Fox, Psicologia Crítica
Fox, Psicologia Crítica
Fox, Psicologia Crítica
Capítulo I
Psicologia Crítica para justiça social: preocupações e dilemas
Dennis Fox, Isaac Prilleltensky e Stephanie Austin
Tradução
Filipe Boechat
Marina Dantas
Revisão técnica
Francisco Portugal
Vocês descobrirão nos capítulos à frente que, apesar de nossas análises, suspeitas,
generalizações e conclusões sobrepostas, os psicólogos críticos não sabem todas as
respostas. Descobrirão também que a maioria de nós ocupa papéis profissionais
tradicionais tais como terapeutas, pesquisadores, avaliadores, consultores, professores,
estudantes ou advogados. O que nos diferencia (como gostamos de acreditar) é nosso
esforço para levantar questões sobre o que nós e os outros estão fazendo. Queremos ser
agentes de mudança social, não agentes de controle social. Seguimos adiante apesar de
saber que nós nem sempre podemos ter êxito, ou sermos completamente consistentes,
ou até mesmo saber sempre com segurança o que o êxito poderia parecer.
O envolvimento da psicologia no capitalismo, sugere Teo (capítulo 3), conflita com seu
potencial para ser uma ciência emancipatória. O capitalismo não é a única força destrutiva
atuando no mundo, mas seus pressupostos são talvez os mais dependentes de uma
visão de mundo individualista que vê a classe econômica como natural, antes do que um
estado de coisas construído (ver o capítulo 13, de Heather Bullock e Wendy Limbert).
Certamente, os psicólogos hegemônicos defendem a orientação individualista de seu
campo definindo a psicologia como o estudo dos indivíduos, em contraste com disciplinas
tais como Sociologia e Antropologia, que examinam grupos maiores. Embora essa
explicação pareça razoável, ela simplifica demais. Psicólogos tentando dar sentido ao
porquê de um indivíduo comportar-se de determinada maneira, sustentar certas
perspectivas, ou buscar certos objetivos inevitavelmente deparam-se com o impacto
direto e indireto de outras pessoas. Mas mesmo a psicologia social hegemônica, a
disciplina tradicional mais propensa a tatar da interação e do contexto social, tornou-se
cada vez mais individualista, como nos conta Frances Cherry no capítulo 6.
Por vezes, a desigualdade e a opressão são óbvias, fazendo essas formas de injustiça
relativamente fáceis de identificar e (ao menos para aqueles à certa distância segura) a
elas se opor (ver, por exemplo, a descrição de Huygens das imposições, por parte dos
colonizadores, da propriedade da terra capitalista aos povos indígenas. Outras vezes,
elas são institucionalizadas de maneiras sutis, dificultando tanto a compreensão de sua
operação quanto o combate à sua presença. É o que ocorre, por exemplo, quando
sistemas legais seguem regras mecanicamente mascarando verdadeiras injustiças (ver
Arrigo e Fox, capítulo 10). Em ambos casos, indivíduos e grupos dominantes mantém seu
poder às custas de outros, mesmo quando acreditam que suas ações são meramente
“normais” e “tradicionais” em vez de injustas e opressivas (I. Prilleltensky, 2008). Este
pressuposto normalizado dificulta nossos esforços para descobrir uma solução para os
problemas globais complexos quando usamos nosso próprio sentido (culturalmente
forjado) de princípios universais de justiça social (por exemplo, Fox, 2008a; Fox e
Prilleltensky, 2002).
