Mod - 4 - Ações Preventivas No Compliance Concorrencial
Mod - 4 - Ações Preventivas No Compliance Concorrencial
Mod - 4 - Ações Preventivas No Compliance Concorrencial
Concorrencial
Módulo
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Equipe
Alden Caribé (Conteudista, 2021).
Ana Beatrice Neubauer (Revisora, 2021)
Erley Ramos Rocha (Coordenador Web e Implementador Articulate, 2021)
João Paulo Albuquerque Cavalcante (Diagramação e produção gráfica, 2021)
Juliano Pimentel (Conteudista, 2021).
Lavínia Cavalcanti (Coordenadora de desenvolvimento, 2021).
Rodrigo Mady da Silva (Implementador Moodle, 2021)
Enap, 2021
Olá!
É um prazer ter você como participante e auxiliar na construção do seu conhecimento acerca
desse tema.
Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer a importância da adoção do código de
conduta para a efetiva implementação do programa de compliance em uma organização.
O código de conduta talvez seja a face mais visível do compliance em uma organização. Trata-
se de um documento central, que orienta e explicita as condutas consideradas adequadas,
inadequadas e aquelas consideradas inaceitáveis (em inglês, DOs and DON’Ts).
O que se busca com o programa de compliance é que o padrão de conduta considerado adequado
e desejado pela organização seja cumprido. O código de conduta orienta e sistematiza esse
padrão de comportamento a ser atendido pela organização e seus colaboradores.
O código de conduta deve ser acessível, ou seja, deve ser fácil entendimento e compreensão por
parte do público a que se destina.
Nesse sentido, é fundamental que o código seja elaborado em linguagem simples e apropriada
ao público da organização. Entenda algumas características fundamentais para garantir sua
acessibilidade:
Objetividade
Deve ser redigido de forma clara, objetiva e direta. É recomendável que o código
Linguagem simples
Uso de exemplos
Sempre que possível, o código deve apresentar exemplos do que pode e do que
não pode ser feito, sempre em situações concretas adequadas à realidade da
organização.
Perguntas frequentes
Canal de comunicação
Para definir o público a ser atingido pelo programa de compliance, é fundamental que seja
realizado o mapeamento de riscos.
Por exemplo: uma empresa pode estabelecer regras contratuais com seus
fornecedores, exigindo que seja adotado o padrão de comportamento previsto
no código de conduta.
O documento com o código de conduta deve estar disponível a todos, inclusive a terceiros.
Muitas organizações adotam uma postura de transparência ativa e disponibilizam o código de
conduta em sua página na internet.
As regras de conduta devem ser concretas e devem se aplicar de forma específica aos riscos
identificados pela organização.
Assim, o código de conduta deve buscar sempre situações mais próximas do dia a dia da
organização
Entenda outros exemplos de práticas a serem evitadas, de acordo com o Guia de Compliance do
Cade (CADE, 2016, p. 32):
• É proibida a adoção de tabelas de preços. Salvo expressa previsão legal, não devem
ser adotadas tabelas de preços sob qualquer forma (preços máximos, mínimos,
referenciais, etc.).
• É vedada a comunicação, sinalização ou orientação que digam respeito à definição
de preços, reajustes, descontos, custos, estoques, níveis de produção, entre outros.
Saiba mais
Exemplo: Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim,
Balas e Derivados – ABICAB, entidade que reúne as maiores empresas de
chocolates do país, foi investigada pelo Cade e celebrou acordo com Cade
com pagamento de contribuição pecuniária, após ter anunciado publicamente
a expectativa de percentual de aumento de preços para a Páscoa em 2009. O
Entenda sobre outras recomendações do Guia de Compliance do Cade (CADE, 2016, p. 35) para
organizações membro de associações e sindicatos:
A definição das práticas que podem ser consideradas ilícitas pela Lei 12.529/2011 é meramente
exemplificativa. Não é possível estabelecer, de antemão, uma relação de práticas permitidas e
proibidas.
