Latine Disco - Instr - I A XXXV

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ØRBERG, Hans H. Lingua Latina per se illustrata – Latine Disco: Student’s manual.

Newburyport, MA, Focus Publishing, 2005.

LATINE DISCO I – FAMILIA ROMANA

TRADUÇÃO das INSTRUÇÕES– CAPÍTULOS I a XXXV

CAPITVLVM PRIMVM

IMPERIVM ROMANVM

No primeiro capítulo, voltamos uns 2000 anos no passado até a época em O Império romano
que o Império Romano estava no apogeu de seu poder e estendia-se do
Oceano Atlântico ao Mar Cáspio e da Escócia ao Saara. Esses dados
geográficos são o pano de fundo das cenas da vida na Roma Antiga que
vamos acompanhar ao longo do nosso estudo.

Na primeira página, está ilustrado o mapa do Império Romano, no qual


encontramos todos os nomes geográficos que aparecem no decorrer do
capítulo. Após identificar os nomes Rōma, Italia, Eurōpa, Graecia, é
possível compreender o que é dito sobre a localização da cidade de Roma na
primeira frase – Rōma in Italiā est – e o que é dito sobre a Itália e a Grécia
nas duas seguintes – Italia in Eurōpā est e Graecia in Eurōpā est. Tudo se
repete, por fim, em uma única frase: Italia et Graeciā in Eurōpā sunt.

O significado da conjunção et já está claro, mas poderíamos nos perguntar


por que agora o verbo sunt aparece no lugar do verbo est. Na margem da
página, há mais duas frases que nos levam a descobrir quando usamos est e
sunt; é dessa forma que aprendemos a primeira regra da gramática latina. et (‘...’)
Vamos sempre aprender assim: compreender o funcionamento das regras
gramaticais a partir da observação do próprio texto.

Notemos também a ligeira diferença entre os substantivos Italia e Italiā, na


qual a segunda possui um sinal sobre o a final (chamado “mácron”),
Italia
indicando que a sua pronúncia é mais alongada. Você conseguiu entender
in Italiā
qual palavra faz com que o a se torne longo? Usualmente, as obras didáticas
de língua latina utilizam o mácron (acompanhado ou não da braquia, sinal
que marca uma pronúncia mais breve da vogal assinalada) para fins de
facilitar a leitura oral, na medida em que o Latim não possuía acentos.

Nas frases que vimos, est e sunt estão no final, mas nem sempre é assim:
ordem de palavras livre
Rōma est in Italiā está perfeitamente correto, visto que a ordem das palavras
em Latim é menos rígida que em Português. Apesar dessa grande
diferença entre as duas línguas, conseguimos compreender o que lemos
com certa facilidade, por conta de algumas associações que fazemos com
o Português. Assim, basta sabermos onde está localizado o país
a negação nōn Aegyptus para compreendermos a expressão Aegyptus in Eurōpā nōn
est, Aegyptus in Āfricā est. Com essa frase, não pode restar dúvidas
quanto ao sentido de nōn (partícula de negação).

Porém, muitas vezes, uma frase só pode ser entendida quando atentamos
quoque para a sua relação com as outras. Em Hispānia quoque in Eurōpā est, só
entendemos o quoque ao ler o contexto: Italia et Graecia in Eurōpā sunt.
Hispānia quoque in Eurōpā est. (As duas frases precedentes, por
exemplo, poderiam ter sido Italia in Eurōpā est. Graecia quoque in
Eurōpā est). Caso persista alguma dúvida, é necessário continuar lendo
até que o termo volte a aparecer: Syria nōn est in Eurōpā, sed in Asiā.
sed Arabia quoque in Asiā est. Agora entendemos seguramente o quoque
(“também”) e, ao mesmo tempo, aprendemos a conjunção sed (“mas”)
quase sem notarmos.

No parágrafo seguinte, são feitas algumas perguntas, e cada uma delas


está acompanhada de uma resposta. Muitas vezes, é preciso ler esta antes
-ne...? (partícula de estar perfeitamente seguro do sentido daquela. A primeira pergunta é
interrogativa) Estne Gallia in Eurōpā? O -ne enclítico, anexado ao est, indica que a
frase é uma pergunta (o nosso ponto de interrogação [?] era
desconhecido para os romanos, mas é usualmente utilizado em materiais
didáticos a fim de melhor entendimento).

A resposta é Gallia in Eurōpā est. A pergunta seguinte – Estne Rōma in


Galliā? – possui resposta negativa – Roma in Gallia nōn est (em Latim
não se pode responder com palavras isoladas como “sim” ou “não”; a
ubi
frase, ou parte dela, deve ser repetida com ou sem nōn). Na pergunta Ubi
est Rōma?, o advérbio ubi (“onde”) só é compreendido quando aparece a
sua resposta – Rōma est in Italiā.

Após repassar brevemente a localização das principais províncias


romanas, o texto expõe diversos outros lugares: Rhēnus, Nīlus, Corsica,
Sardinia, Tūsculum, Brundisium. Esses nomes estão presentes no mapa,
e, ao longo do texto, acabamos por entender o que eles representam. Se
ainda nos restam dúvidas quanto ao sentido dos substantivos fluvius
(“rio”), īnsula (“ilha”), oppidum (“cidade”), podemos voltar à ilustração
que inicia este capítulo.
Essas palavras aparecem sob duas formas distintas: o substantivo fluvius
Nīlus sozinho é chamado de fluvius, enquanto Nīlus e Rhēnus īnsula
juntos são chamados de fluviī. Vemos o mesmo tipo de alternância oppidum
entre as formas īnsula-īnsulae, oppidum-oppida. A seção Gramática
Latina, assim, apresenta que as formas fluvius, īnsula e oppidum são singulāris singulāris singulāris
īnsula fluvius oppidum
chamadas de singulāris, enquanto fluviī, īnsulae e oppida são
plūrālis plūrālis plūrālis
chamadas de plūrālis – que entendemos, em Português, como as īnsulae fluviī oppida
formas singular e plural, respectivamente.

Prosseguindo a leitura, vemos que Nīlus não só é descrito como magnus


fluvius, mas também como magnus, enquanto Tiberis é descrito parvus
como fluvius parvus. Do mesmo modo, Sicilia é citada como īnsula
magna, ao contrário de Melita (a atual Malta), chamada de īnsula
Substantivo Adjetivo
parva. īnsula magna
fluvius magnus
Na margem da página, magnus e parvus são apresentados como oppidum magnum
adjetivos opostos (o sinal <=> denota sentidos contrários). Tal
Substantivo Adjetivo
simbologia nos ajudará a entender o sentido das palavras, desde que
īnsulae magnae
prestemos atenção também às mudanças de desinência. Alguns fluviī magnī
exemplos suplementares são propostos quando Brundisium é oppida magna
chamado de oppidum magnum, e Tūsculum, oppidum parvum e
quando as mesmas palavras aparecem no plural: fluviī magnī,
īnsulae magnae, oppida magna.

As palavras que apresentam variação entre essas três terminações


(-us, -a, -um no singular e -ī, -ae, -a no plural) são chamadas de
adjetivo (lat. Adiectīvum, “palavra agregada”) porque se agregam
ao substantivo que qualificam. Exemplos de substantivos neste
capítulo são: prōvincia, imperium, numerus, littera, vocābulum,
exemplum.

Não só magnus, -a, -um e parvus, -a, -um, mas também outras
palavras são adjetivos, como, por exemplo, Graecus, -a, um;
Rōmānus, -a, -um; Latinus, -a, um; prīmus, -a, -um e, no plural,
multī, -ae, -a e paucī, -ae, -a. As terminações dos adjetivos
dependem das terminações dos substantivos que eles qualificam.
pergunta: num...?
A pergunta Num Crēta oppidum est? (l. 49) chama, desde logo, a
resposta: ... nōn ...
resposta negativa Crēta oppidum nōn est. Num é uma partícula
interrogativa, assim como -ne; a diferença é que uma pergunta
introduzida por Num implica resposta negativa.
A pergunta seguinte é Quid est Crēta? Aqui também a resposta
quid?
Crēta īnsula est torna acessível o sentido da pergunta.

Vimos uma terminação -a transformada em -ā depois de in. Vemos


in + īnsula in insulā agora que o in provoca também a mudança de -um para -ō: in
in + fluvius in fluviō imperiō Rōmānō; in vocābulō; in capitulō prīmō (l. 58, 72, 73).
in + imperium in imperiō
Veremos mais a esse respeito posteriormente, no capítulo V.

Como sinal numérico para o numeral mīlle (“mil”), os romanos


adotaram a letra grega Φ (phi), que se transformou em CIЭ (l. 64)
CIЭ = M = mīlle (1000) e, mais tarde, tornou-se M sob a influência de MILLE.

O Latim é uma língua concisa; pode, portanto, expor, com poucos


termos, aquilo que necessitaria de um maior número de palavras
para ser exposto em outras línguas. Uma das razões disso é que o
Latim possui menos partículas (palavras invariáveis) que a maior
parte das línguas modernas: não encontramos nada que
corresponda aos artigos “um” e “o” do Português como em "um
rio", "o rio" etc., visto que o Latim não possui artigos definidos e
indefinidos.
CAPITVLVM SECVNDVM

FAMILIA ROMANA

Neste capítulo, são apresentadas as pessoas cuja vida cotidiana será A família romana
acompanhada ao longo do nosso estudo. A ilustração nos mostra os
membros da família vestidos com suas mais belas roupas, à exceção das
pessoas mais afastadas, que estão à margem do texto. Está claro que elas
não têm o mesmo status que o resto da família. Precisamos memorizar os
seus nomes, já que logo estaremos tão familiarizados com as suas vidas
que seremos como amigos visitando uma verdadeira família romana de
2000 anos atrás! E o mais extraordinário: nós falaremos o mesmo idioma
que ela!

Os nomes dessas pessoas terminam ora por -us, ora por -a, mas nunca por
Nomes masc: -us
-um. É que a terminação -us caracteriza as pessoas de sexo masculino Nomes fem.: -a
(Iūlius, Mārcus, Quīntus, Dāvus, Mēdus), e a terminação -a, as pessoas de
sexo feminino (Aemilia, Iūlia, Syra, Dēlia). Isso se aplica também aos
substantivos comuns que designam pessoas: as palavras que se referem aos
homens terminam geralmente por -us: fīlius, dominus, servus (porém -us é
omitido em alguns nomes terminados em -r, por exemplo, vir, puer),
enquanto os substantivos comuns que se referem a mulheres terminam por
-a (femina, puella, fīlia, domina, ancilla). Assim, entendemos por que uma
pessoa nunca é designada pela terminação -um: os substantivos assim
terminados são neutros (lat. neutrum, “nem um nem outro”, ou seja, nem
masculino nem feminino). É importante notarmos que, apesar de a maioria
3 gêneros:
das palavras terminadas em -us ser masculina (lat. masculinum) e as masculino (m.): -us
terminadas em -a, feminina (lat. fēminīnum de fēmina), os gêneros feminino (f.): -a
masculino e feminino não são exclusivos de palavras que se referem a neutro (n.): -um

seres vivos: fluvius, numerus, liber são gramaticalmente masculinas,


enquanto īnsula, littera, familia são femininas. Diz-se, por isso, que não se
trata de sexo, mas gênero (lat. genus). As abreviações usadas para os três
gêneros são m., f., n.

O substantivo familia se refere a todas as pessoas da casa, inclusive aos


escravos (servī, ancillae) que pertencem ao chefe da família como sua genitivo:
propriedade. Iūlius é o pai (pater) de Mārcus, Quīntus, Iūlia, e o senhor m./n. f.
(dominus) de Mēdus, Dāvus, Syra, Dēlia etc. Para expressar essas relações sing. -ī -ae
plur. -ōrum -ärum
é necessário o genitivo (lat. genitivus), forma do substantivo que termina
por -ī ou -ae no singular: Iūlius est pater Mārcī et Quīntī et Iūliae, e por -
ōrum e -ārum no plural: Iūlius est dominus multōrum servōrum et
multārum ancillārum. Portanto, as terminações de genitivo são -ae e -ārum
no feminino, e -ī e -ōrum no masculino e no neutro.
conjunções Partículas como et e sed são chamadas conjunções (lat. coniūnctiōnēs, de
con-iungere, “juntar”) porque desempenham o papel de unir palavras ou
...-que = et ...
frases. No lugar de et encontramos, muitas vezes, a conjunção enclítica -
que, tque possui o mesmo valor: Dēlia Mēdusque substitui Dēlia et Mēdus;
e fīliī fīliaeque substitui filios et fīlias (l. 9, 22).

m. f. n. Entre as palavras novas, encontramos os pronomes interrogativos quis e


quis? quae? quid? quae, que são utilizados na formulação de perguntas a respeito de pessoas
gen. cuius?
(“quem?”): Quis est Mārcus? e Quae est Iūlia? (l. 15, 17). Percebemos,
assim, que o masculino é quis (plural quī), o feminino é quae (plural quae),
e o neutro é quid (“quê?” / “o quê?”), como já vimos no primeiro capítulo.
O genitivo do pronome interrogativo é cuius (“de quem?”) para todos os
gêneros: Cuius servus est Dāvus? Dāvus servus Iūliī est (l.35).
quot? 1, 2, 3... A partícula interrogativa invariável quot (“quantos?”) serve para perguntar
m. f. n.
ūnus ūna ūnum o número: Quot liberī sunt in familia? In familia sunt tres liberī. Quot filii
duo duae duo et quot fīliae? Duo filiī et ūna fīlia. Quot servi? Centum servī (l. 37-39).
trēs trēs tria
Como a maioria dos numerais, centum é invariável, mas há algumas
exceções, como ūnus, que possui as terminações -us, -a, -um; duo, cujo
feminino é duae (duae fīliae) e trēs, cujo neutro é tria (tria oppida).

O número pode também ser indicado pela palavra numerus combinada


com o genitivo plural: Numerus liberōrum est tres. Numerus servōrum est
magnus numerus -ōrum centum (l. 43, 44). Dado que centum deve ser considerado um magnus
= multī -ī/ multa -a
magnus numerus -ärum numerus, as frases seguintes podem ser facilmente entendidas: Numerus
= multae -ae servōrum est magnus e In familiā magnus numerus servōrum est. Do
mesmo modo, parvus numerus liberōrum tem o mesmo significado que
paucī liberī. Encontramos ainda a expressão magnus numerus oppidōrum e
fluviōrum (l. 56-57), que significa multa oppida e multī fluviī.

Do continente africano, os romanos não conheciam nada além do norte,


onde corre um único rio, o Nilo: In Africā ūnus fluvius magnus est: Nīlus
(l. 58). O texto prossegue: Cēterī fluviī Africae parvi sunt. O adjetivo
cēterī -ae -a cēterī, -ae, -a (“os/as demais”) aparece várias vezes; e a enumeração dos
três primeiros capítulos é concluída com cētera (l. 86), que se refere aos
outros capítulos que os procedem (para abreviar, o autor poderia ter
utilizado cēt; em Português, utilizamos etc = et cētera).

enumeração: Às enumerações aplicam-se as seguintes regras: ou (1) et é colocado entre


(1) A et B et C cada um dos termos: Mārcus et Quīntus et Iūlia, ou (2) não aparece
(2) A, B, C
(3) A, B C-que nenhuma conjunção: Mārcus, Quīntus, Iūlia, ou (3) -que é acrescentado
apenas ao último termo: Mārcus, Quīntus, Iūliaque.
O diálogo do fim do capítulo ilustra que, no lugar do genitivo, podem ser
utilizados os adjetivos possessivos meus, -a, -um e tuus, -a, -um, que
adjetivos possessivos
remetem, respectivamente, à pessoa que está falando e à pessoa a quem
alguém está falando (“meu”, “teu”).

Na página 16, encontramos a palavra ecce (explicada com uma seta na


ecce →
lateral), usada para ressaltar algo em específico – neste caso, a imagem
dos livros. Com ela, passamos a saber que os livros antigos eram
produzidos em rolo de papiro, com o texto escrito em colunas, e que a
sing. plur.
esses objetos era dado o nome de liber (outro substantivo masculino em -r liber librī
em vez de -us), com plural librī.
CAPITVLVM TERTIVM

PVER IMPROBVS

Agora que já conhecemos a família, vamos nos inteirar sobre algumas de A família de Iulius
suas atividades. Começando com as crianças, percebemos que a relação
entre elas não se difere muito da atual: não nos surpreenderá o fato de os
filhos de Iulius e Aemilia não conseguirem ficar muito tempo juntos. A
pequena Iulia é a primeira a sofrer por ter incomodado o seu irmão mais
velho – Marcus –, e a paz só poderá ser restabelecida coma chegada do
seu pai e da sua mãe.

Várias das novas palavras deste capítulo são verbos. Um verbo (lat. verbos:
verbum) é uma palavra que expressa ação ou estado: que alguém faça -at: cantat, pulsat, plörat,
algo ou que algo exista ou seja produzido. O primeiro verbo latino que vocat, interrogat, verberat
-et: rīdet, videt, respondet
aparece, no terceiro capítulo, é cantat, na frase de introdução: Iūlia
-it: venit, audit, dormit
cantat. Os outros verbos são pulsat, plōrat, rīdet, videt, vocat, venit,
interrogat, respondet, dormit, audit, verberat. Todos terminam por -t
(inclusive est, que, como vimos, também é um verbo) e, na maioria das
vezes, estão dispostos no final da frase.

Na frase Iūlia cantat, a primeira palavra designa a pessoa que exerce a


ação. Outras frases do mesmo tipo são Iūlia plōrat; Mārcus rīdet; Aemilia
venit; Iūlius dormit, mas nem sempre é tão simples. Tomemos, por Märcus Iüliam pulsat
exemplo, a frase ilustrada pelo desenho da margem: Mārcus Iūliam
pulsat. Aqui é dito não somente quem faz a ação, mas também quem Quīntus Märcum videt
sofre a ação. Vemos o mesmo esquema nas seguintes frases, ilustradas Iülia Aemiliam vocat
por desenhos: Quīntus Mārcum videt; Quīntus Mārcum pulsat; Mārcus
Quīntum pulsat; Iūlia Aemiliam vocat.

Como podemos perceber, o nome da pessoa que realiza a ação, chamada


de sujeito do verbo, possui uma destas terminações já conhecidas: -us e sujeito: -us, -a
-a, enquanto o nome da pessoa que sofre a ação, o objeto, recebe as objeto -um, -am
terminações -um ou -am. Em suma, Iūlia transforma-se em Iūliam
quando lemos que Marcus a maltrata, assim como Mārcus transforma-se
em Mārcum quando é ele a vítima do maltrato. Em circunstâncias
semelhantes, puella transforma-se em puellam, puer em puerum, e os sujeito objeto verbo
adjetivos qualificativos recebem a mesma terminação: Mārcus parvam Märcus Iüliam pulsat
puellam pulsat; Iūlius puerum improbum verberat.

Assim, com a ajuda das terminações, distinguimos, em Latim, sujeito do


m. f.
verbo e seu objeto. As formas em -us e em -a, que caracterizam o sujeito,
nominativo -us -a
são chamadas de nominativo (lat. nōminātīvus), e as formas em -um e acusativo -um -am
em -am, que designam o objeto, são chamadas de acusativo (lat.
verbos transitivos e accūsātīvus). Os verbos como pulsat, videt, vocat, que necessitam de
intransitivos um objeto em acusativo, são chamados transitivos, e os verbos que
não necessitam de qualquer objeto, por exemplo, rīdet, plōrat, dormit,
são chamados de verbos intransitivos.

No lugar dos acusativos terminados em -am e -um, aparecem, no


eam : Iüliam
eum : Quīntum
texto, também eam e eum, por exemplo: Iūlia plōrat quia Mārcus eam
pulsat; e Cūr Iūlius Quīntum nōn audit? Iūlius eum nōn audit quia
dormit (l. 27, 43). Também notemos os dois pontos na nota da
margem: eam : Iūliam; significa que, nesta sentença, o eam substitui
pronome
Iūliam. Uma palavra desse tipo, que toma o lugar de um nome ou
m. f.
ac. eum eam
sustantivo, chama-se pronome (lat. prōnōmen, de prō, “em lugar de”;
mē e nōmen, “nome ou substantivo”). Correspondente a eum e eam, o
tē pronome mē é usado quando uma pessoa (homem ou mulher) fala de
si mesma, e tē é empregado para a pessoa a quem se fala (como em
pegunta: cūr...?
Português me e te): Aemilia: Quis mē vocat? Quīntus: Iūlia tē vocat
resposta: ...quia...
(l. 24-25).

A partícula interrogativa cūr é empregada para perguntar a causa de


algo. Uma pergunta introduzida por cūr requer uma resposta com a
conjunção causal quia:

Cūr Iūlia plōrat? Iūlia plōrat quia Mārcus eam pulsat. (l. 26-27)

Cūr Mārcus Iūliam pulsat? Quia Iūlia cantat. (l. 30-31).

Quando a identidade do sujeito é conhecida (porque o contexto mostra


quem ele é), não é necessário repetir o seu nome na frase seguinte, por
exemplo: Ubi est Iūlius? Cūr nōn venit? (l. 36); Iulis eum nōn audit,
quia dormit (l. 43); Cūr māter Mārcum verberat? Mārcum verberat
ne-que = ‘et nön’ (‘sed nōn’) quia puer improbus est (l. 58). Em Português, em casos como esse
último, é comum repetir o sujeito na resposta, embora isso não seja
necessário.

As conjunções et e sed não podem ser combinadas a uma negação; no


lugar de et non e sed nōn, empregamos a conjunção neque, ou seja, o
pronome relativo
-que agregado à negação original ne (“não”): Iūlius dormit neque
puer quī ...
puella quae ...
Quīntum audit. Iūlius venit, neque Aemilia eum videt (no Português,
"e não", "mas não"). É dessa negação que provém o nosso “nem”.
pronome interrogativo
nom. quis? Na frase Puer quī parvam puellam pulsat improbus est (l. 63), quī é o
ac. quem? pronome relativo que remete a puer. Ao final do capítulo (pág. 23),
encontramos algumas frases nas quais aparecem o pronome
interrogativo e o pronome relativo, por exemplo: Quis est puer quī
rīdet? No feminino, os dois pronomes são idênticos: Quae est puella
quae plōrat? (o relativo quae remete a puella). O pronome
interrogativo quis transforma-se em quem no acusativo: Quem vocat
Quīntus? Quīntus Iūlium vocat.

Como pronomes relativos, empregamos quem no masculino e quam no pronome relativo


feminino: puer quem Aemilia verberat est Mārcus, puella quam Mārcus m. f. n.
pulsat est Iūlia. Os exemplos mostram que quī e quem (m.) remetem a nom. quī quae quod
ac. quem quam quod
um substantivo masculino, e quae e quam (f.) a um substantivo
feminino. No capítulo IV (l. 75), aparecerá quod, que remete a um
substantivo neutro: baculum quod in mēnsā est.
CAPITVLVM QVARTVM

DOMINVS ET SERVI

Deixemos por um instante as crianças para nos voltarmos para os Iulius e os servos
adultos: Iulius parece preocupado. Ele constata que falta alguma quantia
de dinheiro. Quem será o ladrão? A pergunta não será respondida até o
final do capítulo e, como é de se esperar, até lá o culpado já terá fugido!
Mais tarde (cap. VI e VIII), descobriremos onde ele se esconde e o que
faz com o dinheiro roubado. Mas, no momento, devemos nos empenhar
em descobrir a sua identidade.

Em Latim, quando alguém se dirige a uma pessoa, o nominativo em -us nominativo -us
é substituído por uma forma especial, o vocativo (lat. vocātīvus, de vocativo -e
vocat, “chama”), que termina em -e. Medus chama Davus gritando:
Dāve! (l. 25); quando Davus saúda seu amo, diz-lhe: Salvē, Domine!, ao
que Iulius responde: Salvē, serve! (l. 34-35).

A forma verbal empregada para dar ordens chama-se imperativo (lat.


imperativo (imp.)
imperātīvus, de imperat, “ordena”). O imperativo latino é a forma verbal vocā! vidē! venï! pōne!
mais curta, pois não possui nenhuma terminação e é constituída tão
somente pelo tema: vocā!, tacē!, venī! Somente quando o tema termina
em consoante é acrescentado um -e breve: pone! (de tema pon-). O tema
tema verbal
de um verbo latino termina por uma das vogais longas -ā, -ē, -ī ou por
-ā, -ē, -ï, cons.
uma consoante. Os verbos são, por conseguinte, divididos em quatro
classes, chamadas conjugações:
conjugações
1ª conjugação: verbos com o tema em -ā: vocā-, cantā-, pulsā- 1. tema em -ā: vocā-
2ª conjugação: verbos com o tema em -ē: tacē-, vidē-, habē- 2. tema em -ē: vidē-
3ª conjugação: verbos consonânticos, com o tema terminando em uma 3. tema em cons.: pōn-
4. tema em -ï: venï-
consoante: pōn-, sūm-, discēd-
4ª conjugação: verbos com o tema em -ī: venī-, audī-, dormī-

A esses temas são acrescentadas as respectivas terminações de cada


tempo e modo verbal – para fins de um melhor entendimento, tema e imp. indicativo
terminação foram separadas por uma barra nesta análise. Quando se 1. vocā voca/t
2. vidē vide/t
acrescenta um -t, a vogal final do tema volta a ser breve: voca/t, vide/t,
3. pōn/e pōn/it
veni/t. Nos casos dos temas consonantais, é inserido um -i breve antes de 4. audï audi/t
-t: pōn/it, sūm/it, discēd/it. Essa forma verbal chama-se indicativo (lat.
indicātīvus, “que indica”, “que declara”).
pronome Na segunda oração da frase Mēdus discēdit, quia is pecūniam dominī
nom. is habet (l. 77), o nominativo Mēdus é substituído pelo pronome is, que está
ac. eum em nominativo e cuja forma em acusativo é eum. A partir desse exemplo,
gen. eius
podemos perceber que o Latim não possuía pronome de terceira pessoa,
por isso utilizava o demonstrativo em situações em que o Português
emprega o pronome reto “ele” ou o oblíquo “o”. Mas o nominativo desse
pronome não é usado senão para expressar certa ênfase (aqui, Mēdus se
opõe a Dāvus); quando não há ênfase sobre o sujeito, usa-se o verbo sem
o pronome (como pode ser feito em Português), por exemplo: Mēdus nōn
respondet, quia abest (l. 85).

