Nanismo - Ergonomia

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Introdução

Esta pesquisa foi desenvolvida para a matéria de Ergonomia 3 do curso


Bacharelado de Design e busca analisar os postos de trabalho de pessoas com
nanismo.
Segundo estimativas, existem no Brasil cerca de 20.000 pessoas com algum
tipo de nanismo e, apesar de não ser um número grande se comparado com o
total da população do país, não justifica o fato de que raramente encontramos
elas nos espaços públicos.
O nanismo é um transtorno caracterizado por uma deficiência no crescimento,
resultando em pessoas com baixa estatura. Existem dois tipos de nanismo, o
pituitário e o desproporcional. Segundo a autora Maria Helena Varella, o
nanismo pituitário é causado por distúrbios metabólicos e hormonais; o
desenvolvimento de todos os órgãos é harmônico e mantém proporcionalidade
com a altura do indivíduo. Já o nanismo desproporcional impede o crescimento
normal dos ossos longos, isso faz com que as diferentes partes do corpo
cresçam de maneira desigual. Dentro desse segundo caso, o mais comum é a
acondroplasia, que será melhor abordada nessa pesquisa.
A acondroplasia é uma condição geneticamente determinada e apresenta
sinais desde o nascimento da pessoa, suas principais características são a
baixa estatura desproporcionada, encurtamento dos membros, tronco longo e
estreito e cabeça grande com face plana. A doença pode vir acompanhada
com diversos problemas de desenvolvimento que podem levar à morte cedo,
porém, quando não há esses problemas, os indivíduos com acondroplasia
possuem uma estimativa de vida praticamente igual ao da população em geral.
Essa condição afeta tanto homens quanto mulheres e na maioria dos casos
não prejudica a capacidade intelectual, permitindo que estes levem uma vida
normal. O grande problema é que essa população ainda enfrenta muita
discriminação e precisam viver em um ambiente que não se adapta para ajudá-
los em suas rotinas, causando muitas dificuldades. Tarefas simples se tornam
grandes desafios para eles.
Por esse motivo, essa pesquisa busca analisar os postos de trabalho onde as
pessoas com nanismo estão, apontando questões de ética e qualidade de vida,
assim como suas dificuldades e desafios.

