O Sonho de Um Homem Ridiculo - Fiodor Dostoievski

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Um conto de

Fiódor Dostoiévski
traduzido por
Lucas Simone

com ilustrações de
Helena Obersteiner
Editorial ROBERTO JANNARELLI
VICTORIA REBELLO
Comunicação MAYRA MEDEIROS
PEDRO FRACCHETTA
GABRIELA BENEVIDES
Preparação ELOAH PINA
Revisão LETICIA CORTES
TAMARA SENDER
Diagramação DESENHO EDITORIAL
Projeto gráfico
Capa &
GIOVANNA CIANELLI
PEDRO INOUE BRUNO ABATTI

Textos de
SIDARTA RIBEIRO
HELENA OBERSTEINER
CECILIA ROSAS
FLAVIO VASSOLER
CELSO FRATESCHI

São também ridículos


DANIEL LAMEIRA
LUCIANA FRACCHETTA

&
RAFAEL DRUMMOND

SERGIO DRUMMOND
SUMÁRIO
Folha
Sumário de rosto
Apresentação
III
IIIIV
VNota da ilustradora
OUmsonho de olhos abertos do homem ridículo
paraíso
Referências perdido
bibliográficas
Sob a égide do sonho
Página de direitos autorais
Apresentação
Por Sidarta Ribeiro
Acreditar
verdadeiro que
seria o mundo
ingenuidade pode
j u venil ser
ou acolhedor,
sabedoria j u sto
ancestral e
que se
dopodemos perdeu?
bem sobre o Uma
mal? pessoa
O mundoé ridícula
do deus se acredita
dinheiro énatudovitória
que
esquecem almej
de a
como r nesta
é ser existência?
criança? Qual Por
é a que
traj e os adultos
tória humana, se
qualNoé início,
o nossoeradestino?
o sonho.
A
própriaforma literária
escrita, foi odo relato
meio de sonho,
escolhido tão
por antiga
Dostoiévski quanto paraa
refletir
desej o. sobre
Enquanto estas o perguntas
sonho da fundamentais
Terra Nova vai e expressar
sendo adiado, seuo
tempo continua
Escrito em a passar
1877, “O na contramão
sonho de umdo amor.
homem ridículo”
continua
decontrário: tão atual
ser nãocontinuamos quanto nossas
se alterou emteimosamente misérias,
nada nos últimos pois
150sua
anos,razãoao
daesvazia
civilização do deus dinheiro, cuj a no curso
cosmovisão destrutivo
apodrecida
Nossa os sentidos
ancestralidadeda existência
mamífera efêmera
evoluiu de acada pessoa.
capacidade de
permanecer
chamado sonolongos períodos de tempo no
REM, fase do sono durante a qual o corpo
estado cerebral
permanece
durante o quieto,
sono mas o cérebro se ativa vigorosamente.
REM que ocorrem os sonhos mais intensos. A
É
evolução
capacidade do sono
de REM longo deu aos mamíferos uma inédita
sonhar, isto é, de reativar memórias com base
nas
gerandoexperiências
simulações do passado
de possíveise nos desej
situações o s do presente,
futuras. Como
oráculo
longo de probabilístico,
220 milhões o
de sonho
anos resistiu
por à seleção
facilitar a natural
adaptação ao
do
organismo ao ambiente natural e social.
Ainda
exímios que quase
sonhadores, todos
parece os
ter grupos
sido de
apenas mamíferos
na linhagem sejam
dos
hominídeos
capacidade coletores
de e caçadores
compartilhar que
vivênciasse desenvolveu
oníricas. a
A
coletivização
grupo e de
otimizou sonhos
sua individuais
ação aumentou
coordenada, a coesão
transformando do
aceleradamente
Isso não teriao ambiente
sido possívelpela cultura,
sem o e vice-versa.
surgimento de uma
ética do
ancestrais cuidado.
humanos,Existem já evidências
desde o fósseis de
paleolítico que nossos
superior,
desenvolveram
outros, a ponto uma de esmerada
um capacidade
indivíduo com deo cuidar
pé uns
quebradodos
sobreviver
tempo. ao acidente e seguir vivendo por muito mais
O
convívio sonhodos do bem
humanos comum
entre é siantigo,
costuma mas,
ser na bemprática, o
difícil,
assimAos como
olhos seu
dosconvívio
adoradores com outras
do deus espécies.
dinheiro, por exemplo,
são
quartel ridículos
para os
demarcarindígenas
suas emplumados
terras que
ancestrais, lutam
único sem
refúgio
daviciados
naturezana contra
aquisição a destruição
de bens da floresta.
materiais, Aos
são ouvidos
ridículos dos
os
paj é s
dose céu.ameríndios
Aos olhos que
do cantam
grande e dançam
mistério da para adiar
existência, a
quequeda
não
elucida
eventos da no
ciênciaBig Bang
que nem
conseguimos se explica
construirno horizonte
até aqui, o de
que
édoentes
mesmoeridículo
apegados é que
às sej a mos
antigas tão neuróticos,
tradições de carentes,
predação,
opressão,
epronto:
ostentação.discriminação,
O que instrumentalização,
poderíamos de repente obj e tificação
entender e
E o ser
tempo – e que nunca
passa, e o vem.
sofrimento se alastra, e a gente
pasta...
todas? Por
Por quequeé é
queque a não
palavra despertamos
da verdade de uma
insiste vez
em por
não
raiar, apesar de todos a repetirem nas
crenças? Por que a redenção não vem de uma vez nos livrar igreja s de todas as
ç
daDostoiévski,
dor? E, nonuncaentanto, ç assim como o personagem de
segunda chance é estivemos
tudo que tão
pede aperto do
reavivada paraíso. Uma
esperança.
Dostoiévski
contra a ideia nos
de diz
que com
“o firmeza
conhecimento quedas precisamos
leis da lutar
felicidade
estáNãoacima da
podemos felicidade”.
mais negligenciar o sofrimento dos outros.
Para
vez a que
dor a dor espiritual
material. É sej
preciso a aplacada
construir é
as preciso
bases daeliminar de
felicidade
geral
conhecer de uma
melhor vez
a por
nossa todas –
história. e para isso precisamos
fome Quemde tem fome
cultura de comida
precisa desseprecisa
alimento.de sustento,
A quem
desigualdade tem
no
acesso
desigualdade aos bens imateriais
material. Arte, é tão
ciência, violenta
esporte e quanto
odara sema
excluir
planetária. ninguém: essa é a verdadeira revolução na agenda
Para
Terra, inventarmos
nem proj etadosum nonovo modo
futuro nem de estar
presos presentes
ao na
passado,
precisaremos
que inclua o sonhar
melhor coletivamente
de todos os uma
saberes. nova
Só cosmovisão
assim nos
tornaremos
aosolidariedade verdadeiramente
futuro de eprosperidade presentes.
exige igualdade,Nossa adaptação
fraternidade,
Não temos alteridade.
mais muito tempo para fazer nosso
ajvertiginosamente
ustamento de noconduta. século A história se
XXI – e as consequências de
acelera
nossas
seres ações serão
sencientes. sentidas por
Precisamos muito
estar tempo, por
presentes, inúmeros
sonhar
coletivamente
sonhar com isso. e cumprir nosso destino. Ridículo é não
é neurocientista,
diretor do Instituto do Cérebro biólogo, professor titular, fundador e vice-
(2019).da UFRN. É autor de
Sidarta Ribeiro
O oráculo da noite: a
história e a ciência do sonho
I
Eu sou um homem ridículo.
Agora,
hierarquia, eles me
se eu,chamam
ainda de
assim,louco.
não Isso até
continuasse seria subir
sendo, na
para
eles,
mais, tão ridículo
agora todos quanto
eles antes.
são Mas,
queridos agora,
para mimeu nem
e, atéme irrito
quando
riem
queridos. de mim,
Eu mesmo são, de
riria algum
com eles, modo,
não particularmente
digo que de mim,
mas
para por
eles. amor
Fico a eles,
triste se
porqueeu não
eles ficasse
não tão
conhecem triste
a ao olhar
verdade, e
euconhecer
conheçoa verdade!
a verdade. Mas Ah,
eles como
não é difícil
entenderão ser
isso. o único
Não, não a
entenderão.
Antes, eu ficava muito aborrecido por parecer ridículo.
Não
disso parecia,
desde eu
o era.
meu Eu sempre
nascimento. fui ridículo,
Talvez aos e talvez
sete saiba
anos já
soubesse
depois, na que era
universidade,ridículo.
e Depois,
então? Quanto ingressei
mais eu na escola,
estudava,
mais aprendia
foiexistido, que era
como nose fimtododaso meu ridículo.
estudo De maneira
universitárioque, para
só mim,
tivesse
medida que me contas,
aprofundava para
nele, me
que provar
eu era e explicar,
ridículo. Tal à
como no
fortalecia-se estudo,
dentroaconteceu
de mim na vida.
aquela A cada
mesma ano, crescia
consciência de e
meu
mim aspecto
o tempo ridículo
inteiro. emMastodos os
nenhum sentidos.
deles Todos
sabia e riam de
sequer
imaginava
era ridículo,que, se
esse alguém
alguém na Terra
era eu reconhecia
mesmo, e erade jfato
u que
stamente eu
essa
soubessem a coisa
disso;maismas ofensiva
eu mesmo para
era omim,
culpado:que eles
sempre não
fui
tão
isso orgulhoso
a ninguém. que nunca
Esse quis,
orgulho de
foi j eito nenhum,
crescendo dentro reconhecer
de mim
com os anos, e, se tivesse acontecido
reconhecer, a quem quer que fosse, que eu era ridículo, creiode me permitir
que,
minha ali mesmo,
cabeça com naquela
um tiromesma
de noite,
revólver. eu
Ah, teria
como arrebentado
eu sofri em
minha
repente, adolescência
de alguma pensando
maneira, que não
confessaria suportaria
tudo aos e,
meus de
companheiros,
rapaz, e embora por a conta
cada própria.
ano Mas,
reconhecesse desde que
mais me
e tornei
mais a
minha
mais horrível
tranquilo. qualidade,
Por alguma por alguma
razão, razão
mesmo, jáfiquei
que, um
até pouco
agora,
não
alma, consigo definir
crescesse uma qual razão.
terrível Talvez
angústia, porque,
por contaem deminha
uma
circunstância
saber, era essa que já
convicção,era infinitamente
que se formava maior
dentro dodequemim,eu: a
de
que
muito no mundo,
tempo queem toda
eu parte,
pressentia dava tudo
aquilo, na
mas mesma.
a Fazia
convicção
plena surgira
deexistisse no
repenteouque,se paraúltimo ano,
mim, como
dava que
na de repente.
mesma se oEu senti
mundo
Comecei a perceber não e ahouvesse
sentir, comnada
todo em
o meulugar
ser, nenhum.
que não
havia
antes, nada
em ao meu
compensação, redor. No início,
houvera ainda
muita me
coisa, parecia
mas que,
depois
me
tivera dei conta
essa de que
impressão, antes
por também
algum não
motivo. houvera
Pouco nada,
a pouco, eu só
eu
me convenci
repente, eu também
parei de de
me que nunca
irritar com haveria
as nada.
pessoas Então,
e comecei de
quase
ninharias que a não
mais notá-las.
insignificantes: Juro, isso se manifestava
acontecia, por até
exemplo, nas
de
euestarandar pela
pensativo rua
— em e esbarrar
que haveria nas eupessoas.
de pensar? E não
À era
época, por
eu
tinha
mesma. parado
E seria totalmente
bom se de
estivesse pensar: para
resolvendo mim, dava
problemas; na
ah,
euparanãomim
resolvi
dava nenhum,
na mesma, e quantos
e todos eles
os não eram!
problemas Mas,
tinhamagora,se
afastado.
E então, logo depois disso, eu conheci a verdade. Conheci
anovembro,
verdade noe, desde
últimoentão,novembro, precisamente no
eu me recordo de cada instante. dia 3 de
Foi
poderia numa haver.noite
Eu, sombria,
então, uma
estava das
voltandomais sombrias
para casa, que
perto
das
que onze
não horas,
poderia e
sereu me
uma lembro
hora j
maisu stamente
sombria. de
Atéter
no pensado
sentido
físico.
mais A
friaschuva
e tinha
sombrias, caído
uma o dia inteiro,
chuva até e era uma
ameaçadora, chuva das
lembro-
me
pessoas,disso, e ela
aí detinha uma
repente, evidente
perto das hostilidade
onze horas, elacontra
parou, ase
começou
dode que uma
quando terrível
chovia, umidade,
e de todas ficou
as mais
coisas úmido
saía e
uma mais frio
espécie
partir vapor,
da de
rua, cada
você pedra
olhasse na lárua e de
adiante, cada
bem travessa,
no fundo se,
dela.a
Pareceu-me
toda parte, de
tudo repente
ficaria que,
mais se a luz
agradável, a gás
pois se
comapagasse
a luz a em
gás
oaquilo.
coraçãoNaquele
sentia-se
dia, mais
eu triste,
quase nãoporque
tinha ela iluminava
almoçado e, tudo
desde o
fim
também da tarde,
estavam estivera
outros na
doiscasa de
amigos. um engenheiro,
Passei o tempo onde
todo
calado,
Falavam e,
sobrepelo visto,
alguma eles
coisa ficaram
controversa aborrecidos
e de repente comigo.
até se
exaltaram.
sejustamente Mas, para eles,
exaltavamisto:por“Senhores, dava na mesma,
se exaltar.masDe dárepente, eu via
eu isso,
lhes e eles
disse
senhores”. Eles não se ofenderam, mas na
todos mesma
riram para
de mim. os
Isso porque
simplesmente eu falei
porque, sem
para qualquer
mim, dava tomna de censura,
mesma. E eles e
viram que
Quando para
eu mim
estava dava
na na mesma,
rua, pensandoe ficaram
sobre alegres.
a luz a gás,
olhei
possível para o céu.
divisar Ele
com estava
clareza horrivelmente
umas nuvens escuro, mas
despedaçadas erae,
entre
numa elas,
dessas umas manchas
manchas, negras
notei uma insondáveis.
estrelinha De
e repente,
comecei a
olhar
uma fixamente
ideia: eu para
determineiela. Isso
que porque
me matariaessa estrelinha
naquela me
noite. deu
Isso
jantes,
á haviae,sido determinado com firmeza por mim
por mais pobre que eu fosse, comprei um revólver dois meses
magnífico
haviam se e, no mesmo
passado, e eledia, carreguei-o.
continuava dentro Mas da dois meses
caixa; mas jáa
talfinalmente
ponto tudo achar dava
um na mesma
momento em para
que mim,
não que
desse eu
tanto quis
na
mesma
aqueles — por
dois que isso,
meses, eu
toda não sei.
noite, E,
ao dessa
voltar maneira,
para durante
casa, eu
pensava
momento. queE me mataria
então, agora, com um
aquela tiro. Estava
estrelinha só
me à espera
deu aquela do
ideia, e determinei
porEqueentão,
a estrelinha que
me seria
deu já
aquela naquela
ideia, noite,
isso eu sem
não falta.
sei. E
menina me quando
agarrou eu
pelo olhava
cotovelo. para
A o
rua céu,
j á de
estava repente
vazia e esta
não
havia quase
carruagem. ninguém.
A menina Ao longe,
tinha um
uns cocheiro
oito anos, dormia
usava numaum
lencinho
mas eu na cabeça
guardei e só um
particularmente vestidinho,
na estava
memória toda
os molhada,
sapatinhos
dela,
saltaram molhados
aos e
olhosrotos,
em e lembro
particular. deles
A até
menina agora.de Eles
repenteme
começou
chorava, a
era me puxar
como se pelo
gritasse cotovelo
de e
maneiraa me chamar.
entrecortada Ela não
umas
palavras
por que
inteiro, não
em conseguia
calafrios. articular
Estava bem,
horrorizada porque
por tiritava
alguma
razão e gritava,
mamãezinha!”. desesperada:
Fiz menção de “Minha
virar o mamãezinha!
rosto na direção Minha
dela,
mas
corria não
e disse
me uma
puxava, palavra
e em suae continuei
voz ressoava a caminhar,
aquele mas
som ela
que,
nas
esse crianças
som. muito
Embora assustadas,
ela não conseguissedenota desespero.
terminar as Conheço
palavras,
entendi
que algumaque sua
coisamãe estava
tinha morrendo
acontecido com em algum
elas, e lugar,
ela ou
tinha
corrido
ajrepente para
udar aveio-me chamar
mãe. Masà mente alguém,
não fuia atrás achar
dela, alguma
e, ao coisa
contrário, parade
disse a ela que procurasse um ideia
guarda.de enxotá-la.
Mas, de Primeiro,
repente, ela
cruzou os braços e, soluçando, ofegante, continuou
ao lado e não me largou. Foi aí que eu dei um pisão na direção correndo
dela e gritei. Ela apenas berrou: “Patrão! Patrão!…”, masçde
repente
rua: me
outro soltou
transeuntee, a toda
tinha pressa,
aparecidoatravessou
ali, e ela correndo a
visivelmente
largou de mim e foi atrás dele.
donos Subi até
alugam o meu andar,
quartos. o
Meu quinto.
quarto Moro
é numa
pobre e pensão
pequeno, cuj eos
a
joleado,
anela éuma umamesa,trapeirasobresemicircular.
1
a qual ficam Tenho
uns um
livros,sofáduas de
cadeiras
compensação, e uma empoltrona
estilo confortável,
Voltaire. 2 bem
Sentei, velhinha,
acendi umamas,vela em e
comecei
divisória, a pensar.
continuava Ao a lado, no
algazarra. outro
Já era cômodo,
o terceiro atrás
dia da
que
estavam
tinha naquilo.
convidados Morava
— uns ali
seis um capitão
imprestáveis reformado,
—, que e
bebiam ele
vodca
acontecerae jo gavam
uma chtos
briga,
3 com
e eu cartas
sei que velhas.
