Economia Política II

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ECONOMIA POLÍTICA II

1.MERCADOS DE CONCORRÊNCIA
PERFEITA
Um mercado de concorrência perfeita é um modelo puro que não se encontra na realidade da
Economia. Há, contudo, alguns mercados que funcionam de modo quase puro- concorrência
quase perfeita, como é o caso do mercado bolsista (em que as empresas estão em pé de
igualdade e a oferta e a procura determinam o preço dos produtos em questão). Claro que isto
não é verdadeiramente assim, uma vez que há muitas variáveis que influem no preço das
ações, na assimetria de informação, entre outros fatores.

Os verdadeiros monopólios também raramente se encontram, tirando 1 ou 2 casos concretos.


Encontramos, por vezes, mercados muito limitados com cerca de 2 ou 3 empresas a concorrer.
Isto deve-se ao facto de o Estado ter passado a ter uma participação muito mais pequena na
Economia. De facto, os mercados que encontramos na vida real são os modelos intermédios
de mercados de concorrência perfeita, que são os monopolistas ou de concorrência
monopolística.

Se houvessem mercados de concorrência perfeita encontraríamos sempre 3 características.


Estas características essenciais, que permitem a concorrência perfeita, terão sempre que
existir em maior ou menor grau, isto é, existem sempre ainda que imperfeitamente:

1. Diversidade de compradores e vendedores em condições


relativamente igualitárias
Corresponde ao facto de nenhum deles (quer o comprador, quer o vendedor) ter um tal
poder de mercado que consiga influenciar por si só, apenas com o seu comportamento, as
condições de compra e venda de um determinado bem ou serviço.

A concorrência perfeita quer garantir que nenhum concorrente sozinho consiga condicionar
o preço de certo bem ou serviço ou, até mesmo, condicionar outro tipo de condições, que
têm influência nas condições de mercado. Condições como, por exemplo:

 Condições e prazo de pagamento;

 Garantias e reparações;
 Condições de entrega ou de devolução;

 Oferta de bens acessórios ou complementares

Tudo isto são condições paralelas ao preço, que é uma condição essencial e característica
que, normalmente, faz que um comprador escolha entre 1 produto ou outro. Porém, todas
estas condições anteriormente referidas também influenciam.

Esta característica pretende que haja tal diversidade de concorrentes de maneira a que
nenhum tenha poder de mercado suficiente para influenciar estas condições. Ou seja, nenhum
produtor, distribuidor ou consumidor deve poder ter o poder suficiente para influenciar,
decisivamente o mercado. Se isto acontecer, aquelas condições ser-lhe-ão dadas e resta-lhe
apenas:

 Aceitá-las (porque está em condições de prestar o seu serviço com lucro)

 Sair do mercado (pois entende que não consegue produzir tão barato ou a margem de
lucro é pequena e não consegue sobreviver). Se sair do mercado pode encerrar a
empresa e ficar insolvente ou prescindir de adquirir aquele bem ou serviço

Estas empresas que não conseguem influenciar as condições são chamadas de “Price Takers”
pois ou aceitam o que lhes é dado ou saem do mercado, visto que não podem influenciar nem
tomar outra alternativa.

Nos mercados de concorrência imperfeita ou monopolísticos “ex.: Oligopólio), as 2 ou 3


empresas que controlam esse mercado poderão ser “Price Makers”. Estas empresas definem o
preço de mercado daquele bem ou serviço que oferecem- fazem não só o preço que os
clientes são obrigados a aceitar, dado que não têm outras possibilidades, como também
definem as condições que os seus concorrentes vão cobrar- o preço de monopólio

Havendo um preço de monopólio, todas as empresas concorrentes


aproveitam essa boleia e cobram um preço mais alto- efeito “guarda-chuva”

Quando pelo contrário, alguns operadores têm algum peso que lhes permite condicionar as
condições de mercado, deixamos de ter um mercado concorrencial e passamos a ter um
mercado cujas regras são definidas pela atuação de um pequeno número de vendedores ou
compradores:

 No caso da oferta- monopólio (apenas 1 vendedor) ou oligopólio (poucos vendedores,


mas mais do que 1)
 No caso da procura- monopsónio (apenas 1 comprador) ou oligopsónio (poucos
compradores, mas mais do que 1)

Casos em que o comprador influencia o preço:

Ex.: O Continente tem o poder de mercado, enquanto comprador, muito superior ao de um


produtor. E, portanto, têm muito mais poder para definir o preço do que os próprios
vendedores.

Tem se assistido ao crescimento dos grandes distribuidores que têm um peso muito superior à
maioria dos retalhistas e dos fornecedores. Ora, a distribuição situa-se entre o consumo final e
a produção (distribuidores adquirem o bem ao produtor e revendem, posteriormente, ou ao
consumidor, ao retalhista ou até ao bolsista). Os grandes distribuidores estão nesta situação,
em que têm de ser dominantes para cima e para baixo, ou seja, quer ao nível das compras que
fazem, quer ao nível das vendas que efetuam

Diferentes tipos de canais de distribuição:


A 1º hipótese é a venda direta, pelo produtor ao consumidor, que é cada vez mais rara. Opta-
se por se vender ao retalhista, que, posteriormente, venda ao consumidor. Outra hipótese é
vender ao grossista que faz a mesma venda ao consumidor final através dos retalhistas. Por
último, podem também existir os chamados agentes que atuam do lado do produtor e
negoceiam com os grossistas.

Concluindo, estes distribuidores:

 Conseguem influenciar, a montante, o comportamento dos produtores, nomeadamente,


o preço que estes praticam , porque lhes compram uma parte significativa da produção.
Os pequenos compradores estão dependentes deste tipo de contratos, uma vez que, se
estas vendas para grandes superfícies estão sujeitas a ficar com excesso de bem e não
conseguir escoar.

 Conseguem influenciar, a jusante, o comportamento dos consumidores finais,


nomeadamente fixando o preço que lhes cobram porque são o principal meio de
abastecimento

 Conseguem influenciar as pequenas empresas retalhistas concorrentes que se adaptam


naturalmente às condições de mercado das grandes superfícies, alterando o sei preço,
diversidade, tipo de serviço…
Isto é o efeito “guarda chuva” referido anteriormente. Uma grande empresa cria um “guarda
chuva” que protege os preços das empresas mais pequenas e permite-lhes cobrar preços mais
altos e condições que não conseguiriam impor, por si só, aos consumidores finais. Para isto,
estas empresas têm de ter efetivamente poder de mercado, isto é, grande dimensão para que
consiga condicionar comportamentos alheios.

2. Identidade de produto
Quando falamos em mercados, estamos a falar de mercados compartimentados de produtos e
serviços. Um mercado é um local onde se troca um determinado bem e não todos os bens. Por
esse motivo, os bens têm de ser fundamentalmente idênticos…

Os operadores e, sobretudo, os consumidores finais, têm de ter a oportunidade de comparar


esses bens entre si e trocarem de fornecedor, se as condições de oferta se alterarem.

Ex.: mercado dos combustíveis

No mercado dos combustíveis a qualidade do produto oferecido é tida, pelos consumidores,


como rigorosamente idêntica. Ou seja, a qualidade do bem, neste caso específico, é indiferente
para o consumidor médio. Pelo que, irá orientar-se por outras características que não as
qualidades intrínsecas, nomeadamente o preço

Contudo, também o preço é mais ou menos homogéneo, pouco diferenciável e praticamente


igual em todos os distribuidores. O preço é praticamente igual pois depende de 2 grandes
fatores:

 Preço internacional do crude: depende muito das tensões políticas nas principais
regiões produtoras;

 Carga fiscal: imposto específico que o Estado impõe sobre o produto petrolífero

A diferenciação tem de ser feita através:

 Eficácia da rede de distribuição, que se traduz em explorar o posto de combustível em


maior número e melhor posicionado, chegando, assim, a mais consumidores.

 Benefícios associados ao consumo como, por exemplo: cartões de desconto, parceiras


com outros serviços paralelos;
Há outros mercados em que funcionam mais ou menos da mesma forma que o do combustível,
como o mercado de gelados ou bebidas de marcas conhecidas. Para esses mercados, temos 2
tipos de concorrência diferente:

 Concorrência inter-marcas: entre os vários fabricantes de mercas diferentes que


produzem produtos semelhantes;

 Concorrência intra-marca: entre os diferentes distribuidores de bens produzidos pela


mesma empresa e, portanto, bens rigorosamente iguais.

 Concorrência monopolística: mercados em que temos produtos aparentemente muito


homogéneos, mas que, na verdade, são diversificados e diferenciáveis entre si. Daí
permitem que alguns produtores que oferecem produtos únicos, se tornem
monopolistas. Para esses produtos podemos ter pequenos mercados monopolistas.

Para efeitos de avaliação da concorrência, os mercados tem de ser desagregados e


segmentados até um ponto em que exista concorrência efetiva entre os bens ou serviços
oferecidos. Conseguir definir e delimitar o mercado relevante é, assim, absolutamente
fundamental no estudo económico-jurídico da concorrência e, muitas vezes, a 1ª coisa a fazer
perante um caso concreto.

É muito importante, quando se fala de concorrência, que o 1º passo a dar é a delimitação de


mercado. Assim, temos de delimitar um mercado restrito, para que não se prejudique outras
empresas.

A definição de mercado relevante engloba mais do que uma vertente. Por isso, há uma
comunicação da Comissão Europeia que procede a essa definição, compilando os pontos de
vista sobre esta questão (que foi emitindo na sua função de “Autoridade Europeia da
Concorrência”) e as posições retiradas dos acórdãos dos Tribunais da União.

Da comunicação da Comissão, podemos retirar 2 dimensões fundamentais, diferentes mas


complementares do conceito “mercado relevante”:

Geográfica: compreende a área geográfica em que dois produtos são oferecidos por empresas
diferentes em “condições de concorrência homogéneas”

Pode ser uma dimensão fundamental para estabelecermos o limite do mercado, isto é, qual o
alcance geográfico da empresa em questão.

Há bens e serviços que só são rentáveis e transacionáveis de forma homogénea dentro de


uma área restrita. Fora essa, fica muito caro e, por vezes, é impossível comercializá-los.
A quebra de homogeneidade pode ser provocada por barreiras à entrada no mercado ou
apenas pela natureza das coisas. São exemplos de condições de concorrência não
homogénea são:

 Carácter perecível dos produtos;

 Custos de transporte e seguros;

 Tarifas aduaneiras;

 Perdas de uma determinada vantagem de natureza legal ou contratual

 Proibições ou limitações à comercialização: regras relativas a segurança, proteção dos


consumidores, moralidade pública, etc.

Mercado de produto: compreende os bens “considerados permutáveis ou substituíveis pelo


consumidor devido às suas características, preços e utilização pretendida”. Ou seja, trata-
se de saber se 2 produtos, pela sua natureza/ características, são ou não concorrentes
entre si, isto é, se podem roubar clientes um ao outro ou se se podem influenciar.

Isto é extremamente importante pois, se esses sucedâneos existirem, irão exercer pressão
concorrencial uns sobre os outros, obrigando as empresas a melhorar os processos e a
qualidade, a não aumentar preços e a inovar para não perderem mercado ou clientela para
a concorrência. Portanto, as empresas precisam de concorrência para serem melhores e
para que o mercado ganhe com isso.

A noção de mercado é dinâmica e varia de acordo com problema e abordagem que tivemos
a fazer. A isto chama-se o teste SSNIPS. Este teste traduz a seguinte máxima: se a procura
de um produto aumenta, em resultado de um aumento permanente, ainda que pequeno do
preço de um outro produto, isso significa que ambos pertencem ao mesmo mercado de
produto.

O Tribunal de Justiça da União Europeia tem proferido muitas decisões sobre esta matéria,
tentando afinar cada vez melhor o conceito, contudo, por vezes, não podemos antever o
sentido da decisão do Tribunal de Justiça.

OUTRAS DIMENSÕES DE MERCADO

Sendo as necessidades diferentes, as condições de oferta serão diferentes, assim como os


mercados.
i. Diferenciação dos consumidores: as empresas de telecomunicações ou de
distribuição de energia têm produtos diferentes para clientes residenciais e
empresariais, precisamente porque os consideram como dois mercados distintos;

ii. Concursos públicos: uma vez que alguns concursos estão reservados a empresas
que disponham de determinado tipo de certificações, como se define aí o mercado?

iii. Mercados de bens e serviços gratuitos: jornais gratuitos, rádio e serviços online
constituem ou não um mercado, sendo que, aparentemente, não existe a
bilateralidade de prestações que, normalmente, caracteriza as transações em
qualquer mercado?

Estes mercados gratuitos têm uma contrapartida muito oculta que, por um lado, não custa
muito, mas ao conjunto agregado de todos pode gerar dano, através da recolha de padrões de
comportamento e de consumo. Esta utilização da informação dos consumidores é valioso para
certas finalidades, como para nos “manipular”

Mercados exclusivos: mercados que estão limitados ou encerrados por circunstâncias


particulares.

a) Direito de propriedade intelectual/industrial (que confere uso exclusivo de merca ou


produto ao titular desse direito, como é o caso da patente- propriedade industrial- para
que haja incentivo à inovação, investimento nos estudos, descobrimentos e progresso
técnico da sociedade- um dos poucos casos em que se aceita que o monopólio é
benéfico e aceite pelos economistas)

b) Limitações legais e concessões públicas: certos mercados estão delimitados por ação
direta do Estado, que tem o poder de vedar ou limitar o acesso dos operadores ao dito
mercado em função de uma variedade de critérios. Alguns exemplos clássicos são:

 Carácter de interesse público geral ou serviço a prestar (serviços de saúde,


essenciais, água, luz…setores reservados para o Estado ou regulados por ele)

 Natureza pública ou privada da empresa

 Nacionalidade

 Dimensão do mercado
OPERADORES DE CONCENTRAÇÃO EMPRESARIAL: uma empresa compra uma outra
empresa ou dá-se uma fusão, em que desaparecem as 2 e criam uma nova. Desta forma,
deixamos de ter 2 empresas concorrentes.

A diminuição da concorrência é resultado de operações de concentração e, no final, temos


poucas empresas, ou seja, uma concorrência muito mais pobre.

A propósito desta questão, realçam-se 2 casos, um em Portugal e outro junto da Comissão da


UE, que tiveram resultados finais diferentes em função de condicionantes que não foram
exclusivamente económicas:

 Caso “Brisa/AEA/AEO (2006): a Brisa pretendia adquirir a AE do Atlântico e a AE do


Oeste, à época as concessionárias da A8, serviço diretamente concorrente com o
principal serviço oferecido pela A1, que a Brisa já explorava. A ADC entendeu impedir a
concentração, porque a existência de concorrência naquele trajeto seria benéfica para
os consumidores, ao pressionar duas empresas no sentido de oferecer preços mais
baixos e serviços com qualidade. No entanto, o Governo fez uso do seu poder de
reverter decisões da ADC pois considerou estar em causa “interesses estratégicos
fundamentais da economia nacional” e autorizou a aquisição.

3. Ausênciade restrições à saída ou entrada


de empresas
Para o mercado seja de concorrência perfeita, é necessário que o empresário tenha ampla
liberdade de entrada e de saída do mercado. À primeira vista, são muito mais graves as
limitações á entrada do que à saída das empresas do mercado. Porém, temos de ter em conta
que a existência de barreiras à saída pode ser, em si mesmo, um forte desincentivo á entrada
de empresas, no caso de a rentabilidade do negócio ser inferior à esperada.

A existência de barreiras à entrada pode resultar de uma grande diversidade de fatores, que
podemos dividir em várias categorias:

1. Barreiras estruturais à entrada: existem naquele mercado, independentemente da


conduta das empresas que se situam nesse mercado)

1.1 Barreiras legais/administrativas impostas pelo legislador/administração para impedir a


entrada de um número excessivo de empresas ou de empresas que não tenham
determinadas características que o legislador entende como fundamentais
A) Constitui uma garantia essencial para o Estado que todos os operadores presentes no
mercado sejam o próprio Estado ou empresas públicas para certos tipos de serviços. O
encerramento total do mercado a agentes privados acontece entre nós com a lei de
delimitação dos setores (lei nº88-A/97 de 25/7) que veda as seguintes atividades ao
mercado concorrencial:

 Captação, tratamento e distribuição de água para consumo público

 Recolha, tratamento e rejeição de águas residuais urbanas

 Recolha e tratamento de resíduos sólidos urbanos

 Transportes ferroviários explorados em regime de serviço público

 Exploração de portos marítimos

Isto são barreiras legais à concorrência, o que significa que, em nenhum destes mercados,
pode aparecer uma empresa que queira distribuir água, lixo, etc pois a lei não deixa e estas
funções estão confinadas ao Estado ou empresas públicas.

