CGEE Lei Info Vol2-Contribuicoes
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CGEE Lei Info Vol2-Contribuicoes
Contribuições ao
aprimoramento da
política para o setor
de TIC no Brasil
Volume 2
O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) edita publicações sobre diversas temáticas
que impactam a agenda do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI).
As edições são alinhadas à missão institucional do Centro de subsidiar os processos de
tomada de decisão em temas relacionados à ciência, tecnologia e inovação, por meio de
estudos em prospecção e avaliação estratégica baseados em ampla articulação com
especialistas e instituições do SNCTI.
As publicações trazem resultados de alguns dos principais trabalhos desenvolvidos pelo
Centro, dentro de abordagens como produção de alimentos, formação de recursos humanos,
sustentabilidade e energia. Todas estão disponíveis gratuitamente para download.
A instituição também produz, semestralmente, a revista Parcerias Estratégicas, que apresenta
contribuições de atores do SNCTI para o fortalecimento da área no País.
Você está recebendo uma dessas publicações, mas pode ter acesso a todo o acervo do
Centro pelo nosso site: http://www.cgee.org.br.
Boa leitura!
Lei de Informática:
resultados, desafios e oportunidades
para o setor de TIC no Brasil
Contribuições ao
aprimoramento da
política para o setor
de TIC no Brasil
Volume 2
Brasília – DF
2020
© Centro de Gestão e Estudos Ministério da Ciência, Tecnologia
Estratégicos (CGEE) e Inovações (MCTI)
Organização social supervisionada pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), SCS, Qd 9, Lote C, Torre C, 4º andar, Salas 401 a 405, Ed. Parque Cidade
Corporate, CEP 70.308-200, Brasília-DF, Tel.: (61) 3424 9600, http://www.cgee.org.br, @cgee_oficial.
Todos os direitos reservados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os textos contidos nesta publicação
poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos, desde que citada a fonte.
Referência bibliográfica:
CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS – CGEE. Lei de Informática: resultados, desafios e
oportunidades para o setor de TIC no Brasil. Volume 2. Contribuições ao aprimoramento da política
para o setor de TIC no Brasil. Brasília, DF: CGEE, 2020. 238 p.
Esta publicação é parte integrante das atividades desenvolvidas pelo CGEE no âmbito do 2º Contrato de Gestão firmado com o
MCTI.
Supervisão
Regina Maria Silverio
Coordenação
Mayra Juruá G. Oliveira
Equipe do MCTI
Hamilton José Mendes da Silva
Diogo Borges
Rubens Caetano Barbosa de Souza
Scheyla Vasconcelos
Apresentação11
Capítulo 1
1.1. Introdução 15
1.2. Caracterização das dimensões do mercado 15
1.3. Estrutura empresarial e emprego 21
1.4. Desempenho produtivo 29
1.5. Esforços inovativos e apoio governamental: evidências de informações
da Pintec 41
1.6. Desempenho do comércio exterior 54
1.7. Conclusões 62
1.8. Referências 63
Capítulo 2
2.1. Introdução 67
2.2. Viabilidade técnica e econômica na cadeia de valor eletrônica 68
2.3. Viabilidade técnica e econômica das atividades locais
de P&D e design69
2.4. Viabilidade da fabricação local de insumos e componentes 71
2.5. Fabricação de bens intermediários 74
2.6. Fabricação dos bens finais de informática 74
2.7. Equipamentos e serviços de telecomunicações 77
2.8. Novos modelos de negócios 78
2.9. Considerações finais 81
2.10. Referências 82
Capítulo 3
3.1. Introdução 87
3.2. Mapa da cadeia global de valor de eletrônicos 89
3.3. Evolução do mercado internacional 96
3.4. O futuro da cadeia global de valor das TICs 105
3.5. Considerações finais 107
3.6. Referências 108
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 7
Na oportunidade, foram convidados representantes dos diversos atores alcançados pela política de
incentivos à PD&I que se desenvolve com respaldo na Lei de Informática (BRASIL, 1991), para que
compartilhassem junto a um público mais amplo resultados e casos de sucesso decorrentes das
interações, universidade/indústria e institutos de PD&I/indústria, que se têm fortalecido no País, no
campo das TICs e da inovação digital e no contexto do citado marco legal.
Nesse sentido, estiveram presentes representantes de empresas que se destacam nas atividades de
manufatura nacional de bens de TIC; representantes de empresas desenvolvedoras de tecnologia
acional; representantes de institutos de PD&I; e representantes de instituições de ensino.
Dessa maneira, tornou-se à época questão de primeira ordem assegurar condições que contribuiriam
tanto para preservar o legado e resultados já alcançados, quanto para criar perspectivas de avanços
sobre a base industrial e tecnológica construída no setor de TIC, com fulcro na Lei de Informática -
especialmente, caso fossem mantidos os mecanismos legais para que a indústria continuasse a contar
com estímulos para apoiar a estruturação do ecossistema de inovação digital no País, além de manter
o esforço de construção de competências tecnológicas internas; manter (e ampliar) sua interação
com a academia; e também investir no fortalecimento da capacidade de atração de investimentos e
geração local de inovações em parcerias com os institutos de PD&I nacionais.
Ademais, ciente da relevância, qualidade e riqueza das discussões que o evento viabilizou, o MCTI não
poupou esforços para garantir um registro das apresentações e de artigos que foram disponibilizados
por alguns dos palestrantes. Busca-se compartilhar esses registros com a comunidade por meio da
publicação dos presentes Anais.
A Sempi espera que, no novo ambiente jurídico que emergiu a partir da sanção da Lei nº 13.969/2019
(BRASIL,2019b), sejam viabilizados recursos privados para apoio, tanto ao empreendedorismo de
base tecnológica no setor de TIC, quanto para o financiamento de projetos de PD&I de caráter
estruturante, e de interesse coletivo, especialmente no tocante à capacitação de recursos humanos,
criando condições para que o setor avance para evoluir rumo à base produtiva existente, elevando-a
a um novo patamar para estar preparada para atender às demandas e aos desafios do século XXI,
especialmente as ensejadas pelos paradigmas da inovação digital que tem sua adoção acelerada pelo
surgimento das chamadas Tecnologias 4.0 e suas aplicações como aquelas relacionadas à Internet
das Coisas [Internet of Things (IoT)] e à 4ª Revolução Industrial.
Acreditamos que muito há ainda de ser buscado, como uma robusta reforma estrutural, para que
o País disponha de uma indústria com condições de competir no mercado externo e contribuir
para que a sociedade brasileira se beneficie em toda a plenitude dos resultados que países líderes
têm colhido à medida que a economia cada vez mais possui em seu cerne o uso intensivo das TICs.
Contudo postulamos que a base para que se alcance esses novos objetivos está sendo construída.
Paulo Alvim
Secretário de Empreendedorismo e Inovação do MCTI
12
Capítulo 1 | O setor de
tecnologias de informação:
um panorama a partir de
fontes secundárias
14
1. O setor de tecnologias de informação: um
panorama a partir de fontes secundárias
Jorge Britto1
1.1. Introdução
Este capítulo procura sistematizar um conjunto de informações extraídas de fontes secundárias que
apontam para transformações em curso no setor de tecnologias de informação que refletem aspectos
relevantes, como a mudança no balanço entre atividades industriais e de serviços na conformação
da estrutura desse setor. Visando ilustrar essas transformações, os seguintes aspectos são discutidos,
em sequência, nas próximas seções: 1) dimensões do mercado do setor; 2) caracterização da
estrutura empresarial e emprego; 3) desempenho produtivo do setor; 4) esforços inovativos e apoio
governamental; 5) desempenho do comércio exterior. Como tendências gerais, essas informações
apontam para o fortalecimento dos serviços comparativamente às atividades industriais (inclusive
em termos do comércio externo), para um ajuste produtivo importante, apesar das restrições dos
investimentos, e para alguns avanços no sentido da intensificação dos esforços inovativos, apesar da
aparente redução da importância do apoio governamental nessa direção.
16
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
50,8% do mercado de TI. Além disso, verifica-se que US$ 10,7 bilhões vieram do mercado de software
e US$ 12,86 bilhões do mercado de serviços, e a soma desses dois segmentos representou 49,2% do
mercado total de TI (Gráfico 5), consolidando a tendência de passagem do País para o grupo de
economias que privilegiam o desenvolvimento de soluções e sistemas. Os resultados estão em linha
com a expectativa de melhora do mercado e indicam maior grau de maturidade nos investimentos
em tecnologia, com a ampliação da participação dos investimentos em software e serviços nos totais
de TI, que ficaram acima da grande maioria dos demais setores da economia e do próprio PIB do País.
Segundo a mesma avaliação, as exportações atingiam 2,3% do mercado total em 2018, dos quais 51%
equivaliam a exportações de serviços, 31% a exportações de hardware e 18% a exportações de software.
Mercado doméstico
Software Serviços Hardware Subtotal TI Telecom Total TIC
2010 5.400 11.900 19.800 37.100 80.600 117.700
2011 6.177 13.306 23.010 42.493 94.960 137.453
2012 9.485 15.449 35.300 60.234 109.000 169.234
2013 10.736 14.405 36.472 61.613 100.986 162.599
2014 11.215 13.967 34.841 60.023 98.027 158.050
2015 12.337 14.300 33.653 60.023 93.715 153.738
18
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Em reais
Em dólares
Em reais
Em dólares
Fonte: Abinee.
20
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Ind. de
36.529 39.118 39.560 38.611 39.131 36.082 33.834 33.349 33.034
transformação
Informática 262 255 255 248 217 199 187 182 175
Dados
básicos
Telecom 91 88 85 83 79 77 69 66 67
Divisão 26 Cnae 672 685 698 697 653 610 550 527 521
Ind. de
100,0 107,1 108,3 105,7 107,1 98,8 92,6 91,3 90,4
transformação
Número- Informática 100,0 97,3 97,3 94,7 82,8 76,0 71,4 69,5 66,8
-índice
2010=100) Telecom 100,0 96,7 93,4 91,2 86,8 84,6 75,8 72,5 73,6
Divisão 26 Cnae 100,0 101,9 103,9 103,7 97,2 90,8 81,8 78,4 77,5
Total de
4.164 4.392 5.019 5.321 5.508 5.653 5.697 5.808
serviços de TIC
Dados
Telecomunicações 451 480 628 694 762 911 1.024 1.179
básicos
Tec. da
1.998 2.174 2.539 2.693 2.850 2.969 2.999 3.079
informação
Total de
100,0 105,5 120,5 127,8 132,3 135,8 136,8 139,5
serviços de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 106,4 139,2 153,9 169,0 202,0 227,1 261,4
(2010=100)
Tec. da
100,0 108,8 127,1 134,8 142,6 148,6 150,1 154,1
informação
22
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Diversas fontes podem também ser utilizadas para avaliar o comportamento recente do emprego nos
diversos segmentos do setor de TIC. Nesse sentido, é possível considerar, inicialmente, informações
extraídas da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério da Economia (MTe), relativas
ao período 2003-2019. O Gráfico, 2 elaborado com base em informações da Abinee, indica que o
emprego do setor eletroeletrônico cresce consideravelmente entre dezembro de 2003 e dezembro
de 2013, evoluindo de 196.642 postos de trabalho para 308.612 postos de trabalho, equivalendo a um
crescimento de 56,9%, acompanhado por uma queda para 232.167 postos de trabalho em dezembro
de 2018, equivalendo a uma queda de 24,8% em relação a dezembro de 2013. Outra informação
levantada pela Abinee contempla a evolução do saldo líquido de admissões no setor eletroeletrônico
(acumulado em 12 meses) entre abril de 2004 e setembro de 2019 (Gráfico 3), podendo-se observar
uma queda pronunciada em 2009, acompanhada por uma queda pronunciada entre 2010 e 2016 e
uma recuperação relativa entre 2016 e 2018, com predominância de saldos positivos entre 2018 e 2019.
330.000
310.000
290.000
270.000
250.000
230.000
210.000
190.000
170.000
150.000
abr/11
set/11
mai/03
out/03
jan/05
jun/05
nov/05
mai/13
out/13
jan/15
jun/15
nov/15
mai/08
out/08
fev/12
jul/12
dez/12
mai/18
out/18
fev/07
jul/07
dez/07
mar/09
ago/09
fev/17
jul/17
dez/17
mar/19
ago/19
abr/06
set/06
jan/10
jun/10
nov/10
abr/16
set/16
mar/04
ago/04
mar/14
ago/14
24
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Telecom 193.993 6,7 mil 206.218 12,2 mil 216.276 10,1 mil 295.611
272.136 287.859
(10,2 (15,7 mil) (7,8 mil)
Implantação 78.143 3,5 mil 81.641 3,5 mil 79.335 2,3 mil
mil)
Informações extraídas da PIA e PAS relativas ao período 2010-2018 também podem ser consideradas
para avaliar a evolução do emprego nas atividades de TIC vinculadas a indústria e serviços, conforme
ilustrado na Tabela 4. No caso das atividades de base industrial, os empregos vinculados ao segmento
de informática atingiam 34.366, enquanto o segmento de equipamentos de Telecom atingia 33.784
postos de trabalho. Entre 2010 e 2018, verifica-se queda expressiva de aproximadamente 43,5% ao
longo do período para o segmento de Informática; enquanto, no segmento de equipamentos de
telecomunicação, há crescimento de 25,1%. Já no caso de atividades de serviços, os empregos em 2017
vinculados ao segmento de telecomunicações atingiam 163.932; enquanto o segmento de tecnologias
da informação atingia 399.126 postos de trabalho. Entre 2010 e 2017, observa-se crescimento de 14,4%
ao longo do período para o segmento de serviços de telecomunicações; enquanto, no segmento de
serviços de tecnologias da informação, verifica-se um crescimento de 48,1%.
Informações extraídas da PIA e PAS relativas ao período 2010-2018 também permitem avaliar a
evolução da massa salarial anual e do salário médio anual por empregado (em valores de dólares),
conforme ilustrado nas Tabela 5 e 6. No caso das atividades de base industrial, a massa salarial
anual vinculados ao segmento de informática atingiam US$512 milhões, enquanto o segmento de
equipamentos de Telecom atingia US$ 520 milhões. Entre 2010 e 2018, há queda expressiva desse
valor de aproximadamente 50,0% ao longo do período para o segmento de informática, enquanto,
no segmento de equipamentos de telecomunicação, observa-se queda de 31,3%. Já no caso de
atividades de serviços, a massa salarial anual em 2017 vinculada ao segmento de telecomunicações
atingia US$ 5.094 milhões, enquanto o segmento de tecnologias da informação atingia US$ 15.161
milhões. Entre 2010 e 2017, verifica-se queda de 11,2% ao longo do período para o segmento de
26
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Ind. de
14,89 17,17 16,01 15,87 15,89 12,28 12,47 14,05 12,55
transformação
Dados Informática 16,85 19,79 17,81 16,12 16,13 14,17 15,23 16,83 14,91
básicos
Telecom 27,62 29,32 25,02 22,39 21,14 15,88 15,24 17,20 15,40
Divisão 26 Cnae 19,01 21,16 19,64 18,56 18,19 15,14 15,14 16,56 14,87
Ind. de
100,0 115,3 107,5 106,6 106,7 82,5 83,8 94,3 84,3
transformação
Número-
Informática 100,0 117,4 105,7 95,7 95,7 84,1 90,4 99,9 88,5
-índice
(2010=100) Telecom 100,0 106,1 90,6 81,1 76,5 57,5 55,2 62,3 55,7
Divisão 26 Cnae 100,0 111,3 103,3 97,6 95,7 79,6 79,6 87,1 78,2
Total de
31,17 34,00 29,42 28,08 27,06 21,38 22,27 25,56
serviços de TIC
Dados
Telecomunicações 36,40 36,40 34,48 33,20 31,91 23,97 23,77 25,00
básicos
Tec. da
32,37 35,59 28,82 27,49 27,18 22,12 23,54 27,36
informação
Total de
100,0 109,1 94,4 90,1 86,8 68,6 71,5 82,0
serviços de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 100,0 94,7 91,2 87,7 65,8 65,3 68,7
(2010=100)
Tec. da
100,0 110,0 89,0 84,9 84,0 68,4 72,7 84,5
informação
28
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
110,0
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
Jan/13
Mar/13
Mai/13
Jul/13
Set/13
Nov/13
Jan/15
Mar/15
Mai/15
Jul/15
Set/15
Nov/15
Jan/12
Mar/12
Mai/12
Jul/12
Set/12
Nov/12
Jan/18
Mar/18
Mai/18
Jul/18
Set/18
Nov/18
Jan/17
Mar/17
Mai/17
Jul/17
Set/17
Nov/17
Jan/19
Mar/19
Mai/19
Jul/19
Set/19
Nov/19
Jan/16
Mar/16
Mai/16
Jul/16
Set/16
Nov/16
Jan/20
Mar/20
Mai/20
Jan/14
Mar/14
Mai/14
Jul/14
Set/14
Nov/14
Gráfico 5 - Evolução de índice de produção física – indústria geral, indústria de transformação e indústria
eletroeletrônica (base 2012 = 100)
Fonte: IBGE–PIM-PF.
140,0
120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
Jan/12
Abr/12
Jul/12
Out/12
Jan/13
Abr/13
Jul/13
Out/13
Jan/14
Abr/14
Jul/14
Out/14
Jan/15
Abr/15
Jul/15
Out/15
Jan/16
Abr/16
Jul/16
Out/16
Jan/17
Abr/17
Jul/17
Out/17
Jan/18
Abr/18
Jul/18
Out/18
Jan/19
Abr/19
Jul/19
Out/19
Jan/20
Abr/20
26.1 - Fabricação de 26.2 - Fabricação de equipamentos 26.3 - Fabricação de
componentes eletrônicos de informática e periféricos equipamentos de comunicação
Entre as informações extraídas da PIA e PAS relativas ao período 2010-2018, a Tabela 7 apresenta
informações relativas à evolução da receita total (no caso da indústria) ou da receita operacional (no
caso de serviços), para as diversas atividades consideradas, convertidas ao valor do dólar médio do
ano. No caso das atividades de base industrial, a receita líquida de vendas vinculada ao segmento de
informática atingiam US$ 8.091 milhões, enquanto o segmento de equipamentos de Telecom atingia
US$ 12.693 milhões. Entre 2010 e 2018, observa-se queda expressiva desse valor de aproximadamente
37,7% ao longo do período para o segmento de informática; enquanto, no segmento de equipamentos
de telecomunicação, verifica-se aumento expressivo, de 66,7%. Já no caso de atividades de serviços, a
receita operacional líquida em 2017 vinculada ao segmento de telecomunicações atingia US$ 50.555
milhões, enquanto o segmento de tecnologias da informação atingia US$ 38.330 milhões. Entre 2010 e
2017, observa-se queda de 32,1% ao longo do período para o segmento de serviços de telecomunicações,
enquanto, no segmento de serviços de tecnologias da informação, verifica-se crescimento de 22,3%.
30
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Dados Informática 12.997 13.098 13.405 12.793 12.652 9.076 5.625 7.345 8.091
básicos
Telecom 7.614 9.218 10.690 12.420 12.551 8.698 10.394 12.654 12.693
Divisão 26 Cnae 35.443 40.027 37.927 39.837 37.986 25.339 22.545 28.115 28.264
Ind. de
100,0 118,4 111,0 110,4 106,8 75,7 72,4 83,7 83,5
transformação
Número-
Informática 100,0 100,8 103,1 98,4 97,3 69,8 43,3 56,5 62,3
-índice
(2010=100) Telecom 100,0 121,1 140,4 163,1 164,8 114,2 136,5 166,2 166,7
Divisão 26 Cnae 100,0 112,9 107,0 112,4 107,2 71,5 63,6 79,3 79,7
Total de serviços
100,0 116,2 110,9 107,3 103,3 73,6 71,4 80,8
de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 115,0 109,7 102,7 96,0 65,4 62,4 67,9
(2010=100)
Tec. da
100,0 121,8 120,6 124,9 125,7 98,3 99,6 122,3
informação
Entre as informações extraídas da PIA e PAS relativas ao período 2010-2018, a Tabela 8 apresenta
informações relativas à evolução do valor bruto da produção industrial, para as diversas atividades
consideradas, convertidos ao valor do dólar médio do ano. No caso das atividades de base industrial,
o valor bruto da produção industrial vinculado ao segmento de informática atingia US$ 7.151 milhões,
enquanto o segmento de equipamentos de Telecom atingia US$ 12.400 milhões. Entre 2010 e 2018,
verifica-se queda expressiva desse valor de aproximadamente 36,5% ao longo do período para o
segmento de informática, enquanto, no segmento de equipamentos de telecomunicação, há aumento
Divisão 26 Cnae 32.050 35.332 34.072 35.900 34.128 22.913 19.791 25.972 26.272
Ind. de
100,0 116,6 107,9 108,1 103,3 73,0 70,2 81,2 81,9
transformação
Número-
Informática 100,0 102,1 104,2 101,9 102,8 72,8 42,0 57,1 63,5
-índice
(2010=100) Telecom 100,0 113,0 146,4 163,7 172,7 119,7 142,3 185,1 186,8
Divisão 26 Cnae 100,0 110,2 106,3 112,0 106,5 71,5 61,8 81,0 82,0
Total de serviços
100,0 116,7 110,5 106,6 101,6 73,3 71,7 81,7
de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 115,7 109,6 101,8 94,1 65,2 62,8 69,6
(2010=100)
Tec. da
100,0 122,4 118,8 124,5 123,2 97,5 99,8 122,2
informação
32
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Visando captar aspectos relacionados ao ajuste produtivo experimentado pelas atividades industriais
do setor de TIC, a Tabela 9 apresenta informações sobre a evolução do consumo intermediário,
para as diversas atividades consideradas, convertidos ao valor do dólar médio do ano. No caso
das atividades de base industrial, o consumo intermediário vinculado ao segmento de informática
atingia US$ 6.722 milhões, enquanto o segmento de equipamentos de Telecom atingia US$ 11.295
milhões. Entre 2010 e 2018, verifica-se queda expressiva desse valor de aproximadamente 32,1%
ao longo do período para o segmento de informática; enquanto, no segmento de equipamentos
de telecomunicação, observa-se aumento expressivo, de 101,8%. Já no caso de atividades de
serviços, o consumo intermediário vinculado ao segmento de telecomunicações em 2017 atingia
US$ 27.157 milhões; enquanto, no segmento de tecnologias da informação, atingia US$ 13.642
milhões. Entre 2010 e 2017, há queda de 33,0% ao longo do período para o segmento de serviços
de telecomunicações, enquanto, no segmento de serviços de tecnologias da informação, verifica-
se crescimento de 26,2%.
Ind. de
700.839 818.380 771.307 775.743 753.544 547.389 515.349 600.725 604.213
transformação
Dados Informática 9.899 10.151 10.239 10.176 10.629 7.258 3.996 5.450 6.722
básicos
Telecom 5.598 6.754 8.256 9.099 9.786 6.808 8.351 10.783 11.295
Divisão 26 Cnae 26.878 30.001 28.998 30.581 29.490 19.630 16.613 21.738 23.169
Ind. de
100,0 116,8 110,1 110,7 107,5 78,1 73,5 85,7 86,2
transformação
Número- Informática 100,0 102,5 103,4 102,8 107,4 73,3 40,4 55,1 67,9
-índice
(2010=100)
Telecom 100,0 120,6 147,5 162,5 174,8 121,6 149,2 192,6 201,8
Divisão 26 Cnae 100,0 111,6 107,9 113,8 109,7 73,0 61,8 80,9 86,2
Total de
66.323 78.053 72.915 71.329 67.555 48.182 46.698 51.243
serviços de TIC
Dados
Telecomunicações 40.505 48.828 44.944 43.035 39.476 26.770 25.366 27.157
básicos
Tec. da
10.808 12.952 13.130 13.721 13.800 11.209 11.242 13.642
informação
Total de
100,0 117,7 109,9 107,5 101,9 72,6 70,4 77,3
serviços de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 120,5 111,0 106,2 97,5 66,1 62,6 67,0
(2010=100)
Tec. da
100,0 119,8 121,5 127,0 127,7 103,7 104,0 126,2
informação
Entre as informações extraídas da PIA e da PAS relativas ao período 2007-2016, a Tabela 10 apresenta
informações relativas ao valor adicionado por atividade, para as diversas atividades consideradas,
convertidos ao valor do dólar médio do ano. No caso das atividades de base industrial, o valor
adicionado vinculado ao segmento de informática atingia US$ 835 milhões, enquanto o segmento de
equipamentos de Telecom atingia US$ 1.219 milhão. Entre 2010 e 2018, verifica-se queda expressiva desse
valor de aproximadamente 66,3% ao longo do período para o segmento de informática; enquanto, no
segmento de equipamentos de telecomunicação, verifica-se queda menos expressiva, de 17,8%. Já no
caso de atividades de serviços, o adicionado vinculado ao segmento de telecomunicações em 2017
atingia US$ 24.068 milhões, enquanto, no segmento de tecnologias da informação, chegava a US$
24.361 milhões. Entre 2010 e 2017, observa-se queda de 28,3% ao longo do período para o segmento
de serviços de telecomunicações; enquanto, no segmento de serviços de tecnologias da informação,
verifica-se crescimento de 20,1%.
