Resumo Os Lusíadas
Resumo Os Lusíadas
Resumo Os Lusíadas
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No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida! No mar, o homem sujeita-se atormentas, danos e até
Na terra tanta guerra, tanto engano, à morte; na terra, à guerra, a enganos, a
Tanta necessidade avorrecida! necessidades insuportáveis.
Onde pode acolher-se um fraco humano, Assim sendo, haverá algum lugar seguro para um
Onde terá segura a curta vida, ser tão indefeso relativamente ao que conspira
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
92 - A glória
Quão doce é o louvor e a justa glória
Dos próprios feitos, quando são soados1!
É muitíssimo agradável ouvir glorificar os próprios
Qualquer nobre trabalha que em memória feitos. Qualquer nobre se esforça para que a sua
Vença ou iguale os grandes já passados. memória não fique atrás da dos seus antepassados.
As invejas da ilustre e alheia história A inveja da história dos outros é causa de grandes
Fazem mil vezes feitos sublimados. ações. O louvor estimula a praticar obras de
Quem valerosas obras exercita,
Louvor alheio muito o esperta e incita.
94 - Virgílio
Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Vasco da Gama esforça-se por mostrar que as
Não merecem tamanha glória e fama navegações de Ulisses e de Eneias, tão celebradas
Como a sua, que o céu e a terra espanta. no mundo, não merecem tanta glória como a sua. É
Si; mas aquele Herói5, que estima e ama verdade, mas Virgílio canta Eneias e difunde a
Com dons, mercês, favores e honra tanta glória de Roma, porque o imperador Augusto o sabe
A lira Mantuana6, faz que soe estimar com presentes e favores.
Eneias, e a Romana glória voe.
95 - Octávio
Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos7; A terra portuguesa produz guerreiros e reis heroicos,
Mas não lhe dá contudo aqueles dões mas não lhes dá qualidades sem as quais os homens
Cuja falta os faz duros e robustos. ficam rudes e toscos. Octávio, no meio das maiores
Octávio8, entre as maiores opressões, preocupações, compunha sábios e belos versos (e
bem o sabe Fúlvia quando Marco António a deixou
Compunha versos doutos e venustos9.
por Glafira).
(Não dirá Fúlvia10 certo que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira11).
2
Harmoniosos
3
Melcíades foi um general grego, nascido em Atenas, que comandou as tropas que venceram os persas na
batalha ocorrida em Maratona. No princípio do século V a.C., transformou Atenas na maior potência da
antiga Grécia.
4
Temístocles foi um político e general ateniense. Criou uma frota naval capaz de derrotar uma possível
invasão persa. Venceu a frota persa de Xerxes I da Pérsia na Batalha de Salamina.
5
O imperador Augusto.
6
As poesias de Virgílio.
7
Públio Cornélio cipião, vencedor de Zama (em 202 a. C.); Públio Cornélio Cipião Emiliano, vencedor
de Cartago (em 146); Augusto, o célebre imperador romano; Alexandre, o grande conquistador.
8
Octávio, o imperador Caio Júlio César Octaviano, compôs “versos doutos e venustos”, isto é, graciosos.
9
Respeitáveis, veneráveis
10
Mulher de Marco António.
11
Amante de Marco António.
97
Enfim, não houve forte capitão,
Que não fosse também douto e ciente, Enfim, com exceção de Portugal, não houve um
Da Lácia12, Grega, ou Bárbara nação, grande capitão entre os latinos, os gregos e os
bárbaros, que não fosse também um homem dado às
Senão da Portuguesa tão somente. letras.
Sem vergonha o não digo, que a razão Camões confessa-se, assim, envergonhado de o
De algum não ser por versos excelente, dizer. E a razão de nenhum capitão português ser
É não se ver prezado o verso e rima, celebrado na poesia é por não a estimar, já que não a
Porque, quem não sabe arte, não na estima.
99 - O amor à Pátria
Às Musas agradeça o nosso Gama
O Muito amor da Pátria, que as obriga É ao amor da pátria que Vasco da Gama deve a
A dar aos seus na lira nome e fama fama que pelos seus trabalhos lhe dão as musas e
De toda a ilustre e bélica fadiga; que recai sobre os seus descendentes. Porque ele
próprio e os que usam o seu nome não merecem a
Que ele, nem quem na estirpe seu se chama16, estima da musa épica, nem as ninfas do Tejo, só por
Calíope não tem por tão amiga, causa dele, teriam interrompido as finas teias de
Nem as filhas do Tejo17, que deixassem
As telas d’ouro fino18, e que o cantassem.
100
Porque o amor fraterno19 e puro gosto
De dar a todo o Lusitano feito O amor pelos seus compatriotas, o gosto de louvar
Seu louvor, é somente o pressuposto20 os feitos lusitanos é o único móbil das Tágides.
Das Tágides gentis, e seu respeito. Apesar disso, o poeta faz votos de que ninguém
Porém não deixe enfim de ter disposto desista de praticar grandes feitos, porque eles serão
Ninguém a grandes obras sempre o peito21, recompensados desta maneira ou de outra.