dois Na
deles noite anterior,
passaram um
bom
casa tempo
queria puxando
queixar-se, um ao
mas outro
ela pelos
tem um cabelos.
medo A dona
terrível da
do
capitão.
senhora Os demais
magrinha moradores
de baixa de nossa
estatura, pensão
esposa deeram
um só uma
militar,
recém-chegada,
jdesfalecem
á aqui na nossa e seus
pensão. três
Tantofilhosela pequenos,
quanto as que adoeceram
crianças quase
benzendo-se, de emedo
a do
criança capitão
menor e toda
até noite
mesmo ficam
teve tremendo
uma espécie e
devezes,
ataqueparaporoscausa do
transeuntes pavor. na Sei bem
Niévski que
e esse
pede capitão,
esmola. às
Ele
não
isso consegue
que eu serviço
estou algum,
contando), mas,
durante o que
todo é estranho
o mês, (e
desde é por
que
começou
nenhuma a morar
irritação. conosco,
É claro o capitão
que evitei nunca
travar provocou
relações em
com mimele
desde
primeira o início,
vez, e ele
porém, mesmo
por ficou
mais que enfastiado
eles comigo
gritassem logo
atrás na
da
divisória,
sempre davae por
na mais
mesma. gente
Fico que
sentado houvesse
a noite ali, para
inteira e mim
ju ro
que
todas nãoas os ouço,
noites, a
eu tal
fico ponto
sem eu
dormir me esqueço
até o deles.
amanhecer, Afinal, e é
assim
poltrona,já faz
e um
não ano.
faço Fico
nada. à noite
Livros, inteira
eu só sentado
leio à
durantemesa,o na
dia.
Fico sentado e nem penso, fico assim, com uns pensamentos
vagando,
durante a e dou
noite. liberdade
Sentei-me a
à eles.
mesa A vela queima
tranquilamente, inteira
tirei o
revólver e coloquei-o
eude meter lembro de ter diante
me de mim.
perguntado: Quando
“Será o
isso coloquei
mesmo?”,ali,
e
sejnaquela respondido
a, eu menoite,
mataria.comEu total
sabiaconvicção:
que “Isso
certamente mesmo”.
me Ou
mataria
sentado à mesa mas,
até o quanto
momento tempo
chegar, ainda
isso eu passaria
não sabia.ali
E
teria certamente me matado, não fosse por aquela menina.
12Janela aberta
Nome[N. que no telhado. [N. de T.]
se dá, na Rússia, a uma poltrona larga e confortável, com espaldar
alto. de T.]
3 Jogo de cartas semelhante ao faraó. [N. de T.]
II
Vejam só: embora tudo desse na
mim, dor, por exemplo, eu sentia. mesma para
Semodoalguém
no me
sentido batesse,
moral: eu
se sentiria
acontecessedor. Era
algo do
de mesmíssimo
dar pena, eu
sentiria
ainda não pena,
dava do mesmo
tudo na modo
mesma que
para antes,
mim. quando
Agora na
mesmo vida
eu
havia
aja uma sentido
udado.ideiaEntão pena:
por que uma
não ajcriança
u dei a eu
menina? teria
Poiscertamente
foi graças
emomento,
me chamando, que surgiu
de então:
repente quando
apareceu ela
dianteestava
de me
mim, puxando
naquele
problema um
fútil, problema,
mas eu me e eu não
enraiveci. pude
Eu resolvê-lo.
me enraiveci Era um
graças
ànaquela
conclusãomesma
de que,noite,
se euentão,
já haviapordecidido que
conseguinte, me suicidaria
agora, mais
domim.quePornunca,
que étudo
que, no
de mundo
repente, deveria
eu dar
senti na
que mesma
não me para
dava
tudo na mesma
deumaterdorficado come que eu
muita tinha
pena pena
dela; da
ao menina?
ponto Lembro-me
até de sentir
situação. estranha,
Juro, não até
sei totalmente
transmitir inacreditável
melhor a minha em minha
sensação
fugaz
em daquele
casa, quando momento,
eu já mas
tinha a
mesensação
instalado continuou
à mesa, também
e fiquei
muito
fluíam irritado,
uma atráscomo
da havia
outra. tempos
Parecia-menão ficava.
claro As
que, reflexões
se eu era
uma
me pessoa,
tornado e ainda
um não
nada, era um
então nada,
eu e até
estava então
vivonãoe,tinha
por
conseguinte,
meus atos. podia
Que sofrer,
assim fosse.irritar-me
Mas, se eeusentir
me vergonha
matasse dalidos
a
duas
teria horas,
eu entãopora exemplo,
ver com aque me
vergonhaimportaria
e com a
tudomenina
no e
mundo?que
Euconsciência
me tornariade umquenada, logo ummaisnadaeu absoluto.
deixaria E será
de que
existira
completamente e de que, portanto,
poderia ter a menor influência nem no sentimento de penanada existiria, não
daatomenina,
vil? Afinal,nem no
eu sentimento
tinha dado um de vergonha
pisão e depois
gritado comdo meu
uma
voz
“não selvagem
só não para
sinto uma
pena”, criança
teria eu infeliz
dito, ju stamente
“como, se tiveporque
uma
atitude
horas vil
tudo e desumana,
haverá de agora eu
extinguir-se”. posso,
Vocês porque daqui
acreditam a
que duas
foi
por isso
Parecia-me que
clarogritei?
que a Agora
vida e oestou
mundo quase
como convicto
que dependiamdisso.
detinhamimsidoagora.
como Seria
que até
feitopossível
só para dizer
mim: que
eu o
me mundo,
mataria agora,
com
um
Isso tiro
sem e não
falar haveria
que, mais
talvez, mundo,
realmente pelo nãomenos para
houvesse mim.
nada
para
minha ninguém
consciênciadepoisse de mim,
extinguisse, e o mundo
haveria todo,
de logo
extinguir-seque a
imediatamente
somente de minha como um
consciência, espectro,
e seria como
abolido, um
pois, atributo
talvez,
omesmo.
mundoLembro todo eque,todassentado
essasepessoas
refletindo, fossem
eu apenas
dava a eu
todos
esses
outros, novos
uma problemas,
direção que
até se aglomeravam
completamente uns sobre
diferente os
e
inventava
repente me coisas
ocorreu já acompletamente
estranha reflexão novas.
de Por
que, exemplo,
se eu tivessede
vivido
algum antes
ato dos na Lua
mais ou em
indecentes Marte,
e e
infames tivesse
que cometido
se pudessem lá
imaginar,
um modo e fosse
que se lá ultraj
pode a do
sentir ee desonrado
imaginar por
talvezcausa
somentedele, de
às
vezes
Terra, num
eu sonho,
continuasse num a pesadelo,
ter consciência e se, vendo-me
daquilo que depois
eu na
havia
feito
voltaria no outro
nunca planeta
para lá, dee,je além
ito disso,
nenhum — soubesse
então, ao que
olhar não
da
Terra para
Eueramsentiria a Lua,
vergonhatudo daria
por essena mesma
ato ou não?para mim
Os ou
problemas não?
diante fúteis
de e
mim, supérfluos,
e eu sabia, uma
com vez
todo queo o
meu revólver
ser, quejá estava
aquilo
certamente aconteceria, mas eles me
encolerizava. Era como se, agora, eu não pudesse mais perturbavam, e eu me
morrer
Resumindo, sem ter
aquela resolvido
menina me certas
salvou, coisas
porque, previamente.
com aqueles
problemas,
ínterim, tudo eu adiei
também o tiro.
começava No quarto
a do
aquietar-se: capitão,
eles nesse
tinham
terminado
dormir e, o jo go
enquanto de cartas,
isso, estavam
resmungavam se aj
e e itando
terminavam para
preguiçosamente
peguei no sono na sua briga.
poltrona ju Foi
nto à então
mesa, oque,
que de
nunca repente,
tinha
acontecido
perceber. comigo
Os antes.
sonhos, Caí
como nose sono
sabe,absolutamente
são uma sem
coisa
muitíssimo
com um estranha:
nível de um aparece
detalhamento com
e nitidez
minúcia horripilante,
digno de um
jperceber,
oalheiro, atée omesmo outrodovocêespaçopassae doportempo.cimaQuemde governa
tudo, semos
sonhos,
cabeça, aparentemente,
e sim o não
coração, é a
e, razão,
no e sim
entanto, o desej
que o, não
coisas é
engenhosíssimas
sonho! Entretanto, minha razão
acontecem não
com realizava
ela, em durante
sonho, um
coisas
totalmente
cinco anos inconcebíveis.
atrás. Às vezes, Meu
sonho irmão,
com por
ele: exemplo,
ele participamorreudos
meus
longo afazeres,
de todo o ficamos
sonho, eu muito
sei e entretidos,
lembro e, no
perfeitamente entanto,
que meuao
irmão
admirado morreu
que, e está
mesmo enterrado.
morto, ele Como
estej a é
aindaque eu
assim não ali,fico
ao
meu
razão lado,
admitecuidando
plenamente dos afazeres
tudo isso?comigo?
Mas Por
chega. que a
Passareiminha ao
meu sonho.
3foidesónovembro! Sim, eu
Eles tive
me então
provocam esse sonho,
agora, meu
dizendo sonho
que, do dia
afinal,
sonho um
ou sonho.
não, se Mas
esse por
sonho acaso
me não
anuncioudá na a mesma
Verdade? se foi um
Afinal,
uma vez que
elasejaédormindo você descobriu
a verdade,oue nanãovida. há ePois e viu a verdade,
nemquepodesejhaver você
nenhuma sabe que
outra,
mas esta vida, que vocês tanto a um
glorificam sonho,
— euque sej
queriaa,
extingui-la com o suicídio, e o meu sonho,
ele me anunciou uma vida nova, grandiosa, renovada e forte! o meu sonho, oh,
Escutem.
III
Eu
até disse
como se que peguei
continuasseno
a sono sem
refletir perceber
sobre e
aquelas
mesmas matérias.
Deapontava-o
repente,diretamente
sonhei queparapegava o o
coração revólver
— para e,
o sentado,
coração, e
não para
odireita. a cabeça;
tiro naAocabeça, seme, antes,
falta, eeu tinha
mais determinado
precisamente na que daria
têmpora
eseamover
minhaevela,apontar
a mesapara e o
aspeito, esperei
paredes de um
repente segundo ou
puseram-se dois,
a
Num a balançar
sonho, você diante
às vezes de mim.
cai das Depressa,
alturas, eu
ou disparei.
morre, ou
apanha,
modo se mas você
machuque nunca
mesmo sente
na dor,
cama, a
aí menos
você vai que
sentirde algum
a dor e
quase
meu sempre
sonho: não acordar
senti por
dor, causa
mas dela.
tive a Foi
impressãoassim detambém
que, com no
o
meu disparo,
apagou-se, e, tudo
ao meu dentro
redor, de mim
tudo estremeceu
ficou e
terrivelmente de repente
preto.
Fiquei
algo como
duro, eu que cego
estava e mudo
esticado, e,
deentão,
costas, eu estava
sem ver deitado
nada em
nem
fazer o
gritava, menor
o capitãomovimento.
falava comAo meu
sua vozredor,
grave,alguém
a dona andava
da e
casa
gania —
carregando e, de
numrepente,
caixão outra interrupção,
fechado. E eu e j á
sentia estavam
o me
caixão
balançando,
vez, fui e refletia
surpreendido sobre
pela isso,
ideia e
de de
que repente,
tinha pela
morrido, primeira
tinha
morrido
nada e nãomesmo,
me sabia
movia e, disso e
entretanto,não tinha
sentia dúvidas,
e refletia. não
Mas via
eu
logo me
aceitei a conformei
realidade com
sem aquilo e,
discussão. como é costume nos sonhos,
E
fiquei aí me colocaram
sozinho, debaixo
totalmente da terra.
sozinho. NãoTodos
me foram
movia. embora,
Antes,
sempre
sepultado que
em eu
meu imaginava,
túmulo, acordado,
relacionava, como eu
particularmente seria
com o túmulo, apenas a sensação de
assim, agora eu sentia que estava com muito frio, em umidade e de frio. E,
especial nas pontas dos dedos dos pés, mas não
nada.Eu jazia ali e, estranhamente, não esperava por nada, sentia mais
aceitando,
esperar. Massem discussão,
estava úmido. que
Não um
sei morto
quanto não
tempotem sepelo que
passou
—repente,
uma hora,
em ou
meu alguns
olho dias, ou
esquerdo, muitos
que dias.
estava Mas então,
fechado, de
caiu
uma gota
minuto de água
depois que
dela, se infiltrara
veio outra, pela
um tampa
minuto do caixão;
depois, um
uma
terceira,
minuto e
em assim por
minuto. diante,
Uma e assim
profunda por diante,
indignação sempre
ardeu de
de
repente
física: “Éem a meu
minhacoração, e,
ferida”, de repente,
pensei, “é o eu senti
tiro, a nele
bala uma
que dor
está
ali…”.
meu E
olho a gota continuava
fechado. E, de a pingar,
repente, eu a cada
clamei, minuto
não come bem
minhano
voz, pois estava imóvel, mas com todo
de tudo aquilo que estava acontecendo comigo: o meu ser, ao soberano
algo — Quem
mais quer que
razoável você
que sej
o a , mas
que se
estávocê está aí,
acontecendo e se existe
agora,
permita
mim, por quemeuse dê também
irrazoável aqui.
suicídio,Se você está
através se
do vingando
horror e de
do
absurdo
tormento daquecontinuidade
me possa da
caber existência,
nunca saiba
poderá que
comparar-senenhum ao
desprezo
milhões de que
anos sentirei
de em
tormento!… silêncio, ainda que ao longo de
Eu
continuou clamei
um e me
silêncio calei.
profundo, Durante
e até quase
caiu maisum umaminuto,
gota,
mas eu
indestrutível,sabia, eu
que sabia
agora e acreditava,
certamente de
tudo maneira
mudaria. infinita
E eis que,e
dese elerepente,
foi o
aberto meue túmulo
escavado, descerrou-se.
mas fui tirado Quer
dali dizer,
por não
algum sei
ser
obscuro
repente, e
vi desconhecido,
com clareza: e
eranós fomos
noite parar
cerrada, e no espaço.
nunca, De
nunca
antes
espaço, existira
já distantestamanha
da Terra.escuridão!
Não Nós
perguntei voávamos
nada àquele pelo
que
me levava,
convencer eu
de estava
que não à espera
sentia medo e orgulhoso.
e pasmava Eude tentava
admiração me
com
quanto o pensamento
tempo voamos, de e que
nem não sentia
consigo medo.
imaginar: Não
tudo lembro
se deu
como
espaço sempre
e pelo acontece
tempo, e nos
pelas sonhos,
leis da quando
existência você
e salta
da pelo
razão, e
seLembro
detémque,somentede naqueles
repente, vi pontos
uma que
estrelinha o coração
na devaneia.
escuridão. “É
Sirius?”,
pois eu nãoperguntei,
queria de repente
perguntar sem
nada. conseguir
“Não, é aquelame conter,
mesma
estrelinha
casa”, que
respondeu-me você viu
o em
ser meio
que me às nuvens
carregava. ao
Eu voltar
sabia para
que
elequetinha
eu uma
não face
gostava comodesseque humana.
ser, sentia Umaatécoisa
uma estranha
profunda é
repugnância
inexistência, por
e por ele.
isso Eu
dera havia
um esperado
tiro no pela
coração. Mas completa
eis que
estava nos braços de um ser obviamente
que era, que existia: “Então quer dizer que existe uma vida não humano, mas
após
mas aa morte!”,
essência pensei,
de meu com a
coração estranha
permaneciafrivolidade
comigo do emsonho,
toda
a“esuaviverprofundidade:
novamente, “E,
pela se é preciso
intransponível ser novamente”,
vontade de pensei,
alguém,
não
temo, quero
e porser derrotado
isso me e humilhado!”.
despreza”, eu disse “Você
de sabe
repente quea eu
meu o
companheiro
humilhante, emde viagem,
que se sem
encerrava conseguir
uma evitar
confissão, ae pergunta
sentindo
como
humilhado. que aElepicada
não de
respondeuum alfinete
à minha em meu
pergunta, coração
mas de
repente
mim, e senti
nem que
tinham não
pename de desprezavam,
mim, e que e
nosso que não
caminho riam de
tinha
um
somenteobj etivo,
a mim. desconhecido
O medo ia e misterioso,
crescendo em e
meu que concernia
coração. Algo
mudo,
silencioso mas tormentoso,
companheiro de me
viagem era e transmitido
como que por
penetrava meu
em
mim.
fazia Nós
um voávamos
tempo que por
eu espaços
havia escuros
parado de e
verdesconhecidos.
as constelações Já
familiares
nodepois aos
espaçodecelestial,meus olhos.
cuj os Sabia
raios que
alcançavamhavia acertas
Terra estrelas,
somente
tivéssemos milhares
percorrido ou milhões
esses espaços.de anos.
Eu Talvez
esperava nós
por j
algo,á
com uma
demerepente, angústia
um terrível,
sentimento que atormentava
familiar e altamente meu coração.
convidativo E,
podia fez tremer:
ser o vi
nosso de repente
Sol, que o nosso
gerou a Sol!
nossa Eu sabia
Terra, e que
que não
nós
estávamos
alguma a
razão, uma distância
com todo oinfinita
meu dele,
ser, mas
que eu soube,
aquele erapor o
mesmíssimo
sentimento Sol
doce e que o nosso,
convidativo repetido
ressoou com e duplicado.
êxtase em Um
minha
alma:
ecoou aemafetuosa
meu força
coração da
e luz, aquela
ressuscitou-o, mesma
e eu que
sentime a gerara,
vida, a
vida de antes, pela primeira vez depois do meu túmulo.
— Mas,
—companheirose esse é
exclamei —,de ondeo Sol,
estáse é
a o mesmíssimo
Terra, Sol
então? — que
E o
o nosso
meu
cintilava, na viagem
escuridão, indicou-me
com um uma
brilho estrelinha
esmeraldino. que
Nós
voamos diretamente bem na direção dela.