34
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Ind. de
310.084 365.825 324.611 321.473 297.873 199.992 200.633 229.708 225.952
transformação
Dados Informática 2.282 2.429 2.509 2.333 1.691 1.548 1.168 1.466 835
básicos
Telecom 1.465 1.713 2.169 2.632 2.417 1.618 1.493 1.704 1.219
Divisão 26 Cnae 7.045 8.183 7.631 8.040 6.702 4.801 4.472 5.434 4.032
Ind. de
100,0 118,0 104,7 103,7 96,1 64,5 64,7 74,1 72,9
transformação
Número- Informática 100,0 106,4 109,9 102,2 74,1 67,8 51,2 64,2 36,6
-índice
(2010=100)
Telecom 100,0 116,9 148,1 179,7 165,0 110,5 102,0 116,3 83,2
Divisão 26 Cnae 100,0 116,1 108,3 114,1 95,1 68,2 63,5 77,1 57,2
Total de serviços
66.224 76.652 73.576 69.952 67.058 49.013 48.283 57.089
de TIC
Dados
Telecomunicações 33.103 36.363 35.751 31.879 29.757 21.249 20.844 24.068
básicos
Tec. da
20.281 25.096 23.811 24.972 24.507 19.111 19.769 24.361
informação
Total de serviços
100,0 115,7 111,1 105,6 101,3 74,0 72,9 86,2
de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 109,8 108,0 96,3 89,9 64,2 63,0 72,7
(2010=100)
Tec. da
100,0 123,7 117,4 123,1 120,8 94,2 97,5 120,1
informação
Ind. de
69,02 78,05 68,84 67,51 64,50 49,21 50,06 59,27 58,52
transformação
Dados Informática 48,16 51,53 49,90 43,46 47,08 35,89 45,74 53,45 51,05
básicos
Telecom 85,43 88,81 109,51 125,30 110,38 92,78 79,93 103,06 89,58
Divisão 26 Cnae 69,30 72,46 67,04 69,90 68,50 53,69 59,61 71,50 65,34
Ind. de
100,0 113,1 99,7 97,8 93,5 71,3 72,5 85,9 84,8
transformação
Número- Informática 100,0 107,0 103,6 90,2 97,8 74,5 95,0 111,0 106,0
-índice
(2010=100)
Telecom 100,0 104,0 128,2 146,7 129,2 108,6 93,6 120,6 104,9
Divisão 26 Cnae 100,0 104,6 96,7 100,9 98,8 77,5 86,0 103,2 94,3
36
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Total de serviços
81,63 86,13 78,17 67,90 63,00 47,07 48,02 57,87
de TIC
Dados
Telecomunicações 210,08 190,13 182,23 157,75 147,46 108,98 108,13 118,11
básicos
Tec. da
50,64 57,48 49,65 44,63 41,67 32,95 34,79 43,96
informação
Total de serviços
100,0 105,5 95,8 83,2 77,2 57,7 58,8 70,9
de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 90,5 86,7 75,1 70,2 51,9 51,5 56,2
(2010=100)
Tec. da
100,0 113,5 98,0 88,1 82,3 65,1 68,7 86,8
informação
Com base nas informações da PIA e PAS, é possível avaliar também como evolui o investimento –
captado pela aquisição de ativos fixos – entre as atividades no setor de TIC. Nesse sentido, a Tabela
12 apresentam informações relativas à evolução dos investimentos em dólares médios para período
2010-2018 para o conjunto das atividades do setor de TIC, integrando informações da PIA e da PAS.
Com base nas informações apresentadas, percebe-se que, no caso das atividades de base industrial,
o investimento vinculado ao segmento de informática atingia US$150 milhões, enquanto o segmento
de equipamentos de Telecom atingia US$134 milhões. Entre 2010 e 2018, há queda expressiva desse
valor de aproximadamente 29,1% ao longo do período para o segmento de informática, enquanto,
no segmento de equipamentos de telecomunicação, observa-se queda menos expressiva, de 17,6%.
Já no caso de atividades de serviços, o investimento vinculado ao segmento de telecomunicações em
2017 atingia US$ 8.658 milhões, enquanto, no segmento de tecnologias da informação, atingia US$
1.518 milhão. Entre 2010 e 2017, verifica-se queda de 21,2% ao longo do período para o segmento de
serviços de telecomunicações, enquanto, no segmento de serviços de tecnologias da informação,
verifica-se crescimento de 91,5%.
Ind. de
75.441 90.868 96.324 94.221 89.752 54.958 49.528 50.579 55.301
transformação
Dados Informática 246 275 335 190 314 106 108 138 150
básicos
Telecom 162 235 244 174 196 116 110 125 134
Divisão 26 Cnae 728 1.084 1.006 721 749 418 415 528 509
Ind. de
100,0 120,4 127,7 124,9 119,0 72,8 65,7 67,0 73,3
transformação
Número- Informática 100,0 111,5 135,9 77,3 127,3 42,9 43,8 56,1 60,9
-índice
(2010=100)
Telecom 100,0 144,8 150,5 107,4 120,9 71,8 67,8 77,1 82,4
Divisão 26 Cnae 100,0 148,8 138,1 99,0 102,8 57,4 57,0 72,5 69,9
Total de serviços
13.310 15.183 16.222 15.899 19.196 11.313 9.626 10.657
de TIC
Dados
básicos Telecomunicações 10.993 12.671 13.874 13.301 16.104 9.424 7.807 8.658
Tec. da informação 793 854 1.282 1.461 1.653 1.243 1.260 1.518
Total de serviços
100,0 114,1 121,9 119,5 144,2 85,0 72,3 80,1
de TIC
Número-
-índice Telecomunicações 100,0 115,3 126,2 121,0 146,5 85,7 71,0 78,8
(2010=100)
Tec. da informação 100,0 107,7 161,7 184,2 208,5 156,7 159,0 191,5
38
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
para o período 1999-2018, conforme ilustrado pelo Gráfico 7. As informações apresentadas indicam
que o investimento, após atingir um pico de R$4,9 bilhões em 2008, começa a cair, com pequenas
recuperações em 2011 e 2013, até atingir R$2,3 bilhões em 2016, com pequena recuperação entre
2017-2018. Em termos da relação entre investimento e faturamento, a tendência de queda é bastante
nítida, evoluindo-se de um valor de 4,0% em 2008 para 1,8% em 2018.
R$ milhões
6.000 4,5%
4,0%
5.000 4.877
3,5%
4.000 3,0%
2,5%
3.000 2.694
2,0%
2.000 1,5%
1.243
1,0%
1.000
0,5%
0 0,0%
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
(R$ milhões) (porcentagem sobre o faturamento)
Outro aspecto a ser considerado refere-se à evolução comparada dos índices de preços na fabricação
de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, comparada à evolução geral de preços
da indústria de transformação, conforme ilustrado pelo Gráfico 8. Em função da incorporação mais
intensa de inovações redutoras de custos na fabricação de equipamentos de informática, produtos
eletrônicos e ópticos, observa-se uma redução pronunciada de seus preços, principalmente entre
2010 e 2012. Essa redução tem continuidade, porém em ritmo menos acelerado entre 2012 e 2018, a
partir de quando se observa tendência de aumento. Esse movimento contrasta fortemente com o
140,00
130,00
120,00
110,00
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
março 2011
junho 2011
setembro 2011
dezembro 2011
março 2013
junho 2013
setembro 2013
dezembro 2013
março 2015
junho 2015
setembro 2015
dezembro 2015
março 2012
junho 2012
setembro 2012
dezembro 2012
março 2018
junho 2018
setembro 2018
dezembro 2018
dezembro 2009
março 2017
junho 2017
setembro 2017
dezembro 2017
março 2019
junho 2019
setembro 2019
dezembro 2019
março 2010
junho 2010
setembro 2010
dezembro 2010
março 2016
junho 2016
setembro 2016
dezembro 2016
março 2020
março 2014
junho 2014
setembro 2014
dezembro 2014
40
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
agosto 2011
fevereiro 2012
agosto 2012
fevereiro 2013
agosto 2013
fevereiro 2014
agosto 2014
fevereiro 2015
agosto 2015
fevereiro 2016
agosto 2016
fevereiro 2017
agosto 2017
fevereiro 2018
agosto 2018
fevereiro 2019
agosto 2019
fevereiro 2020
dezembro 2010
fevereiro 2011
junho 2011
outubro 2011
junho 2012
outubro 2012
junho 2013
outubro 2013
junho 2014
outubro 2014
junho 2015
outubro 2015
abril 2012
abril 2013
abril 2014
abril 2015
abril 2016
junho 2016
outubro 2016
junho 2017
outubro 2017
junho 2018
outubro 2018
junho 2019
outubro 2019
abril 2017
abril 2018
abril 2019
abril 2020
dezembro 2011
dezembro 2012
dezembro 2013
dezembro 2014
dezembro 2015
dezembro 2016
dezembro 2017
dezembro 2018
dezembro 2019
abril 2011
-5,0
-10,0
-15,0
-20,0
42
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
receita, no caso dos setores de serviços de TIC, este evolui de 1,62% em 2011 para 2,15% em 2017
(contra uma evolução de 1,82% para 2,40% para o conjunto dos serviços contemplados na Pintec),
correspondendo a um crescimento absoluto dos gastos em P&D de 133,7% (contra uma queda de
68,0% para o conjunto dos serviços contemplados na Pintec).
Alguns indicadores específicos podem ser considerados. Com relação ao tamanho médio em
termos do número de empregados, observa-se, no caso de setores industriais de TIC, uma evolução
de 107,9 empregados em 2011 para 96,1 empregados em 2017, equivalendo a uma queda de 10,9%,
enquanto, no caso dos serviços de TIC, observa-se uma evolução de 70,7 empregados em 2011 para
68,4 empregados em 2017, equivalendo a uma queda de 3,2%. Em termos de pessoal médio em
P&D, verifica-se, no caso de setores industriais de TIC, uma evolução de 17,6 empregados em 2011
para 13,7 empregados em 2017, equivalendo a uma queda de 21,8%, enquanto, no caso dos serviços
de TIC, há uma evolução de 11,5 empregados em 2011 para 17,7 empregados em 2017, equivalendo
a um aumento de 54,4%. Por fim, no caso da participação do pessoal em P&D, observa-se, no caso
de setores industriais, uma evolução de 5,0% do total de empregados em 2011 para 4,4% do total
empregados em 2017, equivalendo a uma queda de 11,6%, enquanto, no caso dos serviços de TIC,
verifica-se uma evolução de 4,0% do total de empregados em 2011 para 4,4% do total de empregados
em 2017, equivalendo a um aumento de 11,0%.
44
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Nº de empresas
Atividades Aquisição
Taxa de
internas externa
Total Inovadoras inovação
de P&D de P&D
(%)
(%) (%)
2011
Total 128.699 36.506 28,4 20,4 6,6
2014
Total 132.529 38.835 29,3 19,7 6,5
2017
Total 116.962 33.380 28,5 22,3 7,2
46
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Atividades Aquisição
Total de Gastos
internas de externa de
receita Inovação
P&D (%) P&D (%)
2011
Total 2.535.017 2,56 0,79 0,17
2014
Total 3.210.686 2,54 0,77 0,28
2017-
Total 3.449.166 1,95 0,74 0,20
48
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Empresas Empresas
Empresas Pessoal total
inovadoras com P&D
2011
2014
2017
Informática, produtos
-19,0 -27,8 -25,9 -18,4
eletrônicos e ópticos (%)
50
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
2011
Total 45.950 34,2 2,7 1,6
2014
Total 47.693 39,9 3,5 1,3
2017
Total 39.329 26,2 4,7 1,3
Variação 2011-2017
Total (%) -14,4 -34,4 52,7 -32,8
52
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
54
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
US$ milhões
20000
15000
10000
5000
0
2001
2011
2003
2005
2013
2015
1998
2002
2008
2012
2018
1997
1999
2007
2009
2017
2019
2000
2006
2010
2016
2004
2014
-5000
-10000
-15000
Exportações Importações Saldo
Especificamente, no caso das exportações, a Tabela 18 apresenta a distribuição das mesmas repartidas
entre aparelhos transmissores e receptores; computadores e acessórios; circuitos integrados e
microconjuntos eletrônicos para o período 1997-2019. É possível constatar a tendência de queda da
participação nos aparelhos transmissores e receptores a partir de 2006 até 2018, acompanhada pelo
crescimento da participação de computadores e acessórios, num primeiro momento, e do grupo
de circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos, no período mais recente, conforme ilustrado
pelo Gráfico 11.
Exportações
Fonte: Mdic/Secex.
Nota: *total geral resultante do somatório de indústria de transformação, indústria extrativa, outros produtos e agropecuária.
56
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
Importações Saldo
Máquinas Máquinas
Equipamentos de
para escritório para escritório
telecomunicações
e máquinas Indústria de Total e máquinas Indústria de Total
e de gravação de Subtotal
automáticas de Transformação geral automáticas de transformação geral
som e aparelhos
processamento processamento
de reprodução
de dados de dados
1.984 4.967 51.931 59.485 -2.391 -1.624 -4.015 -9.098 -6.537
Fonte: Mdic/Secex.
58
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
US$ milhões
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2001
2011
2003
2005
2013
2015
2002
2012
1997
1998
1999
2007
2008
2009
2017
2018
2019
2000
2010
2006
2016
2004
2014
Circuitos integrados e Aparelhos transmissores
Computadores e acessorios
microconjuntos eletronicos e receptores
Uma tendência relativa ao comércio exterior que parece ter sido favorecida no período recente refere-se
ao crescimento das exportações de serviços de TIC. Visando ilustrar essa tendência, foram consideradas
estatísticas relativas às exportações de serviços disponibilizadas pela Secex para o período 2015-2018,
selecionando-se serviços vinculados à TIC. A Tabela 19 apresenta a evolução das exportações, importações e
saldo geral de serviços e dos serviços TICs, bem como o número de empresas importadoras e exportadoras
de serviços TICs e as exportações e importações médias dessas empresas. Percebe-se o crescimento das
exportações de serviços TICs, que se elevam de US$ 1.857 milhão em 2015 para US$ 4.659 milhões em
2018, evoluindo de 9,8% para 15,9% do total das exportações de serviços. No mesmo período, o número
de empresas exportadoras de serviços de TIC elevou-se de 1.655 para 1.911, enquanto as exportações
médias por empresa elevam-se de US$ 1.12 milhão para US$2.44 milhões. Já no caso das importações
Fonte: Mdic/Secex.
60
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
US$ milhões
5.000 8,00
4.500
7,00
4.000
6,00
3.500
5,00
3.000
2.500 4,00
2.000
3,00
1.500
2,00
1.000
1,00
500
1.7. Conclusões
As informações coletadas de fontes secundárias corroboram a caracterização de tendências mencionadas
em outros capítulos da publicação. O fortalecimento da servitização do setor de tecnologias de
informação é perceptível quando se consideram informações sobre a evolução do mercado, o
desempenho produtivo comparado nos segmentos industriais e de serviços e o desempenho do
comércio exterior, particularmente das exportações. O desempenho do segmento de Informática em
termos de aspectos, como valor da produção e valor adicionado, foi relativamente decepcionante ao
longo do período considerado, principalmente quando se compara com o do segmento de serviços
de informação. Apesar do movimento relativamente medíocre dos investimentos no setor, percebe-
se claramente maior dinamismo do segmento de serviços de informação, comparativamente ao
segmento industrial de informática também nesse aspecto. A intensidade dos esforços inovativos
apresenta-se mais elevada nos segmentos do setor de tecnologias de informação compassivamente
à média geral da indústria e dos serviços contemplados na Pintec, mas também, nesse aspecto, a
evolução do segmento de serviço de informação apresenta-se mais dinâmica. A importância do
62
Capítulo 1 - O setor de tecnologias de informação: um panorama a partir de fontes secundárias
apoio governamental, de maneira geral, medido pelo número de empresas beneficiadas, parece
ter se reduzido no período contemplado na análise (2011-2017) apesar do aumento de empresas
beneficiadas pela Lei de Informática, particularmente no caso do segmento industrial do setor de
tecnologias de informação.
1.8. Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE Software (ABES). Mercado Brasileiro de Software:
panorama e tendências. São Paulo: 2019. Disponível em: http://central.abessoftware.com.br/Content/
UploadedFiles/Arquivos/Dados%202011/ABES-EstudoMercadoBrasileirodeSoftware-2019-Parcial-Ingles-
Abr-2019.pdf.
2.1. Introdução
A chamada revolução microeletrônica vem ocorrendo desde a década de 1970, a partir do surgimento
dos microprocessadores, que tornaram a informática mais produtiva e acessível. Mas foi somente neste
século, após a ampla difusão da internet e de inovações associadas, que seu potencial de revolucionar
a economia e a sociedade realmente deflagrou. Este turning point reflete-se tanto na estrutura da
indústria quanto nos modelos de negócios que se tornam mais horizontais e colaborativos a cada dia.
No Brasil, desde 2013, observa-se um progressivo declínio tanto da produção de hardware quanto
da participação dos produtos montados no Brasil em relação ao mercado total. As importações
de equipamentos eletroeletrônicos que, em 2012, atendiam a 21,6% do mercado brasileiro subiram
para 26,7% em 2017. Entretanto, observa-se que empresas dinâmicas vêm se afirmando nas áreas de
software e serviços, principalmente aquelas orientadas para pequenas e médias empresas e setores
dinâmicos da economia brasileira, como sistemas de gestão, ponto de venda (POS), automação
comercial, soluções fiscais, e-commerce, mobilidade, meios de pagamento e plataforma de colaboração.
Este artigo – elaborado como parte do projeto Estudo sobre a Cadeia de Valor dos Bens de TIC no
Âmbito da Lei de Informática, entre o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – discute a viabilidade técnico-econômica da indústria brasileira
de TIC nos diferentes segmentos da cadeia produtiva, tendo em vista a evolução da indústria e o
panorama internacional. Tomando por base a cadeia global de valor descrita no primeiro artigo deste
volume, discutimos as oportunidades e as limitações das empresas brasileiras na cadeia produtiva
global, bem como as tendências para o futuro diante do processo atual de revolução nas tecnologias
e nos modelos de negócios.
2 Professor titular aposentado, mas ainda colaborador do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e
Desenvolvimento (PPED) do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ).
De modo geral, as fases iniciais da cadeia de valor – P&D, insumos e componentes – são mais complexas
e intensivas em tecnologia, e a produção local é limitada a nichos de menor complexidade. Tais atividades
apresentam altas taxas de inovação e exigem elevados investimentos em P&D e equipamentos.
Poucas empresas globais têm sucesso na produção completa de microprocessadores e displays, pois
barreiras dinâmicas são erigidas, a cada ano, por meio do lançamento de novos componentes com
melhores características de desempenho e preços declinantes. As escalas de produção necessárias
para viabilizar tais investimentos são muito grandes, e sua produção está hoje concentrada na Coreia
do Sul, em Taiwan e na China.
Já as etapas finais da cadeia de valor – montagem e testes – são relativamente mais fáceis de realizar.
As empresas produtoras de bens de TIC de alto volume no Brasil geralmente atuam apenas nessa etapa,
cumprindo o processo produtivo básico (PPB) estabelecido pela Lei de Informática (BRASIL, 1991).
Isso inclui a montagem de computadores, smartphones, bens eletrônicos de consumo (TV, som e
vídeo) e eletrônica embarcada nos setores automotivo, médico, aeroespacial e defesa. A montagem
de equipamentos eletrônicos já vem sendo feita há várias décadas no Brasil e existem poucas barreiras
técnicas consideradas insuperáveis. Quanto mais uma empresa cresce, mais inovadora ela será, pois
investirá continuamente em novas tecnologias de processo e produto.
68
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
As empresas que atuam no Brasil geralmente alinham seus investimentos internos em P&D com a
estratégia global de suas matrizes ou seus parceiros tecnológicos. Assim, as atividades de P&D e design
realizadas pelas empresas que recebem os incentivos da Lei de Informática não necessariamente se
referem ao projeto dos produtos. Embora haja capacitação local em várias áreas de design de chips,
módulos e bens finais, a maioria dos produtos montados no País é desenvolvida no exterior para o
mercado global. As atividades locais de P&D estão relacionadas a processos, adaptações de produtos
ao mercado local, treinamento e produção de software.
Não é intenção da política de informática do governo direcionar as atividades inovativas, nem seria
factível fazê-lo, logo, muitas empresas cujos projetos de engenharia são feitos no exterior optam por
Parte dos investimentos obrigatórios em P&D deve ser realizada fora da empresa, e laboratórios
independentes no Brasil prestam serviços de projeto, desenvolvimento e testes de produtos e
serviços de TIC.
No campo do projeto de chips, design houses (DHs) independentes buscam desenvolver novas
aplicações aproveitando a onda de inovação desencadeada pela Internet das Coisas (IoT). Elas projetam
dispositivos, soluções de circuitos e sistemas eletrônicos para diferenciar produtos e otimizar processos.
O fornecimento independente de módulos de propriedade intelectual (IP), software embarcado,
projetos de chips e outros serviços tecnológicos especializados abrem oportunidades para startups que
estejam inseridas em determinada cadeia de valor e contem com pessoal qualificado. O investimento
financeiro necessário para estabelecer uma DH é relativamente pequeno, concentrado em licenças
de software, treinamento e estações de trabalho. Bampi (2017) estima que a montagem de uma DH
custe entre US$1 e 5 milhões.
70
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
O Brasil realizou diversos esforços para desenvolver uma indústria local de componentes, contando,
inclusive, com um programa específico de incentivos ao desenvolvimento da microeletrônica, o
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays
(Padis). A produção local concentra-se na etapa de encapsulamento e testes ou em nichos específicos
de mercado. Empresas brasileiras enfrentam muitas dificuldades para crescer, por causa do relativo
declínio da indústria de eletrônica (bens de TIC e outros eletrônicos) no Brasil, que chegou a representar
2,3% da produção mundial do setor em 2005, mas caiu para apenas 1,2% em 2016, segundo dados da
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O baixo dinamismo da indústria de
transformação brasileira, combinado com a baixa taxa de inovação localmente agregada, reflete-se
em baixa demanda para os segmentos de design e de produção de componentes eletrônicos no Brasil.
As empresas que fazem a fabricação de wafers, fundição ou difusão de chips (foundries) são classificadas
em três diferentes níveis, dependendo da escala de produção e do nível de complexidade de seus
produtos (BAMPI, 2017).
O nível 3, por sua vez, é constituído de grandes fábricas que produzem microprocessadores e
memórias. Trata-se de um segmento muito complexo cujas plantas requerem investimentos da
ordem de US$ 1 a 2 bilhões.
Com relação ao segmento da cadeia produtiva designado back-end, existem quatro empresas
atuando no encapsulamento de chips de memória para módulos de computadores e celulares. Essas
empresas atendem às montadoras de bens finais no Brasil e são beneficiadas pelos PPBs que exigem a
incorporação, naqueles bens específicos (como computadores e celulares) de um percentual mínimo
de conteúdo local.
A fundição de chips (foundries), por sua vez, é o segmento que apresenta significativas barreiras à
entrada. Fábricas de chips requerem elevados investimentos em ativos fixos, contínua renovação
tecnológica e alta capacitação técnica. O mercado de fundição de chips é altamente competitivo,
principalmente entre produtores da Coreia, de Taiwan e da China. No Brasil, algumas tentativas de
implantar foundries tiveram muitas dificuldades de acesso ao mercado, porquanto a atividade de
design de produtos é pouco realizada na indústria brasileira.
2.4.2 Displays
72
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
líquido) e, mais recentemente, OLED (organic light-emitting diodes – polímeros orgânicos emissores
de luz). Segundo a Lei de Haitz (WIKIPÉDIA, 2020),3 a cada década, o custo do lúmen (unidade de
luz útil emitida) cai 10 vezes, enquanto o montante de luz gerada por dispositivos LED aumenta 20
vezes, dentro de determinado padrão de cores. Assim como ocorre em semicondutores, tal evolução
deve-se a inovações radicais e incrementais em processos e linhas de produção dedicadas a novas
gerações de displays.
As três grandes áreas de aplicação de displays são os chamados 3Cs – computadores, consumo e
comunicações. Outros mercados menores incluem o mercado automotivo e as diversas aplicações
em máquinas, equipamentos e artigos de consumo, e o de equipamentos médicos, de defesa, etc. Tais
mercados vêm alternando sua importância relativa como polo dinâmico da indústria. Atualmente, o
segmento que mais vem crescendo é o de dispositivos móveis, principalmente os smartphones, que
já superaram os televisores como principal mercado para displays.
Sob o aspecto tecnológico, há dúvidas sobre as rotas tecnológicas que dominarão a indústria, como
a velocidade e a abrangência da difusão do OLED e o seu potencial de substituir o LCD. O desafio
para o atual paradigma tecnológico do cristal líquido reside nos polímeros orgânicos emissores de
luz, uma inovação compartilhada com as tecnologias de iluminação. O OLED vem ganhando novas
aplicações, especialmente em nichos de mercado que requerem flexibilidade do material, mas
ainda se depara com problemas tecnológicos que necessitam de grandes investimentos em P&D.
As tecnologias de telas orgânicas vêm evoluindo rapidamente, mas o LCD também não deixou de
avançar tecnologicamente. Observa-se que a Samsung, líder no mercado de LCD, está também na
vanguarda do desenvolvimento tecnológico do OLED, fato que pode indicar que a transição tecnológica
poderá ser administrada de forma a maximizar os investimentos realizados nas duas tecnologias.
A fabricação de displays no Brasil foi praticamente descontinuada com a obsolescência dos tubos
(CRT). A fabricação de LCD no Brasil limita-se ao back-end (montagem final) que é relativamente
mais simples e menos complexa que o front-end. Além dos instrumentos já disponíveis para o setor
de TIC, a exemplo da Lei de Informática, o governo mantém regras do PPB para incluir as telas de
LCD, visando a incentivar as empresas montadoras a produzir no País. Várias empresas chegaram a
apresentar projetos à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), mostrando interesse
eventual em produzir TFT-LCD (thin film transistor liquid crystal display) no Brasil. Entretanto nada há
de concreto até o momento. Há nichos de mercado de pequenos visores em máquinas e dispositivos
feitos no Brasil.
3 Formulada pelo cientista Roland Haitz em analogia à Lei de Moore, estabelecida para semicondutores.
A Portaria Interministerial MDIC/MCTIC nº 44, de 28 de setembro de 2018 (BRASIL, 2018), que altera
o PPB de netbook, notebook e ultrabook, por exemplo, dispensa temporariamente da montagem local
as unidades de disco óptico, teclado, LCD, dispositivo apontador sensível ao toque (touch pad, touch
screen), câmera de vídeo, leitores de cartões, leitores biométricos, microfones e alto-falantes, bateria,
subconjunto ventilador com dissipador, subconjuntos de gabinete e base plástica e sensor de impacto.
Portanto, as oportunidades para incorporar módulos de fabricação local estão sendo reduzidas
pela tendência de utilizarem micromecanismos e subsistemas especialmente projetados para cada
equipamento. A fabricação local de módulos de memória, baterias e displays para notebooks e celulares
está cada vez mais difícil do ponto de vista tecnológico e econômico. De outra forma, é possível
vislumbrar novas oportunidades em novos produtos e sistemas integrados.
74
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
A atividade de integração final de bens de informática é feita no Brasil desde a década de 1980, tendo
as principais empresas absorvido tecnologias avançadas de montagem, testes e gestão da produção.
A fabricação de celulares, desktops e notebooks é uma atividade essencialmente integradora de
componentes e interfaces padronizadas. Empresas de hardware tipicamente apresentam elevado
grau de subcontratação, refletindo a necessidade de incorporar serviços e tecnologias de terceiros
e trabalhar em redes. Plataformas integradas de hardware, software e serviços comportam regras
técnicas e processos operacionais que transcendem o âmbito da empresa individual. Na área de
alta tecnologia, a desverticalização tende a ser maior do que nos setores tradicionais por causa
da complexidade do produto e do grande número de componentes especializados que tornam a
verticalização um processo difícil.