Que por esta, ou por outra qualquer via,
Não perderá seu preço, e sua valia.
SÍNTESE DA REFLEXÃO
12
Do Lácio
13
De qualidades naturais.
14
Tão rudes. Como rudos no verso seguinte.
15
Tão descuidado.
16
Nenhum descendente seu
17
As Tágides.
18
As suas ocupações: a contemplação dos seus amores.
19
Amor que as namoradas de Camões têm a todos os Portugueses, como sendo seus irmãos, por serem
todos filhos da mesma pátria.
20
É somente o desígnio.
21
O ânimo e a vontade
O fim da narrativa de Vasco da Gama ao
Acontecimento motivador da reflexão
rei de Melinde.
O desprezo das artes e das letras e a
Tema de reflexão / Posicionamento importância do registo escrito de grandes
crítico do poeta façanhas como glorificação do povo
português e incentivo a novos heróis.
Anáfora;
Marcas linguísticas do discurso
Enumeração;
judicativo e valorativo
Adjetivação valorativa.
O poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos
heroicos; dá, em seguida, exemplos do apreço que os antigos heróis gregos e romanos
tinham pelos seus poetas e da importância que davam ao conhecimento e à cultura,
compatibilizando as armas com o saber.
Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses, que não dão valor aos
seus poetas, porque não têm cultura para os conhecer. Ora, não se pode amar o que
não se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela
indiferença que manifestam pela divulgação dos seus feitos, e, se não tiverem poetas
que os cantem, serão esquecidos. Apesar disso, o poeta, movido pelo amor à pátria,
reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as “grandes
obras” realizadas.
Manifesta, desta forma, a vertente crítica e pedagógica da sua epopeia, na defesa
da realização plena do homem, em todas as suas capacidades.
O DINHEIRO COMO FONTE DE CORRUPÇÃO E DE TRAIÇÕES
Estrutura externa – Canto VIII, estâncias 96 a 99
Estrutura interna – Narração
96 - O poder do dinheiro
Nas naus estar se deixa vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre:
Que não se fia já do cobiçoso Vasco da Gama ficou na nau, esperando os
acontecimentos, pois perdera a confiança no Catual.
Regedor corrompido e pouco nobre.
O poeta tira a moral da história: veja-se o poder que
Veja agora o juízo curioso o dinheiro exerce sobre os ricos e sobre os pobres.
Quanto no rico, assim como no pobre,
Pode o vil interesse e sede inimiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.
97 - Poliméstor. Dánae. Tarpeia.
A Polidoro mata o Rei Treício22,
Só por ficar senhor do grão tesouro; O rei da Trácia matou Polidoro só para se apoderar
Entra, pelo fortíssimo edifício23, do dinheiro dele: a filha de Acrísio, fechada numa
Com a filha de Acriso a chuva d'ouro; fortaleza, foi violada pela chuva de ouro. Tarpeia
Pode tanto em Tarpeia avaro vício24, entregou a cidadela em troca de ouro e ficou
Que, a troco do metal luzente e louro, soterrada debaixo dele.
Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual quase afogada em pago morre.
98
Este rende munidas fortalezas25,
Faz tredores26 e falsos os amigos:
Este a mais nobres faz fazer vilezas, Por causa do dinheiro rendem-se fortalezas,
E entrega Capitães aos inimigos; atraiçoam-se amigos, entregam-se capitães, perdem-
se virgindades, corrompe-se o uso do saber.
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos:
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências;
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Este interpreta mais que sutilmente.
Os textos; este faz e desfaz leis;
Por causa do ouro, dão-se interpretações habilidosas
Este causa os perjúrios entre a gente,
aos textos; fazem-se e anulam-se leis; os homens
E mil vezes tiranos torna os Reis. juram falso; os reis tornam-se tiranos. E até os
Até os que só a Deus Onipotente sacerdotes se deixam levar pela sua fascinação,
Se dedicam, mil vezes ouvireis embora sob aparências virtuosas.
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude.
22
Príamo, rei de Troia, confiou o seu filho Polidoro a Polimnestor, rei da Trácia (o rei Treício). Depois da
queda de Troia, Polimnestor, para se apoderar do oiro que teria vindo com o filho de Príamo matou
Polidoro e atirou o cadáver ao mar.
23
Acrísio, pai de Dánae, encerrou a sua filha numa torre de bronze para impedir o cumprimento da
profecia de que seria morto pelo filho que dela nascesse. Mas Júpiter entrou na torre sob a forma de uma
chuva de oiro e tornou Dánae mãe de Perseu que, mais tarde, veio a matar Acrísio.
24
Tarpeia, filha de Spurius Tarpeius, entregou a cidadela de Roma (o Capitólio) aos Sabinos sob
promessa de eles lhe darem o que traziam no braço esquerdo (o bracelete de oiro). Tácio, rei dos Sabinos,
consentiu, mas, ao entrar na cidadela, atirou-lhe não só o bracelete, mas também o escudo que tinha no
mesmo braço. Os soldados fizeram o mesmo e Tarpeia ficou esmagada.
