Análise Custo - Volume - Lucro
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Análise Custo - Volume - Lucro
Recebido em: 11/11/2017 Revisado por pares em: 30/11/2017 Aceito em: 10/12/2017
RESUMO
O objetivo deste trabalho é verificar de que forma as relações de custo-volume-lucro podem
contribuir na gestão financeira de uma empresa atacadista de alimentos em Natal (RN). A
pesquisa se enquadra quanto a abordagem qualitativa, quanto aos procedimentos, foi realizado
um estudo de caso em que foram coletados dados através de entrevista não estruturada com o
sócio majoritário da empresa. Baseando-se nos dados coletados relativos aos 10 produtos
mais vendidos pela empresa, em junho de 2014, foram calculadas as margens de contribuição
unitária e total, o ponto de equilíbrio contábil do mix de produtos, as margens de segurança e a
demonstração de resultado do período para efeito de análise gerencial. Constatou-se que a
partir dessas ferramentas de gestão a empresa tem condições de identificar as mercadorias
mais lucrativas e aquelas que mais remuneram o capital investido, e então estabelecer as
políticas diretivas que concorram para o alcance dos resultados almejados. Possibilitaram
também a determinação das vendas mínimas a serem realizados para cobrirem os custos e
despesas totais, tanto em quantidade como em valor monetário (R$). Os resultados apontaram
que a empresa possui perspectiva de continuidade por apresentar situação favorável na análise
do custo-volume-lucro.
Artigo apresentado no XXIV Congresso Brasileiros de Custos ocorrido em Nov/2017 em Florianópolis – SC.
RAC - Revista de Administração e Contabilidade. Ano 16, n. 32, p.66-85, jul./dez. 2017. ISSN 2525-5487
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ABSTRACT
The objective of this work is to verify the administration of a wholesale food company in
Natal (RN). A research is framed as to a qualitative approach, regarding a study procedure in
question. Database of data collected in relation to 10 best selling products by the company in
June 2014, calculations such as unit and total contribution margins, the accounting balance of
product mix, such as safety margins and income statement for the period for managerial
analysis purposes. It was verified that from management and company tools it is possible to
identify as more profitable goods and those that pay the capital invested more, and then to
establish as policies directives that compete to reach the desired results. They also enabled a
determination of the minimum sales to be made to cover total costs and expenses, both in
quantity and in monetary value (R $). The results showed that the company has a prospect of
continuity because it presents a favorable situation in the cost-volume-profit analysis.
1 INTRODUÇÃO
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
operacionais da organização estão associados custos que devem ser reduzidos e para isso
necessitam ser continuamente monitorados e gerenciados, de forma a facilitar a performance
dos produtos e serviços no mercado.
A Contabilidade de Custos, no entendimento de Horngren, Foster e Datar (2000, p. 2),
“mensura e relata informações financeiras e não financeiras relacionadas à aquisição e ao
consumo de recursos pela organização”. Observa-se que, tanto as aquisições, como o
consumo de recursos, que devem ser otimizadas, estão atreladas a decisões previamente
analisadas evidenciando o papel da nova gestão de custos.
Segundo Hansen e Mowen (2003), a Contabilidade de Custos contribui para o
planejamento, controle e tomadas de decisão, oferecendo respostas aos objetivos de custeio
tanto da Contabilidade Financeira quanto da Contabilidade Gerencial.
Hansen e Mowen (2003) destacam que o ramo de atividade em que a organização
trabalha e os objetivos a alcançar determinam o modelo de sistema de custos a empregar. O
sistema de informações da Contabilidade de Custos está inserido no sistema geral de
informações contábeis e na sua definição são ponderadas as especificidades de cada
organização. Deve ser moldado considerando todas as nuances do negócio, de modo a
satisfazer às necessidades dos clientes internos.
Nota-se que os gestores de empresas, tanto com fins lucrativos como sem fins
lucrativos, preocupam-se em conhecer como se comportam as receitas, os custos e o volume
de produção e qual o grau de interferência mútua quando ocorrem variações nesses itens.
Nesse sentido, Atkinson et al. (2000) reforçam que as previsões de resultados podem
ser prejudicadas por análises mal conduzidas de custos que ensejariam estimativas
equivocadas de vendas. Considerando na linha do tempo um período de até um ano, boa parte
dos custos e preços poderia ser determinada. A incógnita mais marcante é a quantidade que o
mercado absorveria do produto. Para os autores citados acima, o estudo da relação custo-
volume-lucro revela a influência da variação das vendas no resultado da empresa.