A fabricação por contrato é o modelo de produção dominante nesse segmento. Decorre do cenário
de que as empresas que operam globalmente e em ambientes institucionais favoráveis conseguem
maior sucesso ao produzir em grande escala e estar inseridas em cadeias produtivas globais.
A produção e integração de módulos são frequentemente terceirizadas, exigindo-se do fornecedor o
cumprimento do PPB. Algumas empresas multinacionais com atuação recente no mercado brasileiro
optam por terceirizar todo o processo produtivo para empresas locais, reduzindo assim a necessidade
de investimentos e acelerando a obtenção de incentivos fiscais.
Os incentivos fiscais oferecidos pela nova Lei de Informática representam subsídio modal da ordem
de 12%, por meio de redução de impostos administrados pela Receita Federal. As alíquotas dos
impostos de importação de bens de informática e telecomunicações são variadas, atingindo, no
máximo, 16%. Essa faixa de proteção viabiliza a produção local, visando a compensar os maiores
custos da produção no País.
A linha de montagem dos computadores segue esquema modular. Placa-mãe, memória, disco
rígido são separados em kits, encaixados no gabinete e levados para testes e instalação do sistema
operacional. A montagem de notebooks constitui um processo um pouco mais complexo, uma
vez que o aparelho é mais compacto, tem partes móveis (dobradiças) e já sai da linha de produção
pronto e embalado. Em geral, as fábricas trabalham na forma de just in time, em que só é fabricado
o efetivamente vendido, atendendo a especificações de clientes e revendedores. O processo de
fabricação de smartphones em fábricas se dá basicamente na mesma ordem. Embora o projeto
elétrico não seja particularmente complexo, sua fabricação requer técnicas sofisticadas, por causa
das altas taxas de transmissão de dados, que podem interferir eletromagneticamente entre si, em
função da elevada densidade das trilhas.
76
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
O avanço das tecnologias digitais vem transformando as estruturas do mercado. Observa-se uma
migração para plataformas de rede inteiramente digitais, baseadas em IP (Internet Protocol) e comutação
de pacotes. Como consequência, datacenters e processamento de dados serão mais importantes na
infraestrutura de rede do que os equipamentos físicos, e grande parte do processo de comutação
poderá ser transferido para a nuvem.
Novas arquiteturas de rede definidas por software [Software-Defined Networking (SDN)] e tecnologias
de virtualização de rede [Network Functions Virtualization (NFV)] prometem se consolidar como
padrão, deslocando o controle da rede da borda (roteadores e switches) para o centro da rede
(servidores). Essa arquitetura coincide com os interesses de provedores de computação na nuvem,
além de possibilitar maior flexibilidade e possibilidade de resposta em tempo real às mudanças de
demanda e tráfego, mas configura-se como ameaça adicional ao mercado de equipamentos e sistemas,
caso não se adaptem às mudanças de padrão.
No futuro próximo, espera-se que as redes evoluam de uma estrutura proprietária e cara para uma
de uso de hardware genérico, comoditizado e de baixo custo. A infraestrutura da rede terá cada vez
menos relevância para a geração de valor da indústria. O foco do investimento em inovação se dará
em software e na ampliação da segurança, flexibilidade e confiabilidade da rede.
A conectividade em si perderá seu papel como principal fonte de receitas para operadoras de
comunicações diante da oferta de conexão gratuita ou mediante tarifa fixa. As fontes de receitas
migrarão para os serviços e aplicações e para maior sinergia das plataformas.
Novas tecnologias – como a impressão 3D, robótica avançada e inteligência artificial – devem
impactar a cadeia global de valor de eletrônicos, encurtando as distâncias geográficas da cadeia e
substituindo atividades de fabricação e montagem de localidades de baixo custo para mais próximo
dos mercados finais. Relatório do Banco Mundial (HALLWARD-DRIEMEIER; NAYYAR, 2018) aponta
que a produção de bens manufaturados avançados (como tecnologia wearable, veículos autônomos,
biochips e biossensores e novos materiais) provavelmente se localizará nas mesmas regiões onde é
realizada a atividade e P&D nos países desenvolvidos. Esse movimento é semelhante ao que se observa
em segmentos de bens de capital e com a fabricação de insumos avançados (como semicondutores,
wafers e cabos de fibra ótica). Requisitos de capacitação e infraestrutura tornam a fabricação de
produtos finais pouco sensíveis a custos, retirando o incentivo das localidades de baixo custo.
78
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
Na indústria de TIC, a estratégia de plataforma precisa levar em conta diferentes camadas que precisam
estar conectadas a um ecossistema. No caso dos smartphones, tablets e notebooks, a camada básica
é o aparelho e os componentes especializados que comportam sua funcionalidade, incluindo CPU,
chips de memória e de comunicação, bluetooth, GPS e câmera. Acima do hardware está o sistema
operacional com suas aplicações básicas, destacando o browser instalado no dispositivo. Na camada
superior está o acesso à internet, aplicativos online, mapeamento geográfico, e-mail, mecanismos de
pesquisa, comércio eletrônico, meios de pagamento, jogos e redes sociais, entre outros. A captura
de valor nas diferentes camadas constitui o cerne da competição na economia das plataformas.
Um sistema operacional de sucesso pode incluir mecanismos de busca que direcionam os usuários
para determinados aplicativos ou serviços online.
Uma plataforma é dividida em diferentes camadas que refletem funcionalidades e integração entre
hardware, software e serviços. As empresas podem operar em apenas uma ou em diferentes camadas,
de acordo com o seu modelo de negócio. As regras que definem a arquitetura e a forma como as
empresas colaboram são geralmente definidas por padrões, sejam eles abertos, sejam controlados pelas
grandes plataformas. O controle dos ativos tecnológicos é assegurado por direitos de propriedade
intelectual sobre os dispositivos e padrões utilizados. Dependendo da robustez dos direitos, isso
significa que o proprietário da plataforma pode ser capaz de apropriar-se de grande parte do valor
gerado pelos aplicativos desenvolvidos por usuários. O proprietário da plataforma também pode usar
sua assimetria de poder para estimular a concorrência entre empresas parceiras, visando diminuir
custos e fortalecer sua posição no mercado.
As plataformas oferecem ampla gama de bens e serviços, de forma a fidelizar e obter múltiplas
informações sobre usuários que são cruzadas para aumentar o conhecimento sobre hábitos e
preferências. A grande variedade de inovações surgidas fora do ecossistema das grandes empresas
tende a reduzir o nível de fidelidade do usuário a plataformas únicas e existe busca permanente para
incorporar novos parceiros tecnológicos ao ecossistema.
No caso das empresas líderes no mercado de TIC, observa-se maior integração entre os dispositivos
de acesso e serviços digitais. Por exemplo, a Apple e a Microsoft começam a competir com a Netflix,
a Amazon e o YouTube na criação de conteúdo online original. As consequências já são visíveis
no mercado de TV paga que vem sendo capturado por serviços online, como Netflix e Apple TV.
A Amazon, por sua vez, passou a produzir o dispositivo de acesso a seus livros digitais, criando um
ecossistema fechado.
Contudo, na atual configuração da indústria, os maiores retornos sobre investimentos estão nas
camadas de serviços e aplicações ao consumidor final, enquanto o investimento em infraestrutura
tem sido realizado por operadoras de telefonia e fabricantes de equipamentos. Essa configuração
ainda sofrerá transformações de modo a viabilizar a ampliação das redes.
Novos serviços e modelos de negócios deverão surgir no rastro das oportunidades tecnológicas e
da abertura de novos mercados. Empresas de diferentes segmentos apostam em soluções de IoT,
Indústria 4.0, IA e serviços digitais, incluindo companhias de setores como: varejo digital (por exemplo,
Amazon), software (Google, Microsoft, Oracle), telefonia (AT&T), equipamentos de telecomunicação
(Huawei, Cisco, Hitachi, Nokia, Samsung), computadores (IBM, Dell, Lenovo, Intel), elétrica (GE, Siemens),
engenharia (Bosch), serviços financeiros (fintechs), entre outros. Ecossistemas de negócios deverão
80
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
substituir empresas isoladas, gerando famílias de empresas que compartilham padrões técnicos,
modelos operacionais e ampla gama de produtos e serviços compatíveis entre si.
Ecossistemas digitais são geralmente liderados por grandes empresas que agregam parceiros de forma
a oferecer ampla gama de produtos e serviços. Isso deverá provocar uma crescente consolidação da
indústria, tanto no segmento de operadoras de telefonia, quanto no segmento de equipamentos e
sistemas. Observa-se um movimento de consolidação da indústria por meio de fusões e aquisições
– uma estratégia de crescimento não orgânico para obtenção de conhecimentos e tecnologias e
inserção em novos segmentos de mercados. A obtenção de economias de escala e externalidades
de redes constituem o vetor da trajetória virtuosa dos gigantes da internet. No médio e no longo
prazo, a crescente pressão por redução de preços resultará em um contexto análogo ao monopólio
natural, forçando a consolidação de fabricantes de equipamentos e sistemas. Uma indicação dessa
tendência é a guerra tecnológica movida por governos aliados aos EUA contra a Huawai e outras
empresas chinesas.
A principal plataforma brasileira Totvs, por exemplo, desenvolve soluções integradas de negócios para
agricultura, indústria e serviços incorporando soluções próprias e de terceiros. Com mais de 50% de
market share no Brasil, a empresa tem importante participação no mercado latino-americano, em
que, a exemplo do que ocorre aqui, predominam as pequenas e médias empresas que necessitam
de soluções mais customizadas do que os pacotes oferecidos por multinacionais. Empresas como
Totvs, Stefanini, Linux e Mercado Livre mostram que a estratégia de atendimento do mercado local
representa vantagem competitiva das empresas latino-americanas. Tais empresas vêm ampliando o
escopo de produtos e serviços oferecidos em suas plataformas por meio de fusões e aquisições que
adicionam expertise em segmentos do mercado e escala de operações.
No âmbito da cadeia produtiva das TICs, o segmento de hardware é relativamente menos dinâmico,
na medida em que parte do processamento e do armazenamento de dados migra para a nuvem. Para
Depois de mais de 30 anos de políticas públicas no setor de TIC no Brasil, é necessário lançar um
olhar prospectivo realista sobre o potencial da indústria brasileira. Podemos elencar os seguintes fatos:
• O País não revela vantagens competitivas relevantes no mercado internacional de hardware, mas conta
com um mercado interno importante capaz de viabilizar a produção local e demandar inovações.
• A indústria brasileira posiciona-se nas etapas finais da cadeia de valor: ou seja, a montagem e
a distribuição de equipamentos. Apesar de a agregação de valor nesta etapa não ser grande,
a montagem local permite maior customização dos produtos às necessidades características
do mercado brasileiro. Com a nova Lei de Informática, deverão ser mantidas as atividades de
montagem de computadores, celulares, equipamentos de telecomunicações e ser estimuladas
também atividades de desenvolvimento de software e serviços.
• A produção isolada de hardware vem dando lugar a estratégias de formação de plataformas
tecnológicas que combinam equipamentos, software e serviços. Ao competir de forma separada,
sem participar de plataformas, as empresas enfrentam o risco da competição com empresas
líderes que têm estratégias de preço zero visando capturar usuários e transferir receitas para a
lucrativa área de serviços digitais.
• Empresas e soluções geradas internamente são orientadas para nichos de mercado, especialmente
em telecomunicações. Segmentos dinâmicos da economia brasileira, a exemplo da agroindús-
tria, demandam soluções originais para problemas específicos a diferentes regiões, culturas e
ecossistemas produtivos. A existência de capacitação técnica local para desenvolver problemas
de IoT, redes, software, sistemas constitui importante alavanca para o desenvolvimento da in-
dústria local de TIC.
• A competitividade das empresas brasileiras de TIC revela-se principalmente no atendimento a
parcelas de mercado não bem exploradas por empresas multinacionais, especialmente nos seg-
mentos de micro, pequenas e médias empresas e nichos de mercado dinâmicos como meios
de pagamento e soluções para IoT e agronegócios.
2.10. Referências
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991. Dispõe sobre a capacitação
e competitividade do setor de informática e automação, e dá outras providências. 1991. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8248.htm.
82
Capítulo 2 - Onde o Brasil pode ser competitivo? Viabilidade técnica e econômica da produção de TIC
BAMPI, Sergio. Foco setorial em microeletrônica. PROJETO INDÚSTRIA 2027 – Riscos e Oportunidades
para o Brasil diante de Inovações Disruptivas. Relatório Preliminar. 2017. Disponível em: https://bucket-
gw-cni-static-cms-si.s3.amazonaws.com/media/filer_public/8c/13/8c13f007-35c7-4fa2-89e9-3550bca42a16/
sintese_dos_resultados.pdf.
CAPGEMINI. Leading digital – Turning technology into business information. 2015. Disponível em:
www.capgemini.com.br.
G1 Tecnologia e Games. Google e Facebook se aliam para cabo submarino transpacífico, 12 out,
2016. Disponível em: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/10/google-e-facebook-se-aliam-para-
cabo-submarino-transpacifico.html.
STATISTA. Forecast: global shipment of tablets, laptops and desktops PCs 2010-2023. Statista 2019.
Disponível em: http://www.statista.com.
84
Capítulo 3 | A cadeia global de
valor de bens de informática:
presente e futuro
86
3. A cadeia global de valor de bens de
informática: presente e futuro
Emanoel Querette4
3.1. Introdução
O conceito de cadeia de valor descreve o conjunto de atividades desempenhadas por empresas
para a produção de bens e serviços, desde a concepção do produto até a sua comercialização ao
consumidor final. Isso inclui atividades de agregação de valor tangíveis e intangíveis, como pesquisa
e desenvolvimento, design, produção, distribuição, marketing e serviços de pós-venda, e considera
elementos de custo, como materiais, mão de obra, tecnologia, insumos e serviços. Nas últimas décadas,
tais atividades produtivas passaram a ser desempenhadas por fornecedores diversos ao longo da
cadeia e localizados em diferentes partes do globo, configurando as cadeias globais de valor (CGVs),
que consistem, portanto, em redes de produção que atravessam fronteiras organizacionais e nacionais
para produzir determinado bem ou serviço. A análise da cadeia global de valor observa o processo
de fabricação em uma perspectiva macro, com foco no bem ou serviço em questão, e mais do que
simplesmente mapear as relações insumo-produto estudam as funções de coordenação e governança,
e quais atores as desempenham (GEREFFI et al., 2005; GEREFFI, FERNANDEZ-STARK, 2016).
A indústria mundial de bens de informática é um dos mais importantes setores produtivos de bens do
mundo, tanto pelo tamanho do seu mercado quanto pelo potencial de melhoria da produtividade e
estímulo à inovação em diversos outros setores correlatos. A produção de bens de informática, como
demonstrado a seguir, ocorre de maneira globalizada e fragmentada por diversos países, configurando
uma CGV. As empresas desta cadeia têm adotado modelos de negócios de plataforma ou de intensa
especialização em elos específicos, competindo pela captura do valor adicionado (GEREFFI et al., 2005).
A seguir, apresentamos a estrutura e o desenho da cadeia global de valor dos bens de informática,
discutindo as atividades de agregação de valor que a compõem, a distribuição geográfica da oferta
e a demanda global por bens de TIC, bem como as principais empresas e segmentos. Concluímos
com a apresentação de tendências e implicações para países em desenvolvimento, como o Brasil.
88
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
A convergência digital resultante da internet fez migrar as atividades de maior valor agregado e maior
margem para as camadas superiores do Modelo de Fransman (2007) para conteúdos e serviços, a
despeito da fundamental importância de melhoria de capacidade e qualidade dos equipamentos e
infraestrutura de telecomunicações e dados. Com isso, as margens e a lucratividade de fabricantes de
hardware e provedores de conectividade são reduzidas ao lucro normal, eliminando a capacidade de
90
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
investimento. Além disso, a rápida difusão da IoT elimina as fronteiras entre os mercados consumidores,
ampliando a demanda global por componentes eletrônicos e produtos intermediários, virtualmente
para todos os setores econômicos.
A cadeia de valor de bens apoiados pela Lei de Informática é composta por produtos selecionados
da cadeia de valor da indústria eletroeletrônica e contempla: equipamentos e componentes para
a indústria de TIC; equipamentos e componentes elétricos e eletrônicos para outras indústrias,
especialmente, médica, automotiva e aeroespacial/defesa; equipamentos e componentes elétricos e
eletrônicos para a indústria de bens duráveis aos consumidores; componentes e equipamentos para
infraestrutura elétrica (utilities); motores e baterias para outras indústrias e para consumidor final; e
bens de informática para o consumidor final. Segundo dados, as exportações mundiais desse setor
eram da ordem de US$ 616 bilhões para componentes eletrônicos, US$ 508 bilhões para equipamentos
A Figura 2 representa os elos e as atividades da cadeia de valor global dos bens de informática.
Cada um dos elos é caracterizado a seguir.
92
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Insumos
No processo de fabricação de bens eletroeletrônicos, os produtos finais não são montados com base
apenas nos componentes, mas contam com partes prontas e subprodutos intermediários que servem
a uma gama de produtos, tais como placas de circuito, displays, dispositivos de interface, motores e
geradores, transformadores, cabos e fios, interruptores e baterias. Esses produtos intermediários são
fabricados e montados por empresas especializadas em um elo anterior da cadeia de valor. Os produtos
intermediários/subconjuntos eletrônicos variam de acordo com o produto final; contudo as placas de
circuito são encontradas na grande maioria dos produtos finais – até mesmo em eletrodomésticos
Importante produto intermediário são os displays e, quando presentes, constituem-se das partes mais
caras do dispositivo – considere, por exemplo, um televisor ou celular. Atualmente as tecnologias mais
comuns são LCD e OLED, superando tecnologias anteriores, tais como tela de plasma, LED e displays
de tubo (CRT). Os mercados de telas são definidos pelo tamanho delas – grandes (para monitores e
televisores) ou pequenas (para dispositivos portáteis e celulares). Segundo a IDC (2019), a tecnologia
OLED tem tendência de substituição completa do LCD, mas o mercado de LCD em 2016 ainda era
bem maior do que o do OLED (US$ 85 bilhões contra US$ 15 bilhões).
A venda de componentes e bens intermediários variam conforme o valor relativo da peça. Componentes
eletrônicos passivos (à exceção dos semicondutores), por causa do seu valor mais baixo, são usualmente
vendidos por meio de distribuidores, em grande volume. De outra forma, semicondutores e placas
de circuito são mais comumente vendidos diretamente pelos fabricantes aos fabricantes de produtos
eletrônicos finais. O modelo de comercialização é influenciado pela diferenciação do produto e pelo
tamanho do pedido. Em muitos casos, os componentes e produtos intermediários são fabricados sob
especificações customizadas, diretamente aos fabricantes de produtos finais, em grandes remessas.
Quando são componentes padronizados, sem significativa diferenciação, podem ser vendidos em
grande quantidade por distribuidores. Clientes menores, que compram em menor quantidade,
usualmente precisam comprar em distribuidores e representantes.
Produtos finais
Os produtos finais da cadeia de valor dos bens de informática são destinados a um leque cada dia
mais amplo de segmentos de mercado, desde a indústria de computadores e eletrônicos de consumo
(TV, som e vídeo) até setores automotivo, médico, aeroespacial e defesa. O crescimento da IoT levará
a uma expansão do mercado final para potencialmente todos os segmentos de bens de consumo,
incluindo eletrodomésticos e bens duráveis. Além disso, eletroeletrônicos são um importante insumo
94
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Nesse segmento, diferentemente do de computadores, a maior parte das empresas possui fábricas
próprias e processo de fabricação quase totalmente integrado verticalmente. A Samsung e a LG, por
exemplo, terceirizam menos de 15% da produção final (EUROMONITOR, 2016). Esse comportamento
também é observado na Sony e nas principais empresas chinesas. No entanto, a despeito da grande
integração, a produção é quase inteiramente realizada em localidades offshore.
No segmento de celulares, à exceção da Apple, as marcas não asiáticas estão perdendo participação
de mercado para empresas coreanas e chinesas. Há um importante movimento de aquisição por
parte de novos entrantes, por exemplo, a aquisição da tradicional Motorola pela chinesa Lenovo.
As três principais empresas no segmento de celulares em 2015 foram Samsung, Apple e Huawei (com
40% de participação em volume) (EUROMONITOR, 2016).
Seguindo a tendência apontada, a Ásia tem se consolidado como centro de gravidade do mercado
global de eletroeletrônicos, tanto na oferta quanto na demanda. A migração do parque fabril para
os países orientais, em virtude dos seus custos inferiores e do acesso às matérias-primas, se deu de
forma mais gradual; no entanto o crescimento do mercado consumidor asiático tem se dado de
forma muito mais acelerada. A oferta global é representada tanto por fabricantes de produtos finais
quanto por fornecedores de componentes e bens intermediários.
96
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Eletroeletrônicos
2,253 2,447 2,729 2,905 4
– total
Componentes
465 541 558 616 21 22 20 21 4
eletrônicos
Produtos
eletrônicos finais/
1,177 1,236 1,385 1,439 52 50 51 50 3
bens intermediários
eletrônicos
Componentes
831 952 1,035 1,124 37 39 38 39 4
eletroeletrônicos
Produtos finais/
bens intermediários 1,422 1,496 1,694 1,781 63 61 62 61 3
eletrônicos
Eletrônicos ao
580 616 674 721 41 41 40 40 3
consumidor
Computadores,
armazenamento, 451 459 525 526 32 31 31 30 2
escritório
Médico 42 47 52 52 3 3 3 3 3
Fonte: elaboração própria com base em dados de UN COMTRADE (2015), dados até 2014.
Nota: *taxa de crescimento anual composta.
Obs.: o maior segmento de eletrônicos ao consumidor é o de telefones celulares e câmeras.
Participação no
Exportador Valor (US$ bilhões) CAGR(%)
mercado global (%)
México 58 72 77 82 4 5 5 5 5
98
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Participação no
Exportador Valor (US$ bilhões) CAGR(%)
mercado global (%)
Países baixos 67 62 64 69 5 4 4 4 0
Japão 69 58 59 48 5 4 3 3 -5
Cingapura 38 43 45 42 3 3 3 2 1
Tailândia 30 35 40 39 2 2 2 2 4
Malásia 46 42 37 35 3 3 2 2 -4
Fonte: elaboração própria com base em dados de UN COMTRADE (2015), dados até 2014.
Obs.: ranking com base no valor exportado.
Participação no
Exportador Valor (US$ bilhões) CAGR (%)
mercado global (%)
Cingapura 83 98 95 103 10 10 9 9 3
EUA 88 88 89 94 11 9 9 8 1
Alemanha 73 79 82 88 9 8 8 8 3
Japão 80 88 85 71 10 9 8 6 -2
Coreia do Sul 43 58 67 78 5 6 6 7 9
Malásia 35 38 42 48 4 4 4 4 5
França 27 27 27 27 3 3 3 2 0
México 18 17 21 24 2 2 2 2 5
Fonte: elaboração própria com base em dados de UN COMTRADE (2015), dados até 2014.
Obs.: os produtos incentivados pela Lei de Informática enquadram-se em cerca de 105 códigos de produtos segundo a classificação
internacional. Nesta tabela, não estão incluídos os produtos referentes ao código 854430.
CAGR (%)
Estágio da cadeia de valor 2012 2013 2014 2015 2016 2017
2012-2017
Bens intermediários
74,88 81,07 86,39 79,55 81,92 89,28 3,58
(subassemblies) – elétricos
Bens intermediários
114,07 109,58 105,85 96,55 92,55 98,31 -2,93
(subassemblies) – eletrônicos
Produtos finais –
140,24 147,73 155,39 142,39 143,94 167,44 3,61
equipamentos industriais
Produtos finais – automotivo 18,48 20,19 20,97 19,19 18,82 19,97 1,56
Produtos finais – médico 56,40 60,29 62,54 57,90 59,27 64,22 2,63
Fonte: elaboração dos autores com base em dados UN COMTRADE (2018), dados até 2017.
Nota: códigos HS selecionados de bens incentivados.
100
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Tabela 6 - Exportações globais da cadeia de valor de bens incentivados pela Lei de Informática, por
elo da cadeia, e participação na cadeia de bens incentivados e de eletroeletrônicos em geral (2017)
Em US$ bilhões
Bens intermediários
89,28 9,10 0,57
(subassemblies) – elétricos
Bens intermediários
98,31 10,02 0,62
(subassemblies) – eletrônicos
Produtos finais –
167,44 17,07 1,06
equipamentos industriais
Fonte: elaboração dos autores com base em dados UN COMTRADE (2018), dados até 2017.
Nota: * produtos nos capítulos HS 84-85.
Obs.: códigos HS selecionados de bens incentivados.
CAGR (%)
País 2012 2013 2014 2015 2016 2017
2017/2012
Fonte: elaboração dos autores com base em dados UN COMTRADE (2018), dados até 2017.
Obs.: códigos HS selecionados de bens incentivados.
Em relação à cadeia global de valor específica dos bens incentivados pela Lei de Informática, observamos
uma configuração semelhante à da cadeia de eletrônicos em geral, com dominância da China/Hong
Kong. Notadamente os EUA, o Japão, a Coreia ou outros asiáticos não aparecem entre os 10 maiores
exportadores. Além da China, os maiores exportadores são países da Europa Ocidental e da República
Tcheca. O crescimento das exportações por estágio da cadeia se manteve relativamente estável, com
destaque para a retração da exportação de bens intermediários eletrônicos e para o crescimento das
exportações de componentes eletrônicos e bens intermediários elétricos.
102
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Empresas líderes
As empresas líderes dominam as atividades de maior valor adicionado na cadeia de valor. Como
mencionado, atividades no início e no fim da cadeia são as de maior valor, e justamente as que
estão concentradas nas mãos das líderes, a saber: pesquisa e desenvolvimento de produtos, design,
marketing, branding. Usualmente adotam uma estratégia de plataforma, de modo a determinar o
desenvolvimento de novos produtos e tecnologias e a capturar a maior parcela do valor global da
produção. São responsáveis pela introdução de novas gerações de produtos e de novas tecnologias
e aplicações. Embora algumas empresas realizem a fabricação e a montagem em instalações próprias,
em localidades offshore, a maioria delas terceiriza a fabricação e a montagem para fornecedores
especializados, sob contrato. A terceirização de fabricação e montagem tem sido uma forte tendência
(STURGEON; KAWAKAMI, 2011), uma vez que permite às líderes se concentrarem nas atividades
intangíveis de maior valor – acentuando ainda mais o formato de sorriso da cadeia de valor. Esse
comportamento evidencia a concentração de valor em atividades intangíveis relacionadas a design,
P&D e software, relegando atividades de menor valor a países e empresas fabricantes de peças,
componentes e hardware em geral.
