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Estágio Supervisionado em

ambientes não escolares: experiências


formativas em uma Organização Não
Governamental de Bragança (PA)

Antonio Matheus do Rosário Corrêa


Luane de Cássia Carvalho de Oliveira

01
Resumo: Este trabalho objetiva refletir as atividades educativas desenvolvidas durante o Estágio
Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma organização não-governamental. A pes-
quisa se configura em abordagem qualitativa por meio de observação participante e regência. Os
resultados revelam que as práticas possuem intencionalidade educativa baseadas nos saberes,
além de priorizar a importância da música. Quanto à regência, considera-se que os participantes
assimilaram os conhecimentos trabalhados, pois as narrativas demonstraram a importância que
a música tem em projetos de vida. Conclui-se que o estágio contribuiu significativamente para a
formação inicial, apresentando os desafios e perspectivas de ensino em ambientes não escolares,
com suas singularidades e diversidades.

Palavras-Chave: Ambiente não escolar; Estágio supervisionado; Experiências formativas; Organi-


zação Não Governamental.

INTRODUÇÃO

Esta produção tem como objeto de estudo as experiências formativas construídas durante
o Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma Organização Não Governamen-
tal (ONG) localizada na cidade de Bragança, Estado do Pará, Brasil. As ações desenvolvidas em
espaços não escolares se configuram como contextos de desenvolvimento sociocultural e transfor-
mação social por meio da educação.
A educação, como fenômeno e instituição social, compreende influências e relações que
constroem traços de personalidade social e de caráter humano, que fundamentam concepções
de mundo, ideias, valores, modos de ser e agir, demonstrados em convicções ideológicas, morais
e políticas diante as possibilidades e desafios da vida prática (LIBÂNEO, 2013). Em espaços não
escolares, o processo educativo é desenvolvido por meio da ação prática, reflexiva e crítica dos
sujeitos para com as situações e problemas relacionados aos grupos sociais a que pertencem.
Com efeito, a educação não formal “[...] sempre tem um caráter coletivo, passa por um pro-
cesso de ação grupal, é viva como práxis concreta de um grupo, ainda que o resultado do que se
aprende seja absorvido individualmente” (GOHN, 2008, p. 104). Desse modo, a educação desen-
volvida na coletividade ganha destaque, pela produção mútua de saberes, vivências e reflexões de
práticas sociais em espaços formativos, uma vez que “[...] em diferentes esferas da prática social,
mediante as modalidades de educação informais, não-formais e formais, amplia-se a produção e
disseminação de saberes e modos de ação [...]” (LIBÂNEO, 2001, p. 1).
O profissional pedagogo também está inserido nestes espaços de ensino e aprendizagem
de formação social, política e educacional. Logo, necessita-se de uma formação inicial de qualida-
de, que subsidie ao futuro professor fundamentos teóricos, metodológicos e práticos para atuação,
como por meio de estágio supervisionado curricular, compreendido não apenas como um compo-
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nente curricular, mas como uma atividade que possibilita à inserção de licenciandos em espaços
escolares ou não escolares (PIMENTA, 2006).
Nessa incursão, o estágio supervisionado analisado se constitui como “[...] atividade teórica
(de conhecimento e estabelecimento de finalidades) na formação do professor instrumentalizadora
da práxis (atividade teórica e prática) educacional” (PIMENTA, 2006, p. 121-122), sendo momento
de ação, reflexão e transformação do contexto de estágio, em superação a visões reducionistas ou
passivas de mera observação, buscando a melhoria de práticas educativas realizadas.
O Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares visa o desenvolvimento de ativi-
dades orientadas e supervisionadas em ambientes não escolares, tendo em vista a tessitura de
reflexões formativas e reflexivas por meio da relação teoria e prática. Nesse sentido, a atividade de
estágio se torna um espaço/tempo de aprendizagens, em busca da relação dialética entre o pro-
fissional atuante e o discente em processo de formação inicial, possibilitando a profissionalização
(MIRANDA, 2009), assim como a construção da identidade docente por meio da construção do
conhecimento (PIMENTA, 2002).
Para fins de construção do texto e direcionamento do estágio, elaboramos o questionamento
de pesquisa: que contribuições o estágio supervisionado proporcionou para profissionais e alunos
da instituição concedente, além da experiência formativa para discentes do curso de Licenciatura
em Pedagogia, visando à atuação em ambientes não escolares? Nesse sentido, buscamos um
posicionamento crítico e reflexivo diante de análises de processos educativos e práticas desenvol-
vidas neste espaço formativo.
Nessa tessitura, elencamos como objetivo geral: refletir as práticas educativas realizadas
durante o Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma Organização Não Gover-
namental. Quanto aos objetivos específicos, são: a) compreender a função social do pedagogo em
espaço educativo não escolar; b) construir tessituras entre teoria e prática vivenciadas no compo-
nente curricular; c) desenvolver atividades educativas que garantam o desenvolvimento social das
pessoas atendidas pela Organização Não Governamental.