B) Concessão de serviços públicos ou de exploração de bens do domínio público: embora


não implique necessariamente vedar esses setores a novos concorrentes, implica a
criação de entraves e muitas vezes implica a consagração de regimes de exclusividade
por prazos normalmente muito longos. Estes entraves constituem-se para proteção de
interesses públicos que impõe que, nesses setores, exista um controle mais apertado
relativamente ao nº de empresas e suas características que podem agir nesses
concretos mercados.

C) Proteção do mercado em relação ao exterior, ou seja, implica a criação de entraves á


instalação de empresas/produtos importados

 seja pela cobrança de impostos a produtos importados

 seja à instalação de empresas, impondo-lhes obrigações não impostas a


concorrentes domésticas. Os entraves colocados às empresas podem ser, por
exemplo, impor-lhes que beneficiem os produtos nacionais

Ex.: Uma empresa australiana quer instalar-se em Portugal. O Estado português pode fazer
com que esta utilize apenas matéria prima vendida por fornecedores portugueses; ou que
exportem 50% da sua produção.
Contudo, hoje em dia, esta última possibilidade está muito condicionada pelas obrigações
assumidas perante a OMC, que impõe restrições fortes quer à cobrança dos direitos
aduaneiros quer á possibilidade de criar entraves à instalação de empresas e concorrência em
certos mercados

1.2 Barreiras económicas

a) Elevados investimentos iniciais, que demorarão muitos anos a amortizar

Isto acontece, principalmente, nas indústrias pesadas, criação de redes de distribuição. Por
conta do investimento inicial elevado, as empresas precisam de muito dinheiro para iniciarem a
sua empresa. Devido a isto, o artigo 11º, nº2 e) da LDC pode obrigar os concorrentes a
partilharem essas redes, de forma a promover o aumento da concorrência

Ex.: O custo da rede de distribuição da energia elétrica da edp foi suportada pelo Estado. Se
uma nova empresa se quer instalar, não faz sentido duplicar custos e criar uma rede de
distribuição nova, por isso, nos termos do artigo 11, nº2 e), pode a empresa ser obrigada a
partilhar as suas redes. Se este artigo não existisse, a hipótese de ter custos de instalação
iniciais muito elevados poderia dissuadir as empresas concorrentes a entrar no mercado

Costuma chamar-se a estes mercados “monopólios naturais” e constituem um exemplo quase


único de um prejuízo para os consumidores-pelo menos no preço final (amortização do valor
dos custos iniciais e a repercuti-los nos preços dos bens)- provocado pelo aumento da
concorrência. Quanto mais concorrentes há no mercado, menos consumidores terá cada
empresa e mais repercutirão nos consumidores no preço final.

Como se explicam os monopólios naturais?

Porque se tratam de setores em que, seja pela estrutura do mercado, natureza do produto e/ou
processo de produção, a solução economicamente razoável é haver apenas um (ou muito
poucos)operadores. Isto porque a sua diversificação irá multiplicar os elevados custos de
produção, aumentando provavelmente o preço final.

b) Setores muito dependentes de preferências especificas dos consumidores


Ou em que existe um relacionamento muito próximo destes com as marcas já implantadas no
mercado (incumbentes) e os consumidores. Setores em que os consumidores têm dificuldade
em aceitar novas marcas.

1.3 Barreiras tecnológicas

 Sistemas em rede: utilização de sistemas pré-instalados, que pressupõem o acesso a


tecnologia que não se domina; por exemplo, software para correr juntamente com um
outro programa ou aplicação de que não se tem o código

 Patentes licenciadas a alguns concorrentes, mas não a novas empresas: hoje em dia
isto começa a ser tratado como uma prática abusiva (discriminação de concorrentes)

 Especificações técnicas: por exemplo, adaptadores de energia, corrente elétrica etc.

2. Barreiras estratégicas á entrada

Ao contrário das anteriores, estas resultam diretamente do comportamento estratégico das


empresas que já ocupam o mercado, e que para consolidarem a sua posição adotam
estratégias comerciais que servem como mecanismos de proteção contra potenciais novos
concorrentes, isto é, tentam dificultar o acesso de novos concorrentes:

Controlo total dos canais de distribuição: muitas vezes com contratos de exclusividade, não
deixando espaço para a distribuição de novos produtos. Todavia, é preciso contar com a força
de alguns distribuidores, que podem preferir romper um contrato e passar a trabalhar com
outro fornecedor.

Controlo dos preços pelas empresas incumbentes: ou seja, as empresas que já se encontram
instaladas no mercado. Em casos extremos, esse controlo pode ir até à prática de dumping
para impedir um novo concorrente de igualar os preços instalados, e assim eliminar o perigo de
perder quota de mercado
Marketing cada vez mais agressivo e mais omnipresente: para exponenciar a ligação afetiva
entre a marca e os consumidores, de que já se falou

Ocupação de todos os nichos de mercado: para não deixar “portas abertas” por onde novos
operadores possam vir a entrar. Isto faz-se através de uma grande diferenciação dos produtos,
como acontece hoje com bebidas que tradicionalmente constituíam um mercado homogéneo,
ou produtos alimentares. Isto vai depois criar, muitas vezes, micro-mercados de concorrência
monopolística

3. Barreiras à saída das empresas

a) Cumprimento de contratos: concessões por períodos longos, que muitas vezes preveem
pesadas clausulas penais pré-estabelecida em caso de quebra antecipada

b) Dificuldade em liquidar ativos de baixa liquidez (difíceis de vender rapidamente): caso a


empresa decida sair do mercado como, por exemplo, unidades industriais de setores
em crise ou em declínio
c) Outras considerações estratégicas: interação daquela empresa noutros negócios do
grupo ou interesse em aproveitar parcerias entretanto criadas com outras empresas

Para concluir podemos admitir que, tendencialmente:


 Quanto mais difícil é entrar num mercado, mais rentável será esse mercado, isto é,
proporciona grande lucro ás empresas lá instaladas

 Quanto mais difícil é sair de um mercado, mais arriscado será entrar no mesmo
mercado pois o investimento torna-se mais arriscado: a empresa arrisca-se a ficar presa
ao negócio, ainda que este lhe traga prejuízo

2. OS MONOPÓLIOS
Os mercados monopolistas (controlados e onde existe apenas uma empresa) são raríssimos e
quase não existem, exceto em algumas situações especiais, com privilégio legal.

O que temos, hoje em dia, são mercados dominados por uma empresa à sombra da qual
existem alguns pequenos concorrentes, que se encontram dominados pela empresa
dominante.

Um monopólio caracteriza-se por lhe faltar o 1º elemento dos 3 caracterizadores dos mercados
de concorrência perfeita “a diversidade de operadores nos diferentes níveis de cadeia de
produção e distribuição”.

Num mercado dominado por uma empresa, temos um price-maker e alguns price-takers.
Nestes mercados temos, portanto, apenas um produtor, um distribuidor ou um retalhista. Isto é,
alguém que, no patamar daquela cadeia em que se encontra instalado, não sofre concorrência
efetiva de quaisquer outros operadores.

Ou seja, nestes mercados, ou temos apenas 1 empresa no mercado ou apenas 1 empresas


que domine o mercado e que abate todas as outras. Encontramos muito poucos exemplos de
verdadeiros monopólios na economia atual, porque, em quase todos os mercados, acabamos
por ter algumas alternativas na concorrência. Estes monopólios apenas serão tolerados tendo
em conta o interesse público considerado superior ao interesse da liberdade da concorrência
nesse mercado específico. Este interesse público pode ser:

 Estrutural: condição genérica para um maior desenvolvimento ou para uma lehor


afetação dos recursos;
 Conjuntural: prendendo-se com um setor, uma empresa ou um momento específico

1. Interesse no desenvolvimento técnico, científico ou artístico


Para as empresas investirem neste desenvolvimento, têm de ter uma perspetiva de
compensação económica, que lhes é fornecida pelos direitos de exclusividade concedidos por
certos direitos de propriedade industrial e intelectual. Estes direitos de exclusividade são
direitos de monopólio sobre novas invenções de produção inovadoras (patentes) ou artísticas
(direitos de autor)

Para fomentar esse desenvolvimento, o Estado tem de atribuir aos criadores e inventores o
direito de explorarem e aproveitarem economicamente, os resultados do seu trabalho: é para
isso que existem direitos destinados a proteger a propriedade industrial e intelectual. Entre os
vários direitos dessa categoria, para este efeito, interessa-nos 2: as patentes e os direitos de
autor. As patentes servem para proteger a invenção de novos produtos ou processos, durante
20 anos, mediante a qual se dá ao inventor um direito exclusivo de explorar economicamente
esses novos produtos.

Contudo, apesar deste regime de proteção, sendo o titular da patente o dono dos direitos
económicos sobre os processos criativos que a patente protege, pode, em algumas
circunstâncias, ser forçado a ceder o seu direito, por exemplo:

 Se ele não explorar a patente e nem permitir que ninguém o faça;

 Se houver outras patentes protegidas que dependam da utilização da sua própria


patente;

 Se existirem motivos de interesse público, relacionados com “saúde pública”, defesa


nacional, ou desenvolvimento económico ou tecnológico do país

Nos termos do Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos, os direitos de autor protegem
as criações intelectuais do domínio literário, cientifico e artístico, conferindo ao seu criador e
aos seus herdeiros, o direito exclusivo de as explorarem economicamente até 70 anos após a
morte do criador.

Ou seja, tendo o direito exclusivo de explorar a sua produção tem, então, um monopólio, na
exploração dessas obras e, por consequência, o direito de recolher, em exclusivo, os
benefícios económicos decorrentes da exploração desse bem, através de uma retribuição de 2
componentes:

 Física: que o autor recebe sempre “à cabeça”


 Variável: que consiste numa percentagem dos lucros resultantes da venda do produto
protegido (royalties)

Dependendo do carácter mais ou menos individualizado desse produto, ele pode constituir, por
si só, um mercado único, se não existirem produtos idênticos ou sucedâneos a que os
consumidores possam recorrer em caso de escassez ou preço excessivo do bem, objeto de
direitos exclusivos

Muitas vezes, temos monopólios, no sentido em que temos produtos protegidos por patentes.
A patente destina-se a recompensar o investimento feito na investigação, promover a
investigação, protegendo quem investiu.

Têm sido detetados outros casos verdadeiros de abusos de patente:

 Hopping: titular da patente vai introduzindo pequenas alterações, que possibilitam o


registo de um “novo” produto e, por consequência, a renovação da proteção da
exploração exclusiva por mais 20 anos. Isto é uma forma de perpetuar a duração da
proteção conferida pela patente

 Pay for delay: empresa paga a outras empresas concorrentes, para que estas se
comprometam a prescindir de explorar aquela patente mesmo depois de expirado o
prazo de proteção, permitindo á empresa que a detém, continuar a ser monopolista

2. Interesse em preservar a exploração de certos setores de especial


importância nas mãos do Estado ou de empresas que apresentem garantias
especiais
O Estado ou reserva para si próprio a exploração de um determinado fator (distribuição de
bem/serviço) ou, então, reserva esse exclusivo a empresas que lhe deem certas garantias,
impedindo, portanto, que outras entrem no mercado

 Setores vedados por lei à iniciativa privada e que apenas podem ser explorados pelo
Estado ou por empresas concessionadas (distribuição de água; tratamento de resíduos)

Existem muitos poucos setores, atualmente, que sejam, por uma questão de natureza, de
serviço público, impensáveis de atribuir a empresas privadas. Porém, as regras de
concorrência, mais cedo ou mais tarde, terão de abranger todos estes setores.

 Setores especialmente protegidos e regulados (pelos produtos que fabricam ou


distribuem)
-Fabrico e venda de armas: pode ser um perigo para a segurança das pessoas e do próprio
Estado e, portanto, este mercado está sujeito a regulamentação especial e, não estando
vedado a iniciativa privada, tem regras muito especificadas de autorização e concessão

-Produção e distribuição de energia: deste setor não depende apenas toda a economia de um
país, como também o conforto e a própria sobrevivência dos cidadãos. No entanto, a sua
produção e distribuição exige a capacidade de organização industrial que os Estados,
normalmente, não têm.

Os monopólios serão sempre legais, uma vez que provêm do


legislador. Mas serão sempre conformes ao Direito?
Temos de ter presente que, na regulação da economia, e em especial da concorrência, existe
um duplo ornamento, e por isso mesmo, um duplo controlo de legalidade pelo qual terão de
passar as decisões privadas e públicas

Na noção de economia, as empresas (enquanto esperam por decisões dos tribunais, por
exemplo) e o próprio Estado (quer enquanto legislador, quer como entidade que confere
subsídios às empresas) estão sujeitos, não só ao controlo de legalidade interna como um
controlo de legalidade comunitária (feita pela comissão europeia que funciona como uma super
autoridade de fiscalização e pelos TG e TJ)

Em que medida esta matéria é sujeita a 2 ornamentos?


 Ornamento nacional

A maior parte dos Estados tem relativamente pouca legislação sobre a


regulação do mercado e concorrência, e todos eles muito conformes à lei
comunitária. As potenciais diferenças surgem ao nível da sua aplicação
concreta, e não da redação.
 Diplomas legais:

 Lei da concorrência (lei 19/2012 de 8 de maio)

 Estatuto da ADC (DL 125/2014 de 18 de agosto)

 Direito a indemnização por práticas contrárias à concorrência (Lei 23/2018 de 5 de


junho)
 Regulamentos e instruções diversas

 Prática decisória da ADC e jurisprudência do Tribunal da Concorrência e dos tribunais


superiores

 Decisões Políticas- poder de reverter decisões da ADC sobre controlo de concentrações

 Concessão de auxílios públicos

É aqui que se nota uma maior diferença entre as perspetivas nacionais e comunitárias.
Porquê?

Porque a avaliação do impacto de um subsídio na economia nacional compete,


exclusivamente, ao Governo nacional, que depois será julgado pelos eleitores. Mas num
mercado integrado por 27 Governos diferentes, isso já não é assim…

Esta matéria vem tratada no Direito da Concorrência. O Estado, ao atribuir um subsídio a


algumas empresas, está a alcançar essas empresas em vantagem face às outras que não
tiveram subsídio pelo que está a distorcer a concorrência. Ou seja, ao subsidiar estas
empresas, está a permitir que estas vendam os seus produtos mais baratos mantendo a
margem de lucro. Se os eleitores não concordarem com este tipo de benefícios, não irão votar
naquele Governo para demonstrar o seu desagrado. Um Governo que administre mal o
dinheiro público será penalizado nas eleições seguintes, pelos eleitores descontentes.

É muito importante termos sempre presente os princípios essenciais de relacionamento entre


estes 2 ornamentos:

 Primado: Direito Comunitário prevalece sobre as regras nacionais

 Efeito direto: direito originário, regulamentos e decisões têm sempre efeito direto. As
diretivas, em princípio, apenas têm efeito direto vertical (podem ser invocados contra o
Estado, mas não entre particulares porque a sua transposição confere sempre ao
Estado alguma margem de manobra que os particulares não podem antever)

Relativamente aos tribunais, não há recurso das decisões nacionais para os tribunais europeus
e, portanto, estes não podem alterar as decisões dos primeiros. Os tribunais nacionais devem
seguir, nas decisões internas, as orientações da jurisprudência dos tribunais europeus. Para
assegurar, precisamente, a uniformidade de aplicação do Direito Comunitário, existe o já
referido mecanismo de reenvio prejudicial.
Importa perceber quando é que uma empresa, mesmo que em rigor, não seja monopolista,
deve ser especialmente monitorizada e controlada em função da posição de liderança
reforçada que ocupa num mercado. Ou seja, quanto é que podemos dizer que essa empresa
ocupa uma posição dominante. Isto vai permitir descobrir se o comportamento de uma
empresa no mercado pode ser considerado ou não abusivo.

Num mercado concorrencial, existem vários competidores que proporcionam serviços


idênticos/sucedâneos e que não existam barreiras à entrada ou saída.

Quando uma empresa passa a distribuir pior, os seus consumidores finais cessam relações
com essa mesma empresa e mudam de parceiro comercial. Se essa empresa se encontrar
sozinha, ou, ainda que tenha concorrência, se encontrar numa posição que lhe permita impor
condições, essa alternativa não existe.

Ou, se o bem for de procura rígida, os consumidores têm de se sujeitar ao mau serviço, caso
contrário a alternativa é, por exemplo, não ter luz em casa. Supondo agora que existe alguma,
ainda que pouca concorrência:

Esta é uma estratégia, denominada de “dumping” (vender a baixo do preço de custo), que pode
compensar, mas é proibida porque só está ao alcance de grandes empresas com grande
capacidade financeira e com a finalidade de aumentar clientes, roubados à concorrência. Se
tiver capacidade financeira para diminuir preços durante alguns meses, terá muita cliente e já
poderá aumentar os preços (empresa passa a ser muito mais dominante do que já era)

A questão é que, não tendo a mesma capacidade financeira da dominante (que normalmente
serão aquilo a que se chama deep-pocket corporations, ou seja, empresas com grandes
recursos), poderão não conseguir suportar essas perdas e serem forçados a sair do mercado.
Uma empresa em posição dominante tem, para mais, o dever e responsabilidade acrescida de
servir de exemplo para o resto da economia: segundo uma máxima muitas vezes afirmada pelo
TJUE “grande poder traz grande responsabilidade”.