Os fornecedores Tier 1 são empresas intensivas em tecnologia, atuando sob contrato para as empresas
líderes. São geralmente de grande porte e atuam em uma variedade de atividades, desde a aquisição
de componentes e montagem de placas de circuito até a fabricação de produtos finais e testes.
As maiores empresas nesse segmento atendem aos mercados de computadores, celulares e eletrônicos
ao consumidor (chamado segmento 3C); outras, além das tops 15 globais, atendem a importantes
Esse segmento responde pela maior parcela das atividades de manufatura. Em 2014, ele respondeu
por algo entre US$ 406 bilhões a US$ 490 bilhões (FREDERICK; LEE, 2017). Além da fabricação, alguns
fabricantes contratados também fornecem serviços de design. Coletivamente, estas empresas são
chamadas de EMS (electronic manufacturing services), quando realizam apenas montagem e fabricação;
e ODM (original design manufacturers), quando incorporam alguma atividade de design e projeto.
O serviço de manufatura de componentes sem design (EMS), por ser uma atividade mais genérica,
permite vender para um grande número de mercados, mas dá pouco poder de mercado às empresas,
devido à alta substitutibilidade. Os serviços de design (ODM) possuem maior diferenciação, mas
tendem a ser mais específicos, reduzindo o mercado potencial.
Fornecedores de componentes
Componentes tanto podem ser eletrônicos e elétricos de baixa diferenciação e baixo valor, como
microprocessadores e microcontroladores de elevado valor agregado e diferenciação. Fornecedores
de componentes genéricos tem baixo poder na cadeia e vendem sua produção por meio de
distribuidores. Contudo empresas de componentes bem-sucedidas no estabelecimento de um
diferencial significativo, muitas vezes, tornam-se líderes de uma plataforma e passam a negociar
diretamente com as empresas líderes da cadeia. Na cadeia de eletroeletrônicos, diferentemente
do que acontece em outras cadeias globais de valor, alguns líderes de plataformas – fabricantes de
componentes – exercem até mais influência sobre a inovação do que as empresas líderes. As sedes
das maiores empresas de componentes eletrônicos se localizam predominantemente em países
desenvolvidos – EUA, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e países da Europa Ocidental –, enquanto as suas
104
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
fábricas se localizam em países de baixo custo (como a China). Em alguns casos, a fábrica pertence à
empresa matriz; em outros casos, estabelecem-se contratos de joint venture; também fabricam por
contrato de fornecedores exclusivos.
Segundo Gereffi e Fernandez-Stark (2016), o processo de racionalização das cadeias é uma consequência
da crise e da necessidade de melhoria da eficiência produtiva: empresas líderes das cadeias de valor,
em busca da redução de custos de transação, estão reduzindo o comprimento de suas cadeias de
fornecimento para incluir menor quantidade de fornecedores mais tecnologicamente competentes
e estrategicamente localizados. Esse movimento de consolidação das cadeias, tanto no nível nacional
quanto no global, já tem sido observado desde antes da crise, em alguns setores específicos, mas, na
última década, o fenômeno tem se acentuado e expandindo para todas as cadeias. Como resultado
desse processo, observa-se a consolidação de intermediários muito grandes, cujo papel na cadeia
se torna crucial em decorrência do poder de corretagem que passam a desempenhar. Esses atores,
ao mesmo tempo que assumem a maior parte do risco do fornecimento, coordenam as etapas
anteriores de compras de componentes e organização dos fornecedores. Em contrapartida, esse
fenômeno impede a entrada de empresas menores nas cadeias globais, particularmente em setores
onde economias de escala e escopo são necessárias para se alcançar a competitividade.
A segunda tendência (GEREFFI; FERNANDEZ-STARK, 2016) é a notável orientação das cadeias para
a Ásia, como resultado tanto das dinâmicas de fornecimento quando de demanda. As vantagens
de custos dos produtores asiáticos consolidaram a Ásia como importante centro fornecedor das
cadeias globais. No entanto o aumento do mercado consumidor, em países como a China, torna a
Hoje, observa-se forte aceleração do comércio Sul-Sul, puxado pela Ásia com parceiros no Norte da
África, África Subsaariana e América Latina. Números recentes do mercado global de TIC (EUROPEAN
COMMISSION, 2018) colocam a China em primeiro lugar no mundo em valor adicionado de TIC
em 2015 pela primeira vez, ultrapassando os EUA, com € 715 bilhões de paridade poder de compra
(PPS), enquanto juntamente com Índia, Japão, Coreia do Sul e Taiwan responderam por 50% do valor
global de TIC adicionado nesse ano.
Ainda que sejam pequenas em termos globais, algumas economias da região apresentam setor
de TIC muito forte, segundo a European Commission (2018). Taiwan, por exemplo, apresentou
a maior participação do valor adicionado do setor de TIC no PIB (15,8%); a maior participação
do setor de TIC no emprego (9,0%); a maior proporção de pesquisadores em P&D de TIC (quase
70% de todos os pesquisadores do País estão no setor de TIC); e, em segundo lugar global,
apenas depois dos EUA, na produtividade do setor (€ 129 mil PPS/pessoa). Dados do mesmo
estudo apontam que, no tocante às atividades da cadeia, a força dos países asiáticos está em
componentes e dispositivos, com a exceção da Índia; em termos de serviços de TIC, os países
ocidentais ainda são líderes globais em valor adicionado de serviços de TIC, puxados pelos EUA
(84%) e pela União Europeia (90%).
A quarta força, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) (IEL, 2018), é o
estabelecimento de plataformas e a tendência de servitização – transformação nos modelos de
negócios e adição de valor a bens manufaturados por meio de serviços associados, tais como modelos
de comercialização por assinatura ou pagamento por uso – que tem modificado a maneira de
comercializar e financiar a produção de bens. Esse processo está bastante avançado em segmentos
intensivos em capital: em vez de vender produtos, fornecedores cada vez mais estão vendendo a
106
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
Por fim, relatório da OECD (2017) sugere que a conformação de um novo paradigma produtivo –
ambientalmente sustentável – está se desenhando sob o imperativo da redução do consumo de
recursos e da sustentabilidade ambiental da produção em todos os setores. A atuação das cadeias
globais de valor, dispersas pelo globo, resulta em maior impacto ambiental decorrente do consumo
de combustíveis pelo transporte, elevada emissão de gases, resíduos sólidos (embalagens), etc.
No intuito de reduzir o consumo de recursos e os impactos ambientais, grandes empresas reduzirão
as distâncias geográficas de suas operações, assim como tornarão os processos cada vez mais digitais.
Por um lado, os fatores que levaram ao surgimento e à consolidação das cadeias globais de valor
continuam atuando em escala global, com tendência de expansão ainda maior destas cadeias de
comércio global; por outro, a difusão das tecnologias digitais, em especial àquelas ligadas à Indústria
4.0, e a concentração geográfica podem levar a uma reconfiguração crítica das cadeias globais (OECD,
2017). O que se desenha é um processo de redução do comprimento das cadeias com eliminação de
elos, por meio da consolidação de grandes players intermediários, e uma concentração geográfica
em localidades próximas aos seus mercados compradores e com modelos de operação intensivos
em serviços e informação.
As vantagens estratégicas das empresas líderes advêm não apenas na forma de P&D e inovação, mas
também no retorno de atividades de design, projeto, consolidação de marcas e desenvolvimento de
mercado. As líderes de plataformas impõem padrões técnicos e de mercado, o que lhes possibilita
capturar maior parcela dos lucros da indústria global e manter o controle sobre a trajetória de
desenvolvimento tecnológico do setor. Apesar de as CGVs possibilitarem a entrada de economias
3.6. Referências
CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS (CGEE). Relatório contendo alternativas
de aprimoramento da Lei de Informática. Subsídios técnicos para o aprimoramento da Lei de
Informática. Relatório Técnico final. (Reservado). Brasília: 2019.
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FRANSMAN, M. The new ICT ecosystem: implications for Europe. Cambridge, UK: Cambridge
University Press, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1017/CBO9780511676130.
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108
Capítulo 3 - A cadeia global de valor de bens de informática: presente e futuro
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Durham, NC: Duke University, 2016. 79 p. Disponível em: https://gvcc.duke.edu/wp-content/uploads/2016_
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FREDERICK, S.; LEE, J. An Introduction to Korea’s Economy. In: FREDERICK, S. et al. Korea in global
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GEREFFI, G.; FERNANDEZ-STARK, K. Global value chain analysis: a primer. 2nd edition. Durham,
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UN COMTRADE. ICT Statistics. United Nations Comtrade Database, 2015. Disponível em: https://
comtrade.un.org/.
UN COMTRADE. ICT Statistics. United Nations Comtrade Database, 2018. Disponível em: https://
comtrade.un.org/.
110
Capítulo 4 | A experiência da
Samsung na estruturação de uma
base local de P&D e a construção
de interações com a academia
e os institutos de P&D
112
4. A experiência da Samsung na estruturação
de uma base local de P&D e a construção de
interações com a academia e os institutos de P&D
Fernando Campos de Arruda Jr.5
Miguel Gustavo Lizárraga6
Para a economia de uma nação crescer, é necessário que aconteça um grande desenvolvimento
tecnológico por meio do aumento da capacidade em desenvolver e difundir inovações tecnológicas
internamente. Assim, a inovação tem papel fundamental para a conquista de diferenciais competitivos,
seja para os países movimentarem a economia ou para as empresas obterem vantagens competitivas
em relação a seus concorrentes.
As empresas precisam inovar para continuar competindo no mundo atual e para conseguirem
mercados maiores ou para abrir novos nichos de consumo para seus produtos e serviços, o que eleva
a necessidade de realização de pesquisas que atendam ao rápido processo de inovação tecnológica,
gerando altos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) por parte das empresas
do setor produtivo. Porém nota-se que elas dificilmente conseguem desenvolver todas as tecnologias
internamente, com a eficácia e a rapidez necessárias. Com isso, é crescente a necessidade de sua
aproximação a centros de pesquisa, laboratórios universitários e empresariais, o que gera uma relação
entre aqueles que desenvolvem e/ou detêm a tecnologia com aqueles que irão utilizá-la (SEGATTO-
MENDES; SBRAGIA, 2002).
Um dos vértices da interação entre esses atores e que assume papel importante nessa intermediação
é o governo, o qual promove a inovação no País por meio da promulgação de um conjunto de leis
cujo objetivo principal é fornecer incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no
ambiente produtivo, melhorando, assim, o desenvolvimento industrial do País. Particularmente, a
criação da Lei nº 8.248/1991 (BRASIL, 1991b), conhecida como Lei de Informática, representou uma
mudança diante dos instrumentos anteriores de apoio ao setor, tirando o foco das medidas mais
protecionistas e movendo-o para o fomento de capacitações tecnológicas por meio de mecanismo
de incentivo fiscal, promovendo o aumento da densidade produtiva e tecnológica na indústria
Para tanto, num primeiro momento, a Samsung criou duas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs),
uma na cidade de Campinas em São Paulo, o Samsung Instituto de Desenvolvimento para a Informática
(Sidi) e o outro na cidade de Manaus no Amazonas, o Samsung Instituto de Desenvolvimento para
a Informática da Amazônia (Sidia). Cada um desses institutos possui um capital humano composto
por profissionais com viés nas áreas de engenharia e ciência da computação. O papel desses institutos
foi no início de desenvolver, melhorar e incluir inovações incrementais nos produtos da empresa,
notadamente aqueles de mercado de consumo, tais como telefones móveis celulares, monitores de
vídeo, impressoras e TVs pela execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Entretanto é sabido que existem limitações em trabalhar num contexto de inovação fechada, isto
é, geração de novas tecnologias que ocorrem exclusivamente dentro das empresas. Sendo assim, a
Samsung passou a usar a estratégia de ampliar seu conjunto de parceiros tecnológicos para outros
institutos de P&D sem fins lucrativos e universidades. A motivação para o fomento, a implementação e
a expansão do ecossistema de inovação aberta são: ter acesso às fronteiras científicas do conhecimento
(estado da arte), aumentar o poder preditivo da ciência, delegar, terceirizar ou dividir atividades
específicas relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias e à falta de recursos capital e humano
(BONACCORSI; PICCALUGA, 1994).
No entanto existe um ganho também para os parceiros tecnológicos das empresas, sendo que,
entre os principais, podemos mencionar: a oportunidade de exposição dos alunos e profissionais
capacitados a problemas práticos e reais de mercado; o acesso à tecnologia em que a indústria tem
especial conhecimento; o acesso ao financiamento de pesquisa, seja a empresa como fonte, seja o
governo; o acesso a capacidades industriais e à possibilidade de alternativas de emprego (GEISLER, 2001).
114
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
aumentaram a descentralização das atividades de inovação de maneira que cada subsidiária contribui
para gerar conhecimento e inovação para o benefício da corporação (CANTWELL; MUDAMBI, 2005).
O SRBR faz parte do conjunto de centros de PD&I da Samsung no mundo com foco no mercado
de eletrônica de consumo. O SRBR é encarregado de realizar atividades de PD&I, criando ofertas
inovadoras que possam solidificar a posição da empresa como líder global. É necessário destacar
que alguns centros de PD&I da Samsung estão mais perto das atividades de desenvolvimento e
engenharia, enquanto outros, como o caso do SRBR, estão encarregados de atuar no campo de
pesquisa aplicada e desenvolvimento.
Embora a Samsung exerça atividades de PD&I no Brasil desde 2004, principalmente por meio de
parceiros externos, como universidades e centros de PD&I privados, o SRBR foi formalmente constituído
em 2011, com fomento da Lei de Informática, oferecendo inicialmente desenvolvimento de novas
funcionalidades, características e atualizações de software para dispositivos móveis, computadores
pessoais (PCs) e impressoras. Desde 2012, expandiu sua responsabilidade, incluindo pesquisa básica e
aplicada em tecnologias baseadas em suas principais competências internas nas áreas de inteligência
artificial, segurança em sistema embarcados, multimídia, Internet das Coisas e realidade virtual e
aumentada, ligadas à estratégia tecnológica de P&D global da empresa.
Assim, para o início das interações entre Samsung, academia e institutos de PD&I, a empresa, por meio
do SRBR, teve primeiro que se estruturar internamente para criar grupos que tratassem de atividades
e processos inerentes às atividades de PD&I. Nesse sentido, os grupos que atuam nesses processos são:
• Gestão de fundos: que trata da elegibilidade, pertinência e adequação das atividades e custos
dos projetos de P&D.
• Sensoriamento tecnológico: que ativamente atualiza as bases de dados de tecnologias-chave e
de estado da arte que estão em desenvolvimento por universidades e institutos no Brasil.
• Propriedade intelectual: que trata do fomento à inovação, à geração e à manutenção do
portfólio de patentes da empresa.
Estes grupos interagem com a academia e os institutos de P&D por meio de um processo bem definido
que permite fazer a gestão, passo a passo, desde a concepção do conceito de um novo projeto até
sua entrega final. Este processo está resumido na Figura 1.
Vale salientar que existem outras linhas de ação estratégicas como parcerias com institutos de
P&D privados e startups – pequenas empresas de base tecnológica – que possuem experiência em
tecnologias-chave da empresa e que seguem um processo semelhante.
Com base no conhecimento das competências das universidades e de seus professores e em função
de uma demanda técnica, ocorre o contato com a universidade e o respectivo pesquisador (fase 2),
que possui potencial para colaborar na solução da demanda e gerar a inovação.
A fase 3 do processo é a avalição das propostas de projeto que vêm atender à demanda técnica
colocada. Além da avaliação técnica propriamente dita, é levado em consideração, na seleção do
melhor projeto, o alinhamento da proposta com a estratégia da empresa, sua contribuição no estado
da arte dessa tecnologia, o relacionamento que a empresa tem com a instituição proponente e a
maturidade de seu processo de transferência de tecnologia (LENHARI; LEITE; LIZÁRRAGA, 2014).
116
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
Após a avaliação estratégica com base nos multicritérios de direção propostos na fase 3, se faz
a elaboração dos convênios e/ou contratos específicos (fase 4). Nessa fase, devem ser resolvidas
questões legais, questões de tecnologia e propriedade intelectual (PERKMANNN; SALTER, 2012), a
fim de assinar os contratos formalizando a parceria.
Uma vez que os projetos estejam em andamento, existem mecanismos específicos para controle,
acompanhamento, revisões técnicas e de transferência de tecnologia que são feitas por pesquisadores
da Samsung com experiência na respectiva tecnologia. Essas ações fazem parte da fase 5.
A seguir apresentaremos como a é feita a interação com a academia e os institutos de P&D com base
nas fases do processo Samsung de gestão de projetos.
Fase 2. Contato com professores: uma vez existindo uma demanda técnica, seja esta gerada localmente
ou proveniente da matriz da empresa, o Grupo de Tecnologias Avançadas gera um documento com
objetivos, requisitos e resultados de inovação esperados, denominada de RFP (Request for Proposal).
Nesse momento, inicia-se o contato com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da universidade.
A Samsung entende que esta é a porta de entrada para formalizar o interesse em ter uma parceria
com essa instituição.
O NIT, por sua vez, nos fornece informações mais detalhadas sobre os professores que previamente
foram mapeados na fase anterior e faz chegar até eles a RFP. Ainda, antes de passar a RFP adiante, é
assinado um Termo de Confidencialidade entre a empresa e a universidade que cobre os temas que
Nessa fase, temos notado que algumas universidades têm processos mais maduros para colaborar
com o professor na elaboração da proposta de projeto. Em alguns casos, existe um Escritório de
Projetos dentro da universidade que, além de dar suporte à parte burocrática do processo, também
colabora diretamente com o professor na confecção do Plano de Trabalho, principalmente no que
toca à formatação inicial da parte financeira da proposta.
Fase 3. Avaliação de propostas de projeto: uma vez elaborada a proposta de Plano de Trabalho
do projeto, esta é avaliada primariamente pelo Grupo de Tecnologias Avançadas. Dependendo
da área do conhecimento a que se refere a proposta, ela poderá ser revista por um conjunto de
pesquisadores especialistas em inteligência artificial, segurança em sistema embarcados, multimídia,
Internet das Coisas ou realidade virtual e aumentada. Sem dúvida, o mérito técnico do projeto é
fundamental para se gerar a inovação desejada, entretanto, visto que a Samsung utiliza incentivos de
Lei de Informática para sua execução, nesta fase o papel do Grupo de Gestão de Fundos da empresa
é de suma importância, pois é ele que levanta os riscos de eventuais glosas que podem vir a surgir
em função de uma atividade que não seja elegível, adequada ou pertinente no contexto específico
do projeto. Em função dessa análise, é possível melhor adequar despesas do projeto e sua eficiência
para atingir os resultados esperados.
De forma análoga à fase anterior, temos percebido diferentes graus de maturidade das instituições
de ensino e PD&I com relação ao conhecimento de conceitos e ao arcabouço legal relacionado
aos incentivos governamentais. Em um ou outro caso isolado, nos deparamos, por exemplo, com
a seguinte situação: a unidade acadêmica que iria executar a proposta de projeto não possuía o
credenciamento junto ao Comitê da Área de Tecnologia da Informação (Cati). Assim, é mais comum
encontrar divergências na alocação de algumas das despesas do projeto nas rubricas definidas pela
lei; entretanto esse problema vem sendo minimizado, uma vez o MCTI tem publicado manuais de
avaliação de relatórios que apresentam exemplos e contraexemplos do uso das rubricas para um
conjunto vasto de tipos de despesa.
Fase 4. Elaboração de convênios: nesta fase, a Samsung tem como boa prática a utilização de um
template (modelo de documento) padrão de Convênio junto às universidades e aos institutos de
P&D em que constam principalmente objetivos, arcabouço legal da Lei de Informática, obrigações
de cada uma das participantes do projeto, processos financeiros, confidencialidade das informações
118
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
e propriedade intelectual. Este template passa pela avaliação do NIT da universidade e por sua
procuradoria legal. Em geral, a grande maioria das cláusulas não requerem maiores discussões, no
entanto o ponto nevrálgico recai sobre questões de propriedade intelectual (PI) e exploração dos
resultados. Nesse ponto específico, o Grupo de Propriedade Intelectual da Samsung, com suporte
do seu departamento legal, promove, de forma aberta, a discussão sobre as cláusulas de PI com a
universidade. Um ponto-chave para o sucesso da negociação tem sido primeiramente estar de acordo
com o potencial de geração de inovação que pode ter o projeto e, em seguida, ter o conhecimento
dos limites que permitam viabilizar a execução do projeto sem ir contra uma norma ou regra que
esteja previamente definida pelas instituições. Podemos mencionar, como exemplo desse tipo de
negociação, a necessidade de que a propriedade intelectual seja compartilhada entre as partes. Nesse
caso, a negociação deve focar na razão entre o valor da contribuição técnica da universidade e o
aporte financeiro que a empresa faz no projeto.
Uma vez de acordo com os termos do convênio, o próximo passo é iniciar o processo de trâmite para
a assinatura do mesmo e seu respectivo plano de trabalho. O tempo desse trâmite varia de instituição
para instituição, contudo é possível traçar um tempo médio para esse processo em função do amplo
número de convênios que a Samsung já firmou com parceiros tecnológicos:
• Universidades públicas: levam em média de 6 a 12 meses no processo de assinatura do primeiro
convênio em parceria com a empresa. Já a partir do segundo convênio com a mesma instituição,
este tempo cai para cerca de três meses, visto que os templates de convênio, o plano de trabalho
e as questões sobre propriedade intelectual já estão validados pelos respectivos departamentos
jurídicos.
• Universidades privadas: a assinatura da documentação para execução do projeto leva até dois meses.
• Institutos privados de P&D: contratos são assinados em até um mês.
Na primeira frente, a Samsung pratica dois tipos de abordagens com relação ao acompanhamento
das atividades de pesquisa e que impactam diretamente na internalização da tecnologia, são estas:
Execução da pesquisa conforme definida no plano de trabalho em que a empresa faz a validação das
entregas técnicas da universidade de forma interna. Nesse modelo, caso exista algum desvio técnico,
Uma boa prática nesse tipo de interação é a presença ativa de um gestor de projeto do lado da
universidade que sirva de interface entre o professor coordenador do projeto e a gestão técnico-
administrativa da empresa. Esse ator tem se mostrado muito útil, visto que permite que o professor e
seus pesquisadores consigam dar foco naquilo que é mais importante, a busca de soluções no estado
da arte para os desafios planteados no projeto, liberando o professor de atividades de aquisição de
matérias e equipamentos, reportes e relatórios solicitados pela empresa, entre outros.
Outra iniciativa que a Samsung vem seguindo em busca de criar um ambiente que fomente a
interação entre universidade e empresa é a implantação de Laboratórios de Colaboração Conjunta
– Joint Labs. Esses laboratórios são ambientes dentro da universidade onde os alunos e professores
que participam dos projetos podem usar para a execução de suas atividades de P&D. Os Joint Labs
são também frequentados por engenheiros e pesquisadores da Samsung e, com isso, se promove a
interação mais próxima entre os envolvidos no projeto.
Ademais, na segunda frente ligada à execução do projeto, temos as atividades relacionadas à parte
administrativa. A interação da empresa, nesse caso, ocorre principalmente com a Fundação de Apoio
Administrativo da universidade. Esta é quem faz o envio mensal da prestação de contas ocorridas
no projeto durante esse período. Nesse processo, utiliza-se um template de planilha financeira que
mantém um histórico detalhado de todos os custos do projeto e suas respectivas justificativas de
elegibilidade, pertinência e adequação. Um ponto importante que deve ser mencionado nessa
etapa é a necessidade de ser flexível com relação ao tempo e valor dos aportes a serem feitos ao
longo do projeto.
120
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
Projetos com universidades possuem um viés muito forte em pesquisar assuntos no estado da arte, que
inerentemente possuem riscos durante sua execução, o que, por sua vez, significa alta probabilidade
de sofrerem alterações no seu planejamento inicial. Embora no convênio exista um plano inicial de
execução de atividades e de desembolso financeiro, tanto a Fundação de Apoio quanto a Gestão de
Fundos da empresa precisam trabalhar em conjunto para tratar, de forma assertiva, o replanejamento
dos custos do projeto, garantindo o bom fluxo de caixa em função de mudanças de direcionamento
de que a pesquisa necessite.
A terceira iniciativa, que objetiva dar escala ao produto ou serviço desenvolvido pelo Programa
de Economia Criativa, é o uso de fundos de investimentos. A Samsung ainda não implementou
essa iniciativa no Brasil, embora já tenha resultados tangíveis desse conceito na Coreia do Sul e nos
Estados Unidos.
122
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
Ao longo dos últimos cinco anos, a integração entre os Ocean Centers e as universidades nas quais
eles estão inseridos tem sido tão intensa que atualmente alguns dos cursos oferecidos por essa iniciativa
recebem certificados emitidos pela UEA e a Politécnica da USP.
Como forma de aproximação da Samsung com as startups, o Programa de Economia Criativa – Creative
Startups foi criado em 2015, resultado de uma parceria entre a Samsung, a Associação Nacional de
Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e o Centro Coreano de Economia
Criativa e Inovação (CCEI) e com o apoio de ministérios do Brasil e da Coreia do Sul, mostrando
seu grande potencial de impacto nacional. O programa tem como objetivo identificar, selecionar e
oferecer suporte a empreendimentos inovadores em áreas tecnológicas de interesse da Samsung.
A fim de atingir tais objetivos, a empresa contou com o uso de recursos via Lei de Informática (BRASIL,
1991a; 1991b) para investimento em startups, conferindo à empresa o pioneirismo nessa iniciativa.
Como forma de delineamento do programa, anualmente são realizadas chamadas públicas para a
seleção de startups de todas as regiões do Brasil.
Este programa foi estabelecido para fomentar a inovação e a atividade empreendedora pela
realização de investimentos diretos para criação e desenvolvimento de empresas de base tecnológica.
A metodologia oferece aos empreendedores um conjunto de recursos, tais como: treinamentos,
mentorias, metodologia de design thinking, acesso à tecnologia e equipamentos, e suporte financeiro.
4.5. Resultados
A seguir apresentamos os resultados relevantes decorrentes dos investimentos em P&D realizados
pela Samsung com os recursos incentivados da Lei de Informática.
Conforme mencionado na seção que trata da estruturação do P&D da Samsung, além das atividades
de pesquisa básica e aplicada, o SRBR possui uma equipe que desenvolve novas funcionalidades,
características e atualizações de software para dispositivos móveis. O Gráfico 1 apresenta a evolução
da quantidade de número de projetos de software que a Samsung desenvolveu internamente nos
últimos anos.
