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Módulo 1

INTRODUÇÃO AO SUAS
Módulo 1
INTRODUÇÃO AO SUAS

SECRETARIA NACIONAL DE SECRETARIA ESPECIAL DO


ASSISTÊNCIA SOCIAL DESENVOLVIMENTO SOCIAL
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Jair Messias Bolsonaro
BY NC ND
VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Antônio Hamilton Martins Mourão Todo o conteúdo do curso Formação básica no SUAS para Funções de
Nível Médio, da Secretaria Nacional de Assistência Social, do Ministério
MINISTRO DE ESTADO DA CIDADANIA da Cidadania do Governo Federal - 2022, está licenciado sob a Licença
Ronaldo Vieira Bento Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0
Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse:
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR
SECRETÁRIO ESPECIAL DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Robson Tuma

SECRETÁRIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL


Maria Yvelônia dos Santos Araújo Barbosa QR Code
No decorrer do livro aparecerão códigos como este ao lado que darão
acesso a conteúdos extras. Para acessá-los, basta apontar a câmera do seu
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE
dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o código (obs.: é necessário
ASSISTÊNCIA SOCIAL estar conectado à internet).
Miguel Ângelo Gomes Oliveira

COORDENADORA-GERAL DE GESTÃO DO TRABALHO E


EDUCAÇÃO PERMANENTE
Annie Kettly Neves Pedrosa
Siglas
CadSUAS - Cadastro do SUAS ONG - Organização Não Governamental
CadÚnico - Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal OSC - Organização da Sociedade Civil
Centro POP - Centro de Referência Especializado para População em PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
Situação de Rua PAIF - Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social PBF - Programa Bolsa Família
CIT - Comissão Intergestores Tripartite PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho PNAS - Política Nacional de Assistência Social
CNEAS - Cadastro Nacional de Entidades PNEP - Política Nacional de Educação Permanente
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social PSB - Proteção Social Básica
CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social PSC - Prestação de Serviços à Comunidade
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social PSE - Proteção Social Especial
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente RF - Responsável Familiar
ESF - Estratégia Saúde da Família RMA - Registro Mensal de Atendimento
IAP - Institutos de Aposentadorias e Pensões SAGI - Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística SCFV - Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo
IGD - Índice de Gestão Descentralizada SEPREDI - Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social Deficiência, Idosas e suas Famílias
LA - Liberdade Assistida SIS Acessuas - Sistema de Acompanhamento do Programa Acessuas Trabalho
LBA - Legião Brasileira de Assistência SISC - Sistema de Informações do Serviço de Convivência e
LGBTQIA+ - Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, Fortalecimento de Vínculos
intersexo, assexual e mais SNAS - Secretaria Nacional de Assistência Social
NIS - Número de Identificação Social SUAS - Sistema Único de Assistência Social
NOB - Norma Operacional Básica SUS - Sistema Único de Saúde
NOB-RH/SUAS - Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do
Sistema Único de Assistência Social
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Objetivos do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

UNIDADE 1 – A política de assistência social no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7


1.1 A relação Estado, políticas sociais, direitos sociais e assistência social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2 História da assistência social no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3 A consolidação atual da política de assistência social brasileira: bases legais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

UNIDADE 2 – O Sistema Único de Assistência Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39


2.1 Princípios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.3 Principais diretrizes do SUAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.4 Seguranças afiançadas pelo SUAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.5 Proteções sociais e os serviços socioassistenciais do SUAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

UNIDADE 3 – Trabalho na assistência social, e agora? Apreensão de temas fundamentais e operacionalização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
3.1 Assistência social no campo da Seguridade Social na perspectiva da interdisciplinaridade e intersetorialidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
3.2 O público da assistência social e situações atendidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3.3 O Trabalho Social com Famílias, os serviços do SUAS e a operacionalização dos programas de transferência de renda: integração entre
serviços, programas e benefícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.4 Principais registros de informação no SUAS: Cadastro Único para Programas Sociais e prontuários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.5 Principais instrumentos de coleta de dados: Registro Mensal de Atendimento (RMA), Censo SUAS, SISC, SIS Acessuas e CNEAS. . . . . . . 112
3.6 Educação permanente e articulação entre as esferas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
Apresentação
Olá, cursista! finalizando com o importante tema da educação permanente no
âmbito do SUAS.
Seja bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo de estudos sobre o
Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Esperamos que a leitura e os conhecimentos que você adquirirá
neste módulo possam contribuir com seu trabalho no dia a dia
Este módulo foi organizado para que você, cursista, tenha um dos serviços do SUAS.
panorama abrangente sobre o Sistema Único de Assistência
Social (SUAS). É por meio do SUAS que atualmente se
operacionaliza a política de assistência social, cujo direito foi QR CODE
reconhecido na Constituição Federal de 1988. Foi um longo Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone
caminho percorrido na ampliação da cobertura da ou tablet) para o QR Code ao lado para assistir ao vídeo de
proteção social. apresentação do módulo ou acesse o link: https://youtu.be/
pKKRAr3X_ZM.
Assim, este módulo aborda seu processo de constituição
histórica, suas bases conceituais e sua consolidação no campo
legal. Além disso, contempla a organização do SUAS, seus Objetivos do módulo
objetivos, princípios, diretrizes e a estruturação dos serviços ■ Aperfeiçoar profissionais de nível médio para atuação do
socioassistenciais a partir das proteções sociais, dos benefícios e Sistema Único de Assistência Social.
dos programas de transferência de renda. Apresenta os elementos ■ Apresentar aspectos da constituição sócio-histórica do SUAS
importantes da operacionalização do SUAS e da assistência social no campo da proteção social e Seguridade Social brasileira.
a partir da perspectiva intersetorial e interdisciplinar, ampliando ■ Descrever as bases institucionais/legais e técnicas da
o olhar sobre as demandas presentes no cotidiano dos serviços. implementação e operacionalização do SUAS.
Descreve o público da assistência social, a centralidade do ■ Discutir temas pertinentes à atuação dos profissionais
trabalho social com famílias e a operacionalização dos programas de nível médio nos serviços, programas e benefícios,
de transferência de renda na lógica da integração entre os contribuindo para qualificação e atualização teórico-
serviços, programas e benefícios do SUAS. Introduz os principais metodológica.
registros de informação e instrumentos de coleta de dados,

6 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A política de assistência
UNIDADE 1 social no Brasil
Nesta unidade, estudaremos as bases conceituais
da política de assistência social no Brasil, com
enfoque na relação da sociedade, Estado e
assistência social. Sobre isso, será apresentado
um apanhado histórico que nos leva desde a
época em que apenas existiam conceitos como
“caridade” e “filantropia” para a atual, na qual
existem políticas públicas e também o SUAS.
Esses são aparados por leis e pelo Estado, que
serão melhor explicados por último.

1.1 A relação Estado, políticas sociais, direitos


sociais e assistência social
Neste primeiro passo do curso, no qual se faz
uma introdução ao Sistema Único de Assistência
Social, o SUAS, entende-se que é importante
explicar que sua existência se deve a uma sólida
estrutura política e institucional que, ao longo
das últimas décadas, se estabeleceu no Brasil.

Ao SUAS cabe a gestão e a execução da política de


assistência social no Brasil. A política
de assistência social foi prevista na Constituição
Federal de 1988. Essa inserção na Constituição
é um marco, pois o Estado assumiu
definitivamente, e como protagonista, a função
de executar a política social nessa área, o que
antes não acontecia com a mesma relevância. Constituição Brasileira. Foto: © [Appreciate] / ShutterStock.

8 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O Brasil é um Estado nacional, estruturado politicamente como Uma delas é a Lei Orgânica de Assistência Social, a LOAS
uma República e organizado administrativamente entre entes: (publicada pela primeira vez em 1993 e alterada em 2011).
os municípios, os estados, o Distrito Federal e a União. A LOAS define a assistência social da seguinte forma:

A União se expressa no governo federal, os estados nos governos “[...] a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado,
estaduais, e os municípios nos governos municipais. Colocar é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os
um sistema como o SUAS em operação no país requer definir mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de
responsabilidades entre esses entes, estabelecer fluxo de práticas, iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às
de financiamento e conexões entre os envolvidos. União, estados, necessidades básicas.” (BRASIL, 1993, p. 1).
municípios e Distrito Federal são responsáveis, conjuntamente,
por garantir a oferta de serviços, programas, projetos e A partir da intenção de refletir com você, cursista, o lugar
benefícios socioassistenciais na política de assistência social. Isso ocupado pela assistência social na vida dos brasileiros, serão
tudo a partir de concepções e ideias que direcionam o papel do abordados conceitos que estão presentes na definição da
Estado e as ações em uma área, no caso, a assistência social. assistência social como uma política social e que são relevantes
também para conhecer o SUAS. No momento, foram escolhidos
alguns deles para discussão. Outros serão apreciados ao longo
SAIBA MAIS do curso. São conceitos que estão profundamente relacionados,
Para compreender melhor o que é o Estado, acesse o como: Estado, política social, direitos e, considerando a
vídeo elaborado pela Escola de Governo da Câmara dos política de assistência social, conceitos como proteção social,
Deputados no canal Câmara Escola, disponível em: necessidades, riscos e vulnerabilidades sociais. São conceitos
https://youtu.be/P_X1zNTTGww. importantes no cenário da política social, mas também
relevantes na vida cotidiana dos serviços onde atuam os
profissionais da assistência social.
A constituição prevê direitos que serão instituídos a partir
da publicação de leis e normas que tratarão dos assuntos
especificamente, devendo contemplar as formas como esses
República
direitos chegarão à vida real dos cidadãos. Na assistência social,
República se refere a estrutura política do Estado voltada aos interesses e aspirações do
esse papel é feito por algumas legislações. público, dos cidadãos. São valores republicanos: “[...] o respeito às leis, o respeito ao bem
público e o sentido de responsabilidade no exercício do poder” (OLIVEIRA, 2003 p. 128).

9 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O ponto de partida é que falar de políticas sociais, entre elas a
assistência social, é falar da forma como o Estado desenvolve suas
funções na sociedade, principalmente com o aprofundamento
da democracia. O Estado tem o monopólio de certas atividades e
decisões da vida em sociedade. É uma espécie de “pessoa artificial”
formada por uma combinação de outros agentes.

SAIBA MAIS
Quando se fala em democracia, o que vem à sua mente?
Assista o vídeo elaborado pela Escola de Governo da Câmara
dos Deputados no canal Câmara Escola, disponível em:
https://youtu.be/1sT7ZCkxolw.
As políticas sociais expressam um compromisso do Estado de
prover a sociedade de bens públicos que são levados à condição
As políticas sociais ao longo da história se consolidaram como de direito, como educação, habitação, saúde, assistência social,
uma forma de reconhecer, regularizar e difundir os direitos saneamento básico, entre outros. As políticas sociais devem
sociais. O Estado geralmente faz esse reconhecimento no representar os interesses da sociedade. Assim, existirá,
sentido de buscar uma coesão entre os diferentes interesses e por parte do Estado, um olhar e uma intervenção sobre
conflitos que estão presentes nas relações sociais. necessidades legítimas, que representam temas de interesse
comum, a fim de dar condições de cidadania à população
Ao longo da história, as políticas sociais, assim como os (NETTO, 2011; BRASIL, 2013a).
direitos que elas vão materializar na vida dos cidadãos,
podem ser entendidas como resultado de manifestações
reivindicatórias. Reivindicações, lutas, manifestações não são
algo necessariamente ruim ou negativo. Quando falamos de
Cidadania
Estado democrático, o conflito e, ao mesmo tempo, o diálogo
A cidadania pode ser entendida como um status que garante direitos civis, políticos e
entre sujeitos com posições distintas é esperado; e dele, na sociais aos indivíduos, assim como o “direito de ter direitos” e o acesso à vida no sentido
interlocução com as diferentes esferas de governo, espera-se a pleno. Está ligada aos princípios de igualdade e liberdade (FERREIRA; FERNANDES, 2018).
elaboração de propostas e caminhos para a vida pública.

10 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


SAIBA MAIS
Complemente o conceito de cidadania com a leitura da
poesia do amazonense Thiago de Mello, “Os Estatutos do
Homem”, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=XylbBRdiRdI.
1 Concretizar direitos conquistados pela sociedade e
incorporados às leis.

2
Alocar e distribuir bens públicos que o Estado deve prover e
garantir acesso sem que as pessoas precisem apresentar algum
Para que os direitos alcancem a vida real da população, é preciso tipo de “mérito”.
que se expressem em garantias formais inscritas na lei. Mas,
para além disso, o direito é uma espécie de linguagem que dá
visibilidade a temas ou questões importantes da existência das
pessoas e dos diferentes atores sociais. Por isso, o direito deve As políticas sociais são formas de intervenção em diferentes
acompanhar as mudanças sociais. áreas que têm ligação umas com as outras, como a saúde,
educação, trabalho, moradia, entre outras. Para isso, o Estado
busca organizar uma complexa rede de recursos envolvendo as
GESTÃO EFETIVA esferas administrativas (União, estados, municípios e Distrito
Nessa direção, é importante ressaltar que a conquista de direitos Federal) que vão compor um sistema de proteção social.
depende do comparecimento dos sujeitos (indivíduos ou Para isso, precisam estabelecer estratégias visando adequar
coletivos/grupos) nos espaços de participação onde a recursos para as finalidades estabelecidas. Segundo Nogueira
política pode se expressar e se elevar para a formulação e (2020), em termos de recursos para as políticas sociais e os
gestão das políticas sociais (associações, conselhos, sindicatos, serviços que elas vão efetivar (escolas ou unidades de saúde,
fóruns, conferências, assembleias, órgãos de representação, por exemplo),é possível pensar em algumas dimensões:
entre outros) (TELLES, 1999).
Dimensão legal: legislação, normativas, portarias etc.
Dimensão organizativa: instalações físicas, regulamentos,
Assim, de acordo com Pereira (2008), as políticas sociais têm equipamentos, material de consumo.
duas principais funções: Dimensão técnico-operativa (trabalhadores): quadro técnico-
operativo e administrativo, especialistas, assessores, etc.
Dimensão fiscal: recursos financeiros.

11 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Em síntese, um sistema de proteção social, segundo Lavinas, A noção de direito de cidadania afasta a ideia de que o Estado
esteja “doando” ou “concedendo algo”. A intervenção do
“[...] é formado por um conjunto diverso de políticas ou Estado “está fazendo jus, justiça”, direito em face de suas
intervenções diretas ou indiretas, cujo objetivo é reduzir riscos e responsabilidades sociais com os cidadãos. Desse modo, é
vulnerabilidades, com base em direitos, garantindo importante lembrar que a assistência social é marcada ao longo
seguranças.” (2006, p. 254). da história pelas ideias de “favor”, “caridade”, “ajuda”. Quando
passa a ser tratada como direito,
Portanto, as políticas sociais vão estabelecer formas de proteger
os cidadãos dos riscos de não ter suas necessidades atendidas “[...] a política de assistência social torna-se pública, não por que
e das vulnerabilidades nas diferentes fases da vida e em áreas é realizada por um órgão público ou estatal, mas por reconhecer
distintas de cidadania. A partir dessa afirmação, é interessante que superar uma dada necessidade é do âmbito do dever do
refletir sobre alguns conceitos importantes que ela contém. Estado e não uma concessão de mérito eventual face a uma
fragilidade de um indivíduo.” (BRASIL, 2013a, p. 21-22).
O que pode ser considerada uma necessidade?
Pereira (2008) defende um conceito de necessidades humanas E como podemos compreender melhor as ideias de proteção social e
que apoia uma reflexão sobre o papel das políticas sociais. Para riscos sociais?
ela, as necessidades são aquelas que, se não forem satisfeitas, Segundo Sposati (2009), proteção se refere a impedir que
podem provocar sérios prejuízos à vida material e à autonomia ocorra uma destruição. Ela está ligada às ideias de preservar,
do ser humano. Nessa direção, as políticas sociais vão ser agir antecipadamente, desenvolver ações para evitar algum
formas de intervenção do Estado em áreas que têm muita malefício. Isso tudo implanta a preocupação de agir antes de
importância para a vida de forma concreta e para a participação situações negativas já instaladas, isto é, quando já ocorreu
ativa das pessoas na sociedade (saúde, habitação, assistência uma desproteção.
social, educação, entre outras).

No caso da assistência social, o campo de


responsabilidades do Estado está dirigido ao direito à
proteção social fundado na cidadania.

12 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


“Uma política de proteção social contém o conjunto de direitos
civilizatórios de uma sociedade e/ou o elenco das manifestações
e das decisões de solidariedade de uma sociedade para com todos
os seus membros. É uma política estabelecida para preservação,
segurança e respeito à dignidade de todos os cidadãos.”
(SPOSATI, 2009, p. 22).

Nesse sentido, o foco da assistência social está relacionado à


proteção social:

“A proteção social de assistência social se ocupa das vitimizações,


fragilidades, contingências, vulnerabilidades e riscos que o cidadão,
a cidadã e suas famílias enfrentam na trajetória de seu ciclo de vida,
por decorrência de imposições sociais, econômicas, políticas e de
ofensas à dignidade humana.” (BRASIL, 2005a, p. 89).

A proteção social em sociedades organizadas pelo capitalismo,


como a nossa, ganha maior importância quando se fala dos
riscos relacionados ao trabalho. O risco é uma marca do
capitalismo, que tornou o trabalho assalariado central nas
relações econômicas das famílias.

Capitalismo
O capitalismo, ou sistema capitalista, é resultado de um processo histórico. É o sistema
econômico vigente no mundo todo. Sua essência está em difundir um mercado de
compra e venda de bens, serviços e do próprio trabalho humano (força de trabalho),
objetivando o lucro da classe dominante. O sistema capitalista é hegemônico no mundo
exatamente por estabelecer influência em todos os campos das relações e da vida social.

13 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Se considerarmos as imposições econômicas, a dependência das Riscos sociais dizem respeito a um campo de probabilidades.
pessoas do trabalho assalariado promove uma generalização Ou seja, referem-se às chances de as pessoas viverem situações
de riscos sociais. Isso ocorre porque o trabalhador, para a ou eventos que possam provocar sequelas ou danos negativos
sua própria sobrevivência, fica à mercê de condições sobre as mais ou menos intensos. Por isso, os riscos precisam ser
quais não administra: por exemplo, o mercado de trabalho não pensados. No campo da assistência social, os riscos “[...]
pode garantir a todos alguma renda, nem mesmo um posto de provocam padecimentos, perdas, como privações e danos,
trabalho. A informalidade no trabalho pode ser uma alternativa como ofensas à integridade e à dignidade pessoal e familiar”
(ESPING-ANDERSEN, 2011). Por isso a importância de se falar em (SPOSATI, 2009, p. 30). Estão comumente associados a
risco social. O risco social também trata das situações que, “[...] proximidade ou a efetiva violação de direitos. Expressam-se na:
independentemente da vontade do trabalhador, impossibilitam,
temporária ou definitivamente, o exercício do trabalho e “[...] iminência ou por episódios de violência, abandono,
obtenção da renda ali originada”. São exemplos: “acidentes de negligência, abuso e exploração sexual, situação de rua,
trabalho, a doença, a invalidez, o desemprego involuntário, trabalho infantil, ato infracional, etc.” (HILLESHEIM;
a maternidade ou a velhice” (JACCOUD, 2018, p. 899). CRUZ, 2016, p. 244).

O sistema no qual estamos inseridos afeta a forma como


vivemos. As ações do SUAS, portanto, estão ligadas às
consequências do capitalismo.

SAIBA MAIS
Para aprofundar a compreensão sobre o capitalismo, acesse
o vídeo “Capitalismo: o que é, origem e características”
do canal Brasil Escola, disponível em: https://youtu.be/
Tgcirb4SD14.

14 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Sposati (2009) relaciona alguns fatores importantes
relacionados ao risco social no cotidiano. As manifestações dos SAIBA MAIS
riscos podem ocorrer a partir: A perspectiva de “marcadores sociais da diferença” pode
apoiar a compreensão sobre riscos relacionados à raça,
etnia, gênero, religião e orientação sexual. Acesse o material
Dos territórios onde as pessoas vivem e que podem, por exemplo, submetê-las
elaborado por Márcio Zamboni, disponível em: https://
a segregação espacial. Resulta, por exemplo, em ter dificuldade no acesso aos assets-dossies-ipg-v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/
serviços públicos e à infraestrutura da cidade. sites/2/2018/02/ZAMBONI_MarcadoresSociais.pdf.

Dos padrões de coesão e convivência familiar, comunitária e social, que E sobre as vulnerabilidades sociais?
podem resultar em ausência de pertencimento, discriminação, apartação, De forma sucinta, é possível compreender a vulnerabilidade
exclusão, violências. social como a iminência de um risco. A vulnerabilidade social
na área da assistência social diz respeito

Das contingências da natureza, tais como enchentes e desabamentos, que


tornam as populações que vivem em áreas ribeirinhas ou em regiões sujeitas “[...] à precariedade no acesso à garantia de direitos e proteção
a deslizamentos bastante vulneráveis. social, caracterizando a ocorrência de incertezas e inseguranças
e o frágil ou nulo acesso a serviços e recursos para a manutenção
da vida com qualidade.” (CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 7).

Da raça, da etnia, do gênero, da religião, da orientação sexual. A vulnerabilidade é uma experiência de “estar suscetível” em
contextos de desigualdade e injustiça social. É a vivência de
desvantagens para conseguir melhorar a qualidade de vida.
Não diz respeito somente à ausência ou precariedade no acesso
Da desigualdade social e econômica do país, que abastece condições para
que os riscos e vulnerabilidades sejam vivenciadas pelas pessoas mais à renda, mas às fragilidades de vínculos afetivo-relacionais e
vulneráveis, como as crianças, adolescentes e jovens, os idosos, pessoas com desigualdade de acesso a bens e serviços públicos. Por outro
deficiências e pessoas que não têm vínculos familiares.
lado, segundo as autoras supracitadas, embora possam viver a
experiência da vulnerabilidade, o ser humano e suas famílias
também podem possuir recursos ou serem apoiados nas
capacidades de mudança de suas condições de vida.

15 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Nessa mesma direção, No quadro abaixo, a partir da revisão anterior, são apresentados
os principais elementos para entender os riscos sociais e a
“Atuar com vulnerabilidades significa reduzir fragilidades e vulnerabilidade social.
capacitar as potencialidades. Esse é o sentido educativo da
proteção social, que faz parte das aquisições sociais dos
serviços de proteção.” (SPOSATI, 2009, p. 35). Riscos sociais Vulnerabilidade social

Bronzo (2009, 174) sugere que trabalhar com vulnerabilidade


é lidar com “[...] diferentes tipos de recursos que as pessoas e Probabilidade de viver situações ou eventos
que possam provocar sequelas ou danos Suscetibilidade para riscos em contextos
famílias possuem e podem mobilizar”. A autora explica que o negativos mais ou menos intensos em de desigualdade e injustiça social.
enfrentamento das condições de vulnerabilidade tem melhor contextos de desigualdade e injustiça social.
resultado quando se qualifica a estrutura de oportunidades,
Vivência de desvantagens para conseguir
quando se fortalecem os recursos e se abastece a busca de Proximidade ou a efetiva violação de direitos. melhorar a qualidade de vida.
autonomia e protagonismo dos indivíduos e das famílias.

Iminência ou episódios efetivos de violência, Ausência ou precariedade no acesso


É importante observar que trabalhar na perspectiva da abandono, negligência, abuso e exploração à renda, fragilidades de vínculos
existência de vulnerabilidades requer um olhar amplo e integral sexual, situação de rua, trabalho infantil, ato afetivo-relacionais e desigualdade de
da situação. infracional, entre outros. acesso a bens e serviços públicos.

“Os problemas e as soluções não podem ser vistos de forma


isolada, nem contidas dentro de um único espaço (família, Neste momento da unidade, propõe-se também falar de agentes
instituições) ou de uma área específica (saúde, habitação, que fazem uma interlocução importante com o Estado na
educação).” (MIOTO, 2000, p. 221). hora de formular e executar as políticas sociais por meio dos
serviços, programas, projetos e benefícios sociais. São agentes
presentes e atuantes, cada um à sua forma, e que também fazem
reivindicações ou pressões importantes e necessárias ao processo
democrático na condução das políticas sociais. Optou-se por
discutir de forma mais organizada sobre o lugar das famílias,
do mercado e das organizações da sociedade civil.

16 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


1.1.1 Agentes interlocutores nas políticas e serviços sociais:
as famílias
É importante destacar que as políticas sociais em todo
mundo raramente dispensam a família no campo da
organização dos serviços sociais. Na Constituição Federal
do Brasil, a família é considerada a base da sociedade e
tem especial proteção do Estado. A Política Nacional de
Assistência Social indica que família é

“[...] um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços


consangüíneos, afetivos e, ou, de solidariedade.” (BRASIL,
2005a, p. 41). As famílias geralmente vivem uma rede de relações e de
trocas entre parentes. O termo ‘rede’ aqui tem sentido de um
Segundo Mioto (2004), a família pode ser entendida como: entrelaçado de relações e de trocas nem sempre diretas ou
lineares; mas também indica atividade de apoio ou proteção.
“[...] espaço constituído de modo contínuo, relativamente Segundo Saraceno e Naldini (2003), quem estiver desprovido ou
estável e não-casual. Em muitas culturas se está na presença tiver essa rede de forma escassa encontra-se mais só e mesmo
de uma família quando subsiste um empenho real entre indefeso ante as exigências sociais e dos riscos sociais:
as diversas gerações, sobretudo quando esse empenho é
orientado para a defesa das gerações futuras. Assim, podemos “[...] está mais exposto aos riscos da pobreza ligados ao
falar da família a partir de sua organização e relações.” desemprego, ou à viuvez, ou à perda dos pais, à falta de cuidados
(MIOTO, 2004, p. 14). e assistência quando doente, ou tem uma velhice difícil, ou se
encontra noutras circunstâncias que exigiriam auxílio (presença
Na assistência social brasileira, a família é uma das de filhos pequenos, incidentes familiares, etc.).” (SARACENO;
“vertentes” de proteção social, o núcleo primeiro de NALDINI, 2003, p. 107).
apoio das pessoas. A partir da centralidade da família,
são concebidos e implementados os benefícios, serviços,
programas e projetos da assistência social (BRASIL, 2005a).

