Fundamentos Da Economia - Tema 5
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estruturas de mercado
José Tadeu de Almeida
Introdução
Neste tema, você fará uma imersão em algumas das estruturas de mercado presentes no
campo de estudos da microeconomia moderna. Verificará suas diferenças, principalmente em
termos de concentração de mercado e poder de compra. Verá que a organização econômica será
definida com base na relação entre empresas e consumidores (ROSSETTI, 2016).
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 Concorrência perfeita
Antes de iniciarmos uma discussão a respeito dos modelos na área da microeconomia, é
conveniente realizar um estudo inicial a respeito do conceito de mercado. Trata-se de uma expres-
são muito utilizada no nosso cotidiano, não é mesmo? Quantos exemplos você poderia dar a esse
respeito? Temos o mercado de capitais, o mercado de alimentos, o mercado da esquina... Enfim,
várias formas em que o termo mercado tem aplicação.
Na microeconomia, o mercado é um espaço onde se realizam operações de compra e venda
de bens e serviços entre agentes, que podem ser indivíduos, empresas, indústrias, instituições
e outros. Estes agentes são compradores e vendedores desses produtos. É, essencialmente, a
relação entre oferta/venda e demanda/compra que determina as condições do mercado, notoria-
mente o seu preço de equilíbrio (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
SAIBA MAIS!
Adam Smith (1723-1790), um dos pais da economia moderna, definiu como a mão
invisível o mecanismo de coordenação dos mercados em regime de concorrência.
Ainda que não existisse um órgão regulador, a economia funcionava da mesma
forma, com compradores e vendedores determinando oferta, demanda e preço
como se uma mão invisível coordenasse o sistema econômico.
O mercado, enquanto espaço para trocas de diferentes quantidades de diferentes bens entre
demandantes e compradores, possui características diferenciadas no que diz respeito ao perfil
dos compradores e vendedores. Este perfil é baseado, dentre outras características, no tamanho
dos vendedores e compradores no mercado, ou seja, na sua participação (conhecida também pela
expressão market share). Quanto mais o mercado de um determinado produto é concentrado na
mão de poucos agentes, maior será a sua capacidade de definir preços e quantidades de compra
e venda nesse mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Algumas hipóteses são fundamentais para definirmos qual tipo de estrutura de mercado
estaremos evidenciando. Dentre elas, cabe enfatizar:
•• a quantidade de empresas e consumidores que compõem esse mercado;
•• o perfil do produto fabricado – este bem é homogêneo no mercado (ou seja, todos os
itens fabricados são absolutamente semelhantes, o que torna possível a escolha do
bem produzido por qualquer produtor) ou é diferenciado (com características que des-
taquem um produtor no mercado, como marca, gosto, aroma, sabor etc)? Da mesma
forma, você precisa perceber que, se os consumidores preferem os bens de um deter-
minado produtor, mesmo que eles sejam idênticos, não há mais homogeneidade. Ou
seja, além de serem perfeitamente iguais, as preferências de consumo estão também
distribuídas de forma homogênea.
Iniciemos, portanto, nossa análise a partir do modelo de concorrência perfeita. Nesta estru-
tura de mercado, assumindo as hipóteses mencionadas, você pode distinguir os seguintes efeitos:
há um grande número de empresas (alguns autores dizem mesmo que as empresas são atomiza-
das por serem de pequeno porte) e elas não se organizam em associação, de modo que nenhuma
delas, isoladamente, é capaz de determinar, por conta própria, a oferta de bens no mercado, muito
menos o seu preço de venda (ROSSETTI, 2016). Da mesma forma, há um grande número de con-
sumidores isolados.
Portanto, sob um modelo de concorrência perfeita, os quatro pontos considerados ante-
riormente podem ser tratados da seguinte forma: primeiro, o mercado é dividido em inúmeras
empresas e consumidores; segundo, os bens são homogêneos, ou seja, totalmente semelhantes,
e nenhum produtor se diferencia pelo perfil de seu produto; terceiro, os produtores e consumidores
podem entrar nesse mercado ou deixá-lo quando acharem conveniente, caso os preços de venda
não sejam atrativos para eles; e quarto, os produtores e consumidores possuem informação plena
sobre o mercado, o nível de preços praticado e demais características deste mercado, tornando
transparente a sua escolha (no caso dos consumidores).