Combinar ações que foquem no controle e redução de custos de forma a possibilitar a
prática do melhor preço de venda com a identificação da quantidade a ser vendida capaz de
proporcionar o lucro desejado, é tarefa que faz parte do planejamento de vendas e constitui a
essência da análise da relação custo-volume-lucro.
Horngren, Foster e Datar (2000) ratificam afirmando que essa análise abrange o estudo
das variações das vendas e custos totais, bem como dos resultados motivadas pelas alterações
nas vendas, no preço de venda, custos variáveis por unidade ou custos fixos.
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A margem de contribuição é obtida pela diferença entre a receita líquida com vendas e
os custos e despesas variáveis. Esse valor paga os custos e despesas fixas e o que sobrar
contribuirá para a formação do lucro. No caso de uma indústria com mix de produtos, em
condições normais de produção, deverá ser privilegiada a fabricação daquele item que oferece
maior margem de contribuição.
Em relação ao uso da margem de contribuição na demonstração de resultado, Garrison
e Noreen (2001) comentam que se trata de modelo para uso gerencial em que os custos são
organizados segundo os seus comportamentos, variáveis ou fixos, e tem ampla aplicação,
dentre as quais, na montagem do orçamento, análise da evolução de uma linha de produtos e
na decisão entre comprar ou produzir. Utiliza-se também a margem de contribuição unitária
que é obtida quando se subtrai o custo variável unitário do preço de venda líquido do produto,
e revela com quanto o produto está contribuindo para pagar os custos e despesas fixas e para
formação do lucro.
Já a taxa de margem de contribuição, que pode ser total ou unitária, é dada pelo
quociente entre a margem de contribuição e a receita líquida de vendas. Revela em termos
percentuais quanto das vendas está sendo revertido para pagamento dos custos e despesas
fixas e quanto está somando para a constituição do lucro. Bornia (2002) entende que o
conceito de margem de contribuição relaciona-se ao de lucratividade da mercadoria e a taxa
de margem de contribuição à sua rentabilidade.
As facilidades na obtenção e na interpretação da margem de contribuição resultam de
simplificações que ensejam limitações ao seu uso, as quais devem ser observadas atentamente
pelos administradores. Padoveze (2009) alerta que a margem de contribuição, ao não agregar
os custos fixos indiretos aos estoques, promove uma mudança no lucro, devido à mensuração
a menor dos produtos.
Por outro lado, Bruni e Famá (2004) sustentam que os obstáculos ao se lidar com os
custos mistos, aqueles que embutem uma parte fixa e outra variável, podem resultar em
levantamentos distorcidos dos custos fixos e variáveis, dada à dificuldade de se distinguir a
parte fixa da variável.
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Atkinson et al. (2000, p. 192) conceituam ponto de equilíbrio como sendo “o nível em
que o volume de vendas cobre os custos fixos dos recursos comprometidos”. É a situação em
que as receitas totais de vendas são iguais aos custos totais (fixos mais variáveis). O estudo do
ponto de equilíbrio, conforme Martins (2010) pode ser analisado sob três aspectos:
O ponto de equilíbrio contábil representado matematicamente pela expressão abaixo,
caracteriza-se por apresentar igualdade entre a margem de contribuição total e a soma dos
custos e despesas fixas significando lucro nulo (MARTINS, 2010).
O ponto de equilíbrio financeiro evidencia qual a receita mínima com vendas capaz de
proporcionar a atualização de suas máquinas e equipamentos e a amortização dos
empréstimos financeiros.
Martins (2010) reforça que a aplicação das equações do ponto de equilíbrio acima,
limita-se a situações em que se tenha a produção ou comercialização de um só produto.
Observa-se que a situação mais comum abrange a produção ou comercialização de vários
produtos. Nesses casos aplicasse o cálculo do ponto de equilíbrio para o mix de produtos, cuja
fórmula é dada por:
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Com o mesmo enfoque, Souza, Schnorr e Ferreira (2011) estudaram as relações custo-
volume-lucro como artefato gerencial em indústrias do Estado do Rio Grande do Sul,
concluindo que essas ferramentas são mais empregadas nas empresas atuantes nos mercados
em que a concorrência é maior.