PERCURSO METODOLÓGICO

Esta pesquisa se configura em abordagem qualitativa, na qual “[...] é de particular relevân-


cia ao estudo das relações sociais devido à pluralização das esferas da vida” (FLICK, 2009, p. 20).
Desse modo, a perspectiva qualitativa de investigação está alinhada com a proposta de estágio
supervisionado, uma vez que proporciona ao discente-estagiário a construção de uma práxis edu-
cativa pautada em diálogos e relações raciais inerentes à vida dos sujeitos, constituindo e recons-
tituindo sua formação pedagógica e profissional.
O lócus de realização do estágio é uma Organização Não-Governamental, localizada no
município de Bragança/PA, configurado como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse
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Público (OSCIP) que atua como alternativa para desenvolvimento social de crianças e adolescen-
tes no município. Fundada em 21 de fevereiro de 2013, a instituição desenvolveu, no ano de 2018,
atividades de acolhimento dos estudantes, acompanhamento do processo de ensino e aprendi-
zagem, com vistas a contribuir para o desenvolvimento pessoal e social, assistência individual e
familiar quando necessário, oficinas de música por meio do projeto Despertar Musical, financiado e
mantido por convênio com a Fundação Carlos Gomes¹, possibilitando o ensino de música a crian-
ças e adolescentes de baixa renda.
Anterior ao processo de levantamento de dados, discutimos textos para fundamentação
teórica do estágio e relação teórico-prática, entre os quais destacamos: Pimenta (2002, 2006) e
Libâneo (2001, 2010, 2013), para conceituação de estágio supervisionado e prática educativa e
Gohn (2008) e Miranda (2009), para circunstanciar educação não formal e atuação do profissio-
nal pedagogo em ambientes não escolares. Em seguida, houveram orientações para atuação em
instituição concedente, sendo fornecidos os documentos: termo de compromisso de estágio, ofício
para entrega na instituição concedente, ficha de frequência, ementa da disciplina, roteiro para in-
vestigação e instruções para elaboração do plano de ação.
Com a inserção no contexto de estágio supervisionado, realizamos diálogos informais com
o instrutor musical e o diretor da ONG, para coleta de informações a respeito de atividades ad-
ministrativas e pedagógicas, com questões sobre a fundação e a missão da instituição, principais
atividades administrativas exercidas pela direção e ações com intencionalidade educativa promo-
vidas. Para além disso, foi aplicada pesquisa documental, na qual implica coletar informações já
existentes, selecionando e analisando o conteúdo encontrado nos dados investigados (LAVILLE;
DIONE, 1999), sendo elencado Histórico Institucional da Organização Não Governamental.
Após o levantamento inicial, começamos a observação participante no contato direto entre o
pesquisador e o fenômeno observado para obtenção de informações sobre os sujeitos sociais em
seus próprios contextos (NETO, 1994). Esse momento de pesquisa fundamentou o encontro com
36 alunos (Turma 1 - Manhã: 15 alunos, sendo 12 do sexo feminino e 3 do sexo masculino; Turma
2 - Tarde: 21 alunos, sendo 12 do sexo feminino e 9 do sexo masculino) e 3 profissionais (1 diretor,
1 instrutor musical e 1 secretária) da ONG, participação ativa nas ações educativas da instituição,
além da elaboração da questão-problema de estágio, sendo elementar para a construção do plano
de ação, entendido como produção escrita composta por problematização, justificativa, objetivos,
referencial teórico e cronograma de atividades a serem realizadas em regência durante o estágio
supervisionado.
No plano de ação denominado “Música e Educação: elementos de aprendizagem para a vida”
buscamos tecer uma prática educativa em contexto não formal, com vistas a formação social dos

