeus, mas simplesmente no fazem parte da linhagem que se descreve neste texto, o que no , evidentemente, isento de problemas.
Cincia, gnero e sexualidade Kenneth Camargo, Fabola Rohden e Carlos F. Cceres

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por Toms de Aquino entre a filosofia Aristotlica e os preceitos religiosos cristos, formando o tomismo, filosofia oficial da igreja catlica at o presente (Koyr, 1991). Neste complexo sistema de pensamento, o que chamamos hoje em dia de Universo era concebido como Cosmo, fechado e heterogneo, geocntrico, com uma fronteira definida pela rbita lunar, alm da qual estaria o domnio do eterno e perfeito e, aqum da mesma, a esfera da transitoriedade e imperfeio. Resulta da que qualquer apelo a instncias empricas como fundamento epistemolgico seria indevido; nossos prprios sentidos so falhos e tudo a que estes tm acesso exatamente um mundo, ele mesmo epistemologicamente infiel e traioeiro que jamais daria acesso Verdade. Sendo os humanos criados imagem e semelhana de seu criador, segundo este pensamento, naquilo que os aproxima dele que se pode encontrar o fundamento slido do conhecimento confivel, pela introspeco e pela exegese dos textos sagrados. Segue-se, portanto, que o critrio mximo de referncia epistemolgica a Razo. E entre os humanos h especialistas evidentes na produo de interpretaes corretas o clero, intermediador entre a palavra divina e a existncia humana (Koyr, 1991). Um dos produtos mais robustos deste modelo o sistema astronmico Ptolemaico. Como j mencionado, a astronomia tem razes que se estendem para alm da histria conhecida. Mltiplas necessidades de povos antigos navegao noite, estabelecimento de ciclos temporais (calendrios) essenciais para a agricultura, por exemplo, e mesmo a previso astrolgica estimularam o desenvolvimento precoce (e mltiplo, veja-se, por exemplo, a avanada astronomia desenvolvida pelos Maias na Amrica Central pr-colombiana) desta disciplina (Kuhn, 1992). Seguindo a lgica de esferas supralunares perfeitas, o nico movimento possvel de ser executado por corpos celestes o circular, eternamente igual a si mesmo. Mapeando-se as estrelas visveis no cu noite, juntamente com a Lua, ou o Sol durante o dia, as observaes pareciam confirmar este preceito. Uma classe de objetos, contudo, denominados pelo vocbulo grego que os identificava como errantes os planetas , segue trajetria estranha, que parecem ir at um ponto no cu, regressar e depois continuar na direo anterior. Este movimento, denominado precesso, era explicado pela existncia de epiciclos crculos dentro de crculos que gerariam a aparente anomalia. As observaes do cu, feita com parcos instrumentos e com elevada margem de erro, no sugeriam erros do modelo (Kuhn, 1992; Koyr, 1991). Em 1543, surge um livro (De revolutionibus orbium coelestium), publicado pouco antes de seu autor (Nicolau Coprnico, 1473-1543) falecer que oferecia uma representao alternativa ao sistema Ptolemaico, colocando a Terra, e no o Sol, em seu centro. No prefcio do livro, esta deciso apresentada de forma cautelosa como um dispositivo matemtico que facilitaria o processo dos clculos astronmicos, sendo geometricamente equivalente ao modelo Ptolemaico (Kuhn, 1992; Koyr, 1991).
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Sesso 2 Cincia e poltica sexual

com a chegada de um outro personagem quase icnico Galileu Galilei (1564-1642) , com mltiplos interesses acadmicos (astronomia, mecnica, matemtica), que o modelo epistemolgico da Idade Mdia torna-se seriamente abalado. Influenciado pelo pensamento Platnico e pelos desenvolvimentos da arte de sua poca (como, por exemplo, a redescoberta/reinveno da perspectiva), Galileu introduz importantes inovaes metodolgicas nos processos de produo de conhecimento: a matematizao e a experimentao. Subjacente a ambos estavam dois pressupostos metodolgicos: um, a de que o criador do universo se expressaria em linguagem geomtrica na sua criao, e outro que o modo privilegiado de acesso Verdade sobre essa criao seria a observao, princpio compartilhado por outros autores, como Veslio (1514-1564), geralmente considerado como o autor do primeiro tratado anatmico moderno, o De humani corporis fabrica, publicado no mesmo ano 1543 da primeira edio do De revolutionibus de Coprnico (Hall, 1988). Galileu demole a barreira infra/supra lunar. Encontra imperfeies na Lua com seu telescpio, e afirma que os movimentos possveis so o mesmo em qualquer parte do Universo. Afirma a necessidade da experimentao como forma de obter certeza, ridiculariza os sbios escolsticos presos a seus textos, e o faz em livros sob a forma de dilogos, publicados em italiano, e no em latim, a lngua dos sbios. Estas operaes epistemolgicas co-produzem dois atores fundamentais: o sujeito (humano) do conhecimento e seu objeto, a Natureza. Para Galileu e os que vieram a seguir, desta ltima que pode surgir a certeza (Koyr, 1991). Deve-se entender a condenao imposta a Galileu nesta perspectiva. Mais do que apenas a questo do heliocentrismo versus geocentrismo, a epistemologia galilaica uma ameaa ao status quo teocrtico que se fundamenta na primazia hermenutica do clero. O processo de Galileu, contudo, no foi mais que um acidente de percurso na histria da cincia. Seguindo seus passos, Isaac Newton (1643-1727) produz a primeira grande sntese da histria da Fsica contempornea, ao deduzir leis de movimento que explicariam a queda de objetos na Terra e a trajetria de corpos celestes. O desenvolvimento da Fsica ao longo dos sculos seguintes foi extraordinrio e abrangente, ao ponto de levar um dos grandes nomes da disciplina na passagem do sculo XIX ao XX, William Thomson, Lord Kelvin (1824-1907), a afirmar, em 1900, que nada haveria de novo a ser descoberto na Fsica, restando apenas aperfeioar os mtodos de mensurao. O desenvolvimento de sua prpria disciplina levaria negao da afirmao de Lord Kelvin, mas praticamente desde os primrdios da cincia experimental moderna um desafio filosfico persistia. Formulado primeiramente por David Hume (1711-1776), o problema da induo, como veio a ser conhecido, colocava em questo o processo de generalizao de achados a partir de experimentos ou obCincia, gnero e sexualidade Kenneth Camargo, Fabola Rohden e Carlos F. Cceres

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servaes, mesmo que mltiplas. Colocado em uma formulao familiar, o fato de um determinado observador (ou vrios observadores) s identificar cisnes brancos ao longo de sua(s) vida(s) no d a certeza de que todo cisne branco (e, com efeito, existem cisnes negros). Durante os dois sculos que separam Galileu de Kelvin, esta objeo epistemolgica no tem repercusses mais significativas no mundo da investigao cientfica. A efetiva separao disciplinar entre a filosofia e a cincia (a seu modo e, em seu tempo, todos os pioneiros da cincia, como os j citados galileu e Newton, mas tambm Descartes, Leibniz, Boyle e muitos outros, eram tambm filsofos; o surgimento da filosofia como domnio disciplinar independente s se daria com Kant 1724-1804) provavelmente contribui para isto, mas certamente os sucessivos triunfos da cincia forma determinantes neste processo de desconhecimento ativo. Com o desenvolvimento da mecnica quntica e da relatividade geral, contudo, as certezas da Fsica Clssica so colocadas em questo e com elas o seu modelo epistemolgico. Retrospectivamente, aquilo que parecia ser definitivamente esclarecido se tornava algo completamente novo a ser novamente explicado, levando pesquisadores a questionar novamente como se poderia obter conhecimento confivel. Uma nova tentativa de resposta dada por um grupo de pesquisadores austracos, autodenominados de Crculo de Viena, que lanam em 1929 um manifesto propondo dois princpios bsicos para a cincia: A experincia a fonte de todo conhecimento; A anlise lgica o mtodo preferencial de soluo de problemas filosficos (Klemke et al., 1998). Como consequncia, propunham a aplicao da lgica indutiva cincia, aceitando a restrio proposta por Hume e incorporando-a a seu modelo epistemolgico, que veio a ser conhecido como positivismo lgico, contrapondo-o s formas de realismo at ento prevalentes na filosofia das cincias. Uma preocupao fundamental dos positivistas lgicos era a de como determinar o que seria de fato cientfico, objetivando expurgar da cincia qualquer influncia metafsica (presente no realismo, por exemplo). O chamado critrio de demarcao seria a cerca epistemolgica que estabeleceria de uma vez por todas a fronteira entre a cincia e a no-cincia. Apesar de importantes inovaes epistemolgicas em relao filosofia da cincia que o precedeu, o positivismo lgico compartilhava com a mesma ao menos duas caractersticas importantes: a concepo de uma cincia nica, sujeita a um conjunto compartilhado de procedimentos metodolgicos, que cresceria pela constante acumulao de conhecimento.
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Em 1934, um filsofo de origem austraca, posteriormente radicado no Reino Unido, Karl Popper (1902-1994), publica seu primeiro livro, Logik der Forschung (A lgica da descoberta cientfica, na traduo para o portugus), com uma nova proposta epistemolgica com importantes contrastes em relao ao positivismo lgico. Para Popper, a cincia se caracterizaria no por comprovar hipteses ou teorias, mas por comportar mecanismos de falsificao das mesmas. Ao invs de comprovao experimental, teorias teriam sobrevivido aos testes colocados no caminho de seu desenvolvimento; hipteses falsificadas deveriam ser abandonadas de uma vez por todas. Conjeturas e falsificao estariam na base do desenvolvimento histrico da cincia (Popper, 1989). Apesar destas importantes diferenas, contudo, Popper mantm pontos em comum com as teorias epistemolgicas precedentes, em especial a concepo de uma cincia nica, capaz de ser demarcada de modo claro, simples e definitivo da no-cincia, produzida pela associao entre empiria e a aplicao inflexvel da lgica. Neste ltimo ponto, reside a diferena mais importante da epistemologia popperiana, ao propor um critrio dedutivo de negao, em contraposio lgica indutiva do positivismo lgico. A publicao, em 1962, da primeira verso de The structure of scientific revolutions (A estrutura das revolues cientficas), de Thomas S. Kuhn (1922-1996), fsico tornado historiador e filsofo da cincia, traz importantes inovaes ao debate. Para Kuhn, o sujeito cognoscente no mais o indivduo, mas comunidades de pesquisadores, com um importante componente extra-cognitivo, o paradigma, e a histria das cincias compreendida no mais como um crescendo contnuo de acumulao, mas uma sucesso de crises e revolues. A ideia de um critrio de demarcao nico para todas as cincias praticamente descartada. Toda a histria e filosofia da cincia at Kuhn e incluindo o mesmo est dividida em duas abordagens distintas, chamadas na literatura de lngua inglesa de internalista e externalista. A primeira consideraria apenas a dinmica interna de uma dada disciplina no seu desenvolvimento, enquanto que a ltima abarcaria as condies de produo do conhecimento cientfico, mas sem coloc-lo em questo. Ou seja, ao lidar com um dado marco histrico, por exemplo, o surgimento da termodinmica, uma histria internalista se concentraria no surgimento de conceitos de entropia, ou da lei de Boyle, ou dos passos tcnicos da criao dos motores a vapor, enquanto que a abordagem externalista poderia analisar as presses econmicas da Revoluo Industrial, como o estmulo para o desenvolvimento das primeiras, mas sem nenhuma anlise crtica das teorias termodinmicas em si. Enquanto que seus predecessores, inclusive Popper, concentraram-se na prescrio de como deveria ser a cincia, Kuhn, com sua nfase nos estudos histricos, procurou a descrio de como as disciplinas se estruturaram. Mais ainda, o conceito de paradigma abria um horizonte de investigaes sobre como componentes
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tidos como externos cincia poderiam se traduzir na produo do seu prprio contedo. Na trilha aberta por Kuhn, surge, na dcada de 1970, do ltimo sculo, em Edinburgh, um programa de investigao sobre a cincia que se autodenominou Programa Forte da sociologia das cincias, em contraposio ao que chamavam de programa fraco, representado, por exemplo, pela sociologia externalista de Robert K. Merton (1910-2003). Os proponentes deste programa desenharam um conjunto de regras epistemolgico-metodolgicas, entre as quais destacam-se o chamado princpio de simetria (a descrio histrica de teorias cientficas concorrentes deveria ser feita nos mesmos termos para as duas, e no partindo do princpio que uma teria triunfado por ser correta, e a outra errada) e o de causalidade social a causa ltima do conhecimento seria a Sociedade (Latour & Callon, 1991). Apesar de ter iniciado sua produo na rea com um estudo classicamente associado ao Programa Forte, tendo inclusive sido publicado em co-autoria com um dos seus principais pensadores (Latour & Woolgar, 1979), Bruno Latour (1947) vai progressivamente se afastar deste marco e criticar seus pressupostos, em particular o princpio de simetria que, segundo ele, deveria ser ampliado de forma a incluir o que chama de atores no-humanos (Latour, 1994). por estas portas abertas que vo se desenvolver os science studies, definidos de forma particularmente adequada pelo prprio Latour: H cerca de vinte anos, eu e meus amigos estudamos estas situaes estranhas que a cultura em que vivemos no sabe como classificar. Por falta de opes, nos denominamos socilogos, historiadores, economistas, cientistas polticos, filsofos, antroplogos. Mas, a estas disciplinas venerveis, acrescentamos sempre o genitivo: das cincias e das tcnicas. Science studies a palavra inglesa; ou ainda este vocbulo por demasiado pesado: Cincias, tcnicas, sociedades. Qualquer que seja a etiqueta, a questo sempre de reatar o n grdio atravessando, tantas vezes quanto forem necessrias, o corte que separa os conhecimentos exatos e o exerccio do poder, digamos a natureza e a cultura. (Latour, 1994:8-9) Sob o rtulo dos science studies (ou science and technology studies) albergam-se no presente uma pletora de autores e abordagens, no necessariamente coerentes ou mesmo convergentes, mas que teriam em comum os traos apontados por Latour. Num plo, concentram-se autores que, a partir da leitura proposta pelo desenvolvimento histrico delineado acima, rejeitam qualquer especificidade epistemolgica da cincia, vista apenas como um discurso ideolgico de exerccio de poder e controle. O prprio Latour adverte, num texto de 2005, sobre os riscos da apropriao conservadora da abordagem construcionista da cincia: pensada originalmente como uma estratgia contra a apresentao de fatos cientficos duvidosos como estveis, como forma de defesa da sociedade contra o abuso ideolgico da cincia, estas ferramentas estariam sendo utilizadas contra fatos bem estabelecidos, no sentido de desestabiliz-los na arena pblica como estratgia de avano de uma
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agenda reacionria, em reas entre as quais os riscos do tabagismo para a sade pblica, as origens antropogncias das modificaes climticas ou ainda, na tentativa de impingir o discurso religioso criacionista, como alternativa vlida teoria da evoluo (Latour, 2004). Onde isto nos deixa? A perspectiva da cincia como uma atividade humana, atravessada pela ideologia, poder e poltica, limitada pela prpria linguagem, no exclui sua capacidade de gerar conhecimento confivel. Os desenvolvimentos tecnocientficos carream ganhos bvios, como os avanos nas comunicaes ou no tratamento de algumas condies severas, entre estas a AIDS. O reconhecimento da impureza estrutural da cincia no a invalida, mas aumenta a responsabilidade dos seus praticantes quanto redobrada vigilncia epistemolgica sobre seus achados. Este reconhecimento traz a necessidade constante do dilogo com a sociedade em geral, com profunda e sistemtica reflexo sobre as repercusses do conhecimento produzido sobre as vidas das pessoas. Isto no significa uma recusa cincia, mas, conforme proposto por Boaventura de Sousa Santos, entre outros, a aplicao da cincia contra ela prpria como forma de limitar ao mximo seu uso na condio de instrumento de explorao e dominao (Santos, 1989).
Gnero e cincia

Os chamados estudos de gnero e cincia tm se caracterizado como uma corrente que visa analisar a cincia a partir do referencial dos estudos feministas e de gnero e dos estudos sociais da cincia. Caracterizam-se por uma multidisciplinaridade, sendo integrados por filsofas, historiadoras, bilogas, antroplogas etc. So pautados num questionamento profundo a respeito da cincia que foi produzida at hoje e na discusso sobre a possibilidade de se fazer uma cincia feminista. Podemos dizer que, na dcada de 1970, temos os primeiros trabalhos preocupados com a questo, embora tenhamos a referncia a trabalhos anteriores, como os produzidos pelas pioneiras Antoinette B. Blackwell que, em 1875, refutava Darwin e propunha a igualdade entre os sexos; ou Elisa Gamble, que, em 1893, a partir de uma releitura de Darwin, dizia que as mulheres teriam evoludo mais (Citeli, 2001). Desde ento, podemos notar no campo a convivncia, em paralelo, de duas principais vertentes. Uma primeira se caracteriza melhor pelo rtulo dos estudos sobre mulher e cincia e estaria circunscrita preocupao de dar visibilidade participao, contribuio e status das mulheres na cincia. A segunda vertente seria denominada mais propriamente de gnero e cincia e estaria dedicada a mapear as implicaes do gnero para e na produo da cincia (Citeli, 2001). Uma outra maneira de definir esse campo seria por meio da distino de trs planos bsicos de reflexo. O primeiro se refere dimenso da prtica ou do cotidiCincia, gnero e sexualidade Kenneth Camargo, Fabola Rohden e Carlos F. Cceres

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ano da produo do conhecimento e seus atores, considerando a excluso histrica das mulheres. Nesse plano, tm destaque os estudos que mostram a ausncia ou a pouca expresso feminina em vrios campos do conhecimento, seja atravs de pesquisas histricas, seja por meio de diagnsticos realizados nas instituies, laboratrios, grupos de pesquisa ou publicaes cientficas, contemporaneamente. O segundo plano diz respeito ao androcentrismo presente nos pressupostos e nos produtos da cincia. Este domnio se caracterizaria por uma discusso mais especificamente epistemolgica, congregando trabalhos que tm sido muito profcuos em demonstrar o papel do gnero, enquanto categoria estruturante, e suas implicaes para a produo do conhecimento cientfico. O ltimo plano de reflexo se detm no problema de como a cincia alimenta as hierarquias de gnero na sociedade mais ampla. Nessa linha, trata-se de analisar as repercusses daquilo que produzido como conhecimento verdadeiro e legtimo em vrios domnios da sociedade, chamando a ateno para processos de reificao ou re-significao das noes associadas s marcas de gnero. O que parece evidente, considerando essas vrias possibilidades de enquadrar essa produo analtica, que, se, por um lado, temos um certo diagnstico inicial comum de que o gnero influencia a cincia, por outro, h importantes divergncias no que se refere ao grau de profundidade dos questionamentos e prpria forma de pensar a relao entre cincia e contexto social. As posies variam no sentido de um amplo leque que vai desde a mais simples admisso da influncia de alguns fatores externos no processo de produo do conhecimento at a discusso sobre a natureza mesma do projeto cientfico. A partir da apresentao desses questionamentos mais gerais, podemos entender a distino entre uma corrente que pretende criticar o que seria uma m cincia e outra que se destina a problematizar a prpria constituio da cincia moderna. Para os adeptos da primeira posio, a cincia feita at hoje vlida, mas merece crticas e melhoramentos a partir do reconhecimento das suas contingncias histricas e, por exemplo, da ausncia de certos grupos. Para esta perspectiva, os pressupostos gerais e, sobretudo, a noo de objetividade so vlidos. Mas a ausncia das mulheres impediu a promoo de uma viso de mundo mais complexa. Atravs da experincia enquanto mulheres, este grupo, como coletivo subordinado, teria a vantagem de ter sempre um ngulo extra de viso. Outra chave de compreenso importante que, ao se admitir que o conhecimento contextual e situado, abre-se a possibilidade de reconhecer as influncias do androcentrismo e sugerir a sua superao em prol do que seria uma cincia melhor. Esse caminho levaria tambm a duas possibilidades. Por um lado, a promoo de uma cincia una, objetiva, que seria cada vez melhor se inclusse as mulheres. Por outro, existe a prescrio de uma cincia cada vez mais plural que pudesse congregar mltiplas vozes ou vrios ngulos de viso.
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J na linha daquelas/es que problematizam a constituio da cincia enquanto projeto mais amplo, o foco central a afirmao de que a cincia que feita at hoje baseada em pressupostos androcntricos. A separao instituinte entre fato e valor, que caracterizaria a cincia moderna, estaria associada a uma srie de outras como cultura/natureza, sujeito/objeto, mente/corpo, razo/emoo e masculino/feminino. Ou seja, enquanto h uma ideia comum de que a cincia objetiva e neutra, o exame das categorias que estruturam a sua prpria constituio evidencia uma forte marcao de gnero. Se o feminino e sua concretizao nas mulheres (mas no exclusivamente nelas, se considerarmos, por exemplo, as classificaes atribudas a homens homossexuais) est associado natureza, objeto, corpo, emoo e valor, s poderia estar alijado da produo cientfica, tal como concebida tradicionalmente. Sob o primado da cincia objetiva e neutra, livre de valores, no haveria lugar para os sujeitos mulheres e para as qualidades associadas ao feminino. Embora as crticas apontadas por esta perspectiva possam ser muito pertinentes, o que cabe questionar se, de fato, podemos falar de um no comprometimento, por parte das mulheres, com relao cincia feita at hoje. Para conceber que no estariam em nada envolvidas nesse projeto terico e poltico, teramos que acreditar cegamente ou ingenuamente em uma separao de domnios. Mas, admitindo a complexidade das interaes sociais em mltiplos domnios e o prprio carter relacional da constituio do gnero, somos obrigados a pensar que o projeto de conhecimento que desenvolvemos em nossa sociedade tambm tributrio da participao das mulheres. claro que se trata de uma participao diferenciada em relao aos homens que, de maneira predominante, estiveram frente do grande empreendimento cientfico. Mas, afinal, este empreendimento, contextual e localizado, resultado da sociedade em que se insere, inclusive no que diz respeito a marcadores tradicionais de diferena como classe, raa/etnia e gnero. Alm de imaginar que as mulheres teriam estado de alguma forma alijadas do mundo que produziu essa cincia, poderamos sugerir que seria problemtico considerar que teriam uma experincia distinta e nica a servir de base para uma nova forma de produzir conhecimento. A discusso gira em torno da possibilidade de imaginar experincias, valores, essncias que fugiriam s tradicionais oposies que tm servido para organizar nossa forma de pensamento. Embora muito j tenha sido escrito na linha de mapear a produo em torno de gnero e cincia6, o trabalho da filsofa Sandra Harding (1986; 1993) continua sendo uma das referncias mais importantes. A autora especialmente lcida ao distinguir trs posicionamentos feministas: a) feminismo empirista, que concorda com o projeto da cincia, mas denuncia o androcentrismo da m cincia; b) feminismo perspectivista, que defende um saber fundamentado no ponto de vista das
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Ver, por exemplo, o trabalho de C. Sardenberg (2002).


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mulheres e; c) feminismo ps-moderno, para o qual as duas outras estratgias so questionveis, j que so fundamentalistas em alguma medida. O feminismo empirista incentiva a busca de uma cincia cada vez mais objetiva e capaz de suprimir os preconceitos de gnero. Foi bastante criticado em prol do desenvolvimento das duas outras linhas, nas quais vamos nos deter um pouco mais. O feminismo perspectivista, a partir de uma nfase na noo de conhecimento situado, defende que o feminismo pode oferecer uma compreenso mais complexa e menos distorcida da realidade. Com inspirao na epistemologia marxista, reconhecidamente politizada, prope que no existe conhecimento neutro nem absolutamente objetivo e que todo conhecimento se constri a partir de um posicionamento social especfico. A questo no simplesmente refletir a verdade, mas problematizar o que se pode apreender da perspectiva que se tem atravs de diferentes ngulos. Nesse sentido, sugere-se que a viso dos grupos dominantes sempre perversa e parcial, enquanto a dos dominados fruto de uma luta poltica e epistmica para escapar ou ver atravs da viso imposta. Essa perspectiva engajada, necessariamente, tem que se embasar em uma dupla viso e, por isso, pode se tornar uma conquista. Para Nancy Hartsock (1986), as desigualdades de gnero operam no sentido de gerar experincias qualitativamente diferentes para homens e mulheres. Por meio desses ngulos de viso distintos, seriam capazes de produzir conhecimento diferenciadamente. No se trataria de algo enraizado em diferenas biolgicas, mas sim resultado do padro de relaes de gnero em determinada sociedade (Harding, 1986; Sardenberg, 2002). Quanto ao feminismo ps-moderno, se desenvolve especialmente a partir das crticas ao feminismo empirista e perspectivista. Salienta o quo problemtico seria defender que o conhecimento se constri contextualmente ao mesmo tempo em que argumenta a favor de um maior privilgio epistmico das mulheres. Apesar da fora crtica do perspectivismo, deixa de considerar adequadamente que o conhecimento produzido sempre ser parcial e no necessariamente mais objetivo que outros pontos de vista em questo (Jane Flax, 1999). Alm disso, uma universalidade da experincia feminina vista com desconfiana e tambm se critica a falta de clareza a respeito da distino entre mulheres e feministas enquanto grupo privilegiado capaz de uma viso alternativa. As feministas ps-modernas apresentam uma olhar bem mais ctico em relao cincia herdeira do Iluminismo. Esse ceticismo explicaria por que Harding (1986) sugere que, no caso do feminismo empirista e do feminismo perspectivista, teramos duas propostas de soluo, enquanto no caso do feminismo ps-moderno tratar-se-ia mais propriamente de uma agenda de discusso em torno da relao entre cincia, objetividade e poltica feminista. Nesse cenrio de impasses, D. Haraway (1995) tem aparecido como outra forte referncia, afirmando que, se todos os conhecimentos so situados e parciais, isso no significa ter de abandonar completamente a busca pela objetividade. O
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fundamental seria buscar novos critrios de relao com o real. O seu conceito de objetividade corporificada caminha nessa direo. Ao reexaminar a metfora da viso e sua relao com a neutralidade e objetividade, to importantes na nossa cincia, insiste em sua parcialidade e corporalidade. Defende que uma viso necessariamente localizada e politizada, seja ela orgnica seja instrumentalizada pela tecnologia ou por aparatos tericos e metodolgicos. O investimento deveria ser na promoo da responsabilidade dessas vises sempre comprometidas. Mantendo as devidas distines, possvel sugerir que esta busca de uma viso politicamente responsvel tambm a proposta central de Harding (1993). Ao questionar a universalidade das experincias das mu-lheres, argumenta que uma soluo possvel seria renunciar meta da unidade das experincias sociais em prol de uma estratgia de solidariedade de objetivos possivelmente comuns. Nesse sentido, cada epistemologia alternativa, seja ela feminista, terceiro-mundista, homossexual ou operria, indicaria as condies histricas que produziram as oposies conceituais a serem superadas. Contudo, cada uma delas no gera conceitos ou objetivos polticos universais. interessante que uma das contribuies mais relevantes no panorama dos estudos de gnero e cincia tem vindo exatamente de um grupo especfico. Trata-se de um nmero importante de bilogas que passam a questionar a produo cientfica a partir de dentro, da sua prpria interao com teorias, mtodos e papel social enquanto cientista. A. Fausto-Sterling (1992; 2000), R. Bleir (1997), R. Hubbard (1997), L. Birke (1986), D. Haraway (1995), N. Oudshoorn (1994) e M. Wijangard (1997) so todas cientistas com formao no campo das cincias naturais que vo se interessar em rever a histria do gnero na biologia da diferenciao sexual e mostrar como aquilo que largamente definido como dado biolgico imutvel est permeado pelas concepes de gnero dominantes em nossa sociedade. Esta perspectiva tem sido bastante poderosa nas anlises que tem produzido e, certamente, abre novas portas tanto para a investigao da produo cientfica tradicional, quanto para o aprofundamento do debate terico sobre gnero e nossos marcantes dualismos. Cabe ainda mencionar que uma das principais contribuies desse grupo tem sido mostrar que a separao poltica operada por algumas correntes feministas a partir da dcada de 1960, entre o domnio do sexo e o que mais tarde seria chamado de gnero, tem tido consequncias bastante complexas. Naquele momento, era importante enfatizar os aspectos histricos e sociais do gnero e ignorar estrategicamente o domnio biolgico, que acabou ficando a cargo dos cientistas, especialmente bilogos e endocrinologistas. As tericas do gnero no tratavam da biologia, ou melhor, admitiam o biolgico como dado, trabalhando apenas com os fatores culturais7. Essa separao hoje em dia questionada em prol de um aprofunda7

Ver Fausto-Sterling (2000) e Wijngaard (1997).


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mento analtico que tem permitido significativas reconsideraes no que se refere construo do sexo, do gnero e da sexualidade na cincia. Sexualidade e cincia A relao entre sexualidade e cincia pode ser analisada de maneiras, em parte, similares e, em parte, distintas s da relao entre gnero e cincia. Uma delas partiria, naturalmente, de uma anlise histrica da gerao do conhecimento sobre a sexualidade. Neste marco, as colocaes do filsofo ps-estruturalista Michel Foucault, no sentido de que a sexualidade um discurso moderno sobre o ertico/sexual (e no um atributo da biologia, ou uma descrio cientfica sobre tal suposto atributo), tiveram uma grande influncia nos debates dos anos 1970 e 1980 e, de algum modo, marcaram a reflexo sobre sexualidade dos ltimos trinta anos. Sem dvida, Foucault foi (sobretudo atravs de sua Histria da Sexualidade 1976) um dos pensadores chaves na delimitao da concepo contempornea sobre sexualidade, incluindo: (1) a identificao do momento em que sexualidade como expresso comea a ser utilizada, assim como as formas que desde outras perspectivas filosficas tomaram a produo de conhecimento sobre o ertico/sexual (por exemplo, o discurso sobre erotismo na antiguidade; o discurso sobre virtude no Medievo); (2) o papel da produo de um discurso sobre sexualidade como um mecanismo de controle dos corpos; e (3) a possibilidade de ver a sexualidade como um dispositivo complexo que, justamente, definiu uma ordem social no referente ao ertico/sexual e reproduo durante os incios da modernidade. Uma segunda vertente a seguida por Jeffrey Weeks, que no livro O Mal Estar da Sexualidade (1985) se concentra na construo da sexualidade como objeto da cincia dos sculos XIX e XX. especialmente til sua descrio da abordagem do sexual, desde distintas disciplinas definidas em seu momento como cientficas (ou filosficas) ao largo de algo mais que cem anos, construindo un relato coerente da relao entre tais momentos e a histria mundial do ltimo sculo. A anlise de Weeks se desenvolve a partir das seguintes reflexes: colocaes iniciais da Psychopathia Sexualis, de Kraft-Ebing, na definio e taxonomizao do que considerava anomalias sexuais como, justamente, psicopatias, passando pelos aportes de Freud e da psicanlise (e particularmente suas posies sobre o conflito entre felicidade e civilizao); as contribuies de Ellis e a antropologia ps-colonial (de Malinowski, Mead e outros) ao descrever uma enorme diversidade de significados sexuais na anlise transcultural; a marca dos filsofos marxistas freudianos (Reich, Marcuse, Fromm) que postulavam a necessidade de uma liberao da sexua138
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lidade reprimida; o positivismo dos sexlogos que (desde vrias vertentes: Kinsey e Pomeroy sobre a conduta sexual humana; Masters e Johnson sobre a resposta fisiolgica excitao sexual; e outros) definiram uma nova forma de gerar conhecimento sobre o sexual, ainda que enfatizando de maneira essencial a necessidade de um funcionamento normal do corpo desde o ponto de vista sexual, incluindo a obteno de prazer, e a necessidade de intervenes biomdicas e psicoteraputicas para assegur-lo; e finalmente as metanarrativas da etologia, interpretando o comportamento sexual em sua relao com a evoluo biolgica, a seleo natural e a prevalncia dos mais preparados. O argumento integral de Weeks analisa as formas de produzir conhecimento, assim como o discurso produzido, em relao com os grupos disciplinares e o contexto histrico, tratando de identificar aportes e limitaes de cada perspectiva para a construo de um discurso que se entende, no como o descobrimento de una realidade sexual, mas como um entendimento historicizado, politizado e, no que for possvel, consensuado, do ertico sexual em um mundo definido, talvez, com a meta de aceitao e incluso de uma diversidade benigna. Uma terceira vertente de reflexo se situou, sobretudo, nos anos 1980, e se centrou nos debates entre essencialismo e construtivismo social. Esta linha de trabalho teve como referncias importantes os aportes de Foucault e de Gayle Rubin. Em boa parte, se trata de uma srie de ensaios que, principalmente, desconstroem o saber sexolgico, psicolgico ou biolgico sobre a sexualidade e a diferena sexual, e, claramente, postulam a centralidade do poltico (e as limitaes da possibilidade de ser objetivo) na produo de conhecimento sobre a sexualidade. Talvez, um dos focos desta discusso, que ressurge de tempo em tempo, o debate se a orientao sexual biologicamente determinada ou socialmente construda. Parte deste ressurgimento espordico resulta do desenvolvimento da biologia molecular e da possibilidade de articular um discurso muito mais especfico e analisar muitas novas hipteses sobre o determinismo biolgico da orientao sexual. Deve-se observar que o conceito orientao sexual se utiliza, apesar de suas ambiguidades seja em termo das anlises transculturais, seja no que diz respeito a ambiguidade aparente entre identidade (sexual e de gnero), orientao sexual (no sentido de desejo preferente por algum de um ou outro sexo) e conduta sexual (homo, hetero ou bissexual, no sentido do sexo das pessoas com as quais um indivduo se relaciona sexualmente). A crtica destas posturas vem, sobretudo, da perspectiva do construtivismo social e colocada geralmente desde os campos disciplinares da antropologia e da sociologia, no marco dos estudos culturais e dos gay and lesbian studies. No obstante, um dos aspectos mais interessantes do debate em si mesmo foi que os argumentos essencialistas foram postulados no por bilogos, mas sim, em muitos casos, por ativistas e pensadores da orientao sexual como uma essncia ou trao inato que precursor da identidade e fator
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constituinte da comunidade, em contraposio a uma vaga, imaginria e despolitizada construo social8. A resposta global epidemia de HIV/AIDS definiu, nas ltimas trs dcadas, uma linha adicional de gerao discursiva sobre a sexualidade. Esta se gerou, desde o incio dos anos 1980, sobretudo: (1) na investigao epidemiolgica a respeito de condutas sexuais associadas ao risco de infeco pelo HIV; e (2) na investigao psicolgica cognitiva sobre fatores associados a condutas sexuais de risco (por exemplo, os estudos de conhecimentos, atitudes e prticas) e estratgias educativas para modificar estas ltimas. No incio dos anos 1990, se deu um impulso maior investigao qualitativa sobre sexualidade e risco, a partir da antropologia, e os estudos envolvidos enfatizaram as culturas e significados sexuais. Muito se escreveu sobre o fracasso dos esforos iniciais de abordar a preveno de forma universal atravs de modelos cognitivos para a mudana de condutas, no que partiam de uma srie de pressupostos problemticos, tais como: (1) a conduta sexual humana varia da mesma forma e entre os mesmos limites em todas as culturas; (2) os significados sexuais so os mesmos para todos; e (3) a conduta sexual est determinada cognitivamente e pode ser modificada mediante estratgias cognitivas. Neste sentido, a abordagem da diversidade cultural postulada pela etnografia colocou, em princpio, que se deveria ter em conta a diversidade cultural (em prticas, significados, normas etc.), ainda que no necessariamente resolvesse estas questes com recomendaes especficas. Foi ento necessrio utilizar modelos tericos que dessem conta da excluso social e vulnerabilizao para interpretar as particularidades culturais junto com outros marcadores sociais (por exemplo, classe, etnia) como associados maior exposio ao risco, causados por determinantes especficos (determinantes sociais) e postulando a necessidade de mudanas mais complexas no entorno como prerrequisito para a diminuio de condies de vulnerabilidade. Por exemplo, reconheceu-se que a construo social do gnero podia, em alguns casos, tornar impossvel que muitas mulheres (e pessoas transgnero) se protegessem em um contexto no qual os homens definem o contedo das prticas sexuais do casal, ou no qual a cultura prescreve estes padres de maneira bastante fixa. Logo, este marco incorporou melhor as noes de empoderamento e participao comunitria que incluram a possibilidade de fortalecer a agncia dos grupos excludos, em contraposio sua viso passiva como grupos vulnerveis que no tm capacidade de atuar9. possvel que a enorme e bem financiada agenda de investigao em preveno do HIV/AIDS esteja contribuindo para a definio de discursos cientficos sobre sexualidade que so crescentemente diferenciados e podem chegar a ser irreconciliveis, com uma perspectiva mais essencialista (desde a epidemiologia hegemnica
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Ver, por exemplo, Ortiz, 1993. Um dos autores deste texto realizou uma anlise deste processo (Cceres e Race, no prelo).
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e a psicologia cognitiva) e outra mais contextualista (desde a epidemiologia social e as cincias sociais). Em quinto lugar, e como exemplo da vertente contextualista acima assinalada, conveniente assinalar a importncia crescente do interacionismo simblico como um marco terico no qual muito da investigao sobre sexualidade tem efeito. Dentro deste marco, tem sido particularmente importante o papel da teoria dos roteiros (scripts) sexuais (Simon & Gagnon, 1986), que contribuiu para o entendimento das interaes sexuais a partir da relao entre cenrios culturais (as normas sociais em relao com o sexual), os roteiros interpessoais (os padres de relao entre as pessoas, tanto em seus aspectos normativos como permitindo a recriao de formas de relacionamento) e finalmente os roteiros intrapsquicos (a viso pessoal da realidade sexual, considerando a experincia individual e a reflexo introspectiva). Esta teoria se afasta de maneira significativa das aproximaes cognitivas no entendimento da conduta sexual e incorpora distintos nveis de determinao ou estruturao da conduta sexual. Por exemplo, os cenrios culturais podem ser interpretados como demarcados por elementos estruturais (marcos legal-normativos), prticas institucionais (o matrimnio, as relaes econmicas etc.) e outros fatores de diferena (classe, etnia etc.). Finalmente, a partir principalmente da filosofia e, mais propriamente dos estudos culturais, no incio da dcada dos 1990 surge a teoria queer. Esta foi tambm inspirada pelo trabalho seminal de Foucault, e tem entre seus principais representantes Judith Butler, Eve Sedgwick, Daniel Halperin e Adrienne Rich, entre outros10. Ainda que alguns vissem nesta uma anlise da identidade, esta linha de reflexo claramente uma crtica da heteronormatividade. De fato, a teoria usa a expresso queer menos como uma identidade que como uma crtica corporalizada da identidade, incluindo uma discusso do papel da representao (performance) na criao e sustentao da identidade, das formas em que estas identidades mudam ou resistem mudana, da base da sexualidade e do gnero no naturais ou socialmente construdos, e das relaes de poder definidas pela heteronormatividade. De algum modo, a teoria queer define a aproximao mais direta a uma crtica do discurso a partir da heteronormatividade, ainda que no se refira especificamente s prticas cientficas e produo de conhecimento cientfico. Cincia e medicalizao As maiores possibilidades de esquadrinhamento e interveno do campo cientfico sobre a vida quotidiana da populao geral esto na rea da sade (Boltanski, 1984). Se, por um lado, isto trouxe inegveis benefcios em termos de alvio ou pre10

Ver Butler, 1990; Sedgwick, 1990; Grosz, 1995.


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veno de vrios problemas que levam ao sofrimento, tambm criou oportunidades para justificar vrias formas de marginalizao ou de opresso de diversos grupos. Um mecanismo fundamental neste processo o da medicalizao, definida por um dos principais autores neste campo como um processo pelo qual problemas no mdicos se tornam definidos e tratados como problemas mdicos, usualmente em termos de doenas e desordens (Conrad, 2007:4). Conrad aponta para o que chama de motores da medicalizao, enfatizando que a mesma no deve ser confundida com alguma forma de imperialismo mdico, tendo fontes mltiplas em vrias instncias da sociedade. Uma parte do processo alimentada por bvios interesses econmicos, fazendo com que doenas sejam praticamente inventadas ou definidas de forma a incluir um nmero maior de pessoas acometidas do que seria razovel, de modo a aumentar o mercado para determinados produtos farmacuticos (Cassels & Moynihan, 2005). De um modo complementar, preconceitos de toda ordem podem ser legitimados por olhares enviesados da cincia, contribuindo para a estigmatizao de determinados grupos humanos, como foi feito no passado com relao chamada homossexualidade (categoria, ela prpria, como visto na seo anterior, que teve na medicina uma importante instncia de sua criao), considerada um tipo de distrbio mental, ou na construo de discursos essencializados sobre diferenas de gnero que, inevitavelmente, colocam as mulheres em condio naturalmente inferior ou que transformam aspectos do ciclo de vida das mulheres em doenas como a desordem disfrica pr-menstrual ou, no mnimo, como objeto incessante do esquadrinhamento das pesquisas epidemiolgicas (Faerstein, 1989). A medicalizao da sexualidade tambm se expressa pela produo de drogas para disfuno sexual (originalmente masculina, com imenso sucesso de vendas que tem levado, at o momento, a repetidas tentativas de produo de quadros diagnsticos comparveis para as mulheres), que reduzem a expresso da sexualidade performance, sem nenhuma considerao quanto ao desejo e produo e compartilhamento do prazer. Concluso O discurso cientfico tem rebatimentos diretos em relaes de poder. Nas sociedades industriais contemporneas, fortemente atravessadas pelos produtos da tecnocincia, a cncia tida como o principal dispositivo de produo de verdades, com repercusses em todas as esferas da vida humana. Como foi apontado neste texto, ainda que de forma resumida, possvel apontar vrios momentos na histria das disciplinas cientficas relevantes para as questes de sexualidade e gnero em que concepes ideolgicas sobre o que natural,
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normal e saudvel foram sacramentadas como parte do discurso cientfico, contribuindo para a opresso e a estigmatizao de formas divergentes de sexualidade ou mesmo da sexualidade como um todo, reprimida de vrias formas , bem como para a subjugao das mulheres, pela designao cientficas de limites bem especficos para seu lugar na sociedade. Um aspecto que no abordamos neste texto foi o da tenso entre um discurso que se pretende universal e a inevitvel especificidade local do conhecimento produzido necessariamente em condies socialmente situadas. Isto , o discurso cientfico sobre gnero, por exemplo, se apresenta como sendo invarivel em qualquer parte do globo; qualquer cientista diria as mesmas coisas sobre o tema, no importando sua nacionalidade ou localizao atual. E, pelo mesmo critrio, a validade do seu discurso seria a mesma, da Patagnia ao norte do Qubec, da floresta Amaznica ao centro de Tquio. O exame crtico dos processos de formulao e circulao do conhecimento, contudo, mostra que estes ideais dificilmente refletem as circunstncias efetivas do mundo vivido da cincia. Note-se, contudo, que como optamos nesse artigo por apresentar um quadro terico geral de referncia, no nos detivemos em exemplos desta localidade do discurso cientfico sobre a sexualidade e o gnero, embora estes no sejam difceis de localizar nas referncias que utilizamos. A perspectiva dos science studies, ao mostrar as limitaes da produo de conhecimento no marco da cincia, uma importante ferramenta poltica para permitir a desestabilizao destes discursos excludentes e estigmatizadores. Da no se segue, contudo, que toda a cincia seja um infindvel exerccio de reificao de preconceitos como ferramenta de controle e opresso; as crticas que permitem a desmontagem de tais discursos surgem do prprio campo cientfico. Do ponto de vista deste campo, a crtica da cincia que desmonta o mito do saber absoluto ao declarar claramente sua caracterstica de atividade humana, colocando em questo concepes de neutralidade e objetividade, no significa que os cientistas estariam de mos desatadas para agir como bem entendessem; ao contrrio, a incorporao desta perspectiva ao campo da cincia aumenta a responsabilidade do cientista pelo seu prprio fazer. A cincia como prtica inclui a crtica reflexiva; a partir desta perspectiva que se pode pensar na produo de alianas que permitam a construo de uma cincia que siga o lema proposto pelo j citado Boaventura de Souza Santos, do conhecimento prudente para uma vida decente. Referncias bibliogrficas
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El corpus sexual de la biomedicina


Juan Carlos Jorge1

La meta de la biomedicina es producir saberes sobre procesos biolgicos que sean traducibles al manejo del cuerpo humano. Su autoridad depende de la produccin de conocimiento cientfico y su legitimidad se afianza a travs de la implantacin de protocolos y estrategias teraputicas novedosas2. Pero slo un puado de pases participa en la produccin de esos saberes. Nos ocupa aqu, desde una geopoltica del conocimiento, la biomedicina de la dada sexo-gnero. La biomedicina del siglo XX se encarg de validar y legitimar los principios biolgicos de esta dada y contina con su proyecto a travs de las neurociencias. Urge ahora en el siglo XXI denunciar de manera sistemtica y contundente las inconsistencias tericas y prcticas de la lgica biomdica cuando se trata del corpus sexual3. La biomedicina exige que, para que el cuerpo sexual sea sociopolticamente inteligible, deber conformarse a varios principios biolgicos. Presento aqu la falacia de los cromosomas sexuales, el reciclaje de la hiptesis de testosterona, la nocin de una embriologa del gnero, y la tecnologizacin del axioma estructura-funcin como saberes biomdicos sobre sexo-gnero que no tienen validez cientfica. Tambin argumento que dos asociaciones mdicas estadounidenses han servido de vehculo para circular y monitorear la aplicacin de estos conocimientos sobre la sexualidad a nivel global. Nuestro reto consiste en invalidar estos principios biomdicos y sustituirlos con un corpus sexual acorde con nuestras realidades geopolticas ms all del saber-poder hegemnico43.

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Departamento de Anatoma y Neurobiologa de la Escuela de Medicina de la Universidad de Puerto Rico.

El Instituto Nacional de la Salud de los Estados Unidos define su visin de la biomedicina: To improve human health, scientific discoveries must be translated into practical applications. Such discoveries typically begin at the bench with basic research in which scientists study disease at a molecular or cellular level then progress to the clinical level, or the patients bedside. La biomedicina se ubica, literalmente, al lado de la cama del sujeto-paciente. Disponible en: <http:// nihroadmap.nih.gov/clinicalresearch/overview-translational.asp> (accesado el 28 de mayo de 2009). Corpus; del latn que significa cuerpo. Tambin utilizo el trmino segn lo entiende la lingstica para referirme a la inteligibilidad del sexo como la estructura de un texto que permite su lectura, su anlisis, y su validacin por una serie de reglas.
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Siguiendo los postulados originales de Antonio Gramsci, defino hegemona como aquellas prcticas, bien sean discursivas o ejecutadas, que se imponen al sujeto social utilizando estrategias de coercin y consentimiento. La geopoltica del conocimiento en este sentido es una sucesin de hegemonas desde un lugar del saber.
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La falacia de los cromosomas sexuales Durante la primera dcada del siglo XX se report por primera vez la participacin de los cromosomas accesorios en los procesos de determinacin y heredabilidad sexual (Wilson 1909). Estos cromosomas accesorios fueron renombrados cromosomas sexuales y desde entonces, el saber biomdico ha elaborado todo su corpus sobre dos axiomas principales. Primero, que sexo queda determinado al momento de la concepcin, y segundo, que todo lo concerniente a sexo tiene una base inteligible en el cuerpo. En caso de que esa inteligibilidad sea confusa, el confort biomdico depender de la lectura 46, XY para un varn o 46, XX para una hembra. Este modelo de sexo es lineal: el cromosoma Y provoca la diferenciacin de la gnada indiferente en testculo, la diferenciacin del testculo permite la secrecin de factores hormonales, los cuales a su vez diferencian la hinchazn labio-escrotal en un fenotipo que reconocemos como varn durante el primer trimestre de desarrollo intrauterino. En ausencia de Y, se reconoce a la hembra. Pero desde la ltima dcada del siglo XX se ha venido documentando que los procesos de determinacin sexual son ms complejos que la presencia o ausencia del cromosoma Y. Los dos escenarios moleculares ms sencillos son los siguientes: una hembra 46, XY cuyo cromosoma Y haya tenido mutaciones de novo en su regin inicial de transcripcin o un varn 46, XX quien haya tenido intercambio de material cromosmico de los brazos cortos entre los cromosomas X y Y. Ambos perfiles de cariotipo se han reportado en la literatura (Berta et al. 1990; Jager et al. 1990; Hawkins et al. 1992; McElreavy et al. 1992; Numabe et al. 1992). Pero un descubrimiento molecular de hace ms de 15 aos claramente desafa el modelo XY vis vis XX. Se ha documentado la existencia de varones que carecen de la regin determinante de sexo del cromosoma Y (de ahora en adelante SRY; McElreavy et al. 1993; Kolon et al. 1998). Esto ha llevado a postular que debe existir un autosoma Z que tambin participa en la determinacin de sexo. En este escenario, tanto un varn que no tenga ni la porcin SRY ni el autosoma Z (varn 46, XX) as como una hembra que tenga la porcin SRY acompaada de una mutacin en el autosoma Z (hembra 46, XY) producen un fenotipo de hembra. Esto significa que el autosoma Z debe activarse en individuos 46, XX. An no se ha identificado el autosoma Z pero los datos moleculares existentes son consistentes con esta proposicin porque la porcin SRY contiene secuencias que permiten el acoplamiento de otras secuencias de DNA (Sinclair et al. 1990; Nasrin et al. 1991; Harley et al. 1992; Giese et al. 1992). No es sorprendente que la embriloga portuguesa Clara Pinto-Correia afirme que: Sex determination in mammals is still a gigantic unsolved puzzle (Pinto Correia, 1997, p. 261). De manera que estos datos cientficos an dentro del paradigma
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biomdico cuestionan la nocin que la hembra es la ausencia de aquello que produce al varn y que el devenir en hembra es un proceso biolgico pasivo (para una revisin de la pluralidad de mecanismos moleculares que median diferenciacin sexual en el reino animal consulte Manolakou et al. 2006). Cabe preguntar si es precisamente por este requiebre ideolgico que estos datos moleculares luego de casi 20 aos an no han alcanzado ningn libro de texto de medicina o biologa molecular. El Comit Olmpico Internacional ha reconocido las limitaciones de definir sexo de acuerdo a los consabidos cromosomas sexuales y en el 1999 elimin la confirmacin a priori de la identidad cromosmica de las atletas como requisito para competir en las Olimpiadas (Lins Frana 2009)5. Para la biomedicina sin embargo, el reconocer la identidad de varn en ausencia del cromosoma Y contina siendo una hereja cientfica. Hay otro dato molecular sobre sexo que no ha recibido la atencin que merece. Se ha demostrado que existe activacin de sobre 50 genes an antes de que las gnadas se diferencien en testculos u ovarios (Dewing et al. 2003). Es decir, hay activacin gentica sexo-especfica an antes de que se haya iniciado la cascada de eventos que permiten la diferenciacin sexual del cuerpo. Esto demuestra que el modelo de desarrollo embrionario no puede ser lineal; asumir la secuencia molecular-gonadal-hormonal-anatmica = sexo es simplemente incorrecto. De hecho, la biomedicina tampoco logra explicar porqu existen dos factores moleculares determinantes para la formacin de testculo (SRY y ZFY) en el hipotlamo y en las cortezas frontal y temporal del cerebro del varn adulto pero no en el cerebro de la hembra adulto (Mayer et al. 1998). Esto implica que las diferencias neuroanatmicas entre los sexos se mantienen a travs de procesos activos durante la adultez y que estas diferencias no son remanente de procesos de diferenciacin ya configurados durante el periodo intrauterino segn asume la biomedicina. Lo cierto es que la clasificacin sexual de acuerdo a cromosomas y la codificacin o no-codificacin de lenguajes genticos alternos como variantes sexuales es altamente cuestionable en los albores del siglo XXI. Aqu el simple acto de contar cobra un valor fundamental. Qu variantes sexuales cuentan, cmo cuentan, cules no cuentan, y por qu?6 Estas son interrogantes que urgen plantearse desde
Refiero al lector a un anlisis reciente del caso de la atleta de judo Edinanci Silva en los Juegos Panamericanos de Rio de Janeiro de 2007 (Lins Frana, 2009).
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Tomo por ejemplo el caso de la intersexualidad. El estimado de incidencia de Anne Fausto-Sterling de 17 casos por cada 1,000 nacimientos fue altamente criticado por Leonard Sax quien provee el estimado de menos de 2 casos por cada 10,000 nacimientos (Sax 2002). Esto se debe a que no existe consenso en qu variantes sexuales deben incluirse para estimar la incidencia de la intersexualidad. El Sistema Internacional de Codificacin de Enfermedades (ICD por sus slabas en ingls) clasifica las variantes intersexuales de acuerdo a diversas etiologas biomdicas a pesar de que el criterio base que justifica su manejo clnico remite a la configuracin anatmica de los genitales. Esto significa que las variantes intersexuales se cuentan de acuerdo a etiologa y no a fenotipo. De manera que la manera de contar tiene un impacto directo en la percepcin social y en los derechos de las personas intersexuales y minimiza la responsabilidad
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una perspectiva geopoltica porque variantes sexuales con lenguajes genticos particulares se distribuyen diferencialmente a travs del planeta7. El reciclaje ad infinitum de la hiptesis de testosterona La idea de que la mujer nace y al hombre se hace estaba claramente inscrita en los diseos experimentales que buscaban descubrir las seales qumicas que nos otorgan la capacidad reproductiva. Mientras que se dilucidaba la potencia de la sustancia femenina en su capacidad de alterar el ciclo estral de las ratas, la potencia de la sustancia masculina se buscaba en la capacidad del gallo de atraer a su harem de gallinas ante su irresistible cresta sexual. La hembra, en el lenguaje crptico de las hormonas, qued suscrita a la capacidad uterina de transformarse histolgicamente en periodos cclicos a pesar de s misma. Estrgeno literalmente significa que produce estrus. Pero el destino de testosterona, que literalmente significa esteroide que proviene de los testculos, fue otro desde sus inicios. Los cientficos que buscaban aislar la estructura qumica de la sustancia vital la buscaron en la orina de los corceles y en la orina de valientes soldados. Con el aislamiento de la sustancia que hace a los machos se inici toda una tradicin de experimentos que buscaban dilucidar sus mecanismos de accin y sus consecuencias anatmicas, fisiolgicas, y conductuales. Se concibi a la testosterona como la seal con gran potencia para masculinizar las estructuras anatmicas, y a consecuencia, de masculinizar la conducta. He aqu una de las piedras angulares en las que descansa la formulacin biomdica sexo = gnero. Una avalancha de investigaciones durante la primera mitad del siglo XX se ocup de establecer los periodos crticos del desarrollo en donde se puede masculinizar a una hembra o feminizar a un varn. Los experimentos clsicos en animales volvieron a la idea de la gnada como seal inteligible de sexo8, y de aqu que se formulara el diseo experimental base sobre el cual se construyeron variantes. Este diseo consisti en castrar al animal durante diferentes etapas de
tico-legal de l@s mdicos que reconfiguran la apariencia de los genitales. Refiero a Jorge (2007) para una discusin a la pregunta fundamentalmente poltica: cun raro es raro? A pesar de que no hay certeza de cmo y qu se cuenta como variantes sexuales, es claro que algunas de estas variantes se concentran en geografas especficas. La incidencia reportada de la hiperplasia adrenal congnita por ejemplo es la siguiente: Alaska, Esquimales Yupik (1:280), La Reunion, Francia (1:2,100), Suiza (1:9,800), Wisconsin, Estados Unidos (1:11,000), Texas, Estados Unidos (1:16,000), Italia y Japn (1:18,000 c/u) (White y Speiser, 2000). Desde una perspectiva geopoltica se deben formular preguntas de investigacin sobre las relaciones entre el manejo clnico de variantes sexuales y la produccin de saberes biomdicos sobre la intersexualidad en estas geografas.
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Alice Domurat Dreger argumenta que en casos de variantes anatmicas de los genitales se estableci la identidad de la gnada (ovario o testculo) como la seal inequvoca de sexo (hembra o macho). De acuerdo a esta autora, la edad de las gnadas ocurri en el periodo 1870-1915 (Dreger, 1998). La identidad de la gnada es ahora el segundo criterio biomdico para asignacin de sexo de acuerdo a la Academia Americana de Pediatra de los Estados Unidos (AAP 2000). El primer criterio de acuerdo a esta Academia es la identidad de los cromosomas sexuales.
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su desarrollo para eliminar, remplazar, o sustituir la sustancia vital. El hombre de ciencia pronto descubri que si se remueven los testculos a una rata macho temprano en el desarrollo y se le inyecta estrgeno y progesterona con la precisin que establece el ciclo estral, ste desplegar el reflejo conductual de lordosis y se dejar montar por otro macho. Tambin descubri que una rata hembra castrada e inyectada con testosterona montar a otras hembras. En la segunda mitad del siglo XX la neuroendocrinologa se ocup de dilucidar los correlatos neurales de estos cambios conductuales tambin con el uso de varios modelos animales. Los estudios de conductas reproductivas reflejas se extendieron a estudiar otras conductas asociadas a sexo segn el saber de la neuroendocrinologa y con ese movimiento conceptual conductas reproductivas vinieron a ser concebidas como conductas sexuales y como conductas sexo-especficas. De aqu parti una tradicin de investigaciones sobre conductas parentales y sobre los dominios afectivos que modulan las conductas sexuales tales como la sociabilidad, la agresin, y la ansiedad. Pero la produccin de este saber ha continuado refirindose a machos feminizados y a hembras masculinizadas aunque ya no se trate de reflejos reproductivos. La formulacin sexo=gnero qued cimentada con el estudio de conductas animales y con ello el saber biomdico auto-legitim su poder regulador sobre las sexualidades humanas. Este saber ha trado graves consecuencias y el cuerpo intersexual ha sido tal vez, su mayor vctima9. El fenotipo intersexual ms comn es producido por la hiperplasia adrenal congnita. En este caso, una sobreproduccin de andrgenos de fuente adrenal durante el primer trimestre de desarrollo uterino en un trasfondo cromosmico 46, XX produce alargamiento del cltoris y fusin parcial o completa de las labias. El saber biomdico llama a esta variante anatmica masculinizacin de la genitalia femenina y no es sorpresa que el manejo clnico incluye feminizacin quirrgica de la genitalia, supresin andrognica, y sustitucin estrognica. El algoritmo clnico establece que estas intervenciones deben ocurrir temprano en el desarrollo para prevenir que la hembra se masculinice, no slo en su inteligibilidad corprea sino tambin en su inteligibilidad psquica. El ao pasado publicamos el caso de una persona con hiperplasia adrenal congnita (Jorge et al. 2008a). Los mdicos a cargo de su manejo siguieron el algoritmo clnico propulsado por la Academia Americana de Pediatra: midieron el falo, establecieron perfil de cariotipo, intentaron dar cuenta de la identidad de la gnada, y midieron hormonas. Los mdicos leyeron sexo y Juan fue inteligibilizado como hembra a pesar de que ste se identifica y
Investigaciones cientficas se desarrollaron sistemticamente a partir de los 1930 con la hiptesis de trabajo que la homosexualidad y el lesbianismo eran producto de desbalances hormonales. De hecho, esta conceptualizacin sirvi de base para experimentos clnicos Hitlerianos donde se intent trasplantar los testculos de hombres heterosexuales a hombres homosexuales como estrategia curativa contra la homosexualidad. Sin embargo, la relacin entre hormonas y preferencia sexual ha quedado claramente invalidada en los 1990 (Banks and Gartrell, 1995).
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contina viviendo como varn. El saber biomdico, en efecto, cre a Juan/Ana armando pedazos del corpus sexual como Frankenstein cre a su criatura10. En el artculo denunciamos que los protocolos mdicos deben ser revisados a la luz de la evidencia cada vez mayor de casos intersexo que no se conforman al algoritmo clnico. La crtica refut con la hiptesis de testosterona: Ana se siente como Juan porque el algoritmo no se aplic a tiempo, o se aplic y Ana (y sus padres) no lo siguieron. A consecuencia, testosterona hizo sus estragos en el cuerpo de Ana (MeyerBahlburg 2008; Jorge et al. 2008b). Para el saber biomdico, el cuerpo de Ana es simplemente una traicin. Pero la hiptesis de testosterona no es ms que una forma de validacin cientfica de la misoginia y la homofobia. De acuerdo a esta hiptesis, la hembra expuesta a testosterona en el tero materno se comporta como un varn an en sus juegos de la niez, tiene mayor probabilidad de relacionarse sexualmente con otra hembra y puede llegar a identificarse como varn (Dessens et al. 2005; Meyer-Bahlburg et al. 1996, 2001, 2006ab, 2008a; Wilson 2001). An dentro del paradigma biomdico, la idea de que las hormonas sexuales participan en la formacin de preferencia sexual e identidad de gnero es absurda y basada en premisas obsoletas (Banks y Gartrell, 1995). Sin embargo, esta hiptesis aceptada como un saber biomdico contina sustentando trabajos de investigacin en este campo y contina validando el manejo clnico de la intersexualidad. Reductio ad absurdum: la embriologa del gnero A principios de la dcada de los 1980 se estableci una sub-especialidad mdica que se conoci como el movimiento de la identidad de gnero. La interaccin interdisciplinaria entre cirujanos en obstetricia y ginecologa, cirujanos en urologa, endocrinlogos, psiquiatras, psiclogos clnicos e investigadores de la sexualidad prometi que a travs de sus colaboraciones y el manejo clnico del cuerpo transexual se llegara a descubrir las bases biolgicas de la identidad de gnero (Pauly y Edgerton 1986). Dcadas ms tarde, esta promesa an no se ha cumplido. Este movimiento asumi de entrada que la biomedicina proveera las herramientas para manejar clnicamente la identidad de gnero y, en el mejor de los casos, para manipular su formacin. Pero el manejo tautolgico del cuerpo transexual en nada ha avanzado el conocimiento sobre la pluralidad de gneros y mucho menos sobre sus desarrollos ontogenticos. Para que el cuerpo transexual sea inteligible, la persona deber convencer a los expertos que sufre los sntomas psquicos que
Variantes sexuales, anatmicas y de gnero, son vistas como monstruosidades cuyo manejo las transmuta de una preocupacin concerniente al imaginario a una preocupacin mdica concerniente al cuerpo. Esta transmutacin ya es evidente en el texto Des Monstres et Prodiges del cirujano jefe de cuatro monarcas, Ambroise Par, para el 1573.
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definen el trastorno, y deber someterse a las cirugas genitales y tratamientos hormonales que guardan con recelo la formulacin sexo=gnero. El cuerpo intersexual sin embargo, le ha devuelto la esperanza a la biomedicina de cumplir con su promesa (Zucker 1999). En teora, ya que se conoce el correlato gentico y endocrino de cada fenotipo intersexual, debiera ser posible correlacionar la(s) identidad(es) de gnero con el sustrato biolgico que genera cada caso. Se han venido generando las siguientes propuestas a pesar de la escasez de reportes a largo plazo de aquellos cuerpos que fueron manejados por la biomedicina en la infancia y que eventualmente desarrollan sus identidades y sexualidades. En el caso del sndrome de insensitividad andrognica completa (CAIS por sus slabas en ingls) se ha argumentado que el 100% de los casos reportados en la literatura cientfica expresan una identidad de mujer que corresponde con el fenotipo de hembra en un trasfondo de kariotipo 46, XY (Byne 2006). Se concluye por lo tanto, que los receptores de testosterona son imprescindibles para la formacin de la identidad de gnero de varn. En el caso del sndrome de 5 -reductasa, conocido popularmente como gueve doce o penis at twelve, se ha observado que entre un 37-44% de esta poblacin desarrolla la identidad de mujer a pesar de que la genitalia puede exhibir diferentes grados de masculinizacin (Cohen-Kettenis 2005). Se concluye por lo tanto, que la enzima que reduce testosterona a dihidrotestosterona, participa en la formacin de la identidad de gnero de varn en un trasfondo cromosmico 46, XY. Por ltimo, se reporta que entre slo un 2-10% de personas con hiperplasia adrenal congnita se desarrollan como varn a pesar de su cariotipo 46, XX11. Se argumenta entonces que niveles elevados de andrgenos de fuente adrenal durante el primer trimestre de desarrollo uterino media la formacin de identidad de varn en un cuerpo que estaba pre-destinado al sexo-gnero de hembra. Con tan slo tres ejemplos de intersexualidad segn definidos por el saber biomdico queda ilustrado reductio ad absurdum como un entrampamiento conceptual. El seguir la lgica de la propuesta biomdica existe una embriologa del gnero nos lleva a absurdas conclusiones. Primero que nada, esta lectura remite a la hiptesis de testosterona donde mutacin del receptor de testosterona o mutacin en la enzima que reduce testosterona a dihidrotestosterona en un trasfondo 46, XY o superabundancia andrognica en un trasfondo 46, XX produce gneros no-deseados. Segundo, este modelo asume que el desarrollo de la identidad de gnero, segn lo entiende el modelo biomdico, es exactamente el mismo para 46, XX y 46, XY. El modelo de la psiquiatra propulsado por la psicologa cognoscitiva establece que el/la infante va superando unas barreras cognoscitivas que van desde la relacin simbitica madreNo es posible evaluar el porcentaje de casos de CAH que se identifican como varn porque ni tan siquiera existe consenso en los libros de texto de la medicina estadounidense sobre la incidencia de CAH. Dreger (1998) apunta a esta falta de datos.
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nio/a hasta la formacin de identidad individual. De acuerdo a este modelo, el asumir un gnero diferenciado es el paso crtico para que se complete este proceso. De manera que este modelo asume que el proceso de diferenciacin de gnero es el mismo para machos y hembras, y tambin asume que dicho proceso es lineal (Marcus y Overton 1978; Martin et al. 2002; Ruble y Martin 1998; Ruble et al. 2007; Thompson 1975). No existe evidencia cientfica para ninguno de estos dos supuestos. Tercero, la hiptesis de testosterona tampoco alcanza a explicar la ontogenia de una persona transexual varn a hembra (VaH) o hembra a varn (HaV) cuyos trasfondos cromosmicos parean con los niveles de testosterona correspondientes (Gooren 2006). Por lo tanto, la premisa biomdica que existe una embriologa del gnero es absurda. Esta denuncia deber plantearse de forma concertada y contundente pues su gnesis geopoltica es Eurocntrica y ahora vehementemente defendida por los Estados Unidos.12 La tecnologizacin del axioma estructura-funcin A pesar de la falta de evidencia cientfica de una embriologa del gnero, la biomedicina contina en la bsqueda de un sustrato biolgico del gnero. No es sorprendente que esta bsqueda ahora se centra en la materialidad del cerebro; la solucin biomdica ha sido resucitar uno de los axiomas bsicos de la biologa la estructura determina la funcin. En la dcada de los 1970 se reporta por primera vez el carcter sexualmente dimrfico del ncleo medial preptico en ratas macho y dos dcadas ms tarde los mismos investigadores reportan diferencias en la comisura anterior entre sujetos heterosexuales y homosexuales (Allen y Gorski, 1992). Una avalancha de estudios en las neurociencias conductuales durante las prximas 2 dcadas estableci el circuito cerebral y los mecanismos neuroendocrinos que participan y modulan las conductas sexuales segn el modelo experimental de roedores. La traduccin de estos estudios al cerebro humano se epitomiz con el famoso estudio del neurocientfico gay estadounidense Simon LeVay (1991). El report diferencias neuroanatmicas en algunos de los ncleos intersticiales del hipotlamo anterior de acuerdo a preferencia sexual; donde estos ncleos en cerebros de hombres homosexuales son anatmicamente ms parecidos a los cerebros de mujeres heterosexuales que a los de hombres heterosexuales. Unos aos ms tarde, un grupo de neurocientficos de Holanda publica una serie de estudios, a mi juicio de suma importancia en el campo de la sexualidad humana, pero ignorados por los cientficos estadounidenses.
Existen ahora diferencias marcadas en el manejo mdico-legal de sexo y gnero en la Unin Europea versus los Estados Unidos. Mientras que en Europa tiene efecto la Acta Europea para el Reconocimiento de Gnero y el Acta de Unin Civil, el sistema jurdico-poltico de los Estados Unidos se esfuerza para que el Acta en Defensa del Matrimonio sea aprobada a travs de todo ese pas (para una discusin de este asunto refiero a Fishbayn 2007).
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Un estudio reporta que la porcin basal de la stria terminalis (BNST) de transexuales Varn a Hembra (VaH) son neuroanatmicamente ms parecidos a los de las hembras que a los de los varones (Zhou et al. 1995; Krujiver et al. 2000). Esta es la nica evidencia biomdica que sugiere la posibilidad de que exista un correlato neurolgico del gnero. Pero lo que es ms importante an, este mismo grupo de investigadores encuentra que esta diferencia neuroanatmica se establece en la adultez y no durante el desarrollo (Chung et al. 2002). Por lo tanto, aunque bien pudiese haber un correlato neural del gnero, la funcin precede a la estructura. De manera que, nuevamente, el modelo biomdico no logra explicar la corporeidad del gnero. Este grupo tambin report que las diferencias sexo-especficas del rea preptica en humanos no ocurre al momento del nacimiento. Ellos descubren que el dimorfismo sexual se establece para el quinto ao de vida y que desaparece nuevamente en la vejez (Swaab et al. 2002; para resumen de esta literatura consulte a Swaab 2004 ). Lo provocador de este dato es que los ejes neuroendocrinos hipotlamo-pituitariagnada e hipotlamo-pituitaria-glndula adrenal estn silentes durante este periodo de la niez. De modo que la diferenciacin sexual de este ncleo en humanos nada tiene que ver con seales de carcter hormonal. La biomedicina tampoco alcanza explicar la naturaleza de estas seales. La crtica ms comn a esta serie de estudios ha sido que los datos fueron obtenidos de cerebros post-mortem. A consecuencia, cambios metodolgicos sutiles (tales como osmolaridad de las soluciones donde se preserva el tejido, y especificidades en los procesos de fijacin y tincin del tejido cerebral) pueden afectar directamente los parmetros anatmicos bajo estudio. El giro que ha tomado este tipo de estudio en el siglo XXI se centra en estudios del cerebro humano viviente utilizando las tecnologas de imagen de resonancia magntica (fMRI por sus slabas en ingls) y/o la tomografa de emisin de protones (PET Scan por sus slabas en ingls). En julio del 2008, dos investigadores de Suiza reportaron diferencias en la asimetra cerebral y la conectividad funcional inter-amgdala entre sujetos homosexuales y heterosexuales (Savic y Lindstrm, 2008). Especficamente, machos heterosexuales y hembras homosexuales mostraron una asimetra cerebral hacia el lbulo derecho mientras que machos homosexuales y hembras heterosexuales demostraron mayores conexiones cerebrales saliendo de la amgdala izquierda hacia el caudato putamen y la corteza prefrontal. La cadena BBC de Londres report que este estudio sugiere que la orientacin sexual queda establecida en el tero. A lo cual el Dr. Qazi Rahman del Departamento de Biologa Cognitiva de la Universidad de Londres aade que: This makes sense given that gay men have a sexual preference which is like that of women in general, that is, preferring men, and vice versa for lesbian women. Reconocemos aqu una de las consecuencias nefastas de la ideologa de la embriologa del gnero; la validacin cientfica de la homofobia. Otro grupo de investigadores de Alemania public hace apenas unos meses un estudio que buscaba establecer las bases neu154
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rales de la transexualidad (Gizewski et al. 2009). Utilizando fMRI, ellos compararon la activacin cerebral de 12 sujetos varones heterosexuales, 12 sujetos hembras heterosexuales y 12 sujetos transexuales VaH ante la estimulacin ertica por films. El estudio encuentra que tanto las cortezas occipitotemporal- , cingulada anterior-, prefrontal medial-, pre-y post central, as como el tlamo, hipotlamo y la amgdala se activan ante estmulo de material ertico de manera similar para todos los grupos y concluyen que, al momento, no se puede sealar un sustrato neural que correlacione con la identidad transexual VaH. Por otra parte, una colaboracin de investigadores de Alemania y Dinamarca report en junio del 2009 la utilizacin de fMRI como mtodo para remplazar el uso de la falometra para determinar la orientacin sexual de ofensores sexuales e individuos con desrdenes paraflicos (Ponseti et al. 2009). En este estudio, machos homosexuales y heterosexuales fueron brevemente expuestos a fotos de genitales de machos y hembras. Ellos encontraron una activacin preferencial en el tlamo posterior de machos homosexuales y activacin preferencial de la nsula y la corteza cingulada posterior en machos heterosexuales. Esta tecnologizacin del axioma estructura-funcin implica que slo pases desarrollados estn y estarn en la posicin de producir, aunque equvocamente, nuevos saberes neurocientficos sobre sexualidad. Ntese aqu que los estudios neurocientficos sobre sexualidad ms recientes han sido producidos por Suiza, Holanda, Alemania y Dinamarca fundamentados en estudios clsicos en neuroanatoma producidos principalmente por los Estados Unidos a partir de la dcada de los 197013. Pero nuestra alienacin de la produccin de esos saberes biomdicos nos ha colocado, irnicamente, en una posicin de privilegio como pases latinoamericanos. Pues no se trata de exigir nuestra inclusin en la produccin del saber biomdico sino de posicionar y validar otras formas de teorizar, investigar y problematizar eso que llamamos sexo y gnero a nivel global. Control global de la sexualidad por dos asociaciones mdicas estadounidenses La Academia Americana de Pediatra de los Estados Unidos reforz su poder sobre la sexualidad humana en el 2000. Su Comit en Gentica, Seccin en Endocrinologa y Seccin en Urologa public en su revista de alcance internacional el protocolo mdico que deber seguirse para asignar sexo a los neonatos con fenotipo intersexual (AAP 2000). Los primeros pasos incluyen: determinar la identidad
Un neurocientfico errneamente concluye que: Current evidence indicates that sexual differentiation of the human brain occurs during fetal and neonatal development and programs our gender identity our feeling of being male or female and our sexual orientation as hetero-, homo-, or bisexual (Swaab 2008).
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cromosmica, determinar la identidad gonadal, determinar la identidad hormonal. Aqu la falacia de los cromosomas sexuales de principios del siglo XX, el retorno a la gnada de entre siglos XIX y XX, y la sexualizacin de los diecisiete carbonos arreglados en cuatro sortijas por la endocrinologa estadounidense y europea durante la primera mitad del siglo XX14, quedaron cimentados como criterios inteligibles de sexo. Con la publicacin del estndar mdico para manejar sexo se valida y se protege legalmente a los/as practicantes de la medicina y a su vez se imposibilitan derechos humanos fundamentales. La posicin de otras asociaciones mdicas estadounidenses es consistente con la Academia Americana de Pediatra de los Estados Unidos15. Pero para regular el sexo no basta con contener el cuerpo; tambin hay que regular los procesos mentales. La Asociacin Americana de Psiquiatra de los Estados Unidos claramente ha patologizado conductas e identidades sexuales desde la publicacin de su primer Manual de Diagnstico y Estadstico de Enfermedades Mentales en el 1952 (Kirk y Kutchins 1992). Es meritorio analizar las transformaciones que sufre la categora diagnstica desorden de identidad de gnero desde su creacin en el 1980 y en las ediciones subsiguientes de este Manual. En la edicin del 1980, debutaron los trminos transexualismo y desorden de identidad de gnero en nios. Esta ltima apareci bajo la seccin Desrdenes Psicosexuales que luego se re-nombr Desrdenes evidentes en la Infancia, Niez, y Adolescencia en el 1987 y se volvi a re-nombrar bajo la seccin Desordenes Sexuales y de Identidad de Gnero. Con este ltimo cambio de nombre de seccin ocurri un cambio conceptual casi inadvertido pero con implicaciones para el manejo clnico de suma importancia; se elimina el desorden de identidad de gnero de nios por desorden de identidad de gnero y se renombra transexualismo como desorden de identidad de gnero en adolescentes y adultos. Lejos de reflejar cambios cosmticos, estos cambios se hicieron necesarios cuando el Comit de Desordenes de Gnero y Sexo de la APA asumi un modelo dimensional de la sexualidad humana. Bajo este paradigma, la transexualidad no es otra cosa que la expresin ms extrema de un desorden de identidad de gnero en un nio o nia; un/a transexual in statu nascendi. Pero este algoritmo psiquitrico no especifica cmo el psiclogo clnico o psiquiatra puede
Para una discusin sobre el contexto sociopoltico en el que se descubren y nombran las hormonas de fuente gonadal refiero al lector a Anne Fausto-Sterling (2000). Ella se pregunta de forma retrica Do sex hormones really exist? (Gender becomes chemical) (Captulo 7, p. 170).
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Refiero al captulo 126: Abnormalities of the genitalia in boys and their surgical management por J.S. Elder y al captulo 129: Surgical management of intersexuality, cloacal malformation, and other abnormalities of the genitalia in girls por R. Rink y M. Kaefer del libro de texto Campbell-Walsh Urology, 9na edicin y al captulo 12: Congenital abnormalities of the female reproductive tract: anomalies of the vagina, cervix, uterus, and adnexa por V.L. Katz y G.M. Lentz del libro de texto Katz: Comprehensive Gynecology, 5ta edicin. Estos textos son ampliamente utilizados en los Estados Unidos para la enseanza de la urologa y la ginecologa. Variantes sexuales de acuerdo a estos textos son malformaciones o anomalas. Ambos textos proveen criterios normativos para la apariencia y tamao de los genitales.
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efectivamente discriminar entre un desorden de identidad de gnero en la niez que luego se expresar como una identidad con conductas homo-erticas/sexuales de una identidad transexual. En otras palabras, este sistema de clasificacin sexual necesariamente asume una embriologa del gnero. En trminos prcticos, es muy probable que aumente el nmero de casos donde se solicite el cambio de sexo antes de la adultez. Aunque el primero de estos casos en Argentina para el ao 2007 alcanz fama mundial16, lo cierto es que esta prctica ya es comn en algunos pases europeos. A pesar de la estandarizacin biomdica del manejo de la transexualidad a nivel global, lo cierto es que el destino socio-legal de casos individuales depende de su geografa (Greenberg 1999; Haas 2004). En un anlisis reciente, hemos encontrado que existe un 50% de probabilidad que se valide el sexo de una persona transexual en los tribunales, que se otorgan ms validaciones al sexo de hembra que al de varn, y que se no se valida el sexo solicitado por una persona intersexual en los casos examinados (Jorge et al, datos sin publicar). La geopoltica del manejo mdico-legal de la transexualidad es otro tema que merece un anlisis minucioso17. Existe una colaboracin estrecha entre las asociaciones mdicas estadounidenses cuando se trata de sexo. El Manual de Diagnstico y Estadstico de Enfermedades Mentales claramente especifica que los diagnsticos puros de desorden de identidad de gnero y desorden de identidad de gnero en adolescentes y adultos no se pueden conferir cuando existe una condicin intersexual. El conferir una de estas categoras a una persona intersexual sera reconocer que la asignacin clnica de sexo produjo un desorden mental y le dara un recurso mdico-legal al intersexual para solicitar un cambio al sexo asignado. Pero a falta de un modelo con bases conceptuales razonables por parte de la Academia Americana de Pediatra y la Asociacin Americana de Psiquiatra de los Estados Unidos, la persona intersexual recibe el diagnstico desorden de identidad de gnero no especificado como si su gnero haya quedado secuestrado por su cuerpo. Aqu tambin la homosexualidad contina siendo un terreno movedizo que resguarda en sus entraas su potencialidad psicopatolgica. Por lo tanto, la posicin privilegiada de unas pocas asociaciones mdicas controlan la diseminacin del saber biomdico a nivel global, pero sobretodo, se nutre del poder geopoltico ya ejercido sobre nuestros territorios.
Hago referencia al caso de Marcos -> Natalia quien logr aprobacin legal para cambio de sexo a los 17 aos (BBC Mundo, Cultura y Sociedad, Argentina: Cambio de sexo a menor, 26 de septiembre de 2007).
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El 15 de mayo de 2009 se present la Declaracin de IDAHO en el Congreso Internacional de Derechos Humanos, Orientacin Sexual e Identidad de Gnero realizado en la Asamblea Nacional francesa, a iniciativa de Francia, Noruega y Holanda, como seguimiento a la Declaracin de la OEA del 18 de diciembre de 2008 sobre Derechos Humanos, Orientacin Sexual e Identidad de Gnero, firmada por 67 pases. Consulte: http://stp2012.wordpress. com para ms informacin. Agradezco a la Lcda. Tamara Adrin H. de Caracas Venezuela por traer a mi atencin los movimientos legales ms recientes concernientes a la transexualidad y la intersexualidad. Esta re-conceptualizacin de la transexualidad fuera de la biomedicina ha de traer grandes requiebres entre el manejo clnico vis vis el manejo legal de sexo a nivel global.
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Conclusin La inteligibilidad de los cuerpos sexuales a travs de la biomedicina es un saber experto, crptico y del Norte Global18. Pero resulta muy difcil aceptar su hegemona cuando cuestionamos la validez de la idea que sexo es reducible a los cromosomas, cuando reconocemos que la idea de testosterona es reciclada cada vez que se hacen evidentes las excepciones a la diada sexo-gnero, cuando nos resulta absurda la proposicin de una embriologa del gnero, y cuando nos percatamos que las investigaciones ms recientes en sexualidad humana descansan sobre el principio cientfico pre-moderno que la estructura precede a la funcin. El corpus sexual de la biomedicina no es producto de la posicin privilegiada del Norte Global para producir conocimiento cientfico ni es producto histrico inevitable de la evolucin de dicho conocimiento desde finales del siglo XIX hasta el presente19. Al contrario, este corpus es una agenda colonizadora de cuerpos que efectivamente rebasa fronteras y que apoya la agenda geopoltica ms amplia donde el Norte Global se reinventa como productor y monitor de identidades. La tendencia en las investigaciones en el Norte en los pasados aos ha sido validar el conocimiento sexual a travs de la tecnologa, muy en particular, persigue buscar las bases cerebrales de la sexualidad. Pero, como ya he argumentado, a pesar de la aparente sofisticacin de este conocimiento, sus bases tericas son altamente cuestionables. Sin embargo, su agenda inmediata ser demostrar que el dimorfismo neuroanatmico sexo-especfico es atpico en homosexuales an en circuitos cerebrales no asociadas a conductas reproductivas. Tambin anticipo que investigaciones futuras del Norte buscarn acercarse cada vez ms a la cama del paciente como nos advierte el Instituto Nacional de la Salud de los Estados Unidos; a patologizar el cuerpo y a leerlo desde la enfermedad20. Tambin anticipo que la biomedicina habr de monitorear an ms de cerca los estadios tempranos del desarrollo humano, desde el periodo intrauterino hasta la pre-adolescencia. Una de sus metas inmediatas ser anticipar y prevenir variaciones anatmicas y de pluralidad de identidades. Por su parte, el Sur Global deber monitorear muy de cerca
Sandra Harding (2006) argumenta que: Our Northern sciences today are not, it turns out, quite as modern as they could be insofar as they entrench traditional Eurocentric superstitions and false beliefs about the achievements of both Western sciences and other cultures knowledge systems. (p.64).
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La biologa jug un rol fundamental en distanciar el discurso cientfico del discurso poltico como pre-condicin intelectual necesaria para legitimar la construccin del Estado-Nacin en Europa. Ntese aqu la relacin histrica entre la evolucin de la biologa y las teoras del Estado-Nacin en el mundo Anglo-Sajn durante el siglo XIX. Friedrich Ratzel y Halford Mackinder, por ejemplo, fueron estudiantes de ciencias naturales antes de elaborar sus trabajos en geografa poltica (Jeannette Graulau, comunicacin personal).
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Richard Parker argumenta que el estudio de VIH/SIDA, segn el financiamiento del Norte Global, ha efectivamente de-sexualizado a las personas que padecen esta enfermedad (Presentacin en Primer Encuentro Latinoamericano y del Caribe: la Sexualidad Frente a la Sociedad, Ciudad de Mxico28-31 de julio, 2008).
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la geopoltica del corpus sexual de la biomedicina a varios niveles: (1) documentar el movimiento e intercambio vertical y horizontal de cientficos e intelectuales en sexualidad a nivel global especialmente en las disciplinas de psiquiatra y psicologa clnica; (2) estudiar las agendas geopolticas de los gobiernos, compaas multinacionales y fundaciones que permiten tales movimientos; (3) estudiar la economa poltica de los crditos y financiamientos de las investigaciones cientficas; (4) crear un sistema de estadstica crtica multinacional para monitorear y contrastar datos ofrecidos por el Norte Global sobre ndices de incidencia y prevalencia de asuntos relacionados a sexo-gnero; (5) generar y monitorear mapas globales de manejo mdico-legal de las sexualidades en diferentes escalas de tiempo para intervenir efectivamente; y (6) crear mecanismos que faciliten la diseminacin y legitimacin de otros saberes entre expertos en diversidad sexual y de gnero. Es nuestra responsabilidad subvertir el poder desmedido que la biomedicina ejerce sobre nuestros cuerpos y levantarle fronteras para que no se nos invada por mucho tiempo ms21. Referencias bibliogrficas
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Para la formacin de identidad individual (individuacin o sujecin segn la tradicin psicoanaltica Lacaniana) se requiere la convergencia y la estabilizacin de mltiples procesos que trascienden al/ a la sujeto de igual modo que para la formacin de identidad nacional se requiere la convergencia y estabilizacin de mltiples procesos geopolticos que trascienden al (a los) grupo(s) social(es) en cuestin. De manera que las dadas sexo-gnero y sujeto-sociedad son equivalentes y no son ms que un artificio de anlisis segn ya se ha planteado desde varias disciplinas. La biomedicina, por lo tanto, regula las fronteras de lo propiamente humano.
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El corpus sexual de la biomedicina Juan Carlos Jorge