17 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Ao longo da história, criou-se a impressão de que a família é um As famílias, como usuárias da assistência social, podem ocupar
“canal natural” de proteção de seus membros (MIOTO, 2008). espaços de participação social que, a partir da Constituição
As políticas sociais comumente destinam à família certas Federal e da LOAS, constituem a política de assistência social no
funções e papéis fundamentais na hora de organizar o Brasil. Esse tema será desenvolvido na Unidade 2.
funcionamento de serviços e estabelecer critérios de acesso.
Isso se verifica no SUAS, mas também tem uma presença 1.1.2 Agentes interlocutores nas políticas e serviços sociais:
importante em outras políticas como no Sistema Único de o mercado
Saúde (SUS). Basta lembrar que a atenção primária em saúde é As respostas das famílias às necessidades de seus membros podem
baseada na Estratégia Saúde da Família (ESF). ocorrer pelo uso combinado de serviços públicos e privados.
Nas sociedades capitalistas, privilegia-se a autonomia da
economia e o acesso a determinados recursos a partir das trocas
PODCAST mercantis, inclusive a mão de obra ou trabalho humano. Ou seja,
Quando se discute políticas e serviços sociais, é importante predomina a lógica de compra e venda de bens e serviços.
compreender que as famílias têm condições distintas de Como geralmente ocorre a dinâmica de aquisição de bens
oferecer proteção aos seus membros, como abordou-se e serviços no mercado? As pessoas trabalham em troca do
ao discutir vulnerabilidade. A maioria das famílias busca recebimento de seu salário ou remuneração e, a partir deste,
acessar bens e serviços necessários para atender suas adquirem bens e serviços, como alimentação, medicamentos,
necessidades através do trabalho e de salários, assim seguros, habitação, vestimentas, consultas, exames etc. O salário,
como de serviços e benefícios sociais públicos. Por isso, para essas aquisições, depende do emprego, que, por sua vez,
é preciso atenção quando as ações públicas acham depende de um mercado de trabalho. As pessoas geralmente se
importante se dedicar apenas às famílias que já “falharam” inserem no mercado de trabalho segundo o que podem oferecer
ou “faliram” nas suas funções básicas. Daí a importância em termos de educação ou formação, sua experiência e tempo
da atenção às famílias em situação de vulnerabilidade. que podem destinar ao trabalho, por exemplo. Em síntese,
Conforme aumenta a vulnerabilidade, aumenta a exigência uma pessoa geralmente consegue satisfazer suas necessidades
das famílias desenvolverem complexas estratégias de no mercado dependendo da sua renda a partir do trabalho.
relações entre seus membros para sobreviverem
(MIOTO, 2008, 2000; BRASIL, 2005a).

18 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Quando o Estado focaliza suas ações e diminui o campo de
atuação em uma política social, é muito provável que as famílias
assumam mais funções ou a responsabilidade por dispor de
mais recursos para suas necessidades. Isso pode significar mais
trabalho e menor renda para as famílias, pois elas precisarão
assumir mais uma função ou pagar por esse bem ou serviço.
Do seu lado, o mercado pode ampliar seu campo de atuação
e/ou esperar mais famílias (clientes) que o busquem para
adquirir bens e serviços.

Vivemos em uma sociedade que tem a tendência de


mercadorização. Há uma valorização do mercado na regulação
das condições de vida e, muitas vezes, troca-se a valorização
de ter acesso a bens ou serviços como direito público pela
valorização de ter renda para consumir esses bens ou serviços ou
de ter capacidade de “comprá-los”. Nessa direção, ter dinheiro no
bolso para comprar é símbolo de força ou o contrário de fraqueza.
Essa relação com o mercado é um dos eixos das sociedades
capitalistas e recorrentemente estimulada, como quando se ouve
falar do tema privatização. (FRANZONI, 2008; BRASIL, 2013a). Mercadorização
Mercadorização é a pressão por transformar tudo em mercadoria (FRANZONI, 2008;
Quando o Estado defende a privatização de serviços que BRASIL, 2013a).
representam direitos sociais, ele diminui suas funções de Privatização
proteção social e vai apresentar propostas para focalizar o Privatização é tornar o público, privado. Movimentos de privatização tratam de
atendimento. O critério pode ser o de atender grupos de menor mercantilizar os serviços e benefícios sociais (FRANZONI, 2008; BRASIL, 2013a).
renda ou maior risco social, por exemplo.

19 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Contudo, uma maior dependência das soluções através do “[...] é toda e qualquer instituição privada que desenvolva
mercado abastece formas de desigualdades: as famílias de renda projetos sociais com finalidade pública, sem fins econômicos.
elevada têm pouca dificuldade para adquirir bens e serviços Também denominadas entidades privadas sem fins lucrativos,
no mercado, enquanto a imensa maioria será excluída da elas podem ser categorizadas como associações, fundações,
possibilidade de acesso ou terá um acesso irregular ou parcial organizações religiosas e sociedades cooperativas.” (BRASIL,
(ESPING-ANDERSEN, 2011). 2021f, p. 8).

No âmbito das políticas sociais, é interessante ter noção da A LOAS especifica que irão compor a política de assistência
importância da “desmercadorização” dos direitos. Ou seja, é a social e o SUAS as “entidades e organizações de assistência
prestação de um serviço ou bem se aproximar mais da lógica do social”, que são aquelas sem fins lucrativos que prestam
direito ou da independência de relação com o mercado. Segundo atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos
Guilhon (2018), a política de assistência social insere-se em uma pela Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de
perspectiva de desmercadorização: direitos. Dessa forma, elas integram a rede de atendimento do
SUAS, também chamada de “rede socioassistencial do SUAS”.
“[...] pela gratuidade dos seus benefícios e serviços e por não estar
o usufruto dos seus benefícios condicionado a nenhum cálculo A assistência social conta com uma extensa rede de unidades
contratual, atuarial ou contábil. Assim, ela é gratuita e não pertencentes às organizações da sociedade civil. Segundo
contributiva, não tendo nenhum valor mercantil.” (GUILHON, Peres (2011), elas são voltadas para o interesse público, para as
2018, p. 709). demandas sociais.

1.1.3 Agentes interlocutores nas políticas e serviços sociais: “Embora não integrem a administração pública, mantêm gestão
organizações da sociedade civil de recursos para o público com o objetivo de realizar o bem
Na LOAS está definido que a assistência social é uma política comum, são registradas em cartório mediante estatuto social com
que será realizada através de um conjunto integrado de ações de finalidade de atender a população usuária da Assistência
iniciativa pública e da sociedade. É entre as ações de iniciativa Social.” (PERES, 2011, p. 100).
da sociedade que se inserem as organizações da sociedade civil.
O que é uma organização da sociedade civil?

20 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A participação de organizações da sociedade civil na assistência “[...] contém o conjunto de direitos civilizatórios de uma sociedade
social não é nova. A diferença é que houve uma mudança no e/ou o elenco das manifestações e das decisões de solidariedade de
desenho das políticas públicas, de modo a admitir a parceria entre uma sociedade para com todos os seus membros. É uma política
Estado e sociedade civil. Segundo Oliveira (2003), é importante estabelecida para preservação, segurança e respeito à
estar atento a que as entidades que se dispuserem às parcerias para dignidade de todos os cidadãos.” (SPOSATI, 2009, p. 22).
atuação no SUAS não desenvolvam atividades tendo como direção
realizar a filantropia ou a caridade. Pelo contrário, É preciso ter claro que a assistência social tem como um de seus
objetivos a proteção social, como será trabalhado na Unidade
a possibilidade da participação das parcerias na política 2, mas não se compromete sozinha com esse objetivo. A
de assistência social ocorre desde que se disponham a assistência social participa do processo de proteção social junto
assumir para si e para suas atividades o caráter público da com as políticas de saúde e previdência social, como previsto
política de assistência social. na Constituição Federal a partir da proposta de “Seguridade
Social”, como será abordado na seção 1.3.
As organizações da sociedade civil podem ocupar espaços de
participação social que, a partir da Constituição Federal e da
LOAS, passaram a constituir a política de assistência social no GESTÃO EFETIVA
Brasil. Esse tema será desenvolvido nas unidades 2 e 3. Apresenta-se, portanto, uma política que é um norte
importante, mas que também é um caminho em construção
De modo geral, destaca-se que a assistência social é uma política (SPOSATI, 2009). Supõe conhecer e enfrentar obstáculos
social operacionalizada pelo Estado e possui um campo específico no percurso e também não desistir da chegada. Entre
de ação: a proteção social não contributiva (sem estar atrelada os obstáculos, é muito comum que na política de
a pagamentos ou contribuições) como direito de cidadania, tal assistência social se fale de um confronto com uma cultura
como está previsto na Constituição Federal do Brasil (1988). conservadora, baseada na filantropia, na caridade, também
em práticas públicas e privadas desarticuladas e descontínuas.
Uma política de proteção social, como é a assistência social, Essa cultura, predominante até a Constituição de 1988, ainda
precisa ser enfrentada em muitos espaços que se ocupam da
assistência social.

21 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Então, considerando a importância de identificar os Caridade no Brasil
fundamentos desses aspectos conservadores, na próxima seção,
abordaremos a história da assistência social no Brasil.

1.2 História da assistência social no Brasil


Instituições religiosas na Europa
A história da assistência social está ligada à própria história
de nosso país e ao papel que o Estado foi ocupando ao longo
do tempo para promover ou não a proteção social dos seus
cidadãos. Prestar assistência abrangeu um conjunto de práticas
muito diferentes que se estruturaram voltadas a determinadas
populações e pela necessidade de atendê-las.

No Brasil, até o início do século 20, o que havia na área de Chegada dos europeus no Brasil
assistência eram ações desenvolvidas por organizações
religiosas ou de iniciativa da sociedade e benfeitores. Veja
que, desse modo, quando falamos de políticas sociais,
especificamente sobre a política de assistência social, estamos
falando de algo recente na história.

Iniciativas sem a participação de governos ou Estado já eram


observadas na Europa ocidental desde os séculos 12 e 13. Padrão de caridade instalado
Os conventos e as instituições religiosas foram os primeiros
locais onde as principais práticas assistenciais se desenvolveram.
Por muito tempo, a Igreja foi a principal administradora da
assistência na forma da caridade (CASTEL, 1998). A caridade está vinculada ao dogma cristão e à história da
salvação, principalmente as chamadas obras de misericórdia.
Ao longo da história, era comum a Igreja estabelecer exigências
à comunidade cristã, que deveria provar sua devoção, ter bons
costumes, cumprir compromissos, etc. (SANGLARD et al., 2015;
DONZELOT, 1986).

22 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


À medida que viver em sociedade se tornou mais
complexo, as formas de assistência também
foram modificando-se. Na Europa,
algumas condições foram importantes para
essas mudanças:

■ O desenvolvimento das cidades.


■ A migração das famílias das
áreas rurais para as cidades e sua
concentração sem suportes
ou planejamento.
■ O trabalho assalariado não se
constituir uma forma garantida de
prover o sustento das famílias.
■ A vida em comunidades menos coesas
em termos de solidariedade.
■ Ausência de políticas de intervenção
do Estado.

Essas foram algumas das condições para que


as práticas de assistência se especializassem
e levassem, por exemplo, à organização de
experiências de entrega organizada de “esmolas”
e à criação de espaços como os hospitais e os
orfanatos (CASTEL, 1998).

Foto: © [PhotoFra] / Shutterstock.

23 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Eram atendidos os que não tinham condição de trabalhar. Assim, como pesquisou Castel (1998), antes de o Estado assumir
Na época eram considerados os “[...] velhos indigentes, crianças funções de proteção social, já existia um campo “social-
sem pais, estropiados de todos os tipos, cegos, paralíticos, assistencial” com formas, regras e agentes importantes na
escrofulosos, idiotas [...]” (CASTEL, 1998, p. 41). E quanto aos sua execução. Além da Igreja, é possível falar da presença da
que podiam trabalhar mas não tinham trabalho? Nos textos filantropia. A filantropia se fundamenta na ideia de “fazer bem
históricos, já no século 14, os que eram considerados “válidos” e ao outro” como um princípio ético, na perspectiva de utilidade
não trabalhavam (mesmo com ausência de trabalho), social à nação (SANGLARD, 2015).
que não tinham vínculos em uma comunidade, que percorriam
as comunidades em busca de um ofício e/ou praticavam a A filantropia ganha muita força no século 19, preocupada em
mendicância eram definidos como vagabundos. A eles cabia difundir técnicas de bem-estar e de gestão dos problemas sociais
a repressão policial e o enclausuramento (CASTEL, 1998 apud que eram crescentes. Sua força vem justamente de apoiar
DONZELOT, 1986). ou oferecer diretamente práticas de assistência baseadas em
conhecimentos científicos que também se fortaleceram na
mesma época. No Brasil, a filantropia conviveu e convive com as
práticas de caridade. Porém, ambas não podem ser consideradas
antagônicas, pois se voltavam e ainda se voltam sobre a questões
semelhantes (SANGLARD, 2015).

Relação entre caridade e filantropia

Caridade: Filantropia:
conhecimento médico
vinculada a ideais Questões como pobreza,
cristãos socorro aos pobres, etc. epidemiologia

estatística

24 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Assim, é possível observar que algumas das preocupações que Mudanças importantes aconteceram nos séculos 18 e 19.
motivaram práticas de assistência que existem há séculos se Considerando a realidade europeia, nessa época ficou mais
mantiveram nas políticas de assistência contemporâneas, como: evidente uma relação entre as necessidades não atendidas e uma
vulnerabilidade que atingia em massa a população.

■ A necessidade de classificar e selecionar os beneficiários. Essa era provocada pela relação com o trabalho, que sai das
■ Estabelecer um território para desenvolver intervenções. áreas rurais para se estabelecer nas cidades, nas manufaturas,
■ O convívio de diferentes instâncias colocando-se como depois nas indústrias.
responsáveis: religiosas ou laicas, públicas ou privadas,
locais ou centrais em um território.
■ A busca em desenvolver técnicas especializadas
(CASTEL, 1998).

Trabalho no século 19. Foto: © [Everett Collection] / Shutterstock.

Era um trabalho precário, insalubre, inseguro, que ocupava


todos os membros da família, inclusive crianças. Inicialmente,
prolifera-se sem se comprometer com direitos.

25 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Assim, se antes a assistência se voltava apenas aos indigentes A questão social pode ser definida como processo
incapazes de trabalhar, o trabalho assalariado como principal de pobreza atingindo grandes massas da população
fonte de renda nas sociedades não garantia condições de ao mesmo tempo que cresce o inconformismo dos
subsistência aos trabalhadores e gera uma dupla preocupação “pauperizados” com suas condições de
às sociedades: trabalho e miséria.

É a manifestação, no cotidiano da vida social, das disputas


■ A proliferação do número dos que não trabalham pela entre classe burguesa e classe trabalhadora, e esta passa a
ausência de postos de trabalho. exigir outros tipos de intervenção do Estado, além da caridade
■ A precariedade da situação daqueles que trabalham. e repressão, para os problemas que vivencia: violência,
discriminações, condições precárias de moradia, de saneamento,
entre outras (NETTO, 2011; IAMAMOTO; CARVALHO, 1985).
A vulnerabilidade aparece suscitada pelas condições de trabalho
e renda e pelo enfraquecimento das proteções tradicionais,
antes organizadas principalmente nas funções das famílias e da
comunidade (CASTEL, 1998).

Com o desenvolvimento do capitalismo, o trabalho assalariado


não se constituiu como uma forma absolutamente garantida
de atender as necessidades das pessoas e das famílias, embora
essa fosse uma das suas principais “promessas”. O trabalho
assalariado também nunca chegou a se estabelecer efetivamente
como um direito, embora o Estado, o principal parceiro no
assentamento do capitalismo em diferentes países, assim
também “prometesse”. Classe Burguesa e Classe Trabalhadora
A classe burguesa e a classe trabalhadora são as classes fundamentais em um
As intervenções do Estado vão se organizar preocupadas com o sistema capitalista. A classe burguesa é a que tem a posição de dominação por ser a
proprietária e controladora de meios de produção, das matérias-primas e do capital
agravamento da questão social. financeiro. A classe trabalhadora detém a própria força de trabalho. Ambas disputam
o processo de hegemonia na vida social.

26 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O Estado se estabelece no campo da assistência para tentar Mesmo na forte presença dessas ideias, a mobilização e a
neutralizar os prejuízos da “questão social”. organização da classe trabalhadora foram cruciais para
gerar uma tensão quanto ao papel do Estado, no sentido de
A intervenção do Estado não ocorre inicialmente na assumir o dever de realizar ações sociais de forma planejada,
perspectiva do direito ou de resolver a “questão social” sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. Essa garantia
na sua origem. Isso não poderia ser o foco, pois o Estado de ação do Estado pode ser observada na Europa mais
busca estabilizar a ordem social em favor da nitidamente no final do século XIX.
classe dominante.
No Brasil, as práticas de assistência foram herança da caridade
Então, a intervenção do Estado sobre o “social” se desenvolve religiosa voltada à ajuda ao próximo, difundida pela Igreja
sobre algo que era considerado uma falha moral da família, Católica inicialmente. A história do Brasil é marcada pela invasão
assim como ocorria nas práticas da caridade e da filantropia. colonial exploratória e pela escravidão racializada. Nessa direção,
o capitalismo aqui se estruturou pela dependência dos países
Era preciso “reerguer” a família e também garantir a assistência europeus, associado ao sistema patriarcal e ao racismo estrutural
a partir de formas diversas de intervenções “sociais” que (BEHRING; BOSCHETTI, 2008; ORTEGAL, 2018).
tinham (e ainda têm) importante papel de neutralizar conflitos
entre a classe trabalhadora e a classe burguesa dominante.
Nessa direção,

As práticas visavam atenuar a miséria, porém, mais


ainda, o déficit moral das “classes inferiores” da
sociedade. Os problemas sociais eram causados pela
“falta de moral” nas famílias, que se tratava “de
irresponsabilidade, de preguiça, de devassidão que existe
em toda a miséria”. O “problema social” era “moralizado”
(CASTEL, 1998; DONZELOT, 1986).

Um funcionário a passeio com sua família, J.B. Debret, 1839.


Fonte: Tokdehistoria.

27 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Esses são aspectos importantes para entender
a “questão social” no Brasil e suas
particularidades históricas.

SAIBA MAIS
Para melhor compreensão sobre racismo
estrutural, sugerimos o vídeo “Interfaces do
Racismo: Racismo Estrutural”, elaborado por
iniciativa do Grupo de Trabalho de Políticas
Etnorraciais e produzido pela Assessoria de
Comunicação da Defensoria Pública da União,
disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=uIJGtLJmD8w.

Somente nos anos 1930, o Estado brasileiro


passou a se atentar e assumir alguma intervenção
sobre a questão social, que emergiu com o
processo de desenvolvimento do capitalismo e da
classe trabalhadora, associada à industrialização
e urbanização. O descontentamento dos
trabalhadores e a reclamação por participação
política através de sindicatos e organizações
profissionais foram fundamentais para um
primeiro movimento organizado do Estado de
proteger os trabalhadores.

28 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


“Neste período, são criados os Institutos de
Aposentadorias e Pensões (IAPs) na lógica
do seguro social e nesta década situamos a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
o Salário Mínimo, a valorização da saúde do
trabalhador e outras medidas de
cunho social.” (YAZBEK, 2008, p. 89).

Mas do que se trata essa “lógica do seguro social”


que se estabeleceu como primeira forma de
atuação do Estado? Segundo Teixeira (1985),
o seguro social é uma forma de organizar um
conjunto de benefícios e proteção à população
que tenha trabalho contratado assalariado.
Recebem benefícios os trabalhadores que fazem
contribuições, que são obrigatórias.
O financiamento é feito com base na
contribuição salarial e também com a
contribuição do Estado. Os IAPs eram
instituições de seguro social. Foi uma proposta
precursora da política de Previdência Social no
país, a primeira porta que se abre no campo da
política social do Estado brasileiro.

Foto: © [RHJPhotos] / Shutterstock.

29 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A assistência somente para os que pertencem ao mundo do nacional” (OLIVEIRA; ALVES, 2020, p. 18). Prestava auxílios
trabalho assalariado foi central no Brasil por muitas décadas. emergenciais e paliativos à miséria. Intervinha junto aos
Enquanto o trabalhador assalariado urbano dispunha de segmentos mais pobres da sociedade mobilizando a sociedade
alguma proteção social, os trabalhadores do campo e no civil e o trabalho feminino (YAZBEK, 2008).
mercado informal de trabalho ficavam desprotegidos por não se
enquadrarem nas categorias que eram autorizadas a pertencer A criação e a atividade da LBA, por muitos anos, mostram dois
ao seguro social. importantes elementos da condução de práticas assistenciais
incentivadas pelo Estado na época, confira a seguir.
“Para o trabalhador pobre, sem carteira assinada ou
desempregado restam as obras sociais e filantrópicas que
se mantêm responsáveis pela assistência e segregação dos Paternalismo Primeiro-damismo
mais pobres, com atendimento fragmentado por segmentos
populacionais atendidos.” (YAZBEK, 2008, p. 90).
A assistência aparece como uma
O Estado vai abertamente incentivar a caridade e a filantropia. Assistir aos mais pobres interessava ao
possibilidade de a mulher se inserir na vida
pública através da filantropia. A LBA contava
Em 1938, criou o Conselho Nacional de Serviço Social, já extinto, governo e ao líder governante, pois eles
com um corpo assistencial formado na
para regular essas práticas (FLEURY, 2005). apareciam como responsáveis diretos pelo
maioria por mulheres e era administrada,
bem-estar da maioria da população.
em cada cidade, pela primeira-dama
municipal. (OLIVEIRA; ALVES, 2020).
Em 1942, foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA).
Sua principal fundadora foi a primeira-dama do país na
época, Darcy Vargas. Primeiro tinha a função de atender
às famílias dos soldados brasileiros enviados para lutar
na Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, a LBA As práticas de assistência, dessa forma, não se
muda e expande seu campo de atuação para a assistência em constituíam como direito de cidadania. A proteção
diferentes áreas, como a maternidade e a infância. Em 1969, social pública era centrada no trabalhador formal e as
ela foi transformada em uma fundação. Caracterizou-se atividades de assistência eram campo da caridade
como “instituição mista que administrava fundos públicos e e da filantropia.
privados advindos de contribuições estatais e do empresariado

30 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Na década de 1970, pode-se indicar que havia atividades
assistenciais de origem do Estado, as quais eram realizadas por GESTÃO EFETIVA
vários setores: Ministério da Saúde, do Trabalho, da Previdência Atualmente, entre os princípios éticos para a oferta da
e da Educação. As iniciativas ficavam no “submundo do Estado” proteção no SUAS, está a recusa de práticas de caráter
de forma a abafar e a ocultar a própria demanda da população por clientelista, vexatório ou com intuito de benesse ou ajuda
assistência. Portanto, quando se admitia a assistência, (BRASIL, 2012a).
ela era atrelada e submetida à política de saúde,
de habitação, de educação, por exemplo. Falava-se de uma área
com nomes distintos: assistência geral, assistência comunitária, Em 1974, foi criado o primeiro órgão federal voltado à gestão
desenvolvimento social, assistência social, ação social. estatal direta da assistência: a Secretaria de Assistência Social.
Assim como não cabia um nome para essas ações, as pessoas
que buscavam atendimento recebiam o nome de “carentes”
ou “necessitados”. Não havia ainda o lugar de cidadão/cidadã
usuário/usuária de uma política social. Para além disso,
onde não havia direito nem cidadão, havia o lugar para receber o
favor. A assistência, não sendo um lugar de garantia de direitos,
era muitas vezes um lugar de favor prestado pelo governante ou
seu representante a um “carente” ou “necessitado”, ou seja,
um lugar de clientelismo (SPOSATI et al., 1985; BRASIL, 2013a).

O clientelismo é persistente nas relações sociais no Brasil.


É também importante falar de outro grande problema presente
no cotidiano dos serviços públicos: o assistencialismo.
Ele acontece quando ocorre o atendimento na perspectiva
do favor, mas vai além: o político, o gestor, representante ou Clientelismo
o servidor envolvido estimula o conformismo do cidadão ou “Clientelismo” é um fenômeno de intercâmbio entre grupos que manejam recursos.
da população que depende desse “favor” e são incentivados a Aqui nos referimos a recursos públicos, que não poderiam ser administrados a
partir de interesses individuais ou de grupos. Ele é operacionalizado por pessoas
manter essa dependência (BAROZET, 2006).
que pertencem a redes formais e duradouras (como partidos políticos) ou informais
(relações de pessoas conhecidas) (BAROZET, 2006).

31 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


PODCAST Esse era o cenário da assistência social na década de 1980.
A Secretaria de Assistência Social surgiu durante a ditadura Acrescente-se que os gastos eram diluídos, e não havia
militar e ficou subordinada ao Ministério da Previdência e continuidade nos investimentos públicos. Conforme
Assistência Social. Essa secretaria não tinha uma operação emergiam pressões públicas, os recursos e as ações eram
efetiva. A LBA acabava recebendo a maior parte dos recursos deslocadas. As fontes de financiamento e custeio eram
para as ações sociais do governo federal. O Estado subsidiava centralizadas em nível federal. Os municípios e estados
as práticas, mas não se podia falar que assumia um dever disputavam as verbas conforme tinham mais “acesso” político
de proteção social. Havia uma multiplicidade de programas, e competências tecnoburocráticas (SPOSATI et al., 1985).
órgãos e entidades envolvidas que utilizavam formas
distintas de prestar atendimento. A ação estatal se diluía
em diversas áreas dos governos e entre diversas entidades Na década de 1980, o Brasil entra no chamado movimento de
(BRASIL, 2013a; SPOSATI et al., 1985). redemocratização. Nessa década, os movimentos sociais se
organizaram com pautas importantes sobre o acesso a direitos
As ações eram fragmentadas, não havia uma proposta mínimos e básicos dos indivíduos e grupos enquanto cidadãos.
integrada de ações entre os entes do governo. A população Criou-se um campo de pressão direta da população sobre os
era totalmente excluída das decisões dos órgãos. Resultado governantes para encaminhar reivindicações.
disso é que a assistência ficava focada em soluções paliativas A demanda de assistência crescia e havia pressão popular
e emergenciais. Além disso, as atribuições e competências para que o atendimento fosse garantido. A proposta de uma
dos municípios e Estados não eram definidas. Era comum que política nacional de assistência já vinha sendo debatida.
serviços semelhantes fossem prestados por diferentes órgãos, Foram importantes no processo de reivindicação da política
com nomes diversos. Os recursos eram destinados a ações de assistência social: a Frente Social dos Estados e Municípios,
parecidas e, dessa forma, também mal aproveitados. a Associação Nacional dos Empregados da Legião Brasileira
de Assistência, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS),
os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), sindicatos,
organizações não governamentais (ONGs) e outros. De modo
geral, a desigualdade de renda e a pobreza aparecem como
temas importantes na sociedade (GOHN, 2003; SPOSATI et al,
1985; SANTOS, 2015).

32 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O grande desafio dessas leis é dar organicidade ao
SAIBA MAIS funcionamento do sistema, garantir o cumprimento dos
Sobre o processo de redemocratização, o vídeo elaborado seus objetivos e efetivar o acesso da população aos serviços,
pelo canal Fãs da Mente pode ser elucidativo, disponível em: programas, projetos e benefícios socioassistenciais de qualidade
https://youtu.be/Yoc-tUymaBA. em todo o território nacional.