1. A fundação busca difundir a educação musical como instrumento para socialização e inclusão social de crianças, jovens e
adultos no Estado do Pará, proporcionando a formação de músicos, potencializando talentos e documentando a memória regional
por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão (FUNDAÇÃO CARLOS GOMES, 2017, s/p).

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sujeitos atendidos pela instituição, considerando a construção e partilha de saberes, representa-
ções e valores concernentes à identidade e à sociedade. Desse modo, as atividades de regência
se estruturaram em: 1) acolhimento dos participantes; 2) exibição do filme “A Voz do Coração”
(BARRATIER, 2004); 3) realização da Dinâmica Cantada, que proporciona pensar sobre a vida com
desafios e entraves no cotidiano, buscando sua superação; 4) realização da dinâmica O Presente,
a qual apresenta habilidades, competências e sentimentos de pessoas com quem convivemos e
suas contribuições para o autoconhecimento; 5) avaliação da regência pelo instrutor musical e es-
tudantes, atentando-se na intencionalidade educativa.
As análises dos dados foram realizadas com base nos Gêneros do Discurso do Círculo de
Bakhtin (2016), compreendidos como formas relativamente estáveis de enunciados discursivos e
determinados por relações históricas e sociais dos indivíduos. Nesse cenário, os sujeitos do discur-
so (profissionais, crianças e adolescentes atendidos pela instituição, além de fontes documentais)
possuem estilos próprios de compartilhar enunciados na comunicação discursiva, por meio de
diálogos do cotidiano ou de textos jurídicos, pautados na temática da educação musical do projeto
Despertar Musical, além da construção composicional atravessada por outros contextos, a exemplo
da escola, família, entre outros.
Por fim, ocorreu na Universidade a socialização de observações e reflexões sobre o estágio
supervisionado, juntamente com a apresentação de experiências formativas que contribuíram para
a atuação em ambientes não escolares e para a área da Pedagogia. Destacamos que a versão
final do relatório analítico de estágio foi apresentada aos profissionais da ONG, como devolutiva da
produção de conhecimentos e crescimento da instituição.

EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM UMA ORGANIZAÇÃO


NÃO GOVERNAMENTAL
Nesta seção, apresentamos práticas educativas refletidas teoricamente durante o Estágio
Supervisionado em Ambientes Não Escolares, considerando os períodos de levantamento prévio,
observação participante e regência. Desse modo, possibilitam a práxis pedagógica para a forma-
ção do profissional do pedagogo e a construção de identidade docente para atuação em ONGs.

A observação participante na Organização Não Governamental


A ONG onde foi realizado o estágio supervisionado se configura como uma Organização da
Sociedade Civil, que tem compromisso precípuo com o desenvolvimento social e educacional de
crianças e adolescentes, regida pela Lei nº 9.790/1999. Essa legislação (BRASIL, 1999, s/p, grifos
nossos), em seu artigo 3º, delimita entre os compromissos sociais das instituições estão:

II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;


III - promoção gratuita da educação [...];
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate a pobreza;

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XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e
de outros valores universais;
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas configura-
-se mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio
da doação de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviços
intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor público
que atuem em áreas afins.

