Apostila Completa Teoria Da Literatura
Apostila Completa Teoria Da Literatura
Apostila Completa Teoria Da Literatura
TEORIA DA LITERATURA
GUARULHOS - SP
SUMÁRIO
2 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
2
7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA......................................................................................... 65
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 O QUE É LITERATURA?
Fonte:www.brasilescola.uol.com.br
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poesia, por exemplo. E por que a poesia e o romance são considerados como
literatura e nossas conversas com amigos não? O que diferencia um texto literário de
um texto não literário? Essa não é uma questão simples, e muitos teóricos já se
debruçaram sobre o problema, a fim de tentar resolvê-lo. (MINUZZI, 2019)
Eagleton (2006), em sua obra Teoria da literatura: uma introdução, levanta
inúmeras definições já dadas à literatura ao longo dos tempos, sempre mostrando
como elas não funcionam — ou como não funcionam em todos os casos e para todos
os tipos de textos. Você também pode tentar fazer esse exercício com seus alunos:
como eles conceituariam literatura? Pode ser que surjam respostas como: “É um texto
que conta uma história” ou “É uma história que está em um livro”. Todas elas, na
verdade, são simplistas demais e estão longe de dar conta da complexidade do
fenômeno literário. Notícias e matérias de jornal, por exemplo, não são textos que
contam histórias? O que, portanto, distingue a literatura de uma reportagem?
Podemos falar antecipadamente que a literatura é uma forma de arte, assim como a
pintura, a escultura, a música ou a arquitetura — a arte literária seria uma forma de
arte com palavras. A seguir, analisaremos alguns conceitos e explicações de teóricos
e pesquisadores para literatura. De acordo com Eagleton (2006, p. 24):
Coutinho (1978) traz uma importante ideia: a literatura não é simplesmente uma
cópia do real para dentro do texto, mas uma transfiguração do real. Existe uma
anedota sobre uma conversa entre o poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé e o
pintor Edgar Degas. O pintor teria dito para o poeta que, apesar de estar com a cabeça
cheia de ideias para um poema, ele sentava e não conseguia escrever absolutamente
nada. Como resposta, Mallarmé diz que não se fazem poemas com ideias, mas com
palavras. Em outras palavras: podemos até nos inspirar no real e em experiências do
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mundo físico para produzir um texto literário, mas a literatura é muito mais do que isso
(COUTINHO, 1978).
A literatura não apenas conta histórias — o como se conta a história é igualmente
relevante, visto que os recursos estéticos são essenciais no texto literário. A forma é
uma preocupação do escritor de literatura, pois o texto literário trabalha com a
linguagem estilizada, artística, utilizada de um modo diferente de como é empregada
no dia a dia.
Além disso, a literatura não tem compromisso com o real: bruxas, vampiros,
pessoas que voam, etc., são personagens completamente possíveis no texto literário.
Apesar disso, cada texto deve ser verossimilhante (i.e., os seus elementos devem
fazer sentido dentro do universo ficcional criado, mesmo que esse não seja condizente
com o mundo real). Por último, devemos ressaltar, ainda, a literatura como contendo
verdades humanas eternas. Você já parou para pensar no motivo de, por exemplo,
continuarmos lendo as peças de William Shakespeare, que foram produzidas lá no
século XVI? Elas continuam fazendo sentido para nós, pois abordam temáticas
humanas universais, como a traição, a loucura ou o amor impossível. Mesmo que as
histórias se passem em lugares e em tempos específicos, essas narrativas poderiam
se passar em inúmeros outros contextos. A literatura, enquanto arte, não precisa servir
para nada a não se causar um prazer estético. Contudo, apesar disso, em muitas
ocasiões, a literatura cumpre papéis sociais determinantes. Para você pensar sobre
essa questão, leia o excerto a seguir, fragmento de um romance do escritor angolano
Agualusa (2012, p. 49):
A literatura pode enriquecer a sua vida, seja como simples entretenimento, seja
como fonte de conhecimento e reflexão sobre valores e ideias. Porém, são
necessários certos conceitos ou ferramentas teóricas para que o leitor possa entender
a linguagem literária de maneira ampla. A teoria literária traz à tona esses conceitos e
ferramentas para estudar a obra, o autor, o leitor e todo o processo que envolve as
produções literárias e seus conteúdos. É com base na teoria da literatura que são
feitas as resenhas, as análises e as críticas literárias. A teoria da literatura possui uma
base de dados. Essa base permite elaborar um método de reflexão e análise dos
textos literários. No cruzamento desses dados, pertinentes à trajetória da produção
literária de um determinado período, você consegue identificar as mudanças ocorridas
no processo histórico com relação ao homem e tudo que o envolve. (LIMA, 2018)
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Fonte : www.recortelirico.com.br
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que não se idealizava como perfeição literária; e que no século XIX visaram
a demonstrar que cada civilização produz um tipo de literatura e que as
literaturas, em suas formas, nos seus gêneros, evoluem através do tempo,
e daí não se poderem tomar as teorias clássicas como absolutas e
universais.
No fim do século XIX começou a revisão das ideias de seus teóricos e
com essa revisão teve início uma nova época da Teoria da Literatura.