1.3.1 Constituição Federal do Brasil


A trajetória dos movimentos sociais esteve inteiramente A Constituição Federal, publicada em 1988, foi um marco
orientada para inscrever novos direitos na ordem legal e no estabelecimento de um sistema de proteção social aos
influenciar a elaboração e regulamentação de uma nova brasileiros. Ela definiu o dever do Estado na função de
ordem constitucional. E no movimento de elaborar uma nova planejamento de políticas sociais (art. 193). Estabeleceu um
Constituição, um novo regimento de direitos para o Brasil, campo de atuação para o Estado chamado “Seguridade Social”.
muitas mudanças ocorreram. Foi assim na saúde, com o Estado
se comprometendo com um sistema de saúde de acesso universal; “A palavra seguridade designa, no Brasil, um sistema de proteção
e foi assim com a assistência social, embora ainda não indicando social composto por ações do poder público, da sociedade e pelo
um sistema único, mas reconhecendo-a pela primeira vez com aparato legal-normativo que pretendem assegurar direitos de
um direito social no Brasil. A Constituição Federal brasileira, cidadania aos indivíduos.” (CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 7).
publicada em 1988, é conhecida como a “Constituição cidadã”.
Foi um marco para estabelecer um sistema de proteção social aos Mais especificamente, a Seguridade Social “[...] compreende um
brasileiros abrangendo o direito à assistência social, à saúde e à conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e
previdência social (GOHN, 2003; PAOLI; TELLES, 2000). da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde,
à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988, p. 117). Essas
1.3 A consolidação atual da política de assistência três políticas formam o chamado “tripé da Seguridade Social”.
social brasileira: bases legais A Constituição vai dedicar seções específicas para
O SUAS é um sistema que foi se consolidando a partir de cada uma das políticas.
uma política social que depende de instrumentos legais para
sua existência e para seu aprimoramento. Nesse momento,
serão apresentadas as principais referências legais do
SUAS, algumas das suas contribuições para efetivação e
aprimoramento desse sistema.

33 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Tripé da Seguridade Social Descentralização político-administrativa

Saúde estados
(secretários/as estaduais)

União municípios
(ministro/a da saúde) (secretários/as municipais)

Previdência Assistência social

SUAS
Considerando a definição da Seguridade Social, a consolidação
do SUAS é uma forma de concretizar uma “vontade” expressa
na Constituição sobre a assistência social. A Constituição
explicita que a assistência social é direito do cidadão, prestada
a quem dela necessite, com financiamento e participação de Nessa direção é que, depois de 1988, foram publicadas leis,
toda a sociedade, sob coordenação estatal e descentralização políticas, normas e portarias importantes para a assistência
político-administrativa. Quando falamos de descentralização, social que aprimoram o conteúdo do texto da Constituição.
a autoridade sobre o sistema não é só do governo federal, mas, Estão em vigência hoje normativas importantes sob a forma de
sim, compartilhada: na União, pelo/a ministro/a da Saúde; nos resoluções e portarias que resultam, entre outras, na:
estados, pelos/as secretários/as estaduais; e, nos municípios,
pelos/as secretários/as.
■ Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)
■ Política Nacional de Assistência Social (PNAS)
■ Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS)
■ Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais

34 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A política de assistência social precisa incorporar novos Mesmo nesse contexto, a LOAS e a Constituição Federal
elementos à medida que vai efetivando os serviços, programas, inovaram em:
projetos e benefícios. Por isso, essas legislações passam
por adequações. Alterações nas leis também podem estar
Tornar a assistência social um direito social e um dever de Estado para
relacionadas a pressões de grupos interessados, a pressões

1
com os cidadãos. Essa é a primazia da responsabilidade do Estado na
populares, à realidade social do país, à capacidade de condução da política de assistência social em cada esfera de governo.
investimento, à vontade ou não de impulsionar a política social Vai exigir o atendimento de normas, gestão orientada, planejamento
e participação da sociedade nas decisões, deixando de ser “aquilo que
nessa área. Nessa mesma lógica, a Constituição também foi
o governante quer que seja”.
alterada em 2003 e 2021 no que se refere aos objetivos e diretrizes
da assistência social.

2
Reforçar as diretrizes de descentralização político-administrativa para
os estados, o Distrito Federal e os municípios. Descentralização
1.3.2 Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) significa que a assistência social deve ser operacionalizada com
As novas leis publicadas depois da Constituição vão responsabilidades combinadas e compartilhadas entre todos os entes
aprimorando e dando sentido material ao direito nela inscrito. da federação: União, estados e municípios.
Em 1993, foi publicada a Lei Orgânica de Assistência Social. Essa

3
Lei foi alterada em 2011 no intuito de integrar o SUAS à LOAS Garantir a participação da população: em espaços organizados, a
pela aprovação da Lei nº 12.435/2011. população participa das decisões e partilha o poder de arbitrar sobre a
política conforme critérios pactuados, em determinados espaços, e nas
distintas esferas (local/municipal, estadual e federal).
A primeira versão da LOAS (1993) demorou a ser publicada
porque a Constituição estava na contramão de uma tendência
Instituir o Benefício de Prestação Continuada, o BPC, que é a

4
internacional sobre o papel do Estado no campo do social, garantia de renda com pagamento mensal de um salário mínimo às
que era justamente o de reduzir funções, embora a pobreza pessoas com deficiência e às pessoas idosas com mais de 65 anos
e a desigualdade social demandassem o contrário. Foi um que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção
nem de tê-la provida por sua família. Por isso, é muito comum que o
movimento intenso em defesa do “enxugamento da BPC seja popularmente conhecido como o “benefício da LOAS”.
máquina estatal”.

A LOAS regulamenta a política pública de assistência


social prevista na Constituição e estabelece normas e
critérios para organização da assistência social no Brasil.

35 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Em 2011, com o SUAS integrando plenamente a finalidade da Em 2003 o SUAS finalmente começa a se materializar, na 4ª
LOAS, passam a compor os objetivos da assistência social: Conferência Nacional de Assistência Social (importante espaço
de participação social na política de assistência social, como
será abordado na Unidade 2). Na Conferência, ficou decidido
A proteção social: que o governo se responsabilizaria por uma agenda política para
que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da
incidência de riscos. a implantação do SUAS. A partir daí houve um processo intenso
de discussão em todos os estados, por meio de encontros,
seminários, reuniões, oficinas e palestras sobre a Política
A vigilância socioassistencial: Nacional de Assistência Social, que em 2004 foi aprovada
que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e e publicada.
nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos
e a defesa de direitos.
A PNAS estabelece as bases organizacionais do SUAS.

Portanto, conforme a PNAS/2004 (BRASIL, 2005a) são eixos


A defesa de direitos:
que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das estruturantes da política de assistência social:
provisões socioassistenciais.
■ Matricialidade sociofamiliar: significa que o SUAS se
propõe a ampliar o universo de abordagem da assistência
social para as famílias. As famílias são consideradas espaços
1.3.3 A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) privilegiados de proteção, mas que precisam também ser
Em 1998 foi aprovada a primeira Política Nacional de cuidadas
Assistência Social. Ela foi pouco efetiva. Na época, havia uma e protegidas.
espécie de concorrente: o Programa Comunidade Solidária, ■ Descentralização político-administrativa e
que iniciou em 1995 e encerrou em 2002. Analisa-se que ele, territorialização: a PNAS reitera que as três esferas de
de certa forma, contrariava o que se previa para a assistência governo devem desenvolver a política na área da assistência
social na Constituição e na LOAS, já que priorizava formas de social. Além disso, indica que a operacionalização do
solidariedade social nas funções centrais da atenção à pobreza no SUAS será na perspectiva de rede de serviços com base nos
país. A ação do Estado na assistência social naquela época ainda territórios onde vive a população.
era considerada “tímida” (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2014).

36 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


■ Novas bases para a relação entre Estado e sociedade civil: da gestão do SUAS. A proposta é incentivar a produção de
a PNAS reforça o papel central do Estado na condução da informações e conhecimento para a realização do controle
política. Por outro lado, como já observado na seção 1.1, social e para melhorias e avanços da política de assistência
reconhece a importância da participação da sociedade civil, social para a população usuária.
primeiro como parceira na oferta de serviços, programas,
projetos e benefícios de assistência social; segundo, pela 1.3.4 Norma Operacional Básica (NOB/SUAS)
atuação nos espaços de controle social. A Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) é instrumento
■ Financiamento: a PNAS estabelece a previsão de fontes de legal para definir questões a respeito da operacionalização
financiamento, a forma de repasses para os entes envolvidos da gestão da política de assistência social. As primeiras NOBs
e para a rede organizada. foram publicadas em 1997 e 1998. Constituem instrumentos
■ Controle social: prevê que os espaços privilegiados para de regulação dos conteúdos e definições presentes na Política
efetivar o controle social sobre a política de assistência social Nacional de Assistência Social (PNAS).
são os conselhos e as conferências. Esse tema será abordado
na Unidade 2. A NOB/SUAS disciplina a operacionalização da gestão da
■ O desafio da participação popular/cidadão usuário: política de assistência social, sob a égide de construção do
os conselhos e as conferências garantem a participação da SUAS, entre outros assuntos.
população usuária do SUAS por meio de representantes.
A PNAS prevê o estabelecimento de estratégias para Em 2005, foi publicada a primeira NOB no contexto do SUAS.
incentivar a participação da categoria dos usuários. Juntas, a PNAS e a NOB 2005 foram as que mais impactaram nos
■ Política de recursos humanos: a PNAS expõe a preocupação rumos da política de assistência social no Brasil. Estabeleceram
com as novas atribuições dos gestores e o surgimento de o novo modelo de organização da gestão e oferta de serviços,
novas “ocupações/funções” devido a implementação do programas, projetos e benefícios socioassistenciais.
SUAS (educadores, monitores, cuidadores, entre outros).
Nesse contexto, aponta também a necessidade de alterações A NOB 2005 foi substituída pela NOB publicada em 2012.
no processo de trabalho dos trabalhadores e uma política Com a NOB 2005, introduziu-se o repasse financeiro que
de recursos humanos. Por último, trata do estabelecimento zelou pela garantia da oferta permanente de serviços
de uma Norma Operacional Básica (NOB) para a área de socioassistenciais nos municípios. A NOB 2012 substituiu
Recursos Humanos no SUAS. a NOB 2005 por necessidade de aprimoramento de alguns
■ A informação, o monitoramento e a avaliação: a criação de elementos de gestão do SUAS, principalmente:
sistemas de informação é estabelecida como área estratégica

37 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


“novas estratégias de financiamento e gestão,consubstanciadas o serviço funcionar) em termos de ambiente físico, recursos
na instituição dos blocos definanciamento, na pactuação de materiais, recursos humanos e trabalho social essencial,
prioridades e metas, valorização da informação, do monitoramento condições e formas de acesso (que usuários recebe e qual a forma
edo planejamento como ferramentas de gestão e nainstituição de de encaminhamento), período de funcionamento, entre outros.
um novo regime de colaboração entre osentes, por meio do apoio
técnico e financeiro, orientado porprioridades e para o alcance das A Tipificação facilita o diálogo entre todos os envolvidos na
metas de aprimoramento do sistema.” (BRASIL, 2012a). operacionalização dos serviços. Esse tema será retomado na
Unidade 2.
1.3.5 Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais
Em 2009 foi publicado o documento intitulado “Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais”. A 6ª Conferência
Nacional de Assistência Social, realizada em 2007, havia
deliberado sobre a necessidade de criar um padrão de
identificação dos serviços do SUAS. Assim é que se definiu pela
elaboração da Tipificação Nacional, que foi publicada a partir
de uma Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social
(Resolução nº 109/2009).

Na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais,


busca-se responder o que são, para quem são, o que fazem
e para que nível de alcance estão disponíveis os serviços
socioassistenciais do SUAS.

Os serviços socioassistenciais do SUAS são apresentados um a


um, divididos entre os que são considerados de Proteção Social
Básica e de Proteção Social Especial (os níveis de atenção dos
serviços). Na Tipificação é possível identificar de cada serviço:
nome do serviço, sua descrição (o que oferece), usuários (ou a
quem se destina), seus objetivos, provisões (o que precisa para

38 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O Sistema Único de
UNIDADE 2 Assistência Social
A Unidade 2, que se inicia, traz informações gerais sobre o em instrumento técnico, político e administrativo essencial à
SUAS, seus princípios, objetivos, seguranças afiançadas e garantia do direito e acesso à assistência social pela população,
principais diretrizes que fundamentam esse sistema complexo, preconizados pela primeira vez na Constituição Brasileira de 1988,
parte da proteção social brasileira. Além disso, a partir da no capítulo da ordem social, integrando o tripé da Seguridade
Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, expõe Social brasileira.”
a concepção das proteções sociais: Proteção Social Básica e
Proteção Social Especial (média e alta complexidade), seus O SUAS compreende um conjunto de ações, serviços, programas
serviços e equipamentos. e benefícios que buscam garantir a proteção social aos cidadãos,
Por fim, apresenta os benefícios socioassistenciais e os apoiando indivíduos, famílias e comunidades no enfrentamento
programas de transferência de renda que compõem o SUAS. de suas vulnerabilidades. Nesse sentido, o SUAS busca
fortalecer os diferentes sujeitos sociais no desenvolvimento da
Vamos, então, conhecer o Sistema Único de Assistência Social autonomia para uma vida mais integral. Os serviços ofertados
do Brasil, o SUAS. por essa rede de proteção social contribuem na prevenção das
violações de direitos, bem como na proteção daqueles que estão
O que é o SUAS? sob ameaça ou já tiveram seus direitos violados.
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), instituído a partir
da Lei Orgânica de Assistência Social (1993/2011) e da Política
Nacional de Assistência Social (2004), é fruto do movimento
democrático e da garantia de direitos presentes na Constituição
Federal de 1988. De acordo com Lopes (2016, p. 271), o SUAS é:

“[...] o Sistema Público estatal brasileiro que regula, organiza,


estrutura, planeja, coordena e executa a oferta dos serviços
socioassistenciais em todo o território nacional, sob a
responsabilidade de todos os entes federativos: União, Distrito
Federal, Estados e Municípios. O SUAS concretiza e põe em ação
a Política Nacional de Assistência Social; portanto, constitui-se

40 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


E por que um sistema? processo de desenvolvimento. Todo sistema deve responder
De acordo com Ferreira (1986, apud LOPES, 2016, p. 272): às necessidades e às demandas da realidade, dos indivíduos e
das instituições de seu território. Todo sistema está envolto em
“Sistema é conceituado como aquilo que permanece junto ou, contextos históricos, políticos, econômicos e sociais que devem
ainda, a combinação de partes reunidas, para concorrerem a ser considerados, bem como as diversidades, especificidades,
um resultado, ou de modo a formarem um conjunto. E, ainda, cultura e características do território. Assim, Lopes (2016,
o conjunto de meios e processos empregados para alcançar p. 272) nos auxilia a compreender que um sistema único não
determinado fim; conjunto de métodos ou processos didáticos.” significa ser uniforme. Um sistema busca “assegurar a unidade,
perenidade, qualidade nos serviços prestados, construindo uma
Há, portanto, de acordo com o olhar de Lopes (2016), elementos identidade comum e orgânica, com reconhecimento social”.
constitutivos de qualquer sistema, que orientam e dão
consistência às suas finalidades, não sendo diferente com o
SUAS. Dentre tais elementos, destacam-se: GESTÃO EFETIVA
O SUAS se constitui na regulação e organização das ações
■ Articulação socioassistenciais em todo o território nacional. Sua gestão
■ Unidade segue um modelo de gestão descentralizado e participativo,
■ Regras ou seja, a gestão é compartilhada entre a União, os estados e
■ Fluxos os municípios e cofinanciada por essas três esferas de governo.
■ Procedimentos comuns Prevê a participação e a mobilização da sociedade civil, que
■ Hierarquia também atua para sua a implantação e efetivação da política de
■ Continuidade assistência social brasileira (BRASIL, 2005a).
■ Base conceitual e legal
■ Objetivos
■ Metodologias O SUAS estabelece um novo modelo de estruturação, com enfoque
■ Processos relacionais e interinstitucionais na proteção social e organizado por níveis de complexidade:
a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, de média e
Os elementos apresentados como parte de qualquer sistema, alta complexidade (BRASIL, 2013a). Para sua efetivação, o SUAS
seja ele mais ou menos complexo, de âmbito regional ou federal, define e organiza os elementos essenciais e os eixos estruturantes
público ou privado, são imprescindíveis/indispensáveis no seu para a execução da política de assistência social, conforme
descritos na PNAS 2004 e apresentados na seção 1.3.

41 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel Universalidade:
todos têm direito à proteção socioassistencial, prestada a quem dela necessitar, com
(smartphone ou tablet) para o QR Code ao respeito à dignidade e à autonomia do cidadão, sem discriminação de qualquer espécie ou
lado para assistir ao vídeo de animação que comprovação vexatória da sua condição.
trata da introdução ao SUAS ou acesse o link:
https://youtu.be/iN6bJhwdF5Q.
Gratuidade:
a assistência social deve ser prestada sem exigência de contribuição ou contrapartida, observado
o que dispõe o art. 35, da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 - Estatuto do Idoso.

SAIBA MAIS
Assista o vídeo que trata da PNAS e do Integralidade da proteção social:
SUAS para conhecer um pouco mais oferta das provisões em sua completude, por meio de conjunto articulado de serviços,
sobre esse sistema de proteção social. programas, projetos e benefícios socioassistenciais.
Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=WtxrxLHWsyg.
Intersetorialidade:
integração e articulação da rede socioassistencial com as demais políticas e órgãos setoriais.

Na sequência, serão apresentados os princípios,


os objetivos e as principais diretrizes que
fundamentam o SUAS como parte da proteção
Equidade:
social brasileira. respeito às diversidades regionais, culturais, socioeconômicas, políticas e territoriais,
priorizando aqueles que estiverem em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social.
2.1 Princípios
De acordo com a NOB/SUAS (BRASIL, 2012a),
os princípios organizativos do SUAS ajudam a
compreender a complexidade de um sistema que
pretende ser referência na prestação de serviços
no campo da proteção social. Conheça um pouco
mais sobre os princípios do SUAS a partir do
artigo 3 da NOB/SUAS, que segue:

42 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.2 Objetivos 2.3 Principais diretrizes do SUAS
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), instituída pela O SUAS possui diversas diretrizes. Apresentaremos neste tópico
nº Lei 8.724/1993 (alterada pela Lei nº 12.435/2011) descreve os as principais: a primazia da responsabilidade do Estado na
seguintes objetivos do SUAS: condução da política de assistência social; a descentralização
político-administrativa e a territorialização; a matricialidade
“I - consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e sociofamiliar, que institui a centralidade na família para
a cooperação técnica entre os entes federativos que, de modo concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas
articulado, operam a proteção social não contributiva; e projetos; e controle social e participação popular.

II - integrar a rede pública e privada de serviços, programas, 2.3.1 Primazia da responsabilidade do Estado na condução da
projetos e benefícios de assistência social, na forma do art. 6º -C; política de assistência social
A política de assistência social brasileira, conforme
III - estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na apresentado na Unidade 1 deste curso, é de responsabilidade do
organização, regulação, manutenção e expansão Estado. Como parte da Seguridade Social brasileira, constitui-
das ações de assistência social; se como política pública, na qual o Estado é o primeiro
responsável por sua operacionalização e financiamento. Isto
IV - definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades está posto no artigo 5º da LOAS, a qual reafirma a primazia
regionais e municipais; da responsabilidade do Estado na condução da política de
assistência social em cada esfera de governo.
V - implementar a gestão do trabalho e a educação permanente
na assistência social;

VI - estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; e

VII - afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos.”

Primazia
Significa dar preferência, primar, dar prioridade.

43 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Essa primazia instaura um novo momento da política social A política de assistência social é de responsabilidade de todos os
no âmbito dos direitos, que enfrenta a histórica relação que a entes da Federação. O art. 11 da LOAS reforça, ainda, que as ações
assistência social possui com a caridade e a filantropia. das três esferas de governo na área da assistência social devem
Neste sentido, ressignifica a relação com as organizações da ser realizadas de forma articulada, cabendo a coordenação e as
sociedade civil numa perspectiva de parceria em detrimento das normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos
ações de substituição do Estado, caracterizadas historicamente programas, em suas respectivas esferas, aos estados, ao Distrito
na área (ROCHA, 2016). Federal e aos municípios. Dessa forma, cabe a cada esfera de
governo, em seu âmbito de atuação (BRASIL, 2005a):
O fato de o Estado ser condutor da política de assistência social
não significa dizer que outras instituições não poderão prestar formular avaliar
serviços para a garantia do cumprimento dos objetivos do SUAS.
No entanto, o Estado necessita manter sua responsabilidade cofinanciar coordenar
pela operacionalização e financiamento da política de
assistência social, sendo esta uma função eminentemente
monitorar capacitar
pública, que institui o caráter estatal da Seguridade Social
brasileira, bem como o acesso não contributivo às ações e
benefícios da política de assistência social.
sistematizar

2.3.2 Descentralização político-administrativa e territorialização


O art. 6º da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) afirma GESTÃO EFETIVA
que as ações na área devem ser organizadas em um sistema Os entes responsáveis pela operacionalização da rede de
descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e proteção socioassistencial do SUAS devem atuar mediados
organizações de assistência social, articulando meios, esforços pelos conselhos paritários, por uma efetiva gestão do
e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas, Fundo de Assistência Social e pelo Plano de Assistência
compostas pelos diversos setores envolvidos na área. Nesse Social. Portanto, conselho, plano e fundo são os elementos
sentido, a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios fundamentais de gestão da política pública de assistência social.
deverão fixar suas respectivas políticas de assistência social a
partir de suas responsabilidades, bem como das diretrizes e
princípios estabelecidos na LOAS.

44 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os conselhos paritários serão apresentados na seção 2.3.4, Já sobre o Fundo de Assistência Social:
a partir da discussão sobre o controle social e participação
popular no SUAS. Na sequência, vamos conhecer o que são os A NOB/SUAS 2012, no seu artigo 49, estabelece que os
planos e o fundo de assistência social. fundos de assistência social são instrumentos de gestão
orçamentária e financeira da União, dos estados,
A respeito do Plano de Assistência Social: do Distrito Federal e dos municípios, nos quais devem
ser alocadas as receitas e executadas as despesas relativas
Os Planos de Assistência Social são instrumentos ao conjunto de ações, serviços, programas, projetos e
estratégicos para a descentralização democrática benefícios de assistência social.
da assistência social. São elaborados a cada quatro
anos. Os planos são elaborados com o envolvimento A descentralização político-administrativa visa fortalecer o
das organizações da sociedade civil, privilegiando a caráter nacional e universal da política de assistência social. Torna
participação das organizações populares e associações acessíveis as ações propostas em todo o território brasileiro. Para
coletivas de usuários, tradicionalmente excluídas desenvolver a diretriz de descentralização político-administrativa,
de representação nas decisões. A elaboração dos a Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004 (BRASIL,
planos (municipais, estaduais, distrital e federal) é 2005b) sugere uma forma de caracterizar os grupos territoriais
responsabilidade comum dos entes federados, conforme brasileiros a partir da utilização de referências do Instituto
disposto na NOB-SUAS/2012. É um instrumento de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divide os
planejamento fundamental nas mediações entre governos municípios brasileiros em pequeno, médio e grande porte:
e sociedade. Depois da elaboração, os planos seguem para
a fase de implementação. Passam por acompanhamento e
monitoramento de gestores e dos conselhos (BRASIL, 2021a).

45 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Divisão dos municípios brasileiros
■ Municípios de pequeno porte 1: entende-se
por município de pequeno porte 1 aquele
cuja população chega a 20.000 habitantes
(até 5.000 famílias em média).
■ Municípios de pequeno porte 2: municípios
com população que varia de 20.001 a 50.000
habitantes (cerca de 5.000 a 10.000 famílias
em média).
■ Municípios de médio porte: aqueles cuja
população está entre 50.001 e 100.000
habitantes (cerca de 10.000 a 25.000 famílias).
■ Municípios de grande porte: municípios
cuja população é de 101.000 habitantes
até 900.000 habitantes (cerca de 25.000 a
250.000 famílias).
■ Metrópoles: são considerados metrópoles os
municípios com mais de 900.000 habitantes
(atingindo uma média superior
a 250.000 famílias cada).

Essa classificação tem o propósito de servir


de base para a instituição do SUAS em cada
município. Assim, as ações e os serviços são
implantados de acordo com o porte de cada
município. Além desse aspecto, devem ser
considerados a realidade local/regional,
Legenda: Pequeno Porte 1 Grande Porte 2
a capacidade gerencial e de arrecadação
Pequeno Porte 2 UF
dos municípios, e o aprimoramento dos
Médio Porte Países América do Sul instrumentos de gestão (BRASIL, 2005a).
Grande Porte 1 Fonte: IBGE (2015).

46 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


De acordo com a NOB (2012), a lógica territorial sob a qual se
estrutura o SUAS tem por embasamento a descentralização
político-administrativa. Essa lógica orienta a transferência
dos recursos para o financiamento da política, de acordo com o
nível de gestão municipal (inicial, básica e plena). A distribuição
dos recursos públicos também leva em consideração os
índices de vulnerabilidade e risco, avaliados a partir de dados
sociodemográficos, dentre eles: população, renda per capita,
mortalidade infantil e concentração de renda. Outro aspecto
que interfere no cofinanciamento e repasse dos recursos entre
as esferas é a disponibilidade de serviços, programas, projetos e
benefícios existentes no território (SANTOS, 2016, p. 79).

No processo de descentralização, conforme com o art. 17


da NOB/SUAS (2012a), foram definidas como
responsabilidades dos municípios:

“I - destinar recursos financeiros para custeio dos benefícios


eventuais de que trata o art. 22, da LOAS, mediante critérios
estabelecidos pelos Conselhos Municipais de
Assistência Social - CMAS;

II - efetuar o pagamento do auxílio-natalidade e o auxílio-funeral;

III - executar os projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo


a parceria com organizações da sociedade civil;

IV - atender às ações socioassistenciais de caráter de emergência;

Fonte: © [rafapress] / Shutterstock.

