Rotinas Trabalhistas
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Gerenciamento de Equipes
Já a segunda fotografia, mostra a nossa seleção masculina de voleibol. Se lembrarmos dos jogos
de vôlei, perceberemos que neles está presente a melhor definição de equipe, que é a de um
grupo pequeno de pessoas com um objetivo comum, com metas específicas de desempenho, que
têm habilidades complementares e uma metodologia sobre como atingir aquele objetivo.
Uma equipe é um grupo de pessoas, mas nem todo grupo de pessoas é uma equipe.
No ambiente de trabalho, muitas vezes, convivemos com grupos e algumas vezes formamos
uma equipe.
Em uma equipe, seus membros se sentem mutuamente responsáveis pelo desempenho conjunto.
As pessoas se sentem interdependentes, isto é, elas têm consciência de que todos seus membros
são igualmente importantes e que atingirão os objetivos ou fracassarão juntos.
Você já deve ter pensado ou pelo menos ter ouvido falar sobre o fato de que “nossa seleção
nacional de futebol tem os melhores talentos individuais do mundo, mas, ao mesmo tempo, não
atua como um time e, muitas vezes, acaba fracassando”.
Uma explicação pode se dever ao fato de que, quando as pessoas que fazem parte de um grupo
tentam se sobressair como indivíduos, elas estão formando uma “pseudo-equipe” (uma equipe
de mentira). Elas não estão jogando pelo resultado do time e sim por seus interesses e vaidades
pessoais.
Um líder, como o técnico da seleção, por exemplo, pode ajudar muito nesse processo (por isso
se elogia tanto o Bernardinho e o Felipão), mas não conseguirá mágica alguma se os membros
do time não atenderem aos requisitos de uma equipe de verdade.
Já essa mesma reunião de pessoas é chamada de equipe quando o resultado que se busca é feito
em função do todo e, neste caso, os objetivos individuais são considerados em segundo plano,
pois, quando algo é alcançado, o resultado sai em nome da equipe e beneficia a todos,
independentemente de a meta ter sido atingida pela ação de um membro isoladamente.
Na prática de uma empresa, não há equipe ou grupo puros e, portanto, para fazermos essa
diferenciação, podemos utilizar alguns critérios:
bom senso;
predominância;
comportamento;
grau de comprometimento;
formato da ação;
compartilhamento dos resultados; e
as ações de celebração.
Esses critérios podem ser claramente observados quando assistimos ao programa “O Aprendiz”,
que foi exibido pela Rede Record de Televisão.
Como as empresas são sistêmicas, o objetivo do gestor deve ser a busca pela formação de
equipes.
Já trabalhar junto significa ter a obrigação de apresentar resultados com a ajuda de outras
pessoas, mas sem que isso seja algo construtivo para ambas.
Por isso, o trabalho em equipe é uma exigência que sempre aparece nos processos de seleção
das empresas, quando, nas dinâmicas de grupo, o profissional de recursos humanos verifica
como cada candidato se comporta diante de desafios que precisam ser solucionados em
conjunto, bem como de que forma cada participante lida com seu colega/concorrente.
Essa prática está cada dia mais presente no trabalho diário de profissionais de diferentes áreas
de atuação.
Sendo assim, a clareza na comunicação permite que os problemas sejam mais bem
compreendidos e tenham soluções rápidas. Agilidade, flexibilidade e criatividade são, pois,
fatores decisivos para o sucesso.
Liderança e chefia
Anteriormente, discutimos a diferença entre grupo e equipe. No caso da equipe, falamos do
importante papel de quem a lidera, ou seja, o papel do líder.
Pode-se dizer que liderança é o processo de influenciar pessoas no sentido de que ajam em
benefício dos objetivos da instituição. É a capacidade de levar alguém a cooperar
espontaneamente. Um exemplo: Quando um gerente não tem liderança, os funcionários adotam
a estratégia de fingirem que fazem ou que obedecem e fazem o mínimo necessário para não
perderem o emprego.
Teoria X – é uma abordagem chamada de tradicional, envolve convicções negativas a respeito
das pessoas e influencia o estilo de administração dos gerentes, moldando-os em características
autocráticas e impositivas.