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Transformaciones en el discurso sobre la epidemia al VIH como una epidemia sexuada


paradojas y enigmas en la respuesta global
Carlos F. Cceres1

La historia de la respuesta a la epidemia de VIH/SIDA revela un impacto importante de esta crisis de salud en la forma en que pensamos, discutimos y practicamos lo sexual (Martin 1987; Evans 1989). Dicho proceso no ha sido lineal ni monocorde; por el contrario, ha reflejado desde un inicio cmo la emergencia de la nueva infeccin de transmisin sexual agudiz las tensiones del dispositivo de la sexualidad al inicio de los aos ochenta, a partir del llamado de alerta de la epidemiologa y sus repercusiones en los discursos moralistas de la poca, en el marco de la respuesta del naciente activismo en SIDA, para luego dar lugar al ingreso de nuevos actores y a la incorporacin de nuevos saberes y perspectivas polticas (por ejemplo, los de las ciencias sociales, los derechos humanos y las comunidades afectadas), en lo que se vio como una respuesta humanizada al SIDA (Patton 1990; Treichler 1988; Rosenbrock 1999; Cceres y Race, en prensa). As como el discurso sobre sexualidad experiment la influencia central de los procesos tcnicos y polticos generados por la epidemia, igualmente el discurso global sobre la epidemia de SIDA a lo largo de tres dcadas ha sido marcado por estos momentos cambiantes en el discurso sobre la sexualidad y su diversidad. Desde un momento inicial en que el SIDA fue una epidemia de grupos de riesgo, muchos de ellos definidos por su particularidad sexual, se fue pasando a un enfoque en prcticas sexuales (prcticas de riesgo), culturas sexuales diversas con significados especficos, y luego al reconocimiento de que la mayor exposicin sexual de algunas personas poda explicarse por su situacin de vulnerabilidad social de manera ms amplia. Reflejando esta variacin, el discurso sobre prevencin transit por miradas inicialmente enfocadas en el cambio de conductas individuales, pasando por la adaptacin cultural, los intentos de alterar los contextos de vulnerabilidad, y la incorporacin de perspectivas contra el estigma y la discriminacin, y por el acceso
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Profesor de Salud Pblica en la Universidad Peruana Cayetano Heredia, en Lima, Per.

universal a la prevencin y la atencin, en el marco del pleno ejercicio de los derechos humanos de las personas (Mann & Tarantola 1998; Mann & Gruskin 1999). Los ltimos aos parecen caracterizarse por dos situaciones que pudieran parecer paradjicas: De un lado, se reconoce cada vez ms claramente una desconfianza en la efectividad de las estrategias preventivas orientadas al cambio de la conducta sexual o la alteracin de las condiciones que generaran vulnerabilidad sexual, a favor de la definicin de la llamada prevencin biomdica como enfoque de prevencin basado en evidencia (Rosengarten, en prensa). De otro lado, se est reconociendo de manera creciente el papel de la diversidad sexual en la diseminacin global de la epidemia (Cceres et al. 2008, Baral et al 2007), incluso en regiones que, como Africa, eran definidas como reas de epidemia generalizada en las que la transmisin homosexual era insignificante, y existen, ms que nunca, recursos para desarrollar programas y acciones en MSM (acrnimo para hombres que tienen sexo con hombres, en ingls). En lo que resta del texto trataremos de explorar estas ideas en sus implicancias polticas y ticas para la respuesta global a la epidemia. La produccin discursiva de la sexualidad Foucault (1976) estuvo entre los primeros en plantear cmo en el siglo XIX la sexualidad se convirti en producto y blanco de una proliferacin de discursos. Ms de un siglo despus, la llegada del VIH gener, y contina generando, prescripciones y pedagogas sexuales que reflejan creencias profundas sobre el sexo y lo sexual, pero ha llevado a la emergencia de nuevos actores y nociones de actora. En un contexto de desastre (Altman, 1988) la epidemia produjo una transformacin fundamental en lo sexual , y dio voz a comunidades tradicionalmente silenciadas. De una manera u otra, entonces, la respuesta a la epidemia fue incorporando nuevas reacciones en investigacin, relaciones internacionales, y perspectivas sobre ciudadana y derechos que han contribuido a una transformacin emancipadora de lo sexual. La historia de la respuesta a la epidemia ilustra cun fcil es la emergencia de discursos contradictorios sobre prevencin de VIH, con orgenes en entendimientos distintos de la realidad social y humana. Fue el contrapunto entre el discurso epidemiolgico, su repercusin en el conservador establishment poltico de la era Reagan/ Thatcher, en confrontacin con el emergente activismo en VIH de miembros de la comunidad gay de Norteamrica e Inglaterra, lo que defini una forma de activismo cultural que tal vez tuvo a Act Up como uno de sus brazos armados, y a un conjunto importante de intelectuales y artistas en la reflexin crtica (Crimp 1988). Estas perspectivas divergentes del discurso epidemiolgico clsico (y de los ecos provenientes de la derecha cristiana), junto con el fracaso de las estrategias inicialTransformaciones en el discurso sobre la epidemia al VIH como una epidemia sexuada Carlos Cceres

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es de los programas preventivos, basadas en intervenciones individuales de corte cognitivo, hicieron espacio para el ingreso de las ciencias sociales crticas al debate, crecientemente internacional, en el cual comenzaron a tener un papel voces provenientes de pases del sur (particularmente Brasil) y que se fue plasmando en la creacin del primer programa del sistema de Naciones Unidas frente al SIDA, el Programa Mundial para el SIDA (GPA) alojado en la Organizacin Mundial de la Salud. Particularmente en su primera fase, bajo la direccin de Jonathan Mann, pese a las limitaciones del sistema, este programa logr impulsar una visin ms integradora sobre las consecuencias sociales del SIDA, y tambin una mayor visin de sus causas, que reconoci la diversidad cultural y los determinantes estructurales de la epidemia (Cceres y Race, en prensa). Tanto este programa como ONUSIDA (UNAIDS), programa interagencial creado en 1996 para coordinar multisectorialmente la respuesta al VIH, han ido contribuyendo a una visin de la epidemia que reconoce su base social, su relacin con la inequidad, y la necesidad de enmarcar la respuesta global dentro de una perspectiva de derechos humanos. El discurso sobre acceso universal y la prevencin basada en evidencias De acuerdo a esta tendencia, se comenz a ver la inequidad en el acceso a un tratamiento razonablemente efectivo (la terapia antirretroviral combinada disponible en pases del norte desde 1996) como moralmente inaceptable. As, con la llegada del siglo XXI, la respuesta global al VIH experiment cambios significativos, que comenzaron a plantearse en la Sesin Especial de la Asamblea General de las Naciones Unidas para el SIDA (UNGASS, 2001). Se consigui un compromiso formal de los actores relevantes para lograr el acceso universal, no slo a los regmenes disponibles de tratamiento antirretroviral combinado, sino tambin a las estrategias de prevencin ms adecuadas para cada grupo. Una potenciacin de la prevencin se consideraba imprescindible porque el tratamiento es costoso, y con el paso del tiempo los esquemas iniciales, que tienen menor costo, tienen que ser reemplazaos por regmenes ms caros. Luego de UNGASS se inici una movilizacin de recursos sin precedentes, a travs de las llamadas Iniciativas Globales en VIH (GHI), que incluyen el Fondo Mundial contra el SIDA, la Tuberculosis y la Malaria, el Programa de Emergencia del Presidente de EEUU para el Alivio del SIDA (PEPFAR), y el Programa Multi-Pas del Banco Mundial (GHIN, 2007). A partir de estos programas, se ha movilizado una cantidad muy significativa de recursos para financiar programas de tratamiento y prevencin en pases de ingresos bajos y medios, aunque los mecanismos de financiamiento son bastante distintos entre las tres iniciativas.
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Cabe mencionar, sin embargo, que la magnitud de las inversiones generadas a travs de estos programas ha entrado en cuestin en los ltimos dos aos; y las principales crticas sostienen que las GHI generan programas verticales que debilitan los sistemas de salud, afectando su efectividad y tambin la respuesta a otros problemas de salud. Aunque un anlisis de estas crticas est ms all de los alcances de este texto, estas han sido reemplazadas por una posicin intermedia que reconoce las limitaciones y riesgos de los programas verticales pero justifica el excepcionalismo de la epidemia de VIH y otras epidemias severas, y llama a esfuerzos serios para fortalecer los sistemas de salud mediante mltiples estrategias, incluso con fondos de los mismos programas verticales (OMS, 2008). Ahora bien, el discurso sobre acceso universal a la prevencin se comenzaba a dar en el marco de un complejo proceso de desacreditacin de la prevencin basada en educacin, desarrollo de habilidades, difusin de innovaciones, o reduccin de la vulnerabilidad (Kippax, 2003). Crecientemente, el lenguaje tecnocrtico dominante define este enfoque preventivo, por exclusin, como un enfoque no cientfico, mientras se consolida un campo emergente de investigacin biomdica en prevencin. Este es, justamente, el de la llamada prevencin biomdica, que incluye a un conjunto nuevo de tecnologas, la mayora de las cuales est an en evaluacin. La evidencia como prerrogativa de la biomedicina positivista Entre las llamadas estrategias de prevencin biomdica, la nica sobre cuya efectividad se tiene evidencia es la circuncisin masculina; incluso aqu la evidencia se limita a su efectividad para reducir, en un 40% el riesgo de adquisicin del VIH entre los hombres en la penetracin vaginal (no habiendo evidencia de su efectividad para disminuir la transmisin de stos a sus parejas mujeres en sexo vaginal, o a sus parejas de cualquier sexo en una relacin anal) (Padian y col, 2008). Otras estrategias biomdicas en evaluacin incluyen: la vacuna (algunos ensayos importantes fueron cancelados hace 18 meses, porque haba evidencia de que no funcionaran); el uso de gel viricida (en estudios separados para uso vaginal y para uso rectal); el uso de diafragma con accin viricida; la profilaxis postexposicin (uso temporal de esquemas antirretrovirales inmediatamente despus de una exposicin) y la profilaxis preexposicin (uso permanente de esquemas antirretrovirales en personas consideradas en alto riesgo de manera estable). Los campos considerados actualmente ms prometedores incluyen los geles viricidas y la profilaxis preexposicin; de esta ltima estn en marcha una gran cantidad de ensayos clnicos en distintas poblaciones en Norteamrica, Sudamrica, Africa y Asia, en poTransformaciones en el discurso sobre la epidemia al VIH como una epidemia sexuada Carlos Cceres

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blaciones de mujeres trabajadoras sexuales (en Africa), mujeres en general (en Africa), usuarios de drogas inyectables (en Asia) y hombres que tienen sexo con hombres (Norteamrica, Sudamrica, Africa y Asia) (Rosengarten, en prensa). Sintomticamente, desde inicios de esta dcada, la International AIDS Society desarrolla una nueva serie de conferencias en aos alternos a sus Conferencias Internacionales sobre SIDA (las cuales son consideradas ms polticas que cientficas por muchos investigadores). Estas conferencias, orientadas a investigadores biomdicos, se comenzaron llamando Conferencias sobre Patognesis y Tratamiento (2001, 2003 y 2005), para pasar a ser sobre Patognesis, Tratamiento y Prevencin Biomdica en 2007. Durante dicha conferencia, realizada en Sydney, se dio una polmica importante entre los organizadores y los investigadores sociales (particularmente australianos) que criticaron la exclusin de la investigacin en prevencin no biomdica, lo que tcitamente la calificaba de no cientfica. Un panel dedicado a discutir la interseccin entre aspectos biomdicos y sociales de la prevencin evidenci la dificultad de entendimiento entre quienes, desde las estrategias biomdicas, no entendan las crticas y clamaban por un trabajo conjunto, y quienes desde la otra postura denunciaban una minimizacin de la investigacin social, y criticaban la ausencia de investigacin operacional que evaluara la adaptacin a condiciones programticas reales de las intervenciones evaluadas en ensayos clnicos (Rosengarten, en prensa). Sin duda esta polmica dio sus frutos, pues se comision la preparacin de una serie de artculos sobre Combination Prevention (prevencin combinada), publicada en agosto 2008 en The Lancet (Coates et al., 2008), y presentada oficialmente en la Conferencia Internacional sobre SIDA en Ciudad de Mxico. Asimismo, aunque la IAS rechaz un pedido para organizar una serie de conferencias enfocadas en las ciencias sociales, en cambio comision una investigacin sobre el papel de las ciencias sociales frente al SIDA, y cambi el foco de su conferencia alterna a Patognesis, Tratamiento, Prevencin e Investigacin Operativa, aunque sigui sin incluir la prevencin no basada en tecnologas biomdicas. Como Kippax y otros (Kippax 2003) han analizado, tanto la prevencin social o tradicional (basada en la educacin para el uso de preservativos) como la biomdica actual representan una combinacin de tecnologas (el preservativo tambin lo es) y de prcticas especficas de las personas (usar preservativos, geles, profilaxis farmacolgica), por lo cual esta clasificacin no se justifica. Al mismo tiempo, crecientemente se reconoce que la fe en una tecnologa nueva (por ejemplo la circuncisin) podra disminuir el uso de preservativo y compensar en negativo el terreno ganado con los programas de circuncisin. Otro de los debates vinculados a estas transformaciones ha sido el debate tico en torno a estas tecnologas (en relacin a sus costos y consecuencias en las polticas internacionales) y, sobre todo, sobre los ensayos clnicos que las evalan. Si la efica168
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cia de estas estrategias es demostrada, no sera extrao que se inicie el uso en gran escala de estos derivados antirretrovirales en prevencin, con enormes consecuencias en el futuro del financiamiento de programas de salud sexual (Rosengarten, en prensa), y sin duda con significativas ganancias para las compaas farmacuticas cuyos productos estn en evaluacin. Estas compaas han sido diligentes actores en la promocin de estos ensayos clnicos (en conjunto con la Red de Ensayos Clnicos en VIH del NIH y la Fundacin Gates), aunque sus intereses iban claramente mucho ms all de lo cientfico. Aunque los ensayos clnicos para evaluar estas tecnologas han generado preocupacin porque en algunos casos los productos en prueba, en relacin con el grupo de control, incrementaron el riesgo de infeccin (como ocurri con el ltimo ensayo importante sobre vacunas y algunos ensayos sobre geles viricidas y diafragma) (WHO, 2007), la mayor fuente de crtica ha estado en la forma en que varios de los ensayos, particularmente los de profilaxis pre-exposicin, fueron organizados, generando un rechazo local que llev, por varios mecanismos, a la suspensin o cancelacin de la primera generacin de estos ensayos. Haban preocupaciones sobre el uso sistmico de antirretrovirales en seronegativos a largo plazo, las dudas sobre adherencia y la posibilidad de desarrollo de resistencia; la posibilidad de mala interpretacin del efecto del producto (frmaco versus Placebo) que llevase a un no uso del preservativo, y sobre el futuro acceso de la poblacin a la tecnologa si esta fuese hallada efectiva (Singh y Mills, 2005). En cualquier caso, el futuro la prevencin es incierto, pues de la forma en que estas tecnologas sean incorporadas (en caso de que se encuentre evidencia de su eficacia) depender el que realmente se potencie la prevencin o que se termine desarticulando la respuesta actual y saboteando la posibilidad de una mejora. El (re)descubrimiento de la epidemia en los HSH El segundo cambio reciente cuya discusin es pertinente frente a la hiptesis de desexualizacin de la respuesta a la epidemia es, claramente, el aparente descubrimiento de que los hombres que tienen sexo con hombres son un grupo clave en la dinmica de las epidemias de VIH en casi todo el mundo, incluyendo las reas con epidemias generalizadas (v.g. frica subsahariana). Recientes investigaciones, incluyendo algunas comisionadas por actores internacionales (Baral y col., 2007; Cceres y col., 2008) resaltan la gravedad de la epidemia en este grupo (destacando como un grupo aparte a la poblacin transgnero) y hacen un llamado no slo al acceso a servicios sino tambin al cambio de su situacin legal y de derechos humanos, considerada un obstculo considerable en el camino a lograr el acceso universal. La OMS, a travs del Director de su Programa
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de VIH, reconoci pblicamente el gran error de no haber identificado antes la importancia de esta epidemia en Africa (allafrica, 2008). A partir de esta nueva informacin, ONUSIDA (y sus agencias auspiciadoras) y la mayor parte de actores internacionales han comenzado a realizar esfuerzos especiales, asignar responsabilidades acerca del tema, contratar personal especializado, comisionar nuevos estudios, desarrollar lineamientos para el otorgamiento de servicios, y conseguir recursos adicionales. Incluso el Fondo Mundial incluy como criterio de financiamiento la consideracin de minoras sexuales (UNAIDS, 2008), y permiti propuestas de pases de ingreso medio-alto con epidemias concentradas en esta poblacin slo a condicin de que se enfocaran en ella. Nuevas iniciativas de articulacin se han generado, incluyendo numerosas redes regionales (como el Global Forum on MSM) y regionales (v.g. en Amrica Latina, Asia y Africa). Aunque este sealamiento implica un avance no slo en el reconocimiento de la diversidad sexual a travs del globo, sino tambin en el planteamiento de que los HSH (y particularmente la poblacin transgnero) son un grupo con mayores necesidades en prevencin y pese a ello desatendido, e incluso en muchos pases excluido del ejercicio de sus derechos humanos (Cceres et al. 2008), es inevitable ver este repentino descubrimiento con cierta desconfianza (o, en todo caso, con amargura). En el mejor de los casos puede ser, efectivamente, que se ha acumulado nueva evidencia y se dio el momento poltico adecuado. Alternativamente, es posible que este sea un momento conveniente a otros intereses: es probable que, en las epidemias concentradas en HSH de pases como India, Tailandia, Indonesia y Amrica Latina, el redescubrimiento de los HSH como un grupo olvidado frente al cual es imperativo actuar puede legitimar decisiones de gran impacto financiero y poltico, tales como el incremento del financiamiento internacional de programas que masifiquen el acceso de esta poblacin a las tecnologas biomdicas que resulten eficaces. Igualmente, la disponibilidad de esta evidencia ser la base para multimillonarios proyectos que involucren la construccin de nuevos estilos de vida basados en el uso de estas tecnologas entre los hombres gay del norte (y del sur) con capacidad para autofinanciar su uso. Lo anterior no quiere plantear de modo alguno que escenarios como los descritos no puedan tener consecuencias positivas sin duda, es muy posible que las tengan. Tampoco quiere proponer que la oportunidad que esta coyuntura representa para el avance de la agenda por parte de quienes siempre han luchado por esta causa sea desaprovechada. Y es posible que tales consecuencias positivas puedan, eventualmente, inhibir un anlisis crtico que podra ilustrar, una vez ms, cmo la prctica cientfica (incluso si es una prctica rigurosa) puede ser influida por muchos otros intereses, incluyendo momentos de disponibilizacin de recursos, temas de mayor importancia poltica, relaciones institucionales, e intereses comerciales.
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Eplogo: sobre evidencia Aunque la construccin de consensos se suele ver como necesaria para el desarrollo de polticas globales, dicha construccin suele partir de perspectivas muy distantes entre los actores, cada uno de los cuales participa en los debates con distintos recursos de poder. Por ejemplo, la autoridad de la epidemiologa y la biomedicina para articular estrategias para el cambio de comportamiento relativo al VIH a mediados de los aos ochenta no pudo ser cuestionada hasta que sus limitaciones se hicieron claras (Parker, Easton y Klein, 2000). Pese a este cuestionamiento, un nuevo momento ha llegado para que un paradigma biomdico adquiera centralidad en la prevencin. Y aunque ello pueda interpretarse como menoscabo de lo sexual (si se lee como social) de la epidemia, presenciamos un proyecto global multiinstitucional que re-descubre la epidemia en HSH como central en la respuesta y, sobre esa base, legitima un amplio (y an desordenado) conjunto de intervenciones, entre las que probablemente se contar la aplicacin de nuevas tecnologas biomdicas. Una inevitable reflexin apunta a la importancia de un trabajo multidisciplinario armonizado. A pesar de algn progreso observado en esta direccin, la experiencia de cooperacin entre campos disciplinarios no ha avanzado mucho, si se excluyen esquemas en los que se involucra instrumentalmente a investigadores sociales para completar tareas definidas por investigadores biomdicos y epidemilogos. Los desacuerdos van bastante ms all de las perspectivas epistemolgicas, sin embargo, puesto que los nuevos actores en esta discusin representan un conjunto ms amplio de intereses. Por ejemplo, las compaas farmacuticas se han convertido en actores poderosos en la prevencin de con la construccin del campo de la prevencin biomdica (Rosengarten, en prensa). Pero tambin otros actores (por ejemplo, los grupos acadmicos, las agencias de cooperacin para el desarrollo, las organizaciones activistas y otras) tienen intereses diversos en juego, ms all de las posiciones epistemolgicas. Otro sealamiento necesario corresponde a lo que aceptamos como evidencia. En recientes publicaciones (Auerbach et al. 2009, Gupta et al. 2008) hemos discutido las limitaciones del paradigma de los ensayos clnicos aleatorizados como estndar dorado entre las fuentes de evidencia cientfica, limitaciones que se hacen insuperables cuando se trata de evaluar la efectividad de acciones en el mbito delo estructural. Esto se debe a que los ensayos clnicos controlan los factores externos (v.g. sociales) que confunden u oscurecen los efectos individuales, los nicos que (de forma agregada) importan como fuente de evidencia; sin embargo, las intervenciones estructurales representan acciones sobre esos mismos factores externos, de modo que hablar de su control (estadstico) est fuera de lugar (Auerbach et al., en prensa). Mientras el paradigma de evidencia dura implique un ensayo clnico, entonces las propuestas de accin estructural seguirn vindose como plausibles pero sin evidencia de soporte, y el camino
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para la hegemonizacin de las mencionadas nuevas tecnologas biomdicas estar peligrosamente abierto. En cualquier caso, la historia no termina aqu, y su curso depende no slo del dilogo entre los saberes cientficos, sino tambin de la participacin de la sociedad civil y, particularmente, de las comunidades afectadas y vulnerables, incluyendo los crecientemente protagnicos HSH (o, ms concretamente, de las viejas y nuevas generaciones de las comunidades LGBT). En lo que va de este camino, las lecciones aprendidas han sido muchas, y apuntan a subrayar la importancia del trabajo transdisciplinario realmente horizontal, el involucramiento de la comunidad, la transparencia y la voluntad poltica sincera. Referencias bibliogrficas
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O campo da sexologia e seus efeitos sobre a poltica sexual


Jane A. Russo1

Nesse paper, pretendo apresentar um esboo amplo do campo da sexologia atual, buscando discutir suas relaes com e efeitos sobre a poltica sexual. O surgimento da sexologia se d em duas etapas: uma primeira sexologia surge entre o final do sculo XIX e as primeiras dcadas do sculo XX; e uma segunda sexologia floresce nos ltimos trinta anos do sculo XX. Vou me deter nesse segundo surgimento, que nos interessa mais de perto. Para introduzi-lo, entretanto, vou discutir brevemente a primeira sexologia, com o objetivo de ressaltar o que distingue os dois momentos. A primeira sexologia Desde o clssico livro de Michel Foucault sobre a histria da sexualidade, nossa imagem do sculo XIX como um perodo em que a sexualidade foi unicamente reprimida tem sido questionada. De fato, o que as pesquisas mostram que o sculo XIX, sobretudo em suas ltimas dcadas, assistiu a uma exploso de debates em torno da sexualidade. O surgimento de uma cincia da sexualidade a sexologia2 fez parte dessa exploso. A maior parte da literatura sexolgica da segunda metade do sculo XIX vai se estruturar em torno da homossexualidade (que, na poca, recebia nomes diversos: inverso; sentimentos sexuais contrrios; sexualidade antiptica). E a grande questo poltica que movia os debates era a luta contra a seo 175 do Cdigo penal prussiano que criminalizava a sodomia3. Neste sentido, a primeira sexologia ser, primordialmente, embora no apenas, alem.

Pesquisadora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, Instituto de Medicina Social (CLAM/IMS/UERJ).
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Traduo de sexualwissenschaft, termo cunhado por Iwan Bloch.

Nos estados que conservavam o cdigo napolenico (de 1810) como Frana, Itlia, Espanha, Holanda, Estados da Alemanha Ocidental essa questo no se colocava e as interdies giravam muito mais em torno do consentimento do que do tipo de ato praticado.

Nesse momento, a produo de uma cincia da sexualidade tinha como objetivo descriminalizar o comportamento perverso, transformando-o em questo mdica lembro que os primeiros sexlogos eram mdicos. Ocorria, portanto, uma disputa entre a medicina e o direito, em que a primeira acabou levando vantagem. Um dos marcos dessa nova cincia o livro de Richard von Krafft Ebing Psychopathia Sexualis (com uma referncia especial ao sentimento sexual contrrio). Nessa espcie de manual da psicopatologia sexual, Krafft Ebing, eminente psiquiatra de lngua alem, listou todos os comportamentos que desafiavam a norma reprodutiva heterossexual, fixando o conjunto heterogneo de variedades bizarras do comportamento sexual praticamente at os nossos dias [sadismo, masoquismo, fetichismo, exibicionismo, sexualidade antiptica (sentimento sexual contrrio), pedofilia, gerontofilia, zoofilia]. Segundo Luiz Fernando Duarte, o texto de Krafft Ebing caminha do mais orgnico ou neurolgico ao mais funcional ou psicolgico. A sexualidade antiptica (ou sentimento sexual contrrio) coroa o projeto da obra e a prpria srie das perverses, sendo a que mais se distancia da determinao orgnica, por se colocar mais prxima das funes superiores da conscincia e da moralidade (Duarte, 1989: 122). Nem monstros, nem tarados, nem medocres, os homossexuais so descritos, antes, como delicados, dignos de estima, morais e, vez por outra, trgicos (...) (Lantri-Laura, 1994:43). Escrito para juristas e mdicos visando o julgamento de crimes sexuais, o livro de Krafft Ebing conhece um enorme sucesso entre o pblico leigo, com dezessete edies publicadas na Alemanha, entre 1886 (ano de sua primeira edio), at 1924, alm de inmeras tradues. No prefcio da 12 edio o autor escreve O seu sucesso comercial a melhor prova de que um grande nmero de pessoas infelizes encontra em suas pginas instruo e alvio nas manifestaes frequentemente to enigmticas de sua vida sexual (Duarte, 1989:84). De fato, Krafft Ebing recebia um grande nmero de cartas de pessoas que se identificavam com os diagnsticos listados em seu manual. As cartas expressavam a felicidade e o alvio dos que se reconheciam nas categorias ento descritas, e ofereciam ao psiquiatra-autor histrias de vida a serem acrescentadas a novas verses do livro (Oosterhuis, 1997). Assim que uma grande quantidade de auto-biografias e histrias de caso vo sendo paulatinamente incorporadas ao manual que, em sua primeira edio, tem 110 pginas, contendo 45 histrias de caso. Em 1903, sua 12 edio conta com 437 pginas e 238 histrias de caso (Weeks, 1996:67). As cartas recebidas, entretanto, nem sempre expressavam concordncia com os pontos de vista do autor, em especial com sua viso psicopatolgica, sendo possvel encontrar, no livro, relatos de pessoas que afirmavam serem perfeitamente felizes com sua condio, no se considerando doentes, muito menos criminosos.
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Se, de fato, a obra de Krafft Ebing parece ter contribudo para moldar a autopercepo dos invertidos, o contrrio tambm aconteceu. As concepes do autor acerca da inverso eram tributrias da troca de correspondncia com seus leitores e foram se modificando com o decorrer do tempo, levando-o a uma aproximao com o movimento de reforma sexual de Magnus Hirschfeld e assinatura da petio, promovida por este, contra o Cdigo Penal alemo. Em seu ltimo artigo no peridico de Hirschfeld (Anurio de Tipos Sexuais Intermedirios), Krafft Ebing afirmou que a concepo cientfica do uranismo4 havia sido parcial e que a opinio de muitos de seus correspondentes uranistas merecia ser levada a srio. Quando, ao final do sc. XIX, os invertidos comearam a ser organizar em movimentos de protesto, referiam-se a Krafft Ebing como uma autoridade cientfica que estava ao seu lado (Oosterhuis, 1997:78). Se Krafft Ebing pode ser considerado como a grande autoridade psiquitrica no que tange classificao e consequente medicalizao das chamadas perverses, Magnus Hirschfeld representa uma outra vertente da sexologia, vinculada ao chamado movimento pela reforma sexual. Esse movimento teve em Karl Heinrich Ulrichs seu precursor. Jurista e homossexual declarado, Ulrichs escreveu, entre 1864 e 1879, um total de doze panfletos sobre o que ele ento chamava uranismo (a atrao sexual por pessoas do mesmo sexo), alm de lutar ativamente contra o cdigo penal prussiano (que acabou sendo estendido a toda a Alemanha aps sua unificao). Suas teorias influenciaram os mdicos que, mais tarde, se ocupariam do tema entre eles o prprio Krafft Ebing. Magnus Hirschfeld era mdico e foi um dos mais importantes personagens da primeira sexologia. Homossexual como Ulrichs, afirmou em seus escritos tericos que os invertidos constituam um terceiro sexo, a homossexualidade sendo uma variedade natural da sexualidade humana, isenta de qualquer ligao com a patologia ou com o vcio. Tal teoria apoiava-se na concepo de uma bissexualidade originria. Em 1897, fundou o Wissenschaftlich-humanitres Komitee (Comit CientficoHumanitrio), cujo principal objetivo era eliminar a seo 175 do Cdigo Penal Imperial adotado em 1871. Como atividade do comit, lanou uma petio que foi assinada por membros proeminentes da sociedade5, chegando a 6.000 assinaturas. Em 1899, iniciou a publicao do Jahrbuch fr sexuelle Zwischenstufen (Anurio de Tipos Sexuais Intermedirios), publicado at 1923. Embora no incio tenha tido contribues importantes (como as de Krafft Ebing), o Jahrbuch foi ignorado pela cincia oficial alem. lem deste, foi responsvel pela publicao, em 1908, do Zeitschrift fr Sexualwissenschaft, que teve em seu primeiro nmero um artigo de
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Termo cunhado por Karl Ulrichs. Incluindo, como vimos, Krafft Ebing.
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Sigmund Freud, e que, aps um ano, transformou-se no Zetschrift fr Sexualwissenschaft und Sexual Politik, onde Freud publicou o artigo Moral sexual civilizada e a doena nervosa moderna. Em 1919, fundou o Instituto da Cincia Sexual (Institut fr Sexualwissenschaft) em Berlim e foi um dos organizadores, em 1921, da Conferncia Internacional para a Reforma Sexual baseada na Cincia Sexual, tambm em Berlim. A partir desse encontro, foi fundada a Liga Mundial para a Reforma Sexual, que tinha como pontos principais: a educao sexual, a igualdade sexual de homens e mulheres, a reforma das leis de casamento e divrcio, o encorajamento da contracepo e do controle da natalidade, a reforma das leis do aborto, a proteo da me solteira e do filho ilegtimo, a preveno das doenas sexualmente transmissveis, a remoo dos fatores econmicos que levavam as mulheres prostituio, a promoo de uma atitude racional para com pessoas sexualmente anormais, a reforma das leis sobre delitos sexuais6. Aps a realizao de quatro congressos internacionais, a liga foi dissolvida no incio dos anos 1930. A carreira de Hirschfeld, incluindo suas relaes com figuras como Krafft Ebing e Sigmund Freud, sugere que o aparecimento da primeira sexologia indissocivel do surgimento do campo da poltica sexual. A medicalizao da sexualidade no se opunha necessariamente sua politizao, ao contrrio, os dois processos praticamente se fundiam num s. A segunda sexologia O mesmo no se pode dizer do que estamos chamando segunda sexologia. Nos anos 1930, dada a ascenso do nazismo na Alemanha, o movimento pela reforma sexual e a prpria sexologia conheceram um rpido declnio, com a perseguio das pessoas envolvidas, alm do banimento de livros e publicaes. O Instituto de Hirschfeld foi invadido e teve seu acervo destrudo. Uma cincia da sexualidade vai se reconstituir no ps-guerra, desta feita nos Estados Unidos. A mudana no ser apenas geogrfica, mas, sobretudo, de foco. Saem de cena a inverso e demais perverses, cedendo lugar sexualidade do homem normal. Ao contrrio do perodo discutido acima, em que a capacidade reprodutiva era condio para uma sexualidade normal, a segunda sexologia marcada pela cada vez mais radical disjuno entre sexualidade e reproduo. Esta segunda sexologia tem nas pesquisas de Alfred Kinsey as bases sobre as quais se desenvolve. Foi Kinsey quem, deixando de lado a sexualidade desviante, voltou
Em Bullough (1994:73). Para uma discusso do modo como os objetivos da liga se transformaram com o decorrer do tempo, ver Haeberle (1983) e Dose (2003).
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seu interesse para a sexualidade normal isto , para o casal heterossexual7. Seus livros, publicados no final dos anos 1940 (Sexual Behavior in the Human Male) e incio da dcada de 1950 (Sexual Behavior in the Human Female), conheceram um enorme sucesso. No caso dos homens, os dados acerca do alto percentual de relaes homossexuais e, no caso das mulheres, aqueles que apontavam o sexo fora do casamento e a masturbao como comportamentos, seno comuns, pelo menos percentualmente significativos, causaram um razovel grau de polmica. Ao mesmo tempo, colocaram o tema da sexualidade na ordem do dia, trazendo para o interior da conjugalidade heterossexual comportamentos antes vistos como transgressores ou anormais. Uma atitude extremamente franca e aberta, aliada a uma crena inabalvel na objetividade cientfica, fizeram de Kinsey um crtico afiado dos tabus e preconceitos que cercavam a sexualidade, em especial os oriundos da viso religiosa. Alm disso, seus relatrios colocaram em cheque a hipocrisia da moral americana tradicional mostrando a distncia que parecia existir entre o que se dizia publicamente e o que se fazia no recesso do lar8. Ainda nos anos 1950, William Masters, um mdico ginecologista, professor da Washington University em Saint Louis, comeou suas investigaes sobre sexualidade. Em 1957, juntou-se a ele a psicloga Virgina Johnson. Ambos realizaram pesquisas em laboratrio com sujeitos humanos, de modo a observar e medir objetivamente o que eles vieram a chamar de resposta sexual humana. Em 1966, publicaram o livro Human Sexual Response e, em 1970, Human Sexual Inadequacy. Neste ltimo, considerado o marco da moderna sexologia, so listadas todas as perturbaes possveis da sexualidade de homens e mulheres e seu tratamento. O segundo livro de Masters e Johnson tornou-se a pedra de toque para uma especialidade emergente: o terapeuta sexual. Menos de cinco anos depois de sua publicao, j havia entre 3.500 e 5.000 centros de tratamento para problemas sexuais nos EUA9. Nesse mesmo perodo, surgiram peridicos e sociedades cientficas devotadas sexologia nos Estados Unidos. O Archives of sexual behavior foi fundado em 1971, a International Academy of Sex Research e o Journal of sex and marital Therapy so de 1975. Em 1978, foi fundada a hoje poderosa World Association of Sexology10 (WAS). A primeira metade dos anos 1970 foi, portanto, o momento em que a sexologia ressurgiu como sciencia sexualis, o que implicou, como vimos, uma mudana
Segundo Bullough (1994), houve outros sex researchers antes de Kinsey nos Estados Unidos, no final dos anos 1920 e nos anos 1930. Seus trabalhos, entretanto, enfrentaram muitas resistncias, tanto por parte do governo norte-americano, quanto por parte de outros pesquisadores, tendo obtido uma difuso muito restrita e pouco reconhecimento.
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Cf. Bullough (2004), Robinson (1977) e Gagnon (2006). Cf. Irvine (2005). Em 2005, mudou seu nome para World Association for Sexual Health.
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no seu objeto de reflexo e interveno e, tambm, sua reorganizao enquanto profisso e campo de saber. H, entretanto, um importante ponto em comum com a primeira sexologia: a concepo biolgica ou naturalista da sexualidade. Nos dois casos, contudo, essa concepo ter efeitos bastante diversos. A concepo naturalista de Hirschfeld e seus colegas, por se constituir em oposio concepo jurdica e moral que criminalizava comportamentos perversos, possua um inegvel vis poltico. Observamos, no caso de Kinsey, o recurso a uma viso materialista/naturalista e, no caso de Masters e Johnson, a construo, atravs da observao emprica, de uma fisiologia da funo sexual. Nesses autores, a completa objetivao da sexualidade como um fenmeno natural e biolgico levava crena de que este um domnio autnomo da vida dos sujeitos, sendo possvel abord-lo sem referncia a valores ou ao contexto scio-cultural. A concepo biolgico-naturalizante da segunda sexologia, de fato, a distanciava inteiramente dos embates polticos que faziam parte da atividade dos primeiros sexlogos. Evidentemente, as teorias de Kinsey e Masters e Johnson no eram estranhas ao contexto scio-cultural em que foram produzidas e, certamente, contriburam fortemente para a constituio de um certo modo de ver e compreender a sexualidade. No se pode, portanto, afirmar que foram de fato politicamente neutras. Tiveram, entretanto, um efeito despolitizante (o que em si um efeito poltico) que fica bastante claro quando levamos em conta o contexto histrico e social em que foram produzidas. Penso, em especial, na teoria de Masters e Johnson, que, bem mais que Kinsey, forneceram os fundamentos para a nova sexologia. Quando Masters e Johnson publicaram seus livros, os Estados Unidos passavam por um momento de grande ebulio cultural e poltica. Aprofundando as inquietaes surgidas no ps-guerra, o final da dcada de 1960 e os anos que se seguiram constituram um perodo de questionamento e ruptura com os valores tradicionalmente associados famlia nuclear e ao que ela implicava em termos de comportamento moral e circunscrio da sexualidade. A cultura da juventude radicalizou-se, transformando-se em contracultura, apontando para um decentramento da luta e dos questionamentos polticos. A tradicional crtica marxista ao capitalismo, calcada na oposio entre capital e trabalho, no parecia mais suficiente para canalizar as insatisfaes no somente de jovens e mulheres, mas das chamadas minorias: homossexuais, negros (ou no-brancos de modo geral), loucos. Ao lado do operariado, surgem como fora poltica os grupos marginalizados, perifricos em relao norma masculina, branca e heterossexual. A palavra de ordem dos diversos movimentos liberao liberao da autoridade patriarcal, paterna, mdico-psiquitrica, governamental. A esfera da sexualidade ser um dos principais campos de embate e afirmao de um novo mundo, tanto do ponto de vista da contracultura jovem, quanto do ponto de vista das mulheres e do nascente movimento homossexual.
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Em meio a esse clima de contestao e afirmao da ideais libertrios, o movimento homossexual americano iniciou, a partir de 1970, uma acirrada batalha pela retirada do diagnstico de homossexualismo do manual da American Psychiatric Association (naquela poca o DSM II11). Essa luta, iniciada a partir de intensas e agressivas manifestaes organizadas durante os congressos anuais da Associao, acabou sendo vitoriosa12. Tratava-se, neste caso, de politizar, trazer para o debate poltico pblico, uma questo que havia sido incorporada ao discurso neutralizante da medicina. O movimento homossexual, ao invadir congressos com faixas e cartazes, no buscava argumentar a partir da lgica psiquitrica, mas utilizava a lgica da argumentao poltica. As discusses diziam respeito a legislao, direitos civis e afirmao identitria, tudo isso se desenrolando na seara pblica. Caso semelhante ocorreu com o movimento anti-psiquitrico, por exemplo. Na sua face mais radical, esse movimento no propunha qualquer discusso sobre a loucura no campo da clnica ou das teorias psiquitricas. Sua luta se dava em torno da cidadania do louco e de seus direitos enquanto cidado. a esta politizao que contraponho a despolitizao levada a cabo pela segunda sexologia. Despolitizao que atinge a sexualidade normal ou mainstream, que passa a ser objeto de intenso escrutnio e vigilncia. intensa politizao da diversidade sexual corresponde, portanto, uma no menos intensa psicologizao e medicalizao da heterossexualidade. interessante assinalar que, no apenas o manual da American Psychiatric Association (DSM II) retirou a homossexualidade da lista dos desvios sexuais em 1973, mas, na sua terceira verso, publicada em 198013, incorporou na lista dos transtornos psicossexuais o ciclo de resposta sexual proposto por Masters e Johnson nos anos 1970, inaugurando um conjunto de transtornos as disfunes sexuais que antes no existiam, e que vo se caracterizar pelo mau funcionamento sexual, e no pelo desvio da norma heterossexual (marca das antigas perverses). No se est mais produzindo identidades desviantes ou definindo novos sujeitos na cena pblica (como foi o caso, por exemplo, da homossexualidade), mas alargando e pavimentando o caminho para a construo mdico-psicolgica da performance sexual como ideal de sade e bem estar. No basta mais fazer parte de um casal heterossexual normal, como no tempo de Ellis e Hirschfeld, preciso perseguir uma performance sexual considerada ideal14.
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Segunda verso do Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders. O diagnstico foi retirado no incio de 1973. Ver sobre isso Bayer (1987) e Kutchins e Kirk (1999).

Essa terceira verso, conhecida como DSM III, comeou a ser produzida em 1974, tendo como coordenador da fora tarefa encarregada da reformulao o mesmo psiquiatra (Robert Spitzer) que havia liderado as discusses em torno da retirada da homossexualidade do manual.
14

Para uma discusso crtica, ver Bjin (1987).


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A medicina sexual Uma espcie de terceira onda sexolgica surgida no decorrer dos anos 1980 acaba por reconfigurar o campo da sexologia. Masters e Johnson, nos anos 1970, com base na resposta sexual humana que haviam observado em seu laboratrio, criaram uma terapia dirigida ao casal (heterossexual), basicamente de cunho psicolgico (comportamental). Tratava-se de uma espcie de treinamento que durava duas semanas, no decorrer das quais o casal tinha vrias tarefas a cumprir. Era, nesse sentido, um tratamento fundamentado em uma fisiologia sexual, mas no era mdico nos sentido estrito do termo. Terapeutas com outra formao profissional (em especial psiclogos) podiam ser treinados no novo mtodo, embora o acompanhamento de um mdico fosse recomendado. De qualquer modo, a proposta teraputica de Masters e Johnson, embora pudesse ser dirigida ao tratamento de uma disfuno mais feminina ou mais masculina, dizia respeito basicamente ao casal. A funo sexual era concebida a partir da relao do casal. No decorrer dos anos 1980, percebe-se o paulatino aumento de pesquisas e artigos cientficos sobre a disfuno sexual masculina e seu tratamento. Ou seja, a sexualidade masculina adquire autonomia com relao unidade marital o mesmo no ocorrendo, pelo menos nesse momento, com sexualidade feminina. Boa parte dessas pesquisas e artigos tinha como tema a impotncia. A relevncia de tais estudos pode ser medida pela fundao, em 1982, da International Society for Impotence Research (ISIR), que passa a promover congressos mundiais sobre impotncia, e pela criao, em 1989, do International Journal of Impotence Research. Uma pesquisa, em especial, citada como marco nesse campo de estudos: o Massachusetts Male Aging Study (MMAS), realizado pelo New England Resarch Institute, sob a liderana do Dr. Irwin Goldstein, mdico urologista da Boston University School of Medicine15. O MMAS, realizado entre 1987 e 1989, concluiu que 52% da amostra pesquisada (homens entre 40 e 70 anos) sofriam de algum grau de impotncia. Os resultados da pesquisa foram publicados em um peridico de urologia e so at hoje amplamente citados para justificar a relevncia da impotncia (agora denominada disfuno ertil) como problema de sade pblica. A mudana da designao de impotncia para disfuno ertil aponta para uma transformao no modo de compreender a prpria atividade sexual. O termo impotncia carrega uma srie de conotaes de ordem moral que ultrapassam grandemente sua definio fsica estrita. Esta sua face fsico-moral traz consigo possibilidades de leitura diversas, em especial, a psicolgica. A categoria disfuno ertil, por sua vez, livrando-se do peso moral inerente ideia de impotncia, remete possibilidade de uma definio inteiramente centralizada na
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Os participantes da pesquisa ficaram conhecidos como o grupo de Boston.


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capacidade (fsica) de ereo do rgo sexual masculino. Uma definio eminentemente orgnica que remete aos esteretipos acerca da sexualidade masculina (em oposio feminina) que, segundo se acredita, pode (ou deve) ser inteiramente isolada de consideraes psicolgicas ou emocionais16:
[disfuno ertil definida como] a incapacidade persistente de conseguir ou manter uma rigidez suficiente na ereo para ter uma relao sexual. O grau de disfuno ertil varivel e pode se situar entre uma reduo parcial da rigidez peniana ou da incapacidade em manter a ereo e uma falta completa de ereo. Esta definio limitada capacidade ertil do pnis e no inclui os problemas de libido, distrbios da ejaculao ou do orgasmo (Krane et al., 1989 apud, Giami, 2009).

Em 1992, uma conferncia de consenso foi organizada pelo National Institute of Health. Seu relatrio incorporou as principais teses do grupo de Boston. Em 1993, a Pfizer patenteou o citrato de sildenafil, que ser comercializado a partir de 1998 com o nome de Viagra. O tema considerado suficientemente importante para justificar a realizao de uma Consulta Internacional sobre Disfuno Ertil em Paris, sob a coordenao da Organizao Mundial de Sade e da Sociedade Internacional de Urologia, no ano de 1999. A individualizao da disfuno sexual masculina, que, pela mo da urologia, se desprende da sexualidade do casal, onde era mantida pela concepo mdico-psicolgica de Masters e Johnson, acaba atingindo tambm a mulher. Em 1998, quando o Viagra j estava sendo testado para obter a aprovao da Food and Drug Administration, realizou-se, ainda em Boston, a International Consensus Development Conference on Female Sexual Disfuntion: definitions and classifications, promovida pela American Foundation for Urological Disease. Dela participaram 19 pesquisadores convidados, dos quais 18 tinham algum tipo de ligao com a indstria farmacutica. O encontro preparatrio foi feito dois meses, antes no decorrer do encontro bianual da International Society for Impotence Research. Os resultados da conferncia de consenso foram publicados em 2000 no The Journal of Urology, com o apoio de oito laboratrios farmacuticos17. Percebe-se, nesse movimento em torno das disfunes femininas, a tentativa de defin-las como doena urolgica, masculinizando-as isto , definindo-as de forma estritamente orgnica (como se fez com a disfuno ertil). Masculinizar, no caso, traduzir possveis desconfortos ou problemas em uma linguagem basicamente fisicalista, fundamentada em uma compreenso atomizada do sujeito, sem referncia a qualquer aspecto relacional (e, por isso, emocional) da atividade sexual.
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Ver a discusso de Giami (2009). Sobre todo esse processo, ver Faro (2008).
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A mudana terminolgica de impotncia para disfuno ertil , como vimos, uma mudana conceitual e no atinge apenas as prprias disfunes. Em 2000, a ISIR torna-se ISSIR, International Society for Sexual and Impotence Research. Essa pequena mudana agregar sexual ao ttulo anterior tem um grande significado, j que o foco exclusivo na impotncia deixava de lado as disfunes sexuais femininas (e as demais disfunes masculinas), deixando descoberta uma extensa rea de atuao, no somente para os urologistas e demais mdicos, mas, sobretudo, para a indstria farmacutica, que via o Viagra e seus sucedneos baterem recordes de vendagem18. Com a difuso da categoria disfuno ertil, o nome da associao mudar de novo, quatro anos depois, para International Society for Sexual Medicine. Nome emblemtico que tambm vai compor o ttulo do antigo International Journal for Impotence Research, que passar a se chamar International Journal of Sexual Medicine. A medicina sexual surge, portanto, como uma espcie de ramo da urologia, na esteira do sucesso dos medicamentos lanados para disfuno ertil. Inteiramente comprometida com a indstria farmacutica, de algum modo, aprofunda a caracterstica bsica da sexualidade moderna: sua autonomizao em relao reproduo e consequente ancoragem na busca do prazer. A nfase na performance, no comportamento, j presente em Masters e Johnson, levada s ltimas consequncias, na medida em que os aspectos que poderamos chamar de relacionais da atividade sexual esto ausentes. Medicina sexual versus sade sexual At agora, a histria do campo sexolgico e de seu desenvolvimento parece ir na direo de uma medicalizao e objetivao cada vez maior. Na verdade, o movimento que, desenrolando-se a partir dos anos 1980 resultou no surgimento da medicina sexual em finais da dcada de 1990, desenvolveu-se paralelamente a outras vertentes no interior da sexologia. De fato, hoje em dia, impossvel falar da sexologia19 como um campo de saber e/ou prticas razoavelmente unitrias. A medicina sexual pode ser considerada como um de seus plos no qual possvel encontrar um alto grau de consenso. Esquematicamente, poderamos colocar no plo oposto o campo da sade sexual,
Neste mesmo ano, o laboratrio Procter and Gamble lanou na Europa o Intrinsa, medicamento base de testosterona para tratamento do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo nas mulheres (a FDA no licenciou o medicamento para comercializao nos Estados Unidos).
18

O prprio termo sexologia, que buscava cobrir um conjunto de prticas e teorias razoavelmente dspares, est caindo em desuso, sendo substitudo por sexualidade humana ou medicina sexual, dependendo do enfoque do profissional. Optei por mant-lo nesse texto, com a ressalva que no se trata exatamente de um termo nativo.
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representada pela antiga World Association of Sexology, hoje rebatizada de World Association for Sexual Health. A substituio da preposio of por for j um indcio importante de mudana. A associao surgiu em 1978, pretendendo ser um frum para a divulgao e o avano de uma cincia da sexualidade, a sexologia. Esse objetivo propriamente cientfico no necessariamente deixado de lado, mas a ele se agrega uma concepo mais militante, de advocacy por algo que se define como sade sexual. Para compreendermos esse novo vis da associao, necessrio levar em conta todos os avanos j ocorridos no campo dos direitos sexuais e reprodutivos e o forte desenvolvimento dos movimentos sociais em torno desses temas. No foi possvel sexologia colocar-se inteiramente ao largo de tais desenvolvimentos. importante lembrar que a WAS lanou em seu congresso de 1999 a declarao dos Direitos Sexuais20. Em 2000, participou ativamente do encontro patrocinado pela OPAS (Organizao Panamericana de Sade) e pela OMS (Organizao Mundial de Sade), realizado em Antigua (Guatemala), e que teve como produto o documento Promotion of sexual health: recommendations for action. Nele encontramos a seguinte definio:
Sexual health is the experience of the ongoing process of physical, psychological, and socio-cultural well-being related to sexuality. Sexual health is evidenced in the free and responsible expressions of sexual capabilities that foster harmonious personal and social wellness, enriching individual and social life. It is not merely the absence of dysfunction, disease and/or infirmity. For Sexual Health to be attained and maintained it is necessary that the sexual rights of all people be recognized and upheld. (OPAS/OMS, 2000, apud. Giami, 2002: 18)

Percebe-se, portanto, uma tentativa de dialogar com a vertente mais propriamente poltica do campo da sexualidade, mantendo, porm, um vis acadmico-cientfico. Os documentos que definem seja os direitos sexuais, seja a sade sexual, so produzidos por especialistas. No so fruto da luta poltica de grupos organizados. Para compreendermos o atual momento da sexologia como saber e prtica, tal como se expressa nas atividades da WAS, necessrio pensarmos em um campo heterogneo, em que posies s vezes divergentes convivem em maior ou menor harmonia. A medicina sexual um dos plos extremos desse campo. Apresenta, como vimos, uma forte tendncia autonomia, com uma associao prpria, publicaes e congressos especficos. Os fortes laos que a unem indstria farmacutica e corporao mdica lhe conferem um alto poder na definio do que deve ou no ser considerado cientfico na seara clnica, bem como na definio do prprio objeto de interveno (as chamadas disfunes) e, correlativamente, na definio de sexualidade.
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Ver a declarao em: <http://www.worldsexology.org/about_sexualrights.asp>.


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No plo oposto, esto os profissionais no-mdicos, voltados para a preveno ou educao sexual21, mais prximos das discusses polticas acerca dos direitos e da diversidade sexual. uma atividade que pode ter algum grau de prestgio acadmico, mas sua distncia da esfera do atendimento clnico sempre mais prestigioso e, sobretudo, mais rentvel financeiramente a leva a uma localizao mais perifrica no campo. Entre esses dois plos bastante antagnicos, poderamos localizar uma sexologia clnica que pode ser mais prxima da medicina, da psicologia ou mesmo da preveno/educao sexual. Com o surgimento da International Society for Sexual Medicine, a WAS tendeu a ficar mais ecltica e a refletir de forma mais consistente a heterogeneidade do campo. Em seus congressos, os profissionais mais perifricos ao campo da clnica se sentem mais acolhidos e os representantes da medicina sexual veem um campo a ser conquistado. Ao mesmo tempo, talvez seja melhor falar de um continuum, em vez de posies antagnicas que se opem de forma sistemtica, j que as fronteiras entre as diferentes vertentes so mais porosas do que poderamos imaginar. Para compreendermos esse continuum, proponho, para fins analticos, uma distino em trs reas de atuao: a medicina sexual (a mais prxima da biomedicina), a sexologia clnica (que se articula tanto com a biomedicina quanto com a psicologia) e a sexologia social ou educacional. A medicina sexual seria, portanto, um dos plos do nosso continuum. Mesmo ela, porm, apresenta um certo grau de flexibilidade, possuindo uma vertente mais radical, vinculada explicitamente indstria farmacutica, e outra mais soft, que se comunica com a sexologia clnica. Esta, por sua vez, em sua vertente mais medicalizada, se submete aos ditames cientficos e clnicos da medicina sexual, mas tende a se aproximar de uma viso multidisciplinar em sua vertente mais psicolgica. Quanto mais se distancia da viso estritamente mdica, mais se aproxima da sexologia scio-educacional, havendo uma sobreposio entre as duas reas de especializao, sendo comum encontrar profissionais que se dedicam tanto clnica das disfunes quanto orientao de professores, adolescentes e crianas. No caso da sexologia educacional, encontramos de novo um continuum que vai desde a referida sobreposio com setores da sexologia clnica, at a associao a vises mais polticas e ativistas da sexualidade. De outro lado, a sexologia educacional se cruza com estudos do campo das cincias sociais, que tendem a ser mais tericas. As fronteiras, de todo modo, no so fixas nem rigidamente demarcadas, ao contrrio, so porosas, e permitem combinaes e articulaes entre posies que, em outros contextos, podem se colocar como antagnicas.
Essa vertente mais social da sexologia estava presente no campo desde a primeira sexologia. No caso da segunda sexologia, a nfase na prtica clnica acabou por ofusc-la, embora ela tenha sempre feito parte do campo.
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O campo da sexologia e seus efeitos sobre a poltica sexual Jane Russo

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No quadro abaixo, apresento um esquema das posies no interior do campo, bem como de suas relaes, sobreposies e distanciamentos. Espero, com ele, ilustrar a complexidade das diferentes posies, bem como a dificuldade de pensar os efeitos do campo da sexologia sobre a poltica sexual e vice-versa.

Referncias bibliogrficas
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Sesso 2 Cincia e poltica sexual

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O campo da sexologia e seus efeitos sobre a poltica sexual Jane Russo

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Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 2


Em seus comentrios sobre o texto panormico dessa sesso, Paula Machado1 desenvolveu, sobretudo, reflexes, acerca da instabilidade que caracteriza a inscrio dos corpos nos discursos e prticas da cincia. Machado tambm sublinhou que, na era contempornea, a cincia produz passaportes para a realidade, os quais esto profundamente associados s ideias de progresso, avano, desenvolvimento e bemestar. Essa reflexo pode e deve ser cotejada com as questes elaboradas na primeira sesso do dilogo e, mais especialmente, no texto panormico, sobre os significados e efeitos das ideologias de modernizao e modernidade nos contornos e dilemas das polticas sexuais latino-americanas. A comentarista , com razo, enfatiza que os passaportes cientficos para a realidade tm, nos nossos contextos sociais, grande apelo prtico e simblico. Em seguida, ela examinou, brevemente, os problemas observados no uso das categorias cientficas pelas pessoas, pelo pblico em geral, ou seja, a apropriao constante dos discursos cientficos pelo senso comum e seus efeitos sobre as lgicas de ordenamento social, em termos de hierarquias, excluses, taxonomias e, portanto, estigma. Finalmente, chamou a ateno para o fato de que todo e qualquer debate sobre cincia e sexualidade deve estar sempre atento s vinculaes entre jornalismo cientfico e produo de culturas, por um lado, e economia, por outro. Dito de outro modo, nem imprensa, a televiso ou a Internet, nem tampouco economia poltica da medicalizao e cientifizao da vida devem ser perdidas de vista quando se trata de examinar, criticamente, as intersees entre sexualidade, poltica e cincia. Esse comentrio final sugere, com razo, que a questo do lugar do discurso cientfico na conformao dos argumentos que circulam na esfera pblica e dos interesses que lhes so subjacentes um aspecto muito relevante que no recebeu devida ateno nas anlises panormicas sobre estado, processos polticos, cincia, poltica e sexualidade. Nos comentrios sobre os trs trabalhos do painel desta sesso, Tamara Adrian2 observou brevemente que, em matria cientfica, todo o discurso oficial se estrutura na base da negao da diversidade sexual. Segundo ela, a literatura cientfica e as
Professora assistente no Programa de Ps-graduao em Sade Coletiva da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
1 2

Vice-presidenta da International Lesbian, Gay, Transgender, Transsexual and Intersex Law Association (ILGLAW).

ordens de poder legal, religioso, poltico, e social visam restringir a liberdade do ser humano de viver plenamente sua sexualidade. Um trao forte da regulao o enquadramento de corpos e pessoas no binarismo sexual que torna absolutamente impossvel transpassar as fronteiras. Adrian tambm ressaltou que, nos dias atuais, o binarismo sexual cristalizado pela biologia e pela bblia vai sendo contestado no mundo da vida. Observa-se que novos investimentos so feitos para que ele seja reificado, quer seja nas doutrinas religiosas, quer seja nos discursos cientficos. Berenice Bento3, em seu comentrios, teceu reflexes no sentido de vincular de maneira mais precisa o debate sobre estado e processos polticos e os contedos relativos sexualidade e cincia. Mais especialmente pontuou que fazer cincia sempre fazer poltica. Nesse sentido, no possvel pensar sobre sexualidade e geopoltica sem examinar crtica e sistematicamente a contribuio da biomedicina (em especial das chamadas das cincias psi) na configurao da matriz heteronormativa que sustenta, estruturalmente, as lgicas formativas do estado moderno. Ainda que de maneira aparentemente indireta, o empreendimento cientfico, seja nas cincias biomdicas, seja nas cincias sociais, implica sempre em efeitos de natureza poltica. Nos comentrios sobre a apresentao de Carlos Cceres, Bento perguntou como as polticas oficiais consideram as travestis, se as classifica como homens que fazem sexo com homens. Tambm observou que seria interessante se Cceres aprofundasse a anlise anunciada no paper sobre a tenso entre o conhecimento produzido pelas cincias sociais acerca da preveno em sade e a perspectiva biomdica. A comentarista lembrou que vrias pesquisas antropolgicas nos dizem que travestis e trabalhadoras do sexo no usam camisinha, seja porque podem ganhar mais nos programas, seja porque sexo desprotegido compe a cena do prazer sexual. Se o conhecimento disponvel indica que a recusa da preveno um fato entre grupos especficos, caberia perguntar se as polticas oficiais de resposta ao HIV esto ou no tomando esses achados como referncia. Com relao ao trabalho apresentado por Jane Russo, Bento apreciou, sobretudo, o enfoque adotado de pensar sexologia e cincia como mercado. E questionou se seria possvel pensar a primeira onda da sexologia como uma etapa de produo discursiva de identidades sexuais (tal como definidas pela cincia) e a terceira onda como estando mais associada ao tratamento biomdico destas identidades. Alm disso, chamou ateno para as mudanas terminolgicas no campo da sexologia em especial a substituio de impotncia por disfuno ertil , um deslocamento que pode ser interpretado como estratgia para a linguagem mdico-cientfica do jargo popular sexual, tornando-a, assim, cada vez mais secreta.
3

Professora do Departamento de Cincias Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Comentrios

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Finalmente, ao comentar o trabalho apresentado por Juan Carlos Jorge, Bento reiterou a importncia crucial de reconhecer que hoje o discurso cientfico se deslocou da esttica das genitlias para os tecidos, hormnios e processos cerebrais, tornando cada vez mais profundos os determinantes da identidade sexual. Ela tambm lembrou que, embora Jorge tenha analisado os efeito, sobretudo da APA, existem outras associaes cientficas como o Instituto Harry Benjamin, de Amsterd, que esto investindo pesadamente em pesquisas para demonstrar definitivamente a determinao biolgica da transexualidade (no caso do Harry Benjamin, trata-se de investigaes acerca da funo do hipotlamo).

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Sesso 2 Cincia e poltica sexual

Sesso 3:
Sexualidade e economia: visibilidades e vcios

TEXTO PANORMICO

Amor um real por minuto


a prostituio como atividade econmica no Brasil urbano1
Ana Paula da Silva2 e Thaddeus Gregory Blanchette3

Definindo o problema Tradicionalmente, no Brasil, a prostituio tem sido entendida como fenmeno semicriminoso. Se no crime em si, certamente vista como uma questo de ordem pblica, cuja anlise, ordenao e (ocasional) represso cabem propriamente s autoridades institudas do Estado. Em geral, essas so oriundas de dois campos polticos/cientficos: o jurdico (composto de policiais, juzes e criminologistas) e o mdico, particularmente a rea da sade pblica. A preocupao principal desses agentes tem sido limitar os supostos contgios do vcio do sexo comercial para que estes no infectem a famlia idealizada enfraquecendo, assim, a nao (Blanchette e Da Silva, 2008; Caulfield, 2000; Leite, 1983; Meade, 1991; Rago, 2008; Schettini, 2006; Vainfas 1985). Aos olhos dessas autoridades, a prostituio era ora vista como uma ameaa a ser reprimida, ora como algo inevitvel cujos efeitos nocivos somente poderiam ser limitados. De qualquer maneira, quase nunca foi entendida como uma atividade econmica.4 O segundo eixo tradicional de anlise da prostituio no Brasil diz respeito aos valores morais. Enquanto as vrias igrejas do Brasil tm visto a prostituta (e quase sempre a prostituta) como pecadora, vrios agentes morais no-religiosos tm a situado como mulher vulnervel ou at escravizada. Se os religiosos conservadores entendem a prostituta como uma vagabunda que precisa ser controlada ou reformada, os seculares tendem a perceb-la (nas palavras de DaMatta, 1990:

1 2 3 4

Este artigo foi produzido com a colaborao de Felix Garcia e Monique Abreu. Ncleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferena (NUMAS) da Universidade de So Paulo (USP). Universidade Federal do Rio de Janeiro e UNISUAM. Porm, veja a anlise de Leite (1983) sobre a chamada Repblica do Mangue como um raro exemplo contrrio.

199) como uma fodida que precisa ser salva5. Como temos comentado em outro lugar (Blanchette e DaSilva, 2008: 26), o que ambas essas vises tm em comum uma condenao moral a priori da prostituio como atividade essencialmente degradante que h de ser combatida. Ambas as vises morais seculares e religiosas negam a racionalidade econmica como motivao primria da deciso do indivduo de se prostituir, situando esta pessoa ou como moralmente falida, ou como algum cuja vontade tem sido completamente subsumida pela de terceiros. Jezebel ou escrava, porm, a prostituta faz o que faz, de acordo com esses agentes morais, por que precisa e no porque quer e muito menos porque tal atividade pode ser economicamente racional.
Box #1 Terminologia e conceitos Pelos fins do presente trabalho, prostituta quer dizer indivduo que vende servios sexuais efmeros e descomprometidos em troca de uma quantidade de dinheiro ou de outros bens materiais, previamente estipulada (Gaspar, 1984:11). A prostituio, neste sentido, pode ser idealizada como tipo (no sentido do tipo ideal, conforme estabelecido por Max Weber (1964 [1913]:110) de relao sexual regida por uma lgica comercial imediatista e no recproca a reciprocidade concebida aqui, seguindo Mauss (1990 [1924], como um sistema total e aberto de prestaes. Em outras palavras, a prostituta, como idealizada aqui, vende o servio sexual em troca de um retorno material imediato e sua relao com o consumidor deste servio (o cliente) acaba imediatamente aps a concluso do servio. Neste trabalho, ignoramos outros tipos de prostituio como, por exemplo, quela classificada por Adriana Piscitelli (2004) como middle class sex tourism e por ns classificados como amores estratgicos, em que pessoas entram em relaes aparentemente recprocas, sem previamente estabelecer preos por servios sexuais, mais cujo objetivo principal econmico. No presente trabalho, limitamos nossa anlise prostituio heterossexual, onde os provedores sexuais se consideram e so consideradas pelos clientes como mulheres natas. O servio sexual entendido como qualquer ato sexual cujo objetivo a produo de satisfao sexual no cliente. Por fins do presente trabalho, os servios sexuais so entendidos como sexo anal, oral e vaginal, a masturbao quando esta feita ou ajudada pela prostituta e, claro, a construo de fantasias sexuais.

Para um exemplo tpico do discurso cristo hegemnico sobre a prostituio, veja Flynn (2008). Para outro exemplo do discurso tpico secular (neste caso feminista e conservador), ver o manifesto O Cruel Negcio da Prostituio, escrito pela Sempreviva Organizao Feminista.
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Amor um real por minuto Ana Paula da Silva e Thaddeus Gregory Blanchette

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Por zona queremos dizer uma regio moral (PARK: 1984 [1925]: 45-48) onde a presena das prostitutas amplamente reconhecida pela sociedade e onde tem uma concentrao relativamente grande de locais de prostituio. importante notar que nem todo local de prostituio levantado por ns faz parte de uma zona. Finalmente, nosso uso dos termos garota de programa e puta estritamente mico, sendo essas as atribuies mais usadas por prostitutas para referirse a si mesmas e a outras prostitutas (pelo menos no Rio de Janeiro e So Paulo). Fazer programa outro termo mico e significa engajar-se num ato de prostituio. O termo trabalhadora sexual no utilizado, nem por nossas informantes e nem pelos clientes e outros indivduos com quem interagem. Portanto, evitamos seu uso no presente trabalho.

Interessante, ento, refletir que, quando se pergunta s pessoas por que elas se engajam na prostituio, a resposta quase nica e unnime. Nas palavras de uma de nossas informantes anglofalantes: Its the money, honey. tudo por dinheiro. O que voc acha?. Afirmar que a motivao principal da prostituio econmica no negar que outros fatores esto envolvidos na deciso de vender sexo. Porm, como Maria Dulce Gaspar (1984) comenta, toda prostituta tem uma histria triste para explicar porque resolveu entrar no ramo. O grande estigma do trabalho sexual tem que ser sempre levado em conta no momento em que tais histrias aparecem, particularmente quando o interlocutor da prostituta um indivduo com fortes ressalvas morais e/ou polticas sobre a questo, pois tais histrias funcionam para afastar o estigma da pessoa da prostituta. Nas palavras da Gaspar (1984), nestes momentos, a mulher pode se apresentar como uma personagem fraca, que por fora do destino encontra-se na prostituio e necessita de proteo ou auxlio econmico:
O relato enfatiza a posio inferior da mulher e a situao conjuntural de extrema fraqueza que obriga a sua dedicao prostituio, atividade que ela repudia (...). Uma informante [de Gaspar], Lusa, bastante explcita sobre esse procedimento. Para ela, existe um modo de entrar em interao com o cliente e uma frmula de pedir o pagamento: Voc conta uma histria bem triste (...). No quero com isso afirmar que algumas mulheres no tenham sido induzidas ou mesmo foradas (...) a se dedicarem prostituio, mas sim que sua prpria histria de vida ou uma outra construda dramaticamente tornou-se um elemento fundamental na interao com o cliente... (Gaspar, 1984:93-94).