7000
5982
6000
5000
4000
3000 2829
1973
2000 1807
1423
1000 817
93 185 172
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
4.5.2 Universidades
O início das atividades de pesquisa conjunta entre a Samsung e as universidades ocorreu com parcerias
na região Nordeste do País. A partir de 2012, passou-se a ampliar esse ecossistema para universidades
do Sudeste e do Sul e, finalmente, do Centro-Oeste. As atuais linhas de pesquisa concentram-se nas
áreas de inteligência, artificial, segurança em sistema embarcados, multimídia, Internet das Coisas e
124
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
realidade virtual e aumentada, que se encontram alinhadas à estratégia tecnológica de P&D global
da empresa A Figura 3 mostra a linha do tempo da evolução dessas parcerias.
Gesture Embedded
Recognation Lex, MedMobilis Activesync
Programas
3 projetos Projeto 2 projetos Projetos Projeto UFPE
de bolsas
UNICAMP USP UFAM UFMG Projeto UFRJ
UNICAMP
Projetos 2 extensões
PUC-RS Projeto Projeto UnB
+1 UNICAMP +2 UNICAMP +3 projetos
+2 UNICAMP URFGS +2 UNICAMP
UNICAMP
Resultado das atividades exercidas por engenheiros e pesquisadores da Samsung no Brasil em parcerias
com universidades e institutos de pesquisa, foram depositadas até o momento 146 propostas de
patentes. Destas, 96 foram depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) no
Brasil e as outras 50 no United States Patent and Trademark Office (USPTO) nos Estados Unidos. O
Gráfico 2 apresenta esses depósitos distribuídos anualmente.
20
15
12
10
9 9 9
10 8
7 7 7 7
5 5 5 5 5
4
5 3 3
2
1
0
2006 - 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
2008
BR EUA
Ainda, desse portfólio de patentes, 25 já foram concedidas pelo USPTO e duas pelo Inpi.
126
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
A Figura 4 apresenta a distribuição geográfica das 1.061 propostas apresentadas desde o início do
Programa de Economia Criativa. Os temas de projeto das startups circundam as áreas de saúde digital,
agronegócios, realidade aumentada, segurança e Internet das Coisas.
Creative Startups:
• 45 startups aceleradas em todas as regiões do Brasil.
• + R$ 8 milhões investidos nas startups aceleradas.
• 27 incubadoras foram envolvidas em todo o Brasil para dar suporte ao programa.
• 1.061 propostas submetidas como resposta às quatro chamadas públicas lançadas desde 2015.
386
3 400
1
350
1 279 290
35 2 300
2 7
250
10 200
2 3
150
3
9 100 106
40
50
1 1
0
11 20
34
22 78 Batch#1 Batch#2 Batch#3 Batch#4
4.6. Conclusão
A geração de inovação frutifica ao máximo em um ambiente de inovação aberta, em que diversos
atores, agrupados em um ecossistema de inovação, colaborem dentro de suas competências e
especializações para a obtenção de resultados significativos.
128
Capítulo 4 - A experiência da Samsung na estruturação de uma base local de P&D e a
construção de interações com a academia e os institutos de P&D
ou pesquisa, identificar os parceiros adequados, estabelecer as atividades e metas de cada um, lidar
com as questões jurídicas e de propriedade intelectual e efetuar a gestão financeira de contratos
e convênios.
Beneficiada pela Lei de Informática desde 2004, a Samsung Eletrônica da Amazônia desenvolveu
importante ecossistema de inovação, coordenado por seu centro de PD&I, o SRBR – Samsung R&D
Institute Brazil, e formado por relevantes universidades, Centros de PD&I e centros de capacitação,
que executam, de forma integrada, projetos de desenvolvimento, projetos de pesquisa em áreas da
fronteira do conhecimento, programas de capacitação e programas de fomento à inovação e ao
empreendedorismo.
Cabe notar que, além da criação do SRBR, a Samsung foi responsável pela criação de dois importantes
Centros de PD&I, o Sidi e o Sidia, bem como de dois centros de capacitação – os Ocean Centers –
instalados em universidades públicas.
Conjuntamente, o ecossistema criado pela Samsung no País engloba atualmente mais de 2.000
engenheiros e pesquisadores, tendo gerado relevantes resultados, tais como o desenvolvimento do
software de todos os modelos de dispositivos móveis comercializados pela empresa no Brasil e países
da América Latina, a geração de 146 patentes, das quais 50 depositadas no USPTO, a publicação de
322 artigos, sendo mais de 80% em periódicos e anais do exterior, a realização de mais de 3 mil sessões
de capacitação para estudantes e desenvolvedores com mais de 68 mil participações e o investimento
de mais de 8 milhões de reais em empresas nascentes de base tecnológica.
Tais realizações não teriam sido possíveis sem os investimentos em PD&I viabilizados pela Lei de
Informática, razão pela qual a Samsung reitera sua visão no sentido de ser tal política pública essencial
para o desenvolvimento tecnológico do País na área de TICs.
4.7. Referências
BONACCORSI, A.; PICCALUGA, A. A theoretical framework for the evaluation of university-industry
relationships. R&D Management, v. 24, n. 3, p. 229-247, 1994. https://doi.org/10.1111/j.1467-9310.1994.tb00876.x.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991. Dispõe sobre a capacitação
e competitividade do setor de informática e automação, e dá outras providências. 1991b. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8248.htm.
LEITE, M.V.; LENHARI, C.L.; LIZÁRRAGA, M.G. Ranking of the best Brazilian universities and researchers
in information and communication technology: a methodology for a R&D Lab of a multinational
company in Brazilian consumer electronics’ industry. In: PICMET ‘14 Conference, Kanazawa, Japan.
2014. Proceedings… Kanazawa, Japan, p. 2636 – 2645, July, 2014.
LENHARI, C.L.; LEITE, M.V.; LIZÁRRAGA, M.G. Approach for evaluation and prioritization of a
technological idea portfolio supporting the management of an R&D Lab of multinational corporation
ibn the Brazilian consumer electronics’ industry. In: PICMET ‘14 Conference, Kanazawa, Japan. 2014.
Proceedings… Kanazawa, Japan, p. 2626 – 2635, July, 2014.
PERKMANNN, M.; SALTER, A. How to create productive partnerships with universities. MIT Sloan
Management Review, v. 53, n. 4, Sum. 2012, p. 69-82.
130
Capítulo 5 | Legado e evolução na
parceria indústria e academia na
UFC: Lei de Informática no fomento
à inovação e ao empreendedorismo
132
5. Legado e evolução na parceria indústria
e academia na UFC: Lei de Informática no
fomento à inovação e ao empreendedorismo
Rossana M. C. Andrade7
Maria Liliane M. Gomes8
Rute N. S. Castro9
Maria Jackeline S. Sampaio10
Javam C. Machado11
Francisco Rodrigo P. Cavalcanti12
Jarbas A. N. Silveira13
5.1. Introdução
Entre os vários papéis da universidade está o de produzir o conhecimento responsável pelo
desenvolvimento da ciência e da tecnologia. No caso das universidades públicas, como a Universidade
Federal do Ceará (UFC), tanto o corpo docente é excepcionalmente bem conceituado e com muitas
habilidades quanto os cursos de mestrado, doutorado e especializações possuem qualidade comprovada
particularmente com os egressos desses cursos, espalhados por empresas e outras instituições de
ensino e pesquisa do País.
Já a indústria de ponta, outro importante agente da sociedade, que possui o papel de gerar riquezas,
necessita do conhecimento produzido nas universidades para atingir seus objetivos, de curto e longo
prazo, especialmente para alcançar inovação.
É necessário então fomentar as parcerias academia-indústria e criar condições para que esse relacionamento
seja um sucesso. Nessa parceria, cada uma das partes traz diferentes experiências, objetivos e metas
que podem se complementar se o relacionamento for bem conduzido, transformando os desafios
em algo inovador e promissor.
Além da interação entre academia e indústria, temos, dentro do ecossistema de inovação, outros
atores sociais: o governo, na abordagem de ecossistema de inovação de hélice tríplice desenvolvida
por Etzkowitz e Leydesdorff, e a sociedade, adicionada pelo modelo chamado de quadrúplice hélice
(CARAYANNIS; CAMPBELL, 2009).
Mais especificamente, a Lei de Informática contribuiu para maior aproximação entre a indústria
de tecnologia de informação e comunicação (TIC) e as universidades brasileiras, especialmente as
localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A lei concede redução de Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) para as empresas que invistam um percentual de seu faturamento em
pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que permitiu o fortalecimento das instituições beneficiadas e
o crescimento quantitativo e qualitativo de vários grupos de pesquisa na última década, entre eles
134
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
Nesse contexto, este artigo apresenta um relato da experiência vivida pela UFC durante os últimos 15
anos em relação à parceria com a indústria de software usando os incentivos de Lei de Informática.
O foco principal é mostrar o legado para a UFC e a evolução dessa parceria indústria-academia,
bem como os desafios enfrentados e superados para que essa parceria se tornasse vitoriosa. Assim,
esperamos contribuir para mostrar os benefícios dos incentivos do governo por meio da Lei de
Informática para fomentar que indústria e academia trabalhem juntas. Além disso, esperamos que
este relato possa ajudar novas parcerias a se tornarem mais eficazes e duradouras.
O Grupo de Redes de Computadores, Engenharia de Software e Sistemas (GREat) (UFC GREat, 2020)
é um grupo de pesquisa relevante para o desenvolvimento da inovação na universidade cearense,
composto por professores, pesquisadores colaboradores e estudantes de graduação e pós-graduação
dessa universidade citada e de outras instituições de ensino superior (IESs). Fundado em 2002
pela professora Rossana Andrade, o GREat, atualmente, possui professores do Departamento de
Computação da UFC e de outras unidades dessa universidade, como o Departamento de Engenharia
de Teleinformática (Deti), o campus avançado da UFC em Quixadá, e o Instituto UFC Virtual.
A missão do GREat é formar pesquisadores qualificados para atuarem tanto no meio acadêmico
quanto no mercado de trabalho nas áreas de redes de computadores, engenharia de software, sistemas
distribuídos, sistemas multimídia e sistemas de mídia digital. Para tanto, o GREat atua em duas
vertentes principais: a formação de mestres e doutores e a pesquisa e desenvolvimento de soluções
tecnológicas. A primeira acontece à medida que os professores do GREat fazem parte de programas
de pós-graduação da UFC, como o Mestrado e Doutorado em Ciência da Computação e o Programa
de Pós-Graduação em Engenharia de Teleinformática. A segunda é estimulada mediante projetos de
PD&I financiados por órgãos de fomento nacionais e estaduais, por institutos de pesquisa, pela Lei
de Informática ou pela própria empresa interessada. Atualmente, os projetos do GREat são, na sua
maioria, financiados pela Lei de Informática ou por órgãos de fomento, como o CNPq e a Fundação
Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Quando esses projetos
são feitos utilizando a Lei de Informática, uma Fundação de Apoio é utilizada como interveniente
nos termos de cooperação com a indústria.
136
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
O Grupo de Pesquisa de Telecomunicações sem Fio (UFC GTEL, 2020) foi criado no ano 2000 com
a missão de desenvolver tecnologia em comunicação sem fio, pela pesquisa acadêmica e aplicada,
realizada por professores, alunos de graduação e de pós-graduação da UFC. Os trabalhos desenvolvidos
visam sempre, por meio de modelos matemáticos, otimizar o uso da telefonia móvel para, em última
análise, baratear custos e tornar o serviço mais confiável e seguro para os usuários, além de integrar as
tecnologias atuais, viabilizando sua intercomunicação. São reproduzidas e estudadas pelos pesquisadores
todas as dificuldades técnicas encontradas no dia a dia, como o intenso tráfego de sinais de rádio
das grandes cidades e as limitações atuais das tecnologias de rede. A partir daí, são propostas novas
soluções. O GTEL é reconhecido oficialmente pela UFC e registrado na base de grupos de pesquisa
do CNPq. Sua atuação em pesquisa se dá em consonância com o Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Teleinformática, o que gera um reforço técnico e material para a produção científica
e tecnológica de discentes e docentes atuantes em pós-graduação. Além de ser um laboratório de
pesquisa, o GTEL é também um centro executor de projetos de pesquisa e desenvolvimento em
parceria com empresas públicas e privadas e instituições de fomento.
Outro laboratório que capta projetos da Lei de Informática na UFC é o Laboratório de Telecomunicações
e Ciência e Engenharia de Materiais (UFC LOCEM, 2020), vinculado ao Departamento de Física (DFis)
dessa universidade, que atua na área de tecnologia de sistema de comunicação. O Locem tem como
As empresas brasileiras sabem do risco que estão expostas e lidam, todos os dias, para buscar por
qualidade e eficiência em seus produtos e processos (TARALLI, 1995). Já a academia necessita, de
forma contínua, captar recursos volumosos para financiar as suas pesquisas nas mais diversas áreas
avançadas de pesquisa, por exemplo, de TIC, as quais podemos citar: Internet das Coisas, sistemas
embarcados, sistemas ubíquos, redes veiculares (ARAUJO et al., 2020; BARRETO et al., 2019; VIDAL
et al., 2019; CARVALHO et al., 2018).
Apesar de terem motivações complementares para formar parcerias, a indústria e academia têm
interesses, objetivos e metas distintos. As indústrias geralmente querem um resultado imediato e a
universidade quer construir uma base científica mais sólida. Por conta disso, podemos citar o fato de
que as indústrias geralmente não estimulam publicações dos resultados obtidos durante o trabalho
conjunto em veículos científicos. Essa falta de estímulo às publicações pode ocorrer por causa de
problemas de confidencialidade e cessão de direitos à propriedade intelectual. O fato é que essa
questão vai de encontro aos interesses acadêmicos, uma vez que publicação é um dos fatores de
avaliação dos programas de pós-graduação e dos pesquisadores. Sendo assim, as parcerias academia-
indústria devem buscar uma simbiose entre o return of investment (ROI), que é a meta da indústria, e
os indicadores de desempenho da academia, sempre buscando o sucesso na parceria e o crescimento
mútuo (ANDRADE et al., 2017).
138
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
Em 2021, a Lei de Informática completará três décadas, sendo um mecanismo de política pública
que demanda tratar recursos relacionados à política industrial e à inovação para bens e serviços
de informática e automação (SOUSA, 2011). A Lei de Informática, ao priorizar essa indústria, abriu
oportunidades de parcerias para os diversos departamentos e institutos das universidades públicas
relacionados a informática, ciência da computação, engenharia da computação, telecomunicações
e áreas afins, que são o foco do relato deste artigo.
Além disso, essas parcerias incentivam a produtividade científica e tecnológica dos integrantes, o
que leva à melhoria de índices institucionais de produtividade na pós-graduação da UFC. Sob esse
aspecto, em recente matéria publicada pela universidade, em 11 de setembro de 2019, com o título de
“UFC se mantém entre melhores do mundo e sobe para a 13ª posição no Brasil, aponta ranking THE”:
Vale ressaltar ainda que a UFC busca melhorar sua posição em rankings de universidades por meio de
indicadores de produção científica, tais como número de artigos por professor e número de citações
Na pesquisa, a UFC passou de uma pontuação de 48.5 para 80.9 entre 2018 e 2019. Esta área,
que observa o volume, os resultados e a reputação dos estudos desenvolvidos pela instituição,
é a segunda de maior peso, representando 34% da nota final.
Tais índices também foram mencionados em outra notícia do mesmo sítio, do dia 24 de outubro
de 2019, com o título de “UFC é a sétima do Brasil em inovação, diz ranking universidades
empreendedoras”. O ranking mencionado na matéria está em sua terceira edição e é realizado pela
Brasil Júnior, confederação de empresas juniores brasileiras. Nesta edição mais recente, a Universidade
Federal do Ceará está entre as 10 melhores IESs na dimensão de inovação do ranking universidades
empreendedoras, ocupando a 7ª posição. No ranking geral, que considera todas as dimensões de
avaliação, a UFC encontra-se na 15ª colocação.
Dessa forma, observamos o benefício institucional que projetos de parceria com a indústria trazem
para a UFC. Esses projetos só foram possíveis pela existência da Lei de Informática, que deu visibilidade
às universidades do Nordeste, caso da UFC, e mostrou a PD&I de qualidade que fazemos em todo
o Brasil e a possibilidade concreta de contribuir com a indústria.
5.4.1 GREat
Em geral, as empresas parceiras do GREat buscam usar o conhecimento técnico e científico dos professores
e pesquisadores do grupo para ajudá-los na melhoria dos processos de desenvolvimento dos seus
produtos, no desenvolvimento de soluções inovadoras que lhes deem um diferencial competitivo e em
técnicas que possibilitem um ganho de produtividade. Também há um interesse grande em projetos de
inovação e desenvolvimento de software web, jogos e aplicações móveis, utilizando os conhecimentos
avançados de engenharia de software, uma das áreas de expertise do grupo.
140
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
Nos últimos 15 anos, a maior parceira do GREat tem sido com a LG Electronics (LG Electronics, 2020)
com a qual temos desenvolvido vários produtos de sucesso, como ferramentas web para uso interno
da empresa, jogos e aplicativos para os celulares LG disponíveis no mercado nacional.
Para o GREat, é importante mencionar os grandes investimentos realizados nos últimos 15 anos das
parcerias, entre esses investimentos, podemos citar: a construção do bloco 942-A da UFC (localizado
no Campus do Pici e a sua recente ampliação, totalizando agora 3.085 metros quadrados), bem como
a aquisição de equipamentos para a criação de uma nuvem computacional e, com um resumo dos
dados coletados de 2002 a 2018, temos outros 2.636 itens trazidos para o patrimônio da universidade,
mais de 900 empregos gerados, prêmios internacionais, registros de software e publicação de dezenas
de artigos em conferências e periódicos nacionais e internacionais com assuntos vinculados aos
projetos. Ressalta-se, ainda, o aporte financeiro para investimento em computadores, notebooks e
outros equipamentos, tombados como patrimônio da UFC.
5.4.2 GTEL
O Grupo de Pesquisa em Telecomunicações (GTEL) (UFC GTEL, 2020) foi criado para estudar as
tecnologias de telecomunicações sem fio e sua evolução, principalmente a tecnologia de comunicação
móvel celular (2G/3G/4G/5G) e a tecnologia de rede local sem fio (wifi). O grupo, fundado no ano
2000, contribuiu com técnicas para evolução dos padrões 2G para 3G (2000-2004), 3G para 4G (2004-
2012) e 4G para 5G (2012-2020). O GTEL nasceu de forma concomitante com uma oportunidade
de parceria com a multinacional sueca de telecomunicações, Ericsson. A empresa procurou a UFC
interessada em investigar e testar algumas das ideias do professor Rodrigo Cavalcanti apresentadas
em sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 1999. A partir
dessa primeira aproximação, iniciou-se uma relação institucional que é provavelmente uma das mais
longas parcerias universidade-empresa existentes no Brasil atualmente. Nesses 20 anos, a Ericsson
investiu em infraestrutura física (incluindo a construção do prédio sede do GTEL no campus da UFC),
equipamentos e bolsas de pesquisa. A cooperação entre a UFC/GTEL e a Ericsson gerou mais de 250
trabalhos científicos publicados, 2 livros, cerca de 60 teses e dissertações e 45 famílias de patentes. Para
além desses números, os alunos de graduação e pós-graduação envolvidos na cooperação beneficiam-
se de uma formação de engenharia de excelência, em contato direto com a tecnologia mais atual,
permitindo ampliar seus horizontes para além da teoria. Isto se torna ainda mais concreto por meio
dos estágios de pesquisa dos alunos da UFC nos laboratórios da Ericsson em sua sede mundial em
Estocolmo. Em resumo, a cooperação entre UFC/GTEL e Ericsson pode figurar como um exemplo de
sucesso de colaboração universidade-empresa em que todos saem ganhando: ganha a universidade
com o cofinanciamento de suas pesquisas e infraestrutura; ganha a empresa em termos de know-how
e propriedade intelectual; ganham os alunos com formação de excelência que une teoria e prática,
posicionando-os de forma privilegiada no mercado de trabalho.
142
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
5.4.3 LESC
O Laboratório de Engenharia de Sistemas de Computação (LESC) (UFC LESC, 2013) foi fundado em
2004, com recursos oriundos da Lei de Informática e, inicialmente, funcionou como um laboratório
avançado da Solectron, uma das grandes montadoras mundiais de bens de consumo em eletrônica,
que estava então instalada em Sorocaba. Desde sua fundação, teve como objetivo ser um laboratório
avançado de hardware e firmware, além de trabalhar fortemente em sistemas de diagnósticos de sistemas
Um dos pontos críticos documentado em Andrade et al. (2017) é a velocidade da tomada de decisões,
pois, apesar de as fundações de apoio tornarem os trâmites legais menos burocráticos e mais flexíveis,
alguns procedimentos, considerados triviais pelas empresas, ainda são demorados nessas instituições.
Por isso, é recomendado deixar claro para todas as partes, logo no início, os procedimentos necessários,
quais limitações e prazos existentes para cada uma das atividades que envolvem o projeto/parceria que
está sendo iniciada em cada umas das partes. Uma vez que isso seja estabelecido e aceito, ocorre mais
transparência a respeito das ações necessárias e fica mais claro todo o planejamento de cronograma e
orçamento que deve ser feito para garantir que as demandas das partes sejam atendidas e o projeto
seja iniciado no tempo necessário e concluído com sucesso.
Outro ponto mencionado em Andrade et al. (2017) diz respeito às diferenças de interesses e atitudes
entre os envolvidos na parceria. Embora indústria e academia tenham o sucesso do projeto como
objetivo em comum, cada um deles tem uma expectativa diferente em relação a vários pontos cruciais
144
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
Além dos desafios mencionados anteriormente, existe, ainda, uma problemática com a fragilidade na
comunicação entre os parceiros, que pode decorrer de diversos fatores, como a mudança de diretoria ou
stakeholder em posição estratégica dentro da empresa, ausência ou atraso na resposta da empresa ou
da academia em relação ao que estava sendo desenvolvido, mudança no plano de trabalho para atender
às expectativas de alguma das partes envolvidas e até falta de entendimento sobre determinado perfil
profissional dentro da universidade, como os pesquisadores. De maneira geral, para melhorar a comunicação
e amenizar a perda das informações históricas da parceria e mudanças estratégicas na condução do projeto,
são incentivadas reuniões periódicas entre as lideranças e entre as equipes para sincronizar as atividades e o
progresso no desenvolvimento do projeto e na documentação do mesmo, bem como uma concordância
entre as partes interessadas para o fechamento do escopo em um prazo factível.
Além da falsa expectativa de que a indústria pode ter de que um projeto com a universidade
possui custos gerais muito abaixo do mercado, decorrente do fato de não visar lucro nos projetos
ou de possuir uma equipe formada por alunos de graduação, mestrado e doutorado, a mudança
de requisitos durante o projeto, por parte da indústria parceria, também pode acarretar problemas
nessa parceria indústria-academia no tocante aos recursos financeiros. Como lição aprendida em
Andrade et al. (2017), existe a menção sobre o uso de técnicas de levantamento de requisitos para
ajudar no entendimento do domínio da aplicação a ser desenvolvida (BARBOSA et al., 2008) e
consequentemente a elaboração de um cronograma mais detalhado. A implantação de um processo
de medição (ALMEIDA, 2010a; CESAR, 2011b) também traz benefícios, pois, por meio dele, é possível
acompanhar mais de perto o andamento do projeto, sendo possível tomar ações prévias, tais como
5.6. Discussão
Alguns dos desafios citados neste artigo poderiam ser solucionados com boas práticas de gerenciamento
de projetos da engenharia de software (SOMMERVILLE, 2009), bem como atendendo aos níveis de
qualidade observados nas diversas certificações existentes (TARALLI, 1995). Por exemplo, problemas
de comunicação podem ser facilmente solucionados com a implementação de um plano eficiente
de comunicação ou, ainda, com o gerenciamento de riscos e sua estratégia de mitigação.
Vale a pena mencionar também que um passo seguinte para maior maturidade nas parcerias dentro
das universidades seria, então, a adoção de normas e procedimentos-padrão para todos os projetos.
Entretanto, para que esse passo seja alcançado, é necessário maior engajamento dos gestores das
universidades no sentido de dar mais apoio aos professores e pesquisadores que tenham esse perfil
de captação de recursos com empresas usando mecanismos como a Lei de Informática. Os projetos
de parques e polos tecnológicos (STEINER et al., 2008) que hoje existem em várias universidades
brasileiras suprem essa necessidade e já trazem um diferencial na captação de recursos das parcerias
indústria-academia. Esse apoio institucional é fundamental para que os professores e pesquisadores
possam se concentrar no seu perfil e se sintam motivados a continuar com as parcerias.
Nós acreditamos que, nas parcerias entre indústria e academia usando a Lei de Informática, mais
importante do que os resultados é a motivação das equipes. Por um lado, a academia deve estar
motivada para as parcerias que trazem demandas reais e a experiência prática necessária para
motivar os estudantes nas disciplinas e pesquisas relacionadas e, por outro lado, a indústria deve estar
fortemente interessada em buscar as novidades e os avanços tecnológicos que só a academia tem e
146
Capítulo 5 - Legado e evolução na parceria indústria e academia na UFC: Lei de
Informática no fomento à inovação e ao empreendedorismo
5.7. Conclusão
A parceria entre a UFC e a indústria no que tange a projetos de Lei de Informática propiciou um
grande aprendizado nas áreas envolvidas, bem como a formação de profissionais mais preparados
para o mercado de trabalho. Isso pode ser visto tanto nos resultados e relatos apresentados neste
artigo quanto nos desafios existentes nesse tipo de parceria discutidos nas lições aprendidas.
É importante, então, compilar as vantagens mensuráveis e não mensuráveis dos projetos de Lei de
Informática para os pesquisadores envolvidos e para a universidade como um todo, apresentadas
anteriormente, tais como a construção e reforma de laboratórios, a aquisição de equipamentos de
ponta, a formação de profissionais mais capacitados para o mercado, o apoio financeiro necessário
para o retorno e fixação de recém-doutores, e a participação em eventos científicos nacionais e
internacionais em consequência da publicação de artigos relacionados aos projetos.
Além disso, a solução parcial ou integral dos desafios no decorrer do desenvolvimento dos projetos
trouxe resultados para os pesquisadores envolvidos e para a universidade como um todo em termos
de experiência e esperamos que as lições aprendidas e relatadas neste artigo sirvam para outros
projetos a serem executados nas parcerias indústria-academia.