Fonte: www.letrando.webnode.com
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fundamental que a estrutura da obra seja consequência da transformação dos
aspectos externos (como a sociedade) em elementos internos da estrutura textual. As
normas estéticas consideradas em uma obra literária correspondem aos critérios
estabelecidos pela sociedade para determinar o que é e o que não é considerado arte
literária. Trata-se de um código preexistente a partir do qual as obras individuais se
enquadram ou não no universo da literatura. (GERCKE, 2016)
Fonte: www.socialbauru.com.br
A obra literária, por meio de seus padrões estéticos, produz o efeito de estudo
da história, da crítica e da teoria literária, estranhamento ao se apresentar como objeto
desconhecido e inovador que leva o leitor a ver o mundo de modo diferente. É o leitor
que assegura o que é ou não considerado um clássico da literatura, por demonstrar
(por meio dos seus hábitos e preferências literárias) que as obras do passado
continuam a ser lidas no presente (historicidade).
Conheça alguns princípios que segundo GERCKE (2016), a teoria literária utiliza
para analisar uma obra:
O estudo de uma obra literária, o ato criador do artista, ou as reações do leitor
diante de uma obra, não podem se confundir com crítica literária, ou com o
estudo apenas dentro do contexto histórico.
O estudo teórico de uma obra literária pode ser feito em um nível científico e
filosófico. No científico, a produção literária é considerada apenas nos seus
critérios mais objetivos: a forma ou estrutura da obra literária, o comportamento
do leitor ou de um público específico influenciado pela obra. No nível filosófico,
a obra literária pode ser avaliada segundo aspectos não tão objetivos,
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aspectos que devem ser admitidos como “reais”; por exemplo: a vocação
literária, o ideal literário, o estado emocional provocado por uma obra. No nível
filosófico, as conclusões teóricas podem ser um pouco especulativas e ir muito
além.
Nos níveis científico e filosófico, é indispensável partir da análise dos aspectos
objetivos do mesmo fato. Até mesmo as especulações filosóficas sobre as
realidades abstratas da obra literária têm que estar fundamentadas em
conhecimentos científicos. Um exemplo: para refletir sobre a vocação literária
de um autor, que é um dom inexplicável, é necessária uma rigorosa análise da
psicologia artística; já para analisar o belo literário, a “obra-prima”, você deve
recorrer aos termos da filosofia, da estética, que analisa as qualidades das
obras consideradas belas.
Para a análise objetiva de uma obra literária, você sempre tem que se orientar
por métodos de trabalho. Esses métodos variam de acordo com a obra a ser
analisada (os fatores psicológicos que deram origem à obra, as tendências
literárias do momento, entre outros fatores, podem dar a direção aos estudos).
Os métodos também variam na medida em que você aprofunda seu
conhecimento sobre a obra. Esses métodos compõem o que se conhece como
análise literária.
A teoria da literatura é uma área de estudo em permanente evolução. Você
deve considerar e tentar compreender essa evolução, seu estado atual e, na
medida do possível, suas perspectivas.
Por meio da teoria literária, você pode apurar seu senso crítico. Além disso, ela
objetiva um estudo sistemático e metódico de cada obra. Veja alguns objetivos que se
destacam:
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teoria da literatura. Não só essa conciliação da ciência da literatura com a filosofia da
literatura foi importante, mas também a individualização da teoria literária em relação
aos demais campos de estudos literários, a análise, a crítica e a historiografia literária.
(WELLEK, 2003)
Fonte: www.portaldoenvelhecimento.com.br
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preenchidas pelo leitor, que desempenha uma função ativa na hora da leitura. As
últimas frases também são bastante enigmáticas: “Horas depois forcei a chave para
entrar no apartamento dela. Por que não tentar desde logo o que eu não ousara
formular até ali? Virei-me. O cão rosnava. Preparava sua fúria para me atacar”. Por
que o cão rosnou para ele? Talvez porque ele não visitasse regularmente a sua mãe,
e, portanto, o cachorro não estava familiarizado à sua presença. E o que ele não
ousara formular até então? A ausência da mãe denunciada por todos os seus
pertences sem ela por perto? Ou será que o cão é, na verdade, um animal metafórico
que representa a dor da perda? Cabe ao leitor formular hipóteses e deduções e definir
as suas preferidas. Quando terminamos o conto, podemos voltar ao seu início e ler de
forma diferente as primeiras frases, já que a leitura e a interpretação não são atos
cumulativos, e o que vem depois pode alterar nossa percepção do que veio antes:
“lemos simultaneamente para trás e para frente, prevendo e recordando, talvez
conscientes de outras concretizações possíveis do texto que a nossa leitura negou.
Além do mais, toda essa complicada atividade é realizada em muitos níveis ao
mesmo tempo, pois o texto tem ‘[...] segundos e primeiro planos’, diferentes pontos de
vista narrativos, camadas alternativas de significado, entre as quais nos movemos
constantemente [...]” (EAGLETON, 2006, p. 118).
Em sua obra O ato de leitura, de 1978, Wolfgang Iser explana sobre a
necessidade de o leitor dominar certas técnicas e convenções literárias para o
entendimento de cada obra. Cada gênero possui suas marcas e precisamos estar
mais ou menos familiarizados com elas, a fim de compreender um texto. No entanto,
nunca deve haver, na literatura, uma adequação total entre os códigos das obras
literárias e os conhecimentos e códigos do leitor, pois uma das funções do texto
literário é o de constantemente desacomodar o leitor e suas crenças. “Para Iser, a
obra literária mais eficiente é aquela que força o leitor a uma nova consciência crítica
de seus códigos e expectativas habituais [...]” (EAGLETON, 2006, p. 119).