A promoção da educação, em conjunto com a ética, a paz, a cidadania, os direitos humanos,


a democracia e outros valores humanos, é competência a ser desenvolvida nas relações sociais,
históricas e culturais para melhoria da constituição política e cultural da sociedade. Segundo a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a promoção da educação em geral (formal ou não
formal) deve ser orientada “[...] no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e
do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais” (OR-
GANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, s/p).
Embora o documento que trata sobre o histórico institucional apresente poucas informações
da ONG, verificou-se que a missão busca propiciar novas alternativas de inclusão de crianças e
adolescentes de baixa renda em projetos sociais, contribuindo para o processo formativo nas di-
mensões cognitiva, social e afetiva. A instituição possui práticas com intencionalidade educativa
baseadas em saberes, histórias e autobiografia de crianças e adolescentes, além de priorizar a
importância da música para o desenvolvimento cognitivo, social e cultural, haja vista que “[...] a
educação não formal tem seu próprio espaço-formar cidadão, em qualquer idade, classe socioeco-
nômica, etnia, sexo, nacionalidade, religião etc., para o mundo da vida” (GOHN, 2014, p. 42).
Por meio do projeto Despertar Musical acentua-se a valorização e o reconhecimento do outro
no tocante à diversidade e diferença, além de desenvolver atividades de ensino e aprendizagem
sobre teorias musicais para aplicabilidade em instrumentos, como flauta-doce, violino e violão. So-
bre a prática de educação musical em projetos, Santos (2006, p. 108) afirma que “[...] um dos gran-
des desafios da educação musical contemporânea tem sido contemplar a diversidade sociocultural
existente, bem como encontrar meios de aproximar significativamente a música dessas realidades
[...]”, ou seja, a valorização do outro se torna pilar de aprendizagem sobre os conhecimentos musi-
cais e relações cotidianas.
Para tanto, o planejamento do ensino musical é realizado semanalmente pelo instrutor, com
a seleção de conhecimentos, métodos que possibilitam uma formação musical profícua, avaliação
de aprendizagem, sendo elementos fundamentais para uma prática educativa devidamente siste-
matizada. Para Gandin (2014) esse movimento se configura como uma transformação da realida-
de, em determinada trajetória escolhida, com o intuito de organizar a própria ação para dar clareza
e precisão a ela, de modo a contribuir com o grupo.
São delineados caminhos sobre o que poderá ser trabalhado nas aulas, estabelecendo
métodos e recursos que serão utilizados nas atividades de aprendizagem musical no tocante à