Manter uma ordem social desigual requer persuasão ideológica. Ideologia tem diferentes
significados em contextos diferentes (Prilleltensky e Fox, 2007). A maioria dos psicólogos
críticos usa o termo em seu sentido marxista tradicional, referindo-se a crenças
largamente disseminadas que as elites políticas lançam mão para justificar uma
sociedade injusta e, assim, atenuar a crítica do status quo – ou, como Sloan coloca ao
discutir teorias da personalidade (capítulo 4), “ideias ou imagens que sustentam relações
sociais injustas”. Algumas crenças ideológicas eventualmente desaparecem. Hoje é difícil
imaginar que as pessoas comuns aceitem a noção de que reis governem por direito
divino. Entretanto, outras crenças persistem e novas outras entram em cena. Por
exemplo, o poder institucional ainda repousa em pressupostos ideológicos que são
frequentemente psicossociológicos em sua natureza – por exemplo, que pessoas
geralmente ganham o que merecem e que, assim, são pobres porque não trabalham duro
ou que um sistema econômico capitalista é melhor porque os seres humanos são
inerentemente egoístas e competitivos e que o governo sempre vai à guerra por boas
razões. Na medida em que não é universal, o acordo com crenças institucionalizadas da
ideologia dominante representa o que muitos críticos consideram falsa consciência, um
termo marxista que se refere a aceitação disseminada de crenças ideológicas imprecisas
(ver capítulo 4). Ensinando que a fonte da maior parte da opressão e da desigualdade é o
individual ou interpessoal antes do que social e política – “maçãs podres” antes do que
um “sistema podre” – instituições como escolas, doutrinas religiosas, cortes, partidos
políticos e mídia desviam movimentos para mudança social. A maioria dos autores neste
livro enfatizam o papel da ideologia neste sentido.
Alguns autores usam o termo mais amplamente. Ao longo do tempo, a ideologia associou-
se no discurso público a qualquer declaração que tenha conotação político-crítica,
permitindo ironicamente os que defendem o status quo julgar “ideológicas” mudanças do
limite esquerdo do espectro político. Psicólogos sociais hegemônicos e outros cientistas
sociais ampliaram o significado ainda mais para referirem-se a qualquer sistema de
crenças e valores, como sinônimo para uma visão geral de mundo. Este uso imparcial e
despolitizado, de acordo com o qual todos 'têm' uma ideologia, pode fazer qualquer
crença forte parecer algo suspeita, reforçando assim a noção de que aqueles que estão
mais ao centro vêem as coisas claramente (Fox, 2008a). Certamente, fazer observações
como essas acarreta frequentemente acusações dos psicólogos hegemônicos de que
nosso criticismo é ideológico, e assim, de alguma maneira suspeito e ilegítimo. Ao nosso
ver, o foco hegemônico no individualismo é ele próprio ideológico. De fato, a emergência
no final do século XX de uma 'psicologia positiva' que ignora completamente as críticas à
individualização dos problemas sociais ilustra a força contínua da ideologia dominante
(Pawelski e Prilleltensky, 2005).
Muitos psicólogos são levados a estudar psicologia motivados, em primeiro lugar, por
valores positivos e compromissos políticos. Com efeito, alguns sabidamente usam suas
habilidades e status profissional para ajudar segmentos elitistas da sociedade a manter o
controle. Steinitz e Mishler (capítulo 23) descrevem um exemplo: a participação de
psicólogos em técnicas de interrogatório que utilizam tortura. Todavia, como Ben Harris
particularmente sublinhou (capítulo 2), mesmo que a psicologia tenha sido utilizada
repressivamente, muitos psicólogos têm abraçado seu poder libertador. O problema, tal
como apontado acima, é o de que muitos psicólogos identificam sua tarefa em termos
abertamente estreitos: ajudar clientes individalmente ou aumentar o conhecimento
científico sobre tópicos tradicionais usando práticas de pesquisa tradicionais. Muitos
defendem reformas relativamente pequenas que consideram 'responsáveis' e 'práticas',
enquanto suas associações profissionais cada vez mais entram na arena política para
defender políticas públicas particulares (Herman, 1995), geralmente consistentes com
reformas políticas liberais e moderadas (Fox, 1993b).
Dilemas centrais
O mundo da psicologia crítica é maior e mais diversificado hoje em dia do que era há uma
dúzia de anos atrás, quando a primeira edição deste livro surgiu. Como você poderia
esperar, considerando sua identidade como uma alternativa crítica, este mundo
permanece muito distante do núcleo da psicologia hegemônica. Apesar de sua
marginalidade, existe hoje mais espaço para a formação e a prática em psicologia crítica
do que no passado. Novos livros (inclusive muitos deles escritos pelos colaboradores
deste livro) exploram diversas arenas e expandem o terreno da psicologia crítica. Outros
indicativos do crescimento da psicologia crítica variam entre conferencias, jornais, e
organizações de cursos, sites da internet e blogs. Apesar da maior parte da psicologia
crítica ainda estar relativamente isolada dentro de instituições tradicionais e muitos
estudantes de psicologia se depararem com o problema de encontrar um professor que
aprecie, ou mesmo conheça, a psicologia crítica, a expansão deste campo faz com que
estejamos menos sozinhos no nível nacional, internacional ou virtual. Um volume
especial do Annual Review of Critical Psychology descreve progressos em várias partes
do mundo (Dafermos, Marvakis e Triliva, 2006) .