Quando a obra literária tem valor, ela deve violentar e transgredir o leitor e suas
crenças. Assim, Iser afirma que, durante a leitura, o leitor deve ser flexível e manter a
mente aberta, caso contrário, a literatura não poderá cumprir seu maior objetivo, que
é modificar as crenças. Portanto, um leitor com fortes e rígidas convicções será um
leitor inadequado.
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Já para Hans Robert Jauss, o panorama histórico é muito importante para
entendermos um texto literário e deve ser levado sempre em consideração: tanto o
período histórico em que uma obra foi escrita quanto aquele em que é lido por cada
leitor (EAGLETON, 2006).
Isso porque o leitor é aquele que finalizará a escrita de um texto, pois é apenas
após a sua interpretação que o texto fica completo, e, sendo assim, as especificidades
do leitor e do período em que ele vive modificarão a leitura. A forma como uma obra
é recebida em diferentes épocas é chamada de recepção histórica. Eagleton (2006,
p, 126) explica: “[...] as obras literárias, em si mesmas, não permanecem constantes,
enquanto as suas interpretações se modificam; os próprios textos e tradições literárias
sofrem modificações ativas, de acordo com os vários horizontes históricos nos quais
elas são recebidas [...]”. Por fim, o crítico americano Stanley Fish afirma que não
existem textos literários de forma objetiva, já que é apenas quando leitor lê o texto que
ele é completado. Nesse sentido, para Fish, o leitor é o verdadeiro autor, pois não há
nada “dentro” da obra literária, e é o leitor que dá vida a ela, ou seja, é ele que atribui
sentidos a ela. Entretanto, é importante frisar que nem todas as interpretações de um
leitor em relação ao texto literário são válidas, na medida em que o autor cita algumas
“estratégias de interpretação” que os leitores possuem em comum e que determinarão
as suas leituras. Por isso, nossas interpretações não são completamente livres,
apesar de conterem uma grande liberdade. A interpretação da literatura é muito mais
livre do que a interpretação de textos não literários, que são textos com a tendência
de serem objetivos ou, pelo menos, mais objetivos do que os literários (EAGLETON,
2006, p. 121).
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Fonte: www.super.abril.com.br
O que devemos reter dessas teorias é a importância conferida por elas ao leitor,
elemento que comumente ficava de fora dos estudos da literatura, mas que é
fundamental para compreendermos a literatura enquanto fenômeno social.
Como você viu, na primeira metade do século XX, a teoria literária acabou
ficando dividida entre duas linhas de trabalho: uma de caráter científico e a outra de
caráter filosófico. A corrente filosófica partiu do princípio de que o fenômeno literário
deveria ser pensado apenas no plano das ideias, pois uma obra, sendo uma realidade
(um livro impresso, algo material), tem, no entanto, uma essência abstrata (o seu
conteúdo). Essa essência, sendo abstrata, não poderia ser analisada objetivamente.
Ao se considerar o conteúdo de uma obra, bem como seus valores artísticos, como
abstratos, a essência do ato de criação dessa obra também é abstrata. O escritor é
uma pessoa real, com sua biografia, com suas escolhas. Mas o processo criativo que
produziu sua obra estava no seu interior, foi algo subjetivo com uma imensa
complexidade psicológica e com infinitas incógnitas de toda espécie, sobre as quais
só se pode pensar em termos filosóficos. Ao se definir, segundo a corrente filosófica,
que a essência da obra e do autor são abstratas e, portanto, passíveis apenas de
especulações, também se pode dizer isso de outros fatos literários. (WELLEK, 2003)
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Por exemplo:
Fonte: www.avozdaserra.com.br
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3 TEORIA DA LÍRICA
Fonte : www.provasdiscursivas.com.br
24
Fonte: www.mosqueteirasliterarias.comunidades.net
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3.3 Subjetividade
Como você viu, uma das definições mais pontuais da poesia lírica — que não
abrange tanto a forma, e sim o conteúdo — é a subjetividade. A subjetividade é algo
que depende da visão de cada pessoa, é a interpretação que cada indivíduo tem sobre
determinado aspecto. Ou seja, é inquestionável que o poeta lírico expressa o seu
mundo subjetivo. O poema lírico, para Gonzaga (2007), se constitui pelo
extravasamento da alma. Portanto, o que acentua a diferença entre ele e as outras
manifestações é o seu objetivo e a sua emoção: a poesia lírica centra-se no registro
das emoções.