A combinação destas duas ideias leva a uma conclusão: certos comportamentos podem ser
tolerados a empresas sem poder de mercado para se conseguirem afirmar junto dos
concorrentes, clientes e consumidores, mas não a empresas dominantes, cujas ações vão
produzir efeitos que se vão fazer sentir em todo o mercado e se vão impor aos outros
operadores.

Na avaliação da estrutura do mercado, há várias dimensões a ter em conta, nomeadamente:

 Concorrência real/atual: que nos diz qual a posição relativa das diferentes empresas
que, naquele momento, competem pelo mesmo mercado

Quanto mais empresas existirem para além da dominante, mais disperso estará o poder de
mercado remanescente, logo, menor será a quota de mercado que aquela tem de possuir para
poder ser considerada como tal.

 Concorrência potencial: que traduz a possibilidade de surgirem novos operadores


naquele mercado para além dos que já se encontram atualmente, e que tem em conta
as barreiras á entrada

Um mercado com fortes restrições à entrada de novas empresas oferece muito mais garantias
às que já estão instaladas, que têm a sua posição facilitada uma vez que não sofrem a pressão
concorrencial de, a qualquer momento, uma nova empresa entrar e lhes roubar uma parte da
sua quota. Por isso mesmo, podem comportar-se como dominantes com uma quota mais
diminuta do que se estiverem num mercado em que a entrada seja mais livre.

 O poder dos consumidores: isto é, a possibilidade de os consumidores reagirem às


mudanças de estratégia, exercendo pressão sobre as empresas na defesa dos seus
direitos, e que por sua vez depende dos seguintes aspetos:

 Capacidade de organização e mobilização: associações ou organizações de


defesa dos consumidores que sejam mais ativas (têm maior poder)

 Mecanismos disponíveis na ordem jurídica para combater abusos de mercado:


ações populares, possibilidade de deduzir pedidos de indemnização cível
Sem estes elementos, os consumidores constituem um grupo demasiado disperso para
fazerem valer os seus interesses, e por isso são facilmente controláveis pelas empresas.

Das três dimensões referidas, a mais determinante e imediata é a primeira- até porque pode
ser verificada com mais segurança através da quota de mercado que cada empresa detém.

Durante bastante tempo, a lei portuguesa continha uma definição quantitativa do que
considerava uma posição de domínio. O artigo 14º do Decreto-Lei 422/83, de 13 de dezembro
cuja formulação foi repetida na lei seguinte (Decreto-Lei 371/93 de 29 de outubro). Desde 2003
a nossa lei já não prevê nenhum patamar quantitativo de quota de mercado a partir do qual
considere existir domínio

No entanto, a jurisprudência do TJUE tem vindo a estabelecer presunções, sempre ilidíveis,


que podem retirar-se daquele indicador:

 <40%: forte indicação de que não existe domínio;

 >40%: possibilidade de domínio, mas que tem de decorrer de uma investigação


sustentada em outros factos;

 >50%: forte indicação de domínio;

 >70-80% presunção muito forte de domínio;

IMPORTANTE: a definição do conceito de posição dominante não serve apenas para detetar a
prática de eventuais abusos pelas empresas que estiverem nesse patamar. Serve ainda, a
montante, para definir se um projeto de concentração (isto é, a fusão de 2 ou mais empresas,
ou a aquisição de uma empresa por outra) pode ou não negar negativamente o mercado.
Até há algum tempo, o critério principal para autorizar ou não uma operação de concentração
era precisamente o de esta “conduzir à criação ou reforço de uma posição dominante”. Foi,
entretanto, substituído pelo chamado “teste SLC” (“substantial lessening of competition”),
mantendo-se, porém, como critério adicional. Ou seja, pode acontecer que uma concentração
que conduza a uma posição dominante seja autorizada, ou que não seja autorizada uma outra
que não conduza àquele resultado.

Explicadas as linhas gerais do conceito de posição dominante, importa ficar bem claro que a
simples existência dessa posição não é penalizada pelo Direito, muito embora traga consigo
ineficácia económicas, como veremos a seguir. Às vezes, uma empresa encontrar-se em
posição dominante significa que a empresa é melhor, mais eficiente e mais acarinhada pelos
consumidores e, por isso, merece recolher os fundos económicos que daí advém.

O que a lei, efetivamente proíbe é que a empresa dominante adote comportamentos abusivos,
ou seja, comportamentos de mercado que não adotaria se não ocupasse a posição que ocupa.
É desses abusos que falam os artigos 11º da LdC e 102º do TFUE

Porém, pode ser que os tribunais entendam que uma empresa é de tal forma dominante no
mercado que esse poder tem de ser quebrado. Desta forma, o tribunal ordena que esta tem de
ser desmantelada, isto para evitar que haja demasiado poder concentrado nas mesmas mãos

COMPORTAMENTOS ABUSIVOS
Este elenco de alguns comportamentos de abuso de posição dominante de maneira nenhuma
esgota os comportamentos abusivos. Comecemos por distinguir 2 tipos de abusos. Convém,
no entanto, referir que nem sempre as fronteiras entre estes 2 tipos de abusos são nítidas, mas
vamos tornar esta distinção mais válida.

Abusos de exclusão: têm como objetivo principal excluir concorrentes, forçando uma ou mais
empresas concorrentes a retirarem-se do mercado. O objetivo final é roubar clientela e, ao
fazer isso, por vias ilegítimas, a empresa dominante está a roubar capacidade lucrativa aos
concorrentes. Desta forma, a tarefa dos concorrentes fica dificultada de tal forma que não
conseguirão ser rentáveis e terão de sair do mercado. Assim, a empresa dominante consegue
alargar a sua quota de mercado

 Preços predatórios: a empresa dominante atua como predador no mercado, praticando


preços artificialmente baixos, que não poderia praticar em posições normais pois não
lhe dão lucro. O objetivo é que a empresa dominante roube clientes às empresas mais
pequenas e, por isso, força os mais pequenos concorrentes a sair do mercado dado que
não conseguem acompanhar os preços praticados. Estas empresas têm uma grande
capacidade de suportar perdas porque têm grandes reservas de financiamento. Pode
diminuir os preços substancialmente se isso significar que vai colocar concorrentes fora
de mercado. Ao libertar o mercado dos concorrentes, a empresa dominante irá
aproveitar-se da mesma quota de mercado que pertencia aos concorrentes.

 Recusas de venda: quando de destinem a excluir os concorrentes de uma empresa


integrada verticalmente com a fornecedora, ou seja, empresa recusa-se a fornecer bens
a outra empresa concorrente, excluindo-a do mercado, pois não existem outras
alternativas viáveis

 Compressão/esmagamento de margens: a empresa integrada verticalmente vai


favorecer a empresa do seu grupo, praticando, apenas para ela, preços mais baixos, e
obrigando as empresas concorrentes a lucrarem menos ao colocarem o produto no
mercado mais barato para concorrerem com a outra. Através deste esmagamento de
margens, a rentabilidade das concorrentes será tão comprida que terão que sair do
mercado porque não conseguirão pagar custos de produção sequer.

 Obrigações de compra exclusiva impostas aos distribuidores ou política de “marca


única”: os concorrentes não podem escoar a sua produção junto dos
clientes/distribuidores da empresa dominante porque estes estão contratualmente
obrigados a distribuir apenas produtos fornecidos por aquela

 Descontos de fidelização: garantem que os clientes da empresa dominante lhe


permaneçam fiéis sob pena de deixarem de beneficiar desse preço mais baixo. Por
outro lado, os concorrentes não conseguem acompanhar. Esta é uma prática social
muito corrente, mas muitas vezes são uma prisão fornecedora do desconto. Isto porque
clientes não podem deixar de comprar x quantidade, caso contrário ficam sem desconto
e dessa forma, não conseguem pagar.
 Conexão de mercados através de vendas subordinadas ou agrupadas ambos se
traduzem na imposição, feita pelo vendedor, ao comprador de uma obrigação de
compra de vens ou serviços que ele normalmente não iria comprar, sob pena de não
poder comprar os bens ou serviços que realmente lhe interessam

-Nas vendas subordinadas existe uma conexão funcional entre os bens vendidos, sendo
utilizados em conjunto.

-Nas vendas agrupadas, a venda em conjunto não obedece a qualquer conexão, sendo
apenas uma estratégia comercial

 Abusos de patente: retirando-se aos concorrentes a possibilidade de entrar naquele


mercado para além do que seria a “vida normal” de uma patente

 Abusos de litigância: criar litigiosidade permanente com os concorrentes, impedindo-se


aqueles com menos recursos financeiros de fazer valer os seus direitos por
incapacidade de suportar as custas dos processos. Isto é, as empresas podem colocar
todos os concorrentes em tribunal e prolongar, por todas as linhas legítimas, os
processos e por consequência os preços que isso acarreta. O objetivo é exaurir as
finanças das empresas concorrentes que não conseguem custear os melhores
advogados

 Cláusulas inglesas ou “de melhor preço”: cobrir o preço mais baixo oferecido pela
concorrência equivale, na prática, a tentar eliminar a concorrência pelo preço, uma vez
que os consumidores sabem que comprando àquela empresa podem sempre beneficiar
do melhor preço do mercado. Isto só está ao alcance das empresas dominantes, por
isso, estas cláusulas têm de ter um alcance muito mais limitado: só serem válidas num
determinado raio geográfico, por um período de tempo limitado, excluir as vendas online

Abusos de exploração: têm em vista aumentar os lucros da empresa dominante sem


necessariamente aumentar a sua quota de mercado. São menos vulgares, e contêm muito
menos variedade do que os abusos de exclusão.

A posição de domínio confere á empresa que dela beneficie uma posição de supremacia em
relação aos seus concorrentes, permitindo-lhe adotar estratégias destinadas a retirar-lhes
abusivamente quota de mercado ou mesmo força-los a abandonar o mercado. Destina-se a
aumentar o lucro da empresa dominante, sem alterar a sua quota de mercado, pelo que estes
comportamentos estão direcionados para os consumidores (sejam ou não finais). A empresa
dominante só terá este poder sobre os clientes se fornecer um bem que não tenha sucedâneos
credíveis no mercado e se tiver uma procura rígida. Apenas nestas circunstâncias os
consumidores não terão uma alternativa razoável e terão que se sujeitar. Caso contrário,
poderiam fugir para a concorrência.

 Preços excessivos: consiste numa empresa aproveitar-se da sua posição de único


fornecedor efetivo de certo bem ou serviço para praticar preços claramente exagerados
em reação ao que seria o preço normal de mercado. Como não existe concorrência, a
empresa única aproveita.se desse facto, mas pode vir a ser prejudicada a longo prazo.

Há casos limites em que isto pode cair em especulação: a este propósito que o artigo 35º
do DL 24/84 tipifica o crime de especulação

No casos de preços excessivos, e no âmbito do Direito da concorrência, não nos


interessam, geralmente, os casos isolados, mas apenas aqueles com capacidade para
alterar o funcionamento do mercado. Ora, uma empresa apenas subirá os seus preços a
um nível excessivo sem perder clientela se a elasticidade da procura desses bens for muito
próxima do zero (ex.: bens e serviços relacionados com a saúde…)

 Abusos de exploração

 Vendas subordinadas e agrupadas: têm muitas vezes como finalidade, não a


exclusão do concorrente nos mercados daqueles produtos, mas o escoamento
da produção ou stocks da empresa dominante

 A recusa de venda: pode ter como objetivo não a exclusão do concorrente a


jusante, mas a punição de um parceiro que se recusou a aceitar certas
condições comerciais. Nessa medida não tem como finalidade retirá-la do
mercado, mas força-lo a aceitar as condições importas pela empresa dominante.
A formação de preços nos mercados
monopolistas
Já vimos a grande diferença entre uma empresa que atua num mercado concorrencial e uma
empresa monopolista:

 A primeira é uma price taker: aceita o preço que o mercado lhe dá, porque a diversidade
de concorrentes que oferecem produtos iguais ou sucedâneos não lhe permite ter poder
de mercado suficiente que influenciar o preço

 A segunda é uma price maker: decide o preço que vai cobrar, porque é o único
fornecedor e dessa forma é que determina o preço e a quantidade oferecida

O preço P de um bem, em mercado concorrencial ou monopolista, é sempre igual ao


rendimento médio (RMed) desse bem, que representa o rendimento que o produtor recebe por
unidade vendida e que equivale à divisão do rendimento total (RT) pelo número total de
unidades vendidas (Q). Portanto, em qualquer mercado: P=RMed=RT

Aquilo que distingue a formação dos preços nos mercados concorrenciais e monopolistas não
é a relação com o rendimento médio (RMed), mas sim a relação com o rendimento marginal
(RM). O rendimento marginal é o que se obtém por unidade adicional vendida daquele bem ou
serviço, e que se calcula subtraindo o rendimento da venda da quantidade Q ao rendimento da
venda da quantidade Q+1.
Em concorrência perfeita, porque nenhuma empresa tem dimensão, capacidade ou poder de
mercado para influenciar os preços por si só, o rendimento marginal é igual ao preço, que é
dado pelo mercado e não definido pela empresa. Sabendo-se que, a um dado preço de
mercado, a empresa consegue escoar toda a sua produção, RM e P igualam-se sempre, seja
qual for a quantidade produzida. Por cada unidade adicional, o lucro que o empresário obtém é
constante. Não ganha sempre o mesmo com cada unidade adicional que produzir pois tem
custos que tem de suportar.

Mas independentemente da quantidade produzida o lucro marginal que o produtor obtém se


mantém inalterado?

Não, pois isso dependerá da sua estrutura de custos: produzindo a custos marginais
crescentes, o ponto ótimo de produção (maximização do lucro) é aquele em que os CM
igualam o RM- é neste ponto que o rendimento marginal começa a cair e se torna inferior aos
custos). Já a empresa monopolista tem poder de mercado para definir o preço que vai cobrar.
Assim, vai fazê-lo tendo em conta a curva da procura, que lhe dá as quantidades procuradas
daquele bem a cada preço. Sendo a curva da procura descendente, o RM é sempre inferior a
P: o monopolista irá sempre obter menos rendimento por cada unidade adicional que decidir
colocar no mercado, e portanto esse rendimento será sempre inferior ao preço cobrado pela
última unidade vendida.

Para vender mais litros de água (Q), temos de descer o preço.

O rendimento total (TR) cresce até ao


momento em que o “efeito-preço” (vender
mais barato) supera o “efeito-produção)
(vender mais unidades)

O rendimento médio (AR) é sempre igual


ao preço

O rendimento marginal (MR) é


decrescente, e sempre inferior ao
rendimento médio (e ao preço)

Efeito produção é o efeito decorrente do empresário vender mais unidades por cada descida
de preço- com preço de 10 vende 1, com preço de 6, vende 5. Como vendo mais unidades,
compensa a diminuição do preço. Todavia, só é rentável vender até 5 unidades (ou seja, até ao
ponto em que RM=0)
A curva do rendimento marginal está sempre abaixo da curva da procura, que define o preço (e
que é também a curva do RMed) e que iguala o RM (RT/Total de unidades que o monopolista
consegue vender)

Pode até acontecer que o rendimento margina


seja negativo, se a descida de preço
correspondente ao aumento da oferta (“efeito-
preço”) e que passa a ser o preço vigente para
todas as unidades existentes no mercado, levar
a perdas maiores do que os ganhos
correspondentes ao aumento de unidades
vendidas (efeito-produção)

Como é que uma empresa monopolista maximiza o


seu lucro? Qual o ponto ótimo de produção?

Na interseção da curva de custo marginal e


rendimento marginal (quer para empresas em
mercado concorrencial ou monopolista). Aqui, esse
é o ponto A, que corresponde à quantidade Qmax e
ao preço fixado (B), que resulta da interseção
daquela quantidade com a curva da procura. A partir
do ponto A, o custo marginal passa a ser superior ao

RM, o que significa que o produtor vai perder dinheiro para colocar uma unidade adicional no
mercado. Pelo que, para de produzir no ponto A (onde acaba o lucro). Num mercado
concorrencial, sabemos que o preço é igual ao rendimento marginal. Logo, num mercado de
concorrência perfeita, a curva da procura estaria sobreposta à curva de rendimento marginal. E
o preço situar-se-ia no ponto A. Portanto, e comparada com a empresa em mercado
concorrencial, a empresa monopolista pode cobrar um excesso igual ao segmento AB na
venda do mesmo produto.