Líder é aquele que se enquadra na teoria Y, segundo a qual o mesmo tem respeito às pessoas e
às suas diferenças individuais.
Mais tarde, através dos estudos de Elton Mayo (estudo de Hawthorne), incorporaram-se novas
variáveis ao processo de gerência, como, por exemplo, a necessidade de reconhecimento,
segurança e sentido de pertinência. A descoberta desses fatores promoveu a primeira grande
mudança na forma de conduzir a empresa e os seus empregados.
Como consequência disso, houve mudança dos parâmetros que definiam um bom chefe.
Podemos dizer que houve uma mudança de enfoque, mas não uma alteração significativa no
modo de lidar com as pessoas dentro da organização, pois elas continuavam sendo vistas como
um instrumento para conseguir algo.
Liderar é liberar a capacidade criativa das pessoas, visando atingir objetivos de acordo com os
valores da organização. Isso requer um alto nível de comprometimento e traz dupla exigência:
primeiro que a liderança seja digna da confiança dos seus liderados e segundo que os liderados
sejam dignos da confiança do líder. A confiança, ao mesmo tempo em que é recíproca, pode ser
também uma consequência das atividades do líder.
O líder não é aquele que consegue resultados através das pessoas, mas com as pessoas.
Fazendo uma breve análise, pode-se observar que, no primeiro caso (através das pessoas), as
pessoas são usadas para, por meio delas, se atingir um objetivo. Já no segundo caso (com as
pessoas), o resultado é a consequência natural do processo de liderança e as pessoas estão em
primeiro lugar, frisando a ideia de união - as pessoas, o líder e a empresa. Assim, pode-se atingir
um ponto onde a confiança mútua é manifestada, havendo líderes e liderados realmente
trabalhando em conjunto, em prol de um objetivo comum.
Liderança e dominação
Muitos autores fazem uma diferenciação entre chefe e líder, outros chamam de patrão e líder.
Observe com atenção a seguinte lista, pois nela há uma distinção clara entre liderança e
dominação.
Para exemplificar e deixar mais claras as diferenças entre patrão e líder, vamos examinar a
tabela 1, apresentada por Penteado (1981).
PATRÃO LÍDER
Manda Orienta
Amedontra Entusiasma
Atrapalha Ajuda
Fiscaliza Acompanha
Desmoraliza Confia
Este paralelo mostra os diferentes pontos de vista de quem chefia e de quem lidera. É preciso
realizar um esforço para ampliar a visão das empresas no sentido de acreditar que, além das
qualificações de gerenciamento, são necessárias também as qualidades de liderança, a fim de
que a eficiência e a eficácia sejam alcançadas e o êxito seja concretizado.
Para sustentar as mudanças necessárias, é preciso uma transformação pessoal dos níveis
superiores das organizações, que capacite os profissionais a responder e não a reagir aos
desafios.
Lendo tudo isso parece fácil, mas precisamos considerar que toda mudança gera muito conflito
e ocorre lentamente, em estágios.
O fato é que, enquanto muitos dirigentes estão paralisados pelas possíveis consequências das
mudanças listadas, principalmente sobre o seu estilo de gestão, seus competidores podem ter
reconhecido serem elas o elemento-chave para criar organizações eficientes e de sucesso
financeiro.
Podemos concluir que o verdadeiro líder é aquele que percebe essa realidade e tem consciência
de que não basta apenas conseguir resultados. É necessário pensar sobre o modo pelo qual se
obtém tais resultados.
Criatividade e inovação
Existem várias definições para criatividade. Todo ser humano possui criatividade em diferentes
habilidades. Acredita-se que a habilidade criativa das pessoas esteja, de certa forma, ligada a
seus talentos.
Leia a seguinte definição:
Podemos entender criatividade como: habilidade de combinar ideias de uma forma única
ou de fazer associações pouco comuns entre ideias.
Vamos observar e analisar exemplos que encontramos à nossa volta para tentarmos entender
mais claramente o conceito de criatividade.
Essa palmeira típica da região amazônica é uma espécie nativa, bastante comum no estado do
Tocantins. Você já pode tê-la visto em sua cidade, ou pela televisão.