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teoria e à prática, dentre as quais se destacam os exercícios em quadro, atividades de leitura de
partituras ou cifras e exibição de filmes e vídeos relacionados à educação musical. Observamos a
utilização de diferentes instrumentos para materialização do ensino da música, redimensionando
suas atividades educativas de acordo com as necessidades formativas dos alunos, de forma orga-
nizada, evitando a improvisação.
Os diálogos tecidos pelo instrutor musical a respeito da organização de materiais musicais
como partituras, campos harmônicos e anotações teóricas, são assimiladas cotidianamente pe-
los estudantes participantes das aulas, aos quais adicionam ou excluem formas de escrita, como
apontamento de cifras em letras de músicas, utilização de recursos pedagógicos e afinação prévia
dos instrumentos musicais. O campo dialógico conscrito nas relações sociais da ONG proporciona
aprendizado fundamentado em discursos e atitudes, no qual “[...] o ouvinte, ao perceber e compre-
ender o significado (linguístico) do discurso, ocupa simultaneamente em relação a ele uma ativa
posição responsiva” (BAKHTIN, 2016, p. 24-25).
O instrutor musical dialoga frequentemente com os alunos durante exercícios com flauta-
-doce e violão, sobre acontecimentos cotidianos e valores direcionados à boa convivência com
outras pessoas, contribuindo para reflexão das experiências, reconhecimento do outro, projetos de
vida, desafios e dificuldades que passam em suas trajetórias pessoais. Ressalta-se a importância
da construção de projetos de vida na instituição, encontrando na música formas de subversão a
problemas que prejudicam a saúde mental, como a depressão e a ansiedade, sendo concretizada
quando “[...] abrangemos, interpretamos, sentimos a intenção discursiva ou a vontade de produ-
zir sentido por parte do falante, que determina a totalidade do enunciado, o seu columa e as suas
fronteiras” (BAKHTIN, 2016, p. 37, grifos do autor).
A avaliação da aprendizagem na instituição é realizada em forma de oficinas musicais, nos
quais os alunos tocam os instrumentos de flauta-doce, violão e violino. Posteriormente, é produzido
um relatório anual, com todas as atividades e ações desenvolvidas ao decorrer dos períodos leti-
vos, e enviado à Fundação Carlos Gomes, por ser a agência financiadora do projeto. Percebemos
o compromisso da ONG com a sociedade, pela culminância na modalidade de oficinas musicais
desenvolvidas pelas próprias crianças e adolescentes, sob orientação do instrutor, demonstrando
as habilidades lapidadas ao decorrer do ano letivo e competências teórico-práticas como instru-
mentistas.
Para o instrutor musical do projeto, são ofertados cursos de curta duração e oficinas pela
Fundação Carlos Gomes, com o objetivo de subsidiar a evolução dos conhecimentos musicais e
práticas pedagógicas para crianças e adolescentes, bem como estudo autônomo de conteúdos
que podem ser trabalhados, de acordo com as proposições da referida fundação. As formações
teóricas e práticas são fundamentais para o desenvolvimento das atividades de ensino e profissio-
nalidade do instrutor, ampliando e aperfeiçoando seus conhecimentos musicais, ilimitadamente,
uma vez que “[...] preparar profissionais para a atuação em contextos educativos diversos implica
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na solução desafios [...]” (SOARES, 2019, p. 264).
Portanto, a ONG possui uma estrutura física que supre as necessidades das crianças e
adolescentes atendidas, o instrutor musical realiza o ensino de música de forma planejada e devi-
damente sistematizada, contemplando no processo de formação social as dimensões emocionais
e culturais dos educandos. Além disso, a formação teórica e prática a esse profissional é de suma
importância para a instituição e sucesso do projeto Despertar Musical, porém, há necessidade de
elaboração de projeto pedagógico para organização profícua de atividades institucionais, contem-
plando o histórico, missão, estrutura física, recursos humanos, metas projetadas, oficinas previstas
anualmente, entre outros.

Regência com crianças e adolescentes atendidas pela Organização Não Governamental