Qual o lucro da empresa monopolista?

Sabemos que:

 O lucro (BC) é igual à diferença entre o rendimento médio e os custos médios


 O preço iguala o rendimento médio

Logo, o lucro vai ser igual à diferença entre o preço


(B) e o custo médio total (CMT), multiplicada pela
quantidade. Ou seja, L=(P -CMT) x Q

Nesta figura, o lucro corresponde à área BCDE (BC=


preço- CMT; DC= quantidade)

Isto é, depois de decorridos os 20 anos da patente, tofas as empresas concorrentes


começarão a produzir o medicamento patenteado e, devido a isso, estaremos perante um
mercado de concorrência perfeita, em que teremos um bem mais abundante e mais barato
(maior oferta e menor preço). O gráfico ao lado mostra a venda de um medicamento em
situação de monopólio e concorrência perfeita

Mas há um aspeto a ter em conta: a empresa


inovadora, que foi monopolista, continua a
poder cobrar um preço superior ao dos
concorrentes, por razões de confiança e
reputação no mercado, resultado dos 20 anos
de patente. A prova é que, mesmo com a
concorrência de um idêntico, o medicamento
de marca custa 80% mais e os consumidores
preferem-no

Será o monopólio uma forma eficiente de organização do


mercado do ponto de vista da criação e da repartição de
excedente?
Como sabemos, o excedente total resulta da soma do excedente do produtor com o excedente
do consumidor. Num monopólio existe esta conjugação de excedentes?

O excedente do produtor é a diferença entre o preço de mercado e o custo marginal, que


representa os custos de produção do mercado (ou seja, a diferença entre o montante que o
produtor recebe pela venda de uma quantidade de bem e o montante mínimo que estaria
disposto a aceitar para produzir e vender essa quantidade). O excedente do consumidor é a
diferença entre a utilidade total de um bem e o seu valor de mercado total (ou seja, a diferença
entre o preço que ele efetivamente paga e o que estaria disposto a pagar)

Do lado do produtor, claramente que sim. Se este estabelece o preço acima da interseção
entre as curvas de custo e rendimento marginal, está a cobrar um preço superior ao de uma
empresa em mercado concorrencial-medida do seu excedente graças à existência do
monopólio

Se compararmos o lucro da empresa monopolista


com o da empresa em mercado concorrencial é
fácil perceber a dimensão desse excedente:

 Empresa M tem lucro BCDE;

 Empresa C tem o lucro definido na área a


preto;

Do lado do consumidor, pensemos ao contrário. Se os consumidores estão a pagar mais em


monopólio do que pagariam em concorrência aberta, naquela medida, é essa, em termos
comparativos, a medida do seu défice. Considerando que o monopólio conduz a uma
concentração da riqueza, essa disparidade de resultados torna-se ainda mais evidente.

Imaginemos uma empresa gerida em função da maximização do excedente total, tentando


conjugar o seu próprio lucro com os ganhos obtidos pelos consumidores. Por outras palavras,
um empresário que tem em conta o excedente resultante da subtração dos custos do produtor
aos ganhos do consumidor. Refletindo aqueles ganhos, a disponibilidade dos consumidores
para pagar um determinado preço, estão representados na curva da procura. O que significa
que o nível da produção socialmente eficiente do ponto de vista da maximização do bem estar
se vai encontrar na interseção das curvas do custo marginal e da procura

Como podemos ver, é naquele ponto de interseção que se


encontra o equilíbrio dos excedentes:
 Atrás desse ponto:
 O excedente do consumidor excede os custos do produtor;

 Cada unidade adicional aumenta o bem estar dos consumidores;


 Logo, uma quantidade inferior fica aquém do necessário para satisfazer as
necessidades de consumo:

 Além desse ponto:


 O custo do produtor excede o excedente do consumidor;

 Cada unidade adicional diminui o excedente (e o bem estar) total, uma vez que o
seu consumo não vai ser valorizado na proporção do seu custo de produção;

 A empresa não vai conseguir cobrir os seus custos, e será, a prazo, comercialmente
inviável.

Conclui-se, assim, que a opção de fixação de preço de acordo com o custo marginal é a que
conduz à maximização do excedente total- opção de uma empresa em mercado concorrencial.
A grande diferença é que enquanto aqui o nível de produção se estabelece na interseção da
curva do custo marginal com a da procura, uma empresa monopolista vai situá-lo na interseção
daquela com a curva do rendimento marginal.

Tendo em atenção estes 2 aspetos, podemos então tentar perceber melhor a ineficiência social
que resulta do monopólio: o chamado “custo de peso morto”. Em primeiro lugar, podemos ver
que a quantidade produzida pelo monopolista fica aquém da quantidade socialmente eficiente.
Isto acontece porque o monopolista decida a quantidade que vai produzir não com base na
procura, mas no seu rendimento marginal. Em mercados concorrenciais isto não acontece
porque a curva do rendimento marginal é reta e sobreposta à da procura.

Portanto, toda a área sombreada representa a insuficiência da quantidade determinada pelo


monopólio, quando comparada com a procura. Note-se que a decisão de produzir abaixo da
quantidade eficiente determina um preço excessivamente alto. Que efeito tem sobre o
consumo a fixação de um preço resultante do ponto de interseção RM/CM com a curva da
procura, que só o monopolista pode fazer?
Muitos consumidores estariam dispostos a
pagar um preço superior ao CM, mas já não
estão dispostos a pagar o preço fixado, e
portanto prescindem daquele consumo.

Há, portanto, um desencontro entre a oferta


e a procura.

Este desencontro traduz-se numa perda de excedente social, uma vez que há consumidores
que estariam dispostos a pagar um preço que ainda era vantajoso para o produtor. A área de
“peso morto” representa, portanto, este bem-estar económico que é desperdiçado, em
resultado da qualidade de price maker do monopolista. Os seus efeitos de distorção do
mercado são de alguma forma semelhantes aos de um imposto, com uma diferença
fundamental: enquanto os impostos serão utilizados pelo Estado na produção de bens
públicos, a renda do monopolista vai satisfazer interesses privados.

Uma das formas de o monopolista minimizar estes efeitos é através da discriminação dos
preços. Supondo que uma empresa que produz e distribui um jogo para consola, e que dispõe
da seguinte informação de mercado:

a) Se o vender a 100€ terá 4000 compradores;

b) Se o vender a 30€ terá 100000 compradores;

Admitindo um custo marginsl próximo do zero, a opção racional, do ponto de vista do


monopolista seria a que lhe der mais lucro, ou seja, a opção A, uma vez que lhe permite ter um
lucro de 400.000€ ,ais 100.000€ do que se produzir 10.000 unidades

No entanto, essa opção rem um custo implícito que deve ser considerado: vai prescindir de
6.000 consumidores que estariam dispostos a pagar 30€ por aquele bem. Ou seja, mesmo
tomando a opção mais rentável está a prescindir de um lucro de 180.000€. Ora, isto é um custo
de peso morto:

 O mercado está preparado para absorver mais unidades e disposto a pagar um preço
superior ao custo marginal;

 Mas o monopolista estabelece o seu preço de acordo com a opção que lhe garante um
maior lucro total
Para tentar evitar esta perda, e se isso for viável, o produtor poderá discriminar o preço que vai
cobrar a diferentes tipos de consumidores, de forma a tentar chegar a todos os segmentos do
mercado. Se conseguir, aumentará simultaneamente o seu lucro privado e eficiência na
produção.

Esta estratégia beneficia claramente o produtor monopolista, e sendo utilizada num mercado
verdadeiramente monopolista, terá custos muito limitados termos de bem estar feral, uma vez
que vem permitir um alargamento do universo de consumidores relativamente ao que
aconteceria se o preço fosse único. Qual é, então, o problema? Sendo quase todos os
mercados de concorrência imperfeita, a discriminação pode vir criar monopólios onde eles não
existiam., nomeadamente ao nível da distribuição e não da produção.

Por isso, algumas destas estratégias de segmentação dos mercados por parte dos produtores
e distribuidores são ilegais: veja-se o roaming, que separava os mercados de
telecomunicações móveis dentro da União Europeia e, por isso mesmo, foi proibido.
E por esse motivo, normalmente, não é permitido ao produtor que proíba as importações
paralelas, ou seja, que impeça os seus distribuidores de revenderem a clientes que depois
exportem para outros mercados onde o produto seja mais caro. A estas estratégias do
distribuidor chamam-se operações de nivelamento, precisamente porque nivelam os preços
globais que diminuem os efeitos de discriminação.

Conclusões relativamente à discriminação de preços:

 Estratégia racional por parte do produtor, uma vez que maximiza o seu excedente

 Pode aumentar o bem-estar social, reduzindo a zona de “peso-morto” que mais


consumidores acedam aos produtos

 Pode ser atenuada por operações de nivelamento dos operadores que consigam “furar”
os esquemas de distribuição discriminatória, sobretudo, quando assenta em critérios de
distribuição geográfica: comprar onde é mais barato e revender onde é mais caro

Como se pode ver, na figura b desparece a zona de “peso-morto” que aparece na figura a.
Mas é uma situação quase impossível, porque pressupõe que o produtor consegue
estratificar perfeitamente os seus consumidores, e diferenciar os preços por forma a chegar
a todos de acordo com o que cada um estaria disposto a pagar. Por muitos estudos de
mercado que se façam, na prática, não é viável discriminar os preços com tanta acuidade, o
que significa que haverá sempre consumidores que não pagarão o preço pedido, embora
estivessem dispostos a pagar um preço superior ao custo marginal

A concorrência monopolística

A concorrência monopolística e o oligopólio são tipos de mercado onde se combinam


elementos daqueles 2 modelos puros, mas de maneira diferente:

 No oligopólio, temos identidade de produtos, mas muita pouca variedade de


operadores;

 Na concorrência monopolística, temos muitos operadores, mas diversidade dos


produtos oferecidos em função do nº de empresas

Mas existem diferenças importantes entre ambos:


 No oligopólio, por haver poucos concorrentes, cada um deles tem sempre algum poder
de mercado que lhe permite influenciar as decisões dos outros operadores. Isto significa
que o comportamento estratégico tem mais importância; Por outro lado, há poucas
empresas que repartem entre si o poder de mercado, fica mais facilitado o conluio entre
elas, ou seja, mais probabilidade de colusão entre as empresas oligopolistas

 Num mercado de concorrência monopolística isto não é garantido, porque, havendo


maior diversidade de concorrentes (menos que imperfeitos), cada um deles tem menos
poder de mercado e menos capacidade de influenciar os outros operadores. Mas, em
compensação, e de forma mais ou menos simétrica, tem um poder quase total sobre o
seu próprio produto, que sofre menos influência do comportamento dos rivais.

Como se caracteriza, então, um mercado de concorrência monopolística?


 Altamente competitivo…

 Muitos operadores;

 Grande variedade de produtos (concorrem imperfeitamente entre si)

 Liberdade de entrada e saída das empresas no mercado;

 Traços de mercados monopolistas…

 In substituibilidade perfeita dos produtos oferecidos;


 Grande liberdade na determinação do preço pelos operadores (price makers)

 O preço é sempre fixado acima do custo (e rendimento) marginal;

O que distingue estes mercados é, assim, o facto de os produtos oferecidos não serem
idênticos, mas serem similares, integrando-se num mercado genérico que abarca vários
produtos, ou melhor, várias versões diferenciadas do mesmo produto, mas como os produtos
são rigorosamente idênticos, e por isso não são totalmente substituíveis, aquele mercado
genérico não resiste a uma análise e a uma desagregação mais fina

Cada empresa tem, portanto, de certa forma, um monopólio sobre o seu próprio produto, por
ele ser único. Porém, a verdade é que muitas outras oferecem produtos similares, que acabam
por concorrer pela mesma fatia de clientela. Alguns exemplos, entre muitos:

 Mercados de artes;

 Roupa e artigos de design;

 Restaurantes;

 Produtos alimentares;

Claro que, não se tratando agora de modelos puros, nem sempre é fácil definir com rigor se
estamos ou não perante produtos idênticos, apenas similares ou verdadeiramente diferentes.
Como qualquer empresa que não se situe num mercado de concorrência perfeita, uma
concorrente monopolista vai enfrentar uma curva de procura descendente. E, assim, vai adotar
uma estratégia de maximização de lucro semelhante às empresas monopolistas:

 Determina a quantidade a produzir na interseção das curvas do rendimento marginal e


do custo marginal;

 Estabelece o preço do produto no ponto da curva da procura correspondente àquela


interseção;
Comparemos o que acontece Neste
no curto prazo
caso, consoante
a empresa dáuma
lucro:empresa dá lucro ou dá prejuízo:

 Curva da procura estendida para a direita;

 Preço fixado está acima do custo médio;

No curto prazo, esta empresa vai tentar conservar os seus lucros: para
isso tem de manter a procura naquele nível o que só conseguirá
mantendo a qualidade do seu produto introduzindo inovações que
tragam novos clientes;

E no longo prazo?

Num mercado concorrencial há liberdade de entrada e saída de empresas no mercado. Assim,


sendo, o sucesso desta empresa vai incentivar outras a entrar no mercado, e estas vão
oferecer produtos idênticos ou similares aos que já eram oferecidos

Havendo mais escolha, alguns consumidores vão transferir a sua preferência para outros
produtos, deslocando para a esquerda a curva da procura de cada empresa que já estava
instalada no mercado. Ou seja, a consequência imediata é a repartição por mais empresas do
lucro total proporcionado por aquele mercado, o que significa menos lucro para cada uma.

Esta tendência vai continuar até que o lucro das empresas se aproxime do zero, e assim deixe
de haver incentivo à entrada de novas empresas a oferecer produtos que concorram naquele
mercado. Ou seja, no longo prazo, o equilíbrio atinge-se quando as empresas deixam de ter
lucro económico.

Neste caso, a empresa, no curto prazo, regista prejuízos:


 Curva da procura à esquerda;

 Preço abaixo dos custos médios;

No curto prazo, esta empresa tem duas hipóteses:

 Reduz os prejuízos, diminuindo os custos ou conseguindo


aumentar a procura

 Sai do mercado

As empresas que ficarem, e forem capazes de sobreviver ao período inicial terão cada vez
menos concorrentes, porque muitas delas saíram. Isto significa que vão diminuindo
progressivamente os prejuízos pelo aumento da procura, uma vez que a clientela das
empresas que saem vai transferir-se para as que ficam.

Esta tendência vai manter-se até as empresas deste mercado imperfeito terem um prejuízo (e
lucro) zero, porque a partir daí deixa de haver incentivo à saída de mais empresas do mercado.
O equilíbrio atinge-se no ponto zero.
Neste gráfico, as curvas da procura (dá-nos o
preço) e do preço médio são tangentes: isso
significa que o preço iguala o custo, e que portanto
não há lucro económico.

O ponto de tangente entre a curva da procura e dos


custos médios situa-se exatamente acima da
interseção das curvas do rendimento marginal e
custo marginal.

Nestes mercados, o lucro máximo do empresário no longo prazo é zero.

Podemos concluir que os mercados de concorrência


monopolísitca apresentam 2 características essenciais, que os
colocam entre dois tipos estudados anteriormente:
1. Tal como um monopólio, o preço é fixado acima do custo marginal, isto porque o
concorrente monopolista tem controlo sobre o seu produto e pode ser ele a fixar o
preço;

2. Mas, tal como acontece nos mercados de concorrência perfeita, esse preço iguala o
custo médio total- isto explica-se porque há liberdade de entrada saída de empresas, e
portanto o lucro económico tende para o zero em função dessa entradas e saídas

Este 2º ponto mostra-nos a diferença entre monopólio e concorrência monopolísitca. Como, em


monopólio há barreiras muito fortes à entrada, existe apenas uma vencedora, que não sofre
qualquer pressão concorrencial por não haver outras candidatas a entrar naquele mercado.
Assim, sendo, e porque o monopolista não tem de ajustar o seu preço à diminuição da procura
que resulta da entradas de novas empresas, ele pode sempre manter o preço acima do custo
médio, e assim obter um lucro económico- que ultrapasse a soma dos custos financeiros e de
oportunidade.
Vamos agora comparar o comportamento, no longo prazo, de uma empresa num mercado de
concorrência perfeira e de concorrência monopolísitca. Existem 2 diferenças fundamentais:

 Excesso de capacidade, levam a ineficiência na produção de bens

 Markup ( margem de lucro que existe nos mercados de concorrência monopolísitca


mais do que existe nos mercados em concorrência perfeita).

Vamos ver como cada um dos mercados se comporta relativamente a cada uma destas
questões:
 Excesso de capacidade:

Em concorrência monopolística, as empresas vão produzir as


quantidades concorrentes ao ponto de tangente entre a curva
da procura e dos custos médios. Ou seja, vai produzir num
ponto em que os custos médios são ainda decrescentes

Isto significa que não produz no ponto de eficiência: esse


seria o ponto mais baixo da curva dos custos médios, em
que esta interseta a curva dos custos marginais.