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Sesso 3 Sexualidade e economia: visibilidades e vcios

E podemos acrescentar que tais histrias dramticas tambm so elementos fundamentais na interao de prostitutas com ongueiros e membros de grupos religiosos que visam salvar a prostituta, com policiais e outros agentes repressivos e, claro, com cientistas sociais. importante salientar, neste contexto, que mesmo naqueles casos onde nossas informantes tm relatado outros fatores que poderiam t-las empurrado para a prostituio, sempre salientaram tambm a lgica econmica que as mantinham no trabalho sexual. Como vrias de nossas informantes nos tm dito, Onde que eu poderia arranjar outro emprego que me pague tanto quanto esse?. Os fatos econmicos da prostituio parecem sempre e primordialmente nos discursos das prostitutas, mas sobre eles os cientistas sociais tm muito pouco a dizer. O presente trabalho, ento, uma tentativa inicial de colocar no papel algumas de nossas descobertas sobre as caractersticas econmicas do trabalho sexual em nosso pas. Os dados apresentados abaixo vm de mais de cinco anos de pesquisa antropolgica entre prostitutas e clientes no Rio de Janeiro. Inicialmente, nosso trabalho focalizava-se na orla da Copacabana seguramente a zona mais notria de todo o Brasil e, particularmente, na interao entre prostitutas brasileiras e turistas estrangeiros. Todavia, nos ltimos dezoito meses, temos aberto nossas pesquisas para outras reas da cidade e para prostituio que visa principalmente clientes brasileiros. Finalmente, nos ltimos seis meses, temos aberto um novo campo de pesquisa em So Paulo e temos conduzido viagens de reconhecimento Curitiba e Goinia. Pode-se dizer que nossa pesquisa limitada, j que mantm seu foco na prostitui-o nas reas urbanas da regio Sul-Sudeste do Brasil, justamente a rea econmica e scio-culturalmente privilegiada do pas (veja-se o box sobre Metodologia para mais detalhes). De fato, essa crtica tem certo cabimento e, nos prximos dois anos, pretendemos ampliar nossas investigaes para a regio NorteNordeste. Todavia, a nosso ver, a prostituio no eixo Rio-So Paulo, no caso do Brasil, pode ser conside-rada normativa em termos estatsticos e durkheimianas6, por uma srie de razes. Em primeiro lugar, os estados do Rio de Janeiro e So Paulo concentram boa poro da populao do Brasil cerca de 30%, de acordo com o IBGE (Censo 2000) , e, certamente, so hegemnicos em termos da definio da poltica e da cultura nacional. O que acontece nas grandes metrpoles desses dois estados, cedo ou tarde, aparece em todo o Brasil. Pelo outro lado da moeda, o que pode ser encontrado Brasil afora tambm se faz presente no Rio e em So Paulo, dado sua atrao como plos migratrios.
mile Durkheim define como sociologicamente normativa um fato social que onipresente, encontrado se no em todos os indivduos [da mesma espcie social], pelo menos entre a maior parte deles. claro que normal, no sentido durkheimiano, no quer dizer bom e nem mesmo aceitvel (Durkheim, 1978: 114).
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Amor um real por minuto Ana Paula da Silva e Thaddeus Gregory Blanchette

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Box #2
Metodologia Nossos dados vm de quatro fontes principais: 1) Um levantamento exaustivo dos principais sites pblicos de cliente de prostituta na internet, tanto na lngua inglesa quanto na lngua portuguesa. Lemos e analisamos perto de 50.000 relatrios de cliente, indo de 2000 a 2009, buscando dados referentes aos lugares visitados e os preos pagos para servios sociais. Tambm fizemos um levantamento de cinco guias escritos em ingls e que orientam visitantes acerca da prostituio no Brasil. Todos esses dados foram sistematizados num dbase. O nosso foco principal tem sido o International Sex Guide (ingls) e o GPGuia (portugus), mas tambm fizemos levantamentos no Frum S.D. (portugus), no World Sex Guide (ingls) e no World Sex Archives (ingls). Finalmente, participamos na manuteno de um frum virtual para discusses com clientes de prostitutas nos sites International Sex Guide e World Sex Guide. 2) Trabalho de campo intensivo, estilo observao-participao, no Rio de Janeiro, incluindo visitas repetidas aos principais pontos de prostituio da cidade, manuteno de dirios de campo e organizao de mais de cem entrevistas, no sistematizadas, com trabalhadoras sexuais e seus clientes. 3) Entrevistas com e observao-participao entre as principais ONGs envolvidas com prostituio na cidade de Rio de Janeiro, incluindo Davida, Rede Brasileira das Prostitutas, TRAMA, IBISS, Associao de Comerciantes da Vila Mimosa e ABRAPIA. 4) Viagens de reconhecimento Curitiba, Goinia, Porto Seguro e So Paulo, acoplado, no caso de So Paulo, com um levantamento inicial de dados via internet (veja #1, acima).

Em segundo lugar, e na questo especfica da prostituio, as cidades do Rio e So Paulo atraem trabalhadoras sexuais de todo o pas, segundo nossas informantes. Tambm so, de longe, as cidades mais referenciadas nos discursos de clientes de prostitutas, captados por entrevistas e por pesquisa na internet, apesar da fama dos estados nordestinos, particularmente nos discursos de clientes estrangeiros. Um levantamento recente de dois dos sites7 mais famosos que renem clientes anglfonos de prostitutas e turistas sexuais assumidos situa Rio e So Paulo em primeiro e segundo lugar, respectivamente, como as cidades brasileiras mais discutidas. De um total de 60.165 mensagens postadas nos fruns que tratam do Brasil nesses

World Sex Guide (WSG) e International Sex Guide (ISG).


Sesso 3 Sexualidade e economia: visibilidades e vcios

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sites8, 34.303 (57%) referenciam o Rio e 5.427 (9%) So Paulo9. Isto em comparao com 2.301 (3,8%) mensagens para todo o Nordeste brasileiro10. Da mesma maneira, o mais movimentado site de clientes da lngua portuguesa11 contabilizou 139.916 mensagens sobre So Paulo e 23.758 sobre o Rio, em comparao com um total de 20.032 mensagens sobre o Nordeste12. A nossa pesquisa de campo tem se concentrado principalmente na cidade do Rio de Janeiro e existem indicaes13 que h diferenas entre a prostituio naquela cidade e em So Paulo. Resumindo, as termas parecem ser muito mais populares como locais de prostituio no Rio do que em So Paulo, enquanto na segunda cidade boates ou clubes particulares aparecem com mais frequncia nos relatrios de clientes e prostitutas. Os programas em So Paulo tambm tendem a ser cerca de 20% mais caros do que no Rio. Adicionalmente, embora exista uma grande concentrao de estrangeiros que compram servios sexuais em So Paulo, esses tendem a serem trabalhadores e homens de negcios que vivem ou que esto de passagem pela cidade e no turistas, como o caso da maioria dos estrangeiros consumidores de servios sexuais no Rio. Finalmente, So Paulo tem passado recentemente por uma cruzada moral e poltica contra as casas pblicas de prostituio, fato que pode ter aumentado o nmero de mulheres que trabalham com as agncias de call girls e na prostituio de rua. Estamos investigando ativamente todas essas diferenas e esperamos ter um relatrio preliminar sobre a situao do trabalho sexual na cidade em algum momento do ano que vem. Todavia, acreditamos que as diferenas acima citadas so de natureza quantitativa e no qualitativa em termos da descrio das coordenadas econmicas bsicas da prostituio no Brasil. Acreditamos que, largo senso, o grosso das afirmaes que fazemos abaixo sobre a economia da prostituio no Rio tambm so relevantes, grosso modo, situao paulista e que so bastante normativas no cenrio brasileiro como um todo. Antes de prosseguir, porm, mister salientar o fato que a prostituio, num pas de dimenses continentais como o Brasil, um negcio incrivelmente diverso. Neste sentido, ento, as informaes que seguem abaixo devem ser enten8 9

21.509 para o WSG e 42.199 para o ISG, no dia 14.07.2009. 16.397/17.966 para Rio no WSG/ISG e 702/4725 para So Paulo, no dia 14.07.2009.

442/1859 no WSG/ISG, o nordeste compreendendo os estados de Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranho, Paraba, Piau, Alagoas e Cear, no dia 14.07.2009.
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GPGuia.

Levantamento feito no 8.7.2009. Os nicos estados nordestinos contemplados pelo GPGuia neste data foram Bahia (14.773 mensagens), Pernambuco (3.684 mensagens) e Cear (1.575 mensagens). mister neste contexto notar que o GPGuia , primordialmente, uma criao paulista ento favorece a cobertura dessa cidade. Todavia, desde 2004, sua cobertura expandiu para o resto do pas e, portanto, ele pode ser considerado como um retrato mais ou menos fiel do turismo sexual interno no Brasil. Entrevista com Gabriela Leite, presidenta da Rede Brasileira das Prostituas. Veja-se tambm os guias produzidos pelos clientes Bubba Boy e Bwana Dik (2007, 2009).
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Amor um real por minuto Ana Paula da Silva e Thaddeus Gregory Blanchette

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didas como uma descrio idealizada de somente uma parte do grande quebra cabea que a economia do trabalho sexual. a nossa esperana que essa breve apresentao possa abrir a porta para estudos semelhantes de outras formas de prostituio em outras partes do Brasil, criando, assim, a possibilidade para um verdadeiro diagnstico comparativo do fenmeno como atividade econmica em nosso pas.
A situao macro-econmica da mulher urbana no Brasil

A conexo entre processos econmicos e formas de organizao do trabalho, ou entre aqueles e a estrutura de classes, ou, ainda, entre desenvolvimento e estrutura familiar ou etria costumam ser, ao lado de muitas outras conexes causais, associadas e teorizadas entre si sem maiores questionamentos. Para muitos, o elo entre gnero e trabalho no claro e mesmo os que veem alguma ligao entre ambos tm dificuldades em articular exatamente qual a natureza da relao que mantm. Mas, antes de tudo, a prostituio heterossexual de mulheres uma forma de trabalho com grandes articulaes ao gnero e, portanto, s faz sentido em termos econmicos quando situada frente situao de trabalho feminizado em geral. Em sua acepo antropolgica (vide Butler, 2003), gnero quer dizer a forma como se manifesta social e culturalmente a identidade sexual. Frise-se que isto no o mesmo fenmeno que o sexo biolgico. O conceito de gnero abrange tanto a questo de orientao sexual quanto a questo de identidades baseadas no comportamento sexual, alm de vrios outros fatores. Inquestionavelmente, houve uma melhoria considervel nos marcadores scio-econmicos das desigualdades entre homens e mulheres no Brasil durante as ltimas dcadas (vide Alves e Correa, 2009, para uma discusso mais detalhada desta questo). Todavia, o gnero continua a ser uma varivel bastante significante na definio de quem pode trabalhar, onde e em quais profisses. Tambm continua a impactar em qual forma a remunerao para o trabalho deve ser recebida e como a renda familiar deve ser (re)distribuda entre seus integrantes. O papel do gnero nessas questes to crucial que um intelectual como Frederich Engels, em sua obra clssica A Origem da Famlia, da Propriedade Privada e do Estado, qualificou o gnero como a base do primeiro antagonismo de classe que aparece na histria, ressaltando que a primeira opresso de classe foi da fmea pelo macho (Engels, 1986: 502-503). As palavras de Engels no so retricas; elas exprimem uma realidade que causa impactos significativos nas escolhas econmicas protagonizadas por mulheres em nossa sociedade. Dos trs indicadores que compem o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) educao, longevidade e renda , a populao feminina do Brasil demonstra paridade e at superioridade com a masculina nas primeiras duas catego198
Sesso 3 Sexualidade e economia: visibilidades e vcios

rias, mas est em desvantagem significativa na terceira. Embora existam cada vez mais mulheres no mercado de trabalho, observa-se uma concentrao da atividade feminina nos segmentos menos organizados do mercado de trabalho, com maior recorrncia de contratos informais e menor filiao sindical (Alves e Correa, 2009: 24-35). Um resultado dessa organizao da mo de obra feminina, de acordo com a Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres (SPM), que os homens brasileiros continuam recebendo 40% a mais pelo o seu trabalho do que as mulheres14:
importante assinalar que esta diferena salarial [entre homens e mulheres], que reluta em diminuir, uma das explicaes significativas da desigualdade de renda do pas. Esta diferena deve-se, claro, discriminao, no ao pior desempenho profissional das mulheres. Por ltimo, este hiato maior nos domiclios chefiados por mulheres. A proporo de mulheres chefes de famlia tem crescido no Brasil e isso provavelmente tem um forte impacto no aumento da pobreza e da excluso social (Melo, CEPAL/SPM 2005:42).

Nos ltimos anos do sculo XX, 74% da populao feminina economicamente ativa no Brasil estava restrita ao setor de servios (UNDP, 1996; MTE/RAIS 2000 e 2001). De acordo com a recente anlise de Alves e Correa (2009:20), no incio do atual sculo, a presena das mulheres continuava a ser baixa entre as posies mais bem remuneradas da economia. De acordo com o IBGE, embora as mulheres representem 45% da populao economicamente ativa do pas, sua renda , em mdia, menos que 70% dos trabalhadores masculinos. Trabalhos domsticos muitas vezes sem carteira assinada continuam a ser o setor econmico (depois do setor agrcola) que mais emprega mulheres no Brasil (19%-20% do total das trabalhadoras brasileiras versus menos que 1% dos trabalhadores. Alves e Correa, 2009:24; CEPAL/SPM, 2005; IBGE/PNAD 2004; CEDAW 2003). Ademais, de acordo com H. Melo, somente 44% da populao feminina do Brasil era economicamente ativa nos ltimos anos do sculo XX (comparado com 70% para os homens). Dos 56% de mulheres inativas, mais da metade (55%) eram donas-de-casa (casadas, vivas, divorciadas) e aposentadas. Essas, com exceo das proprietrias de bens, viviam dos rendimentos do marido ou dos filhos ou de penses. Portanto, seu bem-estar econmico era determinado por transferncias de rendas de outros membros da famlia, o que as coloca em situao de relativa penria e instabilidade econmica (Melo, 2005)15.
Recentes pesquisas por Oliveira e Guimares (2009) indicam que essa diferena diminuiu no perodo entre 2001 e 2007. Todavia, de acordo com Alves e Correa (2009:23), em 2006, as mulheres brasileiras continuavam a ganhar rendimentos significativamente menores que os homens, variando de 83,5% na regio Nordeste do pas a 66% na regio Sudeste (foco principal de nossa pesquisa).
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No incio do sculo XXI, esse hiato entre os homens e mulheres economicamente ativas diminuiu, de acordo com Alves e Correa (2009: 19), com 52,4% da populao feminina brasileira sendo economicamente ativa em 2007 versus
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A representao desproporcional das mulheres entre as camadas mais miserveis da populao brasileira dificilmente pode ser considerada como resultado de falta de oportunidades conferida por baixa escolaridade ou por condies de sade. Em geral, as brasileiras so majoritrias na educao secundria e terciria (52% e 56% de todos os alunos, respectivamente; CEPIA, 2007), tendo, em 2007, em mdia, 0,4 anos mais de escolarizao formal do que os homens (Alves e Correa, 2009: 12). Sua expectativa de vida , de fato, oito anos maior que a dos homens (75 versus 67 anos; CEPIA, 2007). O que pesa na construo da misria feminina brasileira, ento, no mais a educao ou a sade, mas a maneira como o trabalho das mulheres organizado e (des)valorizado. Como Friedrich Engels observou 125 anos atrs, com o nascimento do capitalismo, o trabalho domstico, tradicionalmente responsabilidade da mulher, perdeu seu carter social, sendo assim naturalizado como uma atividade no produtiva.
No antigo lar comunista, que compreendia numerosos casais com seus filhos, a direo do lar, confiada s mulheres, era uma indstria socialmente to necessria quanto a busca de vveres, de que ficavam encarregados os homens. As coisas mudaram com a famlia patriarcal e, ainda mais, com a famlia individual monogmica. O governo do lar perdeu seu carter social. A sociedade j nada mais tinha a ver com ele. O governo do lar se transformou em servio privado; a mulher converteu-se em primeira criada, sem mais tomar parte na produo social. S a grande indstria de nossos dias lhe abriu de novo embora apenas para a proletria o caminho da produo social. Mas isso se fez de maneira tal que, se a mulher cumpre os seus deveres no servio privado da famlia, fica excluda do trabalho social e nada pode ganhar; e, se quer tomar parte na indstria social e ganhar sua vida de maneira independente, lhe impossvel cumprir com as obrigaes domsticas. Da mesma forma que na fbrica, isso que acontece mulher em todos os setores profissionais, inclusive na medicina e na advocacia. A famlia individual moderna baseia-se na escravido domstica, franca ou dissimulada, da mulher, e a sociedade moderna uma massa cujas molculas so as famlias individuais (Engels, 1982 [1884]: 21-22).

Desde o momento em que Engels escreveu essas palavras, a situao tem mudado para melhor em termos da emancipao feminina. Porm, de acordo com a SPM, preciso assinalar que a nova mulher brasileira, fruto das ltimas trs dcadas de lutas feministas, ainda mantm uma interdependncia entre sua vida familiar e vida do trabalho, que se fundem numa mesma dinmica para o sexo feminino:
72,8% da populao masculina. 200
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O avano da industrializao e do seu corolrio a urbanizao separaram a mulher e sua famlia da esfera produtiva, tornando-a mera dona-de-casa. Esta uma figura criada pela sociedade moderna, que deslocou as mulheres das antigas funes econmicas exercidas pelas famlias. A dimenso subordinada a que o gnero feminino se encontra, no exerccio da economia domstica que, no plano simblico, os afazeres domsticos se caracterizam como trabalho complementar, acessrio, de ajuda. O paradigma da naturalidade da diviso sexual do trabalho impe s mulheres a responsabilidade pelo espao domstico, com um nus alto pelo conjunto das funes reprodutivas. Mesmo o aumento de sua participao no mercado de trabalho no levou a uma maior distribuio das tarefas domsticas entre os membros da famlia e tampouco gerou, ainda, uma ruptura total na estrutura patriarcal da famlia (CEPAL/SPM, 2005: 4).

O recente trabalho de Alves e Correa, embora salientando os avanos significativos das mulheres brasileiras em recentes dcadas, tambm destaca as diferenas estruturais na organizao sexualizada do trabalho (re)produtivo como fonte da reproduo das desigualdades socioeconmicas de gnero no Brasil:
Embora a populao economicamente ativa (PEA) feminina tenha crescido mais rapidamente do que a masculina, o desemprego feminino se mantm mais elevado do que o masculino desde a dcada de 1980. Este fato ocorre, evidentemente, porque a oferta de trabalho feminino aumenta a um ritmo superior ao aumento da demanda. Dentre as explicaes para o maior desemprego feminino, trs merecem destaque: a) Um dos fatores que contribui para o desequilbrio entre oferta e demanda a segregao ocupacional que torna o leque de profisses femininas mais estreito do que o leque ocupacional masculino. Assim, ao oferecer mais opes para os homens, o mercado atingiria um equilbrio em um nvel mais baixo de desemprego masculino, enquanto a disputa pelas poucas ofertas de emprego feminino torna o desemprego das mulheres um fenmeno mais frequente; b) A diviso sexual do trabalho que incumbe preferencialmente s mulheres as tarefas domsticas e o cuidado com os filhos e os idosos no domiclio torna mais difcil a compatibilidade entre o emprego fora do local de residncia e os afazeres domsticos. Enquanto o homem pode optar por um emprego que o afaste a maior parte do dia (ou da semana) da rotina familiar, a mulher precisa, em geral, conciliar trabalho e famlia e suas opes so mais limitadas; c) As mulheres, comumente, so mais vulnerveis falta de segurana pblica e de segurana no trabalho. A menor fora fsica e os padres culturais sexistas da sociedade dificultam a entrada da mulher em algumas ocupaes consideradas inseguras ou exercidas em horrio incompatveis com o cuidado familiar (p. ex. vigia e segurana noturnos) (Alves e Correa, 2009: 28-29).
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Em outras palavras, embora hoje existam maiores oportunidades para as mulheres no mercado de trabalho, a ascenso profissional dessas ainda se encontra atrelada esfera domstica. A tarefa de criar a prxima gerao e de reproduzir as condies de trabalho da famlia atravs da manuteno domstica continua a ser, em grande medida, uma responsabilidade feminina e, pior, um trabalho no pago, cuja natureza como trabalho nunca explicitada. Olhando para o Rio de Janeiro, por exemplo, encontramos claras indicaes de como essa organizao desigual do trabalho domstico acaba impedindo o acesso das mulheres s carreiras profissionais, restringindo suas oportunidades de gerar renda. De acordo com pesquisa recente de Maria Salet Ferreira Novellino, do IBGE, a famlia nuclear composta por me, pai e filhos est deixando de ser a referncia entre o quintil inferior de rendimento no estado do Rio de Janeiro, com 41,66% das famlias pobres do estado sendo chefiadas por uma mulher sem cnjuge16. Ademais, somente 45% dessas mulheres so empregadas, em comparao com 73% dos homens chefes de famlia (Novellino, 2002). A desindustrializao do Rio de Janeiro, acoplada com a crescente feminizao da pobreza, tem criado uma situao em que grandes contingentes de mulheres cariocas buscam uma insero em um mercado de trabalho cujas exigncias de qualificao so cada vez maiores, alm de operar em um ambiente cada vez mais desregulamentado, com forte volatilidade e rotatividade da mo de obra. Essas mu-lheres frequentemente no se apresentam frente s demandas do mercado como seres econmicos individualizados, livres de quaisquer outras responsabilidades. Muito pelo o contrrio, na maioria dos casos continuam sendo responsveis pelos trabalhos domsticos, no pagos, que possibilitam a reproduo socioeconmica de suas famlias. Este dilema mostra sua face todos os dias nas salas de aula dos cursos de graduao universitria da faculdade particular onde trabalhamos que, aparentemente, reproduz situao comum em outras universidades fluminenses. Embora a maior parte do corpo discente da nossa escola seja composta por mulheres, qualquer pesquisa entre essas revelar que a maioria sujeita no a uma jornada dupla, mas uma jornada tripla, que se reparte em atividades da escola, do trabalho e das responsabilidades domsticas. A gravidez desejada ou no afasta vrias de nossas alunas de seus estudos por tempo indeterminado, que costuma ser prolongado por conta da necessidade de cuidar da criana. um aspecto sintomtico desta atribuio de papel o fato de uma proporo significante de nossas alunas ser composta por mulheres maduras, que esto voltando aos estudos aps vrios anos dedicados ao trabalho domstico, em muitos casos aps o divrcio ou morte de seu cnjuge. Por causa da constante diviso de responsabilidades entre esferas domsticas e profissionais, a participao de muitas mulheres no mercado de trabalho espordica e
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J o nmero de famlias chefiadas por um homem sem cnjuge chega a apenas 4% nessa populao.
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fragmentada, frequentemente se resumindo numa srie de subempregos temporrios. No pode ser considerada como constitutiva de uma carreira no sentido sociolgico atribudo a essa palavra pela Escola de Chicago, ou seja, como uma srie de posies de status e de ofcios claramente definidos, com sequncias tpicas de posio, sucesso e responsabilidade, um movimento integrante atravs do qual o indivduo vislumbra a totalidade de sua vida e interpreta os significados de seus atributos, aes e acontecimentos (Hall, 1948: 327; Becker e Strauss, 1956: 253-255). nesse quadro macroeconmico que a prostituio surge como opo econmica. Colocando de forma bem simples, a prostituio oferece iguais ou at melhores condies de trabalho, por um salrio bem maior, do que quase qualquer outro tipo de trabalho constitutivo do gueto dos subempregos femininos. O dinheiro maior, o horrio mais flexvel e as violaes dos direitos das trabalhadoras no so piores do que em qualquer outra profisso feminina no universo urbano, segundo nossas informantes. No deixo de ser puta para virar caixista de supermercado: prostituio como opo de trabalho Embora acreditemos que devam existir mulheres que so foradas a entrar na atividade da prostituio, at agora no encontramos nenhuma em nosso trabalho de campo. Por que, ento, entram e continuam no ramo? Em geral, h uma razo predominante: frente s outras opes de trabalho, a prostituio vista como maneira mais eficaz de garantir a essas mulheres uma verba suficiente no s para sobreviver, mas para ensaiar uma ascenso socioeconmica. Neste contexto, importante notar que todas as nossas informantes reportam ter acesso a outras oportunidades de emprego e muitas trabalhavam com carteira assinada. Contudo, a maioria exercia ocupaes que pagam por volta de um salrio mnimo17 por uma jornada de mais que 40 horas semanais. Neste contexto, mister salientar que ainda no encontramos nenhum caso de mulher que ganhe menos que um salrio mnimo com jornada semelhante na venda de servios sexuais, mesmo nos lugares onde o trabalho sexual mais desvalorizado. Em conversas com prostitutas, trs trabalhos femininos emblemticos foram quase sempre citados pelas mulheres e logo descartados como possveis sadas da prostituio. Essas so (em ordem crescente de frequncia): trabalhos domsticos, manuteno de uma casa como esposa e trabalho como caixista de supermercado. Esses trabalhos so sempre descritos como disponveis, mas so desvalorizados, com
O salrio mnimo no estado do Rio de Janeiro em julho de 2009 era R$ 512,67. De acordo com o IBGE, a renda mensal mdia da trabalhadora feminina sem carteira assinada na regio Sudeste do Brasil era R$ 334 em 1997.
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a prostituio sendo descrita como uma atividade bem mais lucrativa e at menos desagradvel. bastante comum ouvir agentes polticos engajados na luta contra a prostituio opinar que a educao e a profissionalizao das meninas so a soluo. Todavia, mister notar que a to almejada profissionalizao teria que criar uma verdadeira mudana de status socioeconmica: o que a maioria de nossas informantes lista como condies para largar a profisso um salrio equivalente quele que ganha na venda dos servios sexuais. Isto dificilmente encontrado no mundo dos empregos tradicionalmente femininos. Como vrias mulheres nos informaram: No deixo de ser puta para ser caixista de supermercado. Imagina trabalhar por 50 horas por semana e ganhar um salrio mnimo!. Na prtica, a grande maioria das prostitutas no parece viver muito melhor que as desprezadas donas de casa e caixistas de supermercado e, de fato, o casamento uma das principais sadas da prostituio, de acordo com nossas informantes. Todavia, muitas mulheres salientam que as grandes vantagens da prostituio so sua flexibilidade em termos de jornada de trabalho e (entre as mais jovens) a possibilidade remota, mas sempre presente de ganhar muito dinheiro com clientes estveis e/ ou ricos. a nossa hiptese, ento, que uma das motivaes principais atrs da prostituio a ambio e no a estrita necessidade. Entre todos os ofcios tipicamente femininos no mercado de trabalho da cidade, somente a prostituio e o casamento oferecem uma chance para alcanar a ascenso social e, neste sentido, a prostituio tem distinta vantagem: no atrela o futuro da mulher a um indivduo qualquer. De fato, embora muitas prostitutas j tenham sido casadas ou procurassem se casar, o casamento em si quase nunca entendido entre nossas informantes como, necessariamente, uma sada da prostituio. Em geral, existe uma grande desconfiana da capacidade do homem sustentar uma mulher. Nas palavras de Wilma18, mulher de 35 anos de idade que trabalha numa boate em Copacabana: Homem promete muita coisa, mas geralmente no consegue cumprir suas promessas.
Pior: quando voc casa com um homem, a sim ele se acha seu dono. O que eu fao aqui na rua no nadinha diferente daquilo que fazia em casa, quando era casada. Ou voc acha que trepava com meu marido todos os dias porque morria de teso e amores por ele? No senhor! Era um trabalho, igual a esse aqui. Minto: era um dever. E voc no ganha nada por um dever. Aqui sou paga por aquilo que fao, pelo menos. Meu marido nunca me pagou. Alis, era eu que vivia dando dinheiro para ele.

Mesmo nos casos onde o relacionamento com o marido mais harmonioso, porm, existe um reconhecimento do fato de que, no atual mercado de trabalho, um salrio dificilmente sustenta uma famlia inteira. Como dizia Dara, prostituta
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Todos os nomes das nossas informantes foram mudados para proteger seu annimo.
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de 40 anos de idade, atuante na prostituio de rua na Praa da Repblica no Rio de Janeiro, Meu marido no consegue cobrar as despesas da casa sozinho.
Ele se rala, mas ganha o salrio mnimo. O que fazer, ento? J so passados os dias em que o homem ganhava suficiente para a mulher ficar em casa, cuidando da crianada. Talvez era assim nos dias da minha av, mas hoje em dia todo mundo tem que ralar. Pelo menos [trabalhando] assim, eu ganho suficiente para ajudar l em casa e ainda sobra tempo para cuidar da minha filha. Venho pra c [a Praa da Repblica] na sexta noite, deixando Nina [sua filha] em casa com Beto [seu marido]. A, trabalho at que ganho uns 150-200 reais e volto, geralmente no domingo de manh. Fico, ento, o resto da semana em casa enquanto Beto trabalha. Ele sabe o que fao e sabe que no por amor, nem sacanagem. J falei pra ele: Eu paro a hora que voc quiser, mas bom voc poder, ento, levar toda essa cambada nas costas, porque no vou achar outro trabalho que pague tanto quanto esse e que me deixe ficar em casa seis dias por semana.

Para Dara, ento, a prostituio longe de ser uma ameaa para a famlia virou a nica maneira em que ela podia reproduzir adequadamente a vida domstica. Vrias das nossas informantes casadas tm oferecido afirmaes semelhantes. Como dizia Janice, mulher de 25 anos, tambm operante na Praa da Repblica, Ser esposa e me de famlia, meu bem? A nica maneira que posso fazer isto sendo puta. Voc acha que poderia cuidar bem dos meus filhos e meu marido sendo caixista de supermercado? Mas nem fudendo! Alis, isto mesmo: s fudendo. mister notar neste contexto que, mesmo trabalhos mais bem posicionados em termos de remunerao, muitas vezes tambm perdem em termos econmicos para a prostituio. Janice e Wilma trabalham base de programas de um real por minuto e tipicamente ganham R$ 20 por programa, sendo que 25 programas ou pouco mais que oito horas de trabalho sexual rendem o equivalente a um salrio mnimo. Vnia, porm, tem 31 anos de idade nove anos de prostituio e trabalha no centro do Rio nas termas Dado de Quatro19. Ela deixou carreira de corretora de imveis para virar prostituta:
Meu antigo trabalho pagava bem, quando o dinheiro entrava. s vezes ganhava at R$ 2 mil por ms. Mas tinha perodos em que nada absolutamente nada entrava. A, uma amiga me falou sobre o disco Help em Copa. L, eu ganhava R$ 200 por programa que me ajudava pra cacete e ainda poderia trabalhar como corretora, mas no gostava porque eu tinha que voltar para o hotel do cliente e nunca se sabe ... [i.e. o cliente poderia ser violento ou se recusar a paQuase todos os nomes e endereos especficos de pontos de prostituio foram mudados para proteger o anonimato desses lugares. Existem duas excees a essa regra: a discoteca Help e a Vila Mimosa, que so to bem conhecidos como lugares de prostituio e to sui generis no mundo do sexo comercial do Rio de Janeiro que qualquer tentativa de esconder suas identidades seria malograda.
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gar]. Ento, me ofereceram um emprego na termas Unicrnio. L, eu s ganhava R$ 160 por programa e tinha que trabalhar todos os dias, mas era bem mais seguro. Trs anos mais tarde eu vim pra c, pois briguei com o dono da termas. Agora estou pensando em largar a sacanagem e voltar a ser uma corretora, pois j estou ficando velha demais para ser puta. S que essa vez, j tenho meu apartamento e carro, tudinho pago pela putaria. Agora, com base segura, posso aguentar firme e forte as pocas de vacas magras.

Vnia tambm cogitava escrever um livro recontando sua vida como trabalhadora sexual nas termas do Rio. O depoimento de Vnia particularmente rico, pois nos oferece uma srie de informaes sobre a lgica econmica da prostituio e at de sua configurao como carreira. Formada com educao universitria e trabalhando numa profisso classe mdia, Vnia inicialmente visava o trabalho sexual freelance na discoteca Help como uma maneira de superar as crises financeiras peridicas criadas pela natureza economicamente incerta do ramo imobilirio. Ela largou a disco e sua carreira como corretora, porm, para trabalhar numa termas, ganhando menos por programa mas tambm lucrando com mais segurana. Vnia descreve sua sada do Unicrnio como resultado de uma briga com seu chefe, mas importante salientar que a termas referida a mais cara do Rio de Janeiro e emprega somente mulheres bastante jovens. Neste contexto, bem capaz que os desentendimentos entre nossa informante e seu chefe tinham a ver com sua idade, que era bem avanada pelos padres da termas. Vnia, ento, deixou o Unicrnio para trabalhar no menos exclusivo Dado de Quatro e agora estava se classificando como velha demais para trabalhar naquele local tambm. A carreira de Vnia, ento, seguia o rumo de carreira decadente, descrita por Paul G. Cressy na obra clssica da antropologia urbana The Taxi Dance Hall (2008 [1932]). De acordo com esse autor, nos ramos ocupacionais que prezam a beleza, a idade tende a exercer uma presso decadente na carreira da trabalhadora individual. Sendo mais velha num lugar cheia de moas jovens, o indivduo vai ter que se esforar cada vez mais para conseguir clientes. Existem duas solues para este dilema: sair do ramo ou mudar-se para lugar menos exclusivo para conquistar uma posio mais competitiva com relao s outras trabalhadoras. Cressy afirmava que o resultado final desse processo era a reduo da danarina do taxi dancehall (presumivelmente branca) s casas mais baratas frequentadas por chineses e negros. No contexto da prostituio carioca, podemos imaginar tal processo desembocando, mais cedo ou mais tarde, nos pontos de rua em torno do Central do Brasil, lugar de prostituio unanimemente indicado, por mulheres e clientes, como o mais barato e perigoso do Rio de Janeiro. Em vez de seguir carreira adiante, porm, Vnia visava recolher suas cartas da mesa e voltar sua antiga profisso de corretora, dessa vez
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financeiramente reforada pelos bens conquistados durante sua carreira como trabalhadora sexual. Nem o casamento, nem outros empregos, ento, podem substituir, necessariamente, a prostituio como meio de ganhar a vida. O caso de Vnia um caso raro em que uma informante relatou ter deixado um emprego relativamente bem pago para trabalhar no ramo do sexo comercializado. Todavia, mister salientar, neste contexto, que todas as nossas informantes, sem exceo, deixaram outros empregos para a venda dos servios sexuais (ou, em alguns casos, combinam a prostituio com outras formas de trabalho). Sentimo-nos, ento, seguros em dizer que raro algum entrar no ramo porque no tem acesso a outras formas de trabalho. A moda recente, entre certos pesquisadores da prostituio, tem sido denunciar a noo de que a deciso de se prostituir poderia ser considerada como livre, dada as limitaes estruturais impostas no trabalho feminino por um sistema socioeconmico patriarcal e capitalista. Julia OConnell Davidson articula bem essa posio quando ela observa que a compulso econmica que impulsiona [mulheres] para o trabalho sexual, sendo que, mesmo nos Estados Unidos, pas cujo PIB per capita sensivelmente maior que o do Brasil, muitas mulheres e meninas escolhem se prostituir em vez de entrar nos 35% da populao feminina, economicamente ativa, que ganham um salrio miservel. De acordo com OConnell Davidson, escolher entre a venda do sexo e o trabalho como empregada domstica, ganhando um salrio mnimo, no pode ser qualificado como uma escolha de verdade:
Descrever tais indivduos como exercendo seus direitos de auto-soberania to ridculo quanto dizer que a prostituio representa uma violao de sua dignidade. No existe dignidade alguma na pobreza, que nega a verdadeira agncia pessoa (OConnell-Davidson, 2002: 94)20.

OConnell Davidson pretende criticar a posio hegemnica feminista norteamericana que, em suas palavras, nega a possibilidade de apoiar os direitos daquelas pessoas que trabalham na prostituio, mas que ainda permanece crtica das desigualdades sociais e econmicas que subscrevem as relaes de mercado em geral e a prostituio em partcula (Ibid, 85). Todavia, tal posicionamento implica duas grandes pressuposies morais e tericas que dificultam o estudo scio-cientfico da prostituio.
Though some of these women and children have been forced into prostitution by a third party, it is dull economic compulsion that drives many of them into sex work, just as in America (a country with a per capita GDP of U.S.$21,558), many women and girls elect to prostitute themselves rather than join the 35 percent of the female workforce earning poverty-level wages (Castells 1998). To describe such individuals as exercising rights of self-sovereignty seems as spurious as stating that their prostitution represents a violation of their right to dignity. There is no dignity in poverty, which denies the person full powers of agency. Yet the right to sell ones labor (sexual or otherwise) does not guarantee the restitution of dignity or moral agency.
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Em primeiro lugar, o posicionamento estruturalista de OConnell Davidson constri uma situao ideal e utpica (a igualdade), nunca encontrada em relaes sociais vividas entre seres humanos reais (pelo menos em sociedades de grande escala), para criticar a situao emprica (a desigualdade) dentro do qual a prostituio funciona. Assim, a autora viola uma das regras principais da investigao scio-cientfica traada por Emil Durkheim, pois retrata os fatos sociais no como coisas a serem observadas, mas como construes morais que devem ser avaliadas de acordo com teorias filosficas e/ou religiosas previamente estabelecidas (Durkheim, 1978). Em segundo lugar, tal posicionamento confunde a noo liberal iluminista de agncia (i.e todo indivduo um ser livre, sem limites nas suas atividades alm daqueles por ele mesmo impostos) com o conceito antropolgico do mesmo (todo indivduo toma decises dentro de um campo scio-culturalmente definido de possibilidades e tais decises tm o potencial de alterar significativamente sua trajetria de vida [Velho, 1994]). Do ponto de vista do estudo scio-cientfico da prostituio, a posio estruturalista articulada por OConnell Davidson nega a agncia dos indivduos envolvidos na prostituio e corre o risco de perder de vista um ponto importante que quase sempre salientado por nossos informantes: a percepo, por elas, da prostituio como uma opo de trabalho melhor que as outras presentes em seu campo de possibilidades. Em outras palavras, enquanto Julia OConnell Davidson no percebe a prostituio como opo verdadeira, frente a uma igualdade idealizada, nossas informantes, extremamente cientes das realidades sociais empricas que condicionam suas vidas, geralmente no veem a prostituio como a ltima possibilidade frente misria: elas a veem como possvel sada da misria. justamente essa distino que faz a prostituio ser uma opo distinta da grande maioria dos trabalhos tradicionalmente femininos no Brasil urbano: a possibilidade, mesmo que pequena, de gerar certa independncia e mobilidade socioeconmica. Como temos visto, ento, o trabalho sexual tem uma srie de caractersticas que o torna uma opo econmica bastante atrativa. Em primeiro lugar, relativamente rentvel. Segundo, um ofcio que exige pouca preparao profissional, sendo aberto a quase qualquer pessoa. Frise-se aqui que ele particularmente aberto aos jovens, frao etria da sociedade com maiores dificuldades de incluso no mercado de trabalho, dado a sua falta de currculo. Finalmente, um trabalho que, muitas vezes, altamente flexvel. O trabalhador sexual frequentemente pode exercer o ofcio de vender sexo e tambm se dedicar a outras atividades ou trabalhos com mais facilidade. Ironicamente, as prprias revolues femininas e dos costumes sexuais no Brasil no parecem ter diminudo o nmero de prostitutas. Apesar do fechamento da grande maioria dos bordis tradicionais que, antigamente, marcaram nossa paisagem urbana, a crescente mobilidade espacial feminina tem criado mais flexibili208
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dade na venda e procura do sexo. Convm lembrar, tambm, que a revoluo nos meios de comunicao criada pela internet tem tambm facilitado a descentralizao de oferta e compra dos servios sexuais. Portanto, embora as antigas casas de tolerncia e a prostituio estilo trottoir (i.e. de rua) possam sofrer uma maior represso por conta das presses polticas, seu lugar est sendo tomado por uma vasta e intricada rede descentralizada de servios sexuais que utiliza a internet para colocar mulheres e clientes em contato. Todas as caractersticas acima descritas fazem do trabalho sexual uma opo que atende bem s necessidades de muitas cariocas e no apenas as mais pobres. Sintomaticamente, a maioria das prostitutas cariocas por ns entrevistadas em Copacabana e no Centro da cidade so oriundas das classes trabalhadoras e mdia baixa dos subrbios cariocas, e no das favelas, e quase todas esto engajadas em projetos de ascenso socioeconmica de longo e mdio alcance. Parte significante das nossas informantes, por exemplo, est regularmente matriculada em cursos universitrios da rede particular. Nestes casos, o prprio trabalho sexual est ajudando a pagar a formao profissional da mulher dentro de outros setores da economia. Outra grande parte das nossas informantes utiliza o dinheiro providente de seu trabalho para a compra de imveis. Quase todas visam um futuro prximo em que vo largar a venda do sexo para se integrar em outros setores da economia. A prostituio, ento, em muitos casos um meio para um determinado fim e no necessariamente uma opo totalizante da vida. Em outras palavras e seguindo as afirmaes de nossas informantes , mais correto dizer que as pessoas esto se prostituindo e no que so prostitutas.
Explorao e o trabalho sexual

Todavia, o trabalho sexual um ofcio como muitos outros que tambm pode ser perigoso, sujo e cansativo. As prostitutas so desmoralizadas como classe e a atual legislao contraditria referente ao ofcio impede a regulamentao eficaz de seu trabalho. A violncia contra a prostituta poucas vezes impedida pelos agentes da lei: a organizao irregular e o preconceito frente ao trabalho sexual colocam suas praticantes em uma zona de penumbra quando se trata de seus direitos. Esses so rotineiramente violados pelos donos das boates, termas, agncias de escort e casas noturnas que lucram, direta e indiretamente, com o trabalho sexual, e que extraem uma taxa significativa de explorao da labuta das trabalhadoras atravs da utilizao de uma srie de mecanismos. Em outras palavras, embora a cafetinagem, em sua acepo mais brutalmente exploradora21, no parea ser estruturalmente
Referimo-nos aqui viso estereotipada do cafeto (ou cafetina) como indivduo que possui um estbulo de mulheres quase escravizadas e que se apropria dos frutos do trabalho sexual dessas atravs da violncia fsica ou atravs
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significante na organizao econmica da prostituio urbana (particularmente no Rio de Janeiro), existe uma srie de agentes que exploram a prostituta, no sentido marxista da palavra, atravs da expropriao dos frutos de seu trabalho. importante que o leitor entenda que aqui no estamos falando da explorao sexual, artefato legal plstico e extremamente mal-definido na jurisprudncia brasileira que utilizado, quase exclusivamente, para reprimir a prostituio. Quando falamos em explorao neste artigo, estamos falando do conceito marxista que estipula que todo trabalho remunerado, sob condies de capitalismo, envolve a extrao da mais-valia. Neste sentido, a prostituio no nada diferente das outras ocupaes profissionais. Tem sido a posio, entre certa ala de pensadores feministas e marxistas, que o trabalho sexual explorao sexual e, portanto, classificvel como sinnimo de trfico de mulheres e/ou escravido (Leal e Pinheiro, 2007:18-19). Na viso desses analistas, a nica coisa que pode ser comprado e vendido no comrcio do sexo o corpo e a pessoa da mulher. Portanto, a explorao sexual entendida como sinnimo de qualquer trabalho sexual e qualificada como uma mutao da sociedade moderna ou, ainda, ps-moderna. Uma reificao da barbrie (ibid: idem). Essa posio ignora a realidade do trabalho sexual, qua trabalho, e a natureza da venda dos servios, sejam esses sexuais ou de outra natureza, como comrcio. Se for verdade, como Marx e Engels estipulam, que os seres humanos precisam comer, beber, se abrigar e se vestir [e], portanto, precisam trabalhar (Engels, 1986:376), igualmente verdadeiro que precisam manter relaes sexuais e que essas relaes tambm podem ser vendidas como qualquer outro servio. Sexo, enfim, no pode ser visto como um campo parte das relaes socioeconmicas capitalistas. De fato, Friedrich Engels at faz questo de equiparar a cortes habitual que aluga o seu corpo por hora com a trabalhadora assalariada, reservando para a esposa engajada num matrimnio de convenincia o rtulo de escrava (Engels, 1982 [1884]:20). Sob essa tica, no existe razo necessria para entender a prostituta como menos trabalhadora ou mais escravizada que qualquer outra operria nas diversas reas de servios. Enfim, no regime capitalista, a explorao a sina de todo trabalhador e este fenmeno no pode ser equiparado com a explorao sexual, entendida por fins do presente artigo como situao anloga escravido. Vamos deixar nossa posio cristalina para aquelas pessoas que propositalmente confundem a explorao sexual e a explorao no sentido marxista da palavra: uma enorme maioria de nossas informantes, na medida em que se sentem exploradas, se sentem exploradas economicamente enquanto trabalhadoras e no enquanto mulheres supostamente rebaixadas condio de escrava ou mero objeto inanimado. De fato, importante notar
da dependncia das mulheres em drogas. Embora tais indivduos certamente existissem no Rio, em mais de cinco anos de pesquisa, no encontramos nenhum. 210
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neste contexto que as nossas informantes qualificam as batidas policiais, geralmente justificadas como medida repressiva da explorao sexual, como violao de seus direitos e dignidade. A posio limiar da prostituio no Brasil como trabalho, legalmente reconhecido, porm no regulamentado, e a ilegalidade de lucrar com a labuta sexual de terceiros (qualificado como lenocnio pelo Cdigo Penal brasileiro), tm configurado um campo de trabalho sui generis. Em geral, a prostituta situada nesse campo como independente: uma espcie de pequena burguesa do sexo; algum que controla seu corpo, entendido aqui como a meia chave para a produo do ato sexual. Porm, tal produo implica em uma srie de outros insumos e meios de produo que geralmente no so controlados diretamente pela prostituta e que precisam ser comprados ou alugados por ela. justamente aqui na venda ou aluguel desses insumos que a maior parte da expropriao do valor do trabalho da prostituta acontece. Em primeiro lugar, a trabalhadora sexual precisa de um lugar onde possa encontrar o cliente e negociar os servios sexuais. Isto no to fcil quanto pode parecer a primeira vista, pois geralmente necessita a construo e a manuteno de uma regio moral na acepo de Robert Park, uma regio em que prevalece um cdigo moral distinto, frequentada por pessoas que so dominadas... por um gosto, paixo, ou interesse enraizado diretamente na natureza original do indivduo (1984 [1925]: 45-48). Essas regies tm que ser minimamente atraentes para os clientes, oferecendo um clima descontrado (geralmente regado a bebidas alcolicas) e annimo. Em outras palavras, a prostituta precisa da existncia de algum lugar onde o cliente saiba que vai encontrar sexo venda e que vai se sentir vontade. Tal lugar pode ser virtual (um site na internet, por exemplo, ou uma central telefnica que articule clientes e garotas de programa), mas ele h de existir. Sendo que a prostituio uma atividade estigmatizada e muitas vezes reprimida, a existncia de tais regies morais implica numa srie de negociaes constantes com autoridades e residentes locais que, por sua vez, implica numa srie de gastos. Em segundo lugar, a prostituta tipicamente precisa de um lugar privado e seguro onde ela e o cliente possam praticar atos sexuais. Isto pode ser o mesmo que o local de encontro, ou pode ser outro lugar. Nota aqui que privado e seguro so conceitos relativos que, em ltima anlise, podem significar um beco escuro ou um carro estacionado. Em terceiro, embora no precisem, muitas prostitutas preferem ter um apoio para garantir a segurana contra clientes violentos e para ajudar na cobrana de dvidas. Novamente, como a prostituio uma atividade estigmatizada e semilegal, ela no pode contar com a ajuda da polcia ou de outras autoridades pblicas para estes fins. Finalmente, existe uma quantidade enorme de insumos e ferramentas que so consumidas ou utilizadas no exerccio da prostituio, mas que no so exclusivos
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ao negcio do sexo. Esses insumos incluem: roupas (lingerie sexualmente atraente, biqunis, calas apertadas, sandlias de salto alto de acrlico e fantasias sexuais como uniformes de enfermeiras ou colegiais), perfumes, bebidas alcolicas, comidas, camisinhas, brinquedos sexuais e msicas para dana. Tipicamente, no Rio de Janeiro e So Paulo, a explorao da prostituio enquanto trabalho se constitui no tanto na extrao direta da mais-valia do trabalho sexual (i.e. o recebimento de uma poro do programa), mas na venda ou no aluguel dos insumos e ferramentas acima descritas e, particularmente, no controle do primeiro: as regies morais onde a prostituio permitida ou tolerada. Para melhor entender como funciona essa explorao, porm, preciso entrar numa descrio da geografia humana da prostituio num caso particular, a saber, o da cidade do Rio de Janeiro.
A geografia humana do trabalho sexual no Rio de Janeiro

A cidade do Rio de Janeiro contm uma enorme variedade de servios sexuais venda, sob as mais diversas condies. Dar conta desse universo mesmo limitando-o prostituio heterossexual protagonizada por mulheres uma tarefa alm da capacidade de um simples artigo como esse. Todavia, nossas investigaes do fenmeno permitem ensaiar a construo de uma tipologia idealizada da venda dos servios sexuais na cidade. Tradicionalmente, a prostituio feminina no Rio tem sido dividida em duas alas: o baixo meretrcio e o alto meretrcio. Trabalhos mais recentes vindos da histria (Meade, 1991) e da antropologia (Gaspar, 1984) tm ampliado essa anlise, estipulando uma classificao triparte e acrescentando o mdio meretrcio ao modelo. Seguindo as classificaes proferidas por Gaspar, Henrique Dantas descreve os trs nveis de prostituio carioca da seguinte maneira:
A alta prostituio seria a tendncia para o futuro desta forma de ganhar a vida nos grandes centros urbanos. As garotas agiriam sob seu prprio controle, publicando anncios em jornais com nmero de telefone para contato. Muitas vezes, no prprio anncio, fazem questo de deixar claro o seu cliente alvo: executivos de bom gosto. O valor estabelecido por elas geralmente s acessvel a pessoas de alto poder aquisitivo. A ida da prostituta ao local indicado pelo cliente caracterstica deste tipo de prostituio. O gasto com o txi ou com o combustvel do carro da garota tambm , na maioria das vezes, de responsabilidade do cliente... A mdia prostituio (estudada por Gaspar) seria aquela praticada em boates e casas de massagens espalhadas por toda a cidade. Suas praticantes, como regra geral, possuem aparncia produzida e no esto expostas nas ruas, portanto, segundo a concepo delas, correm riscos menores que as praticantes da baixa pros212
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tituio. Porm, risco menor no quer dizer que no esto correndo algum perigo, pois isto um fato real de todas as escalas da prostituio... Um ponto considerado importante para a opo destas mulheres pelo trabalho em boates e casas de massagens seria justamente por buscarem uma maior segurana, ainda que relativa, afinal, entre quatro paredes, tudo pode acontecer. O preo do programa nestes lugares costuma variar de acordo com o bairro. Nas casas de massagens o valor nico para todas as garotas e costuma ser cobrado de acordo com o tempo que o cliente pretende ficar com a garota. Por exemplo, R$ 50 por trinta minutos, R$ 80 por uma hora, e assim por diante. Existe uma tabela e a mulher deve sempre assinar nas pginas de um livro controlado por um gerente a cada vez que levar um cliente para o seu quarto, ou cabine, como costumam chamar (estes livros para assinatura tambm existem nas casas da Vila Mimosa). J as prostitutas que frequentam as boates estabelecem seu prprio preo, e no costumam ter um vnculo muito grande com os donos ou gerentes destes estabelecimentos. Em geral fazem um acordo verbal, comprometendo-se a fazer com que os clientes consumam o mximo possvel em bebidas e aperitivos. Ainda contextualizando-nos ao quadro do meio urbano do Rio de Janeiro, procuro identificar como praticantes da baixa prostituio mulheres de diversas idades que negociam o corpo nas ruas, em reas como a Quinta da Boa Vista e Central do Brasil, e na Vila Mimosa.... Geralmente so mulheres que no fazem muitas exigncias ao cliente e com um grau de promiscuidade maior que as das outras escalas. Esto frequentemente dispostas a praticar o ato sexual no apenas em lugares exclusivos como os hotis, sendo mais comum o interior dos carros e as reas mal iluminadas (no caso especfico da Quinta da Boa Vista). dentro desta escala da prostituio que se encontra o maior nmero de mes e viciadas em drogas. A violncia quase explcita nestas reas um ingrediente que completa o quadro, sendo caracterstica de todos os personagens, sejam as mulheres, clientes ou frequentadores. Fenmeno no exclusivo dos grandes centros urbanos, a baixa prostituio tem sido uma sada encontrada por milhares de mulheres para resolverem questes financeiras (Dantas, 2002).

A descrio de Dantas merece ser citada por extenso, pois exemplifica uma srie de problemas e preconceitos tpicos que esto embutidos nesse modelo dos mltiplos meretrcios, a mais candente do qual a presuno de existncia de uma escala totalizante moral/econmica que pode ser usada para classificar os tipos de trabalho sexual, mas que mantm grandes congruncias com teorias social-evolucionistas tradicionais ao respeito da populao carioca. vlido lembrar que esse modelo no est completamente errado, se fssemos aceit-lo como uma tipificao ideal bastante ampla e um tanto vaga da prostituio. Afinal de contas, todos os nossos informantes, clientes e prostitutas, reconhecem a existncia de prostituies melhores e piores e quase todos concordam
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com Dantas que o fundo do poo no universo do sexo comercializado no Rio de Janeiro pode ser encontrado nas ruas em torno do Central do Brasil ou da Quinta da Boa Vista. Todavia, ir alm desse consenso, como Dantas o faz, bastante complicado. Em primeiro lugar, no existem provas contundentes de que a prostituio mais barata , por natureza, necessariamente mais violenta, degradante ou at promscua que a prostituio mais cara, como Dantas argumenta. No mximo, isto s pode ser qualificada como hiptese a ser explorada. Em segundo, no existe uma concordncia absoluta entre os tipos de trabalho sexual, os preos pagos por ele, os tipos de clientes que o compram e os tipos de mulher que os providenciam. Como notamos acima, a prostituio em geral e no s a assim chamada baixa prostituio pode ser qualificada como uma sada encontrada por... mulheres para resolverem questes financeiras. Finalmente, a nosso ver, bastante perturbador o fato de que o modelo de mltiplos meretrcios, que sobretudo um modelo determinista, associa classe, raa22, gnero e nveis de estigma em pacotes holsticos. Nossa pesquisa indica que existe uma flexibilidade bastante notvel no trabalho sexual carioca, com mulheres e clientes circulando entre vrias formas e locais de prostituio. Nossa pesquisa revelou 274 pontos de prostituio no municpio do Rio de Janeiro, dos quais visitamos pessoalmente 52. Devemos salientar que, por fins desse artigo, ponto quer dizer um endereo ou regio moral qualquer. Por tanto, Vila Mimosa, uma rua de dois quarteires de extenso que abrange mais que 25 casas e boates, todos dedicados venda do sexo, qualificado aqui como um ponto s. Idem o prdio Av. Rio Branco 651, que contm uma dzia de privs sob controle de donos diferentes. Se fssemos levar em conta cada ponto individual e separado de venda, nossa contagem chegaria a mais de 400. Tambm tem que ser salientado que alguns desses pontos mudam de lugar e dono com certa frequncia e que nossa pesquisa abrange um perodo de sete anos, de 2002 a 2008. A termas Bonhomme, por exemplo, comeou a vida como termas gay e fechou em 2005, logo depois de ser re-inaugurada como local dedicado prostituio heterossexual feminina. Seis meses mais tarde, porm, reabriu-se no mesmo endereo, supostamente com novos donos, como a termas Firebird. Nestes casos, quando o lugar muda de dono e/ou nome, mas permanece no mesmo endereo, temos contado ele como um s ponto. Todavia, a situao se complica ainda mais com as casas de massagem e privs do Centro, onde a represso da prostituio pode resultar num determinado ponto sendo fechado num local e reaberto sob os mesmos donos em outro. Esse tipo de situao no comum, porm, e a maioria
Pois, afinal de contas, o exemplo que Dantas oferece de uma mulher engajada na prostituta alta loira e descendente de alemes enquanto a prostituta exemplar do baixo meretrcio morena (ibid: idem).
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dos pontos contados por ns tem mantido suas portas abertas pelos ltimos trs anos (ou mais). Por fins do presente artigo, retiramos da nossa contagem qualquer ponto de prostituio que saibamos ter sido fechado antes de dezembro de 2006. Em termos de classificao, em vez de seguir o velho modelo de mltiplos meretrcios, inicialmente acompanhamos as classificaes micas apresentadas por nossos informantes (tanto prostitutas, quanto clientes). Assim, podemos afirmar que existem 21 qualificaes de prostituio na cidade, divididas por local de encontro (de elite, call-girl/escort, termas, massagens, privs, peep show (diverses erticas), cinema, casas/bordis, rua, bar, boate, praia, swing, amadoras, hotel e disco), tipo de programa (toda a noite, girl friend experience e fast-sex/fast foda) e categorizao morais (de luxo/ de elite e trash). Essas classificaes micas, porm, so subjetivas e contraditrias e no so, obviamente, exclusivas. O mesmo lugar pode ser qualificado de maneiras diferentes por pessoas diferentes. Isto particularmente o caso com as qualificaes casa/bordel, termas, massagem e priv. Falando brevemente, esses termos parecem ser, at certo ponto, intercambiveis e genricos. Um lugar pode ser chamado de terma, por exemplo, mesmo que no disponibilize saunas, ou de massagem mesmo que no oferea tal servio. E, claro, casa sempre acaba sendo o genrico para quase todo e qualquer ponto fechado de prostituio. Portanto, era preciso peneirar e analisar com cuidado essas categorias na construo de uma tipificao ideal tica dos pontos de prostituio no Rio. Chegamos concluso, ento, que podemos categorizar o sexo comercial na cidade em nove estilos bsicos de ponto (cinco fechados, trs pblicos e um misto23), duas categorias morais e trs tipos de servios especiais. Em termos das informaes econmicas apresentadas abaixo, os preos vm do perodo 2006-2008, que foi poca de certa estabilidade no mercado do sexo da cidade.
Tipos fechados de pontos prostituio

Qualificamos como fechados os tipos de pontos onde a prostituio acontece dentro de uma determinada regio moral com pouca ou nenhuma visibilidade frente sociedade circundante. Os cinco tipos de pontos fechados de prostituio encontrados por ns no Rio de Janeiro incluem servios de call girl, termas/boates (uma categoria s), casas de massagem, privs e casas.
Servios de call girl, escort, agncia

Isto propriamente um ponto virtual, sendo que a regio moral onde o cliente encontra-se com a prostituta no existe no espao fsico. Basicamente fa23

Cinco lugares escaparam dessas categorizaes de ponto: 3 casas de swing, um peep show e uma cinema.
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lando, o cliente encomenda os servios de uma determinada prostituta aps ter visto suas informaes de contato na internet, no jornal, numa revista, num panfleto colado num orelho ou aps receb-las de terceiros. A prostituta pode estar trabalhando independentemente, por si s, ou pode participar de uma agncia, que disponibiliza suas informaes de contato em troca de um pagamento ou uma porcentagem do programa. A prostituta vai, ento, at o local de encontro escolhido pelo cliente (tipicamente a casa ou hotel dele), faz os servios e paga na hora. A quantidade recebida varia por durao de programa (duas horas, tipicamente, mas por hora e por noite tambm), em geral de R$ 50 a R$ 150 por hora. Tipicamente, a prostituta tambm ganha uma quantidade adicional para cobrar suas despesas de viagem de txi (R$ 30 a R$ 50). Segue abaixo uma amostra dos preos cobrados para servios de call girl no Rio de Janeiro (como sempre, os nomes das agncias, lugares e agentes apresentados nessa seo foram modificados para proteger o anonimato):
Katia Scort, jan./2008: KGB Plus, out./2006: Show de Scort, jun./2006: Hotties.com, jul./2008: Kris models, fev./2008: Mader models, jan./2008: Nmero num orelho, jun./2006: Nmero atravs do jornal, jun./2006: R$ 100 por 2 horas; R$ 300 por noite; R$ 30 p/txi R$ 300 (tempo no especificado); R$ 50 p/txi R$ 100; R$ 30 txi R$ 250 por 2 horas; incl. txi R$ 100 por 2 horas; R$ 50 p/txi R$ 150 por 2 horas; R$ 35 p/txi R$ 50 por hora R$ 60 por hora

Embora muitas vezes qualificada como uma espcie superior de prostituio (provavelmente porque removida dos olhos do pblico), nossas pesquisas indicam que o trabalho de call girl pode ocultar um dos maiores taxas de explorao. De acordo com um de nossos informantes, as mulheres que trabalham para agncias, alm de devolver 50% do preo do programa agncia, tambm pagam uma taxa de at R$ 500 por ms para serem listadas em seu book ou site. Como dizia um dos nossos informantes clientes, amigo de vrias garotas de programa:
No Kris Models, as meninas precisam pagar os primeiros R$ 400 ganhos toda semana para a agncia e, aps isto, elas dividem o preo do programa, meio a meio, com a agncia. Ento, vamos imaginar que uma das meninas de Kris faz 10 programas por semana, por R$ 100 cada. Kris Models ganhar os primeiros R$ 400 e 50% do que sobrou, deixando a menina com somente R$ 300 para seu labuto.

Presumindo 10 programas de R$ 100 por semana, ento, a taxa de explorao deste tipo de servio sexual pode superar 70%. Isto quer dizer que o grosso da re216
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munerao da prostituta que trabalha com agncia deve vir do preo adicional do transporte e essa hiptese sustentada pelos relatrios de nossos informantes clientes, que reportam grandes conflitos com prostitutas quando tentam negociar o preo do txi. tambm notvel, neste contexto, que o transporte cobrado por prostitutas independentes (i.e. as que no trabalham com agncias) raramente excede R$ 20 e, muitas vezes, nem faz parte do preo estipulado do programa. possvel, ento, perguntar: por que uma mulher trabalharia com uma agncia, dada esse nvel de explorao? Duas respostas foram apresentadas por nossas informantes. Em primeiro lugar, o trabalho de call girl agenciada extremamente annimo, pois, alm de no ter exposio pblica24, a central pode recolher o nome e informaes do cliente previamente, deixando a mulher evitar pessoas conhecidas em outros contextos alm da prostituio. Em segundo lugar, o trabalho com uma agncia extremamente flexvel: a mulher s vai ser destacada para o trabalho caso tenha um programa a sua espera. Isto deixa seus dias livres para outros tipos de trabalho (de sexo ou no), para a escola, ou para as tarefas domsticas. Encontramos 54 diferentes agncias e pontos virtuais de prostituio no Rio de Janeiro (sem contar, claro, os meios informais de transmisso de informaes, tipo orelhes).
Termas e boates

Uma termas, propriamente dita, uma casa de sauna que tambm oferece servios sexuais. Muitos lugares no Rio de Janeiro se chamam de termas, porm, sem oferecer saunas e o termo parece ser um genrico para casa de prostituio na cidade. Por fins de nossa classificao tica, apresentada aqui, usamos termas s para indicar aqueles lugares que acreditamos serem termas de verdade (i.e. que incluem saunas). Este espao parece ser uma das formas mais populares de prostituio entre os clientes da cidade e tambm aparentemente uma especialidade carioca, sendo que essa forma de prostituio no se encontra to destacada (pelo menos em sua variante heterossexual) Brasil afora. De acordo com o cliente Bubba Boy (autor de The Bubba Report for Rio de Janeiro), a prostituio de termas funciona da seguinte maneira:
Ao entrar, voc recebe uma chave para um armrio, onde voc vai deixar suas roupas e outros pertences [a casa vai te providenciar um robe e sandlias havaianas para usar durante sua estadia]. Voc pode, ento, ir sauna ou ter uma massagem no-sexual Quando voc quer interagir com as garotas, voc vai boate, que o bar... onde as meninas estaro te esperando. As meninas no so
Deve ser salientado, neste contexto, que as fotos das mulheres, apresentadas nos sites virtuais das agncias, no correspondem s mulheres que trabalham nestes locais.
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pagas para trabalhar na boate, porm: elas s recebem quando te levam para uma cabine particular... A chave de seu armrio tipo seu carto de crdito l dentro. O dinheiro nunca troca de mos dentro de uma termas e voc s pagar por tudo na sada. Portanto, no perca sua chave! Uma vez que voc decide que quer conhecer melhor uma das moas da casa, voc decide quanto tempo quer gastar com ela (40 minutos o normal) e ela vai levar sua chave e ir embora para se preparar. Ela voltar em cinco minutos e a vocs vo para uma das cabines onde voc tentar imitar uma estrela dos filmes de pornografia... (Bubba Boy, 2007:3-5).

Trabalhar numa termas um emprego full time e as mulheres tipicamente aparecem l de quatro a seis vezes por semana. No recebem nenhum salrio da casa e sim o preo do programa e, geralmente, so multadas em at R$ 300 por cada dia que faltam. As mulheres, em geral, no trabalham enquanto esto menstruadas, mas a casa ainda cobra a multa pela falta naqueles dias. Portanto, muitas mulheres que trabalham em termas abusam das plulas anticoncepcionais para nunca terem que menstruar. A fico que permite a prostituio de termas que as mulheres no so funcionrias da casa. Portanto, embora o preo do programa seja padronizado dentro da termas (variando por tempo gasto no servio sexual), a casa geralmente no toca nesse dinheiro, ganhando com a entrada, a venda de comes e bebes e crucialmente o aluguel de cabines e quartos. Os preos cobrados pelas termas do Rio variam dramaticamente conforme a qualidade e higiene das instalaes. Tipicamente, entre 10 e 30 mulheres estaro presentes numa termas, embora existam algumas megatermas (Dado de Quatro, por exemplo) que dizem disponibilizar quase 200 garotas de programa. Segue abaixo uma lista dos preos cobrados em 2008 por uma seleo representativa de termas cariocas. Note que o dinheiro do programa fica com a mulher, o resto podendo ser classificado, ento, como taxa de explorao (explcito em termos de porcentagem do preo pago pelo cliente, no final). Todos os preos datam de dezembro de 2008:
Unicrnio: El Hombre: Dado de Quatro: Preto e Branco: Aerolinhas: Berlin Caf: Espao Atlntico: R$ 90 entrada, R$ 100 quatro, R$ 150 programa 40 min. 56%. R$ 50 entrada, R$ 60 quatro, R$ 140 programa 40 min. 44%. R$ 40 entrada, R$ 40 quatro, R$ 120 programa 40 min. 42%. R$ 10 entrada, R$ 20 quatro, R$ 40 programa 40 min. 42%. R$ 60 entrada, R$ 90 quatro, R$ 100 programa 40 min. 60%. R$ 20 entrada, R$ 50 quatro, R$ 160 programa 40 min. 30%. R$ 3 entrada, R$ 20 quatro, R$ 20 programa 40 min. 53%.

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A taxa de explorao do trabalho sexual nas termas do Rio de Janeiro varia de 30-60%, sendo por volta de 40% na maioria dos lugares. Embora tal taxa seja razoavelmente alta e apesar do trabalho nas termas exigir dedicao exclusiva ou quase exclusiva, muitas mulheres preferem esta modalidade de trabalho, pois oferece um alto grau de segurana, um razovel grau de anonimato (embora j tenhamos ouvido histrias de meninas encontrando seus pais nas boates de uma termas) e tambm elimina argumentaes com os clientes na hora de pagar. Boates so semelhantes s termas, pois so ambientes fechados cuja razo de existncia declarada a oferta de outras diverses alm dos servios sexuais (nesse caso, shows de dana e, s vezes, strip-tease ou sexo ao vivo), mas onde as mulheres da casa esto disponveis para a prostituio. Uma boate pode ou no ter cabines no lugar. Se tiver, funciona mais ou menos de acordo com uma termas, com a casa ganhando dinheiro com a entrada e com o aluguel de espaos para realizar os atos sexuais. Se a boate no tiver cabines, as mulheres geralmente so funcionrias pagas da casa e os clientes, alm de pagar a entrada, precisam pagar uma multa para tirlas do lugar (o sexo sendo consumido num lugar da escolha do cliente tipicamente um motel ou hotel nas proximidades da boate). Neste caso, o preo do programa no ser padronizado pela boate, com cada mulher negociando o que acha justo. Como as termas, as boates variam muito em termos de higiene e qualidade. Em mdia so encontradas de cinco a 20 mulheres trabalhando numa boate tpica e esse tipo de trabalho geralmente exige dedicao exclusiva. Abaixo, encontra-se uma lista dos preos numa seleo de boates tpicas no Rio. Novamente, a entrada, multa de bar e/ou o preo de aluguel das cabines constituem a taxa de explorao extrada do programa:
Sweet Jane, jul./2007: Bertoluccis, jun./2008: Miami, jun./2007: Casa Grande, mai./2007: Feriado jan./2006: R$ 60 entrada, R$ 60 multa, R$ 300 programa por noite. 29%. R$ 30 entrada, R$ 50 multa, R$ 150 programa por 2 horas. 35%. R$ 10 entrada, R$ 20 quarto, R$ 50 programa por 45 minutos. 37%. R$ 2 entrada, R$ 10 quarto, R$ 20 programa por 20 minutos. 38%. R$ 30 entrada, R$ 50 quarto ou multa, R$ 80 programa por hora. 50%.

Nas boates, ento, encontramos uma taxa de explorao semelhante quela encontrada nas termas: ou seja, por volta de 40% do total gasto pelo cliente (independente de comes e bebes) fica nas mos da casa. As vantagens e desvantagens de trabalhar numa boate tambm so semelhantes s das termas, sendo que nas boates que no disponibilizam cabines, a prostituta obviamente est mais vulnervel violncia, fraude e roubo por parte do cliente. Ambas as boates e termas tipicamente abrem suas portas tarde, mas o grande movimento dos clientes tende a ser aps s 17h (embora existam excees). De acordo com nossas informantes, a jornada tpica numa casa dessas de nove horas, indo das 16h at 1h da manh.
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Nossa pesquisa revelou 48 termas e 20 boates no Rio de Janeiro.


Massagens

Massagens so semelhantes s termas e boates no sentido de que so ambientes fechados que disponibilizam outros servios alm do sexo. Todavia, elas tm um diferencial, pois o programa tende a ser mais longo (uma hora em vez de 40 minutos) e comea e, s vezes, at termina com massagem. Na casa de massagem, como definido aqui, o cliente compra servios de massagem que podem tambm incluir (ou no) masturbao e/ou sexo (oral, anal e/ou vaginal), mediante o pagamento de um preo adicional. O interessante que existem casas de massagem que s providenciam masturbao para seus clientes, mas que cobram mais que outros pontos onde se vende sexo anal, oral e/ou vaginal. A massagem tambm semelhante ao priv (descrito abaixo), pois geralmente opera num apartamento ou escritrio, subdividido em uma recepo e duas ou trs cabines, e emprega relativamente poucas mulheres (tipicamente entre duas a dez, com quatro ou cinco normalmente presentes em qualquer momento). At agora, conhecemos pouco sobre o recrutamento e condies de trabalho nas massagens. A taxa de explorao parece ser extrada diretamente do preo que as massoterapeutas cobram para seus servios e parece beirar algo em torno de 30-50% desse valor. provvel que algumas casas querendo se distanciar legalmente da acusao de cafetinagem se recusem a tocar no dinheiro pago para os servios adicionais (i.e. servios sexuais), extraindo ento uma taxa maior dos servios no-sexuais, mas isto apenas uma hiptese a ser explorada. Os preos nas massagens tipicamente so padronizados. Abaixo, encontra-se uma lista dos preos numa seleo de massagens tpicas no Rio:
Massagem Largo de Andrade, mai./2007: F e Alice Massoterapeutas, dez./2008: Mimi Fonseca, Terapeuta, out./2008: Harmonia e Paz Massagens, jan./2006: Bi e Ana Massagens, ago./2007: Cleonice Massagens, mai./2008:

R$ 50 por hora, com punheta, sem sexo. R$ 70 por hora com sexo. R$ 100 por hora com punheta e boquete, sem sexo. R$ 50 por hora, com sexo. R$ 70 por hora com punheta, R$ 150 com sexo. R$ 30 por meia hora com punheta, sem sexo.

Descobrimos um total de 27 massagens no Rio de Janeiro.


Privs

Pode-se pensar no priv como uma espcie de mini-bordel e, neste sentido, so semelhantes s massagens. Todavia, diferente daquela modalidade de prostituio, a priv geralmente no oferece outros servios alm dos sexuais. So apartamentos
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ou escritrios alugados em grandes prdios, tipicamente nos centros comerciais da cidade (Centro, Tijuca e Copacabana tm as maiores concentraes). O dono do imvel pode conhecer ou no o fim pelo qual sua propriedade foi alugada, mas se no sabe e descobre posteriormente, o priv geralmente fechado e tem que mudar de lugar. Existem prdios, porm, que concentram privs ou porque so enormes e em lugares extremamente estratgicos no mercado de sexo comercializado (vrios prdios na Av. Rio Branco, por exemplo, cabem), ou porque a administrao do prdio no se importa em repelir a prostituio. Um priv tpico bem pequeno menos de 60 metros quadrados, em geral e dividido em cabines e uma rea de recepo. O banheiro geralmente coletivo e as cabines s comportam uma cama e, s vezes, uma televiso ou mesa. Existem, porm, privs de luxo que mais se assemelham com pequenos motis. Um que visitamos na Rua do Ouvidor, por exemplo, ocupa todo o 4 andar de um prdio e disponibiliza verdadeiras sutes com banheiras e mini-saunas. A quantidade de mulheres que trabalha num priv relativamente baixa, variando de trs a 10, com uma mdia de cinco, sendo o mais tpico. Os preos cobrados geralmente so padronizados. Como os privs (junto com as massagens, descritas acima) se especializam na venda de servios sexuais aos trabalhadores dos centros comerciais, o trabalho concentra-se durante o horrio comercial. Isto faz destes espaos uma opo excelente para mulheres que trabalham ou estudam noite. Tambm, dadas essas condies, bastante fcil camuflar o trabalho num priv como (nas palavras de uma de nossas informantes) um emprego qualquer no centro tipo secretria, essas coisas. Novamente, recolhemos poucas informaes sobre as taxas de explorao extradas dos servios sexuais nos privs. Notamos, porm, que em alguns casos, grupos de prostitutas alugam um apartamento em conjunto e passam a administr-lo como uma espcie de cooperativa ou coletivo. Todavia, os privs mais luxuosos obviamente precisam de grandes injees de capital e pouco provvel que aqueles investigados na nossa pesquisa tenham sido organizados pelas prprias trabalhadoras. Segue abaixo uma lista de preos tipicamente encontrados nos privs do Rio de Janeiro:
Presidente Vargas 950, apto. 2201, out./2007: Av. Rio Branco 650, apto. 3102, set./2006: 13 de Maio 87, apto 201, out./2008: Priv Barra Modelos, dez./2008: Priv Realengo, set./2008: R$ 70 por meia hora. R$ 100 por hora. R$ 40 por meia hora. R$ 140 por 40 minutos. R$ 25 por 25 minutos.

A nossa pesquisa identificou 42 privs no Rio de Janeiro.


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Casas

Essa categoria meio residual e abrange aqueles lugares que, aparentemente, s vendem sexo, mas no so qualificados por clientes ou prostitutas como qualquer outra das categorias descritas acima. Em muitos casos, esses pontos podem se chamar de massagens, boates, ou termas, sendo que, a melhor classificao para elas simplesmente o bom e velho puteiro, ou para ser mais chique casa de tolerncia. Em geral, as casas so maiores que os privs e empregam de dez a cem mulheres. Muitas delas como a Vila Mimosa ou a R. Buenos Aires 100 so de fato uma coleo de estabelecimentos, cada um com dono ou gerente diferente. A Vila, por exemplo, tem mais de 25 casas, todas mais ou menos unidas atravs de uma associao comercial (ver Pasini: 2005 para mais informaes sobre a organizao econmica e social da Vila Mimosa). BA 100 tem cinco bares que ocupam cinco andares diferentes do mesmo prdio. Em todas as casas, porm, o sexo consumado no local, tipicamente numa cabine, e a taxa de explorao extrada atravs do aluguel dessas. Em algumas casas, pode existir uma taxa adicional, retirada diretamente do preo do programa, mas no encontramos provas diretas disto ainda. Pelas informaes que temos em mos, a taxa de explorao numa casa beira os 25%. Os preos nesses pontos so padronizados e so tabelados de acordo com o tempo gasto e o servio a ser oferecido (com o servio sexual completo i.e. sexo oral, vaginal e anal sendo sensivelmente mais caro que o sexo vaginal). Em termos de horrio de trabalho, as casas (juntas com os privs e as massagens) tendem a ser mais flexveis que as termas e as boates. Teoricamente, todos esses pontos exigem dedicao exclusiva da trabalhadora, mas, pelo que podemos entender, as casas, privs e massagens permitem a jornada parcial com mais frequncia. Segue abaixo uma lista de preos numa seleo das casas do Rio de Janeiro:
Buraco Bueno, dez./ 2008: Buenos Aires 200, dez./2008: Vila Mimosa, jun./2006: Copacabana Termas, jan./2008: Shopping Madureira, nov./2008: R$ 10 por 10 minutos, R$ 20 por sexo anal. R$ 15 por 15 minutos, R$ 25 por sexo anal. R$ 20 por 20 minutos, R$ 5 cabine. R$ 75 por 30 minutos. R$ 11 por 7 minutos.