Todavia os desafios são constantes e, por isso, podem ser vistos como motivação e transformados
em metas contínuas para a inovação de ambos os lados, por exemplo: esforço de captação de novos
recursos (locais, regionais, nacionais e internacionais); melhoria na qualidade dos resultados, sejam
produtos de desenvolvimento ou de pesquisa, como patentes, registros de software e publicações
resultantes das parcerias com a indústria; necessidade de sustentabilidade; e criação de mais empregos
e empresas, dentro de parques tecnológicos.
Por fim, esperamos que este artigo contribua para a melhoria da parceria indústria-academia, bem
como seja um exemplo positivo do uso da Lei de Informática que já vem sendo utilizada por diversas
instituições brasileiras e sirva como ponto de partida para aquelas que estão iniciando.
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150
Capítulo 6 | Análise de Processos
Produtivos Básicos (PPBs)
152
6. Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
Jorge Britto15
6.1. Introdução
Passados mais de 25 desde a criação da Lei de Informática, as grandes mudanças estruturais pelas quais
o setor de TIC vem passando no mundo e no Brasil, em decorrência da crescente digitalização da
manufatura e da servitização dos modelos de negócios, entre outras tendências, criam oportunidades
para se aprimorar os fundamentos, as metodologias e os mecanismos de monitoramento e avaliação
dessa política. Entre os requisitos para as empresas auferirem os benefícios da lei, destacam-se exigências
em termos de processo produtivo básico (PPB), definido por meio da Lei nº 8.387, de 30 de dezembro
de 1991 (BRASIL, 1991a), como sendo “o conjunto mínimo de operações, no estabelecimento fabril,
que caracteriza a efetiva industrialização de determinado produto”. O PPB consiste de etapas fabris
mínimas necessárias que as empresas deverão cumprir para fabricar determinado produto como uma
das contrapartidas aos benefícios fiscais estabelecidos por lei. Atualmente, os PPBs são estabelecidos
por meio de Portarias Interministeriais, assinadas pelos ministros da Economia (ME) e da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)16. O presente estudo propõe uma avaliação da
conveniência e da viabilidade de concessão dos benefícios da lei em função da agregação de valor
efetivamente apresentada pelas empresas, referenciada ao modelo geral de PPB de Pontuação.
A análise desenvolvida neste capítulo contempla seis seções incluindo esta Introdução. A seção 6.2
recapitula os principais mecanismos de incentivo da Lei de Informática, antes das transformações
implementadas a partir de 2019. A seção 6.3 faz uma revisão da literatura acadêmica recente e
de avaliações de caráter policy-oriented, elaboradas por associações empresariais e organismos de
governo sobre os impactos da Lei de Informática e dos principais entraves, gargalos e problemas
identificados em termos da sua eficácia. Em seguida, a seção 6.4 faz breve sistematização das
Para auferir os benefícios oferecidos pela Lei de Informática, o processo de produção deve obedecer
a um conjunto mínimo de critérios e operações técnicas para fabricação de bens de informática
estabelecido pelo então MCTIC e pelo MDIC (depois, Ministério da Economia), o processo produtivo
básico. Segundo a legislação vigente até 2019, para fazer jus aos benefícios fiscais, as indústrias de
bens e serviços de informática deveriam aplicar, no mínimo, 4% do faturamento bruto no mercado
interno, decorrente da comercialização de bens e serviços de informática (deduzidos os tributos
correspondentes a tais comercializações), em atividades de P&D a serem realizadas no País, conforme
projeto elaborado pelas próprias empresas. Esse percentual não incide sobre as vendas para exportação
154
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
e corresponde a uma contrapartida à fruição dos benefícios fiscais. No entanto os benefícios são
concedidos aos produtos que se inserem no rol dos beneficiados, não à empresa indistintamente;
enquanto os investimentos de contrapartida em projetos de P&D devem ser distribuídos de acordo
com os percentuais preestabelecidos, conforme detalhado na Figura1.
Centro-Oeste,
Demais Regiões
ADA e ADENE
0,80%
0,64%
O critério de exigência de PPB foi criado pela Lei nº 8.387/1991 (BRASIL, 1991a) e passou a ser utilizado
como contrapartida a ser cumpridas pelas empresas que usufruem dos benefícios da Lei de Informática
(BRASIL, 1991b) e da Lei de Informática para a Zona Franca de Manaus (ZFM) (BRASIL, 1991a). O PPB
constitui uma contrapartida de valor agregado que, na prática, cumpre a função de uma espécie de
“regra de origem” para fins do direito ao usufruto dos incentivos fiscais, tanto da Lei de Informática,
quanto da ZFM e de outros programas. No caso dos bens de informática e telecomunicações, o PPB
também uniformiza as regras produtivas da Zona Franca de Manaus e da Lei de Informática.
Na análise da Lei de Informática, Garcia e Roselino (2004) ressaltam que ela exerceu, e continuaria
a cumprir, papel fundamental no fomento ao processo de formação e capacitação de profissionais
qualificados, por meio, principalmente, das interações com universidades e centros de pesquisa
em todo o País, bem como na atração de empreendimentos de grandes empresas internacionais
do complexo eletrônico. No entanto, no tocante ao desenvolvimento da capacitação local e da
atração de atividades geradoras de valor, os autores apontam alguns problemas e lacunas da política.
Em primeiro lugar, ressaltam que esses benefícios se concentraram em poucas empresas com elevados
faturamentos. Em segundo lugar, apontam a dificuldade de precisar o montante de recursos direcionados
para atividades efetivas em P&D, uma vez que as empresas buscam, por vezes, classificar como tal
diversas outras atividades, sem a devida aferição por parte dos órgãos fiscalizadores. Em terceiro lugar,
156
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
relativamente à utilização do PPB, apontam que as empresas, apesar de terem estabelecido no Brasil
apenas processos de montagem de placas (manufatura), não tiveram problemas no cumprimento dos
requisitos mínimos exigidos, com a montagem das placas e dos equipamentos já sendo considerada
suficiente para atender às necessidades de internalização da produção.
Outra crítica diz respeito à inadequação dos incentivos aos objetivos de equilíbrio da balança comercial
do setor e de adensamento da cadeia produtiva local de componentes eletrônicos, evidenciados
pelos vultosos déficits na balança comercial do setor, provocados principalmente pelas importações
de componentes – em especial semicondutores. Nesse sentido, ressaltam que o desenvolvimento
interno de atividades de P&D não garante per se a respectiva internalização das atividades produtivas
mais relevantes e mais geradoras de valor, identificando-se a necessidade de se constituir mecanismos
complementares mais efetivos, visando adensar as estruturas produtivas locais, para fazer frente
à questão do elevado déficit desses segmentos. Por fim, apontam que, quanto à natureza das
atividades tecnológicas desenvolvidas pelas empresas internacionais produtoras de equipamentos,
tanto de telecomunicações quanto de informática, essas atividades contemplam principalmente
investimentos em laboratórios voltados ao desenvolvimento de software, que apresentam custos
de instalação menores, relativamente aos centros de desenvolvimento de hardware, que envolvem
maiores irreversibilidades de investimentos. Nesse sentido, apesar de esse direcionamento refletir a
importância crescente do software no setor de TIC, haveria indícios de que as atividades tecnológicas
desenvolvidas pelas empresas internacionais se direcionam principalmente ao desenvolvimento
de software de menor valor agregado, sendo voltadas à codificação e programação, sem incluir a
arquitetura de sistemas mais complexos.
A análise de Bampi (2009) também aponta para a necessidade de revisão de mecanismos da Lei de
Informática. Em primeiro lugar, o autor ressalta que essa lei não garante que os recursos previstos como
contrapartida dos incentivos fiscais sejam efetivamente utilizados para P&D, pois a lei consideraria muitas
atividades de prestação de serviços – por exemplo: treinamento, difusão de padrões, manutenção
de softwares, etc. – como sendo atividades de P&D. Em segundo lugar, no tocante aos mecanismos
de incentivo baseados no PPB, aponta a necessidade de se avançar no sentido de incentivar mais a
engenharia de bens de TIC do que a montagem do bem propriamente dito, o que poderia ser realizado
a partir da tipificação de processos produtivos e de engenharia mais avançados a serem incentivados.
Além disso, em função da evolução tecnológica da indústria, o incentivo à montagem de placas e
de computadores já não envolveria atividades intensivas em trabalho que justificariam esse tipo de
benefício, principalmente em função da evolução dos componentes e da adoção de componentes
de sistemas em chip (SOCs) e partes modulares, com reflexos na montagem de placas em plantas
cada vez mais robotizadas.
Estudo elaborado por equipe da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (UNICAMP; CGEE,
2010) avalia que a ampliação da base produtiva na indústria, em função da Lei de Informática, deu-se
em proporção maior do que a da base de criação de valor. Identifica, assim, a necessidade de novos
instrumentos complementares aos atuais, já que uma competitividade baseada apenas em custos
e focada no mercado interno tende a agregar e a apropriar menos valor do que aquela baseada em
estímulos de competição global. Nesse sentido, o estudo aponta, entre os fundamentos para ampliação
dos impactos positivos da Lei de Informática, a adoção de estímulos progressivos por densidade do
investimento e por resultados alcançados, a partir de maior monitoramento, com base em um sistema
de avaliação continuada de resultados e impactos, com sistema de indicadores direcionados para
a medição da densidade produtiva e tecnológica da indústria de TIs no Brasil, acompanhada pela
revisão periódica do leque de atividades consideradas elegíveis, como pesquisa e desenvolvimento,
considerando a evolução global da dinâmica de inovação do setor.
A avaliação de Souza (2011) aponta que a intenção da política de apoio às TICs de buscar o adensamento
da cadeia produtiva no Brasil baseia-se em instrumentos que se mostraram inadequados. Argumenta,
nesse sentido, que, ao focar os incentivos apenas na etapa de menor valor agregado e menor grau
de investimento em P&D – pois a desoneração do IPI seria limitada aos bens finais –, se perde a
158
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
A análise de Prochnik et al. (2015) demonstra que os dois principais requisitos para empresas
interessadas nos benefícios fiscais, isto é, a exigência de conteúdo local e de investimento em P&D,
não geram sinergias um para o outro. Por um lado, os PPBs não requerem que as empresas façam
atividades complexas, aquelas que demandam maiores investimentos em P&D. Por outro lado, a
Lei de Informática não foi planejada para que as empresas venham a fazer investimentos em P&D
nos produtos incentivados, valorizando esses produtos, pois, para conseguir os benefícios da lei, as
empresas precisam especificar o projeto de produção, no entanto como a atividade de P&D é um
requisito para o desenvolvimento deste projeto, o investimento obrigatório costuma incidir sobre os
aprimoramentos posteriores do produto ou de outros produtos.
A análise de Zylberberg (2016) ressalta que, num contexto em que o setor de eletrônicos passou a
ser dominado por empresas líderes globais, o PPB foi instituído como um meio de garantir que os
fornecedores brasileiros tivessem oportunidades de participar das cadeias de suprimento locais dessas
empresas, e talvez, até mesmo, de suas cadeias globais de suprimentos. Entretanto o instrumento
provou ser muito rígido e inflexível para realizar seu objetivo declarado. A Tabela 1, a seguir, detalha
o PPB para notebooks, netbooks e ultrabooks e ilustra o grau em que o estado brasileiro procurou
especificar a taxa de nacionalização. A análise deste PPB mostra que parte das expectativas incorporadas
no PPB não foram cumpridas. As empresas têm localizado a produção de componentes simples,
como carregadores e peças moldadas por injeção de plástico, interagindo com fornecedores locais.
Componentes mais complexos, como drives de estado sólido (SSD) e memória de acesso aleatório
dinâmica (DRAM), são importados ou montados e empacotados localmente. Desse modo, o valor
agregado local permanece marginal. Em contrapartida, o aumento dos requisitos de conteúdo local
tornou o Brasil um local de investimento mais atraente para fornecedores de componentes globais,
superando as próprias empresas locais que a lei buscava originariamente proteger. Além disso, o
acelerado processo de evolução das tecnologias de base digital reforçaria a ineficácia da política, pois
Interface de comunicação 50 80 80 80
Zylberberg (2016) argumenta também que seria importante, em simultâneo com os ajustes necessários
na Lei de Informática, que os formuladores de políticas procurassem reforçar a participação do País
nos segmentos de software e serviços integrados à cadeia global de valor de TIC, melhorando o
acesso a plataformas globais, investindo em treinamento de mão de obra e criando condições para
a estruturação de empresas de software competitivas globalmente, o que permitiria ao Brasil passar
progressivamente de um situação de dependência na montagem de hardware de baixo valor agregado
para um player importante nos segmentos de software e serviços de alto valor agregado. Ressalta,
nesse sentido, que o Brasil participa de quase todos os segmentos da cadeia de valor das TICs, desde o
projeto de circuitos integrados até a montagem final de produtos. No entanto a participação é bastante
160
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
superficial e depende fortemente de importações. Além disso, não se identifica um estágio específico
da cadeia ou segmento de mercado em que o Brasil se mostre globalmente competitivo. Argumenta,
nesse sentido, que isso é um sintoma de políticas industriais amplas, desfocadas e implementadas no
País. Ao incentivar as empresas a localizar a produção de ampla gama de componentes, em vez de se
concentrarem em um número limitado de segmentos mais atraentes, o País teria criado uma base de
fornecimento sem especialização perceptível, sobre a qual pudesse construir uma competitividade
global. Além disso, o setor de TIC do País depende fortemente de empresas multinacionais, tanto
em termos de fabricantes contratados quanto de líderes de plataforma, os quais realizam P&D no
Brasil em troca de incentivos fiscais oferecidos por meio da Lei de Informática, contratando serviços
de P&D que geralmente poucos resultados efetivos demonstram.
A análise de Queiroz Filho (2019) busca avaliar o impacto da Lei de Informática de forma quantitativa,
utilizando a técnica de diferenças em diferenças (DID), considerando a variável “pessoal ocupado técnico-
científico” como proxy para o investimento privado em P&D. Para reduzir o viés de autosseleção e
aprimorar a comparabilidade entre empresas beneficiadas e não beneficiadas, aplica-se o método de
Propensity Score Matching (PSM) e a reamostragem por bootstrap para corrigir o desbalanceamento
entre tratados e não tratados da amostra. Por meio da análise realizada, não foi possível afirmar que
as empresas beneficiadas investem em P&D além do que seria esperado na ausência do programa.
Entre as análises com perfil mais nitidamente policy-oriented, cabe mencionar a avaliação do Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) (2014) e da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) (2015) que aponta que o conjunto de incentivos a atividades de P&D seria ineficaz para mudar
radicalmente o cenário de inovação no País, sobretudo porque tendem a se concentrar em número
reduzido de empresas. Além disso, seria necessário rever as referidas leis para adequar o conceito de
P&D para fins dos investimentos exigidos, de forma a considerar as diversas etapas das atividades das
empresas beneficiadas, e atualizar o conceito de política industrial nacional, de forma a contemplar
a inserção dos serviços, por exemplo uso e desenvolvimento de softwares, focando os incentivos na
cadeia de valor e não apenas na montagem final dos bens de informática.
Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) (2014), apesar dos
problemas identificados, a Lei de Informática é considerada um exemplo de sucesso, pois, em conjunto
com outros marcos legais, teria contribuído para reforçar uma posição de destaque no cenário
tecnológico mundial, com o País correspondendo ao quarto maior mercado de TI e Telecom, depois
dos Estados Unidos, da China e do Japão. A análise reconhece que, no contexto de redes globais, o
Brasil tem o desafio de progredir de forma escalonada, realizando programas e atividades que agreguem
mais valor a seus produtos industriais, num contexto em que já atuam no Brasil os principais atores
Em 2014, com base em trabalhos anteriores do Tribunal de Contas da União (TCU) e na avaliação
da Política de Informática produzida pela Unicamp e CGEE (2010), a Corte elaborou um diagnóstico
amplo de falhas na aplicação da Lei de Informática. Foram diagnosticados como principais problemas:
a ausência de impacto nas exportações; a concentração das atividades de P&D em desenvolvimento
experimental e não em pesquisa; efeitos limitados na agregação de valor; aumento da capacidade de
inovação, porém com densidade científica e tecnológica relativamente baixa; modelo institucional
que favorece somente a instalação de montadoras de equipamentos; incentivos voltados para
162
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
empresas que já atuam no mercado, em detrimento de novas empresas. Além disso, a análise do
TCU encontrou ineficiências no processo de concessão dos benefícios, principalmente em relação ao
tempo excessivo para análise dos pedidos, com descumprimento dos prazos previstos na legislação, o
que constitui fator limitante para a eficiência da política pública. Na operacionalização das políticas,
são destacados problemas decorrentes de ineficiências no processo de análise dos RDAs; falhas no
processo de monitoramento e avaliação dos dispositivos de P&D e falhas no processo de avaliação
dos dispositivos do PPB. Além disso, são mencionadas falhas no processo de avaliação ex post da Lei
de Informática e na gestão intrassetorial das diversas políticas públicas relacionadas a TICs.
Entre as conclusões do estudo do TCU, são enfatizados ajustes necessários para se avançar na direção
de etapas de maior valor agregado. O cenário apresentado busca a manutenção do programa,
Uma análise realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU) (BRASIL, 2019c) apresenta uma
consolidação dos resultados de 14 avaliações de impacto sobre a Lei de Informática nos últimos anos,
realizadas por diferentes atores. Aponta, nesse sentido, que a maior parte das avaliações analisadas indicou
a ausência de impactos significativos em dimensões relacionadas à pesquisa e ao desenvolvimento
tecnológico, tais como: adensamento da cadeia produtiva, desenvolvimento de novas tecnologias,
aumento do valor agregado e investimento em P&D. Segundo a avaliação da CGU, a maior parte
dos estudos indica que a Lei de Informática apresenta impactos limitados nas dimensões relativas à
produtividade; à balança comercial; aos arranjos produtivos locais; ao desenvolvimento tecnológico;
ao aumento do valor agregado. Já em termos das propostas no sentido de aumenta a efetividade das
políticas, a síntese de avaliações realizada pela CGU (BRASIL, 2019c) aponta para seis macroestratégias
principais: i) definição de temática estratégica, com destaque para a importância de definição de uma
agenda estratégica de P&D, com aumento dos gastos em setores de alta tecnologia, apoio a setores
competitivos e identificação de empresas de alto dinamismo; ii) reformulação da capacitação tecnológica,
com foco na importância de reforçar o vínculo entre atividades de P&D e internalização de etapas,
com base em mecanismos de interação entre agentes, estímulo à realização de parcerias e premiação
a projetos com interações locais, incluindo o apoio às multinacionais envolvidas; iii) combinação com
outros instrumentos de incentivo, especialmente a ampliação das políticas de TIC, com mobilização
de novos instrumentos, diversificação dos instrumentos de apoio à P&D e mobilização de compras
públicas; iv) aumento do foco no mercado internacional com ênfase no aumento de estímulos e
benefícios a exportações, integração ao mercado internacional e inserção em cadeias globais; v)
aumento do monitoramento e da avaliação e do foresight com vistas ao fortalecimento da capacidade
de avaliação da aplicação dos benefícios pelas empresas, particularmente das atividades elegíveis como
P&D, a partir de maior acompanhamento pelo gestor público; e vi) estímulo progressivo à maior
164
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
Entre as propostas de ajustes na legislação, cabe destacar, em particular, o documento elaborado pela
LCA Consultores para a Abinee, que aborda três aspectos principais: a substituição do PPB pelo PPA; as
medidas para ampliar as exportações; e as linhas de financiamento específicas para os fabricantes de
componentes. A estratégia perseguida busca agregar maior valor em diversas etapas que compõem
um produto final, por meio da absorção de conteúdo local, com base no conjunto da cadeia TIC –
incluindo insumos, manufatura, hardware, software embarcado, aplicativos, engenharia de sistemas
e integração de soluções – como parte dessa estratégia. Nesse sentido, propõe-se a concessão de
benefícios progressivos, caso os fabricantes de bens finais alcancem maior agregação local de valor,
permitindo às empresas a escolha das etapas de produção nas quais aplicaria maior valor agregado local.
166
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
realizar etapas que poderiam ter custo menor ou qualidade superior se realizadas no exterior. Logo,
os requisitos de etapas tendem a aumentar o valor agregado da cadeia local, mas podem, no entanto,
reduzir a competitividade da indústria de bens a jusante.
A partir da análise de 108 PPBs em relação às etapas da cadeia de valor de bens de informática,
encontramos a predominância de atividades de manufatura e montagem de bens finais (70 PPBs)
e bens intermediários (27). Essa evidência é condizente com o entendimento de que a indústria
brasileira é fortemente dependente das importações de peças, partes e componentes. A análise dos
PPBs à luz da smiling curve indica que as etapas produtivas básicas descritas nos PPBs concentram-
se quase exclusivamente (com uma exceção) nas atividades de produção, na base da curva sorriso,
confirmando o foco da política nas atividades de montagem e manufatura. As etapas produtivas dos
PPBs quase sempre dizem respeito às atividades como injeção plástica, corte, dobra, pintura/estampa,
fresamento, separação, montagem, soldagem, integração, regulagem/configuração, teste, embalagem,
ou seja, atividades padronizadas e de baixa diferenciação. Dos 108 PPBs analisados, 33 possuem,
adicionalmente, regras alternativas que facultam à empresa a realização de outras atividades em
substituição às etapas básicas. Nestas foi possível observar algumas atividades de pré e pós-produção,
notadamente projeto, P&D, desenvolvimento de software embarcado, exportação e reciclagem.
Diversas análises reforçam o entendimento de que a Lei de Informática, em particular por meio dos
PPBs, estimula o adensamento da atividade produtiva no setor de Informática sem, contudo, ser
capaz de incentivar atividades de maior valor agregado. Por uma lado, o incentivo fiscal a atividades
de manufatura atrai para o País justamente as atividades de menor complexidade, sensíveis à
competitividade por custos, mas pouco impacta na localização de atividades de mais alto valor, como
design, projeto, marketing ou pós-produção. Por outro lado, a obrigatoriedade ao cumprimento de
tarefas predefinidas, apesar de aumentar o volume da produção local, podem reduzir a flexibilidade
das empresas em terceirizar atividades de potencial menor custo no exterior, reduzindo sua
competitividade internacional.
Ao mesmo tempo, os Painéis na OMC atacaram agressivamente o PPB, especialmente na sua forma
encadeada, ou nested PPBs. Nesse sentido, um cenário viável da lei de TIC diante dessas críticas busca
manter a magnitude do benefício hoje concedido (modal de 12% do faturamento) e o equilíbrio
inter-regional, introduzindo elementos de proporcionalidade e flexibilidade ao programa; ao mesmo
tempo que busca deslocar as etapas produtivas num sentido de maior valor agregado na cadeia. Para
que esse cenário seja viável, é necessário que as etapas produtivas simples continuem com o status
de não condenadas na apelação. Em contraste, as etapas produtivas encadeadas, os nested PPBs, não
poderiam ser mantidos nesse contexto.
O modelo de PPB de Pontuação busca dar maior flexibilidade ao modelo de PPBs diante das
constantes mudanças nos padrões tecnológicos das empresas, em seus processos produtivos, nos
modelos de negócios e nas características da demanda, entre outros. Nesse modelo, estabelece-se
uma pontuação para cada uma das etapas mandatórias descritas no PPB seguindo a estrutura de
custos do produto e define-se uma meta de pontuação para a empresa beneficiada atingir que
busca refletir o grau de agregação de valor dos processos produtivos. Cabe à empresa habilitada
escolher, conforme as condições internas e de mercado, que etapas executar entre as pontuadas na
tabela de forma a atingir a pontuação exigida para obter o benefício. Alguns PPBs por pontuação
facultam à empresa a opção de complementar a pontuação mínima exigida com a realização de
atividades adicionais de P&D.
O modelo de PPB por Pontuação foi proposto, inicialmente, no Estudo sobre Cenários para a Lei
de Informática pós-Painéis da OMC WT/DS472/R e WT/DS497/R (BRASIL, 2018). Uma melhoria
importantes, em termos das próprias etapas produtivas, refere-se à introdução da etapa de projeto
e desenvolvimento no País. Essa etapa, que deve receber pesos expressivos, deslocam o foco dos
PPBs atuais da montagem para as etapas de desenvolvimento de produto e pesquisa. Desse modo,
valorizam-se as empresas que realizam esforços nas etapas mais nobres da cadeira de valor. Sugere-
se que o cálculo do benefício passe a ser feito de forma proporcional ao atingimento da meta de
pontuação das etapas de valor agregado. Assim, é possível creditar 100% do benefício às empresas
que atingirem 100% da meta. Nessa sistemática, é a empresa que estabelece o quanto utilizará do
benefício, em razão de seu planejamento de produção e de investimentos em P&D. O cálculo do
crédito fiscal poderia ser feito com base no percentual da meta de pontos das etapas de valor agregado,
programada pela empresa, para o ano-calendário, seguindo a fórmula:
168
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
Vct = (Mpe/Mva)*(VP&Dm*3)
Em que:
A principal diferença introduzida pelo PPB de Pontuação é que, para assegurar o benefício da lei,
uma empresa pode decidir quais etapas executar, conforme seu modelo de negócios em um dado
momento do tempo, desde que obtenha a pontuação mínima exigida. Havendo mudanças internas
ou externas na atratividade de algumas atividades, a empresa pode optar por substituir etapas
executadas por outras, sem necessidade de alteração das regras, mantendo o benefício, uma vez
que permaneça obtendo a pontuação mínima exigida. A possibilidade de pontuar atividades de
P&D também é aventada como uma mudança conceitual relevante em relação ao modelo atual.
Avalia-se que a proposta do modelo de PPB de Pontuação é muito positiva e mais adequada ao atual
desenho da cadeia de valor dos bens de TIC do que o modelo de PPB tradicional. A proposta reflete
claramente o aprendizado acumulado em mais de 25 anos da condução da Lei de Informática e
busca corrigir distorções significativas, trazendo vantagens claras para as empresas e os formuladores
de políticas. Além disso, esse modelo assegura maior liberdade, flexibilidade e adaptabilidade das
regras a diferentes modelos de negócios; cria condições para a relativização do poder de monopólio
de fornecedores e prestadores de serviço; assegura maior estabilidade e previsibilidade das regras; e
fornece uma métrica adequada para introdução de benefício proporcional.
