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Resumo: Este trabalho objetiva refletir as atividades educativas desenvolvidas durante o Estágio
Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma organização não-governamental. A pes-
quisa se configura em abordagem qualitativa por meio de observação participante e regência. Os
resultados revelam que as práticas possuem intencionalidade educativa baseadas nos saberes,
além de priorizar a importância da música. Quanto à regência, considera-se que os participantes
assimilaram os conhecimentos trabalhados, pois as narrativas demonstraram a importância que
a música tem em projetos de vida. Conclui-se que o estágio contribuiu significativamente para a
formação inicial, apresentando os desafios e perspectivas de ensino em ambientes não escolares,
com suas singularidades e diversidades.
INTRODUÇÃO
Esta produção tem como objeto de estudo as experiências formativas construídas durante
o Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma Organização Não Governamen-
tal (ONG) localizada na cidade de Bragança, Estado do Pará, Brasil. As ações desenvolvidas em
espaços não escolares se configuram como contextos de desenvolvimento sociocultural e transfor-
mação social por meio da educação.
A educação, como fenômeno e instituição social, compreende influências e relações que
constroem traços de personalidade social e de caráter humano, que fundamentam concepções
de mundo, ideias, valores, modos de ser e agir, demonstrados em convicções ideológicas, morais
e políticas diante as possibilidades e desafios da vida prática (LIBÂNEO, 2013). Em espaços não
escolares, o processo educativo é desenvolvido por meio da ação prática, reflexiva e crítica dos
sujeitos para com as situações e problemas relacionados aos grupos sociais a que pertencem.
Com efeito, a educação não formal “[...] sempre tem um caráter coletivo, passa por um pro-
cesso de ação grupal, é viva como práxis concreta de um grupo, ainda que o resultado do que se
aprende seja absorvido individualmente” (GOHN, 2008, p. 104). Desse modo, a educação desen-
volvida na coletividade ganha destaque, pela produção mútua de saberes, vivências e reflexões de
práticas sociais em espaços formativos, uma vez que “[...] em diferentes esferas da prática social,
mediante as modalidades de educação informais, não-formais e formais, amplia-se a produção e
disseminação de saberes e modos de ação [...]” (LIBÂNEO, 2001, p. 1).
O profissional pedagogo também está inserido nestes espaços de ensino e aprendizagem
de formação social, política e educacional. Logo, necessita-se de uma formação inicial de qualida-
de, que subsidie ao futuro professor fundamentos teóricos, metodológicos e práticos para atuação,
como por meio de estágio supervisionado curricular, compreendido não apenas como um compo-
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nente curricular, mas como uma atividade que possibilita à inserção de licenciandos em espaços
escolares ou não escolares (PIMENTA, 2006).
Nessa incursão, o estágio supervisionado analisado se constitui como “[...] atividade teórica
(de conhecimento e estabelecimento de finalidades) na formação do professor instrumentalizadora
da práxis (atividade teórica e prática) educacional” (PIMENTA, 2006, p. 121-122), sendo momento
de ação, reflexão e transformação do contexto de estágio, em superação a visões reducionistas ou
passivas de mera observação, buscando a melhoria de práticas educativas realizadas.
O Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares visa o desenvolvimento de ativi-
dades orientadas e supervisionadas em ambientes não escolares, tendo em vista a tessitura de
reflexões formativas e reflexivas por meio da relação teoria e prática. Nesse sentido, a atividade de
estágio se torna um espaço/tempo de aprendizagens, em busca da relação dialética entre o pro-
fissional atuante e o discente em processo de formação inicial, possibilitando a profissionalização
(MIRANDA, 2009), assim como a construção da identidade docente por meio da construção do
conhecimento (PIMENTA, 2002).
Para fins de construção do texto e direcionamento do estágio, elaboramos o questionamento
de pesquisa: que contribuições o estágio supervisionado proporcionou para profissionais e alunos
da instituição concedente, além da experiência formativa para discentes do curso de Licenciatura
em Pedagogia, visando à atuação em ambientes não escolares? Nesse sentido, buscamos um
posicionamento crítico e reflexivo diante de análises de processos educativos e práticas desenvol-
vidas neste espaço formativo.
Nessa tessitura, elencamos como objetivo geral: refletir as práticas educativas realizadas
durante o Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma Organização Não Gover-
namental. Quanto aos objetivos específicos, são: a) compreender a função social do pedagogo em
espaço educativo não escolar; b) construir tessituras entre teoria e prática vivenciadas no compo-
nente curricular; c) desenvolver atividades educativas que garantam o desenvolvimento social das
pessoas atendidas pela Organização Não Governamental.
PERCURSO METODOLÓGICO
1. A fundação busca difundir a educação musical como instrumento para socialização e inclusão social de crianças, jovens e
adultos no Estado do Pará, proporcionando a formação de músicos, potencializando talentos e documentando a memória regional
por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão (FUNDAÇÃO CARLOS GOMES, 2017, s/p).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste texto buscamos refletir sobre as atividades educativas realizadas durante o Estágio
Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma ONG de Bragança (PA). Desenvolvemos ati-
vidades formativas referentes à atuação do pedagogo em ambientes não escolares, analisando a
função social e educativa por meio da observação participante e regência, visando à relação teoria
e prática.
Quanto à administração da instituição, verificamos que há uma excelente organização, tanto
no atendimento ao público quanto no planejamento de ações. Para melhoria dos serviços, suge-
rimos a criação de um documento que sistematize e caracterize as práticas com intencionalidade
pedagógica. Nesse documento conteria histórico da instituição, filosofia, objetivos institucionais e
socioeducativos, justificativa, referenciais legislativos e teóricos, métodos de ensino, aprendiza-
gem, formação social, educativa e cognitiva.
Justificamos a criação desse documento para fins de registro das ações e atividades rea-
lizadas no âmbito do instituto. Outra contribuição dessa escrituração seria a disponibilização das
informações para a sociedade, para discentes de cursos de graduação e para estudos e pesquisas
em ambientes não escolares do terceiro setor.
No tocante das práticas educativas na observação participante, percebemos que todas pos-
suem uma intencionalidade educativa, que são baseadas nas histórias dos alunos, seus saberes e
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conhecimentos, além de priorizarem a importância da música no desenvolvimento cognitivo, social
e cultural destes alunos. Valorizam o reconhecimento do outro, no que se refere à diversidade e
diferença, assim como atividades de ensino e aprendizagem sobre: Educação Musical e prática
instrumental de flauta-doce, violino e violão.
Na aplicação do plano de ação e regência, os objetivos e expectativas de aprendizagem
foram alcançados, pois consideramos que as crianças e adolescentes assimilaram os conheci-
mentos musicais trabalhados, uma vez que relataram a importância da música em suas vidas, o
reconhecimento e a valorização, assim como as relações socioculturais proporcionadas por esse
campo do conhecimento.
O estágio supervisionado contribuiu significativamente para a formação inicial, no tocante à
atuação em ambientes não escolares, de modo a reconhecer as práticas educativas desenvolvidas
nesse espaço. Salientam-se os desafios para planejamento e efetivação da prática docente, em
que diversos espaços não possuem a presença de um pedagogo, mas por intermédio de levanta-
mento de literaturas e diálogos construtivos com os profissionais da instituição foi possível tecer
caminhos para a efetivação da prática.
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