universo,E será
será possível
possível que
que existam
esta seja a tais
lei da repetições
natureza?… no
E,
senossa…
essa aía émesmíssima
a Terra, seráquequea elanossa,
é a mesma
infeliz, Terra
pobre,que
mas a
querida
amor e eternamente
torturante por elaamada,
até em e que
seus provoca
filhos o
mais mesmíssimo
ingratos?…
—extasiado
exclamei,pelaestremecendo
nossa querida com
Terra umde amor
antes, irresistível
aquela que e
eu
abandonara. A imagem
passou voando diante de mim. da pobre menina que eu ofendera

viagem, Você
e verá
ouviu-se tudo
certa — respondeu
tristeza em meu
sua voz.companheiro de
Ele Mas
crescianós nos
diante aproximávamos
de meus olhos, erapidamente
eu já do
distinguia oplaneta.
oceano,
odetraçado
um da Europa,
grandioso e e, de
sagrado repente,
ciúme um
ardeuestranho
em meusentimento
coração:
“Como
quê? Eué que
amo, pode
eu haver
posso semelhante
amar apenas repetição,
aquela e a
Terra troco
que de
eu
deixei,
eu, na
ingrato,qual ficaram
extingui os respingos
minha vida do
com meu
um sangue
tiro quando
em meu
coração.
naquela Mas
noite,nunca,
ao nunca
despedir-me deixei
dela,de amar
talvez aquela
eu a Terra,
tenha e,
até
amado
outro de maneira
momento. Será mais
que tormentosa
existe tormento do que
nessa em
novaqualquer
Terra?
Nacomnossa
o Terra,
tormento e podemos
só através amar
do verdadeiramente
tormento! De outro apenas
modo não
sabemos
tormento amar
para e não
amar. Eu conhecemos
quero, eu outro
anseio, amor.
neste Quero
instante, o
beij a r, coberto de lágrimas, apenas aquela Terra
deixei, e não quero, não aceito a vida em qualquer outra!…”. que eu
Mas
repente, meu
de companheiro
maneira como deque viagem j
totalmenteá me deixara.
imperceptível De
para mim,
deestava, eu surgi
um diaaparentemente, nessa outra
ensolarado e maravilhoso, Terra, debaixo
como num da forte
paraíso. luz
Eu
nossa Terra, o arquipélago numa
da das
Grécia, ilhas
ou que
em compõem,
algum lugar na
na
costa
era do continente
exatamente como adj a
aquicente
na àquele
nossa, arquipélago.
mas, por toda Oh,
parte, tudo
as
coisas
festividade pareciam
e com resplandecer
um triunfo com uma
grandioso, espécie
sagrado dee
finalmente
rumorej a va alcançado.
tranquilamente O carinhoso
contra as mar
margens esmeraldino
e as beij a va
com
belas um amor
árvores nítido,
erguiam-se visível,
em quase
toda a consciente.
magnificência As altas
de sua e
cor, e
saudavam-mesuas incontáveis
com seu folhinhas,
ruído tranquilo estou
e convicto
carinhoso e disso,
como
que proferiam
vistosas flores algumas palavras
aromáticas. Os de amor.
passarinhos A relva ardia
revoavam em
em
bandos
ombros pelo
e em ar e,
minhas sem medo
mãos e de
com mim, pousavam
alegria batiam em
em meus
mim
suas
emesmos asinhas
conhecivieram encantadoras
os seres humanos e tremulantes.
daquela E,
feliz finalmente,
Terra. Elesvi
Filhos do Sol, até
filhos mim,
de seu eles
própriome rodearam,
Sol — ah, me
como beij
eles aram.
eram
belos!
humano. NuncaTalvezvi, em nossa
apenas em Terra,
nossas tamanha
crianças,belezaem no ser
seus
primeiríssimos
reflexo distante, anos
ainda de idade,
que fraco,sej a possível
daquela encontrar
beleza. Os um
olhos
daqueles
Em seus humanos
rostos, felizes
resplandeciamcintilavam
a razãocom e um
uma brilho
espécie vivo.
de
consciência,
rostos estavam plena até o
contentes;pontonas da tranquilidade,
palavras e na mas
voz aqueles
daqueles
humanos
instante, soava
ao uma
primeiro alegria
olhar para infantil.
o rosto Oh,
deles, no mesmo
compreendi
tudo, tudo! Aquela era a Terra que não fora
pecado original, nela viviam humanos que não pecaram, eles maculada pelo
viviam
com as no mesmo
tradiçõesparaíso
de em
toda que
a tinham vivido,
humanidade, de
os acordo
nossos
antepassados
aalegremente, pecadores,
Terra era, aqueles só
por todahumanoscom a diferença de
parte, umaglomeraram-se que, ali,
único paraíso.aoRindotoda
redor e me acariciaram; levaram-me para sua morada, meue
todos eles
indagaram tentaram
a respeito me
de tranquilizar.
nada, mas comoOh,
que eles
já não
sabiam me
de
tudo, ao que me pareceu, e desej
antes, o sofrimento do meu rosto. avam arrancar, o quanto
IV
Vej
tenha am vocês,
sido um mais
sonho! uma
Mas vez:
a pois
sensaçãobem,
de que
amor
daqueles
permaneceu seres
emhumanos
mim paraingênuos e
sempre, belíssimos
e eu sinto
que o amor
até agora. deles, de lá, derrama-se sobre mim
Euamei,mesmo os
depois vi,
sofrieu os
por conheci
eles. Ah, e
eume dei conta
compreendi deles,
de eu os
imediato,
até na hora que não compreenderia inteiramente muita
coisa a
contemporâneo respeito e deles; para
petersburguês mim, abjcomo
e to, progressista
parecia russo
inconcebível
que
nossa eles, sabendo
ciência. Mas tanta
logo coisa, não
compreendi tivessem,
que o por exemplo,
conhecimento a
deles
nossas era repleto
aqui na e alimentado
Terra e que por
suas percepções
aspirações diferentes
também das
eram
completamente
estavam tranquilos, diferentes.
não Eles
aspiravam não
ao desej a
conhecimento vam nada
da vidae
assim
vida como
deles aspiramos
era repleta. a tomar
Mas conhecimento
seu conhecimento dela, porque
era maisa
profundo
ciência e
busca mais elevado
explicar o que
que a
é nossa
a vida, ciência;
ela mesma pois a nossa
aspira a
tomar
mas conhecimento
eles, sem ciência dela
alguma,para ensinar
sabiam os
como outros
viver, ea viver;
isso eu
entendi,
Eles me mas não
mostravam consegui
as suasentender
árvores, o conhecimento
e eu não deles.
conseguia
compreender
elas: era como aquele
se grau
falassem de amor
com com
seres queque olhavam
lhes para
eram
semelhantes.
disser que E
eles saibam
falavam que
com talvez
elas! eu não
Sim, estej
eles a enganado
descobriram se
a
língua
Também delas,
olhavam e estou convicto
assim para de
toda que
a elas
natureza os entendiam.
— para os
animais,
atacavam, que
e sim viviam
os pacificamente
amavam, dominados com
pelo eles,
próprio nãoamoros
deles.
que eu Apontavam
não conseguiapara as estrelas
entender, e
masme falavam
tenho a sobre
convicção coisas
de
que eles como que
dovivo.céu,Oh,nãoaqueles mantinham
só emhumanos
pensamento, algum
mas contato
através com
de as
algum estrelas
meio
entendesse, eles me amavamnão tentavam
mesmo fazer
assim, com que
mas, eu os
em
compensação,
e,somente sei que
por isso,beijeuava,quasediante também
nemdeles, nunca
falavaaquela me compreenderiam,
com elesterradaemnossa Terra. Eu
sem dizer nada, adorava-os, e eles viam isso e que viviam
deixavam e,
que
euelesosmesmo
adorasse,amavam sem semuito
envergonhar por eu adorá-los,
a si mesmos. Eles não sofriam porque
por
pés, mim quando
conhecendo, eu,
em em
meu lágrimas,
coração, por
com vezes beij
alegria, aava-lhes
força os
do
amor
perguntava,com que me
surpreso: responderiam.
como é que eles Por vezes,
conseguiam, o eu me
tempo
todo,
sequer, não emofender
alguém alguém
como como
eu, um eu e não
sentimento provocar,
de uma
ciúme evez
de
invej a
fanfarrão ? Muitas
e vezes
mentiroso, fiquei
conseguiame perguntando
não falar para comoeles eu,
de
meus
tinham conhecimentos,
noção alguma,dos quais,
como evidentemente,
conseguia não eles
desejnão
ar
impressioná-los
eram vivos e com
alegres isso,
comoainda que
crianças.só por amor
Vagavam a eles?
por Eles
seus
magníficos
canções, bosques
alimentavam-se e florestas,
com cantavam
comida leve, suas
com magníficas
os frutos de
suas
seus árvores,
amorosos com o
animais.mel de
Por suas
seu florestas
alimento e e
porcomsuaso leite de
vestes,
labutavam
geravam apenas
filhos um
mas pouco,
nunca de leve.
percebi Eles tinham
arroubos o amor,
daquela e
voluptuosidade
Terra, do primeirocruelao que acomete
último, e quase
serve de todos
fonte em
única nossa
para
quase
alegravam todoscom os aspecados
crianças de quenossa
surgiam humanidade.
em seu meioElescomose
novos
não participantes
havia brigas ede sua
não bem-aventurança.
havia ciúme, e nemEntre eles,
mesmo
entendiam
denãotodos, o que
porque aquilo
todos significava.
constituíam Seus
uma filhos
só eram
família. filhos
Quase
seus tinham
idosos doença
morriam, alguma, embora
tranquilos, existisse
como que a morte;
adormecendo, mas
cercados
os,despedida, por aqueles
sorrindocomparasorrisos que se
eles e para despediam
si mesmos, deles, abençoando-
como votos de
não vi pesar ou lágrimas, radiantes.
havia apenas Naqueles
um amor momentos,
que parecia
aumentar
que se até
tornava alcançar
pleno, o êxtase,
contemplativo. mas um
Seria êxtase
possíveltranquilo,
pensar
que eles ainda mantinham contato
mesmo depois da morte, e que a unidade terrena entre elescom seus falecidos
não
entendiam era interrompida
quando eu pela
lhes morte.
perguntava Eles
da quase
vida não
eterna, me
mas
era
espontâneavisível que
dela, tinham
que isso uma
não convicção
constituía uma tão grande
questão parae
eles.
emas, Não tinham
ininterrupta comtemplos,
o Todo e sim
do uma
universo;unidade
não essencial,
tinham viva
crença,
quando em acompensação,
alegria terrena tinham
os o firme
preenchesse conhecimento
até os de
limites que,
da
natureza
como para terrena,
os mortos, chegaria
uma para
expansão eles, tanto
ainda para
maior doos vivos,
contato
com
alegria, o Todo
mas do
semuniverso.
pressa, Esperavam
sem por
sofrimento, essemas momento
como se com
já o
possuíssem
comunicavam nos pressentimentos
uns aos outros. deÀ seus corações,
noite, antes quede eles
se
recolherem
coordenados epara dormir,
harmoniosos. adoravam
Nessas canções, formar coros,
transmitiam
todas as
glorificavam-no sensações e proporcionadas
despediam-se pelo
dele. dia que
Glorificavamacabava, a
natureza,
canções uns a terra,
sobre oso mar,
outros as
e florestas.
louvavam Adoravam
uns aos outros,compor
como
crianças;
docanções, eram as
coraçãodavae tocavam canções o mais
coração.simples,
E não masera elas brotavam
somente nas
unicamente para a impressão
admirar unsde que
aos viviam
outros. Eraa vida
uma inteira
espécie
deAlgumas
paixãode completa
suas e
canções, generalizada
porém, uns
solenes e pelos outros.
exaltadas, eu
não entendia
aso seupalavras, quase
eu de jeque
ito absolutamente.
nenhum conseguia Mesmo
penetrar entendendo
em todo
minha significado.
mente, mas Ele
meu permanecia
coração, em como que
compensação, inacessível
era como à
que
eaquilo penetrado
mais.antes, por
Eu lheshavia ele de
diziamuito maneira
com frequência espontânea,
que j á cada
pressentira vez mais
tudo
aquela glória manifestavam-se tempo, emque toda
mim, aquela
ainda alegria
em nossa e
Terra, por uma angústia convidativa, que
ao ponto de um pesar intolerável; que eu pressentira todos por vezes chegava
eles, e
devaneiostambém
de sua
minha glória,
mente,nos sonhos
que eu de
commeu coração
frequência e nos
não
conseguia
lágrimas… olhar,
Que, em
em nossa
meu ódio Terra,
pelos para
seres o Sol
humanos poente
da sem
nossa
Terra,
não encerrava-se
podia odiá-los sempre
sem uma
amá-los, angústia:
por que por
nãoque é
podiaque eu
não
perdoá-los.
angústia: No
por entanto,
que não em
podia meu amor
amá-los sempor eles,
odiá-los?havia
Elesuma
me
escutavam,
dizendo, mase eu
nãovia que
me não podiam
arrependia de imaginar
falar como que
eles estava
sobre
isso:
angústiasabiaporque compreendiam
aqueles que eu toda
deixara. a força
Sim, da
quando minha
eles
olhavam
amor, para
quando mim,
eu com
sentia o
que, olhar
na afetuoso
presença e
deles,impregnado
meu de
coração
tornava-se
lamentava tão
por inocente
não e sincero
compreendê-los. Acomo
sensaçãoo deles,
de eu não
plenitude
daos venerava.
vida fazia com que eu perdesse o fôlego, e, em silêncio, eu
Oh,
convencer agora
de todos
que, numriem da
sonho, minha
é cara
impossível e tentam
ver todos me
os
detalhes
senti que
apenas estou
uma relatando
sensação agora,
gerada que,
pelo em
meu meu sonho,
próprio vi
coraçãoou
durante
detivesse
acordar.o delírio,
E, e que
quando eu
eu mesmo
lhes criei
revelei os detalhes,
que, talvez, depois
aquilo
deram de
da fato
minha acontecido
cara e — meu
que Deus,
diversão queeu risada
não não
lhes
proporcionei!
daquele sonho, Oh,
e sim,
somente óbvio
ela que
ficou fui dominado
incólume em pela
meu sensação
coração
ferido
formas e ensanguentado:
reais do meu mas,
sonho, ou em
sejcompensação,
a , aquelas que as
eu imagens
vi de fato,e
bem no
harmonia, momento
eram do
tão meu sonhar,
encantadoras eram e repletas
belas, e de
a tamanha
tal ponto
verdadeiras,
tinha forças que,
para depois de
personificá-las acordar,
em era
nossas óbvio
fracasque eu
palavras,não
demente,
maneirae, que elas
portanto, deveriam