47 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


V - prestar os serviços socioassistenciais de que trata os serviços de referência regional, definindo as competências na
o art. 23, da LOAS; gestão e no cofinanciamento, a serem pactuadas na CIB;

VI - cofinanciar o aprimoramento da gestão e dos serviços, XIV - realizar a gestão local do BPC, garantindo aos seus
programas e projetos de assistência social, em âmbito local; beneficiários e famílias o acesso aos serviços, programas e
projetos da rede socioassistencial;
VII - realizar o monitoramento e a avaliação da política de
assistência social em seu âmbito; XV - gerir, no âmbito municipal, o Cadastro Único e o Programa
Bolsa Família, nos termos do §1º do art. 8° da Lei nº 10.836 de 2004
VIII - aprimorar os equipamentos e serviços socioassistenciais, [extinto pela Lei nº 14.284, de 29 de dezembro de 2021, que institui
observando os indicadores de monitoramento o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil];
e avaliação pactuados;
XVI - elaborar e cumprir o plano de providências, no caso de
IX - organizar a oferta de serviços de forma territorializada, pendências e irregularidades do Município junto ao SUAS,
em áreas de maior vulnerabilidade e risco, de acordo com o aprovado pelo CMAS e pactuado na CIB;
diagnóstico socioterritorial;
XVII - prestar informações que subsidiem o acompanhamento
X - organizar, coordenar, articular, acompanhar e monitorar a estadual e federal da gestão municipal;
rede de serviços da Proteção Social Básica e Especial;
XVIII - zelar pela execução direta ou indireta dos recursos
XI - alimentar o Censo SUAS; transferidos pela União e pelos Estados aos Municípios, inclusive
no que tange a prestação de contas;
XII - assumir as atribuições, no que lhe couber, no processo de
municipalização dos serviços de Proteção Social Básica; XIX - proceder o preenchimento do sistema de cadastro de
entidades e organizações de assistência social de que trata o inciso
XIII - participar dos mecanismos formais de cooperação XI do art. 19 da LOAS;
intergovernamental que viabilizem técnica e financeiramente

48 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


do real, a política de assistência social brasileira torna visíveis
XX - viabilizar estratégias e mecanismos de organização para aqueles setores da sociedade brasileira tradicionalmente tidos
aferir o pertencimento à rede socioassistencial, em âmbito local, como invisíveis ou excluídos das estatísticas – população em
de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais situação de rua, adolescentes em conflito com a lei, indígenas,
ofertados pelas entidades e organizações de acordo com as quilombolas, idosos, pessoas com deficiência.
normativas federais.

XXI - normatizar, em âmbito local, o financiamento integral dos


serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social
ofertados pelas entidades vinculadas ao SUAS, conforme §3º do
art. 6º B da LOAS e sua regulamentação em âmbito federal.”

SAIBA MAIS
Para conhecer as responsabilidades dos demais entes
na gestão do SUAS (União, estados e Distrito Federal),
acesse a NOB/SUAS (2012), disponível em: https://www.
mds.gov.br/webarquivos/public/NOBSUAS_2012.
pdf?msclkid=f43f2c35b55511ec9e54dcba9a53a73d.

Uma direção estratégica da política de assistência social para o


SUAS é pensar na sua operacionalização a partir dos territórios.
Os territórios são a esfera local, onde vivem as pessoas. Isso Fonte: © [Markus Mainka] / Shutterstock.
tem exigido dos gestores cada vez mais um reconhecimento da
dinâmica do cotidiano das populações. De acordo com a PNAS
(2004), ao agir nos territórios e se confrontar com a dinâmica

49 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Yazbek (2004, p. 16) afirma que a descentralização vem marcado pela subjetividade humana, pelas relações afetivas,
contribuindo para: relações de pertencimento. De acordo com Sacardo e Gonçalves
(2007), o território deve ser apreendido em uma noção
“[...] o reconhecimento das particularidades e interesses próprios do dinâmica, fluida, viva, pulsante e mutante.
município, possibilitando-lhe uma ação fiscalizatória mais efetiva,
permite maior racionalidade nas ações, economia de recursos e
maior possibilidade de ação intersetorial e interinstitucional.” GESTÃO EFETIVA
Conhecer detalhadamente o território onde a equipe atua é
Os territórios podem ser compreendidos em suas várias condição essencial para o planejamento de estratégias, bem
dimensões, tais como: território físico, sendo o espaço como a implementação e implantação de ações e políticas
geográfico, visível e delimitado; território como espaço- públicas nas diferentes áreas, incluindo a assistência social.
processo, dinâmico e construído socialmente; território Portanto, é fundamental conhecer o local, quem habita o
existencial, relacionado às diversas relações presentes nos território, reconhecer as relações afetivas, as trocas, as tensões,
diferentes contextos, bem como por meio das conexões as necessidades, enfim, o emaranhado de informações que
produzidas pelos indivíduos e grupos (BRASIL, 2012a). Essa compõem os territórios, espaço de atuação do SUAS.
concepção dialoga com o conceito de território abordado por
Santos (2011, p. 46):
2.3.3 Centralidade na família para concepção e
“O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, implementação dos benefícios, serviços, programas e
o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. projetos: a matricialidade sociofamiliar
O território é a base do trabalho, da residência, das trocas A família tem centralidade na política de assistência social.
materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando Isso ocorre por se reconhecer as fortes pressões que os
se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que se está processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias
falando em território usado, utilizado por uma dada população.” brasileiras, acentuando suas fragilidades e contradições.
A família é também reconhecida como espaço privilegiado
Apoiando-se no entendimento de Santos sobre território, e insubstituível de proteção e socialização primárias,
podemos apreender que os diferentes atores da política de provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa
assistência social necessitam incorporar esse amplo conceito também ser cuidada e protegida (BRASIL, 2005a).
para entender os territórios para além de um limite geográfico
ou uma área física delimitada. Trata-se de um espaço habitado,

50 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Essa percepção está em harmonia com
a tradução da família na condição de
sujeito de direitos, conforme estabelece a
Constituição Federal de 1988, o Estatuto da
Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de
Assistência Social e o Estatuto do Idoso.

Para pensar a matricialidade sociofamiliar, é


importante retomarmos o conceito de família
apresentado na Unidade 1 deste módulo.
Já vimos, então, que a família é entendida
como núcleo central das ações e serviços
da política de assistência social e deve ser
entendida de forma complexa, considerando
seus diversos formatos e arranjos. Mioto
(2004) reforça que o grupo considerado
família expressa um certo empenho entre os
seus membros para a manutenção e defesa
de suas futuras gerações; portanto, há entre
seus membros organização e relações mútuas.

51 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O trabalho social no SUAS é direcionado para
fortalecer a família como espaço de proteção e
referência para os serviços sociais no sentido de
superação da ação fragmentada. A assistência
social prioriza a atenção às famílias e a seus
membros a partir do seu território, especialmente
daqueles com registros de fragilidades,
vulnerabilidades e violações de direitos.

A atenção às famílias tem por perspectiva


fazer avançar o caráter preventivo da proteção
social, de modo a fortalecer vínculos sociais
de pertencimento entre seus membros para a
concretização de direitos humanos e sociais
(BRASIL, 2021a).

A concepção de matricialidade sociofamiliar não


implica imputar à família a responsabilidade
total pela proteção de seus membros.
Pelo contrário, a família deve receber condições
de exercer a sua capacidade protetiva, o que
reforça a responsabilidade do Estado no papel de
zelar pela proteção social com vistas à superação
de vulnerabilidades que ameaçam as famílias
(BRASIL, 2021a).

Foto: © [REDPIXEL.PL] / Shutterstock.

52 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Ainda, conforme a PNAS 2004, a centralidade da
família é garantida à medida que a assistência
social, com base em indicadores das necessidades
familiares e considerando as diferentes
realidades, se desenvolve como uma política de
cunho universalista. Isso significa dizer que ela
deve alcançar a todos que dela necessitarem,
e que as transferências de renda caminhem junto
com o trabalho das redes socioassistenciais,
cuidando e valorizando a convivência familiar e
comunitária (BRASIL, 2005a).

Foto: © [photobyphotoboy] / Shutterstock.

53 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Nesse sentido, de acordo com a PNAS/2004, para a proteção A afirmação da matricialidade sociofamiliar na assistência
social de assistência social, o princípio de matricialidade social pode contribuir para a ampliação dos direitos. Pode-se
sociofamiliar significa que: caminhar no sentido da construção da assistência social como
uma política “para as famílias”, nos termos apresentados por
■ “ a família é o núcleo social básico de acolhida, convívio, Goldani (2005 apud MIOTO; CAMPOS, 2016, p. 176). Se efetivado
autonomia, sustentabilidade e protagonismo social; de forma integral, esse empenho na efetivação de uma política
“para as famílias” é capaz de ofertar apoio e sustentação a elas.
■ a defesa do direito à convivência familiar [...] a entende Mais dotadas de cuidado e investimentos, as famílias podem
como núcleo afetivo, vinculado por laços consanguíneos, exercer junto ao Estado o papel de cuidado e proteção de seus
de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações membros (MIOTO; CAMPOS, 2016).
recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de
geração e de gênero;
GESTÃO EFETIVA
■ a família deve ser apoiada e ter acesso a condições para A matricialidade sociofamiliar tem um papel de destaque no
responder ao seu papel no sustento, na guarda e na SUAS. A política de assistência social parte do pressuposto
educação de suas crianças e adolescentes, bem como na de que, para a família prevenir, proteger, promover e incluir
proteção de seus idosos e portadores de deficiência; seus membros, é necessário, em primeiro lugar, garantir
condições de sustentabilidade para tal e que ela seja apoiada
■ o fortalecimento de possibilidades de convívio, educação para que consiga exercer seu papel protetivo.
e proteção social, na própria família, não restringe as
responsabilidades públicas de proteção social para com os
indivíduos e a sociedade.” (BRASIL, 2005a, p. 90).
SAIBA MAIS
Assista o vídeo que trata de diferentes olhares sobre as
famílias, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=bOTowHh2Icw.

54 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.3.4 Controle social e participação popular O que nos interessa discutir e apresentar nesta seção é o controle
O que lhe vem à mente quando ouve falar em controle social? social exercido pelos cidadãos sobre o Estado, a ação capaz de
Nas ciências políticas e econômicas, a expressão controle interferir na gestão das políticas sociais. O ano de 1988 ficou
social pode ser abordada sob diferentes perspectivas, marcado pela aprovação da Constituição Federal. Foi ela que
tanto relacionada ao controle do Estado sobre os cidadãos definiu a participação permanente da sociedade na gestão
quanto ao controle que os cidadãos exercem sobre o Estado pública, tanto na formulação das políticas quanto na fiscalização
(MANNHEIM, 1971 apud BIASI, 2016, p. 65). dos recursos públicos, por meio da institucionalização de
espaços de participação social.
Perspectiva de controle social
Controle social na perspectiva do SUAS

Cidadãos Estado
Cidadãos

Estado

55 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Na política de assistência social, o controle social perpassa As principais instâncias de participação e exercício do controle
todas as normativas importantes do campo, desde a social no SUAS são os conselhos e as conferências, presentes
Constituição Federal de 1988, a LOAS, a PNAS e a NOB/SUAS. no âmbito municipal, estadual e federal. São espaços formais
Couto (2016), ao relatar sobre os direitos socioassistenciais de participação de usuários, trabalhadores, representantes de
aprovados na 5ª Conferência Nacional de Assistência Social, instituições e gestores.
realizada em 2005, inclui o controle social como um desses
direitos. Assim, considera que os direitos sociais devem ser Os Conselhos de Assistência Social são espaços de
sempre submetidos ao controle da população, que, por sua participação e composição paritária com representantes
vez, pode acompanhá-los, através das estruturas dos conselhos do Estado e da sociedade civil. Suas principais
locais, dos grupos de famílias de serviços como os Centros competências, nas respectivas esferas, são deliberar
de Referência de Assistência Social (CRAS) e os Centros de sobre a política pública de assistência social, normatizar
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), dos e regular a prestação de serviços de natureza pública e
conselhos nas diversas instâncias, mantendo-se vigilantes ao privada, apreciar e aprovar propostas orçamentárias,
cumprimento desses direitos. bem como zelar pela efetivação do SUAS (BIASI, 2016).

O tema do controle social tem sido estudado por diversos Então, o controle social somente acontece se os cidadãos, que
autores brasileiros, sendo um tema importante no contexto das representam diversos segmentos da sociedade, conseguem
políticas públicas. Para Raichelis (2000, p. 9), o controle social acessar os espaços de participação e tenham voz ativa,
interferindo no planejamento, na fiscalização e na gestão dos
“[...] implica o acesso aos processos que informam decisões da recursos públicos.
sociedade política, viabilizando a participação da sociedade civil
organizada na formulação e na revisão das regras que conduzem
as negociações e arbitragens sobre os interesses em jogo, além da
fiscalização daquelas decisões, segundo critérios pactuados.”

Assim, o controle social é capaz de interferir no planejamento,


no acompanhamento, na avaliação e na fiscalização dos serviços
socioassistenciais, buscando garantir a participação dos
usuários na gestão pública do SUAS.

56 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


No olhar de Raichelis (2016), para que os conselhos cumpram conferências em todo o território brasileiro, acontece um rico e
seu papel, é fundamental que os sujeitos que participam como complexo processo participativo que mobiliza muitos usuários,
representantes sejam submetidos ao controle das bases sociais e grupos locais, trabalhadores, gestores, prestadores de serviços,
representem a opinião e vontade de um coletivo. Nesse sentido, militantes e pesquisadores (RAICHELIS, 2016).
somente a existência de um espaço formal de participação
não garante uma efetiva representação e concretização de sua
Processos das Conferências
função na perspectiva de uma construção coletiva da política de
assistência social. Considerando que a existência do conselho
da Assistência Social
é requisito para o recebimento de recursos para a área, muitas
vezes ele pode ser criado e mantido somente com este objetivo,
sem que ocupe lugar de destaque e seja influenciador na gestão e
avaliação da política pública. Pré-conferências descentralizadas (municipais)

Outro espaço importante de participação e exercício do controle


social são as conferências de assistência social. De acordo com
Raichelis (2016), as conferências

“[...] são instâncias deliberativas que têm a atribuição de


conferir, como o nome indica, ou seja, de avaliar o estágio
de desenvolvimento da política setorial específica e propor Conferências estaduais
diretrizes para seu aperfeiçoamento, o que implica garantir
voz e voto a distintos segmentos sociais, para que possam se
expressar e deliberar sobre definições, princípios e diretrizes
que devem produzir impactos nas agendas governamentais.”
(RAICHELIS, 2016, p. 61).

As conferências reúnem um grande número de pessoas


Conferência nacional
para discutir, deliberar, avaliar e sugerir a continuação e/ou
novos caminhos para a política de assistência social, seja ela
municipal, estadual, distrital, ou nacional. Na efetivação das

57 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Mesmo que tenhamos uma história de participação social a 2.4 Seguranças afiançadas pelo SUAS
contar, a participação social e o controle social no SUAS ainda O conceito de segurança refere-se a “estado, qualidade ou
encontram muitos desafios e limites para sua concretização, condição de seguro” (FERREIRA, 2004 apud MACHADO, 2016,
podendo-se considerar como algo recente na política pública p. 256). Pensar em seguranças a serem ofertadas pela política de
e alvo de disputas, pois envolve poderes. Nesse sentido, exige assistência social é pensar em acesso a direitos fundamentais,
esforços para sua concretização, sendo um processo em constante os quais garantiriam reais seguranças às famílias e indivíduos.
construção, apresentando diferentes níveis nos municípios Essa ideia de segurança, conforme Machado (2016, p. 256),
brasileiros, uma vez que requer a compreensão da participação
dos cidadãos como um dos seus pilares (BIASI, 2016). “[...] se apresenta na contramão da mera promoção de ações
individuais, fragmentadas, benemerentes e focalizadas, que
Para uma participação social mais efetiva e que gere mudanças, reduzem ao assistencialismo àquilo que é de direito.”
é necessária a mobilização da sociedade civil para ocupação
dos espaços de participação, a garantia de representantes nos Segurança demanda a garantia dos direitos humanos, que
conselhos e conferências que dialoguem com sua base e que corresponde ao acesso “a necessidades essenciais da pessoa
defendam a política pública de assistência social. humana” (DALLARI, 2004, p. 13). Assim, nenhuma pessoa
poderá ter o acesso aos direitos inviabilizado por critério de
raça, etnia, geração, credo, capacidade física e/ou psicológica,
GESTÃO EFETIVA orientação sexual, identidade de gênero, território, opinião
Gestores, trabalhadores e outros atores que atuam na política política, entre outros. Esse olhar se assemelha à discussão sobre
de assistência social devem se constituir como sujeitos que os direitos humanos, sendo estes “ligados à vida em sociedade
estimulem e sensibilizem a população usuária a ocupar seu sob a chancela da dignidade humana. Neles, o social precede o
lugar enquanto cidadão de direito, assumindo um papel econômico” (SPOSATI, 2007 apud MACHADO, 2016, p. 256).
protagonista. Ações como essa podem ser capazes de
aumentar a diversidade de participantes, garantir os direitos
socioassistenciais, bem como produzir novos olhares sobre os
diversos desafios da assistência social, efetivando o verdadeiro
controle social do que é público.

58 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


entre outros espaços de acolhimento, cuidado e proteção da
vida. Esta segurança atua a partir da provisão de necessidades
humanas, como direitos à alimentação, ao vestuário e ao
abrigo, próprios à vida humana em sociedade.

A proteção social proposta pelo SUAS a partir da NOB/SUAS


(2012) prevê as seguintes seguranças:

■ Segurança de acolhida
■ Segurança de renda
■ Segurança de convívio ou vivência familiar, comunitária
e social
■ Segurança de desenvolvimento de autonomia
■ Segurança de apoio e auxílio

2.4.1 Segurança de acolhida


A segurança de acolhida, uma das seguranças primordiais
da Política Nacional de Assistência Social, prevê ações de
abordagem em territórios de incidência de situações de risco,
bem como a oferta de uma rede de serviços e de locais de
permanência de indivíduos e famílias sob curta, média e longa
permanência – alojamentos, vagas de albergagem e abrigos,

59 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os espaços e serviços onde se realiza a segurança de acolhida doméstica, desemprego prolongado e criminalidade. Além
devem ter instalações físicas e ação profissional preparadas dessas, situações de desastre ou acidentes naturais, além da
para oferecer: profunda destituição e abandono, podem ser experiências que
demandem tal provisão (BRASIL, 2005).

1. Condições de recepção Portanto, a segurança da acolhida se constitui como um ambiente


motivador e mobilizador do diálogo e da estimulação à expressão
2. Escuta profissional qualificada e relação da família/pessoa. Esta segurança atua na perspectiva de
reparação e/ou minimização dos danos causados por vivências de
3. Informação violação de riscos sociais (FIOROTTI; MAIA, 2016).

4. Referência
QR CODE
5. Concessão de benefícios Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone
ou tablet) no QR Code ao lado para assistir o vídeo sobre a
6. Aquisições materiais e sociais ‘Segurança de acolhida’, uma das cinco seguranças previstas na
NOB/SUAS ou acesse o link: https://youtu.be/bZcL5_OXyGk.
7. Abordagem em territórios de incidência
de situações de risco
2.4.2 Segurança de renda
8. Oferta de uma rede de serviços e de locais de A NOB/SUAS (2012) apresenta a segurança de renda. Esta
permanência de indivíduos e famílias sob curta, média segurança é operada por meio da concessão de auxílios financeiros
e longa permanência e da concessão de benefícios continuados para cidadãos que
apresentem vulnerabilidades decorrentes do ciclo de vida e/ou de
incapacidade para a vida independente e para o trabalho, e que
Situações que podem demandar acolhida referem-se às não estejam incluídos no sistema contributivo de proteção social.
necessidades de proteção em caso de separação da família
ou da parentela por múltiplas situações, como violência
familiar ou social, uso prejudicial de drogas, violência

60 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


dos auxílios e benefícios socioassistenciais do SUAS como forma
de garantir renda e sobrevivência para os cidadãos que dela
necessitarem. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é uma das
principais estratégias para a garantia de renda nesta segurança.

2.4.3 Segurança de convívio ou vivência familiar,


comunitária e social
A segurança de convívio ou vivência familiar, comunitária
e social é mais uma das necessidades a serem trabalhadas
pela política de assistência social. Supõe a não aceitação de
situações de reclusão e/ou de situações de perda das relações.
O ser humano se realiza e se constitui de relações sociais,
sendo próprio da natureza humana o comportamento de
constituir grupos. A vivência familiar e/ou comunitária é o
lugar onde os cidadãos criam sua identidade e reconhecem a
sua subjetividade, desenvolvendo potencialidades, construções
culturais, políticas e, sobretudo, os processos civilizatórios.
Nesse sentido, reconhece-se também que as barreiras
relacionais criadas por questões individuais, grupais, sociais por
discriminação ou múltiplas inaceitações ou intolerâncias estão
no campo do convívio humano, mas a dimensão multicultural,
De acordo com a PNAS/2004, a segurança de rendimentos não intergeracional, interterritorial, intersubjetiva, entre outras,
é uma compensação do valor do salário mínimo inadequado, devem ser ressaltadas na perspectiva do direito ao convívio
mas a garantia de que todos tenham uma forma monetária (BRASIL, 2005a).
de garantir sua sobrevivência, independentemente de suas
limitações para o trabalho ou do desemprego. É o caso de
pessoas com deficiência, idosos, desempregados, famílias
numerosas, famílias desprovidas das condições básicas para sua
reprodução social em padrão digno e cidadão (BRASIL, 2005a).
Nesse sentido, a segurança de renda utiliza-se principalmente

61 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A família de origem ou a família ampliada ou, ainda, uma
instituição, um ambiente de convivência familiar, são
reconhecidamente espaços de convívio, prática cotidiana
de relações sociais, lugar de trocas e (re)construção de
pertencimento, experiências que fortalecem e buscam garantir
a segurança de convívio. De acordo com Fiorotti e Maia (2016),
investir no processo de resgate ou construção de vínculos
familiares, comunitários e sociais implica trazer à tona a
possibilidade de um projeto de vida baseado na convivência
familiar e comunitária, capaz de ressignificar o ambiente de
violação de direitos.

Para a operacionalização desta segurança, de acordo com a NOB/


SUAS (2012), é necessária a oferta pública de uma rede continuada
de serviços que garantam oportunidades e ação profissional para:

■ A construção, restauração e fortalecimento de


laços de pertencimento (de natureza geracional,
intergeracional, familiar, de vizinhança e interesses
comuns e societários).
■ O exercício capacitador e qualificador de vínculos
sociais e de projetos pessoais e sociais da vida em
sociedade (BRASIL, 2012a).

62 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Portanto, para a garantia do cumprimento da segurança de 2.4.4 Segurança de desenvolvimento de autonomia
convívio, três questões são fundamentais: A segurança de desenvolvimento de autonomia, de acordo com
a NOB/SUAS (BRASIL, 2012a, p. 17), exige ações profissionais e
sociais que visem:

1  

  

 
“a) o desenvolvimento de capacidades e habilidades para o
exercício do protagonismo, da cidadania;

2
b) a conquista de melhores graus de liberdade, respeito à
„
   
  
 dignidade humana, protagonismo e certeza de proteção social
   …  † para o cidadão e a cidadã, a família e a sociedade;

   

c) conquista de maior grau de independência pessoal e qualidade,

3
nos laços sociais, para os cidadãos e as cidadãs
  



  sob contingências e vicissitudes.”
  ­€‚ƒ

Vicissitudes
Neste contexto, significa situações ou circunstâncias consideradas contrárias e
desfavoráveis às famílias.

63 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.4.5 Segurança de apoio e auxílio
A segurança de apoio e auxílio é também descrita na NOB/SUAS
(BRASIL, 2012a). Esta segurança deve ser acionada quando, sob
riscos circunstanciais (momentos específicos da vida),
as situações exigem a oferta de auxílios em bens materiais e em
pecúnia, em caráter transitório, denominados de Benefícios
Eventuais para as famílias, seus membros e indivíduos.

Fiorotti e Maia (2016) consideram que o trabalho de


acompanhamento desenvolvido pelos serviços do SUAS
deve contribuir com o desenvolvimento da autoestima das
pessoas e famílias, sensibilizando-as para o seu envolvimento
e participação no processo de desenvolvimento e conquista
de autonomia. Inclui-se, nesta segurança, a necessidade
de viabilizar o acesso à renda por meio dos benefícios de
transferência de renda ou, ainda, através da inserção nas outras
políticas de emprego e renda, que é questão central para a
garantia de autonomia e independência. Pecúnia
O termo “pecúnia” é apresentado como um tipo de auxílio, quer dizer,
auxílio em forma de dinheiro.

64 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os Benefícios Eventuais são ofertados em caso de nascimento, Essa oferta de cuidado e atenção deve considerar as
morte, vulnerabilidade temporária ou calamidade pública. Esses características dos cidadãos, sua realidade e necessidades, para
benefícios serão abordados na seção 2.5.6, que tratará dos benefícios que consiga alcançar seu objetivo, bem como proteger pessoas
socioassistenciais e programas de transferência de renda. que, em algum momento da vida, se encontrem fragilizadas.

Por fim, ao estudarmos as seguranças afiançadas pela política Mas, afinal, o que é estar protegido?
de Assistência Social e operacionalizadas por meio do SUAS,
reconhecemos que estas estão intimamente relacionadas à “[...] estar protegido significa ter forças próprias ou de terceiros,
garantia de direitos fundamentais, referenciados na Constituição que impeçam que alguma agressão/precarização/privação
Federal de 1988 e na Declaração dos Direitos Humanos. Assim, venha a ocorrer deteriorando uma dada condição. Porém, estar
as seguranças sociais, no âmbito da Política Nacional protegido não é uma condição nata, ela é adquirida não como
de Assistência Social, se constituem em direito social, mera mercadoria, mas pelo desenvolvimento de capacidades e
imprescindível ao desenvolvimento do ser humano como possibilidades. No caso, ter proteção e/ou estar protegido não
cidadão. Sua materialização depende, então, de provisões sociais significa meramente portar algo, mas ter uma capacidade de
públicas e intersetoriais, com responsabilidade estatal e controle enfrentamento e resistência.” (SPOSATI, 2009, p. 17).
social exercido pelos diferentes atores sociais e pela sociedade
civil organizada (MACHADO, 2016). Assim, em suas ações, a proteção social do SUAS produz
aquisições materiais, sociais, socioeducativas ao cidadão e
2.5 Proteções sociais e os serviços socioassistenciais do SUAS à cidadã e suas famílias, para suprir suas necessidades de
De acordo com a NOB/SUAS (BRASIL, 2012a), a proteção social reprodução social de vida individual e familiar; buscando ainda
instituída pela política de assistência social consiste em um desenvolver capacidades e talentos para a convivência social,
protagonismo e autonomia.
“[...] conjunto de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios
ofertados pelo SUAS para redução e prevenção do impacto das Portanto, o SUAS busca a garantia de proteção social ativa,
vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida, à dignidade não submetendo o usuário ao princípio de tutela; ao contrário,
humana e à família como núcleo básico de sustentação afetiva, estimula para a
biológica e relacional.” (BRASIL, 2012a, p. 90).

65 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


“[...] conquista de condições de autonomia, Niveis de Proteções Sociais
resiliência e sustentabilidade, protagonismo,
acesso a oportunidades, capacitações, serviços,
condições de convívio e socialização, de acordo
com sua capacidade, dignidade e projeto pessoal
e social.” (BRASIL, 2005b, p. 14).