Encontramos 33 casas no Rio de Janeiro.


Tipos abertos de pontos de prostituio

Qualificamos como abertos os tipos de pontos onde a prostituio acontece dentro de uma determinada regio moral que potencialmente visvel aos olhos da sociedade circundante. Isto no quer dizer, porm, que a sociedade circundante
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sempre a reconhece como ponto de prostituio. Por exemplo, ambas a Rua do Jardim Zoolgico, na Quinta da Boa Vista, e o Restaurante Dom Corleone, em Copacabana, so pontos abertos de prostituio. No entanto, a presena das garotas de programa muito mais visvel no primeiro lugar que no segundo. Os dois tipos de ponto aberto de prostituio encontrados por ns no Rio de Janeiro so bares/ praias/restaurantes e pontos de rua.
Bares, restaurantes e praias

O que esses trs lugares tm em comum que as negociaes para os servios sexuais acontecem num ambiente pblico misto. Nestes casos, a regio moral onde a prostituio permitida tambm frequentada por pessoas que no procuram ou oferecem servios sexuais e at podem ser avessas prostituio. Alguns lugares so mais mistos que outros. Na Praia das Putas, em Copacabana, por exemplo, sempre h pessoas que no esto envolvidas no negcio do sexo. Todavia, quase todo mundo que frequenta aquele ponto est ciente da presena das garotas de programa. Em outros lugares a lanchonete em cima de uma certa montanha bastante visitada por turistas, por exemplo , a presena das trabalhadoras do sexo bem mais discreta e seria notada somente por algum que estivesse assiduamente procura dos servios sexuais comercializados. Todos esses lugares tambm tm outra caracterstica em comum: em geral, so as mulheres que vo atrs dos homens. Nos pontos fechados, claro, as prostitutas sempre se envolvem em jogos de seduo com os clientes potenciais. Nos bares, restaurantes e praias, porm, esse esforo redobrado provavelmente por causa da presena constante de mulheres que no esto vendendo servios sexuais. A taxa de explorao relativamente baixa nesses pontos e pode chegar a ser zero. Tipicamente, porm, para ocupar uma mesa num bar ou restaurante, a mulher ter que consumir algo ou ser expulsa pelos garons. comum, ento, ver nesses lugares mesas ocupadas por trs ou quatro mulheres, cada um cuidadosamente consumindo um chopp por hora. O preo do programa no tabelado nesses pontos, com cada mulher cobrando as condies que acha justas para seu trabalho e, portanto, as prostitutas exercem grande controle sobre as condies de seu trabalho. Um problema com esse tipo de prostituio, porm, o fato de que os servios sexuais ho de ser consumados em outro lugar, geralmente num hotel da vizinhana. Isto retira da prostituta qualquer estrutura de suporte contra violncia, fraude ou roubo por parte do cliente e, portanto, muitas mulheres que so ativas nesses pontos recrutam namorados ou amigos (de ambos os sexos) como protetores. Outras mulheres cultivam relaes com policiais ou motoristas de txi, que podem chamar para intervir numa emergncia. Algumas das nossas informantes dizem que tm mulheres que trabalham nestes pontos e dividem o dinheiro ganho com seus protetores e/ou agentes, porm, at agora, no encontramos alguma prostituta que admite fazer isto.
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Outro problema potencial com esse tipo de ponto o fato de que o nmero de clientes potenciais por prostituta muito diludo. Como uma das nossas informantes, mulher de 26 anos que trabalha num priv na Av. Rio Branco, afirma:
No gosto de frequentar os bares da Copa, pois voc pode gastar noite inteira l e no conseguir nada. Pior ainda, voc pode acabar gastando horas na mesa de algum safado25 que, no final da noite, quer que voc d de graa. Aqui [no priv] mais simples: voc j sabe que o homem que vem pra c est procura de um programa. Nos bares, voc est competindo com mulheres que do de graa por homens que no querem pagar um programa.

Uma diferena entre bares, restaurantes e praias que os primeiros dois tipos de ponto tendem a funcionar somente no final da tarde e noite, enquanto as praias, obviamente, funcionam somente durante o dia. Muitas mulheres, ento, comeam seu dia de trabalho na praia, migrando para os bares no final da tarde. Como esse tipo de prostituio livre e no precisa de dedicao exclusiva, muito comum tambm ver mulheres que so empregadas em outros pontos da cidade trabalhando nesses lugares em seus dias de folga. Segue abaixo uma lista dos preos cobrados em alguns dos bares, restaurantes e praias do Rio de Janeiro. Esses preos no incluem os custos de eventuais estadias nos hotis ou motis, que so tipicamente pagos pelo cliente.
Praia das putas, set./2007: Veranda Bar, out./2007: Meia Tosto Restaurante, dez./2007: Nogales Bar, jan./2006: Praia da Barra da Tijuca, ago./2006: R$ 10 por hora, R$ 200 por noite. R$ 110 por hora. R$ 100 por 2 horas; R$ 200 por noite. R$ 80 por noite. R$ 70 por hora.

Encontramos 31 bares e restaurantes e quatro praias utilizados como pontos de prostituio no Rio de Janeiro.
Pontos de rua

Os pontos de rua so regies morais especficas e no mistas de prostituio. So considerados por ns como pontos abertos, porm, porque so extremamente visveis ao pblico em geral. justamente essa visibilidade, enquanto combinada com o estigma da prostituio, que expe as mulheres que trabalham nesses lugares a uma carga de perigo ainda maior que o normal.
Note que, no linguajar das prostitutas, safado, quando usado como insulto, se refere ao homem que engaja em jogos de seduo, mas no quer pagar um programa. Do ponto de vista da prostituta, este tipo de comportamento gasta seu tempo e esforos toa. Termo semelhante usado para o mesmo tipo de homem fariseu referncia bblica que indica homens que se acham como moralmente superior s prostitutas.
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importante dizer que, embora certamente existam clientes violentos, todavia, as mulheres que trabalham nas ruas mais temem o que chamam de manacos, ou seja, indivduos ou grupos que pensam usar o corpo da prostituta como objeto de tortura ou violncia. Outro tipo de violncia muito comumente encontrado por prostitutas de rua a agresso de cidados comuns que so revoltados com o espetculo do sexo venda. Muitas de nossas informantes de rua relatam casos em que latas cheias de refrigerante ou cerveja so jogadas contra elas pelas janelas dos carros que passam em alta velocidade. As prostitutas de rua tipicamente trabalham em pequenos grupos de dois a cinco, que dominaro uma determinada esquina ou ponto. Elas negociam com os clientes, que chegam de carro ou a p, e vo para hotis ou outros lugares, onde o ato sexual consumado. s vezes, fazem programas no prprio carro do cliente. A prostituio de rua tipicamente considerada tanto por clientes, quanto pelas mulheres e, certamente, pelas autoridades como o meretrcio mais baixo do Rio de Janeiro. Todavia, os preos pagos por este tipo de programa podem ser relativamente altos e, claro, esses no so padronizados, tendo a mulher, ento, um grande poder de negociao. Tambm so os pontos menos gerenciados da cidade: a menos que a mulher adote um protetor/agente ou cafeto, a taxa de explorao desse tipo de trabalho , geralmente, zero. A falta de organizao e gerenciamento dos pontos de rua tambm significa que esses so os lugares que mais atraem menores de idade. Segue abaixo uma seleo de preos tpicos cobrados nas ruas do Rio de Janeiro (os pontos so identificados por regio e no por rua e, portanto, no tem seus nomes modificados):
Quinta da Boa Vista, jul./2008: Central do Brasil, dez./2008: Copacabana, mai./2006: Praa Tiradentes, ago./2007: Lapa, abr./2008: R$ 50 at o orgasmo (30 minutos neste caso). R$ 25 por 25 minutos. R$ 125 por noite. R$ 20 at o orgasmo (meia hora). R$ 50 at o orgasmo (uma hora).

Encontramos 14 pontos de rua em nossa pesquisa.

Ponto de prostituio de tipo misto

Existe uma discoteca que um ponto de prostituio simultaneamente aberto e fechado: a discoteca Help, em Copacabana26, sobre a qual temos escrito extensiva26

A discoteca Help foi fechada em 30 de novembro de 2009.


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mente em outro lugar (Blanchette e Da Silva 2005). A Help consiste em dois ambientes: um bar/restaurante numa calada pblica e uma discoteca. Prostitutas e clientes se renem para negociar servios sexuais em ambos ambientes e o preo mdio do programa varia por volta de US$ 100 desde, pelo menos, 2002. A casa ganha seu dinheiro cobrando uma taxa de entrada de 28 reais para a discoteca (o mesmo preo cobrado de todo mundo clientes e prostitutas) e na venda de comes e bebes. No existem lugares para as relaes sexuais no local (de fato, a casa mantm um rgido cdigo de comportamento que probe roupas ou atos sexualmente explcitos nos recintos) e esses geralmente so consumados nos hotis da vizinhana. As prostitutas que frequentam a Help so quase todas independentes e representam uma mistura entre mulheres que o utilizam aps o trabalho sexual em diversos pontos da cidade e mulheres que s se prostituem ocasionalmente e que negociam programas na disco como uma maneira de incrementar suas rendas em outros tipos de trabalho. A Help oferece um controle excepcional para a mulher sobre o trabalho sexual, pois no exige dedicao exclusiva e, de fato, no administra de maneira alguma o negcio do sexo. O lugar simplesmente um ponto seguro e higinico onde prostitutas e clientes podem se encontrar e negociar os servios sexuais. As mulheres esto livres para estipular quais termos e preos querem e podem decidir em no fazer programa algum, se for isto que quiserem. No final de 2008, o programa mdio na Help custava R$ 250 por noite e, dado o preo de entrada de R$ 28 para o disco e nada para o bar/restaurante na calada, isto quer dizer que a taxa de explorao calcada em cima do programa varia de 0 a 11%. Entre 200 e 1000 prostitutas passam pelas portas da discoteca ou pelas mesas do bar/restaurante todos os dias, com a maior frequncia coincidindo com a alta temporada de turismo (i.e. entre dezembro e maro). Praticamente todos os clientes que frequentam a Help so estrangeiros de passagem pelo Rio e o lugar pode ser qualificado como o point mais movimentado do turismo sexual27 na cidade. Dada a baixa taxa de explorao presente no ponto e o preo relativamente alto dos programas, de se perguntar por que mais mulheres no o utilizam como local de encontro com cliente. Em primeiro lugar, provvel que quase todas as prostitutas do Rio de Janeiro tenham passado pela Help em algum momento, ento podemos confirmar que o ponto uma opo bastante utilizada pelas trabalhadoras sexuais cariocas. Todavia, muitas mulheres dizem no gostar do ponto por uma srie de razes. Em primeiro lugar, a maioria dos programas negociada dentro da disco e a prostituta paga a entrada como qualquer cliente da boate. Quando este fato combinado com o de que sempre tem mais mulheres dentro do disco do que homens,
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Veja Blanchette e Da Silva, 2005, para maiores descries da articulao de Help com o turismo sexual.
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significa que existe uma boa chance da prostituta gastar dinheiro e no conseguir trabalho em troca. Em segundo lugar, o programa na Help sofre alguns dos mesmos problemas do programa de bar ou rua, pois a prostituta ter que ir sozinha com o cliente para o local onde se engajaro em relaes sexuais e ter que cobrar dele depois. Isto significa que ela estar mais vulnervel ao roubo, fraude ou violncia por parte do cliente. Finalmente, sendo estrangeira a grande maioria dos clientes que frequentam a Help poucos dos quais falam portugus , toda a negociao ter que rolar em lngua estrangeira ou num portugus remediado.
Categorizaes morais da prostituio

Existem duas categorizaes morais da prostituio, afirmadas por nossos informantes, e que parecem ecoar as divises tradicionais de alto e baixo meretrcio, com certas divergncias. Essas so a prostituio de elite e a trash. mister salientar aqui, porm, que a grande maioria dos pontos de prostituio do Rio de Janeiro no pode ser classificada por nenhum desses adjetivos.
Elite ou de luxo

Ouve-se muito sobre essa categoria de prostituio, mas pouco se sabe a respeito. A prostituio de elite extremamente fechada e, nela, os clientes pagam preos extraordinrios para servios sexuais providos por mulheres consideradas como excepcionais (i.e. atrizes, ganhadoras de concursos de beleza e celebridades em geral). Em nossa pesquisa, no encontramos um s ponto que pudssemos qualificar como prostituio de elite. Sabemos dele s atravs dos noticirios naqueles momentos em que um ou outro escndalo irrompe. Esse parece ser o tipo de prostituio em que se envolvia Taza Thompsen, ex-Miss Brasil. Antes de sua migrao para a Inglaterra (onde aparentemente continuou no ramo da prostituio), Taza trabalhava em So Paulo com Jiselda Aparecida de Oliveira, a Jiji, rotulada pela mdia, aps sua priso, como a maior cafetina do pas:
Na agenda de Jiji, apreendida pela polcia, constam os nomes de misses, atrizes, top models, grandes empresrios e diversos polticos, inclusive governadores. A depender do programa e da moa escolhida, os preos podiam chegar a R$ 70 mil. Jiji tambm atendia clientes no Exterior. A diria de uma brasileira custava pelo menos US$ 1,5 mil (Rodrigues e Rabelo, 2007).

Mais informaes sobre essa categorizao de prostituio que tipicamente (mas no exclusivamente) baseada em servios de call girl esperam maiores investigaes.

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Trash

Trash pode ser considerado como o oposto de elite, mas a prostituio que recebe essa classificao no apenas pobre ou de baixo calo: , sobretudo, uma prostituio que vende sexo barato e rpido em condies extremamente insalubres. Como afirma um cliente, no site GPGuia, locais trash podem ser descritos da seguinte maneira:
[So] lugares com cama de solteiro, sem ar condicionado ou com preo bem baixo, at R$ 30, no mximo. E, talvez o mais importante, no so lugares para fodas, so lugares para rapidinhas. No Rio de Janeiro, a Vila Mimosa tem uma reputao trash que, a nosso ver, injusta, pois de fato existe uma gama de condies e servios exposta na Vila. Um dos piores lugares trash por ns investigado , com certeza, o (in)famoso Buraco Bueno, que acabou sendo quase uma referncia da categoria para ns e para muitos clientes. Nas palavras de outro informante do GPGuia: Buraco Bueno consegue ser mil vezes pior que a Vila Mimosa. Puta que pariu! Um calor desgraado, homem pra caralho, uma porrada de lata de cerveja no cho (coberto de carpete negro) e as baratas alcolatras consumindo o resto da Skol. Alm disso, tudo tem a famosa frase A buceta 10 e o c 20. mermo, ou consome uma Skolzinha ou consome uma bucetinha. Se no for consumir, rala!!!!!. Sem contar que se voc superar tudo isso, estiver muito doido e garimpar algo, a prima entra na cabine j com vontade de sair. Essa foda. Categorizaes de modalidades especiais de prostituio

Finalmente, existem trs modalidades especiais de prostituio a modalidade normal, sendo subentendida como o pagamento para servios sexuais que variam de 30 minutos a duas horas de durao ou at o cliente alcanar o orgasmo. Essas trs modalidades so a girlfriend experience (experincia de namorada), toda a noite e fast foda.
Girlfriend Experience

Na girlfriend experience (ou GFE28), o cliente paga a mulher a lhe acompanhar exclusivamente por um perodo extenso que pode variar ente um fim de semana
Entre nossos informantes estrangeiros existe uma segunda acepo de GFE, sendo o termo usado para indicar o sexo comercial que se assemelha com o sexo no comercial (i.e. que inclui beijos na boca e orgasmos por parte da parceira feminina).
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at um ms ou mais. Mulheres que fazem GFE podem ser encontradas em todos os pontos de prostituio do Rio e este tipo de servio bastante requerido por clientes estrangeiros. Os preos cobrados pela GFE variam enormemente, mas geralmente so baseados nos provveis lucros da mulher durante semelhante perodo de trabalho. A GFE mal vista por pontos de prostituio que exigem a dedicao exclusiva de suas trabalhadoras sexuais (como, por exemplo, as termas) e, por essa razo, tais lugares geralmente cobram uma multa da prostituta para cada dia que ela falta no servio no local. Portanto, o preo da GFE com uma prostituta que trabalho em ambiente de dedicao exclusiva minimamente tem que cobrir o preo das multas por ausncia que ela vai receber.
Toda a noite

Outra modalidade muito apreciada por clientes estrangeiros o programa que dura a noite inteira. Novamente, as mulheres que praticam essa modalidade podem ser encontradas em todos os pontos da cidade. Tipicamente, o programa comea aps as 22h e vai at a manh seguinte, com vrios servios sexuais sendo praticados por preo nico durante esse perodo. Essa modalidade tipicamente custa o dobro do preo normal do programa de uma ou duas horas de durao.
Fast foda

Em todo o Rio de Janeiro, durante o perodo estudado, o preo de um programa flutuava entre R$ 1 a R$ 3 por minuto por um programa que dura entre 30 minutos e duas horas. Todavia, existe uma modalidade em que o preo quase sempre um real por minuto ou menos e que o programa dura menos que 20 minutos: o chamado fast sex ou fast foda. Os pontos que se especializam nessa modalidade encontram-se espalhadas pela cidade, mas concentram-se no Centro e na Vila Mimosa. Tambm so tipicamente considerados como pontos trash pelos clientes. tentador considerar o fast foda e particularmente a fast foda trash numa casa do Centro como o equivalente do baixo meretrcio tradicional. Todavia, existe uma srie de problemas com essa equao. Em primeiro lugar, o fast foda pode ser extremamente lucrativa. Uma informante nossa, que trabalha na casa Buraco Bueno, no Centro, reportou fazer seis programas por hora, por uma mdia de R$ 15 por programa ou seja, ela ganhou com sua labuta tanto quanto uma mulher trabalhadora nas termas de segunda categoria da Zona Sul. Essa mesma mulher reporta um ganho mensal lquido de mais de R$ 1 mil, que a situa numa categoria econmica superior a muitas call girls. Em segundo lugar, nem todos os lugares que se especializam na modalidade fast foda so trash. Muitos so to higinicos e seguros quanto a maioria das boates e termas. Finalmente, embora a modalidade fast foda exija muito mais parceiros que outras modalidades de prostituio, ela exige muito
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menos envolvimento social e/ou emocional entre a prostituta e o cliente e muitas mulheres a preferem exatamente por isto. Nas palavras de uma de nossas informantes: Prefiro trabalhar assim, pois s tenho que transar no preciso falar com o cliente.
Concluses

Obviamente, o trabalho de anlise etnogrfica da prostituio urbana no Brasil se encontra em sua infncia. Muitas das informaes apresentadas acima, portanto, tero de ser modificadas com a introduo de novos dados. Todavia, achamos que o presente artigo suficiente, pelo menos, para desnaturalizar alguns dos preconceitos mais comumente enunciados sobre o negcio do sexo em nosso pas. Gostaramos, ento, de fechar com a descrio das condies de trabalho de uma das nossas informantes, Lilia. Obviamente, com a grande variedade de servios sexuais oferecidos no Brasil e a diversidade de agentes e personalidades que atuam dentro desse setor da economia, no podemos afirmar que a experincia da Lilia seja de alguma forma ou outra mdia. No entanto, achamos que ela mais normativa, no sentido durkheimiano do termo, do que os casos trgicos de crianas exploradas e mulheres escravizadas que atualmente rondam as pginas e telas da mdia de massa no Brasil. Lilia uma mulher de 26 anos e trabalha h trs no negcio do sexo. Ela funcionria de um priv num prdio de negcios na Av. Rio Branco, onde atua com mais cinco mulheres. Lilia residente do subrbio de Campo Grande e ainda mora com seus pais, que pensam que ela secretria no Centro do Rio. Ela foi recrutada para o trabalho sexual atravs de uma amiga, a gerente do priv, que j trabalhava como prostituta. No priv onde trabalha, ela cobra R$ 50 por meia hora de sexo oral e vaginal, por cliente. Lilia opta por no fazer sexo anal, mas se quisesse, poderia cobrar R$ 20 a mais pela incluso do servio. Nossa informante paga R$ 1 mil por ms para sua amiga, a gerente do priv, mas faz, em mdia, trs programas por dia. Ela s trabalha de segunda a quarta, porm, pois est estudando num curso de turismo numa universidade particular s quintas e sextas. Seu trabalho no priv, portanto, rende para a Lilia uns R$ 800 por ms. Nos fins de semana e nos feriados, quando no est estudando, a moa costuma frequentar a discoteca Help e algumas praias em Copacabana. Ela procura clientes estrangeiros na disco e geralmente cobra R$ 250 por noite quando consegue algum (que mais ou menos 50% das vezes). Ela evita a famosa Praia das Putas e tende a procurar namoros nas praias em frente dos hotis mais famosos do Rio o Copacabana Palace, particularmente. Desses, ela geralmente no cobra para o sexo, mas alguns deles, mesmo assim, tm pago para a Girlfriend Experience.
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Uma vez, durante as frias de vero, Lilia recebeu R$ 1 mil como presente por ter acompanhado um turista ingls por cinco dias. Lilia pretende sair da prostituio num futuro prximo, ou atravs do casamento com um de seus namorados (de preferncia um estrangeiro) ou aps sua formatura e subsequente emprego como profissional de turismo. Ela j medianamente fluente em ingls e italiano, graas s suas atividades no ramo do sexo comercializado. Se a vida de Lilia boa ou no algo que s ela pode afirmar. No entanto, ela enftica que, se no fosse a prostituio, ela no teria tido chance de pagar por sua educao universitria, nem ter comprado um carro. A irm de Lilia casada e trabalha por pouco mais que um salrio mnimo como balconista numa loja de peas automobilsticas em Campo Grande e Lilia a qualifica como um grande exemplo de uma jovem que no quer nada na vida. A minha irm sempre quis se comportar, ela adverte, mas eu quero mais na minha vida. Referncias bibliogrficas
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Sexualidad, cuerpo y poder en el vaivn transnacional Mxico-Canad


Ofelia Becerril Quintana1

Introduccin La falta de una concepcin integral sobre la problemtica de las trabajadoras y los trabajadores mexicanos que emigran a Canad a travs del Programa de Trabajadores Agrcolas Temporales (PTAT), que los entienda no slo como fuerza de trabajo sino como seres humanos completos, no ha permitido entender de mejor modo los procesos de renegociacin de la sexualidad experimentados por las y los migrantes. El objetivo de esta ponencia es explorar las nuevas formas de sexualidad que unos y otras han experimentado como resultado de su experiencia migratoria en Canad. Las reflexiones se orientan al anlisis de los procesos de emergencia de una lucha social y cultural promovida por los propios migrantes centrada en la demanda del ejercicio libre de su sexualidad sin intervencin del empleador ni de las instituciones canadienses o mexicanas. Voy a mostrar como las respuestas de los migrantes mexicanos han empezado a orientarse hacia procesos de autoafirmacin como seres humanos, en una sociedad que los hace sentir que no valen, que no tienen derechos, que lo nico importante es su trabajo pero no su persona. Mientras que el creciente nmero de jornaleros mexicanos empleados en la agricultura canadiense es un hecho reconocido, no ocurre lo mismo con el anlisis de las experiencias vividas entorno a la sexualidad por las y los migrantes dentro de las comunidades rurales canadienses. Hoy en da cerca de 14 mil migrantes mexicanos son empleados en Canad en el marco del PTAT.2 Este fenmeno migratorio es de carcter legal y de empleo temporal. Los migrantes son originarios de toda la Repblica Mexicana y se dirigen hacia nueve provincias canadienses.
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El Colegio de Michoacn, Mxico. Email: [email protected]

En Canad, el PTAT se conoce como C/MSAWP (Caribbean/Mexico Seasonal Agricultural Workers Program), en el cual participan Mxico, Barbados, Jamaica, Repblica de Trinidad y Tobago, y la Organizacin de los Estados del Este Caribeo.

Esta ponencia pone el acento, por un lado, en las polticas laborales canadienses y mexicanas orientadas al control de la sexualidad de los migrantes, y por otro, en las mltiples respuestas que los migrantes han desplegado para afirmar su humanidad y dignidad como personas completas. Basado en el trabajo de campo realizado entre 2003 y 2004 en Leamington rea de mayor concentracin de migrantes mexicanos y partiendo de los estudios transnacionales y de la teora feminista, aqu argumento que los granjeros y los Estados-nacin canadiense y mexicano han establecido una serie de polticas que regulan y sancionan el trabajo, la sexualidad y la vida social de los migrantes. Sugiero que a pesar de la situacin de vulnerabilidad y de la aplicacin de mecanismos de vigilancia, encierro y sansiones, los trabajadores responden con una serie de estrategias de resistencia, con cambios en la estructura de sentimientos, con nuevas formas de sexualidad, con nuevos significados sobre el cuerpo y con discursos negociados sobre su identidad. Voy a entender por SEXUALIDAD a: un complejo cultural histricamente determinado consistente en relaciones sociales, instituciones sociales y polticas as como en concepciones del mundo, que define la identidad bsica del individuo (Lagarde 1990:169-170). Incluye desde la organizacin social del sexo a travs del matrimonio hasta la construccin cultural del sexo mediante el gnero (Guasch 1993:86). La sexualidad es construida por la cultura, el poder y el saber en sus complejas relaciones (Foucault 1982). Es una construccin social que es reprimida e incitada a la vez por la sociedad y la cultura (Vendrell 1993:262). Cada grupo social define sus propias normas en materia sexual y fija fronteras entre lo que considera moralmente aceptable y lo reputado como intolerable (Crdova 1999:47). No obstante, la sexualidad tambin es algo que se puede negociar, al mismo tiempo que se afirma y se defiende. Aqu, apenas intento explorar el tema y proponer algunos ejes de reflexin. 1. Disciplina capitalista canadiense y vigilancia productiva compulsiva El gobierno mexicano ha mantenido una poltica laboral diferenciada hacia los trabajadores migrantes y los empleadores canadienses intentando satisfacer sus res-pectivas demandas: dar empleo a los jornaleros y las jornaleras con un salario que no podran obtener en Mxico y atender el incremento de la demanda para los trabajos que no quieren desempear los canadienses pero que son esenciales para la economa de Canad. De manera semejante a otras investigaciones,3 yo encontr vulnerables condiciones de trabajo y de vida de los migrantes, as como el ejercicio limitado de sus
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Satzewich 1991; Wall 1992; Colby 1997; Smart 1998; Barrn 1999, 2000; Basok 1999, 2000, 2002, 2003; PreiSexualidad, cuerpo y poder en el vaivn transnacional Mxico-Canad Ofelia Becerril Quintana

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derechos laborales comparados con la situacin de los trabajadores canadienses y la existencia de mecanismos de control de la vida social de los migrantes temporales. Pero, cules son las implicaciones de ese control sobre la sexualidad y las relaciones de gnero? y cules son las respuestas de los migrantes a dicho control? El contrato de empleo firmado entre el granjero, el trabajador mexicano y el representante del gobierno mexicano es la base para el establecimiento de diversas reglas que regulan y sancionan el comportamiento, la movilidad laboral y la sexualidad de las y los migrantes. En los circuitos transnacionales agro-industriales de Canad como Leamington, Simcoe y Niagara las granjas han asumido no slo la direccin y la organizacin de la produccin agro-industrial sino que se han convertido en una instancia de control de todos los aspectos de la vida social de los migrantes mexicanos: el trabajo, la vivienda, la salud, el transporte y la sexualidad. Cada uno de los granjeros redefine sus propias reglas de conducta, seguridad, disciplina y mantenimiento de la vivienda que debe observar el trabajador. Estas reglas son aplicadas rigurosa y cotidianamente en la granja y en la vivienda, propiedad del empleador, donde laboran y viven los trabajadores. Esto sucede as por el tipo de contrato, pero tambin porque el lugar donde viven los trabajadores con frecuencia se ubica a una corta distancia de la casa y la granja, y porque los granjeros piensan que los trabajadores mexicanos slo estn en Canad para trabajar; por ello, controlan la entrada de visitas y frente a cualquier intento de interaccin social fuera de la granja sancionan severamente a los trabajadores. La vigilancia de los niveles del rendimiento productivo y del trabajo intensivo por parte de los empleadores canadienses, consensuada por las instituciones que administran el programa, ha sido el resultado de un proceso continuo de aplicacin de diversos mecanismos: el sistema de nombramiento, la deportacin inmediata, el sistema flexible del trabajo y la competencia tnica. La vigilancia compulsiva de la productividad y la sobrexplotacin son una necesidad permanente para los granjeros, y es puesta en marcha a travs del mayordomo (capataz) en situaciones ordinarias como lo narra una trabajadora: Aqu los patrones son muy listos, ven que un grupo avanza ms que el otro, entonces entre ms trabajes, ms te exigen. La vigilancia tambin est presente en situaciones extraordinarias, por ejemplo, en las huelgas laborales organizadas por los trabajadores mexicanos en las empresas ms grandes de vegetales de invernadero de Canad, que son sancionadas con la deportacin, la desmovilizacin o la baja del programa.

bisch 2000, 2004; Mellado 2000; Vanegas 2000, 2003ab; Sharma 2000, 2001, 2002; Bauder y Corbin 2002; Bauder, Preibisch, Sutherland y Nash 2003; Binford 2002, 2006; Verduzco y Lozano 2004; UFCW 2001, 2002; Comisin para la Cooperacin Laboral 2002; Encalada 2003; Pickard 2003; Verma 2004. 236
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2. Polticas restrictivas de la sexualidad Las polticas laborales canadienses incluyen el control del ejercicio de su sexualidad en todos los espacios de su sociabilidad. En Leamington hay aproximadamente 3,900 trabajadores y 100 trabajadoras. Los espacios de mayor sociabilidad de los trabajadores tienden a estar fuera de la granja, por ejemplo, en los campos de ftbol donde juegan los domingos, en los bares a los que asisten los fines de semana, en los caminos rurales por los que transitan con sus bicicletas. En cambio las trabajadoras tienden a estar ms tiempo en el lugar de residencia. En aquellas granjas donde se emplean a jornaleros de ambos sexos, una casa est destinada para los hombres y otra para las mujeres; en estas granjas se da una mayor interaccin social entre unos y otras pero tambin se incrementa la vigilancia de su comportamiento sexual. La vigilancia se puede dar a travs de las visitas sin previo aviso por el empleador, la esposa o el mayordomo a la vivienda de los trabajadores, adems de la regulacin de horarios en los que se pueden tener los encuentros amorosos y la prohibicin de que los trabajadores se queden a dormir en la casa de las trabajadoras. De las granjas al centro del pueblo de Leamington,4 la mayor parte de los trabajadores son trasladados, los jueves o viernes por la tarde, en un transporte del empleador para realizar sus compras de comida, para enviar dinero a sus familias y hacer trmites del pago de impuestos al gobierno de Canad. La mayora de los migrantes tiene poco tiempo para socializar pues el empleador les dan slo dos o tres horas para hacer sus compras. En este corto tiempo, ellos y ellas entablan relaciones de amistad o relaciones amorosas con jornaleros y jornaleras de otras granjas. Tambin los trabajadores mexicanos intentan relacionarse con las mujeres locales, particularmente con las mujeres menonitas. Otro espacio de sociabilidad son los restaurantes mexicanos. Sin embargo, el proceso de mayor interaccin entre los trabajadores mexicanos se da en los bares. Es en los bares como Mexicana Taquera, Mexican Paradise y La Molisana donde se puede observar ms de cerca las relaciones amistosas o amorosas entre las y los migrantes mexicanos. En estos bares es donde bailan y toman los muchos trabajadores y las pocas trabajadoras que ah se dan cita. El baile es para unos y otras una especie de refugio que les permite liberar sus emociones y experimentar sus placeres a travs de la expresin del cuerpo, al mismo tiempo que intentan sostener relaciones sexuales, aunque tambin sean temporales.

La mayora de las granjas estn ubicadas a una distancia de entre 7 y 20 kilmetros de los centros urbanos de las comunidades, incluso hay quienes estn a una distancia de 150 kilmetros de cualquier pueblo (Verduzco y Lozano 2004: 91).
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3. Ejercicio de la sexualidad versus control del comportamiento sexual Los empleadores y el gobierno canadiense demandan a un trabajador agrcola migrante ideal: aqul que sabe desempear el cultivo especfico para el cual se est demandando su trabajo, aqul que est slo temporalmente en Canad, aqul que no da lata exigiendo sus derechos laborales y humanos, y aqul que se abstiene de tener relaciones sexuales con residentes canadienses. La sexualidad de los migrantes mexicanos est sujeta a normatividades que regulan su comportamiento. En el estudio de Roy Russell (2004:103) se expresa con claridad la preocupacin de las polticas canadienses por el control y la regulacin de la sexualidad entre los migrantes temporales y las mujeres residentes: Los trabajadores migrantes en general, y los jamaiquinos en particular, deberan haber mostrado respeto a la cultura canadiense y resistir la tentacin de entablar relaciones sexuales con las mujeres de las comunidades anfitrionas5. La poltica de control de la sexualidad de los migrantes mexicanos y caribeos tambin ha sido documentado por Preibisch (2004:99-100), quien sugiere que justo es la poltica sexual del gobierno canadiense articulada con la poltica econmica de los empleadores sobre la bsqueda del incremento en el rendimiento productivo de la mano de obra migrante, lo que explica el proceso paulatino de reemplazo, desde finales de 1980, de los trabajadores caribeos por los trabajadores mexicanos, as como el incremento inusitado en el empleo de trabajadores mexicanos a partir de 1990. Por mi parte, mi investigacin document las percepciones y los sentimientos de amenaza experimentados por las comunidades residentes. La mayora de los residentes locales ven a los trabajadores migrantes temporales como una amenaza, no slo de invasin de su territorio, su empleo, sus mujeres y sus formas de vida. Algunos residentes reportaban durante las entrevistas su malestar por la presencia de los migrantes mexicanos. Un residente de Leamington a quien entrevist deca: Es mejor que lleguen a trabajar en paquete y que se vayan a su pas en paquete. Otros residentes se referan a la presencia de los migrantes mexicanos como una causa potencial de disturbios debido, sobre todo, a la competencia tnica laboral entre trabajadores temporales y trabajadores locales. Algunos sacerdotes catlicos inculcaban prcticas de abstinencia sexual. La aplicacin de diversas sanciones para quienes no cumplan con las reglas de comportamiento sexual era cotidiana, los castigos podan ir desde la
La postura de Roy Rusell respecto de la sexualidad de los migrantes mexicanos y jamaiquinos es contradictoria, no slo por el hecho de que se esperara que el reporte del Instituto Norte-Sur fuese un apoyo a los derechos de los migrantes, sino porque sugiere que para lograr una mayor interaccin entre trabajadores migrantes y comunidad residente, los migrantes deben abstenerse de tener relaciones sexuales con las mujeres canadienses, lo cual sera una clara violacin a los derechos de los trabajadores migrantes (Rusell 2004:103).
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sancin moral y pblica en la iglesia catlica, hasta la prohibicin de encuentros entre trabajadoras y trabajadores, la deportacin inmediata, la no contratacin para la siguiente temporada o la baja definitiva del programa. 4. Resistencia cultural y nuevas formas de sexualidad Pero cmo reconstruyen lo que es y lo que significa la sexualidad los propios migrantes mexicanos? y hasta dnde ellos plantean diversas estrategias de resistencia frente a las polticas disciplinarias canadienses de la sexualidad? Mi propuesta es que la vigilancia y la resistencia van juntas. Al mismo tiempo que la disciplina capitalista canadiense se pone en marcha, los trabajadores mexicanos responden con mltiples acciones de indisciplina, por ejemplo, algunos trabajadores y trabajadoras han tenido relaciones sexuales dentro de la vivienda propiedad del empleador contraviniendo las reglas que as lo prohben. Las y los migrantes reconstruyen cotidianamente los significados de su sexualidad y de su cuerpo viviendo temporalmente en dos Estados-nacin. La sexualidad est firmemente articulada a un sistema de gnero, de parentesco, de raza/etnia y de estatus legal, los cuales clasifican a los sujetos en categoras con determinados atributos y conductas, adems de ordenar y regular el tipo de relaciones que pueden establecer entre s. Son mltiples las respuestas de los trabajadores mexicanos frente a los mecanismos de control y vigilancia que intentan limitar el ejercicio de su sexualidad. Si bien hay quienes renuncian al ejercicio de su sexualidad, ms mujeres que hombres -debido al peso de la cultura machista pero tambin por el riesgo de quedar embarazadastambin hay quienes ven la experiencia de trabajo y de vida en Canad como una oportunidad para experimentar su sexualidad de un modo distinto al ya vivido en sus comunidades de origen en Mxico. Durante su trabajo y su vida en las comunidades canadienses, la mayora de las y los trabajadores han tenido relaciones amorosas, incluso hay quienes han formado transitoriamente una nueva pareja. En Leamington, los trabajadores mexicanos han creado un cdigo masculino para expresar su necesidad de contacto corporal: el abrazo y el beso de los migrantes hacia las migrantes; con lo cual intentan dar por hecho de que al estar en Leamington todas las trabajadoras mexicanas deben aceptar no solo su abrazo y su beso sino tambin su propuesta de tener relaciones sexuales. Durante mi trabajo de campo, yo encontr que para la mayora de los trabajadores mexicanos, Leamington se haba convertido en un espacio de reafirmacin de su masculinidad. Estando en Canad, la sexualidad ha cobrado mayor importancia en la autodefinicin de los migrantes mexicanos, porque es donde tienen mayor necesidad de afirmacin como seres humanos, con lo nico que tienen: su cuerpo. Las respuestas
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de los migrantes parecieran delinear un proceso de autoafirmacin de su feminidad o su masculinidad en un lugar donde los hacen sentir que no valen, que no tienen derechos, que lo nico que importa es su trabajo y no su persona. El proceso autovaloracin como seres humanos es desigual para las jornaleras y los jornaleros. Si bien en ambos casos, el trabajo y la vida temporal en Canad han dado como resultado hombres y mujeres solitarias/os. A diferencia de las trabajadoras, los trabajadores se llevan de la cultura mexicana el privilegio de una mayor permisividad para ejercer su sexualidad. La mayora de los trabajadores reproducen en Leamington una cultura machista del poder masculino al tratar de forzar las relaciones sexuales. La narracin de una trabajadora es muy clara al referir el abuso de poder expresado a travs del hostigamiento sexual de parte de algunos trabajadores.
Hay veces que se encuentra uno con cada compaerito, que le hace a uno ver su suerte... En la farma en que estaba antes dure cinco temporadas [con contrato] de cuatro meses y medio, todas esas temporadas yo sufr muchsimo, porque ramos slo tres mujeres y haba nueve hombres, esos hombres nos hicieron la vida imposible. Hay hombres que se quieren pasar de listos y hasta la quieren a uno violar que la humillan a uno, nada ms por ser mujer. ramos tres y a las tres nos hostigaban todo el tiempo.

El baile y la fiesta tambin son formas de resistencia, para quienes slo quieren ver a los migrantes mexicanos como mquinas de trabajo. El baile les permite liberar sus sentimientos de soledad, recordar su pertenencia a la cultura mexicana y autofirmarse como seres humanos completos. El eje bar-prostitucin en Leamington es un mbito donde los trabajadores mexicanos buscan satisfacer sus necesidades sexuales, y sobre todo, crear un espacio de reafirmacin de la masculinidad. Algunos jvenes mexicanos han tenido relaciones sexuales con algunas jvenes menonitas residentes en Leamington. Debido a que esta situacin se ha venido incrementando, en el verano de 2004, algunas familias menonitas protestaron en contra del comportamiento sexual de los migrantes mexicanos porque sus hijas haban quedado embarazadas sin que se hicieran responsables los trabajadores mexicanos. Las y los mexicanos han desarrollado nuevas formas de sexualidad que cruzan las fronteras de raza (mexicanos con menonitas), de clase (trabajadoras agrcolas mexicanas con empresarios canadienses), de nacionalidad (mexicanos con estatus legal no pleno con residentes o ciudadanas canadienses), y de gnero (entre hombres y mujeres, entre hombres y entre mujeres). Se trata de nuevas formas de sexualidad que se expresan en espacios transnacionales y que estn reconfigurando identidades transnacionales.

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5. Sexualidad, cuerpo y poder en el vaivn transnacional Si entendemos a las y los trabajadores migrantes mexicanos en Canad como agentes culturales viviendo por perodos tanto en la cultura mexicana como en la cultura canadiense, y concebimos la transnacionalidad desde abajo, podemos comprender a los migrantes temporales como sujetos sexualizados en proceso continuo de reconstitucin. Para muchos migrantes las nuevas formas de sexualidad incluyen el reclamo poltico del ejercicio de la sexualidad, pero ese reclamo poltico es distinto si se trata de la trabajadora migrante temporal o del empresario ciudadano canadiense. Una jornalera mexicana y un granjero de una de las grandes empresas de la regin de Niagara sostuvieron relaciones sexuales durante tres temporadas laborales, al parecer todo se haba mantenido en secreto, hasta el verano del 2003. Un da, la esposa del empleador lo estaba buscando en la granja, los trabajadores le dijeron que el patrn se encontraba en la vivienda de las trabajadoras. La esposa fue hacia la vivienda y encontr a su esposo y a la trabajadora teniendo relaciones sexuales. La esposa, furiosa, llam al Consulado Mexicano en Toronto y la trabajadora fue deportada de inmediato a Mxico; unos das despus, el empresario se suicid. Este caso suscit un gran escndalo tanto en Canad como en Mxico. La trabajadora fue castigada dndosele de baja del programa. A m me sorprendi el suicidio del empleador pero tambin la violacin de los derechos humanos y laborales de la trabajadora mexicana. Esto es un ejemplo claro del control poltico de la sexualidad, particularmente de la sexualidad femenina pues los empleadores, el gobierno mexicano y el gobierno canadiense no actuaron del mismo modo, por ejemplo, con los trabajadores mexicanos que dejaron embarazadas a las mujeres menonitas en Leamington. Por otra parte, tambin algunos empleadores han reportado al Consulado Mexicano a algunos trabajadores por hostigamiento sexual a sus hijas o a sus esposas. Algunos trabajadores fueron reprendidos por el Consulado, otros migrantes fueron repatriados a Mxico o transferidos a otra granja para la siguiente temporada, pero no hubo ningn caso en el cual el trabajador se diera de baja del programa. En la mayora de los casos, se sanciona ms a mujeres que a hombres. Durante el verano de 2004, en una empresa de Niagara donde se empleaban a trabajadoras y trabajadores mexicanos, hubo un conflicto entre dos grupos de trabajadoras debido a que algunos migrantes tenan relaciones sexuales y se quedaban a dormir en la vivienda de las mujeres. Haba trabajadoras para quienes representaba un conflicto vivir en el mismo espacio con los hombres y con la dinmica sexual que se generaba en la vivienda, donde las camas eran literas. Las jornaleras inconformes protestaron ante el empleador y el Consulado Mexicano, quienes les dijeron: ustedes deben
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resolver esa situacin porque de lo contrario no se emplear ms a las mujeres en esta granja. En otra empresa, inclusive se colocaron cmaras de video en los dormitorios para grabar los momentos de reunin sexual entre las y los trabajadores. Aquellos jornaleros y jornaleras que fueron sorprendidos teniendo relaciones sexuales fueron deportados de inmediato a Mxico. Si bien los propietarios de la vivienda son los granjeros, la puesta de cmaras de video para vigilar el ejercicio de la sexualidad de los migrantes temporales es una clara violacin a sus derechos humanos. En Leamington, en una de las empresas ms grandes de vegetales de invernadero, se saba que eran comunes las relaciones sexuales entre las y los migrantes mexicanos, por ello, al final de la temporada de 2002, el empleador en coordinacin con el Consulado Mexicano les practic la prueba de embarazo a las trabajadoras, encontrndose que de 60 jornaleras 30 estaban embarazadas. Las trabajadoras que resultaron embarazadas no fueron empleadas en la siguiente temporada ni en esta granja ni en ninguna otra del programa. En dicha empresa, para el 2003, solamente se emplearon a 30 mujeres mientras que se emple el mismo nmero de trabajadores que tuvieron relaciones sexuales con las mujeres que quedaron embarazadas. Muchos de estos problemas se relacionan con las caractersticas del PTAT, el cual impone reglas de conducta a las y los migrantes mexicanos. No obstante, tambin hay abusos de parte de los empleadores as como discriminacin y racismo dentro de las comunidades rurales que no tienen ver con el programa sino con la estructura de la sociedad canadiense. En Canad, la vida social de los migrantes mexicanos se desarrolla en mltiples escenarios donde las esferas de la produccin y de la reproduccin estn estrechamente articuladas. Los migrantes mexicanos viven en las viviendas propiedad de los empleadores, adems la vivienda y la empresa estn en el mismo lugar, por ello hay una permanente intromisin gubernamental mexicana y canadiense para regular las relaciones laborales y extralaborales, lo cual hace que toda la vida social de los migrantes mexicanos est articulada a la relacin laboral y al acuerdo bilateral Mxico-Canad; quizs por eso, la lucha de los migrantes mexicanos en Canad se caracterice por ser una lucha social y cultural6 y no slo una lucha laboral (de clase).

Entiendo por lucha cultural a las prcticas, las experiencias y los significados formados, contestados y defendidos en diferentes dominios de las relaciones de poder, individual o colectivamente, por las y los trabajadores migrantes mexicanos en contra de diversos modos de sobre-explotacin, control, exclusin, discriminacin y racismo ejercidos en las granjas y en las comunidades rurales canadienses.
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6. Luchas culturales y reconfiguracin de la identidad transnacional Diversas luchas culturales han venido emergiendo como resultado de los procesos sociales generados a partir del trabajo y la vida transnacional de los trabajadores migrantes mexicanos en Canad. As, lo que la sexualidad es y significa y lo que el cuerpo es y significa son parte de la misma lucha cultural. Las polticas del cuerpo y la sexualidad, los instrumentos de conocimientopoder que son impuestos a los migrantes mexicanos se expresan en regmenes de sentimientos, generan percepciones dominantes de lo que la sexualidad es. Estas nociones son tambin entendidas en la articulacin de los conocimientos prcticos y de los discursos alternativos sobre la sexualidad, donde amar dentro de la vivienda del granjero, bailar en los bares o en los centros de baile, caminar por los campos de cultivo y las calles del centro de Leamington, rezar y formar relaciones de pareja en la iglesia catlica, tener relaciones sexuales con mujeres menonitas o con el empleador llegan a ser formas de contienda de los y las trabajadoras migrantes mexicanas en una cultura como la canadiense y en el marco poltico del PTAT. Los significados que los jornaleros mexicanos despliegan acerca de lo que es y significa su cuerpo y su sexualidad tienen lugar en el conocimiento prctico. Despus de su jornada laboral, algunos trabajadores escriben poemas o canciones, otros forman grupos musicales para la iglesia o los bares. Un ejemplo de la expresin artstica y de la forma de contestacin a las nociones hegemnicas del cuerpo y de la sexualidad es el poema de un trabajador mexicano:
Que maravilloso es entregarse en cuerpo y alma, cuando se tiene el amor en nuestras almas. Es donde los cuerpos se atraen como imanes con una fuerza indescriptible[,] que insta a perderse en el mundo del amor y el placer. Es donde se desatan las fuerzas de nuestros sentimientos con gran pasin. !!Es ah donde el amor reclama su presencia!! Es donde el xtasis inunda nuestros cuerpos unidos como un monumento a la dicha y al amor... Es donde slo cuenta la esencialidad profunda de nuestros sentimientos, que se conjugan en s, como una llama que nos quema. Es donde se disfruta ese agradable calor que abrasa nuestro ser y se exhala la humedad de nuestros cuerpos que se aman con locura. !Es una delicia hacer el amor contigo! Pues al solo contacto de tu piel, todas las fibras de mi ser se escandalizan[,] deseosas de recibir tus caricias concluir el sentimiento ms profundo que existe entre un hombre y una mujer: el amor! (poema de un trabajador mexicano, Sentimientos de amor!, escrito en Leamington, 2003).

La contienda por el libre ejercicio de la sexualidad tiene lugar dentro de los dominios de las granjas y de las comunidades rurales canadienses. La disputa por las prcticas y los significados acerca del cuerpo y la sexualidad tambin tienen lugar en los espacios de mayor sociabilidad como la iglesia, los centros comerciales, las
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agencias de envos de remesas, la agencia de declaracin de impuestos canadienses, los restaurantes, los bares, los centros de baile, las calles principales del pueblo y los espacios de las organizaciones sociales y comunitarias. La contienda por la recuperacin de la identidad como seres humanos completos tiene lugar en las luchas culturales. Para los y las trabajadoras mexicanas, el hecho de ser migrantes temporales en Canad les ha implicado cambios y/o continuidades en la estructura de sentimientos, en las actitudes, en los conocimientos prcticos entre una generacin y otra, entre un gnero y otro, entre un grupo tnico y otro. La lucha de clases articulada con las luchas culturales son promovidas por los trabajadores mexicanos para enfrentar el trabajo y la vida tanto en Canad como en Mxico como nos dice una trabajadora con ms de 13 aos de trayectoria laboral en el programa, quien se encuentra en el vaivn transnacional de ser trabajadora domstica en Mxico y ser jornalera migrante en Canad.
Las anteriores temporadas siempre fueron de cuatro o de cinco meses, desde hace tres aos que estoy en esta farma los contratos han sido de ocho meses. Estuve en Simcoe y en Niagara. Cuando yo regreso a Mxico, como no puedo tener un trabajo fijo [debe rendir informes y acudir a citas en la STPS], trabajo en una casa de sirvienta, echando una mano en una cocina, de lavar y planchar ropa ajena o vender cualquier cosa.

Las luchas culturales emergentes estn reconfigurando las relaciones y los significados acerca de la sexualidad y el cuerpo, las relaciones de gnero, las identidades masculinas y femeninas simultneamente en Mxico y en Canad. En Mxico, las esposas de los trabajadores migrantes se quedan a cargo de la familia y de la crianza de los hijos, de la organizacin del trabajo en la parcela del cultivo -en caso de tenerla-. Hay esposas que no han aguantado ms las prolongadas ausencias del esposo; es frecuente que algunas esposas les digan: T dijiste que slo te ibas a ir a trabajar [a Canad] por tres aos y ya llevas quince aos, ya no te vayas por que para la prxima vez, ya no me vas a encontrar; hay quienes han dejado al esposo para casarse o juntarse con otro hombre y reconstruir su familia y su vida. La respuesta de algunos trabajadores es formando una nueva pareja en Mxico o en Canad. Conclusiones Los hallazgos empricos de mi investigacin me permite decir que los trabajadores y las trabajadoras han desarrollado nuevas formas de sexualidad como resultado de su experiencia migratoria en Canad. Esto ha sucedido a pesar de las polticas restrictivas laborales y de las normas de control de la sexualidad instru244
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mentadas en las empresas y las comunidades canadienses. Frente a la disciplina capitalista canadiense se han generado mltiples respuestas de parte de los jornaleros y las jornaleras mediante luchas cotidianas orientadas a recuperar su identidad y su dignidad como seres humanos completos, con capacidad de agencia para contender cotidianamente la construccin real y simblica de lo que es y lo que significa la sexualidad. Las nuevas formas de sexualidad de los migrantes cruzan las fronteras de etnia, de clase y de nacionalidad. La sexualidad es un concepto en contienda donde amar dentro de la vivienda propiedad del granjero, bailar en los bares hechos para anglosajones, tener relaciones amorosas con mujeres menonitas o con el empleador son formas de contienda de los trabajadores mexicanos. La lucha se centra en la demanda por el ejercicio libre de la sexualidad sin intervencin del empleador ni de las instituciones canadienses o mexicanas. La sexualidad ocupa un lugar fundamental en la lucha cultural de los migrantes mexicanos. Es una lucha por los smbolos y los significados desarrollados entre formas de sexualidad socialmente impuestas y modos de sexualidad alternativos. Las experiencias vividas en torno a la sexualidad son ampliamente experimentadas por los jornaleros y las jornaleras durante su trabajo y su vida en Canad. Algunas mujeres se involucran en relaciones sexuales como una forma de resistencia al control ejercido sobre sus cuerpos de parte de los granjeros, pero tambin otras mujeres se rehsan a tener sexo como una forma de resistencia hacia el acoso sexual de los migrantes mexicanos. Ambas tendencias pueden ser entendidas como estrategias de las propias mujeres para experimentar su sexualidad libremente frente a la ideologa, los significados, los valores y el sistema de creencias propagados por la clase y el gnero dominantes en ambos Estadosnacin. Referencias bibliogrficas
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Migrao e sexualidade: do Brasil Europa


Adriana Piscitelli1

A tarefa que me foi encomendada foi falar sobre migrao e sexualidade nos fluxos migratrios entre Brasil e Europa. Fiquei em dvida sobre qual seria o melhor recorte para falar sobre o tema, contribuindo na reflexo sobre visibilidades e vazios na relao entre sexualidade e economia. No debate pblico, o aspecto que tem mais visibilidade certamente a prostituio, quase indissociavelmente vinculada ao trfico internacional de pessoas e englobada por essa problemtica. Porm, aps ter lido o texto panormico preparado para esta sesso por Ana Paula da Silva e Thaddeus Blanchette, optei por centrar-me nos fluxos de brasileiras que viajam para trabalhar na indstria do sexo na Espanha, porque esse recorte possibilita considerar alguns dos pontos que eles levantam, a partir de outro contexto. O texto panormico est organizado em torno da racionalidade econmica vigente na prostituio, levando em conta a perspectiva das trabalhadoras sexuais e a dinmica da indstria do sexo. Sigo aqui essas linhas para tratar de trs pontos: 1) os aspectos envolvidos na opo para migrar com o objetivo de oferecer servios sexuais no exterior; 2) a lgica e a dinmica da indstria do sexo espanhola; e 3) como a estruturao dessa indstria afeta as condies de trabalho das brasileiras no exterior. O principal material que tomo como referncia foi colhido ao longo de sete meses de um trabalho de campo, realizado em uma abordagem antropolgica, em diferentes momentos entre novembro de 2004 e abril de 2009, em Barcelona, Madri, Bilbao e Granada2, sobre os aspectos econmicos, polticos e culturais vin1 2

Ncleo de Estudos de Gnero PAGU, Universidade Federal de Campinas (UNICAMP).

Ele incluiu observao em espaos destinados oferta desses servios na rua, apartamentos e clubes e entrevistas em profundidade com 14 mulheres e cinco transgneros brasileiras que tm oferecido servios sexuais nessas cidades; com duas brasileiras integradas nas redes de relaes dessas entrevistadas, mas que no prestam servios sexuais; e com cinco clientes espanhis. Essas entrevistas foram realizadas em espaos nos quais se oferecem servios sexuais e, em momentos de lazer das pessoas entrevistadas, em cafs e bares, e em suas casas. A maior parte delas foi registrada em gravador, com o consentimento das entrevistadas. O trabalho de campo envolveu tambm entrevistas informais com quatro proprietrios de estabelecimentos destinados prostituio e entrevistas em profundidade com 28 agentes vinculados a entidades de apoio a migrantes e/ou a trabalhadoras/as do sexo, como representante legal da Asociacin Nacional de Clubs de Alterne (ANELA), en Barcelona, funcionrios dos Consulados do Brasil em Barcelona e Madri e a Comisara de Extranjera. A pesquisa incluiu a anlise de fontes e material secundrio, dados estatsticos sobre

culados a esse tipo de deslocamentos. Essa pesquisa podia ter sido realizada em qualquer outro pas europeu. Mas, quando comecei a trabalhar com esse tema, a Espanha era considerada um dos principais espaos de trfico sexual de brasileiras e essa era uma questo que me interessava elucidar. Durante a realizao da pesquisa, contatei organizaes vinculadas ao combate ao trfico de pessoas e visitei abrigos para mulheres retiradas de situaes de escravido e trabalhos forados em diferentes cidades. Nessas visitas, no encontrei nenhuma brasileira, embora tenha ouvido relatos sobre a passagem de algumas pelos abrigos. Mas, essa no era a realidade das minhas entrevistadas, nenhuma das quais considera ter estado em situao de trfico, embora vrias viajassem Espanha contraindo dvidas. Como complemento, utilizo material colhido em outras pesquisas que levantaram material sobre brasileiras que trabalharam na indstria do sexo em diversos pases europeus e que retornaram ao Brasil como deportadas e no admitidas, atravs do aeroporto de Guarulhos, em So Paulo (Piscitelli, 2008; Secretaria Nacional de Justia 2006; 2007). 1. Precisar ou querer? A relao entre precisar e querer trabalhar como prostituta, delineada por Thaddeus Blanchette e Ana Paula Silva, sintetiza as principais ideias vigentes no debate sobre a motivao das prostitutas, particularmente no setor de resgate, tambm na Espanha. No debate pblico desse pas, a ideia de precisar se funde com outra, a de que, em funo da necessidade, as migrantes so foradas a trabalhar na prostituio. A relao que minhas entrevistadas estabelecem entre esses termos diferente. Em seus relatos, precisar remete s desigualdades estruturais entre classes sociais e entre as naes do Norte e do Sul e algo que atinge muita gente. Entretanto, o que as singulariza o esforo investido para sair dessa situao. Assim, nas histrias de suas trajetrias, o termo precisar sempre vinculado tambm ideia de querer, vinculada aos seus projetos de mobilidade social, atravs de migrao para trabalhar na indstria do sexo. Nos termos delas: vim porque quis; fao programas porque quero. Compreender essas trajetrias requer levar em conta alguns aspectos. Em primeiro lugar, esses deslocamentos conformam uma modalidade de migrao laboral. Em alguma das tantas reunies com setores do governo brasileiro das quais participei sobre estes temas, um representante do Ministrio da Sade observou que a prostituio no pode ser associada migrao. Segundo ele, a migrao
migrao, pesquisas acadmicas e relatrios sobre prostituio, material da mdia, particularmente do jornal El Pas, e de um site espanhol destinado a clientes de prostitutas. 248
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envolve um projeto a mdio ou longo prazo, mas as prostitutas circulam porque o deslocamento faz parte da natureza desse trabalho. Embora a circulao seja uma caracterstica de certos setores do trabalho sexual, os deslocamentos internacionais para desempenhar esse trabalho fazem parte de um projeto migratrio. Nesse sentido, vale lembrar as observaes de Laura Agustn sobre como as ideias engessadas relativas migrao laboral dificultam a incluso, nessa categoria, dos trabalhadores incorporados no mercado informal de trabalho, e mais ainda quando se trata do trabalho na indstria do sexo (Agustn, 2007). Em segundo lugar, necessrio observar que o perfil socioeconmico dessas entrevistadas coincide com o de parte importante dos brasileiros que migram aos pases do Norte, que no remete aos estratos mais pobres da populao. No debate pblico, as brasileiras que trabalham na indstria do sexo na Europa tendem a serem imaginadas como em situao de vulnerabilidade, isto , muito jovens e pobres, negras, com baixssima escolaridade, originrias dos estados mais carentes, sem um histrico de trabalho na indstria do sexo e com filhos, expostas a enganos pelas redes de trfico na tentativa de sustent-los. Mas o perfil dessas entrevistadas no corresponde a essas ideias. Ao sair do pas, a maior parte delas integrava os setores baixos dos estratos mdios. Apenas duas faziam parte de classes sociais inferiores. Algumas esto na casa dos 20 anos, outras dos 30 anos e algumas chegaram ao pas com mais de 40 anos. Para essas ltimas, a idade, considerada avanada no Brasil, estava tornando-se um empecilho para ganhar dinheiro mediante a oferta de servios sexuais, um problema que driblaram com a migrao. A escolaridade dessas mulheres no elevada, apenas uma ingressou na universidade, mas, na maioria dos casos, supera a mdia de anos de estudo dos brasileiros3. Elas nasceram em estados pobres no CentroOeste4 e no Nordeste5, mas tambm nas regies consideradas ricas, no Sudeste e no Sul6 do Brasil, e s duas deixaram filhos no pas. Em termos das classificaes raciais vigentes no Brasil, a maioria se considera branca, apenas duas se percebem como mulatas ou morenas. A presena de mulheres que se consideram mais claras faz sentido, considerando a lgica de organizao dos nichos de prostituio ocupados pelas brasileiras na Espanha, onde h uma procura pela diversidade tnica e, ao mesmo tempo, uma aberta rejeio s mulheres negras. Em terceiro lugar, nesse universo de entrevistadas, todas tinham trabalhado na indstria do sexo no Brasil. Esse ponto no generalizvel. Nas pesquisas realizadas
De acordo com pesquisas baseadas em dados do IBGE (2007), em 2007, a mdia de anos de estudo da populao em idade ativa era 7,3.
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Minas Gerais e Goinia. Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte. Rio Grande do Sul e So Paulo.
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no aeroporto, umas poucas entrevistadas, mulheres e travestis afirmaram nunca ter trabalhado na prostituio no Brasil, mas viajaram Europa com o objetivo de faz-lo (Secretaria Nacional de Justia, 2006). Entretanto, o conjunto do material conduz a problematizar a ideia de que as brasileiras que oferecem servios sexuais na Europa no trabalhavam nesse setor de atividade no Brasil. Nas trajetrias das minhas entrevistadas, a prostituio foi a alternativa mais rentvel no leque de opes de trabalho disponveis para elas no Brasil. Elas iniciaram suas carreiras laborais em diferentes setores de atividade, no mercado formal ou informal. Foram babs, operrias, arrumadeiras de hotel, garonetes, professoras, vendedoras, secretrias, at micro-empresrias. Elas consideravam no ganhar dinheiro suficiente e compensador, em termos dos esforos realizados, motivo pelo qual ingressaram na indstria do sexo. Algumas trabalharam na prostituio de maneira intermitente. Em alguns casos, fizeram programas7 durante breves perodos, com brasileiros e estrangeiros, no Rio de Janeiro, e no universo frouxamente organizado do turismo sexual no Nordeste do Brasil. Outras, profissionais, sobreviveram exclusivamente da realizao de programas por um perodo de vrios anos, antes de migrarem para Europa. A maior parte das entrevistadas migrou com o objetivo de oferecer servios sexuais. Apenas uma delas saiu para trabalhar no servio domstico e optou por mudar o tipo de trabalho, avaliando que obteria rendimentos superiores na indstria do sexo. Nos relatos, a prostituio aparece como a melhor possibilidade no exterior, uma vez que pode render quatro ou cinco vezes mais que os empregos abertos aos migrantes, sujeitos a graus extremos de explorao8. Nesse cenrio, as entrevistadas sublinham as vantagens oferecidas pela prostituio, em termos de rendimentos e de liberdade de decidir sobre o tempo investido no trabalho:
Se eu for trabalhar aqui em outra coisa... Vai sobrar o que para mim? Limpar cho... Eu nunca fiz isso na minha vida, ento no entra na minha cabea eu trabalhar de faxineira aqui... Ganha muito pouco. O problema esse. Se ganhasse bem eu at varria a rua... mas trabalhar e ganhar 800, 900 euros? No. Eu gosto de trabalhar na prostituio. H pessoas que dizem que um dinheiro fcil. No que um dinheiro fcil. Mas, voc tem mais oportunidade de conseguir mais dinheiro. Se voc quer mais dinheiro, voc trabalha mais horas. Nossa vantagem que voc livre. Voc faz o que voc quer9!

Apenas uma das entrevistadas retornou ao Brasil quando expirou seu visto
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Termo mico que alude prostituio.

Em 2004, um espanhol com baixo nvel de escolaridade ou um migrante legal no setor de servios, em Barcelona, recebia entre 6 e 8 euros por hora, enquanto um migrante irregular (independentemente de seu grau de escolaridade) recebia aproximadamente a metade (Juncks, 2004).
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Entrevista realizada em Barcelona, dezembro de 2004.


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de turista, com a inteno de no retornar Espanha. Mas, a comparao entre a dinmica do mercado do sexo e os ingressos dele derivados em sua cidade natal, no Nordeste do Brasil, e em Bilbao, onde tinha oferecido servios sexuais, a fez decidir retornar Espanha:
Comecei a olhar... o que voc ganhava aqui e l, e eu disse, no vale a pena [ficar no Brasil]... Um programa com um gringo voc cobrava R$ 100 [US$ 50], com brasileiro de R$ 30 a 40... E no Brasil voc est toda a noite com um homem e aqui 20 minutos... Se voc est com uma pessoa que voc no gosta, um velho barrigudo, passar a noite com esse homem vai ser um terror... E com vrios homens no, voc v um mais bonito, um mais simptico, um mais bruto, vai mudando... O que cansa saber que voc vai ter que passar uma noite com um homem por R$ 100, que o mximo, sabendo que aqui numa noite voc pode ganhar R$ 3 mil, quase R$ 4 mil, se voc botar na cabea, estou aqui para trabalhar e pronto10.

Independentemente da idade, da situao econmica da qual partiram e do nvel de escolaridade atingido, elas decidiram migrar para trabalhar na indstria do sexo com uma forte percepo das reduzidas expectativas de melhorar de vida no Brasil. Nesse sentido, a conscincia de sua vulnerabilidade social no pas operou como motor para traar projetos migratrios na procura de melhores oportunidades. Certamente, os aspectos econmicos foram determinantes na elaborao desses projetos, mas isso no significa aludir a uma situao miservel no Brasil. Como no caso de outros migrantes brasileiros, se trata, sobretudo, da falta de possibilidade que elas sentem em termos de traar um futuro. De acordo com uma entrevistada:
Para mim sair do meu pas, para trabalhar para comer? Para comer eu tenho no meu pas. No precisa. No precisa estar longe da minha famlia para comer. A no Brasil se voc planta uma mandioca, se voc cria uma galinha, voc come. No fome. voc tentar fazer algo... Eu sempre me preocupei muito com o amanh. Quando eu estiver com 60 anos11.

Como no caso de outros migrantes que viajam para pases do Norte, porm, as motivaes econmicas so centrais, mas no so fatores exclusivos. A glamorizao da Europa, a iluso de viajar e conhecer outros lugares tambm faz parte das narrativas da vrias entrevistadas.

10 11

Entrevista realizada em Bilbao, dezembro de 2004. Entrevista realizada em Barcelona, dezembro de 2004.
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2. A indstria do sexo na Espanha As possibilidades de insero dessas migrantes na indstria do sexo na Espanha esto associadas a vrios aspectos da organizao desse setor em um momento especfico, marcado pela importncia adquirida pela migrao internacional. As dinmicas do trabalho sexual nesse pas mantm relao com o estatuto legal concedido prostituio, mas tambm com as atuais leis migratrias e com os critrios dos empresrios que tendem a privilegiar, dentro de certos limites, a diversidade tnico/ nacional na oferta. Na Espanha, a partir da dcada de 1990, em um movimento de internacionalizao de mo de obra que atingiu diversos setores de atividade, a indstria do sexo passou a ocupar estrangeiras de diversos lugares do mundo. Esse setor de atividade, diversificado, inclui linhas telefnicas erticas, peep shows, espaos de espetculo ertico, a Internet, locais de strippers, e os servios sexuais acordados em bares, nas estradas, rua, clubes e apartamentos. Os pisos divergem em sua organizao, tamanho, no nvel, expressado nos valores dos servios e na populao que neles trabalha: alguns ocupados exclusivamente por mulheres, outros por trans12, alguns por trabalhadoras do sexo de uma mesma nacionalidade, enquanto outros apostam na diversificao tnica. Os clubes concentram boa parte da oferta de servios sexuais no pas13. Entre eles, h uma ampla diversidade, desde estabelecimentos tradicionais, relativamente pequenos, cujo lucro provm da venda de bebidas e/ou de receber um percentual dos servios prestados, e os novos hotis-plaza, maiores, organizados com filosofia empresarial, nos quais podem trabalhar at 150 mulheres, ocupando vagas por perodos de 21 dias. O lucro dos proprietrios reside no valor que as mulheres pagam pela utilizao do hotel e a alimentao (Pons, Rodrguez e Veja, 2002; Pons, 2003). Na primeira metade da dcada de 2000, no mbito das presses da Unio Europeia no que tange represso da migrao irregular e do trfico internacional de pessoas, as leis espanholas relativas prostituio e aos migrantes foram modificadas ao mesmo tempo (Cortes Generales, 2007)14. A confluncia entre os dois conjuntos de novas leis faz com que a presena massiva de estrangeiras na indstria do sexo,
12 13

Termo utilizado na Espanha para designar transgneros que, no Brasil, so denominadas de travestis.

De acordo com o informe da Guardia Civil, em 2005, 80% da prostituio feminina tinham lugar em clubes localizados em rodovias, apenas 20% teriam lugar em espaos urbanos, em pubs, apartamentos, como acompanhantes, e na rua (Polcia Judicial, 2005). No Cdigo Penal de 1995, o exerccio da prostituio envolvendo adultos sem mediar coao no era considerado delito. O proxenetismo era penalizado, mas s era considerado como tal o lucro obtido como resultado de coao, engano ou abuso de poder (Mestre, 2004). Nas reformulaes, a obteno de lucros da prostituio, mesmo envolvendo maiores de idade que agem de maneira voluntria, passou a ser delito e, de acordo com a Ley de Extranjera (art. 318 bis), crime favorecer a imigrao ilegal, com agravantes se o fim for a explorao sexual, e mais ainda se houver coao (Cantarero, 2007).
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frequentemente irregulares, seja lida de maneira quase automtica como vinculada a atividades delitivas. E essa relao recorrentemente traduzida atravs da noo de trfico internacional de pessoas. Em 2006, no marco da disseminao de ideias alarmantes sobre a dimenso da prostituio na Espanha, uma Comisso do Congresso e do Senado abriu um debate sobre o reconhecimento da prostituio como trabalho que concluiu com a solicitao de no regulamentar a prostituio por se tratar de explorao sexual, uma violncia contra as mulheres, majoritariamente estrangeiras, vinculada ao trfico de pessoas. Ao contrrio, foi proposto um plano de luta contra a explorao sexual. Paralelamente, governos municipais de diversas cidades intensificaram o combate prostituio de rua. Essas medidas, associadas a controles da Polcia de Estrangeiros, redundam na aplicao de multas a clientes e prostitutas e na deportao daquelas em situao migratria irregular. Os efeitos desse debate envolvem a intensificao do tom moral nas campanhas contra a prostituio, que responsabilizam os clientes, o incremento da vulnerabilidade das pessoas que oferecem servios sexuais na rua, vinculada intimidao da polcia e alteraes na organizao da indstria do sexo. Nesse processo, a prostituio de rua parece ser absorvida por espaos fechados, clubes e, particularmente, apartamentos. Esses ltimos passaram a concentrar ainda mais migrantes irregulares porque trabalhar e morar neles proporciona uma relativa segurana para quem est sem papis. As mulheres latino-americanas, entre elas as brasileiras, so particularmente visveis em alguns nichos da indstria do sexo. Embora algumas trabalhem na rua, elas tendem a concentrar-se em espaos fechados, pisos e clubes de diferentes tamanhos, muitas vezes disputando clientes com mulheres do Leste Europeu (russas, romenas, da antiga Iugoslvia, tchecas) e com colombianas, venezuelanas, cubanas. Os empresrios consideram que as brasileiras, assim como outras latino-americanas de regies tropicalizadas, com o sexo a flor da pele, tm sada no mercado. Elas no seriam necessariamente as favoritas dos clientes, que preferem maior grau de profissionalismo, que optariam pelas mulheres do Leste, mas, desde o ponto de vista dos empresrios, teriam a vantagem de serem autnomas, isto , chegarem por conta prpria, sem os problemas ocasionados pelas mfias que controlam mulheres de outras nacionalidades aos donos de clubes e apartamentos. 3. Condies de trabalho As condies do trabalho na indstria do sexo na Espanha variam em funo do nicho ocupado, do tipo e nvel do estabelecimento e tambm da regio do pas na qual se trabalha. A possibilidade de escolher entre essas variaes depende
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de diversos aspectos entre os quais se destaca o estatuto migratrio das pessoas que oferecem servios sexuais. As nicas modalidades de trabalho que no retm percentuais dos rendimentos so a oferta de servios sexuais na rua e a diviso igualitria do aluguel de um apartamento. Essa ltima situao tende a ser de difcil acesso para as entrevistadas, a maioria das quais no est em situao migratria regular. Nas demais modalidades, h retenes, geralmente de 50% do valor do programa nos apartamentos, a diria de 40 a 60 euros nos clubes hotis e parte do programa nos clubes menores. Essas retenes podem ou no ser vistas como explorao pelas entrevistadas. importante observar que, entre elas, a explorao, uma noo imprecisa no Protocolo de Palermo, puramente econmica. Tendo no Brasil a experincia de trabalhos pouco remunerados e a reteno de percentuais em diferentes setores de atividade, fora e dentro da indstria do sexo, e percebendo a relao entre o trabalho e o salrio pago aos migrantes estrangeiros na Espanha, a maioria considera explorao a reteno excessiva de parte dos ingressos, o abuso em termos financeiros. Outras consideram explorao a reteno de qualquer percentual. Nesse quadro, se insere a dvida que vrias contraram com os proprietrios dos clubes espanhis para viajar. Considerada uma fase no processo migratrio, a dvida geralmente vista como explorao quando excessiva. Em suas impresses, esse o caso das migrantes nigerianas, que pagam entre 30 mil ou 40 mil euros e tambm das travestis brasileiras, cujas dvidas superam os 10 mil euros, mas dificilmente associada s situaes que elas viveram. Em suas experincias, as dvidas, no mximo, triplicaram o valor da passagem e foram pagas em um par de meses de trabalho, em condies em que as entrevistadas eram olhadas, mas no aprisionadas. Apesar das retenes, algumas entrevistadas almejam trabalhar em apartamentos, particularmente os mais sofisticados, caros, intensamente procurados pelos clientes, que oferecem rendimentos relativamente estveis e so tidos como muito seguros. Contudo, esses locais s admitem garotas com certos estilos de corporalidade, apreciados pelos clientes espanhis de estratos mdios e altos, e, sobretudo, com papis. Os clubes so mais flexveis em termos do estatuto migratrio. Quando oferecem condies adequadas, eles so apreciados por entrevistadas mais jovens devido aos rendimentos, em torno dos 5 mil euros mensais no perodo anterior atual crise econmica, e possibilidade de sociabilidade com outras garotas das mesmas idades:
Tem dia que voc pode fazer trs ou quatro programas, tem dia que voc faz cinco, seis... Eles cobravam 40 euros a diria. Se voc fizesse 300, 400, 500 euros, era seu. Eu cheguei a fazer 400. Mas, eu no era aquela menina que dizia, eu vou para isso. Porque para mim era at uma diverso, tenho umas amigas e sempre falamos disso, que a gente perdeu muito dinheiro porque sentava e passava toda a
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noite conversando... Quanto eu consegui levar?... Eu joguei fora muito dinheiro nas folgas... A gente ia, viajava, ficava em hotis bons, txi, e disso que eu me arrependo, de no ter aproveitado mais15.

A ideia de condies adequadas envolve aspectos que se combinam de maneiras diferenciadas: horas de trabalho, liberdade para escolher o nmero e at a etnicidade dos clientes, e graus de segurana e explorao. A comparao realizada por uma entrevistada entre os dois clubes nos quais trabalhou, o primeiro em Andaluzia e o segundo na Catalunha, d uma ideia dessas percepes:
No clube de Almeria, os clientes eram, na maioria, ciganos e marroquinos, que para ns so os piores clientes, porque pem faca no pescoo das garotas... [No clube de] Barcelona, a segurana era maior e os clientes, espanhis e turistas estrangeiros, mais tranquilos. Mas, me exploravam, pagava pela cama 450 euros ao ms e dividia o quarto com trs garotas; no podia usar o celular para pedir comida, a gerente pedia e cobrava um absurdo, 20 euros por uma pizza pequena. No clube de Almeria, a explorao era menor, saamos para comprar nossa comida.

As retenes de um percentual dos rendimentos so rejeitadas por mulheres que optam pelo trabalho na rua. Segundo elas, apesar de cobrarem por um programa, quase a metade do valor que teria em um clube, seus rendimentos so equivalentes porque no sofrem dedues. Alm disso, consideram que o trabalho na rua oferece outras vantagens: possibilidade de auto-regulao do horrio e do tempo investido no trabalho e de manter contatos sociais fora dele. De acordo com uma entrevistada que trabalhou em um clube e, atualmente, oferece servios sexuais na rua em Barcelona e ganhava em torno de 4 mil euros mensais, no perodo anterior crise, quando seus rendimentos caram pela metade:
J trabalhei em clube... e no bom. Porque tem que trabalhar noite, eu no gosto. So plazas16 por 21 dias seguidos. Nesses dias, voc no v ningum, porque chega cansada pela manh, dorme e depois vai para o clube de novo. Tem que beber... com os homens. Tem que ser muito simptica, estar sempre disposta a conversar, e isso eu no estou sempre. Prefiro esta vida. Trabalho de dia, posso encontrar amigos e, se quero, deixo meu lugar do trabalho, vou olhar vitrines. E, no fundo, no clube no se ganha mais. Porque ganha mais, mas tem que deixar mais dinheiro tambm, porque tem que pagar pela vaga. Eu prefiro a rua... tem muito lugar na rua que bom para ganhar dinheiro... na mdia de 4 mil euros, todo ms ... Mulher com mais idade no ganha dinheiro dentro de clube... s vezes, se eu no quero vir trabalhar eu no venho. Mas, como a gente tem um objetivo...
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Entrevista realizada em Bilbao, novembro de 2004. Vagas.