talvez eu como
tenha que
sido esvair-se
mesmo em minha
forçado, de
maneira
óbvio, inconsciente,
desfigurei-os, a
devido criar mais
especialmente tardeao os
meu detalhes
desej o e,
tão
intenso
antes. de
Mas, transmitir
por outro pelo
lado, menos
como alguns
eu poderiadeles
não e o quanto
acreditar
que
melhor,tudo aquilo
mais acontecera?
radiante e mais Será
alegre que
do não
que foi mil
aquilo vezes
que eu
contei?
poderia Pode
não até ter
existir. sido
Sabem, um sonho,
vou lhes mas tudo
contar umaquilo não
segredo:
talvez
aconteceu nada disso
ali certatenha
coisa, sido
algo umtãosonho coisa
horrivelmente nenhuma! Pois
verdadeiro,
que
meu não poderia
coração tenhater ocorrido
gerado o apenas
meu em
sonho, sonho.
mas Vá
será lá
que que
só o
o
meu
que coração
depois teria
aconteceu forças para
comigo? gerar
Como aquela
é que horrível
eu verdade
poderia tê-la
inventado
possível sozinho
que o meu ou sonhado
coração com
mesquinho o coração?
e a Seria
minha mesmo
mente
caprichosa e insignificante pudessem
tamanha revelação da verdade? Oh, julguem por si mesmos: ter-se elevado a
até este ç
momento tentei esconder, mas, agora, contarei até
essa verdade.
Acontece que eu… corrompi todos eles!
V
Sim, sim, eu acabei corrompendo todos eles!
Como isso
claramente. pôde
O se
sonho realizar
passou eu
voando não sei,
através nãode me lembro
milênios e
deixou
motivo em
do mim
pecado apenas a
original sensação
fui eu. do todo.
Como Só
uma sei que
triquina o
noj e nta,
inteiras, como
também um eu átomo de
contaminei, peste, que
comigo contamina
mesmo, toda nações
aquela
terra feliz
aprenderam e,
a até
mentir minha
e amaram chegada,
a sem
mentira e pecado.
conheceram Elesa
beleza
inocente, dela.
com Oh,
uma talvez
piada, isso
uma tenha começado
denguice, um jo de
go maneira
amoroso,
talvez
penetrou realmente
em seus com um
corações, átomo,
e eles mas esse
gostaram. átomo da
Depois, mentira
nasceu
rapidamente
ciúme; o ciúme,a voluptuosidade;
a crueldade… Ah, a voluptuosidade
não sei, não me gerou
lembro, o
mas foi
jaorrou: pouco
eles depois,
ficaram logo
surpresos depois
e que o
horrorizados, primeiro
e sangue
começaram
se
vez, dispersar,
umas contra a se
as dividir.
outras. Surgiram
Começaram alianças,
as mas,
reprimendas, dessa
as
recriminações.
vergonha à Eles
categoria conheceram
de virtude. a vergonha,
Nasceu a noção e elevaram
de honra, a
e,
em cada
torturar aliança,
os animais, ergueuse
e os o seu
animais estandarte.
afastaram-se Passaram
deles, ema
direção
uma às
luta florestas,
pela e tornaram-se
divisão, seus
pelo inimigos.
isolamento, Começou
pela
individualidade,
línguas diferentes. pelo meu
Conheceram e pelo oseu.
pesarPassaram
e amaram a falar
o em
pesar,
ansiavam
alcançada pelo
atravéstormento
do e
tormento. diziamFoi que
então a Verdade
que, entre só
eles,é
surgiu
falar dea ciência.
fraternidadeQuando e dese tornaram
humanidade maus,
e começaram
compreenderam a
essas ideias. Quando se tornaram criminosos,
justiça e elaboraram para si códigos inteiros para mantê-la, adquiriram a
e,guilhotina.
para a Lembravam-se
observância dossomente códigos,de colocaram
um pouquinhouma
daquilo
outrora que
haviam haviam
sido perdido,
tão inocentes nem e queriam
felizes. Até acreditar
mesmo que
riam
dana depossibilidade
devaneio. daquela
Eles sequer felicidade
podiam pregressa
imaginá-la eemchamavam-
formas e
imagens,
qualquer mas,
crença o que
na é estranho
antiga e miraculoso:
felicidade, tendo-a tendo
chamado perdido de
conto
felizes de
de fadas,
novo, eles
outra a tal
vez, ponto
que quiseram
sucumbiram ser
ao inocentes
desej o de seu e
coração,
construíram comotemplos crianças,
e puseram-se endeusaram
a venerar esse
a sua desej
própria o,
ideia,
plenamente o seu na próprio “desej
impossibilidade o”, deao mesmo
realizá-lo etempo
de crendo
cumpri-lo,
mas adorando-o
noàqueleentanto, se e
ao prostrando-se
menos pudessediante dele,
acontecer em lágrimas.
de voltarem E,
repente estado
alguém inocente
o mostrassee feliza que
eles haviam
de novo perdido,
e e
perguntasse: se de
“Querem
me voltar
respondiam: a ele?”,
“Podemos certamente
ser teriam
mentirosos, recusado.
maus e inj u Eles
stos,
nós sabemos
torturamos pordisso
causae choramos
disso e por
nos isso, e nós
maltratamos mesmos
e punimos nos
talvez
cujatravés até mais que o
o nomedela,nãoencontraremos Juiz
conhecemos. Mas misericordioso
nós que
temos nos
a ju lgará
ciência e
e,
então nós a tomaremos de novamente
maneira a verdade,
consciente. masO
conhecimento
vida está acima está
da acima
vida. Ado sentimento,
ciência nos a
dará consciência
a sabedoria, da
a
sabedoria
felicidade revelará
está acima as daleis, e o
felicidade”.conhecimento
Eis o que das
disseram,leis da
e,
depois
mais de
que tais
todos palavras,
os outros, cada
e nemum passou
poderiam a amar
ter feitoa sidemesmo
outra
maneira.
individualidade, Cada um
que tornou-se
apenas tentava, tãocom zeloso
todas asde sua
forças,
rebaixá-la e depreciá-la nos outros,
sua vida. Surgiu a escravidão, surgiu até a escravidão e nisso empenhavam
voluntária:
fortes, só os
para fracos
que submetiam-se
aqueles os aju de
dassem boma grado
oprimir aos
os mais
ainda
mais
até fracos
aqueles que eles
humanos, próprios.
em Surgiram
lágrimas, e os
lhes ju stos,
falavam que
de iam
seu
orgulho,
sua da
vergonha. perda
Os da
outrosmedida
riam-se e da harmonia,
deles ou batiam do sumiço
neles comde
pedras.
Em Sangue
compensação, sagrado foi
começaram vertidoa nas
surgirsoleiras
humanosdos templos.
que se
puseram
novamente, a deimaginar:
maneira que como
cada todos
um, sem poderiam
deixar de unir-se
amar a
siatrapalhasse
mesmo acima mais dos
ninguém, outros,
e ao
que, mesmo
desse modo, tempo
vivessemnão
todos
Guerras ju ntos,
inteirascomoforam que numa
travadas sociedade
por causa harmoniosa?
dessa ideia.
Todos
tempo, os beligerantes
que a ciência, acreditavam
a sabedoria firmemente,
e o ao
sentimento mesmo de
autopreservação
numa sociedade fariam
racional finalmente
e o
harmoniosa, ser humano
e por reunir-se
isso, para
acelerar
quanto as
antes, coisas,
todos os
os “sábios”
“não sábios” tentaram
e todos exterminar,
aqueles que não o
entendessem
triunfo. Mas sua
o ideia,
sentimento para deque não atrapalhassem
autopreservação começouseu
rapidamente
voluptuosos, a
queenfraquecer,
logo surgiram
exigiram tudo osou arrogantes
nada. Parae os
a
obtenção
êxito, ao de tudo,
suicídio. recorriam
Surgiram ao delito,
religiões que e, se não
cultuavam tivessem
o nada
enulidade.
a autodestruição
Finalmente, em nome
esses de uma
humanos serenidade
extenuaram-se eternanuma na
labuta
esses sem
humanos sentido, e em
proclamaram seus rostos
que surgiu
sofrimento oé sofrimento,
beleza, pois e
é
apenas
sofrimento no sofrimento
em suas que
canções.existeEu senso.
andava Eles
no decantaram
meio deles o
e,
levando
amasse as mãos
ainda à
maiscabeça,
do quechorava
antes, por eles,
quando mas
em talvez
seus eu
rostosos
ainda não havia sofrimento, e quando
inocentes e belos. Passei a amar aquela Terra, profanada por eles eram tão
eles,
porque ainda
nela mais
surgirado que
o quando
infortúnio. era
Ai, um
eu paraíso,
sempre apenas
amei o
infortúnio
eles eu e o pesar,
chorava, mas
lamentava apenas
por para
eles. mim, para
Estendia-lhes mim,
a por
mão,
acusando,
desespero. amaldiçoando
Dizia-lhes que e desprezando
tudo aquilo a mim
havia mesmo,
sido feito em
por
mim, somente
depravação, a por mim,
contaminação que
e a eu lhes
mentira! havia trazido
Supliquei que me a
crucificassem,
consegui, não ensinei
tive forças a eles
para como
me fazer
matar por uma
contacruz. Não
própria,
mas eu
torturas, queria
ansiava que eles
que, me
naquelastorturassem,
torturas, eu
meu ansiava
sangue pelas
fosse
derramado
perto do fim,até a última
começaram gota.
a meMas eles só
considerar riam
um de mim e,
desvairado.já
Eles
eles me absolviam,
mesmos desej a diziam
ram, e haver
que tudorecebido
deveria apenas aquilo
continuar que
assim.
Finalmente,
eEntão, declararam
que meo pesar
colocariam numque eu estava
hospício semeeutornando
não me perigoso
calasse.
que meu coraçãoentrou em minha
confrangeu-se, eal-ma
eu com
senti tamanha
que força
morreria, e
aí… bem, foi aí que eu acordei.
————————
eram Já era
seis manhã,
horas, quer dizer,
aproximadamente. ainda não amanhecera,
Recobrei os mas
sentidos
naquela
inteira; nomesma
quarto poltrona;
do capitão, minha
todos vela
dormiam,havia e, queimado
ao redor,
havia um
fizacontecera silêncio
foi darcomigo raro
um salto, em nossa
em casa.
enorme A primeira
admiração; coisa que
nunca
ínfimos: nunca antes nada
havia parecido,
pegado nonemsono com detalhes
daquele je ito, tão
na
minha
euminha poltrona,
estavafrente,
de péo meu por exemplo.
e voltando a Então,
mim, dede repente,
repente enquanto
surgiu, na
mesmo instante, eu revólver,
o empurrei pronto,
para carregado
longe de — mas,
mim! no
Oh,
agora
verdade seria a
eterna; vida, não a vida!
clamei, Ergui
mas as mãos
pus-me e
a clamei
chorar; pela
um
êxtase,
Sim, a um
vida êxtase
— e a incomensurável
pregação! Decidi elevou
pela todo
pregação o meu ser.
naquele
mesmo
pregar, instante
quero pregar e, evidentemente,
— o quê? A para
verdade, poistoda eu aa vida!
vi, vi Irei
com
meusE eispróprios
que, olhos,
desde vi toda
então, a sua
venho glória!
mesmo pregando! Além
disso,
outros. amo
Por todos
que é aqueles
assim, que
não riem
sei e de
não mim,
consigo mais até
explicar, quemasos
que
dizer, assim
se sej
agora a . Eles
já dizem
fiquei tão que até
perdido, agora
que eu
seráme perco,
mais paraquera
frente?
avezes Verdade
frenteatéserádescobrir verdadeira: eu
ainda pior.comoE é claro me perco,
que me e talvez
perderei mais para
algumas
palavras e com que ações, pregar,
porque quer
isso é dizer,
muito com
difícil que
de
realizar.
otodos,
dia, mas Agora
escutem:mesmo quemvej o
é tudo
que isso
não sede modo
perde?! tão
E, claro como
entretanto,
pelo afinal,
menos caminham
todos aspiram em
à direção
mesmíssima à mesmíssima
coisa, do sábiocoisa,
até
oé uma
últimoverdade
dos bandidos,
antiga, só
mas queo por
que écaminhos
novo aqui diferentes.
é o seguinte: Essaeu
nem posso me perder muito. Porque eu
que os seres humanos podem ser belos e felizes, sem perdervi a verdade, vi e sei
aacreditar
capacidade que ode
malviver
sej ana
o Terra.
estado Eu
normal não quero
dos seres e não posso
humanos.
Mas
poderiaé só dessa
não minha
acreditar: crença
eu vi a que
verdadetodos — riem.
não é Mas
que a como
inventei eu
com
minha a mente,
alma eu
para a vi, eu
sempre. vi,
Eu e sua
a viimagem
numa viva preencheu
completude tão
plena,
seres que
humanos.não posso
Então, crer que
como é ela
que não
vou possa
me existir
perder? para
É os
claro
que vou
palavras me desviar,
alheias, mas até diversas
não por vezes,
muito e
tempo:talveza até
imagem fale com
viva
daquilo
corrigirá que
e daráeu a vi estará
direção. Oh, sempre
tenho comigo
ânimo, e
tenho sempre
frescor, me
eu
caminharei,
sabem, no caminharei,
início, queria ainda
até esconderque por
que mil
havia anos. Vocês
corrompido
todos
erro! eles,
Mas a mas isso
verdade mefoi um erro
sussurrou —
quej áeutemos
estava aí o primeiro
mentindo, e
me protegeu
euDepois e me
não dosei,meuporque deu a
não direção.
consigo Mas, como
transmitir erigir
em o paraíso,
palavras.
palavras sonho,
importantes, asperdi
mais as palavras.
necessárias. Pelo
Mas menos
que sejas
a :
seguirei
modo, vi e falarei
com meus tudo, incansavelmente,
próprios olhos, embora porque,
não de todo
consiga
recontar
compreendem: o que vi.
“Teve Pois
um é isso
sonho”, que
dizem os zombeteiros
eles, “um não
delírio,
uma
eles alucinação”.
são tão Ora
orgulhosos! essa!
Um Será
sonho? que é
Que tãoé complicado?!
um sonho? E E
a
nossa
nunca vida
se não
cumpra é um
e sonho?
que o Digo
paraíso mais:
não pois
exista bem,
(pois que
isso isso
eu
entendo!)
simples: —
num mesmo
só dia, assim,
numa hei
só de
hora, pregar.
tudo logoE, entretanto,
se arranj a ria!é
Oprincipal,
principaleé sóamarisso,os outros
não como
precisa a si
de mesmo, isso
rigorosamente é que
maisé o
nada: imediatamente
entretanto, isso é só você
uma descobre
velha verdade como que sefoiarranj a
repetidar. E,
e
lida um bilhão de vezes, mas que não
consciência da vida está acima da vida, o conhecimento das se assentou! “A
leis da
seno devefelicidade
lutar! E está
hei deacima da
fazê-lo. felicidade”:
Se todos ao é contra
menos isso que
quiserem,
mesmo instante tudo há de arranjar-se.
————————