O fruto dessa palmeira, babaçu, quando quebrado, revela a presença de uma amêndoa rica em
óleo vegetal. Sendo assim, o instinto de sobrevivência fez com que os homens que surgiram
nessa região percebessem que essa amêndoa poderia ser comestível e se tornar uma rica fonte de
calorias.
O homem passou a colher o babaçu, não apenas para se alimentar de sua castanha, mas também
para produzir outros alimentos derivados dessa castanha.
Esse pode ser um exemplo de criatividade: aproveitar um produto comum na região, como é o
caso do babaçu, para se alimentar e aplicar nele uma tecnologia (ainda que bastante simples)
com o intuito de manufaturá-lo e transformá-lo de acordo com suas necessidades.
Algumas pessoas entendem a criatividade como uma atividade de ficar em torno de ideias até se
deparar com a ideia certa. Embora isso funcione para algumas pessoas, muitas situações da vida
real requerem uma abordagem mais estruturada.
Processo criativo
Durante o processo criativo, frequentemente distinguem-se os seguintes estágios:
A liberdade para experimentar é essencial para a criatividade, como também alguma disciplina
para assegurar objetividade e consistência.
Seja qual for o nível de estruturação adotado, o processo criativo se fundamenta em três
princípios:
Essas três ações mentais formam uma estrutura integrada em que se baseiam todos os métodos
de pensamento criativo. As diferenças entre os diversos métodos encontrados na literatura estão
na ênfase dada a cada um desses princípios e nas ferramentas usadas.
Inovação
Significa novidade ou renovação, refere-se a uma ideia, um objeto ou método que é criado e que
pouco se parece com padrões anteriores. Hoje, a palavra inovação é muito usada no contexto
das ideias e invenções, assim como a exploração econômica relacionada, sendo que inovação é
invenção que chega no mercado.
Tipos de inovação:
Inovação de produto
Inovação de processo
Inovação organizacional
Inovação de marketing
A inovação acontece de várias formas. Pode ser um novo produto ou uma nova embalagem, um
avanço tecnológico, a simplificação de um processo de produção, uma forma de atendimento
especial ou uma ação de marketing inusitada.
Mas, temos outros conhecimentos que podem e devem ser incorporados a essa atividade. Como
por exemplo, sabemos que a castanha extraída é muito rica em óleo vegetal.
Agora, com novos conhecimentos científicos e tecnológicos, sabemos também que o óleo
vegetal pode ser incorporado ao óleo diesel (extraído do petróleo) e, a partir dessa mistura, pode
ser produzido o biodiesel (um importante combustível, cuja produção o governo brasileiro se
tem empenhado em fomentar, além de incentivar pesquisas sobre o mesmo ). Assim, aquele
óleo extraído da castanha do babaçu, que tinha a função restrita de produção de alimentos, passa
a ter outras funções, sendo utilizado para a produção de diversos produtos.
Figuras de linguagem são formas de expressão, são palavras utilizadas com um sentido fora do
real, um sentido figurado. O escritor pode utilizar essa estratégia no texto para conseguir o
efeito que deseja na interpretação do leitor. Por exemplo: Andei feito um camelo.
A análise organizacional estuda as organizações, relacionando-as com diferentes figuras de
linguagem, para permitir várias interpretações.
Analisar as organizações como prisões psíquicas pode ser interessante, porque define a
organização como um fenômeno psíquico e nos auxilia a administrar e compreender processos
de mudanças.
O pensamento crítico, propiciado pela metáfora das organizações como prisões psíquicas,
permite penetrar em complexos organizacionais, identificando barreiras às mudanças.
Gareth Morgan (1996), quando compara as organizações com prisões psíquicas, tenta mostrar
que fatores psicológicos próprios de cada um dos membros de uma organização interferem no
desenvolvimento das atividades, nas relações interpessoais e no sucesso da empresa.
Dentro da Psicologia existem várias escolas ou várias linhas. Uma delas é a Psicanálise, que tem
como principais representantes Freud e Jung. Nessa linha, os aspectos inconscientes, afetivos,
defensivos, ameaçadores e individuais de cada indivíduo podem ser avaliados.