Proteção Social Básica


Importante lembrar que:

GESTÃO EFETIVA
O SUAS não alcançará êxito se atuar de forma
isolada. Assim, a PNAS 2004 trata a questão
da proteção social em uma perspectiva de Serviço de Proteção
articulação com outras políticas do campo social Social do SUAS
que são dirigidas a uma estrutura de garantias Proteção Social Especial
de direitos e de condições dignas de vida. de Média Complexidade

Apresenta-se, assim, de forma essencial, o aspecto


da intersetorialidade no SUAS, que será abordado
Proteção Social Especial
na Unidade 3 deste módulo.

As proteções sociais do SUAS são divididas


por níveis: Proteção Social Básica e Especial
(de média e alta complexidade), que serão Proteção Social Especial
apresentados detalhadamente nas seções 2.5.2 de Alta Complexidade
a 2.5.4 desta unidade.

66 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os serviços socioassistenciais são meios de acesso a seguranças 2.5.1 A padronização dos serviços socioassistenciais do SUAS
sociais e resultam em aquisições pessoais e sociais aos seus Diante do desafio na consolidação de uma referência nacional
usuários. Esses serviços operam de forma integrada às para padronização de nomenclaturas e respectivas provisões
funções de proteção social – defesa de direitos e Vigilância dos serviços socioassistenciais, nasceu a Tipificação Nacional
Socioassistencial – por meio de um conjunto de provisões, dos Serviços Socioassistenciais. Os serviços padronizados pela
recursos e atenções profissionalizadas. Localizam-se em tipificação são hierarquizados e organizados por proteções, sendo
unidades físicas, com abrangência nacional e um público estas a Proteção Social Básica e a Proteção Especial (de média e alta
definido (BRASIL, 2013a). complexidade), conforme o quadro apresentado na sequência.

De acordo com Colin e Silveira (2016), os serviços


socioassistenciais são atividades continuadas que visam à
melhoria de vida da população. As ações desenvolvidas por esses
serviços devem observar os objetivos, princípios e diretrizes
estabelecidos na LOAS, conforme seu art. 23.

Na sequência, será apresentada a organização da rede de proteção


social, a partir da elaboração da Tipificação Nacional dos
Serviços Socioassistenciais e da institucionalização das proteções
sociais do SUAS.

67 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Serviços socioassistenciais por nível de proteção social

1. Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)


PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 2. Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
3. Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas Com Deficiência e Idosas

1. Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI)


2. Serviço Especializado em Abordagem Social
Média 3. Serviço de proteção social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de Liberdade Assistida
Complexidade (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC)

4. Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias
PROTEÇÃO SOCIAL 5. Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua
ESPECIAL

1. Serviço de Acolhimento Institucional


Alta 2. Serviço de Acolhimento em República
Complexidade 3. Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora
4. Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências

68 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os serviços socioassistenciais apresentados no quadro se São muitos os serviços, ações, objetivos e desafios impostos
desdobram por modalidades (BRASIL, 2014a), que são: aos serviços socioassistenciais e a seus trabalhadores.
Afinal, atuar sobre as questões sociais não se trata de algo
■ erviços de convivência: por ciclo de vida – criança,
S simples, considerando a complexidade das diversas situações
adolescentes, jovens, idosos e famílias. e realidades atendidas diariamente nos serviços do SUAS.
■ Serviços de acolhimento institucional em diferentes Nesse sentido, além do esforço coletivo em produzir um
equipamentos: serviço de referência para as pessoas que dele necessitem, é
■ Unidade residencial e unidade institucional: necessário garantir a qualidade dos serviços oferecidos. Nas
crianças e adolescentes próximas seções, você conhecerá com detalhes os serviços
■ Unidade institucional tipo residência e unidade de socioassistenciais, divididos por níveis de complexidade.
passagem: adultos e famílias
■ Unidade institucional: mulheres
■ Residências inclusivas: jovens e adultos com deficiência SAIBA MAIS
■ Unidade residencial e unidade institucional: idosos. Para conhecer a Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais na íntegra, acesse o documento
De acordo com Colin e Silveira (2016), o trabalho social disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/
desenvolvido no âmbito dos serviços tipificados visa a garantia documentos/livro%20Tipificaca%20Nacional%20
do acesso aos direitos socioassistenciais, bem como outros -%2020.05.14%20%28ultimas%20atualizacoes%29.
direitos, buscando, ainda: pdf?msclkid=23eb67b5afc811ec86892a34c924d025.

“[...] o fortalecimento de vínculos sociais nos espaços de


convivência primária, considerando os diferentes arranjos 2.5.2 Proteção Social Básica – concepção, serviços, programas e
familiares, e de sociabilidade, visando ao desenvolvimento de equipamentos de referência
capacidade protetiva, a aquisição de conhecimentos, de bens A NOB/SUAS exprime a concepção da Proteção Social Básica
materiais e imateriais, a produção e troca de aprendizados e do SUAS como um conjunto de serviços, projetos, programas e
saberes, na direção do protagonismo e da participação cidadã.” benefícios que
(COLIN; SILVEIRA, 2016, p. 265).

69 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


visam prevenir situações de risco, por meio do
desenvolvimento de potencialidades, aquisições e o
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, para
isso, necessita de um conhecimento prévio do território,
das famílias que o compõem, das demandas e dos níveis de
desproteção social das famílias (BRASIL, 2005b, p. 13).

A Proteção Social Básica atua no enfrentamento de


vulnerabilidades, riscos, vitimizações, fragilidades e contingências
ocasionadas a indivíduos e famílias. Essas situações, em geral,
podem ser consideradas consequências das questões sociais,
econômicas, políticas ou de qualquer forma de ataque ou violação
à dignidade humana (MAZALI et al., 2015). Nesse sentido,
as questões sociais contemporâneas acabam por expor famílias e
indivíduos a experiências de violências e fragilidades que podem Foto: © [Andrii Yalanskyi] / Shutterstock.
levar à violação de direitos sociais básicos.
Compõem também a Proteção Social Básica: os Benefícios
Aqui surge o papel preventivo da Proteção Social Básica, Eventuais, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e os
que é caracterizada especialmente pelo aspecto antecipador programas de transferência de renda, assuntos que serão
e proativo para evitar o agravamento de vulnerabilidades, detalhados na seção 2.5.5.
atuando na redução do risco social evidenciado em
determinadas situações potencialmente problemáticas e A quem se destina a Proteção Social Básica?
previamente avaliadas. Essa proteção atua, portanto, por A partir do reconhecimento do que é a Proteção Social Básica,
meio de um conjunto de ações fortalecedoras dos recursos que podemos afirmar que ela se destina à população que vive em
indivíduos e famílias devem utilizar para enfrentar os desafios situação de vulnerabilidade social, decorrente da pobreza,
de seu cotidiano, de modo a prevenir a violação de direitos, bem privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços
como reduzir vulnerabilidades e riscos (MAZALI et al., 2015). públicos, entre outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos –
relacionais e de pertencimento social (BRASIL, 2005a).

70 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é o
Foto: © [Ralf Geithe] / Shutterstock. principal equipamento da Proteção Social Básica e conta com
o trabalho da rede de serviços socioeducativos direcionado
Conforme definido na LOAS e na PNAS 2004, a Proteção para grupos específicos, entre eles, os Centros de Convivência
Social Básica desenvolve serviços, programas e projetos distribuídos nos territórios.
locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias
e de indivíduos, buscando garantir a convivência familiar e O CRAS, serviço de referência para a Proteção Social
comunitária e responder às situações de vulnerabilidade social a Básica, é uma unidade pública estatal de base territorial,
que essas pessoas estão expostas. localizado em áreas de vulnerabilidade social, que
abrange um total de até 1.000 famílias por ano. Executa
Os serviços de Proteção Social Básica são executados de forma serviços de Proteção Social Básica, bem como organiza e
direta nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) coordena a rede de serviços socioassistenciais locais da
e em outras unidades básicas e públicas de assistência social, bem política de assistência social. O CRAS atua com famílias
como de forma indireta nas entidades e organizações da sociedade e indivíduos em seu contexto comunitário, visando a
civil (OSC) da área de abrangência dos CRAS e inscritas no orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário.
Conselho Municipal de Assistência Social (BRASIL, 2005a). Nesse sentido, é responsável pela oferta do Programa

71 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


de Atenção Integral às Famílias. Na proteção básica, de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações
o trabalho com famílias deve considerar novas de caráter preventivo, protetivo e proativo. Esse serviço
referências para a compreensão dos diferentes arranjos foi concebido a partir do reconhecimento de que as
familiares, superando o reconhecimento de um modelo vulnerabilidades e riscos sociais que atingem as famílias
único baseado na família nuclear, e partindo do suposto extrapolam a dimensão econômica, exigindo intervenções
de que são funções básicas das famílias: prover a proteção que trabalhem aspectos objetivos e subjetivos relacionados à
e a socialização dos seus membros; constituir-se como função protetiva da família e ao direito à convivência familiar
referências morais, de vínculos afetivos e sociais, de (BRASIL, 2012b).
identidade grupal; além de ser mediadora das relações
dos seus membros com outras instituições sociais e com o
Estado (BRASIL, 2005a).

De acordo com a Tipificação Nacional do Serviços


Socioassistenciais, os serviços desenvolvidos pela Proteção
Social Básica de assistência social são:

■ Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)


■ Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV)
■ Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para
pessoas com deficiências e idosas De acordo com o Ministério da Cidadania (BRASIL, 2022a),
o público atendido pelo PAIF são as famílias em situação
2.5.2.1 Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) de vulnerabilidade social. São prioritários no atendimento
O PAIF consiste no trabalho social com famílias, de caráter os beneficiários que atendem os critérios de participação
continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva em programas de transferência de renda e benefícios
das famílias, prevenir a ruptura de seus vínculos, promover assistenciais e pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas
seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria que vivenciam situações de fragilidade.
de sua qualidade de vida. Busca o desenvolvimento de
potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento

72 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O PAIF TEM COMO OBJETIVOS:
■ O fortalecimento da função protetiva da família.
■ A prevenção da ruptura dos vínculos
familiares e comunitários.
■ A promoção de ganhos sociais e materiais às famílias.
■ A promoção do acesso a benefícios, programas de
transferência de renda e serviços socioassistenciais.

As ações do PAIF que estruturam o trabalho social com famílias


são: acolhida; oficinas com famílias; ações comunitárias; ações Trata-se de uma forma de intervenção social planejada que
particularizadas; encaminhamentos. Além disso, elas podem cria situações desafiadoras, estimula e orienta os usuários
ser individualizadas ou coletivas. na construção e reconstrução de suas histórias e vivências
individuais, coletivas e familiares. Estimula o fortalecimento
2.5.2.2 Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) das relações familiares e comunitárias, além de promover a
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos integração e a troca de experiências entre os participantes,
(SCFV) é ofertado de forma complementar ao trabalho social valorizando o sentido de vida coletiva (BRASIL, 2022a).
com famílias realizado por meio do Serviço de Proteção
e Atendimento Integral às Famílias (PAIF) e do Serviço O SCFV pode ser ofertado no Centro de Referência da
de Proteção e Atendimento Especializado às Famílias e Assistência Social (CRAS) ou nos Centros de Convivência,
Indivíduos (PAEFI). O SCFV realiza atendimentos em grupo, e podem participar das suas ações pessoas de diferentes
sendo promovidas atividades artísticas, culturais, de lazer e faixas etárias, entre elas, crianças, jovens e adultos; pessoas
esportivas, entre outras, de acordo com a idade dos usuários. com deficiência; pessoas que sofreram violência, vítimas de
trabalho infantil, jovens e crianças fora da escola, jovens que
cumprem medidas socioeducativas, idosos sem amparo da
família e da comunidade ou sem acesso a serviços sociais, além
de outras pessoas inseridas no Cadastro Único do governo
federal (BRASIL, 2022a).

73 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os usuários do SCFV são organizados em grupos, 2.5.2.3 Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para
a partir de faixas etárias: pessoas com deficiência e idosas
O Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio
tem como finalidade:

Crianças de até 6 anos


“[...] a prevenção de agravos que possam provocar o rompimento
Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de vínculos familiares e sociais dos usuários. Visa a garantia
de direitos, o desenvolvimento de mecanismos para a inclusão
social, a equiparação de oportunidades e a participação e o
desenvolvimento da autonomia das pessoas com deficiência e
pessoas idosas, a partir de suas necessidades e potencialidades
individuais e sociais, prevenindo situações de risco, a exclusão e o
isolamento.” (BRASIL, 2014a, p. 25).

Adolescentes de 15 a 17 anos
O serviço contribui com a promoção do acesso de pessoas
Jovens de 18 a 29 anos com deficiência e pessoas idosas a serviços como o PAIF e o
SCFV, bem como a toda a rede socioassistencial. Além disso,
procura auxiliar para que esse público acesse os serviços de
outras políticas públicas, como educação, trabalho, saúde,
transporte especial e programas de desenvolvimento de
acessibilidade, serviços setoriais e de defesa de direitos e
programas especializados de habilitação e reabilitação.
Adultos de 30 a 59 anos Também são desenvolvidas atividades de apoio, informação,
Pessoas idosas orientação para familiares, com objetivo de promover qualidade
de vida, exercício da cidadania e inclusão na vida social, sempre
ressaltando o caráter preventivo do serviço (BRASIL, 2014a).

74 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


1 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), territorializados de
acordo com o porte do município.

Rede de serviços socioeducativos direcionados para grupos geracionais,


intergeracionais, grupos de interesse, entre outros.
2
3 Centros de Convivência para crianças, jovens e idosos.

Foto: © [Pikselstock] / Shutterstock.

O serviço busca prever as seguranças de acolhida, convívio ou Por fim, é importante lembrar que os serviços, programas,
vivência familiar, comunitária e social, e de desenvolvimento da projetos e benefícios de Proteção Social Básica deverão
autonomia. Como o próprio nome revela, é direcionado a idosos estabelecer articulações com as demais políticas públicas
e pessoas com deficiência e pretende impactar na prevenção da locais, de forma a garantir a sustentabilidade das ações
ocorrência de situações de risco social, tais como o isolamento, desenvolvidas e o protagonismo das famílias e indivíduos
situações de violência e violações de direitos, e demais riscos atendidos. Deverá, ainda, articular-se aos serviços de
identificados pela proteção básica, bem como na ampliação do proteção especial, de média e alta complexidade, buscando
acesso aos direitos socioassistenciais (BRASIL, 2014a). garantir a efetivação dos encaminhamentos necessários e a
efetivação do trabalho em rede (BRASIL, 2005a).
O conjunto de ações ofertadas pela Proteção Social Básica será
operado por intermédio dos seguintes equipamentos:

75 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.5.3 Proteção Social Especial de Média Complexidade – De acordo com a NOB-SUAS/2005:
concepção, serviços, programas e equipamentos de referência
A Proteção Social Especial é o nível de proteção social do “A Proteção Social Especial tem por objetivos prover atenções
SUAS que organiza a oferta de serviços, programas e projetos socioassistenciais a famílias e indivíduos que se encontram
de caráter especializado. A atenção no âmbito da Proteção em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de
Social Especial ocorre mediante intervenções especializadas, abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual,
continuadas, operacionalizadas por equipes de referência uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas
que realizam plano de atendimento para atuar nas demandas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil,
dos indivíduos e famílias que apresentam, entre suas entre outras.” (BRASIL, 2005b, p. 13).
características, situações de violação de direitos e vínculos
familiares fragilizados ou rompidos (BRASIL, 2011a). As equipes de referência são responsáveis pelo atendimento de
determinada família e indivíduo. De acordo com Ferreira
Na Proteção Social Especial, é realizado trabalho social (2011, p. 26), a referência tem a natureza de “[...] produzir para o
com famílias e indivíduos que estão em situação de risco cidadão a certeza de que ele encontrará acolhida, convívio e meios
pessoal e social em decorrência de violência e ou violação de para o desenvolvimento de sua autonomia.” Os profissionais que
direitos. Considera-se que alguns grupos são particularmente compõem as equipes de referência são responsáveis por promover
vulneráveis à vivência de violência, como situação de rua, a articulação necessária entre os serviços socioassistenciais
trabalho infantil, abandono de idosos, afastamento do executados na Proteção Social Básica e Especial.
convívio familiar, LGBTfobia, abuso e exploração, violência
física, situações que atingem crianças, adolescentes, idosos, De acordo com a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
pessoas com deficiência, populações LGBTQIA+ (lésbicas, gays, do SUAS – NOB-RH/SUAS de 2006 e a Resolução nº 17/2011 do
bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexo, assexual e Conselho Nacional de Assistência Social, as equipes de referência
mais), mulheres e suas famílias (BRASIL, 2011a). da Proteção Social Especial para o atendimento nos serviços
socioassistenciais são formadas obrigatoriamente por assistentes
sociais, psicólogos e advogados (BRASIL, 2011b). Outras categorias
profissionais de nível superior que preferencialmente poderão
atender as especificidades dos serviços socioassistenciais são:
antropólogo, economista doméstico, pedagogo, sociólogo, terapeuta
ocupacional e musicoterapeuta.

76 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Profissionais que formam as equipes de A norma estabelecida considerou essas profissões de nível
superior que são regulamentadas em lei para o exercício
referência da Proteção Social Especial
das funções nos serviços socioassistenciais e para função na
gestão do SUAS. Entretanto, o trabalho no SUAS também é
desenvolvido por áreas de ocupações profissionais de ensino
médio e fundamental completo, em consonância com a NOB-
RH/SUAS e a Resolução nº 9, de 15 de abril de 2014, do Conselho
Nacional de Assistência Social/CNAS.

Assistentes sociais
Psicólogos As ocupações e funções desenvolvidas pelos profissionais

1 Advogados
(obrigatoriamente)
de ensino médio que compõem as equipes de referência
no SUAS são: cuidadores sociais e orientadores ou
educadores sociais.

Esses profissionais desempenham funções de apoio aos serviços


e atuam auxiliando nas atividades cotidianas e recreativas
com crianças, pessoas com deficiência e idosos em situações
Antropólogo de risco e vulnerabilidade social. Ainda, há outras ocupações
Economista Doméstico
Pedagogo profissionais de ensino médio que desempenham funções

2 Sociólogo
Terapeuta ocupacional
Musicoterapeuta
administrativas, funções de gestão financeira e orçamentária e
funções de gestão da informação, monitoramento e avaliação
que, de forma administrativa, promovem a operacionalização
(também podem atender as
especificidades dos serviços da estrutura dos equipamentos e desenvolvimento da política
socioassistenciais) de assistência social com vistas à promoção das seguranças
afiançadas pelo SUAS (BRASIL, 2014b).

A respeito da Proteção Social Especial, esse nível de


proteção se estrutura em Proteção Social Especial de
Média Complexidade e Proteção Social
Especial de Alta Complexidade.

77 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Na Proteção Social de Média Complexidade são atendidos Os objetivos dos serviços da média complexidade são:
famílias e indivíduos que sofreram alguma violação de direito,
mas há a preservação dos vínculos familiares. O objetivo do ■ “O fortalecimento da função protetiva da família;
atendimento na média complexidade é a reconstrução dos
vínculos familiares e comunitários e o fortalecimento das ■ A construção de possibilidades de mudança e
potencialidades dos indivíduos com a finalidade de promover a transformação em padrões de relacionamento familiares e
proteção e segurança na convivência familiar. comunitários com violação de direitos;

■ A potencialização dos recursos para a superação da


situação vivenciada e a reconstrução de relacionamentos
familiares, comunitários e com o contexto social, ou
construção de novas referências, quando for o caso;

■ O empoderamento e a autonomia;

■ O exercício do protagonismo e da participação social;

■ O acesso das famílias e indivíduos a direitos


socioassistenciais e à rede de proteção social; e

■ A prevenção de agravamentos e da institucionalização.”


(BRASIL, 2011a p. 51).

A atuação na média complexidade acontece em interface com os


Sistemas de Garantias de Direitos, ou seja, em consonância com
a política de atendimento prevista no contexto das leis especiais
de proteção aos segmentos, como o Estatuto da Criança e do
Foto: © [Chris Miles] / Shutterstock. Adolescente (Lei nº 8.069/1990), o Estatuto do Idoso (Lei
nº 10.741/2003), a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).

78 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Desse modo, exige-se uma gestão mais complexa e
compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério
Sistema de Garantia de Direitos
Público e outros órgãos (BRASIL, 2005a).

Ressalta-se que a rede de atendimento parte do


Sistema de Garantia de Direitos e Sistema de
Justiça (Conselho Tutelar, Juizados da Violência
Doméstica, Juizado da Infância e Juventude,
Ministério Público). Esses são os principais
órgãos encaminhadores das notificações de
violação de direitos e/ou violência para os
serviços de média complexidade.
Os encaminhamentos desses órgãos, em virtude
da atuação específica no Sistema de Justiça,
geralmente são de situações de elevado risco Rede de atendimento para
pessoal e social em decorrência de violências. a Garantia de Direitos e
Outros serviços como Disque Denúncia, Garantia de Direitos
Sistema de Justiça
Conselho de Direitos, rede de atendimento
de saúde e educação também realizam
encaminhamentos, à medida que identificam
situações de risco pessoal e social por violação de
direitos ou indicativos e suspeita de violência.

79 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


No âmbito da Proteção Social Especializada de Média O CREAS deve, obrigatoriamente, ofertar o Serviço
Complexidade, os serviços socioassistenciais são ofertados nos de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e
territórios em equipamentos públicos, como apresenta-se a seguir. Indivíduos (PAEFI).

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) Outros serviços que são desenvolvidos no CREAS são o Serviço
O CREAS é definido como: de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida
Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação
“[...] a unidade pública estatal de abrangência municipal ou de Serviços à Comunidade (PSC); Serviço Especializado em
regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência, Abordagem Social; e Serviço de Proteção Social Especial para
nos territórios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias.
a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por
violação de direitos. Seu papel no SUAS define, igualmente, seu 2.5.3.1 Serviço de Proteção e Atendimento Especializado
papel na rede de atendimento.” (BRASIL, 2011a, p. 23). a Famílias e Indivíduos (PAEFI)
O PAEFI é serviço de proteção e atendimento especializado
É o equipamento da Proteção Social Especial de Média a famílias com pessoas em situação de ameaça ou violação
Complexidade que atende situações complexas com violações de direitos e com seus vínculos familiares e comunitários
de direitos no âmbito familiar ocasionadas por tensões fragilizados. O serviço realiza o trabalho social para o
familiares e comunitárias, gerando fragilidades ou até mesmo fortalecimento da função protetiva da família e preservação
o rompimento de vínculos familiares. No CREAS é realizado o da integridade e condições de autonomia dos sujeitos para
trabalho social especializado para indivíduos e suas famílias, o rompimento de padrões violadores de direitos no âmbito
e requer-se dos profissionais que compõem as equipes de familiar. É um serviço de apoio, orientação e acompanhamento
referência habilidades técnicas e conhecimentos específicos, que atua em articulação com a rede socioassistencial, as políticas
considerando-se as demandas apresentadas e as características setoriais e os órgãos do Sistema de Garantia de Direitos.
dos serviços ofertados (BRASIL, 2011a).
As famílias e seus membros devem ser inseridos
em serviços socioassistenciais e em programas de
transferência de renda para a promoção de direitos e
qualificação das intervenções visando o fortalecimento
da autonomia dos sujeitos, reparação de danos e de
violações de direitos (BRASIL, 2014a).

80 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O público-alvo do PAEFI são famílias e indivíduos que As formas de acesso ao PAEFI são: por demanda espontânea;
vivenciam violações de direitos por ocorrência de: por identificação e encaminhamento dos serviços de proteção
e vigilância social; por encaminhamento de outros serviços
■ “Violência física, psicológica e negligência; socioassistenciais, das demais políticas públicas setoriais e órgãos do
Sistema de Garantia de Direitos e do Sistema de Segurança Pública.
■ Violência sexual: abuso e/ou exploração sexual;
2.5.3.2 Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de
■ Afastamento do convívio familiar devido à aplicação de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de
medida socioeducativa ou medida de proteção; Serviços à Comunidade (PSC)
O Serviço de Proteção a Adolescentes em Cumprimento de
■ Tráfico de pessoas; Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade
é realizado em interface com a política de atendimento prevista
■ Situação de rua e mendicância; no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Trata-se do
acompanhamento da medida aplicada para adolescentes de 12
■ Abandono; a 18 anos incompletos ou jovens de 18 a 21 anos que estiveram
em conflito com a lei. Denomina-se de LA e PSC a medida
■ Vivência de trabalho infantil; socioeducativa em meio aberto determinada judicialmente.

■ Discriminação em decorrência da orientação No âmbito dos serviços da Proteção Social Especial, esse
sexual e/ou raça/etnia; serviço tem por finalidade prover atenção socioassistencial
e acompanhamento social aos adolescentes e jovens durante
■ Outras formas de violação de direitos decorrentes de o cumprimento da medida, visando a sua inserção em outros
discriminações/submissões a situações que provocam serviços socioassistenciais e em políticas setoriais, como, por
danos e agravos a sua condição de vida e os impedem de exemplo, educação, saúde, emprego e renda.
usufruir autonomia e bem estar;
De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços
■ Descumprimento de condicionalidades do Programa Socioassistenciais, as intervenções especializadas
Bolsa Família (PBF) e do Programa de Erradicação do têm por objetivo criar condições para a construção/
Trabalho Infantil (PETI) em decorrência de violação de reconstrução de projetos de vida e rompimento com a
direitos.”(BRASIL, 2014a, p. 29). prática de ato infracional, assim como possibilitar

81 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


acessos e oportunidades para a ampliação do Ressalta-se que o SEPREDI também atende famílias em que
universo informacional, cultural, e também para o exista uma sobrecarga e estresse da pessoa que exerce o papel
desenvolvimento de habilidades e competências desses de cuidador, considerando que tal condição pode gerar ou
jovens (BRASIL, 2014a). potencializar riscos.