O genitivo de is é eius (em Português, “dele”, “dela”): In sacculō eius


suus -a -um / eius:
(: Iūlīi) est pecūnia; mas quando este se remete a algo que pertence ao
Iūlius servum suum vocat
Servus eius abest
sujeito da frase, emprega-se o pronome possessivo suus, -a, -um em vez
de eius: Iūlius servum suum Mēdum videt (l. 19). Comparemos e
analisemos os dois exemplos:

Davus sacculum suum in mensä ponit.


Iam sacculus eius in mensa est. (l. 61-62)

Os substantivos neutros, e.g., verbum e baculum, possuem a mesma


terminação -um no nominativo e no acusativo:

Medus nullum verbum respondet (l. 45)


Iulius baculum suum in mensa ponit (l. 62)

Depois de in, não somente -um, mas também -us transforma-se em -o:

Sacculus Iulii non parvus est


In sacculo eius est pecunia (l. 3)

Essa forma será tratada no capítulo seguinte.

Os adjetivos meus -a -um, tuus -a -um, suus -a -um são chamados


pronomes possessivos:
meus, tuus, suus pronomes possessivos.
CAPITVLVM QVINTVM

VILLA ET HORTVS

Estamos conhecendo uma família romana evidentemente abastada, a A casa romana


julgar pela bela vīlla em que vive. A planta da página 33 e as ilustrações
das diferentes partes da casa fornecem-nos uma ideia da disposição de
uma típica vīlla rōmāna. Suas particularidades são o átrio, com uma
abertura no teto; o tanque, para armazenar as águas da chuva; e o
peristilo, um pátio interno cercado por fileiras de colunas.

O primeiro elemento novo de gramática que aprendemos neste capítulo acusativo singular e plural
é o acusativo plural. Correspondendo aos acusativos singulares -um e m. f. n.
-am, que foram apresentados no capítulo III, encontramos agora as sing. -um -am -um
plur. -ōs -ās -a
formas plurais, que terminam, respectivamente, em -ōs e -ās. Assim, o
plural fīliī transforma-se em fīliōs quando é empregado como objeto de
um verbo: Iūlius duōs fīliōs habet. Do mesmo modo, filiae transforma-
se em filiās (l. 3-4). O acusativo dos substantivos masculinos e
femininos termina sempre em -m no singular e em -s no plural. Os
substantivos neutros possuem, no acusativo, a mesma terminação do
nominativo (sing. -um; plur. -a), por exemplo: Iūlius multa līlia in hortō
suō habet (l. 14)

Em seguida, vemos que as partículas ab, cum, in, sine fazem as palavras
que as seguem tomarem as terminações -ō (m./n.) ou -ā (f.) no singular e preposições
-īs (para todos os gêneros) no plural: ex hortō, ab Aemiliā, in atriō, cum ab, cum, ex, in, sine
+ -ō/-ā/-īs
liberīs, sine rosīs. Essas palavras antepostas são chamadas de
preposições (lat. Praepositiōnēs, “postas diante”). Já havíamos visto ablativo
exemplos de preposições como in: in Italiā, in imperiō Rōmānō, in m./n. f.
sacculō. As formas em -ō, -ā, -īs são chamadas de ablativo (lat. sing. -ō -ā
ablātīvus). Assim, dizemos que as preposições ab, cum, ex, in, sine plur. -īs
regem o ablativo.

Novas formas do pronome is são apresentadas agora: o feminino ea, o pronomes is ea id


sing. m. f. n.
neutro id; os plurais iī ou eī (m.), eae (f.), ea (n.). No acusativo e no
nom. is ea id
ablativo, esse pronome apresenta as mesmas terminações que o ac. eum eam id
substantivo que substitui; dessa forma, identificamos as formas eum, gen. eius eius eius
eam (para o singular), eōs, eās (para o plural) como sendo acusativos, e abl. eō eā eō
as formas eō, eā (para o singular) e iīs (= eīs, para o plural) como sendo
ablativos.
O genitivo plural é eōrum, eārum (assim, para dominus servōrum,
encontraremos dominus eōrum), enquanto o genitivo singular possui
plur. m. f. n.
uma mesma forma (eius) para os três gêneros: já tínhamos visto sacculus
nom. iī eae ea
ac. eōs eās ea eius (= Iūliī) e agora encontramos nāsus eius (= Syrae), l. 18. Esses
gen. eōrum eārum eōrum genitivos correspondem aos adjetivos possessivos do Português “seu(s)”,
abl. iīs iīs iīs “sua(s)” ou “dele(s)”, “dela(s)”.

Por fim, aprendemos as formas do plural dos verbos:


imperativo e indicativo
(1) quando o sujeito está no plural ou representa mais de uma pessoa, o
sing. plur. verbo não termina somente em -t, mas em -nt (cf. est e sunt):
1. imp. vocā vocā/te
ind. voca/t voca/nt Mārcus et Quīntus Iūliam vocant.

2. imp. vidē vidē/te Puerī rīdent.


ind. vide/t vide/nt
(2) quando duas ou mais pessoas recebem ordem de fazer algo,
3. imp. pōn/e pōn/ite empregamos a forma do plural do imperativo terminada em -te:
ind. pōn/it pōn/unt
Mārce et Quīnte! Iūliam vocāte!
4. imp. audī audī/te
ind. audi/t audi/unt
Tacēte puerī! Audīte!

Nos temas consonânticos (3ª conjugação), inserimos uma vogal breve


antes dessas terminações do plural: -i- diante de -te (para o imperativo) e
-u- diante de -nt (para o indicativo):

Discedite pueri! Pueri discedunt.

Mesmo nos temas em -ī (4ª conjugação), este -u- é inserido antes de -nt:
Puerī veniunt.

A reclamação de Iulia: puerī mē rīdent (l. 70) mostra que rīdet, que
rīdēre + ac. costuma ser um verbo intransitivo, pode receber um objeto, no sentido
de "rir-se de": Puerī Iūliam rident.

O verbo consonantal agit, agunt expressa ações em geral: Quid agit


Mārcus? Quid agunt puerī? (“fazer”). O imperativo desse verbo precede,
na maioria das vezes, outro imperativo, para tornar mais forte a ordem:

Age! Venī, serve!


age! agite! + imp.
Agite! Venīte, servī!
CAPITVLVM SEXTVM

VIA LATINA

As vias de comunicação eram altamente desenvolvidas no mundo romano As vias romanas

antigo; assim, as diferentes partes do Império romano eram interligadas


por uma ótima rede de estradas. No mapa da página 40, podemos ver as
mais importantes estradas romanas da Itália, entre as quais está a famosa
Via Appia, que de Roma ruma ao sul e se prolonga até Brundisium.
Quase paralela à Via Appia está a Via Latīna, que se estende ao lado da
cidade de Tūsculum, mencionada no primeiro capítulo. A vīlla de Iulius
está situada perto dessa cidade, de tal modo que qualquer pessoa que for
de lá para Roma seguirá pela Via Latina. Portanto, não é de se
surpreender que Medus esteja andando por essa estrada. Iremos descobrir
em breve o que o leva a Roma.

No capítulo V, encontramos algumas preposições usadas com o ablativo.


preposições + ac.:
Outras preposições são utilizadas com o acusativo, como ad, ante, apud, ad, ante, apud, circum,
circum, inter, per, post, prope, que nos são apresentadas agora. Ad indica inter, per, post, prope

um movimento de aproximação de algum lugar – é o contrário de ab


(seguido de ablativo), que indica o movimento de distanciamento de
algum lugar. As partículas interrogativas correspondentes são quō e unde: quō? ad + ac.
Quō it Iūlius? Ad vīllam it. Unde venit? Ab oppidō. Em vez de ab, unde? ab + abl.

encontramos frequentemente a forma abreviada ā antes de uma consoante, ab + vogal ou h-


ā/ab + cons. (exceto h-)
mas nunca na frente de uma vogal ou h-: ā vīllā, ā dominō, ab ancillā, ab
hortō.

Tanto um movimento para uma cidade como um movimento de uma


quō? Tūsculum
cidade específica expressam-se com o nome da cidade no acusativo ou no Rōmam
unde? Tūsculō
ablativo, ambos sem preposição. Desse modo, fala-se, em Latim, de um
Rōmā
trajeto Rōmā – Brundisium, ou, no sentido oposto, Brundisiō – Rōmam. É
ablativo de procedência
a função fundamental do ablativo (com ou sem preposição) expressar “o
lugar de onde”. Utilizado com essa função, ele é chamado ablativo de
procedência.
Para indicar onde se encontra algo ou alguém, emprega-se, na maior parte
das vezes, a preposição in seguida de ablativo: in Italiā, in oppidō, in hortō.
ubi? Tūsculī Os exemplos Cornēlius Tūsculī habitat e Mēdus Rōmae est mostram, no
Rōmae
entanto, que, com nomes de cidade, também não é empregada a preposição
in; em vez disso, o nome passa a exibir a desinência -ī ou -ae, conforme
apresente a terminação -um/-us ou -a no caso nominativo. Essa forma, que
locativo (= indica lugar; coincide com o genitivo, é denominada locativo (lat. locātīvus, de locus,
terminação igual à do
genitivo singular) “lugar”). Alguns exemplos podem ser encontrados nas linhas 47, 59, 77,
-ī, -ae
85.

A frase Mārcus Iūliam pulsat pode ser transformada em Iūlia pulsātur ā


Mārcō (em Português, o equivalente a “Marcus agride Iulia” e “Iulia é
Mārcus Iūliam pulsat =
Iūlia pulsātur ā Mārcō agredida por Marcus”). A ação é a mesma, mas, na segunda frase (na qual o
verbo termina em -tur), a pessoa que realiza a ação passa para o fim da
ativa passiva
1. voca/t vocā/tur frase, ao passo que a pessoa que sofre a ação aparece no início da frase: esta
voca/nt voca/ntur
já não é mais um objeto no caso acusativo (Iūliam), mas um sujeito no
2. vide/t vidē/tur
vide/nt vide/ntur nominativo (Iūlia), e o nome da pessoa que realiza a ação, o agente, aparece
3. pōn/it pōn/itur no ablativo precedido de ab ou ā (ā Mārcō). Na página 44, há vários
pōn/unt pōn/untur exemplos de ambas as construções sintáticas, que são chamadas ativa e
4. audi/t audī/tur passiva, respectivamente (lat. āctivum e passīvum). Na frase Mēdus
audi/unt audi/untur
Lydiam amat et ab eā amātur (l. 78-79), as duas construções aparecem
combinadas.

As frases que acabamos de ver exemplificam passivas em que o agente é


ablativo agente uma pessoa, devendo ser este construído com a preposição ab/ā mais o
ablativo. Quando o agente não é uma pessoa, emprega-se o ablativo sem
ablativo instrumental
(sem prep.).: ab/ā, por exemplo, Cornēlius equō vehitur, Iulius lecticä vehitur, Lydia
Cornēlius equō vehitur. verbīs Mēdī dēlectātur. O ablativo tem aqui valor instrumental
Iülius lecticä vehitur. (equō/lectica/verbis1). Observação: Em algumas situações, quando o animal
for “pessoalizado”, o agente da passiva deve ser construído com a
preposição a/ab, como, por exemplo, em Verba Cornēliï ab equō tantum,
nōn ā Mēdō audiuntur.

Os ablativos não preposicionados são frequentes não somente em frases


ablativo indicando lugar passivas como também em ativas: Dominus servum baculō pulsat, Servī
percorrido (instrumento)
saccōs umerīs portant. Em frases como Mēdus viā Latīnā Rōmam ambulat,
Mëdus viä Latïna Romam
ambulat. 1
No caso de verbïs, o ablativo pode indicar também causa (Lydia se encanta com as palavras de Medus
ou Lydia se encanta por causa das palavras de Medus).
o ablativo indica lugar percorrido, mas ele pode ser entendido como ablativo
instrumental, pois a estrada é o instrumento que Medus utiliza para chegar a Roma.
Embora, no Português, possamos usar a preposição “por” para indicar tanto o
instrumento quanto o agente da passiva, é mais comum que a reservemos para este
último e utilizemos outras para o instrumento. Por isso, quando estamos com
dificuldade para entender alguma frase em Latim construída com ablativo, podemos
interpretar o ab como “por” e o ablativo sem preposição como outras preposições (de,
com, a, em etc.): “Iulius é transportado numa liteira ( lectīcā)” (Iülius lecticä vehitur) “O
senhor castiga o escravo com o bastão (baculō)” (Dominus servum baculō verberat),
“Cornelius anda (é levado) a cavalo (equō)” (Cornëlius equö vehitur).
CAPITVLVM SEPTIMVM

PVELLA ET ROSA

Quando o pai volta da cidade, ele normalmente traz algo para a sua Iulia e a rosa
família. Sendo assim, neste capítulo, descobrimos o que há nos sacos
que Syrus e Leander estavam carregando no capítulo anterior.

Quando é dito que Iulius presenteia alguém da família com algo, o nome
desta pessoa termina em -ō (Mārcō, Quīntō, Syrō, Lēandrō) ou em -ae
(Aemiliae, Iūliae, Syrae, Dēliae). Essa forma, terminada em -ō no
masculino (e no neutro) e em -ae no feminino, é chamada de dativo (lat. dativo
m./n. f.
datīvus, de dat, “dá”). Exemplos: Iūlius Mārcō/filiō suō mālum dat (l.
sing. -ö -ae
46-47); Iūlius Aemiliae ōsculum dat (l. 63). Em vez de Iūlius Syrō et plur. -ïs
Lēandrō māla dat, encontramos Iūlius servīs mala dat, e a frase Iūlius
ancillīs māla dat faz referência à Syra e à Delia. No plural, o dativo
termina em -īs, como o ablativo, em todos os gêneros.

O dativo do pronome is ea id é eī no singular e iīs (ou eīs) no plural:


Iūlius eī (: Quīntō/ Iūliae) mālum dat. Iūlius iīs (: servīs/ ancillīs) māla
pronomes is ea id
dat. Como revelam os exemplos, as formas do dativo são as mesmas dativo: sing. eï, plur. iïs

para os três gêneros. O dativo do pronome interrogativo e relativo é cui:


Cui Iūlius mālum dat? Puer/puella cui Iūlius mālum dat est fīlius/fīlia pron. interrog. e rel.
dativo sing. cui
eius (l. 101-104).

O exemplo Puella sē in speculō videt et sē interrogat (l. 8-9) ilustra que


o pronome sē (ac.) é usado quando se refere ao sujeito da mesma frase;
pronome reflexivo
sē é denominado pronome reflexivo (em Português, “se”). së (ac.)

Comparemos as frases Iūlius in vīllā est e Iūlius in vīllam intrat. Na


primeira, in é acompanhado de ablativo (vīllā), como já vimos várias in + abl./ac.:
ubi? in villä
vezes; na segunda, in é seguido de acusativo (vīllam). Os exemplos quö? in vïllam
mostram que in é acompanhado de acusativo quando há movimento para
dentro de algum lugar. Por isso, nós lemos: Syra in cubiculum intrat, e
ela diz: “Venī in hortum, Iūlia!” (l. 14, 17).
Uma pergunta com num implica uma resposta negativa; assim sendo,
Iulia questiona: “Num nāsus meus foedus est?” (l. 20). Consegue-se
o efeito contrário com nōnne: quando Syra pergunta Nōnne fōrmōsus
pergunta: resposta:
nönne ... est? ... est
est nāsus meus? (l. 26), ela certamente espera por uma resposta
num ... est? ... nön est. afirmativa. Entretanto, Iulia responde: “Immō foedus est!” A palavra
immō serve para enfatizar uma negação (em Português, “não”, “ao
contrário”).

es/t: imp. es! es/te!


A forma imperativa de est é es! (composta pelo radical, tão somente)
e, no plural, este!: “Tergē óculos! Es laeta!” (l. 23). A saudação
Salvē! expressa um desejo de boa saúde e, já que costumava ser
sing. salvë! entendido como um imperativo, seu plural também é construído, em
plur. salvë/te!
conformidade à maioria dos outros verbos, com -te: “Salvēte, fīliī!”
(l. 31).

et ... et Notemos a repetição das conjunções et e neque (l. 50, 57): et Mārcus
neque ... neque et Quīntus māla habent; Servī neque māla neque pira habent (em
nön sölum... sed etiam
Português, “ambos... e”, “tanto... quanto/como”; “nem... nem”). No
lugar de et... et, é comum encontrar nōn sōlum... sed etiam: nōn
sōlum māla, sed etiam pira (l. 56).

Quando Iulius refere-se a objetos que estão perto dele, diz, por
hic haec hoc exemplo, hic saccus e hoc mālum, e Iulia diz haec rosa ao falar da
flor que segura na mão (l. 43, 90, 85). O pronome demonstrativo hic
haec hoc (em Português, “este”, “esta”, “isto”) será estudado no

plënus + gen.
capítulo VIII; de momento, notemos o genitivo depois de plēnus
(“cheio de...”): Hic saccus plēnus mālōrum est (l. 43). Em Latim,
adjetivos de abundância ou de carência vinham acompanhados de
genitivo ou de ablativo.

verbos compostos:
Os verbos compostos frequentemente possuem uma preposição como
ad-, ab-, ex-, in- primeiro elemento, como em ad-est e ab-est. Neste capítulo,
encontramos in-est, ad-venit, ad-it, ex-it; no próximo capítulo,
veremos ab-it. Muitas vezes, a mesma preposição é colocada na
mesma frase antes de um substantivo: Quid inest in saccīs? Iūlius ad ex + vogal e h-
ë/ex + cons. (exc. h-)
vīllam advenit. Iūlia ē cubículo exit.

No último exemplo, vemos a forma abreviada de ex: ē. A mesma regra


usada para ab e ā é aplicada nesse caso: ex e ab são usados antes de
vogais e de h-; ē e ā aparecem somente antes de consoantes. Por
exemplo: ē/ex vīllā, mas apenas ex ātriō, ex hortō.
CAPITVLVM OCTAVVM

TABERNA ROMANA

No mundo antigo, as pessoas faziam suas compras em balcões que


Uma loja romana
ficavam enfileirados ao longo das ruas. Os transeuntes podiam
simplesmente parar na calçada em frente a uma loja e comprar o que
desejassem. Podemos ter certeza de que os atendentes persuadiam seus
clientes com uma eloquência muito mediterrânea.

Neste capítulo, damos particular atenção para alguns importantes pronomes:


pronomes: o pronome interrogativo quis quae quid, o pronome relativo pron. interrogativo
quis? quae? quid?
quī quae quod e os pronomes demonstrativos is ea id, hic haec hoc e ille pronome relativo
...quï ...quae ...quod
illa illud. Em relação aos dois últimos pronomes mencionados, hic haec
hoc refere-se a algo que está aqui (hīc), isto é, perto de quem fala, ao
pronomes/adjetivos
passo que ille illa illud indica algo que está longe do locutor. Esses demonstrativos
pronomes demonstrativos são empregados principalmente como is ea id
hic haec hoc
adjetivos que qualificam substantivos: hic vir, haec fēmina, hoc oppidum ille -a -ud
e ille vir, illa fēmina, illud oppidum. Em hic haec hoc, o radical
invariável é apenas h-, cf. o plural hī hae (nom.), hōs hás (ac.), hōrum
hārum (gen.), hīs (dat. e abl.), mas no singular (e no neutro plural
nom./ac.) -c é adicionado (ver o quadro da página 61).

As formas dos outros pronomes estão apresentadas sistematicamente em


pron. interrogativo
exemplos da seção GRAMMATICA LATINA. Aqui, não somente ille subst.: quis?
quid?
illa illud, mas também is ea id são usados como adjetivos: is servus, ea
adj.: quï/quis -us?
ancilla, id ōrnāmentum (em Português, “esse”, “essa”). O pronome quod - um?

interrogativo também acompanha substantivos, assim como os adjetivos:


quī servus? quae ancilla? quod oppidum? Notemos que, no masculino e
no neutro, as formas adjetivas usadas antes de substantivos são quī e
quod, respectivamente; já quis e quid aparecem sozinhos (embora quis
também possa ser utilizado antes de um substantivo, quando se trata de
identidade: quis servus? Mēdus). Quando o pronome relativo é usado
sem qualquer referência a algo ou a alguém, como em Quī tabernam
quï... = is/iï quï... habet tabernārius est (l. 3) e Quī magnam pecūniam habent ōrnāmenta
quae... = ea/eae quae... emunt (l. 16-17), pode-se inferir um pronome demonstrativo: Is quī...., Iī
quī....

Como ille illa illud, a maioria dos pronomes termina em -ius no genitivo e
ille -a -ud
gen. ïus em -ī no dativo nos três gêneros (contudo, o i de eius, cuius, huius, cui,
dat. -ï huic é breve ou consonantal). A desinência de neutro -ud também é
encontrada em alius alia aliud (l. 33).

Os verbos accipit e aspicit, quando no plural, terminam em -iunt:


sing. plur.
ind. accipit accipiunt accipiunt, aspiciunt; quando no imperativo, terminam em -e e em -ite:
aspicit aspiciunt
accipe! accipite! e aspice! aspicite! Eles parecem seguir um modelo que
imp. accipe accipite
aspice aspicite não é nem o dos verbos com temas consonantais nem o dos verbos com
tema em -ī. Isso se deve ao fato de que o radical de ambos os verbos
termina em -i breve: accipi-, aspici-. Esse -i aparece somente antes de uma
terminação que inicie com vogal, como -unt: accipiunt, aspiciunt; no
restante dos tempos e modos verbais, esses dois verbos comportam-se
como verbos com temas consonantais e são considerados pertencentes à
terceira conjugação.

tantus = tam magnus No lugar de tam magnus e quam magnus, são empregados os adjetivos
quantus = quam magnus,
quam tantus e quantus (l. 64, 72), e tantus quantus pode substituir tam magnus
quam: Pretium illīus ānulī tantum est quantum huius (l. 75). Quam é
usado em frases exclamativas: “Ō, quam pulchra sunt illa ōrnāmenta!” (l.
42).

Notemos o ablativo de instrumento (sem preposição): fēminae ōrnāmentīs


dēlectantur (l. 12); gemmīs et margarītīs ānulīsque ōrnantur (l. 24); Lydia
tabernam Albīnī digitō mōnstrat (l. 43). Com os verbos emit, vēndit e
ablativo de preço
cōnstat (verbos de compra e de venda etc.), o preço está indicado no
ablativo de preço (ablātīvus pretiī): Hic ānulus centum nummīs cōnstat (l.
59); Albīnus... Mēdō ānulum vēndit sēstertiīs nōnāgintā (. 116-117).
No último exemplo, Mēdō aparece no dativo com o verbo vēndit. O
dativo aparece agora não apenas com o verbo dat, mas também com
ostendit (l. 46, 52, 58, 83), mōnstrat (l. 130) e vēndit. Sendo transitivos,
esses verbos necessitam de um objeto no acusativo, o qual é chamado de
objeto direto para diferenciá-lo do objeto no dativo, que é denominado
objeto indireto.
CAPITVLVM NONVM

PASTOR ET OVES

casos: nom., ac., gen., dat.,


Ao estudarmos a figura no início do capítulo, podemos aprender várias
abl., voc.
palavras novas. Nos substantivos campus, herba, rīvus, umbra, silva,
1ª declinação
caelum, podemos perceber as já familiares terminações -us, -a, -um; no nom. -a, gen. -ae
entanto, as demais palavras, collis, pāstor, canis, mōns, sōl etc., possuem
2ª declinação
terminações diferentes não somente no nominativo, mas também nos nom. -us/-um, gen. -ï
outros casos: quando no singular, elas terminam em -em no acusativo, em 3ª declinação
-is no genitivo, em -i no dativo, e em -e no ablativo; no plural, elas sing. plur.
nom. -/-(i)s -ës
apresentam a terminação -ēs no nominativo e no acusativo, -um ou -ium ac. -em -ës
gen. -is -(i)um
no genitivo, e -ibus no dativo e no ablativo. Exemplos dessas terminações
dat. -ï -ibus
podem ser vistos na conjugação dos substantivos ovis e pāstor (l. 3-7, 11- abl. -e -ibus

18). Palavras que são flexionadas dessa maneira pertencem à terceira


declinação (lat. dēclīnātiō tertia), ao passo que a primeira declinação
(dēclīnātiō prīma) abarca as palavras terminadas em -a, como fēmina, e a
segunda declinação (dēclīnātiō secunda) abrange as palavras terminadas
em -us (-er) e -um, como servus (liber) e oppidum.

No nominativo singular da terceira declinação, os substantivos podem


terminar em -is (por exemplo, ovis, canis, pānis, collis), em -ēs (por
exemplo, nūbēs), em -s (que provoca mudanças na palavra, como a perda
de t em mōns e dēns <mont/s, dent/s, gen. mont/is, dent/is) ou, ainda, não
ter terminação alguma (por exemplo, pāstor, sōl, arbor). Os substantivos
temas consonantais:
sem terminação no nominativo apresentam temas consonantais; os gen. plur. -um
temas em -ï:
substantivos terminados em -is (ou -s) tinham, originalmente, tema em -i,
gen. plur. -ium
mas essas terminações foram assimiladas aos temas consonantais, sendo
apenas perceptíveis no genitivo plural -ium.

Neste capítulo, os substantivos de terceira declinação são masculinos ou


femininos, mas, como as terminações de ambos os gêneros são as mesmas,
não podemos determinar o gênero dessas palavras até que elas estejam
ligadas a adjetivos de primeira e de segunda declinação: as combinações
pāstor fessus, parvus collis, magnus mōns e ovis alba, magna vallis,
multae arborēs mostram que pāstor, collis e mōns são palavras masculinas
e que ovis, vallis e arbor são femininas. Nas margens e no vocabulário, o
gênero é indicado por m, f e n.