Neste ponto de eficiência, ainda compensaria ao produtor produzir mais unidades adicionais,
mas isso não acontece. Por isso se diz que as empresas nos mercados de concorrência
monopolísitca têm excesso de capacidade: poderiam aumentar a quantidade e produzir numa
escala mais eficiente, diminuindo o custo médio. Não o faz porque nesse caso teria de baixar o
preço, e diminuir os seus lucros. Deste modo, fica, assim, muita procura por satisfazer.

Se o produtor optasse por produzir no ponto ótimi, ganharia com cada unidade vendida e
haveria procura suficiente para aproveitar este preço. Porém, ele vai parar no ponto em que lhe
é garantido o maior lucro. Isto leva a que haja, então, o problema de excesso de capacidade,
ou seja, poderia produzir mais, mas prevalece o seu interesse individual mais do que o bem-
estar social. Em conclusão, a escala que maximiza o lucro do empresário não é a mais
eficiente, o que melhor aproveita os recursos e que maximiza o bem estar social.

Ao contrário, as empresas em mercados de concorrência perfeita


produzem sempre no ponto ótimo de eficiência, uma vez que o
preço, custo médio e custo marginal se equivalem. Isto significa
que produzem sempre no ponto mais baixo da curva dos custos
médios, não desperdiçando capacidade nem recursos.

Por outro lado, e uma vez que, como acabou de dizer-se, nestes
mercados preço, custo médio e custo marginal se equivalem, é
indiferente às empresas terem mais um cliente, porque o preço vai
equivaler ao custo marginal.
O ponto ótimo de eficiência em que o produtor fixa a quantidade de produção é um ponto em
que este não irá ganhar mais por cada unidade adicional produzida, dado que o preço é igual
ao custo médio. Pleo que, o produtor produz sempre no ponto mais eficiente na capacidade de
produção.

Margem de lucro

Nestes mercados, tal como nos monopólios, cada venda a mais representa sempre um
aumento do lucro total, uma vez que o preço que esse cliente vai pagar excede sempre o custo
da unidade adicional (pois a curva da procura está sempre acima da curva do MR) e compensa
sempre produzir mais uma unidade.

O aumento do lucro total não quer dizer que a venda seja feita ao mesmo preço que as
unidades anteriores (se o empresário aumenta a produção, aumenta a oferta do mesmo e o
preço dimimui)

Por outro lado, nos mercados de concorrência perfieta (em que o preço, custo méfio e custo
marginal se equivalem) éindiferente às empresas terem mais um cliente, porque o preço vai
equivaler ao custo marginal.

IMPLICAÇÕES DE BEM ESTAR SOCIAL NOS MERCADOS DE CONCORRÊNCIA PERFEITA

1. O facto de o preço ser fixado acima do custo marginal traz custos de peso-morto:
haverá clientes que estariam dispostos a pagar um preço acima do custo marginal, mas
não estão dispostos a pagar o preço fixado. Ora, isto leva a que estas clientes não
possam adquirir o bem porque não há bens suficientes. Isto deve-se ao facto de o
produtor ter escolhido fixar a quantidade de produção num ponto em que não satisfaz
todos os consumidores
2. O facto de haver liberdade de entrada e saída das empresas traz simultaneamente
externalidades positivas e negativas, uma vez que o mercado está constantemente a
ganhar novas escolhas (com as empresas que entram e trazem novos produtos) e a
perder opções

A eficácia da publicidade na diferenciação dos produtos e na capacidade de angariação de


clientela (a regra é, quantos mais clientes tiver, maior será o lucro) e os gastos que as
empresas têm com ela, variam consoante o tipo de mercados:

 Muito alta em produtos de consumo altamente diferenciados: produtos alimentares,


vestuário…

 Muito pequena em produtos industriais, pouco diferenciados ou muito especializados

Segundo dados de 2015, o setor publicitário representava, em si mesmo, 1,3% do total da


atividade económica em Portugal, traduzida numa grande variedade de meios de dar a
conhecer um nome ou um produto. A questão que se coloca é a de saber se o uso de
publicidade é um fator que favorece ou limita a concorrência entre empresas. Há argumentos
em ambos os sentidos:

Argumentos a favor:
 Havendo, objetivamente mais informação, sobre preços, qualidade, características, os
consumidores ficam habilitados a escolher melhor opção

 Melhora as possibilidades de uma nova empresa entrar num mercado já ocupado, e dar
a conhecer o seu produto que vai concorrer com os outros já consolidados

Argumentos contra:
 Concorrência baseada em fatores psicológicos: lealdade irracional à marca

 Acentua artificialmente diferenças entre produtos que são, no essencial, idênticos e,


assim, permite aos empresários reforçar a sua posição monopolista, dentro desse
micro-mercado e aumentar a sua autonomia para cobrar um preço mais acima do MR

À margem deste debate, o investimento em publicidade tem outras virtualidades que, de


alguma forma, ajudam a explicar que setores abertos à publicidade têm, por regra, preços mais
baixos ou produtos de melhor qualidade:

 Demonstração de confiança do produtor na qualidade do produto


 Maior preocupação do produtor com o controlo de qualidade que garanta a fiabilidade e
homogeneidade do produto porque qualquer pequena mancha de reputação poder ter
consequências exponenciais a levar a perdas avultadas

OLIGOPÓLIOS
Os oligopólios são um caso de concorrência imperfeita:

 Há mais do que um operador, mas o seu número é reduzido

 Há identidade de produtos, portanto, os operadores não têm sobre o seu produto o


mesmo controlo que os concorrentes monopolísticos

 A liberdade de entrada e saída do mercado é, em regra, limitada

O número reduzido de operadores é, então, a característica principal e mais determinante


deste tipo de mercado e a que mais vai condicionar o seu funcionamento, isto porque cada um
deles tem alguma capacidade de intervenção no mercado, pelo que o comportamento de
qualquer um vai alterar os dados do mercado, influenciar os outros e fazê-los reagir. Por isso, o
comportamento estratégico tem aqui muita importância: tomar decisões pensando não apenas
no seu resultado imediato, mas igualmente nas consequências que terão as reações
posteriores dos rivais.

Há sempre dois impulsos contraditórios para os operadores destes mercados:

 Por um lado, sabem todos que a forma de potenciarem ao máximo os seus lucros é
cooperando, e não antagonizando-se no mercado: dessa forma, a tendência natural
será a de terem comportamentos de cartel, que são proibidos e severamente punidos
uma vez que são feitos à custa dos consumidores

 Por outro lado, cada um quer adotar a estratégia que lhe permita aumentar ao máximo o
seu lucro particular e essa estratégia é cooperação, mas, por isso, sabem que não
podem confiar em que os seus rivais sejam cooperantes.
 Num mercado concorrencial, havendo liberdade de entrada e saída de operadores qual
vai ser o preço? E a quantidade produzida?

Resposta: O preço será 0, porque, neste mercado, o preço iguala o custo marginal, que
também é 0. A quantidade produzida será a que é socialmente eficiente, ou seja, a necessária
para satisfazer a totalidade dos consumidores, neste caso, 120

 Num mercado monopolista, a quantidade produzida será a quantidade que maximiza o


lucro do produtor

Resposta: O rendimento marginal iguala o custo marginal (consegue ganhar mais mesmo
quando a quantidade oferecida não seja a eficiente social)

Neste exemplo, a quantidade produzida pelo monopolista seria de 60, com um lucro de 3600.

 Produzindo menos, estava a desperdiçar meios produtivos;

 Produzindo mais, estaria a perder lucros, ainda que se aproximasse mais do nível de
eficiência social

IMAGINE-SE AGORA QUE TEMOS UM DUOPÓLIO (DOIS PRODUTORES)

HIPÓTESE 1: os 2 produtores combinam a sua estratégia e formam um cartel

Aqui, tudo de passa como se estivéssemos perante um monopólio, uma vez que a estratégia
comum (não haverá concorrência) vai ser definida na perspetiva da maximização do lucro de
cada um dos participantes: a produção global seria de 60, e o lucro de 3600 repartido por
ambos. É o resultado mais lucrativo possível para os vendedores, mas socialmente ineficiente,
pois fica metade da clientela por satisfazer
Além disso, e agora na perspetiva das empresas envolvidas, criar um cartel levanta vários
problemas:

1. É proibido em Portugal e implica sanções pecuniárias (até 10% do volume de negócios


da empresa e da renumeração dos administradores)

2. Implica um entendimento entre os seus participantes quanto á repartição dos lucros


obtidos: muito difícil, porque quase sempre alguém vai querer ganhar mais

3. Programas de clemência que desincentivam a solidariedade dos membros

HIPÓTESE 2: não há cartel e concorrem sem qualquer acordo no mercado

Os operadores vão ter de encontrar um ponto de equilíbrio entre o lucro que podem obter, a
quantidade a produzir e o preço para a repartição dos lucros do oligopólio. A tendência natural
é que cada um resolva produzir metade da quantidade que garante maior lucro total (60). Cada
um produz 30, que vende a 60, e ganha 1800. Se nenhum dos concorrentes renunciar a
produzir o máximo que lhe for rentável, este será o lucro máximo que conseguem obter.

Contudo, como ambos querem maximizar o seu próprio lucro, é natural que a curto prazo um
deles resolva aumentar a sua produção para 40, porque isso lhe garantirá um lucro maior,
mesmo descendo o preço de 60 para 50 (agora a quantidade total será 70)

Mas ainda assim, porque o efeito-produção supera o efeito-preço, a empresa que aumenta a
produção vai ver os seus lucros a crescerem em 200

O problema é que a empresa rival, que está na posse dos mesmos dados, vai concluir que
também ela ganhará mais se aumentar a produção para 40, ainda que isso provoque, o
aumento global da produção e novamente, uma descida de preço por unidade que passa a
aplicar-se a todas as unidades oferecidas.

Ora, chegados a este ponto, se qualquer um dos concorrentes aumentar a sua produção para
50, o lucro será de 1500. Como é inferior, é preferível diminuir a produção. Ou seja, a partir
daqui, um aumento da quantidade produzida leva a que:

 Quem o fizer piora a situação individual;

 Piora a situação do rival

Por isso, ambos optarão por não alterar mais o seu comportamento, e manter a produção
naquele nível de preço e quantidade. Este ponto de equilíbrio é conhecido como Equilíbrio de
Nash.
CONCLUSÃO…

A produção total está mais próxima da que seria socialmente ótima uma vez que aumentou de
60 para 80

O preço está mais próximo do que seria praticado em concorrência perfeita

Que conclusão importante retiramos daqui?

É socialmente desejável que as empresas sejam obrigadas a adaptar os seus comportamentos


até encontrarem este equilíbrio, o que só acontece se mantiverem a sua plena autonomia de
decisão. É por esta razão que os carteis são considerados um comportamento tão grave: o
conluio permite às empresas que, através de um comportamento coordenado, aumentem o seu
lucro privado em prejuízo do bem estar social e dos consumidores, além dos outros
concorrentes que não participem no cartel

Para entendermos melhor o comportamento estratégico, olhemos para o dilema do prisioneiro.


Este dilema foi feito para que os economistas pudessem compreender as decisões quando há
pouca informação.

A decisão inicial de cada um foi de produzir 30 unidades, obtendo um lucro de 1800. Depois
disso, cada um tem a opção de manter ou aumentar a produção.

Se as empresas cooperassem inicialmente concordariam em produzir 30 e ganhar 1800. Mas


acontece que nenhuma delas tem a certeza sobre a estratégia da outra concorrente e, como
não acordaram uma estratégia (se o fizessem seria um cartel), os resultados ficam sujeitos a
que a sua estratégia dependa do comportamento do concorrente e ao risco do mercado. O
raciocínio será:

A. Consequências da decisão de manter a quantidade inicial 30:

 Se o rival também mantiver, ambos mantêm o lucro de 1800

 Se o rival aumentar, baixa os lucros para 1500

B. Consequências da decisão de aumentar a produção para 40:

 Se o rival também aumentar, ambos baixam os lucros para 1600

 Se o rival mantiver, aumenta os lucros para 2000


A melhor estratégia é, portanto, aumentar a produção de 30 para 40. É preferível seguir uma
estratégia de não cooperação porque não há certezas acerca do comportamento do rival. Para
a sociedade interessa que estas empresas não cooperem. Só desta forma vão tentar oferecer
melhor condições ao consumidor

Independentemente da estratégia do outro, qualquer um fica melhor se não cooperar. Ou seja,


tal como na versão original do dilema do prisioneiro, a não-cooperação é a estratégia
dominante que, provavelmente, vai ser seguida por rivais racionais, preocupados com o seu
próprio lucro.

CARTÉ
Num mercado oligopolista, as empresas vão competir entre si e nessa competição vão
aproximar-se do nível de produção mais eficiente e do nível de preço eficiente. Os acordos
entre as empresas são um facto normal, e mesmo imprescindível ao desenrolar de qualquer
atividade empresarial e podem ser benéficos para a economia.

No entanto, e dependendo do objetivo pretendido e dos efeitos esperados desse acordo, ele
pode relevar-se nocivo para a concorrência, prejudicando, para além do normal, os interesses
dos consumidores e concorrentes estranhos ao acordo

Os cartéis são acordos entre empresas pelos quais estas combinam condições de mercado
(preços de bens, bens que vão distribuir). São nocivos para o consumidor e para os
concorrentes excluídos dos cartéis.

Será que estes acordos promovem a concorrência e a eficiência da Economia ou será que irão
suprimir essa concorrência?

É isto que temos de saber. Por isso mesmo, um acordo entre empresas será sancionado
quanto a restrição excessiva da concorrência for uma consequência inerente ao seu objeto, ou
quando, não o sendo, seja um efeito expectável da sua concretização.

Existem 2 formas diferentes de avaliar o carácter restritivo dos acordos:

 Restrições/acordos por objeto- são aqueles que são sempre proibidos,


independentemente dos seus efeitos concretos. Este acordo não carece prova para o
seu carácter merecedor de sanção
 Restrições/acordos por efeito- é necessário convencer o tribunal de que a cláusula em
questão terá o efeito de restringir a concorrência.

Essa prova pode ser muito difícil, demorada e dispendiosa, baseando-se em:

 Estudos de mercado, que são caros e podem facilmente ser contrariados por outros
“estudos” em sentido contrário;

 Demonstrações de resultados e das quotas de mercado das empresas envolvidas, que


são difíceis de obter

 Demonstrações do próprio prejuízo

Alguns exemplos de acordos que configuram restrições hardcore:

1. Acordos de fixação de preços: mas apenas nas relações horizontais, não nas verticais

2. Acordos de repartição geográfica de mercados: 2 empresas concorrentes que decidem


uma delas vende no Norte e outra no Sul

3. Boicotes organizados a um concorrente: acordos pelos quais vários concorrentes, como


forma de impor condições a um determinado fornecedor, deixam de comprar/vender-lhe.

4. Licitações combinadas em concursos

Acordos proibidos são, então, aqueles que se traduzem numa concertação empresarial
consciente, que tem como objetivo substituir os riscos (normais) da concorrência num mercado
aberto por uma coordenação prática, obtendo com isso uma renda suplementar a expensas
dos consumidores

Essa renda traduz-se, normalmente, numa das seguintes situações:

 Aumento da quota de mercado, em prejuízo dos concorrentes

 Aumento dos preços, em prejuízo de empresas não concorrentes e, em ultima instancia,


dos consumidores finais

OS ACORDOS PODEM SER, POR ESTA


CLASSIFICAÇÃO:
Acordos Horizontais: são os celebrados entre 2 ou mais empresas situadas no
mesmo nível da cadeia de produção ou distribuição, isto é, concorrentes. Apenas estes
acordos interessam, pois são aqueles a que chamamos cartéis. Este tipo de acordos são
quase sempre proibidos

Acordo Vertical: são os celebrados entre empresas situadas em níveis diferentes


e, portanto, não concorrentes entre si.