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juntar dinheiro para mandar para o Brasil, para voc fazer as suas coisas, pois ento voc cria um horrio para voc.

A violncia faz parte das preocupaes dessas mulheres. A violncia por parte dos clientes existe e atingiu de maneira dramtica a uma das entrevistadas, que quase perdeu a vida, quando optou por trabalhar em um apartamento sem nenhum grau de segurana para liberar-se da explorao dos clubes. Entretanto, a violncia qual elas aludem de maneira mais recorrente ao dano fsico e moral nas mos da polcia migratria. Ela evocada, com raiva e medo, nos relatos das aes anti-trfico, consideradas como mecanismo para reforar a malha tecida pelo governo espanhol com o objetivo de facilitar a deportao das migrantes irregulares, particularmente daquelas mais facilmente localizveis, as que prestam servios sexuais na rua. Uma parte do universo de entrevistadas, aproximadamente 1/3, considera que teve sucesso no projeto de ascenso econmica atravs da migrao para trabalhar na indstria do sexo. Esse sucesso se expressa na compra e reforma de imveis no Brasil, tambm de terras e gado, em um padro de vida e consumo superiores ao que tinham 15 vagas no Brasil e no envio regular de remessas para os integrantes da famlia que permaneceram no pas. Das poucas entrevistadas que casaram com espanhis, apenas uma deixou o trabalho na prostituio, mas, neste universo, o casamento no aparece como um objetivo econmico, pode render papis, ou ser por amor. Em termos gerais, o casamento visto como um problema para o exerccio do trabalho, portanto, a maioria prefere namorar. E importante observar que a leitura positiva das experincias migratrias extrapola os ganhos materiais, incluindo a ampliao do universo cultural, a criao de autonomia e o ensaio de novas posies de gnero. Nos termos de duas entrevistadas:
Voc, fazendo a prostituio aqui, voc aprende muita histria, muita cultura diferente. A mim me encanta. Porque voc convive tambm com os franceses, com os ingleses, com alemes, com os gregos... Quando eu vim para c, por exemplo, como se estivesse assim abrindo o mundo, entende? Que no Brasil voc no se d conta disso. Que agora no vou querer ter s um homem... Que a gente lava, passa, cuida e eles sempre esto atrs de busca de outras. No, eu agora quero que ele lave, passe e eu usar. Agora minha cabea mudou, eu agora j disse a ele, agora aquela que tu conheceu outra. Agora quem d as cartas sou eu17.

As entrevistadas consideram o trabalho na indstria do sexo como algo que faz sentido principalmente devido aos elevados rendimentos. Quando eles decrescem, a atividade perde seu valor. Em 2009, todas as entrevistadas percebem que seu
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Entrevistas realizadas em Barcelona, em novembro de 2004.


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trabalho na prostituio foi afetado pela conjuno entre as disposies municipais que reprimem a prostituio, perseguindo clientes e prostitutas, e a crise econmica, reduzindo metade ou menos da metade seus rendimentos. Nesse cenrio, o trabalho na indstria do sexo aparece como mais efmero que o projeto migratrio. As entrevistadas que obtiveram os papis e certa insero social no abrem mo desse projeto migratrio, mas comeam a optar por empregos em outros setores de atividade, com complementaes muito ocasionais obtidas atravs de servios sexuais. Concluses No marco de uma discusso que, tanto no Brasil como na Europa, apaga as experincias das trabalhadoras do sexo com o discurso do trfico de pessoas, as narrativas dessas entrevistadas contribuem para preencher esse vazio. Esses relatos mostram diversas dimenses de agncia que remetem, com maior ou menor grau de sucesso, construo de projetos de mobilidade social e de ampliao de seus universos. Contudo, neste caso, no se trata apenas de trabalhar na indstria do sexo, mas de projetos migratrios nos quais o trabalho sexual uma estratgia. A compreenso das trajetrias dessas pessoas no exterior, de suas possibilidades e condies de trabalho requer levar em conta essa conjuno, pois elas esto marcadas simultaneamente por suas posies como migrantes do Sul e como prostitutas. Nessa articulao, a vivncia da violncia adquire outros matizes e a explorao econmica outras conotaes. Ao mesmo tempo, nesse universo, o trabalho sexual pode operar, talvez com mais frequncia, que para as trabalhadoras sexuais no Brasil e com maior intensidade que entre migrantes dedicados a outras atividades, como upgrade econmico e tambm social. Referncias bibliogrficas
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Sexo que vende:


economa de la produccin de pelculas porno
Mara Elvira Daz-Bentez1,2

El objetivo de este artculo es analizar la economa de la produccin de pelculas pornogrficas en So Paulo, ciudad que concentra el mayor nmero de productoras y distribuidoras de este tipo de material en Brasil. Los datos que aqu presento provienen de la investigacin realizada junto a cinco empresas de la industria del porno nacional, etnografa que dio origen a mi tesis de doctorado titulada Nas redes do sexo: bastidores e cenrios do porn brasileiro. sta tuvo como primicia el estudio de los enunciados sobre sexualidad y posiciones de gnero que coloca en escena la pornografa de carcter heterosexual, gay y travesti, as como el examen de las redes que conforman tal universo. Interpreto el porno como un tentculo ms del mercado del sexo, estando compuesto por redes relacionales y heterogneas: actores, actrices, creadores, productores, directores, asistentes, reclutadores de elenco y distribuidores, por un lado, y moteles, calles, discotecas, revistas, saunas, clubes, casas nocturnas y sitios web, por otro3. En estas redes la pornografa es tratada como un producto comercial que se fabrica para ser vendido en respuesta a la industria y a las demandas de los consumidores. En realidad, la perspectiva econmica ha estado siempre presente en la produccin y conformacin del mercado ertico y pornogrfico. Segn diversos histoPHD en Antropologa Social (Museo Nacional/UFRJ). Investigadora del Centro Latinoamericano de Sexualidad y Derechos Humanos (CLAM) del Instituto de Medicina Social de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro. Para la elaboracin de la versin final de este artculo.
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Agradezco especialmente los comentarios que recib de Lohana Berkins y de Miguel Muoz-Laboy en ocasin de mi exposicin en el Dilogo Regional sobre Sexualidad y Geopoltica, ocurrido en agosto de 2009, en Rio de Janeiro. Agradezco tambin al equipo de la SPW (Sexuality Policy Watch) y a los dems investigadores que participaron de ese encuentro.
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La industria del sexo est caracterizada por una complejidad que Laura Agustn (2000: 3) define de la siguiente manera: Incluye burdeles o casas de citas, clubes de alterne, ciertos bares, cerveceras, discotecas, cabarets y salones de cctel, lneas telefnicas erticas, sexo virtual por Internet, sex shops con cabinas privadas, muchas casas de masaje, de relax, del desarrollo del bienestar fsico y de sauna, servicios de acompaantes (call girls), unas agencias matrimoniales, muchos hoteles, pensiones y pisos, anuncios comerciales y semi-comerciales en peridicos y revistas y en formas pequeas para pegar o dejar (como tarjetas), cines y revistas pornogrficos, pelculas y videos en alquiler, restaurantes erticos, servicios de dominacin o sumisin (sadomasoquismo) y prostitucin callejera: una proliferacin inmensa de posibles maneras de pagar una experiencia sexual o sensual.
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riadores (ver A inveno da pornografia organizado por Lynn Hunt, 1999), el siglo XVI, el Renacimiento, inaugur una tradicin pornogrfica que tuvo como caracterstica la aparicin de nuevas tecnologas de imprenta y la circulacin barata de imgenes y textos de carcter obsceno, los cuales fueron previamente restrictos a crculos cerrados. Para la historiadora norteamericana Paula Findlen, explica Moraes (2003), la pornografa en ese contexto se define siempre en relacin a un fenmeno del mercado relacionado a la persistencia de una cultura manuscrita, el surgimiento de la naturaleza de la autora y la difusin de la alfabetizacin. No obstante, es a partir del siglo XIX cuando la pornografa puede ser interpretada especialmente como la representacin sexual que busca en especial la excitacin ertica de su pblico y estando ntimamente relacionada con la produccin patronizada para um mercado establecido (Leite, 2006:63).4 Hoy a nivel mundial, tenemos grandes multinacionales de la pornografa como la Buttman, la Hustler, la Vivid Entertainment, la Private, Magma, GGG/666, entre otras, las cuales han puesto placeres y sexualidades en el marco de lo pblico y de la comercializacin masiva. Cmo el dinero es una pieza clave en la produccin y conformacin de los circuitos porno? Las pginas siguientes pretenden mostrar un panorama del modo como la produccin de pornografa est, de punta a punta, atravesada por actividades econmicas, o inclusive, de cmo el porno podra ser interpretado, en s mismo, como una actividad econmica. El dinero determina los ritmos y funcionamientos del proceso de elaboracin de una pelcula: el reclutamiento del elenco, la negociacin de la remuneracin, el presupuesto destinado a las filmaciones (dependiendo tambin de la capacidad econmica de la productora, la disposicin de las performances sexuales, la calidad y trayectoria de actores y actrices, las locaciones, las prcticas, cuerpos y repertorios sexuales que se pretenden exponer). Se destina dinero para los exmenes mdicos cuando las performances se desarrollan sin preservativo (justamente las pelculas ms y mejor vendidas), y para la elaboracin del producto final que consiste en la preparacin de capas y el tiraje de copias de video. Hay dinero presente en la circulacin y venta de las imgenes captadas y dirigidas a otras industrias del erotismo, como sitios web y revistas y, obviamente, el material se distribuye siguiendo lgicas que buscan ganancia econmica. El dinero es central tambin dentro de la red que vincula la produccin de pornografa con otras redes del mercado sexual, como la prostitucin.

Si la produccin ertica u obscena de los siglos XVI al XVIII tuvo como objetivo, explica Leite (2006, 2009) uma crtica poltica y social a instituciones como la Iglesia, la nobleza, la militar, la burguesa o inclusive al pueblo, nace posteriormente una nueva manera de utilizar las representaciones sobre el campo sexual. La filosofa da lugar al consumo de obscenidad modernizada. El sexo como un producto y el placer como una mercanca en s, no son factores nuevos del siglo XIX pues siempre estuvieron vinculados ntimamente a la edificacin del capitalismo. Nueva ahora es la ampliacin de la produccin y del consumo, unida a un cierto alejamiento de las cuestiones polticas. La pornografa nace as del discurso obsceno a travs de la cultura de masas y del entretenimiento (Leite, 2009: 510).
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Cuerpos, estilos y convenciones econmicas Dentro de la accin colectiva emprendida para la produccin de la pelcula, una de las etapas bsicas consiste en el reclutamiento de elenco. Para ejercer esta labor, los agentes o reclutadores, se acercan a diversos lugares asociados al comercio sexual: calles, bares, casas nocturnas, sitios web y ciertos barrios donde se establecen redes de vivienda para travestis, jvenes y mujeres que hacen programa, es decir, que se desempean en la prostitucin. Es esencial que el reclutamiento se lleve a cabo de manera continua porque la propia estructura del mercado porno brasileo exige la inclusin constante de nuevos rostros. Existen varios tipos de pelculas pornogrficas que responden a los distintos mercados y, en este sentido, existen tambin diversos individuos y cuerpos codiciados por la industria. Los sujetos que interesan masivamente a los reclutadores son, sobre todo, las mujeres principal objetivo del reclutamiento en respuesta a la necesidad del mercado de renovarlas constantemente, cuerpos fundamentales para la produccin de la pornografa htero, considerada mainstream por excelencia las travestis, protagonistas de las pelculas mejor distribuidas fuera del Brasil, y los hombres, siendo ms enftico el reclutamiento de hombres para pelculas gay en obediencia al mercado, pues mientras stos necesitan ser renovados, los que participan de filmaciones htero permanecen por largas temporadas en el circuito. La industria brasilea de porno efecta otro tipo de producciones, las cuales integran redes de comercializacin ms especializadas y originan otro tipo de desafos al reclutamiento. Me refiero a las pelculas que el propio mercado cataloga como bizarras, muchas de las cuales incluyen en sus estticas cuerpos que consideran extraos o anmalos especficamente personas enanas o hermafroditas o cuerpos deformados mediante intervenciones voluntarias como los exageradamente tatuados o perforados con piercings, o cuerpos que, sin ser anormales, divergen de los paradigmas hegemnicos de belleza: personas obesas, ancianas, exageradamente peludas, mujeres con senos muy grandes, entre otros. En la produccin de las pelculas ms convencionales del porno, las mujeres reciben las mejores remuneraciones entre todo el elenco. Simultneamente, stas ofrecen mayores dificultades a la prctica del reclutamiento en comparacin a travestis y hombres. El principal motivo de tal dificultad se debe al cuidado que muchas de ellas tienen en resguardar su anonimato. Desempendose en la prostitucin, muchas agencian mecanismos para proteger sus identidades, las cuales se veran alteradas trabajando en la pornografa debido a la extrema exposicin que sta profesin acarrea. Por otro lado, las mujeres que son buscadas para actuar en el porno cuentan con los atributos fsicos codiciados en las redes de la prostitucin gran parte de ellas posee el estilo de universitarias o patricinhas como son llamadas en Brasil y en la interaccin con clientes reciben remuneraciones substanciosas
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lo que, a su vez, las desestimula de ingresar al universo de la pornografa donde no necesariamente ganaran ms dinero que aquel que reciben como garotas de programa y donde perderan el anonimato. Finalmente, algunas mujeres interpretan el porno en base a un universo de valores no necesariamente anlogo a sus imaginarios sobre la prostitucin. Argumentan que en este ltimo oficio ellas tienen autonoma para decidir qu tipo de prcticas sexuales desean o no ejercer y, a diferencia de las pelculas, hacen uso obligatorio del preservativo. La experiencia del reclutamiento demuestra que travestis y hombres, por el contrario, no manifiestan mayores salvedades para su incursin en estas redes. Algunos agentes opinan que stos nacem no cho,5 se multiplican por generacin espontnea, son sexo de alquiler, no teniendo preocupaciones tangibles respecto al resguardo de sus anonimatos. Existe una gran velocidad en el esquema para la elaboracin de las filmaciones y ciertas convenciones a respecto de los honorarios: en el porno los precios se pagan por escena, y los valores por cada una varan de acuerdo a la capacidad econmica de la productora y a las prcticas sexuales sugeridas. El preservativo, su uso o no, es el factor que ms altera los precios: de 300 a 500 reales (con); de 800 a 1200 reales (sin). Hay tambin otros factores que son tomados en cuenta y consiguen alterar tanto el prestigio de las personas dentro de las redes como sus remuneraciones: pensar en pornografa y en reclutamiento de elenco es pensar en un mercado de belleza, nocin entendida alrededor de otros marcadores de diferencia como raza, clase, gnero, edad, estilo, talento en la interpretacin, femineidad en el caso de las travestis, tamao del dote para los hombres, y en la interseccin de algunas de estas caractersticas. Las productoras ms prestigiadas y que ofrecen mejores pagos se esfuerzan por alistar y mantener entre su elenco a las personas que ostentan los atributos estticos ms deseados. Para conseguirlo, hacen uso de redes de la industria del sexo como los ya mencionados bares, saunas, sitios web y casas nocturnas que cuentan con prestigio en el mercado y estn dirigidas a clientes con una alta capacidad de consumo. No obstante, esto no significa que las personas ms bonitas y deseadas graben solamente para las productoras de mayor capital. En realidad las cosas son mucho ms enmaraadas y el elenco transita de una empresa para otra debido a que la estructura misma de como es hecha la pornografa en el pas no abre lugar a la composicin de carreras metdicamente delineadas. La procura veloz de rostros para la industria impide que muchos performers permanezcan en el mercado por largas temporadas, y en el perodo que permanecen, generalmente corto, las personas del elenco participan de un gran nmero de escenas, cuestin que desemboca en la quema de sus imgenes al punto de negarles o disminuirles la posibilidad
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Literalmente: Nacen en el piso.


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de continuar siendo masivamente procurados. La quema de imagen se aplica especialmente en relacin a las mujeres y a los hombres que participan en producciones gays ya que ambos son los cuerpos destacados y protagonistas en las producciones, el objetivo principal de la representacin, de las cartulas de los filmes, del material publicitario y en quienes se detiene la lente de la cmara. Aunque entre el elenco existe la percepcin de la inestabilidad de sus carreras, es poco factible que consigan trabajar para una nica empresa. Existen en el Brasil solamente tres productoras que firman contratos de exclusividad, mayoritariamente para las mujeres, y por un perodo mximo de seis meses. Travestis y hombres son poco o casi nada convocados para firmar este tipo de acuerdos. Pese a que no existan separaciones radicales entre el tipo de persona que una productora u otra puede alcanzar en base a su economa, es un hecho que el valor de la remuneracin que una empresa puede ofrecer se vincula al tipo de persona que se esfuerza por reclutar, privilegiando de esta manera ciertos contextos de reclutamiento, en detrimento de otros.6 El grupo de actores de pelculas htero, como dicho recientemente, es el ms inmutable del mercado. Ellos duran ms tiempo desempendose dentro de la industria del porno porque sus imgenes son mucho menos explotadas: poco aparecen en las cartulas de los filmes, e inclusive cuando lo hacen, las cantidades son considerablemente menores en comparacin a las mujeres. Ya en las escenas, las cmaras enfocan esencialmente la fraccin ms importante de sus cuerpos: el pene, lugar que concentra todo el capital simblico del hombre, de ah el nfasis en el tamao, la duracin de la ereccin y, especialmente, en la eyaculacin. Los rostros de los hombres en las estticas heterosexuales poco o nada aparecen, motivo por el cual continan siendo convocados los mismos actores para grabar innmeras escenas consecutivamente, sin que exista una efectiva renovacin de elenco masculino. Otro motivo para la ausencia de reclutamiento masculino tiene que ver con la estructura misma de la industria. Los productos son elaborados en respuesta a las demandas del mercado y a lo que es masivamente consumido, por lo cual, los hombres no representan una preocupacin particular. Um productor explica: Ellos compran por las mujeres, no compran hombres. Cuando yo digo ellos, estoy hablando del dueo de la videotienda y los clientes, ellos van por la mujer. Si es el actor X o Y no importa, ellos compran la mujer. Otra razn que lleva a la mayor duracin de los hombres en el mercado se relaciona con el temor que sienten productores, reclutadores y directores respecto a probar un nuevo actor que, en la hora cierta, presente dificultades para obtener o mantener una ereccin. La ereccin es
Por ejemplo, las calles son contextos de reclutamiento poco utilizados para la bsqueda de mujeres y ms dirigidos al encuentro de travestis y michs, manera como son llamados los jvenes varones que se dedican a la prostitucin. Esto porque existe una jerarquizacin en los modos de ejercer la prostitucin y la calle se encuentra en el nivel ms bajo, asocindose a un conjunto de ideas sobre marginalidad.
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el punto clave para el establecimiento de una carrera de actor porno y es el motivo por el cual muchas personas del mercado consideran que es ms difcil ser actor que actriz y que es ms afanosa la performance masculina que la femenina, inclusive siendo la mujer quien, en la pornografa, asume los mayores desafos en relacin a las prcticas sexuales. Por todos estos motivos, existe un comodismo en la industria para el reclutamiento de hombres opuesto a la aceleracin constante en que se permanece en la bsqueda de mujeres. Este comodismo responde tambin a razones de orden financiera. Gran parte de las productoras, especialmente las que cuentan con menor capital econmico, funcionan bajo una lgica de velocidad que acarrea una estrategia de rendimiento de tiempo y dinero. En una jornada de filmacin, varias de estas empresas graban una media de cuatro o hasta cinco escenas. Comenzando temprano en la maana en haciendas o moteles, hasta altas horas de la noche, en las ocasiones de filmaciones mltiples, todos los miembros del equipo ejercen sus funciones simultneamente a un ritmo frentico. Mientras director y camargrafos graban una de las performances; el fotgrafo retrata a los protagonistas de las otras escenas; los maquilladores cuidan del cabello y el rostro de las mujeres y las travestis; los productores llenan los contratos, reproducen fotocopias de las tarjetas de identidad de todo el elenco, cuidan de la alimentacin, proporcionan preservativos (cuando es usado), lubrificante y medicamentos como Viagra o Dorflex que ayudan en la preparacin de los cuerpos; y, paralelamente, todos participan de la labor de montaje de luces, sonido y decorado de las locaciones. Estas escenas, gran parte de las veces, integrarn una misma pelcula estilo gon7 zo o sea producciones hechas sin historia con comienzo, medio y fin que funcione como hilo conductor de las secuencias. Los filmes gonzo presentan escenas de sexo explcito que no guardan ninguna relacin directa entre s, siendo actualmente el estilo ms usado en la produccin de porno brasileo. Frecuentemente les destinan presupuestos modestos (alrededor de cinco mil reales) para cubrir todos los gastos: pago de las locaciones, remuneracin del elenco y del personal tcnico, vestuario (cuando hay), alimentacin, compra de materiales y posteriormente el diseo de la cartula. En vista de tal velocidad, la produccin necesita contar con actores experimentados que cumplan sus papeles dentro de los parmetros de economa de tiempo, porque, dentro de esta lgica, tiempo es dinero. As, mientras la renovacin de actrices calienta el mercado ya que rostros nuevos venden, la permanencia casi esttica de elenco masculino htero permite que la industria mantenga su esquema de produccin rpido y eficaz.
Originalmente la palabra Gonzo hace referencia a las producciones en las cuales el camargrafo o director intervienen en la pelcula hablando con los actores y apareciendo espontneamente en la accin. La intencin de esta tcnica, usada tambin en el periodismo, es la de involucrar a la audiencia en el acto.
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No obstante, hay una dinmica de movilidad de hombres en la industria distinta al estatismo recin narrado. El hecho de que ellos sean blancos, ms fciles de todos los tipos y en todos los contextos de reclutamiento, les abre paso para su ingreso en el mercado aunque sea de manera provisoria. Muchos jvenes llegan y graban una, dos o hasta tres escenas, o participan una nica vez de una orga, generalmente en una empresa menor que les paga entre 150 y 300 reales. Despus de que sacian su curiosidad, deciden no volver o lo hacen pasado un tiempo prudente. Muchos afirman que as satisficieron un fetiche o un sueo, permitindose continuar con el rumbo de sus vidas sin afectar sus cotidianidades. El anonimato no es tan abierta e intensamente buscado como en el caso de las mujeres. Por el contrario, muchos insisten en vivir esa experiencia para despus narrarla entre sus grupos de amigos y conocidos, especialmente otros varones, logrando as reafirmar pblicamente sus masculinidades8. De esta manera, mientras los hombres (de pelculas htero y gay) y las travestis afirman recurrentemente que hacen pornografa por placer siendo a ellos tan permitido como legtimo el discurso del placer las mujeres generalmente argumentan como motivacin la necesidad de adquirir dinero, suplir necesidades, o el hecho de haberse deslumbrado con la propuesta inicial de pago. El dinero aparece as como una categora moral que conlleva un enunciado doble en relacin a la dupla pornografa/transgresin. Por un lado, la relacin dinero/cuerpo localiza la sexualidad en el espacio de la transgresin (de la misma manera que la exhibicin directa de los genitales y el sexo carente de afectos desligado del ideal de amor romntico como dispositivo histrico de la sexualidad). Por otro lado, el argumento repetitivo sobre la decisin de hacer porno motivadas por el dinero, al mismo tiempo consigue alejarlas de la misma, pues se juega as la responsabilidad del lado de la necesidad o de los proyectos econmicos, rehusando el placer y el deseo de experimentacin sexual como razones legtimas. Es como si el placer por el dinero fuese superior jerrquicamente al placer por el sexo, obviamente un sexo pornogrfico que contempla prcticas disidentes y est al margen de los patrones morales aceptables de lo heterosexual, mongamo e ntimo. La renovacin constante de mujeres, hombres gays y travestis se explica en estas redes desde la propia dinmica y lgica del mercado porno. Sin embargo, vale la pena preguntarnos si la asimetra respecto a la inestabilidad laboral de estos sujetos en comparacin a la permanencia de los varones de pelculas htero, no podra ser explicada en relacin a los propios imperativos sociales de gnero? Esta sospecha
Algunos de estos jvenes manifiestan que slo sienten vergenza de contar dicha experiencia para las mujeres con quienes establecen una relacin amorosa. Afirman que, en esos casos, han preferido mantener en secreto sospechando que ellas no les entenderan y pensaran que no vale la pena comenzar y mantener una relacin afectiva con un hombre que particip de pelculas porno. Otros jvenes comentan que omitieron ese hecho particularmente de sus madres, compartindolo ms tranquilamente con sus padres y hermanos varones.
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surge de la constatacin de la forma como en nuestras sociedades, y como dispositivo mismo del capitalismo, las mujeres cuentan con menor acceso y garantas de trabajo al tiempo que los hombres gay (especialmente los ms afeminados) encuentran barreras para su insercin laboral. Las travestis a su vez cuentan con los ms reducidos espacios para emplearse. Interfaces entre dinero, produccin y distribucin: varios insights
Maximizacin de la utilidad

En el proceso de produccin de una pelcula porno, gran parte de la responsabilidad por las ventas recae sobre la calidad de la fotografa. En un set de filmacin, actores y actrices ejercen actos sexuales que directores y camargrafos captan en video para posteriormente someter a las artes de la edicin. Mientras eso va curriendo, el tercer ojo por detrs de la situacin pertenece al fotgrafo, quien se encarga de hacer los estudios de las personas del elenco y de captar cada uno de los momentos claves de la escena, o sea, todas las posiciones sexuales que fueron ejecutadas, enfatizando el instante de la consumacin: la eyaculacin masculina. Las fotografas son llevadas inmediatamente a las productoras para comenzar la elaboracin de las cartulas, carteles, anuncios y dems materiales publicitarios. Una vez que la cartula est lista, los encargados de las ventas de cada empresa activan sus redes con el mercado internacional y salen a la bsqueda de videotiendas nacionales con el fin de comercializar el producto. As, imgenes leyendas y ttulos son acabados antes de que la pelcula misma haya sido finalizada. Estos signos son metdicamente pensados y escogidos, pues su misin consiste en causar el impacto necesario para asegurar la distribucin del material. Conservando esta misma finalidad, las productoras anuncian en sus sitios web como preventa los lanzamientos de videos que apenas se estn finalizando. Por otro lado, existe alrededor del uso de las fotografas una lgica de maximizacin de la utilidad comercial. Las personas del elenco reciben un pago nico por su participacin en una pelcula, firmando contratos en los cuales ceden completamente los derechos relativos a la exposicin de sus imgenes. Una vez hecha esta negociacin, el control sobre el destino del material queda completamente bajo tutela de las productoras, las cuales sustentan redes comerciales con sitios web y revistas erticas donde dicho material va a ser expuesto. Las productoras pueden, adems, elevar al mximo el rendimiento del producto elaborando nuevos videos gonzo en base a escenas variadas e independientes que llevarn nuevas cartulas y nombres diferentes a los originales. Algunas productoras, a su vez, venden las fotografas y escenas en estado bruto para empresas extranjeras. En estos casos, las imgenes son destinadas para nuevos
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filmes, editados y depurados bajo la coordinacin de la empresa que hizo la compra, los cuales llevarn ttulos y cartulas diferentes de aquellos otorgados a nivel nacional multiplicndose as los lucros a partir de una nica inversin.
La otra cara de la produccin: velocidad

Como mencion en pginas anteriores, la velocidad y la baja inversin caracterizan la dinmica de gran parte de las empresas nacionales de pornografa. Si por un lado, tales caractersticas permiten a la industria sustentar un esquema de produccin eficaz, por otro, traen consigo desafos en relacin a la comercializacin internacional del producto. En este sentido, hay varios factores a ser considerados entre los cuales los bajos valores de las remuneraciones que son ofrecidas en estas ocasiones dificulta a los reclutadores el esmerarse en la seleccin del elenco. Personas de trayectorias reconocidas gracias a la calidad de su desempeo o que son codiciadas por su belleza fsica estaran menos disponibles de participar en producciones menores. Muchas actrices se cuidan de no hacer un gasto exagerado de sus imgenes trabajando para empresas que les pagaran alrededor de 400 reales por escena. Existe en estas redes una forma de censura tcita en torno de las mujeres que graban indiscriminadamente para todas las productoras independientemente del valor a ellas ofrecido. Recurrentemente son evaluadas moralmente con frases como: si ella graba por 300 reales por qu yo tendra que pagar ms?, no se valoran!. Por tal motivo, diversos directores dejan de convocarlas indefinidamente o por lo menos durante largas temporadas. La lgica de la renovacin del elenco femenino es tomada muy en serio por la industria, inclusive por algunos productores que acaban por afiliarse a esa lgica pese a ser crticos en relacin a la corta vida de las actrices en el porno. Son pocas las actrices que consiguen establecerse en el mercado de manera eficaz, no obstante algunas excepciones saltan a la vista. Disciplina, humildad, buen desempeo sexual y cumplimiento de los horarios son algunas de las virtudes exaltadas dentro de las redes de produccin. Sin embargo, lo que es realmente relevante y de hecho obliga a la industria a mantenerlas en el circuito, consiste en que ellas consigan hacer su propio pblico y vender bien sus pelculas debido a sus bellezas, sensualidad y la capacidad de excitar a aquellos que las observan9. Los bajos presupuestos destinados para la produccin de las pelculas, son tambin determinantes de una cuestin compleja en relacin al mercado: el uso del
Algunas actrices que se han retirado espordicamente del mercado o disminuido sus apariciones, vuelven debido a la insistencia de fanticos y seguidores que escriben e-mails a las productoras, colocan mensajes en blogs, sitios web, revistas erticas de circulacin masiva o en foros de la pgina de relacionamientos Orkut, pidiendo el regreso de dicha actriz o la aparicin de ella en un tipo especfico de performance. Existe una clara interactividad entre consumidores y productores, la cual consigue, de alguna manera, determinar el destino de las personas del elenco dentro de estas redes.
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preservativo. La pornografa en su rgimen de produccin visual busca y resalta los valores estticos claves: el realismo y lo espectacular, combinndolos de diversas y estimulantes formas. Las relaciones sexuales sin el uso del preservativo, como es hecho en el porno ms reconocido mundialmente, se relaciona a esa bsqueda de hperrealismo que se pretende transmitir al espectador. El realismo, a su vez, est tambin asociado a dos factores: por un lado, la transgresin10, por otro, el mercado. Las producciones que dispensan el uso del condn son consideradas de valor superior. Los dueos y los distribuidores de las empresas reconocen las dificultades existentes para incluir efectivamente en el mercado internacional aquellas pelculas en que el preservativo es utilizado. Inclusive, en estos ltimos casos, son utilizadas tcnicas para no dejarlo en total evidencia11, lo que demuestra la an incipiente incursin social del condn en los dispositivos del deseo y el placer: pues las productoras no lo usan porque el pblico no consume. Por tales motivos, actores y actrices que se niegan a ejercer sexo sin preservativo disminuyen automticamente sus posibilidades de delinear una trayectoria en este universo. Para las pelculas que dispensan el condn se destinan presupuestos superiores que, adems de las remuneraciones, deben costear los exmenes mdicos que todos los miembros del elenco son requeridos a hacer con el fin de descartar (o detectar) la presencia de VIH/Sida y/o de otras enfermedades sexualmente transmisibles. Pese a estos cuidados, la persistencia de mejores salarios cuando el sexo es hecho sin condn evoca la existencia de un riesgo inminente que, por lo tanto, merece un estmulo econmico adicional. En otras palabras, se genera un imperativo que podramos llamar de cuantificacin del riesgo, pese a que esta nocin sea reiterativamente objetada por las personas que ejercen la prctica y legitimada debido a la confianza depositada en la medicina. As, las filmaciones veloces y pobres en capital incluyen condn en los actos sexuales, colocndose, de esa manera, por debajo de las posibilidades de competir efectivamente y en condiciones favorables en el mercado internacional. Arnaldo, dueo de una productora paulistana emergente, opina:

La transgresin se asocia a la exhibicin de la sexualidad, el dinero que coloca la sexualidad del lado de lo contaminado, la relacin entre la pornografa con redes consideradas bajas como la prostitucin, el sexo carente de afectos y desvinculado del ideal del amor romntico, y la violencia, caracterstica que ya desde el Marqus de Sade aparece como una de las formas primarias de transgresin de la sexualidad, capaz de corromper y extender sus dominios a los territorios de la intimidad y de generar otras formas de placer. La pornografa coloca en jaque dispositivos tradicionales y normativos de la sexualidad, elabora un enunciado sobre la sexualidad que desequilibra la manera como hegemnicamente se ha intentado controlar los cuerpos y moldear los deseos, exhibe las perversiones que desde el siglo XVII fueron creadas por los saberes legtimos.
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Una vez iniciada la escena sexual, segundos antes de la primera penetracin, es hecha una pausa para que el actor se coloque el preservativo, de manera que al prender la cmara nuevamente, ste ya est cubriendo el pene como por arte de magia.
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Hace unos tres aos yo no produzco material con condn. Fuera del Brasil, el material con condn no existe, no tiene ningn valor, nadie compra, nadie ni siquiera lo mira. Esa es la realidad del mercado, las pelculas con condn son ms fciles de hacer por el precio, porque con el precio que ellos hacen una pelcula con condn, yo hago una o mximo dos escenas. El propio monto es el que no permite que el mercado exista, el valor para hacer una escena con condn es irrisorio, es ridculo, los actores lo hacen porque realmente ya lo hicieron varias veces. Entonces, la primera diferencia con un buen pago es el biotipo del elenco, es bien diferente.

Alex, dueo de una pequea productora en So Paulo, aade:


Incluso mejorando el salario a veces ya no importa porque la persona ya se expuso demasiado y se cans el mercado. En Brasil el mercado es como una matriz, una ilusin, porque no existe unin entre nosotros, cada uno produce su material como puede. Entonces acontece que las personas que deberan estar se destacando en el mercado no se destacan porque no consiguen sobrevivir de eso. En los Estados Unidos el elenco se dedica a eso y hasta consiguen hacer pelculas en Hollywood, pero aqu hoy por hoy los actores y actrices brasileos que consiguen vivir del porno son pocos, casi todos tienen una segunda actividad. Entonces, si la garota hace programa, ella prefiere continuar haciendo programa porque gana mucho ms. Y como el mercado no les valorizapasa que nosotros ya perdimos grandes actores, grandes actrices que podran estar haciendo hoy un buen trabajo, pero la culpa es de las productoras que tratan a los actores como si fuesen un mero producto descartable.

El esquema de produccin veloz de pelculas consigue comprometer la calidad de las producciones a otros niveles. Hay un alto grado de improvisacin y de repeticin de frmulas que disminuyen la posibilidad de inclusin de nuevos repertorios, por ejemplo, pelculas con algn tipo de historia o hilo conductor, las cuales tambin tienen espacio en el mercado internacional. Por otro lado, en este rgimen de produccin se afecta la calidad tcnica de la fotografa y de las imgenes haciendo con que el producto brasilero sea considerado inclusive por los propios productores locales como amador en comparacin a las grandes empresas del porno internacional. De este modo, solamente algunas pocas empresas nacionales logran posicionarse en relativa equidad en relacin a otras empresas del mercado. La velocidad y la poca inversin, para diversas personas de la rede, responde al propio esquema empresarial de la industria nacional, el cual funciona al revs, es decir, a partir y en funcin de las videotiendas. Arnaldo comenta:
Una pelcula porno brasilea cuesta 40 reales. Entonces, ya partimos del final para comenzar a ver qu es lo que se puede hacer. Entonces, de una pelcula de 40
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reales el vendedor o el representante de la empresa que vende para la videotienda gana una comisin de 5% o 10%. l vende una pelcula de 40 reales y va a ganar mximo de dos a cuatro reales por unidad. Usted cree que l va ir hasta una videotienda para vender una pelcula y ganar slo 2 reales? No! Entonces en el Brasil existe lo que llamamos de paquete: el vendedor tiene que ir a la tienda con por lo menos media docena de pelculas para poder vender y para poder hacer un pedido, con el cual va a ganar algn valor que pueda compensar la empresa enviar el pedido por correo, porque a veces el costo del correo es ms alto que el valor de la venta. Entonces, el mercado brasileo trabaja al contrario, trabaja respondiendo a la videotienda: venden una pelcula de 40, 50, 60 reales para la tienda, que por mucho vende alrededor de 500 o 800 copias mximo. As que la empresa tiene que lanzar entre cinco, seis u ocho pelculas todos los meses, caso contrario el distribuidor deja de trabajar para ellos, pues saldra perjudicado. Por eso la empresa es obligada a lanzar ocho pelculas para mantenerse en el mercado. Justamente en eso se ubica el problema, porque siendo obligados a lanzar tantas pelculas considerando que el costo de las ocho es de 5000 reales en total tienen menos escenas, nos e alcanza tiempo suficiente para la depuracin de la edicin, ocurriendo lo mismo con las cartulas. Entonces, lo que mueve el porno brasileo son las videotiendas a diferencia de los Estados Unidos donde el mercado depende del consumidor final. En ese pas no existe la figura de la videotienda, pues all la compra es realizada directamente por el consumidor. Volviendo a Brasil, al dueo de la videotienda le llega todos los meses 70 lanzamientos de todas las productoras para escoger, pero se trata de pelculas de 90 minutos de mala calidad, con solamente tres o cuatro escenas, y de valor reducido pues el distribuidor realiza la venda a la tienda a plazos, y as mismo las videotiendas dividen en hasta siete cuotas. Producciones alternativas para otros mercados

En el Brasil, las pelculas porno de carcter heterosexual son producidas en mayores cantidades. No obstante, el mercado nacional mejor posicionado en las redes internacionales de distribucin es el travesti. Algunos productores afirman que es ms fcil producir y vender este tipo de producto, en comparacin al material gay y htero, porque la calidad exigida es considerablemente menor, as como los presupuestos que se les destinan y las remuneraciones recibidas por sus protagonistas. Las travestis brasileras son cotizadas particularmente por el mercado europeo, pues ese es su principal destino de venta12.
En el mercado porno abundan series de travestis, siendo ampliamente comercializados bajo los apelativos She-males, T-girls o Brazilians T. Inclusive en el ao 2007, la serie brasilea She-males samba mania fue nominada al premio AVN, el llamado Oscar del porno, en la categora Transex, de la misma manera que sus protagonistas Carla Novaes y Thais
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En el exterior, la demanda por filmes gay tambin es alta. En Brasil este material ha sido tradicional y mayoritariamente producido por equipos que se especializan de manera casi exclusiva. Algunas de estas productoras han dejado de funcionar abriendo camino a un mercado que ultrapasa las empresas antiguas y reconocidas en este ramo. Aquellas que continan al da con el ritmo de produccin, compiten comercialmente con nuevos y pequeos productores algunos free lancers que trabajan por encomienda para productoras extranjeras o equipos estadounidenses que se establecen por temporadas en ciudades como Rio de Janeiro y So Paulo con la intencin de producir pelculas gay y travesti con elenco local y que van dirigidas al mercado exterior. De modo distinto a la travesti, la filmografa gay demanda presupuestos superiores para responder a las demandas de sus consumidores, considerados en estas redes como los ms exigentes del mercado. Por este motivo, las productoras que desean obtener una buena distribucin, as como introducirse efectivamente en el mercado, tienden a perfeccionar sus productos en trminos tcnicos y estticos y, como regla del segmento gay, a hacer pelculas con historia. De este modo, productoras reconocidas por su produccin mayoritariamente de pelculas htero, vienen ingresando en los dems mercados como alternativa comercial. En esta dinmica, es necesario destacar la produccin nacional de filmes bizarros y/o de fetiche, nombres genricos que envuelven una enorme diversidad de representaciones, cuerpos, estilos y prcticas sexuales13. Este tipo de producciones cuentan con salidas significativas en el mercado exterior, lo que permite e incentiva la circulacin de capital. Siendo as, existen productoras nacionales que sustentan sus principales redes internacionales de distribucin y venta gracias al mercado del fetiche, mientras la produccin htero es comercializada bsicamente a nivel nacional. Otras empresas establecen una estrategia de negociacin de videos con productoras extranjeras, esquema que consiste en el intercambio de pelculas nacionales de fetiche por pelculas htero producidas en esos pases. Segn directores y productores de pornografa en So Paulo, la gran ventaja que ofrece este segmento alternativo est en la heterogeneidad de estilos, prcticas y temticas ofertados, y en la gran demanda que existe en el mercado porno respecto a dicha diversidad. No dispongo de material de investigacin suficiente para analizar

Schiavinato. La aceptacin de las travestis nacionales en el mercado internacional radica en el hecho de que stas son consideradas mucho ms bonitas y exticas en comparacin a las travestis extranjeras, ciertamente en relacin a estereotipos e imaginarios que existen sobre la sexualidad y fogosidad de los nacidos en el Brasil. Como marcador positivo de diferencia, muchas travestis usan el apellido Brasil, apelativo que aumenta sus capitales simblicos internacionalmente. Adems de los cuerpos anormales mencionados en las primeras pginas, se llama bizarro a las prcticas que, dentro de la pornografa hard core, son consideradas perversas o raras, tales como el sadomasoquismo, la necrofilia, la escatologa, la zoofilia, el fist fucking, entre otras.
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el alcance de las ventas de estos productos a un nivel internacional. No obstante, se constata que las pelculas bizarras producidas en Brasil son significativamente ms consumidas fuera de las fronteras nacionales de hecho, su distribucin interna es notoriamente precaria teniendo pases como Holanda, Suecia, Hungra, Alemania, Italia e Inglaterra como sus principales compradores, en la opinin de los empresarios entrevistados. Por las redes investigadas se observ que Brasil es el principal exportador de filmes de zoofilia o de sexo con animal, como son recurrentemente llamados siendo destinadas ms bien a Europa. Pese a que sus productores puedan sufrir alguna persecucin pues evidentemente no existe un consentimiento mutuo en el acto sexual existe toda una estructura en la industria nacional organizada en torno de este tipo de producciones: reclutadores, directores, locaciones, destinos de distribucin, etc.14. A un nivel interno de produccin, vale la pena resaltar que los presupuestos destinados para este tipo de pelculas son menores, especialmente en lo relativo a las remuneraciones del elenco. Pese a que el dinero que moviliza la zoofilia en su venta es significativo, existe entre las personas del circuito una fuerte y constante estigmatizacin frente a aquellos que ejercen tales prcticas. Contantemente los propios actores y actrices porno expresan repulsin ante la posibilidad de tener sexo con animales. Algunos manifiestan que tal desconfianza pasa por razones de higiene, otros opinan que las personas que tienen sexo con perros o caballos (animales ms frecuentes) no poseen escrpulos y son perjudiciales para la imagen del porno. En general, el tipo de prcticas sexuales ejercidas tienen la capacidad de alterar el valor de los pagos. La zoofilia es la prctica peor remunerada, al igual que el sexo que incluye vmito y heces. Para comercializar pelculas y fetiches considerados hard o bizarras, las productoras poseen sellos o marcas especiales y diferentes de aquellos con los cuales distribuyen la filmografa mainstream. Por un lado, sta es una respuesta a un mercado que busca mantener separados sus segmentos, por ejemplo, una productora de
En el Brasil no existen leyes que prohban directamente el ejercicio de la sexualidad entre humanos y animales, cuestin que hace con que tal mercado especfico del porno no sea considerado ilegal. No obstante, existe una discusin de antao respecto a la proteccin de los animales. As, en el marco del debate pblico sobre la experimentacin animal en las ciencias biolgicas, el decreto n 24.645, des 10 de julio de 1934, en su artculo nmero 3, estableci ocho pautas entre las cuales encontramos la prohibicin de practicar acto de abuso o crueldad en cualquier animal. La Constitucin de 1988, en Ley n 9.605 reafirm la cuestin de la proteccin a los animales prohibiendo abusos como la mutilacin, causarles heridas o suministrarles malos tratos en general, pero tampoco hizo referencia explcita a la sexualidad. En la red investigada, existe uma confusin en relacin a la ilegalidad del comercio de la zoofilia. A pesar de que muchos suponen que sta debe ser legal, ya que es distribuida de manera no clandestina, tambin persiste la creencia de que su legalidad no es, digamos, total. Entre sus argumentos algunas personas aluden a la Sociedad Protectora de Animales, a la falta de consentimiento del animal para que se practique sexo con l, pero ninguna de estas personas pudo hacer referencia a leyes o decretos especficos elaborados por dicha entidad. Un director de filmes htero me dijo que crea que el comercio de estas pelculas es legal, existiendo nicamente la ilegalidad en los casos en que sus productores fueran descubiertos in flagrante. Sea por la confusin respecto a las leyes, por la alta estigmatizacin que sufre esta prctica sexual, o por el imaginario de que all existe algo inmoral como se dijo las redes de produccin de este material se organizan y funcionan de manera sigilosa.
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pelculas htero, gay y travesti coloca marcas diferentes en los dos ltimos, estrategia conveniente en relacin a las redes de distribucin y a los consumidores que prefieren obtener un producto especializado y especfico. Por otro lado, suelen separar las producciones bizarras de las dems porque stas podran perjudicar la imagen de la empresa, asocindola a ese tipo de material, lo cual disminuira su capital simblico. Algunos fetiches considerados leves son perdonados y no maculan negativamente la imagen de una empresa de filmes htero o sea, pelculas con enanos, orine, personas gordas, mujeres de senos enormes o con vaginas muy peludas. Los filmes con animales, por el contrario, son distribuidos, sin ninguna excepcin, con otros ttulos y sellos. Asimismo, es frecuente que los directores de pelculas mainstream que participan de la direccin de estas producciones alternativas, cambien sus nombres en respuesta a los dos motivos recin mencionados. Las empresas, a su vez, no se involucran necesariamente en la produccin directa de representaciones bizarras, sino que las compran de terceros y las comercializan con sellos diferentes tanto en el mercado nacional como en el internacional. De la misma manera, existen prcticas sexuales que son filmadas y comercializadas de manera casi exclusiva por determinadas productoras. La escatologa es la ms relevante de ellas. El monopolio de esta produccin perteneca a una productora actualmente extinta. A su vez, empresas extranjeras tambin producen este tipo de pelculas en Brasil, contando con elenco local. Diversos directores y equipos de produccin, inclusive de pelculas de fetiches leves, manifiestan salvedades respecto a grabar prcticas de escatologa. Algunos opinan que sta no es una alternativa viable bajo ninguna circunstancia. Podramos decir que en una jerarqua del sexo si pensamos en los trminos de Gayle Rubin (1984) esta prctica, junto a la zoofilia, se encuentra en el nivel ms estigmatizado, inclusive dentro de las redes de pornografa. En resumen, pese a la oscilacin comercial entre momentos de auge y quedas significativas, el sexo es una industria popular y lucrativa como afirmaba un reportaje de la Revista Isto (edicin 1713: 21, apud Leite, 2006: 61). Otro nmero de la misma revista (1641: 58) informaba que el lucro anual proveniente de la pornografa en Estados Unidos es de US$10 billones contra US$ 350 millones para el caso brasileo. Leite (Ibid) hace referencia a la revista Pequenas Empresas Grandes Negcios, la cual en su edicin 204 afirmaba que en el ao 2003, segn el presidente de la ABEME (Asociacin Brasilea de Empresas del Mercado Ertico), la industria ertica moviliz 700 millones de reales. La pornografa es solamente uno de los tentculos del mercado ertico, pero ciertamente, es uno de los principales. Este dato es significativo teniendo en cuenta que durante mi investigacin encontr diversas alusiones al ao 2003 como el cual la industria porno nacional sufri una de sus mayores cadas, de modo distinto al grande apogeo del 2001, y de su recuperacin en el 2005. Con relacin a las cifras anteriores, sean ellas reales o aproximadas, y pese a las desventajas de la produccin nacional respecto al munSexo que vende: economa de la produccin de pelculas porno Mara Elvira Daz-Bentez

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dial, el mercado porno brasileo moviliza un volumen considerable de capital en relacin a la economa del pas. Para concluir, deseo reiterar que el mercado local del sexo responde a demandas del mercado global y a la heterogeneidad de las expectativas de sus consumidores. Por otro lado, analizar la produccin de pelculas porno permite entrever los juegos de moralidad presentes en estas redes, los cuales pueden ser ledos justamente a partir de las dinmicas econmicas presentesen este universo: los mejores cuerpos ganan mejores remuneraciones, y para stos es ilegtimo el adentrarse en performances estigmatizadas, mientras los cuerpos abyectos: travestis, obesos, enanos, etc., reciben pagos inferiores y a ellos se permite ingresar en representaciones perversas, que pueden causar tanto risa como la mezcla de excitacin y repugnancia, inclusive para las personas de las mismas redes del porno. Pensar sobre el porno, por lo menos en Brasil, desde una perspectiva de la economa, es pensar en cuerpos rpidamente reemplazables, que tienen un uso limitado, y en universos laborales que se caracterizan por la flexibilidad, como gran parte del mercado del sexo. Es pensar tambin en esquemas de trabajo veloces e inestables, desde los cuales, posiblemente, pueden hacerse lecturas de las lgicas del capitalismo en las sociedades post-industriales. Referencias bibliogrficas
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Apresentao As reflexes aqui apresentadas sobre a fruio sexual no mundo online foram elaboradas no contexto da pesquisa sobre Regulao da internet e a Sexualidade2, uma iniciativa conjunta entre CLAM Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (http://www.clam.org.br/) e SPW Observatrio de Sexualidade e Poltica (http://www.sxpolitics.org/). Esta pesquisa faz parte do projeto EroTICS Exploratory Research on Information and Communication Technologies and Sexuality, da APC Women (http://www.apcwomen.org). Introduo A internet vem se tornando um espao importante para a expresso, construo e subverso de discursos tanto emergentes quanto hegemnicos. Em particular, um meio crucial para a articulao e negociao de questes que so proibidas, restritas ou de alguma forma reguladas na vida pblica offline. No esforo de nossa pesquisa, procuramos considerar o contexto da fruio da sexualidade que vem com o impacto da internet na vida cotidiana para explorar as prticas online e sua relao com o uso e regulao de contedos. Assim, identificamos como focos de conformao de espaos virtuais ao redor de: 1) identidades sexuais, 2) mercados sexuais, tanto formais quanto informais, e 3) conhecimento sexual, incluindo direitos sexuais e sade sexual. Ao estudar o acesso e o uso de comunidades s margens dos direitos sexuais, assim como iniciativas de controle ao acesso e contedo, contribumos para a compreenso de como a sexualidade e os direitos sexuais so mediados pela internet. Assim como em outras partes do globo, a internet no Brasil prov um meio para a expresso de ideias e convices, facilitando a formao de grupos e identidades. O poder inerente da internet de colocar em contato pessoas

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Pesquisador do Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ). Agradeo aqui a contribuio de toda a equipe de pesquisa, e especialmente a Horcio Svori.

com interesses convergentes tem um impacto significante para grupos s margens da sociedade, particularmente aquelas definidas pela sua expresso sexual e prticas, como grupos LGBT, por exemplo. De acordo com informao publicada pelo IBOPE, em maro de 2009 o nmero total de brasileiros com acesso internet em casa chegou a 38.2 milhes, cerca de um quinto da populao total. Destes, 87% usam banda larga, um aumento de 24% sobre o ano passado, enquanto que 62.3 milhes em algum momento acessaram a internet, seja na escola, no trabalho, em casa ou alugando tempo de acesso em uma lan house. O mesmo relatrio indica que o maior crescimento do uso da internet se deu entre mulheres, crianas e adolescentes3. Algumas das peculiaridades brasileiras quanto ao acesso internet incluem a ampla disseminao de redes de relacionamento, das quais o Orkut a mais popular, com mais de 23 milhes de membros em 2008, 53.86% do total mundial de acordo com dados disponibilizados pelo Google, a companhia que possui o Orkut. Alm disso, alguns dados observveis indicam que mesmo os jovens que no possuem um computador ou acesso internet em casa passam um tempo significativo online. Da mesma maneira, h uma migrao de espaos virtuais, em que o Orkut est sendo trocado pelo Facebook, principalmente entre os usurios de internet da classe mdia, enquanto que o Orkut permanece a rede social de classes populares. Os nmeros sobre internet do IBOPE tambm mostram que, em maro de 2007, 75% dos usurios de internet utilizavam o MSN como seu servio de mensagem instantnea, dos quais 48% tinham entre 6 e 24 anos de idade4. Para abordar a sociabilidade na internet, as formulaes de Lvy so de grande contribuio, pois ele considera o virtual uma nova modalidade de ser, cujo meio , por definio, o ciberespao um conceito que vai alm da noo de um espao puramente fsico5. O ciberespao percebido por seus usurios como um lugar real, com uma geografia prpria expressa pelos termos usados para descrever a forma como as pessoas se movem e definem sua localizao nele. Alm disso, o virtual e seus processos no so percebidos como algo diferente do real. Se a noo de espao desmantelada pelo virtual, a percepo do tempo e a noo de presena tambm so reformuladas. Assim, o meio virtual no imaginrio, no sentido de que pessoas, coletivos, atos e informaes virtualizadas se tornam desterritorializadas, fisicamente no-presentes, mas mantm-se produzindo efeitos significativos.
Folha Online 24/03/2009 Brasil tem 62,3 milhes de internautas, diz Ibope. Disponvel em: http://www1.folha.uol. com.br/folha/informatica/ult124u539808.shtml (Acessado em 03/2009).
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La Flecha 22/08/2007 Brasil cuenta con ms de 30 millones de usuarios de MSN Messenger. Disponvel em: http:// www.laflecha.net/canales/blackhats/brasil-cuenta-con-mas-de-30-millones-deusuarios-de-msn-messenger
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Cf. LEVY, P. Quest-ce que le virtuel? La Dcouverte, Paris, 1995.


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As tecnologias da internet sustentam sua hegemonia sobre a reproduo bem sucedida de modelos anlogos a situaes a que as pessoas esto habituadas, como pode ser visto no esforo constante por uma interatividade mais user-friendly o desejo de reproduzir formas de interao equivalentes dinmica do mundo offline. A internet tem um grande potencial para desenvolver novas formas de interao social, performances e representaes de identidade, pois abre um novo reino de metforas, formas de ser e relaes sociais. Tais realidades ou novas formas sociais no so meramente virtuais, no sentido de pertencerem exclusivamente representao online, pois desenvolvem-se como formaes sociais concretas no sentido mais estrito do termo. Estudos sobre a internet devem reconhecer os significados do fenmeno que analisam no contexto de seu impacto cultural. Uma abordagem antropolgica ajuda a elaborar a compreenso das relaes sociais que ocorrem atravs da internet, ao analisar as trocas simblicas mediadas por esta tecnologia. Assim, o ciberespao no deve ser tratado como uma esfera separada de atividade social; e deve ser evitada uma abordagem dialtica do real e do virtual como experincias distintas, separadas. Nas palavras de Wilson & Peterson: a distino entre a comunidade real e a virtual ou imaginada no til. Sua viso que uma abordagem antropolgica bem sucedida para investigar o continuum de comunidades, identidades e redes que existem da mais coesa mais difusa a despeito dos meios pelos quais os membros destas comunidades interagem6. Notas sobre as comunidades na internet, gnero e expresso sexual A sociabilidade na internet, como uma nova modalidade do ser, tornou-se um meio para a auto-expresso, bem como para o sucesso e a expanso de redes sociais e comunidades. No Brasil, junto com o desenvolvimento da internet, seu uso como um espao para as pessoas se unirem, se expressarem e trocar em ideias expandiu, e expresses e trocas sexuais se tornaram de fato um dos grandes componentes da comunicao pela internet. Comunidades sociais como o Orkut, Facebook, MySpace, Twitter, junto com a troca de mensagens instantneas e blogs e fotologs, so uma forma popular de socializao. Estas redes raramente so reconhecidas como agentes polticos, ainda que ofeream uma oportunidade para grupos dividirem novidades e anncios, aprenderem sobre tendncias, iniciativas, eventos e entretenimento, conectando-os inclusive a atores polticos mais organizados. Organizaes e grupos
WILSON, S. M.; PETERSON, L. C. The Anthropology of online communities. Annual Review of Anthropology, v. 31. p. 449-467, 2002:456-7. Available at: <http://arjournals.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.anthro. 31.040402.085436>. Accessed 03/2009.
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ativistas (feminista e LGBT, por exemplo), assim como o setor de negcios tambm esto presentes na internet atravs de seus websites, listas de email, fruns, e outros espaos no restritos ao pblico no-organizado, incluindo as comunidades sociais mencionadas acima. Tais espaos tambm sediam trocas sexuais, incluindo vrios tipos de parcerias (sexo casual, namoro, casamento), e sexo pago, sejam negociadas preliminarmente ou de fato performadas online. A conformao destas atividades como um mercado sexual (amplamente definido), combinado com a vasta acessibilidade online a contedos definidos como pornogrficos (a despeito de nuances nesta classificao), justifica a percepo da internet como um espao perigoso, onde os sujeitos tutelares clssicos, particularmente crianas, se tornam vtimas presumidas de violncia e abuso. Adicionalmente, o anonimato associado s comunicaes virtuais considerado como algo que ao mesmo tempo protege e aumenta o acesso de agressores, e torna as vtimas em potencial mais vulnerveis. Num mapeamento inicial dos espaos sociais onde a auto-expresso e a comunicao ocorrem, nossa pesquisa classificou algumas redes dinmicas e, assim, possvel focar em trs eixos de classificao dos espaos virtuais. A forma mais eficiente de estudar estes espaos adotar a abordagem de rede, em que um grupo de websites relacionados analisado, e onde um ou mais que sejam exemplares podem ser escolhidos como estudos de caso. No primeiro eixo podemos classificar as identidades sexuais, incluindo sites, blogs e sees LGBT de redes de relacionamento como o Orkut. Pode-se observar que alguns websites no Brasil se tornaram um meio privilegiado para a comunicao do pblico LGBT, particularmente entre os jovens. Assim, preciso entender a forma como essa populao se apropria destes espaos. Ainda sobre identidades sexuais, a internet possibilita que outros segmentos (politicamente organizados ou no) de pessoas associadas a certas prticas sexuais se encontrem no meio virtual, criando espaos de sociabilidade e at de organizao. Um exemplo disto a comunidade de praticantes de sadomasoquismo, conhecido por seus adeptos como BDSM, que esto em constante contato atravs da internet. No segundo eixo de classificao ficam os mercados sexuais propriamente ditos, que podemos distinguir entre o comercial e o no-comercial, mas entendendo que esta fronteira fluida, principalmente se pensarmos em termos dos usurios. No mercado no-comercial, servios online de encontros, assim como redes sociais de relacionamento, tornaram-se modos disseminados de acessar o mercado afetivosexual. No mercado comercial, podemos classificar os sites de anncios para prostituio, tanto masculina quanto feminina, em diversos formatos. importante considerar tanto o uso que fazem aqueles que anunciam, quanto o dos clientes. Alm disso, o mercado do sexo comercial no est restrito aos espaos que se dedicam claramente a este propsito, mas presente nas redes de relacionamento e de encontros. Assim como nem sempre possvel demarcar claramente se um encontro
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sexual mediado por interesses econmicos, os espaos online em que eles ocorrem tambm no so necessariamente bvios. O ltimo eixo o do conhecimento sexual, incluindo direitos sexuais e sade sexual. preciso olhar para a troca de informao sobre conhecimento sexual no apenas do ponto de vista da passagem pedaggica de conhecimento, seja qual for o ator poltico que a desenvolve e sob que interesses. A pornografia, contedo amplamente disseminado na internet, deve ser entendida tambm como uma fonte de conhecimento sexual. Referncias bibliogrficas
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Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 3


Gabriela Leite1, que coordenou os debates sobre o texto panormico, deflagrou as discusses destacando com muita nfase que, ao pensar a economia na prostituio, preciso no restringir a anlise ao campo da lgica pecuniria. Segundo ela, os aspectos monetrios so apenas uma das dimenses da realidade e experincia da prostituio, que no pode ser compreendida sem referncia economia do desejo. Adicionalmente, Gabriela lembrou que h muito que aprender com as prostitutas, mas, para isso, preciso tomar distncia das vises estereotipadas sobre prostituio. Corina Rodrguez2 desenvolveu comentrios ao texto panormico do lugar de uma economista que pensa questes de economia a partir da perspectiva feminista. Observou, contudo, que suas reflexes acerca das vinculaes entre sexualidade e economia so ainda exploratrias e preliminares. Suas reflexes foram de duas ordens. Num primeiro bloco, ela examinou questes suscitadas pela leitura do texto panormico e, em seguida, elaborou algumas reflexes sobre aspectos que, ao seu ver, precisariam ser includos na anlise. Rodrguez reiterou a importncia de considerar a prostituio uma atividade econmica, situada no contexto mais amplo da insero das mulheres no mercado de trabalho brasileiro, que , como em outros contextos, caracterizada por uma segregao ocupacional baseada no sexo, da qual resulta que as mulheres estejam em setores de maior informalidade e precariedade e que haja uma persistente disparidade salarial entre homens e mulheres. Contudo, a comentarista tambm interrogou a noo de opo racional pela atividade enfatizada por Silva e Blanchette a partir da crtica desenvolvida por economistas feministas, que consideram necessrio e produtivo questionar os pressupostos de escolha racional que informam a economia clssica. Segundo essas autoras, essas escolhas ditas racionais esto sempre contaminadas por posies individuais e contextos determinados pela lgica mais geral do capitalismo e da dominncia masculina. Alm disso, segundo Rodrguez, ao equalizar o trabalho na prostituio e outras inseres no mundo laboral, a anlise tende a inviabilizar as peculiaridades da
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Diretora da ONG Davida Prostituio, Direitos Civis, Sade.

Economista, pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Cientficas e Tcnicas (Coincet) e do Centro Interdisciplinar para Estudo de Polticas Pblicas (Ciepp) e professora em universidades federais na Argentina.

ocupao, cujos traos diferem dos empregos convencionais, entre outras razes por que uma atividade inscrita num discurso de marginalidade, sujeita a forte estigma social, e tambm a uma maior vulnerabilidade violncia fsica e transmisso de doenas sexualmente transmissveis, ou mesmo a formas especficas de explorao por parte de cafetes. Isso significa reconhecer que, se por um lado, o nvel de remunerao, a autonomia e a flexibilidade so vantagens evidentes, as prostitutas experimentam situaes de insegurana e vulnerabilidade e, sobretudo, carecem de polticas pblicas e direitos aos quais tm acesso, ao menos formalmente, as demais trabalhadoras. Finalmente, a comentarista sugeriu que o texto poderia ser enriquecido se algumas outras dimenses fossem includas na anlise. A primeira diz respeito a situar o estudo realizado no Rio de Janeiro no contexto brasileiro mais amplo, pois, em outros lugares, o mercado do sexo talvez assuma configuraes diferentes das que se observam no Rio de Janeiro e So Paulo (assim como acontece com o mercado de trabalho em geral, que apresenta importantes variaes regionais). Em segundo lugar, Rodriguez considera que seria muito importante estimar qual a contribuio do mercado do sexo para a economia da cidade e do pas, apontando qual a relao desta com outros setores, como no caso do turismo. Sugeriu ainda que seria fundamental examinar se as aes estatais relativas prostituio se resumem ao policial repressiva ou se incluem aspectos relativos regulao no sentido econmico e, sobretudo, se existem ou no polticas pblicas especficas para responder s necessidades das trabalhadoras sexuais. Seu comentrio final enfatizou que, nesse campo de pesquisa, talvez mais que em outros crucial utilizar a moldura de anlise desenvolvida por Nancy Fraser e outras autoras quanto necessidade de articular lgicas de reconhecimento (de identidades e prticas) e polticas redistributivas. Aps as apresentaes dos quatro trabalhos do painel, Lohana Berkins3 iniciou seus comentrios pontuando que ela, como travesti, e suas companheiras de organizao no reconhecem a prostituio como um trabalho e, por isso, preferem se referir a trabalhadoras do sexo como pessoas em situao de prostituio. Consideram que prostituio uma situao de transio que as pessoas podem viver em algum momento de suas vidas, mas que preciso assegurar a elas opes de sada. Como feminista que j viveu em situao de prostituio, ela considera que a prostituio uma forma especfica de regulao da sexualidade. Para Berkins, a atividade existe porque as sociedades a legitimam, ainda que na marginalidade, e os estados, sejam socialistas ou capitalistas, se beneficiam dos rendimentos que os mercados do sexo proporcionam. Por outro lado, segundo Berkins, as pessoas mesmas em situao de prostituio no se beneficiam desses ganhos.
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Presidenta da Associao de Luta pela Identidade Travesti e Transsexual (ALITT), Argentina.


Sesso 3 Sexualidade e economia: visibilidades e vcios

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Ela ainda sublinhou que h diferenas significativas entre as condies expeue significativas ivas rimentadas por mulheres e por travestis e transexuais em situao de prostituio, pois as sociedades e os estados impem a prostituio a travestis e transexuais como nica alternativa de sobrevivncia econmica. Segundo ela, preciso perguntar por que as travestis, ainda que famosas, s tm seu corpo reconhecido e valorizado no mercado sexual?. Na sua avaliao, essa uma lacuna importante do texto panormico. Finalmente, sugeriu que ao pesquisar e refletir sobre prostituio, fundamental incorporar o debate sobre corporalidades, no sentido de problematizar a noo dominante que aponta para a existncia de uma linearidade, uma unicidade entre corpos femininos. Miguel Muoz-Laboy4, o segundo comentarista dos textos apresentados no painel, lanou mo de quatro personagens fictcios para ilustrar suas reflexes crticas: Anglica, uma atriz travesti que grava um filme no Rio de Janeiro para a Internet; Camila, uma trabalhadora sexual brasileira que est em Barcelona; Oliver, um ator porn que participa de seu primeiro filme em So Paulo; e Isabel, uma migrante mexicana que chegou a Ontrio para trabalhar por dois meses. A partir destes quatro cones, Muoz-Laboy explorou aspectos e dimenses que dizem respeito multiplicidade e complexidade dos mercados sexuais contemporneos. Um primeiro aspecto que hoje, segundo ele, mercados locais tambm devem responder a demandas globais e precisam preencher expectativas de consumidores e consumidoras muito heterogneas. Assim sendo, a flexibilidade uma condicionante crucial das regras que regem esse campo de atividade econmica. Um segundo aspecto marcante diz respeito intensificao ou acelerao da velocidade de produo: a produo muito rpida de um filme porn, a girlfriend experience por uma semana, a transa que vale um real por minuto etc. Estas situaes evocam os debates tericos sobre a condensao do tempo nas sociedades ps-industriais e confirmam que todas a formas de trabalhos so cada vez mais rotativos e as trabalhadoras e trabalhadores facilmente dispensveis. Um ltimo aspecto diz respeito s dinmicas de circulao. As pessoas circulam em migraes sexuais, mas tambm em busca de outros trabalhos, e as imagens circulam nos espaos virtuais que j so reais. Dito de outro modo, a sexualidade e os mercados do sexo esto definitiva e intrinsecamente associados a lgicas mais amplas e profundas que caracterizam o chamado capitalismo tardio. Finalmente, Gabriela Leite retomou a palavra fazendo um apelo no sentido de que seria importante relativizar ou desconstruir o significado do termo riqueza que havia sido problematizado durante as discusses, em especial o tema de riqueza ou pobreza das pessoas envolvidas nos mercados do sexo. Resgatando sua trajetria pessoal ela compartilhou a seguinte reflexo:
Professor do Departamento de Cincias Sociais e Medicina da Universidade de Columbia e membro da equipe do Observatrio de Sexualidade e Poltica.
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Comentrios

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Eu no fiquei rica trabalhando como prostituta. Mas riqueza no s dinheiro. No ganhei dinheiro, mas fiquei rica de experincia, rica de conhecer mais de perto os homens, de admirar os homens, mas tambm ver as fragilidades dos homens perante a sua sexualidade, homens que me deram o grande prazer de conhecer um outro sem preconceito.

Por essa razo, segundo ela, embora seja necessrio e importante analisar a prostituio como um setor da economia transnacional, continua sendo fundamental contestar o forte estigma que continua a pesar sobre a associao entre sexo e dinheiro. Gabriela sugeriu, portanto, que os debates sobre prostituio sejam pautados pela crtica a esse estigma, por uma agenda de direitos sexuais e pela premissa da liberdade.

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Sesso 4:
Religio e poltica sexual

TEXTO PANORMICO

Sexualidad, religin y poltica en Amrica Latina


Juan Marco Vaggione1

Introduccin2 Sexualidad y religin, contra los pronsticos de la modernidad, son dos dimensiones cruciales para entender las polticas contemporneas. Si la modernidad como proyecto ideolgico pretendi confinar tanto a la una como a la otra (si bien de modos diversos) en la esfera privada, despolitizndolas, en realidad se produjo un proceso opuesto. Por un lado, la sexualidad se ha transformado en una dimensin indiscutible de las polticas nacionales y transnacionales trasvasando la dicotoma pblico/privado e inscribiendo nuevas formas de entender la democracia y la justicia. Lejos de quedar reducida al terreno de lo privado, la sexualidad se ha constituido en una de las principales dimensiones que estructuran, de manera desigual, a la poblacin generando marginaciones y ciudadanas fallidas. La religin tampoco ha cedido a su pretendido destino que, de manera inexorable, la colocaba como el afuera de la poltica. Al contrario, cada vez con mayor urgencia es necesario para las ciencias sociales (re)pensar las fronteras, otrora claras e indiscutidas, entre lo religioso y lo poltico. En las relaciones internacionales, en las regulaciones jurdicas sobre la familia, en las polticas migratorias, en las elecciones, como en tantas otras temticas, las religiones no slo son una voz de los debates sino que tambin tienen una fuerte influencia en la toma de decisiones. La politizacin tanto de la sexualidad como de lo religioso deben, en gran medida, entenderse en sus mltiples entrecruzamientos y vinculaciones. Politizar la sexualidad, rediscutir sus fronteras legales y sus regulaciones culturales implica, de
Investigador del CONICET; Departamento de Sociologa en la Universidad Nacional de Crdoba, Argentina. E-mail: [email protected]
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El autor agradece a los organizadores y participantes del Dilogo Latinoamericano sobre Sexualidad y Geopoltica. All se present una primera versin de este trabajo que se enriqueci con los comentarios y debates que tuvieron lugar.
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manera inevitable, debatir el rol de las religiones en las sociedades contemporneas. Lejos de replegarse, lo religioso es una dimensin crucial en la mayora de los pases y es, precisamente, el debate sobre la regulacin legal y moral de la sexualidad una arena donde su presencia se vuelve ms palpable. Pero tambin las polticas emancipatorias de la sexualidad han implicado un cambio al interior del campo religioso. La religin no es pura reactividad, e importantes actores y discursos religiosos sostienen una postura favorable a la libertad y diversidad sexual. Lo religioso obedece a un contexto determinado y si bien, algunos sectores religiosos han intensificado su defensa de una postura rgida hacia la sexualidad, como forma de sostener un control social ms amplio, otros encuentran en los principios y creencias religiosas las bases para defender posturas feministas y/o favorables a la diversidad sexual. Este artculo aborda las interacciones entre sexualidad, religin y poltica a travs de dos objetivos que, aunque interconectados, conforman partes diferentes del trabajo. En primer lugar, se presenta una sistematizacin de algunos de los anlisis existentes en Latinoamrica sobre las relaciones entre religin, sexualidad y poltica. Hablar de un marco terico sobre la temtica puede ser apresurado ya que si bien la religin, por un lado, y la sexualidad, por el otro, han crecido como reas de investigacin, sus interacciones son an un espacio de indagacin en formacin. Sin embargo, a travs de esta sistematizacin pueden advertirse algunas de las mltiples y complejas formas en que las polticas de lo sexual y las polticas de lo religioso se conectan e imbrican en Amrica Latina. Por motivos expositivos, se identifican dos maneras de relacionar la religin, la sexualidad y la poltica. Un tipo de abordaje pone el acento sobre las mltiples formas en que la religin se constituye en un obstculo principal para las definiciones plurales y diversas sobre la sexualidad. Tanto a nivel de las identidades como de las legislaciones y polticas pblicas, las instituciones religiosas, en particular la Iglesia Catlica, son analizadas como las principales sostenedoras del patriarcado y la heteronormatividad. El otro abordaje, rompe con la asociacin de lo religioso como necesariamente represivo en cuestiones de sexualidad e ilumina, en cambio, distintas dinmicas en las cuales lo religioso y la sexualidad entendida de manera amplia y plural pueden ser parte de un proyecto integrado. Este tipo de abordaje inscribe un vnculo poltico distinto en la relacin sexualidad y religin. Si el primer abordaje tiende a considerar lo religioso como una fuerza patriarcal y heteronormativa, en estos estudios se evidencia que la religin, en su complejidad, heterogeneidad y dinamismo, puede ser una influencia favorable para el cambio social y legal sobre la sexualidad. La segunda parte del artculo pretende inscribir las polticas de lo sexual en el contexto de dos giros que caracterizan a las ciencias sociales en relacin con las polticas de lo religioso. En primer lugar, un giro analtico que ha implicado una vuelta a lo religioso como materia de las ciencias sociales pero superando la estrechez de teoras que, basadas en la herencia de la modernidad y del secularismo, limitaban
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la complejidad poltica de lo religioso. Ni las creencias religiosas han retrocedido ni las instituciones religiosas se han privatizado, lo que obliga a pensar la presencia de lo religioso de formas novedosas. De este modo, el artculo considera los cambios y mutaciones del activismo religioso a nivel de los actores y de los discursos en su defensa de una concepcin nica y dogmtica de la sexualidad. Si bien las polticas de lo religioso implican a las jerarquas religiosas influenciando de manera directa a gobernadores, legisladores y jueces, es tambin necesario iluminar analticamente formas alternativas (no por ello menos influyentes) mediante las que el activismo religioso obstaculiza los derechos sexuales y reproductivos (DDSSRR). El cambio de contexto que permiti que estos derechos entren a la agenda pblica, ha generado tambin una rearticulacin del activismo religioso que, sin abandonar formas tradicionales de influencia, ha logrado instaurar nuevos pliegues en las polticas de la sexualidad. En particular, se propone el concepto de politizacin reactiva como un instrumental analtico para captar los cambios en las polticas de lo religioso opuestas a los derechos sexuales y reproductivos. La segunda parte del artculo tambin propone repensar los vnculos entre sexualidad, religin y poltica tomando en cuenta el giro normativo que caracteriza las discusiones contemporneas. As como la teora de la secularizacin, y sus mltiples dimensiones, est siendo revisada por sus limitaciones analticas para captar la centralidad de lo religioso en las sociedades contemporneas, tambin el secularismo, como una ideologa, como una forma de definicin de lo pblico y de lo poltico est sujeto a mltiples debates crticos. En particular, las ciencias sociales han comenzado a superar las concepciones que limitaban lo religioso a la esfera privada, proponiendo diversos modelos normativos que amplan el espacio poltico de lo religioso. Mas all del lugar que se ocupe en este debate, el dilema para las polticas emancipatorias de la sexualidad pasa por acomodar la inevitabilidad poltica de lo religioso (tanto fctica como normativa) con la necesidad de profundizar la vigencia de los derechos sexuales y reproductivos. Tanto las mutaciones del activismo religioso conservador como este giro normativo que ha complejizado las fronteras entre lo religioso y lo poltico, instauran un nuevo escenario para las polticas de la sexualidad. Si por aos el secularismo, como ideologa que construye lo religioso como el afuera de las polticas democrticas, implic un horizonte normativo favorable para las polticas de la sexualidad, en la actualidad el desafo pasa, precisamente, por encontrar concepciones de lo pblico y estrategias polticas que consideren a lo religioso como una dimensin legtima de las democracias. En particular, la ltima parte del artculo considera tres de los principales dilemas normativos que surgen de las interacciones entre sexualidad, religin y poltica cuando se considera de manera crtica al secularismo como ideologa de la modernidad. Si los distintos contextos histricos implican desafos diferentes para las polticas de la sexualidad, en las sociedades contemporneas el
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desafo consiste en complejizar los marcos analticos y las estrategias polticas para poder comprender y resistir la fuerza poltica de las religiones como parte legtima, al menos parcialmente, del juego democrtico. Es necesario, previo a cerrar esta introduccin, una aclaracin sobre el nivel de generalidad de este trabajo que, motivado por el objetivo de los dilogos regionales, se focaliza en Latinoamrica como regin. Las especificidades y diferencias entre los distintos pases son los suficientemente marcadas como para desconocer que se est refiriendo a una regin en gran medida imaginaria, y que cualquier generalizacin implica, necesariamente, un recorte de dinmicas ms complejas y diversas. Reconociendo estas limitaciones, este trabajado pretende, sin embargo, plantear algunas tendencias, as como proponer categoras analticas y desafos normativos que son relevantes ms all de los contextos nacionales especficos. PARTE I
1. La Religin y la Sexualidad: antagonismo e integracin

Durante los ltimos aos, la religin volvi a ocupar un lugar prioritario en las agendas acadmicas y polticas. Luego de dcadas de ser una preocupacin marginal y relegada a los especialistas, la religin vuelve a ser un eje central en la comprensin de las polticas contemporneas. Frente al fracaso innegable de las teoras que se construan sobre las predicciones de lo religioso como fenmeno en extincin, la teora social ha comenzado a dar explicaciones alternativas sobre sus mltiples manifestaciones, en especial sobre el rol poltico de las religiones. Estas estn produciendo diversos replanteos sobre las fronteras entre religin y poltica. Disciplinas como la sociologa, las ciencias polticas o el derecho (slo por mencionar algunas) han intensificado los estudios sobre lo religioso desde una perspectiva crtica a los marcos tericos que por dcadas dieron sentido a las polticas y democracias contemporneas. La sexualidad es una de las arenas privilegiadas (por sus complicaciones) desde las cuales repensar la vigencia poltica de lo religioso. Tanto los estudios que se focalizan en la sexualidad como aquellos que se interesan por la religin han ido complejizando el anlisis sobre los mltiples entrecruzamientos entre sexualidad, religin y poltica. La vuelta de lo religioso, en el sentido de una presencia que nunca termin de retirarse de las dinmicas sociopolticas, as como la vuelta a lo religioso entendida como un giro analtico en las agendas acadmicas, es particularmente relevante para las polticas de la sexualidad. Estos giros producen un renovado inters sobre lo religioso en los anlisis de la sexualidad, y viceversa, lo que ha redundado en una mayor sofisticacin y profundidad de los estudios. Siguiendo
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distintas metodologas, mirando distintas dinmicas y motivados por diferentes propsitos, las reflexiones sobre las polticas de lo religioso y de lo sexual se han incrementado notablemente en las agendas acadmicas de los EEUU y de Europa en los ltimos aos. En Latinoamrica, aunque es an un rea en construccin, existen diversos estudios que, de forma directa o no, ponen el eje sobre los entrecruzamientos entre sexualidad, religin y poltica. El objetivo de esta primera parte es presentar dos formas diferentes, aunque no necesariamente incompatibles, de trazar estos entrecruzamientos. Un tipo de abordaje, el que ms presencia tiene, identifica una relacin antagnica entre lo religioso y la libertad y diversidad sexual. En este abordaje, la religin tiende a ser considerada como un factor principal en el sostenimiento del patriarcado y la heteronormatividad como sistemas de dominacin. El vnculo entre las religiones tradicionales y el feminismo o el movimiento por la diversidad sexual puede definirse como de enemigos perfectos3 ya que se movilizan defendiendo cosmovisiones opuestas. Sin embargo, existe otro tipo de abordaje que ilumina las mltiples formas en que lo religioso coexiste con una concepcin amplia y plural de la sexualidad. Sin negar que las religiones constituyen un obstculo para las polticas emancipatorias de la sexualidad, desde este abordaje se construye a lo religioso de manera heterognea. Heterogeneidad que implica que, en diversas situaciones y por distintos motivos, lo religioso es (o puede ser) parte de una construccin amplia y diversa sobre la sexualidad. Reducir lo religioso a una postura heteronormativa y/o patriarcal es simplificar el abanico de posibilidades, ya que el pluralismo existe no slo entre distintas tradiciones religiosas sino incluso al interior de las mismas. La presentacin de estos dos abordajes, slo distinguibles por motivos expositivos, tiene como objetivo identificar distintas maneras de plantear los vnculos polticos entre religin y sexualidad (antagnicos o de integracin) as como los diferentes niveles que se consideran (abordajes que se focalizan en el nivel individual y aquellos que lo hacen en las legislaciones y polticas pblicas). Si bien es una temtica que recin est fortalecindose en las agendas acadmicas, es necesario rescatar la variedad de anlisis e interconexiones que se han producido en los diferentes pases de la regin. No se pretende construir un marco terico completo y abarcativo (parte por constreimiento en el espacio y parte por la inexistencia de un trabajo de sistematizacin a nivel regional) pero s utilizar algunas investigaciones existentes, con el propsito de ejemplificar las formas en que las complejas interacciones entre sexualidad, religin y poltica estn siendo abordadas en Amrica Latina.