Ética
A ética é um conjunto de valores e princípios que objetivam uma melhor
convivência em sociedade, ela está relacionada ao caráter de uma pessoa.
Empresas, instituições e outros ambientes profissionais possuem um código de
ética, um acordo que estabelece os direitos e deveres de uma empresa e seus
funcionários, que deve ser seguido em prol de um ambiente coletivo melhor.
Segundo a “Enciclopedia de Salud y Seguridad en el Trabajo”, os códigos e
diretrizes não têm força de lei, eles possuem o objetivo de orientar os
profissionais, coletivamente e individualmente, na relação com seus clientes,
colegas e colaboradores e a sociedade em geral. Os códigos também visam
melhorar a qualidade do trabalho profissional (SOSKOLNE, Colin L., pg 19.3).
Quando uma pessoa viola os artigos do Código de Ética, esta pode sofrer
ações disciplinares, então, empresas que buscam realmente instituir a inclusão
e respeito com pessoas deficientes, pode garanti-los incluindo artigos que
cuidem da integridade deles, tratando de respeito e solidariedade.
Legalmente, as pessoas com deficiência são garantidas pela Constituição
Federal de 1988 e pelas leis complementares (Lei 7.853/89), na qual no
primeiro parágrafo diz:
“§ 1º Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os
valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça
social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e
outros, indicados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais
de direito.”
Nessa Lei também está explícita a questão da reserva do mercado de trabalho
para as pessoas deficientes, assim como a integração social desse público,
que diz que todas as pessoas com deficiência terão os mesmos direitos
constitucionais de igualdade da pessoa humana.
Somado à essa Lei, a Convenção nº 159 da Organização Internacional do
Trabalho, realizada em 1983, determinou que todo País Membro deverá
considerar que a finalidade da reabilitação profissional é a de permitir que a
pessoa deficiente obtenha e conserve um emprego e progrida no mesmo, e
que se promova a integração ou a reintegração dessa pessoa na sociedade.
Enfim, há muitos documentos legais que estão a favor das pessoas deficientes,
porém a desigualdade e o preconceito ainda geram a exclusão social. Os
desafios da inserção no mercado de trabalho são vários e, apesar de ter muitas
empresas que hoje apresentam programas de inclusão, há muito o que
melhorar, principalmente na adaptação do posto de trabalho e capacitação das
pessoas ao redor para poder auxiliá-los.
Para essa pesquisa foi seguido os princípios éticos elaborados pelo Comitê de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos, ferramenta de grande importância
para o estabelecimento do respeito pela dignidade humana e pela proteção dos
participantes da pesquisa. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) foi elaborado para garantir ao participante todas as informações
necessárias sobre seus direitos durante a pesquisa, assim como os objetivos,
propostas e metodologia da mesma. O sigilo e a privacidade do participante
são garantidos por meio desse documento, muito importante para preservar
sua identidade.
Qualidade de Vida
Um bom local de trabalho deve oferecer aos seus trabalhadores um ambiente
na qual eles se sintam confortáveis, já que é onde passam grande parte de seu
dia. Como já é comprovado, o bem-estar do trabalhador influencia em seu
desempenho, por isso, a ergonomia se preocupa em estudar os postos de
trabalho e suas condições, para promover a seus usuários conforto, bem-estar
e satisfação.
Para realizar essa pesquisa foi utilizado a ferramenta do Grupo WHOQOL
(World Health Organization Quality of Life), o WHOQOL-Bref, um questionário
para avaliar a qualidade de vida de um participante.
O WHOQOL, em parceria da Organização Mundial da Saúde (OMS),
desenvolveu instrumentos para avaliar qualidade de vida através da
“percepção de um indivíduo sobre a sua posição na vida, dentro do contexto
dos sistemas de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL Group,
1994).
A primeira ferramenta de avaliação desenvolvida foi o WHOQOL-100, um
questionário composto por cem questões divididos em seis grandes domínios:
Físico, Psicológico, Nível de Independência, Relações Sociais, Ambiente e
Espiritualidade. Esses seis domínios são divididos novamente em 24 sub-
domínios, as facetas.
Tabela- Domínios e facetas do WHOQOL-100 
Domínio I - Domínio físico

 Dor e desconforto
 Energia e fadiga
 Sono e repouso

Domínio II - Domínio psicológico

 Sentimentos positivos
 Pensar, aprender, memória e concentração
 Auto-estima
 Imagem corporal e aparência
 Sentimentos negativos

Domínio III - Nível de Independência

 Mobilidade
 Atividades da vida cotidiana
 Dependência de medicação ou de tratamentos
 Capacacidade de trabalho

Domínio IV - Relações sociais


 Relações pessoais
 Suporte (Apoio) social
 Atividade sexual

Domínio V- Ambiente

 Segurança física e proteção


 Ambiente no lar
 Recursos financeiros
 Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
 Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
 Participação em, e oportunidades de recreação/lazer
 Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima)
 Transporte

Domínio VI- Aspectos espirituais/Religião/Crenças pessoais

 Espiritualidade/religião/crenças pessoais

(Retirado do site Qualidep, de propriedade da UFRGS)