Esta expansão também tem uma desvantagem prática: a crescente diversidade teórica e
metodológica da psicologia crítica a torna, de certa maneira, mais confusa do que ela
parecia há algum tempo atrás. As noções sobre o que a psicologia crítica é e o que ela
deveria ser se sobrepõem e competem entre si (colocadas, por exemplo, por Teo no
capítulo 3 e Cherry no capítulo 6). Algumas noções são especialmente favoráveis para a
exploração de certas questões. Por exemplo, algumas normas discriminatórias da
psicologia são mais fáceis de compreender quando centradas em questões de sexo e
gênero, tornando a análise feminista mais adequada. Ao mesmo tempo, o neo-marxismo
é mais relevante para as questões de classe econômica e poder. Os 35 colaboradores
deste livro fazem referência a esta e outras tradições intelectuais: psicologia crítica alemã,
psicologia da libertação latino-americana, construcionismo social, psicologia discursivista,
pós-modernismo, anarquismo, teoria crítica da raça, e mais. Todas encontram terreno na
psicologia crítica na medida em que visam eliminar as formas de opressão e promover a
justiça social. Apesar disso, a multiplicidade de abordagens e jargões torna mais difícil
mantê-las localizadas neste campo.
Isso também contribui para uma série de dilemas. Hoje em dia o trabalho dos psicólogos
críticos é cada vez mais definido por confrontar posições conflitantes, do que por seu
distanciamento em relação às normas tradicionais. Do teórico e metodológico, ao político
e pessoal, nossas escolhas ganham maior relevo. Algumas dessas escolhas dividem os
psicólogos de forma mais geral, como quando discordam entre si sobre, por exemplo, se
os seres humanos são principalmente racionais ou irracionais. Outros dilemas concernem
a psicologia crítica de forma mais direta, como, por exemplo, – apesar da nossa suspeita
sobre a reivindicação de uma autoridade científica para a psicologia – se devemos usar
nosso status profissional para impulsionar nossa credibilidade. Para ambos os dilemas,
nenhuma resposta única irá satisfazer a psicologia crítica como um todo. Como indivíduos
trabalhando na psicologia crítica, como um grupo de profissionais engajados na disciplina,
e como membros de sociedades falhas, nós estamos trabalhando para a mudança, cada
um de nós deve descobrir o que precisa ser feito.
Na tentatida de criar um sentido para o que traz as pessoas à psicologia crítica, Sloan
(2000) pediu que 20 psicólogos críticos refletissem sobre sua bagagem pessoal e sobre
os sentidos que conferem ao campo de estudo. Dentre várias coisas, ele perguntou “qual
o maior debate em psicologia social? Quais questões ainda não foram resolvidas?” Nesta
sessão, nós contruimos nossas próprias respostas para estas questões (Fox, 2000; I.
Prilleltensky, 2000) assim como Austin e Prilleltensky o fizeram em sua abordagem mais
sistemática e em importante trabalho realizado por outros estudiosos (por exemplo,
Hepburn, 2003). Nós vagamente dividimos nossos dilemas nas categorias sobrepostas
mencionadas a seguir: a natureza da natureza humana, que consiste em escolhas frente
à psicologia de um modo geral e o âmbito da mudança social e da ação política, um
tópico particularmente importante para os psicólogos críticos. Muitos dos colaboradores
deste livro se debruçam sobre um ou mais desses dilemas, às vezes de forma explícita,
outras apenas nas entrelinhas.
Depois de descrever como a psicologia crítica “faz teoria”, Tod Sloan pergunta:
Como vocês podem ver, nós temos questões, mas ainda nenhuma resposta!