FIQUE ATENTO!
Há dificuldade em estabelecer um setor que opere sob condições de concorrên-
cia perfeita atualmente: por mais homogêneos que os bens sejam, haverá algum
grau de diferenciação entre eles – o leite de vaca, por exemplo, é relativamente
homogêneo, porém, há uma diferenciação por marca que define a demanda do con-
sumidor, ao menos em parte.
Como as empresas são de pequeno porte, não há lucros significativos. As receitas são fruto
das vendas e as despesas se originam no pagamento dos chamados fatores de produção, como
matérias-primas, mão de obra, maquinário etc.
FIQUE ATENTO!
Como a condição de concorrência perfeita nem sempre é visível, o exemplo mais
realista é a estrutura de mercado denominada Concorrência Monopolística ou
Concorrência Imperfeita, na qual as empresas produzem bens não exatamente
homogêneos, mas muito próximos entre si. Não há barreiras de mercado e a
percepção de lucros tende a ser normal. Você pode encontrar exemplos disso em
Pelegrini e Baís (2014). Disponível em <http://intertemas.toledoprudente.edu.br/
revista/index.php/ETIC/article/viewFile/4304/4063>.
2 Monopólio
Neste caso, você observará a situação exatamente contrária ao modelo de concorrência per-
feita. Há apenas uma firma que domina inteiramente a oferta, ou seja, sua concentração de mercado
é de 100%. Não há concorrência e o próprio vendedor determina o preço de seus produtos por ser o
único agente vendedor do mercado, independentemente do número de consumidores, que poderão
ser muitos. Definimos uma empresa assim como fazedora de preços ou price-maker. Há barreiras à
entrada de outras firmas que desejem operar nesse setor. Aos consumidores, enfim, restará apenas
as opções de adquirir o produto ou não, pois não há outras opções (ROSSETTI, 2016).
Há algumas formas para uma empresa garantir seu papel de monopolista em um mercado.
Uma delas é o monopólio puro, em que há setores cujo volume de investimentos é tão alto e as
dimensões de produção tão grandes que torna-se praticamente impossível para outras empresas
operarem nesse mesmo setor oferecendo preços equivalentes ao de monopólio ou ainda meno-
res. Há ainda as patentes, que impedem a produção de um produto por seus concorrentes, têm o
controle de matérias-primas ou mesmo o monopólio estatal ou institucional.
Podemos citar, ainda, os casos dos monopólios naturais, que ocorrem quando uma empresa
possui alguma característica em seus bens que a torna mais eficiente que as outras em seu mer-
cado, agregando, assim, a maior parte dele (como nos sistemas operacionais para computadores,
por exemplo); e os monopólios não-naturais, quando empresas vão comprando outras até atingi-
rem a maior participação de mercado.
Lembre-se de que, no cotidiano, já se considera um monopólio quando uma empresa pos-
sui mais de 50% de um mercado. Neste sentido, no Brasil, há instituições que zelam para que as
empresas não possuam um grau excessivo de controle do mercado, gerando efeitos negativos
em termos de preços e qualidade dos produtos aos clientes, como o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), que avalia se determinadas fusões serão ou não benéficas para os con-
sumidores, aprovando-as ou não conforme esta avaliação.
EXEMPLO
A rigor, é difícil estabelecer um setor cuja concentração de mercado seja de 100%
nas mãos de um único produtor. Porém, determinados produtos podem ser produ-
zidos por apenas uma firma (caso ela detenha uma patente, como no setor de me-
dicamentos). Ou, o Estado pode garantir a concessão de um determinado serviço a
uma única empresa (como no caso dos Correios, ainda que hoje empresas privadas
também venham trabalhando no setor, sobretudo para encomendas internacionais).