A iniciativa de desenvolver essa ferramenta foi devido inúmeras razões. O
método utilizado para medir a qualidade de vida era muito básica, quase sem
nenhuma especificação, tradicionalmente a indicação de nível de saúde de um
país vem através de indicadores de mortalidade e natalidade. Esse meio
abrange somente um conceito simples sobre qualidade de vida, ele exclui as
características individuais ao considerar apenas números. Além desse motivo,
o fato de a maioria desses instrumentos de medição terem sido desenvolvidos
na América do Norte e no Reino Unido faz com que nem todos os aspectos da
medição sejam válidos e satisfatórios em outros países com outras culturas.
Por último, a evolução do conceito de saúde para um termo que representa
mais do que somente a ausência de doenças fez com que mais aspectos
pessoais começassem a ser considerados ao pensar em qualidade de vida,
define-se agora como uma pessoa saudável aquela que tem um bem-estar
físico, mental e social.
A partir do WHOQOL-100 foi desenvolvido o WHOQOL-Bref, uma versão
abreviada desse questionário, com 26 questões. O principal motivo foi que o
WHOQOL-100 era muito extenso e demorava para ser preenchido, por isso um
instrumento de menor duração foi desenvolvido. O WHOQOL-Bref manteve as
24 facetas que o original possui, a diferença é que em vez de quatro perguntas
para cada, foi reduzido para uma. Os domínios do WHOQOL-Bref são quatro:
Físico, Psicológico, Relações Sociais e Ambiente.
Tabela- Domínios e facetas do WHOQOL-Bref 
Domínio I - Domínio físico

 Dor e desconforto
 Energia e fadiga
 Sono e repouso
 Mobilidade
 Atividades da vida cotidiana
 Dependência de medicação ou de tratamentos
 Capacidade de trabalho 

Domínio II - Domínio psicológico

 Sentimentos positivos
 Pensar, aprender, memória e concentração
 Auto-estima
 Imagem corporal e aparência
 Sentimentos negativos
 Espiritualidade/religião/crenças pessoais 

Domínio III - Relações sociais

 Relações pessoais
 Suporte (Apoio) social
 Atividade sexual 

Domínio IV - Meio ambiente

 Segurança física e proteção


 Ambiente no lar
 Recursos financeiros
 Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
 Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
 Participação em, e oportunidades de recreação/lazer
 Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima)
 Transporte

(Retirado do site Qualidep, de propriedade da UFRGS)

Esse instrumento auxilia bastante para obter informações sobre a qualidade de


vida do participante, por isso foi o escolhido para ser aplicado. Ele será
aplicado com base em um casal curitibano com nanismo, através dos relatos e
experiências deles, compartilhado através do YouTube em seu canal “O Menor
Casal do Mundo”, da Katyucia Lie Hoshino e Paulo Gabriel da Silva Barros. Os
vídeos utilizados como referência é “PÓS FERIADO, É HORA DE FAXINAR A
CASA! | VLOG - DIA 03” e “SUPERAÇÃO LIMPANDO A CASA | VLOG”. O
contexto escolhido para analisar foi o da limpeza da casa deles, levando em
consideração que a profissão escolhida como base desse trabalho foi o de
faxineiro.
Em um primeiro momento, percebi que os equipamentos utilizados pela
Katyucia não foram adaptados para ela, são equipamentos desenvolvidos
levando em consideração a estatura média das pessoas, ou seja, ela não se
encaixa no público-alvo dos produtos, fazendo com que seu uso não seja o
mais eficiente possível. No primeiro vídeo há uma cena dela passando
aspirador de pó em sua casa, essa atividade provavelmente causa dor e
desconforto nela, considerando o peso do equipamento e o tamanho que não é
adaptado para ela. Como o cabo feito para segurar o aspirador é comprido, ela
acaba utilizando uma parte que não foi feita para segurar e,
consequentemente, nada ergonômico. O mesmo acontece ao utilizar uma
vassoura. No segundo vídeo ela mostra como ela lava roupa. Nessa tarefa ela
encontra três dificuldades: a falta de um tanque apropriado para a altura dela
faz com que ela esfregue suas roupas em cima de uma mesa pequena; os
produtos utilizados na lavagem são grandes e pesados, ela encontra
dificuldade para despejar o produto, tendo que utilizar toda a extensão do seu
braço para segurar um produto que não cabe em sua mão; a máquina de lavar
roupa é grande e ela não alcança a gaveta para dispensar o amaciante e o
sabão, por isso ela é obrigada a subir em um banquinho para realizar essa
atividade. Ao estender roupa ela também precisa encontrar um modo de se
adaptar para conseguir alcançar o varal, resolvido inclinando-o.
Analisando seu estilo de vida, eles encontram muitos empecilhos nas
atividades cotidianas que, por falta de adaptação, causam desconforto e faz
com que eles tenham que gastar bem mais energia. Porém, apesar das
dificuldades, o casal aparenta estar livre de negatividade, eles já conhecem a si
mesmos e se aceitam, aprenderam a viver do modo deles e possuem uma boa
auto-estima, eles passam uma imagem cheia de energia e sentimentos
positivos, o que ajuda eles a viverem melhor. A casa deles, estruturalmente, é
adaptada às suas necessidades, o problema se encontra principalmente nos
equipamentos que até então não foram desenvolvidos para esse público
específico.
Então, movidos pela necessidade de melhorar sua qualidade de vida, eles e
outras pessoas com nanismo são obrigados a se adaptarem a sistemas que
não são os mais adequados. Eles dão seu próprio jeito de achar uma maneira
melhor de realizar suas tarefas.