E eu encontrei
caminharei! aquela menina pequena… E caminharei! E
Nota da ilustradora
Sonho desenhos ridículos
Gostaria
deadolescência, de
contato comquandocomentar algo importante
a obrase e,iniciaram
para isso,minhas em meu processo
começoexperiências
em minha
durante
catalepsia o sono.
proj etivaAcordava
(para quem quase
não todas
sabe, éasum noites
fenômenoem
que ocorre
desperta, quando
mas nãoestamos dormindo:
conseguimos nos nossa
mexer).consciência
Foram
inúmeros
momentos, os roteiros
contando com que
muito percorri
medo e ao
angústia,longo desses
onirismos
edea visão
olhos clara de
fechados. meu entorno,
Iniciei, mesmo
então, estando
estudos fisicamente
científicos e
espirituais
acontecendo em busca
comigo. de respostas sobre o que estaria
Logo
incluindo encontrei
algumas histórias
muito sobre
mais experiências
radicais e similares,
impressionantes
que as
parapsíquica minhas.
de Pessoas
proj eção da relatavam
consciência ter
para a capacidade
fora do corpo
físico,
seria especialmente
possível ao
visitar dormir,
lugares e diziam
e até que,
mesmo a partir disso,
encontrar
entidades
imensa, extrafísicas.
incluindo A
rotas multiplicidade
interplanetárias, de histórias
visitas era
ao
passado,
um homem simulações
ridículo”, de realidades.
senti que Pois
tinha, sem ao ler
dúvida,“O sonho
mais de
um
relatoConduzida
em mãos.nessa viagem, me senti convidada a explodir
lógicas cronológicas
deporqueter essa porta nãoenquanto
fora desenhava,
aberta por mim, sob
mas a impressão
pelo autor,
previsões. escrito no século XIX, relatando o presente e fazendo
Apatia,
caminham culpa,
ao longo calma,
do plenitude,
texto e, a desespero
partir disso, e esperança
imaginei como
o estado de espírito que a humanidade vivencia modela os
espaços,
Penso em em sua concepção
substância física
cósmica aoe na plasticidade
nomear o que do astral.
constitui
tudo o que
comprometida há,
a e para
desenhar este
exatamente livroo não
que me
estava mantive
descrito,
mas a traduzir
plasmática que essas
percorre transformações
as páginas. por meio da grafia
Diversas
contexto vezes,
racional e quando estamos
materialista, vejo , inseridos
na apresentaçãoem um
de
narrativas
sobre fantasiosas,
experiências uma
pouco oportunidade
concebíveis. para
Identificofalarmos
uma
oportunidade
outras para
instâncias sermos
sensíveis, ouvidos
sem e percebidos
rotularmos ou a partir
isolarmosde
qualquer
inadequada manifestação
para quem à concepção
vivencia a de
lucidez. crença que parece
Dessa
tempo maneira,
convencional, see torna ridículo
ridiculamente seguir
absurdo radicalmente
é aquele o
que
esboça
nesse outras
processo, possibilidades.
para mim, é O
a que
estranhaé mais interessante
combinação que
passa a nos acompanhar pela vida,
expansão possível, de nossa consciência. dos limites claros, e da

investigação. É
Helena Obersteiner é artista
designer têxtil, visual e tem
tatuadora e, o desenho
como comoseudispositivo
professora, interesse de
está
ligado
coletivos.essencialmente à possibilidade de autoconhecimento a partir de diálogos
O sonho de olhos abertos do homem ridículo
Por Flávio Ricardo Vassoler
A
ridículo” peculiaridade
(1877), de do
Fiódor conto “O
Dostoiévski sonho de
(1821-1881), um homem
reside no
fato
russo, dea que,
traj eà diferença
tória do de
personagemboa parte
o levada obra
dos do
círculosescritor
mais
infernais
supera o do suicídio
niilismo e a
religa uma
o descoberta
homem ridículo espiritual
àquilo que que
ele
desvela
transcendência como o e sentido
a último
eternidade, ae primeiro
superação da
do vida:
ego e a
a
comunhão,
É bem Deus
verdade e a continuidade
que, no romance  da vida após a morte.
  (1866), o
duplo
doloroso homicida
processo Ródion
de Raskólnikov
conversão, algo passa
Crime e castigo

como por
o um
castigolongoe e
a
expiação
príncipe moral
Míchkin em ( face do crime.
, 1869), Também
fusão é verdade
dostoievskiana que o
de
Jesus Cristo e Dom Quixote,
O idiota

(conflitos à sua volta com, a1880) e o monge


procuram Aliócha Karamázov
cicatrizar os
Os irmãos Karamázov

Ainda assim, podemos dizer bondade


que apenas que o lhes
homem é peculiar.
ridículo
refaz o (1472),arco narrativo-espiritual
ao longo de cuj a traj ecompleto
tória o da 
poeta italiano
Divina

Dante
comédia 

inferno, Alighieri
consegue percorre
atravessar oso mais
purgatório agônicos
sombrio círculos
e, ao fim,do
aterrissa
No no
princípioparaíso
de “O ao som
sonho dede harpas
um homeme cítaras.
ridículo”, a razão
cética e
sefim,a vida niilista
é um do (anti-)herói
punhado de pó, o leva
som e a um
fúria beco
que, sem
do saída:
início ao
não
completamente significa nada;
arbitrários ese os proj
desprovidos e tos
de humanos
razão em são
face
donós;universo
se, em alheio
suma, e
somossem consciência
órfãos de sobre
sentido, si
vivermesmo
ou e
morrer sobre—
isto é, viver ou se matar — tornam-se
moeda. Quando, numa lúgubre noite de inverno em São duas faces da mesma
Petersburgo,
cara para o o homem
suicídio, ridículo
coroa paraj oga a a moeda
(sobre)vida para o
—, alto
nosso —
(anti-)herói
Nesse decide
momento, que
a é hora de
engenhosidade partir. de Dostoiévski leva o
niilismo
personagem do homem
considera ridículo
que às
tudo últimas
no mundo consequências:
lhe é indiferente,se o
que o suicida
maltrapilha, iminente
frágil e dê
indefesa as costas,
que, então,
inusitadamente, a uma criança
aparece
entre
como as
a alamedas
Rússia e o gélidas
Brasil, e clama
inúmeras por
pessoas aj u da. Em
em países
situação de
pobreza
vencedoras tentam sobreviver,
ensimesmados em enquanto
seus medos os vencedores
e desej o s e
os
ignoram
danos como
colaterais. se seres
Para humanos
falarmos como fossem 
não nada
poucos mais
líderes que
das
mais
inocentes poderosas
em nações,
ataques aéreospara os
seria quais
um a
revés morte de
impossível civis
de
ser
mais erradicado
tecnológicos pelo imperialismo
que a história que
humana manipula
j á os
produziu. artefatos
Ainda
assim,
esmolas sempre
quando que
os vemos
semáforos crianças
se fecham, indefesas
engolimos pedindo
em seco
uma
nãoNão dor
reservarque a
aossociopatologia
homens e da
mulheres vida cotidiana
que dormem nosao ensina
relento. a
daindefesa. é a única vez
vida emEmface“A revolta”, que Dostoiévski
do sofrimento de umapõe à prova
criança o sentido
trêmula e
contra”) do romance  quarto capítulo do livro
, o V (“Pró
intelectual e
bastante
coloca a propenso
teologia cristãao deniilismo/ateísmo
Os irmãos Karamázov

seu irmão monge Ivan


Aliócha Karamázov
contra a
parede,
inocente. tendo
Ivan em
relata vista
que, o
nos sofrimento
tempos obscurosde uma
da criança
servidão
naservosRússiae servas
(relaçãoqueodiosa
só foi de exploração
abolida em do
1861), trabalho
um dos
militar
reformado/dono
comparsas para de vasta
caçar o propriedade
filho de um ju
dos ntaseusum séquito
servos, de
que,
sem querer, ferira a pata de seu
imagem da criança estraçalhada pelo sadismo, Ivan afirma galgo favorito. Com a
que um mundo ç
assentado ç sobre a lágrima de inocentes que
não comeram
é,considerado
não pode fazer do fruto proibido
sentido. O não vale
personagem a pena
que e não
chegoufaz,a isto
ser
criação literária pelo próprio
sentencia Dostoiévski
que é preferível como
devolversuaa maior
Deus o
bilhete
denega deo entrada
mundo na vida.
criado Ainda
pela que não
divindade,negue Deus,
mundo Ivan
que
pressupõe o choro
içarÉdabemcamaverdade e o ranger de
a cadaque,segunda-feira. dentes das crianças para nos
ocriança
homemqueridículo, qualcom umo ímpeto
completo do penhasco
canalha, em mente,
enxota a
Ainda assim, clama
a em
centelha desespero
da por
discórdia aj u da para
conseguiu sua mãe.
trincar a
cara
matar, de caveira
como é do suicídio:
possível que se
ele o homem
sinta ridículo
comiseração vai se
pela
criança e
Enquantopor sua
se mãe?
autoflagela ao sentir que a fraternidade e a
compaixão
homem se
ridículo esgueiram
cai no pelas
sono com frestas
o de
revólver seu
ao niilismo,
lado de suao
poltrona.
levará o Tem início,
personagem então,
a um uma
planeta viagem
muito intergaláctica
parecido com quea
Terra
mesma — trata-se,
estrela que como o
brilhara homem
no ridículo
céu, na noitepôde descobrir,
anterior, bem da
no
momento
sealamedas em que
vê guiadocelestiais, ele decidira
pelo poetaporromano se matar. Se
Virgílio e,Dante
ao Alighieri
fim, já nas
ridículo é resgatado de seu sua
caixão musa(ele Beatriz,
se mata noo homem
início de
seu
guia?) sonho)
que o por
leva, um ser
universo (um anj
adentro, o da guarda,
rumo a uma um espírito-
nova forma
de vida
Quem e amor.
j á deparou com a agonia moral de personagens
como o homicida
, 1872) eRódion
o Raskólnikov,
cúmplice de o
parricídiosuicida
Ivan Kiríllov
Karamázov (
Os

tem
demônios

com sensações
o homem inusitadas
ridículo e
no reconfortantes
novo planeta. ao aterrissar
Como se
estivéssemos envoltos pelas aquarelas do pintor francês
Claude
vivem naMonet,
mais encontramos
harmônica e um
bela mundo
simbiose. repleto
Não de
há seres
sequer quea
cisão
Terra, entre
os os reinos
seres são animal,
um só, vegetal
ainda e mineral.
que existam No duplo
como da
si
mesmos.
espirituais O ego, esse
consideram centro
o do
cerne desej
de o que
nossas várias
tensões, tradições
parece
inexistente.
outro formam Os(e seres
irmanam)não são em
aquilo si,
que, mas
em entre
nossa si.
línguaO eu
comoe o
em nossas
retórica: ações
nós. Os na
seres Terra,
se amamdesponta
sem apenas
dor, posse de forma
ou ira.
Mesmo
parece a morte,
algo esse
tranquilo, fantasma
uma vez que
que, tanto
como nos
o assombra,
homem lhes
ridículo
logo
noção descobre,
inata da os seres
eternidade. daquele
A planeta
morte, então, parecem
seria umater uma
mera
travessia.
russo, Não o adeus,
( mas um ): até
até breve.
a Como
próxima vezse diz
que em
nos
virmos. до свидания do svidania