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Fonte: www.revistacult.uol.com.br
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Com o romantismo, os temas do EU, da consciência, do sonho, e do símbolo
passam a ser objetos da escrita literária. A obra de arte romântica mantém o foco em
uma parte secreta do EU, é voltada para o íntimo. Entre o Romantismo e a poesia da
primeira metade do século XX, mais do que a retomada de temas e ideias, existe uma
abordagem espiritual. A lírica moderna tem suas raízes no Romantismo, momento em
que os poetas tomam consciência de que a vida não poderia ser explicada por meio
de mecanismos racionais, pois o universo é algo muito mais misterioso e imprevisível,
mas encontrou sua plenitude com o Simbolismo. (FERREIRA, 2017)
Um dos principais nomes do Simbolismo foi o de Charles Baudelaire (1985), que
escreveu obras como As Flores do Mal em 1857. Esta trata de temas avessos ao
clássico belo, buscado pelos poetas parnasianos, e se debruça sobre a melancolia, o
feio, a hipocrisia, entre outros. Os poetas simbolistas consideram o símbolo como
recurso para expressar o vago e multiforme mundo interno do ser humano, e suas
indagações sobre os mistérios cósmicos. A linguagem simbólica na lírica moderna é
o recurso que estabelece, ao mesmo tempo, como presença e ausência, algo que não
é possível captar, o mistério, cuja realidade só pode ser pressentida. Para os
românticos e para os simbolistas, o símbolo está conectado ao mistério. (REIS, 1999)
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Fonte: www.atoresnomercado.com.br
Uma das possibilidades do símbolo, nesse movimento, é que pode conectar, por
meio da palavra, a realidade concreta com um sentido mais abstrato. Assim, é possível
dizer muito, ou deixar muito implícito, a partir de poucas palavras. Essa prática pode
ser vista na obra do poeta Stéphane Mallarmé, conhecido por textos como Lance de
dados, de 1897. Em sua obra mais tardia, também explora a relação entre forma e
conteúdo, liberando o poema de sua disposição tradicional (vertical, em versos) e
distribuindo-o diferentemente no espaço da página. (FERREIRA, 2017)
A partir dessas características, é possível identificar uma espécie de meditação
nas duas principais correntes da poesia moderna da primeira metade do século XX:
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3.5 Mudanças no conceito de lírica
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A rejeição do tradicional leva o poeta moderno a procurar a beleza na surpresa,
no inesperado, no feio. A modernidade em si é paradoxal: em alguns casos manifesta-
se em uma poesia hermética, beirando o incompreensível, e em outros apresenta-se
com despojamento e simplicidade, trazendo, com frequência, elementos da linguagem
prosaica. (FERREIRA, 2017)
Fonte: www.estadodaarte.estadao.com.br
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3.6 Características da lírica moderna
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moderno. A poetização do apoético, de temas cotidianos, provoca um efeito de
choque no leitor acostumado a uma poesia de moldes românticos e parnasianos.
(FERREIRA, 2017)
O leitor da poesia moderna não está acostumado com as inovações temáticas e
expressivas que caracterizam a lírica do século XX, produzida um uma sociedade pós-
segunda guerra mundial. (FRIEDRICH, 1978, P. 17)
A lírica moderna se faz no que a sociedade despreza. Como o heroísmo épico
não encontra lugar na sociedade moderna, o poeta busca seu heroísmo no obscuro
das metrópoles, poetizando aquilo que até então não foi poetizado, isto é, o material
apoético. (FERREIRA, 2017)
Fonte: www.revistacult.uol.com.br
O poeta moderno exalta o que é feio, troca o que é belo pelo que causa
estranhamento. O feio que se encontra nos becos, na periferia da metrópole é a
matéria prima da lírica moderna. O poeta traz para o âmbito da poesia o grotesco ao
invés do que é considerado belo pela sociedade. A nova “beleza”, que pode ser
coincidir com o feio, inquieta porque “[...] absorve o banal e deforma em bizarro [...]”,
o espantoso com o doido [...]” (FRIEDRICH, 1978, P. 17).
É necessário ressaltar que uma das características da lírica moderna é a
miscigenação dos gêneros, havendo a predominância de traços estilísticos de um
determinado gênero sobre outro. Para classificar uma obra segundos suas
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características formais, utilizam-se termos como “Épica”, “Lírica” e “Drama”. Já os
adjetivos “líricos”, “épico” e “dramático” são termos que designam as qualidades das
quais uma obra pode ou não se apropriar. Designa, desse modo, a essência, os
fenômenos estilísticos do lírico, do épico e do dramático. (REIS, 1999, p.331)
A partir desse movimento, na literatura, ocorre uma intercomunicação dos
gêneros. Como isso, a teoria clássica dos gêneros literários passa a ser contestada.
Segundo alguns estudiosos, não há nenhum gênero “puro” (puramente lírico, por
exemplo), mas uma interação, uma inter-relação entre os gêneros literários. Assim, as
obras poéticas podem apresentar características de todos os gêneros. A partir, da
predominância de um sobre os outros é que será compreendida como lírica, épica ou
dramática. (FERREIRA, 2017)
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4 TEORIA DA NARRATIVA
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disposição do ritmo, da linguagem e da harmonia. Ele distingue diferentes gêneros
que exploravam, cada um a seu modo, certos elementos. Alguns gêneros abordados
por Aristóteles não são mais praticados, como o ditirambo (um canto coral entusiástico
e exuberante dirigido aos deuses), mas outros gêneros, como a epopeia e o teatro,
ainda hoje podem ser estudados segundo os critérios aristotélicos. Assim, é possível
afirmar que o filósofo deu muitas contribuições para as teorias das artes que você
estuda atualmente. É dele, por exemplo, o conceito de catarse e a divisão dos gêneros
miméticos em função dos meios narrativo e dramático.
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unidade para essas histórias. Assim, as narrativas desempenham a função de
oferecer um certo ordenamento, uma forma no tumulto da experiência humana.
(HOFF, 2017)
A narrativa literária, por sua vez, é caracterizada pela dinamicidade, pela
objetividade e por vezes pela subjetividade, mescladas às ações que se apresentam.