Além disso, a especificação dos pontos apenas em função da estrutura de custos do produto (ou
conjunto de produtos), que é objeto do PPB, não dá aos gestores da política efetivo controle sobre os
requisitos para a concessão e a manutenção dos benefícios em termos da participação das empresas
nos elos da cadeia produtiva e de valor. Não parece haver qualquer justificativa para o uso da estrutura
de custos como referência na definição dos pontos que não a percepção de ausência de outro tipo
de informação. Embora de natureza subjetiva comparativamente à informação sobre a estrutura de
custos, a relevância estratégica de cada uma das atividades do PPB, em dado momento do tempo
para o setor no País, deveria ser levada em conta no estabelecimento não apenas da pontuação das
atividades mandatórias, mas também da meta de pontuação que a empresa deve atingir.
Ressalte-se ainda que o modelo de pontuação não faz distinção entre os requisitos de habilitação
para participação no programa e os de contrapartida para permanência nele – no caso, a realização
de atividades de P&D. Ainda que o estímulo a atividades de P&D seja recomendado pelo TCU no
item 9.5.8 do Acórdão 458/2014 (BRASIL, 2014), dada sua importância para que a lei cumpra seus
objetivos, o fato é que a lei ainda trata essa contrapartida de forma muito inespecífica, carecendo
de critérios e instrumentos de permitam conectá-la com o setor de TIC, e o modelo de PPB por
pontuação proposto não logra suprir essa carência.
Assim, embora traga maior flexibilidade e adaptabilidade à realidade das empresas e também assegure
maior estabilidade e previsibilidade às regras de cumprimento dos PPBs, o modelo de pontuação
proposto é ainda insuficiente, em termos dos seus instrumentos, para capacitar o governo a direcionar
essa política no sentido de influenciar o tecido industrial e incentivar o desenvolvimento das indústrias
de TIC no País de forma dinâmica.
170
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
Acredita-se, nesse sentido, que o modelo de pontuação pode trazer vantagens ainda maiores e mais
significativas se introduzidas algumas melhorias. Dois princípios gerais deveriam nortear a calibração
dos incentivos. Para um aumento do valor agregado pela indústria brasileira, seria necessária uma
reforma nos instrumentos para: i) estimular principalmente as atividades de pré e pós-produção,
notadamente as de maior valor na curva sorriso, a saber: pesquisa, desenvolvimento, projeto/design,
desenvolvimento de software embarcado, serviços atrelados (servitização), distribuição, marketing e
propriedade intelectual; e ii) incentivar empresas cujos modelos de negócios se voltem à geração de
valor no território nacional, por meio de P&D, engenharia e projetos, e não aquelas que realizam essas
atividades em suas sedes globais ou que apenas se concentram na atuação de baixo custo/baixo valor.
Em segundo lugar, é preciso que o formulador de política tenha maior controle sobre os requisitos
impostos para a concessão dos benefícios em termos dos elos da cadeia de valor, em função da
relevância estratégica atribuída a cada um deles em um dado momento do tempo e não apenas
da participação das atividades incentivadas na estrutura de custos. É certo que é preciso ampliar
o leque de escolhas para empresas em termos de que etapas produtivas executar de acordo com
seu modelo de negócios e sua capacidade de reação às mudanças internas e externas a que estão
sujeitas. No entanto isso não deve ser feito em detrimento da capacidade dos formuladores de
política de direcionar essa política industrial no sentido de influenciar o tecido industrial e incentivar
o desenvolvimento das indústrias de TIC no País de forma dinâmica. Uma opção a ser considerada
seria vincular estrutura de pontuação a atributos básicos da competitividade e de como eles se
articulam à capacidade de agregação de valor. Em particular, seria possível vinculação de pontuação
a atributos de eficiência/custos; diferenciação; customização e inovação (principalmente por meio
da incorporação de tecnologias pervasivas no campo da TI).
172
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
A mudança mais drástica implementada pela Lei nº 13.969/2019 (BRASIL, 2019d) foi a alteração do
incentivo de redução do IPI. O novo benefício fiscal será aproveitado por meio de créditos financeiros
que levam em conta o valor do investimento de PD&I das empresas e o valor do faturamento em
produtos que cumpram as regras do processo produtivo básico das empresas habilitadas no programa.
É possível também apontar as alterações na forma de cálculo da base de obrigação de investimento
de PD&I, nas limitações de investimento por ICTs e na abrangência do escopo dos depósitos em
programas e projetos de interesse nacional nas áreas de tecnologias da informação e comunicação
considerados prioritários.
Segundo a nova legislação, os PPBs deverão passar por alterações para adequação à nova legislação,
uma vez que a nova fórmula de cálculo do benefício prevê um PPB por sistema de pontuação e não
como é hoje, por definição de cumprimento de etapa produtiva. A Portaria interministerial nº 46 (e
47 para a ZFM), publicada em 21 de outubro de 2019 (BRASIL, 2019e; 2019f), prevê que a pontuação
atingida em cada etapa produtiva será determinada pelo número de realizações no País em relação
ao número total da produção ou em relação ao número dessa etapa produtiva realizada na produção
total, o que for maior. Também indica que não há obrigatoriedade de que o resultado das etapas
produtivas realizadas seja agregado à própria produção incentivada da empresa, exceção a projeto
e desenvolvimento, softwares embarcados, firmwares e middlewares, bem como à incorporação de
capacidades específicas, como a de recepção de sinais de TV digital do tipo SBTVD. Também prevê
que “é obrigatória a realização, no País, da etapa de integração final do produto, que deve incluir a
integração da placa com função de processamento central, se houver”.
6.7. Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA (ABINEE). O Brasil na infoera:
impactos da lei de informática no País. São Paulo, 2013. 66 p. Disponível em: http://www.abinee.org.
br/programas/imagens/brainfo.pdf.
174
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.484, de 31 de maio de 2007. Dispõe sobre os incentivos
às indústrias de equipamentos para TV Digital e de componentes eletrônicos semicondutores e sobre
a proteção à propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados, instituindo o Programa
de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores – Padis e o Programa de
Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para a TV Digital – PATVD.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11484.htm.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.969, de 26 de dezembro de 2019. Dispõe sobre a política
industrial para o setor de tecnologias da informação e comunicação e para o setor de semicondutores.
2019d. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13969.htm.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991. Dispõe sobre a capacitação
e competitividade do setor de informática e automação, e dá outras providências. 1991b. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8248.htm.
GARCIA, R.; ROSELINO, J. Uma avaliação da lei de informática e de seus resultados como instrumento
indutor de desenvolvimento tecnológico e industrial. Gestão & Produção, v. 11, n. 2, p. 177-185, mai./
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PACHECO, C. A. O financiamento do gasto em P&D do setor privado no Brasil e o perfil dos incentivos
governamentais para P&D. Revista USP, São Paulo, n. 89, p. 256-276, mar./maio, 2011. Disponível em:
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PROCHNIK, Victor; LABRUNIE, Mateus Lino; SILVEIRA, Marco Antonio; RIBEIRO, Eduardo Pontual.
A política da política industrial: o caso da Lei de Informática. Revista Brasileira de Inovação, v. 14,
n. especial, p. 133-152, 2015. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rbi/article/
download/8649103/15652/.
176
Capítulo 6 – Análise de Processos Produtivos Básicos (PPBs)
QUEIROZ FILHO, Antonio Sergio Malaquias de. Avaliação de impacto da Lei de Informática
utilizando os métodos Propensity Score Matching e diferenças em diferenças. 92f. Dissertação
(Mestrado em Economia) – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília: Ipea, 2019.
RIBEIRO, Eduardo; PROCHNIK, Victor; DENEGRI, João. Productivity in the Brazilian informatics industry
and public subsidies: a quantitative assessment. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA. 39.,
Foz do Iguaçu-PR: Anpec, 2011. Abstract... Foz do Iguaçu-PR: Anpec, 2011. Disponível em: https://
www.academia.edu/3137170/PRODUCTIVITY_IN_THE_BRAZILIAN_INFORMATICS_INDUSTRY_AND_
PUBLIC_SUBSIDIES_A_QUANTITATIVE_ASSESSMENT_.
SALLES FILHO, Sérgio; STEFANUTO, Giancarlo; MATTOS, Carolina; ZEITOUM, Camila; CAMPOS,
Fábio. Avaliação de impactos da Lei de Informática: uma análise da política industrial e de incentivo à
inovação no setor de TICs brasileiro. Revista Brasileira de Inovação, v. 11, p. 191-218, 2012. Disponível
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SILVA, L. N. F. Incentivos fiscais ao esforço inovativo e à inovação no Brasil: uma análise crítica da
gestão governamental. 135 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Faculdade de Ciências e Letras
(Campus Araraquara) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2018. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/153299/silva_lnf_me_arafcl.pdf?sequence=5&isAllowed=y.
SOUZA, Rodrigo Abdalla Filgueiras de. Vinte anos da Lei de Informática: estamos no caminho certo?
Boletim Radar, Brasília, n. 16, Ipea, p. 27-36, 2011. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/
stories/PDFs/radar/111108_radar16_3_cap3.pdf.
178
Capítulo 7 | Os processos produtivos
básicos dos bens de informática
incentivados e a smiling curve da
cadeia de valor de TIC no Brasil
180
7. Os processos produtivos básicos dos bens
de informática incentivados e a smiling curve
da cadeia de valor de TIC no Brasil
Emanoel Querette18
7.1. Introdução
A Lei de Informática foi editada em 1991 para fomentar o desenvolvimento do setor de tecnologias
da informação e comunicação (TICs), que tem sua importância associada à sua condição de
gerador de novas tecnologias aplicáveis a uma ampla gama de atividades. Trata-se de uma das mais
longevas políticas de incentivo fiscais existentes no Brasil e uma ferramenta relevante para estimular
investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o adensamento da cadeia de valor. Passados
mais de 25 anos desde a criação da Lei de Informática, hoje o setor de TIC experimenta grandes
mudanças estruturais, em decorrência do crescente nível de digitalização da manufatura e entrega de
conteúdo com base em plataformas digitais. Visando contribuir com o entendimento dos processos
de agregação de valor na indústria, de modo a apoiar o processo de formulação e ajuste da política
pública de fomento, este artigo analisa os processos produtivos básicos (PPBs) dos bens incentivados
pela Lei de Informática como segundo elos da cadeia de valor e a noção de smiling curve (curva
sorriso) característica dessa cadeia.
A Lei de Informática (BRASIL, 1991b e alterações posteriores) foi concebida para estimular a indústria
brasileira de tecnologia da informação e comunicação, principalmente por meio do estímulo à
instalação e operação de empresas de manufatura de hardware, não só pela concessão de incentivos
fiscais, mas também por meio de contrapartidas exigidas dessas empresas no tocante à realização de
pesquisa e desenvolvimento e da produção local. No entanto, considerando o caráter modularizado
e globalmente distribuído da fabricação de bens de informática, notadamente caracterizando uma
cadeia global de valor (CGVs), a definição do que consiste em produto nacional não é tarefa trivial.
Como veremos a seguir, a distribuição do processo de agregação de valor ao longo da cadeia produtiva
de bens de TICs tem se alterado ao longo do tempo. Atividade a montante e a jusante da cadeia
contribuem com cada vez mais valor, enquanto as atividades de montagem e manufatura no meio dos
processos respondem com cada vez menos valor. Esse fenômeno resulta na chamada curva sorriso.
Com o intuito de manterem-se no País as atividades de maior valor agregado e maior componente
tecnológico, evidencia-se a relevância de considerar a smilling curve da cadeia de valor de TIC e de
analisar os PPBs de produtos incentivados à luz desse conceito, de modo a avaliar a pertinência de
ajustes nos PPBs existentes e nos critérios de definição deles.
É possível observar, na Tabela 2, que o saldo da balança comercial brasileira dos bens incentivados pela
Lei de Informática é consistentemente negativo, na relação com os principais parceiros comerciais
(medido pelo volume absoluto de comércio), em todos os estágios da cadeia de valor, o que demonstra
182
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
que as empresas brasileiras, embora exportem componentes, partes e produtos finais, importam
todos esses itens em valor superior. Como podemos ver na Tabela 1, o valor total importado em
2017 foi US$15,99 bilhões, contra US$ 2,2 bilhões exportados. Observa-se, por um lado, que o tipo
de bem mais exportado foi o de produtos finais para o segmento de equipamentos industriais (29%),
seguido de eletrônicos automotivos (19%) e computadores, produtos para armazenamento e escritório
(15%). Por outro lado, os produtos mais importados, não surpreendentemente, são os eletrônicos
ao consumidor, respondendo por mais de 40% das importações. Entre 2012 e 2015, observou-se
redução expressiva nas exportações para os principais parceiros comerciais do Brasil, por exemplo a
China, a União Europeia, a Bélgica, a Argentina, o Chile e a Colômbia. Destaca-se o crescimento das
exportações para o Reino Unido (22,6%) e a Finlândia (22,1%).
Componentes eletrônicos
USD 23,80 milhões Intermediários Eletrônicos
USD 84,97 milhões Eletrônicos ao
Semicondutores Circuito Integrado Consumidor
Wafers Displays USD 286,02
Active Discrete milhões
Componentes
Passivos Placas de circuito
montadas Computadores/
armazenamento/
Circuito Impresso
escritório
Partes Específicas USD 340,29
milhões
Elétricos
USD 107,22 milhões Intermediários elétricos Automotivo
USD 200,49 milhões USD 425,59
milhões
Cabos e Fios
Motores e
Interruptores Baterias
Equipamentos
Painéis de Industriais
controle
Transformadores USD 651,38
milhões
Figura 1 - Volume de exportações brasileiras por elo da cadeia de valor de bens incentivados pela Lei de
Informática
Fonte: elaboração própria com base em dados de UN Comtrade (2018).
Nota: produtos selecionados conforme CGEE (2019).
184
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
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Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
2016 2017
188
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
2016 2017
CAGR
País 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2012-2017
(%)
China 79,37 82,91 78,03 69,92 97,07 73,55 -1,51
Hong Kong, China 77,55 61,75 38,15 45,79 30,79 32,03 -16,21
190
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
A indústria brasileira de bens de informática enquadra-se entre uma das maiores do mundo.
Além disso, esse setor possui grande importância estratégica, uma vez que apresenta tendências
de aceleração decorrente de fenômenos, como a Internet das Coisas, o avanço da convergência
tecnológica e a crescente digitalização da economia. No entanto, além dos desafios estruturais
associados ao Custo Brasil, o setor no País apresenta balança comercial cronicamente deficitária e
desvantagens logísticas em relação aos fabricantes do leste asiático e aos países líderes. O caráter
modular dessa indústria e a globalização da sua cadeia de valor representam oportunidade a países
de renda média, como o Brasil, em participar da cadeia global de valor sem a necessidade do
desenvolvimento de todas as competências verticais ao processo produtivo. No entanto os ganhos
decorrentes da participação em cadeias globais de valor não são automáticos. O conceito de curva
sorriso (smiling curve), proposto originalmente por Stan Shih, fundador da Acer, demonstra como
o valor agregado ao longo da cadeia de valor não é uniforme, mas concentra-se em determinados
estágios da cadeia. A divisão do trabalho entre países, portanto, tem importantes implicações no
grau de captura do valor gerado ao longo da cadeia. Os países líderes na CGV de TIC usualmente
controlam atividade no início e o fim da cadeia, a saber, P&D e design de produto a montante,
e atividades de marketing e marca a jusante, sendo essas atividades de maior diferenciação e
maior valor agregado.
Post-sales &
R&D
Retail Services
Added Economic Value
Developing
Design Marketing
countries
Logistics: Logistics:
Purchase Distribute
Production
Base Price
Pre-Production Production: Post-Proction
Intangible Tangible Activities Intangible
Value- Adding Actities
Figura 2 - Curva sorriso e atividades de agregação de valor
Fonte: Fernandez-Stark, Frederick e Gereffi (2011).
Gereffi e Fernadez-Stark (2016) apontam para estratégias de upgrading que envolvem a transição para
atividade de maior valor agregado na cadeia, ainda que isso signifique diminuir o volume de atividades
realizadas no País e aumentar o volume de importações. Um País que importa grande quantidade
de bens intermediários e exporta um grande volume de bens finais de alto conteúdo tecnológico é
capaz de capturar uma parcela relativamente maior do valor agregado e acessar mercados globais,
a despeito da perda na produção local. Fundamentalmente, o que a curva sorriso demonstra é que
o valor de um produto se concentra principalmente nas atividades intangíveis de pesquisa, design,
projeto, marca, marketing e comercialização. Essas atividades exigem elevada qualificação profissional
e são, portanto, mais recompensadas por meio de salários mais elevados.
192
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
Com base em documentos consultados, foram identificados 108 PPBs associados aos bens incentivados
pela Lei de Informática. A partir da análise desses 108 PPBs em relação às etapas da cadeia de valor de
bens de informática e segundo o desenho da smiling curve apresentado na Figura 1, encontramos a
predominância de atividades de manufatura e montagem de bens finais (70 PPBs) e bens intermediários
(27). Esse achado é condizente com o entendimento de que a indústria brasileira é fortemente
dependente das importações de partes e componentes.
16 Conectores para circuito impresso do item NCM 8536.90.40 nº 410, de 04.09.03 nº 409, de 04.09.03
17 Sistema óptico de comunicação pelo espaço livre nº 411, de 04.09.03 nº 412, de 04.09.03
22 Peças plásticas metalizadas para telefone celular nº 536, de 18.12.03 nº 537, de 18.12.03
26 Dispositivo de cristal líquido para telefone celular nº 179, de 05.07.04 nº 178, de 05.07.04
194
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
36 Antena para sistema de posicionamento global – GPS nº 125, de 25.07.07 nº 126, de 25.07.07
37 Cartão de memória com tecnologia secure digital – SD nº 157, de 29.08.07 nº 156, de 29.08.07
55 Unidade de bordo para pedágio e controle de acesso nº 262, de 22.11.12 nº 263, de 22.11.12
56 Scanner de inspeção de segurança por emissão de raios X nº 269, de 29.11.12 nº 268, de 29.11.12
nº 316, de
60 Bens de informática nº 317, de 25.09.2015
25.09.2015
196
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
63 Produtos para alarme, rastreamento e controle de velocidade nº 103 de 02.04.13 nº 104 de 02.04.13
76 Máquina para selecionar e contar papel-moeda (cédulas) nº 16, de 28.01.14 nº 15, de 28.01.14
198
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
A tabela 6 a seguir apresenta a distribuição dos PPBs analisados por elo da cadeia de valor dos bens
de informática, distinguindo entre partes, componentes, bens intermediários e produtos finais.
Partes (insumos
8
plásticos, metálicos)
Elétricos 1
Componentes (3)
Eletrônicos 2
Elétricos 8
Bens intermediários
(subassemblies) (27)
Eletrônicos 19
Equipamentos industriais 13
Médico 09
Eletrônicos ao consumidor 07
Produtos finais (70)
Telecomunicação 06
Automotivo 06
Bancário 03
Aviação 01
Total 108
A análise dos PPBs à luz da smiling curve mostra que as etapas produtivas básicas descritas nos PPBs
se concentram quase exclusivamente (com uma exceção) nas atividades de produção, na base da
curva sorriso, confirmando o foco da política nas atividades de montagem e manufatura. As etapas
produtivas dos PPBs quase sempre dizem respeito a atividades, como injeção plástica, corte, dobra,
pintura/estampa, fresamento, separação, montagem, soldagem, integração, regulagem/configuração,
teste, embalagem, ou seja, atividades padronizadas e de baixa diferenciação. Dos 108 PPBs analisados,
33 possuem, adicionalmente, regras alternativas que facultam à empresa a realização de outras
atividades em substituição às etapas básicas. Nestas foi possível observar algumas atividades de pré
e pós-produção, notadamente projeto, P&D, desenvolvimento de software embarcado, exportação
e reciclagem.
200
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
Notas: * o único caso de atividade tipo 1 nas etapas produtivas básicas incluía o projeto além das atividades usuais de fabricação. Resulta
em dupla contagem (tipos 1 e 2) no mesmo PPB. ** Nas regras alternativas, observam-se atividades de mais de um tipo.
A análise dos PPBs da Lei de Informática, segundo o elo da cadeia de valor, evidencia o estímulo ao
adensamento da atividade produtiva no setor de Informática sem, contudo, ser capaz de incentivar
atividades de maior valor agregado. O incentivo fiscal a atividades de manufatura viabiliza atividades
de menor complexidade relativa, mas há ainda espaço para atração de atividades de maior valor,
como design, projeto, marketing ou pós-produção. Entretanto a obrigatoriedade de cumprimento de
tarefas predefinidas, embora possa elevar o volume da produção local, pode resultar em uma redução
da flexibilidade das empresas em terceirizar atividades no exterior, reduzindo eventualmente sua
competitividade internacional. Ademais, a localização da atividade de manufatura e de montagem no
Brasil apresenta significativa desvantagem logística, uma vez que a produção de partes e componentes
se concentra na Ásia e os mercados compradores de produtos finais estão no Hemisfério Norte,
onerando segmentos da cadeia de valor mais sensíveis a custos.
7.5. Referências
BRASIL. Presidência da República. Lei n° 8.387, de 30 de dezembro de 1991. Dá nova redação ao §
1° do art. 3° aos arts. 7° e 9° do Decreto-Lei n° 288. 1991a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8387.htm#:~:text=LEI%20N%C2%B0%208.387%2C%20DE%2030%20DE%20DEZEMBRO%20
DE%201991&text=D%C3%A1%20nova%20reda%C3%A7%C3%A3o%20ao%20%C2%A7,1953%2C%20
e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991. Dispõe sobre a capacitação
e competitividade do setor de informática e automação, e dá outras providências. 1991b. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8248.htm.
FERNANDEZ-STARK, K.; FREDERICK, S.; GEREFFI, G. The apparel global value chain: economic
upgrading and workforce development. In: GEREFFI, G.; FERNANDEZ-STARK, K.; PSILOS, P. (Eds.)
Skills for upgrading workforce development and global value chains in developing countries.
Durham, NC: Duke University, Center on Globalization, Governance & Competitiveness, nov. 2011.
Disponível em: https://gvcc.duke.edu/wp-content/uploads/2011-11-11_CGGC_Ex.Summary_Apparel-
Global-Value-Chain.pdf.
FREDERICK, S. et al. Korea in global value chains: pathways for industrial transformation.
Durham, NC: Duke University, 2017. 195 p. Disponível em: https://scholars.duke.edu/display/pub1295490
202
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
GEREFFI, G.; FERNANDEZ-STARK, K. Global value chain analysis: a primer, 2nd Edition. Durham, NC:
Duke University, 2016. Disponível em: https://gvcc.duke.edu/wp-content/uploads/Duke_CGGC_Global_
Value_Chain_GVC_Analysis_Primer_2nd_Ed_2016.pdf.
UN COMTRADE. ICT Statistics. United Nations Comtrade Database, 2018. Disponível em: https://
comtrade.un.org/.
Código
Cadeia de Valor Código HS Descrição
Prod. List
204
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
Partes e peças para máquinas e aparelhos para escritório, n.e., exceto para
2829.2435 847340
Produtos finais - computadores
computadores,
escritório Peças e acessórios para máquinas para processamento de dados e suas
2622.2065 847350
unidades periféricas
Produtos 2825.2040 847989 Máquinas e equipamentos para saneamento básico e ambiental, n.e.
finais – equip.
industriais Peças e acessórios para máquinas e equipamentos para saneamento
2825.2050 847990
básico e ambiental
Código
Cadeia de Valor Código HS Descrição
Prod. List
206
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
2790.2200 853190 Partes e peças para aparelhos elétricos para sinalização e alarme
2651.2290 902610 Instrumentos e aparelhos para medida ou controle do nível dos líquidos
2651.2455 903290 Partes, peças e acessórios para aparelhos de medida, teste e controle, n.e.
208
Capítulo 7 – Os processos produtivos básicos dos bens de informática incentivados e a smiling curve da cadeia de valor de TIC no Brasil
2660.2130 902290 Partes, peças e acessórios para aparelhos de raios X ou outras radiações
8.1. Introdução
A Lei de Informática (LI) foi editada em 1991 (BRASIL, 1991) para fomentar o desenvolvimento do
setor de tecnologias da informação e comunicação (TICs) que, por sua vez, tem sua importância
associada à sua condição de gerador de novas tecnologias aplicáveis a uma ampla gama de atividades.
Trata-se de uma das mais longevas políticas de incentivo fiscais existentes no Brasil e uma ferramenta
relevante para estimular investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o adensamento da
cadeia de valor.
Passados mais de 25 anos desde a criação da LI, as grandes mudanças estruturais pelas quais o setor
de TIC vem passando no mundo e no Brasil, em decorrência da crescente digitalização da manufatura
e da servitização dos modelos de negócios, entre outras tendências, criam oportunidades para se
aprimorar os fundamentos, as metodologias e os mecanismos de monitoramento e avaliação dessa
política. Embora diversos estudos já tenham sido realizados sobre a referida lei, ainda persiste certa
lacuna de análises que enfoquem os temas relacionados à política industrial, mais precisamente o
desenvolvimento do tecido industrial, a ampliação da cadeia produtiva e principalmente a agregação
de valor ensejada.
O valor adicionado (VA) dos setores industriais é usualmente obtido da Pesquisa Industrial Anual
(PIA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se de uma variável derivada, ou
seja, calculada a partir de dados de outras variáveis coletadas originalmente na pesquisa. No caso, é
a diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário. Nas contas nacionais, ele é
obtido da mesma maneira e deve se igualar à soma dos salários e do excedente operacional bruto.
Assim, um primeiro problema a ser levantado para o uso do valor adicionado como referência para
mensuração de desempenho tanto da Lei de Informática quanto de qualquer outro incentivo é que
uma parcela substantiva dessa variável é obtida como resíduo e não mensurada a partir de uma
informação original.
Já o valor bruto da produção é definido como a soma da receita líquida de vendas, da variação de
estoques de produtos acabados e em elaboração, dos produtos de fabricação própria realizada para
o ativo imobilizado, deduzido do custo das mercadorias vendidas, conforme Figura 1 a seguir. Nesse
caso, é fundamental compreender o conceito de receita líquida de vendas, obtido a partir da receita
bruta, que inclui as vendas a partir da transformação industrial, mas também as vendas obtidas a
partir da comercialização geral de mercadorias, podendo, portanto, incluir vendas de produtos não
transformados internamente. Nesse caso, mesmo sendo deduzido o consumo intermediário – e,
214
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
portanto, a compra da mercadoria importada –, o resíduo diria muito pouco sobre o adensamento
da cadeia produtiva, mas estaria relacionado à variação do volume ou da margem de comércio
obtida pela economia, pelo setor ou pela empresa. Assim, seria possível que uma expansão do valor
adicionado do setor diante do total da economia esteja muito mais relacionada à dinamicidade da
demanda do que propriamente a uma evolução produtiva expressiva.
