O Ócio Criativo

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O ÓCIO CRIATIVO – Comentário

-Domenico de Maci

Apesar do início difícil e “histórico” demais para o meu gosto, a tese defendida em O Ócio
Criativo é genial e merece ser lida por todos que acham que há algo errado em sofrer cinco
dias por semana para relaxar dois, sempre presos na roda.

A tese de O Ócio Criativo é a de que na sociedade chamada de pós-industrial, o homem não


precisaria mais estar se matando de trabalhar oito a dez horas por dia enfurnado em um
escritório.

O avanço da tecnologia permite que a humanidade se liberte de tanto trabalho e aproveite


melhor o tempo livre, no que o autor chama de economia do ócio. Radical, O Ócio Criativo
sugere uma redução drástica na jornada de trabalho, o fim do excesso de procedimentos nas
companhias e defende com ardor o trabalho a distância. As empresas seriam mais criativas,
mais produtivas e reduziriam as despesas. Os trabalhadores teriam mais tempo para a vida
pessoal, revitalizariam seus relacionamentos com a família, com o bairro, com a cultura,
alimentariam a própria criatividade.

O autor de O Ócio Criativo adota o estilo de vida que prega. Montou o escritório de sua própria
empresa no andar de baixo da casa onde mora. Trabalha com colaboradores a distância e
afirma que, quando dá na telha, a equipe sai para passear pelas ruas de Roma. Não há muita
distinção entre o trabalho e o lazer.

Exercitamos atividades cada vez mais intelectuais, que implicam cansaço mental. E, para o
cansaço mental, a compensação é justamente o ócio. Significa não pensar regrar obrigatórias,
não ser assediado pelo cronômetro, não obedecer aos percursos da racionalidade e todas
aquelas coisas que Ford e Taylor tinham inventado para bitolar o trabalho executivo e torná-lo
eficiente.

Entre 2007 e 2011, experimentei bastante com as teorias de Domenico de Masi e outras
similares. Larguei o emprego, fundei um pequeno negócio, passei a trabalhar de casa e sem
local definido. Lembro da empolgação da primeira vez que trabalhei na praia e de participar de
uma reunião de negócios via Skype enquanto pegava a estrada.

Posso afirmar, entretanto, que a teoria é bem mais bonita que a prática. O teletrabalho,
mesmo para quem é relativamente disciplinado, traz tantas armadilhas quando o esquema 8h
as 18h no escritório. São apenas armadilhas diferentes. Não há como ser diferente. Em
praticamente todas as áreas, a solução de um problema sempre acaba trazendo outro
problema, por vezes até mais complexo do que o anterior.

Hoje o executivo ainda vive trancado dentro da empresa e acaba tendo menos ideias e cada
vez mais medo do mundo externo. Quando, no passado, produzia os parafusos que tinha que
produzir, a empresa não tinha do que se queixar: menos intensamente vivia, mais obedecia à
máquina e mais se mecanizava e produzia.

Muitas empresas, depois de terem selecionados pessoas medíocres, pelo fato de serem dóceis
e manobráveis, e depois de terem sufocado todo e qualquer vislumbre de iniciativa com um
amontoado de procedimentos e controles, sentem agora a necessidade de revitalizar a
criatividade e submetem essas mesmas criaturas a pseudo formadores, especialistas no
assunto.

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