Enemigos Perfectos (perfect enemies) es el ttulo de un libro de Gallgher y Bull (2001) en el cual se analizan las causas y consecuencias del antagonismo entre la derecha religiosa y el movimiento por la diversidad sexual.
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2. Lo religioso como obstculo para las polticas emancipatorias de la sexualidad

Una forma de conectar sexualidad, religin y poltica, tal vez la ms extendida, es entender a las religiones como portadoras de un dogmatismo que impide la libertad y diversidad sexual. Desde esta mirada, las religiones construyen, sostienen y legitiman un sistema nico de sexualidad que se estructura sobre la opresin y la exclusin de amplios sectores de la poblacin. Las instituciones religiosas, en su doble rol de agentes de socializacin y actores polticos, son sindicadas como las principales sostenedoras del patriarcado y la heteronormatividad. Ms all del debate sobre la influencia de las religiones en el origen de estos sistemas de dominacin, no hay dudas que en las sociedades contemporneas las principales instituciones religiosas son defensoras de una definicin de la sexualidad que privilegia a los varones y naturaliza a la familia heterosexual como nico espacio legtimo para la sexualidad4. Este vnculo antagnico entre lo religioso y las polticas emancipatorias de la sexualidad se presenta de diversas maneras. Desde lo religioso estructurando cultural y moralmente las sociedades y los individuos hasta el rol de las instituciones religiosas tomando un papel activo en las discusiones legales y en la implementacin de polticas pblicas. Como se detalla a continuacin existe una amplia variedad de anlisis que identifican a lo religioso como una barrera para la democratizacin de la sexualidad. Mientras algunos estudios ponen el acento en las formas en que las religiones fortalecen concepciones restrictivas sobre la moral sexual, e inscriben la nocin de pecado para sentar lmites morales, otros estudios se focalizan en las formas en que el activismo religioso, sobre el poder ejecutivo o el legislativo, contina siendo el principal obstculo para los derechos sexuales y reproductivos. Un nivel de anlisis para de este antagonismo se focaliza en el rol de las creencias religiosas sobre los individuos y/o sobre la cultura. Un nmero importante de estudios concede prioridad analtica a las formas en que la religin, considerada como variable independiente, influye sobre los individuos en el sostenimiento de concepciones restrictivas de la sexualidad. La sexualidad, sus prcticas y regulaciones, estn fuertemente conectadas a la atribucin de significados, a la construccin de jerarquas de valor sexual en las cuales las religiones son agentes de produccin y reproduccin con alto impacto. Por un lado, esta conexin se presenta a nivel de las opiniones y actitudes de la ciudadana hacia la homosexualidad y el aborto. Los estudios empricos suelen indicar que la identificacin religiosa con ciertas tradiciones y/o la intensidad del sentimiento religioso son variables importantes para explicar las posturas ms conservadoras hacia la sexualidad5. Ms all de
Para el anlisis de las principales razones del por qu la religin es una dimensin influyente sobre el gnero y la sexualidad se puede consultar Inglehart y Norris (2003), particularmente el Captulo 3.
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5 Este tipo de estudios es ms frecuente en pases como los EEUU donde existen importante bases de datos y un
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las diferencias de clase, de educacin, de edad o de gnero entre otras la religin y la religiosidad son influencias relevantes para entender opiniones moralmente conservadoras y legalmente restrictivas6. El rol de las creencias religiosas en Latinoamrica tambin ha sido considerado como una influencia determinante de un tipo de cultura que dificulta los cambios legales necesarios para la democratizacin de la sexualidad. Especficamente, la influencia del catolicismo en la regin gener un sistema de doble discurso que es un obstculo central para los derechos sexuales y reproductivos. Este doble discurso consiste en que mientras a nivel pblico se legitima una postura represiva y estricta sobre la sexualidad, que responde a los principios de la doctrina catlica, a nivel privado se toleran mecanismos no oficiales, incluso ilegales, que permiten el acceso a las prcticas anticonceptivas o abortivas7. Debido a esta distancia entre las polticas pblicas y las acciones privadas se complican los cambios legales ya que, al menos para las clases privilegiadas, el acceso a prcticas anticonceptivas o abortivas es amplio y seguro (vlvulas de escape a la situacin restrictiva)8. Otra serie de estudios enfocan el antagonismo a travs del anlisis de la disonancia o conflicto de roles que se producen en aquellos que asumen una identidad sexual disidente9. En las narrativas biogrficas de las personas LGBTQ10 son frecuentes las referencias a lo religioso como un obstculo central para romper con la heterosexualidad compulsiva11. En Latinoamrica es el catolicismo la influencia que genera restricciones culturales y morales para el ejercicio de una sexualidad libre y diversa. Construcciones asociadas a la culpa o el pecado son obstculos importantes para el empoderamiento poblacional sobre la sexualidad. El poder de las religiones se basa, entre otras cosas, en la construccin de una subjetividad moral, arena en la que el avance del feminismo y el movimiento por la diversidad sexual no han logrado an contrarrestar12. Por ello, todo anlisis sobre los derechos sexuales y reproductivos debe, adems de contemplar los aspectos ms formales o legales, considerar las construcciones culturales (adems obviamente de las econmicas) que dificultan el libre ejercicio de los derechos. Otras tradiciones religiosas son tambin sealadas en la regin como influenciando a los individuos con una postura contraria a la libertad y diversidad sexual.
pluralismo religioso. Ver, por ejemplo, Woodrum y Davison (1992).
6 7 8 9

Ver, por ejemplo, Lista (2004) y Vaggione (1998). Ver, Bonnie Shepard (2000). Para un anlisis del doble discurso en Chile, ver Hurtado, Josefina y otros (2004). Mahaffy (1996). Lesbianas, Gays, Bisexuales, Trans (Transexuales, transgneros, Travestis) Queers. Adrianne Rich (1998). Ver Araujo (2005).
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El Pentecostalismo, por ejemplo, ha sido sealado como una religin que sostiene una posicin fuertemente conservadora sobre la sexualidad que se refleja en las terapias de cura de la homosexualidad. La explicacin de la homosexualidad se conecta a la presencia de fuerzas sobrenaturales (demonizacin) sobre el individuo y la solucin es precisamente purificar el cuerpo para liberarlo13. Sectores evanglicos conservadores han creado organizaciones con impacto internacional, como Exodus, con el objetivo de liberar, por medio del poder de Jess, a la gente de la homosexualidad. Este tipo de organizaciones tambin tienen presencia en la regin latinoamericana14. Adems del efecto individual sobre las personas que buscan curar su sexualidad y de reforzar a nivel social una construccin de la homosexualidad como patologa, el accionar de los grupos evanglicos conservadores refuerzan la estigmatizacin produciendo ciudadanos de menor jerarqua15. Otra serie de estudios ponen el acento sobre las formas en que lo religioso influencia a los diversos actores involucrados en las legislaciones y polticas pblicas sobre la sexualidad: desde la actuacin pblica de la jerarqua eclesial influenciando los principales debates hasta la influencia de los valores religiosos en los principales decisores polticos. Sin dudas, las distintas jerarquas religiosas ocupan un lugar destacado cuando se consideran los principales actores en oposicin a los cambios legales en las formas de regular la sexualidad en Latinoamrica. Ms all de las influencias a nivel individual sosteniendo el patriarcado y la heteronormatividad, las instituciones religiosas se movilizan activamente para evitar que se sancionen los DDSSRR o incluso para limitar o revertir su eficacia. Las religiones se han convertido en los principales actores en las polticas de la sexualidad y al margen de la regin o religin que se trate, es frecuente observar la jerarqua religiosa con un rol activo en los debates pblicos. En el caso de Latinoamrica, es jerarqua Catlica la que recibe prioridad analtica como actor en las polticas pblicas y debates legislativos sobre la sexualidad16. En una regin donde la confesionalidad de los Estados ha sido una regla formal o informal de la poltica17, no es sorprendente que sea el vnculo existente entre la Iglesia catlica y el Estado el que posibilita, o no, los DDSSRR. Mientras ms cercanos sean los gobiernos a la Iglesia catlica o mientras ms dependan para su legitimidad del apoyo de la misma, menores son las posibilidades que se sancionen DDSSRR. Es comn encontrar en los pases latinoamericanos un vnculo clientelar
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Hay diversos estudios en esta direccin. Por ejemplo, Machado (1998) o Natividade (2006). Ver, por ejemplo, Exodus en Amrica Latina <http://www.exoduslatinoamerica.org>. Ver Natividade y Oliveira (2009).

En el libro compilado por Claudia Dides, (2004) se identifican las principales estrategias de la Iglesia catlica para influenciar los derechos y salud sexual y reproductiva en distintos pases de la regin (Argentina, Colombia, Chile y Per). Entre estas estrategias se mencionan lobby o cabildeo, uso de medios de comunicacin masiva y campaas pblicas. Otras obras a consultar son Htun (2003); Barrancos (2006); Guzman Stein (2001).
17

Huaco Palomino (2008).


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entre Estado e Iglesia por el cual la Iglesia otorga legitimidad a los gobernantes a cambio de que los mismos defiendan su concepcin de familia y de sexualidad18. Pero la jerarqua catlica es heterognea y, algunos anlisis, identifican los principales sectores con mayor protagonismo poltico contrario a los DDSSRR19. Tanto activistas como analistas tienden a indicar al Opus Dei como el sector catlico con ms poder en defensa de una sexualidad nica en la regin. El Opus Dei fundado en 1928 en Espaa, aunque obtuvo un status formal privilegiado (prelatura personal) durante el mandato de Juan Pablo II, es una organizacin altamente globalizada que cuenta tanto con religiosos como con laicos. Adems del poder poltico y econmico de la organizacin en las ltimas dcadas logr tambin un lugar de privilegio al interior de la Iglesia Catlica. Otro sector de la jerarqua activa en la regin es El Solidicio de la Vida Cristiana fundado a fines de los 60s en el Per y con presencia en otros pases20. Tambin puede mencionarse la congregacin religiosa los Legionarios de Cristo, con foco en la educacin, originados en Mxico en el ao 1941 por Marcial Maciel y que tambin ha trascendido las fronteras para tener presencia regional21. Aunque la jerarqua catlica constituye la barrera ms importante, no son los nicos actores religiosos contrarios a los DDSSRR en Latinoamrica. El creciente pluralismo religioso por el que atraviesa la regin ha generado un inters por entender el rol de las Iglesias evanglicas respecto a la sexualidad22. En particular, los anlisis dan importancia a los cambios en el campo religioso producidos por el crecimiento del Pentecostalismo en diversos pases Latinoamericanos. Aunque los sectores Pentecostales son heterogneos (como se profundiza en la prxima seccin) no es infrecuente que se alineen con la Iglesia Catlica en oposicin a la despenalizacin del aborto o al reconocimiento de derechos a parejas del mismo sexo23. Mas all de las influencias sobre sus fieles, estas Iglesias tambin se han transformado en actores polticos con peso en algunos pases de la regin, influencias que van desde presiones y lobby hasta la conformacin de partidos polticos con una agenda especfica. Un caso paradigmtico es el de Brasil donde distintos sectores identificados con las Iglesias Evanglicas han conformado un bloque poltico (bloque evanglico) a travs de representantes en el poder legislativo24.
17 Ver Guillermo Nugent (2004) para un anlisis sobre el orden tutelar. Este orden tutelar se basa en una construccin heternoma del sujeto por el cual el mismo no tiene las condiciones de dictar su propia moral.
18

Ver los artculos en Marta Vassallo (2005). Tambin el trabajo de Jaris Mujica (2007) y el de Edgar Gonzalez Ruiz (2005).
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Aunque recin es reconocido como Sociedad de Vida Apostlica en el ao 1997. Ver Gonzalez Ruiz (2005).

En los EEUU existe una larga tradicin en el anlisis de la derecha religiosa y sus roles frente a las polticas y legislaciones conectadas a la sexualidad.
23 24

Ver Couto, (2005). Brasil ha producido un importante nmero de anlisis sobre evanglicos y poltica. Ver por ejemplo, Machado
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Junto a las jerarquas religiosas es importante tambin indicar el rol de ciudadanos, polticos y gobernantes que defendiendo una agenda religiosa se movilizan contra los derechos sexuales y reproductivos. Por un lado, las creencias religiosas son importantes motores para el activismo ciudadano contra los DDSSRR. No slo la jerarqua catlica se politiz en oposicin a los movimientos feministas y por la diversidad sexual sino tambin algunos creyentes han tomado la empresa de defender la doctrina oficial resistiendo los cambios legales que demandan los mencionados movimientos. De este modo, como se profundiza ms adelante, es posible observar el crecimiento de organizaciones no gubernamentales (ONGs) autodenominadas pro-vida o pro-familia que agrupando a creyentes, en su mayora de origen catlico, inscriben un nuevo tipo de activismo en la regin25. Esta ONGs tienen como funcin principal influenciar los distintos poderes del estado en la defensa de una postura restrictiva sobre la sexualidad. Por otro lado, la religiosidad de los legisladores y jueces es una variable explicativa significativa para entender la forma en que los mismos deciden respecto a sexualidad y reproduccin26. En una regin como Amrica Latina, donde la influencia del catolicismo como religin y como cultura se superponen no es extrao encontrar referencias directas y concretas a la doctrina religiosa para justificar determinada postura legislativa o sentencia judicial, particularmente en temas como derechos para personas LGBTQ y depenalizacion del aborto27. La religin y la moral aparecen como colapsadas y no es poco frecuente encontrar referencias religiosas (particularmente de tradicin catlica) como proveedoras de un orden moral en debates parlamentarios o en decisiones judiciales. Tanto el activismo de los creyentes como el accionar de legisladores y jueces defendiendo la postura catlica son impulsados desde la Iglesia catlica como estrategia para la oposicin a los DDSSRR. El Vaticano as como las Iglesias nacionales promulgan documentos en los cuales instruyen a sus creyentes la postura a tomar en los distintos pases frente a estos derechos28.
(2006).
25 26

Ver Vaggione (2006).

Se puede consultar el trabajo de Lucinda Peach (2002) donde se presenta un resumen de las principales investigaciones hechas en los Estados Unidos mostrando la influencia de la religin en los hacedores de leyes. En Latinoamrica tanto medios de comunicacin como investigaciones han puesto de manifiesto la influencia de las creencias religiosas a nivel de los legisladores. Ver Dides, Claudia (2004); Lorea, Roberto (2008); Vaggione (2006); entre otros. Es comn en sentencias judiciales la referencia a la religin como proveedora de un orden moral especifico. Ver ejemplos en Cabal, y otros (eds.) (2001).
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El Vaticano ha puesto en circulacin un nmero importante de documentos y declaraciones sobre el rol que ciudadanos y legisladores catlicos deben tener frente a los debates sobre temas como aborto u homosexualidad. Por ejemplo, Consideraciones para la respuesta catlica a propuestas legislativas de no discriminacin a homosexuales publicado por la Congregacin para la Doctrina de la Fe, en el ao 1992 y Consideraciones acerca de los proyectos de reconocimiento legal de las uniones entre personas homosexuales publicado en el ao 2003. Tambin las diferentes Iglesias Catlicas nacionales replican sus propios documentos; en Brasil, por ejemplo, la Confederao Nacional dos
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Para concluir con este abordaje antagnico es importante referir a las principales construcciones tericas y polticas utilizadas para resistir las polticas religiosas contrarias a los DDSSRR. A los anlisis desarrollados previamente, que tienen un objetivo analtico, se les debe agregar tambin aquellos abordajes que no slo consideran que lo religioso es el principal obstculo para las polticas emancipatorias de la sexualidad sino que tambin proponen estrategias polticas para resistir las influencias conservadoras de las religiones. Es posible identificar en Latinoamrica dos estrategias polticas principales que, combinando anlisis y campaas pblicas, tienen un impacto tanto nacional como regional: resistir los fundamentalismos y profundizar la laicidad. Una forma extendida de definir y resistir las influencias polticas de las religiones es englobarlas bajo el rtulo de fundamentalismos religiosos. Ms all del origen histrico del trmino29, el mismo es utilizado para identificar las manifestaciones dogmticas que tienen lugar en la mayoras de las religiones. Esta dogmatizacin se caracteriza, entre otras dimensiones, por sostener un patriarcalismo radical30 que potencia la marginacin de las mujeres y la opresin de la diversidad sexual. Para gran parte del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual identificar, denunciar y resistir a los fundamentalismos religiosos es una estrategia central en la lucha contra el patriarcado y la heteronormatividad en diferente partes del mundo. Latinoamrica no es una excepcin y es posible observar que el trmino de fundamentalismo es profusamente usado para definir y confrontar las polticas de lo religioso contrarias a la sexualidad. Si bien el trmino tiene sus limitaciones polticas (especialmente por la tendencia a ser asociado con el Islam) y sus complejidades conceptuales (es un concepto que a pesar de tener su origen tcnico en el cristianismo se aplica a diversas tradiciones religiosas) es considerado por la mayora de activistas de la regin como un trmino til para ampliar el sistema de derechos31. Una campaa en contra de los fundamentalismos religiosos que ha tenido un alto impacto en Latinoamrica es Contra los Fundamentalismos lo Fundamental es la gente lanzada por la articulacin feminista Marcosur. Esta campaa, lanzada en el Foro Social Mundial del ao 2002, tiene como objetivo amplificar las voces que se oponen con firmeza a las prcticas, discursos y representaciones sociales discriminatorias, sometiendo a las personas a situaciones de opresin o
Bispos do Brasil (CNBB) public Pronunciamento sobre a famlia en abril de 1996.
29 30 31

A principios del siglo XX en los Estados Unidos. Riesebrodt (1993).

Latinoamrica es la regin con el ms alto porcentaje de activistas a favor de los derechos de las mujeres que consideran que el trmino de fundamentalismos religiosos como til. Ver Shared Insights. Womens rights activists define religious fundamentalisms (www.awid.org). 296
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vulnerabilidad32. La peculiaridad de esta campaa es no limitar el concepto de fundamentalismos exclusivamente a las manifestaciones religiosas sino que tambin incorpora aquellos de carcter econmico y cultural. La otra estrategia poltica con una fuerte presencia en Latinoamrica es la defensa de la laicidad como una forma de resistir las influencias polticas de lo religioso. Este trmino trascendi su origen geogrfico (Francia) y constituye uno de los trminos ms utilizados para referir a la necesidad de un sistema poltico separado y autnomo de las influencias religiosas. Un nmero importante de estudios, que exceden el propsito de este artculo, analizan las distintas formas en que la laicidad puede caracterizarse: modelos republicanos o modelos democrticos, laicidad militante (anticlerical) o laicidad de supervisin (management), laicismo incluyente o laicismo excluyente, son algunas de las dicotomas que ejemplifican las distintas alternativas de definicin33. Los rasgos comunes, sin embargo, son la preocupacin por la secularizacin del estado (la separacin estado e iglesia), por la autonoma y separacin entre las esferas polticas y religiosas, y por legislaciones y polticas pblicas independientes de los sectores religiosos. Existen una diversidad de arreglos institucionales sobre la relacin entre religin y poltica, pero es el de la laicidad (estados laicos y/o libertades laicas) el que ms impacto tiene en la regin. La fuerte presencia de la Iglesia Catlica en Latinoamrica ha implicado que la separacin Estado/Iglesia y la profundizacin de la laicidad hayan sido una preocupacin constante ya que es an un proceso incompleto en la mayora de los pases. Por ello el ingreso de los derechos sexuales y reproductivos a las agendas pblicas ha generado que los estudios y las estrategias polticas basadas en la laicidad intensificaran su presencia en la regin. La viabilidad de estos derechos reside, en gran medida, en la posibilidad de gobernantes, legisladores y jueces que sean autnomos de las creencias e instituciones religiosas. No es sorprendente, entonces, que las polticas emancipatorias de la sexualidad se basen en la necesidad de profundizar la laicidad como una medida necesaria para garantizar la democracia y el pluralismo. La Red Iberoamericana de Libertades Laicas es una de las iniciativas que ha intensificado el inters por la laicidad en las agendas acadmicas y polticas de la regin. Combinando anlisis tericos y estrategias de intervencin poltica, esta Red le ha dado un fuerte impulso al tema de la laicidad. Define a las libertades laicas como un rgimen de convivencia social, cuyas instituciones polticas estn esencial-

32 33

Para ms informacin y documentos de la campaa ver <http://www.mujeresdelsur-afm.org.uy>.

No es el objetivo de este trabajo definir la laicidad, pero estas dicotomas son planteadas en los siguientes trabajos Bauberot (1994) o Willaime (2008). Tambin en Amrica Latina se han intensificado el nmero de anlisis terico sobre la laicidad. Una compilacin abarcativa con artculos de la regin e internaciones es Blancarte (2008). Ver recursos bibliogrficos en el sitio web de la Red Iberoamericana de las Libertades Laicas <http://centauro.cmq.edu. mx:8080/Libertades/>.
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mente legitimadas por la soberana popular y ya no por instituciones religiosas34. La laicidad requiere de un proceso de transicin de formas de legitimidad sagradas a formas democrticas35. El Estado Laico, garante de las libertades ciudadanas, se considera necesario tambin para garantizar los DDSSRR en la regin ya que es condicin para que el Estado respete y garantice la libertad y la diversidad sexual. La principal conexin est dada por la obligacin del Estado de preservar la libertad de conciencia que, en las sociedades contemporneas, debe ser entendida de manera plural y diversa36. Las leyes en general, y los DDSSRR en particular, deben ser definidos desde la poblacin, desde la ciudadana, y no desde una jerarqua eclesial o doctrina religiosa que impone su visin en las legislaciones y polticas pblicas. Como se afirm en la introduccin de este artculo, el abordaje antagnico capta parcialmente las interacciones entre sexualidad, religin y poltica. Si bien identifica importantes dimensiones de la poltica de lo religioso tanto a nivel analtico como normativo, no agota la cuestin. El resto del artculo, complejiza la poltica de lo religioso frente a la sexualidad a travs de los anlisis que consideran lo religioso como favorable para la emancipacin y liberacin de la sexualidad. Si bien lo religioso contina siendo el principal obstculo para los DDSSRR, tambin existen manifestaciones religiosas (tanto de las jerarquas como de los fieles) que evidencian una postura favorable a la diversidad y libertad sexual. Complementando el abordaje antagnico se consideran estudios que iluminan, de diversas maneras, dinmicas en las cuales las influencias religiosas no son necesariamente patriarcales o heteronormativas e, incluso, pueden ser favorables a los derechos sexuales y reproductivos.
3. Lo religioso como posibilidad para la diversidad y la libertad sexual

Paradjicamente, junto a la dogmatizacin de ciertos sectores religiosos, tambin se estn produciendo articulaciones plurales entre lo religioso y la sexualidad que se oponen, al menos en alguna circunstancias, al patriarcado y la heteronormatividad. Distintas instituciones religiosas, sectores e individuos articulan su sistema de creencias con una postura amplia y plural hacia la sexualidad. Incluso en algunas circunstancias, las posturas del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual se han fusionado con diferentes manifestaciones religiosas. Las religiones son, entre otras cosas, construcciones culturales que responden a los contextos sociopolticos determinados, entonces, no es sorprendente que los cambios producidos por el
En la web de la Red Iberoamericana de Libertades Laicas <http://centauro.cmq.edu.mx:8080/Libertades/PagLisSec.jsp?seccion=1>.
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Blancarte (2000). Blancarte (2008).


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feminismo y el movimiento por la diversidad sexual interpelen y sean parte de las principales religiones. Desde esta perspectiva se distingue entre las inspiraciones igualitarias que caracterizan a la mayora de las religiones y la perversin hecha por las autoridades poderosas interesadas en mantener su status37. Existen una serie de anlisis que visibilizan los actores y discursividades religiosas con una postura favorable a la libertad y diversidad sexual. Sin pretender agotar los estudios existentes, es posible identificar cuatro arenas principales en las cuales lo religioso no es necesariamente una fuerza que fortalece al patriarcado y a la heteronormatividad: a) a nivel de las instituciones religiosas, b) a nivel de los debates teolgicos, c) a nivel de las creencias e identidades religiosas y d) a nivel de la sociedad civil. Por supuesto que estas integraciones son diversas y variantes. En algunos casos implican prcticas superadoras del patriarcado o la heteronormatividad, generando una fusin entre el feminismo o la diversidad sexual y lo religioso (proceso de sexualizacin de lo religioso). En otras instancias estas integraciones pueden ser criticadas desde una mirada de gnero o desde la diversidad sexual por no aparejar un cambio emancipador de la sexualidad (aunque, de todos modos, implican una mayor apertura hacia los derechos sexuales y reproductivos) y reforzar ciertos estereotipos que esencializan an ms la definicin de la sexualidad. En primer lugar, es importante mencionar que las instituciones religiosas son heterogneas respecto a la forma en que construyen y jerarquizan la sexualidad. Si bien, en general, tienden a sostener al patriarcado y la heteronormatividad, existen diversas investigaciones que rescatan posturas diferentes en algunas tradiciones religiosas. Por ejemplo, las religiones afrobrasileas suelen ser consideradas como ms amplias y ms favorables a las personas LGBTQ38. Como ha sido analizado, en general desde la antropologa, estas religiones tienen una construccin ms compleja que permite un desplazamiento en la construccin del gnero, como el caso del Candombl39. Tambin pueden mencionarse anlisis que ponen en evidencia la heterogeneidad del campo evanglico donde es posible identificar posturas diferentes, incluso opuestas, sobre la sexualidad40. Mientras algunas Iglesias evanglicas se muestran ms abiertas y favorables hacia los DDSSRR41, otras en cambio se oponen a ellos de formas similares a la Iglesia Catlica. En general, se sostiene que las Iglesias evanglicas tienden a presentar una postura ms amplia hacia la regu37 38 39 40 41

(Sowle Cahill, 1996:1) (traduccin del autor). Birman (1995). Birman (1995). Wynarczyk (2006) refiere a un polo histrico liberacionista y un polo conservador bblico.

Por ejemplo, en Argentina, las Iglesias Protestantes fueron ms proclives a apoyar leyes de salud sexual y mecanismos no naturales para regular la fecundidad. Ver los posicionamientos de las distintas iglesias evanglicas en Apndice de Cuadros Temticos en Dides (2004).
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lacin de la fecundidad comparadas con la jerarqua catlica, aunque respecto a las parejas del mismo sexo suelen coincidir con ella en el rechazo42. Debido al crecimiento del Pentecostalismo en la regin, existen diversos estudios que analizan las influencias del mismo sobre el gnero y/o la sexualidad. Este tipo de miradas se alejan del postulado que las conversiones al Pentecostalismo implican, necesariamente, una intensificacin del patriarcado. Al contrario, algunos estudios sealan cmo estas conversiones pueden traer aparejado (de maneras ms o menos previstas) una mejora en el posicionamiento de las mujeres. Algunos anlisis proponen que el Pentecostalismo abre, de algn modo, la posibilidad de reformar el machismo que caracteriza las relaciones de gnero43. Estos estudios consideran que el Pentecostalismo implica cambios importantes a nivel de la esfera domstica, generndose vnculos ms igualitarios, por ejemplo respecto a la fidelidad. Tambin se afirma que la obediencia estricta a los principios religiosos genera cambios en el consumo del alcohol, lo que se conecta con una reduccin de la violencia domstica44. Aunque la idea de cura o liberacin est fuertemente conectada al seguimiento de pautas religiosas estrictas, genera tambin una intensificacin de la autonoma del sujeto a travs de una mayor reflexividad y cambio sobre sus acciones45. Otros abordajes destacan el hecho que las iglesias evanglicas tengan ms apertura a la presencia de mujeres, sean como pastoras o como candidatas a cargos electivos para el parlamento46. Ms all de los interrogantes que se abren desde una perspectiva de gnero (respecto a si estas conversiones reforman o reafirman al patriarcado), este tipo de estudios son significativos porque se apartan del paradigma antagnico poniendo en evidencia la complejidad de los entrecruzamientos entre gnero y religin a la vez que fuerzan al feminismo a revisar sus propias concepciones47. Un fenmeno ms claro de sexualizacin de lo religioso es la presencia de Iglesias que son especficamente creadas para incluir a las personas LGBTQ. Este es el caso de la Iglesia de la Comunidad Metropolitana (Universal Fellowship of Metropolitan Community Churches), denominacin cristiana fundada en 1968 en los Estados Unidos con el propsito de ser una iglesia inclusiva para aquellas personas que por su sexualidad se sentan expulsados de sus denominaciones religiosas de origen. En la actualidad cuenta con aproximadamente 300 congregaciones en diversos pases48 y es la denominacin cristiana con el nmero ms alto de perso42 43 44 45 46 47 48

Ver Couto (2005). Brusco (1995). Chesnut (1997). Ver, Mariz (1994) y Natividade (2006). Machado (2006; 2003). Stock y Bridges (2003). Entre ellas: USA, Nueva Zelanda, Argentina, Australia, Brasil, Canad, Dinamarca, Inglaterra, Francia, Alemania,
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300

nas LGBTQ, tanto a nivel de la feligresa como de la jerarqua49. El impacto y la originalidad de la propuesta han sido objeto de diversos estudios que analizan las estrategias institucionales y teolgicas generadas desde estas iglesias para integrar a lo religioso una mirada desde la diversidad sexual50. Los estudios sealan que la pertenencia a estas iglesias inclusivas reduce el grado de conflicto, o disonancia cognitiva, logrndose una integracin ms armnica entre creencias religiosas e identidad sexual51. En segundo lugar, otra arena importante para la sexualizacin de lo religioso es la de los debates teolgicos. Las discursividades teolgicas son un campo poltico desde el cual se interpelan las construcciones nicas y dogmticas sobre la sexualidad52 (entre otras interpelaciones). En particular, las teologas feministas53, gay/ lesbiana/queer54 han producido reinterpretaciones y/o deconstrucciones de las posturas oficiales abriendo espacios cruciales para la sexualizacion de lo religioso. Las comunidades religiosas son tambin comunidades de interpretacin55 donde discursos y construcciones alternativas pujan por legitimarse y donde los debates internos y las conversaciones son tambin posibles56. As la influencia del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual se vuelve, tambin, discurso teolgico que confronta al patriarcado y la heteronormatividad. A pesar de su estructura fuertemente jerrquica, es posible encontrar dentro del catolicismo, como en otras religiones, importantes aportes teolgicos favorables a una construccin plural de la sexualidad57. Estas teologas feministas y gay/ lesbiana/queer reconocen en la teologa de la liberacin un importante antecedente que le permite articular la exclusin por gnero o por sexualidad con la basada en
Nigeria, Mxico, las Filipinas, Puerto Rico, Sudfrica y Escocia.
49 50

Ver el sitio web de MCC: <http://www.ufmcc.com>.

Entre los autores que han investigado sobre MCC pueden nombrarse: Warner (1995); Enroth (1974); Lukenbill, (1998). En Latinoamrica: Meccia (1998); Natividade (2005).
51 52

Rodriguez y Ouellette (2000).

Mary Hunt propone el concepto de teopoltico (theopolitical) para referir a los discursos religiosos que tienen una praxis concreta para el cambio social. En Amrica Latina existe una importante cantidad de produccin al respecto. Como ejemplo puede verse Peas Defago y Sgr Ruata (en prensa) o los contenidos en la pagina Web del colectivo Conspirando <http://www. conspirando.cl/> o en los diversos nmero de la Revista Conciencia de Red Latinoamericana de Catlicas por el Derecho a Decidir.
53

Un ejemplo destacado de estos razonamientos teolgicos es el de Althaus-Reid (2001) y Musskopf (2005). Tambien ver artculos en Vaggione (comp.) (2008).
54 55 56

Browning y Schussler Fiorenza (1992).

Tracy (1981). Un ejemplo de este tipo de comunidades de interpretacin es el colectivo Conspirando que publica la Revista Latinoamericana de Ecofeminismo, Espiritualidad y Teologa en Chile desde principios de los aos 90s. El anlisis de estas teologas exceden el propsito de esta presentacin pero pueden citarse como antecedente importante el varias veces reimpreso McNeill (1976). Ms actual es la compilacion de Grammick y Nugent (1995).
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la estructura econmica que caracteriza la regin58. La teologa feminista, que tiene una mayor presencia e impacto, rescata la experiencia de opresin de las mujeres59 y busca superar los contenidos patriarcales de las principales tradiciones religiosas. Existen diversas etapas en el desarrollo de las teologas feministas en Latinoamrica. En una primera etapa, durante la dcada del 70, surge la mujer como sujeto oprimido tanto de liberacin como de produccin teolgica; en una segunda etapa, durante los 80s, la mujer se incorpora como sujeto de produccin teolgica a travs de una hermenetica con perspectiva de gnero; la tercera etapa que se ubica en los ltimos aos, implica la reconstruccin teolgica a partir de la creacin y circulacin de nuevos discursos religiosos60. En tercer lugar, un fenmeno significativo cuando se consideran las relaciones entre sexualidad, religin y poltica es el cambio que se ha producido a nivel de las creencias religiosas. Ms all de lo que sostengan las jerarquas de las distintas religiones, los sistemas de creencias son porosos y permeables a los cambios culturales. Si bien la modernidad no ha implicado un retraimiento de la identificacin religiosa, se ha dado un mayor nivel de autonomizacin y reflexividad en las formas de creer61. Para algunos lo que se ha producido es un desplazamiento desde lo institucional a lo personal62, en el cual lo religioso sigue siendo relevante pero los creyentes lo combinan y negocian de maneras diversas superando la dependencia de las autoridades religiosas. Se quiebra la aceptacin pasiva de las doctrinas63, si alguna vez existi, y se produce un mayor nivel de autonoma en la construccin de las identidades religiosas. Las cuestiones relacionadas a la sexualidad suelen ser una arena donde las personas se alejan de las posturas sustentadas por las jerarquas. Existen una serie de estudios que ponen de manifiesto las formas en que los individuos armonizan sus creencias religiosas (incluso aquellas cuyas tradiciones se caracterizan por ser altamente homofbicas y patriarcales) con una postura favorable a la diversidad sexual y sus derechos64. Latinoamrica no es excepcin a esta tendencia y es frecuente encontrar informacin emprica a travs de encuestas poblacionales o etnografas que ponen de manifiesto que hay una distancia marcada entre la pertenencia a una tradicin
58 59

Ver, Elina Vuola (1997).

Se usa el plural debido a que existen diferentes tipos de teologas feministas. Aunque no se menciona expresamente, tambin se incorpora en la categora la teologa queer y/o de diversidad sexual.
60 61 62 63

Tamez (2005). Petersen y Donnenwerth (1997). Ver Yamane (1997).

Ms que un debilitamiento de la religiosidad lo que se debilitaron para algunos autores son los elementos doctrinales y jerrquicos que componen las principales religiones. Existe una vasta bibliografa en los Estados Unidos en este sentido. Para un anlisis de estos estudios, ver Vaggione (2005) (2008).
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religiosa, sea catlica o evanglica, y la adhesin a sus principios dogmticos65. Por ejemplo, la actitud de numerosos catlicas/os respecto a anticonceptivos, aborto u homosexualidad, entre otros, difieren de la sostenida por la jerarqua. Frente a una doctrina catlica que insiste en conectar la sexualidad con la procreacin (dentro del matrimonio), prohibiendo todos los anticonceptivos artificiales, la poblacin, por el contrario, tiende a aceptar de manera abrumadora las prcticas anticonceptivas66. Inclusive un alto porcentaje acepta la anticoncepcin de emergencia a vctimas de violacin y a los que tuvieron sexo sin proteccin67. El tema del aborto ha sido construido por la jerarqua catlica en trminos absolutos: en ningn caso y bajo ninguna circunstancia se puede justificar, lo que en trminos legales significa su criminalizacin total. Sin embargo, la poblacin catlica tiende a diferenciar distintas situaciones, presentando una construccin compleja y plural ya que prcticamente la mitad de los catlicos/as considera que el aborto debiera despenalizarse en alguna o varias circunstancias68. Junto al aborto, el otro tema que ha recibido el rechazo y obsesin ms generalizado de la jerarqua eclesistica es la homosexualidad; la poblacin catlica, en cambio, tiende mayoritariamente a afirmar que los gays y lesbianas tienen el derecho a expresar su orientacin sexual en forma abierta69. Lo significativo de este fenmeno no es marcar una distancia entre la religin y las prcticas de los creyentes (esta distancia siempre ha existido) sino que los mismos creyentes ofrecen un posicionamiento ideolgico donde armonizan la pertenencia a una religin oficialmente restrictiva con una postura emancipatoria de la sexualidad.
Particularmente los siguientes documentos: A World View: Catholic Attitudes on Sexual Behavior and Reproductive Health (Panorama Mundial: Actitudes catolicas hacia el comportamiento sexual y la salud reproductivo). Washington, DC. Catholics for a Free Choice, 2004; y Actitudes de los Catolicos sobre Derechos Reproductivos, Iglesia-Estado y Temas Relacionados. Tres Encuestas Nacionales en Bolivia, Colombia y Mexico. Catolicas por el Derecho a Decidir, Diciembre 2003. En Argentina ver Mallimaci, Fortunato; Esquivel, Juan Cruz e Irrazabal, Gabriela (2008) Primera Encuesta sobre Creencias y Actitudes Religiosas. Informe de investigacin. Buenos Aires: CEIL-PIETTE CONICET. En Brasil ver, por ejemplo, Machado (1996), Das Duarte (2005).
65

Prcticamente la totalidad de los encuestados, personas que se identifican con el catolicismo, sealan que estn a favor de su uso y accesibilidad, y alrededor del 80% afirman que los centros de salud y hospitales pblicos deberan ofrecerlos. Ver Actitudes de los Catlicos sobre Derechos Reproductivos, Iglesia-Estado y Temas Relacionados (ob.cit.).
66

En casos de violacin, ms del 80% esta a favor de la AE. En caso de sexo sin proteccin el porcentaje a favor es de 58% en Bolivia, 65% en Colombia, y 77% en Mxico. Ver Actitudes de los Catlicos sobre Derechos Reproductivos, Iglesia-Estado y Temas Relacionados (ob.cit.)
67

En general, la poblacin catlica tiende a despenalizar aquellas causas donde la voluntad de la mujer por abortar esta ms justificada por obedecer a razones duras o externas, tales como embarazos resultados de una violacin o embarazos que ponen en riesgo la vida de la madre. Tambin la mitad de la poblacin catlica considera que las mujeres que abortan y/o aquellos que las apoyan pueden seguir siendo buenos catlicos; un porcentaje an mayor se manifiesta en contra de que se expulse a una mujer de la Iglesia por haber abortado. Ver Actitudes de los Catlicos sobre Derechos Reproductivos, Iglesia-Estado y Temas Relacionados (ob.cit.).
68

Los derechos de homosexuales y lesbianas a expresar su orientacin sexual en forma abierta tienen ms apoyo en Mxico 66%, mientras que en Bolivia es el 53% y en Colombia el 60%. Actitudes de los Catlicos sobre Derechos Reproductivos, Iglesia-Estado y Temas Relacionados (ob.cit.).
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Para culminar es importante mencionar que estos cambios en las formas de creer se conectan con otro fenmeno presente: las agrupaciones de creyentes que se movilizan por lograr que sus tradiciones religiosas sean ms amplias respecto a la sexualidad y/o por hacer pblicas las disidencias existente al interior de las principales religiones. Uno de los roles de la sociedad civil es, precisamente, ser un espacio proclive para la articulacin de demandas e identidades excluidas, por ello no es sorprendente que desde all se articulen identidades religiosas con una postura amplia y diversa sobre la sexualidad. Personas que se sienten marginadas en sus distintas denominaciones han decidido desafiar las construcciones dogmticas a partir de articularse en ONGs e inscribir pblicamente formas alternativas de integrar identidades religiosas con la sexualidad. Judo/as gays, lesbianas evanglicas, catlicas a favor de la despenalizacin del aborto son ejemplos de identidades imposibles que trasvasan el umbral de la invisibilidad y se articulan polticamente para influir las distintas instituciones religiosas y sus construcciones sobre la sexualidad. Los 70s en los Estados Unidos son un hito importante en la emergencia de este tipo de organizaciones en bsqueda de cambiar las posiciones doctrinarias de diversas instituciones religiosas70. Un movimiento similar se ha producido, y se sigue produciendo, en diversos pases latinoamericanos en los cuales es comn encontrar algn grupo de personas con identidad religiosa que se organizan para constuir, canalizar, y presionar por un sistema de creencias ms inclusivo a nivel de la sexualidad. De este modo, no es extrao encontrar ONGs que buscan integrar los sistemas de creencias con una postura favorable para las mujeres y para las personas LGBTQ71. Tal vez la organizacin que ms impacto y anlisis ha recibido sea Catlicas por el Derecho a Decidir (CDD) que existe un nmero importante de pases de la regin72. Sus actividades son mltiples y se adaptan a los distintos contextos pero tienen como objetivo comn la bsqueda de la justicia social y el cambio de patrones culturales vigentes73 tanto al interior de la Iglesia como en las sociedades en general. Ms especficamente, CDD se moviliza para lograr la existencia efectiva de los derechos sexuales y reproductivos, siendo la despenalizacin y legalizacin del aborto una temtica prioritaria. Aunque con menor visibilidad, existen tambin en algunos pases organizaciones LGBTQ que se identifican con distintas tradiciones religiosas
Minkoff (1995). En la actualidad existen una serie de organizaciones que integran a las principales religiones con una mirada favorable a la diversidad sexual como por ejemplo: Dignidad (catlico), Al-Fatiha (Musulmn), Good News (evanglico) o Keshet (judo).
70

En Argentina, por ejemplo, es posible mencionar: Otras Ovejas; CEGLA (Cristianos Evanglicos Gays y Lesbianas de Argentina); JAG (Judos Argentinos Gays); y el Centro Cristiano de la Comunidad GLTTB.
71 72 73

Para un anlisis de CDD en Latinoamrica, ver Rosado-Nunes y Jurkewicz (2002); Vaggione (2007).

Carta de Principios de la Red Latinoamericana de Catlicas por el Derecho a Decidir en <www.catolicasporelderechoadecidir.org>. 304
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para visibilizar la compatibilidad entre los sistemas de creencias y la diversidad sexual y para movilizarse contra la heteronormatividad tanto de la jerarqua religiosa como de la sociedad en general74. La bibliografa sobre el tema, mayoritariamente de los Estados Unidos, ha considerado estas manifestaciones de distintas maneras. Para algunos, son espacios pblicos importantes para lograr cambios al interior de las diversas tradiciones religiosas a partir de inscribir una postura contra-dogmtica75. Estas organizaciones representan nuevas formas de protesta social de sectores feministas y por la diversidad sexual que se organizan para cambiar instituciones tradicionales como la Iglesia catlica76. Tambin constituyen espacios sociales de libertad para que ciertos grupos marginalizados por su sexualidad puedan organizarse para demandar reconocimiento e igualdad77. Estas ONGs tambin han sido consideradas como inscribiendo pblicamente identificaciones religiosas excluidas que incrementan el nivel de pluralismo del campo religioso. En general, estas organizaciones pueden pensarse como espacios pblicos subalternos78 para negociar identidades en conflicto as como espacio poltico para la articulacin de estrategias favorables al cambio social. Las mismas quiebran la pretendida homogeneidad de algunas instituciones religiosas evidenciando el pluralismo que caracteriza las posturas religiosas hacia la sexualidad. PARTE II
1. Introduccin

Discutir la sexualidad sus polticas y regulaciones implica, inevitablemente, discutir lo religioso en las sociedades contemporneas. Si en algn momento fue posible considerar que la sexualidad se independizaba de lo religioso, tanto en las biografas como en las polticas pblicas, esta posibilidad parece ser cada vez menos alcanzable. Las religiones, como emociones, como discursos, como elites de poder, permean al mundo contemporneo y son un componente inevitable de los sistemas polticos. Es, precisamente, la sexualidad una dimensin de lo social donde la permeabilidad de lo religioso alcanza uno de sus puntos ms complejos borrando fronteras que la modernidad inscribi, desafiando polticas y anlisis que basados en el secularismo reducen la complejidad de lo religioso.
74 75 76 77 78

Ver Vaggione (2008). Ver Dillon (1999). Katzenstein (1998). Ver, Greeley (1997); Wood y Bloch (1995); Warner (2002). El concepto es subaltern counter public propuesto por Fraser (1990).
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Esta segunda parte del trabajo tiene como objetivo plantear la necesidad de complejizar los entrecruzamientos entre religin, sexualidad y poltica a travs de considerar dos cuestiones centrales. En primer lugar, se analizan los cambios y mutaciones del activismo religioso conservador en la regin. El ingreso de la sexualidad a las agendas pblicas ha generado un cambio en el contexto que permite identificar nuevas relaciones entre sexualidad, religin y poltica. Las reacciones de los sectores religiosos conservadores ante el avance del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual generan formas de politizacin de lo religioso que escapan a los anlisis tradicionales. El artculo presenta los conceptos de politizacin reactiva y secularismo estratgico para iluminar formas del activismo religioso conservador que no slo trascienden la dicotoma religioso/secular sino que tambin maximizan los canales abiertos por la democracia para obstaculizar los DDSSRR79. En segundo lugar, el trabajo plantea algunos interrogantes normativos sobre los entrecruzamientos entre religin, sexualidad y poltica en Latinoamrica. Como se afirm, considerar estos entrecruzamientos implica revisar los basamentos normativos desde los que se piensa lo religioso como fenmeno contemporneo. Sin negar que las intervenciones de la Iglesia Catlica pueden limitar la laicidad y debilitar la democracia, es tambin necesario considerar el vnculo entre sexualidad, religin y poltica ms all de las construcciones propuestas desde el secularismo y/o el laicismo. As como las polticas emancipatorias de la sexualidad redefinieron las concepciones de lo poltico (en particular criticando las fronteras entre lo privado y lo pblico), algo similar sucede con las polticas de lo religioso. Si la modernidad construy lo religioso como el afuera de la poltica, trazando fronteras rgidas y estables, las formas contemporneas de las religiones obligan a repensar (incluso a diluir) estas fronteras. La ltima parte del trabajo presenta algunos desafos y posibilidades, que se abren para las polticas emancipatorias de la sexualidad cuando se suspende al secularismo que, como ideologa de la modernidad, reduce el espacio legtimo para las polticas de lo religioso. Si la primera parte de este trabajo pretendi sistematizar las principales investigaciones y abordajes en la regin sobre los vnculos entre sexualidad, religin y poltica, en esta segunda parte se pone el acento sobre aquello que esta desplazado en las agendas acadmicas. Reflexionar crticamente sobre las construcciones de lo poltico abre a la posibilidad de marcos analticos y normativos que sitan la interrelacin entre lo religioso y la sexualidad en un plano diferente. Deconstruir, desplazar, o al menos suspender al secularismo o la laicidad para, de este modo, inscribir una mirada crtica permite reflexionar sobre las zonas marginadas o distorsionadas por estas formas de construir lo poltico.

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Estos conceptos ya fueron propuestos en otra serie de artculos del autor. Ver, por ejemplo, Vaggione (2005).
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2. Las polticas de lo religioso: ms all de la hegemona

Un cambio regional importante de la relacin entre sexualidad, religin y poltica en Latinoamrica ha sido el resquebrajamiento del poder hegemnico de la Iglesia Catlica sobre las regulaciones de lo sexual80. La jerarqua catlica y los sectores a ella conectados van dejando de ser los dadores exclusivos de la moralidad y la legalidad sobre la sexualidad y un creciente pluralismo, tanto a nivel de las prcticas como de las significaciones y construcciones culturales es parte de la situacin en la mayora de los pases de la regin. Debates pblicos, reformas legales, sentencias judiciales han ido desarmando el andamiaje que, por largo tiempo, sostuvieron la jerarqua catlica y la elite poltica reduciendo la legitimidad de la sexualidad a los contenidos de la doctrina catlica. No es intencin de este trabajo entrar en el anlisis histrico del rol del catolicismo sobre la sexualidad en la regin, sino simplemente el proponer la existencia de un contexto diferente que ha generado un cambio en las polticas de lo religioso hacia la sexualidad. Es a partir del resquebrajamiento de la hegemona de la Iglesia catlica que nuevas estrategias y mutaciones del activismo religioso se han hecho presente en distintos pases latinoamericanos. El poder hegemnico de la Iglesia catlica sobre la sexualidad se sostuvo por una combinacin de factores81. Entre ellos es posible destacar el monopolio que la misma sostuvo por siglos sobre los campos religiosos y moral. El pluralismo religioso no como dato fctico sino como dimensin simblica de peso es una realidad reciente en Latinoamrica. Por siglos, la Iglesia catlica saturaba el campo de lo religioso y el catolicismo tena el status (slo excepcionalmente discutido) de religin oficial en la mayora de los pases. En este contexto de monopolio, la construccin del pecado como forma de delimitar el orden sexual quedaba en manos exclusivas de la Iglesia catlica ya que la circulacin de discursos religiosos alternativos era prcticamente inexistente y/o quedaban limitados a comunidades minoritarias con poco impacto pblico82. Pero este monopolio tambin se presenta(ba) a nivel de las construcciones morales sobre la sexualidad. Lo religioso y lo moral eran construidos de manera prcticamente indistinguible en la postura de la Iglesia catlica la que, de este modo, se presentaba no slo como dadora exclusiva de principios
Referir al ejercicio del poder de la Iglesia como hegemnico o posthegemnico tiene una finalidad analtica y no pretende captar el desarrollo histrico de la Iglesia Catlica en Latinoamrica (tema complejo que excede las posibilidades de este paper). Sirven como categora heurstica para plantear la flexibilidad de la Iglesia Catlica a contextos diferentes. Aunque en un numero importantes de pases puede pensarse que se ha dado un paso, un quiebre de un contexto hegemnico a uno posthegemnico en el cual los DDSSRR son parte de las agendas pblicas, incluso parte de las reformas legales, a pesar del intento de la Iglesia Catlica para evitarlo, en otros paises (particularmente Centroamrica) un proceso opuesto se ha producido.
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Que exceden este trabajo.

A pesar de la existencia de otras religiones, las mismas existan en condiciones de fuerte supeditacin a la Iglesia catlica.
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religiosos para una comunidad particular (la catlica) sino tambin de principios morales para la sociedad en su conjunto (moralidad pblica). As, combinando el monopolio religioso y moral, la Iglesia catlica construa y sostena la sexualidad reproductiva dentro del matrimonio religioso como la nica forma moral de sexualidad. Por supuesto que esta construccin conviva con una amplia gama de conductas y comportamientos diferentes a nivel privado que eran tolerados dentro de los lmites de lo privado, sin amenazar al orden simblico defendido por la Iglesia. Pero la hegemona de la Iglesia catlica sobre la sexualidad no puede entenderse sin referir al rol de los Estados en la regin. La interaccin o fusin en cuestiones de moral sexual entre Estado e Iglesia es el conector necesario para que la doctrina catlica se inscriba desde la legitimidad que otorga el derecho. El solapamiento entre religin y moral, por un lado, y la confesionalidad de los Estados algunas veces formalmente receptada en instrumentos legales y otras resultado de las practicas polticas), sirvieron como maquinaria ideolgica por medio de la cual la legislacin sobre la sexualidad se reduca a la recepcin y defensa de la doctrina catlica. Un orden tutelar carateriza(ba) a los pases de la regin por el cual los polticos preferan no contradecir a la Iglesia catlica en cuestiones de sexualidad y educacin obteniendo de este modo, el respaldo de la jerarqua eclesial que era (y sigue siendo) un factor para la gobernabilidad83. Como parte de este orden, los individuos se construyen como incapaces para regular su sexualidad y es, entonces, la Iglesia catlica la que los representa o los tutela mientras que el Estado otorga la legalidad institucional. El control hegemnico de la Iglesia catlica no slo se daba sobre las legislaciones y polticas pblicas sobre la familia sino tambin, implicaba el poder de sentar los lmites sobre la agenda pblica evitando la discusin sobre el estatus quo. La familia catlica, la familia natural y la familia nacional eran presentadas como construcciones solapadas que obturaban el debate sobre formas alternativas de regular la sexualidad. Aquellos que se oponan a la doctrina catlica eran construidos como el afuera no slo de la familia sino tambin de la nacin. As, cuando las demandas del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual comienzan a adquirir visibilidad en los pases de la regin, las mismas fueron construidas como forneas, como respondiendo a realidades extranjerizantes que buscaban erosionar los principios nacionales. Religin, moralidad y legalidad quedaban reducidas a la postura oficial de la jerarqua catlica. Por supuesto, que las prcticas sexuales, anticonceptivas y abortivas eran extendidas, pero las mismas se resguardaban en el secreto y la clandestinidad. El espacio entre los principios doctrinales del catolicismo y las prcticas concretas de los ciudadanos, espacio que siempre existi, era invisibilizado y despolitizado.
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Ver el concepto de orden tutelar propuesto por Guillermo Nugent (2004).


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Es posible afirmar, con riesgo a cierto reduccionismo, que la regin latinoamericana est atravesando un momento diferente respecto a las polticas de la sexualidad, momento en el cual el ingreso de la sexualidad a las agendas pblicas y a los debates legislativos permite pensar en una fractura del poder hegemnico de la Iglesia catlica que se manifiesta en una serie de cambios en la regulacin legal de la sexualidad. Desde las hendijas de esta hegemona fracturada se ha ido ampliando, con distintos niveles de vigencia, el vademcum de los derechos sexuales y reproductivos. Violencia de gnero, educacin sexual, despenalizacin del aborto, reconocimiento de efectos jurdicos a las parejas del mismo sexo son, entre otros, manifestaciones del debilitamiento del poder hegemnico de la Iglesia para delimitar las polticas sobre la sexualidad. Entre los factores que permitieron el resquebrajamiento del poder hegemnico sobre la sexualidad es crucial considerar al feminismo y al movimiento por la diversidad sexual. Estos movimientos ofrecen marcos interpretativos que permiten desmontar el solapamiento de lo religioso, lo moral y lo jurdico que, por dcadas, sirvi como aparato ideolgico para el sostenimiento de una postura nica y dogmtica sobre la sexualidad y cuestionaron esta construccin hegemnica a travs de politizar lo privado y disputar, material y simblicamente, a la jerarqua de la Iglesia Catlica. Sin embargo, el resquebrajamiento del poder hegemnico de la Iglesia catlica no implica que la misma haya dejado de ser influyente sobre las polticas de la sexualidad. Al contrario, una vez que la jerarqua de la Iglesia catlica pierde el poder de control de la agenda sobre la sexualidad (o dicho de otra forma, una vez que la sexualidad se politiza desde el feminismo y el movimiento por la diversidad sexual) se produce una mutacin en las formas y estrategias del activismo religioso conservador cuyo anlisis constituye el principal objetivo de esta seccin. Lejos de replegarse frente al ingreso de la sexualidad a las agendas pblicas y los debates legales, el activismo religioso conservador ha reforzado su presencia, instaurando nuevas estrategias para recuperar (o en algunos casos no perder) el control sobre la legalidad y legitimidad de la sexualidad. Una serie de ejemplos apuntan en esta direccin. Frente al ingreso del aborto en los debates pblicos, el activismo religioso politiz la anticoncepcin de emergencia como abortiva en diversos pases de la regin. As, en vez de responder a la demanda de legalizacin del aborto, construye como abortiva la anticoncepcin, logrando desplazar, o postergar, el eje inscripto desde el feminismo. Frente a la sancin de algunos derechos sexuales y reproductivos (acceso a la anticoncepcin, ligaduras tubarias o protocolos de abortos no punibles), el activismo religioso instal la objecin de conciencia como estrategia para vaciar de eficacia a estos derechos. Pero tambin existen ejemplos de retrocesos a nivel de los marcos legales vigentes, sea por ejemplo, a nivel nacional (como ha sucedido en diversos pases de Centroamrica) o al interior de los pases (el caso de Mxico que logr legalizar el aborto en el
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Distrito Federal, lo que gener la reaccin de regulaciones ms conservadoras sobre el inicio de la vida en otros 16 Estados). Esto son slo ejemplos de la complejidad que adquiri la poltica de lo religioso en la regin ya que una vez que se interrumpe la hegemona de la jerarqua Catlica para controlar la sexualidad se evidencia la existencia de otras estrategias desde el activismo religioso conservador. El concepto de politizacin reactiva de lo religioso se presenta a continuacin como instrumental conceptual para entender, al menos en parte, las polticas de lo religioso contrarias a los derechos sexuales y reproductivos en Latinoamrica.
3. Politizacin reactiva de lo religioso

Si bien el control de la sexualidad ha sido una dimensin central para las principales religiones, una vez que la hegemona se resquebraja el activismo religioso conservador se presenta de maneras mucho ms complejas y novedosas que requieren de marcos analticos y normativos, as como de estrategias polticas superadoras. La politizacin reactiva de las religiones frente al avance del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual es un fenmeno que se da en diversas tradiciones religiosas. Al disputar la sexualidad estos movimientos disputan, tambin, un eje central del poder de las religiones. La sexualidad no es slo una arena ms donde la secularizacin puede seguir su marcha (como lo fueron la ciencia o la economa, por ejemplo) sino que es una arena crucial para el control social. Sin abandonar la pretensin de controlar la sexualidad, el activismo religioso muta y se adapta a un contexto distinto e inscribe actores y discursos alternativos en oposicin a los DDSSRR. El concepto de politizacin reactiva se propone para captar dos dimensiones importantes del activismo religioso conservador. Por un lado, el hecho de ser una reaccin al avance del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual. El accionar de los sectores religiosos conservadores tiene, en gran medida, a estos movimientos y sus demandas como los principales opositores y este antagonismo implica, como se analiza luego, ciertas consecuencias mimticas. El feminismo y el movimiento por la diversidad sexual inauguraron, por reaccin, una nueva poca para las polticas de lo religioso. Por otro lado, el activismo religioso no es pura reactividad e intensificacin de posturas ortodoxas sino que tambin inauguran (o rescatan) estrategias polticas diferentes en su resistencia a los DDSSRR. El concepto no pretende argumentar que todas las intervenciones del activismo religioso son democrticas (de hecho, los ejemplos contrarios sobran en la regin), pero s que es necesario entender que el accionar poltico de las religiones necesita ser comprendido como parte de los sistemas democrticos. Reducir todas las polticas de lo religioso opuestas a los DDSSRR a un problema de fundamentalismo o falta
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de laicidad es reducir la complejidad que las polticas de la sexualidad tienen en las sociedades contemporneas. Bajo el trmino de politizacin reactiva interesa referir a distintos tipos de cambios o mutaciones necesarios para comprender analtica y normativamente al activismo religioso contrario a los derechos sexuales y reproductivos. En primer lugar, un doble cambio a nivel de los actores. Por un lado, la jerarqua catlica instaura un tipo de poltica bifronte ya que mientras conserva los privilegios que tiene como institucin religiosa reclama su derecho (legtimo) a ser parte de la sociedad civil y como tal, intervenir en discusiones pblicas y legales. As, la Iglesia catlica refuerza una poltica dual en la que confluye el ser una institucin religiosa con alta legitimidad en la regin junto a su rol como actor poltico que reclama su derecho a ser parte de los distintos debates pblicos. Por otro lado, el fenmeno de ONGizacion de lo religioso que inscribe, en la arena pblica, actores que han instaurado nuevas estrategias para impedir y/o revertir los DDSSRR. La sociedad civil, arena democrtica por autonomasia, se ha convertido en el refugio privilegiado del activismo religioso contrario a los DDSSRR. Es cada vez ms frecuente en los pases latinoamericanos la existencia de grupos autodenominados pro-vida o profamilia que, con distintos vnculos con la jerarqua religiosa, se movilizan en defensa de una concepcin restringida de familia y de sexualidad. En segundo lugar, el activismo religioso tambin ha llevado adelante una mutacin a nivel de las discursividades utilizadas en antagonismo con el feminismo y el movimiento por la diversidad sexual. El concepto de secularismo estratgico se propone para explicitar el desplazamiento en las principales argumentaciones utilizadas por el activismo religioso para oponerse a los DDSSRR. Si bien el uso de justificaciones seculares no es novedoso para la Iglesia catlica, las mismas han devenido el eje central de las participaciones pblicas del activismo religioso conservador. Discursos cientficos, legales o bioticos tienen un papel privilegiado en las polticas de la sexualidad lo que implica un desplazamiento, aunque sea puramente estratgico, hacia justificaciones seculares. La defensa de las posturas religiosas tradicionales se realiza, cada vez ms, sin referencia a lo sagrado, a Dios o a la doctrina oficial. Se intensifican, en cambio, argumentos que ms all de su calidad son exclusivamente seculares. El comprender estas mutaciones y cambios del activismo religioso es importante no slo a nivel analtico sino, como se retoma en la ultima seccin de este trabajo, tambin a nivel normativo. El activismo religioso desplaza la dicotoma religioso/secular e inscribe actores y discursos dentro de los espacios que habilitan los sistemas democrticos. A nivel normativo, estas mutaciones requieren de un replanteo de los marcos tradicionales desde los que se da sentido a la relacin entre religin y poltico. Es necesario suspender algunos de los supuestos del secularismo
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y del laicismo que invisibilizan tanto el accionar de los sectores religiosos como las estrategias para confrontarlos. Las formas en que se construyen las polticas de lo religioso, el espacio que se les da como parte legtima del juego democrtico, condiciona tanto los anlisis como las estrategias privilegiadas para profundizar los DDSSRR en la regin.
3.a. La Iglesia Catlica: entre la poltica y la religin

Aunque la Iglesia oficial no flexibiliz su postura respecto a la sexualidad, incluso sucedi el proceso opuesto, s ha modernizado los canales utilizados para lograr que la doctrina contine teniendo un papel central en las regulaciones culturales y legales sobre la sexualidad. Se ha adaptado a los sistemas democrticos y se moviliza como un actor poltico que, inscribindose como parte de la sociedad civil, presiona a los poderes del Estado en defensa de su doctrina84. Sin dejar de ser una institucin religiosa, la Iglesia apela a su derecho a convertirse en un actor poltico. Este dualismo constituye uno de los desafos principales, no slo a nivel analtico sino tambin a nivel de estrategias polticas ya que es preciso entender y confrontar el accionar de las Iglesia Catlica sin reducir la complejidad de su actuacin. Tradicionalmente, la Iglesia ha sido y contina siendo una institucin religiosa que en el caso de Latinoamrica tiene una fuerte presencia histrica y cultural lo cual le ha generado un estatus privilegiado frente a otras instituciones religiosas85. Estos privilegios pueden estar formalizados como es el caso de aquellos pases donde la Iglesia Catlica recibe un tratamiento legal exclusivo (en el sostenimiento econmico o en su participacin en las estructuras del estado) o ser ms informales y descansan sobre la delegacin que el Estado hace en la jerarqua eclesial en algunas temticas de gobierno (educacin y familia preferentemente). Ambos privilegios evidencian que la separacin entre la Iglesia y el Estado es an un proceso inconcluso en Amrica Latina. La capacidad de autonoma del Estado frente a la Iglesia es una dimensin importante de las democracias liberales, que en el caso de Amrica Latina ha tenido una larga y complicada historia pasando por diversas etapas86. Aunque, por un lado, es posible observar, al menos a nivel formal, una creciente separacin entre Iglesia y Estado, por otro lado, no ha sido excepcional en la regin que en las prcticas polticas concretas la Iglesia siga sentando los contenidos de las legislaciones y polticas pblicas. Son, precisamente, los temas conectados a la sexualidad los ms proclives a ser decididos por la jerarqua eclesial. Sigue siendo el tipo de relacin existente entre el Estado y la Iglesia (de alianza o de conflictividad) una
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Ver Casanova (1994). Tanto a nivel de reconocimiento jurdico como de sostenimiento econmico. Gill (1998).
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dimensin fundamental para la sancin y efectiva vigencia de los derechos sexuales y reproductivos87. Sin embargo, el accionar de la Iglesia no puede reducirse solamente a un problema de falta de separacin entre Iglesia/Estado, de insuficiente laicidad, o incompleta secularizacin. Aun si esta separacin fuera perfecta, esto no significara que la Iglesia renuncie a ser un actor pblico influyente. Al contrario, a la vez que la Iglesia acepta la laicidad como regla del juego democrtico se reinscribe como actor poltico haciendo un llamamiento al bien comn de la sociedad. En este rol, la Iglesia dice no defender una doctrina particular ni a un grupo particular de personas (sus fieles), sino a la moralidad pblica de la sociedad civil y apela en esta lucha a la ciudadana ms all de sus creencias. Como actor poltico sostiene que frente a temas como el casamiento de personas de un mismo sexo o la despenalizacin del aborto la Iglesia tiene la responsabilidad de promover la moralidad pblica de toda la sociedad civil sobre la base de los valores morales fundamentales, y no simplemente protegerse a si misma de la aplicacin de leyes perjudiciales88. La Iglesia Catlica inici el proceso de inscripcin en la sociedad civil y de separacin del Estado a partir del Concilio Vaticano II (1962-1965) que implic una nueva poltica al aceptar la modernidad y el pluralismo, y reafirmar su rol como actor pblico. La separacin del Estado y la libertad religiosa no signific la privatizacin de la Iglesia ni de sus fieles89. Al contrario, una vez que temas sobre sexualidad entran a la agenda pblica en gran medida impulsados por los movimientos feministas y por la diversidad sexual la Iglesia Catlica escoge participar en los debates para evitar la sancin de derechos sexuales y reproductivos. La Iglesia se constituye en parte interesada y se moviliza polticamente para influenciar a la opinin pblica y a los representantes de los poderes del Estado encargados de sancionar dichos derechos. A travs de documentos oficiales, cartas a legisladores o el uso de los medios de comunicacin masiva, la jerarqua de la Iglesia catlica sienta su posicin como una manera de influir en las discusiones pblicas. Estas influencias se vuelven palpables sobre el ejecutivo y el legislativo al momento de discutir los derechos sexuales y reproductivos. Sirvan como ejemplo, las cartas que los obispos catlicos suelen enviar a legisladores en relacin a estas temticas o, inclusive, las instrucciones del Vaticano a los legisladores catlicos de cmo deben votar respecto

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Para un anlisis comparativo, ver Htun (2003) y Claudia Dides (Comp.) (2004).

Congregacin para la Doctrina de la Fe (1992) Consideraciones para la respuesta catlica a propuestas legislativas de no discriminacin a homosexuales. Ver Jos Casanova (1994) quien propone el concepto de desprivatizacin de las religiones para analizar este fenmeno.
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a temas como el aborto o la unin de personas del mismo sexo90. La Iglesia instaur una nueva etapa en la que se erige en reservorio moral de la humanidad para combatir al pluralismo en clave de relativismo moral91. Esta duplicidad de institucin religiosa y actor poltico es constitutiva del activismo de la Iglesia sobre la sexualidad y no debe ser opacada ni reducida a slo una de sus manifestaciones. Si bien es correcto afirmar que en su nostalgia hegemnica la Iglesia catlica puede debilitar la necesaria separacin Estado/Iglesia o actuar de manera fundamentalista, tambin debe considerarse que en su defensa de una moral nica, la Iglesia interviene como un actor poltico legtimo utilizando procedimientos democrticos. Es esta dualidad de la Iglesia como actor religioso y poltico, que se desdibuja frente a construcciones seculares, la que constituye una dimensin analtica y normativa a rescatar para potenciar la profundizacin de los derechos sexuales y reproductivos. Si como institucin religiosa la jerarqua puede argumentar una postura nica a travs de la doctrina oficial, cuando se transforma en actor poltico esta pretensin se rompe y sus argumentos y acciones forman parte de las esferas pblicas democrticas y, como tales, sometidos al debate y la crtica. Si como institucin religiosa la jerarqua puede decidir a quienes otorga reconocimiento como sujeto religioso (fieles) e inclusive expulsar a alguno de ellos (excomunin); como actor poltico est obligada a respetar al otro como sujeto poltico (ciudadano) con derechos y dignidades. Como actor poltico la Iglesia se somete a un conjunto de reglas externas y renuncia, voluntariamente o no, al status privilegiado que tiene como institucin religiosa.
3.b. La ONGnizacin del activismo religioso conservador

Otra dimensin importante del activismo religioso conservador es que, junto al rol de la Iglesia, algunos creyentes se han constituido en actores importantes en la defensa de la doctrina catlica. No slo la jerarqua catlica se repolitiz en oposicin con los movimientos feministas y por la diversidad sexual sino tambin algunos creyentes han tomado la empresa de defender la doctrina oficial resistiendo los cambios legales implicados. Para estas personas la creciente legitimidad de los derechos sexuales y reproductivos en la regin se considera como amenaza a un orden tradicional, a una forma de definir el mundo, que debe ser defendido. Respondiendo al llamado que hacen las jerarquas catlicas nacionales y el Vaticano los fieles se organizan para resistir las demandas del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual.
Ver, por ejemplo, el documento Consideraciones acerca de los proyectos de reconocimiento legal de las uniones entre personas homosexuales, publicado por la Congregacin para la Doctrina de la Fe durante el ao 2003.
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Congregacin para la Doctrina de la Fe (2003) Nota doctrinal sobre algunas cuestiones relativas al compromiso y la conducta de los catlicos en la vida poltica.
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Precisamente, un fenmeno que caracteriza las polticas de la sexualidad es la creciente presencia de organizaciones no gubernamentales (ONGs) que, con diversas trayectorias y niveles de institucionalizacin, han construido un entramado de actores que se oponen a cualquier reforma legal que ample o diversifique la sexualidad. No slo las iglesias y sus representantes defienden polticamente una concepcin nica de familia, a ellos se agregan ciudadanos que articulan el activismo religioso desde la sociedad civil. Desde los 70s comenzando en los EEUU y luego extendindose a todo el continente, un importante nmero de ONGs han sido generadas a nivel nacional y transnacional para defender doctrinas religiosas92. Aunque estas organizaciones se conectan a diferentes tradiciones religiosas su comn oposicin a los movimientos feministas y por la diversidad sexual les permite un accionar coordinado. El objetivo principal de estas organizaciones es influenciar los poderes del Estado para evitar la sancin o la instrumentacin de los derechos sexuales y reproductivos. Para ello se movilizan de diversas maneras: lobby a legisladores, participacin en debates pblicos, y planificacin de congresos regionales e internacionales para coordinar una agenda transnacional93. En Latinoamrica es cada vez ms visible el protagonismo de las ONGs autodenominadas pro vida o pro-familia en defensa de la doctrina religiosa. Estas ONGs son actores centrales en la defensa de una concepcin nica de sexualidad. El activismo religioso se caracteriza por mixturar lderes religiosos y sociales lo que hace ms efectiva y compleja su influencia poltica: no se est slo frente a lderes religiosos que buscan perpetuar sus creencias sino tambin frente a lderes sociales, a ciudadanos, que con distintos niveles de fanatismo defienden su cosmovisin tanto moral como religiosa. Una de las estrategias principales de estas ONGs es la judicializacin. Si las cortes judiciales han sido importantes arenas en el xito de las demandas feministas94, los sectores religiosos conservadores estn utilizando estrategias judiciales para defender sus valores tradicionales. En los Estados Unidos, por ejemplo, organizaciones pertenecientes a la Derecha Religiosa han activado el poder judicial durante las ltimas dcadas95 usando, preferentemente, el principio constitucional del derecho a la libre expresin96. En Latinoamrica, tambin es posible observar la judicializacin del activismo religioso. Frente a la creciente corriente de opinin
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Ver Cuneo (1995;1997). Ver Vaggione (2005).

En Estados Unidos, por ejemplo, las cortes fueron centrales en la despenalizacin del aborto en el caso Roe vs Wade (1973). La derecha religiosa en los EEUU es un concepto complejo, aunque la mayora de las organizaciones que se incluyen bajo ese rtulo se identifican con el Protestantismo Evanglico, las hay tambin Catlicas, Mormonas y Protestantes tradicionales. Para un anlisis del activismo de la derecha religiosa en los EEUU ver Brown (2002).
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Ver Brown (2002).