A forma de acesso ao serviço é através de encaminhamento da O SEPREDI tem por finalidade a promoção da autonomia,
Vara da Infância e da Juventude ou, na ausência desta, pela Vara da inclusão social e da melhoria da qualidade de vida
Civil correspondente. das pessoas atendidas. As ações devem: prevenir a
institucionalização; promover acessos a benefícios,
2.5.3.3 Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, programas de transferência de renda e outros serviços
Idosas e suas Famílias (SEPREDI) socioassistenciais, das demais políticas públicas setoriais
O SEPREDI é o serviço que realiza atendimento especializado e do Sistema de Garantia de Direitos; possibilitar a
para famílias com pessoas com deficiências e idosos que interrupção e a superação das violações de direitos
apresentam algum grau de dependência e sofreram violação de (BRASIL, 2014a).
direito, tais como:
Confira, na sequência, como se dá o acesso dos indivíduos e
“[...] exploração da imagem, isolamento, confinamento, atitudes famílias ao SEPREDI:
discriminatórias e preconceituosas no seio da família, falta de
cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse ■ usca espontânea de membros da família e/ou da
B
do cuidador, desvalorização da potencialidade/capacidade da comunidade.
pessoa, dentre outras que agravam a dependência e comprometem ■ Busca ativa para inclusão no Cadastro Único e nos serviços
o desenvolvimento da autonomia.” (BRASIL, 2014a, p. 37). mediante contato com associações locais, obtenção
de informações de outros serviços socioassistenciais,
Conforme estabelecido no Estatuto do Idoso, entende-se como deslocamento das equipes para conhecimento do território.
idoso a pessoa com 60 anos ou mais, e pessoa com deficiência ■ Encaminhamento dos demais serviços socioassistenciais e
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, das demais políticas públicas setoriais.
mental, intelectual ou sensorial de qualquer idade, conforme ■ Encaminhamento dos demais órgãos do Sistema
preconiza o Estatuto da Pessoa com deficiência, de Garantia de Direitos.
Lei nº 13.146/2015 (BRASIL, 2015a).

82 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.5.3.4 Serviço Especializado em Abordagem Social Esse serviço tem como objetivo o trabalho social para construir
De acordo com a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, o processo de saída das ruas e inserção na rede de serviços
o Serviço Especializado em Abordagem Social é ofertado de socioassistenciais e das demais políticas públicas para a garantia
forma continuada e programada, realizando abordagem e busca dos direitos. O trabalho em rede é fundamental.
ativa que identifiquem, nos territórios, incidência de trabalho A forma de acesso é por identificação da equipe do serviço,
infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação que tem a sede de trabalho no Centro de Referência
de rua, entre outras. Atende crianças, adolescentes, jovens, Especializado de Assistência Social (CREAS) ou na Unidade
adultos, idosos e famílias que utilizam os espaços públicos como Específica Referenciada ao CREAS (BRASIL, 2014a).
forma de moradia e/ou sobrevivência (BRASIL, 2013b).
2.5.3.5 Centro de Referência Especializado para População
em Situação de Rua (Centro POP)
O Centro de Referência Especializado para População em
Situação de Rua é uma unidade pública e governamental,
de abrangência municipal, que oferta, obrigatoriamente,
o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.
Pontua-se que o Serviço Especializado em Abordagem Social,
apresentando anteriormente como serviço ofertado no CREAS,
conforme definição da gestão municipal, pode ser ofertado
também no Centro POP (BRASIL, 2011c).

2.5.3.6 Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua


O Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua realiza
atendimento a jovens, adultos, idosos e famílias que utilizam as
ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência.

“Particularmente em relação às pessoas em situação de rua, a oferta


da atenção especializada na PSE tem como objetivo a construção
de novos projetos e trajetórias de vida, visando à construção do
processo de saída das ruas e o alcance da referência como sujeitos de
Foto: © [Salty View] / Shutterstock. direitos na sociedade brasileira.” (BRASIL, 2011c, p. 37).

83 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O serviço proporciona endereço institucional de referência O Centro-Dia está em consonância com o Plano Nacional dos
para os usuários. Deve ofertar locais para a guarda de Direitos da Pessoa com Deficiência (Decreto 7.612/2011), com
pertences, realização de higiene pessoal, refeições e a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842/1994) e o Estatuto do
providenciar documentação civil. As intervenções profissionais Idoso (Lei nº 10.741/2003). É uma unidade de atendimento para
ocorrem de forma individual e grupal, bem como mediante o idoso dependente e que necessita de assistência médica ou de
encaminhamentos a outros serviços socioassistenciais e assistência multiprofissional.
das demais políticas públicas. Tem por finalidade realizar
atendimento para o desenvolvimento de sociabilidades, visando Como já exposto, a Proteção Social Especial atua na interface
o fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares e a da política de assistência social e das políticas de proteção à
construção de novos projetos de vida (BRASIL, 2014a). criança, idosos, mulheres e pessoas com deficiência.

As formas de acesso ao serviço são por demanda espontânea ou por Importante ressaltar que Centro-Dia é uma unidade
encaminhamentos do Serviço Especializado em Abordagem Social, de atendimento diferente dos Serviços de Convivência
de outros serviços socioassistenciais, das demais políticas públicas previstos na Proteção Social Básica. O Centro-Dia é
setoriais e dos demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. um espaço de referência especializado da assistência
social no âmbito da Proteção Social Especial de Média
2.5.3.7 Centro-Dia Complexidade, portanto, que atende situações mais
O Centro-Dia é uma unidade pública, que pode ser governamental graves, considerando que seu público-alvo já teve algum
ou não governamental, referenciada ao CREAS, prevista na direito violado.
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. O Centro-Dia
pode ofertar em sua unidade o Serviço de Proteção Especial para 2.5.3.8 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI
Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias (BRASIL, 2014a). O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) é
responsável por coordenar ações integradas e complementares
O equipamento desenvolve o trabalho na modalidade de com o objetivo de enfrentamento ao trabalho infantil. É um
atendimento integral durante o dia para as pessoas idosas e programa de caráter intersetorial, integrante da Política Nacional
pessoas com deficiência que tenham algum grau de dependência de Assistência Social e, conforme previsto pela LOAS, compreende
de cuidados e sua condição tenha sido agravada pela convivência transferência de renda, trabalho social com famílias e oferta
em situações de risco ou violação de direitos, tais como o de serviços socioeducativos para crianças e adolescentes que se
isolamento social, o abandono, alto grau de estresse do cuidador encontrem em situação de trabalho infantil (BRASIL, 2018).
familiar entre outras violações de direitos (BRASIL, 2014a).

84 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O PETI atende crianças e adolescentes em idade
inferior a 16 (dezesseis) anos que estão em
situação de violação de direito em decorrência
do trabalhado infantil, ressalvada a condição de
aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos.

O que pode ser considerado trabalho infantil?

O trabalho infantil refere-se às


atividades econômicas e/ou atividades de
sobrevivência, com ou sem finalidade de
lucro, remuneradas ou não, realizadas
por crianças ou adolescentes de até 16
anos, exceto quando da condição de jovem
aprendiz (BRASIL, 2018).

A proibição do trabalho infantil está prevista


na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto
da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2018),
devendo ser compromisso de todos zelar contra
este tipo de exploração.

Foto: © [Tinnakorn jorruang] / Shutterstock.

85 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A gestão do PETI no SUAS está na Proteção Social Especial, Importante lembrar que as novas diretrizes para a prevenção e
que acompanha a operacionalização e execução das ações de erradicação do trabalho infantil no território nacional exigem
combate e prevenção ao trabalho infantil nos níveis de Proteção articulação intersetorial e comportam cinco eixos:
Social Básica e Proteção Social Especial, integrando ações,
serviços e benefícios (BRASIL, 2018).

O enfrentamento ao trabalho infantil coordenado pelo PETI no Informação e Mobilização


âmbito do SUAS é potencializado nos serviços socioassistenciais
através de ações permanentes como:

■ ferta de atendimento às crianças e adolescentes no Serviço


O
Identificação
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV).
■ Trabalho social com famílias por meio dos serviços
continuados do PAIF/CRAS (Serviço de Proteção a
Atendimento Integral à Família) e PAEFI/CREAS (Serviço
de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Proteção
Indivíduos). encaminhamento ao Programa Nacional
de Promoção do Acesso ao Mundo do trabalho (Acessuas
Trabalho) e/ou de outros programas de inclusão produtiva.
■ Registro no Cadastro Único e inclusão da família em
Defesa e Responsabilização
programa de transferência de renda.

SAIBA MAIS
Para conhecer melhor o Programa de Erradicação do Monitoramento
Trabalho Infantil, você pode consultar o “Caderno de
Orientações Técnicas para o Aperfeiçoamento da Gestão
do PETI”, disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/
caderno-de-orientacoes-tecnicas-do-peti/.

86 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.5.4 Proteção Social Especial de Alta Complexidade – A seguir, serão apresentados os serviços da Proteção Social
concepção, serviços e equipamentos de referência Especial de Alta Complexidade e as unidades de acolhimento.
A Proteção Social Especial de Alta Complexidade atende
indivíduos que sofrem ameaças, violências e violações de direitos 2.5.4.1 Serviço de Acolhimento Institucional
e precisam ser retirados do seu núcleo familiar e comunitário. O acolhimento institucional pode ser ofertado em diferentes
tipos de equipamentos conforme o público ao qual se destina,
Na alta complexidade, é realizado o atendimento atendendo famílias e indivíduos com vínculos familiares
integral dos indivíduos na modalidade de serviços de rompidos ou fragilizados, visando garantir proteção integral.
acolhimento, garantindo moradia, alimentação, convívio As unidades devem estar inseridas nas comunidades e ter
social e demais garantias preconizadas pela política de características residenciais, ambiente acolhedor e estrutura
atendimento para os indivíduos que estão com vínculos física adequada, para o desenvolvimento de relações mais
familiares extremamente fragilizados ou rompidos próximas do ambiente familiar (BRASIL, 2014a).
(BRASIL, 2005a).
Conforme a Tipificação Nacional dos Serviços
Os serviços de acolhimento institucional são desenvolvidos na Socioassistenciais (BRASIL, 2014a), os Serviços de Acolhimento
rede socioassistencial, composta por serviços ofertados pelo Institucionais são previstos:
poder público ou organizações não governamentais.
Os serviços de acolhimento são serviços de proteção e
garantia de atendimento integral para os indivíduos que deles
necessitam, de forma excepcional e provisória, como no caso
de crianças e adolescentes que precisam ser retirados do núcleo
familiar e recebem medida protetiva prevista no Estatuto da
Criança e do Adolescente; pessoas em situação de rua; mulheres
que sofrem violência; idosos em vulnerabilidade social ou
violação de direitos, que necessitam residir em Instituições de
Longa Permanência – ILPI (BRASIL, 2014a).

87 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Para crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social em decorrência de suas famílias
ou responsáveis não realizarem os cuidados adequados. O acolhimento institucional de crianças e SAIBA MAIS
adolescentes é uma das medidas de proteção previstas no art. 101 do Estatuto da Criança e do Para saber mais sobre o Serviço de
Adolescente. Desse modo, os serviços de acolhimento institucional são ofertados em consonância com
o que prevê Estatuto da Criança e do Adolescente e as “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
Acolhimento para Crianças e Adolescentes,
para Crianças e Adolescentes”. As unidades que ofertam o serviço são: Casa-Lar e Abrigo Institucional. acesse o documento com as orientações
técnicas, disponível em: http://www.
mprs.mp.br/areas/infancia/arquivos/
conanda_acolhimento.pdf.
Para adultos e famílias em situação de rua e desabrigo por abandono, migração e
ausência de residência ou pessoas em trânsito e sem condições de autossustento.
As unidades que ofertam o serviço são: Abrigo institucional e Casa de Passagem.
2.5.4.2 Serviço de Acolhimento em República
O Serviço de Acolhimento em República oferece
moradia subsidiada para grupos de pessoas
Para mulheres em situação de violência acompanhadas ou não de seus filhos, em maiores de 18 anos em estado de abandono,
situação de risco de morte ou ameaças em razão da violência doméstica e familiar, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e
causadora de lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano moral. A unidade que
social, com vínculos familiares rompidos ou
oferta o serviço é o Abrigo Institucional.
extremamente fragilizados e sem condições
de moradia e autossustentação. O serviço é
destinado, prioritariamente, para atender jovens
Para jovens e adultos com deficiência com vínculos familiares rompidos ou fragiizados entre 18 e 21 anos após desligamento de serviços
e que não dispõem de condições de autossustentabilidade, de retaguarda familiar de acolhimento para crianças e adolescentes;
temporária ou permanente ou que estejam em processo de desligamento de instituições de
pessoas adultas com vivência de rua em fase
longa permanência. As unidades que ofertam o serviço são as Residências Inclusivas.
de reinserção social e idosos que tenham
capacidade de residir em moradia coletiva e
tenham condições de desenvolver, de forma
Para idosos com 60 anos ou mais, independentes ou com diversos graus de dependência
independente, as suas atividades da vida diária
quando esgotadas as possibilidades de autossustento e convívio com os familiares. Também
para idosos que não dispõem de condições para permanecer com a família em decorrência de (BRASIL, 2014a).
situações de violência e negligência, em situação de rua e de abandono. As unidades que
ofertam o serviço são: Casa-Lar e Abrigo em Instituição de Longa Permanência para Idosos - ILPI.

88 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A equipe técnica de referência deve contribuir com a gestão consideradas de risco, por prevenção ou determinação do Poder
coletiva da moradia e para acompanhamento psicossocial dos Judiciário. Assegura a articulação e participação em ações
usuários e encaminhamento para outros serviços, programas conjuntas de caráter intersetorial para a minimização dos danos
e benefícios da rede socioassistencial e das demais políticas e provimento das necessidades (BRASIL, 2014a).
públicas (BRASIL, 2014a).

2.5.4.3 Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora


Este serviço é responsável pelo acolhimento, por meio de
famílias acolhedoras, de crianças e adolescentes que receberam
medida protetiva prevista no Estatuto da Criança e do
Adolescente. O serviço é responsável por selecionar, capacitar,
cadastrar e acompanhar as famílias acolhedoras, a criança e o
adolescente acolhido e sua família de origem (BRASIL, 2014a).

De acordo com a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais


(BRASIL, 2014a, p. 54) “o serviço é particularmente adequado ao
atendimento de crianças e adolescentes cuja avaliação da equipe
técnica indique possibilidade de retorno à família de origem,
nuclear ou extensa.”

2.5.4.4 Serviço de Proteção em Situações de


Calamidades Públicas e Emergência
O serviço oferta alojamentos provisórios, atenções e provisões
materiais, promove o apoio e proteção à população atingida por
situações de emergência e calamidade pública. Atende famílias
e indivíduos que, por situações de incêndios, desabamentos,
deslizamentos, alagamentos, entre outras, tiveram perdas
parciais ou totais de moradia, objetos e utensílios pessoais e se
encontram temporariamente ou definitivamente desabrigados.
Também atende famílias e indivíduos removidos de áreas Foto: © [Joa Souza] / Shutterstock.

89 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Considerando os diferentes municípios brasileiros, sabemos
que, embora exista parâmetros para a implantação e a GESTÃO EFETIVA
operacionalização dos serviços socioassistenciais, as diferenças Nesta direção, surge como possibilidade o consórcio público,
regionais dão um contorno diferenciado aos serviços, que são formas de cooperação entre os municípios e o Estado
considerando-se, ainda, as estruturas formais, as particularidades para oferecer serviços. Os municípios precisam conversar entre
de formação, de investimento e cultural de cada ente. si e identificar lacunas na prestação dos serviços, conhecer
suas realidades e necessidades para poder planejar e,
Neste sentido, algumas ações e serviços previstos no SUAS consequentemente, implementar serviços que respondam
não podem ser estruturados apenas na escala dos municípios, a suas principais demandas. O Estado, enquanto ente
considerando-se duas questões importantes: importante nessa articulação, deve propor, oferecer subsídios e
estimular a dinamicidade da rede socioassistencial no âmbito
■ Muitos municípios não possuem em seu território condições regional e estadual, demonstrando seu papel de orientador e
de oferecer serviços de alta e média complexidade. cofinanciador desse processo.
■ Há municípios que apresentam serviços de referência como
polos regionais que garantem o atendimento não só da sua
população mas também de habitantes de municípios vizinhos.

Frente a essa realidade, a cooperação entre os executores dos


serviços socioassistenciais é essencial em pelo menos duas
hipóteses do desenvolvimento de serviços de referência regional:

a. Nos casos em que a demanda do município não justifique a


disponibilização, em seu âmbito, de serviços continuados
nos referidos níveis de proteção social.
b. Nos casos em que o município, devido ao seu porte ou nível
de gestão, não tenha condições de gestão individual de um
serviço em seu território.

90 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.5.5 Benefícios socioassistenciais e programas de O BPC é um direito assegurado constitucionalmente,
transferência de renda constituindo-se em direito de cidadania. De caráter não
Os benefícios socioassistenciais integram a política de contributivo, está desvinculado da condição de trabalhador e de
assistência social, compondo a Proteção Social Básica, dada a contribuições prévias à previdência social. É o primeiro benefício
natureza de sua realização. Dividem-se em duas modalidades: de prestação continuada instituído no âmbito do sistema de
o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social proteção social nesta modalidade. Confira a definição na Lei
(BPC) e os Benefícios Eventuais. nº 12.435/2011 sobre o BPC:

Política de Assistência Social “Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
Proteção Social Básica (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.”
Benefícios Socioassistenciais
O BPC está previsto na LOAS e no Estatuto do Idoso. Constitui-
Benefício de Prestação Continuada da se como transferência de renda, sendo provido pelo governo
Assistência Social (BPC) federal diretamente ao beneficiário. A gestão desse benefício
é realizada pelo Ministério da Cidadania, por intermédio
da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), que é
responsável pela implementação, coordenação, regulação,
Benefícios Eventuais financiamento, monitoramento e avaliação do benefício. De
acordo com Freitas (2016), a operacionalização é realizada pelo
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a quem compete o
requerimento, manutenção e cessação do benefício.

91 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O BPC é um benefício individual, não vitalício e intransferível, que ■ orte: tem como objetivo atender às necessidades urgentes
M
assegura a transferência mensal de um salário mínimo à pessoa da família após a morte de um de seus provedores ou
idosa, com sessenta e cinco anos ou mais, e à pessoa com deficiência, membros; atender as despesas de urna funerária, velório
de qualquer idade. Os requerentes devem comprovar não possuir e sepultamento, desde que não haja no município outro
meios de garantir o próprio sustento, nem de tê-lo provido por sua benefício que garanta o atendimento a estas despesas.
família. A renda mensal familiar per capita deve ser inferior a um ■ Vulnerabilidade temporária: benefício disponibilizado
quarto do salário mínimo vigente (FREITAS, 2016). para o enfrentamento de situações de riscos, perdas e danos
à integridade da pessoa e/ou de sua família e outras situações
É importante saber que o BPC: sociais que comprometam a sobrevivência.
■ Pode ser concedido a pessoas em situação de rua. ■ Calamidade pública: auxilia na garantia dos meios
■ Pode ser reavaliado a cada dois anos. necessários à sobrevivência da família e do indivíduo, com
■ Dá direito ao beneficiário de obter a tarifa o objetivo de assegurar a dignidade e a reconstrução da
social de energia elétrica. autonomia dos indivíduos e famílias afetadas.
■ Não é uma aposentadoria.

■ Não paga 13º salário e não deixa pensão por morte. A gestão dos Benefícios Eventuais deve ser realizada pelos
municípios e Distrito Federal, sendo seus critérios e valores
Os Benefícios Eventuais, conforme previstos no art. 22 da estabelecidos pelos conselhos municipais ou distrital. Tais
LOAS, podem ser entendidos como provisões suplementares benefícios são financiados pelos municípios
e provisórias que integram organicamente as garantias do e cofinanciados pelo Estado.
SUAS e são prestadas aos cidadãos e às famílias em virtude de
nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária
e de calamidade pública, conforme detalhados no site do SAIBA MAIS
Ministério da Cidadania e apresentados na sequência: Para conhecer mais sobre os Benefícios Eventuais, acesse
a cartilha do Ministério da Cidadania sobre o assunto,
■ Nascimento: objetiva atender às necessidades do bebê que disponível em: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/
vai nascer; apoiar a mãe nos casos em que o bebê nasce acoes-e-programas/assistencia-social/beneficios-
morto ou morre logo após o nascimento; e apoiar a família assistenciais/copy_of_Perguntasfrequentes_Beneficios_
em caso de morte da mãe. Eventuais_SUAS2.pdf.

92 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


De acordo com a NOB/SUAS, os programas de transferência O governo federal, com intuito de estabelecer medidas de
de renda enfrentamento excepcionais de proteção social para a crise
de emergência de saúde pública iniciada no ano de 2019,
“[...] visam o repasse direto de recursos dos fundos de Assistência promulgou a Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020,
Social aos beneficiários, como forma de acesso à renda, visando que prevê, entre outras deliberações, o pagamento do
o combate à fome, à pobreza e outras formas de privação de Auxílio Emergencial para os brasileiros. Este auxílio exigia o
direitos, que levem à situação de vulnerabilidade social, criando cumprimento de critérios elegíveis, seguindo a legislação,
possibilidades para a emancipação, o exercício da autonomia e suspendia, em caráter temporário, o pagamento do
das famílias e indivíduos atendidos e o desenvolvimento local.” Programa Bolsa Família (BRASIL, 2020).
(BRASIL, 2005b, p. 15)
Após cessar o pagamento do Auxílio Emergencial, o governo
Esse direito à renda se constitui como um dos aspectos centrais federal anuncia um novo programa, o Auxílio Brasil.
da assistência social, efetivando, portanto, o caráter de política Este passou a vigorar no país através da Medida Provisória
não contributiva de responsabilidade do Estado. Os programas nº 1.061, de 9 de agosto de 2021 (BRASIL, 2021b), e sua
de transferência de renda tratam de uma prestação direta de regulamentação foi proposta na data de 8 de novembro de 2021,
competência do governo federal, presente em todos os municípios. através da publicação do Decreto 10.852 (BRASIL, 2021c).

No Brasil, os principais programas federais de transferência de Em dezembro de 2021, o Programa Auxílio Brasil e o Programa
renda no âmbito da assistência social são: Alimenta Brasil foram reafirmados através de legislação
e instituídos através da Lei nº 14.284/2021 (BRASIL, 2021d).
■ rograma Auxílio Brasil
P Esses programas têm como proposição a implementação
■ Programa Alimenta Brasil da universalização da renda básica em etapas graduais e
■ Programa Auxílio Gás dos Brasileiros progressivas com vistas à superação da vulnerabilidade social
■ Proteção Social à Pessoa Portadora de Deficiência e/ou à das famílias, efetivadas por meio da transferência de renda e
Pessoa Idosa – BPC (apresentado anteriormente junto aos com condicionalidades predefinidas, sendo atrelados
benefícios socioassistenciais) aos serviços ofertados pelo SUAS.
■ Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)

93 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.5.5.1 Programa Auxílio Brasil
O Programa Auxílio Brasil integra em um só
programa várias políticas públicas, entre elas,
assistência social, saúde, educação, emprego e
renda. Caracteriza-se como um programa de
transferência direta e indireta de renda, sendo
destinado às famílias em situação de pobreza
e de extrema pobreza de todo o território
nacional. O Auxílio Brasil, além de garantir uma
renda básica às famílias, buscou simplificar a
cesta de benefícios e estimular a emancipação
das famílias beneficiadas. Por fim, objetiva que
as famílias alcancem autonomia e superem
situações de vulnerabilidade social a que estão
expostas (BRASIL, 2022b).

Os destinatários do programa são famílias e


indivíduos em situação de pobreza e extrema
pobreza com vistas ao alcance da autonomia
e superação da vulnerabilidade. A imagem a
seguir, pautada em texto legislativo, explica o
que se entende por pobreza e extrema pobreza.

Foto: © [rafapress] / Shutterstock.

94 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os benefícios financeiros do programa se
Renda familiar per capita mensal dividem em diferentes grupos, de acordo com o
artigo 4º da lei, como apresentado
no quadro a seguir.

Entre R$ 105,01 (cento e cinco


Igual ou inferior a R$ 105,00
reais e um centavo) e R$
(cento e cinco reais)
210,00 (duzentos e dez reais)

Pobreza Extrema Pobreza

95 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Benefícios de transferência de renda - Auxílio Brasil Além dos benefícios financeiros apresentados
anteriormente, o Programa Auxílio Brasil, em
Nomenclatura do Valor financeiro
Beneficiário seu art. 5º, apresenta os incentivos ao esforço
benefício do benefício
individual e à emancipação, apresentados no
Benefício
Contempla famílias com crianças
Valor de R$130,00 quadro a seguir.
na idade de zero até trinta e seis
Primeira Infância (cento e trinta reais).
meses (3 anos) incompletos.

Destinado às famílias que possuam gestantes


R$65,00 (sessenta e
ou pessoas com idade entre 3 (três) e 21 (vinte
cinco reais) mensais
e um) anos incompletos. Jovens com idade
pagos por integrante
Benefício entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos
da família.
Composição Familiar incompletos serão contemplados quando
Em caso de gestante,
matriculados na educação básica ou com
esta deve constar no
essa já concluída. Em caso de gestante, esta
banco de dados do SUS.
deve constar no banco de dados do SUS.

Destinado às famílias em situação de extrema


pobreza cuja renda familiar per capita
Benefício de Superação
mensal, mesmo somada aos benefícios Valor variável.
da Extrema Pobreza
financeiros anteriores, seja inferior ao valor
de referência (R$105,00 per capita).

Concedido às famílias beneficiárias do


Programa Bolsa Família que tiverem redução
no valor financeiro total dos benefícios
recebidos em decorrência da nova lei. Não
se aplicará às hipóteses em que a redução
na soma dos benefícios financeiros decorrer
Benefício de alteração na estrutura familiar ou da
Compensatório composição da renda da família beneficiária; Valor variável.
de Transição será concedido no mês de implementação
da nova estrutura de benefícios prevista
em lei e mantido nos meses subsequentes,
com revisão da elegibilidade e do seu valor
financeiro. Será encerrado na hipótese de
a família deixar de atender aos critérios de
permanência no Programa Auxílio Brasil.

96 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Benefícios de transferência de renda complementares do Auxílio Brasil

Nomenclatura do Valor financeiro


Beneficiário
benefício do benefício

Será concedido aos estudantes que se destacarem em competições oficiais do sistema


Os valores dos auxílios serão estabelecidos em regulamento próprio, gerido em ato
Auxílio Esporte Escolar de jogos escolares brasileiros. Somente os atletas escolares com idade entre 12 (doze)
conjunto pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
anos completos e 17 (dezessete) anos incompletos serão considerados elegíveis.

Bolsa de Iniciação Para estudantes que se destacarem em competições acadêmicas e científicas, Os valores dos auxílios serão estabelecidos em regulamento próprio.
Científica Júnior de abrangência nacional, vinculadas a temas da educação básica. Ato conjunto do Ministro de Estado da Cidadania e do Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Será concedido para acesso da criança em tempo integral ou parcial a creches,


preferencialmente monoparental, crianças de 0 (zero) até 48 (quarenta e oito)
Os valores dos auxílios serão estabelecidos em regulamento próprio.
meses incompletos de idade. É necessário comprovar: exercício de atividade
Ato conjunto do Ministro de Estado da Cidadania e do Ministro de Estado da Educação.
Auxílio Criança Cidadã remunerada; inexistência de vaga em estabelecimento de educação infantil
Com repasse direto pago pelo ente federado subnacional responsável pelo convênio para
da rede pública ou privada conveniada próxima à residência ou ao endereço
a instituição educacional conveniada em que a criança estiver matriculada.
referencial do trabalho do responsável; inscrição da família beneficiária na fila de
vagas em creche (condição a ser informada pelo órgão municipal responsável).