Apegado à dor para amar, o homem ridículo se sente


deslocado
ternura. entre
Como ele aqueles
não seres
entende que
de que exalam
modo éfraternidade
possível amar e
sem
ridículoduvidar,
começa amara sem sentir
disseminar o e impingir
pomo da dor,
discórdiao homem
entre
aqueles
mimetizar homens
a serpente e mulheres
sorrateira amorosos,
do  , o como
primeiro quelivroa
daa separação
Bíblia judaico-cristã.
entre o meu Irrompem,
e o teu. A assim,
Gênesis

partir o
deego,
tal a disputa
momento, e
desavenças
para os pontospontuais
mais se irradiam,
longínquos da como
Terra, uma
como semetástase,
a ruptura
deTerceira
uma Guerra
amizadeMundial.
e de um namoro fosse o prenúncio da
motivoAo descobrir
da queda eque
da fora,
perdiçãocomo a
daquelas serpente
pessoas, diabólica,
o homem o
ridículo
despeito), sente,
que émovido
preciso pelo remorso
levá-los de (e,
volta quiçá,
à também
comunhão. pelo
Após
terrenascido
sobrevivido ao próprio suicídio, em
para uma descoberta tantas vezes proferida emseu sonho, e ter
rituais
próximo e tantas
como a tivezes
mesmo”),esvaziada
a pelo
personagem cotidiano
desperta, (“Ama
relegao
prontamente
tenta encontrar o revólver,
as lembra-se
palavras com da
as criança
quais com
pretende gratidão
revelare
àscalvário.
pessoasAssim,
seu caminho
“O sonho dederedenção
um homem para além
ridículo” do próprio
tem seu
desfecho
para que como
o uma
núcleo tentativa
redentor e (a bem
repleto dizer,
de um
acalento chamado)
do mais
famoso
uma sermão
montanha que
sej a Jesus
levado Cristo
por nós proferiu
(e para sobre
nós) até oa cume de
planície
(ou,Apior, até
descoberta o deserto
redentorade gelo)
e da história
transcendental humana.
de “O sonho de
um homem
bastante ridículo”
ambígua, ao aproxima-se
ressoar a esperançade nós
de umade maneira
época que
ainda
história acreditava
e dos seres ser possível
humanos. transformar
Hoj e , quando a natureza
olhamos paradao
futuro
em com temor
decorrência tanto
do pela
emprego potencial
em escassez
massa da de trabalhos,
inteligência
artificial
neoliberal, e das crescentes
quanto pela contradições
devastação do turbocapitalismo
ambiental, a descoberta
dotransformar
homem ridículoem um transcende
proj eto de seu conteúdo
efetiva moral
democracia para se
social.
Nesse
vez: momento,
será que o pomo da
conseguiremos discórdia
superardesponta
nossa ainda uma
ridícula
condição
sonho afeita
espiritual ao
de ego para
Dostoiévski, vivenciarmos,
a dimensão com
de (e
que como)
nenhum o
ser humano
demesmo
qualquer é uma
ser nosilha, inteiramente
diminui, porque isolado,
somos e de
partes que a
de dor
um
que todo,
consigamos somos partes
vivenciar de
tal uma mesma
comunhão humanidade? 
(se é que um A
dia té
o
faremos),
inglês John não será
Donne possível
em sua proferir,
“Meditação como
XVII”, o fez
que, o poeta
“se um
torrão
homem de terra
ridículo for levado
diria: a pelas
Terra] águas
fica até o
diminuída, mar, a
como Europa
se [o
fosse
um promontório, como se fosse o
teu próprio”. Até que incorporemos tal máxima comosolar de teus amigos ou o
sabedoria
que somos e prática
continuarão de nossas
a se vervivências,
como ilhas os torrões de
autossuficientes,terra
ainda que
papelA agonia nos
em alto-mar. sintamos, a cada dia, como barquinhos de
terparaexacerbado,decorrente da pandemia
dostoievskianamente, do coronavírus
nossas parece
tendências
poucas a contradição
vezes o pão (a bem
chegou a dizer,
ser para o
partilhado paradoxo).
antes Se
mesmo não
de
ser oferecido;
deveria se se
prolongaro auxílio
por emergencial
muito e muito pôde
tempo, ser aprovado
como parte (e
do
pagamento
brasileiras da
têm dívida
para histórica
com os que as
humilhados classes
e dominantes
ofendidos do
nosso
àparece país),
dor que, também
acossando vimos
o como
outro aoa sociedade
nosso lado,pode ser
ainda alheia
assim
social e não
com nos dizer
máscaras respeito.
não sobre Éascomo
vias se, em isolamento
respiratórias, mas
sobre
criança os olhos
inocente e ouvidos,
que clama, nós
em déssemos
desespero, as
porcostas
aj u da para
para a
a
mãe. É como
coletivamente, e se pulássemos
passássemos a do topo
entoar, emde um
queda prédio,
livre, o
seguinte
bem. Assim,mantra:
uma até aqui
máxima vai
do tudo
homem bem, até
ridículo, aqui
a vai
reboque tudo
de
seu
moral,sonho,
mas chega
como até
uma nós não
barricada apenas
em como
prol do uma
nosso pregação
futuro:
“Não quero, não
normal das pessoas”. posso acreditar que o mal sej a a condição

USP, com , escritor,


pós-doutorado
Flávio Ricardo Vassoler
em professorRussa
Literatura e  pela Northwestern
, é doutor em Letras
youtuber pela
University
(EUA).
Um paraíso perdido
por Cecília Rosas
das “O sonho
obras-chave de um
da homem
fase ridículo”,
tardia de escrito
Dostoiévski. em Na1877, é
época uma
em
que
especial foi lançado,
da o
crítica. conto
1 não recebeu
Posteriormente, nenhuma
ele viria atenção
a ser
considerado
obsessões queuma pequena
atravessam obra-prima,
toda a obra na dequal grandes
Dostoiévski
aparecem
O conto condensadas
foi publicado num
em texto
abril conciso
no e impactante. ,
uma
que revista
circulou mensal
(de forma escrita inteiramente
descontínua) entre por
1876 eDostoiévski
Diário de um Escritor

1881. Nela,
omomento
autor publicava
e artigos,
ocasionalmente ensaios, comentava
publicava obras os detemas do
ficção.
Naquele
noromance ano de 1877, essa foi a única obra ficcional
periódico. Em breve, o autor, vistofariacomoa publicação
2 a figurardo
obras maiores, e viria
Os irmãos Karamázov
a falecer pouco depois deuma de suas
completá-la,
emCom 1881. o subtítulo “conto fantástico”, “O sonho de um
homem
Dostoiévski ridículo” remete
apreciava, comoa uma
Edgar série
Allan de
Poe,autores
Aleksandrque
Púchkin,
exemplo, éNikolai
mencionado Gógol em e umE.T .A.
dos Ho mann.
rascunhos Poe,
do por
texto. 3
Além disso,
deA. Beriozkin, críticos
espadas”, deemPúchkin, identificam
na clara
estrutura influência
do conto. de
A. “A dama
Batiuto e
notam que um dos comentário
elementos às
que Dostoiévski
Obras Completas do autor,
considerava
fascinante
anivelamento no
separar sonho conto de
e Púchkin
realidade. era a
Essaausência de
ambiguidade fronteiras
e o
entre sonho e vida,
absorvidos por Dostoiévski em seu conto. segundo os
4 críticos, seriam
para Outros
o autores
grande apontados
escritor como
russo sãopossíveis influências
Swedenborg, que
Dostoiévski
com o qual havia
o contolido recentemente,
compartilha em e Cyrano
particular de oBergerac,
tema da
viagem fantástica.
Dostoiévski via
5
com alarme os rumos políticos de uma
parcela radicalizada
do século XIX., deChamados da ju ventude
de russa
niilistas a da segunda
partir do metade
romance
recusavam
Pais e filhos
uma Ivan Turguêniev,
atuação política esses j
reformistao vens — progressistas
como aquela
proposta
muitas pela
vezes geração
com o usoanterior
da — e
violência,advogavam
como únicaa ação
saídadireta,
para
romper
Russo. com
Eram a rigidez
homens epolítica
mulherese o atraso
que social
pregavam do
a Império
primazia
daabstratas
ciênciae irrelevantes
e a recusa para do queo progresso
consideravam social, questões
como as
discussões
Moscou e artísticas
São da
Petersburgo. Alguns
intelligentsia aristocrática
desses de
grupos
protagonizaram
chegando inclusive ações
a matarcontra
num autoridades
atentado o tsar russas
Alexandre —
II emDostoiévski,
1881. que frequentara círculos progressistas na
jvezuventude,
mais mas passara
conservadora, a adotar uma
nacionalista e posição
religiosa, política cada
dedicou-se
àromance
crítica desses grupos, deem1871. seus artigos e na ficção, como no
temaEm “O sonho
Os demônios

numa nova de um
chave, homem ridículo”,
fantástica e o
utópica. autor
Na retoma
primeira o
parte
desses do conto,
homens somos apresentados
modernos, um a um
“progressista representante
russo e
petersburguês
Trata-se do sórdido”,
indivíduo nas
que, palavras
imerso do
na protagonista.
racionalidade
moderna,
mundo e afastou
de seusDeus da própria
semelhantes, vida
segundoe se vêa apartado
concepçãodo
dostoievskiana. Como aponta o biógrafo Joseph Frank, é
interessante
lúgubre, o notar
autor lança que,
mão na
dasdescrição
imagens dessa
usadas Petersburgo
pela Escola
Natural,
jridículo movimento
uventude.lhe6 trazem
A melancolia, literário
a que
indiferença elee integrara
a condição na
de
aspereza da cidade profundo
e pela má sofrimento,
convivência intensificado
com os pela
outros, e o
protagonista
Não por decide
acaso, se matar.
Bakhtin diz que “O sonho de um homem
ridículo”
temas de é “quase uma
Dostoiévski”. enciclopédia
7 O suicídio —completa
uma das dos principais
questões mais
recorrentes
vida esvaziada paradeo autor
sentido. — surge
Nesse como consequência
aspecto, “O sonho dessa
de um
homem
famosos: ridículo”
Kírillov, de retoma outro. de seus personagens
No mesmo
escrevera que
Os demônios
Diário de um Escritor , em 1876, Dostoiévski
asespírito,
pessoasnãodetêmrepente
vontade veriam
e que já não têm
individualidade, que vida, nãoroubou
alguém têm tudo
liberdade
delas de
de
uma
nada vez
a [...] tudo
fazer, Reinarão
está o tédio e aeangústia:
aprendido não há tudomaisestáa aprender.
nada feito e já não
Os há mais
suicídios
aparecerão
jvez,
untarão em multidões,
em massa,dedando e não
as formacomo
mãos enova,agora,
exterminandopelos cantos;
a sipormesmas as pessoas se
todascomdetodas
uma
aos milhares, alguma descoberta elas junto
as descobertas.8
Ainda
como no mesmo
particularmente âmbito, um
frequente tema
na apontado
obra do por
autor Bakhtin
é o das
últimas
suas horas
reflexões, deo vida antes
personagem do suicídio.
propõe a Atormentado
si mesmo jo em
gos
morais.
novamente Dostoiévski
posta em retoma aqui a questão (e que
que será
está
presente
existe, em
tudo é boa parte
permitido. de
9 sua obra): a de que
Os irmãos Karamázov
se Deus não
porPorém,
uma decidido
criança, a
e, se matar,
apesar de o homem ridículo
afugentá-la, é abordado
sente-se depois
atormentado pela situação. Este é outro tema apontado por
Bakhtin:
retomada a imagem
em da criança ofendida, ,queno também
personagem seria
Iliucha.
menina A profunda
representa impressão
Os irmãos Karamázov

um embate causada
entre a pelo
consciênciacontato com
niilista a
e
aArsentieva.
consciência moral, segundo a estudiosa
10 Depois, em casa, diante do revólver carregado, Natalia
eleparatenta
se por
importarvia da razão
com se
aquilo, convencer
j á que de
vai que
se não
matar há demotivo
toda
maneira,
estado de mas
crise não
só consegue.
é possível Para
pela Dostoiévski,
via do sentimento,a saída já desse
que a
razãoAssim,
não oferece
o as respostas
protagonista necessárias.
adormece e começa a sonhar.
“Quem
sim o governa
desej o , não os ésonhos,
cabeça, aparentemente,
e sim o coração”, não é
reflete.a razão,
É nos e
sonhos
que está que
a vidao protagonista
verdadeira, oreencontra
afeto longe o
da irmão
razão. morto:
O sonho é aí
de
crise,
outro que
tema muda
clássico a vida do personagem
dostoievskiano. 11 e
Boris o faz renascer,
Schnaiderman é
comenta
chamada que no começo do século XIX,, quefez sucesso
influenciou uma o obra
autor
alemão
autoria E.T .A. Ho mann,
O simbolismo dos sonhos