25
O oiro faz render fortalezas bem fortificadas
26
Traidores.
SÍNTESE DA REFLEXÃO
As traições sofridas por Vasco da Gama
em Calecut, nomeadamente o seu
Acontecimento motivador da reflexão
sequestro, são ultrapassadas pela entrega
de valores materiais.
Tema de reflexão / Posicionamento O poder de corrupção do ouro que tudo
crítico do poeta compra.
Anáforas;
Marcas linguísticas do discurso
Enumeração;
judicativo e valorativo
Adjetivação valorativa.
O poeta enumera os efeitos perniciosos do ouro, que provoca derrotas, faz dos
amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a
consciência, condiciona as leis, dá origem a difamações e à tirania de reis,
corrompendo até os sacerdotes, sob a aparência da virtude. Retomando a função
pedagógica do seu canto, o poeta aponta o dedo à sociedade sua contemporânea,
orientada por valores materialistas.
MANIFESTAÇÃO DE PATRIOTISMO PELO POETA E EXORTAÇÃO A D.
SEBASTIÃO
Estrutura externa – canto X da estância 145 a 156
Estrutura interna – Narração
Plano narrativo – As reflexões do poeta
145 - (Desalento do Poeta. Censuras à Pátria)
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada27 e a voz enrouquecida, O poeta interrompe aqui a narração. Queixa-se à sua
musa: não quer cantar mais, porque a sua lira está
E não do canto, mas de ver que venho desafinada e a sua voz enrouqueceu, não por muito
Cantar a gente surda e endurecida. cantar, mas por causa da gente surda e insensível a
O favor com que mais se acende o engenho quem se dirige. A pátria não lhe dá o prémio que
Não no dá a pátria, não, que está metida estimula o engenho poético, porque só pensa na
No gosto da cobiça e na rudeza ganância e sofre de uma estupidez triste, soturna,
Düa austera, apagada e vil tristeza. apagada e mesquinha.
27
Desafinada
28
Ela, a Pátria
29
Por Providência Divina
30
A palavra torna-se grave por motivo de acentuação métrica.
31
Ao mar profundo.
32
Apesar de tão longe de vós.
33
Imagem do guerreiro invencível. Negros da pólvora e do fumo das batalhas.
34
Acometerão.
149 - (Benignidade e justiça)
Favorecei-os logo, e alegrai-os
Com a presença e leda humanidade; Por isso o rei deve protegê-los e recebê-los
De rigorosas leis desalivai-os, bondosamente, aliviá-los de leis pesadas: é este
Que assi se abre o caminho à santidade. procedimento que leva à santidade. Deve escolher
Os mais exprimentados levantai-os, para seus conselheiros os homens que juntam a
Se, com a experiência, têm bondade experiência ao valor, porque esses sabem quando as
coisas são oportunas.
Pera vosso conselho, pois que sabem
O como, o quando, e onde as cousas cabem.
152 - (A experiência)
Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Que proceda de maneira que os Alemães, Franceses,
Alemães, Galos36, Ítalos e Ingleses, Italianos e Ingleses, nações tão admiradas, não
Possam dizer que são pera mandados, possam dizer que os Portugueses são feitos mais
Mais que pera mandar, os Portugueses. para obedecer que para mandar. Que se aconselhe
Tomai conselho só d’exprimentados só com homens experimentados, pois, embora os
Que viram largos anos, largos meses, que estudaram pelos livros tenham muita
Que, posto que em cientes muito cabe. capacidade, o experimentado conhece melhor as
Mais em particular o experto37 sabe particularidades das coisas.
SÍNTESE DA REFLEXÃO
38
Filósofo grego que, em Éfeso, dissertou diante de Aníbal acerca da arte de combater. O general
cartaginês só pôde verificar desacertos no saber teórico apresentado.
39
Técnica e arte de combater
40
Lutando
41
Merecimento
42
Uma das três Górgonas que transformava em pedra aqueles que a contemplavam.
43
Atlas, em Marrocos. Quer dizer o poeta: “Que o monte Atlante tema a vossa visita mais do que a de
Medusa”.
44
Cabo de Espartel, a oeste de Tânger.
45
Tarudante, capital de uma província marroquina.
46
Asseguro, tenho por certo.
Chegada a Portugal da armada de Vasco
Acontecimento motivador da reflexão
da Gama.
Lamentações do poeta pela falta de
reconhecimento pátrio e crítica amarga ao
estado de decadência moral do país.
Tema de reflexão / Posicionamento
Incentivo ao rei para que seja monarca
crítico do poeta
digno da grandeza do nome de Portugal.
Disponibilidade para servir o país pelas
armas e pela escrita.
Anáforas;
Marcas linguísticas do discurso Enumeração;
judicativo e valorativo Interrogação retórica;
Adjetivação valorativa.