A mesma prática adotada por duas empresas diferentes pode ser uma infração para uma e
para outra não haver qualquer consequência legal. Ou, a mesma prática adotada pela mesma
empresa pode ter enquadramentos distintos ao longo do tempo: pode ser considerada legal
quando implementada e depois, verificados os seus efeitos, pode ser considerada ilegal.
No caso de práticas adotadas por empresas que possuem posição dominante em um determinado
mercado relevante (a Lei 12.529/2011 adota a presunção de dominância quando controlar 20%
ou mais de um mercado relevante), as práticas comerciais e seus efeitos potenciais devem ser
avaliados antes, durante e após a sua adoção.
Existe uma “linha cinzenta” entre o que pode e o que não pode ser feito, tornando complicado
o exercício de elencar práticas de condutas unilaterais lícitas e ilícitas em um código de conduta.
Essa particularidade torna o compliance concorrencial ainda mais desafiador em relação a outras
áreas de compliance.
A notificação e a validação prévia do Cade são necessárias nas operações em que um dos grupos
envolvidos tenha faturamento bruto anual ou volume de negócios Brasil, no ano anterior à
operação, equivalente ou superior a R$ 750 milhões, e pelo menos um outro grupo envolvido
tenha faturamento bruto anual ou volume de negócios Brasil, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 75 milhões.
Nesses casos, as empresas deverão estar atentas e adotar medidas para manter o ambiente
concorrencial o mais intacto possível até a conclusão da análise pelo Cade, adotando-se cautelas
para evitar a ocorrência de:
Saiba mais
Os parâmetros de análise e procedimentos para evitar a ocorrência do gun
jumping podem ser verificados no Guia para Análise de Consumação Prévia de
Atos de Concentração do Cade.
Esse cuidado é fundamental para que o código de conduta tenha credibilidade, legitimidade e
aderência com a cultura da organização e os riscos envolvidos.
Nesses termos, é relevante a contribuição do Guia de Compliance do Cade (CADE, 2016, p. 23):
É recomendável que o código seja revisto ao final por um profissional da área jurídica para
evitar que contenha disposições que contrariem a legislação. No entanto, é importante ter em
mente que a elaboração do código de conduta não é só uma tarefa normativa e não deve se
encerrar na análise jurídica do documento, sob o risco de se tornar um documento inócuo. Ele
deve ser avaliado pela sua capacidade de ser compreendido e de efetivamente transformar o
comportamento do público da organização. Assim, aderência à cultura organizacional é mais
importante do que a qualidade técnica do código de conduta.
Saiba mais
Para saber mais sobre o assunto, acesse ao vídeo:
8 Dicas para Desenvolver um Código de Conduta para sua Empresa, ele está
disponível na plataforma YouTube, no canal ProdutividadeMaxima.
Referências
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.
BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia para Análise
da Consumação Prévia de Atos de Concentração Econômica. Brasília: CADE, 2015. Disponível
em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/gun-
jumping-versao-final.pdf Acesso em: 23 abr. 2021.
KPMG. Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil. 4. ed. Brasília: KPMG, 2019. Disponível
em: https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2019/10/br-pesquisa-de-maturidade.pdf.
Acesso em: 04 fev. 2021.
United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/284402/oft1341.pdf. Acesso em:
04 fev. 2021.
Essa estratégia pode ser construída por meio da elaboração de um plano de comunicação e
treinamento, com o objetivo de promover, reforçar e engajar a organização para a cultura de
compliance. Esse plano de comunicação e treinamento deve prever as iniciativas de comunicação
e treinamento, o público de cada uma, a periodicidades, assim como formas de monitorar e
avaliar a aderência das iniciadas ao programa de compliance e o engajamento dos colaboradores.
Trace um diagnóstico
O plano deve considerar os riscos mapeados, a cultura organizacional, o público a ser atendido,
a quantidade e o perfil das pessoas e o conhecimento prévio sobre o tema. Com base nessas
informações, estabeleça objetivos, metas e estratégias e iniciativas para alcançá-los.