de um certo professormuito lido


Schubert, poro Dostoiévski.
livro atribuía De
ao
“divino”,
Freud, a uma
matéria espécie
formadora de precursor
dos sonhos. do
12 inconsciente de
mas Em nãosonho,
dá o o
tiro homem
na ridículo
cabeça, como dá cabo
pretendia, de esua
sim intenção,
no peito.
Depois
“absurdo de morto
da e enterrado,
continuação manifesta
da sua
existência”, indignação
já que pelo
sua
expectativa
Quando era
o o não
personagemser. é levado para outro planeta,
chegamos
como a
integrante um importante
da enciclopédia tema apontado
dostoievskiana: por o Bakhtin
paraíso
terrestre,
“transformação que encontra forma
instantânea dano mito
vida em da Idade
paraíso”. de Ouro,
13 Trata-se,e a
no conto, do mundo ideal, regido pelo amor, visto
inicialmente
conhecimento pelo
deste homem
mundo ridículo
lhe restitui em
a seu
vontade sonho.
de O
viver,
dá aAeleIdade
a visãode Ouro
da verdade
já haviae o transforma.
aparecido em outras obras do
autor,
que como
terminou sendo
O adolescente
excluído e da edição
Os demônios (em
final), ume capítulo
era uma
presença
romances. constante em suas anotações
14 Tomado da antiguidade clássica, em particular para outros
doessapoema
época “Os
no trabalhos
passado, enaos dias”,
“infânciade Hesíodo,
da o mito
humanidade”, situa
15 e
constitui
Idade uma
Média e tradição
chega atéda aliteratura europeia
contemporaneidade. que passa pela
16 Seria uma
era de
original, harmonia;
nela vivia uma
uma “Terra
gente não
sem profanada
pecado, vivia pelo
no pecado
mesmo
paraíso
humanidade, em queos viveram,
nossos como
antepassados rezam as lendas
pecadores”. de toda a
De início,
inconcebível que para
a o
sabedoria “petersburguês
daquele povo progressista”
não contemple é
a
ciência.
pelos No entanto,
habitantes deele vê
seu que
sonhoa verdadeira
está forafelicidade
do âmbitovivida
da
compreensão
oposição entre intelectual
cabeça e e racional.
coração, entreSegundo
razão eFrank, “esta
sentimento,
torna-se
humanidade”. em si
17 o centro de toda a história espiritual da
teriaHá uma
se discussão
baseado nos entre críticos
socialistas quanto
utópicos a se Dostoiévski
franceses, como
Fourier
Eram e Cabet,
autores para
lidos nosformar
grupos sua imagem
que da
Dostoiévski Idade de Ouro.
frequentara
nos anos
tornaria 1840;
crítico posteriormente,
do socialismo. No no entanto,
entanto, Frank o escritor
aponta se
que
ele
sempre continuara
utópicos, embora a ter acreditado,
tenha simpatia pelos
depois, que esses obj
objetivos morais dos
e tivos socialistas-
somente
poderiam ser alcançados
cujos ensinamentos algumincorporados
estavam dia sob a inspiração
no povodorusso.
Cristo(...)Deus-homem,
De fato, a
versão
Assim, de Dostoiévski
o com era
contocorreção,
de Dostoiévski às utopias
não é éantiutópico;
uma resposta racionais dos
ao contrário,socialistas.
como das
diz
Prutskov
sensações do coração e “seu
sua alicerce
oposição às o anti-Iluminismo
verdades da cabeça, a(o primado
precedência de
ações morais suscitadas pela18 consciência em oposição àquelas ações
motivadas pelas convicções)”.
Batiuto
Depois de e Beriozkin
percorrer apontam
“um uma
esboço direção
ímpar, semelhante.
fortemente
individual
motivos de daamorhistória da
torturante humanidade,
e extático sustentado
pela terra epor
o
universo,
domundo, sofrimento
homemvistaridículo ée voluptuosidade
uma oposição à cruel”,
visão o movimento
científica do
humanidade. como
19 necessariamente autodestrutiva para a
uso Éde interessante
uma notar
argumentação que a forma
discursiva do conto
lógica. tampouco
Para Bakhtin, faz
o
mais
tão impressionante
universal, ser ao do
mesmo conto é
tempo sua capacidade
muito conciso, de, sendo
chegando
mesmo
Dostoiévski a umaé espécie
capaz de de laconismo. O crítico
essaaponta
ideia que
com
precisão.
laconismo
20 Assim, é possível dizer que na própria forma, no
e na
sentir artisticamente

parcimônia da argumentação, Dostoiévski


realiza sua
racionalidade. proposta
O apelo de predomínio
ao leitor para dos
a sentimentos
Verdade revelada sobre a
pelo
profeta,
racional, a Idade
mas pela de
via Ouro,
da não se
sensibilidade dá pela argumentação
artística.
para É o narrador
aquela que,
terra. sem
Tudo saber
começa como,
pela leva
mentira, o pecado
e daí original
seguem-
seNesteos outros
momento,pecados,
o contocomo a
evoca volúpia,
o mito o
da ciúme,
queda a
do vergonha.
Paraíso.
Como observa
doharmonioso. Arsentieva,
demônio “‘Oquesonho introduz o herói
a termina
tentação por fazer
naquele o papel
mundo
de um homem ridículo’
pode ser considerado um relato mítico que reproduz o tópico , portanto,
doqueda.
paraíso
”21 perdido, uma variante do mito escatológico da
Aspectos
ciência e a ju do mundo
stiça, moderno,
aparecem nessecomo a
mundo individualidade,
como sintomas a
da
queda. Os
Dostoiévski: caídos reproduzem o discurso criticado por
temos
vez a a ciência,conscientemente,
usaremos e por meio dela encontraremos
o entendimentodeénovo a verdade,
superior ao mas dessaa
sentimento,
consciência
aà felicidade. da vida — superior à vida. O conhecimento nos dará a sabedoria,
sabedoria revelará as leis, e o conhecimento das leis da felicidade é superior
O
redenção narrador
de todospor — fim
pede tenta se
inclusive sacrificar
para ser em nome
crucificado da
—,
mas só consegue
objinterpretação retornar
eto de risointeressante: ao
geral. Nikolai que era no
Berdiáiev começo do
propõe conto:
uma
homem ridículo” não pode o
ser paraíso
digno dos de “O
filhos sonho
de Deus, de um
pois
não traz
Propõe-se em
entãosi o
o pleno
tema conhecimento
do paraíso perdido do bem
e e do mal.
irrecuperável,
juma
á que,verdadeira
segundo esta interpretação,
harmonia entre todossó é possível
pela livre chegar
escolha a
e
trilhando
trágico um
processo caminho
global dea sofrimento.
humanidade Apenas
pode percorrendo
conquistar uma o
liberdade
Ao verdadeira.
acordar, o
22
protagonista está completamente mudado.
Ele afasta
pregação de
da si o
verdaderevólver
vista carregado
no sonho. e decide
O que dedicar
temos aíaévida
maisà
um
apesardos grandes
de temas
ridicularizado dostoievskianos:
pelo mundo, o “louco
segue sábio”,
sendo o que,
único
capaz
lhe de
provocadizer a
raiva verdade.
pelos
23
queSuao condição,
ridicularizam,no entanto,
mas não
amor.
Desta forma,
oumaprotagonista o conto
se tem
sente um
enfim encerramento
imbuído de extático,
uma no
missão, qual
de
verdade e de um sentido que lhe oriente a vida.
Convertido
palavra. em profeta, ele agora pretende espalhar sua
Como
temporalidadeaponta Bakhtin,
particular: as obras
como deseDostoiévski
tudo têm uma
acontecesse
simultaneamente,
obiográfico
crítico chama o
de antes
tempo e o depois
de estão
crise, excluídos.
diferente do É o que
tempo
equivaler, comum.
e um No
momento tempopodede crise,
ter uma as durações
duração podem
de anos. se
24
Em
noite,“O sonho
o tempo de um homem
transcorrido ridículo”,
é o de ainda
toda que
a dure uma
história só
da
humanidade.
Natalia Arsentieva indica que a estrutura do conto,
construída
aopercorre a partir
gênerosuadaprópria de fontes
confissãovidamedieval:literárias
o e religiosas,
protagonista remete
primeiro
expiação e à redenção. de“Apecados para,
diferença no fim,
entre chegar
as obras à
medievais
primeiras e escritura
trata-se de moderna
provas consiste
submetidas à em que
carne, e nas
nas
segundas,
A de
estrutura provas
do do espírito.
conto como ” 25
uma história religiosa é
essencial,
iluminação já que
e o homem
redenção ridículo percorre
característico das um caminho
narrativas de
de
santos.
autor. O desfecho
Segundo encontra
Frank, há umaeco nas ideias
perspectiva messiânicas
dupla no do
conto:
aomoral,
mesmoelatemporemete que àa Idade
perda de deOuro
um serve de
paraíso inspiração
inocente.
Dostoiévski,
um caminho no entanto,
para via
alcançar noa amor cristão
redenção e pelo sofrimento
recuperar esse
paraíso.
De
26
fato, era na religião que Dostoiévski via a
possibilidade
Como aponta de mudança
Giuliana para
Almeida, o uma
escritor ordem
via namais
Rússia ju sta.
um
destino
Ortodoxo, espiritual
indicar umgrandioso:
caminho por
para meio
a do
resolução Cristianismo
da questão
social europeia, e, o que era essencial, um caminho pacífico e
não revolucionário.
eideias
pela classe Esse
dirigente caminho
russa, queseria conduzido
atuariam a pelo
partir tsar
das
cristãs
Dostoiévski via de
na comunhão
cultura j
russaá presentes
uma no
capacidade povo.
de
assimilar
suas características
contradições. “Assim, de outras
o Reino populações
de Deus e
na reconciliar
terra seria
alcançado
fraternidade nae Rússia
do desejpioneiramente
o de união como
inerente aoum
povoreflexo
russo. da
”27
Em
um 1880, Dostoiévski
discurso em expressou
homenagem a essas mesmas
Púchkin num ideias em
festival
literário
que já em
era umaMoscou. A
celebridade,repercussão
foi foi
aclamado enorme,
pela e o autor,
multidão, no
que
vida.talvez
Como tenha
o sido
herói seu
de “Omaior
sonho momento
de um de consagração
homem em
ridículo”, o
próprio autor também se tornou profeta.

USP. Traduziu
Cecília Rosas érecentemente
tradutora, mestreparaeodoutora em Literatura e Cultura Russa
português , de pela
Viktor
Chklóvski
Aleksiévitch(Editora 34, 2018),daseLetras, 2016), entre outros títulos. ,Participa
(Companhia
Viagem sentimental
A guerra não tem rosto de mulher de Svetlanado
coletivo de tradução Sycorax.

1pissátelia.
A. I. Batiuto; 1877. A.Glava
M. Beriozkin,
vtoraia. “Komentári:
méchnogoF.tcheloveka.
M. Dostoiévski. Dnievnik
Fantastítcheski
rasskaz”,
Petersburgo: in: Naúka, 1995. Tomo 14, p. 585. Disponível . São
Son s
F. M. Dostoiévski, Sobranie sotchinéni v 15 tomakh
em
https://rvb.ru/dostoevski/02comm/264.htm.
23 A.A. I.I. Batiuto;
Batiuto; A.A. M.M. Beriozkin,
Beriozkin, op.
op. cit.
cit. p.p. 580.
589.
4 Idem, ibidem.
5Bezerra.MikhailRioBakhtin, Problemas
de Janeiro: Forenseo manto da poética
Universitária, de Dostoiévski,
p. 1871-1881, tradução
156. tradução de Geraldo de Paulo
6GersonJosephdeFrank,
Souza. Dostoiévski:
São Paulo: Editora do profeta,
Universidade de São Paulo, 2007, p. 443.
78 Mikhail
A. I. Bakhtin,
Batiuto; A. M.op.Beriozkin,
cit, p. 170.op. cit. pp. 588-9.
910Mikhail
Natalia Bakhtin, op.
Arsentieva, cit., p.
“Elesueño 174. de unRussa:
hombreDostoiévski,
ridículo: eln.viaj2, maio
e haciadela2008.
verdad”,
inPaulo:
Caderno de
Ateliê Literatura
Editorial, p. Cultura
270. São
1112Mikhail Bakhtin, op. cit., p. 174.
Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia, São Paulo: Perspectiva, 1982,
p.13 142.
Mikhail Bakhtin, op. cit., p. 176.
1415 A.Joseph
I. Frank,A.op.M.cit,Beriozkin,
Batiuto; p. 442. op. cit. p. 587.
1617 Joseph
Idem, ibidem.
Frank, op. cit, p. 444.
1819 A.Joseph
I. Frank,A.op.M.cit,Beriozkin,
Batiuto; pp. 448-9.op. cit. p. 588.
2021 Natalia
MikhailArsentieva,
Bakhtin, op.op.cit.,cit.,pp.p.156-7.
275. Dostoiévkogo, Praga, 1923, p. 161, apud
22A. I.Nikolai Berdiáiev,
Batiuto;Bakhtin, Mirossozertsánie
A. M. Beriozkin, op.170.cit. p. 588.
2324 Mikhail
Mikhail Bakhtin, op.
op. cit.,
cit., p.
p. 201.
2526 Natalia
Joseph Arsentieva, op. cit., p. 279.
GiulianaFrank,
27Dostoiévski op. cit,dep.Almeida,
Teixeira
como
443. “Púchkin como o Deus da literatura russa e
seu Púchkin”. RUS
Profeta: uma (São análise do discurso proferido em: por
Dostoiévski no Festival
https://doi.org/10.11606/issn.2317-4765.rus.2012.88682. Paulo), 1(1), p. 65. Disponível
Referências bibliográficas:
ALMEIDA,
Dostoiévski G.comoT. de.seu(2012). “Púchkin
Profeta: uma como o doDeusdiscurso
análise da literatura russapore
proferido
Dostoiévski no Festival Púchkin”. 
https://doi.org/10.11606/issn.2317-4765.rus.2012.88682.
RUS (São Paulo) ,  (1), 59-68.
1

ARSENTIEVA,
verdad”, in Natalia, “El sueño de un hombre ridículo: el viaj , n. e2,hacia
maio la
de
2008. São Paulo: Ateliê Editorial.
Caderno de Literatura e Cultura Russa: Dostoiévski