VEJAMOS ALGUNS EXEMPLOS DO POSSÍVEL CONTEÚDO DESSES ACORDOS (artigo 9º)

1. Fixação de preços ou outras condições de venda

 Honorários;

 Descontos coletivos;

 Preços aconselhados ou indicativos;

 Pagamento: formas e condições;

 Garantias e reparações: prazo e condições

2. Limitação da oferta

 Quotas de produção;

 Renuncia de produção;

 Limitações de revenda;

3. Repartição de mercados

 Geográfico ou do produto;

 Grossista ou retalhista;

 Contratos públicos;

4. Discriminar parceiros comerciais

 Recusas de venda/fornecimento;

 Boicotes organizados
 Condições manifestamente diferenciadas;

QUANTO À FORMA, OS CARTÉIS PODEM SEM:

1) Acordos propriamente ditos, celebrados entre quaisquer agentes económicos


qualificáveis como empresas

Não estão sujeitos a qualquer tipo de formalismo, basta que se demonstre a existência desse
acordo de vontades para que, verificando-se que restringem a concorrência, sejam punidos.
Podem ser meramente verbais ou até tácitos, resultando de uma mera troca de informações
que cada uma das partes sabe que as outras interpretarão em determinado sentido. Mas
sendo demonstrada a sua existência, serão sempre nulos. A prova é cada vez mais difícil, em
função das sanções pesadíssimas e dos extremos cuidados que as empresas colocam nos
meios de comunicação, nos locais de reunião…

2) Práticas concertadas desses mesmos agentes

Comportamentos paralelos sem uma explicação económica racional, que não seja a indicada
acima: eliminar os riscos de mercado e garantir a todos uma participação nos lucros

Tem de ficar demonstrado que a prática resulta de uma vontade coletiva, e não de um
alinhamento inteligente de vontades individuais, provocado pelas condições de mercado e pelo
equilíbrio de Nash

3) Decisões de associações

Associações que congregam empresas ou agentes económicos que para estres efeitos lhe
sejam equiparados. Quem forma a vontade dessas associações são as próprias empresas.
Logo, é absolutamente razoável que as suas decisões sejam equiparadas a cartéis. Mas
atenção: para alguns efeitos não são considerados verdadeiros cartéis, por lhes faltar o
elemento de conluio

Principais condicionantes da eficácia dos


cartéis
 Nível de concentração do mercado: quanto mais concentrado num pequeno número de
empresas estiver o mercado, mais eficaz será o cartel

 Elasticidade da procura: quanto menos a procura reagir, mais eficaz será o cartel
 Efeito de substituição: quanto menos substitutos houver para o produto objeto de
cartelização, mais eficaz será o cartel

A justificação e autorização dos cartéis parte de um “balanço económico”, feito nos termos do
artigo 10º LdC e 101º/3 TFUE, pelo qual se demonstre que tem efeitos positivos que
compensam os efeitos negativos sobre a concorrência

É necessário, portanto, que se preencham 4 condições cumulativas:

a) Melhoria da eficácia ou do progresso técnico;

b) Benefício dos utilizadores;

c) Indispensabilidade da restrição;

d) Não-eliminação da concorrência numa parte substancial do mercado;

Ex: o professor considera que um exemplo de cartel benéfico, isto é, um cartel justificadamente
económico para a Economia, é a empresa Uber, uma vez que parece preencher todos os
requisitos referidos

Estas isenções podem ser:

1. INDIVIDUAIS… se requeridas pelas empresas especificamente para aquele acordo


mediante prova do preenchimento dos requisitos

2. POR CATEGORIA… se concedida em bloco para categorias genéricas de acordos que


se entende preencherem, na maior parte dos casos, aquelas condições. Por exemplo:

 Acordos de especialização

 Acordos de transferência de tecnologia

 Acordos de distribuição

 Franchising

 Licenciamento de Propriedade Industrial e Intelectual

Sanções aplicáveis aos cartéis

 Coima às empresas envolvidas, com o limite máximo de 10% do seu volume de


negociações;
 Coima aos administradores dessas empresas, com limite máximo de 10% da sua
renumeração anual

 Para cartéis envolvidos em concursos públicos, possível inibição de participação nesses


concursos até dois anos

 Em muitos países: penas de prisão para os administradores, por vezes superiores a 10


anos

RELAÇÕES ECONÓMICAS INTERNACIONAIS

1. RELAÇÕES ECONÓMICAS DE COOPERAÇÃO E


INTEGRAÇÃO
De uma forma geral, podemos enquadrar as Relações Económicas Internacionais em 2
grandes tipos genéricos, consoante os objetivos propostos: relações de cooperação ou de
integração

Nas relações de cooperação económica tem-se em vista a simples criação ou fortalecimento


de laços de solidariedade económica, sem que os Estados envolvidos abdiquem de parcelas
significativas da sua soberania e mantendo intacto o poder de determinar a sua política
económica a nível interno e externo.

Cooperar vai da vontade de cada um, ninguém é obrigado a fazê-lo.

A nível universal, o caso mais importante de cooperação e desenvolvimento económico é o


Banco Mundial. Existem outros exemplos, como alguns organismos e agências especializadas
da ONU para questões económicas e a própria OMC

Fora do âmbito das Organizações Internacionais, encontramos outras formas de cooperação,


como: auxílios ao desenvolvimento económico, que sobretudo, ajudam a financiar projetos
técnicos

Nas relações de integração económica, os compromissos assumidos pelos Estados envolvidos


implicam a renúncia a uma parcela da sua soberania económica. Numa relação de integração,
todos os Estados têm de estar dispostos a suprimir direitos aduaneiros aplicáveis às
transações comerciais entre os Estados envolvidos, harmonizar as políticas internas em
matéria fiscal, económica, orçamental e respeitar todas as obrigações e responsabilidades
inerentes à criação de uma união monetária
É preciso, portanto, haver forte vontade política nesse sentido e expectativa de um grande
ganho/benefício para os Estados se sujeitarem a todas as limitações à soberania inerentes.

A integração económica é um fenómeno tipicamente regional, mas existem em todo o mundo


zonas de integração. Todavia, apesar deste limite intrínseco, a integração económica
consegue ultrapassar diferentes tipos de barreiras que, á partida, poderia pensar-se que
condicionariam a sua eficácia ou possibilidade:

 Barreiras Geográficas: fenómeno presente em todos os continentes

-União Europeia: é a experiencia mais bem sucedida da integração económica. Passou


por todas as fases de integração e congrega, hoje, 28 Estados europeus.

-EFTA: impulsionada pelo Reino Unido, é uma ZCL criada pela Convenção de
Estocolmo com liberdade de circulação restrita aos produtos industriais.

 Barreiras Ideológicas: muitos dos Estados que pertenciam ao chamado “bloco


socialista” participaram numa experiencia de integração económica, o COMECON. Este
funcionava como zona de integração para certos tipos de mercado e adotou soluções
para facilitar o comércio e os pagamentos entre os seus membros

 Barreiras de desenvolvimento económico: muitos acordos de integração associam


comércio livre constituída entre a União Europeia e os chamados países ACP

MODALIDADES DE INTEGRAÇÃO
ECONÓMICA
O conceito de integração económica não é uniforme, como já foi dito, e abarca diferentes
modalidades ou fases, entre as quais os Estados poderão optar, de acordo com a sua vontade
e conveniência. As modalidades de que falaremos são tipos teóricos que raramente se
encontram em estado puro.

Normalmente não é necessária a existência de uma organização que coordene o processo. No


entanto, à medida que os laços se aprofundam será necessária alguma estrutura institucional.
A existência ou não de uma organização não é, por si só, um critério que nos permita avaliar o
aprofundamento de um projeto de integração económica. Isto é, não é preciso que haja uma
Organização Internacional para haver uma zona de integração económica, pode haver um
acordo institucionalizado.
Apesar de o elenco de modalidades de integração que se irá apresentar ser o que reúne mais
consenso entre os economistas, há autores que consideram uma mera concessão de
preferências comerciais.

FORMAS DE INTEGRAÇÃO ECONÓMICA:


1. Zona de Comércio Livre

Trata-se da modalidade mais simples de integração, consistindo na simples eliminação, entre


os seus membros, de todos os obstáculos à circulação de produtos deles originários. Esta
compreende um conjunto de 2 ou mais territórios aduaneiros e não apenas 1, uma vez que
cada um dos membros mantém a autonomia na definição da sua política aduaneira em relação
ao exterior da zona. Por este motivo, a liberdade de circulação limita-se aos produtos
originários dos membros da zona.

A solução passa por impedir as importações de circular livremente na ZCL e, para isso, é
preciso identificar a origem de cada produto. Todavia, atualmente, é difícil identificar com
precisão qual a origem dos produtos.

Ora, o conceito de ZCL não implica necessariamente que a liberdade de circulação se estenda
a todos os tipos de mercadorias, podendo dar-se o caso de tal liberdade ser restrita a
determinados tipos de bens.

2. União Aduaneira (UA)

Além do desarmamento aduaneiro já presente numa ZCL, o passo seguinte para a constituição
de uma UA é o acordo dos Estados na criação de uma pauta aduaneira comum, passando a
existir um único território aduaneiro e perdendo os seus membros a autonomia para formular a
sua política aduaneira perante países terceiros.

Deixa, assim, de haver razão para que a liberdade de circulação se limite aos produtos
originários do território da União, passando a estender-se a todos, independentemente da sua
origem.

A unificação dos territórios aduaneiros levantará, inevitavelmente, uma série de problemas


relacionados com os diferentes sistemas fiscais dos seus membros, com os pagamentos
internacionais feitos dentro da união, com os transportes, com a política monetária. Para a
resolução será quase sempre necessário proceder-se a reformas nas ordens jurídicas internas
dos seus membros, reformas essas que já levarão em si o germe da uniformização de muitas
políticas.
3. Mercados Comum (MC)

Aos elementos caracterizadores de uma UA, acrescenta-se agora a liberdade de circulação


dos fatores produtivos, em especial do capital e do trabalho. Isto significa que:

 Os capitais podem transitar sem limitações dentro desse espaço em busca da melhor
renumeração ou aplicação

 Qualquer cidadão, é livre de criar ou adquirir uma empresa noutra parte do mercado
comum

 Os trabalhadores nacionais de cada um dos Estados membros passam a poder circular


livremente pelo espaço do MC, aí podendo livremente celebrar contratos de trabalho e
prestar os seus serviços

Contudo, esta liberdade de circulação tem o sentido rigorosamente exigido pelas necessidades
de integração económica: quem goza daquela liberdade são os trabalhadores enquanto
agentes económicos, não todo e qualquer cidadão não-trabalhador dos Estados envolvidos.

Para garantir a real consagração daquelas liberdades de circulação é imprescindível


harmonizar, ou mesmo uniformizar, setores diversos como a legislação laboral, segurança
social, direito das sociedades, direito bancário, proteção industrial e intelectual. Não é
necessário que as políticas sejam iguais, apenas é preciso que os princípios estruturantes
sejam compatíveis. Quer isto dizer que conseguir criar com sucesso um verdadeiro mercado
comum tem implicações que vão além da simples integração económica, podendo ver-se aqui
o embrião de uma harmonização política.

Torna-se evidente que a integração não pode depender exclusivamente na boa vontade
conjuntural de cada um dos membros, sendo cada vez mais importante a transferência de
poderes para entidades supranacionais, que passarão a assumir os principais encargos na
coordenação das políticas nacionais e na elaboração da política comum.

4. União Económica e Monetária (UEM)

Só depois de atingido um alto grau de coordenação de muitas políticas económicas, e mesmo


a unificação ou centralização de algumas delas, se poderá pensar em avançar para a
constituição de uma UEM, o estádio final da integração económica. Não é pensável uma tal
transição enquanto não estiver inteiramente assegurada a plena liberdade de circulação dos
capitais, o que só se consegue depois de conseguida alguma convergência de indicadores
como a estabilidade cambial, a taxa de juro ou a inflação.
Enquanto não existir esse grau mínimo de convergência, a consagração da livre circulação de
capitais teria resultados práticos incomportáveis já que o investimento financeiro se canalizaria
para onde fosse maior a taxa de juro e menor o risco de depreciação cambial

Isto provocaria uma volatilidade nos movimentos de capitais inconciliável com os objetivos de
uma UEM

Numa UEM, a elaboração e execução da política monetária deixa de competir às autoridades


monetárias nacionais, transferindo-se para uma entidade supranacional e independente, a
quem passa a competir a estipulação da taxa de desconto o controlo da emissão de moeda, a
gestão das reservas cambiais dos Estados membros, a ou a intervenção nos mercados. É esta
entidade quem determina o valor externo da moeda comum, valor que resultará da sua oferta e
procura nos mercados cambiais

Esta transferência de soberania monetária, essencial à noção de UEM é, todavia, insuficiente


por si só: é necessário preencher outras condições que variam consoante a conceção. Numa
conceção maximalista, a UEM só será completada no momento em que as diferentes moedas
nacionais foram substituídas por uma moeda comum a todos os Estados membros. Já numa
aceção minimalista, este passo não será absolutamente necessário, uma vez que os principais
efeitos económicos e monetários da UEM podem atingir-se conjugando 2 medidas menos
drásticas: a fixação irrevogável das taxas de câmbio e a convertibilidade plena e ilimitada entre
as diferentes moedas.

A conjugação destas 2 medidas implica a eliminação do risco cambial entre as moedas


envolvidas uma vez que o seu valor relativo passa a ser invariável, assegurando a sua
variação uniforme perante divisas externas, e garante aos cidadãos o acesso ilimitado e
incondicional a todas as divisas internas. Todavia, se é certo que estes efeitos ficam
assegurados, existem outros que só a entrada em circulação de uma moeda única poderá
alcançar, como a total eliminação dos custos de transação entre as diferentes divisas e o
reforço do papel internacional da moeda unificada.

JUSTIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO


ECONÓMICA
O processo de integração económica implica uma série de custos para os Estados envolvidos,
como consequência direta da inerente perda de soberania:
 Renuncia a uma parte dos seus poderes em matéria aduaneira, isto é, ao poder de
determinar o montante dos seus impostos alfandegários ou a existência de obstáculos
às trocas comerciais

 É exigida maior coordenação, harmonização e uniformização de diferentes matérias do


Direito Interno de cada Estado

 Devido á perda de soberania, há a transferência para uma autoridade supranacional, da


generalidade das competências em matéria monetária e cambial

Tendo em consideração estes custos, nenhum Estado participaria em processos de integração


se não antevisse outras vantagens daí decorrentes para a sua economia interna e para o bem-
estar dos seus cidadãos.

MOTIVAÇÕES ECONÓMICAS

A eliminação das barreiras aduaneiras conduz ao alargamento (e posterior unificação) dos


mercados envolvidos, que por sua vez levará a um aumento da produção e do consumo em
toda a zona ou em parte desta, de onde resultarão diferentes benefícios para as economias
envolvidas.

 Operadores económicas têm um incentivo adicional para se especializarem na


produção dos bens ou serviços para os quais a economia está mais dotada, em ermos
de fatores produtivos

 Melhor exploração das vantagens comparativas detidas por cada um dos países
participantes, traduzida numa melhor divisão internacional do trabalho e numa melhor
dos recursos

 Aumento das economias de escala, ou seja, à diminuição dos custos de produção de


cada unidade adicional daqueles bens e serviços

 As liberdades de circulação promovem igualmente o aumento da concorrência dentro da


zona

 A integração beneficiária particularmente as pequenas economias abertas

A constituição de uma união económica e monetária traz outro tipo de benefícios para os
países envolvidos: ganhos de eficiência traduzidos na eliminação do risco cambial e dos custos
de transações monetárias dentro da zona, bem como os ganhos de informação e
transparência, dado que se utiliza uma mesma moeda.
Por outro lado, a concentração das competências monetárias, numa entidade supranacional,
conduzirá a uma ação integrada, e supostamente mais eficaz, no que toca aos objetivos de
estabilidade dos preços e da moeda. Se a a união for acompanhada pela criação de uma
moeda única, os Estados poderão diminuir as suas reservas monetárias, pois já não são
necessárias para fazer face às operações dentro da união. Esta moeda terá também, em
princípio, um maior peso internacional, uma vez que será utilizada em mais transações,
podendo passar a constituir moeda de reserva internacional, uma moeda de referencia na
estipulação de preços internacionais e um meio de pagamento aceite nas transações
internacionais

MOTIVAÇÕES POLÍTICAS
Para além da busca de vantagens económicas diretas, é natural que os Estados também
pretendam colher dividendos políticos, através:

 Alargamento da capacidade de negociação fora económicos e políticos

 Vantagens acrescidas para os Estados com menos protagonismo na cena política


internacional, que poderão capitalizar a seu favor peso político dos seus parceiros

 A integração política poderá servir para amortecer tensões políticas entre países da
zona, e até para criar uma espécie de consciência política comum para além da
económica

FUNDAMENTO TEÓRICO DO COMÉRCIO INT.