Na seção GRAMMATICA LATINA, encontramos exemplos das três


declinações. Aproveitemos essa oportunidade para revisar as formas da 1ª
declinação (como īnsula) e da 2ª declinação (como servus e verbum),
assim como para estudarmos a 3ª declinação (como pāstor e ovis).

sing. ëst Na oração Ovēs herbam edunt (l. 9), o verbo tem um tema consonantal, o
plur. edunt
que pode ser confirmado pela terminação plural -unt; contudo, sua forma
no singular é irregular: Pāstor pānem ēst (somente no Latim tardio a
dücit:
imp. düc! düc/ite!
forma “regular” edit apareceu). Notemos também o imperativo dūc! (l.
65, sem -e) do verbo dūc/it dūc/unt.

A conjunção temporal dum expressa simultaneidade: Dum pāstor in herbā


conjunção temporal
dum dormit, ovis nigra... abit (l. 39). Após o verbo exspectat, dum significa
“até que”: Ovis cōnsistit et exspectat dum lupus venit (l. 69).

Há duas novas preposições: suprā (l. 25), que é usada com acusativo, e
suprä + ac.
sub (l. 30), que é utilizada com ablativo (quando há a idéia de movimento,
sub + abl. (ac.)
sub é usada com acusativo).

O pronome demonstrativo ipse é empregado para enfatizar aquilo a que se


ipse -a -um
refere, como, em Português, “ele/ela próprio/a”, “ele/ela mesmo/a”: Ubi
est lupus ipse? (l. 55). Ele é declinado como ille, exceto pelo neutro -um
(não -ud): ipse ipsa ipsum.

Quando ad e in fazem parte de uma composição com os verbos currit e


assimilação:
ad-c... > ac-c... pōnit, eles se transformam em ac- e im-: ac-currit, im-pōnit. Assim,
in-p... > im-p...
quando uma consoante se torna análoga à outra (m é uma consoante labial
como p), temos um processo de assimilação (do Latim similis,
“semelhante”).
CAPITVLVM DECIMVM

BESTIAE ET HOMINES

Neste capítulo, são-nos apresentados novos substantivos de terceira 3ª declinação m./f.


leō leōn/is m.
declinação. Alguns deles possuem formas particulares ao nominativo
homō homin/is m.
singular: em leō, o n, ausente no nominativo, aparece no genitivo leōn/is. vōx vōc/is f.
pēs ped/is m.
Em homō, o desaparecimento do n é combinado com uma mudança de
vogal, formando o genitivo homin/is. A terminação -s produz a grafia -x
para representar -cs em vōx, com genitivo vōc/is, e também produz a perda
de d em pēs (que, por sua vez, produz o alongamento da vogal), com
genitivo ped/is. Daqui por diante, o nominativo e o genitivo de novos
substantivos poderão ser encontrados nas margens. A negação nē,
nēmō < nē + homō
combinada ao substantivo homō, forma o pronome nēmō (“ninguém”).

Encontramos, neste capítulo também, os primeiros substantivos neutros de


3ª declinação n.
terceira declinação: flūmen, mare, animal, que terminam em -a no flūmen flūmin/is
mar/e mar/is
nominativo e no acusativo plurais: flūmina, maria, animālia. A declinação
animal animāl/is
desses substantivos será tratada no próximo capítulo.

Em Cum avis volat, ālae moventur (l. 15), cum é uma conjunção temporal
conjunções:
(“quando”). Já quod é uma conjunção causal (= quia) na frase Hominēs temporal: cum
causal: quod
ambulāre possunt, quod pedēs habent (l. 24).

O verbo potest, que aparece na frase Canis volāre nōn potest (l. 21),
sing. pot-est
expressa capacidade (“é capaz de”, “pode”, “consegue”). É um verbo
plur. pos-sunt
composto: pot-est; o primeiro elemento pot- (que significa “capaz”)
modifica-se por assimilação para pos- quando diante de s: Hominēs
ambulāre pos-sunt (l. 23).

Volāre e ambulāre são os primeiros exemplos da forma básica do verbo


chamada infinitivo (lat. īnfīnītīvus), que termina em -re. Em verbos de infinitivo

primeira, segunda e quarta conjugações, essa terminação é adicionada logo


após os respectivos temas ā, ē e ī: volā/re, vidē/re, audī/re. Em verbos de
terceira conjugação, um e breve é inserido antes da terminação: pōn/ere. A
partir de agora, os novos verbos serão mostrados na forma infinitiva nas
margens quando aparecerem, a fim de que possamos determinar à qual das
quatro conjugações o verbo pertence: 1ª. -āre; 2ª. -ēre; 3ª. -ere; 4ª. -īre.

A frase Hominēs deōs vidēre nōn possunt passa para Deī ab hominibus
infinitivo
ativo passivo vidērī nōn possunt na passiva. Vidērī é a forma passiva do infinitivo,
1. vocā/re vocā/rī
correspondente à forma ativa vidēre. Os verbos da 1ª, 2ª e 4ª declinações
2. vidē/re vidē/rī
3. pōn/ere pōn/ī possuem a forma -rī no infinitivo passivo, por exemplo, vidē/rī, audī/rī,
4. audī/re audī/rī
numerā/rī (l. 39, 45), enquanto os verbos de 3ª declinação apresentam
apenas a terminação -ī, por exemplo, em/ī: Sine pecūniā cibus emī nōn
potest (l. 62).

Neste capítulo, o infinitivo aparece como objeto de potest possunt, de vult

sing. vult
volunt (verbo que expressa vontade: Iūlia cum puerīs lūdere vult, neque iī
plur. volunt cum puellā lūdere volunt, l. 75-76), e de audet audent (verbo que expressa
ousadia: avēs canere nōn audent, l. 88). O infinitivo também surge como
sujeito da expressão impessoal necesse est; nesse caso, a pessoa para quem
impessoal:
necesse est (+ dat.) é necessário fazer algo está no dativo (dativo de interesse): spīrāre necesse
est hominī (l. 58).

O objeto de verbos de percepção, como vidēre e audīre, pode ser


combinado com o infinitivo para expressar o que alguém vê ou ouve outra
pessoa fazer (infinitivo ativo) ou o que é feito a outra pessoa (infinitivo
passivo): Puerī puellam canere audiunt (l. 80); Aemilia fīlium suum ā Iūliō
portārī videt (l. 126); Aemilia Quīntum ā Iūliō in lectō pōnī aspicit (l. 131).

A terminação original do infinitivo era -se, mas o -s- intervocálico, ou seja,


o -s- entre vogais, transformou-se em -r-, de modo que -se tornou-se -re
amāre (< amā/se)
depois de vogal. Somente nos infinitivos esse (de est sunt) e ēsse (de ēst
edunt) a terminação -se foi mantida, porque fora acrescentada diretamente
infinitivo -se:
es/se
às raízes es- e ed-: es/se e (por assimilação ds > ss) ēs/se. Exemplos: Quī
ēs/se (< ed/se). spīrat mortuus esse nōn potest (l. 109); Ēsse quoque hominī necesse est (l.
59); nēmō gemmās ēsse potest (l. 64, na qual também encontramos o
infinitivo passivo edī de ēsse: Gemmae edī nōn possunt).
Além de meio ou causa, o ablativo também pode expressar modo ablativo de modo
(ablātīvus modī), por exemplo, magnā vōce clāmat (l. 112); ‘leō’
dēclīnātur hōc modō …
CAPITVLVM VNDECIMVM

CORPVS HVMANVM

A arte da cura era muito mais primitiva no mundo antigo do que hoje em
dia, mas nem todos os médicos da antiguidade eram tão incompetentes
quanto o que está tratando de Quintus.

Entre os nomes das partes do corpo, aparecem vários substantivos neutros 3ª decl. neutro
de 3ª declinação, por exemplo ōs, crūs, corpus, pectus, cor, iecur. Como sing. plur.
nom. - -a
todos os neutros, esses substantivos possuem a mesma forma no ac. - -a
nominativo e no acusativo, com a terminação -a no plural. Nos outros gen. -is -um
dat. -ī -ibus
casos, eles apresentam as já conhecidas terminações da 3ª declinação. abl. -e -ibus
Notemos que o -s final é transformado em r quando as terminações são
acrescidas: ōs ōr/is, crūs crūr/is, corpus corpor/is, pectus pector/is (nos
dois últimos casos, assim como em iecur iecor/is, a vogal anterior a -s
plural (nom./ac., gen.):
transforma-se de u em o). Os substantivos caput capit/is e cor cord/is são terminações em cons.: -a,
-um
irregulares; e viscer/a -um é somente usado no plural. Todos esses são terminações em ī: -ia, -ium
substantivos cujos temas terminam em consoante, como flūmen -in/is; e,
no plural, apresentam as terminações -a (nom. e ac.) e -um (gen.).

Exemplos de substantivos com temas em -i são mar/e mar/is e animal abl. sing.:
temas em cons.: -e
-āl/is, que apresentam as terminações -ia no nominativo e acusativo temas em -i: -ī
plurais, -ium no genitivo plural e -ī no ablativo singular. Os modelos de
declinação ou paradigmas estão na página 83.

Em frases como Iūlius puerum videt e Iūlius puerum audit, nós vimos que
o infinitivo pode ser acrescentado ao acusativo puerum para descrever o
que o menino está fazendo ou o que está acontecendo com ele: Iūlius acusativo + infinitivo
(ac. + inf.) com os verbos
puerum vocāre audit e Iūlius puerum perterritum esse videt. A 1. vidēre, audīre, sentīre
combinação de acusativo com infinitivo (lat. accūsātīvus cum īnfīnītīvō), 2. iubēre
3. dīcere
em que o acusativo é o sujeito do infinitivo (“acusativo sujeito”), é usada 4. putāre
5. gaudēre
não somente com verbos de percepção, como vidēre, audīre e sentīre,
6. necesse est
mas também com muitos outros, por exemplo, iubēre (dominus servum
venīre iubet). Com os verbos dīcere e putāre (e outros verbos de
declaração e de pensamento), a construção é utilizada para relatar as
palavras ou pensamentos de uma pessoa de maneira indireta. Assim, as
palavras do médico, “Puer dormit”, são repetidas por Aemilia do seguinte
M.: “Puer dormit” modo: Medicus ‘puerum dormīre’ dīcit (l. 63-64, as aspas simples ‘...’
M. ‘puerum dormīre’ dīcit
“...” = discurso direto marcam o discurso indireto). Também o terrível pensamento de Syra ao
‘...’ = discurso indireto ver Quintus inconsciente é construído dessa maneira: Syra eum mortuum
esse putat (l. 108). O acusativo com infinitivo é também empregado com o
verbo gaudēre (e outros verbos que expressam sentimento): Syra Quīntum
vīvere gaudet (l. 118, = Syra gaudet quod Quīntus vīvit); e com necesse
est (e outras expressões impessoais): Necesse est puerum aegrum dormīre
(l. 128). Notemos que, em Português, o discurso indireto é normalmente
expresso por uma oração introduzida por “que”: “diz/pensa/acredita
que...”.

A conjunção atque possui função semelhante a et e -que; antes de


atque (< ad-que) = et
consoantes, mas não antes de vogais ou h-, podemos encontrar a forma
ac (+ cons.) = atque
abreviada ac (ver capítulo 12, l. 59). Neste capítulo, encontramos a forma
nec = neque abreviada nec, de neque, que é utilizada tanto antes de consoantes como
de vogais.

Como ab, a preposição dē expressa movimento “procedente de”


dē (↓) prep. + abl.
(normalmente “de cima”) e é empregada com ablativo: dē arbore, dē
bracchiō (l. 53, 99).

Os ablativos pede e capite em Nec modo pede, sed etiam capite aeger est
ablativo de limitação (l. 55) especificam a aplicação do termo aeger (ver l. 131-132). A esse
ou relação: pede aeger
emprego do ablativo dá-se o nome de ablativo de limitação, designando
“com relação a que”, “sob qual ponto de vista”.

O infinitivo de potest possunt é posse, como aparece na construção de


ind. potest possunt acusativo com infinitivo quando Aemilia dá a sua opinião em relação à
inf. posse
habilidade do médico: Aemilia nōn putat medicum puerum aegrum sānāre
posse (l. 134-135).
Ao falar com seu marido sobre seu filho, Aemilia diz fīlius noster (l. 131). pronomes possessivos:
No capítulo seguinte, iremos encontrar vários exemplos dos pronomes noster -tra -trum
vester -tra -trum
possessivos noster -tra -trum e vester -tra -trum (em Português, “nosso” e
“vosso”, respectivamente).
CAPITVLVM DVODECIMVM

MILES ROMANVS

O soldado tinha grande importância no mundo romano. No início deste


capítulo, pode-se ver a figura de um mīles Rōmānus. A palavra “militar”
deriva de mīles, cujo tema termina em -t: gen. mīlit/is (como pedes -it/is e
eques -it/is). Além disso, neste capítulo, lemos a respeito do armamento
de um soldado romano e também tomamos conhecimento da disposição
de um acampamento do exército romano (castra). Esse substantivo é
neutro plural; por conseguinte, vemos castra sunt, vāllum castrōrum, in
plurale tantum: castra
castrīs (l. 93, 94, 101), ainda que se trate de apenas um acampamento. -ōrum n. pl.

Assim como līberī -ōrum, viscera -um e arma -ōrum, o substantivo castra
-ōrum é chamado plūrāle tantum (“somente plural”, cf. Português
“vísceras”, “férias” etc.).

Na frase Mārcō ūna soror est (l. 6), Mārcō está no dativo. A mesma idéia dativo possessivo
+ esse
poderia ser expressa a partir de outra construção: Mārcus ūnam sorōrem
habet. Notemos, porém, que, na primeira frase, ūna soror está no
nominativo, e o dativo Mārcō enuncia “de quem” ou “para quem” há uma
irmã. Esse é o dativo de posse, usado com esse para expressar a quem
pertence algo; cf. Quod nōmen est patrī? Eī nōmen est Lūcius Iūlius
Balbus (l. 9-10).

Iūlius é o nome de uma família: os membros masculinos dessa família os nomes dos romanos:
são chamados Iūlius e os membros femininos, Iūlia. Além do nome de praenōmen
nōmen
família terminado em -ius, os homens romanos têm um prenome, cognōmen
praenōmen (ver a lista na margem da p. 86), e um sobrenome, cognōmen,
comum a um ramo da família. O cognōmen frequentemente caracteriza o
fundador da família, por exemplo, Longus, Pulcher, Crassus; Paulus
significa “pequeno”, e Balbus significa “gago”.

O substantivo exercitus representa aqui a 4ª declinação (dēclīnātiō


quārta). Todas as suas formas estão listadas das linhas 80 a 89: no
singular, a forma do acusativo é -um, do genitivo é -ūs, do dativo é -uī, e
4ª declinação
do ablativo é -ū; no plural, o nominativo e o acusativo terminam em -ūs, o
sing. plur.
nom. -us -ūs genitivo em -uum, o dativo e o ablativo em -ibus. Os substantivos da 4ª
ac. -um -ūs
declinação são normalmente masculinos, como arcus, equitātus, exercitus,
gen. -ūs -uum
dat. -uī -ibus impetus, metus, passus, versus; veremos que manus, no entanto, é
abl. -ū -ibus
feminino (duae manūs). Essa declinação não abrange tantas palavras
quanto as três primeiras declinações.

imperāre, pārēre + dat.


Nas frases Dux exercituī imperat e Exercitus ducī suō pāret (l. 82),
exercituī e ducī estão no dativo. Isso mostra que os verbos imperāre e
pārēre regem dativo (a pessoa em quem se manda e a pessoa a quem se
obedece ficam no dativo). Você encontrará em breve outros verbos que
regem dativo.

Todos os adjetivos estudados até agora, como alb/us -a -um, seguem a 1ª e


adjetivos da 3ª declinação
(da denominada 2ª classe) a 2ª declinações: a 1ª, quando qualificam substantivos de gênero feminino
sing. m./f. n. (alb/a), e a 2ª, quando qualificam os dos gêneros masculino e neutro
nom. -is -e
ac. -em -e (alb/us, alb/um) – alguns adjetivos, como niger -gr/a -gr/um, apresentam -
gen. -is
er, e não -us, no nominativo singular, tal como aeger, pulcher, ruber e os
dat./abl. -ī
pronomes possessivos noster e vester (cf. substantivos como liber -br/ī,
plur.
nom./ac. -ēs -ia
culter -tr/ī). Agora também encontramos adjetivos da 3ª declinação ou de
gen. -ium 2ª classe: brevis, gravis, levis, trīstis, fortis; tenuis já tinha aparecido no
dat./abl. -ibus
capítulo X. No masculino e no feminino, eles são declinados como ovis,
exceto no ablativo, cuja forma é -ī (e não -e); no neutro, eles são
declinados como mare (o nominativo e o acusativo apresentam a
terminação -e no singular e -ia no plural). Portanto, no nominativo
singular temos gladius brevis, hasta brevis e pīlum breve.

comparativo Uma comparação como Via Latina nōn tam longa est quam via Appia
sing. m./f. n.
nom. -ior -ius pode também ser expressa assim: Via Appia longior est quam via Latīna.
ac. -iōrem -ius Longior é um comparativo (comparātīvus, de comparāre, “comparar”). O
gen. -iōris
dat. -iōrī comparativo de superioridade termina em -ior no masculino e no feminino
abl. -iōre e em -ius no neutro (gladius/hasta longior, pīlum longius), e segue a 3ª
plur. declinação: gen. -iōr/is (m., f. e n.), plur. nom/ac. -iōr/ēs (m. e f.) e -iōr/a
nom./ac. -iōrēs -iōra
gen. -iōrum
dat./abl. -iōribus
(n.); abl. sing. -iōr/e (não -ī). Exemplos: l. 53, 58-59, 127, 130, 134-135;
na seção GRAMMATICA LATINA: l. 200-225.

Os genitivos em Provincia est pars imperiī Rōmānī, ut membrum pars


genitivo partitivo
corporis est (l. 64-65) indicam o conjunto do qual se toma uma parte (pars
part/is f.). Esse é o genitivo partitivo. Cf. o genitivo em magnus numerus
mīlitum.

As usuais medidas romanas de comprimento eram pēs (29,6 cm) e passus 5 pedēs = 1 passus
(= 5 pedēs = 1,48 m); mīlle passūs (4ª declinação) é a “milha romana”, o
equivalente a 1,48 km. O plural de mīlle é mīlia -ium (neutro), por
exemplo, duo mīlia (2000), que é seguido pelo genitivo partitivo: duo
mīlia passuum; sex mīlia mīlitum. Longas distâncias eram dadas em mīlia mīlia + gen. plur.

passuum (literalmente, “milhares de passos” = “milhas”, termo ainda hoje


usado que deriva de mīlia). O acusativo é usado para indicar extensão acusativo de extensão ou
de medida
(“quão longo?”, “quão alto?”), como em Gladius duōs pedēs longus est.

Além de radicais terminados em consoante (pōn/ere, sūm/ere, dīc/ere), a


3ª conjugação também compreende alguns verbos cujos radicais terminam
em u ou i breves. A flexão dos verbos com radicais terminados em u não
temas verbais em u e i
difere da flexão dos verbos com radicais terminados em consoantes. Nos
verbos cujos radicais terminam em i, o i muda para e antes de r, por
exemplo, no infinitivo: cape/re (capi-), iace/re (iaci-), fuge/re (fugi-), e em
posição final: cape!, iace!, fuge! (imperativo). Sendo assim, verbos com
radicais terminados em i correspondem em grande parte a verbos com
radicais terminados em consoantes, mas aqueles se caracterizam por terem
um i antes de terminações vocálicas, por exemplo, -unt: capi/unt, iaci/unt,
fugi/unt (cf. accipiunt e aspiciunt no cap. VIII, inf. accipere, aspicere).

No verbo fer/re (l. 55), a desinência de infinitivo -re é adicionada


diretamente ao radical terminado em consoante fer-; o mesmo ocorre com
as desinências -t e -tur: fer/t, fer/tur (plural fer/unt, fer/untur). O
inf. fer/re
imperativo não tem -e: fer! (nem o plural -i-: fer/te!). Cf. o imperativo es! ind. fer/t fer/unt
de esse (plural es/te!) e dūc! de dūcere (plural dūc/ite!). Dois outros fer/tur fer/untur
imp. fer! fer/te!
verbos da 3ª conjugação, dīcere e facere, não apresentam -e no imperativo
imp. dīc! dūc! fac! fer! singular: dīc! fac! (plural dīc/ite! faci/te – facere é um verbo com radical
terminado em i: faci/unt).
CAPITVLVM TERTIVM DECIMVM

ANNVS ET MENSES

Ainda hoje utilizamos o calendário romano tal como o da reforma realizada o calendário romano

por Júlio César em 46 a.C., com 12 meses e 365 (ou 366) dias. Antes dessa
reforma, apenas quatro meses – março, maio, julho e outubro – eram
compostos por 31 dias, em contraposição a fevereiro, com 28 dias, e aos
demais, com 29 dias cada. Por isso, foi criado um 13° mês, intercalado entre
o fim de um ano e o início de outro, para adequar o calendário às estações.
Contudo, como esse mês apenas era incluído no calendário anual quando era
de interesse do governante da cidade, em 46 a.C. havia uma defasagem de
80 dias entre o calendário solar e o início das estações! Assim, com a
reforma, o novo calendário passou a incluir, a cada quatro anos, um dia a
mais no mês de fevereiro, dando origem ao ano bissexto.

O substantivo diēs, com genitivo diēī, representa a 5ª declinação (lat. 5ª declinação


sing. plur.
dēclīnātiō quīnta), cujo paradigma é apresentado por completo na página nom. -ēs -ēs
101. Os substantivos da 5ª declinação possuem temas terminados na vogal ac. -em -ēs
gen. -ēī -ēī
longa ē, que se conserva antes de todas as desinências (mas que se torna dat. -ēī -ēbus
breve em -em). Essa declinação contém um número muito pequeno de abl. -ē -ēbus

substantivos; a maioria deles apresenta a terminação -iēs no nominativo,


como diēs, merīdiēs, faciēs, glaciēs; alguns apresentam uma consoante antes
de -ēs (e breve no genitivo e -eī no dativo singular), por exemplo, rēs, com
genitivo reī (“coisa”, “assunto”), que aparecerá no capítulo seguinte. Os
substantivos dessa declinação são femininos, exceto diēs (bem como merī- merī-diē < medi-diē
(mediō diē)
diēs), que pode também ser classificado como masculino, em alguns
sentidos específicos.

Já aprendemos as cinco declinações. A classificação delas é definida pela


vogal final do tema:
1ª decl.: temas em -a, gen.
-ae
1ª declinação: temas em -a; por exemplo, āla, genitivo singular -ae.
2ª decl.: temas em -o, gen.
2ª declinação: temas em -o; por exemplo, equus, ōvum (<equos, ōvom), -ī
genitivo singular –ī.

3ª decl.: temas em 3ª declinação: temas em consoante e em -i; por exemplo, sōl, ovis, genitivo
consoante e temas em -i,
gen. -is singular -is.

4ª decl.: temas em -u, gen. 4ª declinação: temas em -u; por exemplo, lacus, genitivo singular -ūs.
-ūs
5ª declinação: temas em -ē; por exemplo, diēs, rēs, genitivo singular -ēī/-eī.
5ª decl.: temas em -ē, gen.
-ēī (-eī)
O substantivo neutro māne é indeclinável (l. 36, 37; cf. cap. XIV, l. 55).

Os nomes dos meses comportam-se como adjetivos: mēnsis Iānuārius etc.,


mas eles são frequentemente empregados sem o termo mēnsis. Aprīlis,
September, Octōber, November, December são adjetivos de 2ª classe; por
isso, apresentam o ablativo -ï: (mense) Aprīlī, Septembrī, Octōbrī etc.
Notemos: nominativo singular -ber (sem -is) forma genitivo -br/is.

Para responder à pergunta “em que momento/tempo?” (Quando?),


abl./ac. temporis:
quando? abl (ablativo de empregamos o ablativo (ablātīvus temporis): mēnse Decembrī, illō
tempo)
por quanto tempo? ac. tempore, hōrā prīmā, hieme. Já para o complemento que responde à
(acusativo de duração) pergunta “durante quanto tempo?” (duração), usamos o acusativo: centum
annōs vīvere (l. 11). (Quamdiu?)
cardinais:
ūnus, duo, trēs... Dos numerais latinos, conhecemos os cardinais de 1 a 10 (ūnus, duo...
ordinais:
prīmus, secundus, tertius... decem) e os ordinais (prīmus, secundus, tertius, quārtus...). Para contar os
meses, é preciso que saibamos os doze primeiros numerais ordinais:
prīmus, ... duodecimus (l. 2-6). Os numerais ordinais são combinados com
pars para formar frações: ⅓ tertia pars, ¼ quārta pars etc., mas ½ dīmidia
pars (l. 33-34).
os nomes de alguns meses
Na versão mais antiga do calendário romano, março era o primeiro mês do
ano, o que explica os nomes September, Octōber, November e December
(<septem, octō, novem, decem). O quinto mês no antigo calendário era
chamado de Quīntīlis (<quīntus), mas, após a morte de Júlio César, este
passou a se chamar Iūlius, em homenagem ao imperador. No ano 8 a.C., o
mês que o sucedia, até então chamado de Sextīlis (<sextus), recebeu o
nome do imperador romano Augustus.

presente: est sunt


pretérito: erat erant
As formas erat erant são usadas no lugar de est sunt quando expressam o
passado. Compare as frases: 1) Tempore antīquō Mārtius mēnsis prīmus
erat; 2) Tunc (= illō tempore) September mēnsis septimus erat (l. 19-20);
3) Nunc (= hōc tempore) mēnsis prīmus est Iānuārius (l. 22). Erat erant são
formas do tempo passado ou pretérito, ao passo que est sunt são formas do
tempo presente. Estudaremos o pretérito de outros verbos mais tarde (a
partir do cap. XIX).

No exemplo Februārius brevior est quam Iānuārius, há uma comparação


entre os meses fevereiro e janeiro: brevior é o comparativo de brevis. Na
frase Februārius mēnsis annī brevissimus est (l. 30), o mês fevereiro é
comparado com todos os outros meses do ano, sendo salientado que, entre
todos, nenhum é tão curto quanto ele: brevissimus é o superlativo (lat.
superlātīvus) de brevis.