BAKHTIN, Mikhail.
Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
Problemas da poética de Dostoiévski , tradução de Paulo
BATIUTO,
pissátelia. A.1877.I.; BERIOZKIN,
Glava A. M., “Komentári:
vtoraia. méchnogo F.tcheloveka.
M. Dostoiévski. Dnievnik
Fantastítcheski
rasskaz”,
Petersburgo:in: Naúka, 1995. Tomo 14. Disponível . São
Son s
F. M. Dostoiévski, Sobranie sotchinéni v 15 tomakh
em
https://rvb.ru/dostoevski/02comm/264.htm.
FRANK, Joseph.de Souza. São Paulo: Editora Universidade de São, Paulo,
Geraldo Gerson Dostoiévski: o manto do profeta, 1871-1881 tradução
2007.de
SCHNAIDERMAN,
1982. Boris.
Dostoiévski Prosa Poesia , São Paulo: Perspectiva,
Sob a égide do sonho
Por Celso Frateschi
uma Em 2005,
adaptação eu e meus
teatral parceiros
de “O sonhodo Teatro
de um Ágora
homem montamos
ridículo”.
Eusecretário
havia derecém-encerrado
Cultura da minha
cidade de experiência
São Paulo e como
fora
consumido
Durante pela
esse função
tempo, o pública
romance por quase quatro anos.,
também
melhor de Dostoiévski,
dizer, me me
perseguiu, acompanhou
ou ainda se — ou,
impôs,talvez
Memórias do subsolo

como fosse
um
espelho
subterrâneo revelador
do das
cotidiano. monstruosidades
Lançando mão do que vivem
distanciamento no
crítico
manteve teatral, a
minimamente convivência
sadio no com esse
enfrentamento personagem
do cotidianome
burocrático.
genial para oDurante
palco, algum
feito que tempo,
só tentei
consegui adaptar
muitos esse
anos livro
depois
com
contato a Trilogia
com “Odo Subterrâneo.
sonho de um Enquanto
homem tentava,
ridículo”, o entrei
que em
então
meFoiapontoumesmo outros
como caminhos.
um sonho que a novela me apresentou
um conj
conversavam u nto de signos,
diretamente os nãoquais só decomalgumaa forma
minha
subj
Vivíamos etividade,
uma mas com
tentativa dea própria
reconstrução realidade
social do
e, país.
nesses
momentos,
nossas é sempre
possibilidades interessante
e os desvios recuperar
e a
descaminhospotência
que das
nos
colocam
Todos frente
os aos
balanços enigmas
de e
gestão abismos
já tinhamda existência.
sido feitos e o saldo
defeliz.nossas
Mas realizações
percebi foi
que muito
não positivo.
carecíamos Isso
de me deixava
avaliações
objsubjetivas sobre as políticas públicas,
etiva, que colocasse a questão de e
“...se na urgência na
sim uma avaliação
Ao mesmo tempo, ao final da jornada me
execução das metas de partida, esquecemos as razões de
nossa partida...”.
perguntava: “...O que mudou de nosso nome e de nosso

Lembro
rosto?”.

daespaço
Galeria quando
Olido, entramos
no dia 02 naquele
de ja andar
neiro de administrativo
2002. Era um
gigantesco.
deano.Cultura tinha A mudança
acontecido da antiga
durante o sede
recesso da Secretaria
de final de
As
servidores divisórias ainda
improvisaram, não tinham
dividindo as sido
salas instaladas.
e Os
distribuindo
por
espaço elas
ka pilhas
iano, enormes
patético ede processos.
opressivo, comEntrar
todos naquele
aqueles
servidores
processos, buscando
como se suas se entender
vidas tivessem comsido montanhas
embaralhadas de
por
estaremuma avalanche
devidamente de papéis cuj
organizados o sentido
e dependia
carimbados, de
nos
impressionou
partida para muito
a nossa e acabou
adaptação.sendoEu ume dos
meus pontos de
parceiros
achamos
como naquele
provocação, momento
principalmenteoportuno
o sonhoapresentar
de um o
homem sonho
que
tem
Lage, consciência
Sylvia e se
Moreira, assume
Marlene como ridículo.
Salgado, Eu,
Vivien Roberto
Buckup,
Aline Meier
da criação e Wagner
guiados por Freire partimos
Dostoiévski. para o desconhecido
O espetáculo foi construído sob a égide do sonho.
“Os sonhos, como se sabe, são uma coisa muitíssimo
estranha: um aparece com nitidez horripilante, com um
nível de detalhamento e minúcia digno de um joalheiro, e o
outro você passa por cima de tudo, sem perceber, até
mesmo do espaço e do tempo.
Quem governa os sonhos, aparentemente, não é a razão,
e sim o desejo, não é cabeça, e sim o coração”

Em , Freud cita, logo


do texto, o fisiólogo Burdach, que afirma que o sonho
A interpretação dos sonhos no
entra
início
em contato com o nosso estado de espírito e representa a
oquequeosa sonhos
arte proporciona?
realidade em símbolos . Em certa
Pois medida,
então não não é isso
poderíamos também
dizer
medida, nos e
servemo teatro
a (ou
propósitos a arte em geral),
semelhantes? em
A alguma
diferença
éartista,
que o espetáculo
que elabora teatral
um se
conj concretiza
u nto de a partir
signos, cuj dao criação
sentido do
se
dáparticipante
apenas quando
ativo recebidos
desse e
fenômeno. elaborados
Se o pelo
sonho público,
é um
processo
teatro é involuntário,
uma ação subj
voluntária e tivoe e estritamente
necessariamente pessoal,
social, jáo
que
espelhaproporciona
e mobiliza uma
a espécie
sensibilidade dee a“sonho coletivo”,
inteligência, também que
aprovoca
partiradesonhar
um conjna u nto
vigília.de Nãosignos.
é um A arte,
sonho portanto,
que nos nos
aliena,
mas que
paradoxo. nos desperta,
Encanta ao nos instiga
desencantar, eaosó se
nos realiza
revelar nesse
o até
então desconhecido.
descoberta. Assim, nos instiga a lidar com a
A
narradapequena
pelo novela
próprio “O
homem sonho de
ridículo.um homem
Solitário ridículo
a ponto ”
de é
não ter nome, com
sempre será ridículo. plena consciência de
“Eu mesmo riria com eles, não digo
que é, sempre foi e
que de mim, mas por amor a eles, se eu não ficasse tão

Num
identificamos primeiro
triste ao olhar para eles.”

com amomento,
sua simpatizamos
consciência e e
embarcamos nos
cúmplices
alguns e curiosos
degraus em na sua
direção j ornada.
ao seu Quando ele
subterrâneo, descejá mais
não
conseguimos
estamos sendo mais nos
arrastados separar
para dele,
um mesmo
lugar sabendo
desconhecido que e
assustador.
Decidido a tirar a sua própria vida insignificante, busca
oqualquer,
momentoquecerto.
se Ele
identifica secom apresenta
o nada, como
busca o um
nada. homem
Numa
noite de inverno de São Petersburgo, ao
volta das onze horas, observa uma pequena estrela que voltar para casa por
sobressai
éoso cristãos em um
sinal, as anunciava buraco
estrelas sempre negrosãoem meio
sinais. às
A nuvens.
mais A
famosa estrela
para
nosso herói, a estrela a chegada
anunciava do
quefilho
a de
hora Deus.
de Para
puxar o
o
gatilho
são havia
desenhados chegado.
com Os signos
clareza e que
se Dostoiévski
oferecem a constrói
múltiplas
traduções.
personagem. Ele
A nos
noite, envolve
a umidade na melancolia
da garoa, o patética
nevoeiro do
que
brota de cada
Identificamo-nos canto,
com de cada
esse beco,
estado dedecada pedra
espírito. da
Se rua.
os
lampiões
cenário. apagassem,
Contudo, ao
esse menos
momentonão sedeveria aquele
introspecção tristeé
surpreendentemente
descer mais um degrau quebrado
em direção e a
ao narrativa
nosso nos
subsolo. leva a
No
ridículomeio
é de sua
abordado conversa
por umacom a pequena
menina de estrela,
uns oito o homem
anos de
idade,
não encharcada
conseguir de chuva
articular as e tremendo
palavras. de
Tem frio, a ponto
apenas de
um
pequeno
sapatinhos lençorotoscomo
e agasalho.
molhados. Ele
A guarda
menina, na
com memória
um seus
grunhido
quase
morrendo animal,
perto pede
dali. aju
Nossoda para
herói socorrer
não apenas a mãe
nega que
a ajuestá
da,
como
Nos ameaça
espantamos a menina
com aos
seu berros,
gesto e passando
o rej eitamos,a enxotá-la.
mas ao
mesmo
somente tempo
pela não
menina, deixamos
mas em de
alguma sentir
medida compaixão:
também não
pelo
homem ridículo.
transbordam Na
também descrição
o lado da
humano ação e violenta
o desesperoe deplorável,
de nosso
herói. Aqui
iráAodesenvolverjá começamos
em seus a ouvir
grandes a polifonia
romances. que Dostoiévski
sua voltar
mesa um para casa,
revólver o personagem
carregado, apanha
adquirido um da gaveta
mês de
antes
exatamente
menina o para
perturba a eocasião.
essa No entanto,
perturbação nossua atitude
aproxima com
ainda a
mais dele. Adormece pousando a arma
coração. Sem perceber a fronteira do sono, continua, emno peito, na altura do
sonhos,ç a raciocinar sobre os mesmos problemas. Já no
limiar
teratinge. do adormecimento
planejSonha
ado meter a balaele aperta
na o
cabeça, gatilho,
é o mas
coração apesar
que de
ele
enterrado numa com
cova seu funeral
profunda. Sem e com
saber seu
se enterro.
depois de umaÉ
hora,
penetra um dia
em ou
seuvários
caixãodias, se
em desespera
pequenas com
gotasa umidade
que que
caem
seguidamente em seu olho esquerdo. “Um minuto depois
dela, veio outra, um minuto depois, uma terceira, e assim

” A precisão das imagens


por diante, e assim por diante, sempre de minuto em

prepara
minuto.
para embarcar completamente nos estimula
no relatoe nos
do
personagem.
também meu, Aqui,
também já sonhamos
nosso. o seu sonho; que passa a ser
por O caixão
caminhos se abre e ele
desconhecidos é transportado
que o por
distanciam um ser
da estranho
terra onde
derramou
metido uma seu
balasangue.
no seu Ele desej
corpo, a
masva o nada,
estava por
sendo isso havia
carregado
por um
Portanto, ser que
ele não
pensava:era humano,
há vida mas
além que
da não
morte! deixava
A de
velocidadeser.
derealizamos.
seu pensamento
O homem é delirante,
ridículo assim
descobre como
um a viagem
outro sol que
igual
aoprofundamente
nosso e uma outra ter terra, também
abandonado igual
a à nossa,
nossa e lamenta
soturna e
enxovalhada
da Terra que Terra.
tanto Para
amou? que haveria de existir uma cópia
De repente,
carinhosamente. ele já está
Reconhece nessa
a outra
natureza terra,
e os que
homenso recebe
que
trazem
ser o em
mesmo seus rostos
paraíso ema inteligência
que viveram e a
em sabedoria.
harmonia Conclui
nossos
antepassados.
feliz que o cercam Entra
e o em
levamcontato
para com
suas habitantes
casas. Nessa dessa
terra terra
não
havia
suavemente doenças, nem
cercados detemplos
olhares e
de nem
boa crenças.
viagem. A Morriam
vida pode
ser plena e prazerosa, isso aprendemos com seu sonho.
“Quem governa os sonhos não é a razão, e sim o desejo.”
Nós
nuvens. agora
Somossaímos do
inundados subsolo
pelas e atingimos
possibilidades adoaltura
prazer das
de
viver
econduzir e pela plenitude
nos deixaao totalmente da vida.
livresDostoiévski
para, maisabreumaa nossa
vez, alma
nos
existência. abismo mais profundo e terrível de nossa
Num relato
dadisso.mentira vertiginoso,
penetrou em o autor
nossos nos mostra
corações e como
como o átomo
gostamos
Mais Surgem
uma vez a propriedade
aparece diantee a briga
de “
nosso homem o
pelo meu e pelo seu
mundo ”.
dividido
onde os e desigual,
mais fracos a
se escravidão
ju ntam aose a
maisservidão
fortes, voluntária,
desde que
estesMasoprimam
nosso os que
herói são mais
proclama fracos
ser que
o aqueles.
único culpado por
perverter
até os essa
ensina agente e
construir esse planeta.
uma cruz, Desej
mas a ser
eles crucificado
apenas riem e
e
dizem
num que
curto ele é
espaço umde maluco
tempo, e
os que
dois devem
planetas prendê-lo.
se Assim,
assemelham
em
em suas dores
sacrifício, e
mas em assuas misérias.
pessoas se Ele
limitam procura
a rir oferecer-se
dele. Resolve
mais
percebe uma quevez morrer,
aquela mas
pobre acorda
menina de
queseu
ele sonho
ofendeue, ao
aosacordar,
berros
apontava
continuar para uma
procurando, outra possibilidade de vida. Decide
Nessa
dosubsolo, pequena
grandevivenciando obra encontramos
escritor. Oaoseumesmopersonagem várias
“E caminharei! E caminharei!”.

típico, caraterísticas
um homem do
Ae polifonia da alma humana se tempo o
manifestandoterrível e
coraj oosublime.
samente
nos
misérias revelando
e virtudes. asUm nossas
sonho possibilidades,
de um homem as nossas
ridículo que
nos
nós proporciona
a consciência, um asonho
dor e grandioso,
o prazer capaz
que nosde explodir
caracterizam em
comoHáseres humanos.
momentos na vida em que se acumulam sobre as
nossas verdades o pó dos tempos. A
perde o brilho; o que nos movia adiante passa a nos verdade se solidifica e
paralisar,
argamassa e o pó
de umedecido
certezas pelos
que lamentos
nos seca
petrifica. numa
Romper triste
a
estagnação
esta é
provocaçãotarefa
de dos artistas.
Dostoiévski. NãoFoi esta
possuo busca
as que
suas trouxe
crenças,
mas
como desej
todoso a sua
os inquietação.
sonhos, aquilo Busco
que no
rejuseu sonho,
venesce e ridículo
religa a
velhice do
humanidade. contemporâneo
Talvez, mais ao
do imaginário
nunca, da infância
necessitemos de da
um
proj
aindaeto ridículo
sejamos de nos
ridículosentendermos
o suficiente como
para um
crer todo.
em Talvez
algumas
criações
beleza, da humanidade
mesmo que como
ridícula, a
aindaética e a
possuaestética.
algum Talvez
sentido.a
Quem sabe
eridículo
não porque as coisas
são são como
inevitáveis são
e porque
por issoas forj
valhaa mos
a assim
pena o
de tentar transformá-las?

diversas é ator,
adaptações
Celso Frateschi professor
literárias para eodiretor
teatro, teatral.destaque
com EncenouparaDostoiévski
o monólogo em“O
sonho de um homem ridículo”. Foi Secretário de Cultura do Município
Paulo, Presidente da Funarte e atualmente é Diretor do Ágora Teatro. de São
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D724s
Dostoiévski, Fiódor
O sonho de um homem ridículo / Fiódor Dostoiévski ; tradução por Lucas Simone ; ilustrações
por Helena Obersteiner. – Rio de Janeiro : Antofágica, 2021.

Formato: e-book
Textos complementares por: Sidarta Ribeiro, Helena Obersteiner, Cecília Rosas, Flávio Vassoler
e Celso Frateschi
Título original: Сон смешного человека

ISBN: 978-65-86490-42-8
1. Literatura russa – conto. I. Simone, Lucas. II. Obersteiner, Helena. III. Título.
CDD: 891.73 CDU: 821.161.1

André Queiroz – CRB 4/2242

Todos os direitos desta edição reservados à

Antofágica
[email protected]
facebook.com/antofagica
instagram.com/antofagica
Rio de Janeiro — RJ

1a edição, finalizada em meio à pandemia de 2021.


NÃO HÁ VERDADE.
Esta edição onírica talvez tenha sido composta na fonte Chalet, Austin e
Triptych
VIDEOAULA GRÁTIS
sobre O sonho de um homem ridículo com Cecília
Rosas, doutora em Literatura e Cultura Russa pela
USP. Escaneie o QR Code acima para acessar.

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