O texto narrativo é um sistema complexo e imprevisível de possibilidades
interpretativas, que trabalha continuamente com o real e o imaginário. A partir das
situações vividas pelas personagens, a narrativa aproxima realidade e representação
de fatos, lidando continuamente com o possível e o impossível. Assim, a narrativa tem
por objetivos, além de relatar, produzir informação, aprendizado e/ou entretenimento.
Nesse sentido, o leitor pode se apropriar dos sentidos que ecoam da narrativa até se
identificar com o que está lendo. (HOFF, 2017)
Segundo HOFF (2017), A narrativa se estrutura conforme uma rede de relações
entre os seguintes elementos essenciais:
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4.3 Tipos de narrativa
Você já viu que o gênero narrativo serve para contar histórias e é estruturado conforme
alguns elementos. Segundo HOFF (2017), as definições de alguns dos principais tipos
de narrativa.
Epopeia: longo poema narrativo, de tom solene e elevado. O tema da epopeia,
ao contrário daqueles dos demais tipos de narrativa, é limitado, tratando
sempre de um assunto heroico e nacional. Constitui a primeira modalidade
narrativa criada e é escrita em verso. Seus exemplos máximos são Ilíada e
Odisseia, de Homero.
Romance: narrativa longa que envolve um número considerável de
personagens (em relação à novela e ao conto), bem como um maior número
de conflitos e tempo e espaço mais dilatados. Embora haja romances que
datem do século XVI (D. Quixote de La Mancha, de Cervantes, por exemplo),
esse tipo de narrativa se consagrou sobretudo no século 19, assumindo o papel
de refletir a sociedade burguesa, e vem se renovando desde então.
Novela: tipo mais curto de romance, ou seja, tem um número menor de
personagens, conflitos e espaços, ou os tem em igual número ao romance, com
a diferença de que na novela a ação no tempo é mais veloz. Um exemplo de
novela seria Max e os felinos, de Moacyr Scliar, na qual o personagem central,
Max, vive muitas aventuras.
Conto: narrativa mais curta que tem como característica central condensar
conflito, tempo e espaço, bem como reduzir o número de personagens. O conto
é um tipo de narrativa tradicional, isto é, já adotada por muitos autores nos
séculos XVI e XVII, como Cervantes e Voltaire. Atualmente tem adquirido
atributos diferentes, como deixar de lado a intenção moralizante e adotar o
fantástico ou o psicológico para elaborar o enredo.
Crônica: texto curto, leve, que geralmente aborda temas do cotidiano. É um
texto híbrido, que pode ter diferentes funções além de narrar, como contar,
comentar, descrever e analisar.
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4.4 Foco narrativo
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4.5 A narratologia e seus pressupostos fundamentais
A narratologia, tal como definida por Mieke Bal (1977, p. 4), teórica cultural
holandesa, é “[...] a ciência que procura formular a teoria dos textos narrativos na sua
narratividade”. Assim, a narratologia, ou teoria da narrativa, é a área de estudo que
busca explicar o funcionamento dos textos narrativos. Mas o que são textos
narrativos? Para chegarmos a essa resposta, podemos primeiro pensar nas narrativas
existentes no mundo, que são inúmeras. O mito, a lenda, a fábula, o romance, o conto,
a novela, as histórias em quadrinhos, os filmes cinematográficos são todos exemplos
de textos narrativos.
O conceito de texto aqui é entendido como discurso, um exemplo
empiricamente atestado de linguagem, conforme a definição do linguista Émile
Benveniste (1995): o discurso é expressão da língua como instrumento de
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comunicação. Então, o que todos esses textos têm em comum que os torna textos
narrativos? A sua narratividade e a sua forma de veiculação da informação, da história,
entre quem conta a história e quem a lê, ouve ou vê. Todos esses textos narrativos
citados fazem parte da tipologia textual narrativa, que tem características discursivas
bem marcantes. Nas narrativas, necessariamente transmite-se uma mensagem, que
está inserida em um tempo específico, elaborada de modo que o receptor consiga
entendê-la. Essa mensagem possui um estado inicial e progride até o desfecho, ainda
que nem todas as narrativas comecem de forma cronológica pelo primeiro
acontecimento. Algumas narrativas são feitas “in medias res”, isto é, começam pelo
meio da história, por um acontecimento importante, como a morte de alguém, e o
narrador volta ao início de tudo, quando o personagem ainda não havia morrido, para
contar como a história se desenrolou.
Fonte: www.aberje.com.br
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textos narrativos, e busca explicar teoricamente as maneiras como nós, receptores,
entendemos narrativas literárias e não literárias. Segundo Reis e Lopes (1988), a
narratologia não se limita à análise de textos narrativos literários, pois estuda a
narrativa de um modo geral, englobando a análise de textos narrativos não literários,
ainda que os textos literários tenham sido privilegiados ao longo da construção da
teoria da narrativa.
Além da ficcionalidade, outra característica primordial da linguagem literária é
estética, preocupada com efeitos de sentido. Ela é selecionada pelo autor, que pode
utilizar metáforas e outras figuras de linguagem, e pode ter como um de seus objetivos
a fruição do texto pelo leitor. Apesar de poderem ser de ficção e sobre mundos
alternativos, inventados, as obras literárias precisam ter verossimilhança. Não
necessariamente o que está sendo contado, declamado ou lido necessita existir no
mundo real, mas a história inventada requer verossimilhança, isto é, lógica interna: o
que ocorre no interior da história deve fazer sentido naquele mundo interno ao texto.