1. A ESCOLA CLÁSSICA

1.1 ADAM SMITH E A TEORIA DOS CUSTOS ABSOLUTOS

Para Adam Smith, o comércio entre nações justifica-se se algumas delas detiver, na produção
de determinado bem, aquilo que designou por vantagem absoluta. Ou seja, apenas convém a
um Estado importar bens do exterior quando o consiga fazer a um custo inferior ao da
produção doméstica do mesmo bem
Produzir uma unidade de cada bem em casa país custaria, no total, 260 horas de trabalho, o
mesmo resultado pode ser obtido com apenas 230 horas se cada um se especializar na
produção em que é mais eficiente. O que significa que se procedeu a uma melhor divisão
internacional do trabalho e a uma mais eficiente afetação dos recursos globais

1.2 DAVID RICARDO E A TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS

David Ricardo explicou os benefícios do comércio internacional não se limitam ás situações


descritas por Adam Smith. Ainda que um Estado detenha vantagem absoluta na produção de
todos os bens, terá sempre a ganhar se se especializar na produção daqueles em que for
comparativamente mais eficiente do que os seus parceiros, traçando-os por aqueles em que fr
relativamente menos eficiente e isto mesmo sendo capaz de os produzir ele próprio a um custo
absolutamente inferior.
Em conclusão, as políticas livre-cambistas (que facilitam e fomentam as trocas internacionais
de mercadorias) são preferíveis às políticas protecionistas. A criação e manutenção de
obstáculos ao comércio internacional (direitos aduaneiros elevados, restrições quantitativas)
tem efeitos contrários aos desejados: em vez de contribuir para a proteção dos produtores
nacionais, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores e da população em geral, diminui
a produtividade dos países ao não lhes permitir aproveitar da melhor forma as suas vantagens
comparativas, que recomendariam uma diferente afetação dos recursos produtivos

A teoria de David Ricardo constitui um dogma do pensamento económico que desde 1817,
alguns economistas têm chamado à atenção para certos vícios que o exemplo de Ricardo
contém. A especialização que Ricardo sugere implicaria enormes custos para as economias
envolvidas.

2. A ESCOLA NEO-CLÁSSICA
O ponto de partida do modelo neoclássico é a reformulação do conceito de valor-trabalho em
termos de custos de substituição: o custo de um bem passa a medir-se em função da
quantidade de outros bens aos quais temos de renunciar para o obter. Utilizando o exemplo de
Ricardo, o custo do vinho português não deve ter apenas em conta as horas de trabalho e o
capital utilizado na sua produção. É necessário atender à quantidade de tecidos que somos
forçados a deixar de produzir por força da especialização na produção de vinho. É com base
neste raciocínio que se traça, para cada país, a fronteira das possibilidades de produção: as
quantidades de diferentes bens que é possível produzir através de uma afetação ótima dos
recursos, proporcionando à população o máximo bem-estar económico.

A teoria das vantagens comparativas, conclui-se que as trocas internacionais de bes permite
às nações atingir um ponto mais elevado daquele fronteira, há que os seus cidadãos podem
consumir uma maior quantidade de bens sem ter de produzir internamente mais mercadores
do que em situação de autarcia.

Partindo deste raciocínio, a escola sueca explicou as razões para a especialização das nações
em virtude das desiguais dotações fatoriais entre umas e outras. É este o ensinamento
fundamental do teorema THO: cada país tende a especializar-se na produção dos bens que
empreguem de forma relativamente mais intensa os fatores de produção que possui em maior
abundância

Este Teorema parte de uma série de pressupostos: a identidade dos produtos e dos fatores de
produção, da tecnologia, das preferências dos consumidores, a identidade internacional de
funções de produção para idênticos, a existência de mercados de concorrência perfeita e a
ausência de restrições ao comércio internacional, a imobilidade internacional dos fatores de
produção. As coisas não são bem assim, pois as dotações fatoriais de cada país proporcionam
bens de qualidade diferente.

Ora, assim sendo, o comércio internacional acaba por traduzir-se na troca de fatores de
produção abundantes por fatores de produção raros, sendo aquela imobilidade fatorial
substituída pela mobilidade dos produtos nos quais se incorporam os fatores produtivos

No entanto, a especialização nunca seria total: os limites da especialização decorrem do


carácter crescente dos custos de oportunidade, ou seja, do sacrifício progressivamente maior
que representa a renúncia à produção de um bem com vista a canalizar os recursos
disponíveis para a produção de outros.

3. O PARADOZO APARENTE DE LEONTIEF


As limitações do teorema de THOS seriam trazidas pelo um estudo levado a cabo por Wassily
Leontief, no qual procurou determinar-se a validade do teorema confrontando-o com dados
relativos ao comércio externo dos EUA. Esperava-se que ao EUA exportasse bens em que
fosse aquele fator predominante, importando bens intensivos em fator trabalho. Não foi isso
que se verificou.

Verificou-se que o capital por trabalhador incorporado nas exportações americanas era inferior
ao capital por trabalhador incorporado nas importações americanas. Com o tempo foram sendo
adiantadas várias explicações para o paradoxo, tentando demonstrar que o problema não
estava no raciocínio de base do THOS, mas antes em alguns dos seus pressupostos.

A explicação mais aceite por Leotief, explica os resultados pela diferente produtividade dos
trabalhadores dos países considerados no estudo. Partindo, tal como o THO, do pressuposto
da homogeneidade dos fatores de produção, Leontief deu como adquirido que o trabalho de
um americano rendia o mesmo que o trabalho de qualquer trabalhador em qualquer país. A
conjugação dessas condições (organização ou melhores condições sociais e laborais) faria
com que a produtividade média dos trabalhadores norte-americanos fosse o triplo da
produtividade média no resto do mundo.

Outra explicação passa pela utilização de diferentes combinações de fatores na produção dos
mesmos bens utilizados pelos produtores de diferentes países: não se tendo levado essas
diferenças na devida conta muitos bens importados utilizariam provavelmente diferentes
proporções de trabalho e capital do que se fossem produzidos nos EUA. Neste sentido,
também a consideração de apenas dois fatores de produção terá contribuído para o
falseamento do resultado final, já que em muitos e importantes casos nenhum deles era
realmente o fator preponderante, mas sim a sua qualidade de recurso natural ou matéria-prima

Também a não consideração das preferências dos consumidores terá tido influência: o
rendimento mais elevado dos trabalhadores/consumidores norte-americanos permitia-lhes
adquirir bens mais caros e de melhor qualidade, como acontecia tendencialmente com os bens
capital-intensivos.

O pressuposto da inexistência de restrições às trocas comerciais com o fim de proteger o


mercado interna era irrealista. No período em que foi efetuado o estudo de Leontief, a política
comercial externa dos EUA era bastante protecionista, e especialmente orientada para a
proteção do emprego nacional e das industrias que empregavam mais quantidade de mão de
obra. Também este facto terá contribuído para um menor número de importações destes
produtos do que o esperado.

4. CONTRIBUTOS TEÓRICOS MAIS RECENTES


4.1 A TEORIA DA PROCURA REPRESENTATIVA OU DA SOBREPOSIÇÃO DE
PROCURAS
Em 1961, Linder tentou explicar o comércio internacional partindo de uma procura interna,
limitando a sua explicação ao comércio de produtos industriais. Assim, Linder realçou a
importância de uma procura interna forte na definição das características das indústrias
nacionais. É assim muito importante ter em conta as preferências dos consumidores, já que
serão essas a determinar a qualidade e o preço da produção doméstica.

Todavia, isto não explica por que razão, consumidores de diferentes nacionalidades, com
níveis de rendimento diferentes, compram bens produzidos no exterior. Segundo Linder, essa
explicação encontra-se nas sobreposições de procuras entre consumidores de diferentes
países. Em todos, há consumidores com poucas possibilidades económicas, tal como, mesmo
nos países mais pobres, encontramos sempre uma parcela de consumidores com
possibilidades acima da média. É nos espaços de procuras sobrepostas que há lugar para as
trocas comerciais

4.2 A TEORIA DA DIFERENÇA TECNOLÓGICA

Partindo do pressuposto neoclássico das diferentes dotações fatoriais, Posner chamou a


atenção para a importância das diferenças de desenvolvimento tecnológico. Essas diferenças
estimulariam a especialização e a correspondente aquisição de vantagens comprativas nas
áreas em que a tecnologia se mostrar mais determinante.

O comércio internacional explicar-se-ia, em parte, pelo facto de uns Estados disporem de


tecnologia a que os outros não têm acesso, que lhes permite serem o berço de inovações:
produtos/processos novos mais eficientes. O comércio internacional explica-se sempre que o
chamado intervalo da procura for inferior ao intervalo de imitação. Claro que a duração destes
intervalos varia muito de caso para caso, dependendo, entre muitos outros fatores, da
capacidade tecnológica dos concorrentes, da sua capacidade em substituir essa inovação por
outros fatores de produção disponíveis, da importância da inovação ou da sua procura nos
mercados internacionais.

4.3A TEORIA DO CICLO DO PRODUTO


Na análise de Vernon, a vida de uma mercadoria no comércio internacional passa por várias
fases distintas, determinadas pelas diferenças de desenvolvimento tecnológico e de
rendimento entre as nações. Numa versão simplificada, podemos resumir essas fases à
criação, consolidação e standardização do produto.

Na fase inicial (criação), o produto novo, provavelmente, será produzido e consumido num país
tecnologicamente desenvolvido, dotado em capital, com rendimentos altos e um mercado
vasto. Por várias razões: é onde mais se investe na investigação, tem os trabalhadores mais
qualificados e os consumidores com mais recursos. Ou seja, é aí que mais frequentemente
surgem inovações relevantes, e que os custos de produção iniciais podem ser amortizados
mais rapidamente por um mercado vasto.

Na segunda fase (maturação ou consolidação) a diminuição dos custos produtivos leva a um


aumento da procura internacional, o produto passa a ser consumido em larga escala em
países de rendimentos médios e a produção transfere-se em grande parte, para outros países.
Começa a haver também diferenciação da oferta com o objetivo de atingir mercados cada vez
mais vastos. O Estado acaba por tornar-se um importar líquido, pois o seu preço quando
importado já é inferior ao custo de produção interna.

Na fase de standardização, a inovação e o investimento em capital deixam de ser os fatores


determinantes. As empresas produtoras passam a procurar essencialmente países com mão
de obra que acabam por tornar-se os maiores fornecedores mundiais.

4.4A ANÁLISE DE MICHAEL PORTER


Esta análise distingue-se pela dificuldade em reduzir as conclusões a um modelo. Porter parte
da ideia segundo a qual cada Estado detém uma vantagem competitiva em certos nichos de
mercado só determináveis pela análise de cada caso concreto e tendo em conta quatro
grandes variáveis, que têm de estar verificadas para que uma industria possa ter sucesso:

a) Disponibilidade de fatores produtivos: nomeadamente fatores naturais, financeiros,


básicos e avançados ou dinâmicos

b) A procura interna: cuja importância é medida não apenas em termos de dimensão, mas
sobretudo por outras características, como sejam a sofisticação dos consumidores e a
sua capacidade de se anteciparem, em termos de preferências, a consumidores de
outros mercados

c) A existência dos setores relacionados e de suporte: que promovem a inovação e a


competitividade em certas áreas afins. O desenvolvimento destas indústrias de suporte
cria sinergias e favorece o aparecimento dos clusters.

d) Estratégia, estrutura e concorrência: O contexto ou ambiente empresarial em que a


empresa se movimenta, e que pode ser mais ou menos apto a incentivá-la a inovar,
melhorar e crescer de forma sustentada.
Estas 4 determinantes são completadas pela intervenção do Estado, e são representadas pelo
já celebre “diamante de Porter” de que se a seguir se reproduz uma das mais possíveis
ilustrações

A POLÍTICA COMERCIAL EXTERNA

ESCOLA CLÁSSICA DA ECONOMIA (ADAM SMITH E DAVID RICARDO)

A abertura dos mercados permite um aumento do bem-estar económico a tendencialmente


todos os participantes nas trocas comerciais, através do processo da especialização das
nações na produção dos bens ou serviços em que sejam mais eficientes

Os governantes privilegiam sempre o bem-estar dos seus nacionais em detrimento do bem-


estar global. Isto compreende-se facilmente se pensarmos que são os nacionais que o elegem.
Privilegiar os nacionais é, assim, uma questão de sobrevivência política, sobretudo em épocas
de crise económica. Este privilégio do interesse nacional faz-se sentir de muitas formas, que
podemos condensar em vários setores:

 Setores em situação difícil;

 Setores de especial interesse nacional;

 Correção de défices externos

 Cedência à pressão de grupos de interesse

AS INDÚSTRIAS NASCENTES E AS ECONOMIAS JOVENS

Quando uma indústria nasce, é legitimo querer protege-la, isto porque é recente e sofre de um
natural défice de competitividade, relativamente aos concorrentes já estabelecidos no mercado.
Uma forma de impulsionar e tentar equilibrar a concorrência é limitar a exportações de bens:

Este argumento é a única explicação aceite pela ciência económica para a criação e
manutenção de obstáculos ao comércio: a proteção tem por fim que equilibrar os concorrentes,
e não distorcer a concorrência.

PROBLEMAS:

 Escolha dos beneficiários (dificilmente será pacifica)


 Duração da proteção

A lógica do argumento é extensível a Estados de formação recente ou com problemas de


desenvolvimento económico. Por isso, a ajuda ao desenvolvimento constitui uma das zonas de
exceção na aplicação das regras da OMC

O DÉFICE EXTERNO
Quando importamos do exterior bens e serviço, temos normalmente que os pagar na divisa do
exportador. Assim, quanto mais importamos, maiores terão de ser as nossas reservas de
divisas estrangeiras, ou seja, não é possível manter indefinidamente uma posição externa
deficitária, porque isso conduz ao esgotamento das reservas monetárias e à impossibilidade de
continuar a fazer transações com o exterior. A aproximação dessa situação pode levar a que
um Estado restrinja as suas importações, para evitar ver-se na contingência de não ter divisas
suficientes para cobrir as suas necessidades e ter de entrar num processo de endividamento
internacional

OS GRUPOS DE INTERESSE
Teoria Económica da Política: os governantes nem sempre tomam as decisões favoráveis ao
bem comum, vendo-se muitas vezes na necessidade de agradar a grupos de pressão por uma
questão de sobrevivência política.

Temos de ter em conta outros fatores para perceber a perceção de cada um destes grupos
quanto às consequências de políticas de maior abertura ou maior proteção e a capacidade de
as influenciar:

 Análise de curto ou médio/longo prazo

 Capacidade de organização e mobilização

O único grupo a quem sempre interessaria uma maior abertura é o que tem menos capacidade
de se mobilizar e de influenciar as políticas públicas

CONCLUSÃO…

Tudo isto conduz a que, por vezes, os Estados se vejam inevitavelmente na necessidade de
adotar medidas que protejam a sua economia e os seus agentes económicos- produtores,
prestadores de serviços, eventualmente até consumidores- relativamente à concorrência
externa
EM TERMOS GENÉRICOS, ISSO PODE SER FEITO POR 2 MODOS DIFERENTES, MAS
COMPLEMENTARES:

 Limitando ou dificultando as importações: evitar que entrem no território bens ou


serviços que desviem a procura interna da produção nacional para a produção
estrangeira

 Promovendo a produção interna através de medidas públicas: permitir que os bens


oferecidos pelos produtores nacionais sejam oferecidos em condições artificialmente
mais vantajosas, por forma a conseguirem suplantar os que são oferecidos pela
concorrência e sem esse tipo de benefícios;

Estas duas vias mais genéricas são depois concretizadas em múltiplos mecanismos mais
concretos, que de resto estão em constante mutação e inovação à medida que vão sendo
combatidas e neutralizadas.

Os obstáculos às importações podem limitar as importações (desviem a procura) ou podem ser


diferentes (incentivos diretos às empresas através de subsídios para as empresas que
conseguem exportar mais)

OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA
COMERCIAL EXTERNA
 Mecanismos de restrição das importações:
 Direitos aduaneiros;

 Restrições quantitativas à importação;

 Obstáculos técnicos;

 Instrumentos de natureza monetária e cambial;

 Mecanismos de promoção da produção nacional:


 Subvenções;

 Dumping;

DIREITOS ADUANEIROS
Constituem o obstáculo mais clássico e mais frequente às importações, pois aliam a proteção
da indústria nacional à cobrança de receitas aduaneiras

São impostos criados num território aduaneiro e cobrados aquando da entrada (ou da saída)
de mercadores.

Relativamente ao modo de liquidação, podem ser de dois tipos básicos:

1. Específicos, quando se aplica a um valor fixo de importo a um bem/serviço,


independentemente do valor deste

2. Ad valorem, quando representam uma fração do seu valor, têm a dificuldade adicional
de obrigar a determinar o valor tributável da mercadoria, mas são muito mais justos do
ponto de vista de igualdade tributária, e por isso muito mais utilizados

Restrições quantitativas à importação (quotas)


São um obstáculo clássico às trocas comerciais, consistindo em limites (totais ou parciais)
impostos pelas autoridades aduaneiras à entrada ou saída de mercadorias do seu território

As restrições parciais podem ser estabelecidas em função de uma enorme variedade de


parâmetros, mas sempre com o mesmo resultado- proibir a entrada/saída de mercadorias uma
vez atingido o limite previsto:

 Fixação de um valor absoluto de importações;

 Fixação de um número limite de unidades a importar;

 Fixação de uma percentagem da produção nacional de produtos similares;

Conduzem a uma proibição de importar, em vez de um mero agravamento do preço da


mercadoria importada, pelo que são muito mais gravosas do que os direitos aduaneiros: uma
vez atingido o limite, não entram mais unidades do bem considerado, nem sequer com o seu
preço agravado por um imposto aduaneiro.