Dentre as principais contribuições da psicanálise está o conceito de inconsciente, que seria uma
parte do aparelho psíquico constituído de conteúdos recalcados (guardados dentro da cabeça, de
maneira que nem pensamos neles), que tentam retornar à consciência e à ação. Este retorno se
dá através dos sonhos, chistes, atos falhos e sintomas, de maneira “deformada” devido à
censura.
Com isso, se cada pessoa fizesse aquilo que lhe dá na cabeça, seria um risco imenso vivermos
em sociedade. Imagine se, cada vez que brigássemos com alguém ou que um chefe fosse
injusto, tivéssemos vontade de matar a pessoa e realmente matássemos, não haveria regra
alguma nem direitos humanos, seria a barbárie.
A pessoa adulta lida com os conteúdos do inconsciente segundo maneiras variadas e recorre a
diferentes mecanismos de defesa para manter esses conteúdos sobre controle. Entre esses
mecanismos destacam-se:
Outro autor muito importante na área da psicanálise que é destacado nos estudos de Morgan
(1996) é Jung. Ele traz o conceito de arquétipos (definidos como padrões que estruturam o
pensamento e assim dão origem ao mundo). O processo psicológico mediante o qual a energia
libidinal se transforma em atividades culturais é o símbolo. Os símbolos emergem na parte
inconsciente da psique. Alguns deles pertencem ao inconsciente coletivo e primitivo que o
homem moderno herdou de seus ancestrais. Outros pertencem ao inconsciente pessoal ou
individual, que se desenvolve a partir da repressão do passado do indivíduo. Ao terem acesso à
consciência, tornam-se uma poderosa força orientadora do comportamento humano, sobretudo
em seus aspectos éticos e religiosos. Para chegar a essas conclusões, Jung dedicou-se a um
estudo profundo dos povos primitivos do mundo - seus mitos, religiões, tradições e hábitos.
Podemos dizer que as prisões psíquicas se referem àquilo que existe na cabeça das pessoas,
formado por processos conscientes e inconscientes.
Vamos agora tentar entender um pouco o que são esses processos.
Processos conscientes: Estão relacionados à maneira de pensar das organizações, pela aceitação
do que parece lógico sem um julgamento mais aprofundado. Isso caracteriza um aprisionamento
do pensamento que pode conduzir a armadilhas.
Armadilha pelo sucesso - Ocorre quando uma empresa se encontra em um elevado nível
de sucesso e não percebe a infiltração de concorrentes com alta capacidade de expansão
no mercado. Um exemplo é a indústria automobilística americana frente à japonesa (é o
pensamento de que “já estamos estabelecidos no mercado”, sem considerar que o
mercado muda).
Armadilha da organização “frouxa” - É a institucionalização da ineficiência, como no
caso do controle de qualidade que permite taxas de defeitos ao invés de exigir “zero
defeitos” (pensamento comum em estabelecimentos comerciais em cidades pequenas,
por exemplo).
Armadilha pelo pensamento coletivo - É o pensamento do “consenso assumido” que
inibe as pessoas de expressarem suas dúvidas, levando a decisões precipitadas, quais,
posteriormente, quando melhor analisadas, são julgadas insensatas (a ideia de que “há
séculos a empresa funcionou bem assim e não se mexe em time que vence”).
Quando pensamos nas organizações como prisões psíquicas, fica ressaltado o aspecto de que
elas não são simplesmente moldadas pelo ambiente onde estão instaladas, mas também pelos
conceitos inconscientes de seus membros e pelas forças inconscientes que modelam as
sociedades nas quais as organizações existem.
O estudo psicanalítico das organizações tem como objetivo observar os laços que unem o
indivíduo às organizações (não apenas por questões materiais, morais, ideológicas ou
socioeconômicas, mas, sobretudo, por questões psicológicas).
Neuroses
Vamos, resumidamente, definir neurose como um distúrbio psicológico em que o sintoma é a
expressão simbólica de um conflito psíquico e constitui compromissos entre o desejo e a defesa.
Kets de Vries e Danny Miller (1982) fizeram um paralelo entre os distúrbios neuróticos e as
organizações, de forma que elas pudessem ser melhor compreendidas e acompanhadas a partir
de seus sintomas, filosofias e história.
mundo mais
amplo.