A música, como manifestação artística e cultural em sociedade, apresenta diversas confi-
gurações e características histórico-sociais, econômicas, afetivas e linguísticas, dentre outras que
constituem o modo de ser e ver o mundo. A relação entre música e Educação se faz necessária em
diversos espaços formativos, seja por educação formal ou não formal, seja em diferentes institui-
ções educativas, como escola e família. Essa interação se baseia em múltiplas palavras e estilos
de enunciação discursiva que circunstanciam determinado contexto de expressividade, sendo que
“[...] só o contato do significado linguístico com a realidade concreta, só o contato da língua com a
realidade, contato que se dá no enunciado, gera a centelha da expressão [...]” (BAKHTIN, 2016, p.
51).
De acordo com Uriarte (2004, p. 246), a música “[...] é um fenômeno universal, uma lingua-
gem que todos entendemos, é um traço de união entre os povos. [...] Gera conhecimento e tem es-
pecial significado porque opera com força total na percepção e na cognição humana”. A produção
do conhecimento em relação à música melhora consideravelmente habilidades fundamentais ao
aprendizado, como percepção, concentração e raciocínio, sendo ação realizada em espaços não
escolares e escolares.
A educação no contexto não escolar se constitui na intencionalidade da prática educativa
direcionado a determinado grupo de pessoas, como o ensino de música a crianças e adolescentes,
objetivando o sucesso da aprendizagem, além de estar alinhada com gêneros discursivos que me-
lhor atendem a vontade discursiva do professor ou instrutor. Nas palavras de Bakhtin (2016, p. 38):
“Essa escolha é determinada pela especificidade de um dado campo da comunicação discursiva,
por considerações semântico-objetais (temáticas), pela situação concreta da comunicação discur-
siva, pela composição pessoal dos seus participantes, etc. [...]”
Não obstante, um dos aspectos de concretização da intencionalidade educativa é a neces-
sidade e proposição de caminhos para a formação humana, política e cultural, garantindo a refle-
xividade e crítica aos problemas que perfazem as experiências e vivências em grupos sociais. De
acordo com Libâneo (2010, p. 82) a prática educativa intencional é entendida como “[...] todo fato,
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influência, ação, processo, que intervém na configuração da existência humana, individual ou gru-
pal, em relações mútuas, num determinado contexto histórico-social”, em busca da transformação
de sujeitos, para que sejam ativos na sociedade.
Nesse sentido, as interfaces entre os campos musical e educacional contribuem proficua-
mente na formação de sujeitos críticos, reflexivos e competentes para intervir na sociedade, como
na percepção do lugar que ocupam e formas de concretização do desenvolvimento pessoal. Aplica-
mos o plano de ação com duas turmas, nos períodos matutino e vespertino, respectivamente, com
presença de crianças, adolescentes e instrutor musical como supervisor, no qual também auxiliou
na motivação dos sujeitos para participação.
Com a exibição do longa-metragem “A Voz do Coração”, refletimos sobre a importância da
música para transformação de vida, construção de valores e relações sociais a partir da musicali-
dade, uma vez que apresenta o teor cultural da sociedade. Ao término do filme, realizamos diálogos
com os sujeitos acerca das impressões e os momentos relevantes, aos quais surgiram as temáticas
discursivas: a) importância da música na vida das pessoas; b) valorização e reconhecimento das
pessoas, mesmo que não estejam em boa fase na vida; c) respeito ao outro; d) não uso de drogas;
e) desenvolvimento musical pelo treinamento com instrumentos; f) mudança de comportamentos e
sentimentos pela música; g) reflexão sobre ações maldosas ou benevolentes de personagens do
filme.
Esses aspectos revelam a importância da educação musical na formação dos sujeitos por
meio de enunciados discursivos e atitudes perante o grupo social que integram. Desse modo, a
educação pela música proporciona ao indivíduo o entendimento e consciência de si e do entorno,
além de aspectos não vistos com frequência no cotidiano, elaborando um olhar fidedigno e criativo
a respeito da realidade (SANTOS, 2006).
Na dinâmica O Presente, compreendemos a importância de ressaltar as qualidades de per-
sonalidade, sentidos e significados sobre a vida, nas relações sociais estabelecidas em grupos
sociais como alegria, coragem, sabedoria, inteligência, perseverança, amizade, dentre outros ad-
jetivos. No aprendizado pela motivação, o aluno constitui uma série de experiências relacionais,
possibilitando expressões por simbolizações em diálogos e atitudes (PEDROZA, 2010), em que os
participantes se divertem com os discursos formativos e realização de aprendizagem sobre quali-
dades interpessoais, principalmente na empatia pela música.
Na Dinâmica Cantada, houveram algumas dificuldades quanto à execução, pois uma parcela