Organizações multinacionais ou que atuam em diversas regiões do país devem ficar atentas às
especificidades locais, linguísticas e culturais.
Maiores esforços e recursos devem ser dedicados aos treinamentos de funcionários em atividades
que envolvem maiores riscos.
O treinamento da alta gestão é essencial, não apenas pela sua posição de comando e decisão na
organização, mas também para dar o exemplo e demonstrar comprometimento com a cultura
de compliance.
Canais de comunicação
Treinamento prático
Os treinamentos devem incluir conselhos práticos e podem envolver o estudo de casos, situações-
problema e dilemas relacionados com contextos cotidianos. Discuta com o seu setor de gestão
de pessoas sobre os métodos de treinamento mais adequados à realidade da sua organização.
Algumas organizações podem também optar por cursos curtos, direcionados para pessoas
centrais na organização e que visam atingir alguma questão específica sobre um risco identificado
na organização.
Uma outra boa prática é sempre incluir mensagens e módulos de compliance em outras iniciativas
de comunicação e treinamento da organização.
Certificações de treinamento
A ICC, em seu Guia com Ferramentas para o Compliance Antitruste, sugere algumas orientações
práticas sobre o treinamento em compliance antitruste. São elas:
Referências
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.
BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia para Análise
da Consumação Prévia de Atos de Concentração Econômica. Brasília: CADE, 2015. Disponível
em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/gun-
jumping-versao-final.pdf Acesso em: 23 abr. 2021.
United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/284402/oft1341.pdf. Acesso em:
04 fev. 2021.
Você sabia que muitos programas de compliance falham mesmo sendo bem desenhados, com
procedimentos bem definidos, conduzidos por profissionais qualificados e por uma equipe bem
treinada?
Um termo em inglês muito utilizado para designar esse comprometimento da mais alta gestão é
tone at the top (em tradução livre, “o tom vem de cima”), em que os líderes definem o “tom”: a
mensagem, imagem e atitude da organização.
Se os dirigentes exigem resultados a todo custo, a mensagem é a de que não há valor no compliance
e práticas antiéticas e ilícitas serão toleradas se trouxerem resultados. Não há como a cultura do
compliance prosperar nessa organização, por melhor que seja o seu código de conduta ou seu
programa de compliance.
É fundamental que o compliance tenha sempre espaço na agenda das lideranças e seja um tópico
de destaque nas reuniões de gestão, sendo estabelecidas metas de compliance entre as metas
estratégicas da organização.
Sobretudo, a alta direção deve dar o exemplo em suas ações. A atitude fala
mais do que palavras. Os executivos devem atuar em absoluta conformidade
com as regras de conduta, também devem participar das ações de treinamento
e comunicação. Se necessário, os dirigentes podem ser submetidos às medidas
disciplinares, assim como os demais colaboradores.
Gerentes de nível intermediário também possuem uma função central. Eles são a ponte entre a
alta direção e o restante da organização (mood at the middle, em português, “humor da média
gestão”) e devem ter consciência dos principais riscos da organização, reforçar os padrões de
conduta, encorajar seus funcionários a cumpri-los e, sobretudo, atuarem em estrita obediência
aos padrões de conduta da organização.
Assim, é importante que a alta gestão converse com os gerentes intermediários sobre compliance.
Pergunte o que eles têm trabalhado sobre temas de compliance com suas equipes e o que pode
ser feito para envolver a equipe e melhorar o compliance da organização.
Pesquisa da KPMG sobre a maturidade dos programas de compliance nas empresas brasileiras revela
uma maior preocupação da alta gestão em reforçar a importância da cultura de compliance.
Fonte: adaptado de KPMG, 2019, p. 13.
Referências
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.
KPMG. Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil. 4. ed. Brasília: KPMG, 2019. Disponível
em: https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2019/10/br-pesquisa-de-maturidade.pdf.
Acesso em: 04 fev. 2021.
United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/284402/oft1341.pdf. Acesso em:
04 fev. 2021.