Tabela 2 - Pontos positivos e negativos dos estilos organizacionais baseados nos estilos
neuróticos
A lista a seguir aborda algumas limitações e contribuições da metáfora das prisões psíquicas.
Contribuições:
Limitações:
Poderia ser ampliada de modo a englobar todos os processos ideológicos através dos
quais criamos e sustentamos o significado, além do fator representado pelo
inconsciente.
Enfatiza excessivamente o papel dos processos cognitivos em criar, manter e mudar as
organizações e a sociedade.
Encoraja especulações e críticas utópicas uma vez que trata de aspectos muito
subjetivos. Sendo assim, ignora as realidades de poder e a força de interesses
institucionalizados na manutenção do status quo.
Pode despertar o desejo de administrar o inconsciente, o que é impossível.
Existe, ainda, o risco de se estigmatizarem as organizações a partir de algum estilo
neurótico sem contextualizá-las e considerar outros aspectos. Pode-se, com isso, além
de se fazer um diagnóstico parcial, diminuir as possibilidades de mudança e de um
melhor prognóstico.
Trabalho e lazer
Certamente, quando você era criança já ouviu a pergunta: O que você quer ser quando
crescer?
Quando aquela tia-avó, que você nunca tinha visto, faz uma pergunta do tipo “O que você
vai ser quando crescer?”, será que ela se sentiria satisfeita em saber que você gostaria de ser
uma pessoa boa, compreensiva com os outros, politicamente ativa ou um cidadão
consciente dos seus deveres e direitos? Ou será mais razoável imaginar que, com aquela
pergunta, ela esperava respostas como: médico, pedreiro, lixeiro, dentista, bombeiro,
feirante, professor, padeiro, jornaleiro, técnico em marketing? Imagino que a segunda
alternativa deva ser a que mais se aproxima da resposta que você daria.
Isso devido ao fato de que o trabalho sempre foi uma necessidade do ser humano e uma
característica intrínseca (própria - que está dentro do ser humano) a ele. O homem é o único
ser que tem a capacidade de produzir e modificar a natureza por meio de sua energia vital;
ao modificar o mundo exterior, ele se autoconstrói (ele vai modificando a si próprio).
Com isso, pode surgir a seguinte reflexão: “Mas, nem sempre os trabalhadores apresentam
todo esse interesse pelo trabalho”.
Pois é, se o trabalho é tão importante para a construção do ser humano, por que será que há
tantas pessoas que dizem detestar trabalhar e outras que dizem adorar, mas, desde a hora em
que chegam ao serviço, tudo o que fazem é esperar pela hora de ir embora?
Podemos começar nossa reflexão analisando que, com o passar do tempo, o homem foi se
desumanizando, perdendo as características que o definem: pensar, mudar o meio, liberdade
de criar, aprender e se comunicar.
Observe o exemplo:
Quando o homem precisa vender sua força de trabalho em troca de um salário, ele perde a
posse do que produz, pois o produto é separado, alienado de quem o produziu, como um
Ford Fusion, por exemplo. Será que os metalúrgicos que trabalham na montagem desse
carro podem se apropriar do que produziram? Eles podem ter ao menos um para eles?
Normalmente, percebemos que não, porque, apesar de eles terem participado da produção
desse objeto, na lógica capitalista, eles precisam ter dinheiro para fazer a troca pelo artefato
que produziram. Nota-se, então, que, na maioria das vezes, o metalúrgico produz o carro
para que uma outra pessoa possa usá-lo.
Na lógica atual, o trabalho tornou-se uma atividade tediosa, monótona e cansativa, levando
o ser humano a dissociar-se do processo de produção, vendendo sua energia mental e física
(vendendo sua força de trabalho em troca de dinheiro). No entanto, não podemos nos
esquecer de que esse processo de dissociação depende da organização e do grau de
alienação da função que a pessoa exerce.
Pense comigo.
Quem passa o dia inteiro apertando um botão dificilmente vai-se enxergar naquela
atividade, pois a atividade não permite que ele agregue a ela nada de si. Assim, o indivíduo
sofre e se sente tolhido nas suas capacidades (essa situação pode ser observada muito
claramente no filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin).
Dessa forma, o trabalho deixa de ser uma maneira de o homem se socializar, criar, se
comunicar e aprender.