Como o agente monopolista pode fixar seus preços, há a possibilidade de ele obter um lucro
extraordinário, acima do lucro normal. Mas lembre-se de que as empresas possuem o monopólio
de suas marcas, ou seja, somente elas podem explorar a marca que é de sua propriedade (como
a famosa marca que fabrica refrigerantes do tipo cola, por exemplo). Note, contudo, que isso não
indica necessariamente que essa empresa pratica monopólio; veja que ela está inserida em um
mercado de refrigerantes, embora detenha controle absoluto sobre sua marca (a política de gestão
de marcas em uma empresa é conhecida como branding).
FIQUE ATENTO!
Na Idade Moderna, entre os séculos XVI e XVIII, os monopólios de comércio eram
concedidos pelos Estados como forma de controlar a compra e a venda de bens.
Um exemplo é o da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, que tinha o mono-
pólio do comércio holandês com a Ásia desde 1621 (ARRUDA, 2003).
3 Oligopólio
A estrutura de mercado denominada por oligopólio é visualizada quando poucas empresas
dominam a maior parte do mercado com muitos consumidores; o restante é dividido em empre-
sas menores, cada uma com uma concentração pequena. As empresas maiores, neste sentido,
são price-takers. Saiba que este é o tipo de mercado mais comum nos dias de hoje.
O oligopólio se caracteriza, além do número pequeno de produtores que assumem boa parte da
produção, também por um processo interdependente de decisões de preço e produção – as grandes
empresas organizam entre si a oferta e o preço da oferta de bens e serviços, maximizando lucros.
Figura 2 – Setor petroquímico é fortemente oligopolizado
Fonte: 3DSculptor/Shutterstock.com.
EXEMPLO
Um setor fortemente oligopolizado é o das empresas aéreas no Brasil. No tercei-
ro trimestre de 2016, quatro empresas (Gol, Latam, Azul e Avianca) concentraram
98,39% do faturamento do setor de voos domésticos, conforme a tabela a seguir.
Latam 29,98%
Gol 29,80%
Azul 29,67%
Avianca 8,95%
Outras 1,61%
4 Cartéis
Um cartel consiste em um grupo de produtores de um mesmo bem, em regime de oligopólio,
que reúne-se em um acordo, explícito ou não, e que aproveita-se de sua condição de alta concen-
tração de mercado como objetivo de fixar preços além dos de mercado, obtendo lucros extraordi-
nários, afetando a concorrência e mesmo restringindo a produção para expandir artificialmente a
demanda pelos bens que produzem.
Um exemplo de formação de cartel ocorreu em uma cidade do interior de São Paulo, no setor
de postos de combustíveis, no ano de 2006. Todos os postos da cidade, com exceção de um ou dois,
fixaram seus preços acima da média do mercado. Mediante denúncia da Câmara de Vereadores ao
órgão fiscalizador do setor, a Agência Nacional do Petróleo, os postos foram lacrados e multados.
Fonte: Lightspring/Shutterstock.com
Trata-se, como você pode observar, de uma atitude danosa aos consumidores, principal-
mente por restringir a oferta de produtos e aumentar o seu preço, dificultando a competição em
seu mercado. Normalmente, os cartéis afetam a eficiência da economia. Sendo assim, eles são
fortemente combatidos pelas entidades governamentais de defesa da concorrência, como o Con-
selho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade), no Brasil, que tem a capacidade de averi-
guar se certas operações, como compras de empresas e fusões, são capazes de gerar uma con-
centração excessiva que poderá trazer dano ao livre mercado e não beneficiar os consumidores.
SAIBA MAIS!
Você pode obter maiores informações a respeito das políticas de formação de car-
téis e do combate a tais medidas através de um estudo-síntese da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, denominado “Cartéis – seus
danos e ações efetivas” (OCDE, 2002). Disponível em: <http://www.oecd.org/com-
petition/cartels/1935129.pdf>.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Referências
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Nova História Moderna e Contemporânea. Bauru: Edusc, 2003.
PELEGRINI, Andréa de Oliveira; BAÍS, Isadora Ceolin. Da concorrência perfeita e imperfeita. Toledo
Prudente Centro Universitário. Encontro de Iniciação Científica – Etic 2014. Disponível em: <http://
intertemas.toledoprudente.edu.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/4304/4063>. Acesso
em: 10 jan. 2017.
PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013.
ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2016.