Estar atento a isso também nos permite avançar em explorações reflexivas que estejam
de acordo com nossas vontades, necessidades e desejos. O que flui do nosso eu interior,
se é que ele existe, e da cultura que, estritamente falando, não existe para além de nós
mesmos, mas que nós e outros membros da sociedade criamos? E, apesar de termos
enfatizado a natureza socialmente enraizada do indivíduo, nós também vemos, e
procuramos reafirmar, as centelhas de ação e resistência que nos permitem mudar
nossas vidas e comunidades. Psicólogos críticos lutam para localizarem-se dentro da
dialética do determinismo e da livre escolha (Teo, 2005).
Victoria Clarke e Virginia Braun nos lembram que a mudança social não é o objetivo
principal de todos os psicólogos críticos (capítulo 14). O notório desacordo entre Kerry
Chamberlain e Michael Murray sobre como a psicologia crítica da saúde "deve centrar-se
em revelar a disparidade e a desvantagem ou em alterá-la" (capítulo 9), ressalta que a
pesquisa narrativa e discursiva enfatiza a primeira posição, enquanto que a pesquisa-
ação enfatiza a segunda (Alexa Hepburn e Clare Jackson descrevem a psicologia
discursivista no capítulo 11). Apesar da diversidade política, é plausível dizer que a maior
parte dos psicólogos críticos acredita haver algo fundamentalmente errado em uma
disciplina que não somente falha em modificar práticas sociais injustas, mas de fato as
reforça, e há algo de fundamentalmente errado com sistemas sociais que excluem,
alienam e oprimem massas de pessoas. O debate interno na psicologia crítica não é tanto
se a mudança social é necessária, mas qual nível de mudança buscar e como realizá-la.
Os posicionamentos em relação a esta questão refletem uma confluência do político e do
pessoal ao profissional e pragmático.
A postura de uma consciência reflexiva nos lembra que o ambiente que nos cerca afeta
aquilo que realizamos. O ambiente inclui as configurações acadêmicas tradicionais que
empregam psicólogos críticos mais bem definidos. A acadêmica oferece um número de
vantagens, não somente benefícios práticos, mas também a norma (bastante prevalente)
de que a exploração intelectual faz parte do trabalho. Nosso geralmente confortável e
privilegiado ambiente de trabalho, contudo, impõe uma variedade de limites formais e
informais, alguns dos quais levam ao que Huygens referiu-se por “derrotismo político da
acadêmica” (capítulo 16). Estes limites restringem especialmente os alunos já graduados,
que procuram emprego e estão em estágio probatório, esperando manter os empregos
que possuem. Todos sabemos que, para manter-se na academia, especialmente nas
principais instituições, é preciso mais do que aparecer na hora certa e realizar um bom
trabalho. Assim como nos espaços de trabalho marcados por uma configuração
hierárquica, isso também significa agradar administradores e professores seniores. Esta
já é uma tarefa bastante difícil para acadêmicos que aceitam as normas institucionais,
particularmente numa era em que as universidades cortam custos contratando
professores em tempo parcial para substituir os de tempo integral. A tarefa é ainda mais
difícil para professores críticos, cujo trabalho critica, implicita ou às vezes explicitamente,
as normas acadêmicas em geral e em suas próprias instituições. Psicólogos críticos que
desafiam a pesquisa, os valores e a política daqueles, em seus departamentos ou
administrações, que têm o poder de contratar e deminitr, com frequência colocam-se em
situação de risco profissional. (Dennis Fox apresenta algumas dessas questões na parte
final deste livro dedicada às perguntas mais frequentes).
Perante tudo isto, pode ser tentador afirmar que a nossa mais importante contribuição é
escrever livros que identifiquem problemas para que outros resolvam. O coração da
academia é, afinal de contas, intelectual e não ativista. E assim como Teo (2005)
observou, dentro da tradição crítica, tanto a desconstrução do atual estado de coisas,
quanto a oferta de visões para um melhor estado de coisas, falharam. Muitos de nós
ainda tentam achar algum equilíbrio entre teoria e ação, entre criticar o mundo e tentar
mudá-lo. Teo aponta no capítulo 3 que, embora o aumento do conhecimento seja uma
forma legítima de ação, “teorização em prol da teorização e pesquisa em prol da pesquisa
devem ser consideradas práticas indulgentes dado que a vida e a morte estão em jogo”.