Ex.: no Estado X apenas são importadas bicicletas até um valor total de 500000€

Por essa razão, são expressas e quase absolutamente proibidas pela OMC

OBSTÁCULOS TÉCNICOS AO COMÉRCIO


Consistem na imposição do cumprimento de requisitos, protocolos ou formalidades técnicas,
alegadamente motivadas por interesses legítimos do Estado importador, mas de facto criadas
para dificultar, encarecer ou obstaculizar as importações

São muito difíceis de identificar por estarem escondidos sob o manto de normas técnicas,
elaboradas, controladas e avalizadas por especialistas. A forma de os combater é através da
negociação e adoção de códigos de normalização de práticas tidas por razoáveis.

Alguns exemplos comuns:

 Normas de qualidade, higiene ou segurança;

 Requisitos de informação ou tradução;

 Condições de transporte;

 Condições de desalfandegamento;

INSTRUMENTOS DE NATUREZA MONETÁRIA E


CAMBIAL
A moeda pode servir para aumentar a competitividade das exportações ou diminuir o das
importações. Pode ainda servir para inviabilizar as trocas com o exterior, por falta de acesso a
meios de pagamento. Isso é conseguido através de mecanismos que, apesar de
expressamente proibidos pelos estatutos do FMI, continuam a ser amplamente utilizados

SUBVENÇÕES
Uma subvenção à exportação tem um efeito de distorção da concorrência internacional, ao
fazer diminuir artificialmente o preço do produto/serviço exportado. Assim, ele torna-se mais
competitivo relativamente aos concorrentes internacionais que não beneficiaram desse
“prémio”

No entanto, e à escala do sistema comercial multilateral, é politicamente inviável impor aos


Estados limitações rígidas à sua prerrogativa de conceder subvenções às indústrias nacionais,
uma vez que análise de importância dessas indústrias e da sua necessidade de apoio
financeiro lhe compete apenas a si e de que não abdica em termos gerais.

Tratam-se de direitos aplicados com o intuito de compensar a atribuição de subvenção,


nivelando o preço de importação com aquele que o produto teria na sua ausência
DUMPING
Consiste na prática de preços predatórios por parte de empresas de grande dimensões,
capazes de suportar prejuízos durante algum tempo e vender os seus produtos a um preço
inferior ao seu valor real com o objetivo de eliminar a concorrência nos mercados de
exportação, para depois reajustar os preços para os valores normais.

A reação mais eficaz é assim a de neutralização dos efeitos, e não a de repressão da prática.
Essa neutralização faz-se através dos direitos anti-dumping (mecanismos em tudo semelhante
ao dos direitos compensadores: sobretaxas aduaneiras cobradas aquando da importação,
destinadas a colocar o preço do produto ao nível do que seria o seu “valor normal”

A PERVESÃO DO SISTEMA ATRAVÉS DAS PRÁTICAS


NEO-PROTECIONISTAS
Quando, após algumas rondas de negociação, os direitos aduaneiros foram diminuídos em
cerca de 2/3 e o recurso a quotas eram liminarmente proibidos, a proteção dos mercados
internos passou a ser feita através de outras formas:

 Obstáculos técnicos

 Manipulação do valor aduaneiro

 Manipulação das classificações pautais

 Obstáculos ao investimento

 Acordos de autolimitação das exportações

 Cobrança abusiva de direitos compensadores de anti dumping

 Inovação abusiva de medidas de salvaguarda

CONCLUSÃO
Por muito que tente controlar-se a criação e aplicação de mecanismos de proteção dos
mercados, eles hão de existir sempre, e de uma forma cada vez mais complexa e sub-reptícia

A omc e a regulação do sistema comercial multilateral


O atual SCM, consiste numa rede de acordos multilaterais que regulam alguns aspetos
essenciais do comércio entre os Estados, e que são geridos pela OMC.

Não abrange formas mais avançadas de integração económica prosseguidas, também elas,
apenas a uma escala bilateral ou plurilateral, e quase sempre numa perspetiva de integração
regional. Estes fenómenos podem assumir formas muito diversificadas e graus de integração
muito variados. Há 4 grandes tipos:

 Zona de comércio livre;

 União aduaneira;

 Mercado comum;

 União económica e monetária;

Este tipo de integração económica não é pensável a uma escala global, uma vez que a
diversidade de graus de desenvolvimento, padrões sociais e culturais e modelos económicos
não permite um consenso de paz capaz de a suportar. Hoje, os acordos regionais representam
uma fatia muito grande do total das trocas internacionais- isto é muito importante para efeitos
da aplicação do mecanismo de exceção previsto no artigo XXIV GATT, porque significa que há
uma parte muito importante das trocas que escapa à disciplina multilateral

Gatt
Resultou de uma proposta endereçada pelos EUA, aos Aliados em 1945 na sequencia da qual
o Conselho Económico e Social da ONU convocou uma Conferencia Internacional, realizada
em Genebra em 1947. Dessa Conferência viria a resultar um Acordo (em forma simplificada),
assinado e que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 1948: GATT

Nesta Conferência decidiu-se igualmente a criação de uma Organização Internacional do


Comércio, com competências muito vastas mesmo se comparada com a atual OMC. A sua
Carta constitutiva seria aprovada em 48 na Conferência de Havana, mas nunca entraria em
vigor por não recolher um número suficiente de ratificações

O que se pretendia com o GATT era completar o triângulo internacional das relações
internacionais que a Conferência de Bretton-Woods deixou incompleto:

 Questões monetárias: FMI

 Ajuda à recuperação e desenvolvimento: BIRD


 Regulação das relações comerciais

O GATT funcionava por rondas. Durante as 4 primeiras rondas negociais, os objetivos do


GATT resumiram-se ao essencial:

o Redução do nível médio dos Direitos Aduaneiros, cujo nível médio desceu de cerca de
40% para menos de 13%

o O controlo da observância de outros princípios instrumentais por parte dos seus


membros

Apenas a partir do “Kennedy Round” se começou a notar uma preocupação com outros
aspetos, tratados em diversos Acordos Setoriais

Problema: estes acordos tinham, então, uma natureza meramente plurilateral, vinculando
apenas os respetivos signatários. Isto trouxe ao sistema uma série de desequilíbrios que não
existiam inicialmente.

a) Incerteza quanto ao regime a aplicar a cada um dos membros

b) Diversidade de regras relativas à resolução de litígios

c) “Free-riders” (passageiros clandestinos)

d) Grande dificuldade de gestão destes acordos e do seu cumprimento, uma vez que a
estrutura institucional do GATT era muito precária

Atendendo aos objetivos a que os seus criadores se haviam proposto, a todas as dificuldades
políticas e económicas que atravessou, à sua grande limitação de meios, que balanço fazer
dos 50 anos de funcionamento do GATT?

Em geral, muito positivo. No entanto, e em particular, o modelo já não era capaz de responder
a uma série de problemas causados pelas suas próprias limitações:

 Inexistência de uma estrutura internacional capaz;

 Exclusão de muitos setores, e alguns porque nunca tinham feito parte do sistema

 Novos temas nunca abordados e mesmo parecendo não estar diretamente relacionados
com os fluxos comerciais transfronteiriços começam a ter uma importância cada vez
maior

 Tornar o sistema verdadeiramente multilateral


Sobretudo a partir dos anos 70, o sistema começou a ficar progressivamente fragmentado,
porque nem todos os membros eram partes nos acordos concluídos. Para além de prejudicar a
governabilidade do GATT, tornava-o um sistema progressivamente desequilibrado em termos
das cedências de cada membro.

Por todas estas razões, em 1995 entrou em funções a OMC, que veio suceder o GATT
enquanto centro institucional de decisão das relações comerciais entre Estados

A criação da OMC culminou a mais longa ronda de negociações da história do Acordo que se
iniciou em 1986 e ficou conhecida como Ronda do Uruguai

QUESTÕES INTERNACIONAIS
Conta com 164 membros, dos quais uma parte considerável são países em desenvolvimento, o
que faz com que as questões dos desníveis de desenvolvimento tenham de ser tidas em conta
na negociação e aplicação das regras. Os países em desenvolvimento têm um estatuto
especial, nomeadamente: período de transição mais longo e regime de exceção quanto a
algumas obrigações substantivas

O critério mais imediato seria o do PIB per capita: no entanto, os exemplos extemos da china e
da Guiné Equatorial mostram que não é viável.

Por isto, co critério tem sempre sido o da autoeleição: cada membro reclama por si o estatuto
de PVD, que pode depois ser posto em causa pelos parceiros

 A conferência Ministerial é o órgão máximo da OMC

 O expediente fica assim a cargo do Conselho Geral e dos seus inúmeros Conselhos e
Comités e do Secretariado.

 A tomada de decisões é feita por consenso, sendo que qualquer membro dispõe de
poder de veto e pode requerer uma votação formal, por maioria absoluta

CRÍTICAS QUE TÊM SIDO APONTADAS A ESTE MECANISMO:

 Preservação do statuos quo: se apenas se provam medidas consensuais, não é


possível alterar muita coisa

 Submissão dos membros mais fracos aos “poderes de facto”: raramente esses
membros se atrevem a contrariar a vontade dos membros mais poderosos

 Uma falta de transparência e de democracia que se torna transversal a todo o sistema


Uma vez que seria de facto impossível negociar a 164, a prática de tomada de decisões segue
o método dos “green room meetings”- sempre que se torna necessário discutir um tema,
constitui-se um grupo de discussão e negociação mais ou menos informal, em que estão
sempre representados os principais membros, ou pelo menos, um ou dos representantes dos
grandes blocos

PRINCÍPIOS GERAIS DO SISTEMA OMC


 a cláusula da nação mais favorecida;

 o princípio do Tratamento Nacional

 a proibição das medidas não-tarifárias

 o abaixamento progressivo dos direitos aduaneiros

 a proteção da concorrência, através da neutralização do dumping e das subvenções

A CLAÚSULA DA NAÇÃO MAIS FAVORECIDA

É considerada a trave-mestre do GATT e de todo o sistema multilateral, através da qual se


potencia a uniformidade de direitos e obrigações de todos os membros e por essa via a
multilateralização das concessões

A ideia base é simples: se as preferências promovem as relações bilaterais, assim impedindo


uma maior multilateralização do sistema, a melhor forma de as neutralizar é retirar-lhes a
natureza de preferências impondo a sua extensão a todos os parceiros: deixa assim de ser
uma vantagem especial e negociada entre dois Estados, tornando-se numa cláusula
multilateral

A sua consagração no GATT exponenciou a sua capacidade de multilateralizar as negociações


pautais e as práticas aduaneiras em geral, graças a uma série de fatores:

 grande número de aderentes

 funcionamento automático, imediato e incondicional, não dependendo a sua invocação


de qualquer circunstancia externa

 não se limita a estender concessões feitas no âmbito do GATT, obrigando os seus


membros a conceder aos demais o melhor tratamento dado a qualquer parceiro
comercial, ainda que esse não seja membro da OMC
 o alargamento do seu âmbito para além dos direitos aduaneiros, passando a abranger
qualquer comportamento suscetível de favorecer as trocas com algum parceiro
comercial

As preferências Históricas…

Foram um dos pontos mais controversos aquando da negociação final do GATT excluindo
alguns regimes preferenciais que lhe eram anteriores e que os signatários iniciais não tinham
condições económicas para eliminar

A ajuda ao desenvolvimento…

Funciona através da chamada cláusula de habilitação que bem autorizar que as preferências
comerciais concedidas aos PVDs não sejam estendidas a todos os membros da OMC. Tem um
carácter tendencialmente evolutivo- em principio as preferências deveriam ser retiradas à
medida que a evolução da situação económica do beneficiário o permitia.

A integração económica…

É a exceção mais importante, e que implica a subtração do maio volume de trocas ao


funcionamento da CNMF. Os seus membros teriam que optar entre um ou outro estatuto U se
a qualidade do membro da OMC não fosse compatível com a de parte de uma zona de
integração)

Na prática, significaria a impossibilidade de criar espaços de integração económica, uma vez


que não era possível limitar os benefícios ais seus intervenientes. Seria um resultado
contraproducente, uma vez que as zonas de integração económica contribuem elas próprias, à
sua escala, para a libertação das trocas e trazem benefícios económicos e políticos para os
seus membros
O artigo XXIV do GATT estabelece, porém, alguns requisitos para que esta exceção possa ser
aplicada, por forma a manter algum controlo dobre a utilização deste mecanismo e sobre o
nível de integração económica que os seus membros prosseguem:

 a integração tem que ser tendencialmente total, e não parcial

 a nova pauta aduaneira não pode aumentar os obstáculos às trocas com o exterior

 a OMC tem que ser notificada do projeto e de todas as suas alterações, devendo o
mesmo estar concluído no prazo máximo de 10 anos

O PRINCÍPIO DO TRATAMENTO NACIONAL


A CNMF consagra um princípio de não-discriminação dos diferentes parceiros comerciais,
proibindo diferenças no tratamento aduaneiro das importações. Mas já não proíbe a
discriminação a outros níveis, já não aduaneiros, entre produtos importados e domésticos.

Assim, os benefícios proporcionados pela CNMF poderiam ser neutralizados, se fosse possível
proteger o mercado interno recorrendo a medidas exclusivamente não aduaneiras- fossem elas
fiscais, administrativas ou outras.

Apenas podemos comparar as medidas que lhes são aplicáveis se eles foram, em si mesmos,
comparáveis- comparabilidade dos próprios produtos

1. A identidade substancial dos produtos

Temos aqui duas possibilidades, cada qual com os seus próprios critérios:

1.1 Produtos idênticos

Japan- Alcoholic Beverages: o conceito de produto similar tem de ser interpretado de forma
estrita, para se distinguir do de produto concorrente, sob pena de a distinção feita no acordo
não ter efeito útil.

Nesse sentido, os critérios para aferir esta similaridade terão de ser estabelecidos caso a caso,
e poderão ser os seguintes:

 Utilização final;

 Gostos e hábitos dos consumidores;

 Propriedades, natureza e qualidades do produto

 Classificação pautal
No fundo, aquilo que aqui se tenta aferir é se entre dos produtos existe uma relação de
substituibilidade quase perfeita, e não uma relação de mera sucedaneidade

1.2 Produtos concorrentes (não perfeitos) ou substituições

Canada: Periodicals: revistas com condições diferentes nos diferentes mercados são
concorrentes?

A jurisprudência do GATT/OMC tem defendido que há discriminação, para estes efeitos


quando se verifique uma dupla condição:

Diferença objetiva no tratamento fiscal de produtos similares

Que não seja explicada por objetivos de política fiscal interna

O PTN está claramente vocacionado para ser aplicado aos impostos e taxas que afetem o
preço da venda dos produtos de forma direcionada:

 Iva;

 Outros impostos ou taxas cobradas pelo vendedor

 Impostos específicos sobre o consumo

Ficam excluídos, assim:

 impostos sobre o rendimento, porque não são aplicados aos produtos

 impostos aduaneiros, porque não são imposições internas

Relativamente a estes últimos, a qualificação pode não ser tão simples como parece. Por
vezes, há medidas tarifárias aplicadas na alfândega que devem ser consideradas como
imposto. Assim, a primeira questão a resolver quando seja invocada a primeira vertente do
PTN é a de saber se estamos ou não perante medidas tarifárias internas, relevantes para
efeitos do artigo III.

Da mesma forma, apesar de a taxa ser o elemento mais imediatamente visível, ele aplica-se a
todo o processo de liquidação:

 deduções autorizadas

 os benefícios fiscais
 a forma de determinação do valor coletável

 as garantias

Nos termos do GATT (artigo XI) é interdito o estabelecimento de restrições quantitativas com o
fim de proteger o mercado interno: entre os obstáculos “clássicos” ao comércio internacional só
os direitos aduaneiros são, portanto, legítimos

Esta proibição foi contornada durante algum tempo com os acordos de autolimitação das
exportações, que foram proibidos em 1995.

O GATT tem como objetivo a redução progressiva dos obstáculos ao comércio, que como se
viu devem consistir, de forma tendencialmente exclusiva, em direitos aduaneiros.

As concessões pautais são negociadas multilateralmente, consolidando-se após a aprovação


dos acordos em que sejam incluídas: só podem ser alteradas após um período de 3 anos.

Essa alteração só é possível mediante uma renegociação que envolva todos os membros que
possam ser afetados pela modificação, e que deverão ser adequadamente compensados

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