Já aprendemos os três graus de adjetivos: graus dos adjetivos:


1. positivo
-us -a –um; -is -e
1. Positivo: -us -a –um; -is -e; exemplo: longus -a -um, brevis -e.
2. comparativo
-ior -ius -iōr/is
2. Comparativo: -ior -ius; exemplo: longior -ius. 3. superlativo
-issim/us -a -um
3. Superlativo: -issimus -a -um; exemplo: longissimus -a -um.

Três dias de cada mês são denominados de forma especial: o dia 1º chama- calendário romano
se kalendae; dia 13, īdūs, e dia 5, nōnae (o 9º dia antes de īdūs). No kalendae
todos os meses 1º
entanto, em março, maio, julho e outubro (os quatro meses que
originalmente tinham 31 dias), īdūs era o dia 15, e nōnae, nōnae
mar./mai./jul./out. 5º
consequentemente, o dia 7. A esses nomes, que são femininos plurais os demais meses 7º
(īdūs, -uum, 4ª declinação), são adicionados os nomes dos meses como īdūs
adjetivos. Assim sendo, 1º de janeiro é kalendae Iānuāriae, 5 de janeiro é mar./mai./jul./out. 13º
os demais meses 15º
nōnae Iānuāriae, e 13 de janeiro é īdūs Iānuāriae. Datas são empregadas no
ablātīvus temporis, por exemplo, kalendīs Iānuāriīs (“[no dia] 1º de
ablātīvus temporis
janeiro”, īdibus Mārtiīs, “[em] 15 de março”).

Outras datas eram indicadas a partir do cálculo do número de dias antes de


kalendae, nōnae ou īdūs. O dia 21 de abril (aniversário de Roma) é o 11º
dia (este incluso) antes de kalendae Māiae, o qual, portanto, teria de ser
chamado diēs ūndecimus ante kalendās Māiās, mas, como ante é colocado
em primeiro lugar, tem-se ante diem ūndecimum kalendās Māiās
a.d. = ante diem (abreviado como a. d. XI kal. Māi.).

Observemos a forma passiva dīcitur com um infinitivo: lūna ‘nova’ esse


nom. + inf. + dīcitur
dīcitur (l. 52 + 69, 72, 77, nominativo com infinitivo, “diz-se que...”, “é dito
ser...”; cf. (hominēs) lūnam ‘novam’ esse dīcunt: acusativo com infinitivo).
Em outras ocasiões, vemos também nōminātur (“é chamado”, exemplos: l.
57 e 62).

ind. vult volunt O infinitivo de vult volunt é a forma irregular velle, que aparece na
inf. velle
construção de acusativo com infinitivo em Aemilia puerum dormīre velle
putat (l. 140). A conjunção vel era originalmente o imperativo de velle; ela
implica uma livre escolha entre duas expressões ou possibilidades (isto é,
quando toda escolha possui o mesmo valor): XII mēnsēs vel CCCLXV
as conjunções alternativas diēs; centum annī vel saeculum; hōra sexta vel merīdiēs (l. 7, 9, 43). Aut,
vel e aut
por sua vez, é uma conjunção empregada entre duas alternativas
mutuamente exclusivas: XXVIII aut XXIX diēs (l. 28).
CAPITVLVM QUARTVM DECIMVM

NOVVS DIES

Ao amanhecer, Marcus é acordado por Davus, que o encaminha para que se


lave bem antes de vestir a tunica e a toga, as roupas que distinguiam os
homens e os meninos romanos livres dos servos.

Entre as novas palavras deste capítulo, devemos prestar especial atenção a


uter, neuter, alter e uterque. Esses pronomes são empregados somente
quando se trata de duas pessoas ou coisas. Uter utra utrum é o pronome pergunta:
interrogativo utilizado quando há apenas duas alternativas (“qual dos uter utra utrum?
A-ne an B?
dois/das duas?”), por exemplo, Uter puer, Mārcusne an Quīntus? (a
conjunção an é colocada em vez de aut entre as duas alternativas na
pergunta). A resposta pode ser:

(1) neuter -tra -trum (“nenhum dos dois”), por exemplo: neuter puer, nec
resposta:
Mārcus nec Quīntus. neuter -tra -trum:
nec A nec B
(2) alter -era -erum (“um ou outro”, “este ou aquele”), por exemplo: alter -era -erum:
aut A aut B
alter puer, aut Mārcus aut Quīntus. uter- utra- utrum-que:
et A et B
(3) uter- utra- utrum-que (“cada um dos dois”), por exemplo: uterque
puer, et Mārcus et Quīntus.

Enquanto, no Português, utilizamos o plural (“ambos/os dois meninos”), no


Latim, optamos pelo uso no singular: uterque puer. Ainda que haja dois
uterque sing.
sujeitos separados por neque... neque, aut... aut ou et... et, o verbo
permanece no singular, como em et caput et pēs eī dolet (l. 3-4) e nec caput
nec pēs dolet (l. 66). A regra geral é que dois ou mais sujeitos são seguidos
de verbo no plural se eles designam pessoas, mas, se os sujeitos se referirem
a coisas, o verbo concordará apenas com aquele mais próximo, como em pēs
et caput eī dolet (l. 64). Notemos aqui o dativo eī, que é chamado de dativo dativo de interesse
de interesse (lat. datīvus commodī), designando a pessoa a quem interessa
algo, a quem se faz algum bem ou a quem se faz algum mal; cf. Multīs
barbarīs magna corporis pars nūda est (l. 77).
m./f. n. O ablativo de duo duae duo é duōbus no masculino e no neutro (ē duōbus
nom. duo duae
puerīs) e duābus no feminino (ē duābus fenestrīs).
abl. duōbus duābus

Na página 104, uma nova forma verbal nos é apresentada, a qual


particípio chamaremos de particípio (lat. participium < pars partis) e que termina
sing. m./f. n.
nom. -ns -ns em -(ē)ns: puer dormiēns = puer quī dormit; puer vigilāns = puer quī
ac. -ntem -ns
vigilat. O particípio é um adjetivo de 2ª classe: vigilāns, genitivo -ant/is;
gen. -ntis
dat. -ntī dormiēns, genitivo -ent/is (-ns também em nominativo e acusativo
abl. -nte/-ntī
plur.
singulares neutros: caput dolēns). No entanto, ele mantém função verbal,
nom./ac. -ntēs -ntia podendo, por exemplo, ter um objeto no acusativo: et (Mārcus) oculös
gen. -ntium
dat./abl. -ntibus aperiëns (l. 37-38). Como forma verbal, o particípio é construído com -e
no ablativo singular: Parentēs ā fīliō intrante salūtantur (l. 91), somente
terminando em -ī quando o ablativo é usado como adjetivo.

Mihi e tibi são as formas de dativo correspondentes aos acusativos mē e


ac. mē tē
dat. mihi tibi tē: “Affer mihi aquam!” e “Dā mihi tunicam!” diz Quintus (l. 43, 71);
abl. mē tē quando Marcus diz “Mihi quoque caput dolet!”, Davus fala-lhe “Tibi nec
caput nec pes dolet!” (l. 65-66, dativo de interesse, cf. l. 64, 86, 103). O
ablativo desses pronomes é igual ao acusativo: mē, tē, podendo a
preposição cum ser sufixada a essas formas de ablativo: mē-cum, tē-cum
mē-cum
tē-cum
e, igualmente, sē-cum: Dāvus... eum sēcum venīre iubet: “Venī mēcum!”
sē-cum (l. 86-87); “Mēdus tēcum īre nōn potest” (l. 117, cf. l. 108, 120, 128).

O verbo inquit (em Português, “ele/ela diz”) é empregado depois de uma


“.......” inquit “.......” ou mais palavras do discurso direto: “Hōra prīma est” inquit Dāvus,
“Surge ē lectō!” (l. 40); Servus Mārcō aquam affert et “Ecce aqua” inquit
verbo defectivo (l. 44). Esse é um verbo defectivo: apenas ocorrem as formas inquit
inquiunt e algumas outras do indicativo.

omnis <-> nūllus O contrário de nūllus é omnis -e (“todo”), que aparece mais
omnēs <-> nēmō
omnia <-> nihil
frequentemente no plural omnēs -ia (ver l. 115, 119). Quando usado sem
substantivo, o plural omnēs (“todos/todo mundo”) é o antônimo de nēmō
(“ninguém”), e o neutro plural omnia (“tudo/todas as coisas”) é o
antônimo de nihil (“nada”).
CAPITVLVM QUINTVM DECIMVM

MAGISTER ET DISCIPVLI

Em Roma, não havia uma rede pública de educação. Os pais que enviavam as escolas romanas
seus filhos pequenos a uma escola particular, lūdus, eram somente aqueles
que possuíam condições financeiras para tal. A escola era privada, dirigida
por um lūdī magister, que ensinava as crianças a ler, a escrever e a contar.
Nós, que agora acompanhamos Marcus na escola, vemos seu professor
tendo dificuldades em manter os alunos disciplinados.

Pela conversa entre o professor e seus alunos, podemos notar que os verbos
1ª pessoa (1.)
possuem diferentes terminações quando alguém fala sobre si (1ª pessoa),
2ª pessoa (2.)
quando se dirige a alguém (2ª pessoa) ou quando fala a respeito de outra 3ª pessoa (3.)

pessoa (3ª pessoa). Quando Titus diz “Mārcus meum librum habet”, o
professor pergunta para Marcus “Quid (= cūr) tū librum Titī habēs?”, ao
que Marcus responde “Ego eius librum habeō, quod is meum mālum habet”
(l. 85-88). A partir desses exemplos, observamos que, no singular, o verbo,
desinências pessoais
na 1ª pessoa, termina em -ō (habe/ō), na 2ª pessoa, em -s (habē/s) e, na 3ª sing. plur.
1. -ō -mus
pessoa, como já bem sabemos, em -t (habe/t). No plural, o verbo, na 1ª
2. -s -tis
pessoa, termina em -mus, na 2ª, em -tis e, na 3ª, em -nt. Dirigindo-se a 3. -t -nt (-unt)

Sextus e Titus, Marcus diz “Vōs iānuam nōn pulsātis, cum ad lūdum
venītis” (l. 51-52), e eles lhe respondem “Nōs iānuam pulsāmus, cum ad
lūdum venīmus” (l. 55). Portanto, pulsā/mus e venī/mus são verbos que
estão na 1ª pessoa do plural, e pulsā/tis e venī/tis estão na 2ª pessoa do
plural. Os exemplos na página 112 (l. 45-58) e na seção GRAMMATICA 3ª conjugação
sing. plur.
LATINA mostram como essas desinências pessoais são adicionadas aos
1. -ō -imus
verbos das diferentes conjugações. Notemos que ā desaparece antes de -ō, 2. -is -itis
3. -it -unt
assim como ē e ī tornam-se breves: puls/ō, habe/ō, veni/ō; além disso, em
verbos com temas consonantais, um i breve é acrescentado antes de -s, -
mus e -tis, assim como antes de -t: dīc/is, dīc/imus, dīc/itis. Facere é um faci/ō faci/unt
exemplo de verbo da 3ª conjugação (de tema geralmente consonantal) cujo
tema termina em um i breve, que aparece antes de -ō e -unt: faci/ō, faci/unt.
Outros verbos desse tipo são: accipere, aspicere, capere, fugere, iacere,
incipere, parere.

pronomes pessoais: Os verbos nas frases acima são precedidos de pronomes pessoais no
sing. plur. nominativo: ego, tū (1ª e 2ª pessoas do singular), e nōs, vōs (1ª e 2ª pessoas
1. nom. ego nōs
ac. mē nōs do plural). No entanto, esses pronomes são apenas utilizados para dar
2. nom. tū vōs ênfase ao sujeito; normalmente, a desinência pessoal do verbo é o
ac. tē vōs
suficiente para mostrar de qual pessoa verbal se trata. Isso é perceptível na
pergunta do professor para Titus “Cūr librum nōn habēs?” e na resposta de
Titus “Librum nōn habeō, quod...” (l. 38-39). As formas de acusativo de
ego e tū são mē e tē; nōs e vōs mantêm as mesmas formas do nominativo
no acusativo: “Quid nōs verberās, magister?”, “Vōs verberō, quod...” (l.

pronomes possessivos 119-120). O genitivo dos pronomes pessoais é substituído pelos pronomes
sing. plur. possessivos: meus, tuus (1ª e 2ª pessoas do singular), noster, vester (1ª e 2ª
1. meus noster
2. tuus vester pessoas do plural).

O verbo esse é irregular. As flexões da 3ª pessoa est sunt correspondem às


esse
sing. plur. da 1ª pessoa sum sumus e às da 2ª pessoa es estis: “Cūr tū sōlus es, Sexte?
1. sum sumus Ego sōlus sum, quod...” (l. 20-21); “Ubi estis, puerī? In lūdō sumus” (l.
2. es estis
3. est sunt 113-114). O verbo posse e outros compostos de esse apresentam as mesmas
formas irregulares: pos-sum, pot-es, pos-sumus, pot-estis (pot- > pos- antes
de s, por assimilação de t em s).

A fala de Quintus, “(Ego) aeger sum”, é relatada por Marcus: Quīntus dīcit
Q.: “(Ego) aeger sum”
Q. sē aegrum esse dīcit ‘sē aegrum esse’ (l. 82). Quando se relata o que alguém fala na 1ª pessoa
empregando a construção de acusativo com infinitivo, o acusativo sujeito é
o reflexivo sē. Confrontemos com Dāvus... eum sēcum venīre iubet: “Venī
mēcum!” (cap. XIV, l. 87).

ac. exclamativo O acusativo é usado em exclamações, como a do professor “Ō, discipulōs


improbōs...!” (l. 23). Em exclamações dirigidas a pessoas que estão
presentes, é empregado o vocativo: “Ō improbī discipulī!” (l. 101; no
plural, o vocativo é igual ao nominativo).
O verbo licet (“é permitido”, “pode”) é impessoal, ou seja, é somente verbo impessoal:
licet (+dat.)
empregado na 3ª pessoa do singular. Muitas vezes, ele é combinado com
um dativo: mihi licet.
CAPITVLVM SEXTVM DECIMVM

TEMPESTAS

Quando navegava em alto mar, o marinheiro romano devia ajustar o curso


pelo sol, durante o dia, e pelas estrelas, durante a noite. Por isso, leste e triönes, -um = bois de
oeste, em Latim, são designados de acordo com o nascer e o pôr-do-sol: lavra; as duas Ursas
(constelações)
oriēns e occidēns. A palavra utilizada para denominar “meio-dia”,
merīdiēs, também significa “sul”, enquanto a palavra que designa “norte”
dá nome à constelação septentriōnēs (septem triōnēs), os “sete bois de
arar”, isto é, a “Ursa Maior”.
verbos depoentes
Muitos dos verbos novos deste capítulo podem ser encontrados somente forma passiva:
inf. -rī, -ī
na forma passiva (infinitivo -rī, -ī, 3ª pessoa -tur, -ntur), por exemplo, 3ª pessoa: -tur, -ntur
laetārī, verērī, sequī, opperīrī. Esses verbos não possuem forma ativa
significado ativo:
(exceto pelas formas em que não há passiva, como o particípio em -ns) e laetārī (1ª) = gaudēre
verērī (2ª) = timēre
são chamados de verbos depoentes (lat. verba dēpōnentia). Esse tipo de
opperīrī (4ª) = exspectāre
verbo é construído a partir da forma passiva, mas possui um significado ëgredï (3ª) = exïre
orïrï (4ª) = ascendere
ativo: laetārī = gaudēre; opperīrī = exspectāre; nauta Neptūnum verētur = proficiscï (3ª) = abïre
timet; ventō secundō nāvēs ē portū ēgrediuntur = exeunt. sequï (3ª) = venïre post
intuërï (2ª) = spectäre
labï (3ª) = cadere
No último exemplo do parágrafo anterior (l. 38-39), o ablativo ventō
secundō nos diz sob quais circunstâncias os barcos saem do porto
subst. abl. + adj. abl.
(“com/havendo um vento suave”, “quando o vento é favorável”). Os
ablativos na linha 36 funcionam de forma similar: Nautae nec marī
turbidō nec marī tranquillō nāvigāre volunt. Esse uso do ablativo, que,
muitas vezes, pode ser traduzido por uma oração temporal, é chamado de ablativo absoluto:
construção “livre” com o
ablativo absoluto (lat. ablātivus absolūtus, “livre”, visto ser ablativo
gramaticalmente independente do resto da frase). O ablativo absoluto
ocorre frequentemente com o particípio: Sōle oriente nāvis ē portū substantivo + particípio

ēgreditur multīs hominibus spectantibus (l. 64-65; “quando o sol está


nascendo”, “ao amanhecer” ... “enquanto muitas pessoas observam”). Até
mesmo dois substantivos podem formar um ablativo absoluto: Sōle duce
substantivo + substantivo
nāvem gubernō (l. 94; “sendo o sol meu guia”, “com o sol por guia”).

O capítulo inicia assim: Italia inter duo maria interest, quōrum alterum ...
genitivo partitivo
‘mare Superum’ ... appellātur. Quōrum (= ex quibus) é o genitivo partitivo
do pronome relativo – ainda no mesmo tipo de genitivo, temos nēmō
eōrum (= ex iīs, cap. XVII, l. 12). Expressões de quantidade, como
multum, paulum multum e paulum, são frequentemente seguidas de um genitivo partitivo
+ gen. partitivo
para expressar “de que coisa” há certa quantidade, por exemplo:
paulum/multum aquae (l. 8-9, 117), paulum cibī nec multum pecūniae (l.
61-62), paulum temporis (l. 108, na margem). Vejamos o genitivo
partitivo com (magnus/parvus) numerus e mīlia.

Os ablativos de multum e paulum servem para reforçar ou atenuar uma


forma comparativa: Nāvis paulō levior fit, simul verō flūctūs multō
altiōrēs fiunt (l. 123-124). Esses ablativos, chamados de ablativo de
ablativo de medida
medida, também são empregados antes de post e ante para indicar a
multō -ior -ius
paulō ante diferença de tempo: paulō post; paulō ante (l. 91, 148). Vejamos o
post
ablativo em annō post, decem annīs post/ante (cap. XIX, l. 83, 86, 123).

O ablativo de locus pode ser usado sem in para indicar localização: eō


abl. locativo: eō locō
locō (l. 16) = in eō locō. Na expressão locō movēre (l. 140), o ablativo
sem preposição marca o movimento “procedente de” (= ē locō), sendo,

abl. separativo: locō movēre portanto, chamado de ablativo de afastamento ou ablātīvus sēparātiōnis,
ablativo de separação.

nom. puppis
O substantivo puppis -is (feminino) pertence à 3ª declinação, tendo o
ac. puppim acusativo singular em -im e o ablativo singular em -ī (em vez de -em e -e,
abl. puppī
como podemos ver nas linhas 41 e 67). Poucos substantivos da 3ª
declinação são declinados dessa maneira, por exemplo, o nome do rio
Tiberis -is (l. 7,9).

Substantivos da 1ª declinação (-a -ae) são femininos, à exceção de alguns

nauta -ae m. que designam pessoas masculinas e que, portanto, são masculinos, como
nauta: nauta Rōmānus.
São formas verbais irregulares a 1ª pessoa eō, de īre (l. 72; cf. eunt) e o
infinitivo fi/erī (3ª pessoa singular e plural fit, fiunt). Esse verbo funciona
ī/re: e/ō, e/unt
como a forma passiva de facere (ver cap. XVIII); quando combinado a fi/erī: fi/t, fī/unt
um adjetivo, ele passa a significar “tornar-se”/“fazer-se”: mare
tranquillum fit (l. 98); flūctūs multō altiōrēs fiunt (l. 124).

Contrariamente ao ablativo absoluto, o particípio conjunto, estudado no


capítulo XIV, se relaciona a um termo da oração principal. Particípio conjunto

Gallus canëns novum diem salütat (l. 19-20). Aqui, o particípio presente
canëns se refere a gallus; canëns = quï canit.

(Comparar com Gallö canente excitätur puer. Aqui, ablativo absoluto)

Puer dormiëns gallum canentem nön audit (l. 22-23). Aqui, o particípio
presente canentem se refere a gallum; canentem = quï canit

Exercício: Substitua a parte sublinhada de cada frase por um particípio


presente.

1. Lÿdia, quae Mëdum sequitur, omnës rës sëcum fert.

__________

2. Mëdö, quï ex Italiä profïciscïtur, parva pecünia est.

__________

3. Multï hominës nävës quae ë portü ëgrediuntur spectant.

__________

4. Ex altä puppï Mëdus et Lÿdia sölem quï oritur spectant.

__________

Respostas:

sequens – proficiscentï – egredientës - orientem


CAPITVLVM SEPTIMVM DECIMVM

NVMERI DIFFICILES

Para ensinar aritmética aos seus alunos, o professor utiliza moedas. As as moedas romanas
moedas romanas correntes eram o as (assis, masculino), de cobre; o
as assis m.
sēstertius, de latão; o dēnārius, de prata (de onde vem “dinheiro”); e o sëstertius (HS) = 4 assës
dënärius = 4 sëstertiï
aureus, de ouro (cap. XXII, l. 108). Um sēstertius equivalia a 4 assēs, 1 aureus = 25 dënäriï
dēnārius a 4 sēstertiī, e 1 aureus a 25 dēnāriī. Até 217 a.C., o sēstertius era sëmis -issis m. (sës-) = ½
as
uma pequena moeda de prata equivalente a 2½ assēs e, por isso, tem-se a
abreviação IIS (S = sēmis ½), modificada depois para HS.

Para que possamos contar até cem, devemos aprender os múltiplos de dez.
Com exceção do decem (10) e do vīgintī (20), todos os outros numerais numerais cardinais:
30, 40, 50, 60, 70, 80, 90:
terminam em -gintā: trīgintā (30); quadrāgintā (40); quīnquāgintā (50) etc. -gintä
Os numerais intermediários são formados pela ligação dos múltiplos de 10
aos numerais menores com ou sem et, por exemplo, vīgintī ūnus ou ūnus et
vīgintī (21), vīgintī duo ou duo et vīgintī (22) etc. Os cardinais de 11 a 17 11-17: -decim
terminam em -decim: ūn-decim (11), duo-decim (12), trē-decim (13), ... , 18/19: duo-/ün-dë-XX
28/29: duo-/ün-dë-XXX
septen-decim (17); no entanto, 18 é duo-dē-vīgintī (“dois de vinte”/”vinte 38/39: duo-/ün-dë-XL
menos dois”) e 19 é ūn-dē-vīgintī (“um de vinte”/”vinte menos um”); assim etc.

como 28 é duo-dē-trīgintā e 29 é ūn-dē-trīgintā. Dessa forma, os dois


últimos numerais antes de cada múltiplo de 10 são expressos pela subtração
de uma ou duas unidades do múltiplo em questão.

A maioria dos numerais cardinais latinos é indeclinável, bem como quot, quot? (‘quantos?’)
tot (‘tantos’)
pronome interrogativo relativo ao número (“quanto(s)?”/”quanta(s)?”), e tot,
pronome demonstrativo que se refere ao número (“tantos”/”tantas”). Dos
cardinais de 1 a 100, somente ūn/us -a -um, du/o -ae -o e tr/ēs tr/ia são
declináveis. Já vimos a maior parte das formas desses numerais (o genitivo,
ūn/īus, du/ōrum -ārum -ōrum e tr/ium, será apresentado no cap. XIX).

Os múltiplos de centum (100) terminam em -centī (200, 300, 600) ou -gentī


(400, 500, 700, 800, 900) e são declinados como adjetivos de 1ª classe: du-

200, 300, 600: -cent/ï

400, 500, 700, 800, 900:

-gent/ï
números ordinais: cent/ī -ae -a (200), tre-cent/ī -ae -a (300), quadrin-gent/ī -ae -a (400) etc.
20º -- 90º, 100º -- 1000º
-ësim/us Os numerais ordinais são adjetivos de 1ª classe; os múltiplos de 10 (20 a
90) e os de 100 (100 a 1000) são formados com o sufixo -ēsim/us -a -um:
vīcēsimus (20º), trīcēsimus (30º), quadrāgēsimus (40º), quīnquāgēsimus
(50º), centēsimus (100º), ducentēsimus (200º), trecentēsimus (300º)...,
mīllēsimus (1000º). Para mais detalhes, podemos ver o quadro na página
308.

A frase ativa Magister Mārcum nōn laudat, sed reprehendit torna-se Mārcus
passiva ā magistrō nōn laudātur, sed reprehenditur na forma passiva. Marcus
desinências pessoais
sing. plur.
pergunta ao seu professor: “Cūr ego semper ā tē reprehendor, numquam
1. -or -mur laudor?”, e o professor responde-lhe: “Tū ā mē nōn laudāris, quia
2. -ris -minï
3. -tur -ntur numquam rēctē respondēs. Semper prāvē respondēs, ergō reprehenderis!”
(l. 63-68). Laud/or, reprehend/or e laudā/ris, reprehend/eris são as formas
passivas da 1ª e da 2ª pessoa do singular, respectivamente; no plural, a 1ª
pessoa é laudā/mur, reprehend/imur (Sextus fala sobre si e Titus: “Nōs ā
magistrō laudāmur, nōn reprehendimur”) e a 2ª pessoa é laudā/minī,
reprehend/iminī. Os exemplos da seção GRAMMATICA LATINA nos
mostram como as desinências pessoais passivas, -or, -mur (1ª pessoa), -ris,
-minī (2ª pessoa), -tur, -ntur (3ª pessoa) são adicionadas aos verbos. Nos
verbos de 3ª declinação, -i- é inserido antes de -mur e -minī (merg/imur,
3ª conjugação
sing. plur. merg/iminī), -e- antes de -ris (merg/eris), e -u- antes de -ntur (merg/untur e
1. -or -imur também em verbos da 4ª conjugação: audi/untur).
2. -eris -iminï
3. -itur -untur
Observemos os dois acusativos com docēre: Magister puerōs numerös
docet (l. 2). Esse verbo rege um duplo acusativo.
docëre + duplo acusativo
O tema do verbo da/re termina em um a breve: da/mus, da/tis, da/tur, da/te!
etc., exceto em dä, däs e däns (antes de -ns, as vogais tornam-se longas).
da/re: tema da-
As formas rēctē, prāvē, stultē, aequē são formadas a partir dos adjetivos
rēctus, prāvus, stultus, aequus; esse tipo de formação será trabalhado no
próximo capítulo.
CAPITVLVM DVODEVICESIMVM

LITTERAE LATINAE

No período clássico, a ortografia da língua latina fornecia uma a ortografia latina

representação fiel da pronúncia. Em certos casos, no entanto, algumas


palavras continuaram tendo letras que já não eram pronunciadas no Latim
coloquial, como h-, -m em finais átonos (como -am, -em, - um), e n antes
de s. Por isso, podemos encontrar diversos “erros ortográficos” em escritas
antigas que foram produzidas por pessoas sem letramento, e.g. ORA em
vez de HORAM, SEPTE em vez de SEPTEM e MESES em vez de
MENSES. Ao fazer o exercício proposto pelo professor, Marcus comete
inúmeros erros dessa natureza.