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favorable a la despenalizacin del aborto en la regin, organizaciones vinculadas al catolicismo estn empleando estrategias judiciales con el objetivo de declarar como abortivas, y por tanto prohibir, la anticoncepcin de emergencia y lograr fallos conservadores en relacin al inicio de la vida97. Si bien se inscriben en contextos nacionales, las agendas y estrategias de estas ONGs son coordinadas a nivel transnacional. Por un lado, aunque reconocen distintos niveles de contacto con la jerarqua religiosa (algunas lo reconocen abiertamente, otras se presentan como autnomas de la Iglesia catlica) responden a las estrategias de la jerarqua catlica que llama a los fieles a tomar un rol activo en las polticas nacionales. Combinando la apertura a una nueva forma de inscripcin poltica inaugurada desde el Vaticano II con la obsesin sobre la sexualidad sostenida por Juan Pablo II y Benedicto XVI, desde el Vaticano se insta a los fieles a tomar un rol activo en la defensa de un orden familiar/sexual que construyen como amenazado por los movimientos feministas y de la diversidad sexual. Por otro lado, estas ONGs articulan sus discursos y estrategias a travs de encuentros y congresos internacionales que se realizan de forma peridica. Congresos por la vida o por la familia, algunos organizados por la Iglesia catlica, se han constituido en espacios pblicos donde estas ONGs coordinan su accionar. Para entender el nivel de transnacionalizacin de estas ONGs sirva como ejemplo el caso de Vida Humana Internacional que fundada en los EEUU cuenta, en la actualidad, con organizaciones afiliadas en prcticamente todos los pases de la regin. Estas ONGs evidencian un fenmeno que no recibe, generalmente, atencin: la sociedad civil como arena democrtica sirve tambin para la articulacin y canalizacin del activismo religioso. Como se ha sealado en diversas investigaciones, lo religioso es una influencia importante en la activacin y movilizacin ciudadana; sin embargo, esta bibliografa (de por s escasa) tiende a concentrarse, en la regin, sobre las manifestaciones ms progresistas98. Si los movimientos feministas y por la diversidad sexual encontraron en la sociedad civil una arena fundamental para articular y canalizar sus demandas, los sectores antagonizando con estos movimientos tambin usan la sociedad civil en la organizacin de sus polticas de resistencia a los derechos sexuales y reproductivos. Ciudadanos motivados por su identidad religiosa refuerzan su postura en oposicin al pluralismo y canalizan sus polticas de influencias hacia el Estado por medio de asociaciones y organizaciones. La conexin de estas ONGs con las instituciones religiosas, con la Iglesia catlica en particular, tanto a nivel de agenda como de recursos econmicos es diversa, pero muchas de ellas tienen el reconocimiento formal del Estado (personera jurdica) y como tal
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Portal de Beln - Asociacin Civil sin Fines de Lucro c/ Ministerio de Salud y Accin Social de la Nacin s/ amparo.

Existen diversos trabajos que rescatan la religin como fuerza progresista a nivel de la sociedad civil. Un ejemplo que compila diversos estudios es Burdick, John y W.E. Hewitt (2000). 316
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estn habilitadas para ser parte de debates pblicos e iniciar, cuando corresponde, acciones legales. La sociedad civil es tambin una arena democrtica para que aquellos en defensa de la doctrina oficial se agrupen y presionen al Estado en defensa de la familia tradicional, lo que inscribe la poltica de lo religioso ms all de las miradas del secularismo o del laicismo.
3.c. Mutaciones a nivel de los discursos: secularismo estratgico

Otro cambio importante del activismo religioso es la adaptacin estratgica de las narrativas y las discursividades articuladas pblicamente para defender una concepcin tradicional y excluyente de familia99. A pesar de que lo religioso ha sido construido desde el secularismo como irracional y resistente a la modernidad, la religin, incluso los sectores ms conservadores, se han adaptado estratgicamente en sus intervenciones pblicas. En este sentido, el activismo religioso ha aprendido a mixturar argumentaciones y discursos religiosos y seculares obteniendo, as, un mayor nivel de impacto y legitimidad. Sin dudas los valores y razones religiosas son un pilar en la oposicin a los derechos sexuales y reproductivos, pero esta oposicin se construye tambin a partir de la articulacin de discursos seculares100. Aunque es comn encontrar referencias directas a la Biblia o al magisterio de la Iglesia catlica, el activismo religioso se caracteriza por haber devenido estratgicamente secular. El uso de argumentaciones seculares no es desconocido para la Iglesia catlica ya que tiene una larga tradicin en este sentido. Baste citar las influencias de Santo Toms de Aquino o la importancia que ha tenido, y sigue teniendo, para la Iglesia el concepto de derecho natural. A esta tradicin del catolicismo debe agregarse el proceso de politizacin reactiva de la Iglesia catlica al confrontar al feminismo y al movimiento por la diversidad sexual. Este antagonismo, en muchos sentidos mimticos, llev tambin a que el activismo religioso articulara motivaciones seculares para oponerse a los DDSSRR. Si dichos derechos se justifican en argumentaciones legales o cientficas, el activismo religioso tambin abreva en ellas para justificar su oposicin a la sancin y aplicacin de los mismos. Este trabajo se centra, por motivos de espacio, en dos tipos de discursos seculares que son articulados como parte del activismo religioso para influenciar la sancin y aplicacin del derecho101. En primer lugar, el activismo religioso tiende, cada vez mas, a justificar su posicin utilizando investigaciones y tecnologas cientficas
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Para ver un anlisis de estas mutaciones, ver Vaggione (2005).

En el catolicismo la articulacin de argumentos seculares como parte de la discursividad religiosa tiene una larga historia que excede el propsito de esta presentacin.
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Estoy dejando afuera la importancia que las justificaciones bioticas han adquirido para el activismo religioso. Tanto la Iglesia como sectores asociados a ella utilizan la biotica para defender una postura de la sexualidad en oposicin a los DDSSRR. El Vaticano, los telogos y las universidades catlicas operan como think tanks proponiendo justificaciones bioticas para criminalizar el aborto o no reconocer derechos a las personas LGBTQ.
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en vez de posturas religiosas o morales en su oposicin a los derechos sexuales y reproductivos102. Para oponerse a la despenalizacin del aborto, por ejemplo, se utilizan investigaciones sobre el inicio de la vida o imgenes tecnolgicas que humanizan al feto. Asimismo, los sectores religiosos articulan un arsenal de datos que, ms all de su dudoso origen, pretenden disputar cientficamente las consecuencias del aborto ilegal. El tema de la adopcin por parte de las parejas del mismo sexo ha sido otra temtica donde la oposicin del activismo religioso utiliza argumentaciones cientficas. El objetivo general de estas investigaciones es demostrar que los homosexuales, solos o en parejas, no estn en condiciones de ser progenitores a travs de probar la existencia de daos a los menores. Entre ellas se sostiene que ante la inexistencia de un hombre y una mujer proporcionando los roles adecuados, los menores se desarrollaran con dificultades para desempear los roles tradicionales en futuras relaciones. Asimismo, algunos estudios enfatizan la alta inestabilidad y tasas de divorcio en las parejas homosexuales103. Otro tipo de argumento utilizado es afirmar que los gays y lesbianas tienen una mayor prevalencia de enfermedades mentales que los heterosexuales, y por ello no debe permitirse la adopcin por parte de parejas del mismo sexo104. El secularismo estratgico tambin se manifiesta en el uso de discursividades legales. Adems de usar la judicializacin como una forma de politizacin, como ya se mencion, tambin el activismo religioso articula razones y justificaciones legales para oponerse a los DDSSRR. Un punto central de los argumentos legales es la apelacin al derecho natural como un principio fundante del sistema legal positivo. El actual y renovado inters por la idea de una familia amparada por un derecho natural es un pilar fundamental de los sectores religiosos para confrontar el creciente pluralismo de las sociedades contemporneas105. Las caractersticas de universalidad e inmutabilidad atribuidas al derecho natural sirven como justificacin legal para confrontar cualquier reforma que "desnaturalice" a la familia. En vez de defender la postura a travs de textos sagrados o de la doctrina religiosa, el concepto de naturaleza/ naturalizacin es bsico en este desplazamiento estratgico

En los Estados Unidos, el uso de informacin cientfica ha caracterizado al movimiento provida desde sus orgenes, ver Cuneo (1995).
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Un estudio frecuentemente citado sostiene que las parejas gays tienen 50% ms de posibilidades de divorciarse que las parejas heterosexuales, mientras que las parejas de lesbianas tienen un 167% ms de posibilidades (Ver Maggie Gallagher & Joshua K. Baker Same Sex Unions and Divorce Risk: Data from Sweden que ver el estudio en el website del Institute for Marriage and Public Policy www.imapp.org).
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Se cita, habitualmente, un estudio de George A. Rekers que es uno de los fundadores del Family Research Council (sus trabajos son, por ejemplo, Shaping Your Childs Sexual Identity o Growing Up Straight: What Families should Know about Homosexuality).
104 105

Para una crtica sobre la dicotoma natural/antinatural ver Javier Ugarte Prez (2005).
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de lo religioso a lo secular. Los planteos del denominado nuevo derecho natural tienen impacto cuando se discuten los derechos sexuales y reproductivos106. Diversos juristas aportan argumentaciones y razonamientos desde el derecho natural que reducen toda interrupcin del embarazo a un crimen. El Vaticano frente al avance de las demandas de reconocimiento de parejas del mismo sexo ha sancionado diversos documentos que, en defensa de la familia, proponen argumentaciones legales para contrarrestar los principios invocados por desde el movimiento por la diversidad sexual ya que Toda ley propuesta por los hombres tiene razn de ley en cuanto es conforme con la ley moral natural, reconocida por la recta razn, y respeta los derechos inalienables de cada persona. Las legislaciones favorables a las uniones homosexuales son contrarias a la recta razn porque confieren garantas jurdicas anlogas a las de la institucin matrimonial a la unin entre personas del mismo sexo107. De acuerdo con la Iglesia catlica, el matrimonio es protegido por el derecho positivo ya que cumple con el propsito de la procreacin que es de inters pblico, finalidad que no caracteriza a las parejas del mismo sexo. Existen, de acuerdo a la Iglesia, otros principios jurdicos que protegen a los homosexuales como ciudadanos razn por la cual constituye una grave injusticia sacrificar el bien comn y el derecho de la familia con el fin de obtener bienes que pueden y deben ser garantizados por vas que no daen a la generalidad del cuerpo social108. La Iglesia tambin niega que el principio de no discriminacin pueda usarse como motivacin para reconocer derechos a las parejas del mismo sexo: "Distinguir entre personas o negarle a alguien un reconocimiento legal o un servicio social es efectivamente inaceptable slo si se opone a la justicia. No atribuir el estatus social y jurdico de matrimonio a formas de vida que no son ni pueden ser matrimoniales no se opone a la justicia, sino que, por el contrario, es requerido por sta109. No slo estas parejas no merecen reconocimiento sino que inclusive "hay suficientes razones para afirmar que tales uniones son nocivas para el recto desarrollo de la sociedad humana, sobre todo si aumentase su incidencia efectiva en el tejido social110. Tambin las ONGs autodenominadas pro-vida o pro-familia utilizan un arsenal de discursos legales que van desde los derechos humanos, al derecho internacional, o el uso del derecho positivo de los distintos pases. La forma en que el
Para un anlisis de los principales planteos del nuevo derecho natural y sus crticas desde una mirada feminista puede consultarse Kathleen Roberts Skerrett (2007).
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Congregacin para la Doctrina de la Fe (1992) Consideraciones para la respuesta catlica a propuestas legislativas de no discriminacin a homosexuales.
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Congregacin para la Doctrina de la Fe (1992). Congregacin para la Doctrina de la Fe (1992). Congregacin para la Doctrina de la Fe (1992).
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activismo religioso politiz la anticoncepcin de emergencia es un ejemplo donde se ven en funcionamiento varias de las dimensiones previamente mencionadas. Por un lado, la judicializacin de la anticoncepcin de emergencia por considerarla abortiva ha sido una estrategia en diversos pases de la regin llevada a cabo por distintas ONGs pro-vida. Estas presentaciones judiciales se acompaan de un arsenal importante de argumentaciones legales que amalgaman tanto el derecho natural, los derechos humanos como la referencia al derecho positivo vigente junto con investigaciones cientficas que hacen referencia a los potenciales efectos que son construidos como abortivos. Estas judicializaciones han tenido el efecto general de incluir en el debate del aborto lo que antes estaba afuera (como los anticonceptivos) y, en algunos casos concretos, han logrado sentencias judiciales que fijan el inicio de la vida humana como el momento de la concepcin111. Ms all de la supuesta veracidad de las investigaciones cientficas112 o de la calidad argumentativa del discurso legal113, lo destacable es que el activismo religioso inscribe su participacin en la poltica a travs de argumentos seculares. Lo que esta en juego no es, entonces, el carcter religioso de las argumentaciones, ya que el activismo religioso conservador ha aprendido a utilizar estrategias seculares sin necesariamente secularizarse. En su antagonismo con los movimientos feministas y por la diversidad sexual, este activismo ha desarrollado un secularismo estratgico que no es lo que la secularizacin se supone tendra que lograr (el debilitamiento de las influencias de lo religioso); tampoco implica, necesariamente, un discurso ms abierto a la negociacin o al debate sino que conlleva el mismo nivel de dogmatismo que las convicciones religiosas. La cuestin, entonces, no es el carcter religioso o secular del discurso sino la apertura y el pluralismo de las posiciones. El paulatino avance de los DDSSRR que se est dando en diversos pases de la regin es indicador de una profundizacin de los procesos de democratizacin ya que implica que las concepciones nicas y hegemnicas van dando lugar, aunque sea incipiente, a un pluralismo que busca materializarse en legislaciones y polticas pblicas. Pero tambin este avance genera reacciones desde los sectores religiosos ms conservadores que, instaurando nuevas formas de intervencin poltica, continan siendo un obstculo importante para la profundizacin de los derechos sexuales y reproductivos de renovadas maneras. Entender las complejas formas que toma el activismo religioso conservador, evitando explicaciones reduccionistas, es
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Por ejemplo el caso Portal de Beln en la Repblica Argentina.

Ver el informe de Fundacin Tringulo contra el informe de HazteOir.org que analiza en detalles las inexactitudes contenidas y se incorporan estudios que respaldan la adopcin de nios por parte de parejas del mismo sexo (ver No es Igual No es Verdad en www.fundaciontriangulo.es). Hay distintos anlisis criticando al derecho natural como discurso legal para los sistemas democrticos. Ver, por ejemplo, Bamforth y Richards (2007).
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fundamental no slo para lograr legislaciones ms justas sino tambin para que las mismas sean un instrumento eficaz para el cambio social.
4. Las polticas de la sexualidad ms all del secularismo

A manera de cierre, este artculo plantea algunos de los principales desafos que las polticas de lo religioso implican para la vigencia de los derechos sexuales y reproductivos en la regin. Las construcciones polticas que se hacen desde el feminismo y desde el movimiento por la diversidad sexual responden a un tiempo determinado. Es ese tiempo el que instaura los principales desafos pero tambin el que fija las opciones analticas y normativas vigentes. Si bien estos movimientos corrieron los lmites de la poltica e imaginaron nuevas formas de la justicia y de la democracia, tambin estuvieron condicionados por la manera dominante de construir el fenmeno religioso, en particular por la vigencia paradigmtica de la teora de la secularizacin. El tiempo actual imprime, sin embargo, la necesidad de volver a pensar la relacin entre religin y poltica bajo nuevas miradas que reflejen la complejidad de lo religioso en las sociedades contemporneas. Dos giros se han dado en las ciencias sociales que inauguran un tiempo diferente y nuevos pliegues en el anlisis de las relaciones entre sexualidad, religin y poltica. Existe un giro analtico que se manifiesta en la importancia creciente que lo religioso tiene en las agendas acadmicas. Luego de dcadas de vigencia paradigmtica de la teora de la secularizacin114, que asuma el paulatino desvanecimiento de lo religioso, las ciencias sociales repiensan las influencias de las religiones como parte legtimas de las polticas contemporneas. El concepto de politizacin reactiva, que fue desarrollado previamente, tiene como objetivo captar las mutaciones del activismo religioso contrario a los derechos sexuales y reproductivos que no slo se adapt a los sistemas democrticos sino incluso maximiz los propios canales abiertos por los mismos. Como evidencia el anlisis, la teora de la secularizacin es un modelo incompleto para comprender las formas que adquieren las polticas de lo religioso en las sociedades contemporneas. Ni retraimiento, ni privatizacin, la influencia de los sectores religiosos contrarios a la libertad y diversidad sexual se ha adaptado estratgicamente sobrepasando los marcos tericos existentes y, en varios sentidos, trasvasando la dicotoma religioso/secular. En conexin con esto, tambin se ha producido un giro normativo por lo cual la teora social revisa las concepciones de lo pblico y de lo poltico que se construan como un espacio vaciado (o a vaciar) de lo religioso115. Por dcadas la influencia del secularismo simplific las influencias de las religiones en la poltica
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Para una reconstruccin de la teora de la secularizacin ver Casanova (1994). Ver Connolly (1999) para una crtica de la construccin de lo pblico como secular.
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a travs de considerarlas un proceso insuficiente de diferenciacin y autonoma (la presencia poltica de las religiones implicaba una incompleta secularizacin). La teora social vuelve sobre las polticas de lo religioso desde una postura crtica al secularismo y son pocos los que sostienen que la esfera pblica debe vaciarse de lo religioso o que el nico lugar legtimo para las religiones es la esfera privada116. El plexo de alternativas que surgen como parte de este giro normativo es diverso y excede los propsitos de este artculo, sin embargo todas ellas se dirigen a (re)pensar las formas convencionales de construccin de fronteras entre lo religioso y lo poltico. Deconstruir al cristianismo117, realizar una antropologa de lo secular118 o entender el rol de las religiones pblicas en la modernidad119 son algunos de los intentos crticos al secularismo como ideologa de la modernidad. Estos giros son especialmente desafiante para las polticas emancipatorias de la sexualidad que, por dcadas, encontraron en la teora de la secularizacin y en el secularismo una forma de entender el rol de las religiones en los sistemas democrticos, que era funcional para las demandas del feminismo y del movimiento por la diversidad sexual. Las principales religiones se asociaban al sostenimiento del patriarcado y la heteronormatividad como sistemas de poder, por ello una teora que pregonaba la privatizacin de lo religioso era sin dudas funcional a la liberacin de la sexualidad. La religin estaba fuera de lo poltico y su lugar era la esfera privada, el campo de las creencias individuales, que nada tena que ver con legislaciones y polticas pblicas. En una regin como la latinoamericana, donde la Iglesia catlica ha ejercido por siglos un poder hegemnico sobre las construcciones legales de la sexualidad, un programa poltico basado en la separacin entre religin y poltica, la autonoma del Estado, y la defensa de lo pblico como exclusivamente secular eran considerados como condiciones para el avance en los derechos sexuales y reproductivos. Por dcadas la teorizacin y la poltica de la sexualidad funcionaron sin complejizar demasiado a lo religioso; dcadas en las cuales la vigencia de la teora de la secularizacin limitando lo religioso a la esfera de lo privado era un camino (normativo y analtico) para confrontar el poder de las instituciones religiosas. El poder de las religiones era una seal de la necesidad de profundizar la secularizacin, tanto a nivel de la sociedad poltica como del estado (laicidad). La influencia poltica de las religiones era decodificada como indicador de un insuficiente proceso de modernizacin. El secularismo como una forma de construir lo religioso en oposicin a
Incluso Habermas en sus ltimos trabajos incluye a lo religioso como discurso legtimo a nivel de la sociedad civil (aunque insiste en la necesidad de un filtro institucional a nivel de los cuerpos legislativos). Ver Habermas (2006).
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Jean-Luc Nancy (2006). Talal Asad (2003). Casanova (2000).


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lo poltico o como el afuera que daba sentido y homogeneidad a lo secular, tuvo una vigencia paradigmtica en las ciencias sociales. Mirando para atrs no deja de ser llamativo que el feminismo y el movimiento por la diversidad sexual cuyo eje central fue desarmar la dicotoma pblico/privado reinscribieran acrticamente el closet de lo privado como lugar para lo religioso. La cuestin religiosa es, ahora, ineludible, pero esta urgencia se da en un tiempo en el cual ni el secularismo, ni la secularizacin, ni la esperanza de la desaparicin de lo religioso sirven de base, racional o irracional, para los anlisis y las polticas. Complejizar lo religioso en este tiempo implica, tambin, considerar crticamente lo secular. No slo lo religioso ha vuelto como problemtica poltica, sino que su vuelta desplaza a lo secular como terreno delimitado y cierto. La fuerte impronta secularista que por aos hegemoniz el pensamiento progresista se ha transformado, de muchas maneras, en una limitante para poder captar a lo religioso y sus implicancias. El desafo es, entonces, proponer marcos tericos y estrategias polticas basadas en una comprensin de lo religioso como una parte legtima de lo poltico. En particular, las polticas emancipatorias de la sexualidad deben superar el secularismo como construccin ideolgica para, de este modo, dar espacio a diagnsticos diferentes sobre la relacin religin y sexualidad. A continuacin se presentan tres reas especficas en las cuales una comprensin compleja de la relacin entre religin y poltica es necesaria. Areas en las cuales las polticas empancipatorias de la sexualidad deben superar el corset del secularismo para, de este modo, ensayar estrategias alternativas para la profundizacin de los DDSSRR. En primer lugar, se considera la otrorizacin como uno de los riesgos centrales de la geopoltica actual, riesgo al que las polticas emancipatorias de la sexualidad no estn inmunes. En segundo lugar, considerando las mutaciones del activismo religioso, se reflexiona sobre la necesidad de generar marcos tericos y estrategias polticas que logren captar la complejidad de lo religioso como parte de las democracias contemporneas. Finalmente, este artculo culmina con la necesidad de suspender al secularismo para, de este modo, lograr inscribir el pluralismo religioso como una dimensin central de las polticas de la sexualidad. El desafo consiste no en insistir en la privatizacin de lo religioso, sino en politizar lo religioso como diverso y plural.
4.a. Las polticas emancipatorias de la sexualidad y la otrorizacin

El secularismo, como construccin ideolgica, presupone un nivel de universalidad que en algunas circunstancias ha sido funcional con polticas exclusin y estigmatizacin del otro religioso. Precisamente, uno de los riesgos de las polticas emancipatorias de la sexualidad es convertirse en marcadores de modernizacin, el ser utilizadas como parte de imaginarios civilizatorios que justifican la necesidad de intervenciones con distintos niveles de violencia. En este sentido, los vnculos
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entre sexualidad, religin y poltica han dado lugar, en la historia reciente, a imponer el proyecto modernista secularizador y occidental como proyecto nico y universal al que se contraponen el resto de las culturas. Esta dinmica es particularmente opresora de culturas donde lo religioso juega un papel diferente a la modernidad occidental/ cristiana, como es el caso de las sociedades con fuerte influencia del Islam donde las fronteras entre lo religioso y lo secular, si existen, tienen lgicas diferentes. Algunos estudios han llamado la atencin sobre los riesgos de otrorizacin conectados a las polticas emancipatorias de la sexualidad acrticas al modelo civilizatorio secular. En Francia, el debate sobre el velo (o mejor dicho sobre el uso de simbologas religiosas en los colegios pblicos) estuvo impregnado con discusiones sobre la sexualidad de los sectores islmicos, en el que tambin particip parte del feminismo, a la que se presentaba como antinatural y opresiva cuando se la comparaba con la imagen francesa de practicar el sexo120. La sexualidad es tambin utilizada para marcar las fronteras y reforzar lo que se ha considerado como un homonacionalismo funcional121 conectado a la maquinaria de guerra montada luego del 11 de septiembre. As, la sexualidad se usa como marca de diferenciacin y como forma de identificacin del otro, inscribiendo una islamofobia homonormativa122. Pensar crticamente al secularismo permite entender su genealoga, en particular su raz cristiana123. La concepcin de lo religioso que se inscribe desde el secularismo responde a un proceso histrico especfico. La modernidad de los pases cristianos podr medirse en trminos de secularizacin, de diferenciacin y autonoma de esferas, de separacin de religin y poltica. Sin embargo, esta lgica de equivalencias entre modernidad y secularismo, que incluso no es totalmente aplicable a los pases occidentales, menos an es trasladable a lugares donde la influencia de lo religioso se basa en otras tradiciones, como el caso del Islam. De este modo, las polticas emancipatorias de la sexualidad deben ser conscientes del componente etnocntrico que implica la defensa del secularismo como medida universal de modernidad. Como se analiz en la primera parte, un concepto que es frecuentemente utilizado en las polticas de la sexualidad es el de fundamentalismo religioso. Si bien este concepto es funcional y capta la dogmatizacin por la que atraviesan las principales religiones es tambin un concepto que adems de dificultades tericas (en su definicin) tiene complicaciones en su uso poltico ya que no existen grupos que se auto identifiquen como fundamentalistas sino que es un rtulo que se impone sobre sectores religiosos. En particular, la complicacin ms comn del trmino
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Scott (2007:11). Puar (2007). Puar, Jasbir (2007). Ver Talal Asad (2003).
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radica en la tendencia a asociarlo con los sectores islmicos124. Irnicamente disociado del origen cristiano, el trmino comenz a aplicarse al Islam con el significado, entre otros, de ser una religin en oposicin a la modernidad. Esta tendencia se intensific con la geopoltica inaugurada a partir del 11 de septiembre ya que trminos como terrorismo o fundamentalismo son parte de las retricas de guerra inauguradas que se usan para otrorizar al Islam. Si bien puede argumentarse que en una regin como la latinoamericana la otrorizacin no constituye un riesgo significativo, las polticas emancipatorias de la sexualidad necesitan, tambin, ser pensadas ms all de los lmites regionales. En este sentido, aunque el trmino resuene diferente en Latinoamrica, es inevitable conectarlo a una retrica internacional, a una geopoltica que atraviesa otras regiones y otros ejes de poder. En un momento donde la poltica emancipatoria de la sexualidad se inscribe de manera global, los riesgos de otrorizacin se intensifican. De este modo, retricas como fundamentalismo religioso requieren de una distancia crtica que permita entender cmo, al menos en ciertos contextos, las mismas pueden ser utilizadas para reforzar estereotipos marginando grupos en situacin de desventaja. Aunque parezca paradjico, esta necesidad de una mirada crtica no implica que las campaas y estrategias basadas en denunciar y resistir los fundamentalismos religiosos deban ser abandonadas (despus de todo son las principales instrumentos polticos utilizados en defensa de los DDSSRR). Sin embargo, es necesario una utilizacin crtica y no esencializada de trminos como fundamentalismo religioso. Ms all del valor estratgico que tenga el uso del trmino (tanto para oponerse al activismo religioso conservador as como para lograr agendas comunes al interior del feminismo y movimiento por la diversidad sexual) es imprescindible entender las limitaciones que implican125.
4.b. Las polticas conservadoras de lo religioso como parte de la democracia

Los modelos normativos fuertemente influenciados por el secularismo dejan poco o ningn espacio para entender lo religioso como una parte legtima de las polticas de la sexualidad. Lo religioso corresponde a la esfera de lo privado, de lo no poltico y cualquier actuacin en contrario pone en evidencia un insuficiente proceso de secularizacin (tanto de la poltica como del estado). El riesgo es, sin embargo, invisibilizar las mutaciones del activismo religioso conservador que, como se afirm previamente, tambin utiliza los canales abiertos por la democracia e instaura nuevos pliegues en las polticas de la sexualidad. Por ello, si bien los anlisis conectados a la laicidad captan ciertas formas polticas de lo religioso, en particular en Latinoamrica
Ver publicaciones de AWID sobre fundamentalismos religiosos, en particular Miradas Compartidas. Los y las activistas por los derechos de las mujeres definen a los fundamentalismos religiosos en <www.awid.org>.
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En el trabajo de AWID previamente sealado se indican algunas de estas limitaciones y riesgos.


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donde la Iglesia Catlica tiene una larga historia de privilegios y de debilitar su separacin de los estados, es tambin necesario proponer anlisis y estrategias que se basen en las polticas de lo religioso como parte de las democracias. Sin desconocer que la laicidad es an un proceso incompleto, sin desconocer que an existen privilegios no democrticos en los sectores religiosos, es importante, sin embargo, considerar el espacio legtimo que tiene lo religioso en las polticas de la sexualidad. Como se afirm, la Iglesia tambin reconoce su separacin del Estado (aunque no siempre la ejerza) y se inscribe como un actor desde la sociedad civil126 al mismo tiempo que nuevos actores y discursividades van ganando presencia en las polticas de la sexualidad. La formacin de ONGs para defender la postura de la jerarqua religiosa, la judicializacin, la circulacin de discursos bioticos, legales o cientficos, son algunas de las estrategias que le dan otra cara al activismo religioso conservador. Estas formas del activismo religioso conservador ponen en evidencia la necesidad de repensar las relaciones entre religin y poltica en las democracias contemporneas. La participacin de la Iglesia como actor en los debates pblicos, el proceso de ONGizacin y el secularismo estratgico del activismo religioso muestran conexiones entre la religin y la poltica que no son cabalmente entendidas por marcos tericos fuertemente influenciados por el secularismo (tanto en su versin de teora de la secularizacin o como secularismo del Estado o laicismo). Aunque el secularismo, con su impronta de privatizar el fenmeno religioso, o al menos despolitizarlo, sigue siendo un componente importante en la manera en que sectores progresistas definen y confrontan las influencias religiosas, el mismo necesita ser crticamente considerado debido a las complejas influencias de lo religioso sobre polticas de sexualidad. Lo religioso ha mutado y se inscribe, polticamente, de maneras que son distorsionadas, sino invisibilizadas, por el secularismo. Aunque puede insistirse que la centralidad de lo religioso en las polticas de la sexualidad es pura rmora del pasado o resistencia al cambio, cada vez parecen ser ms el emergente de un nuevo mundo en construccin. En vez de retirarse, lo religioso sigue siendo un componente poltico importante y a las formas tradicionales de intervencin se le agregan nuevas estrategias y discursividades. En vez de privatizarse o desaparecer, lo religioso ha mutado inscribiendo nuevos pliegues en las polticas de la sexualidad. El desafo no slo es receptar estas mutaciones en los marcos analticos sino tambin generar debates normativos y estrategias polticas acordes a esta complejidad. Un proyecto que busque entender las relaciones entre sexualidad, religin y poltica necesita pensar crticamente las formulaciones propuestas desde el secularismo como forma excluyente de compresin los roles polticos de las religiones. Aunque las campaas a favor de la laicidad son necesarias, no son una estrategia suficiente para captar las polticas de lo religioso opuesta a los DDSSRR.
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Ver Casanova (1994).


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El desafo es interrumpir el secularismo para ampliar la comprensin de las religiones como una parte legtima de las polticas contemporneas. Sin desconocer la existencia de prcticas antidemocrticas por parte de sectores religiosos, no puede reducirse el activismo religioso conservador, incluso si es contrario al pluralismo, al afuera de la democracia. Son necesarios marcos normativos de lo poltico que amplen el espacio legtimo de los actores y discursos religiosos. Reforzar el secularismo y reducir las polticas religiosas conservadoras a ser contrarias a la laicidad, puede obscurecer e invisibilizar muchas de las formas en que las religiones influencian las legislaciones y polticas pblicas. Estos dispositivos, a la vez heursticos y normativos, dieron sentido a lo religioso por dcadas desde las ciencias sociales aplanando la complejidad de sus roles y auspiciando su retirada de la esfera poltica. Es claro que concepciones de democracia liberal o incluso deliberativa no son suficientes para captar la complejidad y diversidad de lo religioso ya que terminan, una antes que la otra, reforzando la frontera entre lo religioso y lo secular, fronteras que son precisamente porosas, mviles o (incluso en algunos contextos) inexistentes. Las concepciones de democracia radical que se distancian del secularismo como forma de definir lo pblico, ofrecen modelos normativos para las polticas de la sexualidad que no requieren de la privatizacin de lo religioso127 o incluso ni siquiera de la diferenciacin entre lo religioso y lo secular128. Este tipo de concepciones, que abren el espacio a formas complejas de entender el rol de lo religioso en las sociedades contemporneas, que supera al secularismo como construccin de lo pblico, ofrecen para las polticas emancipatorias de la sexualidad no slo modelos ms aptos para receptar los complejos interjuegos entre sexualidad, religin y poltica, sino tambin para disear estrategias favorables a los DDSSRR que, sin negarlas, vayan ms all de reclamar por la laicidad.
4.c. Lo religioso como plural y heterogneo

Otro riesgo del secularismo es la tendencia a fortalecer la dicotoma religioso/ secular y homogenizar la complejidad de lo religioso respecto a la sexualidad. No puede negarse que, al menos en las sociedades occidentales, lo secular como espacio, como ideologa, como proceso histrico permiti en gran medida romper la hegemona de las religiones sobre la sexualidad abriendo, de este modo, a posturas plurales. Sin embargo, la religin es compleja y heterognea respecto a la sexualidad. Si bien ciertos sectores religiosos constituyen el principal obstculo para los derechos sexuales y reproductivos, tambin debe reconocerse que existen otros sectores religiosos que presentan una postura plural y diversa frente a la sexualidad, como se indic en la primera parte de este trabajo. Las polticas emancipatorias de la sexuali127 128

Mouffe (1992). Connolly (1999).


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dad deben evitar la dictomomizacin religioso/secular respecto a la sexualidad en un contexto en el cual es necesario precisamente desarmarla. Si, por un lado, el activismo religioso conservador trascendi la dicotoma religioso/secular, lo religioso incluye tambin manifestaciones favorables a la libertad y diversidad sexual. El desafo normativo para el feminismo y el movimiento por la diversidad sexual es incorporar una concepcin de lo religioso que permita politizar el pluralismo que existe tanto entre tradiciones religiosas como al interior de las mismas. Reducir lo religioso a lo privado es tambin enclosetar uno de los cambios sociales y culturales ms importantes: las formas en que las religiones se van (re)construyendo desde sus fieles de maneras creativas y liberadoras. Si bien las jerarquas pueden insistir en posturas rgidas y dogmticas, los fieles van moldeando nuevas y complejas formas de ser religioso, muchas de las cuales son compatibles con, o incluso generadas por, el feminismo y diversidad sexual. Este pluralismo religioso tiene la potencia de erosionar el poder simblico de la jerarqua conservadora ya que no slo deconstruye su discurso sino que tambin vaca su representatividad. Reconocer esta heterogeneidad no es suficiente, la misma tiene que ser parte constitutiva de las polticas emancipatorias de la sexualidad. Un pluralismo profundo129 requiere rescatar esta heterogeneidad del interior de las comunidades religiosas, de los muros de las iglesias, y transformarla en un principio democratizador, particularmente en relacin con los derechos sexuales y reproductivos. Transformar al pluralismo religioso en una dimensin de las polticas emancipatorias de la sexualidad abre a distintas posibilidades. Por un lado, permite inscribir actores y discursividades disidentes (aquellas que en la forma de ONGs, de teologas o de lderes religiosos articulan creencias religiosas con una concepcin amplia y diversa sobre lo sexual) en el debate sobre tica sexual. Por motivos comprensibles, el feminismo y el movimiento por la diversidad sexual han concentrado sus esfuerzos en cuestiones de derechos y ciudadanas, marginando la intervencin en debates ticos e, indirectamente, fortaleciendo el monopolio de las religiones ms tradicionales sobre la moralidad pblica. Al margen de cun posible es una tica laica sobre la sexualidad, las posturas religiosas disidentes ofrecen un arsenal de debates ticos favorables a los derechos de las personas LGBTQ, a la contracepcin o a la interrupcin del embarazo como opcin moral. Adems este pluralismo al interior del campo religioso es tambin relevante para los procesos de empoderamiento de la poblacin que son imprescindibles para la vigencia de los DDSSRR. La vigencia substancial de los derechos es una de las asignaturas pendientes, la otra se conecta con un replanteo cultural que implica, entre otras cuestiones, superar las nociones de culpa y/o pecado respecto a la sexualidad. As, los debates teolgicos y los lderes religiosos disidentes proponen una construccin de la subjetividad, en
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Connolly (2005).
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clave religiosa, que deconstruye la naturalizacin del patriarcado y la heteronormatividad a nivel poblacional. El desafo es, sin negar la importancia que la secularizacin o la garanta de Estados laicos pueden tener para una regin como la latinoamericana, reforzar que la lucha a favor de los derechos sexuales y reproductivos engloba tambin actores y discursos religiosos. Si bien, un polo del antagonismo est encabezado por la jerarqua de la Iglesia catlica que se fortalece por el poder simblico de ser una institucin religiosa y el manejo de recursos sagrados, esta jerarqua no agota ni lo religioso ni lo catlico. El desafo es rescatar el pluralismo que caracteriza al campo de lo religioso. La radicalizacin del patriarcado es slo parte de la politizacin de lo religioso en las sociedades contemporneas. Junto a ella existen sectores religiosos, telogos, fieles, jerarquas, que se movilizan a favor de una concepcin ms amplia de la sexualidad. Estas divergencias y disidencias religiosas son una parte de la poltica de la sexualidad que permite superar la dicotoma religioso/secular a la vez que ofrece alternativas estratgicas importantes para la profundizacin de los derechos sexuales y reproductivos130. La politizacin de la sexualidad lograda por el feminismo y el movimiento por la diversidad sexual implica la reaccin y rearticulacin de los sectores religiosos conservadores. Latinoamrica est siendo testigo de esta politizacin reactiva que se despliega de maneras complejas para evitar o revertir la vigencia de los DDSSRR en la regin. Este fenmeno, que tiene sus especificidades es, sin embargo, de escala global. La religin nunca se retir de lo poltico sino que, al contrario, instrument nuevas y estratgicas maneras de accin. El desafo es comprender esta complejidad en la articulacin religin y poltica a la vez que se amplia el espacio para los DDSSRR. La adhesin acrtica al secularismo, que por dcadas ofreci un marco normativo seguro, puede implicar la simplificacin y distorsin del rol de lo religioso en las polticas de la sexualidad. Es necesario repensar las polticas emancipatorias de la sexualidad ms all del secularismo, no porque el mismo haya dejado de proveer una ideologa, una teora y una serie de estrategias importantes sino porque lo religioso como fenmeno complejo las super en sus diagnsticos y pronsticos. Referencias bibliogrficas
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Transformaciones polticas de los grupos conservadores en el Per1


Jaris Mujica2

La imagen recurrente de los conservadores refiere sujetos que forman comunidades sectarias o grupos hermticos con codificaciones crpticas y rituales secretos. Se suele asociar a los conservadores con grupos fundamentalistas o extremistas que estn fuera del sistema, que marchan a contracorriente de las formas de la democracia o que pretenden un regreso a las maneras tradicionales de gobierno (divisiones estamentales, gobiernos aristocrticos, formas de racismo, etctera). Sin embargo, la estructura de los grupos conservadores es ms compleja; no se trata simplemente de fundamentalistas que buscan restaurar un antiguo rgimen, sino de grupos que insertndose estratgicamente en las estructuras de la democracia formal, utilizando sus instrumentos y sus procedimientos, buscan instaurar ideas que reafirman la unin entre Estado e Iglesia, que asumen que la familia monogmica heterosexual con mandato reproductivo es la nica posibilidad y que estn en contra de los diferentes mtodos anticonceptivos, el matrimonio entre personas del mismo sexo y la despenalizacin del aborto, entre otros temas. Estos movimientos se ha reinventado en los ltimos aos en Amrica Latina y tienen en el Per un ncleo importante de accin y coordinacin a nivel continental; grupos que reciben apoyo de organizaciones conservadoras internacionales y de diferentes instancias de poder poltico y econmico.

Este texto es el resumen sinttico de algunas de las ideas trabajadas en: MUJICA, Jaris. Economa poltica del cuerpo. La reestructuracin de los grupos conservadores y el biopoder. Lima: Promsex. 2007. La versin electrnica puede consultarse en: www.promsex.org/index.php?option=com_content&view=article&id=813:economia-politica-del-cuerpola-restructuracion-de-los-grupos-conservadores-y-el-biopoder&catid=36:publicaciones&Itemid=68 Jaris Mujica (Lima, 1981). Doctorando en Ciencia Poltica, Mster en Ciencia Poltica y Licenciado en Antropologa por la Pontificia Universidad Catlica del Per. Ganador de numerosos premios y becas de investigacin: Premio ANR, Premio del Congreso de la Repblica, Premio DAI, Beca del Instituto Francs de Estudios Andinos, Beca Iberoamericana Libertades Laicas del Colegio Mexiquense, Beca DIRSI-IDRC Canad, entre otros. Autor de El mercado negro (2008), Economa poltica del cuerpo (2007) y editor de Despus de Michel Foucault (2006). Se ha especializado en antropologa poltica, crimen violencia y corrupcin. Actualmente es profesor de la Universidad Catlica y de la Universidad Cayetano Heredia, Investigador Asociado del Centro de Promocin y Defensa de los Derechos Sexuales y Reproductivos-Promsex y miembro de Sur Casa de Estudios del Socialismo.
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Conservar la tradicin / defender la vida Durante mucho tiempo los conservadores han tenido el control de las esferas polticas y gubernamentales, as como de las altas esferas econmicas en muchos pases de Amrica Latina. En el Per, por ejemplo, el periodo republicano, hasta el tercer cuarto del siglo XX, ha estado dominado por una lite poltica clasista y por la exclusin sistemtica de ciertos grupos (mujeres, indgenas, campesinos, analfabetos, etctera). En ese sentido, lo que ha operado durante el siglo pasado es una correlacin entre los grupos aristocrticos oligrquicos conservadores y las estructuras formales de poder poltico y econmico. Sin embargo, en las ltimas dcadas hubo cambios importantes: el regreso paulatino de la democracia en nuestros pases, con sus particularidades y tropiezos, as como los cambios producidos por las reformas econmicas (la llegada de la globalizacin, la irrupcin del neoliberalismo econmico y del capitalismo tardo) han generado cambios en las estructuras polticas. A pesar de que los gobiernos de los estados latinoamericanos no han logrado an una democratizacin del acceso a los servicios y la distribucin de la riqueza, es posible notar que el sistema poltico ya no es un enclave oligrquico tradicional. Hay una movilizacin y cierta apertura del poder poltico en el que han aparecido nuevos actores. En este contexto, donde el discurso de lo global y la apertura econmica se expanden con cierta rapidez, la sociedad de clases estamentales bajo el dominio de la aristocracia parece ser una figura desfasada. Cmo es que los conservadores reconstruyen sus discursos y sus prcticas en este nuevo contexto? Pues, utilizando las estructuras de la democracia y los instrumentos polticos que esta plantea, con el propsito de conseguir objetivos que en gran medida implican la exclusin de ciertos grupos de la poblacin y que tienden a cerrar y bloquear las libertades individuales y ciertos derechos civiles. Esta es la paradoja del proceso y del panorama actual: los grupos conservadores utilizan los discursos de los Derechos y las estructuras formales (instrumentales) de la democracia y la poltica para introducir posiciones, leyes y normas que excluyen y que en muchas ocasiones marchan en contra de algunos derechos. En efecto, en este periodo de cambios polticos y econmicos los grupos conservadores han tenido que transformarse. Pensar en una sociedad de aristcratas no resulta una idea polticamente correcta. En la sociedad contempornea, que tiende hacia la democratizacin y ampliacin de la participacin ciudadana civil (al menos discursivamente), han surgido nuevas voces que llaman a fijarse en la diversidad (de gnero, sexual, tnica, cultural, etctera) e intentan construir polticas de tolerancia y apertura de derechos. Por esta razn los conservadores han tenido que, estratgicamente, reordenar sus discursos. Si antes lo ms importante para aquellos grupos era defender la Tradicin, que implica una relacin directa entre la figura de la familia clsica (heterosexual,
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monogmica y con mandato reproductivo) y la Iglesia (en ciertas alas con tendencias vinculadas a la derecha), hoy esto ha cambiado. Sin embargo, la defensa de lo que los conservadores llaman Tradicin no es algo que se haya dejado de lado. Por el contrario, sigue siendo el referente fundamental de sus acciones en la vida cotidiana: en la educacin de los nios, en las escuelas, en las universidades, en las iglesias, pero ya no es ms el discurso que exponen al pblico. La Tradicin est ahora en el plano de lo cotidiano y lo que los conservadores han construido como discurso pblico es la idea de la defensa de la vida. Este tema resulta central en las sociedades del mundo contemporneo, pues la vida humana es considerada el elemento fundamental, merece respeto y es el principal valor y principal derecho. Desde este punto de vista la democracia implica el respeto a la vida de las personas, de sus Derechos Humanos y de sus Derechos Civiles, para poder construir una sociedad ms justa. Sin embargo, la vida no es entendida de la misma manera por todos: para algunos, se trata de una vida digna y que debe ser respetada tomando en cuenta la autonoma de cada una de las personas, su derecho a decidir sobre s mismas y su propio cuerpo; para otros, como para los grupos conservadores, la vida es una categora diferente, que debe ser protegida incluso sobrepasando los derechos individuales y la autonoma de las personas, dejando de lado, muchas veces, sus propios derechos. En la mirada Tradicional, el concepto de la vida implica la reproduccin de la familia monogmica heterosexual y el respeto irrestricto a los mandatos de la Iglesia Catlica. Esa vida entonces tiene un sentido particular y por ello es protegida, vigilada y resguardada por los conservadores. Ahora, el concepto vida amplio, complejo y en discusin constante en los ltimos aos. Desde la mirada de los conservadores ste es reinventado y no se refiere a la vida en trminos de la democracia de derechos y a la libertad de accin y decisin del sujeto sobre s, sino ms bien a una vida que es naturalizada por sus discursos y sacralizada de un modo tan radical, que la vida misma deja de pertenecerle al sujeto y debe ser regulada por otras instancias. Qu significa esto? La vida que los conservadores dicen defender no le pertenece al sujeto, sino que est puesta en su cuerpo por un designio divino, la vida le pertenece en realidad a Dios o a quienes dicen representarlo en el mundo (la Iglesia tendra la obligacin y la potestad de decir qu es lo que pueden o no hacer las personas con sus vidas y con sus cuerpos). Esa vida sacralizada, que no le pertenecera a los individuos, no permitira en el discurso de los conservadores que cada uno de nosotros decidiera por s mismo, sino que seran los verdaderos dueos de la vida los que deberan hacerlo. La vida es tan sagrada que no nos pertenece, sino solo a la divinidad que estara representada por la Iglesia en la tierra. Sin embargo, el concepto vida es todava muy abstracto para llegar a acciones claras y prcticas, y por eso la direccin est centralizada en el cuerpo que la encarTransformaciones polticas de los grupos conservadores en el Per Jaris Mujica

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na. La cuestin, as, es que la vida est encarnada en el cuerpo, pero es tan sagrada que no le pertenece al propio individuo y son los conservadores los que decidirn qu es lo que puede o no puede hacer uno con su propio cuerpo. Vida y cuerpo, son dos conceptos anudados en este discurso. Del mismo modo, la vida y la divinidad constituiran un plano indivisible. Dicen los conservadores que esto es natural. Entonces, aquel que no siga las reglas sobre la vida-cuerpo-sagrado, ser un anormal e ir contranatura. La vida entonces es tan sagrada que, por ejemplo, no se debe utilizar mtodos anticonceptivos (porque uno no puede decidir sobre s). Pero para llegar a estas ideas los conservadores han tenido que atravesar un proceso lento y complejo de cambios discursivos y de estrategias prcticas. La reinvencin de los grupos conservadores Debe quedar claro que los grupos conservadores no son estticos, sino que han modificado sus discursos y sus estrategias para adaptarse a los nuevos tiempos. Sin embargo, esto no quiere decir que sus objetivos centrales hayan cambiado, antes bien, la idea de construir una sociedad, donde las diferencias sean controladas y eliminadas, donde la Tradicin determine las acciones de las personas y la Iglesia sea un organismo que regule sus acciones, sigue siendo un tema presente. Los cambios que estos sujetos han tenido en sus formas se deben fundamentalmente a transformaciones en: a) El proceso poltico: La modificacin de las tareas y de las estructuras del Estado ha sido considerable en las dos ltimas dcadas. En el Per, el Estado oligrquico dej de tener la potestad del control de la sociedad y el mercado irrumpi con fuerza y abri su estructura. En ese sentido, los grupos que tenan el control de la poltica y de gran parte del conjunto social, se enfrentan a un agrietamiento de su posicin de prestigio totalizante y abren paso al mercado como un nuevo agente. Asimismo, la prdida del monopolio del poder del Estado en trminos estructurales, marcha a la par de la prdida del monopolio del control sobre el Estado. En ste se incluyen paulatinamente nuevos actores polticos que se integran con facilidad a las estructuras y que agrietan el poder de los grupos conservadores y las lites oligrquicas. Ya no es solo que el Estado como sistema perdi el monopolio del control, sino tambin que los conservadores perdieron el monopolio del control del Estado. b) Las estructuras de la economa: La irrupcin de la economa neoliberal y la apertura del mercado descentra los capitales. Los antiguos terratenientes, las lites aristocrticas y por consiguiente, los grupos conservadores que en ellas se desplazaban, pierden la centralidad del poder econmico y entran a competir con
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una gran cantidad de actores nacionales y extranjeros. Esta prdida relativa del monopolio de la economa obliga a estos sujetos a desplazar su estrategia, pues ya no tienen el dominio de las formas y medios de produccin y deben buscar otros mecanismos desde los cuales construir sus estrategias de control. c) La expansin territorial de la democracia: Si hasta el tercer cuarto del siglo XX los pases latinoamericanos han transitado por diferentes dictaduras, desde los aos 1980 y sobre todo en los ltimos aos hay un comn acuerdo (ms o menos extendido) en el que la democracia es un objetivo que hay que lograr para mantener una sociedad equilibrada y justa. En ese sentido, la idea del regreso de los gobiernos aristocrticos y oligrquicos parece ser una idea retrgrada. No hay una demanda popular de oligarqua, sino de participacin y justicia. En ese terreno, pretender una sociedad clsica, un antiguo rgimen, dominado por las lites sera un discurso contraproducente para los conservadores que intenta acoplarse a los nuevos tiempos. d) Los derechos humanos: En el contexto actual los Derechos Humanos han expandido su figura discursiva y se han ubicado en el centro de diferentes discursos polticos e intereses internacionales. La idea de no-discriminacin racial, tnica, por condicin econmica, social o religiosa es parte de un discurso comn que se expande con facilidad (aunque la expansin del discurso normativo no significa que haya una expansin de las prcticas de respeto y tolerancia). En este campo, en donde los Derechos Humanos son un punto de partida de las democracias y una demanda de los ciudadanos, construir discursos que tengan como frente la exclusin racial o econmica resultan poco eficientes para lograr la atraccin del pblico. As, los grupos conservadores han cambiado los antiguos discursos de clase sostenidos en la Tradicin, por el discurso de la vida y su defensa, que calzan (o buscan acomodar) a la idea de la defensa de los Derechos Humanos. En sntesis, lo que ha ocurrido en este proceso es que el descentramiento del Estado, la irrupcin del mercado, la expansin de la democracia y la irrupcin del discurso de los Derechos Humanos han producido cambios severos en las estrategias de accin y en las formas del discurso de los conservadores, que ahora se agrupan bajo la autodenominacin de pro-vida. Aquellos procesos han generado en nuestros pases la participacin de nuevos actores polticos (mujeres, migrantes, etctera) han quitado a los grupos de conservadores oligrquicos el control y el monopolio de la poltica y de la economa. Asimismo, se ha generado cierto inters de los medios de comunicacin en el tema de derechos, exclusin, democracia, justicia y que las formas clsicas de exclusin, como el racismo (a pesar de que sean prcticas que no se han eliminado de los imaginarios y de las relaciones sociales) ya no son legitimadas por lo discursos polticos. Finalmente, se produce una grieta en
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la correlacin entre las lites oligrquicas y el control del gobierno, es decir, entre el control de los grupos conservadores y el Estado. Esto hace que estos sujetos, que haban tenido el control del pas durante dcadas, se enfrenten a nuevos actores, nuevos procesos y un sistema diferente, ante el cual tienen que disear nuevas maneras de penetracin y control. Todo esto ha generado cambios entre los grupos conservadores que han tenido que acomodarse a esta nueva situacin y al agrietamiento del monopolio que tenan sobre el Estado y los medios de produccin econmicos, al menos en el Per. Asimismo, la idea de la democracia y de los derechos los obliga a transformar sus discursos y estrategias. Y eso es justamente lo que demarca lo nuevo de los grupos conservadores: a) La suspensin aparente del uso de la violencia: Ya no hay una persecucin directa del otro-diferente a travs de la violencia explcita e instrumental. Es decir, la figura de las persecuciones no es ms parte de la estrategia formal de estos sujetos (no se pretende al menos discursivamente asesinar a los diferentes o eliminarlos, sino controlarlos o excluirlos a travs de las leyes). Aunque esto no niega, el accionar de ciertos grupos o individuos, que ejercen la violencia, resultando en crmenes de odio, situaciones de discriminacin y exclusin radical. b) Hay una preocupacin por las leyes, por modificarlas, estructurarlas y ordenarlas a su favor; pues son las leyes las que supuestamente garantizaran las normas de conducta sociales y la normatividad formal, democrtica y legtimamente establecida, y por eso un inters particular en penetrar las organizaciones del Estado. Hay una entrada a lo pblico de manera explcita. c) El discurso que manejan est centrado en la idea de la defensa de la vida y se hacen llamar pro-vida pues esto permite, bajo la imagen de los Derechos Humanos, penetrar el sistema de discursos y penetrar las leyes, introduciendo de contrabando el discurso conservador de exclusin de lo diferente y de lo que llaman anormal.

Quines son los conservadores pro-vida Los grupos conservadores pro-vida en el Per han tenido un gran desarrollo en los ltimos aos, pero tienen una data ms larga. Muchos de estos grupos se relacionan en poderosas redes en las cuales se comparten los intereses y se utilizan los vnculos comunes. Desde hace unos pocos aos, los grupos conservadores peruanos han declarado pblicamente su re-unin y su capacidad de concertacin. En el ao 2005 durante el II Congreso Internacional Pro-Vida organizado por
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Ceprofarena, se hace patente la Declaracin de Lima. En esta se sealaba abiertamente la concertacin entre los grupos conservadores. Pero para entender esta red y esta capacidad de asociacin y concertacin hay que entender tambin las caractersticas de las agrupaciones ms importantes y sus esfuerzos particulares, objetivos, intereses, estrategias y temticas, as como sus funciones dentro de la red de conservadores peruanos y sus relaciones con organizaciones internacionales de conservadores. Ceprofarena, Pri y Alafa constituyen las principales organizaciones no gubernamentales de conservadores en el Per y tienen, todas ellas, vnculos con organizaciones internacionales, a nivel latinoamericano o con organizaciones estadounidenses. Mientras tanto, el Opus Dei y el Sodalicio son organizaciones religiosas que difunden discursos conservadores y que tienen mucha influencia en la burocracia eclesial o en el trabajo pastoral. El Centro de Promocin Familiar y de Regulacin de la Natalidad (Ceprofarena) fue fundado en 1981 y est directamente relacionada con Human Life internacional (HLI), una poderosa organizacin internacional de conservadores. Esta relacin le ha dado gran fuerza de accin y un gran respaldo. Ceprofarena cuenta entre sus principales miembros a reconocidos mdicos del pas y a poderosos agentes que han sido parte de organizaciones del Estado. El ex ministro de Salud Fernando Carbone ha sido, por ejemplo, director de Ceprofarena, organizacin que tiene un papel importante dentro diversas organizaciones mdicas y de salud, pblicas y privadas. Ceprofarena se encarga de trabajar en la difusin del mtodo de Ovulacin Billings. Los sostiene la idea de que la familia monogmica heterosexual es la que soporta las sociedades y que el mandato reproductivo debe ser respetado a toda costa. En ese sentido, quienes no se reproducen biolgicamente (las parejas homosexuales por ejemplo) o quienes no permiten la llegada del nio por nacer (a travs de mtodos anticonceptivas, aborto, etctera) seran parte de una campaa de destruccin de la sociedad. Sus principales actividades estn concentradas en la labor de oposicin al AOE y otros mtodos anticonceptivos. Para Ceprofarena todos estos mtodos deberan prohibirse pues atentan contra la vida, la concepcin, y por ello estn en contra de la familia y de la supervivencia de la sociedad. El AOE es para este grupo la forma radical de estos mtodos pues se tratara de una pldora abortiva. Ante esto construyen diferentes campaas de difusin en contra de los anticonceptivos, as como en contra del aborto, del matrimonio entre personas del mismo sexo, etctera. Ceprofarena est sumamente interesado en la construccin de un discurso cientfico conservador y cuenta entre sus filas con influyentes mdicos, algunos de los cuales tienen participacin activa en la poltica. Esto les da una posicin importante para la construccin de discursos aparentemente cientficos desde donde intentan sostener, por ejemplo, que el inicio de la vida se da desde la fecundacin del vulo por el espermatozoide. Esta definicin arbitraria resulta fundamental para
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sus fines, pues afirman a partir de esto que, dado que la pldora del da siguiente impide la fecundacin, entonces es abortiva (en contra de la evidencia cientfica). Por otro lado, esta organizacin tiene un trabajo sistemtico con jvenes y nios. Se encarga de generar espacios y mecanismos de difusin tanto de los mtodos naturales como de las ideas que estn detrs de estos, es decir: la finalidad reproductiva del sexo, la importancia de la castidad, la idea de que la vida empieza con la fecundacin. Estas ideas son trasladadas a espacios de jvenes y nios a travs de campaas como la Adopcin espiritual de un nio por nacer, a travs de la cual las nias y adolescentes de diferentes colegios adoptan simblicamente embriones que debern proteger, cuidar y vigilar hasta el virtual alumbramiento. A travs de campaas como esta se intenta interiorizar en las nias y adolescentes las ideas de los conservadores pro-vida, posiciones contra el aborto, contra los mtodos anticonceptivos, etctera. As, la funcin de Ceprofarena se concentra en tres ejes. Por un lado, se trata de un grupo que se encarga de proveer a las redes pro-vida de un discurso aparentemente cientfico que permitira sostener desde otro eje los mandatos religiosos que los soportan. Por otro lado, se trata de una agrupacin que ha construido una penetracin en diferentes organismos del Estado, ministerios y Congreso, pero tambin en espacios mdicos, lo que permite un entramado complejo de relaciones e influencias. Finalmente, Ceprofarena se ha encargado de la re-unin de los pro-vida, es decir, de la coordinacin del Congreso Internacional Pro-vida de Lima y la Declaracin de Lima. Es un grupo que funciona como un eje importante dentro de la red de conservadores y que ha permitido construir el espacio de concertacin. Otra organizacin importante es el Population Research Institute PRI, cuya Oficina para Latinoamrica fue fundada hace tres aos y tiene su sede en Lima. Con pocos aos de funcionamiento el PRI ha logrado posicionarse en el Per y tiene funciones que complementan la accin de su oficina central en los Estado Unidos. Esta organizacin, que fue fundada por el director de HLI tiene importantes redes en el Parlamento estadounidense y vnculos muy fuertes con grandes organizaciones pro-vida mundiales. Una de las labores principales del PRI en los Estados Unidos es la de evitar que la financiacin de las organizaciones internacionales se de en pro de los derechos sexuales y reproductivos, de promocin del uso de anticonceptivos, o lo que denominan campaas de control demogrfico. Tanto la sede central del PRI como su filial en el Per tienen una dedicacin directa a la labor de lobby en organizaciones del Estado, asesorar parlamentarios y proponer leyes que respalden o alienten la accin de los conservadores, evitar el Estado Laico, el uso de anticonceptivos, el matrimonio homosexual, etctera. El PRI tiene en el Per una estructura monocfala y su director es Carlos Polo, que se dedica sustancialmente a dos tareas. Por un lado a la labor de lobby en ofici344
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nas del Estado. El PRI se ha dedicado desde su fundacin a asesorar congresistas, orientar y alentar proyectos de ley en contra de los derechos sexuales y reproductivos y al lobby en oficinas del Estado. El objetivo es penetrar el gobierno para generar un campo de influencia de los conservadores en el terreno de la formalidad poltica. Por otro lado, se dedican a efectuar denuncias y crticas hacia organizaciones pro derechos en el Per. La labor de la Oficina para Amrica Latina del PRI, ubicada en Lima, est dirigida entre otras tareas a denunciar la labor de las organizaciones pro derechos, y mediante esta estrategia conseguir que las organizaciones internacionales no las financien. La construccin de una imagen negativa con la acumulacin de denuncias, hace que la labor de muchas de las organizaciones peruanas pro derechos se vea restringida y las financieras internacionales eviten dar fondos. La funcin del PRI dentro de la red de grupos conservadores pro-vida est dirigida a servir de articulador poltico de los grupos conservadores pro-vida, a travs de las redes de polticas que utiliza. Asimismo, el PRI requiere de las redes de los otros grupos conservadores para poder marchar, funcionando como eje de las acciones polticas formales de la red de conservadores pro-vida. A travs de los vnculos polticos, la labor de lobby, cabildeo y asesora de congresistas, el PRI logra establecer formalmente las demandas de los grupos conservadores. La Alianza Latinoamericana para la Familia (ALAFA), fue fundada en Venezuela por Cristina de Marcellus de Vollmer y se ha extendido a casi toda Latinoamrica. Los intereses de ALAFA estn centrados en la promocin de la familia clsica (monogmica, heterosexual y con mandato reproductivo), que intentan defender a toda costa. Para ello esta organizacin considera de vital importancia el asunto de la educacin, sobre todo de la educacin sexual y religiosa a partir de la cual, como dicen ellos, se moldea a los nios, a los jvenes y por ende a las futuras familias. Hay un inters en la sana sexualidad que previene de los desvos. La sede peruana de ALAFA es una oficina importante de la regin, es el centro articulador de la labor editorial de la organizacin para Amrica Latina. Su director se encarga de la coordinacin de la editorial y de la produccin de libros escolares que difunden en colegios privados y estatales, los cuales contienen ideas referidas a la negativa al uso de anticonceptivos, aborto, matrimonio homosexual, y un discurso sistemtico de control del cuerpo: abstinencia, el sexo como reproduccin, etctera. Entre las actividades principales de ALAFA est la labor de promocin de la familia clsica a travs de programas de educacin en escuelas, talleres, difusin de material educativo, conferencias, y participacin y organizacin de eventos pro-vida. Esta defensa de la familia clsica se evidencia tambin en el apoyo de ALAFA a iniciativas en contra de los derechos sexuales y reproductivos como las campaas a favor de la despenalizacin del aborto, aliento al matrimonio entre personas del mismo sexo, uso de anticonceptivos, pldora del da siguiente, etctera. Asimismo,
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se dedican a la produccin y difusin de libros escolares que contienen material educativo elaborado por los conservadores pro-vida. Estos materiales pertenecen a la coleccin Aprendiendo a Querer y se distribuyen en el Per y en varios pases de Latinoamrica e intentan penetrar las estructuras educativas. Asimismo, ALAFA funciona intentando introducir este material a la currcula de diversas escuelas y tienen como proyecto difundirse en toda la regin. La funcin de ALAFA dentro de la red de conservadores pro-vida en el Per, est definida por ser el engranaje en el espacio educativo. Su funcin central en este conjunto es la de dirigirse a uno de los terrenos importantes para los grupos conservadores (los nios y adolescentes), que son actores importantes en la medida en que logren ser encausados por las ideas pro-vida y al mismo tiempo, para que puedan nutrir a las agrupaciones en el futuro como miembros nuevos. Asimismo, cumplen la funcin de accin dentro del terreno de la educacin pblica y en la labor editorial. ALAFA utiliza los engranajes de las otras organizaciones de conservadores, pero dirigidas sustancialmente a la labor educacional, tanto en el espacio privado, (para lo cual se requiere financiacin), como en el sector pblico, (para lo cual se requiere de las redes de soporte y lobby de los otros grupos). Entre las organizaciones religiosas ms importantes est el Opus Dei, que funciona en el Per desde el ao 1953, pero ha adquirido gran poder desde que Juan Luis Cipriani fue nombrado Cardenal en 1999. El Opus Dei tiene una estructura jerrquica y determinada por cdigos explcitos que hacen que la organizacin funcione en gran medida como un grupo hermtico. La Obra es una Prelatura Personal, lo que le da independencia pues rinde cuentas directamente al Papa. Algunos indican que se trata de una Iglesia dentro de la Iglesia y que tiene un gran poder poltico y econmico. Sin embargo, el Opus Dei se ha desarrollado tambin en otros espacios fuera de la Iglesia. Parece ser que tienen una capacidad de ejercicio de presin muy fuerte dentro del Estado, tanto porque en el Per no hay un Estado Laico, como porque muchos poderosos polticos y miembros de las lites econmicas pertenecen al Opus Dei o tienen vnculos familiares o amicales con esta organizacin. El Opus Dei ha desarrollado tambin una intensa labor en el campo del desarrollo sostenible con varios proyectos dentro del Per, pero tambin tiene un trabajo muy importante en la formacin de nios y jvenes en sus colegios y universidades. Sus principales actividades implican el trabajo dentro de la burocracia de la Iglesia, es decir, en el campo de la poltica dentro de la Iglesia en un intento de poblar su burocracia y los puestos clave dentro de ella. Al mismo tiempo, hay una tarea de presin frente al Estado. Asimismo, se concentran en la construccin de espacios educativos Opus Dei. Desde hace varios aos construyen escuelas y universidades, no solo en trminos infraestructurales, sino sobre todo en llevar la educacin Opus Dei y sus ideas al terreno de la educacin de nios y jvenes. Por otro lado,
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hay un trabajo sistemtico de desarrollo y apoyo local, a travs de la elaboracin y aplicacin de proyectos de desarrollo. Muchos de ellos estn centralizados en asuntos agrarios, alfabetizacin, educacin, etctera. Esta tarea se relaciona tanto con la construccin de espacios productivos, como en una manera de difundir las ideas de la Obra mediante formas prcticas. Las principales funciones del Opus Dei dentro de la red de grupos conservadores pro-vida en el Per, se concentra en ser un articulador de los grupos de activistas pro-vida con las estructuras formales de la burocracia de la Iglesia Catlica. En un contexto en donde no hay un Estado Laico, esta organizacin permite disponer de estructuras de presin a la burocracia del Estado, canales que son utilizados por las estructuras de accin prctica de los activistas conservadores que ven en ese campo un terreno propicio para el lobby. Por otro lado, tienen una labor importante para evitar la laicidad del Estado, construyendo nudos fuertes entre la Iglesia y el campo funcional de la burocracia estatal. El Opus Dei funciona como un engranaje entre estos dos campos que no se separan y que gestan un trabajo de interpenetracin. Finalmente, el Sodalitium Christianae Vitae, fundado por Luis Fernando Figari es una organizacin de laicos con carcter diocesano muy importante dentro de los grupos conservadores en el Per. Esta organizacin ha logrado sobrepasar las fronteras nacionales y se ha expandido por diversos pases de Amrica Latina. Entre sus principales ideas destaca la proteccin de la familia tradicional y una posicin en contra de los derechos sexuales y reproductivos, asimismo, se puede reconocer con facilidad una cercana a las alas ms conservadoras de la Iglesia Catlica en el Per y en gran medida al Opus Dei. El Sodalicio a diferencia del Opus Dei, no est dispuesto como una estructura de jerarquas delimitadas y estticas, sino ms bien como un conjunto de segmentos que se van uniendo a la estructura central, pero que tienen cierta independencia de accin. El Sodalicio articula entonces una serie de redes de pequeos grupos y de temticas distintas, que van desde grupos de oracin, hasta grupos de msica, todos bajo el carisma Sodlite y que han logrado incluir una gran cantidad de miembros, junto al Movimiento de Vida Cristiana y otras organizaciones emparentadas. Las principales actividades del Sodalicio de la Vida Cristiana y el Movimiento de Vida Cristiana se concentran en su propia expansin por diferentes sectores a travs de la evangelizacin. Se trata de una accin dispuesta desde su fundacin que intenta construir espacios de penetracin en el espacio local, difundiendo las ideas y el carisma del sodalicio. Adems, trabajan en la difusin de la iglesia conservadora en el espacio cotidiano, no solo en los grupos que logra gestar dentro de las mltiples redes, sino tambin (y sobre todo) en la formacin de nuevos actores en las escuelas y universidades. El Sodalicio tiene a su cargo diversos espacios educativos y proyectos de formacin de profesores que permiten a la agrupacin difundir sus
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ideas desde ah. De esta manera, la labor del Sodalicio dentro de la red pro-vida es fundamental, pues permiten una amplia difusin de las ideas de los conservadores pro-vida en la vida cotidiana y a diferentes sujetos, estableciendo ncleos de penetracin de las ideas. Se trata del principal espacio de atraccin de nuevos miembros tanto para su propia estructura como para el conglomerado de grupos conservadores. Son los principales proveedores de redes de apoyo en la vida cotidiana y al mismo tiempo los principales formadores de nuevos sujetos que acrecentarn las filas de los grupos conservadores. Los mecanismos de accin poltica de los conservadores Los cambios de los grupos conservadores se han dado entonces no solo en los discursos sino tambin en sus estrategias prcticas y en las acciones efectivas en el espacio social. Inicialmente, sus labores se concentraban en la difusin de sus ideas en la vida cotidiana, como lo siguen haciendo diversos grupos, entre ellos el Sodalicio de la Vida cristiana. Esta labor de difusin estaba centrada en dos mbitos: el espacio de las iglesias, por ejemplo, a travs de las parroquias o a travs de los discursos religiosos dispuestos por los sujetos en la vida cotidiana, los sistemas de evangelizacin y lgicas pastorales. Por otro lado, los conservadores se han concentrado en el espacio educativo, intentando hacer que los discursos religiosos penetren estos espacios y trabajando directamente en colegios, universidades, espacios de formacin a los docentes, etctera. Sin embargo, en los ltimos tiempos se han incluido tambin nuevas estrategias, que no descartan las anteriores, sino que las complementan. Muchas de estas organizaciones estn preocupadas directamente por el espacio poltico, por las leyes y por lo tanto construyen mecanismos para influir en estas y en las polticas pblicas (el PRI es un ejemplo importante en ese mbito). Del mismo modo, si bien la labor educativa contina, esta es tambin parte de un inters mayor: ya no solo hay inters en impartir educacin religiosa en las escuelas, sino en construir sus propios materiales de educacin, de distribuirlos a gran escala y de hacer que estos formen parte de la currcula nacional (el ejemplo evidente es ALAFA). Y de la misma manera, ya no se trata solamente de un discurso religioso, sino que han utilizado la forma de los discursos cientficos para poder legitimar sus ideas, como lo hace Ceprofarena. Se trata entonces de una reconstruccin de las estrategias y de la adopcin de nuevas maneras de penetrar el sistema. Queda en evidencia que estamos frente a un momento importante de reconstruccin de los grupos conservadores. Hubo asimismo, una reagrupacin y reordenamiento para actuar concertadamente. Tan es as, que incluso lo han manifestado de modo formal a travs de la Declaracin de Lima, que es el compromiso, men348
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cionado antes, de accin conjunta y de lneas comunes de accin de los conservadores pro-vida. Hay entonces una red de grupos conservadores pro-vida que funciona en el Per con objetivos comunes y acuerdos ms o menos establecidos. Asimismo, estos grupos son la principal fuente de oposicin a la existencia de un Estado Laico, de la apertura de los derechos sexuales y reproductivos, los anticonceptivos, la despenalizacin del aborto, AOE, matrimonio homosexual, educacin sexual en colegios, etctera. Se trata de un conjunto de agrupaciones que adems trabajan en relacin a grandes organizaciones de conservadores en los Estados Unidos o en otras partes del continente. Es importante entender que el Per no es solamente un campo ms de sus intereses, sino un campo central para estos, un nodo de accin. Eso explica porqu es que en nuestro pas se han establecido filiales y oficinas de las ms importantes organizaciones de conservadores pro-vida del mundo. Esto tiene relacin con el poder de la Iglesia conservadora (encarnada en el Opus Dei) como con las posibilidades de accin y difusin que un Estado confesional ofrece. De este modo, tenemos un espacio de distribucin de funciones, de participacin activa en diferentes espacios polticos, econmicos y sociales y un inters especfico en la penetracin de los espacios pblicos y la poltica formal, desde donde pretenden establecer sus nuevos sistemas de control. Estas agrupaciones buscan descalificar de manera tajante el trabajo de los grupos pro derechos, acusndolos de atentar contra la vida. Sin embargo, lo que hacen es manipular el concepto de la vida para ejercer sistemas de control sobre las personas y restringir su autonoma. En ese sentido, la vida a la que se refieren es una vida controlada, regulada, y vigilada no solo por las instituciones de la vida cotidiana (la familia, la Iglesia), sino por la poltica y la ley. Los grupos conservadores utilizan con eficiencia las redes dentro de la poltica institucional y dentro de la formalidad del Estado. A travs de estos campos y a partir del uso de ciertos instrumentos (lobby) logran influir de manera directa en la construccin de polticas pblicas. No se trata de agrupaciones sin un orden de trabajo y con desconocimiento de las estructuras de accin, sino todo lo contrario. Comprender el funcionamiento de estas organizaciones es fundamental si se pretende construir una agenda de accin en pro de los derechos sexuales y reproductivos, pues estos son la principal fuente de oposicin y la barrera ms fuerte. De ah que no se debe subestimar su accionar o sus organizaciones, pero tampoco pensar que se trata de espacios homogneos ni sobredimensionar sus posibilidades de accin. Hay que estudiar las tensiones, los problemas y los debates que se gestan entre ellos de la misma manera que la capacidad que tienen para tomar acuerdos. Se trata de reconocer las estrategias y tensiones, se trata, finalmente, de tener un panorama ms preciso de los debates en el proceso de construccin de los derechos de las personas.
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Vises religiosas alternativas sobre sexualidade


Elias Mayer Vergara1

Ao postularmos discutir o tema das vises religiosas alternativas sobre sexualidade, pode parecer que partimos da premissa de que h uma prtica oficial religiosa da sexualidade, predominante e socialmente aceita, e tudo quanto no se enquadra nesta religiosidade oficial se torna prtica alternativa, de oposio, paralela. No se pretende trabalhar aqui com a categoria alternativa em oposio categoria oficial. Portanto, o alternativo no ser considerado como anttese ao oficial que, em um movimento dialtico, sempre resulta em uma nova sntese, ou seja, o alternativo somente o em funo das circunstncias histricas, mas deixa de s-lo quando os dados da realidade so alterados, transformando-se, em um outro momento, no oficial. No bonito universo das cores, o branco a anttese do preto, mas no sua alternativa. A alternativa a qualquer cor so milhares de possibilidades de outras cores que, quanto mais se misturam, maior ser o nmero de matizes criados. Nenhuma cor pode substituir a outra. Cada cor nica. Assim se pretende trabalhar a ideia de alternativa: uma experincia que no se coloca em simples oposio quilo que a prtica oficial; antes constitui uma novidade, uma descoberta, um novo caminho. Neste sentido o alternativo necessita sempre de sua autonomia, de sua independncia e de sua energia prpria. Se o alternativo se torna oficial, perde a sua autonomia, pois sofre um processo de enquadramento e passa a necessitar da fora de outrem para se sustentar. Ento, a religiosidade alternativa no aquela que simplesmente se ope religiosidade oficial. A religiosidade alternativa aquela que prope um experincia nova, indita, insubstituvel, que no precisa da fora de outrem para legitimar-se. Para iniciarmos esta apreciao das vises religiosas alternativas acerca da sexualidade, vamos visitar um mito muito antigo que tanto alimentou a oficialidade dogmtica judaica como tambm a oficialidade dogmtica crist. Trata-se do mito do Jardim do den, que delimito entre Gnesis 2. 42 4.1.
Programa de educao sexual e sade reprodutiva do Conselho Latino-americano de Igrejas CLAI; Sacerdote da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. E-mail: [email protected]
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1. Mito do Jardim: obedincia X transgresso A narrativa mitolgica contada a partir do seu final nos diz:
Ado e Eva, fora do Jardim, fizeram sexo e desta relao de amor nasceu o seu primeiro filho. Este primeiro orgasmo da vida humana mitolgica s foi possvel porque Ado e Eva transgrediram a ordem de Jav e foram expulsos do Jardim. O decreto de expulso de Jav ocorreu porque Eva e Ado tiveram, dentro do Jardim, desejo sexual um pelo outro. Este desejo nasceu em razo de terem comido do fruto da rvore do bem e do mal, que lhes era proibido e lhes foi ofertado por um Deus concorrente, em forma flica de Serpente, o qual despertou neles o desejo da sexualidade. Antes do desejo, a vida de Ado e Eva era sem graa, eles no tinham identidade, ficavam nus um diante do outro e nada sentiam. Esta castrao era promovida pela lgica da ordem e da obedincia cega imposta por Jav dentro do Jardim. Ficar no Jardim significaria morrer. A vida em plenitude estava fora dele.