Em resumo, a narrativa literária é um tipo de texto específico que faz parte do conjunto
de textos literários. Aqui, o termo texto é entendido como discurso, segundo Bakhtin
(1992, p. 279): “[...] tipos relativamente estáveis de enunciados produzidos nas
diferentes esferas da atividade humana”. Assim, um texto, seja literário ou não, é
entendido como uma maneira pela qual a linguagem pode ser posta em prática nas
relações humanas. Ambos tipos de textos, literários e não literários, podem ser
escritos ou não. Um poema declamado, por exemplo, é um texto literário oral. Apesar
do termo literalidade ser uma hipótese válida para distinguir a literatura de outras
formas de discurso, é possível argumentar que ela varia de época para época e de
leitor para leitor. Assim, o que é considerado linguagem literária varia e, por isso,
surgem disputas relativas à classificação de certos textos como literatura. Não há uma
regra única que determine se um texto é ou não literário, porque essa decisão
depende da sua recepção (pelo público, pela crítica, em manuais, etc.). Seja como
for, o Quadro 1 nos ajuda a visualizar e a entender possíveis diferenças entre textos
literários e textos não literários.
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4.6 Pressupostos fundamentais — as narrativas e a narratividade
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portanto, da linguística estruturalista, corrente teórica vigente na época, a narratologia
analisa a estrutura subjacente aos textos narrativos e traz conceitos comuns a todas
as narrativas, conforme veremos mais adiante neste capítulo. Antes disso,
examinemos os pressupostos fundamentais de um texto narrativo segundo a
narratologia. O termo narrativa tem concepções diversas, mas duas em especial são
sempre confrontadas na teoria da narrativa.
Fonte: www.conceptodefinicion.de.com.br
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misturam imagem e linguagem verbal, e o cinema, que também é uma modalidade
mista verbo-icônica (linguagem verbal, imagem, sequência de cenas, vídeo e áudio).
(REIS; LOPES, 1988).
As narrativas apresentam contextos interativos e sociais diversos — imprensa,
literatura, relatório —, e também acontecem em suportes diferentes — verbal,
imagético, sequência de cenas (filme) —, como vimos. Mas o que todas essas
narrativas têm em comum, então, que as torna narrativas? A narratividade, ou seja, a
qualidade nuclear do texto narrativo. É por meio dela que nós, leitores/receptores,
entendemos a história que nos é contada. A narratividade é definida teoricamente
como “[...] o fenômeno de sucessão de estados e de transformações, inscrito no
discurso, que é responsável pela produção de sentido” (GROUPE D'ENTREVERNES,
1979, p. 14).
Isto é, a narratividade é a qualidade do texto narrativo de contar uma sequência
de eventos, de fatos, narrados na construção de uma história. Assim, a narratividade
é o que possibilita a decodificação da narrativa pelo receptor, aquele que ouve, lê ou
vê a narrativa. Na teoria semiótica, o conceito de narratividade foi ampliado e dá papel
central ao receptor da história, que, no processo de leitura, atualiza e identifica os
acontecimentos, o desenrolar da narrativa (REIS; LOPES, 1988).
Uma vez que a narrativa representa uma reconstrução do universo, de histórias
reais e ficcionais possíveis, a narratividade deve ser entendida como uma
característica própria do discurso narrativo, que é o reconstrutor desse universo
contado, e deve ser atualizado no processo de leitura pelo leitor/receptor da narrativa.
Desse modo, a narratividade existe para possibilitar ao receptor o acesso às ações de
dimensão temporal e sequencial dos textos narrativos. Além de ter acesso à narrativa
pela narratividade, outras características constituem um texto como narrativa. As
diferentes estruturas dos textos narrativos e operações utilizadas na criação das
narrativas levam a textos narrativos diferentes entre si, como o romance e o cinema,
por exemplo. (TEIXEIRA, 2011)
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Fonte: www.espaciolibros.com
5 TEORIA DO DRAMA
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Um texto dramático é pensado com um fim diferente de um romance. No primeiro
caso, o autor tem em mente a situação teatral, a representação, o espetáculo. A obra
se realiza na encenação. No segundo caso, o autor tem em mente a leitura individual.
A obra se realiza no momento da leitura. Claro é que nem toda obra dramática pode
chegar a ser encenada e, também, aquele texto inicialmente criado para ser lido pode
ser adaptado para o teatro ou o cinema. No entanto, isso não está, necessariamente,
no propósito inicial de quem escreve drama e romance, respectivamente. A partir da
finalidade pretendida, são feitas as organizações textuais próprias a cada composição
literária. O texto dramático, como referido, está organizado em torno da ação e,
portanto, são as personagens as responsáveis por realizar o texto, apresentar o
argumento narrativo. Não há narrador que explique, contextualize ou comente o que
se passa. Ao nos depararmos com esse tipo de produção literária, facilmente podemos
identificar seu caráter dialógico. Os eventos são apresentados pela interação das
personagens, por meio dos diálogos. Esses diálogos devem conseguir evidenciar o
que pensam, o que fazem, como são. (FLACH, 2019)
Fonte:www. pixabay.com.br
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trecho a seguir, a primeira cena da peça Gota d´água, de Paulo Pontes e Chico
Buarque.
PRIMEIRO ATO
(O palco vazio com seus vários sets à vista do público; música de orquestra, no
set das vizinhas, quatro mulheres começam a estender peças de roupa lavada,
lençóis, camisas, camisolas, etc.; tempo; Corina chega apressada, sendo
recebida com ansiedade pelas vizinhas.)