dos estudantes não conhecia os trechos das músicas da atividade, como As Coisas Tão Mais Lin-
das de Nando Reis, sendo necessário o redimensionamento dos procedimentos da dinâmica, no
sentido de “[...] tornar a pedagogia mais eficaz [...], consequentemente, repensar, otimizar, densifi-
car, regular melhor as situações e os métodos de aprendizagem que lhes são propostos” (PERRE-
NOUD, 2004, p. 48). A adaptação do método, para aproximação dos conhecimentos musicais com
saberes dos participantes, apresenta-se como movimento de contextualização, em interlocução
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com memórias musicais e contato entre gerações.
Quanto à avaliação das práticas educativas durante a regência, os sujeitos pertencentes às
turmas dos turnos da manhã e da tarde consideraram as atividades significativas para o desenvol-
vimento social e musical, além de proporcionar o contato com outras histórias, por meio do filme,
e temporalidades, ao entrarem em contato com músicas de outros períodos e gêneros, no qual
destacamos que “[...] todo estilo está indissoluvelmente ligado ao enunciado e às formas típicas de
enunciados, ou seja, os gêneros do discurso [...]” (BAKHTIN, 2016, p. 17).
Logo, necessita-se adequar a avaliação da aprendizagem de acordo com a realidade que a
instituição de educação não formal está inserida, de modo flexível e dinâmico (ROCHA; GUARÇO-
NI, 2017). Tal elemento foi acentuado pelo instrutor musical durante a avaliação da prática educati-
va em estágio, definindo como relevante para o campo da Educação Musical e colaborativo para a
construção de valores em crianças e adolescentes.
Nesse sentido, a busca por conhecimentos e manifestação de proatividade é de suma im-
portância, no tocante a aspectos de mudança acadêmico-profissional e ações que melhorem a
instituição. Entre as contribuições do Estágio Supervisionado em Ambientes Não Escolares, está a
construção de identidade docente positiva e inovação em práticas pedagógicas, bem como encon-
tro entre os campos do conhecimento da educação e da música, ocorrendo em relações sociocul-
turais mútuas de ensino e aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste texto buscamos refletir sobre as atividades educativas realizadas durante o Estágio
Supervisionado em Ambientes Não Escolares em uma ONG de Bragança (PA). Desenvolvemos ati-
vidades formativas referentes à atuação do pedagogo em ambientes não escolares, analisando a
função social e educativa por meio da observação participante e regência, visando à relação teoria
e prática.
Quanto à administração da instituição, verificamos que há uma excelente organização, tanto
no atendimento ao público quanto no planejamento de ações. Para melhoria dos serviços, suge-
rimos a criação de um documento que sistematize e caracterize as práticas com intencionalidade
pedagógica. Nesse documento conteria histórico da instituição, filosofia, objetivos institucionais e
socioeducativos, justificativa, referenciais legislativos e teóricos, métodos de ensino, aprendiza-
gem, formação social, educativa e cognitiva.
Justificamos a criação desse documento para fins de registro das ações e atividades rea-
lizadas no âmbito do instituto. Outra contribuição dessa escrituração seria a disponibilização das
informações para a sociedade, para discentes de cursos de graduação e para estudos e pesquisas
em ambientes não escolares do terceiro setor.
No tocante das práticas educativas na observação participante, percebemos que todas pos-
suem uma intencionalidade educativa, que são baseadas nas histórias dos alunos, seus saberes e
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conhecimentos, além de priorizarem a importância da música no desenvolvimento cognitivo, social
e cultural destes alunos. Valorizam o reconhecimento do outro, no que se refere à diversidade e
diferença, assim como atividades de ensino e aprendizagem sobre: Educação Musical e prática
instrumental de flauta-doce, violino e violão.
Na aplicação do plano de ação e regência, os objetivos e expectativas de aprendizagem
foram alcançados, pois consideramos que as crianças e adolescentes assimilaram os conheci-
mentos musicais trabalhados, uma vez que relataram a importância da música em suas vidas, o
reconhecimento e a valorização, assim como as relações socioculturais proporcionadas por esse
campo do conhecimento.
O estágio supervisionado contribuiu significativamente para a formação inicial, no tocante à
atuação em ambientes não escolares, de modo a reconhecer as práticas educativas desenvolvidas
nesse espaço. Salientam-se os desafios para planejamento e efetivação da prática docente, em
que diversos espaços não possuem a presença de um pedagogo, mas por intermédio de levanta-
mento de literaturas e diálogos construtivos com os profissionais da instituição foi possível tecer
caminhos para a efetivação da prática.

REFERÊNCIAS
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