O pronome demonstrativo idem eadem idem (“o mesmo”; l. 21,22,33) é ïdem < is-dem
eundem < eum-dem
um composto formado pelo pronome is ea id com o sufixo -dem. Ocorrem,
eandem < eam-dem
para essa sufixação, as seguintes adaptações: a mudança de is-dem para
īdem, e de eum-dem e eam-dem para eun-dem e ean-dem. O pronome quis- quis- quae- quod-que
que quae-que quod-que (“cada”, “cada um (a)”) é declinado como o
pronome interrogativo com a adição de -que.

Os adjetivos terminados em -er, como pulcher e piger, formam


adj. -er, sup. -errim/us
superlativos em -errim/us -a -um (em vez de em -issimus), como aparece
nas linhas 73 e 84: pulcherrim/us e pigerrim/us. No capítulo XIX (l. 98,
facilis, sup. -illim/us
128), aparecem miserrim/us e pauperrim/us. O superlativo de facilis é
facillim/us (l. 102).

Na frase puer stultus est, stultus é um adjetivo que classifica o substantivo adjetivo (quālis?)
puer (responde à pergunta quālis est puer?). Mas, na frase puer stultē agit, a
palavra stultē refere-se ao verbo agit (responde a quōmodo agit puer?); advérbio (quōmodo?)
assim, temos um exemplo de palavra considerada advérbio (lat. ad-
verbium, de ad verbum). Do mesmo modo, nas sentenças Mīles fortis est
adjetivo advérbio
quī fortiter pugnat, fortis é um adjetivo (qualifica mīles) e fortiter é um
-us -a -um -ē
advérbio (qualifica pugnat). Os adjetivos de 1ª e 2ª declinações, e.g. -is -e -iter
stult|us -a -um, rēct|us -a -um, pulcher -chr|a -chr|um, formam advérbios
com a terminação -ē: stultē, rēctē, pulchrē (bene e male são formações
irregulares de malus e bonus). Já os adjetivos de 3ª declinação, e.g. fort|is -
e, brev|is -e, turp|is -e formam advérbios em -iter: fortiter, breviter,
turpiter. Podemos ver mais exemplos nas linhas 69, 106, 134.

Alguns advérbios, e.g. certē, modificam toda uma sentença, como em


Certē pulcherrimae sunt litterae Sextī (l.73), enquanto outros se referem a
um adjetivo, como aequē, presente no comentário feito pelo professor:
“Litterae vestrae aequē foedae sunt” (l.78).

O professor acrescenta: “Tū, Tite, neque pulchrius neque foedius scrībis


advérbio
comparativo: -ius
quam Mārcus”, e Titus responde-lhe: “At certē rēctius scrībō quam
superlativo: -issimē Mārcus”. Os exemplos mostram o comparativo e o superlativo terminados
-(err)imē
em -ius (o neutro do comparativo do adjetivo, que é empregado como
advérbio): pulchrius, foedius, rēctius. Com isso, o professor logo
argumenta: “Comparā tē cum Sextō, quī rēctissimē et pulcherrimē scrībit”
(l. 85). O superlativo do advérbio terminado em -issimē (-errimē) forma-se
regularmente a partir do superlativo do adjetivo.

adv. numeral: -iēs [X] Os advérbios numerais são formados com -iēs: quīnquiēs (5 vezes), sexiēs
(pergunta: quotiēs?)
(6 vezes), septiēs (7 vezes) etc.; só os quatro primeiros possuem formas
especiais: semel (1 vez), bis (2 vezes), ter (3 vezes), quater (4 vezes). De
quot e tot são formados quotiēs e totiēs (l. 118-126, 133, 134).

ativa facere O verbo facere não pode ser construído com formas passivas, mas fierī faz
facit, faciunt
passiva fierī as vezes de passiva de facere: Vōcālis est littera quae per sē syllabam
fit, fïunt
facere potest... Sine vōcālī syllaba fierī nōn potest (l. 23-25). Entretanto,
os compostos de facere terminados em -ficere, como ef-ficere, constroem
a voz passiva da forma habitual: stilus ex ferrō efficitur (= fit).

cum + ind.: temporal A conjunção cum pode servir para introduzir um evento inesperado, como
(“quando”)
neste exemplo: Titus sīc incipit: “Magister! Mārcus bis...” − cum Mārcus
stilum in partem corporis eius mollissimam premit! (“... quando, de
repente, ...”), l. 128-129.
CAPITVLVM VNDEVICESIMVM

MARITVS ET VXOR

Longe do barulho das crianças, Iulius e Aemilia passeiam pelo seu


magnífico peristȳlum adornado com estátuas de deuses e de deusas.

Entre os nomes de deuses, destaca-se o do deus supremo, Iuppiter lov|is: Iuppiter Iov/is (= Zeus)
o tema da palavra é lov- (que significa “céu”), e a forma do nominativo Iūnō -ōnis (= Hēra)
Venus -eris (= Aphrodītē)
se deve à adição de pater, reduzido a –piter, ao tema. Os deuses romanos Cupīdō -inis (= Eros)
tinham seus correspondentes gregos, e.g. Iuppiter e Zeus, sua mulher
Iūnō -ōnis e Hēra, Venus -eris e Afrodite e o filho dela Cupīdō -inis
(“desejo”) e Eros.

Iuppiter carregava o título honorífico Optimus Māximus, superlativos de graus de adjetivo irregulares:
magnus māior māximus
bonus e magnus. O grau comparativo desses adjetivos e de seus
parvus minor minimus
contrários, malus e parvus, são irregulares (l. 13-16, 25-30, 36-37). Os bonus melior optimus
malus pēior pessimus
graus de multī são o comparativo plūrēs e o superlativo plūrimī (l. 52, multī plūrēs plūrimī
54).

O superlativo é conectado, frequentemente, ao genitivo partitivo. Iulius


chama sua mulher de optimam omnium feminārum (l. 30); Vênus é superlativo + genitivo
partitivo
descrita como pulcherrima omnium deārum (l. 21); e Roma é apresentada
como urbs māxima et pulcherrima tōtīus imperiī Rōmānī (l. 57-58). Sem
esse genitivo, o superlativo expressa, muitas vezes, apenas um grau muito
elevado (superlativo absoluto; é a diferença que temos, em Português, superlativo absoluto

entre “o mais belo” e “belíssimo”): Iulius e Aemilia chamam-se


mutuamente de mea optima uxor e mī optime vir (l. 90, 94), e Iulius, que
enviava flōrēs pulcherrimōs a Aemilia, chama seu antigo rival de vir
pessimus (l. 78, 110; cf. l. 107, 128, 129).

Como bem sabemos, a conjunção et não pode vir anteposta nem à


partícula nōn, nem à partícula nūllus: em vez de et nūllus encontramos
neque ūllus (l. 14, 24, 27). O pronome ūllus -a -um (“algum”) é declinado neque ūllus (‘e ninguém’)
nūllus, ūllus, tōtus, sōlus, como nūllus (genitivo -īus e dativo -ī no singular); tōt/us, sōl/us e ūn/us
ūnus: gen. -īus, dat. -ī
declinam-se do mesmo modo (l. 32 e 58).

Que idade têm os filhos? Mārcus octō annōs habet; Quīntus est puer
septem annōrum (l. 33). Esse genitivo, que funciona para descobrir a
genitivo de qualidade: qualidade de um substantivo, denomina-se genitivo de qualidade (lat.
puer septem annōrum
genetīvus quālitātis). A respeito de Iulius jovem nos é dito: adulēscēns
vīgintī duōrum annōrum erat (l. 40).

passado ou pretérito No último exemplo, foi utilizado erat em vez de est porque o fato
presente e pretérito aconteceu há dez anos (hoje ele já não é um adulēscēns). Assim, voltando
no tempo, aprendemos as formas verbais que são empregadas quando
descrevemos acontecimentos do passado. Comparemos as duas frases:
Nunc Iūlius Aemiliam amat e Tunc Iūlius Aemiliam amābat. A forma
amābat é o passado ou o pretérito (lat. tempus praeteritum) do verbo
amāre, distinto de amat, que é o presente (lat. tempus praesēns). O
pretérito que aparece neste capítulo indica um estado passado dos
acontecimentos ou uma ação (não acabada) que vinha ocorrendo ou que se
repetia; esse pretérito é denominado imperfeito (lat. praeteritum
imperfectum, “passado inacabado”).

imperfeito Na 3ª pessoa, o imperfeito termina em -ba|t no singular e em -ba|nt no


ativa
sing. 1. -(ē)ba/m plural; no caso dos temas em consoante e nos temas em -ī, termina em
2. -(ē)bā/s
-ēba|t e -ēba|nt: Iūlius et Aemilia Rōmae habitābant; Iūlius cotīdiē
3. -(ē)ba/t
plur. 1. -(ē)bā/mus epistulās ad Aemiliam scrībēbat; Iūlius male dormiēbat. Quando o casal
2. -(ē)bā/tis
fala dos primeiros tempos do seu amor, utiliza a 1ª e a 2ª pessoas: Tunc
3. -(ē)ba/nt
ego tē amābam, tū mē nōn amābās... Neque epitulās, quās cotīdiē tibi
passiva
sing. 1. -(ē)ba/r scrībēbam, legēbās (l. 98, 101-102). As formas do plural terminam em
2. -(ē)bā/ris -mus e -tis precedidos de -bā- ou -ēbā-, por exemplo, (nōs) amābāmus e
3. -(ē)ba/tur
(vōs) amābātis (l. 124-127).
plur. 1. -(ē)bā/mur
2. -(ē)bā/minī
3. -(ē)ba/ntur O imperfeito é formado pela inserção de -bā- (1ª e 2ª conjugações) ou de
-ēbā- (3ª e 4ª conjugações) entre o tema e as desinências pessoais: na ativa
-m, -mus (1ª pessoa), -s, -tis (2ª pessoa) e -t, -nt (3ª pessoa); e na passiva
-r, -mur (1ª pessoa), -ris, -minī (2ª pessoa) e -tur, -ntur (3ª pessoa).
Observemos que a 1ª pessoa termina em -m e -r (não em -ō e -or) e que ā
torna-se breve diante de -m, -r, -t, -nt e -ntur (amā|ba|m, amā|ba|r etc.). Na
seção GRAMMATICA LATINA, podemos encontrar mais exemplos.

Já vimos a 3ª pessoa do imperfeito do verbo irregular esse: era|t, era|nt pret. imperfeito de esse
sing. plur.
(cap. XIII), agora vemos também as suas 1ª e 2ª pessoas: era|m, erā|mus e
1. era/m erā/mus
erā|s, erā|tis. Os compostos de esse, por exemplo, ab-esse, apresentam as 2. erā/s erā/tis
3. era/t era/nt
mesmas formas: ab-era|m, ab-erā|s etc.; e o mesmo ocorre com os
compostos de posse: pot-era|m, pot-erā|s etc.

O substantivo domus -ūs é feminino da 4ª declinação, mas possui algumas


domus -ūs f., abl. -ō
desinências na 2ª declinação: no singular, o ablativo domō (in magnā pl. ac. -ōs, gen, -ōrum

domō) e, no plural, o acusativo domōs e o genitivo domōrum (ou


domuum). A forma domī (cap. XV, l. 81) é um locativo: veremos mais
sobre essa forma, sobre o acusativo domum e sobre o ablativo domō
empregados como advérbios sem preposição no capítulo seguinte.

No capítulo IV, vimos que as palavras da 2ª declinação em -us possuem


uma forma especial de emprego do vocativo, com o uso da desinência –e
(por exemplo, domine). Quando Aemilia dirige-se a seu marido, utiliza o
vocativo Iūlī: “Ō Iūlī!” e acrescenta “mī optime vir!” (l. 93-94). O nomes próprios de pessoas
vocativo dos nomes próprios em -ius, como Iūlius, Cornēlius, Lūcius, em -ius e fīl/ius: voc. -ī

termina em -ī (contração de -ie): Iūlī, Cornēlī, Lūcī. Da mesma forma,


Fīlius também é construído com o vocativo em -ī, e o vocativo de meus é meus: voc. mī
mī: Iulius diz “Ō mī fīlī!” a seu filho (cap. XXI, l. 30).

A desinência -ās em māter familiās e pater familiās (l. 17, 38) é uma
antiga desinência do genitivo da 1ª declinação (=ae).
CAPITVLVM VICESIMVM

PARENTES

Neste capítulo, vemos Iulius e Aemilia pensando em seu futuro, o que


nos dá a oportunidade de conhecer o futuro dos verbos latinos (lat.
tempus futürum).

Os primeiros verbos regulares que aparecem no tempo futuro são Futuro


1ª e 2ª conjugações
aqueles cujos temas terminam em -ä e em -ë (1ª e 2ª conjugações) e ativa passiva
cujas desinências são -bit e -bunt na 3ª pessoa do singular e plural, s. 1. -b/ö -b/or
2. -b/is -b/eris
respectivamente: habë/bit, habë/bunt; amä/bit, amä/bunt (l. 22-27). Mas 3. -b/it -b/itur
assim que chegamos aos verbos com tema em consoante e em -ï (3ª e 4ª pl. 1. -b/imus -b/imur
conjugações), encontramos as desinências de futuro –et e -ent: dïc/et, 2. -b/itis -b/iminï
3. -b/unt -b/untur
pön/ent e dormi/et, dormi/ent (l. 32, 44-45). As correspondentes
3ª e 4ª conjugações
desinências passivas são -bitur, -buntur e -ëtur, -entur (l. 28-29, 36). ativa passiva
Também nos deparamos com exemplos do futuro de esse: erit, na 3ª s. 1. -a/m -a/r
pessoa do singular e erunt, na 3ª pessoa do plural (l. 21, 23), que 2. -ë/s -ë/ris
3. -e/t -ë/tur
funciona de igual maneira nos seus compostos, por exemplo, pot-erit pl. 1. -ë/mus -ë/mur
pot-erunt do verbo posse. 2. -ë/tis -ë/minï
3. -e/nt -e/ntur
Quanto à 1ª e à 2ª pessoas do futuro, podemos encontrar exemplos na
conversa dos pais. Encontramos as desinências (1) -bö, -bimus e -bis,
-bitis acrescentadas aos temas em -ä e –ë (como em amä/bö, amä/bis,
habë/bö, habë/bimus etc.) e (2) -am, -ëmus e -ës, -ëtis acrescentadas
aos temas em consoante e em –ï (discëd/am, discëd/ës, dormi/am,
dormi/ëmus etc.). Na voz passiva, essas desinências são (1) -bor,
-bimur; -beris, -biminï, e (2) -ar, -ëmur; -ëris, -ëminï.
futuro de esse
sing. plur.
Em relação ao futuro de esse, temos, para a 1ª pessoa, erö, erimus, para
1. erö erimus
a 2ª pessoa, eris, eritis e, para a 3ª pessoa, erit, erunt – singular e plural, 2. eris eritis
3. erit erunt
respectivamente.
Na conjugação regular, o futuro forma-se com a inserção, entre o tema
e as desinências pessoais, de:

(1) -b- na 1ª e 2ª conjugações: amä/b/ö, habë/b/ö. Antes das


desinências -s, -t, -mus, -tis, -nt, -ris, -tur, -minï, -ntur, é inserida
uma vogal breve, geralmente -i- (amä/bi/s, amä/bi/t, amä/bi/mus
etc.), mas -u- antes de -nt, -ntur (amä/bu/nt, amä/bu/ntur) e -e-
antes de -ris (amä/be/ris). Até mesmo em ï/re constrói-se o
futuro com -b-: (ab-, ad-, ex-, red-) ï/b/ö, ï/b/is, ï/b/it etc. (l.
131-132).
(2) -ë- na 3ª e 4ª conjugações (-a- na 1ª pessoa do singular):
dïc/a/m, dïc/ë/s etc.; audi/a/m, audi/ë/s etc. Torna-se breve o -ë-
antes de -t, -nt, -ntur, como acontece nos outros tempos
também: dïc/e/t, dïc/e/nt, dïc/e/ntur.

presente de velle
Já conhecemos a 3ª pessoa do presente do verbo irregular velle: vult,
sing. plur. volunt. A 1ª e 2ª pessoas são volö, volumus e vïs, vultis,
1. volö volumus
2. vïs vultis respectivamente (l. 55, 56, 64, 73). A negação nön não pode preceder
3. vult volunt volunt, volö, volumus e velle; no seu lugar, encontramos as formas
nölunt, nölö, nölumus e nölle (l. 17, 55, 141, 157), que são a contração
de në + volunt etc. O imperativo nölï, nölïte é empregado com um
infinitivo para expressar uma proibição (“não...!”), como em Nölï

imperativo negativo
abïre! (l. 69, cf. l. 160). Tal tipo de construção é chamado de imperativo
nölï (sing.) negativo.
nölïte (plur.) + inf.
O acusativo e o ablativo de domus, domum e domö são usados sem
domum ac. (‘para casa’) preposição para expressar o movimento em direção à ou procedente da
domö abl. (‘de casa’)
domï loc. (‘em casa’) casa de alguém: domum revertï e domö abïre (l. 123, 137). A forma
domï, como em domï manëre (l. 127), é um locativo (“em casa”), e
funciona em conformidade à já conhecida regra aplicada aos nomes de
cidade: Tüsculum, Tüsculö, Tüsculï. Domö, assim como Tüsculö, é um
ablativo separativo que indica afastamento. É o mesmo tipo de ablativo

carëre + abl.
que complementa carëre (“carecer de”), como podemos ver em cibö
carëre (l. 6; cf. sine + ablativo: sine cibö esse).
Os pronomes pessoais nös e vös são, em ablativo e dativo, nöbïs e nom./ac. nös vös
dat./abl. nöbïs vöbïs
vöbïs: ä vöbïs, ä nöbïs (l. 130, 136; dativos no cap. XXI, l. 91, 109).
CAPITVLVM VNVM ET VICESIMVM

PVGNA DISCIPVLORVM

Marcus está voltando da escola e parece ter levado uma surra, pois está todo
molhado e sujo, além de sangrar pelo nariz. O que será que lhe aconteceu no
caminho para casa? É o que vamos descobrir lendo o capítulo: leremos a
versão de Marcus dessa história e, sendo verdadeira ou não, ela nos ensinará
as formas verbais que utilizamos quando falamos de um fato já acabado.

A primeira forma que encontramos é ambulāvit, do verbo ambulāre, no


trecho que nos explica o porquê de a roupa estar molhada: Mārcus per
passado
imbrem ambulāvit (l. 7). Este tempo chama-se perfeito (lat. tempus perfeito e imperfeito
praeteritum perfectum, “passado realizado”, “feito até o fim” – per indica
uma ação feita do começo ao fim), distinto do imperfeito (lat. praeteritum
imperfectum, “passado não acabado, não feito até o fim”). O imperfeito,
como sabemos, descreve um estado de coisas ou uma ação que estava
ocorrendo ou que era habitualmente repetida no passado, enquanto o
perfeito expressa algo que ocorreu em um momento determinado e que já
está finalizado. Comparemos os dois pretéritos nestas frases: Iūlia cantābat...
Tum Mārcus eam pulsāvit! O perfeito aparece frequentemente ligado ao
presente quando descrevemos o resultado atual de uma ação passada, como
em Iam Iūlia plōrat, quia Mārcus eam pulsāvit.

O plural de ambulāv/it é ambulāv/ērunt: Puerī per imbrem ambulāvērunt (l.


8). A 3ª pessoa do perfeito termina em -it, no singular, e em -ērunt, no perfeito
sing. plur.
plural. Encontramos as mesmas desinências pessoais nas formas iacu/it, 1. -ī -imus
iacu/ērunt de iacēre (l. 20, 21) e audīv/it, audīv/ērunt de audīre (l. 23, 26). 2. -istī -istis
3. -it -ērunt
As desinências da 1ª e 2ª pessoas, do mesmo modo, são diferentes das que
conhecemos nos outros tempos verbais, como mostra esta conversa entre o
pai e o filho (l. 40-43): Mārcus: “... ego illum pulsāvī!” Iūlius: “Tūne sōlus
ūnum pulsāvistī?” Mārcus: “Ego et Titus eum pulsāvimus.” Iūlius: “Quid?
Vōs duo ūnum pulsāvistis?” Como vemos, a 1ª pessoa tem as desinências -ī,
-imus, e a 2ª, -istī, -istis no singular e no plural, respectivamente. As formas
correspondentes de iacēre são iacu|ī, iacu|imus (1ª pessoa) e iacuistī,
iacuistis (2ª pessoa), e de audīre são audīv|ī, audīv|imus (1ª pessoa) e
audīv|istī, audīv|istis (2ª pessoa).

Como mostram os exemplos, as desinências pessoais do perfeito não são


acrescentadas diretamente aos temas verbais pulsā-, iacē- e audī-, mas aos
temas ampliados ou modificados pulsāv-, iacu- e audīv-. Os verbos de tema
consonantal (3ª conjugação) sofrem modificações ainda maiores no
tema do tema do perfeito: o perfeito de scrīb|ere é scrīps|it e o de dīc|ere dīx|it (l. 113, 124),
presente perfeito
1. pulsā- pulsāv- pois os temas se modificam para scrīps- e dīx-. Essa forma especial do tema
2. iacē- iacu-
do verbo, à qual se acrescenta a desinência pessoal do perfeito, denomina-se
3. scrīb- scrīps-
4. audī- audīv- tema do perfeito, enquanto o tema básico do verbo se chama tema do
presente.

Dos temas do presente em -ā (1ª conjugação) e em -ī (4ª conjugação),


formamos regularmente o tema do perfeito pela adição de v, como em
pulsā-: pulsāv-, audī-: audīv-. Já dos temas do presente em -ē (2ª
conjugação), faremos a troca de ē por u: iacē-: iacu-. O tema do perfeito dos
verbos da 3ª conjugação (com temas do presente em consoante) é formado
de diversos modos, como, por exemplo, acrescentando s ao tema do
scrīps- < scrībs- presente: em scrīb-: scrīps-, a consoante sonora b transforma-se na surda p
dīx- < dīcs-
por aproximação à surda s; em dīc-: dīx-; o que muda é apenas a grafia (pois
x = cs). O verbo esse tem um tema de perfeito bastante diferente, fu-: fu/ī,
tema do perf. de esse:
fu- fu/istī, fu/it etc. (l. 83-86).

No capítulo XI, a observação do médico, Puer dormit, foi dita da seguinte


forma: Medicus ‘puerum dormīre’ dīcit, isto é, pelo acusativo com
infinitivo. Dormi/t está no presente, e o infinitivo correspondente dormī/re
inf. presente: -re denomina-se infinitivo presente (lat. īnfīnītīvus praesentis). Neste capítulo,
Iulius fala: Mārcus dormīvit, e essa observação é dita na forma de acusativo
com infinitivo: Iūlius ‘Mārcum dormīvisse’ dīcit (l. 97). Dormīv/it está no
perfeito, e o infinitivo correspondente dormīv/isse denomina-se infinitivo
inf. perfeito: -isse perfeito (lat. īnfīnītīvus perfectī) – essa forma é construída pela adição de
-isse ao tema do perfeito. Outros exemplos são intrāv/isse, iacu/isse e
fu/isse: Iūlius ‘Mārcum intrāvisse’ dīcit, at nōn dīcit ‘eum... humī iacuisse’
(l. 73-74; humī é um locativo); Mārcus dīcit ‘sē bonum puerum fuisse’ (l.
85).

A frase Sextus Mārcum pulsāvit é transformada em Mārcus ā Sextō


pulsātus est na voz passiva (l. 11). A forma pulsātus -a -um, um adjetivo da
1ª/2ª declinação (1ª classe de adjetivos), denomina-se particípio perfeito particípio perfeito
-t/us -a -um
(lat. participium perfectī). Esse particípio é construído, no geral, com o
acréscimo de um t ao tema do presente, seguido pelas desinências de
adjetivo -us -a -um etc.: laudāt/us -a -um, audīt/us -a -um, scrīpt/us -a -um
perfeito passivo
(nesse caso, além disso, b se torna p). Combinado ao presente de esse (sum, 1. -t/us -a sum
es, est etc.), o particípio perfeito forma o pretérito perfeito passivo, como no 2. es
3. ... -um est
exemplo mencionado acima. A desinência do particípio concorda com o 1. -t/ī -ae sumus
sujeito: Iūlia ā Mārcō pulsāta est; puerī laudātī sunt; litterae ā Sextō scrīptae 2. estis
3. ... -a sunt
sunt. Combinado ao infinitivo de esse, o particípio perfeito, no acusativo,
forma o infinitivo perfeito passivo, como laudātum esse: Mārcus ‘sē ā
inf. perf. passivo
magistrō laudātum esse’ dīcit (na construção acusativo com infinitivo, o laudāt/um esse
-t/um -am -um esse
particípio concorda com o sujeito em acusativo: Aemilia litterās ā Mārcō -ōs -ās -a
scrīptās esse crēdit, l. 122).

O particípio perfeito é empregado também como adjetivo qualificativo:


puer laudātus (= puer quī laudātus est). Possui significado passivo, ao
contrário do particípio presente, em -ns, que é ativo.

Os substantivos cornū -ūs e genū -ūs são neutros da 4ª declinação


4ª declinação neutro
(acusativo e nominativo plural terminados em -ua: cornua, genua). Podemos
cornū -ūs, pl. -ua -uum
encontrar o paradigma de declinação na margem da página 164.

Ali-quis -quid é um pronome indefinido empregado para fazer referência a


pronome indefinido
uma pessoa (“alguém”, l. 65) ou a coisas indeterminadas (“algo”, l. 91). ali-quis ali-quid

O neutro plural dos adjetivos e pronomes é usado frequentemente como um


substantivo de sentido total: multa (“uma grande quantidade”, “muito”, l.
90), omnia (“tudo”, l. 95), haec (“isto”, l. 123) etc. (= et cētera).
crēdere + dativo Com o verbo crēdere, a pessoa em quem se confia é expressa em dativo:
“Mihi crēde!”, diz Marcus; no entanto, Iūlius Mārcō nōn crēdit (l. 119,
140).
CAPITVLVM ALTERVM ET VICESIMVM

CAVE CANEM

A ilustração que inicia o capítulo representa um mosaico antigo


encontrado na porta de entrada de uma casa de Pompeia. A imagem e a
inscrição contêm um aviso, Cavē canem!, que atesta o cuidado com que
os romanos protegiam suas casas contra invasores. Dessa forma, cada
uma delas abrigava um porteiro (ōstiārius ou iānitor), que normalmente
tinha um cão de guarda para ajudá-lo.

É por isso que não é fácil para um desconhecido ser admitido na vīlla de
Iulius. Em primeiro lugar, quem quiser entrar precisa acordar o porteiro
e, em seguida, convencê-lo de que suas intenções não são hostis. Neste
capítulo, o carteiro (tabellārius) tenta entrar na vīlla com as seguintes
palavras: “Ego nōn veniō vīllam oppugnātum sīcut hostis, nec pecūniam
postulātum veniō” (l. 33-34). Oppugnātum e postulātum são os
primeiros exemplos da forma verbal chamada supino (lat. supīnum), que supino I, em -tum

aparece junto a verbos de movimento, como īre e venīre, para expressar


finalidade. Outros exemplos são salūtātum venīre, dormītum īre,
ambulātum exīre, lavātum īre (l. 49-52).

Antes de revelar seu nome de difícil compreensão, Tlēpolemus, o


carteiro, diz: “Nōmen meum nōn est facile dictū”, e o porteiro, que custa
a entender o nome, responde: “Vōx tua difficilis est audītū” (l. 43-46).
As formas dictū e audītū denominam-se supino II (ou supino em -tū), supino II, em -tū
para se distinguirem das formas terminadas em -tum, o supino I (ou
supino em -tum). O supino II é uma forma rara, usada com certos
adjetivos, especialmente facilis e difficilis; o exemplo mencionado
acima, em que o sujeito é vōx, poderia ser parafraseado desta forma:
Difficile est vōcem tuam audīre.

As desinências do supino, -um e -ū, são sufixadas a uma forma


modificada do tema, chamada tema do supino, usada também para tema do supino
compor o particípio perfeito e o particípio futuro (que aparecerão no
próximo capítulo). O tema do supino tem formação regular: basta
acrescentarmos um t ao tema do presente (como em salūtā-: salūtāt-;
audī- : audīt-; dīc- : dict) e, nos verbos de tema em ē, transformarmos ē
em i (como em terrē- : territ). Há várias outras irregularidades,
especialmente nos verbos da 3ª conjugação, em que a adição de t pode
provocar mudanças ocasionadas por assimilação, como em scrīb-: scrīpt
(a letra p é surda como t), claud- : claus- (dt > tt > ss > s).

temas verbais: Agora que conhecemos todos os três temas verbais, (1) o tema do
1. tema do presente
2. tema do perfeito [~] presente, (2) o tema do perfeito, e (3) o tema do supino, podemos derivar
3. tema do supino [≈]
deles todas as formas do verbo. Por conseguinte, para podermos conjugar

formas principais do verbo


(isto é, “flexionar”) um verbo latino, basta conhecermos três formas do
1. inf. pres. ativo verbo, as chamadas formas principais, em que estão contidas esses
2. inf. perf. ativo
3. inf. perf. passivo temas. As mais úteis são os três infinitivos:

1. O infinitivo presente ativo: scrīb/ere.

2. O infinitivo perfeito ativo: scrīps/isse.

3. O infinitivo perfeito passivo: scrīpt/um esse.

São essas as formas que, daqui em diante, aparecerão nas margens


laterais, principalmente para os verbos irregulares (a 3ª forma aparecerá
sem esse, ou estará ausente caso o verbo não seja usado na voz passiva,
como posse potuisse). Para os verbos depoentes, encontraremos os
infinitivos presente e perfeito passivos, como loquī locūtum esse. As
mudanças temáticas:
formas apresentam várias mudanças temáticas, como o alongamento da
alongamento da vogal
perda da cons. nasal vogal (emere, ēmisse, ēmptum; venīre, vēnisse); a queda do n ou do m
reduplicação
... (scindere scidisse scissum; rumpere rūpisse ruptum); a reduplicação da
sílaba no tema perfeito (pellere pepulisse pulsum); e casos em que não há
alterações no tema perfeito (solvere solvisse solūtum). Para assimilar
essas irregularidades, o livro oferece-nos um novo tipo de exercício no
PENSVM A, em que deveremos completar os verbos com os temas do
perfeito e do supino que lhes faltam.
sinais:
Sinais utilizados: [~] para o tema do perfeito e [≈] para o tema do [~] tema do perfeito
[≈] tema do supino
supino.

Na frase “Sī quis vīllam intrāre vult...” (l. 7), o pronome quis não é
quis quid como pron. indef.
interrogativo, mas indefinido (= aliquis). Na pergunta “Num quis hīc
est?” (l. 28), não se trata de saber “quem” está ali, mas se de fato
“alguém” está ali; quid, da mesma forma, significa “algo” na pergunta
depois de sī e num
“Num quid tēcum fers?” (l. 105). Depois de sī e num, o pronome quis sī quis/quid...
quid é indefinido (= aliquis aliquid). num quis/quid...?

O pronome demonstrativo iste -a -ud (que se declina como ille -a -ud) pron. demonstrativo
iste -a -ud
refere-se a algo relacionado à pessoa com quem se está falando (a 2ª
pessoa): Tlepolemus fala iste canis quanto ao cão do porteiro (l. 86,
“esse teu cão”) e, referindo-se à capa de Tlepolemus, o porteiro diz iste
pallium (l. 103).

Comparemos as frases Iānitōre dormiente, canis vigilāns iānuam


cūstōdit (l. 23) e Cane vīnctō, tabellārius intrat (l. 119). Iānitōre ablativo absoluto +
dormiente é um ablativo absoluto com o particípio presente, que (1) part. pres. (ativo)
(2) part. perf. (passivo)
expressa o que está acontecendo agora, ao mesmo tempo (= dum iānitor
dormit...; “enquanto...”). Cane vīnctō é um ablativo absoluto com o
particípio perfeito, que expressa o que já aconteceu (= postquam canis
vīnctus est...; “depois que...”).
CAPITVLVM VICESIMVM TERTIVM

EPISTVLA MAGISTRI

Recordemos que o professor, enfadado, escreveu uma carta ao pai de


Marcus no final do capítulo XVIII. Finalmente, neste capítulo, descobrimos
o que está escrito nessa carta. A imagem que podemos ver no início do
capítulo ilustra o tipo de letra manuscrita usado pelos antigos romanos.
Comparemo-lo com o texto da página 180 e não teremos nenhuma
dificuldade para decifrá-lo.

Iulius deve responder à carta; por isso, depois de repreender Marcus, diz
Iam epistulam scrīptūrus sum (l. 125), construção composta pelo presente
particípio futuro
de esse e o particípio futuro (lat. participium futūrī) de scrībere. Ele ≈ūr/us -a -um

poderia, apesar disso, ter dito “epistulam scrībam” (empregando a forma


habitual de futuro scrībam), visto que scrīptūrus sum é somente uma forma
ampliada de futuro, que serve para expressar o que se tem a intenção ou se
está a ponto de fazer. Esse particípio, utilizado, no capítulo, quando Marcus
promete corrigir-se (l. 85-87), é formado pelo acréscimo de ≈ūr/us -a -um
ao tema de supino [≈]: pugnāt/ūr/us, pārit/ūr/us, dormīt/ūr/us de pugnāre,
futūr/us -a -um
pārēre, dormīre. O particípio futuro de esse é futūr/us -a -um, uma forma
que já conhecíamos pela expressão tempus futūrum.

A observação de Iulius (Epistulam scrīptūrus sum) é expressa em estilo


indireto com acusativo com infinitivo: Iūlius dīcit ‘sē epistulam scrīptūrum
infinitivo futuro
esse’ (l. 126). Scrīptūrum esse é o infinitivo futuro (lat. īnfīnītīvus futūrī), ≈ūr/um/ -am/-ōs/-ās/-a
esse
composto pelo particípio de futuro + esse. Outros exemplos de mesma
construção são futūrum esse, pāritūrum esse, pugnātūrum esse, dormītūrum
esse (l. 90-92, em que aparecem promessas de Marcus).

Quando Iulius se levanta para ir, Aemilia desconfia de suas intenções e


pergunta: “Marcumne verberātum is?” (l. 113-114), usando o supino com
īre para expressar finalidade. Suas suspeitas poderiam ser expressas em
infinitivo futuro passivo
acusativo com infinitivo: Aemilia Iūlium Mārcum verberātum īre putat, ≈tum īrī (supino + īrī)
mas, para evitar a ambiguidade dos dois acusativos, utilizamos a forma
passiva: Aemilia Mārcum ā Iūliō verberātum īrī putat (l. 114). A combinação
verberātum īrī, isto é, supino com infinitivo passivo īrī, de īre, funciona como
um infinitivo de futuro passivo. Outros exemplos: Ego eum nec mūtātum esse
nec pothāc mūtātum īrī crēdō (l. 118); Dīc eī respōnsum meum crās ā Mārcō
trāditum īrī (l. 133).

Quando Marcus é pego mentindo, diz-lhe seu pai: “Nōnne tē pudet hoc
verbo impessoal pudet
+ ac. (+ gen./inf.) fēcisse?” (l. 79). O verbo impessoal pudet expressa que um sentimento de
vergonha afeta alguém; a pessoa afetada é empregada no acusativo, como em
mē pudet (= mihi pudor est, “eu estou envergonhado”, “eu me envergonho”,
“... envergonha-me...”). A causa do sentimento pode ser expressa com um
infinitivo, como indicado acima, ou com um genitivo: Puerum pudet factī suī
(l. 82).

verbos irregulares Neste capítulo, temos exemplos de verbos irregulares (1) com alongamento
da vogal – legere lēgisse lēctum; fugere fūgisse –, (2) com mudança da vogal
– facere fēcisse –, (3) com diferentes temas – ferre tulisse lātum – e (4) com
reduplicação – dare dedisse (cap. XXIV, l. 96), em que trā-dere e per-dere são
compostos de dare, o que explica as formas perfeitas trā-didisse e per-didisse.

O particípio presente de ī/re é regular – i/ēns –, mas sua declinação é


īre part. pres.: irregular, sendo o acusativo eunt/em, o genitivo eunt/is etc. O mesmo ocorre
iēns eunt/is
com seus compostos, como red-īre, cujo particípio é red-iēns -eunt/is. Para
mais exemplos, podemos ver as linhas 106-107.
CAPITVLVM VICESIMVM QVARTVM

PVER AEGROTVS

Quintus, doente e deitado em sua cama, chama Syra e pede a ela que conte
o que aconteceu enquanto estava sozinho. Ela, então, conta-lhe de boa
vontade todos os detalhes da volta de Marcus e do que ocorrera antes.

Ao longo do relato, aprendemos o tempo chamado mais-que-perfeito (lat.


plūs-quam-perfectum2). Esse tempo é utilizado para expressar uma ação
ocorrida antes de certo momento do passado, isto é, algo que já tinha
acontecido. Os primeiros exemplos são ambulā/verat, iacu/erat,
pugnāv/erant e pulsāt/us erat (l. 66-68): Mārcus nōn modo ūmidus erat, mais-que-perfeito
quod per imbrem ambulāverat, sed etiam sordidus atque cruentes humī voz ativa
sing. plur.
iacuerat et ā Sextō pulsātus erat. 1. ~era/m ~erā/mus
2. ~erā/s ~erā/tis
Na voz ativa, o mais-que-perfeito forma-se com a inserção de -ērā- (ou, na 3. ~era/t ~era/nt

forma breve, -era-) entre a terminação do perfeito e as desinências passiva


pessoais: 1ª pessoa -era/m, ~erā/mus, 2ª ~erā/t, ~erā/tis, 3ª ~era/t, ~era/nt. 1. ≈us ≈a eram
2. erās
Na passiva, o mais-que-perfeito é composto pelo particípio do perfeito e 3. ... ≈um erat
pelo pretérito imperfeito de esse (eram, erās, erat etc.), como Mārcus ā 1. ≈ī ≈ae erāmus
2. erātis
Sextō pulsātus erat (= Sextus Mārcum pulsāverat). Na seção 3. ... ≈a erant
GRAMMATICA LATINA, encontramos exemplos de todas as formas das
quatro conjugações e de esse (fu/era/m, fu/erā/s etc.).
ac./abl. dat.
A forma sē é o acusativo e o ablativo do pronome reflexivo, e o dativo é 1. mē mihi
2. tē tibi
sibi (como tibi, mihi): Puer pedem sibi dolēre ait: “Valdē mihi dolet pēs” 3. sē sibi
(l. 23-24).

Os verbos depoentes, como cōnārī e mentīrī, sempre são construídos com a


verbos depoentes
forma passiva (exceto nos particípios de presente e de futuro: cōnāns, perfeito

cōnātūrus e mentiēns, mentītūrus). No presente, temos alguns exemplos


desses verbos: Quīntus surgere cōnātur e Mārcus mentītur, como também
no perfeito (formado pelo particípio perfeito e pelo presente de esse):

2
Em Latim, não havia o hífen; aqui, foi usado para mostrar mais claramente a relação com
o seu nome em Português.
Quīntus surgere cōnātus est e Mārcus mentītus est (em Português, “tentou”
e “mentiu”, respectivamente). Os particípios de perfeito dos verbos patī,
loquī, verērī, fatērī são passus, locūtus, veritus, fassus, como podemos
perceber nos exemplos a seguir: tergī dolōrēs passus est (l. 47); saepe dē
eā locūtus est (l. 60); Tabellärius canem veritus est (l. 88); Mārcus ‘sē
mentītum esse’ fassus est (l. 101). A última frase mostra um exemplo de
infinitivo perfeito: mentītum esse. Estudaremos o imperativo em -re dos
verbos depoentes (l. 28, 40, 41, 44) no próximo capítulo.

A conjunção quam (“do que”, “que”) é empregada em comparações depois


do comparativo: Mārcus pigrior est quam Quīntus. Em vez de utilizarmos
quam, podemos usar o segundo termo da comparação no ablativo: Mārcus
ablativo comparativo pigrior est Quīntō. Para mais exemplos do ablativo comparativo, ver linhas
30, 77, 90, 108, 116, 117.

--“Quōmodo Mëdus puellam Rōmānam nōscere potuit?”, pergunta


nōscere, “conhecer”, Quintus, e Syra responde: “Nesciō quōmodo, sed certō sciō eum aliquam
no sentido de
“estar conhecendo” fēminam nōvisse” (l. 57-60). O perfeito de nōscere (“estar conhecendo”),
nōvisse (“conhecer”), tem valor de presente (cf. Canis tē nōvit, ignōrat
nōvisse, “conhecer”
illum; l. 94).

Observemos os advérbios subitō, certō, prīmō (l. 12, 59, 100), que, como
advérbios em -ō
postrēmō e rārō, terminam em -ō (prīmō “no princípio”, cf. prīmum, adv.:
“em primeiro lugar”).
CAPITVLVM VICESIMVM QVINTVM

THESEVS ET MINOTAVRVS

Tanto neste capítulo quanto no seguinte, leremos alguns mitos gregos bem
conhecidos. Esses relatos fabulosos de façanhas heroicas fascinaram
leitores de todas as épocas.

Os nomes de localizações mencionados na história podem ser encontrados


no mapa da Grécia presente no início do capítulo. De todos os nomes de
cidades, observemos as formas em plural Athēnae (Atenas) e Delphī Athēnae -ārum f. pl.
Delphī -ōrum m. pl.
(Delfos), de acusativo Athēnās, Delphōs e ablativo Athēnīs, Delphīs. Esses
dois casos, como já estudamos, servem para expressar movimento em
direção à cidade ou dela vindo: Teseu (Thēseus) dirige-se Athēnīs in
Crētam e mais tarde ē Crētā Athēnās. Porém, o ablativo dos nomes de
cidade em plural é usado também como locativo, e, por isso, Athēnīs Athēnīs loc. (= abl.)
também pode significar in urbe Athēnīs: Thēseus Athēnīs vīvēbat (l. 52).
As regras para os empregos do acusativo, ablativo e locativo de cidades
aplicam-se também aos nomes de ilhas pequenas, como Naxus: acusativo
Naxum (= ad īnsulam Naxum), ablativo Naxō (= ab/ex īnsulā Naxō),
locativo Naxī (= in īnsulā Naxō) (l. 99, 100, 132). Podemos complementar
um substantivo apresentando um nome novo com nōmine (“chamado/-a”):
parva īnsula nōmine Naxus; mōnstrum horribile, nōmine Mīnōtaurus (l. 26). ablativo de relação
Tal tipo de construção é chamado de ablativo de relação.

O imperativo dos verbos depoentes termina em -re no singular e em -minī verbos depoentes
no plural (nos de tema consonantal, -ere e –iminī, respectivamente). Já imperativo:
sing. -re
vimos exemplos de -re no capítulo XXIV (“Cōnsōlāre mē, Syra!”, l. 40); pl. -minī
neste capítulo, fala Teseu a Ariadne “Opperīre mē!” (l. 75) e “Et tū sequere
mē! Proficīscere mēcum Athēnās!” (l. 95) e aos seus concidadãos
“Laetāminī, cīvēs meī! Intuēminī gladium meum cruentum! Sequiminī mē
ad portum!” (l. 92-93).

Os verbos transitivos como amāre e timēre eram normalmente empregados


com um objeto no acusativo, como em mortem timēre e patriam amāre. Os
substantivos derivados desses verbos, timor e amor, podem reger o genitivo
para indicar o objeto do temor ou do amor: timor mortis e amor patriae (l.
genitivo objetivo 77, 86). Esse genitivo denomina-se genitivo objetivo. Outros exemplos são
timor mōnstrōrum; expugnātiō urbis; nex Mīnōtaurī; cupiditās pecūniae (l.
22, 46, 88, 122); em que expugnātiō e nex são derivados dos verbos

cupidus + gen. expugnāre e necāre, enquanto cupiditās deriva do verbo cupere, vindo
amāns + gen. indiretamente do adjetivo cupidus (= cupiēns), que pode, por sua vez,
combinar-se com um genitivo objetivo, como, por exemplo, em cupidus
pecūniae (= quī pecūniam cupit, l. 46). Até mesmo um particípio presente
como amāns, empregado como adjetivo, pode reger um genitivo objetivo:

oblīvīscī + gen.
patriae amāns (= quī patriam amat, l. 51). O verbo oblīvīscī também rege
um objeto no genitivo: oblīvīscere illīus virī! (l. 126). Se o objeto é um ser
inanimado, pode-se usar também o acusativo.

Já vimos vários exemplos da construção de acusativo com infinitivo com o


ac. + inf. passivo com
verbo iubēre: um infinitivo ativo, como em pater filium tacēre iubet,
iubēre
expressa o que uma pessoa deve fazer; já um infinitivo passivo, como dūcī
em ...quī eum... in labyrinthum dūcī iussit (l. 59), expressa o que deve ser
feito a uma pessoa (cf. cap. XXVI, l. 7-8). Como iubēre, o verbo velle pode
ac. + inf. com velle
vir seguido de acusativo com infinitivo: Tē hīc manēre vōlō (“quero que
tu...”); Quam fābulam mē tibi nārrāre vīs? (l. 2-4).

O particípio perfeito dos verbos depoentes pode vir junto ao sujeito da frase
para indicar o que este fez, fizera ou fazia: haec locūta, Ariadna... (“tendo
dito isto”, l. 74); Thēseus fīlum Ariadnae secūtus... (“tendo seguido”, l. 84-
85); Aegeus, arbitrātus... (“que pensou; l. 137).

Um pronome relativo, depois de um ponto ou de um ponto e vírgula,


relativo coordenativo funciona como pronome demonstrativo (relativo coordenativo), referindo-se
a uma palavra da frase precedente: Thēseus... Athēnīs vīvēbat. Quī (= Is...)
nūper Athēnās vēnerat (l. 52; cf. l. 34, 61, 142).

As formas nāvigandum e fugiendum (l. 94, 97) serão estudadas no próximo


capítulo.
CAPITVLVM VICESIMVM SEXTVM

DAEDALVS ET ICARVS

A lenda do jovem Ícaro (Īcarus), que voou em direção ao sol ardente e,


logo em seguida, precipitou-se ao mar porque o sol tinha derretido a cera
que mantinha suas asas unidas, foi sempre admirada como uma magnífica
imagem poética do castigo reservado à arrogância e à imprudência.
Vemos, neste capítulo, Syra se servindo dessa história para advertir
Quintus, para que seja mais prudente.

Na expressão parātus ad pugnam, o acusativo pugnam é utilizado após ad.


Se substituíssemos o substantivo pelo verbo correspondente, não
usaríamos o infinitivo pugnāre, mas sim a forma pugnandum: parātus ad
pugnandum. Essa forma, caracterizada pela adição de -nd- ao tema de
presente, é um tipo de forma nominal do verbo chamada de gerúndio (lat. gerúndio
ac. -ndum
gerundium). O gerúndio funciona como um substantivo neutro da 2ª gen. -ndī
declinação, mas não possui nominativo: o acusativo termina em -ndum abl. -ndō

(pugna/nd/um), o genitivo em -ndī (pugna/nd/ī) e o dativo e o ablativo em


-ndō (pugna/nd/ō). Nos verbos de tema consonantal e em -ī (3ª e 4ª
conjugações), é inserido um e breve antes de -nd-: vīv/end/um,
audi/end/um.

Neste capítulo, encontramos vários exemplos do gerúndio em seus


diferentes casos (exceto no dativo, que é raramente usado). O acusativo
encontra-se somente depois de ad: ad nārrandum (l. 10). O genitivo
aparece com substantivos: fīnem nārrandī facere (= fīnem nārrātiōnis f., l.
13), cōnsilium fugiendī (= c. fugae, l. 56), haud difficilis est ars volandī (l.
72), tempus dormiendī (l. 122), ou como genitivo objetivo com os
adjetivos cupidus e studiōsus: cupidus audiendī, studiōsus volandī (l. 18,
43; cf. l. 108). Com o ablativo causā, o genitivo do gerúndio expressa -ndī causā
causa ou finalidade: non sōlum delectandī causā, sed etiam monendī causā
nārrātur fābula (l. 134-135). O ablativo do gerúndio é encontrado depois de
in e dē: in nārrandō (l. 11), liber dē amandō (l. 154), ou, sem preposição,
como ablativo de meio ou causa puerī scrībere discunt scrībendō, fessus
sum ambulandō (l. 24, cf. 129, 130).

adjetivos
Certos adjetivos possuem -er no nominativo singular, sem as terminações
m. f. n. habituais -us e -is, como niger -gr/a -gr/um, que perde o e com a mudança
-er -(e)r/a -(e)r/um do gênero, e miser -er/a -er/um, līber -er/a -er/um e celer -er/is -er/e, que
-er -(e)r/is -(e)r/e mantêm o e em todos os gêneros (em outros adjetivos da 3ª declinação, o e
não permanece, como em December -br/is; ācer ācr/is ācr/e, “agudo”,
“afiado”, “impetuoso”). Esse tipo de adjetivo da 3ª declinação possui três
formas diferentes no nominativo singular, enquanto aqueles que terminam
em -ns e em -x, como prūdēns e audāx, têm uma única forma:
m./f./n.
-ns, gen. -nt/is vir/fēmina/cōnsilium prūdēns/audāx (genitivo prūdent/is, audāc/is). Os
-x gen. -c/is
adjetivos em -er formam o superlativo em –errimus, como em celerrimus.
São irregulares os superlativos summus e īnfimus (l. 77, 79) de super(us) -
era -erum e īnfer(us) -era -erum (comp. superior e īnferior).

O substantivo masculino āēr (3ª declinação, com genitivo āer/is) foi


tomado do Grego e utiliza a terminação grega -a no acusativo singular
āēr āer/is, ac. -a āer/a (l. 22 = āer/em).
(= -em)
Assim como ūllus -a -um, o pronome indefinido quis-quam quid-quam
(“alguém”, “algo”) é usado num contexto negativo (não se emprega et
neque ūllus -a -um
antes de nēmō e nihil): neque quisquam (“e ninguém...”, l. 26), nec
neque quisquam
neque quidquam quidquam (“e nada...”, cap. XXVII, l. 106); do mesmo modo, devemos
neque umquam
evitar et antes de numquam usando neque umquam (“e nunca...”, cap.
XXIII, l. 26).

Em lugar do imperativo es! este! de esse, é empregado, com frequência, a


es/tō es/tōte (imp.) forma em -tō -tōte: es/tō! es/tōte! (l. 81). Esse imperativo, denominado
imperativo futuro, não é muito frequente com outros verbos (trataremos
disso no capítulo XXXIII).

A forma vidērī, passiva de vidēre, é utilizada (com nominativo com


vidērī (+ dat.) infinitivo) no sentido de “parecer (ser)”, como, por exemplo, em īnsulae
haud parvae sunt, quamquam parvae esse videntur (l. 94). Em construções
como essa, aparece, muitas vezes, um dativo: Mēlos īnsula... nōn tam
parva est quam tibi vidētur (= quam tū putās, l. 95, cf. l. 96, 125); puer ... sibi vidētur ...
volāre (l. 144, = sē volāre putat).
CAPITVLVM VICESIMVM SEPTIMVM

RES RVSTICAE

Iulius é proprietário de uma grande fazenda nas colinas do mōns


Albānus, perto de Tūsculum e do lacus Albānus. A administração da
propriedade fica nas mãos de alguns granjeiros, os colōnī. Iulius
trabalha com grande dedicação quando reside rūrī (‘no campo’,
locativo de rūs), nesta vīlla albana. É ali que o encontramos,
caminhando pelos seus campos e vinhedos e perguntando aos seus
granjeiros sobre a qualidade das colheitas.
ut completivo + subj.
Comparemos as frases Servus tacet et audit e Dominus imperat ut
servus taceat et audiat. A primeira frase nos diz o que o escravo faz
realmente. A segunda apenas nos diz o que o senhor quer que ele faça;
isto se expressa com as formas verbais tace/at e audi/at, denominadas
modo subjuntivo (lat. coniūnctīvus), enquanto tace/t e audi/t
presente do subjuntivo
pertencem ao chamado modo indicativo (lat. indicātīvus). Taceat e 2ª, 3ª e 4ª conjugações
audiat são o presente do subjuntivo (lat. coniūnctīvus praesentis) de ativa passiva
tacēre e audīre. sg. 1. -a/m -a/r
2. -ā/s -ā/ris
O presente do subjuntivo forma-se inserindo um -ā- entre o tema do 3. -a/t -ā/tur
pl. 1. -ā/mus -ā/mur
presente e as desinências pessoais (antes de -m, -t, -nt, -r, -ntur o -a- é 2. -ā/tis -ā/minī
breve). Isto resulta, na voz ativa, nas seguintes desinências: 1ª pessoa - 3. -a/nt -a/ntur
a/m, -ā/mus; 2ª -ā/s, -ā/tis; 3ª -a/t, -a/nt; e na passiva: 1ª pessoa -a/r,
1ª conjugação
ā/mur; 2ª -ā/ris, -ā/minī; 3ª -ā/tur, -a/ntur. No entanto, essas ativa passiva
desinências servem apenas para a 2ª, 3ª e 4ª conjugações. sg. 1. -e/m -e/r
2. -ē/s -ē/ris
Os verbos da 1ª conjugação (tema em -ā), que terminam em -ā- no 3. -e/t -ē/tur
presente do indicativo, terminam em -ē- antes das desinências pl. 1. -ē/mus -ē/mur
pessoais no presente do subjuntivo: 2. -ē/tis -ē/minī
3. -e/nt -e/ntur
voz ativa: 1ª pessoa -e/m, -ē/mus; 2ª -ē/s, -ē/tis; 3ª -e/t, -e/nt;

voz passiva: 1ª pessoa -e/r, -ē/mur; 2ª -ē/ris, -ē/minī; 3ª -ē/tur, e/ntur. esse
sing. plur.
Na seção GRAMMATICA LATINA encontraremos exemplos de 1. si/m sī/mus
verbos com todas essas conjugações e do presente do subjuntivo do 2. sī/s sī/tis
3. si/t si/nt
verbo irregular esse: 1ª pessoa sim, sīmus; 2ª sīs, sītis; 3ª sit, sint.

Enquanto o indicativo é usado para expressar que está de fato


ocorrendo, o subjuntivo expressa o desejo ou a tentativa de conseguir
ordem indireta
que algo ocorra. Tal ordem ou pedido indireto pode ser expresso
mediante verbos como imperāre, postulāre, ōrāre, cūrāre, labōrāre, orações integrantes:
monēre, facere, efficere, cavēre. Esses chamados verba postulandī et
verba postulandī et cūrandī: ut/nē
cūrandī aparecem com frequência seguidos de orações integrantes
+ subj.
introduzidas por ut, ou, se negativas, por nē (ou ut nē), com o verbo
no subjuntivo. Exemplos: Iūlius imperat ut colōnus accēdat: “vōs
moneō ut industriē... labōrētis”; Pāstōris officium est cūrāre nē ovēs
aberrent nēve silvam petant (l. 78, 126, 139-140). Como mostra o
último exemplo, a segunda oração negativa é introduzida por nē-ve,
isto é, nē com a conjunção enclítica -ve, que é o mesmo que vel. A
negação nē é usada também na construção nē... quidem (l. 55, 86,
‘nem mesmo’).

Na discussão sobre o emprego das ferramentas de agricultura


(īnstrūmentum), requer-se o ablativo instrumental: Frūmentum falce
metitur... Quō īnstrūmentō serit agricola? Quī serit nūllō īnstrūmentō
ūtitur (l. 18-20). Este exemplo e os seguintes (Quī arat arātrō ūtitur;
ūtī + abl.
quī metit falce ūtitur; quī serit manū suā ūtitur) mostram que ūtī
(‘usar’) rege ablativo.

locus -ī m. Além do plural regular locī, encontramos para locus a forma neutra
pl. locī -ōrum (m.) loca -ōrum (l. 30), que é comum no sentido concreto de ‘lugares’,
loca -ōrum (n.) ‘região’.

prae, prō + abl. As preposições prae e prō regem ablativo; seu significado principal é
‘diante de’, do qual derivam os demais significados (prae, l. 63, 83;
abs tē = ā tē prō 71, 72). − Abs no lugar de ab só aparece antes de tē: abs tē (l. 80,
= ā tē). − Prestemos atenção no ablativo separativo (sem ab) com
pellere e prohibēre (l. 89, 174).

quam + sup. (potest) O pastor corre atrás de suas ovelhas quam celerrimē potest (l. 177);
quam + superlativo (potest) marca o mais alto grau possível: ‘o mais
rapidamente possível’ (‘o mais... que pode’).
CAPITVLVM DVODETRICESIVM

PERICVLA MARIS

Neste capítulo como no seguinte, conhecemos mais a fundo Medus e


Lydia. Após apaziguar-se a violenta tempestade, o navio navega para o alto
mar. Lydia mostra a Medus o livrinho que levava consigo e que está lendo
em voz alta. Deste modo, conhecemos a mais antiga tradução latina do
Novo Testamento, realizada por São Jerônimo, no século IV, em sua versão
latina da Bíblia (chamada Vulgāta, versão ‘popular’).

Além de novos exemplos do presente do subjuntivo depois de verba imperfeito do subjuntivo


postulandī et cūrandī no presente, encontramos agora o imperfeito do ativa

subjuntivo (lat. coniūnctīvus imperfectī) depois dos mesmos verbos no sing. 1. -(e)re/m
tempo passado: Iēsus nōn sōlum faciēbat ut caecī vidērent, surdī audīrent,
2. -(e)rē/s
mūtī loquerentur, sed etiam verbīs efficiēbat ut mortuī surgerent et
ambulārent (l. 34-37). O imperfeito do subjuntivo se forma inserindo -rē- (- 3. -(e)re/t
erē-, nos verbos de tema consonantal), entre o tema do presente e as
plur. 1. -(e)rē/mus
desinências pessoais (e breve antes de -m, -t, -nt, -r, -ntur), p. ex. vidē/re/m,
vidē/rē/s, vidē/re/t, etc., e surg/ere/m, surg/erē/s, surg/ere/t etc. O 2. -(e)rē/tis
imperfeito do subjuntivo de esse é esse/m, essē/s, esse/t etc.
3. -(e)re/nt
Enquanto a oração com o presente do subjuntivo complementa a oração passiva
com o verbo principal no presente, a oração com o imperfeito do
subjuntivo complementa a oração com o verbo principal no passado sing. 1. -(e)re/r
(perfeito, imperfeito ou mais-que-perfeito). Comparemos as frases: Pater 2. -(e)rē/ris
fīlium monet ut taceat e Pater fīlium monēbat (/monuit/monuerat) ut
tacēret. 3. -(e)re/tur

plur. 1. -(e)rē/mur
No exemplo praedōnēs... nāvēs persequuntur, ut mercēs et pecūniam
rapiant nautāsque occīdant (l. 132-134), a oração introduzida por ut com os 2. -(e)rē/minī
subjuntivos rapiant e occīdant expressa a finalidade da perseguição. Aqui
3. -(e)re/ntur
também o subjuntivo denota uma ação apenas planejada, não
verdadeiramente cumprida. Outras orações finais que vão no imperfeito do esse
subjuntivo porque o verbo principal está no tempo passado: Petrus sing. plur.
ambulābat super aquam, ut venīret ad Iēsum; ē vīllā fūgī, ut verbera 1. esse/m essē/mus
vītārem atque ut amīcam meam vidērem ac semper cum eā essem (l. 103,
162-163). Em português a finalidade se expressa com o infinitivo 2. essē/s essē/tis

precedido de ‘para’ (‘a fim de’), similar, portanto, ao gerúndio latino, ou a 3. esse/t esse/nt
uma oração subordinada introduzida por ‘para que’ (‘a fim de que’).

Num quis tam stultus est ut ista vēra esse crēdat (l. 90-91) é outro tipo de
oração introduzida por ut com subjuntivo, chamada oração consecutiva
(ut... crēdat expressa a consequência, nesse caso, da estupidez de alguém);
cf. ita... ut Iuppiter rēx caelī esset (l. 87). Mais exemplos no cap. XXIX. orações finais:
ut/nē + subjuntivo
A maior parte das orações do latim introduzidas por ut com subjuntivo
corresponde a orações do português introduzidas por ‘que’. Mas não
esqueçamos que ut é também um advérbio comparativo (‘como’); nesta
função, ut se constrói com o indicativo, p. ex. ut tempestās mare
tranquillum turbāvit (l. 8-9) e ut spērō (l. 149).
orações comparativas:
ut + indicativo Observemos a diferença entre (1) verba dīcendī et sentiendī, que regem a
construção ac. + inf., e (2) verba postulandī et cūrandī, que são seguidos de
uma oração no subjuntivo introduzida por ut/nē. Alguns verbos podem ter
verba dīcendī et sentiendī as duas construções, p. ex. persuādēre nestes exemplos: mihi nēmō
+ ac. + inf. persuādēbit hominem super mare ambulāre posse e Mēdus mihi persuāsit ut
sēcum venīrem (l. 111, 174; port.: ‘convencer’/’persuadir’). Persuādēre rege
verba postulandī et
dativo nos dois casos (como oboedīre, impendēre, servīre, e prōdesse,
cūrandī + ut/nē + subj.
nocēre).

No último exemplo, prestemos atenção em sēcum nas seguintes frases:


Dāvus... eum sēcum venīre iubet (cap. XIV, l. 87 = eī imperat ut sēcum
veniat); Pāstor dominum ōrat nē sē verberet (cap. XXVII, l. 158); Mēdus
reflexivo sē, sibi, suus em eam rogat ut aliquid sibi legat (l. 66). Nas orações introduzidas por ut/nē
ordens indiretas
que expressam uma ordem ou uma petição indireta, o pronome reflexivo sē,
sibi e suus refere-se ao sujeito do verbo principal, isto é, à pessoa que
ordena, solicita etc.
CAPITVLVM VNDETRICESIMVM

NAVIGARE NECESSE EST

O nosso mercador romano está falido porque sua mercadoria foi lançada
ao mar durante a tempestade. Por isso, não consegue compartilhar
totalmente da alegria que sentem os demais tripulantes por estarem
salvos. Exclama: “Heu, mē miserum!” (acusativo exclamativo) e
pergunta-se, desesperado: “Quid faciam? Quid spērem? Quōmodo
uxōrem et līberōs alam? ... quōmodo vīvāmus sine pecūniā?” (linhas 22-
interrogação deliberativa:
24, 51). Neste tipo de interrogação, chamada deliberativa, em que o quid faciam?
sujeito, indeciso, se pergunta o que fazer, o verbo toma o modo
subjuntivo. Uma interrogação deliberativa pode também ser o objeto de
um verbo, p. ex. interrogāre, nescīre ou dubitāre: Vir ita perturbātus est
ut sē interroget, utrum in mare saliat an in nāve remaneat (linhas 57-59);
Mēdus rubēns nescit quid respondeat (cap. XXVIII, linha 184). Em tais subjuntivo em
interrogativas indiretas o verbo toma o subjuntivo ainda que a interrogativas indiretas
interrogativa direta a que faz referência se expresse com o indicativo. No
capítulo XXVIII (linha 187) Lydia perguntava: “nōnne tua erat ista
pecūnia?” e agora ela diz: “Modo tē interrogāvī tuane esset pecūnia”
(linhas 127-128). A pergunta dirigida pelo rei aos marinheiros se enuncia
assim: rēx eōs interrogāvit ‘num scīrent ubi esset Arīōn et quid faceret?”
(linha 106). Cf. dubitō num haec fābula vēra sit (linhas 116-117).

Depois da conjunção cum, o verbo vai no indicativo nas orações que


cum (iterātīvum) +
expressam algo que acontece habitual ou repetidamente, p. ex. Semper indicativo
gaudeō cum dē līberīs meīs cōgitō (linha 47); tū numquam mē salūtābās
cum mē vidēbās (cap. XIX, linha 100). Neste emprego, cum é
denominado ‘cum iterātīvum’ (de iterāre, ‘repetir’).

Quando a oração introduzida por cum indica que um evento ocorre ao


cum + subjuntivo:
mesmo tempo que outro, seu verbo costuma aparecer no imperfeito do temporal-causal
subjuntivo. As histórias de Aríon (ou Árion) e de Polícrates contêm
várias orações com este tipo de cum, p. ex. Cum Arīōn... in Graeciam
nāvigāret...; cum iam vītam dēspērāret, id ūnum ōrāvit...; Cum haec falsa
nārrārent, Arīōn... appāruit; Ānulum abēcit, cum sēsē nimis fēlīcem esse
cēnsēret (linhas 78-80, 88-89, 110, 156-157. cf. linha 171). Os exemplos
mostram que cum introduz tanto orações temporais quanto causais (port.
‘quando’ e ‘como’); estas últimas também levam o verbo no presente do
subjuntivo, p. ex. Gubernātor, cum omnēs attentōs videat, hanc fābulam
nārrat... (linha 76).

Entre as orações de ut com subjuntivo deste capítulo, há algumas


orações consecutivas: ut...
consecutivas (precedidas de tam, tantus, ita), nas linhas 58, 67, 68, 70- ut nōn...
71, 86-87, 159-160. O exemplo piscem cēpit quī tam fōrmōsus erat ut
piscātor eum nōn vēnderet (linhas 167-168) mostra que uma oração
consecutiva usa a negação nōn, diferentemente das orações finais, que
orações finais: ut..., nē...
empregam nē (ut në), p. ex. nē strepitū cantum eius turbārent (linha 73).
Na seção GRAMMATICA LATINA há exemplos de orações tipicamente
introduzidas por ut e nē com subjuntivo.

genitivo de preço: Para indicar em quanto se estima algo, podem-se acrescentar genitivos
magnī, parvī, plūris, como magnī, parvī, plūris, minōris ao verbo aestimāre (ou facere, com o
minōris mesmo sentido). Exemplos: Mercātōrēs mercēs suās magnī aestimant,
vītam nautārum parvī aestimant; “Nōnne līberōs plūris aestimās quam
mercēs istās?” (linhas 6-7, 27). Com o verbo accūsāre a acusação se
expressa em genitivo (enquanto o acusado é indicado com o acusativo3):
accūsāre + gen. de crime
Lȳdia pergit eum fūrtī accūsāre (linha 137). É o chamado genitivo de
crime. Um genitivo partitivo pode qualificar um pronome, p. ex. aliquid
pron. + gen. partitivo
pecūliī; nihil malī (linha 135, 157). O genitivo partitivo de nōs, vōs é
nostrum, vestrum: nēmō nostrum/vestrum (linhas 39, 43).
prefixos: ab/ā- ad- con- dē- Muitos verbos formam-se com prefixos, sobretudo preposições, p. ex. dē-
ex/ē- in- per- prō- re- sub-
etc. terrēre, ā-mittere, in-vidēre, per-mittere, per-movēre, sub-īre, ex-pōnere,
facere > -ficere re-dūcere. Os prefixos provocam a mudança de a ou e breves em i. Assim,
capere > -cipere
rapere > -ripere
de facere formam-se af-, cōn-, ef-, per-ficere; de capere ac-, in-, re-cipere;
salīre > -silīre de rapere ē-, sur-ripere; de salīre dē-silīre; de fatērī cōn-fitērī; de tenēre
tenēre > -tinēre abs-, con-, re-tinēre; de premere im-primere. Do mesmo modo, iacere
premere > -primere
iacere > -icere torna-se -iicere, mas evita-se a grafia ii escrevendo-se -icere, p. ex. ab-, ad-
, ē-, prō-icere.

3
Como foi visto no capítulo IV, linha 48.
CAPITVLVM TRICESIMVM

CONVIVIVM

Neste capítulo e no próximo presenciamos um jantar na casa de


Iulius e Aemilia. Os convidados são bons amigos da família. O
jantar começa cedo, às quatro horas da tarde (hōrā decimā), o horário
normal da principal refeição dos romanos. Aqui conhecemos a
disposição da típica sala de jantar romana, o triclīnium, onde os
convidados se estendiam sobre leitos. Tal sala de jantar não era
planejada para grandes recepções, pois podiam reclinar-se no
máximo três convidados sobre cada um dos três leitos dispostos ao
redor de uma mesinha.

Observemos que para indicar quantos convidados se estendem em


Numerais distributivos cada leito, o latim não usa os numerais habituais, ūnus, duo, trēs,
1 singulī -ae -a mas sim os numerais singulī, bīnī, ternī: In singulīs lectīs aut singulī
2 bīnī -ae -a
aut bīnī aut ternī convīvae accubāre solent (linhas 74-75). Esses
3 ternī -ae -a
4 quaternī -ae -a numerais distributivos, adjetivos da 1ª/2ª declinação, são usados
5 quīnī -ae -a quando se aplica o mesmo número a mais de uma pessoa ou coisa, p.
6 sēnī -ae -a ex. bis bīna (2x2) sunt quattuor; bis terna (2x3) sunt sex; in
... vocālibus ‘mea’ et ‘tua’ sunt ternae litterae et bīnae syllabae. Todos
10 dēnī -ae -a
os numerais distributivos terminam em -n/ī -ae -a exceto singul/ī -ae
-a.

Quando, enfim, o escravo anuncia que o jantar está pronto, Iulius


Subjuntivo exortativo: diz: “Triclīnium intrēmus!” (linha 87) e, já na mesa, ergue sua taça
-ēmus! -āmus! com estas palavras: “Ergō bibāmus!” (linha 120).

As formas intrēmus e bibāmus são o presente do subjuntivo (1ª


Futuro perfeito
pessoa do plural) de intrāre e bibere; por conseguinte, denotam uma
ação que se tem a intenção de realizar, no caso presente uma
Ativa exortação (‘entremos/vamos entrar!’, ‘bebamos/vamos beber!’). No
sing. plur.
1. ~er/ō ~eri/mus próximo capítulo encontraremos mais exemplos deste subjuntivo
2. ~eri/is ~eri/tis exortativo.
3. ~eri/t ~eri/nt
Para indicar que uma ação não chegará ao fim antes de certo
Passiva
sing. momento no futuro, utiliza-se o futuro perfeito (lat. futūrum
1. ≈us ≈a erō perfectum). Os primeiros exemplos deste novo tempo verbal são
2. eris parāverit e ōrnāverint: Cēnābimus cum prīmum cocus cēnam
3. ... ≈um erit
plur. parāverit et servī triclīnium ōrnāverint (linhas 84-85). Na voz ativa,
1. ≈ī ≈ae erimus o futuro perfeito forma-se do tema do perfeito mais as seguintes
2. eritis
3. ... ≈a erunt desinências: 1ª pessoa ~er/ō, ~eri/mus; 2ª ~er/is, ~eri/tis; 3ª ~eri/t,
~eri/nt. A passiva compõe-se do particípio perfeito mais o futuro de
esse (erō, eris, erit, etc.), p. ex. Brevī cēna parāta et triclīnium
ōrnātum erit (linhas 84-85; cf. linha 14). Este tempo é muito comum
nas orações condicionais (introduzidas por sī...), em situações em que fruī + abl.
uma ação futura deve ser concluída antes que outra tenha lugar, p. ex.
Discipulus laudābitur, sī magistrō pāruerit et industrius fuerit.
Magister: “Tē laudābō, sī mihi pārueris et industrius fueris” (linhas
170-172). Mais exemplos deste uso podem ser encontrados na seção
GRAMMATICA LATINA. Notemos que na maior parte das
situações em que o latim usa o futuro perfeito, em português
usaríamos o futuro do subjuntivo. Em latim, com efeito, não há
subjuntivo da forma futura.

Assim como ūtī ūsum esse (ver linha 38), o verbo depoente fruī
(‘desfrutar de’, ‘gozar’) rege um complemento no ablativo: ōtiō fruor
(linha 23, cf. linhas 35, 59).

Os adjetivos da 3ª declinação em -ns, p. ex. prūdēns -ent/is, dīligēns -


ent/is, cōnstāns -ant/is, formam advérbios em -nter (contração de - adj. -āns -ēns
ntiter): prūdenter, dīligenter, cōnstanter. Exemplos: Discipulus adv. -anter -enter

dīligenter audit et prūdenter respondet. Mīlitēs cōnstanter pugnant


(ver linhas 33, 35, 82, e capítulo XXXIII, linha 120).
sitis -is f., ac. -im, abl. -ī
O substantivo sitis, -is f. tem o tema completamente em -i: ac. -im, vās vās/is n., plur.
abl. -ī (sitim patī, sitī perīre, linhas 55, 57). O substantivo vās vās|is n. vās/a -ōrum
segue a 3ª declinação no singular e a 2ª declinação no plural: vās/a -
ōrum (linha 93: ex vāsīs aureīs).

Bebia-se raramente vinho puro (merum), era frequente misturá-lo


com água. A expressão latina é vīnum (cum) aquā miscēre ou aquam
vīnō (dativo) miscēre (ver linhas 115, 132). Cf. cibum sale aspergere
ou salem cibō (dat.) aspergere (linhas 109, 111).
CAPITVLVM TRICESIMVM PRIMVM

INTER POCVLA

À medida que o vinho corre em abundância, os convidados vão conversando


entre si com mais liberdade. A sala ressoa com discussões, histórias e com
as últimas fofocas. Orontes supera a todos em loquacidade e ao fim levanta
sua taça gritando: “Vīvat fortissimus quisque! Vīvant omnēs fēminae
amandae!” (linha 172).

Observemos que as formas do presente do subjuntivo vīvat e vīvant são aqui


usadas para expressar um desejo. Do mesmo modo são usados valeat e
pereat nos dois versos que Orontes recita antes de cair da mesa (linha 196;
per-eat é o presente do subjuntivo de per-īre). Este uso do subjuntivo
denomina-se subjuntivo de desejo ou optativo (lat. optātīvus, de optāre). subjuntivo optativo
(de desejo)
Este uso está estreitamente ligado com o subjuntivo exortativo, que é usado
subjuntivo exortativo
não só na 1ª pessoa do plural (p. ex. Gaudeāmus atque amēmus!, linha 173,
e que também apareceu no último capítulo), mas também na 3ª pessoa, como
nesta exortação de Orontes: “Quisquis fēminās amat, pōculum tollat et bibat
mēcum!” (linhas 176-177).

Na primeira vez, a forma verbal vīvat que Orontes utiliza é predicado de


fortissimus quisque (que é como dizer ‘cada um dos mais valentes’, ‘os mais
gerundivo
valentes’) e depois a forma vīvant é predicado de omnēs fēminae amandae. -(e)nd/us -a -um
Este é um exemplo da forma verbal denominada gerundivo (lat.
gerundīvum), que se forma como o gerúndio, acrescentando -nd- ou -end- ao
tema do presente; no entanto, diferentemente do gerúndio, o gerundivo é um
adjetivo da 1ª/2ª declinação (ama/nd/us -a -um < amāre) e serve para
expressar o que deve ser feito a uma pessoa ou coisa. Assim, uma mulher
encantadora pode ser descrita como fēmina amanda, um aluno diligente
como discipulus laudandus (< laudāre), e um bom livro como liber legendus
(< legere).

Na maior parte dos casos, o gerundivo é usado com uma forma do verbo
esse, como nestes exemplos: Pater quī īnfantem suum exposuit ipse
necandus est; Ille servus nōn pūniendus, sed potius laudandus fuit; Nunc
merum bibendum est! (linhas 132-133, 161-162, 177). Pode-se dizer
também simplesmente bibendum est!, sem dizer o que deve ser bebido (isto
é, o sujeito); do mesmo modo encontramos expressões como tacendum est,
dormiendum est, que estabelece, de modo geral, o que deve ser feito (ver
gerundivo + dativo
linha 178). Com o gerundivo, que é uma forma passiva, usa-se o dativo (em (agente)
lugar do ab + abl.) para designar o agente, isto é, a pessoa por quem a ação
deve ser realizada: Quidquid dominus imperāvit servō faciendum est (linha
159).
Vimos pronomes relativos sem antecedente, p. ex. quī spīrat vīvus est;
pronome relativo indefinido:
quis-quis
quod Mārcus dīcit vērum nōn est, onde se esperaria is quī... id quod...
quid-quid Pode-se generalizar o significado usando o pronome relativo indefinido
quis-quis e quid-quid (‘quem quer que’ e ‘o que quer que’), p. ex. Dabō
pron. rel. ind. + indicativo tibi quidquid optāveris (linha 29): Quisquis amat valeat! (linha 196).
quisquis amat Notemos que, enquanto o português usaria o subjuntivo nessa construção,
docet o latim usa o indicativo: Quisquis amat..., port.: ‘Quem quer que ame...’
discit (Outras opções de tradução, como ‘tudo que...’, podem ser usadas com o
audit indicativo ou com o subjuntivo, dependendo do sentido.)

O verbo defectivo ōdisse (‘odiar’) não tem tema de presente; o perfeito


ōd/isse ↔ amāre
mesmo, no entanto, tem valor de presente: ōdī (‘eu odeio’) é o contrário
ōd/ī ↔ amō de amō. (Os dois verbos aparecem contrastados em Servī dominum
ōd/eram ↔ amābam clēmentem amant, sevērum ōdērunt (linha 94). Cf. nōvisse, forma perfeita
ōd/erō ↔ amābō de nōscere (‘conhecer’) com o significado de ‘saber’, ‘conhecer’: nōvī,
‘eu conheço’, em oposição ao presente: nōscō, ‘estou conhecendo’).

A preposição cōram (‘na presença de’, ‘diante de’) rege ablativo: cōram
cōram prep. + abl.
exercitū (linha 122). Igualmente, super (que aparece com acusativo desde
super prep. + abl. = dē
o capítulo XI), quando empregado no lugar da preposição dē com o
sentido de ‘sobre’, ‘acerca de’, ‘a respeito de’, rege ablativo: super
Chrīstiānīs (linha 147, cf. linha 200).
verbos semidepoentes O verbo audēre é depoente no perfeito: ausum esse (linha 169: ausus est),
audēre ausum esse mas não no presente. De modo contrário, revertī é depoente no presente,
revertī revertisse
mas não no perfeito: revertisse. Estes verbos chamam-se semidepoentes.

A inscrição na página 259 é um grafite (ou uma pichação) que um jovem


apaixonado riscou numa parede de Pompéia. Torna-se mais fácil decifrar
os caracteres quando descobrimos que a inscrição contém os dois versos
recitados por Orontes (linhas 196-197, faltando apenas a primeira sílaba).
CAPITVLVM TRICESIMVM SECVNDVM

CLASSIS ROMANA

O temor aos piratas desencadeia uma longa discussão a bordo do navio.


Medus conta a história de quando foi preso e vendido como escravo. Este
subjuntivo perfeito
relato tranquiliza Lydia de tal forma que, uma vez afastado o perigo, ambos
recuperam uma relação saudável. voz ativa:
sing. plur.
Durante a discussão, o mercador recita versos sem mencionar o nome do
poeta. O timoneiro não faz a pergunta direta “Quī poēta ista scrīpsit?” com 1. ~eri/m ~eri/mus
o verbo no indicativo, mas emprega uma interrogativa indireta no 2. ~eri/s ~eri/tis
subjuntivo: “Nesciō quī poēta ista scrīpserit?” (linha 106). Scrīps/erit é o
perfeito do subjuntivo (lat. coniūnctīvus perfectī) de scrībere. Na voz ativa, 3. ~eri/t ~eri/nt
este tempo se forma inserindo-se -eri- entre o tema do perfeito e as
desinências pessoais: 1ª pessoa ~eri/m, ~eri/mus; 2ª ~eri/s, ~eri/tis; 3ª passiva:
~eri/t, ~eri/nt. Isto é, são as mesmas desinências do futuro perfeito, exceto a 1. ≈us ≈a sim
1ª pessoa do singular, ~erim (fut. perf. ~erō). Na voz passiva, o perfeito do
2. sīs
subjuntivo é composto pelo particípio do perfeito com o presente do
subjuntivo de esse (sim, sīs, sit, etc.): Iūlius dubitat num Mārcus ā magistrō 3. ... ≈um sit
laudātus sit (= num magister Mārcum laudāverit). 1. ≈ī ≈ae sīmus

O perfeito do subjuntivo é usado nas interrogativas indiretas que se referem 2. sītis


a ações acabadas quando o verbo da oração principal está no presente,
3. ... ≈a sint
como nos exemplos mencionados (cf. linha 84, 106, 132, 134, 155, 169,
216), ou no perfeito (linha 82) ou no futuro (linhas 139-139). Com nē a 2ª nē -eris! = nōlī -re!
pessoa deste tempo expressa uma proibição: nē timueris! = nōlī timēre! nē nē -eritis! = nōlīte -re!
timueritis! = nōlīte timēre! (linhas 215, 199; cf. linhas 162, 182, 211).

A negação nē se emprega também como conjunção junto com o subjuntivo


utinam (nē) + subj.
optativo, p. ex. Utinam nē pīrātae mē occīdant! (linha 179). É comum que
optativo
utinam introduza desejos, p. ex. Utinam aliquandō līber patriam meam
videam! (linha 157, cf. linhas 182-183, 223). A expressão de temor pelo
acontecimento de algo implica o desejo de que este acontecimento não
ocorra; por isso, os verbos que expressam temor (timēre, metuere e verērī),
timēre nē + subj.
podem ir seguidos de nē + subjuntivo, p. ex. Timeō nē pīrātae mē occīdant
(cf. linhas 212-213; nē nesta oração corresponde a ‘que’ em português).

Como oblīvīscī, seu oposto reminīscī pode reger um objeto no genitivo, p. oblīviscī, reminīscī,
ex. eius temporis reminīscor (linha 156). O uso do acusativo ou do genitivo meminisse + gen. (coisa e
depende do objeto lembrado: se é uma pessoa, vai no genitivo; se é uma pessoa) ou ac. (apenas
coisa, pode ir no genitivo ou no acusativo. O mesmo ocorre com meminisse coisa)
(linha 126), um verbo defectivo que, como odīsse, não tem tema de
presente: a forma perfeita meminī (‘eu lembro’) é o contrário de oblītus
sum (esqueci). Ora, acontece algo parecido em português: os verbos
‘lembrar’ e ‘esquecer’ podem ser construídos com ‘de’ e reflexivamente,
senão até passivamente: ‘lembro-me de’, ‘esqueci-me de’, ‘estou lembrado
de’, ‘estou esquecido de’.

O prefixo ali- serve para transformar palavras interrogativas em indefinidas.


ali-quis, -quid, -quot, - De quot? forma-se ali-quot; de quandō?, ali-quandō; de quantum?, ali-
quandō, -quantum
quantum; e de quis? quid?, ali-quis, ali-quid. Não obstante, quis quid
empregam-se (sem o prefixo ali-) como pronome indefinido depois de sī e
sī/num/nē quis/quid... num (ver cap. XXII) e depois de nē: Nihil cuiquam nārrāvī dē eā rē, nē quis
mē glōriōsum exīstimāret (linha 135).

As expressões impessoais fit e accidit podem ir seguidas de uma preposição


orações completivas completiva de ut com subjuntivo, expressando um acontecimento: rārō fit ut
(de sujeito) nāvis praedōnum in marī Internō appāreat (linhas 42-43); a oração de ut é o
fit/accidit ut + subj.
sujeito de fit.

O ablativo em tantā audāciā sunt (linha 49) descreve uma qualidade e se


ablātīvus quālitātis denomina ablativo de qualidade (lat. ablātīvus quālitātis); cf. bonō animō
esse (cap. XXIX, linha 123). Com līberāre e com opus est encontramos o
ablativo separativo: servitūte līberābantur (linha 6); Quid opus est armīs?
(linha 178, cf. linhas 118, 195).
sing. pl. O substantivo vīs (‘força, potência, violência’) tem só três formas no
nom. vīs vīrēs singular: nom. vīs, ac. vim (linha 13) e abl. vī (linha 77). O plural vīrēs -ium
expressa força física: nautae omnibus vīribus rēmigant (linha 53, cf. linha
ac. vim vīrēs 66).
gen. - vīrium
Depois de mīlia, o genitivo partitivo plural de sēstertius tem a antiga
abl. vī vīribus desinência -um em vez de -ōrum: decem mīlia sēstertium (linha 91, cf. linha
170).
dat. - vīribus

/// mīlia sēstertium


(=ōrum)
CAPITVLVM TRICESIMVM TERTIVM

EXERCITVS ROMANVS

O capítulo consiste majoritariamente em uma carta enviada a Aemilia por


seu irmão, Aemilius, que cumpre o serviço militar na Germânia. Nesta
carta conheceremos vários termos militares.

Aprenderemos o último tempo que resta do latim, o mais-que-perfeito do


subjuntivo (lat. coniūnctīvus plūsquamperfectī). Forma-se, na voz ativa,
pela inserção de -issē- (ou, na forma breve, -isse-) entre o tema do subjuntivo mais-que-perfeito
voz ativa
perfeito e as desinências pessoais: 1ª pessoa ~isse/m, ~issē/mus, 2ª
sing. plur.
~issē/s, ~issē/tis, 3ª ~isse/t, ~isse/nt. Na passiva, é composto do particípio
do perfeito com o imperfeito do subjuntivo de esse (essem, essēs, esset, 1. ~isse/m ~issē/mus
etc.). O mais-que-perfeito do subjuntivo aparece em orações introduzidas 2. ~issē/s ~issē/tis
por cum (cum + mais-que-perf. do subj. = postquam + perf. do ind.) e em
interrogativas indiretas que se referem a uma ação acabada no passado, 3. ~isse/t ~isse/nt
isto é, com o verbo principal no pretérito (imperfeito, perfeito, ou mais-
que-perfeito). Exemplos: Quī cum arma cēpissent et vāllum ascendissent passiva
(= postquam... cēpērunt/ascendērunt), prīmō mīrābantur quamobrem 1. ≈us ≈a essem
mediā nocte ē somnō excitātī essent... Ego quoque dubitāre coeperam 2. essēs
num nūntius vērum dīxisset... Cum complūrēs hōrās ita fortissimē ā
nostrīs... pugnātum esset... (linha 109-121). Observemos que um verbo 3. ... ≈um esset
intransitivo (isto é, sem objeto direto, ou melhor, sem acusativo) como 1. ≈ī ≈ae essēmus
pugnāre empregado na passiva é impessoal, p. ex. ā Rōmānīs fortissimē
pugnātum est = Rōmānī fortissimē pugnāvērunt. 2. essētis

3. ... ≈a essent
O amor de Aemilius à profissão militar foi-se esfriando enquanto servia
nas frentes de batalha. Ele escreve que desejaria estar em Roma: Utinam
ego Rōmae essem! (linha 67) usando o subjuntivo optativo; para cum + mais-que-perfeito do
expressar um desejo irrealizável como este, que não pode ser cumprido, o subj. = postquam + perf. ind.
verbo não é usado no presente, mas no imperfeito do subjuntivo: cf.
Utinam hic amnis Tiberis esset et haec castra essent Rōma! (linhas 70-
71). As seguintes frases expressam uma condição que não poderia nunca
ser realizada: Sī Mercurius essem ālāsque habērem, in Italiam volārem!
(linhas 73-75). No latim não existe uma forma condicional separada do
subjuntivo, como a temos nós no futuro do pretérito (“Se eu fosse
Mercúrio e tivesse asas, voaria para a Itália!”). Aqui, de novo, o
imperfeito do subjuntivo é empregado para expressar algo irreal; cf. imperf. e mais-que-perf. do
linhas 82-85 e 93-95. Conseguimos achar com facilidade um paralelo no subj. expressando desejos e
português: dizer “queria que fosse...” expressa um desejo muito menos condições irrealizáveis
realizável do que “quero que seja...”. No entanto, se tais desejos ou
condições irreais se referem ao passado, emprega-se o mais-que-perfeito
do subjuntivo, como se nota nas palavras finais de Aemilius: Utinam
patrem audīvissem...! e Sī iam tum hoc intellēxissem, certē patrem
audīvissem nec ad bellum profectus essem (linhas 166, 181-182). Mais
exemplos nas linhas 163-164 e na seção GRAMMATICA LATINA.

Nas frases nūllum mihi ōtium est ad scrībendum e neglegēns sum in


scrībendō, vemos o gerúndio em acusativo depois de ad e em ablativo
depois de in. Já que Aemilius está falando da redação de cartas, é natural
ad scrībendum que ele use a palavra epistula. As próximas frases, portanto, são: nūllum
ad espistulās scrībendās mihi ōtium est ad epistulās scrībendās e neglegēns sum in epistulīs
scribendīs. Como podemos ver, ad e in fazem com que as duas palavras
in scrībendō seguintes fiquem nos casos acusativo e ablativo, respectivamente,
in epistulīs scrībendīs
enquanto, de modo semelhante, a forma verbal concorda em gênero e
ars scrībendī número com epistulās e epistulīs. Da mesma forma, cupidus, na
ars epistulārum scrībendārum expressão cupidus patriae videndae, faz com que as duas palavras
(= ars espistulās scrībendī) seguintes fiquem no genitivo, enquanto videndae concorda em gênero e
número com patriae. Neste caso, quando a expressão não é regida por
uma preposição, é possível também dizer cupidus patriam videndī, de
modo que cupidus afete tão somente o genitivo vindendī, gerúndio que
tem como objeto o acusativo patriam. Nas formas adjetivais scrībendās,
scrībendīs e videndae, etc., está uma aplicação especial do gerundivo
(chamada ‘atração do gerundivo’). Em resumo, o objeto direto do
gerundivo acaba concordando com o seu caso, e o gerundivo acaba
concordando com o gênero e número do objeto. Exemplos: in epistulīs
scrībendīs (linha 94), ad epistulam scrībendam (linhas 97-98), ad castra
dēfendenda (linhas 116), ad eōs persequendōs (linha 132, = ut eōs
persequerentur).

Aparecem também novos numerais distributivos: 10 dēnī, 4 quaternī, 5,


quīnī, 6 sēnī (linhas 2-3). Os numerais distributivos se empregam com
numerais distributivos + os substantivos plūrālia tantum, p. ex. bīna (2) castra, bīnae litterae (=
plūrālia tantum: duae epistulae); 1, no entanto, diz-se ūnī -ae -a e 3 trīnī -ae -a: ūnae
1 ūn/ī -ae -a litterae (= ūna epistula); trīnae litterae (= trēs epistulae).
3 trīn/ī -ae -a
Observemos o ablativo de relação numerō na expressão hostēs numerō
superiōrēs (linha 144, ‘em numero’, ‘numericamente’).

Aemilius termina sua carta com alguns pedidos (linhas 187-189). Nesta
parte ele usa o chamado imperativo futuro, que se obtém acrescentando
as desinências -tō (sing.) e -tōte (plur.) ao tema presente, p. ex. nārrā/tō -
imperativo futuro
sing. plur. tōte; nos temas consonantais insere-se um -i- breve antes da desinência,
p. ex. scrīb/itō -itōte (mas não no de esse: es/tō e es/tōte, nem no de
1. 2. 4. -tō -tōte ferre: fer/tō e fer/tōte).
3. -itō -itōte
CAPITVLVM TRICESIMVM QVARTVM

DE ARTE POETICA

Já avançamos tanto que podemos ler poesia latina. Neste capítulo


encontramos alguns poemas de Catulo (Catullus, c. 86-54 a.C.), Ovídio
(Ovidius, 43 a.C. - 17 d.C.), e Marcial (Mārtiālis, c. 40-104 d.C.). Na festa,
Cornelius começa citando um verso do Ars amātōria de Ovídio, o que leva
Iulius e Cornelius a citarem passagens de um livro de amor, Amōres, do
mesmo poeta. Iulius continua recitando em voz alta alguns poemas breves
de Catulo, e Cornelius declama uma seleção de epigramas ( epigrammata)
agudos e satíricos de Marcial.

Quando lermos pela primeira vez os poemas não devemos atentar-nos à


forma dos versos, mas sim concentrar-nos ao conteúdo deles. O principal
obstáculo para sua compreensão é a ordem livre das palavras, que muitas
vezes separa os grupos de palavras (os sintagmas). Aqui as desinências nos
mostrarão quais palavras devem estar unidas; em alguns casos, ordem livre de palavras
encontraremos na margem notas que nos ajudarão, p. ex. ut ipsae spectentur
(l. 57), nōbilium equōrum (l. 62), amor quem facis (l. 65), meae puellae dīxī
(l. 71); certas palavras complementares que estão implícitas nos são
apresentadas em itálico. Não obstante, o principal é imaginar-se na situação
e entender as ideias do poeta. Os comentários aos poemas feitos pelos
convivas nos ajudarão nisso.

Quando tivermos entendido o sentido e o conteúdo dos poemas, será então


o momento de estudar a estrutura dos versos (chamada de metro), que é
explicada na seção GRAMMATICA LATINA. Resumo das regras:

O aspecto mais importante na estrutura do verso latino é a duração ou quantidade silábica:


quantidade das sílabas. As sílabas terminadas em vogal breve (a, e, i, o, u, uma sílaba leve termina
y) são leves e devem ser pronunciadas mais rapidamente (1 tempo ou 1 numa vogal breve
mora) do que as sílabas pesadas (pronunciadas em 2 tempos ou 2 moras), uma sílaba pesada termina
isto é, sílabas terminadas em vogal longa (ā, ē, ī, ō, ū, ȳ), em ditongo (ae, em (1) uma vogal longa
(2) um ditongo
oe, au, eu), ou em consoante. Em outras palavras: uma sílaba é leve se
termina em vogal breve; todas as demais são pesadas. As sílabas longas são (3) uma consoante
indicadas com [―], e as breves, com [U].
qualquer sílaba que não
Para contar as sílabas (isto é, as sílabas poéticas), cada verso (lat. versus,
termine em vogal breve é
‘linha’) é considerado uma única palavra longa: pesada

(1) Uma consoante ao final da palavra é ligada à vogal (ou h-) pela qual símbolos:
começa a palavra seguinte. Portanto, numa palavra como satis, a sílaba leve: ―
sílaba pesada: U
última sílaba é breve se a palavra seguinte começa por vogal ou h-,
p. ex. satis est, em que o -s liga-se ao e- de est: sa-ti-s ͡ est, enquanto
a sílaba tis é longa em satis nōn est: sa-tis-nō-n ͡ est.
(2) Uma vogal (e também -am, -em, -im, -um) ao final de uma palavra é
apagada diante da vogal (ou h-) que começa a palavra seguinte, p.
ex. atque oculōs: atqu’oculōs; modo hūc: mod’hūc; passarem
abstulistis: passer’abstulistis (em est e es cai o e, p. ex. sōla est:
sōla’st; vērum est: vērum’st; bella es: bella’s). Isto se denomina
elisão elisão: a vogal é elidida (lat. ē-līdere, ‘expulsar’, ‘eliminar’).

Cada verso pode ser dividido num determinado número de pés (lat. pedēs),
pés:
troqueu: ―U compostos de duas ou três sílabas. Os pés mais comuns são: o troqueu (lat.
iambo: U ― trochaeus), constituído de uma sílaba longa e uma breve [―U]; o iambo ou
dátilo: ― U U jambo (lat. iambus), uma breve e uma longa [U ―]; e o dátilo (lat.
espondeu: ― ―
dactylus), uma sílaba longa e duas breves [―U U]. As duas sílabas breves
do dátilo são por vezes substituídas por uma longa, dando origem a um pé
de duas sílabas longas [― ―], que é chamado de espondeu (lat. spondēus).

O verso preferido dos poetas latinos é o hexâmetro, formado de seis pés;


hexâmetro destes, os cinco primeiros são dátilos ou espondeus (o quinto é quase
sempre um dátilo) e o sexto é um espondeu (ou troqueu):

―UU|―UU|―UU|―UU|―UU|―U

O hexâmetro por vezes se alterna com o pentâmetro, que pode ser dividido
pentâmetro em duas metades de 2½ pés, configurando-se cada uma como o começo de
um hexâmetro. Aqui, no entanto, não aparecerem espondeus na segunda
metade do pentâmetro:

― U U | ― U U | ― || ― U U | ― U U | ―

O pentâmetro nunca é o único tipo de verso de um poema; vem sempre


depois de um hexâmetro (no texto os pentâmetros aparecem como segundo
hexâmetro + pentâmetro = verso). Este par de versos, constituído de um hexâmetro e um pentâmetro,
dístico elegíaco
denomina-se dístico elegíaco, porque é empregado nas elegias, isto é,
poemas que expressam sentimentos pessoais, principalmente poemas de
amor.

Catulo frequentemente usa o hendecassílabo (lat. versus hendecasyllabus,


hendecassílabo ‘verso de onze sílabas’), formado por estas onze sílabas:

―― ―UU―U―U――

Este verso pode ser dividido em um espondeu, um dátilo, dois troqueus e


um espondeu ou troqueu. Ocasionalmente, a primeira sílaba é breve.

Quando um verso latino é pronunciado em voz alta, o ritmo é marcado com


a alternância regular de sílabas longas e sílabas breves. Duas sílabas breves
equivalem em duração a uma longa. Nos versos europeus modernos, o
ritmo é marcado pelo acento tônico. Por isso, os leitores modernos de
versos latinos tendem a colocar certa tonicidade da primeira sílaba de cada
pé. Isso pode ajudar-nos a fazer uma ideia do ritmo do verso, mas é bom
deixarmos claro que o acento tônico tem uma importância secundária no
verso latino, sendo a quantidade silábica o mais importante.

Os poetas romanos usam às vezes o plural (‘plural poético’) em vez do


singular, especialmente nas formas em -a dos neutros em -um, quando
precisam de sílabas breves, p. ex. mea colla (l. 75, em vez de meum plural poético
collum) e post fāta (l. 180, em vez de post fātum). Como outros autores, até
autores modernos, um poeta romano pode usar a 1ª pessoa do plural (nōs,
nōbīs, noster) para referir-se a si mesmo. Vemos tal uso quando Catulo
chama seu amigo de venuste noster (l. 152) e quando Marcial, no seu
epigrama sobre a reação do público aos seus livros, chama-os de libellōs
nostrōs, e fecha com as palavras nunc nōbīs carmina nostra placent (l. 163,
166).

Marcial, que escreve poemas in inimīcōs, fala, a respeito do poeta Cina, o


seguinte verso: Versiculōs in mē nārrātur scrībere Cinna (l. 172). Aqui, in +
acusativo tem um sentido ‘hostil’ (= contrā, cf. a frase impetum facere in in + ac. = contrā
hostēs). A forma passiva nārrātur, como dīcitur (cap. XIII, l. 52), combina-
se com o nom. + inf.: Cinna... scrībere nārrātur/dīcitur (‘conta-se/diz-se que
Cina escreve...’).
nom. + inf. + nārrātur
Além de imperāre e pārēre, encontramos já muitos outros verbos que regem
dativo: crēdere, nocēre, oboedīre, impendēre, servīre, (per)suādēre,
invidēre, parcere, appropinquāre, placēre, (cōn)fīdere, ignōscere, resistere, verbos + dativo
minārī, studēre, e vários outros compostos de esse: prōd-esse, prae-esse,
de-esse (‘faltar’) e ad-esse (‘estar presente’, ‘assistir a’). Neste capítulo,
encontramos outros exemplos favēre, nūbere e plaudere (l. 40, 126, 217),
além do verbo impessoal libet (l. 35), que, como licet, costuma combinar-
se com um dativo de interesse: mihi libet (l. 35, ‘agrada-me’, ‘quero’; cf.
mihi licet, ‘é-me permitido’, ‘posso’).

Um i duplo (ii, iī) tende a contrair-se num ī longo, como já vimos na forma
dī (< diī). Quando o h desaparece em mihi e nihil, obtemos as formas
contraídas mī e nīl (p. ex. l. 118 e 174). Encontramos também sapīstī por ī < ii/iī
mī < mihi
sapiistī (l. 190), forma esta que, por sua vez, é a contração de sapīvistī: o v
nīl < nihil
do tema de perfeito tende a desaparecer, de modo que īvisse se transforma perf. contraído
em -iisse/-īsse, -āvisse > -āsse (-āvistī > -āstī; cap. XXVIII, l. 106), nōvisse
> nōsse e nōverat > nōrat. Esta forma, o mais-que-perfeito de nōscere,
significa ‘conhecia’ (assim como o perfeito significa ‘conhece’), p. ex.
Ovidius... ingenium mulierum tam bene nōverat quam ipsae mulierēs (l.
55); suamque nōrat ipsam (: dominam) tam bene quam puella mātrem (l.
93).
CAPITVLVM TRICESIMVM QVINTVM

ARS GRAMMATICA

Agora que já abrimos o caminho de todas as declinações e conjugações da


língua latina, está na hora de fazer uma pausa e dar uma olhada geral no
sistema gramatical. Para dar ocasião de assim fazer, apresentamos, de
maneira resumida, uma gramática latina, Ars grammatica minor, escrita
pelo gramático romano Donato (Dōnātus, c. 350 d.C.). Este manual é
baseado nas obras dos antigos gramáticos e, organizado em forma de
perguntas e respostas, dá-nos uma ideia dos métodos de ensino usados na
antiguidade - e também muito depois, pois o ‘Donato’ foi um livro escolar
muito utilizado na Europa durante a Idade Média. Agora somos desafiados
a demonstrar que aprendemos o suficiente para responder às questões
gramaticais formuladas aos estudantes do império romano. Salvo as
omissões, marcadas com [...], o texto de Donato não sofreu alteração (só
nos exemplos da p. 303 substituíram-se algumas palavras pouco frequentes
por outras de uso comum).

Os termos gramaticais latinos seguem sendo usados. A exceção é a classe


gramatical (pars ōrātiōnis) que os gramáticos romanos chamavam de
nōmina, dividida agora em substantivos e adjetivos. O termo nōmen nōmina: substantivos e
adiectīvum data da antiguidade, mas o termo nōmen substantīvum foi adjetivos
criado apenas no período medieval. Com efeito, vários termos da gramática
latina são adjetivos ‘substantivados’, com um substantivo implícito, p. ex.
(cāsus) nōminātīvus, (numerus) plūrālis, (modus) imperātīvus, (gradus)
comparātīvus, (genus) fēminīnum. Genus é ‘gênero’ em português: Donato
distingue quatro gêneros, porque faz uso do termo genus commūne para os genus commūne
substantivos que podem ser tanto masculinos como femininos, p. ex.
sacredōs -ōtis, ‘sacerdote/sacerdotisa’ (outros são: cīvis, incola, īnfāns,
testis, bōs, canis).

O hexâmetro citado por Donato (l. 212) para ilustrar o emprego de super
com ablativo é retirado do final do primeiro livro da Eneida, o famoso
poema em que Virgílio (Vergilius) narra as aventuras do herói troiano
Eneias (Aenēās) após sua fuga de Troia (Trōia). Levado à África por uma
tempestade, é acolhido por a Rainho Dido (Dīdō), quem lhe pergunta a
respeito do destino dos outros troianos, o rei Príamo ( Priamus) e seu filho
Heitor (Hector).

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