CORINA: Não é certo...
ZAÍRA: Como é que foi?...
ESTELA: Foi lá?
CORINA: Não é certo...
MARIA: Ela não melhorou, não?
CORINA: É de cortar coração...
NENÊ: Mas é então?
CORINA: Não sei, não dá, certo é que não está E olhe bem que aquilo é muito
mulher
ZAÍRA: Ela é bem mais mulher que muito macho
ESTELA: Joana é fogo [...] (PONTES; BUARQUE, 1976, p. 3).
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apressada” — e o modo como é recebida pelas vizinhas — “com ansiedade”. A partir
dessa indicação de cena (denominada rubrica), que, em certa medida, substitui a
intervenção do narrador, inicia-se a interação. (FLACH, 2019)
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br
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MARICOTA: Recebeu minha resposta?
CAPITÃO: Recebi, e a tenho aqui comigo. Mandaste-me dizer que estavas pronta a
fugir para minha casa; mas que esperavas primeiro poder arranjar parte do dinheiro
que teu pai está ajuntando, para te safares com ele. Isto não me convém. Não está
nos meus princípios. Um moço pode roubar uma moça — é uma rapaziada; mas
dinheiro é uma ação infame!
MARICOTA: à parte — Tolo!
CAPITÃO: Espero que não penses mais nisso, e que farás somente o que te eu peço.
Sim?
MARICOTA: à parte — Pateta, que não percebe que era um pretexto para lhe não
dizer que não, e tê-lo sempre preso.
CAPITÃO: Não respondes?
MARICOTA: Pois sim. (À parte:) Era preciso que eu fosse tola. Se eu fugir, ele não se
casa (PENA, 1987, p. 162).
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personagens fazem longas divagações, como se estivessem “pensando alto”, mas
cujo propósito, novamente, é revelar-se para a plateia. (FLACH, 2019)
O mais famoso exemplo é, sem dúvida, o monólogo de Hamlet, tentando
encontrar respostas para suas angústias:
HAMLET
— Ser ou não ser
— Eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma Pedradas e flechadas do destino
feroz. Ou pegar em armas contra o mar de angústias (SHAKESPEARE, 1999, p. 63).
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br
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teorizações sobre os gêneros literários. Estes se desenvolvem a partir de três estilos
literários – o lírico, o épico e o dramático, conforme esquematizado na Figura 1.
O estilo lírico pressupõe uma fusão entre o eu lírico e o objeto referido, com uma
visão de mundo altamente subjetivada, daí a recordação (literalmente, trazer de volta
ao coração). O estilo épico (do qual derivam as narrativas em prosa) pressupõe um
distanciamento entre o sujeito (narrador) e o objeto (mundo narrado). O narrador tem
domínio sobre o narrado, controla-o, organiza a ordem em que se apresentam os
fatos. O estilo dramático, por sua vez, elimina o sujeito (épico ou lírico), e o mundo é
representado de forma autônoma, não relativizado. (FLACH, 2019)
A ação se realiza diante de nós, os fatos se apresentam por si só. Como há uma
expectativa em relação ao desfecho da história, à condensação de tempo e espaço e
a uma duração mais curta, o dramático promove uma tensão. Obviamente, cada obra
literária pode apresentar, em maior ou menor grau, elementos desses três estilos. Tal
apresentação esquemática ajuda a pensar didaticamente a organização dos gêneros,
porém sabemos que eles se relacionam. Assim como há tensão em um conto, há
lirismo em uma peça teatral, por exemplo. O esquema aqui referido deve ser entendido
como uma constatação do que está na base formativa dos textos literários, não como
uma normatização. Sabemos que, cada vez mais, os limites entre os gêneros são
atenuados. Lembremos que o ditirambo, canto religioso que dá origem ao drama, era
uma composição que misturava a narrativa (épico) e os sentimentos de louvor ao deus
(lírica).
D´Onofrio (2001, p. 126) defende que o drama “[...] reúne a objetividade da
epopeia com o princípio subjetivo da lírica, ocupando o justo meio entre a extensão
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da épica e a concentração da poesia lírica [...]”. Todavia, não podemos perder de vista
o ineditismo do gênero dramático, na medida em que a atuação das personagens em
cena, diante do espectador (a encenação é o fim próprio do drama), é exclusiva desse
gênero. A própria gênese do texto literário, seu processo de composição, mira à
situação de encenação e se compõe com vistas ao efeito cênico. Desse modo, a
simples organização em diálogo não constitui o texto dramático. Consideremos o
trecho do conto Papos, de Luís Fernando Verissimo:
— Me disseram...
— Disseram-me.
— Hein?
— O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
— Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
— O quê?
— Digo-te que você...
— O “t” e o “você” não combinam.
— Lhe digo?
— Também não. O que você ia me dizer?
— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara.
Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
— Partir-te a cara.
— Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me
(VERISSIMO, 2001, p. 65).
O diálogo evidencia muito mais a situação peculiar do uso das línguas do que
propriamente as personagens e suas ações. Nem mesmo a tensão que leva ao
desfecho é construída. Claro, se submetido a uma adaptação, incluídos os elementos
dramáticos, é possível que o texto possa ser encenado. Contudo, a priori, foi escrito
para ser lido, mesmo tendo a forma de diálogo.