Será concedido para incentivo à produção, à doação e ao consumo


Auxílio Inclusão de alimentos saudáveis pelos agricultores familiares. A família beneficiária poderá receber por período máximo de trinta e seis meses, conforme as regras
Produtiva Rural Exclusivo para beneficiários em que os municípios de gestão e de permanência estabelecidas pelo Grupo Gestor do Programa Alimenta Brasil.
realizarem a adesão ao programa específico.

Para beneficiário individual que comprove vínculo de emprego formal; ou


desenvolvimento de atividade remunerada formalizada e registrada no CadÚnico,
Auxílio Inclusão na condição de trabalhador autônomo, de empreendedor ou microempreendedor Depósito periódico em conta poupança individualizada.
Produtiva Urbana individual, de profissional liberal ou outra modalidade de trabalho, com a devida Benefício gerido pelo Ministério do Trabalho e Previdência em conjunto com o Ministério da Cidadania.
inscrição previdenciária e o correspondente recolhimento das contribuições para
a Seguridade Social, nos casos em que o trabalhador seja por eles responsável.

97 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Esse programa apoia e fomenta a compra de produtos da
SAIBA MAIS agricultura familiar ou através de suas cooperativas para
Para conhecer mais detalhes sobre o Auxílio Brasil, seus aquisição e utilização em serviços da rede pública. Observados
benefícios e incentivos, condicionalidades, valores, entre o texto legal e as legislações complementares, fica o Poder
outras informações, acesse a Lei nº 14.284/2021, disponível Executivo federal, estadual, distrital e municipal autorizado a
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- adquirir alimentos produzidos pela agricultura familiar com
2022/2021/Lei/L14284.htm. dispensa de licitações para compras diretas. Aos produtores,
cabe realizar doações simultâneas à compra, com o objetivo
Assista também o vídeo de pronunciamento do Programa de atender a demandas locais de suplementação alimentar de
Auxílio Brasil, disponível em: https://www.youtube.com/ pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional.
watch?v=40LHfOeEYbE.

2.5.5.2 Programa Alimenta Brasil


A Lei 14.284/21, que instituiu o Programa Auxílio Brasil,
instituiu também o Programa Alimenta Brasil. As finalidades
do programa são o incentivo à agricultura familiar (agricultores
familiares, extrativistas, pescadores artesanais, povos indígenas
e demais populações tradicionais).

Foto: © [Alf Ribeiro] / Shutterstock.

98 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2.5.5.3 Programa Auxílio Gás dos Brasileiros 2.5.5.4 Transferência de renda vinculada ao Programa de
Por meio do Decreto nº 10.881, de 2 de dezembro de 2021, Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)
governo federal regulamentou mais um benefício vinculado Outro programa de transferência de renda às famílias é o
ao Cadastro Único do governo federal, o Programa Auxílio Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI),
Gás dos Brasileiros. já introduzido na seção 2.5.3.8. O PETI constitui-se como
um programa de transferência direta de renda articulado ao
acompanhamento socioassistencial da família pelos serviços
PODCAST da assistência social (CRAS e CREAS). É direcionado às famílias
O Programa Auxílio Gás dos Brasileiros compreende todas com crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil
as famílias inscritas no CadÚnico desde que a renda per e contribui na proteção de crianças e adolescentes contra
capita não ultrapasse ou seja igual ao valor de meio salário qualquer forma de trabalho, garantindo que frequentem a
mínimo. As famílias com membros que recebem Benefício escola e atividades socioeducativas.
de Prestação Continuada (BPC) também serão beneficiárias.
Além disso, a prioridade de alcance legal prevê que famílias As ações do PETI e seu benefício às famílias buscam erradicar
com mulheres que estejam em situação de violência todas as formas de trabalho infantil no país, em um processo de
doméstica e com medida protetiva tenham primazia no resgate da cidadania, com a inclusão social de seus beneficiários
recebimento do recurso (BRASIL, 2021e). e o desenvolvimento do trabalho social com famílias.
De acordo com a LOAS, o PETI tem abrangência nacional e será
O benefício é pago de forma bimestral e o valor corresponde desenvolvido de forma articulada pelos entes federados com a
a 50% da média do preço nacional de referência do botijão participação da sociedade civil.
de 13kg quilogramas de gás liquefeito de petróleo. Além
de esse benefício ter critério de renda superior aos demais
benefícios estipulados, ele não tem exigência de cumprimento
de condicionalidades familiares e visa contribuir na segurança
alimentar dos beneficiários. A concessão do benefício tem caráter
temporário, pessoal e intransferível, e não gera direito adquirido.

99 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Trabalho na assistência
social, e agora?
Apreensão de temas
fundamentais e
UNIDADE 3 operacionalização
Podemos perceber, na leitura e estudo até aqui, a importante SUAS e a Intersetorialidade
trajetória histórica e a consolidação da assistência social como
política pública brasileira. Foi possível percorrer e aprofundar
os conhecimentos a respeito das origens da assistência social
brasileira, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e o
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que são considerados Saúde
grandes marcos para o desenvolvimento das capacidades e
autonomia dos indivíduos, das famílias e da comunidade, bem Segurança Educação
como da ampliação do acesso a direitos socioassistenciais e das Pública
redes de relacionamento no território onde (con)vivem.

Mas, trocando em miúdos, e se perguntarem a você, que


trabalha na assistência social, o que é a assistência social?
A quem se destina? Qual seu papel e responsabilidades no Direitos SUAS Habitação
trabalho cotidiano? Quais outras políticas são parceiras do Humanos
SUAS? Buscaremos retomar essas questões nesta unidade.

3.1 Assistência social no campo da Seguridade Social na


perspectiva da interdisciplinaridade e intersetorialidade
Uma das mudanças presentes no SUAS a partir da PNAS é
Sistema de Trabalho
a intersetorialidade, pois prevê a articulação da política de
Justiça e Renda
assistência social com as políticas de outros setores, como
Segurança
saúde, educação ou habitação. Envolve estabelecer redes para
Alimentar
implementar programas, projetos, serviços e benefícios de
forma integrada e com objetivos comuns (COUTO;
YAZBEK; RAICHELIS, 2014).
Fonte: Adaptado de Capacita SUAS/PE.

101 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A Seguridade Social, art. 194 da Constituição Federal de 1988, Três pilares da seguridade social
em sua natureza, apresenta uma perspectiva intersetorial,
assegurando os direitos relativos à saúde, à previdência e
à assistência social, tornando-os três importantes pilares
para auxiliar na manutenção da vida social, em favor das
Saúde pública:
Previdência social: Espécie da seguridade
necessidades básicas universais humanas. Mecanismo público de Assistência social: social (por efeito da
proteção social e Política social de proteção
Constituição) destinada a
subsistências não contributiva aos
promover a redução de
A perspectiva do trabalho intersetorial, segundo Japiassú (1976 proporcionados mediante demandantes e
risco de doenças e o
apud LEWGOY, 2016, p. 153) remete também à importância da contribuição via mercado beneficiários.
acesso a serviços básicos
de trabalho formal.
interdisciplinaridade, compreendida por “[...] um ato de troca, de saúde e saneamento.
de reciprocidade entre as disciplinas ou ciências – ou melhor,
de áreas do conhecimento”. Em síntese, Fonte: Adaptado de Brasil (2017a).

“[...] é o espaço que possibilita visualizar as diferenças entre Políticas públicas de fundamental relevância para desenvolver
as disciplinas e as formações, as correlações de forças entre os um trabalho integrado, interdisciplinar e intersetorial para
“especialistas” e o potencial que se agrega na demarcação das concretizar os direitos de cidadania plena. É de responsabilidade
resistências a práticas unidisciplinares, num cenário em que se comum dos entes federativos – União, estados, Distrito Federal
assiste a uma aproximação cada vez maior entre conhecimento e municípios – promover a articulação do SUAS com as demais
e produção.” (LEWGOY, 2016, p.155). políticas públicas e do sistema de direitos (NOB/SUAS, 2012a).

A Constituição de 1988 prevê, nos artigos 203 e 204, a assistência A política de assistência social é regida pelos seguintes princípios:
social a quem dela necessitar, independente da contribuição
à Seguridade Social, sendo regulamentada pela LOAS como “universalização dos direitos sociais; igualdade de direitos ao
política pública responsável por benefícios monetários, acesso e ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza;
serviços socioassistenciais, programas e projetos. Dessa primazia da responsabilidade do Estado na condução da política
forma, a assistência social compõe o tripé da Seguridade Social com interação construtiva com a sociedade para o enfrentamento
juntamente com as políticas de saúde e previdência social. da miséria, pobreza e exclusão, com centralidade na família
para implementação dos serviços; descentralização político-
administrativa no âmbito da União, Estados, Distrito Federal,
com ênfase na municipalização da gestão das ações e dos serviços;

102 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


promoção da equidade no sentido da redução das desigualdades identidade e acessando os serviços públicos disponíveis. Em
sociais e enfrentamento das disparidades regionais e locais no acesso todo o território nacional há diferenças e diversidades relativas
aos recursos financeiros.” (ALVES, 2016, p. 23). à geografia, à apropriação do espaço, à cultura, às condições
socioeconômicas, de modo que as relações sociais são vivas e
Quando o público da assistência social busca o acesso aos serviços vão se construindo dinamicamente no cotidiano dos sonhos,
e benefícios socioassistenciais nos equipamentos da assistência realidades e necessidades. Essas diferenças são elementos
social, CRAS e CREAS, apresentam muitas desproteções sociais, importantes a serem considerados, pois são elas que guiam,
situações de vulnerabilidades e riscos, com rebatimento, muitas a partir do diagnóstico do território, as ações realizadas na
vezes em processos de adoecimento. Outras desproteções se política de assistente social.
associam à falta de qualidade de segurado na previdência social,
baixa escolaridade, situações de violências e de desemprego. Por isso, é importante conhecer o território, os principais
indicadores de proteção e desproteção social, buscando
O olhar, a escuta e acolhimento dos trabalhadores da a universalidade de acesso e, principalmente, conhecer
assistência social perpassam a amplitude das necessidades o público da assistência e situações atendidas, numa
dos direitos relativos à Seguridade Social, levando em conta perspectiva agregadora e integrada aos demais serviços
as particularidades de cada política, assistência social, públicos e organizações sociais, no desenvolvimento do
previdência social e saúde, demandando ações articuladas, trabalho articulado e em rede.
numa perspectiva interdisciplinar e intersetorial, muitas
vezes, para além das políticas de Seguridade Social. Isto Portanto, o olhar dos trabalhadores da assistência social, com
demanda um trabalho de acionamento e articulação suas especificidades, que devem ser apropriadas, aprofundadas
intersetorial em diferentes campos, como educação, e qualificadas, não pode perder de vista a abordagem ampla,
habitação, emprego e renda, justiça, entre outros setores que integrada e articulada em torno do tripé da Seguridade Social.
são fundamentais para assegurar a manutenção da vida e do Não é apenas um benefício ou auxílio que falta na vida das
direito social do público atendido na assistência social. pessoas, mas um conjunto de direitos assegurados e articulados,
que são garantidos por diversas políticas sociais, para além da
É no território que se evidenciam as múltiplas expressões da centralidade do trabalho, extrapolando ainda os direitos de
questão social, decodificadas por desigualdades sociais que moradia, educação, lazer, cultura, trabalho, entre outros.
afetam diretamente a vida dos indivíduos e famílias. É nele
que a vida acontece, onde os sujeitos se relacionam em família,
comunidade e sociedade, criando senso de pertencimento,

103 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Parafraseando a banda Titãs, na música “Comida” (1987), 3.2 O público da assistência social e situações atendidas
A assistência social se destina à população que vive em situação
de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação
(ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos,
entre outros) ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais
e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de
gênero ou por deficiências, entre outras) (BRASIL, 2005a).

PODCAST
Nesta direção, o público usuário da política de assistência
social é constituído por cidadãos e grupos que se
encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais
como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de
vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade;
A arte, em sua sensibilidade, transmite as motivações e ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos
necessidades universais para uma vida mais integral, em que étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante
todos desejam, sentem vontade e têm necessidades. Trabalhar de deficiências; exclusão pela pobreza ou por falta de
numa política pública como assistência social permite olhar acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias
para questões centrais e fundamentais na vida cotidiana psicoativas; diferentes formas de violências advindas do
com o foco de ampliação dos direitos sociais, previstos na núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária
Constituição Federal de 1988. ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal;
estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que
Na realização do trabalho na assistência social, é fundamental podem representar risco pessoal e social (BRASIL, 2005a).
conhecer a realidade social territorial, as principais demandas
e o público. Quem vem até a assistência vem com muitas A Resolução nº 11/2015 do Conselho Nacional de Assistência
necessidades. Já bateu em muitas portas. Vem fragilizado, Social reitera que os usuários são cidadãos, sujeitos de
com sofrimentos de diversas ordens e direitos violados. Vem direitos e coletivos em situações de vulnerabilidade e riscos
em busca de acolhimento, de proteção social do Estado, para social e pessoal, que acessam os serviços, programas,
superar dignamente a situação de vulnerabilidade vivenciada.

104 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


projetos, benefícios e transferência de renda no SUAS. Seus A assistência social, de acordo com a NOB-RH/SUAS (BRASIL,
direitos nas unidades de assistência social são destacados 2006), oferta serviços com o conhecimento e compromisso ético
com: ter acesso ao atendimento; ter acesso às informações e e político de trabalhadores que impulsionam as potencialidades
orientações sobre os serviços, programas, projetos, benefícios de emancipação de seus usuários. De acordo com Knevitz (2016),
e transferência de renda; usufruir do reconhecimento de seus os trabalhadores do SUAS atuam, em sua grande maioria,
direitos frente à sociedade; e usufruir de serviços e programas ancorados numa concepção de cidadania que articula direitos
socioassistenciais de qualidade (BRASIL, 2105b). amplos, universais e equânimes ao público atendido
na assistência social.

Mas e como é desenvolvido o trabalho a serviço dos usuários da São princípios éticos que orientam a intervenção dos
assistência social brasileira? Seguimos atentos no que nos toca, profissionais da área de assistência social:
mobiliza e motiva à leitura, ao estudo e à aplicação do conteúdo
no dia a dia do trabalho.
■ Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais.
3.3 O Trabalho Social com Famílias, os serviços do SUAS e a ■ Compromisso em ofertar serviços, programas,
operacionalização dos programas de transferência de renda: projetos e benefícios de qualidade que garantam a
integração entre serviços, programas e benefícios oportunidade de convívio para o fortalecimento de
O trabalho é o conjunto de atividades produtivas ou criativas laços familiares e sociais.
que se exerce para atingir determinado fim, de acordo com ■ Promoção do acesso à informação aos usuários,
o dicionário Houaiss (2001). A expressão trabalhadores da garantindo-lhes conhecer o nome e a credencial de
assistência social é destinada àqueles que trabalham na política quem os atende.
de assistência social. ■ Proteção à privacidade dos usuários, observado o sigilo
profissional, preservando sua privacidade e opção e
Historicamente, os trabalhadores da assistência social no Brasil resgatando sua história de vida.
eram majoritariamente assistentes sociais. Com a consolidação ■ Compromisso em garantir atenção profissional
do SUAS, a assistência social passou a contar com trabalhadores direcionada para construção de projetos pessoais e
de diversas áreas do conhecimento, compondo equipes sociais para autonomia e sustentabilidade.
multiprofissionais, para atender, em sua complexidade, a realidade
social e suas múltiplas demandas, reconhecidas por importantes
necessidades sociais, numa abordagem integral dos cidadãos.

105 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


“Conjunto de procedimentos efetuados com a finalidade de
■ Reconhecimento do direito dos usuários a ter acesso a contribuir para a convivência, para o reconhecimento de direitos
benefícios e renda e a programas de oportunidades para e possibilidades de intervenção na vida social de um conjunto
inserção profissional e social. de pessoas, unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ ou de
■ Incentivo aos usuários para que estes exerçam seu direito solidariedade – que se constitui em um espaço privilegiado
de participar de fóruns, conselhos, movimentos sociais e e insubstituível de proteção e socialização primárias, com o
cooperativas populares de produção. objetivo de proteger seus direitos, apoiá-las no desempenho da
■ Garantia de acesso à política de assistência social, sem sua função de proteção e socialização de seus membros, bem
discriminação de qualquer natureza (gênero, raça/ como assegurar o convívio familiar e comunitário, a partir do seu
etnia, credo, orientação sexual, classe social, ou outras), reconhecimento como sujeito de direitos.” (BRASIL, 2012b, p. 11).
resguardados os critérios de elegibilidade dos diferentes
programas, projetos, serviços e benefícios. Os serviços PAIF e PAEFI, apresentados nas proteções sociais na
■ Devolução das informações colhidas nos estudos e Unidade 2, são lócus privilegiados para o desenvolvimento do
pesquisas aos usuários, no sentido de que estes possam trabalho social com famílias. Esses serviços buscam garantir a
usá-las para o fortalecimento de seus interesses. oferta de atendimentos continuados, integrados aos programas
■ Contribuição para a criação de mecanismos que venham de transferência de renda, na ampliação do acesso aos direitos
desburocratizar a relação com os usuários, e proteção social, em resposta às situações de pobreza,
no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados. vulnerabilidade e risco pessoal e social.

O trabalho social desenvolvido no SUAS é pautado pelos


Fonte: Brasil (2006). princípios éticos estabelecidos na NOB-RH/SUAS (2006a) e na
NOB/SUAS (2012a) e orientado também pela Resolução n° 9/2014
Esses princípios éticos precisam ser considerados na elaboração do Conselho Nacional de Assistência Social. Este último é um
e implantação de rotinas e protocolos para orientar a atuação documento que descreve a atuação dos profissionais de ensino
dos trabalhadores da assistência social. médio e fundamental do SUAS, reconhecendo essas ocupações e
suas funções no apoio ao provimento dos serviços, programas,
Mas e o Trabalho Social com Famílias, o que compreende? projetos e benefícios, transferência de renda e ao CadÚnico.
O Trabalho Social com Famílias, no âmbito da assistência Essas ocupações serão aprofundadas nos próximos módulos.
social, é compreendido por um

106 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Na próxima seção, conheceremos os principais instrumentos “I - o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal;
de registros de informação no SUAS: o Cadastro Único para
Programas Sociais e os prontuários utilizados no SUAS, que II - os sistemas e base de dados relacionados à operacionalização
contribuem para a perspectiva ampliada de integração dos do Programa Bolsa Família e do Benefício de Prestação
serviços e benefícios socioassistenciais com o crescimento da Continuada, observadas as normas sobre sigilo de dados dos
cobertura da proteção social brasileira. respectivos Cadastros;

3.4 Principais registros de informação no SUAS: III - os sistemas de monitoramento;


Cadastro Único para Programas Sociais e prontuários
O SUAS tem um sistema de informações que armazena IV - o Censo SUAS;
todos os dados relativos aos serviços, unidades públicas e
rede socioassistencial, bem como seus dados relativos ao V - outras que vierem a ser instituídas.” (BRASIL, 2012a, p. 44).
financiamento, fundos, funcionamento de conselhos de
assistência social e cadastro de todos os trabalhadores. Esse O Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal foi
sistema é chamado de CadSUAS. Seus dados são distribuídos regulamentado pelo Decreto Presidencial nº 6.135 de 2007.
através da rede SUAS e alimentados a partir de todos os entes É direcionado para agregar dados das famílias e/ou
federativos, municípios, estados, Distrito Federal e União. indivíduos, traçando o perfil do público atendido no SUAS.
Assim, é um instrumento que possibilita a identificação
A Rede SUAS operacionaliza a gestão da informação através e a caracterização socioeconômica das famílias. É uma
de instrumentos de suporte para acompanhamento da gestão, fotografia das condições de vida das famílias que buscam a
monitoramento, avaliação e controle social dos serviços, Proteção Social Básica pelo país. É importante considerar que
programas, projetos e benefícios. São consideradas ferramentas existem outros registros referentes a como a política vem se
de gestão, além dos aplicativos da Rede SUAS: capilarizando em cada local, que, interconectados, ampliam
as possibilidades de leituras das realidades.

107 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O público cadastrado é caracterizado por baixa faixa de renda,
que, por sua vez, é estipulada pela legislação, segundo a qual a QR CODE
renda familiar mensal per capita deve ser de até meio salário Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou
mínimo. É importante destacar que o acesso à política não se tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de animação
restringe apenas a questões de recortes financeiros e renda, mas sobre a caracterização e o funcionamento do Cadastro Único
também à proteção à violação de direitos e/ou a salvaguardar (CadÚnico) do Governo Federal, ou acesse o link:
o direito à manutenção de vínculos de pertencimento e afeto, https://youtu.be/tSgMxSDznOE.
quando estes ainda são possíveis na esfera familiar.

O cadastro está vinculado ao domicílio e ao responsável pela


BAIXA FAIXA DE RENDA unidade familiar. Conforme a legislação, o Responsável
Familiar (RF) corresponde ao adulto, maior de 18 (dezoito) anos,
preferencialmente mulher, que declara as informações no
1/2 (meio) salário
momento da entrevista.
mínimo por pessoa

O cadastro gera o Número de Identificação Social (NIS)


automaticamente, após 48 horas do registro dos dados no
sistema de informação. O NIS é gerado para cada uma das
pessoas cadastradas. Além disso, o sistema também gera uma
Os municípios e o Distrito Federal, através de seus Folha Resumo, que é devidamente assinada pelo órgão emissor,
equipamentos e por intermédio de seus cadastradores municipal ou do Distrito Federal, comprovando o cadastramento.
sociais, executam o registro de dados. Estes, por sua vez, são
autodeclarados por meio de entrevistas com as famílias e/ou
indivíduos e comprovados pela apresentação de documentação SAIBA MAIS
de cada membro familiar. Após quarenta e cinco dias da realização cadastral, a família
também pode acessar essas informações pessoais, através
do “Meu CadÚnico”, disponível em: https://meucadunico.
cidadania.gov.br/meu_cadunico/, ou por aplicativos
de celulares.

108 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


As questões presentes na entrevista são referentes a: legais trazem como um de seus pré-requisitos de acesso a
características do domicílio, composição familiar, acesso inscrição no cadastro. Além disso, diferentes programas, órgãos
a serviços públicos de água, saneamento e energia elétrica, públicos e instituições cofinanciadas (e até mesmo privadas)
montante de despesas mensais familiares, se a família pertence estabelecem como requisito a inscrição prévia no cadastro, mais
a grupos populacionais tradicionais. Após os dados mais gerais, comumente para a obtenção de bolsas de ensino.
são coletados dados específicos de cada membro familiar, tais
como: escolaridade, trabalho, se possui alguma deficiência, toda As famílias beneficiárias de transferência de renda estão
documentação civil e algum outro rendimento, entre outros. submetidas ao cumprimento de condicionalidades, condições
que serão averiguadas para a continuidade ou descontinuidade
Por ser de responsabilidade exclusiva da pessoa de Referência de repasse de recurso. Essas exigências estão interligadas ao
Familiar, a atualização cadastral é obrigatória no período compromisso dos indivíduos e suas famílias na frequência
de 24 meses ou, ainda, compulsoriamente, em qualquer e comparecimento a equipamentos de duas outras políticas
ocasião que altere dados cadastrais, como: renda, residência, públicas: saúde e educação, como condicionalidade para a
composição familiar, mudança de instituição de ensino, morte manutenção do benefício. Esses cumprimentos estão ancorados
ou nascimento, entre outras alterações referentes a membros de na exigência de que a família esteja em dia com o calendário
um grupo familiar conviventes no mesmo domicílio. vacinal, o acompanhamento de pré-natal e nutricional, bem
como frequência escolar. Essas informações são interconectadas
por sistemas de informação.

Para o município e o Distrito Federal,


o cadastramento das famílias e indivíduos estão
relacionados ao repasse de recursos federais.
A coleta e armazenamento desses dados contam
com um conjunto de sistemas de informações, que,
Além disso, o CadÚnico tem múltiplas funcionalidades: além de terem níveis de acesso diferenciados dentro do SUAS,
cumprem requisitos do Índice de Gestão Descentralizada (IGD).
Para as famílias e/ou indivíduos, o cadastro, como
já referido, gera o NIS, efetivando um O IGD tem como principal função ser um indicador que
reconhecimento e uma identidade para acessar serve tanto para medir a qualidade das ações realizadas pelas
diferentes políticas públicas. Cada vez mais textos administrações locais como para incentivar melhores resultados.

109 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A União transfere aos entes federativos que aderiram ao No infográfico a seguir você pode conferir os dados do Cadastro
Programa Auxílio Brasil – antigo Bolsa Família – recursos Único referentes ao mês de outubro de 2021, consultados em
para apoio financeiro às ações de gestão e execução março de 2022, no último acervo disponibilizado
descentralizada do programa. de acesso público.

Para o governo federal, o CadÚnico é utilizado,


Dados totais de famílias inscritas no
na atualidade, como um componente
Cadastro Único do governo federal
importante de averiguação de recursos
financeiros de indivíduos e suas famílias, pois
(outubro de 2021)
contém informações de toda documentação
individual de cada membro, como CPF e RG. O governo federal,
através do cruzamento de dados com diferentes fontes de
informação, imposto de renda, INSS, e outras fontes, realiza
79.903.794 indivíduos cadastrados
apuração dos pagamentos de benefícios socioassistenciais como
o Auxílio Brasil e o Benefício de Prestação Continuada (BPC),
criando a obrigatoriedade de que os beneficiários de programas
governamentais vinculados à política de assistência social
mantenham seus dados corretos e atualizados. 32.166.847 famílias inscritas

Para a política de assistência social,


o cadastramento único tem sido uma ferramenta
primordial para o monitoramento, avaliação
e implementação dessa política. Os órgãos
45% (quarenta e cinco por
deliberativos governamentais e da sociedade 14.654.783 famílias
cento) são beneficiárias
civil têm dados fecundos para mapear no Brasil locais onde as recebem benefícios de
dos programas do
transferência direta
famílias estão desassistidas nas mais diversas políticas públicas governo federal
e necessidades, como acesso a água potável, saneamento básico,
sustentabilidade, educação, entre outras tantas categorias de
análises possíveis.

110 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A partir do cadastramento único, o cidadão tem acesso a
programas de transferência de renda direta e indireta, como
os Programas Auxílio Brasil, Alimenta Brasil e Programa Educação
Auxílio Gás dos Brasileiros, instituídos no fim de 2021 e
atrelados aos serviços ofertados pelo SUAS. Estes têm como Assistência
proposição a implementação da universalização da renda básica Social
em etapas graduais e progressivas, com vistas à superação da
vulnerabilidade social das famílias.