Então nós tentamos mesclar nossa política crítica com nosso trabalho profissional, às
vezes, realizando pesquisas politicamente relevantes e intervenções, ilustradas ao longo
deste livro. Mas, adotar uma metodologia crítica, como descreve Stainton Rogers no
capítulo 20, é mais fácil em algumas sub-disciplinas do que em outras. Por exemplo, a
natureza da psicologia comunitária torna particularmente úteis abordagens como a da
pesquisa-intervenção na comunidade (ver, por exemplo, capítulos 8, 17, 22).
O segundo dilema, gerado em parte pelo nosso ambiente acadêmico, mas que reflete
também questões mais amplas da filosofia e estratégica políticas, determina o nível de
ação apropriado. Como Prilleltensky e Nelson observaram (capítulo 8), e como foi
discutido em muitos outros capítulos, existe uma importante distinção entre práticas
paliativas – por exemplo, aquelas que tendem para os feridos, para o cuidado dos
deficientes, e tratamento dos enfermos – e práticas transformadoras, cujo objetivo é
mudar os sistemas que ferem e marginalizam tantos. Psicólogos críticos acusam a
psicologia hegemônica de ser, quase que exclusivamente, paliativa, focada na terapia
para os aflitos, em pesquisas destinadas a pequenas reformas e empreendimentos de
horizonte limitado. Levando em conta estas críticas, os psicólogos críticos deveriam
abandonar a esfera paliativa e simplesmente adotar transformações de maior alcance?
Na prática, não é sempre fácil identificar esforços transformadores, ou determinar qual o
papel que podemos desempenhar (ver a discussão de Steinitz e Mishler sobre as políticas
de resistência). Nós nem sempre concordamos entre nós sobre se, por exemplo, um
projeto em particular é realmente transformativo ou meramente melhorativo. Parece claro
que, ao menos em curto prazo, práticas melhorativas ajudam mais rapidamente aqueles
que necessitam, ainda que essa ajuda seja mais limitada do que uma psicologia da
emancipação ou libertação potencialmente visariam. Mesmo em condições menos
terríveis como aquelas pesquisadas por Lykes e Coquillon, cujas comunidades saiam de
uma guerra (capítulo 17), é exigida uma resposta prática.
Ao descrever o terreno da psicologia crítica, Teo observa que “no pensamento crítico é
possível encontrar orientações ético-políticas que variam da esquerda liberal progressista
à radical” (capítulo 3). Alguns autores presentes neste livro, distribuídos neste espectro,
estão remetidos ao dilema político. E descrevem o quanto os métodos de pesquisa
tradicionais, que estão firmemente enraizados na visão positivista da psicologia
hegemônica, ajudaram a marginalizar ou oprimir pessoas de formas significativas (por
exemplo, os capítulos de Ora Prilleltensky sobre deficiência e Cherry sobre psicologia
social). Na verdade, Ignacio Martin-Baró (1994), cujo desenvolvimento de psicologia da
libertação é apontado por muitos como um modelo, utilizou métodos tradicionais de
pesquisa para promover a libertação. Poderíamos chamar esses esforços cruciais de
“críticos”? Uma psicologia crítica que está focada na “mudança transformativa” e que
atinja a “raiz do problema” está localizada unicamente no espectro radical e político, ou
podem os liberais e progressistas, que buscam reformas pragmáticas, também ser
críticos? Se sim, como poderíamos distingui-los de seus pares progressistas “não-
críticos”?
Talvez haja uma distância maior do que gostaríamos de acreditar entre o que é teórico,
metodológico e politicamente consistente em “psicologia crítica” e, mais confuso, o que é
inconsistente em "psicologia da justiça social". No capítulo 2, Ben Harris utiliza as
percepções e equívocos sobre a história da psicologia para nos lembrar que o
pensamento dicotômico pode levar psicólogos críticos a se perderem. As definições são
ardilosas. Nossos dilemas persistem.
5. Psicólogos críticos diferem entre si com relação aos seus dilemas, os quais foram
discutidos aqui segundo duas categorias: aqueles sobre os quais se debruçam os
psicólogos em geral, a natureza da natureza humana, e aqueles enfrentados pelos
psicólogos críticos, mais diretamente relacionados ao âmbito da mudança social.
Glossário
Questões