Um exemplo para ilustrar essa situação pode ser observado nos versos cantados de Felipe
Seabra na música “48”, gravada pela banda Plebe Rude e na qual o eu lírico fala:
Nessa canção, fica claro que as relações construídas no ambiente de trabalho não são
consideradas para a construção pessoal do trabalhador.
O trabalho se torna um “mal necessário”. É um meio para, que trocando sua força de
trabalho por dinheiro, o trabalhador possa trocar seu dinheiro por outras coisas das quais
precisa para viver na sociedade atual.
Muitos autores, porém, ressaltam que o trabalho é extremamente importante para a
construção da identidade de uma pessoa, pois é nele que o homem exerce sua capacidade de
modificar a realidade, de se ver e de se identificar com o que faz. E existem muitos
profissionais que conseguem manter essa capacidade no trabalho.
Atente para o exemplo retirado de uma matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo –
29/10/04:
Sem rotina predeterminada, nem horários certos para cumprir, o publicitário Fábio
Gracciotti Deri, de 29 anos, é um exemplo da combinação de realização pessoal e muitas
horas de trabalho. Sócio da agência de publicidade Expanding, ele define sua semana
como “uma loucura todos os dias”. Sem arrependimentos por ter dado uma guinada na
vida profissional, trocando um emprego com maior remuneração pela agência, o
publicitário investe e acredita no que faz.
“Na véspera de apresentarmos uma campanha, ficamos aqui até tarde, a gente chama de o
‘dia da pizza’, porque é o que dá para pedir. Mas, no dia seguinte, quando o cliente elogia
ou ganhamos uma nova conta, é uma festa. É sempre gratificante. Por mais que em alguns
dias eu fique cansado ou estressado, eu adoro o que faço”, diz. Mesmo assim, há espaço
para a namorada, para o futebol, que joga às segundas-feiras, e para os amigos, que o
acompanham em festas e shows.
O exemplo apresentado, retirado do jornal O Estado de São Paulo, é fruto de uma pesquisa
realizada pela Universidade de Brasília. Nas palavras dos psicólogos envolvidos na
pesquisa, o publicitário, de quem o texto fala, consegue enxergar no seu trabalho a
realização de suas capacidades e de sua força de criação. “É possível, sim, ter prazer e
trabalhar bastante. Como disse Freud, o ser humano se torna adulto por meio do amor e do
trabalho”, diz o psicólogo Sigmar Malvezzi, professor da Universidade de São Paulo e da
Fundação Getúlio Vargas.
“Na medida em que realiza e mostra para si e para o mundo sua criação, o trabalho é uma
fonte de realização.”
Ter prazer no que se faz, mesmo que ocupe muitas horas do dia, exige uma dedicação
intensa e uma atenção absoluta. Para alguns, o escritório, o laboratório, a empresa, a rua, a
escola, enfim, todos os locais de trabalho e as atividades neles realizadas podem ser fonte de
satisfação e realização pessoal, sem ter nada de errado nisso: são os worklovers.
Worklover é uma expressão em inglês que quer dizer algo como “apaixonados pelo
trabalho”.
Para explicar um pouco mais, pode-se entender que todo mundo que trabalha bastante é tido
como workaholic, (viciado em trabalho). Essas pessoas usam a profissão para fugir dos
outros aspectos da vida. Já os worklovers são apaixonados pelo que fazem, trabalham
muito, mas têm sua vida pessoal e cumprem seus outros papéis na sociedade.
Lazer e trabalho
Esse tema é muito discutido na atualidade, muitos livros, filmes e até músicas falam do
assunto. Diversos são os caminhos que podem levá-lo a refletir sobre o tema, mas vamos
começar a falar sobre a ótica do tempo livre que, segundo alguns autores, tem estreita
relação com o lazer do trabalhador. Segundo Dumazedier apud Waichman (2001), as
definições podem-se organizar assim:
Tempo livre é a sobra após o trabalho, é o que fica livre das obrigações cotidianas e
que empregamos naquilo que queremos, ou seja, é a parte do tempo destinado ao
desenvolvimento físico e intelectual do homem com um fim em si mesmo.