Trabalho Prescrito x Trabalho Real


O trabalho prescrito se refere à descrição oferecida pela Organização do
Trabalho, definindo regras e objetivos da profissão. Ele é o planejamento de
todas as competências e tarefas que um profissional de certa área deveria
fazer, é a definição escrita no contrato de trabalho, que contém normas
técnicas e de segurança, condições de trabalho, métodos e outros quesitos.
Em contraposição desse conceito, a atividade representa o trabalho real, ou
seja, tudo o que é efetivamente feito.
Como objeto de pesquisa foi escolhido a profissão de faxineiro. Para auxiliar,
consta aqui em baixo algumas descrições retiradas da Classificação Brasileira
de Ocupações (CBO), em relação à profissão:
5143 :: Trabalhadores nos serviços de manutenção de edificações
5143-20 – Faxineiro

Descrição Sumária
Executam serviços de manutenção elétrica, mecânica, hidráulica,
carpintaria e alvenaria, substituindo, trocando, limpando, reparando e
instalando peças, componentes e equipamentos. Conservam vidros e
fachadas, limpam recintos e acessórios e tratam de piscinas. Trabalham
seguindo normas de segurança, higiene, qualidade e proteção ao meio
ambiente.

Condições gerais de exercício


Trabalham em companhias e órgãos de limpeza pública, em
condomínios de edifícios, em empresas comerciais e industriais, como
assalariados e com carteira assinada; as atividades são realizadas em
recintos fechados ou a céu aberto. Trabalham individualmente ou em
equipe, com ou sem supervisão permanente. O horário de trabalho é
variado, ou em regime de rodízio de turnos. Algumas das atividades
podem ser exercidas em grandes alturas, ou em posições
desconfortáveis por longos períodos, com exposição a ruído intenso e a
poluição dos veículos.

Formação e experiência
Para o exercício das ocupações requer-se ensino fundamental completo
ou prática profissional no posto de trabalho. A(s) ocupação(ões)
elencada(s) nesta família ocupacional, demandam formação profissional
para efeitos do cálculo do número de aprendizes a serem contratados
pelos estabelecimentos, nos termos do artigo 429 da Consolidação das
Leis do Trabalho - CLT, exceto os casos previstos no art. 10 do decreto
5.598/2005.