Segundo FLACH (2019), o texto dramático também tem forte proximidade com
o roteiro de cinema. A despeito das peculiaridades de cada um (câmera, palco, luz,
cenografia), a organização textual é bastante semelhante, envolvendo o
direcionamento da cena (rubrica) e a organização em diálogos. Para finalizar,
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comparemos os meios de adaptação de um romance para um texto dramático. O
exemplo em questão é a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Narrado em
primeira pessoa, pelo próprio Bentinho, este expõe, no trecho a seguir, como José
Dias, o agregado da família, denuncia o namoro dele com Capitu, o que interfere nos
planos de mandá-lo para o seminário:
Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi- -me atrás
da porta. A casa era a da rua de Mata-cavalos, o mês novembro, o ano é que é um
tanto remoto, mas eu não hei de trocar as datas à minha vida só para agradar às
pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.
— D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? É
mais que tempo, e já agora pode haver uma dificuldade.
— Que dificuldade?
— Uma grande dificuldade. Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de
alguns instantes de concentração, veio ver se havia alguém no corredor; não deu por
mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente
do Pádua.
— A gente do Pádua?
— Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece
bonito que o nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta
é a dificuldade, porque se eles pegam de namoro, a senhora terá muito que lutar para
separá-los.
— Não acho. Metidos nos cantos? (ASSIS, 2008, p. 96-97).
Observe que o narrador inicia referindo que estava ouvindo a conversa entre
José Dias e D. Glória, sua mãe. Já na adaptação teatral (em que as personagens
ganham autonomia), primeiro é apresentada uma cena que contextualiza o namoro
dos dois e, somente em seguida, a preocupação de José Dias:
ATO ÚNICO
CASA DE BENTINHO
(Capitu e Bentinho estão em cena, ambos sentados escorados nas costas um do
outro)
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CAPITU — Bentinho, você me acha bonita?
BENTINHO — Ora Capitu, por que essa pergunta?
CAPITU — Então você me acha tão feia assim?
BENTINHO — (Vira-se e a encara) Feia? Você é a menina mais linda que eu já
conheci em toda a minha vida.
CAPITU — (Beija-o no rosto) Obrigada! Ontem eu tive um sonho lindo... E você,
sonhou com quem ontem?
BENTINHO — Sonhei que tínhamos que nos separar, e que nunca mais iríamos
brincar juntos.
CAPITU — Então não foi sonho, foi pesadelo e eu morreria se perdesse a sua
amizade. (Abraça-o e levanta-se) Eu sonhei que nós andávamos no céu, em meios
às nuvens...
BENTINHO — (Levantando-se) E lá, Capitu, era bonito?
CAPITU — Muito, muito lindo, nós conversávamos (pega na mão dele), eu pegava na
sua mão, ela estava quente. Aí começava a música, aí nós dançávamos,
dançávamos... (Eles dançam, José Dias entra sem que eles vejam e observa)
VOZ DONA FORTUNATA — Capitu, menina, venha já pra casa!
CAPITU — Tenho que ir.
BENTINHO — Vamos, eu vou lhe deixar!
CAPITU — Quem chegar por último é a mulher do padre.
BENTINHO — Então vai, no já: 1, 2, 3 já. (Saem correndo)
JOSÉ DIAS — Essas crianças!
DONA GLÓRIA — (Entrando) José Dias, você viu o Bentinho?
JOSÉ DIAS — Bentinho foi deixar a Capitu em casa. Dona Glória, se a senhora quer
mesmo meter Bentinho no seminário, deve se apressar antes que seja tarde.
DONA GLÓRIA — Tarde?
JOSÉ DIAS — Não me parece bonito (Bentinho os observa) que o Bentinho ande
metido nos cantos com a filha do Pádua. (DENILSON, 2010, documento on-line)
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No romance, as intenções de José Dias são o destaque, mesmo antes de o leitor
saber quem é Capitu e que tipo de relação tem com Bentinho. (FLACH, 2019)
Considerando as especificidades de linguagem e estrutura, o dramático
apresenta-se como um gênero aberto, não só porque se renova a cada encenação,
ganhando vida na voz dos atores, mas também porque oferece ao leitor muitos
caminhos de leitura e interpretação.
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6 BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 277–
326.
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 36. ed. São Paulo: Cultrix, 2000.
DENILSON, D. Dom Casmurro (livre adaptação para o teatro). [S. l.: s. n., 2010].
Disponível em: https://oficinadeteatro.com/conteudotextos-pecas-etc/pecas-de-teatro/
viewdownload/5-pecas-diversas/460-dom-casmurro. Acesso em: 7 abr. 2019.
FRIEDRICH, Hugo. Estruturas da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1978.
GONZAGA, S. Curso de literatura brasileira. 2. ed. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007.
MOISÉS, M. A literatura portuguesa através de textos. 28. ed. São Paulo: Cultrix,
2002
NOLL, J. G. Grêmio. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 de jun. 1999 Disponível em:
http:// www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq17069909.htm. Acesso em: 07 jul. 2019.
PENA, M. O juiz de paz na roça. [S. l.: s. n.], 1838. Disponível em:
http://www.bdteatro.ufu. br/bitstream/123456789/120/1/TT00149.pdf. Acesso em: 4
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PONTES, P.; BUARQUE, C. Gota d´água. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1976.
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REIS, C. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2014.
REIS, C.; LOPES, A. C. M. Dicionário de teoria da narrativa. São Paulo: Ática, 1988.
327 p
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