Acrescentando outras linhas de pesquisa, Teixeira et al. (2010), pesquisaram o uso de
instrumentos facultados pela contabilidade gerencial em empresas do Estado do Espírito
Santo e o seu impacto nos resultados econômicos. Os estudos revelaram que aquelas empresas
que utilizavam ferramentas de gestão tradicionais alcançaram valores maiores no Retorno
sobre o patrimônio - ROE e no Retorno sobre o ativo - ROA em relação àquelas que não
utilizavam qualquer ferramenta gerencial.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para Jung (2004), a pesquisa científica tem por fim último proporcionar ao homem
melhores condições de vida. Para tanto, apoia-se em técnicas aplicadas segundo métodos
cientificamente comprovados para produzir conhecimentos inovadores. Barros e Lehfeld
(1986) argumentam que pesquisar é um “ato dinâmico de questionamento, indagação e
aprofundamento consciente na tentativa de desvelamento de determinados objetos”. Portanto
a pesquisa científica é um conjunto de tarefas executadas, de acordo com procedimentos
científicos consistentes, com a finalidade de gerar dados na quantidade e qualidade suficientes
ao entendimento de um problema.
Demo (2001) expressa que pesquisa é “questionamento reconstrutivo” sinalizando que
há necessidade de aprofundamento e objetividade sistemáticos associados a uma interpretação
própria capaz de elucidar os fenômenos.
Quanto aos procedimentos, foi realizado um estudo de caso, no qual foram coletados
dados e documentos, através de entrevistas com o sócio majoritário da empresa, em julho de
2014, utilizando-se perguntas abertas, nas quais foram coletados dados operacionais relativos
ao mês de junho de 2014. Os dados também foram obtidos mediante consulta a relatórios e
planilhas eletrônicas de controle e acompanhamento dos negócios.
Barros e Lehfeld (1986) conceituam entrevista como sendo o instrumento de pesquisa
que levanta dados e informações acerca do evento ou fenômeno. A opção no trabalho foi pela
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entrevista não estruturada que, consiste num diálogo aberto com o entrevistado em busca de
dados sobre o problema, sem que ocorram perguntas antecipadamente elaboradas. Também
foi efetuada análise documental a partir de relatórios empregados pela empresa na gestão do
seu dia-a-dia.
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Filé de peito de frango 6,71 5,58 0,08 1,05 15,65 36.750,00 23,00
Fígado bovino 4,06 3,26 0,05 0,75 18,47 9.000,00 5,63
Peito de frango 4,79 4,14 0,06 0,59 12,32 8.260,00 5,17
Coxa e sobrecoxa frango 3,78 3,16 0,04 0,58 15,34 24.360,00 15,24
Carcaça de frango 5,15 4,51 0,06 0,58 11,26 18.560,00 11,61
Galinha matriz congelada 3,78 3,26 0,04 0,48 12,70 5.280,00 3,30
Salsicha hot dog 3,11 2,6 0,04 0,47 15,11 10.810,00 6,77
TOTAL MC 159.810,00
Onde: PVLu – Preço de venda liquido unitário; Cvu – Custo variável unitário; Despesa variável
unitária; Mcu – Margem de contribuição unitária; %Mcu – Percentual de margem de contribuição
unitária; MCt – Margem de contribuição total; %MCt – Percentual de margem de contribuição total.
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Dessa forma, constatou-se que no período sob estudo a empresa vendeu 196.000 kg de
mercadorias, bem acima dos 77.883 kg do ponto de equilíbrio, revelando que o desempenho
alcançado foi suficiente para cobrir os custos e despesas fixas e ainda contribuiu à formação
do lucro.
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Onde: PEC Mix kg – Ponto de equilíbrio contábil em kg; PEC Mix R$ - Ponto de equilíbrio contábil
em R$; MS kg – Margem de segurança em kg; MS R$ – Margem de segurança em R$; %MS –
Percentual de Margem de segurança.
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Essa demonstração com estrutura simplificada possibilita aos gestores análises mais
rápidas do resultado a partir de simulações de cenários com alterações dos custos e do volume
comercializado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como sugestão para futuras pesquisas nessa área de conhecimento, entende-se que
estudos acadêmicos que versem sobre uma análise comparativa entre a margem de
contribuição e taxa de retorno como elemento base na avaliação de resultados, ajudariam a
disseminar novas ferramentas de gestão às organizações.
Vê-se que a empresa deve esforçar-se para conseguir uma redução do custo de
aquisição dos produtos, cotando preços junto a diversos fornecedores, tendo em vista que esse
custo é o principal item na composição dos custos variáveis. Verificou-se no presente caso
que o gestor não emprega nenhuma das técnicas trabalhadas nesta pesquisa.
REFERÊNCIAS
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