Competências Pessoais
1 Demonstra resistência física
2 Demonstra paciência
3 Trabalhar em equipe
4 Demonstrar iniciativa
5 Demonstrar prudência
6 Demonstrar equilíbrio físico
7 Reconhecer limitações pessoais
8 Demonstrar capacidade de trabalhar em alturas
9 Contornar situações adversas
10 Demonstrar agilidade
11 Demonstrar controle emocional
12 Demonstrar destreza manual

Recursos de Trabalho
Peneira/ escova/ bucha/ pano
Cabo telescópico
Multímetro
* EPI
* Conjunto de aspiração
* Produtos químicos ( cloro)
* Kit limpa vidro (rodo, extensor, bucha)
* Balde
* Alicate/martelo/chave de fenda/chave inglesa
* Produtos de limpeza
* Vassoura
* Cadeirinha/balanço
*Corda/ escada
* Aspirador de pó/ enceradeira
* Kit de medição de ph

Na maioria dos casos o trabalho prescrito e o trabalho real diferem na prática,


sendo atribuído ao profissional mais ou menos tarefas. No relatório de
atividades de faxineiro disponibilizada pela CBO se encontram:
 Limpar vidros;
 Remover resíduos dos vidros;
 Limpar móveis e equipamentos;
 Limpar superfícies;
 Limpar recintos e acessórios;
 Aspirar pó;
 Lavar pisos;
 Encerar pisos;
 Remover sujeira;
 Varrer pisos;
 Secar pisos;
 Passar pano;
 Limpar cortinas e persianas;
 Recolher lixo.

Levando em conta a análise feita em cima dos vídeos do canal do YouTube “O


Menor Casal do Mundo”, é possível concluir que não há no mercado
equipamentos de limpeza adequados para pessoas com nanismo, o que faz
com que adaptações irregulares sejam realizadas para que o trabalhador
consiga realizar suas tarefas. Importante também é analisar a questão do
desconforto ao manusear equipamentos grandes, causados pela má postura e
peso. Em relação aos equipamentos de proteção, ao entrar em contato com
uma supervisora de higienização de um hospital, descobri que não se encontra
EPIs para pessoas com nanismo. Ao pedir para empresas confeccionarem
equipamentos adequados sob medida ela se deparou com a inviabilidade de
pedir altas quantidades, requisito exigido por eles. Por esses motivos, a
solução provisória foi a de remendar luvas, solução que sabemos não ser a
mais eficiente, mas que, infelizmente, é o que é possível fazer agora.
Outra provável dificuldade que eles encontram é ter que ter sempre por perto
um banquinho para que eles possam subir e alcançar lugares mais altos para
limpar.
Um conceito que deveria ser aplicado para melhorar a qualidade do ambiente
profissional dessas pessoas é a do trabalho decente, que, formalizado pela
Organização Internacional do Trabalho, diz:
“...o conceito de trabalho decente sintetiza a sua missão histórica de
promover oportunidades para que homens e mulheres obtenham um
trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade,
segurança e dignidade humanas, sendo considerado condição
fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades
sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento
sustentável.”

Esse conceito defende, então, a igualdade de oportunidades que o trabalho


deve oferecer, promovendo um crescimento econômico inclusivo e sustentável.

Caracterização do Sistema
O posto de trabalho analisado é o ambiente doméstico das pessoas com
nanismo, sendo assim, analisarei ele em três níveis do sistema com base nos
vídeos do casal Katyucia Lie Hoshino e Paulo Gabriel da Silva Barros, “O
Menor Casal do Mundo”, disponível no YouTube.
 Macro-Espaço: A casa deles é composto por dois quartos, um banheiro,
uma sala, uma cozinha, garagem e quintal. Maçanetas, pias e
interruptores são adaptados para a altura deles, porém os móveis
comprados não possuem essa opção, portanto eles mantêm diversos
banquinhos ao longo da casa para poderem ter uma melhor convivência
em seu ambiente.
Figura 1 - Planta da Casa

 Micro-Espaço: A casa deles é bem ocupada pelos móveis, não sobrando


muito espaço livre, com exceção da cozinha e, apesar deles possuírem
basicamente o mobiliário essencial, acaba ficando pouco espaço de
passagem. Os ambientes são bem iluminados e arejados. Abaixo deixo
uma planta de cada parte da casa:

Figura 2 - Sala Figura 3 – Quarto Visita Figura 4 - Banheiro

Figura 5 - Quarto Principal Figura 6 - Quintal


Figura 7 - Cozinha

 Detalhado: Analisando a interação do casal com o posto de trabalho, em


especial a Katyucia que limpa a casa, é possível perceber que, mesmo
adaptando alguns mobiliários para seu uso, é difícil e mais cansativo o
uso de equipamentos e objetos que são feitos em tamanho padrão. A
tarefa de limpar a casa se torna mais desafiadora por exigir maior
esforço, maior força ao lidar com vassouras e aspirador de pó por
exemplo. A mão dela, por ser menor, não consegue eficientemente
segurar o cabo da vassoura, por isso ela é obrigada a usar o braço para
pressionar a vassoura.

Caracterização das tarefas


Para levar adiante a análise do posto de trabalho, é importante fazer um
levantamento das tarefas e ver como elas vão ser inseridas no sistema.
Levando em conta a profissão escolhida de faxineiro, descreverei seus pontos
importantes nos tópicos abaixo, de acordo com as tarefas já especificadas
anteriormente.
Objetivo: Manter o ambiente limpo e organizado.
Operador: Pessoas com nanismo.
Características técnicas: Materiais de limpeza, produtos de limpeza, banco ou
escada. Fora isso, no caso mais doméstico, há o uso de lavadora de roupa,
secadora, ferro de passar, tanque para obtenção de água. Equipamentos de
segurança como máscara e luva também podem ser utilizados.
Aplicações: Esse posto de trabalho geralmente abrange o ambiente inteiro,
visto que se trata de faxina, porém é possível ter uma divisão de segmentos
(em ambientes maiores) designados para cada faxineiro.
Condições operacionais: O trabalho é essencialmente realizado em pé e exige
muito esforço físico, dores musculares ocorrem com frequência e,
consequentemente, um desconforto ao realizar as tarefas. Os trabalhadores,
por indicação, devem utilizar pelo menos luvas e máscara para evitar o contato
direto com poeira e produtos químicos de limpeza. Há riscos de acidente,
porém a taxa não é alta, um dos perigos é a queda quando se utiliza uma
escada ou banco para auxiliar, além disso, considerando pessoas com
nanismo é importante ressaltar que eles têm dificuldades para manejar
produtos de limpeza que vêm em grandes embalagens, por isso pode ocorrer
do produto cair. Também há a possibilidade de lesões por tarefas altamente
repetitivas.
Condições ambientais: o ambiente é muito variável, podendo ser uma casa
como um hospital, empresas, etc. Dificilmente o local será adaptado para esse
público que com certeza encontrará muitos obstáculos para poder realizar seu
trabalho.
Condições organizacionais: Para a profissão de faxineiro é possível ter grupos
de pessoas responsáveis por um ambiente ou ter uma pessoa só encarregada
de todo o local. Geralmente são pessoas com condições sociais menores. O
horário de trabalho e a remuneração podem variar, existem faxineiros que
trabalham e cobram por turno, recebendo no dia que trabalha, e existem outros
que recebem mensalmente.

Caracterização das atividades


As atividades são consideradas unidades menores das tarefas e são descritas
com maior detalhamento. Como não foi possível analisar uma pessoa com
nanismo em seu posto de trabalho pessoalmente, as imagens contidas aqui
foram retiradas do canal de Youtube “O Menor Casal do Mundo”. Separei três
atividades para poder discutir: varrer, passar aspirador de pó e colocar
amaciante na máquina de lavar.