possvel perceber nesta narrativa que h uma grande alternativa religiosa que mora fora do Jardim e no dentro dele. Esta alternativa proposta pelo Deus Serpente, alimentada pelo sentimento do desejo, fez romper no s com a ordem imposta pela tirania do Deus Jav, mas tambm lhes permitiu desfrutar da sexualidade e, mais ainda, lhes abriu o portal para um novo mundo, muito mais amplo do que a morada restrita e restritiva do Jardim. Este mito foi densamente manipulado tanto pela tradio judaica como pela tradio crist, no sentido de transformar a atitude positiva de transgresso de Eva e Ado em uma atitude negativa de pecado. Assim, com a ideia de pecado e queda da humanidade, este mito foi utilizado pelas instituies religiosas para legitimarem a sua existncia atravs do ato mgico pelo qual as Igrejas perdoam os pecados e salvam as pessoas de sua originria condio de perdidos. Sem o pecado e a queda humana no haveria necessidade da religio. Ver que o pice da narrativa do mito do Jardim a conquista da sexualidade e do direito reprodutivo abre um caminho de compreenso de que, j nos antigos mitos bblicos, temos a proposio de prticas religiosas alternativas que veem a sexualidade como positiva e central na vida humana. A serpente, que no mundo cristo e judaico foi to demonizada, aqui no mito do Jardim quem de fato tem a postura tica em relao verdade e vida. O Deus Serpente diz que, ao comerem do fruto da rvore do bem e do mal, os seres humanos no vo morrer e, de fato, no morreram. Foi o Deus Jav quem mentiu, quem faltou com a tica. Sem a interveno desta religiosidade alternativa, Ado e Eva nunca teriam existido como indivduos e nunca teriam saboreado as delcias da sexualidade humana. Seus filhos no teriam nascido e o novo mundo no teria sido conhecido.
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impossvel perceber a atitude de Ado e Eva como positivas se entrarmos na lgica da tradio dogmtica que sempre viu na serpente (o demnio) uma oposio a Jav. Vendo a Serpente como um Deus concorrente tudo muda. O projeto de Jav controlar e restringir todas as possibilidades humanas ao pequeno mundo do Jardim. Para o Deus Serpente, a liberdade o seu dogma; e o exerccio pleno da sexualidade, no mundo fora do Jardim, o seu grande objetivo. O mito do Jardim nos mostra que, quanto mais hegemnica e totalitria for a postura de qualquer instituio, sempre haver possibilidades de romper com esta lgica. Viver sob a lgica do Jardim ou romper com esta lgica: eis a o grande desafio humano. 2. Eva e Maria: barrigas transgressoras Busco novamente na Bblia dois exemplos que ajudam a entender a dinmica da transgresso como construo do alternativo. Eva e Maria possuem histrias muito semelhantes. Ambas esto inseridas na literatura mitolgica. O nascimento de Jesus e o nascimento de Caim so narrativas que ocorrem em um cenrio onde o cu e a terra se encontram, os seres divinos falam com os seres humanos e coisas absurdas acontecem. Assim so os mitos. Eva v alm do Jardim. Maria v alm da Galileia. Esta viso que o senso comum no consegue ter s possvel quando se escuta a voz de um Deus concorrente. A narrativa mitolgica de Eva e Maria so muito semelhantes s narrativas mitolgicas dos grandes heris. Todos eles passam por uma jornada de vida que segue um roteiro semelhante: 1. A inocncia. 2. O chamado aventura. 3. A iniciao. 4. Os aliados. 5. O rompimento. 6. A celebrao. Eva e Maria viviam em um mundo aptico, completamente conformadas com as leis de sua comunidade e com as foras religiosas que definiam como as pessoas deveriam se comportar. A Serpente que visita Eva e o anjo que visita Maria lhe trazem uma proposta de grande aventura: o exerccio da sexualidade fora dos padres estabelecidos. As divindades que lhes visitam despertam a energia adormecida do desejo, do gozo e do prazer. Iniciam, ento, a sua jornada em busca de aliados. Eva tem a serpente e a rvore. Maria tem o anjo e sua parenta Isabel. Ado e Jos so arrastados pela fora pulsante do desejo de suas mulheres a se tornarem tambm aliados. Eva comeu do fruto proibido, Maria ficou grvida antes do casamento. Essas atitudes transgressoras so alimentadas por divindades concorrentes divindade da religio oficial e, por esta razo, Eva e Maria so banidas de sua comunidade. Eva expulsa do Jardim, Maria vai refugiar-se na casa de sua parenta Isabel. Assim, Eva e Maria carregam no ventre o fruto proibido, concebido pela energia da transgresso. A humanidade, mitologicamente falan352
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do, est para nascer do ventre de Eva, um novo Deus est para nascer do ventre de Maria. Eva e Maria experimentaram uma viso religiosa alternativa que lhes permitiu tambm inaugurar uma relao sexual fora das normas e padres de seu tempo mitolgico. Na Bblia podemos encontrar muitos outros mitos que podem ser lidos na perspectiva da jornada do heri. Porm, o heri mtico est contido dentro de cada um de ns. Se ouvirmos e aceitarmos o chamado que vem a ns em vrios momentos de nossa vida e se percorrermos a jornada at o seu final, cresceremos, ficaremos cada vez mais parecidos com o criador, libertando outros Deuses que possam atuar na significao de nossas vidas. 3. Ecumenismo: a casa comum onde o incomum pode habitar No possvel falar em vises alternativas religiosas sobre sexualidade sem falar nos mais diferentes movimentos ecumnicos existentes em nosso continente latinoamericano e no mundo. A palavra ecumenismo tem sua origem no vocbulo grego oikoumene. Este, por sua vez, derivado da palavra oikos, que significa casa, lugar onde se vive, espao onde se desenvolve a vida domstica, onde as pessoas tm um mnimo de bemestar. No Novo Testamento, esta palavra usada em vrias ocasies para se referir ao mundo inteiro, toda a terra e tambm ao mundo vindouro (ver Mateus 24.14; Lucas 2.1; 4.5; 21.26; Atos 11.28; Romanos 10.18; Hebreus 1.6; 2.5; e Apocalipse 12.9). Quando se fala hoje que algo ecumnico, atribui-se um significado que quer abranger a toda espcie humana, um sentido universal. Esta universalidade engloba pelo menos as seguintes dimenses: geogrfica (se estende a todos os lugares e recantos da terra), cultural (envolve os povos de diversas culturas ou modos de viver), poltica (considera todos os povos, independentemente do sistema poltico em que vivam), gnero (supera as discriminaes de gnero ou identidade sexual), social (supera as discriminaes sociais e de classe) e racial (supera as discriminaes raciais ou as decorrentes da cor da pele). O Conselho Mundial de Igrejas (CMI), o mais antigo movimento ecumnico internacional, fundado em 1948, em Amsterd, Holanda, congrega 340 Igrejas e denominaes que representam mais de 500 milhes de fiis presentes em mais de 120 pases. Outra instituio ecumnica relevante o Conselho Latino-americano de Igrejas CLAI, fundado em 1982, que congrega mais de 150 entidades e Igrejas protestantes e pentecostais presentes em 21 pases da Amrica Latina e do Caribe. No Brasil, existe uma grande articulao ecumnica chamada Frum Ecumnico
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Brasil (FE Brasil), composta de 12 instituies ecumnicas participantes Cebi, Ceca, Cediter, Cese, Cesep, Clai Brasil, Conic, Creas, Diaconia, Gtme, Koinonia e Unipop. exatamente neste intenso movimento de unidade das mais diferentes tradies religiosas que a temtica de gnero, direitos sexuais e direitos reprodutivos surge de forma libertria e alternativa, diferente daquilo que cada denominao em particular consegue realizar no interior de suas instituies, nas quais a sexualidade ainda um tabu. A instituio Igreja funciona como controladora e repressora de tudo quanto est ligado ao corpo. O ecumenismo, que prope a unidade na diversidade, abre o espao para o dilogo com as mais diferentes posturas religiosas, bem como dialoga tambm com as grandes questes humanas, ausentes na maioria dos discursos teolgicos particulares das instituies. Foi exatamente o movimento ecumnico que trouxe para o interior das Igrejas as primeiras discusses sobre a AIDS. A partir da, elas foram obrigadas a colocar em pauta o tema da sexualidade, mesmo que inicialmente pelo vis da sade. Diversos programas foram inaugurados no meio ecumnico para enfrentar o desafio que a AIDS promoveu no mundo inteiro. Abriu-se, ento, o ba da sexualidade dos fiis crentes catlicos e evanglicos por tanto tempo enclausurado. Centenas de grupos no mundo afora comearam a discutir o tema da sexualidade. Inicialmente, apenas como um remdio preventivo contra a AIDS, mas pouco a pouco entraram em pauta os temas ligados a controle de natalidade, uso de preservativos e direito ao desfrute da sexualidade motivado pelo desejo e pelo prazer. A homoafetividade tambm ganhou espao de ampla discusso no mundo ecumnico. Nos mais diferentes programas de educao sexual, o livro sagrado abriu-se com muito maior frequncia no texto do Cntico dos Cnticos, no qual homem e mulher tematizam a sexualidade no apenas reprodutiva, mas tambm aquela em que se desfruta do prazer e do gozo humano. O mundo ecumnico passou ento a ser o espao Fora do Jardim onde fiis das mais diferentes tradies crists e no crists podiam, com muito maior liberdade, buscar outros conhecimentos vindos do campo da psicologia, psicanlise, medicina, sociologia, antropologia e da pedagogia. Desse modo, alcanavam ferramentas para o controle da natalidade, para a preveno de doenas sexualmente transmissveis, para o exerccio da sexualidade como fonte de prazer, enfim, para o encontro com a autonomia sexual humana. No mundo ainda muito novo do ecumenismo (apenas 60 anos), est se formatando uma nova conduta religiosa a respeito da sexualidade humana. Aqui se pode constatar aquilo que Juan Marco Vaggione afirma, nas concluses de sua palestra intitulada: Risco despolitizar o pluralismo religioso, que as religies vo se reconstruindo a partir dos seus fiis de maneira criativa e libertadora. Mesmo que as hierarquias insistam com posturas rgidas e dogmticas, os fiis vo moldando novas e
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complexas formas do ser religioso, muitas das quais so compatveis, ou geradas pelo feminismo e a diversidade sexual (2009, p. 31). Estes 60 anos de ecumenismo ajudaram a colocar na pauta de discusso das Igrejas no apenas os direitos sexuais e reprodutivos, como tambm as relaes de poder que, por sculos, foram determinadas pelo patriarcalismo clerical e leigo. Muitas Igrejas do campo evanglico, desde as tradies histricas vindas da reforma do sculo XVI at os mais recentes movimentos neopentecostais, foram abrindo espaos para a mulher assumir tambm o sacerdcio e o comando poltico das Igrejas, tanto no nvel local e regional como no internacional. Nestes 60 anos, comeamos a ter, na intermediao do sagrado, vozes femininas que assumiram os plpitos e comearam tambm a presidir a Santa Ceia do Senhor. As comunidades que agora so dirigidas por mulheres pastoras, reverendas e bispas esto experimentando uma nova era religiosa, em que o sagrado nos trazido por mos de mulheres, que namoram, desfrutam do prazer e do gozo de sua sexualidade, ficam grvidas, do luz e seus filhos so o resultado dessa religiosidade que cuidadosamente uniu o sagrado com o sexual. Ao ingressarem nos altares dos mais diferentes templos, as mulheres carregam consigo, para o lugar sagrado, a sua sexualidade antes profanada e pecaminalizada. O sagrado do mundo cristo, agora em mos femininas, ficou mais sedutor, mais atraente, mais sexy. O sagrado agora pode ficar grvido de verdade. Assim, se o sagrado tambm tem sexualidade, faz amor, goza, ento o gozo e o prazer sexual de qualquer ser humano podem ser sagrados, podem ser divinos. Outra grande alternativa religiosa que tem sido forjada pelo movimento ecumnico a conquista da populao LGBTQ em garantir de igual forma espaos de respeito e de acolhimento no interior das mais diferentes expresses religiosas. Nas academias teolgicas, nos grandes debates ecumnicos, o tema da homoafetividade est cada vez mais encontrando interlocutores que buscam, no plano terico e prtico, combater toda e qualquer forma de homofobia. Assim como as mulheres alcanaram os direitos poltico-religiosos dentro das mais diferentes tradies, os LGBTQ tambm comeam a se apropriar dos lugares sagrados de suas religies. Sabemos que, em todas as religies ao longo da histria da humanidade, os LGBTQ sempre estiveram presentes tanto em meio aos clrigos como em meio aos leigos. Porm, a novidade trazida pelo mundo ecumnico que esta presena passa a ser assumida abertamente e assim comea a ganhar respeito e reconhecimento. Temos hoje pastores(as), reverendos(as) e bispos(as) no campo religioso cristo que se assumem e que so assumidos por suas Igrejas como homossexuais. Se a dinmica da emancipao das mulheres levou as Igrejas compreenso de que possvel nos pautarmos por um Deus feminino, assim tambm se v que, no caminho da autonomia da populao LGBTQ, podese tambm pautar por um Deus Gay. Assim, uma nova prtica religiosa vai sendo construda: so as comunidades inclusivas, onde todos os segmentos da sociedade podem se encontrar e ser aceitos e aceitas de forma completa e plena.
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4. Comunidades alternativas: inclusividade x exclusividade Retomo aqui a discusso proposta na abertura deste pequeno ensaio: entendo que o alternativo no necessariamente o oposto ou a anttese do oficial. Em muitas circunstncias, o alternativo apenas uma outra possibilidade. possvel se ver em algumas experincias religiosas o alternativo em construo: As Igrejas crists gays: Como muito bem demonstrou Juan Marco Vaggione em seu texto Sexualidade, Religio e Poltica na Amrica Latina (2009), cresce na Amrica Latina o nmero de Igrejas exclusivas para a populao LGBTQ. Esta uma tentativa extremamente vlida, porque resultante da profunda experincia de excluso religiosa vivida pelas pessoas homoafetivas. Porm, a nosso ver, no alcana a energia de ser uma experincia completamente alternativa, pois tambm se torna excludente ao priorizar a populao homoafetiva. Uma comunidade exclusiva de LGBTQ tem grandes dificuldades no processo maior de incluso humana, pois no tem a riqueza dos diferentes grupos humanos, no contempla o desafio mais amplo do ecumenismo: unidade na diversidade. Como podemos lutar contra a homofobia se no damos oportunidades aos homofbicos de fazerem acontecer verdadeiros encontros humanos com quem homoafetivo? Como se pode acabar com os preconceitos ligados sexualidade privilegiando o gueto, impossibilitando os preconceituosos de se enfrentarem com os sujeitos reais e humanos vitimados por eles? No terreiro de Umbanda: Na experincia brasileira das religies de matriz africana, percebe-se uma formulao de vida comunitria bastante inclusiva no que tange sexualidade. muito comum encontrar sacerdotes e sacerdotisas com orientao sexual homoafetiva. Nenhum fiel deste culto excludo em razo da sua orientao sexual. Nesta religio, ocorre um fantstico culto de festa da Pomba Gira ou Exu-fmea, no qual ocorre o transe profundo da maioria dos fiis, libertando sua alma feminina. A sexualidade visita o templo em forma de terreiro. Os fiis consultam as entidades para encontrar solues para a sua vida afetiva e sexual. A abundncia de perfume feminino no ambiente, as bebidas alcolicas e os enfeites femininos criam uma predisposio para o amor. Os fiis ento fazem consultas buscando conselhos para a vida afetiva e sexual. As religies de matriz africana possuem representaes divinas para a sexualidade. Exu e a Pomba Gira representam esta energia do feminino e do masculino e ajudam os seres humanos a vivenciar a sua sexualidade. Comunidades Naturistas: Outra experincia ainda pouco conhecida a das comunidades naturistas, que comeam a alcanar mais e mais aceitao da sociedade de uma forma geral. Homens, mulheres, crianas, jovens, adultos e idosos, famlias inteiras esto aderindo ao naturismo, no qual a nudez a regra. J existem comunidades naturistas evanglicas que aderiram ao naturismo, nelas os participantes celebram a sua f evanglica nus, como vieram ao mundo. Os hinos re356
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ligiosos, as leituras bblicas, os sermes e a eucaristia, tudo isso acontece em meio aos corpos nus dos fiis e do sacerdote. Lideranas religiosas esto aderindo a esta prtica e ali se integram completamente com pessoas de tradies religiosas muito diferentes. A partir da necessidade de uma integrao de seus corpos e sexos com a natureza e com o outro, abrem-se para uma experincia densamente plural e alternativa de religiosidade. A parada do orgulho gay: No Brasil, bem como em outras partes da Amrica Latina, o movimento do orgulho gay tem crescido de forma grandiosa. Em So Paulo, a Parada Gay hoje o maior acontecimento de massa do Brasil, reunindo cerca de 3 milhes de pessoas. Com todas as suas contradies, entendo que a Parada Gay, assim como o carnaval brasileiro, so experincias humanas de profunda religiosidade e misticismo. Por acaso a religio no uma tentativa de representao de nossos sentidos existenciais? Os Deuses so as projees de nossos mais profundos desejos. Ento a parada gay sim uma grande festa religiosa na qual se celebra o amor fora dos padres da sociedade patriarcal e homofbica. Cada qual com seu Deus particular, cada qual com sua fantasia, vivendo intensamente aquilo que no cotidiano no se permite viver. O culto ao amor multicolor vai passando nas avenidas da cidade e vai ganhando risos, aplausos. Homens e mulheres que apenas desejavam assistir aos que passam na procisso do amor gozam tanto quanto aqueles que j entraram para este grande culto do amor multicolor. No final, a multido to grande que no mais possvel se fazer distino entre quem homo e quem heterossexual, pois o amor se instaurou no ar, fez vencer os preconceitos, retirou as mscaras da hipocrisia e tornou a todos os seres humanos dignos do amor dos mais diferentes Deuses que conseguimos representar. Onde poderemos encontrar comunidades inclusivas? Com certeza todos conhecemos outras tantas experincias em que se pode verificar que a sexualidade e a religio no se opem e nem se antagonizam. Para quem cristo, basta ficar atento ao projeto de Jesus, que para todas as pessoas, principalmente para aquelas que vivem na marginalidade e na excluso. Prostitutas, messolteiras, leprosos (impuros), pobres, ladres, presos, doentes, crianas, mulheres, homens, lsbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgneros e todos os segmentos sociais so convidados a participar do projeto do Reino do amor de Deus. Assim encerro esta pequena reflexo reafirmando que as vises alternativas sobre sexualidade no esto postas no simples dualismo entre o branco e o preto, entre o oficial e o seu oponente. Somos uma humanidade de muitas cores, de muitos rostos, de muitas culturas. No mais possvel pensar e viver uma religio no singular. As verdades absolutas esto desmoronando. Em seu lugar comea a se construir um mundo multicolor, multicultural e multirreligioso, em que a sexualidade igualmente exerce o direito de ser tambm plural. E, neste arco-ris, no h limite de cores.
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Para pensar as relaes entre religies, sexualidade e polticas pblicas: proposies e experincias
Fernando Seffner1 1. O exerccio de dilogo proposto Este texto a segunda verso, inclusive com o ttulo modificado, do original sobre o mesmo tema preparado para servir de suporte s discusses em uma das sesses do seminrio Dilogo Latino-americano sobre Sexualidade e Geopoltica2. Cabe uma breve reflexo sobre minha compreenso da proposta de trabalho do seminrio, da qual resultou a primeira verso do texto, e agora esta segunda. Quanto ao contedo dos Dilogos, a leitura do programa, dos materiais disponibilizados na web pelo Observatrio de Sexualidade e Poltica (SPW)3 e do relatrio do dilogo j realizado (Asian Dialogue on Sexuality and Geopolitics4), mostra que o objetivo explorar as dimenses polticas da sexualidade, em vrias direes. Outra diretriz ainda relativa ao contedo que isto seja feito a partir de front lines, selecionados quatro grandes campos: conexes da sexualidade com estado, cincia, religio e economia. Entendo que os textos apontam para uma estratgia de reflexo acadmica a partir de questes polticas concretas, enfrentadas em especial pelo movimento feminista e pelo movimento LGBT5, neste texto compreendido como movimentos pela diversidade sexual. A diretriz de mtodo dos dilogos que, para cada tema, a discusso se desenvolva a partir de um overview paper. Neste sentido, a primeira
Professor na Faculdade de Educao da UFRGS / Porto Alegre / Brasil. Para contatos: [email protected] Currculo disponvel em <http://lattes.cnpq.br/2541553433398672>.
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Dilogo Latino-americano sobre Sexualidade e Geopoltica, realizado entre os dias 24 e 26 de agosto de 2009, no Rio de Janeiro. O texto original, intitulado Direitos sexuais e laicidade: novos desafios polticos, encontra-se disponvel no CDROM dos Anais do evento, e foi preparado para discusso na Sesso 4: religio e poltica sexual. Maiores informaes em http://www.sxpolitics.org/, stio do Observatrio de Sexualidade e Poltica (Sexuality Policy Watch SPW). A presente verso do texto encontra-se enriquecida pelas discusses realizadas durante o evento, e agradeo aos demais participantes pelas valiosas contribuies, que espero ter conseguido adequadamente inserir.
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http://www.sxpolitics.org/ (ltimo acesso em 3 de setembro de 2009). Disponvel em <http://www.sxpolitics.org/> (ltimo acesso em 3 de setembro de 2009).

Conforme amplo noticirio a respeito, a 1 Conferncia Nacional de Gays, Lsbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, realizada em Braslia em 2008, decidiu padronizar a nomenclatura usada pelos movimentos sociais e pelo governo, junto com o padro usado no resto do mundo. Assim, em lugar de GLBT, a sigla passa a ser LGBT: Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

verso do texto se apresentou como contribuio crtica ao texto principal da sesso, de Juan Marco Vaggione6. Nesta segunda verso, optei por apresentar um conjunto de ideias, sem necessidade de referncia ao texto principal da sesso. A partir destas orientaes, meu texto se desenvolve em dois grandes tpicos. No primeiro deles, se apresentam trs proposies gerais, para discutir, a partir delas, as possibilidades de relao entre sexualidade, pertencimento religioso e polticas pblicas. Pode-se pensar tambm como proposies que articulam f organizada, igrejas, laicidade, espao pblico, polticas pblicas e sexualidade. A preocupao perceber quais as conexes mais adequadas entre o campo das proposies relativas a gnero e sexualidade e o campo dos pertencimentos religio-sos, no sentido da construo e manuteno de espaos pblicos, inclusivos e democrticos. pensando nas possibilidades de ampliao dos espaos pblicos que vamos julgar a produtividade, a pertinncia ou a convenincia de determinadas conexes entre religies e sexualidade. O que est aqui denominado como ampliao do espao pblico tem inspirao em especial nas observaes de Boaventura de Sousa Santos acerca da ideia de densidade democrtica e dos direitos humanos construdos a partir de uma agenda dos interesses dos pases do Sul global7. Estas proposies aparecem mais como indicaes de por onde acho que pode caminhar, de forma produtiva, este debate. No segundo tpico, analiso e discuto dois exemplos brasileiros de conexes entre religies, sexualidade e polticas pblicas. Respondendo a algumas questes levantadas pelas proposies, exemplifico com situaes e iniciativas brasileiras. Isto no significa que este segundo tpico seja algo meramente ilustrativo, do tipo para cada proposio apresentada inicialmente, mostra-se aqui um exemplo brasileiro. As situaes que apresento servem para tensionar as afirmaes das proposies, tanto em direo a uma concordncia e ampliao do que foi proposto, como tambm em direo a uma fratura do raciocnio original e eventual discordncia ou limitao da proposio. 2. Primeira proposio: o pertencimento religioso no algo que possa ser relegado esfera privada No sentido de tornar mais complexas as relaes entre religio e sexualidade, e contribuindo para lhes dar uma adequada arena de discusso, assumimos que
Sexualidad, Religin y Poltica en Amrica Latina, de Juan Marco Vaggione (Universidad Nacional de Crdoba/ CONICET) Texto disponvel tambm nos anais do evento.
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Conforme abordado nas obras: a) Epistemologias do sul. Santos, Boaventura de Sousa e Meneses, Maria Paula (Orgs.) Coimbra: Edies Almedina, 2009; b) Conhecimento prudente para uma vida decente: Um discurso sobre as cincias revisitado. Santos, Boaventura de Sousa, So Paulo: Editora Cortez, 2006; c) Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Santos, Boaventura de Sousa (org.), Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002.
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Para pensar as relaes entre religies, sexualidade e polticas pblicas Fernando Seffner

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os pertencimentos religiosos dos indivduos so questes da esfera pblica, e no do domnio privado simplesmente. Em outras palavras, retiramos o tema religio do local onde o ditado popular sempre lhe coloca: religio no se discute, uma escolha pessoal. Religio se discute sim, por ser um pertencimento poltico, com consequncias polticas na vida em sociedade. O pertencimento religioso (a adeso a certo conjunto de orientaes de uma religio, ou a construo individual de um conjunto de crenas de natureza religiosa) produz efeitos na vida em sociedade, como qualquer outro pertencimento de natureza social, a saber: pertencer a uma determinada classe social; ser integrante de determinado grupo de raa e etnia; ser integrante de uma determinada faixa geracional; ser habitante de um determinado pas; ser de um gnero ou de outro; ter esta ou aquela preferncia sexual; ser torcedor de determinado time de futebol; ser membro de algum partido poltico, etc. Um indivduo posicionado socialmente tendo em vista grande nmero de atributos, e a religio um deles, podendo ter um peso maior ou menor, dependendo da sociedade, do perodo histrico, e da combinao com outros fatores. Ou seja, nenhum de ns atua em sociedade simplesmente a partir de ser um indivduo. Existem enormes diferenas para a vida em sociedade, e diferentes consequncias polticas, se estivermos falando de um indivduo homem, branco, na faixa dos 40 anos, de classe econmica abastada, casado, heterossexual, catlico; ou se estivermos falando de um indivduo mulher, negra, na faixa dos 60 anos, de classe econmica pobre, viva, heterossexual, de religio de matriz africana. Muitas outras combinaes so possveis, e o pertencimento religioso tensiona de modos diversos em especial marcadores como gnero, orientao sexual, gerao, cor da pele, s para citar alguns. H uma inevitabilidade da religio como poltica, que se d pelo fato de que muitas pessoas vo entrar na arena poltica, ingressar no espao pblico, com sua identidade religiosa como elemento importante. Tentar barrar isto, alegando que religio algo do mbito domstico, no produz resultados adequados nem contribui para o alargamento do campo democrtico. Acerca dessa tentao de posicionar a religio como algo essencialmente da esfera privada, como um assunto que o indivduo no deveria discutir com outros, e nem deveria expressar publicamente, confesso que eu mesmo j estive como defensor dessa posio. Por muitos anos, defendi que a religio estava no domnio do privado, quase como uma questo de natureza inteiramente psquica, algo do tipo a necessidade que temos de um deus um problema de cada um. No penso mais assim, mas tambm no acho que o fato de ter pensado assim antes estivesse errado ou tenha sido um equvoco. Atravessamos um longo perodo histrico entre meados do sculo XIX e meados do sculo XX na Amrica Latina em que parte importante dos esforos no sentido de construir espaos pblicos democrticos e inclusivos praticamente exigiu a estratgia de colocar a religio no mbito do privado. Com isso, buscou-se a legitimidade poltica dos governantes na populao, pela via
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das eleies, das consultas, da organizao de cmaras, parlamentos, partidos polticos, instituies da sociedade civil, etc. No custa lembrar que o empreendimento colonizador levado a cabo pelos pases ibricos, Portugal e Espanha, na Amrica Latina, tornou a adeso f catlica um elemento de civilizao, no sendo possvel imaginar, por alguns sculos, que um indivduo pudesse ser habitante do reino sem necessariamente ser catlico. Os tempos so outros, as instituies republicanas j tm uma histria de dois sculos na maioria dos pases latino-americanos, sua legitimidade vem de procedimentos que envolvem a manifestao poltica da populao periodicamente. Mas a necessidade de estabelecer uma separao com os valores religiosos se coloca em muitos momentos. Desta forma, pedir a algum, em determinada situao, que no tome as decises baseadas em seus valores religiosos no algo errado, e muitas vezes o esquecimento desta regra traz problemas na constituio do espao pblico. Digo isso porque, em muitas situaes, hoje em dia, verifico que os indivduos trazem cena pblica seu pertencimento religioso de modo completamente equivocado, e a melhor posio lhes dizer que se abstenham desta conduta naquele espao e naquele momento. Recordo dois conjuntos de cenas, envolvendo o poder legislativo e o poder judicirio no Brasil. O primeiro conjunto envolve parlamentares que, em sesses da Cmara Federal, ao argumentar acerca da viabilidade ou no de alguma proposio, batem a mo sobre a Bblia, e afirmam: esta a minha constituio, esta a constituio que eu sigo, esta a verdadeira constituio do Brasil. Neste momento, a vontade que temos de dizer ao parlamentar que ele est numa casa legislativa, onde a constituio vigente outra8. Podemos at pensar que tal comportamento daria margem a um processo por falta de decoro parlamentar. Outro conjunto de cenas diz respeito a um procedimento que encontramos em alguns juzes de famlia no Brasil, e que bem ilustra a necessidade de estabelecer alguma fronteira entre pblico e privado em termos de pertencimento religioso. Conforme j foi noticiado pela mdia em diversos momentos, e sendo elemento presente em algumas aes dos Ministrios Pblicos Estaduais, alguns juzes de famlia, ao depararem-se com um pedido de separao (anulao do casamento civil), entendem que, antes de encaminhar o processo e dar a sentena, necessrio fazer algumas audincias de tentativa de conciliao entre as partes. Fazem isso para atender um valor moral de seu pertencimento religioso, que fala da indissolubilidade do casamento9. Entretanto, a legislao em vigor no Brasil, no captulo das
Tais cenas, por serem pblicas, foram muitas vezes filmadas, e podem ser encontradas nos vdeos das sesses da Cmara Federal, a partir da navegao em www.camara.gov.br, buscar arquivos e biblioteca. A constituio que me refiro na frase acima, para o caso brasileiro, a Constituio de 1988, que no incorpora a Bblia como fonte de jurisprudncia.
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Vale lembrar que a palavra casamento utilizada no Brasil tanto para designar a cerimnia de natureza religiosa quanto a civil. Ao regulamentar o registro civil dos casamentos, no incio da Repblica, os legisladores mantiveram o
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anulaes de casamento, no prev tal procedimento. Em geral, os interessados em se separar, por desconhecimento dos rituais jurdicos, e por certo temor autoridade judiciria, submetem-se a este verdadeiro capricho dos juzes. Nesta hora, entendo ser necessrio dizer ao juiz que o que se espera dele que julgue segundo as leis do pas, e que deixe sua crena religiosa no domnio privado10. O estado brasileiro laico e assegura a liberdade de crena religiosa a todos os seus habitantes, e o exerccio da funo pbica no pode ser feito a partir de pontos de vista particulares em termos religiosos. O que se espera do servidor pblico que atenda a lei, e no que utilize seu espao de poder para forar o cdigo moral de sua religio aos usurios da justia11. As cenas acima descritas no invalidam o argumento principal desta proposio: a direo mais promissora, neste momento, para orientar tanto as reflexes acadmicas quanto as decises estratgicas dos enfrentamentos polticos, aquela de considerar o fenmeno religioso inteiramente no campo poltico e pblico, o que significa politizar o discurso religioso, tal como os movimentos sociais j fizeram com a sexualidade. Nem sexualidade nem religio podem ser remetidas inteiramente ao domnio do privado. Este procedimento abre caminhos frutferos tanto para anlise quanto para a luta poltica. Um deles que, ao discutir e atualizar o conceito de laicidade, hoje encontramos outras alternativas para a tradicional dicotomia: religio privada versus estado pblico. A luta pela constituio de um estado laico na atualidade vincula-se mais fortemente garantia de um conjunto de liberdades laicas, com especial destaque para a liberdade de crena e conscincia, o que justamente oportuniza o livre jogo das religies no debate poltico. Parece-me que apenas estados de forte contedo laico permitem liberdade religiosa, livre exmesmo termo, ao invs de optar por uma variante, como unio civil, termo presente em alguns pases. Desta forma, bastante frequente que juzes e outros operadores do direito se refiram ao registro civil do casamento enquanto possuidor do carter de sacralidade que lhe confere a cerimnia religiosa. Diversas destas cenas foram relatadas por procuradores do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo, em seminrio realizado pela USP no Memorial da Amrica Latina, em 2008.
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O movimento LGBT brasileiro tem lutado pelo direito ao casamento, seguindo os termos da legislao em vigor, e utilizando a mesma palavra, casamento. A respeito desta estratgia de luta, vale conferir a opinio da autora Camile Paglia, em entrevista a Revista Cult: Por vinte anos, eu tenho clamado pela substituio de todo casamento, homossexual ou heterossexual, pela unio civil. O Estado, que governa os direitos de propriedade, deve ser estritamente separado da religio e no deve jamais sancionar sacramentos religiosos. Pessoas que querem a beno de uma igreja devem se sentir livres para ter uma segunda cerimnia na igreja que escolherem. Eu acredito que os ativistas gays dos Estados Unidos cometeram um srio erro estratgico ao reivindicar o casamento, porque a palavra casamento muito associada tradio religiosa e gera uma revolta entre os conservadores. Ao contrrio, os ativistas deveriam se concentrar nos benefcios especficos injustamente negados s unies gays. Por exemplo, nos EUA, se um gay morre, seu parceiro no recebe os benefcios do Seguro Social, que no caso das unies heterossexuais vai automaticamente para o parceiro. Isso uma afronta! Mas este ponto tem sido deixado de lado pelos ativistas gays por conta do seu entusiasmo pela quimera reacionria do casamento. Uma viso de esquerda autntica (como nos anos 1960) iria desafiar todo o conceito do casamento. <http://revistacult.uol.com.br/novo/entrevista.asp?edtCode=2BB952537CA0-42E3-8C55-8FF4DD53EC06&nwsCode=E86F626C-9344-468B-870B-81811A57C805> (acesso em 20 de agosto de 2009).
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presso da conscincia religiosa e, portanto, do margem possibilidade das religies desempenharem, tanto hierarquia quanto seus fiis, um papel poltico no interior da sociedade civil. A ampliao do espao pblico requer, no meu entender, uma necessria ampliao do conjunto de liberdades laicas, o que implica em constituio de um estado de carter laico. No cenrio poltico brasileiro, h uma disputa acerca desses termos hoje em dia, o que explica uma proliferao de adjetivos e novos substantivos, tais como: laicidade, laicismo, a boa laicidade, a s laicidade, o estado laico, clericalismo, relativismo, secularismo de estado etc12. As compreenses de estado laico, por exemplo, variam entre um pensamento de estado pluri-religioso a outro de estado quase ateu. No Brasil, temos movimentos das igrejas evanglicas no sentido de obter, do estado, os mesmos privilgios com que j conta a igreja catlica. E temos movimentos que propugnam certo atesmo de estado, argumento que aparece, por exemplo, quando se acusam juzes de simplesmente pertencerem a determinadas religies. As igrejas todas falam em laicidade, mas so categorias em disputa hoje em dia. Exemplo disso so as recentes discusses no Brasil acerca da presena dos smbolos religiosos em espaos pblicos, notadamente as salas de julgamento dos tribunais (desde as cortes dos tribunais de jri popular, at o plenrio do Superior Tribunal Federal, nossa corte suprema). Defensores da permanncia dos smbolos e defensores de sua retirada, os dois lados falam em laicidade, e dizem cumprir o preceito constitucional brasileiro, que fala em estado laico13. Temos ainda o caso do estado do Piau, no Nordeste brasileiro, em que o debate levou a firmar um acordo entre partes acerca da presena das imagens religiosas em espaos pblicos14. Outro tema que se discute no momento no Brasil relativo Concordata entre o Vaticano e o estado brasileiro. Novamente, os defensores de sua assinatura e os contrrios a ela, valem-se de disputas em torno de uma correta definio de laicidade15. Considero necessria uma atualizao nos termos dos debates sobre a
Uma interessante apresentao do ponto de vista catlico, sobre o tema da laicidade, pode ser encontrada em entrevista de Mariano Fazio, autor de um livro que analisa o pontificado de Bento XVI. Em <http://www.zenit.org/ article-22068?l=portuguese> (ltimo acesso em 20 de julho de 2009).
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Para tomar contato com pequena parte deste debate, encaminho o leitor para alguns stios web. Em <http:// www.45graus.com.br/geral/45774/justica_decide_que_simbolos_religiosos_podem_permanecer_em_predios_publicos. html> possvel perceber a posio daqueles a favor da permanncia dos smbolos religiosos em prdios pblicos (ltimo acesso em 20 de agosto de 2009). Em <http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_editorial=596&id_ secao=16> toma-se contato com argumentos a favor da retirada dos smbolos religiosos dos espaos pblicos (ltimo acesso em 17 de agosto de 2009). Tambm em <http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3906657EI6578,00-Tradicao+pode+resistir+a+retirada+de+crucifixos.html> h elementos para entender o debate (ltimo acesso em 5 de agosto de 2009).
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Veja-se em <http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=5622&sid=7>, ltimo acesso em 20 de julho de 2009.


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Encaminho o leitor para artigo da jornalista Eliane Brum contrria Concordata em <http://revistaepoca.globo. com/Revista/Epoca/0,,EMI88175-15230,00-DE+VOLTA+A+IDADE+MEDIA.html> (ltimo acesso em 19 de agos15

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laicidade, em especial naquilo que esta primeira proposio visa abordar: o pertencimento religioso como elemento da cena pblica. Acredito que temos ainda, pelo menos no Brasil, um grande caminho no sentido de construir espaos de discusso efetivamente pblicos, ou seja, pautados pela presena em p de igualdade dos diversos pontos de vista, que ali so trazidos para discusso e argumentao. E, para tanto, necessitamos de um estado laico e de um conjunto de liberdades laicas. 3. Segunda proposio: a religio no o outro da modernidade Viemos de uma tradio, ainda presente entre ns, de considerar a religio como o outro da modernidade. Este outro est marcado, para muitos, por dois vetores. O primeiro deles de que a religio o atraso, enquanto a modernidade o novo, o moderno. O segundo vetor indica que a religio assunto de foro ntimo, e as grandes questes da modernidade so de domnio pblico, por vezes associada noo de repblica coisa pblica conforme discutido no item anterior. Deixo claro que para mim estas dicotomias fazem sentido analtico em numerosas situaes, e delas derivaram (e ainda derivam) estratgias polticas apropriadas para vrios enfrentamentos, onde se opem os partidrios dos direitos sexuais queles da religio. A ideia de que a religio o outro da modernidade est expressa por numerosos (e famosos) autores, e novamente confesso que j tive muito gosto por estas leituras. Dentre elas, o livro e entrevistas de Richard Dawkins, em sua firme disposio de varrer a religio da esfera pblica a partir de argumentos cientficos, pois ela seria um fator de atraso16. Tambm confesso minha apreciao pelo belo texto de Jos Saramago, intitulado O Fator Deus17, onde o autor faz uma aguda crtica ao que fizeram (e ainda fazem) os homens em nome de Deus:
De algo sempre haveremos de morrer, mas j se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razo, aquela que, desde o princpio dos tempos e das civilizaes, tem mandado matar

to de 2009). Para posio favorvel, veja-se em <http://www.opovo.com.br/opovo/colunas/concidadania/892683. html> (ltimo acesso em 25 de julho de 2009). Recomendo artigos publicados pela organizao Catlicas Pelo Direito de Decidir em <http://catolicasonline.org.br/>. Veja-se em http://richarddawkins.net/ o conjunto das obras e entrevistas. (ltimo acesso em 18 de agosto de 2009). Em portugus, sua obra de maior vendagem Deus, um delrio, editada pela Companhia das Letras.
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Este texto encontra-se disponvel em muitos lugares, recomendo, aqui a biblioteca do Frum Social Mundial, em <http://www.forumsocialmundial.org.br/dinamic/saramago.php> (ltimo acesso em 19 de agosto de 2009), ou para a verso no original em portugus de Portugal em <http://www.estudos-biblicos.com/ofactordeus.html> (ltimo acesso em 4 de setembro de 2009).
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em nome de Deus. J foi dito que as religies, todas elas, sem exceo, nunca serviram para aproximar e congraar os homens, que, pelo contrrio, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarrveis, de morticnios, de monstruosas violncias fsicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos captulos da miservel histria humana18.

No texto, Deus se salva, mas condenam-se as atitudes dos homens tomadas em seu nome. Este conjunto de barbries cometidas, que facilmente podemos associar ao atraso, anttese da modernidade, configura o que Saramago chama de o fator Deus19. Apesar da beleza das palavras e dos argumentos, reconheo que atribuir religio todos os males e atrasos do mundo, e pretender um mundo onde a religio seja banida ou fique restrita ao foro ntimo (evitando a criao do fator Deus), no mais a minha posio, nem terica e nem militante. Enfim, eu penso que houve um momento em que foi necessrio dizer que o religioso estava fora do poltico, ele produziu bons efeitos, todos os pases da Amrica Latina passaram por isso, mas esta no mais a estratgia requerida pela atual conjuntura. Como houve tambm um momento em que opor religio modernidade foi estratgia necessria para fazer avanar certa proposta de modernidade, que implicou valorizar os valores ocidentais. Mas isto deve ser repensado. Desdobramentos importantes desse modo de ver as coisas, ainda presente entre ns, so percebidos na relao que temos com os pases do Isl, sempre tomados como exemplo dos atrasos de toda ordem (atraso moral, atraso econmico, atraso nas estruturas polticas, sem falar nos bvios atrasos em matria de sexualidade, etc.). Para melhor compreenso do nosso olhar em relao ao mundo rabe e seus costumes de direitos sexuais e reprodutivos, vale a indicao de leitura da obra de Edward Said, intitulada Orientalismo20. Entre muitas abordagens, o autor discute as polticas de conhecimento, ou, em outras palavras, a afirmao de que o conhecimento sempre politicamente informado. Desta forma, a produo de conhecimentos sobre o Oriente revela-se um modo articulado de hegemonia cultural, situando o Ocidente
18 19

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u29519.shtml (ltimo acesso em 4 de setembro de 2009)

Os deuses, acho eu, s existem no crebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o fator Deus, esse, est presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. No um deus, mas o fator Deus o que se exibe nas notas de dlar e se mostra nos cartazes que pedem para a Amrica (a dos Estados Unidos, no a outra...) a bno divina. E foi o fator Deus em que o deus islmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os avies da revolta contra os desprezos e da vingana contra as humilhaes. Dir-se- que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. possvel, mesmo certo. Mas no foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o fator Deus, esse que terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religio que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas s intolerncias mais srdidas, esse que no respeita seno aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta. http://www1.folha. uol.com.br/folha/mundo/ult94u29519.shtml (ltimo acesso em 4 de setembro de 2009).
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SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como inveno do Ocidente. So Paulo, Companhia das Letras, 2007
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em posio de superioridade e na condio de normal e de regra, e descrevendo o Oriente como o atrasado, quando muito o extico, aquilo que foge a regra, e que devemos buscar trazer para a regra. Os atributos de emancipao, conhecimento e esclarecimento so articulados com o Ocidente, e o Oriente sempre apresentado em situao de dficit frente a estes indicadores. A apresentao das religies orientais oscila entre os costumes exticos e o atraso poltico da relao estado e religies. O predomnio da religio nas sociedades orientais imediatamente associado precariedade cientfica destas sociedades, esquecendo-se o grande desenvolvimento filosfico e tcnico destas regies no passado. Em suma, para ns, ocidentais, muito difcil pensar o Oriente fora deste enquadramento do atraso e do extico, no qual a religio islmica (e outras religies orientais) ocupa forte potencial explicativo. Outro desdobramento importante desta polaridade antagnica modernidade versus religio est em opor cincia a religio. A cincia seria a modernidade, a religio aparece como explicao de mundo necessariamente carregada de valores morais. Da concluir-se, de modo apressado, que o estado laico, republicano, com polticas pblicas de sade baseadas na cincia, no teria uma moral a propagar. Da nasce tambm certa superioridade do pensamento cientfico, associado razo, em oposio ao contedo moral das religies e aos dogmas da f. Os saberes cientficos so esclarecidos e argumentados, os saberes da religio no comportam argumentao nem esclarecimento racional, deve-se crer, e pronto. Ocorre que o estado laico tem uma moral, no apenas as religies. Tomemos como exemplo uma das campanhas de preveno AIDS, realizada no carnaval de 2007, cujo mote era: Beba com moderao, mas use camisinha vontade. H um evidente valor moral expresso nela, que convida ao sexo sem moderao, desde que protegido (isto sem falar em outra moralidade, aquela implicada com o consumo de bebida alcolica). Ela se combina tambm com frases como faa com quem quiser, na hora em que quiser, mas use camisinha, presentes em outras campanhas. Nelas tambm h valores morais, que convidam a no ter preconceitos na relao sexual (faa com quem quiser, ou seja, pode ser entre dois homens, entre duas mulheres, um homem e uma mulher, ou at mesmo outras combinaes) e faa na hora em que quiser (ou seja, no precisa ser no mbito da relao conjugal necessariamente). Em geral, estas campanhas so vistas como ligadas ao discurso da cincia, pela referncia explcita que fazem ao uso do preservativo, meio comprovado de evitar a infeco pelo HIV. E parecem estar isentas de contedos morais, pelo amparo dos dados cientficos na rea da preveno. Isso gera uma noo do discurso cientfico como salvador, emancipador. Na discusso de temas como o aborto, a homossexualidade, a eutansia, o uso das clulas tronco embrionrias, por exemplo, acredito que no seja boa estratgia demonizar o discurso religioso, em nome de uma tarefa salvadora do discurso cientfico. Nem um nem outro discurso portador de uma verdade salvadora do ser humano, e nem disto que necessitamos,
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tendo em conta inclusive o carter sempre contingente e transitrio das verdades, quando no francamente interessado. A estratgia mais apropriada ponderar entre os dois pontos de vista, que so vlidos, e tem poder de representao, auxiliando os indivduos na compreenso das lgicas que regem os sistemas de pensamento, e contribuindo para politizar estas formas de conhecimento, pois no h produo de saber desvinculado de estratgias de poder e regulao. Vale lembrar que numerosos grupos religiosos passaram a usar cada vez mais o discurso cientfico para embasar seus pontos de vista, e que a histria da cincia registra muitos casos em que os conhecimentos cientficos foram apresentados como dogmas, implicando a submisso da populao s suas prescries. As sociedades ocidentais atuais notadamente apresentam um pluralismo moral, e o impasse que se coloca em muitos temas est relacionado ao campo dos direitos humanos, atravessado por argumentos de vrias ordens, onde religioso e cientfico se misturam. Finalizamos este tpico enfatizando a proposio inicial: necessitamos desconstruir a ideia sedimentada que coloca o pertencimento religioso como o outro da modernidade, na pauta do atraso. Se as confisses religiosas carregam valores morais, as prticas cientficas tambm o fazem. Se as religies oprimem, governam, mandam, tambm as prticas cientficas podem ter estes contedos. O debate entre religio e valores da modernidade tem que ser feito caso a caso, contexto a contexto, sempre de olho nos valores democrticos e nas possibilidades de ampliao do espao pblico, na tica da incluso. Lembramos as ideias de Abelardo21, que provou que compreender e crer no eram duas atitudes diferentes, e sim complementares22. No mbito das lutas polticas, para certo conjunto de ativistas de esquerda, as religies so sempre de direita. No campo da sexualidade, as igrejas representam o plo dito conservador. Mas estas mesmas igrejas podem atuar numa direo progressista, e basta olhar no Brasil suas manifestaes contra a pena de morte, seu apoio decidido ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e s lutas pela posse urbana. Igrejas evanglicas brasileiras j distriburam preservativos na frica. Em vrias frentes de luta dos direitos humanos, as igrejas esto solidrias com as foras progressistas e de esquerda, ou j estiveram em outros tempos. Com isso, verificamos que so complexas as relaes entre discursos da modernidade e religies. As religies no so um pedao do passado no meio da modernidade, elas so tambm hoje em dia modernas. Em conexo com a primeira proposio, o pertencimento religioso produz identidades fortes, potentes, com dimenso poltica, envolvida em muitos temas e lutas contemporneas, que precisam ser discutidas no sentido de ampliao do espao pblico.
21 22

Pedro Abelardo (1079 a 1142), filsofo nascido na Frana na Baixa Idade Mdia.

GAUVARD, Claude. Surge o Senhor dos Tributos. In.: Arquivos Histria Viva 3, Os melhores textos sobre a Idade Mdia, So Paulo, Duetto Editorial, 2008 p. 31.
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4. Terceira proposio: o pertencimento religioso no elimina a autonomia dos fiis Na anlise e compreenso do fenmeno religioso no mundo contemporneo, interessa-nos destacar dois vetores: o pluralismo religioso e a autonomia religiosa dos fiis. No Brasil, as pesquisas acadmicas e matrias de jornal mostram uma ampliao da autonomia dos fiis frente s diretrizes das religies, em especial frente fala dos membros da hierarquia. Atitudes que, em um tempo passado, eram mal vistas, hoje so comuns. Refiro-me em especial a duas delas. A primeira o pertencimento a mais de uma religio, efetuando uma combinao particular de crenas. A segunda a manifestao contrria ao que diz a religio23. Em outro sentido, embora tenhamos um discreto aumento do percentual de ateus no Brasil, dado confirmado pelos recenseamentos, observa-se ainda um forte preconceito por aqueles que assim se assumem24. Pesquisa feita pela Fundao Perseu Abramo constatou que, das pessoas consultadas, 17% afirmaram ter repulsa/dio aos descrentes em Deus, 25% declararam antipatia e 29%, indiferena. Os ndices so superiores a rejeio de homossexuais, por exemplo. pergunta sobre quais as pessoas que menos gostam de encontrar, 35% responderam que so os usurios de drogas, seguidos pelos descrentes em Deus (26%) e ex-presidirios (21%). Podemos concluir que vivemos numa sociedade em que os ateus so vistos como pouco confiveis, embora todo o discurso de tolerncia religiosa presente. O pluralismo religioso outra marca da sociedade brasileira, com forte crescimento das igrejas evanglicas pentecostais, de vrias denominaes. Mas tambm dentro das igrejas aparece um pluralismo, com correntes carismticas, renovadoras, de teologia da libertao, marianismo e outras, convivendo lado a lado na mesma estrutura. O indivduo nasce em uma religio, mas j no pensa que uma obrigao seguir esta orientao vida toda. Em diferentes contextos da vida, o sujeito opta por seguir parcialmente as orientaes de sua religio, por no seguir estas orientaes, por seguir de modo mais estrito. Mudar de uma igreja a outra, ou seguir na vida pertencendo simultaneamente a mais de uma diretriz religiosa no mais considerado algo a se envergonhar, nem mais tomado como falta de conscincia. Tudo isto nos fala de uma autonomia dos fiis frente hierarquia, e indica tambm uma pluralidade de formas de compreenso e vivncia da experincia religiosa. O pluralismo religioso fez surgir tambm interessantes iniciativas de dilogo
Pesquisa das Catlicas pelo Direito de Decidir mostrou que, entre catlicos que se assumiam como efetivamente praticantes, temas como uso da plula, uso do preservativo masculino, relaes sexuais antes do casamento, dissoluo do casamento, encontravam amplo percentual de posies contrrias ao que a hierarquia prega. Estes dados podem ser examinados no site j citado <http://catolicasonline.org.br/>.
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As informaes sobre a pesquisa foram retiradas de <http://www.fpabramo.org.br/portal/> (ltimo acesso em 20 de agosto de 2009).
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inter-religioso e de ecumenismo, h algum tempo impensveis, e estas iniciativas tensionam a tradicional ideia de que haveria alguma religio pura e imaculada, verdadeiramente salvadora. Por outro lado, as religies constituem hoje em dia uma face de mercado, que envolve forte presena na mdia, estratgias de marketing, uso intensivo de recursos de propaganda, muitas delas capturadas pela lgica do espetculo. Tudo isso nos fala de um mundo moderno, com forte presena religiosa, na mo contrria ao que muito se anunciou, de que a modernidade iria tornar o mundo cada vez menos religioso, o processo de desencantamento do mundo. Isto no aconteceu, e a religio vive hoje instalada no ambiente da modernidade. Mas uma das caractersticas justamente esta autonomia maior dos fiis, que decidem sobre seu pertencimento religioso de modo mais livre do que em pocas passadas. Finalizamos enfatizando os termos da proposio: o pertencimento religioso de um indivduo no implica adeso necessria nem completa s verdades daquela confisso. Ele segue sendo um indivduo que poder tomar atitudes diversas, tendo em vista o contexto, a argumentao apresentada, outros fatores contingentes. Com isso, valorizamos a existncia do espao pblico de discusso no qual muitas proposies se colocam, e todas elas devem ser ponderadas na tomada de uma deciso. O espao pblico precisa atuar tambm como moderador das ambies totalitrias dos diversos discursos que querem regrar a sociedade a partir de pontos de vista e interesses muito particulares. Os discursos religiosos trazem esta marca pela sua associao com o transcendente e desejam impor-se a todos, como condio de salvao, na argumentao de que assim procedem para o bem do prprio indivduo. Confiamos que pertencer a uma religio no significa, nos dias de hoje, estritamente rezar por esta cartilha, e que o indivduo poder ser sensibilizado a resolver questes com argumentos provindos de outras reas, inclusive aqueles que se colocam em oposio aos valores da sua religio. Conforme j comentamos, isso j ocorre para um sem nmero de situaes cotidianas, especialmente aquelas que interessam a este texto e que envolvem decises nas reas da sexualidade e reproduo. Isso nos fala de um processo de secularizao da cultura, acompanhado, em maior ou menor grau, pelo processo de laicidade do estado. Este processo no implica o desaparecimento da religio, e o Brasil um timo exemplo de combinao entre crescimento da laicidade do estado, secularizao da cultura e crescimento do campo religioso. A ampliao da capacidade de autonomia dos fiis frente aos regramentos das religies traz implicaes tambm na ideia de representao das hierarquias. Hoje em dia, quando um bispo manifesta a posio da igreja catlica contra o uso da plula anticoncepcional, ele est falando em nome de quem, se as estatsticas mostram que o uso da plula est disseminado de modo intenso entre as mulheres brasileiras de todas as classes, regies, idades e credo? Dentre os episdios que expuseram de modo mais significativo esta distncia entre a posio do bispo e a
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opinio majoritria dos catlicos est o caso do arcebispo de Olinda e Recife, dom Jos Cardoso Sobrinho, que excomungou mdicos e parentes de uma menina de nove anos que sofreu aborto devido ao estupro realizado pelo padrasto25. Amplos setores da opinio pblica, e importantes personalidades catlicas, manifestaram-se de modo contrrio a esta excomunho, agravada pelo fato de que o padrasto, que realizou o estupro, no foi excomungado, o que tornou a sentena do arcebispo um tanto bizarra nos termos do senso comum. Novamente aqui foi possvel discutir at que ponto as autoridades religiosas apresentam legitimidade na representao dos membros de sua confisso. No estou querendo desautorizar a fala dos bispos e autoridades das igrejas e religies. Apenas problematizar seu alcance e representatividade, e levar estas questes em conta ao desenhar estratgias de dilogo com as religies nas polticas de sexualidade. 5. Experincias brasileiras Neste tpico, gostaria de comentar algumas questes que guardam conexes com as proposies acima apresentadas, em geral a partir de exemplos e situaes do cenrio brasileiro. A primeira delas refere-se a um conjunto de iniciativas do Departamento de DST AIDS26, que estimula a participao das ONGS27, atravs de editais, a realizar atividades de preveno. Desta forma, temos instituies religiosas, como por exemplo a Pastoral de DST/AIDS, um brao da CNBB (Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil), que h muitos anos tem financiamento pblico para realizar atividades de preveno AIDS em vrios locais do pas. Esta iniciativa de parceria fez com que as equipes da Pastoral de DST/AIDS tenham desenvolvido estratgias de disponibilizao do preservativo masculino que se alinham com os princpios defendidos em geral no campo dos direitos sexuais e reprodutivos pelas polticas pblicas, ao mesmo tempo respeitando os ensinamentos da igreja28. Esta delicada costura feita pelos integrantes da Pastoral de DST/AIDS, na relao
Notcias a respeito podem ser conferidas em <http://www.sidneyrezende.com/noticia/32060+bispo+excomunga+re sponsaveis+pelo+aborto+em+menina+violentada> e <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,papa-destitui-bispode-pe-que-puniu-vitima-de-estupro,396128,0.htm> (ltimo acesso em 4 de setembro de 2009).
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A partir de 27 de maio de 2009, pelo Decreto 6860 da Presidncia da Repblica, oficialmente denominado de Departamento de Vigilncia, Preveno e Controle das Doenas Sexualmente Transmissveis e Sndrome da Imunodeficincia Adquirida. Por razes de economia, no presente texto denominado de Departamento de DST AIDS do Ministrio da Sade.
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Organizaes no-governamentais.

Tal questo encontra-se discutida em SEFFNER, F.; SILVA, C. G. M.; MAKSUD, I.; GARCIA, Jonathan; RIOS, Lus Felipe; NATIVIDADE, M.; BORGES, P. R.; PARKER, Richard; TERTO JNIOR, Veriano. Respostas Religiosas AIDS no Brasil: impresses de pesquisa acerca da Pastoral de DST/Aids da Igreja Catlica. Ciencias Sociales y Religin, v. 10, p. 159-180, 2008. 372
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com tcnicos do Departamento de DST AIDS, aponta na direo do mecanismo que estamos valorizando de constituio do espao pblico (e das polticas pblicas) como local de negociao entre diferentes posies, saberes e cdigos morais e ticos. O estado admite (e inclusive financia) instituies da sociedade civil que, embora demonstrando discordncia parcial com suas diretrizes de sade, esto dispostas a atuar na rea da preveno da AIDS. Como fruto desta interao, temos o surgimento de meios e modos de ao, que respeitam os valores das duas instituies em parceria. A isto se poderia chamar de princpio da laicidade pragmtica, fruto da contingncia do trabalho em colaborao, termo utilizado no texto j citado em que analisamos esta experincia de ao. Com este conceito, valorizamos igualmente os princpios e conceitos que tradicionalmente ancoram a definio de um estado laico e o direito das liberdades laicas, mas valorizamos igualmente as prticas sociais que se mostram criativas em atender a estes princpios, em particular na frico entre liberdade religiosa e desenho de uma poltica pblica29. Outra situao, bastante diferente, aquela resultante das conexes entre f organizada (religies e igrejas), radiodifuso e partidos polticos no Brasil30. Falo de rdio e TV, que so concesso pblica, e no de jornais, que so expresso livre ao gosto de cada um. As igrejas no Brasil so isentas de impostos, e tm o compromisso de investir seus ganhos em finalidades no lucrativas, a caridade sendo a principal delas. Os canais de radiodifuso so de concesso pblica, portanto, um espao de natureza pblica, e no desejvel que sirvam para determinados grupos religiosos, por exemplo, ou partidrios dispararem ataques a outros grupos, ou fazerem auto-propaganda. A programao televisiva deve buscar o interesse geral, acolher a diversidade de opinies e manifestaes prprias do espao pblico31. Sobre os

Nos debates acerca do conceito de Estado, no seminrio que originou esta segunda verso do texto, Adriana Vianna (Museu Nacional Rio de Janeiro) sugeriu a expresso estado como experincia. Atravs dela possvel captar o processo de construo, por parte da populao, de um conceito operacional de estado. Penso que, de forma conexa, podemos falar em experincia da laicidade, aludindo a este carter pragmtico, localizado e contingente do estabelecimento de fronteiras entre o pertencimento religioso e a ao de poltica pblica. O conceito j utilizado por mim em artigos anteriores de laicidade pragmtica visava explicar o mesmo processo, mas creio ser mais feliz a expresso experincia de laicidade.
29

Baseio-me aqui nas matrias publicadas acerca do processo movido pelo Ministrio Pblico de So Paulo contra o bispo Edir Macedo, lder da Igreja Universal do Reino de Deus. Para as consideraes crticas, em especial, retirei elementos do artigo Partido, igreja e televiso, de Eugnio Bucci, disponvel em http://observatorio.ultimosegundo. ig.com.br/artigos.asp?cod=551JDB018 (acesso em 25 de agosto de 2009).
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Ao leitor brasileiro, acostumado a assistir a programao televisiva, talvez cause espanto a afirmao do carter pblico da televiso, que deveria respeitar a diversidade. Recomendo a leitura do artigo 221 da Constituio Federal, transcrito a seguir que fala do carter educativo, artstico, cultural e informativo da radiodifuso, e que deve causar espanto ainda maior no leitor. Art. 221. A produo e a programao das emissoras de rdio e televiso atendero aos seguintes princpios: I preferncia a finalidades educativas, artsticas, culturais e informativas; II - promoo da cultura nacional e regional e estmulo produo independente que objetive sua divulgao; III - regionalizao da produo cultural, artstica e jornalstica, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV - respeito aos valores ticos e sociais da pessoa e da famlia.
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Para pensar as relaes entre religies, sexualidade e polticas pblicas Fernando Seffner

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partidos polticos, e seus integrantes, pesam outras regulamentaes, uma vez que sua atuao se d tambm na tica de manuteno do espao pblico e da gerncia dos aparelhos de estado. Para preservar o bem comum, est proibido a deputados, senadores e outros membros de partidos polticos a vinculao com empresas concessionrias do servio pblico (as empresas de radiodifuso esto nesta categoria). No difcil entender as razes dessas regras:
Essas restries tm o objetivo de evitar que a radiodifuso deixe de ser um servio pblico (servio para todos) e se converta em servio particular (para benefcio de poucos) ou seja, servio que tem por nico objetivo a promoo de interesses particulares32.

O que se verifica no Brasil um crescente processo de aproximao entre estes trs entes: igrejas, empresas concessionrias de radiodifuso e partidos polticos. Cada vez menos a programao das empresas de radiodifuso reflete a diversidade poltica, e cada vez mais ela instrumento de propaganda de interesses particulares. Isso no vale apenas para as igrejas que se apropriaram de canais de radiodifuso, certo. Para os interesses do presente texto, interessa discutir os limites da ao das igrejas junto a empresas de radiodifuso e junto a partidos polticos, no simplesmente porque a religio um assunto domstico, e no tem que se misturar com a poltica, mas porque h muitos modos de fazer esta mistura, alguns deles francamente danosos consolidao de uma democracia inclusiva. Antes que se pense que me refiro unicamente aos canais de televiso vinculados a algumas igrejas no Brasil, esclareo que mesmo os outros grupos televisivos ditos laicos adotaram a estratgia de concesso de privilgio a alguma religio sempre a catlica, acolhendo de longa data as missas pela televiso, mas nunca imaginando fazer o mesmo com um culto metodista, uma celebrao evanglica, e muito menos um ritual afro. Encerro o texto fazendo um voto de f no horizonte normativo que j por vrias vezes fiz referncia ao longo do texto: o espao pblico o espao de negociao das possibilidades e limites de exerccio do poder, e ele se caracteriza pelo referencial das prticas democrticas e pelos esforos de incluso de grupos e indivduos nos benefcios sociais. Desta forma, a participao das igrejas (da f organizada) nos debates polticos sobre sexualidade (direitos sexuais e reprodutivos, reconhecimento de unies homossexuais, reconhecimento jurdico de adoes por casais homossexuais, acesso unio civil ou ao casamento por parceiros do mesmo sexo, e muitas outras questes) deve pautar-se pelo respeito e alargamento do espao pblico. Por um lado, ningum deve ser proibido ou constrangido de manifestar sua opinio apenas porque ela baseada em valores religiosos, ela uma opinio vlida

32

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=551JDB018 (acesso em 25 de agosto de 2009).


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no debate poltico. Por outro lado, est vedado s instituies religiosas buscarem o estado para impor sobre toda a populao a particularidade de suas crenas e valores. Mais do que deixar isto claro em leis e regulamentos (o que obviamente necessrio), o desejvel que todos os atores sociais reconheam a importncia de preservao do espao pblico, como arena em que se busca a composio e a solidariedade entre diferentes pontos de vista, tarefa por vezes muito difcil, mas inerente vida em sociedade.

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Comentrios para o texto panormico e o painel da sesso 4


Luis Antonio Cunha1, em seu comentrios sobre o texto panormico, pontuou inicialmente que iria apresentar tanto concordncias quanto discordncias em relao a posies desenvolvidas por Juan Marco Vaggione. Por um lado, Cunha reconheceu que o trabalho de Vaggione traz contribuies muito importantes para o debate acerca da religio, no sentido de revelar o carter contraditrio do campo religioso que, tanto comporta manifestaes muito intensas de conservadorismo, quanto sinais de transformao e abertura pluralidade, apresentando ilustraes muito significativas acerca de movimentos de politizao da esfera religiosa que so pautados pela reivindicao da liberdade. O comentarista considerou ser este o ponto forte da anlise. No entanto, para Cunha, o reconhecimento da pluralidade e das contradies no campo religioso no deveria levar a afirmao que o laicismo e o secularismo so pautas ultrapassadas que deveriam ser superadas. O comentarista entende que superar significa ir alm, e no simplesmente descartar, e acredita ser possvel e necessrio caminharmos no sentido desse ir alm, pois, na Amrica Latina, muito ainda resta a ser feito, mesmo no que diz respeito ao elemento mais primrio da laicidade que a separao estado e igreja, como pode ser ilustrado, segundo ele, pela Constituio argentina, na qual o estado responsvel financeiramente pelo clero. Cunha considera que a proposio de uma perspectiva ps-secular para pensar a Amrica Latina deveria ser verificada com muito cuidado nos contextos nacionais. Observou adicionalmente que, no texto panormico, usa-se, com frequncia, os termos laicismo e secularismo como sinnimos, o que ele considera problemtico. A seu ver, nesse campo de debate, crucial distinguir conceitualmente secularizao da cultura e laicidade do estado. Tomando como exemplo o caso brasileiro, o comentarista lembrou que, no sculo XIX, estabeleceu-se no Brasil uma laicidade de elite assim como ocorreu em outros pases da Amrica Latina que era autoritria, inspirada pela maonaria e pelo positivismo e trazia implcita premissas de reduo gradual do campo religioso. Mas essa viso de laicidade seria abandonada durante a ditadura dos anos 1930. E, nos dias atuais, o pas experimenta, na opinio de Cunha, um processo
Professor titular do Ncleo de Estudos de Polticas Pblicas em Direitos Humanos da Universidade Federal de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Observatrio da Laicidade do Estado (OL).
1

acelerado de secularizao da cultura e construo de uma nova laicidade. Isso vem ocorrendo sem que se registre a reduo do campo religioso, ou da religiosidade. Segundo o comentarista, a preservao da religiosidade na cultura brasileira pode ser verificada, por exemplo, no congraamento que se registra no Ano Novo, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em que milhes de pessoas, vestidas de branco, portando flores para uma divindade afro-brasileira, se renem sem que ocorra nenhuma violncia. Outra ilustrao , talvez, o aparente orgulho que parcelas importantes da populao brasileira expressam em relao tolerncia e ao sincretismo religiosos que prevalecem no pas. Segundo Cunha, essas dinmicas devem ser valorizadas, pois coexistem com uma ofensiva forte da Igreja Catlica para retomar o controle do estado, num contexto que considerado o maior pas catlico do mundo. Uma operao que, de acordo com o comentarista, tem, sem dvida, um objetivo geopoltico. Para ilustrar o sentido e o escopo de tal ofensiva, Cunha sublinhou que, naquele mesmo dia 25 de agosto de 2009, enquanto o Dilogo transcorria, o Congresso brasileiro poderia estar votando um acordo, ou melhor, aprovando a primeira concordata entre o estado brasileiro e o Vaticano. Significativamente, segundo ele, a proposta desse acordo, discutido at ento sobretudo em gabinetes fechados, tem desencadeado manifestaes crticas por parte de atores religiosos, incluindo algumas vozes catlicas, mas, principalmente, lideranas das demais igrejas crists e tambm as vozes de ateus/as e agnsticos/as contra o acordo e a favor de um estado laico. Essa reao que se viu foi materializada, inclusive, num anncio pago contra o acordo e em favor do estado laico, publicado na edio do jornal O Globo daquele mesmo dia, assinada pelo Conselho dos Pastores do Brasil. Finalizando, o comentarista sugeriu ser urgente a formao de coalizes, reunindo religiosos/as, ateus/as, ativistas, acadmicos/as, dentro e fora do estado, para defender a laicidade, ou melhor, em torno a uma agenda de reconstruo de democracias laicas nos pases da regio. Isso permitiria, entre outras coisas, examinar mais de perto e numa perspectiva comparativa, os processos de laicizao do estado e secularizao da cultura que, nem sempre, so convergentes e podem estar se dando em ritmos distintos nos vrios contextos. Cunha, sobretudo, avaliou que um passo nesse sentido reforaria os pontos fortes do texto panormico, abrindo mo do que mais dbil, por exemplo, o apelo a uma posio ps-secular ou pslaica que, segundo ele, impossvel visualizar, pois os processos ainda esto em curso. Nos comentrios sobre os trabalhos apresentados no painel, Veriano Terto Jr.2, primeiro debatedor, fez observaes especficas e pontuais sobre cada um dos textos. Comentando as reflexes de Jaris Mujica, lembrou que, no Brasil e em outros pases
2

Coordenador geral da Associao Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA).


Comentrios

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latino-americanos, padres e pastores evanglicos fazem trabalho radical de apoio vida em outro sentido, por exemplo, impedindo que pessoas, inclusive pessoas HIV positivas, sejam julgadas e assassinadas por traficantes em comunidades onde o estado no est presente. Da mesma forma, no plano dos debates nacionais e globais sobre acesso a medicamentos, as igrejas e grupos religiosos tm sido muito mais ativas em contestar os sistemas de propriedade intelectual. Segundo Terto, em vrias circunstncias, as pessoas vivendo com HIV e o prprio movimento de AIDS conta com mais apoio das igrejas e setores religiosos do que do estado ou de setores laicos e liberais. Ele considera crucial refletir sobre esses exemplos, pois se tratam de dilemas polticos difceis no que diz respeito ao desenho de estratgias e alianas polticas no campo da poltica sexual. Em seus comentrios sobre o texto apresentado pelo reverendo Vergara, Terto observou que seria necessrio, talvez, repensar a questo dos mitos para alm do cristianismo, pois h outras mitologias que representam a sexualidade de maneira mais positiva do que a bblia. No caso do Brasil, por exemplo, seria fundamental resgatar os discursos sobre sexualidade na tradio afro-brasileira e indgena. Finalmente, pontuou que, ao falar de sexualidade como xtase, o reverendo recuperava, de algum modo, os discursos e propostas sobre sexualidade dos anos 1970, quando se fazia sexo para alcanar alguma coisa a mais que o sexo, uma perspectiva radical que praticamente desapareceu, particularmente depois da AIDS. Quanto s reflexes acerca do aborto elaboradas por Malu Heilborn3, o comentarista sublinhou que a questo do aborto foi e continua sendo importante para as mulheres HIV positivas, pois ao contrrio das mulheres que so impedidas de interromper uma gravidez elas so, com frequncia, induzidas ao procedimento. Finalmente, ponderou que a experincia da AIDS ensina que, to importante quanto refletir sobre os dilemas acerca do incio e o fim da vida, so os compromissos com as possibilidades e direitos que temos durante a vida. J Margareth Arilha4, a segunda comentarista do painel, reagiu inicialmente aos trabalhos apresentados por Seffner e Vergara, ressaltando que, mesmo quando reconhecemos as contradies e a pluralidade do campo religioso, preciso no perder de vista que toda e qualquer instituio religiosa, seja mais ou menos progressista, tem um projeto de poder. Nesse sentido, segundo ela, fundamental explicitar sempre quais so esses projetos e analisar criticamente seus efeitos potenciais sobre os processos de construo democrtica que, mais especialmente, os direitos sexuais e reprodutivos. Ao comentar a anlise desenvolvida por Mujica acerca do contexto peruano, Arilha enfatizou que dinmicas muito similares esto em curso no Brasil, onde tam3 4

O artigo da autora ainda no foi publicado. Secretria executiva da Comisso de Cidadania e Reproduo (CCR).
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bm se assiste a crescente penetrao de pautas definidas pelos grupos religiosos ultraconservadores, no aparato estatal, especialmente no mbito legislativo e jurdico. Um exemplo evidente dessa contaminao, segundo ela, pode ser identificado, por exemplo, na sequncia de iniciativas legislativas ou administrativas municipais destinadas a bloquear o acesso anticoncepo de emergncia. Alm disso, essas mesmas foras esto hoje cada vez mais ativas no Congresso Nacional, como pode ser verificado na enxurrada de projetos de lei absolutamente regressivos em relao ao aborto. Com relao anlise e aos argumentos desenvolvidos por Malu Heilborn, Arilha enfatizou que o aborto no apenas um problema das feministas ou das mulheres, mas que deveria ser visto como uma questo que afeta a todos e todas. Em suas prprias palavras, trata-se de um problema que diz respeito humanidade. A comentarista concordou ainda que a tecnologia de visualizao antecipa a vida e cria novos desafios para o debate sobre legalizao do aborto. Nesse sentido, ela sugere que as anlises em relao ao aborto incorporem as experincias ento recentes de reforma legal em Portugal, na Colmbia e no Mxico, pois tambm se deram em contextos polticos difceis e complexos. No apenas elas devem ser valorizadas, mas, sobretudo, implicam em aprendizados que devem ser compartilhados.

Comentrios

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Anexo

Programa do Dilogo

Dilogo Latinoamericano sobre Sexualidad y Geopoltica


Ro de Janeiro, Brasil - Agosto/2009

AGENDA 24 de agosto
9:00 Bienvenidas SESIN 1: SEXUALIDAD, ESTADO Y PROCESOS POLTICOS 9:30 11:00 Texto panormico Sexualidades y polticas en Amrica Latina: un esbozo para la discusin Mario Pecheny (Argentina) y Rafael De la Dehesa (Estados Unidos de Amrica) Comentarios: Gloria Careaga (Mxico) Coordinacin: Sonia Corra (Brasil) 11:30 13:30 Panel Estado y procesos polticos: sexualidad e interseccionalidad Franklin Gil (Colombia) Relacin con los estados: ganancias y riesgos Elsa Muiz (Mxico) Sexualidades, regulacin y polticas pblicas Gabriel Gallego (Colombia) Comentarios: Adriana Vianna (Brasil) y Rosa M. Posa (Paraguay) Coordinacin: Srgio Carrara (Brasil) SESIN 2: CIENCIA Y POLTICA SEXUAL 14:30 16:00 Texto panormico Ciencia, gnero y sexualidad, por Kenneth Camargo (Brasil), Fabiola Rohden (Brasil) y Carlos Cceres (Per) Comentarios: Paula Machado (Brasil) Coordinacin: Richard Parker (Estados Unidos de Amrica)

Anexo

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16:30 18:30 Panel El corpus sexual de la biomedicina Juan Carlos Jorge (Puerto Rico) Transformacin en el discurso sobre la epidemia al VIH como una epidemia sexuada paradojas y enigmas en la respuesta global Carlos Cceres (Per) El campo de la sexologa y sus efectos sobre la poltica sexual Jane Russo (Brasil) Comentarios: Tamara Adrian (Venezuela) y Berenice Bento (Brasil) Coordinacin: Rogrio Diniz Junqueira (Brasil)

25 de agosto
SESIN 3: SEXUALIDAD Y ECONOMA: VISIBILIDADES Y VACOS 9:30 11:00 Texto panormico La prostitucin como actividad econmica en Brasil urbano, por Thaddeus Blanchette (Brasil) y Ana Paula da Silva (Brasil) Comentarios: Corina Rodrguez (Argentina) Coordinacin: Gabriela Leite (Brasil) 11:30 13:30 Panel Sexualidad, cuerpo y poder en el vaivn transnacional Mxico-Canad Ofelia Becerril (Mxico) Migracin y sexualidad: de Brasil a Europa Adriana Piscitelli (Brasil) Pornografa y mercado Maria Elvira Bentez (Colombia) El mercado virtual del sexo Bruno Zilli (Brasil) Comentarios: Lohana Berkins (Argentina) y Miguel Muoz-Laboy (Puerto Rico/ Estados Unidos de Amrica) Coordinacin: Lucila Esquivel (Paraguay) SESIN 4: RELIGIN Y POLTICA SEXUAL 14:30 16:00 Texto panormico Sexualidad, religin y poltica en Amrica Latina, por Juan Marco Vaggione (Argentina) Comentarios: Luiz Antonio Cunha (Brasil) Coordinacin: Gloria Careaga (Mxico)

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Sexualidade e poltica na Amrica Latina

16:30 18:30 Panel Accin poltica de los grupos religiosos conservadores Jaris Mujica (Per) Visiones religiosas alternativas sobre sexualidad Rev. Elias Vergara (Brasil) Derechos sexuales y laicidad: nuevos retos polticos Fernando Seffner (Brasil) Aborto en la interseccin entre religin y ciencia Malu Heilborn (Brasil) Comentarios: Veriano Terto Jr. (Brasil) Coordinacin: Margareth Arilha (Brasil) 19:00 20:30 COCKTAIL

26 de agosto
9:30 12:30 Conclusiones y prximos pasos

Anexo

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