O Programa Auxílio Brasil é composto por alguns parâmetros


Saúde
que são: inscrição e manutenção de atualização cadastral
no CadÚnico; atendimento de critérios de renda per capita
referenciada e estabelecidos pelos valores de consideração
de situação de pobreza e extrema pobreza; regras
específicas referentes a cada benefício e o cumprimento de
condicionalidades. Os serviços socioassistenciais deverão atender Um importante instrumento de registro das ações realizadas nas
e/ou acompanhar as famílias beneficiárias que pertençam unidades da assistência social no atendimento e acompanhamento
ao público prioritário de atendimento, visto que devem ser dos cidadãos é o prontuário eletrônico ou físico (em papel).
direcionados a famílias em vulnerabilidade social e pressupõem a No prontuário eletrônico, é possível, após o registro, fazer a busca
gradativa superação e melhorias na condição de vida. do usuário pelo nome, CPF, NIS, ano, data de nascimento para
facilitar o acesso e consulta. Permite a integração das unidades
Nestes 21 anos de existência, o CadÚnico viabilizou uma rede de da rede socioassistencial instituídas pela Tipificação Nacional de
informações e dados inimagináveis, possibilitando a articulação Serviços Socioassistenciais. A versão física possibilita às equipes
de redes públicas, o compartilhamento e cruzamento de dados utilizar um instrumento nacional padronizado que auxilie
de informação dessas diferentes políticas (como a saúde, na organização e sistematização das informações relativas ao
a assistência social e a educação), que, quando interconectados, atendimento e acompanhamento dos indivíduos.
fornecem sustentabilidade para elaboração e ações conjuntas
entre serviços e benefícios para a efetivação da promoção,
prevenção e proteção previstas para execução da PNAS.

111 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Investimentos realizados na implantação dos prontuários
SAIBA MAIS eletrônicos, aquisição de equipamentos de informática
Para conhecer melhor os prontuários, acesse os manuais e internet adequados à realidade socioterritorial, são de
disponíveis em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/ fundamental importância para subsidiar o trabalho com
vigilancia-socioassistencial/prontuario-suas/. eficiência e eficácia, e necessários para a materialização e
consolidação do SUAS.

Ambos os prontuários (físico e eletrônico) possibilitam a A leitura da realidade do território no contato e na vivência das
análise, sistematização e planejamento das informações relações se enriquece com a análise dos dados numa visão micro
sobre o território da população atendida. Esses instrumentos e macro, simultaneamente. Sem perder de vista as miudezas da
contribuem na identificação das principais desproteções a realidade e se perder na vastidão dos dados coletados.
incidências territoriais para planejamento das intervenções
na redução das situações de vulnerabilidade e risco social. Saber para que serve cada sistema de coleta de dados,
Além disso, o profissional tem acesso a um vasto conjunto de quantitativos e qualitativos, possibilita compreender
informações já registradas em outros sistemas. a importância da realização dos registros para a
qualificação da leitura da realidade social, com respostas
direcionadas a cada contexto socioterritorial. E a peça
GESTÃO EFETIVA fundamental para a coleta de dados e registros é você,
Dependendo do desenvolvimento de cada município, é possível que trabalha na assistência social. Quanto maior a
trabalhar de maneira integrada com o prontuário eletrônico compreensão, mais efetivo e eficaz se tornará o SUAS.
e a base de dados do Cadastro Único do governo federal,
tornando o atendimento e acompanhamento dos cidadãos
mais efetivo e eficaz. Os dados são importantes para 3.5 Principais instrumentos de coleta de dados:
subsidiar, com maior precisão e amplitude, a ampliação do Registro Mensal de Atendimento (RMA), Censo SUAS, SISC,
acesso aos benefícios e serviços socioassistenciais, havendo SIS Acessuas e CNEAS
espaço e tempo para realizar o trabalho social com famílias, na O Registro Mensal de Atendimento (RMA) é um instrumento de
análise socioeconômica e relacional das dinâmicas, e identificar apuração de informações e está a serviço da quantificação mensal
as potencialidades em meio às vulnerabilidades a serem dos atendimentos prestados pelos equipamentos da política de
exploradas ao longo dos atendimentos e acompanhamentos. Proteção Social Básica e Especial. Os valores quantitativos:

112 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


■ Compreendem o volume de atendimentos mensais prestados
nos serviços.
■ Informam o perfil das famílias e indivíduos atendidos.
■ Ajudam a identificar situações de vulnerabilidades sociais,
riscos e violação de direitos.
■ Contabilizam benefícios socioassistenciais concedidos, entre
outras informações.

A regulamentação desse instrumento de coleta consta nas


resoluções da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) nº 04/2011
e nº 20/2013, que ditam os parâmetros nacionais para registros
de dados mais equânimes, além de especificar os registros
necessários para colher informações referente a serviços da
Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE).
A CIT tem a competência de negociar e pactuar, entre as três
esferas governamentais, as dimensões operacionais da gestão do
SUAS, mantendo seu sistema descentralizado de comando único.

A CIT estabeleceu critérios para o RMA, representando um As ações que devem ser executadas prioritariamente
relatório síntese das ações desenvolvidas nos serviços de nos serviços são as bases da pesquisa e compilação desse
CRAS, CREAS, Centro Pop e SCFV. O RMA é alimentado por instrumento. Essas ações estão em consonância com o Pacto
cada trabalhador vinculado à política de assistência social de Aprimoramento do SUAS e o compromisso com seu
no decorrer de cada mês e entregue à área da Vigilância desenvolvimento e concretização. Nacionalmente,
Socioassistencial, nos municípios que dispõem desse espaço, o instrumento unifica e padroniza as informações, sendo de
ou para os setores de gestão, quando inexiste a instância considerável impacto para mensurar o volume de famílias
adequada. O lançamento dos dados no sistema eletrônico deve alcançadas e mapear a oferta de serviços. Para a política pública,
ser feito pela gestão do sistema municipal. proporciona dados qualificados para o desenvolvimento
do SUAS, potencializando a averiguação da necessidade de
redimensionamento e ampliação do alcance dos serviços
prestados para a população.

113 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Os municípios e o Distrito Federal não estão restritos à É de responsabilidade da área de Vigilância Socioassistencial da
coleta de dados apenas constantes no relatório mensal de gestão SUAS municipal alimentar os sistemas de informação e
atendimento. O RMA representa a coleta de dados necessárias relacionar com os demais dados coletados pelos trabalhadores
para a possibilidade de avaliação e aprimoramento do SUAS dos equipamentos CRAS e CREAS, no intuito de integrar a
em termos nacionais. Cada município ou mesmo equipes de ampliar o olhar sobre a realidade territorial vivenciada.
trabalho podem definir outros valores de referência, para além
do RMA, com a finalidade de investigação, análise e leitura do Cabe ao trabalhador do SUAS a incorporação desse
território em que desenvolvem seu processo de trabalho. instrumento no seu processo de trabalho diário, percebendo
a importância de sua contribuição. É a partir do olhar do
Em relação ao RMA, é importante reafirmar o compromisso profissional, de sua escuta qualificada e da articulação por
com a interpretação de dados para melhor atendimento da diferentes fontes de coleta e diversidade de pesquisas que
população. Isso se faz em conjunto com os equipamentos que se potencializará o olhar sobre os números quantitativos já
os coletaram e com todos os envolvidos. Devemos lembrar que estruturados e regulamentados pela CIT.
os números apontam sobre um dos aspectos da pesquisa, mas
os fatos deles provenientes, os sentidos e necessidades estão O Censo SUAS foi estabelecido a partir do Decreto nº 7.334, de 19
abarrotados de significados construídos no coletivo, no diálogo de outubro de 2010.
e na troca desses saberes.
Segundo a legislação supracitada, este documento tem
por sua finalidade gerar informações sobre os serviços,
programas e projetos realizados pelas unidades públicas
de assistência social e/ou entidades cofinanciadas
vinculadas ao cumprimento das ações do SUAS.

Esses dados têm a intencionalidade de dar sustentabilidade


à construção e manutenção de indicadores para subsidiar o
monitoramento, avaliação e gestão integrada do sistema.
Os dados são coletados e analisados por meio de uma ação
integrada entre a Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS)
e a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI).

114 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


A realização periódica do Censo SUAS contribui para a escolha SAIBA MAIS
dos indicadores que medem a organização da oferta dos serviços Para ter acesso à base de dados e visualizar os resultados
na rede socioassistencial, a organização da gestão e do Controle do Censo SUAS, acesse “Censo SUAS – Bases e Resultados”,
Social nos estados, no Distrito Federal e nos municípios disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/
(BRASIL, 2012a, p. 14). vigilancia/index2.php.

As informações disponíveis no banco de dados são resultado da


Indicadores que subsidiam o coleta de todas as instâncias que preencheram o Censo SUAS
Censo SUAS monitoramento, avaliação e
por ano de referência. O documento a ser disponibilizado pelo
gestão integrada do sistema
site é em PDF e representa a aglutinação da coleta de dados da:

■ Gestão do Sistema Único Municipal e Estadual


As unidades públicas diretas terão periodicidade anual de ■ Serviços próprios do SUAS, CRAS, CREAS, Centro POP
coleta de dados, as demais unidades de realização das ações, ■ Conselhos Municipal e Estadual
cofinanciadas, da política serão determinadas por outra ■ Serviços cofinanciados e/ou próprios
periodicidade por ato do Ministério do Desenvolvimento Social. ■ Família Acolhedora
A geração de dados é realizada em regime de colaboração ■ Unidades de Acolhimento
entre os entes federados, pois a coleta se realiza de forma ■ Fundos Municipais e Estaduais
descentralizada em cada unidade de referência em execução
dos serviços de proteção do SUAS. O Ministério compromete-se
a não divulgar os dados pessoais dos trabalhadores constantes Além desses instrumentos de coletas já referidos, o SUAS é
no Censo SUAS e a não utilizar tais dados para outros fins, além interconectado com outros sistemas de informação que são
dos previstos para o bom funcionamento e operacionalização da alimentados em todos os pontos da rede de serviços através
política pública a que se destinam. do Cadastro do SUAS (CadSUAS). Este, por sua vez, comporta
todas as informações relativas às prefeituras, ao órgão gestor,
ao fundo, ao conselho municipal e às entidades que prestam
serviços socioassistenciais. Iremos elucidar outros dois
sistemas de informação: SISC e SIS Acessuas.

115 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


O Sistema de Informação do Serviço de Convivência e O Sistema de Acompanhamento do Programa Acessuas
Fortalecimento de Vínculos (SISC) constitui-se na ferramenta Trabalho (SIS Acessuas) objetiva acompanhar e monitorar a
que auxilia na gestão e acompanhamento desses serviços gestão do Programa Nacional de Acesso do Mundo do
disponibilizados pela política. Trabalho – Acessuas Trabalho.

O sistema de informação é alimentado trimestralmente, e suas Esse programa é desenvolvido no âmbito municipal, prevê
informações são subsídio para o repasse de recursos federais. metas a serem atendidas e preconiza ações de caráter grupal,
O SISC contribui na efetivação e monitoramento deste serviço, oficinas e também atendimentos individualizados. É composto
estabelecendo metas para que os serviços estejam alinhados por quatro eixos de atuação:
com as diretrizes da política de assistência social. O SCFV
está hierarquicamente vinculado a um CRAS e faz parte da 1. Identificação e sensibilização de usuários.
rede de Proteção Social Básica de um determinado território. 2. Desenvolvimento de habilidades pessoais e orientação para o
É importante destacar que o público atendido no SCFV pode mundo do trabalho.
estar vinculado a outro nível de complexidade, tanto de alta 3. Acesso a oportunidades.
como de média complexidade. 4. Monitoramento do percurso dos usuários no mundo do
trabalho (BRASIL, 2017b).

Sistema de Informação do Serviço de Convivência


e Fortalecimento de Vínculos (SISC)

É alimentado trimestralmente

As informações são subsídio para o


repasse de recursos federais

116 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Integrante do SUAS, o programa é voltado ao mundo do
trabalho, sendo efetivado de forma transversal e compondo,
Gestão de Informação no SUAS
dentro do sistema de garantias, a segurança de desenvolvimento
da autonomia e acesso à renda. Os critérios de elegibilidade e
pactuação são regulados pela CIT e aprovados pelos respectivos
conselhos em cada ente federado. O programa possui
CADúnico
cofinanciamento federal e seu monitoramento e avaliação são
efetivados através do sistema de informação SIS Acessuas.

O Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social


(CNEAS) é uma ferramenta de gestão de coleta de dados CNEAS RMA
sobre as entidades e ofertas socioassistenciais. É preenchido
pelo órgão gestor municipal, a partir das informações
originárias do Conselho Municipal de Assistência Social.
Contribui para a aproximação entre o Estado e a sociedade Principais sistemas de gestão
civil no acompanhamento dos serviços ofertados. Permite da informação do SUAS
o acompanhamento pelos gestores e a possibilidade de as
organizações celebrarem parcerias com a administração
pública e recebimento de recursos, como também é condição
SIS Acessuas Censo SUAS
para a obtenção da Certificação de Entidades Beneficentes de
Assistência Social – CEBAS (BRASIL, 2022c).

Os instrumentos de coleta de dados – CadÚnico, RMA, Censo


SUAS, SISC, SIS Acessuas e CNEAS – compõem os principais SISC
sistemas de gestão da informação do SUAS. Eles dão estrutura
para produção de dados oficiais ao sistema, permitindo a
qualificação dos serviços prestados à população, bem como
meio de prestar contas à sociedade.

117 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


3.6 Educação permanente e articulação entre as esferas “[...] constitui-se no processo de permanente aquisição de
No mundo vasto da assistência social brasileira – política que vem informações pelo trabalhador, de todo e qualquer conhecimento,
crescendo, amadurecendo, consolidando-se e complexificando- por meio de escolarização formal ou não formal, de vivências,
se –, é de fundamental importância desenvolver a cultura da de experiências laborais e emocionais, no âmbito institucional ou
educação permanente. Esta contribui no aprofundamento da fora dele. Compreende a formação profissional, a qualificação, a
qualificação profissional, por meio de percursos formativos requalificação, a especialização, o aperfeiçoamento e a atualização.
essenciais para melhoria dos processos de trabalho e da qualidade Tem o objetivo de melhorar e ampliar a capacidade laboral do
das ofertas disponibilizadas à população. trabalhador, em função de suas necessidades individuais, da equipe
de trabalho e da instituição em que trabalha, das necessidades dos
usuários e da demanda social.” (BRASIL, 2006, p. 37).
Melhoria dos
Educação
processos de
permanente trabalho A Política Nacional de Educação Permanente (PNEP) no SUAS foi
instituída em 2013 e tem como objetivo desenvolver a perspectiva
Melhoria da
qualidade das político-pedagógica e a cultura da educação permanente. Isso
ofertas contribui com a profissionalização do SUAS, demandando aos
disponibilizadas à gestores, trabalhadores e conselheiros, novos conhecimentos,
população
Aprofundamento habilidades e atitudes em resposta às necessidades da provisão
da qualificação dos serviços e benefícios socioassistenciais. A PNEP se destina à
profissional
formação e ao desenvolvimento das competências e capacidades
requeridas pelo SUAS e contempla duas dimensões: a do trabalho
e a pedagógica. A dimensão do trabalho reconhece os processos
Cabe, a partir da leitura, estudo, processo de reflexão e ação, de trabalho que darão concretude à política. A dimensão
pensar estratégias continuadas para que este curso extrapole os pedagógica busca processos continuados de capacitação e
muros da comunidade de profissionais inscritos e adentre nos formação no desenvolvimento da carreira dos trabalhadores
espaços sócio-ocupacionais de todo o território nacional. (BRASIL, 2013c). As ações de formação e capacitação foram
organizadas em três percursos formativos, conhecidos por Gestão
Para tanto, é importante compreender e desmistificar a do SUAS; Provimento de Serviços e Benefícios Socioassistenciais;
educação permanente, que e Controle Social do SUAS. É importante que estes percursos
trilhados sejam reconhecidos por certificado e contribuam para a
progressão funcional dos trabalhadores.

118 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


PNEP

Reconhece os processos de
Trabalho trabalho que darão
concretude à política

PNEP contempla
duas dimensões:

Busca processos continuados


Dimensão de capacitação e formação no
pedagógica desenvolvimento da carreira
dos trabaladores

Organizadas em três Provimento de serviços


percursos formativos: Gestão do SUAS e benefícios Controle Social do SUAS
socioassistenciais

119 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


De acordo com a PNEP (BRASIL, 2013c), os três entes federativos ■ Conhecimento da política de assistência social, trabalho
– município, estado e União – podem ofertar quaisquer percursos e legislações
formativos e de tipos de ação de formação e capacitação em ■ Trabalho intersetorial e interdisciplinar
consonância com o SUAS. Todavia, as responsabilidades dos ■ Compreensão da população em situação de rua
entes são complementares e diferenciadas. ■ Substâncias psicoativas e dependência
■ Diversidade de abordagens grupais (diferentes ciclos de vida)
■ Trabalho com famílias
SAIBA MAIS ■ Sobre o território
Para conhecer detalhadamente as responsabilidades ■ Violências (crianças, adultos, doméstica,
compartilhadas e específicas por ente, confira, entre as idoso, socioterritorial)
páginas 50 e 54, o documento da Política Nacional de ■ Acolhimento institucional
Educação Permanente do SUAS, disponível em: https://
www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_
social/Normativas/Politica-nacional-de-Educacao- SAIBA MAIS
permanente.pdf. Para mais informações, é possível ver o vídeo sobre a
Educação Permanente no SUAS na íntegra, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=q-yL3nBTbuM.
O Grupo de Pesquisa, Educação, Trabalho e Políticas Sociais da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) produziu
um vídeo educativo sobre a Educação Permanente no SUAS. Uma iniciativa local relevante, tendo sido colocada em prática,
O vídeo apresenta o percurso histórico da Educação Permanente foi a criação do Setor de Educação Permanente da Secretaria
no SUAS. Enfatiza que os conteúdos selecionados e abordados Municipal de Assistência Social de Florianópolis, em Santa
são oriundos das demandas apresentadas no cotidiano Catarina. Há três anos é aplicado questionário on-line com
profissional. A equipe e usuários identificam as situações ou as os trabalhadores de nível médio e ensino superior, para a
necessidades que requeiram uma intervenção técnica operativa e consulta dos principais temas a serem desenvolvidos com os
uma transformação da situação inicial, de desconhecimento para trabalhadores. Os temas demandados pelos trabalhadores de
domínios das situações apresentadas. A educação permanente nível médio foram:
ocorre nos espaços de trocas de saberes, como: capacitações,
reuniões de estudo, estudos de caso e planejamento e seminários.
Destacam-se os saberes necessários para o trabalho no SUAS:

120 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


2019 2020 2021

■ Gestão pública ■ Gestão pública ■ Comunicação positiva


■ Gestão orçamentária ■ Segurança do servidor ■ Mediação e resolução de conflitos
■ Gestão de pessoas ■ Saúde mental ■ Gestão de pessoas
■ Redação oficial ■ Mundo do trabalho ■ Gestão da informação
■ Atendimento ao público na recepção ■ Funções de educador social ■ Empoderamento feminino
■ Rotinas administrativas ■ Educação ambiental ■ Responsabilidade social e os servidores da rede SUAS
■ Licitação ■ Educação financeira ■ Analfabetismo
■ Mundo do trabalho ■ Teletrabalho ■ Drogas
■ Atendimento à pessoa em situação de rua ■ Economia solidária ■ Sexualidade
■ Legislações pertinentes ao trabalho no SUAS ■ Saúde pública ■ Controle social
■ Funções de educador social ■ Relações de poder ■ Planejamento e orçamento público
■ Mediação de conflitos ■ Desigualdade social no brasil e seus impactos em ■ Aplicativos e novas ferramentas de comunicação em
■ Administração do tempo épocas de pandemia tempos de pandemia
■ Ética no trabalho ■ Atendimento ao imigrante ■ Saúde mental
■ Saúde mental ■ Educação inclusiva ■ Línguas estrangeiras
■ Libras ■ Ferramentas de administração e licitação
■ Planilha eletrônicas ■ Bullying
■ Idiomas para atendimento de imigrantes: espanhol, ■ Diversidade cultural
inglês, crioulo. ■ Preconceito
■ Educação antirracista

Nos temas apresentados acima, como recorte socioterritorial, de educação permanente em todas as esferas de governo.
percebeu-se a diversidade de conteúdos formativos com Saber o que realmente emerge como necessidade de educação
necessidade de interlocução interdisciplinar e intersetorial continuada é uma possibilidade de enriquecer e aprofundar o
na compreensão da integralidade dos sujeitos de direitos processo de trabalho das equipes na troca de saberes e fazeres
que buscam à assistência social brasileira. Isso requer maior no SUAS.
qualificação e aprofundamento profissional dos trabalhadores
e evidencia a importância da criação e consolidação da política Veja a seguir a retomada dos principais pontos deste módulo.

121 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


SÍNTESE DO MÓDULO A União, o Distrito Federal, os estados e os municípios,
Neste módulo, descrevemos um percurso de compreensão em conjunto, são responsáveis por este sistema. Entre os
das políticas sociais no Estado, assim como conceitos objetivos do SUAS estão: compor a rede pública de serviços,
importantes para a assistência social no Brasil: políticas programas, projetos e benefícios de assistência social;
sociais, direitos sociais, proteção social, necessidades cofinanciar os serviços, estabelecer as responsabilidades
humanas, riscos sociais e vulnerabilidade social. Destacamos entre os entes federados e contribuir na gestão integrada dos
alguns importantes interlocutores nesse campo: as famílias, serviços. Outros aspectos centrais para melhor compreensão
o mercado e as organizações da sociedade civil. do SUAS são suas diretrizes, entre elas, a primazia da
responsabilidade do Estado na condução da política de
Foi oferecido a você, cursista, um panorama histórico sobre as assistência social, a descentralização político-administrativa
práticas de assistência e sobre o período em que esse direito e territorialização, a centralidade na família para concepção
não existia. No Brasil, já no século 20, a assistência social e implementação dos benefícios, serviços, programas
tardou a estabelecer instrumentos jurídicos sistematizados e projetos, e o controle social e a participação popular,
ou fundos públicos de financiamento específicos. Sua aspectos trabalhados neste primeiro módulo do curso.
abrangência era ampla e inespecífica e se dispersava em
outras políticas como educação, saúde e habitação. O direito O SUAS possui seguranças afiançadas, estas apontam para
à assistência social se institui na Constituição Federal de 1988. a garantia dos direitos humanos e respostas às necessidades
Foram apresentadas as principais legislações que consolidam essenciais dos cidadãos. Portanto, o SUAS prevê programas,
a política de assistência social no Brasil e o SUAS, além da projetos, serviços e benefícios para garantir as seguranças
Constituição: a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), de acolhida, de renda, de convívio ou vivência familiar,
a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), a Norma comunitária e social, de desenvolvimento de autonomia e de
Operacional Básica (NOB/SUAS) e a Tipificação Nacional do apoio e auxílio.
Serviços Socioassistenciais.
A proteção social do SUAS se divide por níveis de
Ao chegar no SUAS, o apresentamos como um sistema público complexidade, sendo básica e especial de média e alta
estatal de assistência social no campo da proteção social, que complexidade. Os principais equipamentos do SUAS são os
regula, organiza, estrutura, planeja, coordena e executa a oferta CRAS e os CREAS. O SUAS possui também benefícios sociais e
de serviços socioassistenciais em todo o território brasileiro. programas de transferência de renda, sendo os

122 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


benefícios sociais de caráter não contributivo e divididos em
duas modalidades: o Benefício de Prestação Continuada da
Assistência Social (BPC) e os Benefícios Eventuais, concedidos
em virtude de nascimento, morte, vulnerabilidade temporária
e/ou calamidade pública. Já os programas de transferência de
renda são: Auxílio Brasil, o Alimenta Brasil, o Auxílio Gás dos
Brasileiros, o BPC e o PETI.

Foram apresentados elementos importantes da


operacionalização do SUAS e da assistência social a partir da
perspectiva intersetorial e interdisciplinar. Caracterizou-se
o público da assistência social, a centralidade do trabalho
social com famílias e a operacionalização dos programas de
transferência de renda na lógica da integração entre os serviços,
programas e benefícios do SUAS. Além disso, foram introduzidos
os principais registros de informação e instrumentos de coleta
de dados, finalizando o módulo com o importante tema da
educação permanente no âmbito do SUAS.

Você finalizou o Módulo 1! No próximo módulo você vai


aprender mais sobre a função de cuidador social.

123 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


Referências
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133 MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO SUAS


UNIVERSIDADE FEDERAL DE DESIGN GRÁFICO CONTEUDISTAS DO MÓDULO
SANTA CATARINA Supervisão: Sonia Trois Deidvid de Abreu
Airton Jordani Jardim Filho Francielle Lopes Alves
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD) Lais dos Santos da Silva Maria Gabriela da Rocha
Laura Schefer Magnus
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Márcio Luz Scheibel SECRETARIA
Luciano Patrício Souza de Castro Nicole Alves Guglielmetti Murilo Cesar Ramos
Vinicius Costa Pauli Waldoir Valentim Gomes Junior
labSEAD Vinicius Leão da Silva
COORDENAÇÃO GERAL NARRAÇÃO/APRESENTAÇÃO
Luciano Patrício Souza de Castro REVISÃO TEXTUAL Áureo Mafra de Moraes
Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo
FINANCEIRO Guilherme Ribeiro Colaço Mäder AUDIODESCRIÇÃO
Fernando Machado Wolf Vanessa Tavares Wilke
PROGRAMAÇÃO Vivian Ferreira Dias
CONSULTORIA TÉCNICA EAD Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Giovana Schuelter Bruno Fuhrmann Kehrig Silva NARRAÇÃO/AUDIODESCRIÇÃO
Luiz Eduardo Pizzinatto Milene Silva de Castro
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Cristina Spengler Azambuja AUDIOVISUAL INTÉRPRETE LIBRAS
Supervisão: Rafael Poletto Dutra Vitória Cristina Amancio
COORDENAÇÃO DE AVEA Andrei Krepsky de Melo
Andreia Mara Fiala Dilney Carvalho da Silva SUPERVISÃO TUTORIA
Daniele de Castro Amanda Herzmann Vieira
DESIGN INSTRUCIONAL Iván Alexis Bustingorri Diogo Félix de Oliveira
Supervisão: Milene Silva de Castro Jeremias Adrian Bustingorri João Batista de Oliveira Junior
Christian Jean Abes Monica Stein Thaynara Gilli Tonolli
Larissa Usanovich de Menezes Rodrigo Humaita Witte
Laura Tuyama
SECRETARIA NACIONAL DE SECRETARIA ESPECIAL DO
ASSISTÊNCIA SOCIAL DESENVOLVIMENTO SOCIAL

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