Figura 8 - Atividades domésticas

Como já dito anteriormente, os objetos não são adaptados para ela, então ela
encontra dificuldade para manuseá-los e isso acaba afetando sua postura e
causando dores principalmente nas costas. Essas atividades exigem mais força
e mais esforço para serem realizadas e, o fato da mão dele ser menor faz com
que a pega não seja apropriada. São atividades frequentes para quem é
faxineiro. Na imagem dela colocando amaciante na tampinha dá para perceber
que a postura dela é totalmente incorreta, para poder despejar o líquido ela
precisa inclinar todo o corpo, assim como nas demais imagens, ela não
consegue manter uma postura correta e realizar a atividade ao mesmo tempo,
por falta da adaptação dos objetos às suas necessidades.

Protocolos de Verificação
Checklist de Duul e Weermeester
Para essa lista de verificação usarei as imagens apresentadas no último tópico
como base e algumas outras referências retiradas a partir do relato das
experiências da Katyucia.
1. Quanto aos processos e tarefas:
-As tarefas são pensadas ou executadas considerando as mudanças de
postura e alternância de atividade?
Não.

-Os equipamentos são adequáveis às tarefas?

Não.

-O projeto do layout da organização contempla as tarefas executadas e


pessoas do sistema?

Alguns elementos são adaptados, mas ainda falta muito para se tornar
um ambiente ideal.

2. Quanto ao posto de trabalho – fatores fisiológicos e antropométricos


-As inclinações e contorções do corpo são evitadas?
Não.
-O trabalho exige força?
Em muitas tarefas sim.
-Os esforços musculares levam à exaustão?
Sim.
-Há a possibilidade de variação das posturas?
A postura muitas vezes auxilia na utilização de um equipamento, então
são poucas possibilidades para variá-la.
-São consideradas as diferenças individuais de medidas do corpo e suas
características?
Na maioria das vezes não.
3. Quanto ao posto de trabalho – posturas
-As alturas e demais medidas para a realização do trabalho são
ajustáveis?
Alguns equipamentos possuem ajustes de altura, como o aspirador em
pó, mas ainda não é suficiente para esse público.
-As pegas e controles são adequáveis ao manejo?
Não.
-O levantamento de carga é realizado em condições adequadas?
Geralmente exige mais da coluna.
-O emprego de força para empurrar e puxar são adequadas?
Acredito que tenham que ter maior auxílio do corpo para realizar essas
ações.

Através dessa lista de verificação é possível perceber que ainda faltam muitos
ajustes para melhorar o posto de trabalho dos faxineiros que possuem
nanismo, aliás, para os postos de trabalho da maioria desse público. Dá para
perceber que muitas vezes eles não têm opção para uma melhoria na postura,
na execução da tarefa, eles precisar resolver do jeito deles, o que nem sempre
é saudável e pode trazer prejuízos mais tarde.

Sistema OWAS
OWAS é a sigla para Ovako Working Posture Analysing System, ele é um
método desenvolvido por uma empresa denominada Ovako Oy e pelo Instituto
Finlandês de Saúde Ocupacional, e serve para analisar as posturas em um
ambiente de trabalho. Ele possui um sistema de códigos que engloba a
postura, a carga e a força utilizada, São 72 posturas que resultaram de
diferentes combinações das posições do dorso, braços e pernas. Para
classificar a postura foi elaborado uma avaliação de 1 a 4 que a categoriza em:
 Classe 1 – Postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos
excepcionais.
 Classe 2 – Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão
rotineira dos métodos de trabalho
 Classe 3 – Postura que deve merecer atenção a curto prazo
 Classe 4 – Postura que deve merecer atenção imediata
Figura 9 - Método OWAS

Para a análise da ação de varrer:

Costas Braços Pernas Força Classe


2 1 4 1 3

Para a análise da ação de passar aspirador de pó:

Costas Braços Pernas Força Classe


2 1 4 1 3

Para a análise da ação de despejar o amaciante:

Costas Braços Pernas Força Classe


2 1 1 1 2

Acredito que a gravidade da ação e despejar o amaciante é maior do que as


outras duas, o que vai contra a análise feita acima, a tabela provavelmente não
leva em consideração as pessoas que possuem alguma deficiência, então isso
tem que ser ressaltado para que haja uma análise mais profunda que
considere, de fato, tudo o que pode ser afetado ou prejudicado.
Ainda não há um estudo específico para o registro postural de pessoas com
nanismo em relação à seus postos de trabalho e, devido à falta de um
entrevistado, não há registros fotográficos da realização das suas atividades
domésticas.

Parecer Ergonômico
O parecer ergonômico ou análise ergonômica do trabalho trata-se de uma parte
do projeto que avalia os riscos ergonômicos, trazendo possíveis consequências
de cada problema e sugestões de como pode ser melhorado. Ele indica os
passos seguintes para a diagnose ergonômica.
Nessa tabela incluem-se:
 Os requisitos do sistema;
 Os constrangimentos que a tarefa pode causar;
 Os custos humanos do trabalho, ou seja, as consequências dos
constrangimentos;
 As disfunções do sistema, que são os efeitos na produtividade do
trabalho;
 As sugestões preliminares de melhoria;
 As restrições, que engloba tudo que impede o problema de ser
solucionado.

Problema Requisitos Constrangimentos da


tarefa

Falta de adaptabilidade Eles devem ser Dificulta a realização da


dos materiais de realizados através de tarefa, causa dores
limpeza medidas adequadas musculares, muitas
para o público que tem vezes exige má postura
nanismo e ataca a autoestima

Custos humanos do Sugestões Restrições do sistema


trabalho preliminares de
melhoria

Pode prejudicar o Diminuir o tamanho dos Falta de pesquisa e falta


usuário objetos e substituir de interesse em investir
materiais que podem em um público que é
deixá-los pesado minoria

Considerações finais

É possível concluir que o posto de trabalho das pessoas com nanismo não
favorece eles, há falta de estudos e pesquisas sobre esse público e, devido aos
diferentes tipos de nanismo e estrutura corporal, torna ainda mais difícil chegar
a uma padronização de medidas e soluções eficientes. Cada pessoa tem uma
especificidade e provavelmente os equipamentos deveriam ser personalizados
à ela, podendo ou não ser utilizados com eficiência por outro usuário com
nanismo. Produtos personalizados deixam o custo maior e muitas empresas
ainda não possuem a mentalidade de mudar esse cenário. Outro problema é
que a maioria das fábricas se recusa a produzir um único produto em vez de
ser em larga escala.

Então ainda falta muito incentivo para que o posto de trabalho e os ambientes
se tornem mais fáceis, e isso só vai acontecer mobilizando cada vez mais
pessoas sobre essa deficiência e dando maior visibilidade à essas pessoas.

Referências:
CANAVARRO, Cristina et al. Qualidade de vida e saúde: Aplicações do
WHOQOL.
ENCICLOPEDIA DE SALUD Y SEGURIDAD EN EL TRABAJO, 1998. Cap.
19. Disponível em
<http://www.insht.es/InshtWeb/Contenidos/Documentacion/TextosOnline/
EnciclopediaOIT/tomo1/19.pdf>
DUL, J., WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. Tradução de Itiro Iida. 2.
ed. São Paulo. Edgard Blücher, 2004.
IIDA, Itiro. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher LTDA,
2002.
O Menor Casal do Mundo. Disponível em <
https://www.youtube.com/user/katyucialie>
Organização Internacional do Trabalho. Trabalho Decente. Disponível em
<https://www.ilo.org/brasilia/temas/trabalho-decente/lang--pt/index.htm>
Qualidep. Projeto WHOQOL-100. Disponível em <
https://www.ufrgs.br/qualidep/qualidade-de-vida/projeto-whoqol-100>
Qualidep. Projeto WHOQOL-Bref. Disponível em <
https://www.ufrgs.br/qualidep/qualidade-de-vida/projeto-whoqol-bref>
VARELLA, Maria Helena. Nanismo. Disponível em
<https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/nanismo/ >

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