Operacional
bruto
Valor que a atividade Total das vendas Soma dos custos diretos (lucros e
econômica realizadas de e indiretos de fabricação, Impostos)
acrescenta aos bens produtos e serviços arrendamento, alugueis,
e serviços insumidos da atividade royalties e outros serviços
no seu processo acrescido das prestados por terceiros
produtivo variações de incorridos pela atividade
estoque
O uso do valor da transformação industrial (VTI) seria uma alternativa para superar parcialmente esse
problema. O valor da transformação industrial é calculado a partir da diferença entre o valor bruto
da produção industrial e o custo das operações industriais. O valor bruto da produção industrial
também tem como referência a receita líquida de vendas. No entanto ela é multiplicada pela razão
entre a receita bruta industrial e a receita bruta total, procurando captar assim apenas a parte da
transformação industrial propriamente dita. O custo das operações industriais procura captar também
apenas aqueles custos diretamente associados à produção industrial. A Figura 2, a seguir, ilustra o
conceito do VTI.
Custos diretos e
Indicador proxy Total das vendas indiretos de arrendamento,
para mensuração realizadas de fabricação alugueis,
de agregação de produtos e royalties e
valor de determinada serviços outros serviços
atividade econômica industriais prestados por
acrescido das terceiros
variações de incorridos pela
estoque atividade
O cálculo do VA e do VTI depende da definição do setor que a empresa pertença que, por sua vez,
requer a identificação da sua atividade principal. Aplicam-se, assim, dois critérios:
Critério 1: Empresa com unidade local única terá o setor que a sua atividade principal determinar.
Na aplicação do critério 2, primeiro determina-se a seção sobre a qual recai o montante maior de
vendas e, dentro desta seção, determina-se a divisão que detém o maior volume desta variável; dentro
desta divisão, determina-se o grupo com maior valor da variável e, dentro deste grupo, define-se a
classe com maior participação no valor total das vendas. Esta classe, por sua vez, identifica a atividade
principal da empresa.
A determinação do setor predominante pelo método top-down hierárquico é raramente utilizada fora
do âmbito dos entes estatísticos nacionais oficiais. Essa é uma das principais causas de importantes
distorções que este artigo pretende minorar.
216
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
A proposta de identificação das dificuldades do uso tanto do VA quanto do VTI foi organizada a
partir de quatro vieses: i) o viés devido ao cálculo por resíduo, ii) o viés devido à classificação do
setor por atividade principal, iii) o viés de captação devido à compatibilização das informações de
comércio exterior com as de produção nacional e, por fim, iv) o viés devido à variação de câmbio e
preços relativos. A seguir, cada um deles será visto com maior profundidade.
Viés devido ao cálculo por resíduo
Tal como visto anteriormente, o VTI é a diferença entre o VBPI e o COI. O VBPI corresponde ao total
das vendas realizadas de produtos e serviços industriais acrescido das variações de estoque. Já o COI
abarca os custos diretos e indiretos de fabricação, tais como o custo com matérias-primas, materiais
auxiliares, energia, partes e peças e serviços industriais.
Assim, o primeiro problema a ser levantado para o uso do VTI como referência para mensuração de
desempenho é que uma parcela substantiva dessa variável é obtida como resíduo e não mensurada a
partir de qualquer dado original. Em outras palavras, mesmo descontando o consumo intermediário
(inclusive matéria-prima importada), considera-se, para o cálculo do valor adicionado, a venda total dos
produtos que foram comercializados sem necessariamente terem sido transformados internamente.
Logo, o aumento de valor adicionado de um setor diante da economia como um todo pode não estar
associado ao adensamento da cadeia produtiva e, sim, relacionado à variação do volume vendido ou
de ganhos obtidos com a margem de comércio.
Viés devido à classificação do setor por atividade principal
O cálculo do VTI do setor depende, inicialmente, da forma como as atividades econômicas são
classificadas. A categorização de cada unidade é determinada pela Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (Cnae) na qual a atividade principal, ou o conjunto de atividades da unidade, está incluída.
Em geral, a atividade principal de uma unidade pode ser determinada a partir de informações sobre os
bens produzidos ou os serviços realizados para outras unidades produtoras ou para consumidores finais.
No caso mais simples em que, no nível de classe, a unidade exerce apenas uma atividade, a classificação
de atividade é determinada pela posição na Cnae 2.0, que compreende a atividade desta unidade.
No caso de unidades com múltiplas atividades, a regra geral é de classificação na Cnae 2.0 de acordo
com a atividade principal. Como recomendado pela Standard Industrial Classification of All Economic
Na prática, no entanto, os dados sobre o valor adicionado por bens e serviços individuais não são
disponíveis. É recomendado, nesses casos, que a atividade principal seja determinada usando-se uma
aproximação para o valor adicionado. As variáveis usadas como substitutas do valor adicionado
podem ser pelo lado:
• da produção: o valor da produção da unidade que é atribuído aos bens e serviços associados a
cada atividade; e o valor das vendas dos grupos de produtos (bens e serviços) em cada atividade; e
• dos insumos: a proporção de pessoas ocupadas nas diferentes atividades da unidade; e os salários
e outras remunerações atribuídos às diferentes atividades.
O uso de variáveis substitutas ao valor adicionado não muda o método para determinar a atividade
principal. São apenas aproximações operacionais aos dados de valor adicionado. O uso de quaisquer
desses substitutos, no entanto, pode trazer distorções sempre que a variável tomada como aproximação
não for diretamente proporcional ao valor adicionado.
No sistema estatístico brasileiro, a prática usual tem sido o uso da variável receita de vendas como
ponderador para a determinação da atividade principal, uma vez que é uma variável disponível e,
no geral, guarda uma boa proporcionalidade com o valor adicionado. Em algumas atividades, no
entanto, a proporcionalidade entre receita de venda e valor adicionado não é efetiva. É o que ocorre
na atividade de comércio, na qual o valor da receita de revenda tem normalmente uma relação bem
mais baixa com o valor adicionado do que, por exemplo, na indústria de transformação. Distorção
semelhante ocorre em atividades desenvolvidas com a prática de subcontratação da produção a
terceiros. Em alguns casos, ainda, a variável receita de venda não faz sentido, como ocorre nas atividades
de intermediação financeira e nas atividades não mercantis, como organizações e associações sem
fins lucrativos. Nessas atividades, o critério deve ser a real finalidade da unidade a ser classificada.
No caso especial de atividades múltiplas, que dizem respeito especificamente à integração vertical,
os diferentes estágios de produção são realizados por uma mesma unidade e o produto de uma
etapa pode se tornar o consumo intermediário de outra. Para situações como essa, a regra geral da
218
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
Cnae tem sido classificar a empresa na classe indicada pela atividade de final de linha. Isso significa
que empresas com essas características são alocadas em uma única Cnae e não fragmentada nas
respectivas atividades efetivamente realizadas. Essa desconexão causa distorções entre as informações de
produção com as importações efetivamente realizadas por cada setor e dificulta a mensuração do VTI.
Um exemplo bastante conhecido desse tipo de viés é a produção de petróleo. A Petrobras apresenta
um balanço unificado, mas tem participação relevante tanto na extração de petróleo, quanto no
refino. Tradicionalmente, o sistema estatístico localizava a Petrobras no setor de refino. Assim, o valor
adicionado da extração ficava subestimado, enquanto o valor do refino ficava superestimado. Nesse
caso, existia um complicador adicional que era o preço de transferência interno daquela transação.
Empresas integradas do setor de informática podem apresentar problemas semelhantes.
Outro exemplo seria o das usinas de açúcar, que aparecem em alguns anos localizadas no setor
produtor de alimentos e, em outros anos, no segmento produtor de energia. Isso é também relevante
para algumas produtoras de autopeças que têm seu setor de origem variando de acordo com o
fornecimento setorial predominante em um ano específico.
Do ponto de vista da política, existem três situações possíveis de alocação do valor adicionado a um
setor. Primeiro, a empresa ser alvo de política e ser identificada nesse setor. Essa é a situação virtuosa.
Os dados agregados setoriais identificam a empresa adequadamente e, portanto, a mensuração da
política por esse agregado parece ser bem feita. O segundo caso seria a empresa ser alvo de política e
não ser identificada pelo sistema de informação como pertencente ao setor-alvo. Nesse caso, os efeitos
da política se dariam em dados de outro setor, ou seja, haveria um transbordamento dos resultados
da política para um setor não analisado como alvo e, portanto, esse outro setor pode estar sofrendo
os efeitos da política e a comparação setorial deixa de ser virtuosa. O terceiro caso é a empresa
não ser alvo de política e ser identificada no setor-alvo. Nesse caso, a evolução do setor não estaria
levando em conta apenas os efeitos da política. Esses vieses podem, no entanto, ser adequadamente
dimensionados a partir de uma análise de microdados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) por meio
de tabulações especiais, em que se diferenciam as empresas que tiveram tratamento daquelas que
não tiveram.
Os dados de comércio exterior são disponibilizados pelo sistema Comex STAT/Secex-MDIC desagregados
no nível de produto a oito dígitos e classificados pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Por
meio de um tradutor, é possível fazer a correspondência entre esses produtos e os setores classificados
segundo a Cnae. Contudo essa correspondência não leva em consideração a forma como o IBGE
classifica as empresas de acordo com as diferentes atividades econômicas (ver seção 8.2.1).
O problema de compatibilização interfere tanto no cálculo do VTI, já que este leva em consideração,
na sua metodologia, os insumos intermediários importados, quanto na elaboração de indicadores
que busquem relacionar estatísticas de estrutura produtiva com aquelas de comércio exterior. Ao
final, o VTI pode estar superestimado ou subestimado a depender da parcela do COI com origem
importada que está contido em um ou mais setores.
Viés devido à variação de câmbio e preços relativos
Variações importantes no valor adicionado podem ser, quase integralmente, explicadas por preços
relativos, principalmente no setor de TIC, que tem um grande percentual de insumos importados.
Uma variação no câmbio pode aumentar ou reduzir substancialmente o preço dos importados. Aqui,
apresentam-se alguns efeitos distintos.
220
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
requerer o uso complexo da matriz insumo-produto, suporte metodológico que acaba por ser de
difícil acompanhamento na velocidade necessária para o exame de políticas.
No entanto o maior efeito se dá em análises que levam em consideração a razão entre valor da
transformação industrial (ou valor adicionado) e valor bruto da produção industrial (a chamada
razão VTI/VBP), uma vez que os efeitos dos preços no denominador e no numerador podem ser
de natureza distinta. Isso faz com que mudanças repentinas nesse quociente possam ocorrer em
virtude de variações substantivas no preço dos insumos e não necessariamente no ganho de valor
adicionado em relação à produção, por exemplo.
Uma primeira etapa a ser cumprida para a proposição de um conjunto de indicadores é a delimitação
do recorte setorial em questão. Sabe-se que o conjunto de produtos incentivados pela Lei de
Informática é constituído de bens de diferentes setores – e não apenas de bens do setor de informática
propriamente dito, mas também de bens de capital, bens não industriais, etc.
Assim, em um dado setor (aqui chamado do setor hipotético i), existe um subconjunto de bens
que são incentivados (área definida pelo código 1 na Figura 3 a seguir) e uma parcela de bens que
não são cobertos pela lei (indicado pelo código 3). Já o conjunto de bens incentivados contém
esse subconjunto (1) do setor i, assim como inúmeros outros subconjuntos de bens incentivados
pertencentes a diversos outros setores (2).
Assim, o problema central do estudo é encontrar e propor indicadores para avaliar a taxa de cobertura
da lei, aqui entendida como o coeficiente 1, que corresponde à parcela efetivamente incentivada do
subconjunto 1. Ou seja, é a intersecção entre o setor i e a lista de bens habilitados a receber incentivos.
Usando esse critério, torna-se possível definir a conjunção entre a cadeia de valor do setor de
informática e a lista de bens incentivados, conforme a Figura 4 a seguir. A cadeia de informática
pode conter, portanto, não só segmentos da chamada indústria de transformação, mas também
pode agregar setores não industriais. Nesse sentido, o foco da proposição de indicadores será na
interseção entre os bens listados à priori como incentivados e os setores que fazem parte da cadeia de
informática como um todo. O capítulo 3 – A cadeia global de valor de bens de informática: presente
e futuro, de Emanoel Querette – descreve, de maneira detalhada, como a cadeia de valor dos bens
de informática é definida.
Indústria de Transformação
Cadeia do
Lista de Bens
Setor de
Incentivados
Informática
222
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
Considerando-se que a Lei de Informática também contempla bens incentivados que são elaborados
em setores da economia que não a própria informática, a exemplo de bens de capital mecânicos ou
da indústria automobilística, a lista de bens incentivados pode ser representada como na Figura 5 a
seguir. Haverá, dessa forma, diferentes subconjuntos de interseção entre os diversos setores (da cadeia
de informática ou não) e os bens que se pretende incentivar.
Bens de
Capital
Setor de
Automotivo
Informática
Lista de Bens
Incentivados
Outros
Bens Não
setores
Industrias
industriais
Produtos
eletroeletrônicos
Com base na estilização proposta acima, é possível, ainda, identificar os diferentes produtos
incentivados de acordo com a sua posição na cadeia de valor, independentemente do seu setor de
origem. Esses bens podem ser um componente, por exemplo, um semicondutor ou um circuito;
pode ser um bem intermediário, como um display; ou um bem final, como um smartphone ou PC.
Essa esquematização e a caracterização de componentes, bens intermediários e bens finais estão
melhores fundamentadas também no capítulo 3 – A cadeia global de valor de bens de informática:
presente e futuro, de Emanoel Querette.
Esta seção apresenta uma proposta de indicadores para acompanhamento da indústria produtora
de bens e serviços de informática e comunicação coberta pela Lei de Informática. A ideia é atender a
dois objetivos principais, quais sejam: i) mensurar a competitividade revelada dos produtos nacionais
que foram alvo de política; e ii) procurar captar a capacidade de a política atingir os produtos de
maior crescimento no mercado.
Considerando alguns desafios já levantados, a proposta aqui ensejada parte da hipótese de que se tenha
acesso a um universo de dados que ora não são públicos, até por conta do sigilo das informações das
empresas. Em termos de fonte de dados, imagina-se como ideal o acesso a determinados dados das
empresas incentivadas, tais como: os Relatórios de Desempenho Anual (RDAs) tabulações especiais
da PIA para mapeamento de variáveis relevantes (VA, VTI, VBP e COI) e acesso aos dados de comércio
exterior por produto NCM.
O conjunto de indicadores destacados a seguir cumprem, portanto, uma etapa mais propositiva de
um princípio de análise contrafactual. Eles serão apresentados de acordo com três lógicas distintas:
indicadores de cobertura, indicadores de competitividade e indicadores de mensuração do foco da
política e impacto. Ainda que o contexto em que esses indicadores tenham sido pensados esteja
circunscrito ao escopo da Lei de Informática , eles também podem servir para outros desenhos
de política.
Indicadores de cobertura da Lei de Informática
Definiremos (1) como a receita das empresas incentivadas na nomenclatura do produto n e (2) como
a receita das empresas não incentivadas advindas de produtos definidos como incentivados.
224
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
Em (3), .
Assim, um primeiro indicador que mede o alcance da lei pode ser extraído do manuseio dos RDAs,
da PIA-Produto e dos dados de comércio exterior, como em (4) a seguir:
Da mesma maneira, podem ser elaborados indicadores para as firmas não participantes da política,
mas que produzem os bens e serviços cobertos por ela:
23 Esse indicador apresenta, no entanto, sensibilidade à taxa de câmbio, e a escolha do valor de câmbio a ser utilizado não é neutro.
226
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
Nesse caso, não há garantia de o indicador ter valor menor ou igual a 1, pois se estaria incluindo
no numerador as exportações das empresas incentivadas, excluindo-as do denominador. Pode-se,
alternativamente, elaborar a taxa de autossuprimento, definida por (7):
Indicadores de competitividade
Os indicadores TAS e TI apresentam valores entre 0 e 1 e a soma dos dois será necessariamente igual
a 1. O crescimento de TAS implica maior cobertura do consumo do mercado interno suprido por
produção doméstica, sugerindo crescimento da competitividade interna das empresas atuantes no
mercado nacional.
Alternativamente, pode-se pensar na importância das exportações no comércio total, que será
representada pela parcela das exportações do fluxo de comércio:
Esse indicador apresenta a participação das exportações no fluxo de comércio, tendo valor entre 0
e 1. Se for igual a 1, significa que todo o fluxo de comércio é de exportações. Se for igual a 0, todo o
fluxo de comércio é de importações. O acompanhamento no tempo do indicador ajuda a entender
a direção da variação do nível de competitividade internacional da indústria brasileira referente ao
produto n. No entanto não possibilita conhecer o efeito direto da política, ao não distinguir empresas
incentivadas e não incentivadas.
Se houver possibilidade de realizar tabulações especiais nos dados da Secex, podem ser elaborados
indicadores alternativos, uma vez que será permitido separar a produção doméstica destinada ao
mercado doméstico e à exportação entre empresas incentivadas e não incentivadas. Assim, a equação
(9) pode ser transformada em (10) como a seguir:
A partir de (10), pode-se obter a participação das exportações das empresas incentivadas no fluxo de
comércio e as exportações das não incentivadas também no fluxo de comércio .
228
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
Tem-se, assim, uma mensuração direta da competitividade fornecida pela política. Caso (11) e (11’)
tenham uma evolução melhor do que (12) e (12’), as empresas incentivadas possuem um desempenho
comercial superior às não incentivadas, sugerindo um efeito positivo tanto das cláusulas de P&D,
quanto do PPB.
Outros indicadores podem ser elaborados procurando mensurar a competitividade do setor promovida
pela Lei de Informática. Esse é o caso dos indicadores de vantagem competitiva revelada. Um primeiro
indicador dessa família é
Alternativamente, a partir de (6) e (6’), podem ser elaborados indicadores que avaliam o desempenho
dos produtos cobertos pela Lei de Informática relativamente a outros segmentos, no que denominamos
vantagem revelada no mercado interno:
A proposta aqui é a composição de dois conjuntos de indicadores. O primeiro é baseado nas empresas
apoiadas pela Lei de Informática. Nesse caso, partiremos de , que é a receita da empresa i, beneficiada
pela Lei de Informática, proveniente do produto n. A partir de tabulações especiais da PIA, obtém-se
, que é o somatório das receitas das I empresas participantes da Lei de Informática, em todos
os seus produtos. Assim, define-se:
230
Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
A equação (15) apresenta a razão entre o volume de receita do total de empresas apoiadas, derivadas
de produtos que são cobertos pela Lei de Informática, e a receita total dessas empresas. Esse indicador
varia entre 0 e 1. Será 0 se nenhuma receita for derivada de produtos cobertos pela Lei de Informática
e 1 se toda a receita for derivada de produtos da Lei de Informática.
A variação no tempo desse indicador pode, no entanto, ter significados dúbios. O crescimento de
SRLI pode, por um lado, representar um bom desempenho da política; por outro, pode ser indutor
de algum efeito crowding-out de outras atividades que seriam, alternativamente, estimuladas caso
não houvesse o investimento nessa linha.
Pode-se, também, elaborar o conjunto de bens e serviços de TIC, independentemente de serem cobertos
pela Lei de Informática ou não. Assim, define-se como o consumo mais exportações de
produtos de TIC. De tal maneira que:
Caso o indicador cresça ao longo do tempo, isso quer dizer que a Lei de Informática está situada
nos segmentos mais dinâmicos do setor de TIC. Caso o indicador decresça, ela estará localizada nos
segmentos menos dinâmicos do setor.
Esse indicador mede o fornecimento nacional de produtos de TICs não incentivados pela Lei de
Informática. Ele deve ser comparado com como estimativa do desempenho da Lei de Informática
no estímulo à produção nacional de TIC.
De acordo com o conceito de VTI, ele se mostra como o indicador mais adequado para se mensurar
a agregação de valor, dadas as restrições usuais na formulação e coleta dessas informações no nível
setorial já amplamente tratadas. A questão do seu uso não está precisamente no seu conceito, até
porque é a única variável existente capaz de proporcionar atingir os objetivos das avaliações. O ponto
sensível reside, sobretudo, nos procedimentos operacionais usualmente feitos para estimá-lo.
A maneira acessível de suplantar grande parte dos vieses tratados é recorrer às tabulações especiais
fornecidas pelo IBGE com base nos registros primários da PIA realizada pela instituição. As tabulações
especiais consistem de informações sigilosas fornecidas pelas empresas por meio do Cadastro Central
de Empresas (Cempre) que abrange todas as empresas brasileiras – tomadas como unidades locais
de produção, cada uma formalmente constituída com um CNPJ diferente – com 30 ou mais pessoas
ocupadas. Essas informações são, então, sistematizadas e analisadas pelo IBGE no âmbito da PIA –
tanto a PIA-Produto, que tem foco no produto produzido, quanto a PIA-Empresa, que tem foco na
unidade local de produção.
Os desafios que serão tratados agora abordam exatamente as limitações que podem ser
encontradas em requisições como essas e quais são as conclusões que podem ser extraídas a
partir de consultas similares.
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Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
a classificação Prodlist (classificação de produção nacional), enquadramento esse utilizado pelo IBGE
para classificar os produtos produzidos pelas empresas brasileiras. Logo, para se obter VBP, VTI, COI e
a receita líquida de vendas (RLV) (variáveis da PIA-Empresa) para o conjunto de empresas beneficiadas,
primeiro é necessário identificar os produtos incentivados na PIA-Produto.
Como os produtos que são registrados nos RDAs não possuem uma classificação padronizada e
específica, isso dificulta a interlocução com outras bases de dados. Principalmente para uniformizá-
los de acordo com um padrão inicialmente equivalente à NCM e, posteriormente, equivalente
a Prodlist. Para ilustrar o potencial desafio nessa padronização, utilizou-se como ilustração o
exemplo do produto Terminal Portátil de Telefonia Celular. A escolha por esse produto se deu
pelo fato de ele sozinho corresponder a mais da metade do faturamento total das empresas
beneficiadas em 2016 e 2017.
Com base nos dados da Tabela 1, todas as três formas que o produto é identificado nos RDAs são
classificadas de maneiras completamente distintas e sem uma regra clara de equivalência entre elas.
Como revelado anteriormente, o acesso inicial à PIA é via produto. Pelo exemplo dado acima, as
empresas incentivadas seriam rastreadas na base da PIA pelo código Prodlist 2632.2060 (telefones
celulares). No entanto esse código é mais amplo e abrange três produtos NCM: terminais portáteis
Algumas razões podem ser apontadas para o problema observado. A primeira é a tradução equivocada
entre o produto registrado no RDA e a sua NCM correspondente. Como não há uma padronização
prévia no registro do produto no RDA, essa possibilidade não pode ser negligenciada. Acredita-se que
esse conflito decorra da sistemática de solicitação do benefício adotada pelo gestor dessa política:
ao pleitear o benefício, as empresas fornecem uma descrição livre do tipo de produto atrelado ao
PPB aprovado, desconhecendo o padrão de classificação das atividades e dos produtos vigente, quer
por NCM, quer por Prodlist.
A segunda razão pode estar na tradução entre o código NCM e Prodlist, já que o último acaba sendo
mais abrangente e abarca uma variedade maior de produtos. Uma terceira razão está na distorção
entre as diferentes unidades locais de uma mesma empresa beneficiada. Uma unidade local pode
ter sido responsável pela fabricação do produto enquanto outra tenha respondida à PIA, de maneira
que o produto registrado no RDA pode não ter sido contabilizado na pesquisa. Por fim, uma quarta
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Capítulo 8 – Desafios para a construção de uma metodologia de avaliação da Lei de Informática
A principal recomendação que surge como subsídio técnico para o prosseguimento do esforço de
avaliação da Lei de Informática reside na constituição de um grupo-tarefa envolvendo a Sepin/MCTIC
e o IBGE, de maneira a definir um padrão convergente de enquadramento dos produtos incentivados
dentro das classificações oficiais de produtos e atividades que integram o Sistema Estatístico Nacional
(SEN). Esse esforço de coordenação na busca pela consonância com o SEN deve ser entendido como
um passo prévio e estratégico para a obtenção de informações sobre agregação de valor que sejam
minimamente confiáveis para dar suporte a qualquer sistema de avaliação.
8.6. Referências
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais RAIS. Portaria
nº 10, de 09 de janeiro de 2015. Disponível em: http://www.rais.gov.br/sitio/rais_ftp/PortariaRAIS2014.
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Homenagem ao professor David Kupfer
O projeto, realizado entre 2018 e 2019, buscou construir análises inovadoras e alternativas que pudessem
aprimorar a Lei de Informática e, assim, contribuir com o setor brasileiro de Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC). Falecido em fevereiro de 2020, David não chegou a ver publicados os resultados
dessa pesquisa - o último projeto das dezenas que coordenou como professor e pesquisador no
campo da Economia -. Para o CGEE, David foi sempre um parceiro próximo, tanto como pesquisador
de referência quanto stakeholder, neste caso, no período em que esteve como assessor da Presidência
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Engenheiro químico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), David iniciou sua
carreira como estagiário do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), dedicando-se a estudos sobre
as possibilidades de desenvolvimento da indústria farmacêutica e, posteriormente, da química fina
no Brasil. Nascia, ali, o economista industrial, que viria a se titular como mestre e doutor no antigo
Instituto de Economia Industrial (IEI) da UFRJ, instituição cujos quadros viria a integrar, primeiro como
pesquisador e, posteriormente, como professor e diretor.
Ao adentrar na seara das relações econômicas, David trouxe para a sua construção acadêmica
uma visão dinâmica de evolução da indústria, que percebia a convivência de diferentes padrões
de concorrência, coexistindo e se interinfluenciando dentro de uma mesma estrutura produtiva, à
semelhança dos fenômenos termodinâmicos que tanto admirava enquanto engenheiro de origem.
Com foco particular na indústria brasileira, pautou sua obra nesse olhar de dentro para fora, com ar
de criticidade e pragmatismo, porém atento à construção propositiva das chamadas avenidas que a
indústria poderia pavimentar, na busca pelo desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável. A
elaboração dessas alternativas se baseava, por sua vez, numa tríade que lhe era muito cara: a interação
entre produtividade, competitividade e “inovatividade” – três dimensões interdependentes que, ao
se retroalimentarem, fornecem o empuxo necessário para aparar os gargalos estruturais persistentes.
Deixamos aqui o nosso agradecimento, não só pela condução dessa pesquisa e de tantas outras,
mas também pelo legado de toda uma trajetória pautada pelo interesse, o afinco e pela defesa da
importância de se estudar a indústria brasileira, sem nunca deixar de olhar o todo que lhe ampara.
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Acesse www.cgee.org.br/energia