Trabalho é o tempo principal, necessário, imprescindível, prioridade. Uma vez que é
o único “produto”, segundo a ótica social de nosso tempo, surgem, por exemplo,
frases como “tempo é dinheiro”, nas quais percebemos a imagem que o homem tem
a respeito do tempo como máquina de dinheiro, riquezas e lucros.
Ócio é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo se pode entregar com total
consentimento, seja para descansar, seja para divertir-se, seja para desenvolver sua
informação ou sua formação desinteressada, sua vontade de participação social ou
sua livre capacidade criadora, uma vez livre de suas obrigações profissionais,
familiares e sociais. Assim, podemos dizer que o ócio tem três funções: descanso,
diversão e desenvolvimento.
Com o capitalismo, muitas coisas são adquiridas como mercadorias e uma dessas coisas é o
próprio tempo livre. Para Waichmam (2001), em relação ao trabalho, o tempo livre seria o
tempo liberado de obrigações que é gasto somente para estar apto a retornar para jornada de
trabalho.
Podemos dizer que o lazer do trabalhador está intimamente ligado ao tempo livre.
Decorrente do cansaço e da monotonia do trabalho diário, seu lazer tornou-se “válvula de
escape” do estresse diário. Nesse contexto, o entretenimento, o espetáculo veiculado pela
mídia, enfatizando o consumo desmedido, cria um lazer fantasioso, domesticando o uso do
tempo e impondo imagens alheias ao seu mundo real, favorecendo ainda mais o
consumismo.
Pense comigo. Quantas vezes vimos na televisão ou no rádio (principais veículos midiáticos
do Brasil) incentivos ou propagandas sugerindo como lazer que você vá passear em um
parque público, fique descansando em uma rede ou dê um passeio pela praça? Poucas
vezes, não é? E propagandas de parques particulares, shows ou outras atividades que, para
ter acesso, você precise pagar? Então, essa imagem de que são as coisas pagas que o fazem
descansar acaba fazendo com que você trabalhe mais para ter mais dinheiro e, assim, poder
descansar melhor.
Considerando o universo das experiências de lazer difundidas em nosso meio por TV, rádio,
cinema, jornais, revistas e internet, evidencia-se uma intensa padronização e massificação
de comportamentos, característicos da indústria cultural de massa, fundamentada no
consumismo dos indivíduos.
Nessa letra, o eu lírico trata o trabalho como uma coisa absolutamente separada do prazer,
quando diz: “eu não nasci pra trabalho, eu não nasci pra sofrer...” Fica claro que trabalho e
sofrimento são sinônimos ou, pelo menos, decorrentes um do outro, ou seja, o trabalho traz
sofrimento.
E no final do expediente
A gente enrola,
Nesse trecho da música, a sexta-feira aparece como último dia de trabalho e representa o
final da alienação temporária. O tempo determinado de alienação seria, nesse caso, de
segunda a sexta-feira durante o expediente.
Dessa forma, o caráter social requerido pela produtividade confina ou adia o prazer para
depois do expediente, para os finais de semana, períodos de férias ou mais drasticamente
para a aposentadoria.
Se analisarmos o lazer através da perspectiva apenas de entretenimento, percebemos que o
homem tornou-se apenas receptor de uma cultura massificante, que aliena, conduzindo-o a
uma fuga da realidade. No lazer mercantilista, a mídia converte o lazer em estratégia de
consumo, inteiramente desprovido de sentido educacional e social.
Quando no período de férias perguntamos a algumas pessoas o que elas irão fazer, na
maioria das vezes, as que não irão viajar tendem a responder que não irão fazer nada. Isso
demonstra que para essas pessoas, para que as férias sejam “legais”, é necessário que se
faça uma viagem.
Figura 1- Imagem de lazer veiculada em meios de comunicação
Fonte: Site AFCI
O lazer pode colaborar com a construção de uma nova realidade e uma nova relação no
trabalho, desde que não seja considerado como um fenômeno isolado, mas como um dos
elementos que compõem e interagem na natureza social, fazendo um lazer promissor
originado de uma experiência cidadã, com responsabilidade solidária, includente para todas
as dimensões de nossa vida sociocultural, provido de sentido e finalidade para o ser
humano.
Referências: